Este documento discute a transposição de métodos de análise documentária de textos para imagens fotográficas. A análise documentária de imagens objetiva identificar o conteúdo informacional da imagem e requer pesquisa sobre o referente para compreendê-lo. A indexação de imagens deve considerar atributos como assunto e relações para melhorar o acesso.
Este documento discute a transposição de métodos de análise documentária de textos para imagens fotográficas. A análise documentária de imagens objetiva identificar o conteúdo informacional da imagem e requer pesquisa sobre o referente para compreendê-lo. A indexação de imagens deve considerar atributos como assunto e relações para melhorar o acesso.
Este documento discute a transposição de métodos de análise documentária de textos para imagens fotográficas. A análise documentária de imagens objetiva identificar o conteúdo informacional da imagem e requer pesquisa sobre o referente para compreendê-lo. A indexação de imagens deve considerar atributos como assunto e relações para melhorar o acesso.
Pretendemos desenvolver, nesta comunicao, questes atinentes transposio de mtodos e tcnicas da anlise documentria que se opera com textos escritos para a anlise documentria de imagens. Em nossa tese de doutorado (em andamento), queremos propor uma metodologia de anlise documentria de imagens que se enquadre nas definies e conceitos j tradicionalmente reconhecidos, mas que foram elaborados tendo em vista, exclusivamente, o texto escrito de natureza tcnico-cientfico. A Anlise Documentria de Fotografias objetiva a identificao do contedo informacional da imagem fotogrfica. O que ela significa ou expressa no oferecido s pela imagem e compreende um outro processo de identificao. O referente ser analisado e pesquisado; sobre ele sero tiradas concluses e a imagem poder ser melhor analisada. A operao da anlise documentria de documentos fotogrficos tambm deve ser pensada em termos da representao escrita e da posterior recuperao da informao imagtica por parte do usurio. Ser necessrio saber separar duas coisas: o que a imagem mostra pode ser muito diferente do que o profissional da informao v. O referente pode dizer muito pouco ao profissional da informao; o seu repertrio pode no incluir dados sobre o referente e a pesquisa se torna ainda mais necessria. Todas as dificuldades em analisar um documento fotogrfico podem culminar num completo equvoco quanto identificao, tratamento e anlise de uma imagem. Quaisquer que sejam as fontes destas informaes sobre a imagem, o profissional da informao est construindo um outro significado, ele est efetuando uma transposio de estruturas, e isto deve ocorrer de forma bastante objetiva, principalmente porque o usurio precisar desta objetividade no momento em que ativar a recuperao da informao. Na verdade, o que deve aparecer na anlise documentria de imagens so informaes objetivas contidas na fotografia: dados concretos sobre o referente. Tais dados podem ser ratificados atravs de outros documentos, escritos ou iconogrficos, mas a primeira informao deve partir exclusivamente da imagem que se analisa. Encontramos em Andin (1993) uma idia muito particular a respeito do profissional da informao: trata-se de um profissional atrelado a arbitrariedades, que explica as coisas atravs de ndices, de restos, de smbolos, etc., e ela fala, exatamente, do documentalismo na fotografia e indica, entre outros, os seguintes traos do documentalismo fotogrfico contemporneo: o fotgrafo parte de um discurso, a representao aparece como realidade, h uma preocupao analtica e uma preocupao com a Histria.
1 Doutoranda em Cincia da Informao no CBD/ECA/USP
2 Ou seja: o fotgrafo utiliza-se da linguagem fotogrfica para expressar seu discurso (ideolgico, poltico, esttico, etc.) e esta parte relacionada produo e s tcnicas da imagem fotogrfica no interessam anlise documentria. A representao daquele discurso aparece como realidade: o referente da imagem foi, existiu. A preocupao analtica, esta sim, cabe ao profissional da informao, mas a preocupao com a Histria no fica a seu cargo. O objetivo do profissional da informao deve ser analisar exclusivamente a imagem e seu referente. Na representao da imagem h um referente genrico e outro especfico, sendo que o reconhecimento deste ltimo no automtico, uma vez que supe conhecimentos prvios, tambm especficos. Por exemplo, se vamos resumir ou indexar uma fotografia, o retrato de uma mulher, o referente genrico exatamente este: trata-se de uma mulher; outra coisa saber de quem se trata, seu nome, poca e local em que viveu ou em que foi fotografada. Este seria o conhecimento sobre o referente especfico e este saber s nos dado de duas formas: ou atravs de nosso repertrio ou atravs de uma legenda (ou outra fonte escrita). Este conhecimento no dado pela imagem, mas suscitado por ela. Layne (1994) prope a discusso dos aspectos intelectuais envolvidos na indexao de imagens e afirma que este processo serve para melhorar o acesso s mesmas baseado em atributos das prprias imagens (sejam elas nicas ou agrupadas). Ela categoriza os atributos das imagens em biogrficos, de assunto, de exemplos e de relaes e acha necessrio considerar os seguintes aspectos no agrupamento de imagens: Quando ele deve ocorrer? Em que baseado? Que nvel de detalhamento necessrio? Quais agrupamentos sero teis? Em sua defesa da importncia e, basicamente, da diferena que a imagem representa, Layne chama a ateno para o seguinte fato: se h autores que utilizam o texto e a imagem conjuntamente para expor suas idias, deve ser verdade que a imagem diz alguma coisa que o texto no consegue dizer sozinho. Da se deduz que a imagem tem diferentes significados e informaes comparativamente aos textos. Muitos autores concordam que a fotografia muito mais eloqente que a palavra. Contudo, uma imagem no contextualizada (atravs da palavra...) de nada ou pouco vale dentro de um acervo, pois preciso conhecer-lhe a origem, o histrico, e fundamental relacion-la com outros documentos, principalmente se se tratar de um arquivo, onde a organicidade e a idia do conjunto documental so importantssimas. O reconhecimento do contexto amplia as condies do modo de difuso das imagens. Talvez uma pista para melhor compreender esta questo esteja no fato do ndice fotogrfico mostrar objetivamente DE que a fotografia (seu referente) e no o seu significado, que acreditamos estar mais relacionado com a expresso fotogrfica, algo passvel de anlises subjetivas, as quais a anlise documentria de imagens deve evitar. Pode ser que desvendar a expresso fotogrfica seja mais a funo do pesquisador; seria algo como perguntar o PORQU da existncia da imagem.
Visualidade e Escrita
Na relao imagem/texto h duas situaes importantes a se considerar. A primeira delas o fato do documento fotogrfico juntar-se a uma outra linguagem (no caso da legenda, por exemplo, que um texto escrito) e isto ser uma utilizao da informao textual baseada, mas nem sempre, em uma informao imagtica. Em segundo lugar, a aplicao da linguagem da anlise documentria a um documento fotogrfico gera uma informao textual.
3 Sendo o principal objetivo da Anlise Documentria a garantia de equivalncia de sentido do texto principal e a sua representao, temos por meta verificar se esta garantia e se esta equivalncia podem ser mantidas e asseguradas no caso do texto principal ou texto-fonte ser uma fotografia. Para tanto, vamos nos ater aos aspectos do processo da anlise documentria de fotografias, para o qual pretendemos propor uma metodologia baseada nas concepes semiticas de Charles Sanders Peirce e que se coadune ao que conhecemos at o momento. O que vai nos interessar a elaborao de representaes documentrias (especificamente a indexao) de imagens fotogrficas. A base de nossas preocupaes ser, ento, o levantamento de termos para indexao, pois neste processo que o profissional da informao realiza a tarefa mais importante em termos de anlise de contedo: a hora de reunir as palavras que faro com que o usurio se interesse ou no pelo documento. desta operao que resulta a representao do documento de forma concisa e ordenada com vistas a uma recuperao da informao eficiente e satisfatria. Para o documento escrito, as etapas da anlise documentria so a leitura inicial de sua estrutura, o levantamento das principais informaes, o reconhecimento estrutural do texto, a localizao das informaes essenciais e a seleo das mesmas (dando origem, neste momento, ao resumo ou indexao), a elaborao final de resumos e ndices. A anlise documentria de fotografias tambm comea com a leitura do documento fotogrfico com fins documentrios. Nesta leitura j est embutido um certo conhecimento prvio do profissional da informao sobre o contedo da imagem ou sobre o conjunto maior de que faz parte (se pertencer a um acervo arquivstico). O exerccio da pesquisa (que, alm de fornecer dados mais precisos sobre a imagem, ir tambm enriquecer e renovar repertrios) igualmente importante, alm do conhecimento sobre o usurio e sobre a poltica da instituio. A elaborao de um resumo da fotografia tende a perder sua necessidade com a proliferao dos bancos de imagens, que trazem a prpria fotografia, dispensando a descrio textual da mesma. Contudo, a operao-irm da elaborao de resumo a indexao parte, por vezes, da prpria imagem, mas, outras vezes, parte do resumo que se faz da mesma. Isto est sendo verificado em pesquisa de campo realizada junto a instituies brasileiras (ainda no temos dados referentes s instituies de outros pases a este respeito). O que preside esta deciso ainda uma incgnita, mas pensamos que a anlise indicial da fotografia poder auxiliar de maneira definitiva, de modo a deixar o resumo de lado. O levantamento de palavras para a representao documentria pode acontecer a partir de uma srie de operaes que vo desde responder s perguntas quem, onde (ambiente), quando, onde (espao), o que e como (feitas imagem fotogrfica), passando por uma anlise baseada nas idias de Panofsky (1976) (especialmente sobre os nveis pr-iconogrfico e iconogrfico) at chegar possibilidade (para o caso de fotografias de arquivo) de colher informaes no conjunto maior em que as mesmas esto inseridas (informao proveniente, provavelmente, de textos escritos, mas que no so o resumo e que foram elaborados fora da instituio). Elaboramos as seguintes perguntas para fazer imagem, baseadas em Peirce e no signo indicial, somando com as propostas de Shatford e Panofsky (1976): Quem ou o que aparece na imagem (descrio ou nome das pessoas e/ou lugares); Que lugar aparece na imagem (localizao espacial e geogrfica);
4 Quando foi realizada a tomada (indicao de data, tempo cronolgico ou ocasio); Como so ou esto os principais elementos da imagem (complementao da descrio inicial feita do motivo principal da imagem); O que indica esta imagem (de que ela o trao, a marca, o sinal). As respostas a estas perguntas devem ser dadas com base em informaes concretas provenientes da imagem ou de seu referente.
A Ttulo de Concluso, O Referente
Se aproximarmos a questo da indicialidade na leitura para fins documentrios da questo da importncia e funo do referente na anlise documentria de imagens possvel chegar a algumas concluses. Dubois j afirmou (1986, 1999) que a fotografia uma prova de existncia, mas no uma prova de sentido. A especificidade indicial da fotografia traz conseqncias considerveis s anlises consagradas imagem fotogrfica. Uma delas a que mais nos interessa est ligada s relaes entre o visvel, o real, a realidade e a verdade. A fotografia que um ndice e toda fotografia um trao de que aquilo foi tem no referente seu maior e mais importante dado de existncia e de definio. Aquilo que foi fotografado o referente e a existncia deste referente que d o carter indicial fotografia. Na anlise documentria de imagens podemos perguntar o que a imagem indica sobre o referente. Se a funo da anlise documentria realizar procedimentos de leitura e representao de documentos com vistas recuperao de suas informaes, para o caso das fotografias tais informaes so concernentes ao referente, e esta uma das diferenas primordiais entre a anlise documentria de textos escritos e a anlise documentria de imagens. A fotografia o primeiro tipo de imagem cujo referente sempre real. Alm disso, o referente de outras formas de representao diferente, ainda que remeta a algo real. Assim, a pintura de um quadro onde aparea um vaso com flores no significa necessariamente que aquele vaso tenha sido copiado de uma existncia real; ele pode ser exclusivamente fruto da imaginao, da criatividade e do repertrio do artista. Para os documentos fotogrficos importa muito esta realidade ou este realismo do referente, pois tais documentos registram e testemunham, representam e significam, e podem tambm ilustrar e exemplificar situaes. A leitura que se faz da imagem tambm uma leitura sobre o referente: aquele seu aspecto, aquele seu ponto de vista. A histria da imagem pode ser diferente da histria do referente: ao pesquisador certamente interessa mais a parte do referente; a um fotgrafo talvez interesse mais os detalhes da imagem. A fora do referente numa fotografia grande e incontestvel: s falta mesmo dizer que a fotografia o referente, ou vice-versa. A funo do referente na fotografia dar assunto, motivo e razo de ser imagem. No caso dos documentos fotogrficos, diramos que a funo do referente ser documentado, ser registrado e significar, indicar alguma coisa. A funo do referente ser um ndice peirceano.
5 Referncias Bibliogrficas
ANDIN, Margarita Ledo. Documentalismo contemporneo: da inocncia lucidez. Revista de Comunicao e Linguagens, Lisboa, n. 17/18, p. 125-130, 1993. DUBOIS, Philippe. El acto fotografico: de la representacin a la recepcin. Barcelona: Paids, 1986. (Paids Comunicacin, 20). DUBOIS, Philippe. O ato fotogrfico e outros ensaios. 3. ed. Campinas: Papirus, 1999. (Srie Ofcio de Arte e Forma). ECO, Umberto. Tratado geral de semitica. 3. ed. So Paulo: Perspectiva, 1997. LAYNE, Sara Shatford. Some issues in the indexing of images. Journal of the American Society for Information Science, v. 45, n. 8, p. 583-588, 1994. MANINI, Miriam P. Anlise documentria de imagens: visualidade e escrita no tratamento e na recuperao da informao. Campinas, 1997. In: SIMPSIO DE TCNICOS DE APOIO AO ENSINO E PESQUISA, 1, Campinas, 1997. MANINI, Miriam P. Anlise documentria de imagens: documentos fotogrficos e indicialidade. Cadernos da Ps-Graduao, Instituto de Artes/ UNICAMP, Campinas, ano 2, v. 2, n. 2, p. 98-102, 1998. MANINI, Miriam Paula. Anlise documentria de fotografias: proposta de uma nova metodologia. In: ENCONTRO DA ASSOCIAO NACIONAL DE PESQUISA E PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO, 4, 2000, Braslia. Anais, Braslia, 2000. (HMCard) PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. So Paulo: Perspectiva, 1976. (Coleo Debates, 99). PEIRCE, Charles S. Collected papers of Charles Sanders Peirce. Massachussets: Belknap Press of Harvard University Press, 1965. PEIRCE, Charles S. Semitica. 3. ed. So Paulo: Perspectiva, 1999. SHATFORD, Sara. Describing a picture: a thowsand words are seldom cost effective. Cataloging and Classification Quarterly, New York, v. 4, n. 4, p. 13-29, 1984. SHATFORD, Sara. Analyzing the subject of a picture: a theoretical approach. Cataloging and Classification Quarterly, New York, v. 6, n. 3, p. 39-62, 1986. SMIT, Johanna W. Anlise documentria: a anlise da sntese. 2. ed. Braslia: IBICT, 1989. p. 101-113. SMIT, Johanna W. A representao da imagem. Informare, Rio de Janeiro, v. 2, n.2, p. 28-36, jul./dez. 1996.
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