O artigo busca realizar uma análise da obra de Walter Benjamin a partir do judaísmo, observando de que maneira fundamentos religiosos, teológicos e culturais dessa tradição tornaram-se marcas em seus escritos. Em especial, observa-se sua compreensão messiânica do devir histórico, uma visão original que relaciona elementos teológicos e materialismo histórico, revolução e messianismo, perspectivas singulares sobre a história e o tempo. Aborda os fundamentos da tradição judaica quanto à utilização de imagens e quanto à linguagem e sua apreensão por parte de Benjamin.
O artigo busca realizar uma análise da obra de Walter Benjamin a partir do judaísmo, observando de que maneira fundamentos religiosos, teológicos e culturais dessa tradição tornaram-se marcas em seus escritos. Em especial, observa-se sua compreensão messiânica do devir histórico, uma visão original que relaciona elementos teológicos e materialismo histórico, revolução e messianismo, perspectivas singulares sobre a história e o tempo. Aborda os fundamentos da tradição judaica quanto à utilização de imagens e quanto à linguagem e sua apreensão por parte de Benjamin.
O artigo busca realizar uma análise da obra de Walter Benjamin a partir do judaísmo, observando de que maneira fundamentos religiosos, teológicos e culturais dessa tradição tornaram-se marcas em seus escritos. Em especial, observa-se sua compreensão messiânica do devir histórico, uma visão original que relaciona elementos teológicos e materialismo histórico, revolução e messianismo, perspectivas singulares sobre a história e o tempo. Aborda os fundamentos da tradição judaica quanto à utilização de imagens e quanto à linguagem e sua apreensão por parte de Benjamin.
1 Judaism and Disru!i"n in Wa#!$r B$n%amin&s W"r' RESUMO O artigo busca realizar uma anlise da obra de Walter Benjamin a partir do judasmo, observando de que maneira fundamentos religiosos, teolgicos e culturais dessa tradio tornaramse marcas em seus escritos! "m especial, observase sua compreenso messi#nica do devir $istrico, uma viso original que relaciona elementos teolgicos e materialismo $istrico, revoluo e messianismo, perspectivas singulares sobre a $istria e o tempo! %borda os fundamentos da tradio judaica quanto & utilizao de imagens e quanto & linguagem e sua apreenso por parte de Benjamin! PALA(RAS)C*A(E Walter Benjamin' (udasmo' )essianismo' )aterialismo *istrico! ABSTRACT +$e present article aims to provide an anal,sis of Walter Benjamin-s .or/ from t$e angle of its connection .it$ (udaism, b, e0amining $o. t$e underlining religious, t$eological and cultural fundamentals of (e.is$ tradition mar/ $is .or/! +$e e0amination $as its emp$asis on Benjamin-s vie. of t$e role of t$e )essia$ in $istor,, in t$e unique vision t$roug$ .$ic$ t$e sc$olar relates t$eological elements to $istorical materialism, revolution to )essianism, and singular perspectives of $istor, and time! +$e article also see/s to relate t$e imager, of (e.is$ tradition .it$ Benjamin-s .riting, regarding language and compre$ension! KEYWORDS Walter Benjamin' (udaism' )essianism' *istorical )aterialism! UM JUDASMO PARTICULAR Walter Benjamin 1 um pensador singular, envolvido em m2ltiplas reas e distinto por perfazer rela3es originais, mesclando refer4ncias e fontes ao estabelecer o prprio m1todo! 5estacamse, entre elas, o 6omantismo, o )ar0ismo e o (udasmo' nunca levadas & ortodo0ia, Benjamin organiza suas ideias tomando de cada dimenso o que l$e 7 O trabal$o 1 resultado parcial do programa de pesquisas Teoria Crtica, Racionalidades e Educao 8999:, financiado pelo ;<=q! parece pertinente, elaborando uma compreenso especial e muitas vezes enigmtica sobre os conte2dos aos quais se dedicou! >ua obra gira em torno de uma apreenso da modernidade que passa por anlises da arte, t1cnica, inf#ncia, cidade, linguagem, entre outros temas, e0pressandose frequentemente por aforismos e descri3es imag1ticas! %pesar de sua relao controversa com a identidade, podese perceber a influ4ncia de ideias religiosas, teolgicas e culturais do judasmo na elaborao de sua forma de pensar! %o longo de sua vida, Benjamin constitui com o judasmo rela3es instveis e parado0ais! )arcas da tradio judaica aparecem nas entrelin$as de seu pensamento, observadas desde sua percepo curiosa e fragmentada que sintetiza religio, teologia, messianismo, misticismo! <otase em sua trajetria de vida e amizades o judasmo como foco de debates e decis3es! ?ers$om >c$olem, seu amigo ntimo, era tamb1m de origem judaica e tin$a com ela uma relao profunda e de plena identificao @ tentava transmitir tal postura a Benjamin, que $esitava e relutavaA B>c$olem v4 nele um dos 2ltimos representantes da aut4ntica mstica judaica e o censura por se dei0ar desviar de sua ess4ncia verdadeira 8!!!:C 8?%?<"B9<, 7DDD, p! 7D7:! %migos desde 1pocas anteriores & criao do "stado de 9srael, foram se apro0imando ao longo dos anos, discutindo diversos te0tos relacionados & tradio judaica! %mbos coincidiam em se relacionar com a ideia de divindade, enquanto o centro intangvel de uma simbologia transcendente ao objetivo e ao simblico' tin$am, entretanto, concep3es bastante diversas quanto ao judasmo como religio e, principalmente, quanto ao sionismo @ ao declararse o "stado de 9srael independente, em 7DEF, >c$olem aderiu imediatamente ao movimento sionista, enquanto Benjamin, de outro lado, permaneceu al$eio aos anseios de vrios dos seus amigos sionistas durante toda a sua vida! B% identidade judaica, para os intelectuais judeus, pouco importava no plano espiritual, mas pesava fortemente na vida social, tornandose uma questo moral!C 8BO659<9, GH77, p! IJ:! K possvel supor que, para uma parcela da populao judaica, o sentimento de pertencimento ao judasmo fosse sentido muitas vezes mais pelo contraste com a comunidade europeia, em face de uma rotulao pejorativa como judeu, do que como sentimento de identidade! %liandose a identidade judaica enquanto tal e o sentimento despertado pela e0cluso social, nasce o movimento sionista que apontava para a imigrao e a construo de uma nao judaica prpria! O conte0to anterior & >egunda ?uerra )undial no era favorvel & populao judaica, e destacavase na "uropa forte antissemitismo e segregao social dos judeus em diversos planos! =odese citar o ;aso 5re,fus como um dos episdios mais famosos que demarcam essa situao, enveredada desde fins do s1culo L9LA uma fraude realizada dentro do e01rcito franc4s, que levou & punio de um judeu inocente, %lfred 5re,fus, acusado de traio! O episdio causou intenso esc#ndalo poltico e tornouse um marco do antissemitismo emergente, que viria a triunfar no s1culo LL na antessala da >egunda ?uerra )undial e efetivao do Sho. 2 O mundo judaico na "uropa caracterizavase especialmente por tr4s distintas posturas em relao ao tema! O primeiro grupo, daqueles denominados pioneiros, constituase dos judeus que acreditavam que a forma mais concreta e urgente de relacionarse com o processo $istrico judaico era a imediata aliy para 9srael, no intuito de trabal$ar fisicamente a terra e construir um pas como sociedade modelo! +ratavase de uma tend4ncia de esquerda, e esse movimento sionistasocialista foi o principal responsvel pelo levantamento de kibbutzim, sociedades agrrias e coletivistas espal$adas pelo territrio da nao judaica @ a isto Benjamin c$amou Bsionismo agrcolaC, ao qual se opun$a! B<o seu entender, o sionismo deveria livrarse de tr4s coisasA Ma orientao agrcola, a ideologia racial e os argumentos de Buber sobre sangue e e0peri4ncia!NC 8>;*OO"), GHHF, p! JF:! >c$olem, por outro lado, coloca que o Bsionismo agrcolaC no e0clui a possibilidade de emigrao de pessoas de outras profiss3es, o que c$ega a defender em a3es concretas quando se muda para 9srael, no incio dos anos 7DGH! O segundo grupo judaico do conte0to europeu era representado pelos acad4micos' no se opun$a ao iderio pioneiro e kibbutziano quanto & necessidade de imigrao e construo fsica do pas, por1m acreditavam que antes era preciso dedicarse ao estudo da realidade e da viso de mundo sionistasocialista com a qual se trabal$aria, para apenas depois partir para a prtica! ;on$ecido como Bo povo do livroC, o judeu caracterizase fortemente pela tradio da leitura e da educao, trao que aqui se evidencia na prioridade ao estudo da teoria e ao desenvolvimento das ideias, antes da ao propriamente dita @ posio pol4mica que se pode observar sob a tica da prud4ncia ou, em outra, como maneira de escusarse na passividade! >c$olem possivelmente representou a vinculao entre a intelectualidade e a ao prtica, G +ermo $ebraico que remete ao *olocausto! c$egando inclusive a considerar durante uma 1poca atuar como professor da educao bsica, como escreve em seu livro memorialstico 8>;*OO"), GHHF:! Pma terceira parte da comunidade judaica, talvez definida mais por condio de classe que 1tnica, foi o grupo de trabal$adores identificados antes com a causa operria que com a judaica! >em necessariamente discordar das necessidades apontadas pelos outros grupos, recusavase a abandonar suas comunidades de origem! =riorizava, inspirado no movimento internacional dos trabal$adores, a unio da classe trabal$adora dos diversos pases e a ao social, em busca de uma sociedade mais justa na "uropa, antes de buscla em 9srael! Oevantase um interessante dilema, que confronta a luta pela construo de um pas novo e justo e a pela justia nos pases j e0istentes! O mar0ismo de Benjamin, tantas vezes singular ou $eterodo0o, talvez ten$a encontrado nesse parado0o um lugar para $abitar! 9nteressado na realidade europeia & qual pertencia, Benjamin parece ter dedicado seus estudos e inten3es & ao nesse lugar, a despeito das advert4ncias de >c$olem quanto a seu pertencimento & terra de 9srael! )as tal como seu judasmo, seu mar0ismo era tamb1m particular e muitas vezes criticado @ de fato, apesar de defend4lo como instrumento prtico para inserirse na luta de classes, no parece ter c$egado a realizarse nesse sentido! "m sua bricolagem terica, ao fundar no mar0ismo seu clamor por uma $istria reescrita a contrapelo, conecta a este o judasmo com a ideia de que os vencidos do passado devem ser escutadosA devemos receber seus sinais para alimentar a fora messi#nica da $istria rumo ao dia do juzo finalA a c$egada do )essias ou a revoluo 8>;*OO"), GHHF:! *esitante entre suas diversas fontes de pensamento, Benjamin parece entrava em conflito ao depararse com a e0ig4ncia de ter que se ater definitivamente a uma ou a outra, situao & qual escapava! (udeu e mar0ista & sua maneira, acabou e0imindose de grandes parcelas de ao referentes a cada #mbito! "m uma frase, >c$olem 8GHHF: ilustra o teor do judasmo benjaminianoA +ornouse claro para mim que, embora Benjamin e 5ora recon$ecessem a supremacia da esfera religiosa da revelao, e para mim isso fosse equivalente & aceitao dos dez mandamentos como um valor absoluto do mundo moral, eles no se consideravam obrigados a isso' antes, eles o desagregavam de maneira dial1tica, onde se tratava das rela3es concretas com as suas condi3es de vida! 8>;*OO"), GHHF, p! QJ:! %pesar de manter certa rejeio ao longo de sua vida quanto a prticas propriamente religiosas, sua obra no dei0a de incorporar muitos elementos teolgicos, frequentemente mesclados com o materialismo $istrico e outras vertentes tericas e polticas de seu tempo! A COMPREENS+O MESSI,NICA DO DE(IR *IST-RICO R sua maneira, Benjamin incorporou esse judasmo $eterodo0o a muitas das ideias sobre as quais escreveu, associando teologia e materialismo $istrico, mar0ismo e messianismo @ vincula3es de efeitos pol4micos! <o3es judaicas perpassam diversas de suas concep3es, notadamente quanto ao seu entendimento do movimento $istrico e sua apreenso do tempo, orientado por uma concepo messi#nica! "m suas Teses sobre o conceito de histria 8B"<(%)9<, GHHF:, elabora, em 7F fragmentos, uma perspectiva crtica e propositiva sobre o Bfazer $istriaC, que vai contra a tend4ncia dominante do progressismo linear e determinista! %proveitandose do trabal$o de "duard Suc$s no que concerne & anlise materialista da cultura, Benjamin refuta o $istoricismo idealista em favor do materialismo $istrico @ enquanto o primeiro trataria do passado como evento inerte e eterno, o segundo trabal$a com sua constante reinsero no presente! % partir desse novo ol$ar, o autor realiza uma leitura da modernidade que condena o contraste entre o avano t1cnico e as mazelas sociais e reivindica uma reformulao da $istria que traga & tona todos os agentes de 1pocas passadas, e em especial os vencidos e dominados, de forma que no apenas os atuais protagonistas das narrativas $istricas 8em outras palavras, os vencedores:, mas tamb1m, e principalmente, os coadjuvantes, os vencidos, os ignorados, devem merecer a ateno do $istoriador! Os elementos da situao final no se apresentam como tend4ncia progressista informe, mas, a ttulo de cria3es e ideias em enorme perigo, altamente desacreditadas e ridicularizadas, incorporamse de maneira profunda a qualquer presente T!!!U! "ssa situao T!!!U s 1 apreensvel na sua estrutura metafsica, como o reino messi#nico da ideia revolucionria 8!!!:! 8B"<(%)9< apud OVWW, GHHG, p! GHH: "sto presentes nessa concepo materialista da $istria traos do pensamento judaicoA uma compreenso da $istria sob o prisma messi#nico' o ol$ar voltado ao passado, sendo impelido ao futuro, mas de costas para este, como retrata a nona tese sobre o conceito de $istria, ilustrada com uma pintura de um anjo, de =aul Xlee! * um quadro de Xlee que se c$ama %ngelus <ovus! 6epresenta um anjo que parece querer afastarse de algo que ele encara fi0amente! >eus ol$os esto escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas! O anjo da $istria deve ter esse aspecto! >eu rosto est dirigido para o passado! Onde ns vemos uma cadeia de acontecimentos, ele v4 uma catstrofe 2nica, que acumula incansavelmente runa sobre runa e as dispersa a nossos p1s! "le gostaria de deterse para acordar os mortos e juntar os fragmentos! )as uma tempestade sopra do paraso e prendese em suas asas com tanta fora que ele no pode mais fec$las! "ssa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de runas cresce at1 o c1u! "ssa tempestade 1 o que c$amamos progresso! 8B"<(%)9<, GHHF, p! GGQ:! Ou seja, um novo tempo da $istria se d tal como figura o anjoA com o ol$ar voltado ao passado, e de costas ao futuro, aonde somos impelidos! <a tradio judaica, prezase pelo sil4ncio, em oposio & especulao, quanto & esperada c$egada do )essias! % espera se funda na dedicao ao estudo e anlise dos livros antigos da +or e outros te0tos sagrados, em que sbios e profetas e0ploram a $istria do povo e a partir disso dei0am aberta uma fenda ao futuro, quando, apenas quando os prprios $umanos j se tivessem redimido, por meio de seu prprio trabal$o, o )essias c$egaria! K nesse sentido que para Benjamin BO 6eino de 5eus no 1 a meta 8telos ou !iel:, mas o fim 8Ende: da din#mica $istrica!C 8?%?<"B9<, 7DDD, p! 7DQ:! Yuer dizer, o judasmo relacionase com o tempo $istrico de forma anloga & interpretada por Benjamin a partir da representao do anjo @ atento ao passado, em busca da recepo de seus sinais, para fundar no presente o eterno agora que nos arremessar ao futuro! >em esperar pelo fim dos tempos, mas construindoo! % $istria dos judeus que aparece nos relatos bblicos traz a ideia de que o camin$o traado pelos $omens est inconcluso e por ser decidido no presente, para construir o futuro @ assim, a busca pela redeno tratase antes de uma busca dos $umanos em sua e0peri4ncia que de uma espera passiva pela c$egada do )essias! <o Oivro do Z0odo 8J, 77H: observase um apelo & consci4ncia de libertaoA B"u ouvi o clamor do meu povo e desci para libertlo!C "stas teriam sido as palavras proferidas por 5eus a respeito do sofrimento do povo judeu escravizado no "gito! %nte isso compreendese que $ um comprometimento entre a causa dos $umanos e a de 5eus, que devem operar em conjunto! +ratase, pois, de um fazer $istrico ativo e construtivoA o trabal$o $umano, conectado ao trabal$o de 5eus, dever rumar & libertao, cuja representao 2ltima ser o )essias! =ara compreender a relao entre a concepo judaica do tempo e o materialismo $istrico defendido por Benjamin, cabe observar as considera3es de Bordini 8GH77:! >egundo ela, tr4s conceitos so fundamentais neste quadroA verdade, mat1ria e metamorfose! Benjamin observa o passado como algo ainda vivo, que reaparece no presente e com ele estabelece cone03es! Os fatos do passado, por sua vez, tendo sofrido a degradao do tempo, surgiriam, tamb1m por isso, como resultados de uma cristalizao mediante a qual os fragmentos tornamse Bp1rolasC a serem recol$idas! ;olecionar esses Bcristais das coisasC 1 a proposta de BenjaminA no se prop3e a investigar o futuro, mas ol$a para o passado em busca de sinais da vinda do )essias @ sinais que seriam os BcristaisC, as Bp1rolasC, os frutos da metamorfose causada pelo tempo! %final B8!!!: o pensamento de Benjamin TestU radicado no salvacionismo judaico, que no pode investigar o futuro, e por isso se volta ao passado para neste captar os sinais crpticos que prenunciariam sua vinda!C 8BO659<9, GH77, p! IG:! "ssa coleo, que visa salvar o passado, associa, assim, a construo da $istria ao messianismo judaico, liga materialismo $istrico e teologia! % relao entre tais elementos 1 apresentada logo na primeira tese sobre o conceito de $istria 8B"<(%)9<, GHHF:, quando uma parbola ilustra um jogo de 0adrezA o materialismo $istrico se move na mesa e joga o jogo, mas em verdade tratase de um fantoc$e da teologia, que se esconde embai0o! Pma aparente contradio entre os dois termos apresenta a riqueza e a especificidade de seu pensamento, j que ao Bocultamento produtivo da teologiaC 8BO659<9, GH77, p! II: corresponde uma concepo materialista da $istria que se move por foras religiosas, messi#nicas! O autor parece diminuir a teologia ao apresentla como Bpequena e $orrvelC' por outro lado, 1 notvel que no abre mo de seu judasmo, valorizandoo sempre @ ainda que de forma controversa ou obscura! Os elementos religiosos e teolgicos oscilam, na obra e na vida de Benjamin, entre o elogio e a crtica, os meandros e a adeso! K importante ressaltar o interc#mbio entre as possibilidades do )essias e da revoluoA toda vez em que Benjamin cita a vinda do )essias e suas condi3es e efeitos, trata paralela e analogamente da probabilidade de ecloso de uma revoluo! % fala de Wes$ai,a$u Oeibovitc$, renomado e controverso filsofo israelense, ao ser perguntado em entrevista sobre sua crena na vinda do )essias, parece apro0imarse da percepo de Walter BenjaminA O )essias "ir! #ir, sempre conjugado no futuro! Pm )essias que c$ega 1 um )essias falso, pois est em sua ess4ncia que "ir! J >ob o #ngulo de BenjaminA [O )essias interrompe a *istria' o )essias no surge no final de J WoutubeA \]^_`^ a_ b^c\c^a a_ de^c !f^`g] GHHF ! $eshayahu %eibo&itz about the 'essiah. TonlineU! histo em GHiHDiGH7G! j$ttpAii...!,outube!comi.atc$kvlmzY)5=WI6)n um desenvolvimento![ 8B"<(%)9< apud ?%?<"B9<, 7DDD:! Ou, como coloca Xaf/a, segundo Oo., 87DFD, p! pG:A BO )essias s vir quando no for mais necessrio, s vir um dia depois de sua c$egada' no vir no 2ltimo, mas depois do 2ltimo dia!C >eguindo a mesma lgica 1 que Benjamin formula seu mar0ismo antiprogressistaA em lugar da revoluo inevitvel vislumbrada pelo ol$ar determinista do mar0ismo dominante, sugere que a revoluo c$egar Bcomo a interru(o de uma evoluo $istrica que conduz & catstrofe!C 8OVWW, GHHG, p! GH7:! * em Benjamin, portanto, uma reformulao in1dita e audaciosa daquilo que a religio sugereA para ele, a $istria da $umanidade teria iniciado com a perda do paraso, sendo ento lanada & dimenso do tempo e & incomunicabilidade 8como narra a $istria de Babel, a linguagem original 1 perdida e escondese difusa nos diversos idiomas:! % misso $umana consiste, assim, na luta pela reparao das injustias e desigualdades, pela recuperao da $armonia e da comunicabilidade originalA BO )essias c$ega, portanto, quando sua vinda se realizou to integralmente que o mundo j no 1 profano nem sagrado, mas liberto @ liberto sobretudo da separao entre profano e sagrado!C 8?%?<"B9<, 7DDD:! % c$egada do 2ltimo dia significa, portanto, no a de um evento pelo qual se espera, mas um objetivo a ser cumprido pela $umanidade! Os $umanos devem alcanar a redeno por meio da compreenso e assimilao do passado, cuja e0peri4ncia orienta uma busca pela mel$or forma de relacionarse e viver o presente, o qual ser um Btempo saturado de -agoras-C 8B"<(%)9<, GHHF, p! GGD:! <o momento em que esta compreenso 1 alcanada, $ouve uma revoluo interna em cada $omem, e o )essias no 1 mais necessrio! >e a redeno livra, 1 porque ela destri e dissolve, no porque mant1m e conserva! " o )essias nos livra justamente da oposio entre o $istrico e o messi#nico, da oposio entre o profano e o sagrado! K por essa razo que, no mesmo fragmento teolgicopoltico, a ordem do profano, que deve ditar a ordem poltica, 1 orientada pela ideia da felicidade! <este sentido bem preciso, poderamos dizer que, realmente, em Benjamin, a realizao messi#nica 1 tamb1m a realizao da felicidade terrestre! <o porque f1 religiosa e convic3es polticas atuariam no mesmo sentido e em direo & mesma meta 8telos:, mas porque a atualidade messi#nica no se pode enunciar a no ser na prosa libertada, livrada, do mundo terrestre! 8?%?<"B9<, 7DDD, p! 7DF7DD:! .RA/MENTOS0 IMA/ENS E LIN/UA/EM Benjamin v4 a $istria como uma reunio de fragmentos catastrficos, os quais o materialismo $istrico deveria recuperar e ressignificar! O estudo de realidades fragmentadas, tais como as en0ergava, 1 realizado muitas vezes por meio da montagem de imagens, que surgem como rel#mpagos de coisas novas, demonstrando inclusive a relao etimolgica entre imagem e magia @ palavras de mesma raiz, associamse na medida em que as imagens evocadas v4m com a proposta de sugerir ou quase conjurar visualiza3es do que 1 descrito! "m )assa*ens, por e0emplo, Benjamin 8GHHQ: realiza um estudo sobre a modernidade, a vida urbana em desenvolvimento e as novas rela3es sociais que surgem nesse conte0to! =ara tanto, utilizase desse m1todo original e comple0o, que se sustenta mais na forma que no conte2do apresentado! qcone dessa forma de elaborao, aquele te0to apresenta fragmentos autrnomos que descrevem imagens atrav1s das quais se pretende c$egar aos conceitos, BSuncionaria sobre o princpio da montagem, justapondo fragmentos te0tuais do passado e do presente na e0pectativa de que eles, faiscando entre si, iluminassem uns aos outros!C 8;O"+m"", GHH7, p! 77H:! % religio judaica tradicionalmente op3ese & utilizao de imagens como objeto de culto, destacando e limitando seu uso & e0presso de significados! 5iferentemente das religi3es crists, que no somente permitem, como promovem deliberadamente a propagao e replicao de imagens religiosas, o judasmo resguardaas como instrumentos de e0presso que no devem profanar a imagem divina! =odem servir como representa3es laicas, somente, nunca associadas a um conte2do religioso! B<o fars para ti imagem de escultura, nem semel$ana alguma do que $ em cima, nos c1us, nem embai0o, na terra, nem nas guas debai0o da terra!C 8Z0odoA GH,E:! O +almud, livro que compila e adapta leis e tradi3es judaicas, e conforme o qual se orienta o judasmo ortodo0o, tamb1m retoma a questo acerca da utilizao das imagens! "ntre seus tratados, um especfico sobre imagens e dolos, o %boda$ mara$, e0pressa uma rgida oposio aos dolos, que envolve sua total proibio, desde sua fabricao at1 mera meno em pensamento 8+osefta, >$abbat$ 7p,7 et passim' Bera/$ot 7Gb:! K interessante notar como Benjamin opta justamente pelas imagens como uma de suas principais ferramentas de e0presso' de certa forma, esquivase da proibio judaica na medida em que no $, afinal, imagem alguma! %penas por meio de descri3es, elabora te0tos cuja voluptuosidade imag1tica tornase central, possivelmente influenciado pela import#ncia dada a esse elemento na tradio judaica! ?agnebin fala do teor dos escritos de Benjamin como B8!!!: um pensamento que absorveu a tal ponto os ensinamentos da teologia que o te0to sagrado original tornase dispensvel!C 8?%?<"B9<, 7DDD, p! 7DF:! 5ada a premissa da perda da linguagem original, resta & linguagem $umana a intrnseca impossibilidade de transcenderse a si mesma para apreender, de fato, seu objeto! +al tarefa continuamente frustrada seria, ento, preenc$ida pela teologia, no esforo infindo que essa realiza mediante a inveno de novas figuras e sentidos que serviro para descrever! O trabal$o de Benjamin de elaborao de imagens 1, talvez, uma tentativa deste g4neroA na busca por ultrapassar uma linguagem profana e insuficiente, alase na construo de elementos que a transcendam e que, neste caso, passem do domnio idiomtico ao da imaginao! % uma filosofia concebida como doutrina do con$ecimento ou como o prprio con$ecimento de um objeto preciso por um sujeito determinado, Benjamin op3e, na esteira da metafsica platrnica e da teologia, a outra vertente da busca filosficaA uma err#ncia 8errance: f1rtil, um e0erccio paciente que no visa possesso alguma, mas procura desen$ar, e0por, de modo l2dico ou grave, e sempre incompleto, aquilo que simultaneamente, fundamenta o lo*os e a ele escapa! % tradio filosfica l$e d tamb1m outro nomeA verdade! 8?%?<"B9<, 7DDD, p! GHHGH7:! =ara superar a distino entre o sagrado e o profano, para realizar a misso $umana e alcanar a redeno, sup3ese uma reconfigurao de in2meras esferas da vida concretaA poltica, religio, $istria, linguagem! O conceito %ehre, interpretado por Benjamin como BinstruoC, recebe sua ateno sob uma compreenso ligada & +or e relacionada a seu conceito mstico da tradioA B9nstruo no s sobre a verdadeira condio e camin$o do *omem no mundo, mas tamb1m sobre a cone0o transcausal das coisas e sua radicao em 5eus!C 8>;*OO"), GHHF, p! QI:! +al 1 o camin$o traado para se c$egar & emancipao $umana! <a obra de Benjamin a teologia no aparece como um paradigma rgido e fornecedor de respostasA ao contrrio, 1 o elemento desestabilizador que vem questionar, ressignificar, reformular e recuperar os conte2dos da lgica e da poltica! K por meio dela, portanto, que se encontrar a redenoA a revoluo e o )essias, como obra da $umanidade! % especificidade da obra de Walter Benjamin l$e d um tom essencialmente original, constituindose como um n2cleo ao redor do qual orbitam e podem orbitar os mais diversos temas que, entretanto, no dei0am de estabelecer cone03es entre si! K interessante, pois, estudlo a partir de uma compreenso ampla e desprovida de constata3es antecipadas, visando apreender seu pensamento, desde as bases at1 as conclus3es, a partir de um ponto de vista pluralista e atento & multidimensionalidade de seus te0tos! % partir dessa diversidade temtica @ teologia, materialismo, imagens, linguagem, modernidade, $istria @ fundase a ampla contribuio de Walter Benjamin ao pensamento! K uma c$ave interessante e alternativa & compreenso dos fenrmenos $istricos, em especial da modernidade! O caldo cultural elaborado com o romantismo alemo, um mar0ismo nodeterminista e uma compreenso mstica do judasmo representa uma importante fonte de con$ecimento e saber, conte2dos e formas de pensamento! R$1$r2n3ias B"<(%)9<, Walter! )assa*ens! Belo *orizontei>o =auloA "ditora PS)?i9mprensa Oficial do "stado de >o =aulo, GHHQ! B"<(%)9<, Walter! +eses sobre o conceito o *istria! 9nA ssss! +alter ,en-amin. obras escol$idas @ magia e t1cnica' arte e poltica! >o =auloA Brasiliense, GHHF! BO659<9, )aria da ?lria! BWalter Benjamin, messianismo e materialismo $istricoC! +eb'osaica, =orto %legre, vol!HJ, n!HG! pp!I7Ip, julidez! GH77! 5isponvel emA j$ttpAiiseer!ufrgs!bri.ebmosaicaiarticleivie.iGQGJpn! %cesso em GH fev! GH7J! ;O"+m"", (!)! /s mara"ilhas de +alter ,en-amin. +rad! >iqueira, 6! =ub! Orig! +$e <e. Wor/ 6evie. of Boo/s, vol! EF, nt 7, janeiro de GHH7! 5isponvel emA j$ttpAii...!cebrap!org!briimagensi%rquivosiassmaravil$assdes.altersbenjamin!pdfn! %cesso emA GH fev! GH7J! ?%?<"B9<, (eanne)arie! +eologia e )essianismo no pensamento de W! Benjamin! Estudos /"anados TonlineU, vol!7J, n!Jp, pp! 7D7GHQ, 7DDD! OVWW, )ic$ael! Redeno e 0to(ia. o judasmo libertrio na "uropa central 8um estudo de afinidade eletiva! >o =auloA ;ompan$ia das Oetras, 7DFD! OOWW, )ic$ael! % filosofia da $istria de Walter Benjamin! Estudos /"anados, TonlineU, vol!7Q, n!EI, pp! 7DDGHQ, GHHG! >;*OO"), ?ers$om! / histria de uma amizade. >o =auloA "ditora =erspectiva, GHHF!