A APEDE nasceu da iniciativa de um núcleo inicial de professores da Grande
Lisboa, das Caldas da Rainha, de Barcelos e de Famalicão que convergiram na
necessidade de criar uma associação de professores de âmbito nacional que conseguisse relançar a resistência dentro das escolas contra as políticas mais gravosas deste Ministério da Educação, congregando o maior número de professores descontentes e lançando as bases, através de quotizações, para o suporte financeiro necessário às formas de luta que viéssemos a travar. Sentíamos que as direcções sindicais não estavam a ser suficientemente incisivas, e sentíamos também a responsabilidade moral de contrariar a nossa própria inércia. Em Janeiro de 2008 lançámos uma simples lista de contactos na Internet, com a designação de “Profs em Luta”. Escrevemos um manifesto que começou a circular na Net e foi com agradável surpresa que, passado pouco tempo, constatámos que esse manifesto, por força da rede cibernauta, já tinha dado a volta ao país. Em poucas semanas tínhamos já quatro centenas de endereços na nossa lista. No dia 23 de Fevereiro conseguimos reunir, nas Caldas da Rainha, perto de 500 professores, vindos de todas as regiões do país, numa assembleia que aprovou a criação de uma nova associação de professores, escolhendo a sua designação: Associação de Professores e Educadores em Defesa do Ensino. Depois disso, foram dados todos os passos para a sua formalização, e hoje a APEDE tem um estatuto legal, estabelecido em sede notarial, com todos os seus órgãos sociais. O número de sócios tem vindo a crescer, embora lentamente. A nossa representatividade, porém, mede-se sobretudo pelas iniciativas que promovemos e que têm mobilizado um número muito significativo de professores. Trabalhámos com os nossos colegas do MUP (Movimento de Mobilização e Unidade dos Professores) na preparação e na organização de várias iniciativas como a manifestação de 15 de Novembro de 2008, o primeiro Encontro Nacional de Escolas em Luta realizado em Leiria a 6 de Dezembro, e também com os colegas de outros movimentos como o PROmova (Professores Movimento de Valorização), MEP (Movimento Escola Pública) e CDEP (Comissão em Defesa da Escola Pública), a Concentração/Manifestação de 24 de Janeiro de 2009, em frente do Palácio de Belém, seguida de audiência na Presidência da República e o Encontro Nacional de Professores em Luta, que se desenrolou igualmente em Leiria, no dia 14 de Março. Em Novembro de 2008 fomos recebidos em audiência pela Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, bem como por todos os grupos parlamentares dos partidos da oposição, aos quais expusemos as razões da revolta e das exigências dos professores. Integrámos depois uma delegação composta por representantes de diversos movimentos (MUP, MEP e PROmova) e por colegas do blogue “A Educação do Meu Umbigo” (que tomaram a iniciativa de solicitar o parecer jurídico ao Dr. Garcia Pereira) delegação que foi recebida em nova audiência na Comissão Parlamentar de Educação e Ciência. Ao longo de 2009, em conjunto com o MUP e o Promova, multiplicámos os contactos e reuniões com os grupos parlamentares dos partidos da oposição no sentido de obter deles a assunção de um Compromisso Educação que constituísse uma plataforma de políticas educativas capaz de opor uma alternativa, séria e coerente, às do governo de José Sócrates, definindo assim o que deveria ser a actuação desses partidos no cenário posterior às eleições para a Assembleia da República. Em 19 de Setembro último, de novo em colaboração com o MUP e o PROmova, organizámos uma Manifestação tripartida junto do Ministério da Educação, Assembleia e Presidência da República onde quisemos dar expressão pública ao descontentamento dos professores face ao governo de Sócrates, num momento político importante, e deixar uma mensagem forte para o futuro governo, fosse ele qual fosse, relativamente à importância da efectivação do “Compromisso Educação”. Após as eleições legislativas voltámos a desencadear uma ronda de contactos com os diversos partidos da oposição, apelando à apresentação de iniciativas legislativas que conduzissem ao fim da divisão da carreira e à suspensão imediata do modelo de avaliação, e participámos também nos encontros de audição pública protagonizados por alguns desses partidos. De todas estas iniciativas fomos dando notícia não só no nosso blogue mas também através dos órgãos de comunicação social que, regra geral, têm entendido correctamente o papel dos movimentos independentes de professores, dando destaque regular à sua intervenção cívica. Em Dezembro de 2009, como corolário lógico dessa intervenção, a APEDE fez uma primeira apresentação pública de uma Proposta Global para o sistema de ensino português, documento que aponta, de forma integrada, para uma refundação profunda dos princípios e das práticas educativas, dos currículos nos diferentes ciclos de ensino, das metodologias de avaliação dos alunos, da gestão escolar, da carreira docente e da avaliação do desempenho dos professores. Os objectivos da APEDE são muito claros: criar estabilidade organizacional que dê consistência à luta dos professores contra a divisão da carreira entre titulares e não titulares (ou qualquer outro que venha a ser tentado e introduza injustiças e perversidades na carreira docente), contra o modelo de avaliação do desempenho imposto pelo Ministério, contra o novo modelo de administração escolar, contra todas as formas de precarização e de degradação das condições profissionais dos docentes e do ensino público em Portugal. É também nosso desejo continuar a promover a reflexão conjunta sobre alternativas globais para o sistema educativo, susceptíveis de promover uma escola capaz de responder aos desafios da inclusão social, da democratização no acesso ao saber, mas também de um ensino de qualidade e rigor.