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Filosofia da Educação
A Arte de Formar-se
Pindamonhangaba
2009
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Filosofia da Educação
A Arte de Formar-se
Pindamonhangaba
2009
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CAPÍTULO I
APRENDER A CONHECER E A PENSAR
A cultura da informação
Capacidade de relacionar
A arte de pensar desenvolve-se pela nossa capacidade de relação, segundo o
autor pensar é saber relacionar, como no início já foi dito, as informações pertencem
aos vários grupos dos saberes e relacionar essas informações em sua complexidade
é a arte de pensar.
Relacionar é superar a visão dualista que sempre pensa o mundo dividindo
entre sujeito do objeto, material e espiritual, natureza e cultura, etc. O relacionar do
pensar corresponde ao relacionar da própria realidade. E as ciências modernas
apontam precisamente para o fato de que existe “a complexidade/diferenciação, a
auto-oraganização/consciência, a realização de tudo com tudo”. A esse pensamento
relacional pode se dizer um novo “espírito científico”.
Superação do dogmatismo
Cabe-nos viver, portanto, num mundo de incertezas teóricas. Nossas teorias
aproximam-se da realidade sem nunca esgotá-las e sempre à espera de correções.
Aprender a conhecer e a pensar nesse mundo exige abandonar todo dogmatismo.
As certezas humanas alimentam as nossas vidas, mas uma ponta de dúvida é que
nos leva ao conhecimento.
Caso tenhamos só certezas, como avançaremos em nossas pesquisas para
novas conquistas, isso não equivale a desconfiar de tudo, mas a querer mais, na
busca de corroborar com as conquistas científicas já alcançadas.
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Pensamento complexo
Aprender a pensar em um mundo complexo, essa é uma missão difícil, mas
muito importante, pois os saberes são complexos, todos os saberes estão
interligados, tecidos juntos, por essa razão é necessário conhecer as partes dentro
de um todo, pois o todo nada mais é que a soma das partes sendo
interdependentes.
O corpo no aprendizado
Os antigos diziam: uma mente sadia num corpo sadio, o corpo aprende e o
corpo ensina, isso pode ser visto em uma dança de balé, equilibrismo, o corpo
humano é capaz de aprender movimento tão sutis e belos, isso mostra o equilíbrio
do todo.
Conclusão
A prender a conhecer e a pensar consiste fundamentalmente na preocupação
de não acumular conhecimentos soltos, mas inseri-los em conjuntos e contextos
maiores.
Duas palavras resumem esse processo: perguntar e relacionar.
Todas essas atitudes que nos ensinam a pensar e a conhecer implicam
conseqüências praticas. Por isso, o processo de aprender a conhecer e a pensar
conduz necessariamente a aprender a fazer.
Capítulo II
APRENDER A FAZER
A perspectiva histórica
A relação entre aprender a conhecer e aprender a fazer se torna patente numa
perspectiva histórica. Aprender a conhecer leva-nos a pensar a realidade em seu
conjunto e contexto, nunca como um saber isolado.
A dimensão histórica ilumina nossa realidade e nosso agir de modo diferente.
Opõe-s a uma leitura da “Tradição determinada pela Metafísica” que busca a
essência sempre válida do ser em sua globalização.
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A perspectiva ética
Uma consciência de responsabilidade só é possível com consciência histórica,
aprende-se a fazer afazer captando o lado ético de todo agir humano.
De acordo com o autor é necessário o conhecimento histórico, ou seja,
conhecer os pensadores ao longo da história através de seus escritos, porém não
ficar preso ao conhecimento que já está produzido, mas avançar, mergulhar mais
fundo partindo do que já se conhece.
Hoje é possível repensar as produções das bombas atômicas, dado ao fato que
o entendimento quanto ao meio ambiente e a vida humana em geral é muito mais
abrangente.
Aprender a pensar e a fazer não exige genialidade, mas o estudo mais amplo
do saberes, pois um gênio que vê as coisas de forma fragmentada e
hiperespecializado pode se perder.
Estratégia e reflexibilidade
E. Morin introduz um a distinção que esclarece a diferença entre as duas
atitudes de aprender o feito e aprender a fazer. Chama a primeira de programação,
e a segunda, de estratégia. Usando uma terminologia religiosa, explica que tipo de
“viático” existe para prepara-se para viver num mundo de incertezas. A entrada de
sempre mudanças continua da compreensão de nossas ações. “As praticas sociais
são constantemente examinadas e reformadas à luz de informação renovada sobre
estas próprias praticas, alterando assim constitutivamente seu caráter.”
Aprender a fazer é, portanto, captar o espírito da estratégia e da reflexividade
que permitem em refazimento continuo no agir, a medida que os dados ofeecidos
pelo ambiente o pedem e exigem.
Conclusão
Do aprender a conhecer e a pensar passou-se ao aprender a fazer, num
dinamismo e movimento sem percalços. Esse aprendizado passa pela consciência
de história.
A percepção histórica envolve sensibilidade e sentido ético. Leva-se em
consideração a responsabilidade que nosso fazer tem em relação ao que virá.
Estaríamos muito melhor hoje se as pessoas tivessem aprendido a fazer, a agir com
sentido ético.
A relação entre aprender a conhecer e a fazer torna-se cada dia, mais
valorizada e trabalhada.
Tal relação estende-se ao mundo religioso. Isso aparece na relação criativa
entre o rito e seu significado.
E finalmente a reflexibilidade e a estratégia são categorias que nos ajudam a
perceber de maneira dinâmica e criativa a relação entre conhecer e o fazer.
Tanto no campo do conhecimento como no da prática têm-se valorizado cada
vez mais o “coletivo” em oposição ao individual. Criam-se “grupos de estudos” e
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Capítulo III
APRENDER A VIVER JUNTOS, APRENDER A VIVER COM OS OUTROS
O mundo atual é marcado pelo individualismo nas formas mais selvagens, pela
violência, por conflitos, por racismo latente e intermitente, por intransigências
religiosas, por fanatismo emergente. Tudo isso impede de vivermos juntos. A arte de
formar-se é desafiada a ser antídoto de tanto veneno.
A ameaça do individualismo
O lugar de aprender a conviver são naturalmente as experiências de vida em
grupo, em equipe, em comunidade, a começar pela família. Ora bem, tais
experiências estão ameaçadas em sua raiz pela perda do espírito comunitário. Há,
antes de tudo, um individualismo despudorado.
Comunitarismo de evento
Mas também existe uma ilusão de comunidade em duas formas de
comunitarismo: experiências comunitárias isoladas e comunidades afins.
Os encontros dos jovens podem reduzir-se a momentos emocionais de
convivência comunitária. São verdadeiros hap-penings isolados, que encontram
neles mesmos seu inicio, meio e fim. Não estabelecem nenhuma sequencia em suas
vidas. Predomina nesses eventos isolados a dimensão emocional. Para que se torne
atraente, cada encontro deve ser mais emocionante que o outro.
Tais encontros reproduzem a cultura dos “programas de auditório”. Espelham-
se nesses espetáculos. Vive-se de expectativas sempre mais surpreendentes, e,
quando já não se consegue tal intensidade emocional, o evento perde força, não
atrai e desaparece.
Grupos afins
Outro tipo de deturpação da experiência comunitária dos jovens se caracteriza
pela busca de grupos pequenos afins. Cria-se “tribos”, em que se suprimem as
diferenças para se viver uma mesmidade. Os grupos afins degeneram-se facilmente.
A gravidade da questão dos grupos fechados merece reflexão. Eles exercem
sobre os membros tal influencia numa única direção que os tornam ineptos para
viverem noutra situação social. No interior de uma minoria fechada, criam-se dois
tipos doentios de relação: anulamento e imposição.
Olhando do lado do grupo, predomina a relação de dominação. O grau máximo
de tal situação acontece nas gangues criminosas da droga. Quem tenta sair de uma
gangue é eliminado. Então o medo os retém todos dentro dela. Sem ter o mesmo
nível de gravidade, há “tribos” de jovens que os mantém em seu interior pela via da
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Tarefas comuns
Para que isso não paire num nível abstrato, nada melhor que os membros do
grupo ou comunidade se proponham objetivos comuns, empreendam tarefas juntos,
realizem projetos motivantes.
Inteligência emocional
D. Golemam teve enorme sucesso com seu livro sobre a inteligência
emocional. Ele conta que a intuição de tal pesquisa lhe veio de pequena experiência
do cotidiano. Em pleno verão sufocante de Nova Iorque, ele pegará um ônibus,
experimentou o refrigério da saudação amável do motorista: “Oi com vai?” e ao
longo do trajeto, ele saudava todos os que entravam, tecia comentários sobre o
cenário à volta: lojas, cinemas etc. pouco apouco as pessoas saiam de seu mutismo
carrancudo, e ao saírem retribuíam a saudação. Saber conviver transforma a vida
dos companheiros de vida, de trabalho, de estudo, de atividade.
Experiências de convívio
Para aprender a viver juntos, os educadores precisam propriciar aos jovens
experiências de convívio e, dentro delas, refletir com eles sobre sua conduta. Há
muitas possibilidades de experimentar a vida em grupo. A primeira, natural, de
maneira explícita, a experiência familiar. Em geral, ela entra em questão quando
surgem graves distúrbio, e recorre-se, psicólogos. No entanto, as relações
familiares deveriam ser objeto de reflexão, analise, aprofundadamente,
indepedentemente dos ruídos aí existentes. É o tirocídio primeiro do aprendizado da
vida em comum.
A arte é também excelente exercício de viver juntos. Assim, por exemplo, a
representação de uma peça de teatro depende do desempenho de cada um em
particular e do trabalho em comum. O coral é outra maneira maravilhosa de
vivenciar uma atividade comum. A religião pode propiciar momentos de celebração
comunitária, em que se exprime de modo diferente a mesma experiência de grupo.
A educação dispõe de muitas possibilidades de formar os jovens no espírito
comunitário com a ajuda vigilante do educador.
Seu olhar crítico deve orientar-se numa dupla direção, observando tanto os
defeitos, as falhas, os limites, como as qualidades, as habilidades que os jovens
revelam na experiência de grupo.
Os extremos da supervalorização de si mesmo e do complexo de inferioridade
dificultam a convivência.
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Talvez hoje seja menos grave. Mas certamente houve momentos atrás em que
as posições ideológicas desempenhavam papel inibidor da convivência. A
radicalização ideológica chegou a ponto de excluir outras pessoas por causa de seu
corte de classe, de origem da família, de sua profissão ou de seus pais. Aprender a
conviver é saber situar-se diante do mundo ideológico com lucidez.
Conclusão
A convivência pede, em primeiro lugar, tolerância. A intransigência, de
qualquer natureza que seja, impede as pessoas de viverem juntas. A tolerância se
exerce a respeito do modo de pensar e de agir do outro.
Viver junto implica o conhecimento de si e do outro quanto aos valores e
limites. A aceitação e o reconhecimento se exercitam em experiências concretas de
vida em grupo, trabalho em equipe, tarefas sociais comuns e tantas outras formas
possíveis.
A sociedade de comunicação está a exigir das pessoas um melhoramento da
capacidade de relacionamento, a começar pelo mundo de trabalho. Tal facilidade de
convivência torna-se critério de seleção em muitas empresas. Não basta hoje a
acribia tecnológica; buscam-se também o controle e a educação das próprias
emoções, sentimentos, afetividade, no relacionamento com os outros.
Capítulo IV
Aprender a ser
Unilateralismo da cultura ocidental
A sociedade ocidental vai de um unilateralismo a outro. Ora o ser humano é
identificado com seu lado intelectual: “fulano é uma cabeça!”. Os elogios se
restringem à sua capacidade intelectual os cursinhos disputam clientes ostentando
os alunos classificados em primeiro lugar nos diferentes vestibulares. No ocidente
tem predominado a valorização intelectual das pessoas em detrimento de outras
qualidades. No ocidente tem predominado a valorização intelectual das pssoas em
detrimento de outras qualidades.
Quanto a própria inteligência, supervalorizada-se um dos seus aspectos. Os
critérios de promoção se fazem por meio de exames que exigem certo tipo de
inteligência lógica, de memória, de capacidade dedutiva. O lado estético, artístico,
imaginativo é menos valorizado, a não ser para a carreira de belas artes. E para
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triunfar nesse campo necessita ser muito acima da media, já que há pouca oferta de
trabalho.
Dimensão geracional
A antropologia amplia-se ainda mais. Já não se contenta de pensar o ser
humano em sua atualidade. Surge a preocupação geracional, pela primeira vez na
história da humanidade.
Esse conjunto de transformação gigantesco que a humanidade tem passado, e
nada leva a crer que o ritmo diminua, cria uma nova situação educacional. Aprende-
se a ser par a realidade presente e vindoura num espírito ético.
Aprender a ter é ocultar-se atrás das coisas. Aprender a ser é despojar-se das
coisas para revelar o próprio ser.
Ocultamento de si
Uma das maneiras comuns de ocultamento do próprio ser é “representar”
papeis. Ninguém confunde o ator com o personagem que ele representa numa peça
teatral. O que no teatro é arte na vida é fragilidade psíquica.
Em vez de alguém se manifestar quem ele é, esconde-se por detrás da
mascara de uma fachada de conduta, temendo ser rejeitado em sua própria pessoa.
Em busca da verdade de si
Aprender a ser é saber enfrentar-se na verdade de si. Não se sente
necessidade de camuflá-la com as posses, desde as materiais até as simbólicas e
de títulos. Somos a medida que pensamos, nos criticamos, decidimos, assumimos
responsavelmente nossos atos.
O ser humano vai mais longe. Se fosse somente um ser de necessidade, deter-
se-ia em dado momento no desejo das coisas. Satisfeitas suas necessidades, já não
necessitaria de mais nada. Acrescenta-se, porém, que ele é um ser simbólico,
doador de sentidos e ávido de sentido. Aí pode desejar infinitos bens e nunca ficará
satisfeito, já que abre pelo espírito um espaço infinito a ser preenchido.
Aprender a ser hoje implica uma tarefa singular de saber situar-se diante da
terrível força inculcadora dos novos meios de comunicação. Na cultura oral, as
pessoas se construíam dentro de um ambiente relativamente fechado.
A medida que a modernidade avançava com seu processo de secularização,
rompia-se a força monolítica dessa cultura tradicional.
Aprender a ser hoje implica necessariamente uma postura critica diante dessa
cultura massificada, vulgarizada, banalizada.
Nada há puramente sensível no ser humano que não se culturalize por sua
capacidade simbólica.