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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO XI

DIREITO INTERNACIONAL
Direito Internacional Privado e Comércio Internacional

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DIREITO INTERNACIONAL

Direito Internacional Privado e Comércio Internacional

1. INTRODUÇÃO

O Direito Internacional Privado e o comércio internacional


possuem pontos de contato muito grandes: as questões de comércio
internacional envolvem pessoas em países diversos e, portanto, o conflito de
leis no espaço está sempre presente. Os mecanismos que resolvem tais
conflitos são encontrados no Direito Internacional Privado, como as regras
referentes aos elementos de conexão aplicáveis em cada caso concreto.

2. NOÇÕES

O comércio internacional está ligado ao que chamamos “lex


mercatoria” – um corpo de regras costumeiras e de princípios comuns a todo
comércio que se faz além fronteiras do Estado.

Para muitos, as relações comerciais internacionais parecem escapar a um


direito estatal e direcionar-se a um direito uniforme nessa área.

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O estudo do comércio internacional abrange os contratos internacionais,


suas cláusulas mais importantes, os inconterms, a arbitragem comercial etc.

3. CONTRATOS INTERNACIONAIS

O contrato é definido como um acordo de vontades, com o objetivo de


criar uma relação de direito e apresenta dois requisitos básicos: o acordo de
vontades e a necessidade de subordinação do contrato à lei.

O contrato é internacional quando contém algum elemento estrangeiro de


importância vital.. Daí a aplicação do Direito Internacional Privado para a
solução de seus problemas.

Na verdade, o contrato internacional depende de um conjunto de fatores:


domicílio das partes, substância dos negócios, lugar da constituição da
obrigação ou lugar da execução da obrigação etc.

3.1. Cláusulas Contratuais

Muitos são os contratos internacionais, a saber: know-how, prestação de


serviços, transferência de tecnologia, transporte, compra e venda, leasing,
franchising, transporte marítimo, entre outros.

A elaboração do contrato internacional é mais detalhada que a dos


demais contratos, demandando, em geral, um tempo maior de gestação por
conter cláusulas diferenciadas, próprias do comércio internacional.

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Três fases fundamentais encontram-se nos contratos internacionais: fase


de formação, fase de conclusão e fase de execução.

A formação do contrato abrange uma série de atos por meio dos quais
surge, concretizado, o consentimento contratual. É um período de ajuste de
vontades para a conclusão do acordo. Nesse período entram as noções de
oferta e aceitação do contrato, cujas regras o Direito Interno não satisfaz
plenamente. Observamos que o mundo moderno possui meios diversos de
comunicação, que incluem não só carta, telefone, telegrama, mas também,
fax e computador e que certamente podem ensejar interpretações diferenciadas
do momento da consumação das vontades para a feitura do contrato.

Aqui, nosso espaço é muito limitado para o desenvolvimento das teses


possíveis, fazendo-se necessária a leitura de livros específicos sobre os
contratos internacionais e suas configurações. Basta-nos saber, e essa a
finalidade de parte deste módulo, que o Direito Internacional Privado e o
Direito do Comércio Internacional têm regras bem diferenciadas dos diversos
ramos do Direito Interno de cada um dos Estados.

Dentre as cláusulas contratuais mais estudadas, principalmente na fase de


formação do contrato, algumas merecem destaque: as cartas de intenção, as
lettres de patronage ou confort letters, os acordos de segredo, os bid bonds ou
garantias, e as cláusulas standards ou condições gerais do contrato. Outras
cláusulas podem ser estudadas; porém, aqui, ficaremos com as mais
importantes, quais sejam:

• Cartas de intenção: documentos preparatórios para o contrato


definitivo, em que os partícipes do contrato balizam as negociações,
fixam pontos essenciais, estabelecem a repartição das despesas da
negociação e a obrigação das partes e podem fixar os elementos
temporais.
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• Lettres de Patronage ou Confort Letters: cartas de conforto ou de


abono, usadas com freqüência nos contratos de mútuo ou de
financiamento com bancos, financeiras ou asseguradoras; são
firmadas por uma sociedade (sociedade controladora) em favor de um
banco ou outro agente financeiro, para que esse último conceda um
mútuo ou financiamento a uma sociedade controlada.

• Acordos de segredo ou secrety agreement: acordo de sigilo de


determinados aspectos do contrato, como, por exemplo, resguardar
um dado confidencial, que, se desrespeitado, impõe ao infrator uma
penalidade. Representa uma obrigação de não divulgar certas
informações e conhecimentos confidenciais. Tem autonomia como
contrato, embora esteja ligado a um contrato de comércio principal.
Constitui-se num contrato temporário na fase de negociação.

• Bid Bonds ou garantias: garantias que nascem da prática do


comércio internacional, normalmente nos contratos de compra e
venda, de prestação de serviços ou licitação. Uma das espécies de
garantia é o compromisso assumido por um banco (garantidor)
perante um beneficiário, pelo qual o garantidor se obriga, no caso de
uma das partes faltar com o cumprimento de suas obrigações
contratuais, a efetuar um pagamento ao beneficiário, dentro dos
limites indicados.

• Cláusulas Standards: são as condições gerais do contrato; são


cláusulas conhecidas que facilitam o comércio internacional.

4. ARBITRAGEM INTERNACIONAL
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A arbitragem tem sido muito utilizada no Direito Internacional Público


para dirimir conflitos entre os Estados e, também, no Direito do Comércio
Internacional, para dirimir conflitos entre comerciantes. A arbitragem
caracteriza-se como um procedimento de composição de conflitos de interesses
que atua fora dos quadros estabelecidos da jurisdição estatal. Seu fundamento
último encontra-se na autonomia da vontade.

Os árbitros, nos conflitos internacionais, aplicam a lex mercatoria ao


Direito do Comércio Internacional, constituído por regras e princípios
aplicáveis às relações jurídicas no comércio internacional.

A solução por meio de arbitragem pode vir nos contratos de comércio


internacional como um compromisso, uma vez que é preferível à tutela dos
Estados, por ser mais rápida e mais consentânea à substância das relações
comerciais – lidando muitas vezes com produtos perecíveis – e com a
necessidade de soluções rápidas, desapegadas de formalismos e do
encaminhamento por várias instâncias, juízos e recursos para a confirmação
definitiva.

Muitas associações de arbitragem têm sido criadas para fazer valer tais
compromissos, quer nas Américas, quer no Velho Mundo. As questões que
lhes são submetidas nas lides de comércio internacional, os árbitros resolvem
pelas regras de direito consuetudinário, reconhecidas pelos comerciantes, pelo
bom senso – não é apanágio dos árbitros, porque os juízes também devem tê-lo
– e pela eqüidade.

5. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E TRABALHO


INTERNACIONAL
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Aqui daremos uma rápida noção a respeito de Direito Internacional


Privado e trabalho internacional, uma vez que é impossível se falar em
trabalho verdadeiramente internacional, a não ser no caso de funcionários de
organismos internacionais, que realizam atividades em torno do objetivo
desses organismos, criados pelos Estados através de um tratado internacional.
Esses funcionários contam, porém, com estatuto próprio – a própria Carta que
criou o organismo internacional – ou um documento anexo, um protocolo ou
algo semelhante, que rege as atividades das pessoas que trabalham no
organismo internacional. Desta forma, vale o tratado internacional para a
solução de eventual litígio entre o funcionário e o organismo em que trabalhe.
No mais, trabalho internacional é o daquele que é contratado numa empresa
em seu país e é transferido para o exterior. As regras para solução dos conflitos
passa pela questão da competência da Justiça interna e pelas normas e
princípios do Direito Internacional Privado.

5.1. A Transferência do Empregado para o Estrangeiro

É preocupante a transferência tanto do empregado brasileiro para o


estrangeiro quanto de estrangeiros, por exemplo, para o Brasil.

A regra está disposta na Súmula n. 207 do Tribunal Superior do


Trabalho: “A relação jurídica trabalhista é regida pelas leis vigentes no País da
prestação de serviços e não por aquelas do local da contratação. O empregado,
independente do local da contratação, pode prestar serviços em mais de um
país, sendo que nesse caso, a relação jurídica formada e a competência
jurisdicional seguem as regras que beneficiem o trabalhador, porque ao
trabalhador é que cabe o direito de escolha da jurisdição”.

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5.2. Trabalho no Mercosul

A questão do Direito do Trabalho no Mercosul passa pela harmonização


nas legislações de seus Estados-membros, no trabalho feito pelo Subgrupo de
Trabalho, constituído para viabilizar regras específicas sobre as relações
sociais.

O Foro Consultivo Econômico e Social, órgão do Mercosul, representa


os setores econômicos e sociais, com função meramente consultiva, devendo
estar representados na sua composição os diversos setores da sociedade civil:
trabalhadores, empresários, consumidores, universidades, mulheres e jovens.

Algumas questões prioritárias foram apontadas para melhorar e ampliar


o relacionamento no Mercosul: os encargos trabalhistas, que no Brasil e na
Argentina têm custo altíssimo; as migrações trabalhistas e a harmonização das
normas de circulação de trabalhadores; a criação de um sistema de certificação
ocupacional entre os países; a implantação de um sistema comunitário de
informações para a formação, qualificação e requalificação profissional; a
saúde e segurança no trabalho; e o sistema de fiscalização sobre as empresas e
trabalhadores no cumprimento das regras impostas.

A matéria é complexa e situa-se tanto no âmbito do Direito


Internacional Público como no âmbito do Direito Internacional do Trabalho.
Todavia, quando um trabalhador brasileiro vai trabalhar num dos Estados que
compõem o Mercosul, ainda empregamos os entendimentos referentes ao
Direito Internacional Privado – conflitos de leis –, que alguns já estão se
acostumando a chamar Direito Internacional Privado do Trabalho.

Todas essas matérias – Direito Internacional Privado, Comércio


Internacional, Arbitragem, Direito do Trabalho no Mercosul – aparentemente
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sem quaisquer ligações, estão sendo aqui registradas para dar a exata
dimensão do Direito Internacional que, nos dias atuais, toca de perto quase
todos os campos, em relação aos quais os profissionais do Direito não podem
mostrar-se ignorantes. Alguns concursos públicos já estão começando a exigir
o mínimo desses conhecimentos. A tendência, para nós, é de que essa
exigência aumente.

5.3. Competência da Justiça Brasileira

A competência internacional do juiz brasileiro é regida pelos critérios do


domicílio do réu, da situação da coisa e dos efeitos territoriais das obrigações.

A Justiça brasileira tem competência para julgar estrangeiro domiciliado


no Brasil (art. 88, inc. I, do CPC) quando no Brasil tiver de ser cumprida a
obrigação e quando a ação se originar de fato ocorrido ou praticado no Brasil
(art. 88, incs. II e III, do CPC). Tais competências são relativas.

Também é competente a Justiça brasileira, de forma absoluta, quando se


tratar de ação relativa a imóvel situado no Brasil, de inventário e partilha de
bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha
residido fora do território nacional (art. 89, incs. I e II, do CPC).

Na Justiça do Trabalho, a competência internacional se estende aos


dissídios ocorridos em agência ou filial no estrangeiro, desde que o empregado
seja brasileiro e não haja convenção internacional dispondo em contrário (art.
651, § 3.º, da CLT), sendo certo que a especificação da nacionalidade –
empregado ser brasileiro – parece contrariar, dentre outros, o art. 5.º, caput, da
Constituição Federal e os princípios e regras internacionais. Desse modo,
entendemos que o estrangeiro, sem dúvida, também pode acionar a Justiça
brasileira nas mesmas situações
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