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Introdução:

Quando Laura Bohannen introduziu Hamlet de Shakespeare, entre os "Tiv" da Nigéria, constatou
que eles interpretavam à luz de sua própria cultura. Na época, Laura cita que a questão neste caso,
não é apenas o que Hamlet significa para os Tiv, isto sim, o que Hamlet significará para o hindú,
um árabe ou um ilhéu trobriandês. Pois no estudo da cultura não é suficiente conhecer os
elementos de outra cultura e interpreta "sua" cultura por exemplo a sua literatura. (Folclore);
precisamos também saber como os membros de outra cultura interpretam nossa literatura.
Apresentamos isto para ilustrar o que pretendemos fazer. Laura estabelece um paralelo entre uma
tribo e a civilização ocidental, nós pretendemos mostrar o que acontece numa comunidade, cuja
organização é tribal, dentro de uma cultura ocidental.

Histórico:
Segundo os antropólogos naturalistas, o homem passa por três fases de evolução: instintiva,
intuitiva, intelectiva.
Instintiva - O homem age por instintos como os animais;
Intuitiva - O indivíduo começa a observar fenômenos da natureza, tentando transmitir ao seu
semelhante o que ele sabe: O homem começa a pensar sob um ponto de vista sociológico; cria
arte, a religião e a filosofia. Encontra-se com a natureza e identifica-se com ela, tornando-se seu
expectador. Sua linguagem é oral e ocorre pouca grafia.
Quanto ao seu idioma, é uma linguagem cifrada como a de um computador. Quanto aos seus
valores, o indivíduo nega (-) ou afirma (+). Não há pronomes relativamente pessoais, a não ser "eu"
e "ele". Quando se quer exprimir qualquer situação andrógena, há a aspiração do som e quanto às
situações exógenas, há expiração de som.
Intelectiva - Nesta fase o homem pensa racionalmente e começa a codificar as mensagens.
O negro africano (no candomblé), na visão dos estruturalistas, está na fase intuitiva, que é a
segunda fase antropológica. Ele passaria para a terceira fase se sofresse ocidentalização.
Encontram-se dois símbolos em todas as culturas, que possuem som e cor:
1 - Cosmo visão (movimento helicoidal)
2 - Visão Seccionada (movimento em zigue-zague)

Para os negros (no candomblé), a estrutura mental tem movimento, portanto sua visão da natureza
é cíclica, visão cósmica do mundo girando. O negro, tendo uma cosmo visão, acha que todos nós
não fazemos parte do cosmos, possuímos uma parte na natureza, ou seja, as forças da natureza.
O homem moderno (ocidental) perde esta cosmo visão, pois separa devido à sua grande
especialização, dia e noite, vida e morte, claro e escuro, sendo que para os negros, estes
fenômenos são contínuos. Para o homem ocidental, ao contrário, tudo é segmentado e assim ele
inventa a estatística. Para se entender o contexto psico social do negro influenciando a cultura
brasileira, é necessário levar em conta sua cosmo visão em choque com a visão seccionada da
natureza dada pelo homem moderno.
Negros na África
Grupos Bantus - "Somos filhos da mesma massa, todos temos a mesma energia"
Do ponto de vista sociológico, não existe discriminação, qualificação, ou mesmo casta. O
comportamento social é casuístico. O chefe é o mais habilitado e o que lidera a tribo
espontâneamente. O negro (no candomblé) aceita a liderança e a chefia como algo natural. Ele tem
noção da perpetuidade da espécie a medida que ele é parte do cosmos, do divino, portanto ele é
eterno. Ele vê no filho, a continuidade de si mesmo.
Em época de guerra, a tribo vencedora escraviza a derrotada, mas os filhos dos escravizados são
sempre cidadãos plenos.

Condomblé no Brasil
Os europeus seccionaram o fundamento filosófico do negro (no candomblé). Seu sentido de
continuidade perde a razão de ser, uma vez que seus filhos também eram escravizados, ele perde
sua identidade com o mundo.
No século XVI e XVII os negros da tribo Mandigueiros, tinham profundo conhecimento de ervas e
ingeriam-nas com o propósito de esterilizar o indivíduo, já que não havia mais sentido em ter filhos,
vistos que estes não eram mais deles.
Os Bantus ficam acéfalos do ponto de vista sócio-cultural, são escravizados e se tornam dóceis.
Isto justifica o fato de que a maior parte dos negros escravizados na América foram Bantus.
Em meados do século XVIII chegam ao Brasil os Sudaneses. Já vieram com uma organização
mental e trazem a organização dos orixás Panteon.
Código de pensamentos - "Se eu sou a síntese da natureza, reajo e me comporto como tal"
Fenômenos da natureza - Há quatro princípios básicos simbolizados por:
Pai, filho e Espírito Santo, é a estrela de Davi. É o princípio de todas as religiões Panteístas que
estabelecem todo o panteon da natureza.
A terra, o fogo, a água e o ar produzem fenômenos físicos.
Há uma história mitológica, que os negros contam aos seus descendentes através dos séculos:
Olorum (Deus), encontrou em seu trono Yemanjá (água, mar) e ficou muito bravo. Como castigo,
Olorum determinou que Yemanjá fosse habitar o planeta Terra. Yemanjá trás suas porções de água
(os 7 mares) e tenta acomodá-los nos sete vales do planeta, como não coube o planeta acabou
inundando (Bíblia - "No princípio tudo era água..."). Sendo assim ela pede ajuda de Ogum (trabalho
físico na terra). Ela pede que Ogum cave a terra para que ela possa acomodar as suas águas.
Ogum cava até que perfura uma camada e atinge o reino de Omolú (fogo geológico - subterrâneo).
Omolú ficou bravo por seu reino ter sido inundado e reagiu com um terremoto que abalou a terra
enrrugando-a, nascendo assim as montanhas, os vales e os continentes. Assim sendo surge do
infinito, Nanã que procura acalmar Omolú com suas águas doces formando assim os lagos, e tudo
se estabiliza começando o processo de germinação.
Yemanjá símbolo da fertilidade (esperma e semên) a vida vem da água (biologia e bíblia).
Xangô e toda a sua genealogia do fogo, aqueceu a terra criando condições de vida. Fogo aquece a
água que se evapora formando o ar que vem a ser Oxalá, aparecendo em continuidade as florestas
e a flora simbolizadas por Oxossi.
A cultura Afro estebelece 27 fenômenos da natureza que correspondem a 27 designações ditas
Orixás.
Ori - Cabeça, comportamento, conduta
Xá - Chefe, líder, responsável (O chefe comanda o comportamento).
O homem contém todos os Orixás, 2/3 de água como no planeta Terra temos Yemanjá, Olokum e
Nanã (oceânos e lagoas) que simbolizam o plasma. Oxum, dona dos rios, que simboliza as veias.
Cabelos e pêlos do corpo seriam Oxossi (florestas).
Calor e energia do corpo corresponderiam a Xangô (fogo).
Yansã: raio que não atinge a terra (energia que circunda o organismo).
Três dos 27 Orixás se sobressaem no indivíduo: Orí, Odú e Adjuntô.
Ori - moleira, ponto fraco do organismo (determina nosso comportamento social);
Odú - designa o nosso comportamento instintivo;
Adjuntô - censura.
Os negros imaginam que todas as pessoas tem um espírito protetor também chamado de anjo-da-
guarda, devido a influência do catolicismo, que deve necessariamente ser um dos Orixás em
qualquer uma das suas formas.
Visão Mítica:
Orí - Orixá de cabeça, determina o comportamento social;
Odú - Representa os antepassados;
Adjuntô - Ser divino;
Ifá - Energia cósmica do ser.
Os negros todos agrupados não tem o Candomblé, eles cultuam alguns dos Orixás que são
representados por pedras. Ao serem confinados aleatóriamente sem nenhuma preocupação de
agrupá-los por raça ou seita, os negros (no candomblé) passaram a exercer JUNTOS os diversos
rituais provocando então uma interação religiosa e consequentemente cultural, inclusive artísticas e
que deram o nome ao Candomblé (significa: Festa dos Orixás). Por outro lado, a catequese
obrigatória e com isso ocorre o SINCRETISMO:
Ogum - São Jorge
Oxóssi - São Sebastião
Yansã - Santa Bárbara
Oxum - N.S. das Candeias
Yemanjá - N.S. da Conceição
Nanã - Santa Ana e assim por diante.
Os negros impossibilitados devido a presença dos padres e dos feitores de cultuar seus Orixás,
colocavam na frente de seus Orixás um santo da igreja Católica. Esta seria a razão do sincretismo,
levando a cultura atual classificar as culturas afro como Baixo Espiritismo, Magia Negra, Macumba
e Umbanda. Com o desenvolvimento do sudeste e sul houve migrações de negros para essas
regiões. O sincretismo começa a ocorrer no sul da Bahia e Rio de Janeiro e secundariamente nos
estados setentrionais.
A razão pela qual as pessoas procuram o candomblé
São várias necessidades que fazem com que as pessoas procurem o Candomblé:
- Emocional: Caráter de busca de sua origem interior, isto independe do grau ou da socialização,
necessidade inconsciente de resultado emocional. Geralmente este indivíduo integra o grupo e
assimila a filosofía;
- Econômica: É o consulente, mantém o grupo em termos de sustentação econômica, pois no
Candomblé a economia é no sentido de trocas semelhantes as das tribos indígenas;
- Afetiva: É o amor: basicamente os que vão a procura de esclarecimentos. Este é extemporâneo.
A importância dos atabaques
A orquestra do Candomblé se compõe de três instrumentos principais:
- O atabaque (Ilu), o agôgô e a cabaça.
Há 3 espécies de atabaque, o grande (Rum), o médio (Runpí) e o pequeno (Lé). Os atabaques são
considerados essenciais para a invocação dos deuses. Os nagôs e geges percutem o couro com
os òghidavis.
O agôgô é um instrumento de ferro - duas campânulas, superpostas, uma menor do que a outra -
percurtido com uma vareta igualmente de ferro.
O som deste instrumento se destaca notavelmente sobre os demais. Quando tem apenas uma
campânula, chama-se gã.
A cabaça é uma cabaça comum coberta com uma rede de malhas feita com sementes chamadas
contas da Santa Maria. Durante alguns anos, recentemente, em vista da proibição policial contra os
atabaques, a orquestra dos Candomblés contava principalmente com estas cabaças, outrora
chamadas de piano-de-cuião ou aguã.
O chefe do Candomblé acrescenta à orquestra, quando nagô ou gege, o som do adjá, uma ou duas
campânulas compridas que sacudidas ao ouvido da filha, ajudam a manifestações do Orixá e
quando Angola ou Congo, o som do caxixi, um saquinho de palha trançada cheio de sementes.
Antes de começar a dançar, a filha deve reverenciar a orquestra, com a cabeça em terra. A
chegada de um ôgô, os tocadores interrompem a sua música e saúdam, com um toque especial, o
recém chegado que deve meio ajoelhado passar a mão no chão elevá-la a testa, tocando depois
com os dedos os atabaques. Os Orixás, manifestados nas filhas, vêm homenagear a orquestra e
passar complascentemente a mão pela cabeça dos seus componentes.
Sem o atabaque a festa perde 90% do seu valor, pois este instrumento é considerado o meio de
que se servem os humanos para as comunicações e para as suas invocações aos Orixás. É ainda
como na África, o seu telégrafo, dando a grata notícia da festa à gente do Candomblé por acaso
distante. É o elemento de animação da cerimônia (ainda, como na África). É o único instrumento
que realmente é apropriado para saudar os Orixás, quando já "desceram" entre os mortais ou para
invocá-los, quando sua presença é necessária para saudar as ôgâna para marcar o ritmo, ora
monótono, ora decorativo, ora vertiginoso e aparentemente desordenado das danças sagradas.
Bibliografia
Babalorixá Paulo de Oyá
Orixás: Pierre Fatumbi Verger
O Candomblé na Bahia: Roger Bastide
O Folclore Negro no Brasil: A. Ramos
O Negro Brasileiro
O negro na Civilização Brasileira
As Culturas Negras
América Negra: Roger Bastide
Cultos Afros no Brasil
Os Candoblés Brasileiros: N. Rodrigues
Candomblés na Bahia: E. Carneiro
Negros Bantus
Os Vivos e os Mortos: J. Ziegler

Candomblé — Ritual e Tradição


Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na
Bahia, denominada candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo
o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.

"O CANDOMBLÉ: SUAS NAÇÕES E VARIANTES"


Histórico
O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com
diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em
Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no
Rio de Janeiro.
A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez
que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas
décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse
período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior
mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes.
Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a
formação de grupos de culto organizados.
Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos
grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé
com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião
afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por
excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas.
Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor
com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma
luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem
limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades
como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.
O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros
locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de
escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera
antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de
origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a
ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil.
Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no
Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas
começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer
como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a
umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos
seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida
descendente, a umbanda.
Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País
encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto
custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes
movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura
brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes
foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios
pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um
estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que
demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de
tantas desilusões.
O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento
num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contava. Nos novos
terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens
étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

Nação Ketu
O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome
de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as
atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo,
Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubas e os
ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade
se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana.
Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé,
geralmente a referência é o candomblé queto e seus antigos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e
duas casas derivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido
grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitas de suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o
significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as seguintes "nações" também
são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são também denominados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em
Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação no Rio Grande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de
Alagoas e Pernambuco.
Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por todos os grandes centros
urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua propagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de
recuperação de raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o sincretismo católico, procura reaprender o iorubá
como língua original e tenta reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.

Nação Angola
A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos
inquices, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também
intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fundamental importância o
culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais
brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo
é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé
angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje
quase inteiramente absorvidas pela nação angola.

Nação Jeje
A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes,
como já eram chamados pelos nagôs, e suas divindades centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes
foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.

As Tradições e Rituais Jejê


Origem da Palavra Jejê
A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje,
em termos políticos. O que é chamado de nação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos
povos mahins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas que habitavam o leste, porque os mahins
eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que
era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de
Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a
tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.

Origem da Palavra Dahomé


A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e
morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas,
o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos
significados encontrados: Dan = “serpente sagrada” e Homé = “a terra de Dan”, ou seja, Dahomé = “a terra da serpente sagrada”.
Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam
seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata,
ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio descendo do Egito até Dahomé.

Dialetos Falados
Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos
dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos
falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou
Agonis, Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua.

Os primeiros no Brasil
Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São Luís desceram para Salvador, Bahia e de
lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há uma grande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e
Cachoeira de São Félix (Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde se encontravam evidências
desta cultura.

Voduns
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceu no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns
não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em
Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas.
Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns
Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este
é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro
dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra
encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque
Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de
Lokoses. Ague, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de
Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em
Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite.
Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás,
achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que
englobam o Mahin e também outras famílias Jeje.
Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, nós que pertencemos a esta nação
deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos
povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de
nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um
apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados.
Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe =
"casa". A casa matricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas,
dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais,
porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera,
gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o
Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica
situado o candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a
"sacerdotisa" é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno.

Fundadores
Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undé", esta casa como é chamada em Cachoeira de São Félix de "Roça de Baixo" foi fundada por
escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.
Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos do sítio e foram os
fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe ainda seria chamada de Pozerren, que vem de Kipó, "pantera".
Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiro Pejigan da roça; e Ludovina, pessoa que seria a
primeira Gaiacú.
A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin,
que era comandada por Sinhá Romana que vinha a ser "Irmã de santo" de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo
de Gaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase,
Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por
Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalves de Souza, vem a ser a dona da
terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undé.
Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com Maria Angorense, conhecida como
Kisinbi Kisinbi.
Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdade vem do termo
idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer "transmissão de segredo". Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos da
nação Jeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter havido "Pai de santo". O cargo de sacerdotisa ou
"Mãe de santo" era exclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser Gaiacús.

Ogans
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer
“Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do
atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também
outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.
Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma independente em seus cultos
e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.

Mina Jeje
Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei
anteriormente, atual República Popular de Benin.
A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns e,principalmente, o culto à Dan ou o
culto da Serpente Sagrada.
Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e
morreu em 1954, com 104 anos de vida.
Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:

*Ayzan - Vodun da nata da terra


*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviosso
*Aguê - Vodun da folhagem
*Loko - Vodun do tempo

Curiosidades
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi D.Adelaide Santos
*Ekede – termo Jeje
*Done – cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá
*Doté – cargo ilustre do filho de Sogbô
Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de
Doté; e do sexo feminino, de Doné.
Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria “Megitó Benoí?” Resposta: “Benoí”; e aos
iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria “Doté Ao?” Resposta: "Aótin".
O termo usado "Okolofé", cuja resposta é "Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.

(Texto de Reginaldo Prandi (in: Herdeiras do Axé. Sao Paulo, Hucitec, 1996), adaptado para este site pelo autor.)

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