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Universidade do Porto Faculdade de Ciéncias do Desporto e de Educagio Fisica ee A “Periodizagao Tactica” segundo Vitor Frade: Mais do que um conceito, uma forma de estar e de reflectir o Futebol. EE Filipe César de Sousa Martins Porto, Abril de 2003 AGL Howie Universidade do Porto Faculdade de Ciéncias do Desporto e de Educagao Fisica mm _ A“Periodizagaéo Tactica” segundo Vitor Frade: Mais do que um conceito, uma forma de estar e de reflectir o Futebol. nn Trabalho Monografico realizado no Ambito da Disciplina de Seminario, Op¢éo de Futebol, ministrada no 5° ano da Licenciatura em Desporto e Educagao Fisica da Faculdade de Ciéncias do Desporto e de Educagao Fisica da Universidade do Porto FACULOADE DE CIENCIAS DO DESPORTO E DE EDUCAGAO FISICA = : vneasone 0 rete Trabalho realizado por Filipe César de Sousa Martins BIBLIOTECA Ne para 21 / (4/2003 intado por. a] Doutor Julio Garganta J FACULDADE DE CIENCIAS DO DESPORTO aon oe aae E DE EDUCAGAO FISICA Conselho Pedagégico, — - Classificagao Final a) Vato N\ OFERTA 0 Presidente do ConsethalhWesgico Agradecimentos Agradecimentos A realizagao de um trabalho, qualquer que seja a sua natureza nunca se limita unicamente a uma pessoa A realizag3o do presente trabalho monografico nao fol excepgao a regra pois a sua consecugao néo teria sido possivel sem a colaboracao, partcipagao e empenhamento de varias pessoas Foram esses contributos diversos due no seu conjunto, viabilizaram a obra final ‘Assim sendo néo seria justo deixar de manifestar 0 nosso mais sincere agradecimento Ao Prof Doutor Julio Garganta, orientador deste trabalho, pelos conhecimentos e conselhos transmitidos pela sua constante incitagao & pesquisa e a reflexdo e pela disponibilidade @ apoio demonstrados A ele devemos admiracdo respeito e gratidao _ Ao Dr Vitor Frade nosso entrevistado pelos ensinamentos proporcionados, pela sua disponibilidade e pela forma apaixonada empenhada & entusiastica como sempre transmitiu seu saber _ Ros meus colegas de estégio Bruno Bettencourt Daniel Barbosa e Dinis Silva, pelo auxilio, companheirismo a .de e conhecimentos partilhados - Aminha familia pelo apoio incondicional que sempre demonstrou Indice geral Agradecimentos indice geral indice de quadros Resumo 4 Introdugao 2 Revisdo da literatura 2.1 Periodizagdo e treino no Futebol 2.11 Explicitago conceptual e estado actual do conhecimento 21114 Anatureza do jogo de Futebol 2112 A imprescindibilidade do processo de treino e do seu planeamento/periodizacéo 2113 Uma determinada concepgao do processo de treino A tendéncia oriunda do Leste da Europa 211341 Os percursores da periodizagao do treino 21132 O “universo” de Matvéiev (Modelo Classico de Periodizacao) 21133 Modelos pés - Matvéiev 21134 Oinicio do afastamento” em relacdo ao Modelo de Matvéiev 2114 Do Norte da Europa e América do Norte surge uma nova tendéncia referente & conceptualizagao do proceso de treino 21141 Um determinado entendimento da especificidade 2.1142 Implicagdes metodolégicas para o processo de treino 21143 Importancia dos testes de condigéo fisica no controlo e direccionamento do processo de treino 2.1144 Algumas inconsisténcias ¢ limitagdes 2.115 Aimperativa necessidade de uma reformulagao conceptometodolégica do proceso de treino 2116 Tendéncia latino - americana para a concepg4o do processo de treino ‘Treino Integrado 2417 A emergéncia de uma nova orientacéo conceptometodolégica do processo de treino 3 Enquadramento metodolégico 31 Caracterizagao da amostra vii ee eo es 12 12 15 18 20 24 25 27 30 33 35 35 Indice geral 32 Métodos de investigagao seleccionados 33 Recolha de dados jiscussao do contetido da entrevista 4 Anilise e 41 Otreino enquanto proceso criador da competicao 42 Anecessidade de um ‘corte em relago ao passado 43 Da ‘Periodizag&io Tactica’ a “Fenémeno — Técnica” 431 Amanutengdo de um padrao de treino ao longo da época Principio da alternncia horizontal Dar énfase a organizacéo de jogo 432 Especificidade, intensidade e recuperacdo Aspectos cruciais para alcangar regularidades 433 A sobreposig&o do colectivo ao individual 44 “Periodizagao Tactica” nos jogos desportivos colectivos nos desportos individuais e nos escaldes de formagao de Futebol 5 Conclusées 6 Referéncias ‘Anexos liograficas Questiondrio 35 36 37 38 45 57 73 76 79 86 Indice de quadros indice de quadros Quadro 1 Contraponto entre as premissas da “Periodizagao Convencional” 79 eas da “Periodizagéo Tactica’ vi Resumo Resumo O planeamento e periodizagao do treino em Futebol tem vindo a merecer a atengdo de diversos autores Através da revisdo da literatura identificamos trés tendéncias istintas no que conceme a conceptualizagao do processo de treino A primeira tendéncia teve origem nos paises do Leste da Europa, a segunda surgiu do Norte da Europa e ‘América do Norte e a terceira dos paises latino-americanos Constatamos ainda a emergéncia de uma outra orientagao conceptometodolégica do proceso de treino ie a “Periodizagao Tactica’ preconizada por autores como Vitor Frade Com a realizacéio deste trabalho monografico pretende-se esclarecer algumas questées relativas a ‘Periodizac&o Tactica’ bem como descrever as premissas que a distinguem das trés tendéncias anteriormente_referidas Assim —visa-se fundamentalmente a sistematizagio de um conjunto de conhecimentos acerca do planeamento e periodizacao proceso de treino ‘A metodologia empregue para a consecucdo destes objectivos consistiu numa revis da literatura relativa a problemdtica em questo e na realizagao de uma entrevista a Vitor Frade Como resultado da revisao da literatura e da entrevista levada a efeito concluise que as premissas da ‘Periodizacéo Convencional’ diferem das da ‘Periodizag&io TActica” Assim enquanto que na primeira é a competigao que cria 0 treino e este adquire contomos algo abstractos’, devido & nao definig&o de um modelo de jogo e respectivos principios, na segunda verifica-se exactamente o contrério Do mesmo modo, na primeira é dado especial realce a maximizagdo das capacidades condicionais (énfase na dimensAo fisica) enquanto que na segunda é enfatizado o “jogar" dando-se realce ao desenvolvimento dos principios do modelo de jogo (6nfase na dimens&o tactica) Na primeira € dada grande importancia ao atleta individual sendo a 6poca dividida em periodos (nos quais é considerada a preparagdo geral e especial e uma estreita relac&o entre volume e intensidade das cargas) com 0 intuito de adquirir a forma durante as competigdes mais importantes Na “Periodizagao Tactica a equipa (colectivo) & 0 mais importante sendo preconizado um microciclo padrao para toda a época no qual a especificidade e as intensidades maximas contribuem para a criacéio de regularidades ao nivel da forma de jogar pretendida Por fim, verificamos que a terceira tendéncia (oriunda dos paises latino-americanos) 6 a que mais se aproxima das premissas da Periodizagdo Tactica’ e que esta ultima 6 passivel de ser aplicada em todos os desportos colectivos e individuais bem como nos escaldes de formagdo de Futebol ; Palavras Chave FUTEBOL, TREINO PERIODIZAGAO MODELO DE JOGO TACTICA FCDEF Introdug3o_ 1 Introdugao Deime conta de que as questes mais profundas (_) nunca haviam recebido resposta adequada @ tomou-se-me claro que @ maior parte dos cientistas néo estavam realmente interessados nesse género de interrogagbes ‘como se elas nada tivessem que ver com 0 seu trabalho de investigago David Bohm (s/d citado por Sérgio 1991 p 7) Do mesmo modo que 0 jogo de Futebol tem registado uma evolucdo permanente também 0 treino tem apresentado varias orientagdes Com o passar dos anos, varios autores oriundos de diferentes pontos geograficos tém apresentado distintas concepgées acerca do modo como deve ser perspectivado o planeamento e periodizagao do proceso de treino Inicialmente a maioria desses autores concebeu modelos de treino com o intuito de dar resposta as necessidades e exigéncias dos desportos individuais Neste ambito, Matvéiev e Verjoshanski so dois dos autores mais representativos tendo os seus modelos servido de base ao estabelecimento de programas de treino relativos aos desportos individuals mas também a alguns jogos desportivos colectivos, como o Futebol Outros autores, como Bangsbo e Weineck, apresentam uma concepeao de treino mais orientada para os desportos colectivos, sendo que a sua principal preocupagéo passa fundamentalmente pelo desenvolvimento das capacidades condicionais dos atletas Deste modo, é levado a efeito um controlo fisico e fisiolégico dos atletas, tanto a nivel do treino como da competi¢ao E atribuida grande importancia a observagio e registo de indicadores intemos e externos do esforco realizado pelos futebolistas, tanto em situago de competicéo como em situagao de treino sendo para isso, realizados varios estudos de terreno e em contexto laboratorial Por outro lado alguns autores defendem a necessidade de um ‘corte” em relagéo A aplicacdo de alguns modelos de treino “convencionais” nos desportos individuais e ainda de forma mais premente, nos jogos desportivos colectivos Em relagdo ao Futebol tem sido referida a necessidade de elaboracao de um modelo de treino que tenha em conta algumas das suas peculiaridades nomeadamente a longa durago do seu calendario competitivo e a sua essencialidade tactica” SAo varios aqueles que sugerem que as varias dimens6es que contribuem para o rendimento em Futebol devem ser todas integradas e que se afirmam contra a existéncia de um treino fisico, técnico tactico ou psicolégico Todavia a necessidade de efectuagao do referido “corte relativamente aos modelos “convencionais’ de treino néo tem sido sustentada com clareza E neste Fob Introdugao contexto que surge uma nova conceptualizagdo do processo de treino @ qual o seu criador e percursor Vitor Frade, atribuiu a denominagao de “Periodizagdo Tactica’ No entanto dado que a referida concep¢ao pouco “retratada’ na literatura existente subsistem algumas duividas acerca dos seus fundamentos Daqui resulta o facto de, por vezes, alguns responsdveis pela gestdo do treino estarem convictos que esto a colocar ‘em pratica as orientagdes da “Periodizagao Tactica’ e na realidade, isso ndo estar a acontecer Partindo do anteriormente exposto com a realizag&o deste trabalho monografico pretendemos explicitar as quest6es fundamentais da denominada “Periodizacao Tactica , bem como descrever as premissas que a distinguem das trés tendéncias relativas a conceptualizagao do processo de treino anteriormente referidas Porém gostariamos de salientar que sera dado especial realce 4 Periodizacéo Téctica , uma vez que esse 6 0 tema central deste trabalho Deste modo 0 objectivo fundamental € explicitar e sistematizar um corpo de conhecimentos acerca do planeamento e periodizagao do processo de treino, comparando a Periodizacao Convencionat’ com a “Periodizacao Téctica Para a concretizagdo destes objectivos, efectuamos uma reviséo aprofundada da literatura relativa & problemética em questo Posteriormente elaboramos um questionario com 0 objectivo de tomarmos contacto com os conhecimentos e sabedoria transmitida pelo nosso entrevistado, Vitor Frade Assim, se por um lado, a revisao da literatura permite a construcao de um corpo de conhecimentos acerca das premissas da Periodizagao Convencional’, por outro, a entrevista possibilita um conjunto de informagao relevante referente aos fundamentos da ‘Periodizacao Tactica’ Efectuada esta breve introducdo, apresentamos de seguida a revisdo da literatura subordinada problematica em questo, na qual fazemos uma breve aluséo a natureza do jogo de Futebol & necessidade de planear e periodizar 0 processo de treino bem ‘como as duas primeiras tendéncias relativas a conceptualizagao do proceso de treino ‘Ainda neste capitulo, damos conta da necessidade de uma reformulagao conceptometodolégica do processo de treino abordamos a terceira tendéncia relativa & conceptualizacao do treino e fazemos uma breve aluséo a emergéncia de uma nova orientago conceptometodolégica do processo de treino (‘Periodizacéo Tactica’) preconizada por alguns autores de entre os quais se destaca o nosso entrevistado Vitor Frade Revisso da literatura 2 Revisdo da literatura 21 Periodizagao e treino no Futebol 241 Explicitagdo conceptual e estado actual do conhecimento No presente capitulo, levaremos a efeito uma explicitago conceptual de diversos aspectos relacionados com o Futebol e, mais concretamente com o seu treino e petiodizagéo Partindo de uma reviso aprofundada da literatura, daremos conta do estado actual do conhecimento no contexto da problematica em questdo Nesse ambito sistematizamos um conjunto de informacdo relevante e fazemos alusdo a perspectiva de varios autores oriundos dos mais diversos pontos geograficos, no que conceme ao modo ‘como conceptualizam 0 processo de treino Todavia antes de nos reportamos a problematica central deste trabalho, efectuaremos uma breve abordagem a natureza do Futebol, justificando a imperativa necessidade do processo de treino e do seu planeamento/periodizagao 2111 Anatureza do jogo de Futebol 0 Futebol assomolha-se a um microcosmos onde podem ocorrer «fenémenos» aparentemente inexplicéveis sob o ponto de vista cientiico mas compreensiveis e até Justifcévels & luz da complexa reakiade que 0 envolve (orge 1989 p 9) Jogo de Futebol’ Esta, é uma expressdo muito utiizada no quotidiano das pessoas, estejam elas ligadas ao desporto, a politica a economia a justiga & medicina {as artes ou a outro ramo qualquer da nossa sociedade Todavia, na grande maioria das vezes essa expresso referida sem que as pessoas pensem no seu real significado e na complexa realidade que a envolve Parece evidente que muita gente fala de Futebol, mas nem todos reflectem acerca daquilo que o caracteriza, nem todos “pensam o Futebol Assim sendo, deparamo-nos com uma questao Afinal o que é que esta subjacente a0 Futebol, qual a sua natureza quais as principais caracteristicas desta modalidade desportiva? Reilly (1996a) salienta que o Futebol é praticado em todas as nagdes, sem excep¢ao afirmando-se como a modalidade desportiva mais popular a escala mundial Revisto da literatura Jorge (1989 p 8) considera que o Futebol 6 uma modalidade que tem ‘impresses digitais proprias” Segundo Garganta (1997), na aparéncia simples de um jogo de Futebol, est presente um fenémeno muito complexo devido a imprevisibilidade & aleatoriedade dos factos do jogo © que origina grandes dificuldades, por parte do treinador na previsdo € controlo do desfecho do mesmo Dufour (1991) reafirma estas assergées, salientando que a natureza e diversidade dos factores que concorrem para o rendimento desportivo assim como a aleatoriedade e imprevisiblidade caracteristicas do jogo transformam o Futebol numa estrutura multifactorial de grande complexidade ‘A grande complexidade que o jogo de Futebol comporta é tecida pelos acontecimentos interacgées e acasos que ocorrem entre os sistemas em presenga (Araujo & Garganta 2002) ‘A.complexidade do jogo é perceptivel nas palavras de Castelo (2000) quando refere que o Futebol tem companheiros e adversaries, tem um elemento que salta e muda de trajectéria tem balizas, contacto fisico bolas que vér por cima ou por baixo e tem alguma relago social que determina situacées técticas e movimentagSes tacticas Segundo Garganta & Cunha e Silva (2000) as competéncias dos jogadores © das equipas néo se confinam a aspectos pontuais mas dizem respeito a grandes categorias de problemas pelo que se toma necessério compreender 0 jogo pela sua complexidade ‘Como se constata, alguns autores supracitados consideram que a imprevisibilidade 6 um dos factores que contribui para a complexidade do jogo de Futebol Figo (1999, p 43) afirma mesmo que “a grandeza do Futebol esté na sua imprevisibiidade’ Panzer (64) citado por Cuadrado Pino (2002), reforca essa ideia ao referir que ‘o Futebol é uma arte do imprevisto” Segundo Jorge (1989) deve estimularse a criatividade dos jogadores @ originalidade das respostas (individuais e colectivas) ao jogo com 0 intuito de criar desordem no adversario todavia necessario cumprir 0 regulamento e a esséncia do jogo de conjunto (modelo de jogo) & imperativo que se mantenha uma certa ordem ou organizacao na equipa ‘A ordem ou organizagao & alias, outro dos aspectos incontomaveis quando se fala em ‘jogo de Futebol” Aguire Onaindia (2002) ¢ Preciado Rebolledo (2002) estao em sintonia, quando consideram que a ordem é um aspecto essencial do jogo de Futebol ¢ que uma equipa sem ordem no pode almejar 0 sucesso desportivo Quando Valdano (sd), citado por Faria (1999) considera que € fundamental ter numa equipa quatro ou cinco jogadores a pensarem a mesma coisa ao mesmo tempo est, de uma forma implicita a atribuir grande importancia a existéncia de ordem numa Revisdo da literatura equipa de Futebol Neste contexto, Olabe Aranzébal (2002) entende que é necessario que todos 0s jogadores da equipa estejam associados, tenham uma ideia e um objectivo comum “Tudo no Futebol incluindo a criatividade, necesita de se apolar numa ordem’ (Valdano 1998, p 26) Todavia € extremamente importante estarmos conscientes de que a ordem pretendida resulta do treino de cada dia (Olabe ‘Aranzébal 2002) Caso os eventos e comportamentos fossem exclusivamente casuals © aleat6rios, seria impossivel impor 0 nosso saber a nossa vontade Caso ndo fosse criada uma certa rotina regularidade e predictbilidade (através do treino), 0 jogo resumir-se-ia 9 Uma série interminavel de escolhas aleatérias, com consequéncias também aleatorias ¢ tonar-nos- ia prisioneiros impotentes da sorte (Araujo & Garganta 2002) Neste sentido 0 Futebol & um fenémeno de “incertezas inteligentes’ (Garcia Lavera 2002) Em sintese, gostariamos de salientar que o jogo de Futebol nao esté condenado 2 decorrer de forma alestéria O acaso no deve orientar a actvidade dos futebolistas A ordem ou organizagéo & um elemento imprescindivel para que as equipas de Futebol consigam dar cumnprimento aquilo que normalmente se designa por ‘Jogar bem Em decorréncia do anteriormente exposto Aguirre Onaindia (2002) considera que © e ter onze elementos orientados para 0 mais importante em Futebol é jogar bem mesmo objective Jogar bem é tomar decisées correctas e levar a efeito o due $° pratica durante a semana (Pérez Garcia, 2002, Aguirre Onaindia, 2002 Mel Pérez 2002) Sequindo esta ordem de ideias pode afirmar-se que com 0 treino se visa Jogar melhor (Garcia Lavera 2002) Se atentarmos em algumas das afirmagdes proferidas pelos autores acime referidos constata-ce uma relagso directa entre alguns dos aspecios relatives & natures do jogo de Futebol e 0 respectivo treine Esses autores atribuem grande importancia a0 treino enquanto processo regulador da actvidade competitiva em Futebol © facto de Garganta (1998a) considerar que, conforme se quer jogar assim se deve treinar reforga aideia que acabamos de expor Em sintonia com as ideias acima apresentadas Frade (2001) afirma que o Futebol do & um fenémeno natural, € um fenémeno construido através do processo de {reine Contudo este proceso deve ser devidamente pensado © planeado pois <0 assim é possivel a realizagao de uma preparagao cientifica da equipa (Teodorescu 1984) Neste sentido, 0 mesmo autor saienta que o planeamento é uma necessidade e que este se constitui como ajuda para o trabalho do treinador [Assim sendo tal como inicialmente nos questionamos acerca da natureza do Jogo de Futebol, pensamos ser de toda a pertinéncia, neste momento, fazer uma alusdo a0 processo de treino caracterizando-o © abordando alguns dos conceitos que Ihe so inerentes nomeadamente o seu planeamento e periodizagao Revisdo da literatura 2112 A imprescind planeamentolperiodizagao \ “Encontrar 0 que nfo existe a isso chame-se criar inventar construir 1a caboca antes de 0 fazer na colmela conceber (Le Moigne 1994 p 229) Tal como ja haviamos esclarecido anteriormente os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante 0 jogo traduzem em grande parte o resultado das adaptag6es provocadas pelo processo de treino (Garganta 1999a) O treino nao 6 uma descoberta recente (Bompa 1999) Segundo Sampedro (1999) jana antiguidade o seu planeamento era uma pratica muito habitual Hoje em dia a preparagdo dos atletas para obtengao de um determinado objectivo em competicao é efectuada através do treino (Bompa, 1999) Figo (1999) salienta que treinar é tao importante como saber aquilo que se tem que fazer Em concordancia com 0 que acaba de ser mencionado Garganta (1999a) salienta que as aquisigbes conseguidas ‘a0 nivel do treino podero ser transferidas para o contexto especifico do jogo caso sejam treinados os aspectos que se prendem directamente com o jogo As adaptagdes ou ajustamentos dos atletas déo-se em conformidade com o modo como se treina (Bompa 1999) Bompa (1999) menciona que o treino é uma actividade sistematica de longa durag4o, a qual é progressivamente e individualmente nivelada Como facilmente se podera depreender, esta situagdo requer um planeamento reflectido Sé assim sera possivel estruturar a actividade de treino, de modo a ajusta-la aos condicionalismos e necessidades da realidade envolvente Actualmente, ninguém coloca em questéo a importancia do planeamento do treino (Chirosa Rios et al , 1998) No entender de Garcia Lavera (2002, p 10) para que seja possivel a optimizagéo do rendimento em Futebol 6 necessério uma “pré-actividade para a planificagdo interactividade na accao e pés-actividade para a avaliacdo Tal como nos esclarecem Campos Granell & Ramén Cervera (2001, p 36), baseando-se numa definigéo apresentada pelo Dicionério da Real Academia da Lingua Espanhola, o termo planificar significa ‘submeter a um plano estudado certa actividade ou processo No que diz respeito ao desporto os mesmos autores, esclarecem que submeter 0 treino a um plano estudado significa ter em consideragdo alguns aspectos determinantes tais como o nivel do desportista os objectivos desportivos, as competigées, os controlos ou actividades previstas a organizago metodolégica das Revisdo da literatura cargas e 0 modelo para ordenar o treino em periodos e ciclos de acordo com as caracteristicas peculiares do calendario desportivo das competigbes Seguindo esta ordem de ideias, Garganta (1991) menciona que planear ou planificar significa descrever e organizar a priori as condigdes de treino os objectivos a atingir, os meios e métodos a aplicar, as fases que, de um ponto de vista tedrico, séo as mais importantes da época desportiva Por outro lado, de acordo com 0 mesmo autor, a periodizacéo é um aspecto particular do planeamento que diz respeito fundamentalmente aos aspectos relacionados com a dindmica das cargas de treino e com a consequente dinamica da adaptagao do organismo as mesmas tendo em conta os periodos da época em que nos encontramos (Garganta 1991) Esta ideia 6 partihada por Campos Granell & Ramén Cervera (2001) ao mencionarem que a periodizagao do treino representa o sistema através do qual se constrdi um modelo de desenvolvimento estruturado em ciclos para os quais se procura que as cargas aplicadas favoregam os mecanismos que provocam adaptagao Para Frey (2000) a periodizagao é a sucesso temporal de objectivos e contetidos de treino De uma forma sintética, Campos Granell & Ramén Cervera (2001) afirmam que os avangos verificados no planeamento do treino converteram este sector estratégico do desporto num dos elementos essenciais de desenvolvimento, que em grande medida tem contribuido para a melhoria dos resultados desportivos A planificago do treino permite que a preparacdo do desportista seja orientada de acordo com uma estratégia de construg&o progressiva no tempo, procurando o maior desenvolvimento possivel da forma desportiva Garganta (1991) alerta para o facto da crescente complexidade da estrutura do jogo exigir que os jogadores tenham cada vez mais maior capacidade de concentragéo determinagao disciplina rigor inteligéncia e um alto potencial fisico psiquico e tactico- técnico Simultaneamente essa situagdo exige do treinador elevada capacidade de lideranga planeamento e organizagao de um trabalho sdlido e racional baseado no conhecimento dos principios e leis do treino Todo o treinador que tenciona levar a efeito com éxito um determinado trabalho sente a necessidade de elaborar um projecto um roteiro Em competigao quando as forcas esto igualadas a vitéria é alcancada por aqueles que utilizam planos previamente preparados Deve saber-se avaliar a situago de jogo seleccionar rapidamente a solugao mais adequada e aplicd-la sem demora (Naglak 1978 citado por Sampedro, 1999) Pensamos que tudo o que atrés foi referido diz bem da imprescindibilidade de um processo de treino bem delineado no qual teréo que ser considerados um manancial Revisto da literatura enorme de factores Todos os aspectos devertio ser bem ponderados, pois como afirma Naglak, citado por Sampedro (1999) a planificagdo enriquece o jogo e conduz a vitéria com maior eficdcia No decurso da sua existéncia 0 Futebol tem sido ensinado, treinado e investigado & luz de diferentes perspectivas, as quais subentendem distintas focagens assim como concepgées dissemelhantes a propésito do contetido do jogo e das caracteristicas do ‘ensino-treino (Garganta, 1997) Segundo Verjoshanski (1998) actualmente, na literatura desportiva podemos encontrar diferentes opinides acerca do sistema de treino desportivo assim como concepgées € diversas escolas de preparagéo dos atletas, Com base nestas assergées procuraremos delinear de seguida as tendéncias mais salientes segundo as quais 0 proceso de treino se tem orientado Assim sendo, sero abordados e esclarecidos as distintas formas de encarar 0 proceso de treinabilidade, ie as varias formas de conceber 0 treino que tém surgido com 0 decorrer dos anos 2113 Uma determinada concepgdo do processo de treino A tendéncia oriunda do Leste da Europa ‘A evolugao do treino e da competico no Futebol néo seré alheia & conviegso de que os resultados desportivos ao invés de dependerem de forgas misteriosas deverdo ser construldos com base ‘num trabalho devidamente programado assumindo-se 0 treinador no como um mestre do improviso mas como um elemento permanentemente disponivel para utitzar todo 0 seu saber intuigdo @ arte em fungao dos objectivos a atingir (Garganta 1993 p 259) 21134 Os percursores da periodizagao do treino Tal como nos refere Silva (1998), as primeiras nogdes sobre a periodizagao do treino foram elaboradas por Murphy e Kotov (anos 10-20) que pela primeira vez evidenciaram a preocupagao em organizar as actividades de treino com o intuito de methorar 0 rendimento desportivo Assim, agruparam os contetidos e tarefas do treino em fases, visando uma progress4o que permitisse obter um estado de forma no momento desejado da competi¢ao De acordo com o mesmo autor seguiram-se novos trabalhos de investigacao no ‘campo da Teoria do Treino Desportivo, efectuados por Lauri Pihkala Gorinovski e Birsin (anos 20-30) propondo leis importantes que ainda vigoram na iniciagdo Assim no entender destes autores a carga deve diminuir progressivamente em volume e aumentar em intensidade, as: como, 0 treino especifico deve edificar-se sobre uma ampla base eral e apresentar uma clara alternancia entre o trabalho e a recuperagao Revisdo da literatura Silva (1998) menciona que, ainda em finais da década de 30 0 russo K Grantyn (1939) na obra “Conteudos e Principios Gerais da Planificagdo do Treino Desportivo” langa as bases de uma teoria geral do treino_propondo a divisdo do ciclo anual em trés etapas (de preparago, principal e de transigao), com duragées e objectivos determinados pelas caracteristicas das modalidades Segundo o mesmo autor nos anos 50, G Dyson e N Ozolin desenvolveram modelos aplicados ao Atletismo baseados na preparagao multilateral que culmina numa especializagio no momento da competigao Nos anos 50, Letunov justificou cientificamente a diviséo em periodos, condicionando-os as caracteristicas do atleta em vez de ao niimero e localizag&o das competicSes no plano anual Segundo Caixinha (2001), Letunov (1950) criticou os meios utilizados até entdo, afirmando que o estado de forma n&o se deve as componentes organizativas dos elementos do treino, mas sim a “carga biolégica” a que se submete o atleta durante 0 mesmo Além disso, dividiu o ciclo de treino em etapa de aquisi¢ao etapa de forma desportiva e etapa de diminuicao do estado de treino 24132 O “universo” de Matvéiev (Modelo Classico de Periodizagao) Nos anos 50 Lev P Matvéiev actualizou e aprofundou alguns conhecimentos desenvolvidos anteriormente e estruturou os fundamentos tedricos (Teoria Classica) de um sistema de treino que se tomou hegeménico em quase todo o mundo, passando a ser utiizado como referencial basico para os processos de preparagao desportiva (Silva, 1998) Matvéiev desenvolveu o conceito de periodizacdo do treino com base nas fases do sindrome de adaptagdo de H Selye,i e de acordo com o caracter ondulante da resposta biolégica a carga de treino procura obter uma relagao éptima entre os ritmos do treino e as alteragées ondulantes das fungdes fisiologicas Segundo Court (1992) a caracteristica ciclica e longa do processo biolégico faz com que os efeitos do treino apenas sejam obtidos tardiamente A quantidade de trabalho s6 produz efeitos retardados”, 0 que leva Matvéiev a colocar a fase de ‘volume de trabalho bastante tempo antes do periodo competitive Matvéiev (1980) refere que a preparacao do desportista consta fundamentalmente de preparagdo fisica, técnica, tactica volitiva e teérica ‘Segundo este autor a preparagSo fisica divide-se em geral e especial Em qualquer modalidade desportiva, 0 éxito depende n&o sé das capacidades especificas mas também do nivel geral das possibilidades funcionais do organismo No seu entender a preparagdo fisica geral cria as bases para a preparagdo especial ja que assegura 0 Revisio da literatura desenvolvimento miltiplo da forga, velocidade, resisténcia flexibilidade e agiidade, premissa necesséria para que 0 aperfeigoamento ocorra (em qualquer modalidade desportiva) ‘A preparago técnica e téctica também se divide em geral e especial Todavia a preparacdo tdctica do desportista deve ser levada a efeito em estreita ligagdo com a preparagdo técnica (Matvéiev 1980) (© mesmo autor salienta que as leis objectivas do aperfeicoamento desportivo requerem que 0 treino desportivo sendo um profundo processo de especializagao, proporcione ao mesmo tempo um desenvolvimento miltiplo Assim sendo considera-se que a preparagdo geral e a preparagdo especial na actividade desportiva s4o inseparaveis No que conceme & forma desportiva Matvéiev (1980) afirma que esta pode ser entendida como o estado de predisposi¢ao optima para a obtengdo de resultados desportivos em cada fase da evolugao desportiva Para atingir esse estado, deve-se verificar um crescimento gradual, tanto das cargas fisicas, como das exigéncias da preparagdo técnica tactica e volitiva Segundo o autor 0 processo de desenvolvimento da forma apresenta trés fases interdependentes e sequenciadas respectivamente, fase de aquisigao de manutengdo e de perda 0 atleta néo pode manter-se em forma durante todo 0 processo de prética desportiva Assim sendo adquire a forma desportiva temporariamente mantém-na durante um ou outro periodo e depois perde-a durante algum tempo Todavia Matvéiev (1980) salienta que os treinadores e desportistas devem planear © proceso de treino de tal modo que se criem condicées para alcangar a forma desportiva no momento exacto, mantendo-a durante um determinado periodo estabelecido de acordo com as datas das competicbes mais importantes Court (1992) refere que no modelo de Matvéiev considera-se que 0 atleta pode atingir 0 pico de forma’ mais do que uma ou duas vezes por ano mantendo-se no ‘mesmo durante um curto espago de tempo Relativamente estrutura do ciclo de treino Matvéiev (1980) salienta que este se divide em trés periodos (preparatério competitive e de transigao) cujas duragées esto definidas pelas fases de desenvolvimento da forma e que estas condicionam fortemente a dinamica das cargas e os conteudos do treino. ‘Assim, segundo este autor no periodo preparatério (mais longo) devem ser criadas e desenvolvidas as premissas para o surgimento da forma desportiva e assegurada a sua consolidagdo Este periodo divide-se numa primeira etapa de preparagao geral e numa segunda de preparagao especial 10 Revisso da literatura No que concerne a etapa de preparagdo geral segundo o autor, a tendéncia geral da dinamica das cargas caracteriza-se pelo aumento paulatino do volume e intensidade com um crescimento preferencial em volume E nesta etapa que se criam as bases da forma desportiva Na segunda etapa tal como o proprio nome indica podemos verificar que a carga apresenta uma orientagdo especial mais marcada, em todos os seus aspectos Além disso, constata-se uma redugdo do volume total das cargas e um incremento da intensidade das mesmas Depois de adquirida a forma desportiva, de acordo com Matvéiev (1980), surge a tarefa de manté-la durante todo 0 periodo de competigées importantes (relativamente concentrado) e de aplicé-la para a obtengo de rendimentos desportivos Neste periodo de durag&o relativamente curta, a proporgéo de preparagao geral no deve ser menor do que na etapa de preparago especial Relativamente 4 dinamica das cargas, 0 mesmo autor, afirma que, inicialmente, continua a verificar-se uma redugo do volume sendo que de seguida este se estabiliza A intensidade das cargas especificas aumenta até chegar ao maximo, estabilizando-se a esse nivel Como é dbvio, esta estabilizacdo é relativa No caso de um periodo ‘competitive mais prolongado, produz-se um novo incremento no volume geral das cargas, com uma certa redugéo da sua intensidade Depois verifica-se novamente a tendéncia de redug&o do volume e de elevagdo da intensidade No que concerne ao periodo de transigo no se verifica uma pausa ou suspensao do proceso de treino Este continua mas efectuam-se grandes alteracdes na sua forma © contetido Constata-se uma redug&o da intensidade e do volume das cargas especificas A perda temporal da forma desportiva que ocorre neste periodo constitu uma das condigées imprescindiveis para o progresso posterior (Matvéiev, 1980) Em sintese concordamos com Campos Granell & Ramén Cervera (2001) quando estes salientam que, no modelo de Matvéiev, as singularidades biolégicas do organismo do desportista néo s&o contempladas Além disso ha um papel Preponderante da preparago geral, sendo seu modelo caracterizado por um periodo Preparat6rio em que se trabalha muito em volume Partindo do anteriormente exposto, Verificamos ainda que a mudanga de periodos de treino produz-se pela alteraco da dinamica das cargas (baseada nas grandes ondas) e que ha uma separagdo entre Preparagao condicional e técnica com altemancia das curvas de intensidade e volume das cargas Uma das principais caracteristicas deste modelo é a sua perspectiva universal, visando atender a todas as modalidades e niveis de preparaco " Revisao da literatura 21133 Modelos pés - Matvéiev A Arosjev surgiu nos anos 70 com o denominado "Treino Pendular’, na tentativa de aperfeigoar o modelo de Matvéiev (Silva, 1998) Segundo o mesmo autor, este modelo aplicou-se preferencialmente no boxe, luta e remo e fazia uma disting&o entre preparacéo condicional e preparagdo técnica E proposta uma estrutura de treino em que se realiza uma alternancia pendular sistematica entre a carga especial e geral uma vez que havia a ideia que contraste entre os dois tipos de carga conduzia a uma melhoria da capacidade especifica do desportista © mesmo autor refere que o critério basico de desenvolvimento consistia em ir diminuindo as cargas gerais e em aumentar gradualmente as especificas, atingindo a sua maior expresso na competicao mais importante O facto deste modelo se estruturar em fungdo das datas das competig6es e de se atribuir uma grande importancia as cargas genéricas @ questiondvel e acaba por reforcar a teoria de Matvéiev Ainda nos anos 70 A Vorobjev ("Treino Modular’) faz algumas criticas ao modelo classico de Matvéiev e com ele inicia-se o afastamento em relago ao mesmo Segundo Caixinha (2001) Vorobjev é considerado um dos pioneiros da dupla periodizagao A aplicago das cargas segue os principios da adaptago biolégica e utiliza prioritariamente cargas especificas Propée uma organizacao do treino na forma de pequenas ondas, com mudangas acentuadas e frequentes no volume e intensidade das cargas para que seja possivel conseguir adaptacSes continuas e elevadas uma vez que perante um estimulo Uuniforme, 0 organismo responde de forma também uniforme O referido autor organiza 0 ano em estruturas intermédias de ourta duragao 21134 O inicio do “afastamento” em relagao ao Modelo de Matvéiev De acordo com Garganta (1993), a década de 80 foi um periodo bastante produtivo No que se refere ao aparecimento de diferentes modelos de periodizacéo embora sempre voltada para os desportos individuais ou para os desportos ciclicos de grupo Assim, apés uma era em que o modelo de Matvéiev dominou um dos autores que mais influenciou as tendéncias da periodizago do treino nos anos 80 foi o soviético Verjoshanski Segundo Verjoshanski (1998) 0 modelo de treino concebido por Matvéiev ja ha algum tempo perdera muito do seu valor teérico e pratico Actualmente, o desporto de alto rendimento e a metodolagia de preparago dos atletas de topo sofreram alteragdes essenciais sendo que a imposi¢ao das ideias antiquadas de Matvéiev representa um 12 Revisdo da literatura factor impeditivo do progresso dos conhecimentos cientificos no desporto e, particularmente no Futebol No entender do mesmo autor a sub-divisao formal do ciclo de treino anual em periodos defendida por Matvéiev nao é tipica da pratica desportiva Além disso os principios da periodizago foram formulados com base num estudo efectuado com sujeitos da Natacdo, da Halterofiia e do Atletismo, pelo que nao podem ser considerados universais, Deste modo, Verjoshanski (1998) chama a atengao para o facto de que as indicagbes de um elevado niimero de especialistas e de treinadores vao no sentido de que é necessario substituir a concepgao de Matvéiev por uma moderna teoria e metodologia de treino Neste sentido, em 1979, Verjoshanski preconizou um modelo denominado “Treino em Blocos com o objectivo de construir um método mais adequado para o desenvolvimento da forga (Campos Granell & Ramén Cervera, 2001) Este modelo fundamentalmente direccionado para o Atletismo e para disciplinas em que a forga répida assume particular importancia caracteriza-se por uma concentrag&o do treino da forca como recurso para a consecucao de melhores rendimentos na técnica, na velocidade ou nas chamadas capacidades especiais (Silva, 1998) O desenvolvimento especifico da capacidade de forca rapida e dos sistemas de produgao de energia (para um trabalho muscular) sao factores determinantes para a melhoria da mestria técnica e das outras capacidades condicionais Para a melhoria eficaz da mestria técnica-desportiva, deve ter-se em considerago que a preparacao especial deve preceder um trabalho profundo sobre a técnica (Verjoshanski, 1990) Neste modelo (“Treino em Blocos") 0 processo de treino estrutura-se basicamente, a partir de um volumoso bloco inicial de treino (com cerca de dois meses de durago), com predominancia de forga ao qual se segue o desenvolvimento das demais capacidades condicionais e técnico-tacticas, de acordo com as necessidades da modalidade (Silva 1998) Assim, tal como refere Garganta (1993), a proposta de Verjoshanski baseia-se no pressuposto de que para conseguir obter rendimentos desportivos de nivel elevado, a Periodizago néo deve atender somente aos aspectos da carga mas também a evolugéo técnica e tactica do atleta preconizando-se a construgéo de blocos dedicados a cada componente do rendimento desportivo Um outro autor que se demonstrou bastante céptico em relagao ao modelo classico de Matvéiev foi Peter Tschiene Assim em finais dos anos 70, 0 referido autor conceptualizou o denominado "Treino Estrutural", aplicado inicialmente nas modalidades de forga rapida que apresentam duas fases de competicao diferenciada 13 Reviso da literatura ‘Segundo Campos Granell & Ramén Cervera (2001), Tschiene defende uma maior aproximagdo as caracteristicas especificas de cada modalidade desportiva, valorizando a competigéo como elemento de desenvolvimento da performance Neste contexto Tschiene (1994), reportando-se ao caso especifico do Futebol, salienta que o desenvolvimento da capacidade especifica de rendimento, na maior parte dos casos, obtido através da acumulagdo de jogos do campeonato Em sua opinido, em muitas modalidades desportivas, a planificagao do treino néo tinha obtido resultados efectivos uma vez que ndo havia uma verdadeira teoria do treino, pois as existentes mantinham um caracter basicamente analitico Assim, as bases teéricas no se ajustavam a realidade da pratica desportiva, até porque, a partir dos anos 70 0 modelo de Matvéiev ndo oferecia alterativas uteis para a maioria dos desportos Por outro lado, 0 processo de treino era baseado em esquemas parciais desconexos entre si e eram utilizados periodos extremamente longos de preparagéo geral que em nada beneficiavam as altas prestagbes desportivas O itimo factor apresentado por Tschiene justificando a falta de resultados efectivos por parte das teorias anteriores relacionava-se com o facto da planificagdo do treino ser realizada sem considerar as caracteristicas individuais dos sujeitos (Campos Granell & Ramon Cervera, 2001) ‘Assim segundo Caixinha (2001) Tschiene faz uma proposta pioneira relativamente € distribuigdo da carga durante a temporada, fundamentada na manutengdo de volumes e intensidades elevadas durante todo o ciclo de treino A dindmica das cargas em forma de pequenas ondas, determina mudangas frequentes e pouco intensas nos componentes da carga Verifica-se a predominancia da intensidade em unidades de treino relativamente curtas onde se destacam as cargas de competicao Este autor utiliza o controlo individual das competigées como procedimento para desenvolvimento e manutengo da forma, através do incremento da intensidade especifica Introduz ainda © “intervalo profiléctico" (desde 0 periodo preparatério), aps a aplicago de cargas especificas e antes das competices Oliveira (1999) afirma que as formulagdes contidas no modelo desenvolvido por Tschiene foram um primeiro passo para a orientago da preparagao nos jogos desportivos colectivos, contudo insuficiente j4 que no explicitavam suficientemente as caracteristicas da programacao e organizacao do treino Segundo Garganta (1993) Platonov (1991) refere que a periodizagdo do treino pode ser efectuada segundo duas formas basicas Assim, por um lado poderiam ser utilizados microciclos e mesociclos de choque, implicando visiveis variagées do volume da intensidade e da complexidade das cargas provocando oscilagées na forma 14 Revisio da literatura desportiva Por outro lado as cargas de treino poderiam ser uniformemente distribuidas ao longo do macrociclo ‘A primeira forma referida pelo autor apresenta aspectos caracteristicos de uma organizaco tradicional do treino preconizando uma periodizacdo que se alicerga na acentuada oscilagdo das cargas, com 0 objectivo de obter os melhores resultados nas competiges mais importantes A segunda versao tora inviével o aparecimento dos “picos de forma , possibilitando, por outro lado a manutengao de um elevado nivel de preparago durante periodos de tempo prolongados e contribuindo para a obteng&o de bons niveis de desempenho nas diversas competicées ao longo da época (Garganta 1993) 2414 Do Norte da Europa e América do Norte surge uma nova tendénci referente A conceptualizacao do processo de treino Segundo Platonov (1999), entre os anos 30 e os 60, autores soviéticos como Bernshtein, Jakolev, Letunov, entre outros, alcangaram uma posig&o central no que conceme a orientagéo da ciéncia do desporto mais concretamente no campo da medicina e da biologia Todavia durante os anos 70 e 80 a importancia dos autores soviéticos neste dominio foi diminuindo, verificando-se um decréscimo acentuado ao nivel do conhecimento biomédico principalmente devido a falta de equipamento de apoio as investigagbes cientificas Nos anos 80 e 90, exceptuando as pesquisas efectuadas por alguns autores ucranianos como Volkov Mischenko Koltscinskaia e Balsevic poucas Pesquisas de autores soviéticos vém referenciadas na literatura referente aos problemas da biologia do desporto De facto, segundo o mesmo autor, os soviéticos néo conseguiram acompanhar o enorme desenvolvimento tecnolégico que se verificou noutros paises como, por exemplo, a Franga Alemanha, Polénia Italia, China, etc Nesses paises, como resultado do seu avango tecnolégico verificou-se um grande desenvolvimento ao nivel das ciéncias do desporto, tendo sido publicados varios trabalhos importantes no ambito da teoria e metodologia do treino desportivo Actualmente existem varias teorias relacionadas com o treino dos desportos colectivos tendo sido construidos diversos modelos para abordagem destes desportos e, consequentemente, do Futebol (Romero Cerezo 2000) Um desses modelos surgiu durante os anos 70 e 80 muito por influéncia do grande mestre da preparago fisica em Futebol, Alvarez del Villar (Romero Cerezo, 2000) Alvarez del Villar (1983), acreditava que o treino deveria visar, fundamentalmente a 15 Revisao da literatura methoria da condigo fisica dos futebolistas pois esta 6 determinante para obtengdo de resultados desportivos positivos © mesmo autor considerava que todos os desportistas incluindo os futebolistas, para serem considerados como tal tém que ser rapidos resistentes e potentes Na sua perspectiva, estas capacidades basicas deveriam ser melhoradas com a utilizago de métodos e sistemas de treino do Atletismo, uma vez que era nessa modalidade desportiva que estes haviam sido alvo de maior investigagao cientifica No entender deste autor para ser considerado um bom jogador, este teria que ser acima de tudo, um excelente atleta Assim segundo este autor, um jogador com um dominio técnico mediocre poderia ser um super jogador, desde que apresentasse uma boa preparagao fisica Alvarez del Villar (1983) verificou que muitas das acg6es e movimentos realizados pelos futebolistas durante 0 jogo séo semelhantes as efectuadas em diversas especialidades do Atletismo E por esta razdo que o autor afirmava que os métodos e sistemas de treino do Atletismo com ligeiras adaptagées, deveriam ser aplicados na preparac&o dos futebolistas Em nossa opinido, Alvarez del Villar tera sido um dos autores que mais contribuiu para uma nova conceptualizagao do treino, baseada na ideia de que a elevaco das capacidades fisicas, através de métodos utilizados em Atletismo o elemento basico para a obtengao de bons resultados desportivos Ponto de vista semelhante apresenta Mufios Marin (2001) ao referir que a realidade demonstra que nem com bons jogadores 0 éxito é garantido, sendo a sua objectivagao ainda mais dificil caso no se verifique um bom suporte fisico e psicolégico Dada a importancia que estes autores atribuem a dimensdo fisica dos jogadores toma-se imprescindivel conhecer pormenorizadamente os processos de adaptagao biolégica ¢ fisiolégica do organismo dos atletas As cargas de treino Weineck (1978) citado por Forteza (2001) considera que tem existido uma biologizagéo da metodologia do treino desportivo nao tendo surgido por acaso a afirmag&o de que o treino desportivo em termos gerais & um processo de adaptacdo organica permanente a carga de trabalho Bompa (1999) refere mesmo que o principal intento do treino é aumentar a capacidade de trabalho e as habilidades dos atletas bem como desenvolver tragos psicolégicos mais fortes O aumento da capacidade de trabalho e, consequentemente, da performance atlética consegue-se através do aumento da fungao organica Todavia dado que os atletas de topo apresentam niveis muito elevados de preparagdo fisica especial o seu aumento sucessivo ¢ de complexidade extrema Por isso & necessario descobrir todas as reservas que podem aumentar a eficdcia do treino fisico especial (Verjoshanski, 1990) 16 Reviséo da literatura Partindo do anteriormente exposto, o mesmo autor salienta que, actualmente, a preparaco dos atletas de alto nivel exige a aplicagéo de grandes estimulos aos sistemas funcionais vitais do organismo, para que este seja capaz de suportar niveis de trabalho muito elevados Este facto determina que, sem conhecimentos cientificos e apelando apenas a intui¢do, muito dificilmente se consiga responder as exigéncias do treino modemo Deste modo Bompa (1999) defende que para se levar a efeito um programa de treino efectivo & necessario compreender os sistemas energéticos e saber quanto tempo 0 atletas precisam para restaurar as energias despendidas no treino e na competi¢ao (2001) esclarece que a enorme experiéncia prética acumulada na Verjoshan: preparagao dos atletas de alto nivel os progressos cientificos da fisiologia e da bioquimica da actividade muscular, da medicina desportiva, da biomecdnica dos movimentos desportivos e de alguns estudos fundamentais sobre a metodologia de treino desportivo, tem criado pressupostos objectivos para a formagéo de uma modema teoriae metodologia do treino desportivo e das suas principais bases cientificas crescente ntimero de estudos e publicages dedicadas a adaptagao dos diversos sistemas orgAnicos do atleta de alto nivel a carga de treino e de competi¢ao demonstra o facto de na teoria do treino se estar a dar importancia dominante ao aspecto biolégico (Tschiene 1991) Barbero Alvarez (1998) confirma estas assergées, salientando a importancia do conhecimento das caracteristicas da modalidade desportiva © treino ico em desportos individuais como por exemplo, em Atletismo e em Natagéio_ no apresenta excessivos problemas sob o ponto de vista do conhecimento do trabalho que o atleta deverd realizar durante a competicao (Riera & Aguado 1989 citado por Barbero Alvarez 1998) Todavia nos desportos de equipa (como o Futebol) torna-se mais dificil conhecer com preciso as cargas a que se submetem os participantes na competicéo sendo necessério recolher alguns dados para que se possa treinar com um certo rigor (Barbero Alvarez 1998) Neste sentido Garganta (1999a) menciona que os factores energético-funcionais so talvez os mais profusamente estudados até ao momento Segundo Barbero Alvarez (1998) se desconhecermos os dados provenientes desses estudos, a preparacéo fisica careceré de rigor Se pelo contrario, existir um conhecimento aprofundado desses aspectos, tora-se possivel um processo de treino mais rigoroso e ajustado as necessidades préprias do Futebol O mesmo autor salienta que partindo desse conhecimento, obtido através de andlises fisicas (cinematicas) e fisiolégicas de situagdes reais de jogo poderdo estabelecer-se programas adequados direccionados as capacidades condicionais especfficas 7 Revisio da literatura Garganta (1999a) refere que os investigadores tém procurado configurar o perfil ‘energético-funcional reclamado pelo jogo de Futebol (nas muiltiplas solicitagdes que este impée aos atletas) com base na analise da actividade desenvolvida pelos jogadores durante as partidas Deste modo, segundo Reilly (1990), tem sido acumulado um impressionante corpo de conhecimentos acerca dos aspectos cientificos do Futebol Shephard (1999) e Garganta (1999a) efectuaram uma revisdo de algum estudos referentes a caracterizaco do esforgo dos futebolistas, tendo descrito e agrupado alguns desses parametros de natureza muito variada, em indicadores internos e externos ‘Segundo Barbero Alvarez (2001), os indicadores externos sao aqueles que contribuem para a avaliacdo da carga fisica de competicao pelo seu aspecto exterior Entre estes tanto Shephard (1999) como Garganta (1999a), fazem referéncia a distancia percorrida, & reparticao dos periodos de trabalho e de recuperag&o e ao tipo e intensidade dos deslocamentos Por outro lado, de acordo com Barbero Alvarez (2001) os indicadores intemos so aqueles que permitem avaliar a carga energética ou fisiolégica competitiva pelas repercussées intemas no organismo do jogador Entre estes Shephard (1999) e Garganta (1999) fazem alusao a frequéncia cardiaca ao consumo maximo de oxigénio (VO2 max ) e a concentragdo de lactato sanguineo 24141 Umdeterminado entendimento da especificidade Barbero Alvarez (1998) refere que a observagao e andlise dos indicadores extemos @ intemos do jogo de Futebol permitiré um proceso de treino rigoroso, cientifico e adaptado as necessidades especificas da modalidade desportiva Um dos principios basicos do treino é a especificidade (Alvarez del Villar 1983) Segundo o mesmo autor, 0 esforgo realizado na competi¢ao depende do tipo de modalidade desportiva da fungao do desportista e das suas caracteristicas individuais Assim sendo, a planificagdo do treino deve adequar-se ao esforgo de cada atleta em competicao De acordo com Barbero Alvarez (1998), para elaborar um modelo de treino especifico nos desportos colectivos € mais concretamente no Futebol, é necessario que se conhegam as exigéncias fisicas, fisiolégicas e energéticas que essa actividade ‘comporta Parece-nos que o autor supracitado apresenta um entendimento de especificidade intimamente relacionado ou dirigido para os aspectos fisicos e fisiolégicos do rendimento ‘em Futebol Outros autores, que passaremos a mencionar, de uma forma implicita ou explicita apresentam perspectivas claramente semelhantes as de Alvarez (1998) no que conceme a especificidade do treino em Futebol 18 Revisao da literatura Neste sentido Bompa (1999) considera que o desenvolvimento das capacidades biomotoras € muito maior quando estas s&o trabalhadas através de exercicios especificos Volkov (1975) citado por Barbanti (1996) considera que o principio da especificidade se baseia no facto das maiores mudangas funcionais e morfolégicas, durante 0 processo de treino acontecerem apenas nos érgaos células e estruturas tracelulares responsaveis pelo movimento Um treino especifico tem efeitos especificos sobre o organismo i , 0 organismo adapta-se sempre de modo especifico as solicitagées que Ihe séo impostas (Mellerowics & Meller, 1979, citado por Barbanti, 1996) Tal como refere Barbanti (1996), 0 treino fisico solicita exigéncias distintas do organismo, tanto em quantidade como em qualidade A adaptagéo do organismo efectua-se sempre de acordo com estas solicitagées ou seja de acordo com o estimulo a que foi submetido Deste modo, segundo o mesmo autor a pratica de uma actividade fisica produziré uma adaptagéo do organismo que seré especifica para essa actividade fisica Assim, uma pessoa que corre produziré uma adaptagao organica para correr, uma que nada efectuard uma adaptacao para nadar assim como outra que joga Futebol produzira uma adaptago para jogar Futebol Em decorréncia do anteriormente exposto, Balyi & Hamilton (sd) referem que os jogadores podem melhorar e/ou aperfeigoar as suas capacidades somente se o treino tiver uma direccéo muito precisa Deste modo devem ser promovidos estimulos especificos através de uma éptima distribuigo da carga de trabalho e de recuperagao Segundo os mesmos autores nem quando se verifica um longo periodo Preparatério se deve realizar uma preparagdo geral Esta apenas se deve verificar para aqueles jogadores que estéo a recuperar de lesbes Na perspectiva de Barbero Alvarez (1998), devemos saber a que intensidade se realizam os desiocamentos dos jogadores, quantos se fazem ao longo do jogo, quais as suas distancias, qual o ntimero de interrupgées verificadas, qual a durado das pausas etc © mesmo autor refere que uma vez efectuada esta andlise especifica da competi¢éo, obtém-se certamente dados mais fidveis para o estabelecimento de programas de treino orientados para o desenvolvimento das qualidades condicionais especificas Deste modo segundo este autor, os programas tomam-se mais ajustados as necessidades do Futebol 19 Reviséo da literatura 2414142 Implicagées metodolégicas para o processo de treino Reilly (1990) refere que os resultados de investigagbes cientificas (no ambito energético-funcional), apesar de demonstrarem algumas variag6es consoante o sistema de jogo ou a tactica empregue apresentam uma certa consisténcia no perfil de movimentos exibidos no decorrer do jogo, o que acarreta uma série de implicagdes ao nivel do treino Barbero Alvarez (1998) corrobora o que acaba de ser dito afirmando que, partindo de uma andlise fisica (cinematica) e fisiologica das situag6es reais de jogo, 6 possivel conhecer-se as caracteristicas da actividade competitiva, que, por sua vez permite elaborar o conteudo e a estrutura do treino mais adequada Os resultados das vérias pesquisas cientificas ajudam a obter uma melhor compreensdo das exigéncias e limitagdes do rendimento fisico em Futebol (Bangsbo 1998, citado por Romero Cerezo, 2000) Estes conhecimentos juntamente com a experiéncia pratica.proporcionam informagées valiosas para elaborar treinos adequados @ obter uma maior eficiéncia na competic&o (Romero Cerezo 2000) ‘A andlise dos indicadores extemos do esforgo em Futebol tais como as distancias percorridas a diferentes velocidades e a altemancia entre os esforgos e as pausas, proporciona dados muito valiosos para estimar a carga de competicéo Estes dados sero de grande utilidade para os treinadores._ mais concretamente para determinagdo da intensidade e duragéo das cargas e dos tempos de recuperagio dos exercicios seleccionados para 0 treino (Barbero Alvarez 2001) A estimativa da carga através dos indicadores intemnos (carga fisiolégica) também tem grande interesse, por um lado para a sua posterior utilizagdo nos treinos didrios ‘como meio de avaliagéo e controlo e por outro lado para objectivar mais claramente os tipos de esforcos realizados Tendo em atengao estes dados procurar-se-4 programar com maior rigor os exercicios idéneos para cada sesso de treino (Barbero Alvarez 1998) Bangsbo (1998) corrobora estas assere6es ao referir que o Futebol 6 uma modalidade desportiva fisicamente exigente, caracterizada por actividades intensas frequentes, tais como corridas de alta intensidade tacklings rotagées ou saltos Assim sendo, 0 treino da condig&o fisica pode ajudar um jogador a resistir as exigéncias fisicas impostas pelo jogo e a manter as suas habilidades técnicas ao longo do mesmo Todos os futebolistas, independentemente do seu nivel de jogo, podem retirar beneficios de programas de treino da condi¢do fisica (Bangsbo, 1998), uma vez que necessitam tanto de uma boa capacidade fisica como das habilidades de jogo, para alcangarem vitérias (Reilly 1990) 20 Revisio da literatura Os referidos programas de treino contemplam diversas formas metodolégicas para a abordagem e desenvolvimento da componente fisica do rendimento Bangsbo (1998) faz referéncia a dois tipos de treino para desenvolvimento das capacidades fisicas, mais concretamente treino funcional e treino formal Por seu turno Weineck (1997) atribui a designago, respectivamente, de treino integrado e de treino separado aos dois tipos de treino anteriormente referidos No entender de Bangsbo (1998) uma parte importante do treino deve ser efectuada em presenga da bola, uma vez que daf advém varias vantagens Assim, em primero lugar treinam-se 0s grupos musculares especificos usados em Futebol e em segundo lugar, desenvolvem-se as habilidades técnicas e tacticas em condigdes similares as dos jogos Finalmente esta forma de conceber o treino é susceptivel de produzir uma maior motivagdo para os jogadores comparativamente com o treino sem bola Todavia, o autor salienta que quando se leva a efeito um treino com bola, pode acontecer que no se trabalhe com a intensidade suficiente, devido por exemplo, as limitagées tacticas Segundo Alvarez del Villar (1983) € Mufios Marin (2001), se apenas for utilizado 0 trabalho com bola, é praticamente impossivel desenvolver maximalmente as capacidades determinantes para o rendimento em Futebol Assim, de acordo com Bangsbo (1998), em determinados casos 0 treino deve ser efectuado sem bola Nesses casos, este deve realizar-se na relva com botas de Futebol e executando movimentos similares aos realizados durante 0 jogo Tschiene (1994) considera que a maior parte dos desportos de equipa & caracterizada por acgSes de forca répida, realizadas em intervalos irregulares € a intensidade variavel © Futebol n&o foge a regra, pois segundo Bangsbo (1998) @ capacidade de forga é importante em muitas actividades levadas a efeito durante os jogos, tais como tacklings e sprints No seu entender, 0 treino de forca funcional contempla a realizagdo de movimentos relacionados com o Futebol Relativamente a esta concep¢So de treino, Bompa (1999) esclarece que a simulagdo de um movimento padréo do desporto em causa tem como consequéncia 0 desenvolvimento apenas do tipo de forga dominante nessa mesma modalidade desportiva Do anteriormente exposto depreende-se que 0 treino de forga funcional pode basear-se na realizagSo de jogos em que os movimentos so efectuados em condicées fisicamente mais exigentes que o normal (Bangsbo, 1998) Em concordancia com 0 que acaba de ser referido Tschiene (1994) considera que a forga répida deve ser desenvolvida conjuntamente com os aspectos tacticos e tecnicos seja durante o periodo preparatério seja durante a actividade de jogo no periodo competitive Segundo o mesmo autor esse desenvolvimento consegue-se através da 2 Reviséo da literatura utlizagdo do método complexo no qual so reproduzidas em situago de treino, 28 componentes da actividade de competi¢ao Weineck (1997) sallenta que 0 treino de forca integrado no jogo permite que se treine de forma especifica os grupos musculares mais relevantes para o Futebol De acordo com Bangsbo (1998) a vantagem deste tipo de treino baseia-se no facto de que 0 ‘aumento da forga muscular pode ser ulllzado eficazmente durante os jogos Por outro lado, o mesmo autor considera que neste tipo de treino é mais dificil controlar e ajustar as cargas sendo esta a sua desvantagem Para Tschiene (1994), o método complexo tem a desvantagem de no possibiltar uma clara melhoria da capacidade muscular de forga rapida Assim sendo, na sua perspectiva, esta deve ser desenvolvida de modo exaustivo (concentrado) durante um breve periodo especial de pelo menos 5 ou 6 semanas antes da utilzag&o do referido método complexo De acordo com Bangsbo (1998) aquando da realizagéio de um treino formal da forea, 08 grupos musculares so trabalhados através de movimentos isolados Oreferido autor considera que neste tipo de treino podem ser ullizadas diferentes classes de maquinas convencionais de treino de forga ou pesos livres que permiter 0 ajustamento da resisténcia oferecida pelas cargas & capacidade actual dos jogadores Segundo 0 mesmo autor, sabe-se que 05 ganhos de forga muscular so especificos do movimento concreto que se realize Deste modo, a grande desvantagem do referido treino formal reside no facto de os movimentos efectuados nao se assemelharem aos do jogo de Futebol No que conceme a resisténcia de velocidade, Weineck (1997) considera que esta pode ser melhorada através de um treino integrado (situagSes de jogo) ov separado (situagSes analiticas) desde que sejam realizadas multas séries de acces a maxima intensidade © autor menciona varios métodos para o treino da velocidade, nomeadamente 0 método das repetig6es, método intensivo de intervalos e método de desenvolvimento da velocidade integrado no jogo Os dois primeiros poderdo ser realizados com ou sem bola e tém um cariz analitico, enquanto que o desenvolvimento da velocidade integrado no jogo tem um cariz mais global, uma vez que, simultaneamente a velocidade, permite o desenvolvimento dos aspectos técnico-tacticos Todavia, 0 mesmo autor considera que devem ser realizadas principalmente, formas de treino relacionadas com o jogo (| € jogos em pequenos grupos tals como situagdes de 2x2, 2x3, etc ) Bangsbo (1998) também defende a realizagao de um treino funcional da velocidade Segundo este autor, 0 treino da velocidade em Futebol deve adoptar principalmente a forma de situagSes similares as do jogo dado que uma parte do efeito de treino desejado relaciona-se com 0 aperfeicoamento da capacidade dos jogadores para prever e reagir as 22 Revisso da literatura diversas situagdes que ocorrem no decorrer das partidas No entender de Weineck (1997), a vantagem deste tipo de treino reside no facto de para além de permit trabalhar fas componentes fisicas também permit trabalhar as fisico-cognitivas e as técnico- tacticas. De acordo com Bangsbo (1998) a velocidade também pode ser desenvolvida através de um treino formal (por exemplo, correr uma determinada distancia em sprint apés emisedo de um sinal) Alvarez del Villar (1983) refere que a velocidade absoluta do jogador e de qualquer desportista deve ser trabalhada através da realizagao de esforcos curtos & maxima intensidade possivel Bompa (1999) considera que a repeticao ¢ 0 método bésico usado no treino da velocidade Segundo o autor, sao necessarias varias repetigées para alcangar melhorias na velocidade e, consequentemente efeitos superiores de treino Além disso 0 mesmo autor refere ainda que os atletas devem treinar a velocidade com a maxima concentragao possivel Segundo Bangsbo (1998), 0 treino formal da velocidade embora melhore @ capacidade dos sistemas anaerébicos na produgsio de energia, tem pouco efeito sobre @ capacidade de reacgéo em situagdes especificas do jogo de Futebol Alem disso durante este tipo de treino, alguns musculos que intervém em certos movimentos rapidos durante 0 jogo n&o so suficientemente treinados Segundo este autor, os beneficios que advém de um treino funcional da velocidade 80 muito superiores aos resultantes de um treino formal De acordo com Weineck (1997) 0 futebolista devera melhorar as suas caracteristicas de forga-velocidade, mediante um reforgo muscular dos membros inferiores Bompa (1999) salienta que para os atletas estarem aptos a realizar todos os elementos de velocidade, em primeiro lugar é necessario que tenham pemas fortes Na sua perspectiva ninguém é rapido antes de ser forte, dai que 0 treino da forga deva ser uma parte importante de qualquer programa de treino para desportos que requeiram um bom desenvolvimento da velocidade ‘A efectividade dos programas de treino e consequentemente, das metodologias aplicadas, podera ser comprovada através da realizagdo de testes de condicao fisica, uma vez que segundo Weineck (1997), 08 resultados que dai provém permitem averiguar os avangos ocorridos durante o processo de treinabilidade Assim sendo este gutor reclama a necessidade de se efectuarem alguns testes concernentes as componentes parciais da capacidade de rendimento futebolistico 23 Revisto da literatura 214143 Importancia dos testes de condigdo fisica no controlo e direccionamento do processo de treino De acordo com Weineck (1997) € muito importante, tanto para 0 jogador como para o treinador, conhecer de que forma o processo de treino que s° esta a desenvolver tem influenciado os factores individuais Neste sentido, os testes de condigao fisica servern mais para controlar e dirigir 0 treino do que para efectuar uma comparagéo imediata com outros futebolistas Bangsbo (1998) refere que os testes devem ser efectuados com um propésito bem determinado Assim sendo devem defi se objectives claros antes de eleger qualquer teste Este autor enuncia uma série de boas razées para realizar testes aos jogadores Entre estas 0 autor salienta 0 facto de os testes serem um instrumento util para estudar 0 efeito de um programa de treino, assim como para motivar os jogadores para um empenhamento cada vez maior no treino Além disso os testes fornecom resultados objectivos aos jogadores e ajudam a avaliar se estes se encontram preparados para participar em jogos oficiais © autor acrescenta ainda que os testes de condigao fisica possibilitam uma tomada de consciéncia maior por parte dos jogadores acerca dos objectivos do treino Finalmente o mesmo autor refere que os testes so importantes para planificar programas de treino a curto e a longo prazo Para que estes propésitos sejam satisfeitos & importante que o teste usado esteja relacionado com a modalidade desportiva, neste caso com o Futebol @ que reproduza as condig6es de um jogo Contudo, devido aos muitos aspectos que um jogo comporta devemos ter consciéncia de que um teste no pode prognosticar como render um jogador durante 0 jogo (Bangsbo, 1998) ‘© mesmo autor refere que na realizagao dos testes os jogadores so sujeitos a cesforgosintermitentes, tal como no jogo de Futebol sendo que as provas podem realizar- se num campo relvado utiizando calgado préprio da competicao Bangsbo (1998) enuncia alguns testes que considera especificas do Futebol, como por exemplo o teste de sprint” o teste da capacidade de resisténcia intermitente” e os “testes intermitentes yo-yo" Relativamente ao ‘teste de sprint’ 0 autor menciona que um jogador durante um Jogo completo sprinta menos de um minuto Todavia estes sprin’s s#0 muito importantes Em determinada situagao o facto de um jogador ser capaz de correr mais répido que um opositor pode decidir 0 resultado de um jogo © mesmo autor refere aue 8 Velocidade em Futebol se baseia principalmente na capacidade de observar, perceber € analisar com rapidez uma situagéio para logo efectuar a acgéo mais adequada Aiém 24 Reviséo da literatura disso esta basela-se na capacidade de produzir energia com rapidez, © que, entre outras coisas, depende do nivel de treino aleangado e da distribuigao dos tipos de fibras nos musculos Finalmente a velocidade depende do grau de fadiga dos musculos antes de sprintar O autor acrescenta ainda que em Futebol os sprints devem ser curtos (menos do que 40 metros) e que, com alguma frequéncia, devem contemplar mudangas de direcgao Segundo Bangsbo (1998) neste teste todos estes factores so considerados © mesmo autor salienta que, tanto o ‘teste da capacidade de resisténcia rmitente’ como os “testes intermitentes yo-yo’ apresentam caracteristicas que reflectem o perfil da actividade de um jogo de Futebol, na medida em que Se alternam periodos de corrida a uma intensidade elevada com perlodos de recuperagéo durante os quais 0s jogadores fazem jogging Assim pode afirmar-se que estes testes de campo S40 muito tteis, pois incluem movimentos similares aqueles realizados a0 longo de um jogo Em resumo segundo 0 autor supracitado pode dizer-se que existem varias razbes que abonam em favor da realizagao de testes de condicso fisica Assim, além da ja referida fungéo de motivagao dos jogadores para que treinem com maior intensidade 0 autor destaca 0 facto de estes permitirem constatar se um jogador recuperou de determinada leso Todavia (nunca é demais repetir), para que os testes possam satisfazer estes propésitos devem ter relagéo com 0 Futebol E sabido que um jogador de Futebol deve ter uma grande capacidade de resistencia e recuperar rapidamente de um sprint Neste sentido, constata-se que estas componentes do rendimento esto presentes nos testes atras mencionados (Bangsbo 1998) Barbero Alvarez (1998) acrescenta ainda que as provas de esforco e os testes periédicos durante 0 proceso de treino devem completar-se com medig6es efectuadas em situagées reais de jogo na competi¢ao 24444 Algumas inconsisténcias e limitagées Verjoshanski (1990) refere que a suposigo de que cada uma das capacidades condicionais (orga velocidade e resistencia) tem um mecanismo fisiol6gico particular levou a que alguns autores concluissem que é possivel desenvolvé-las isoladamente Segundo © mesmo autor a fisiologia e @ bioquimica receberam esta ideia indiseriminadamente sem a contradizer, liitando-se a uma fungao explicativa Desta forma, acabaram por contribuir para o reforgo de uma metodologia de desenvolvimento fisico baseada num conceito analiico-sintético que perdurou até hoje : Segundo Tschiene (1994) no se deve pensar que a adaptagso do jogador as condigSes especiais de treino se limita ao lado organico-muscular (condicional) © 25 EF Revisso da literatura mesmo autor refere que um sector importante dos pressupostos de prestagdio do jogador que se deve ter em consideragdo e no qual se desenvolve uma adaptacao 6 0 pensamento tactico De acordo com Garganta (1999a) nao obstante a proliferacdo de estudos no Ambito da caracterizag&o do perfil energético-funcional do futebolista, alguns dos seus autores tém alertado para a debilidade dos resultados deles decorrentes © para @ inconsisténcia das suas conclusdes Este alerta surge devido ao facto de n&o serem claramente consideradas as peculiaridades tacticas do jogo mais concretamente o estilo fe os métodos de jogo (ofensivos e defensivos) utiizados nem as funcdes desempenhadas pelos jogadores no quadro dos respectivos sistemas tacticos utllizados Reilly (1996b), notabiizado pelos seus estudos no dominio da fisiologia do Futebol alerta para o facto das exigéncias colocadas ao nivel da actividade do jogador de Futebol decorrerem, em larga escala, do nivel de competicao e das imposigées tacticas (estilo de jogo/posig&o do jogador) do jogo ‘As posigées assumidas por varios autores permitem inferir que 08 factores energético-funcionais nfo s&o, de facto faculdades substantivas mas aspectos subsidirios do rendimento cujo sentido depende das caracteristicas do contexto que motiva a sua expresso e da capacidade do jogador para elaborar respostas adaptativas ao envolvimento (Garganta, 1999a) O mesmo autor, citando Brettschneider (1990) salienta que a analise dos jogos desportivos e da prestacao dos jogadores deve ser efectuada através da andlise do contexto no qual decorrem as acgdes_ndo se devendo limitar a aspectos isolados Mombaerts (1998), citado por Romero Cerezo (2000) salienta que por vezes se planeiam treinos onde as qualidades proprias do jogo sto deixadas de lado em favor das qualidades fisicas O Futebol, como desporto colectivo que & tem as suas exigéncias préprias de jogo Em sintese, tal como refere Romero Cerezo (2000), para a pratica do Futebol ¢ requerida a realizagao de uma série de movimentos, esforgos © acgdes em sequéncias varidveis intermitentes com o objectivo de marcar um golo ou de o evitar AS possibilidades de éxito dependem de um uso inteligente da relagao de oposig&o/cooperagéo ¢ néo apenas de um elevado nivel de desenvolvimento dos factores energético-funcionais Partindo das inconsisténcias anteriormente referidas, estamos plenamente convencidos que é necessério uma outra forma de abordar toda a problematica inerente 20 processo de treino em Futebol Como constataremos de seguida, so varios os autores reconhecidos a nivel intemacional pelos seus vastos conhecimentos na area do treino em Futebol que partilham desta ideia 26 Revisso da literatura 2115 A imperativa necessidade de uma reformulagdo conceptometodolégica do processo de treino «£m quakquor modekdede 0s atotas tm reacgtes dferontes om relagso a stuagoes espociicas '¢0 alto rendimento no se compadece com a utiizagso de normas de oriotagao do pasado Hé que prever para antecipar esclarecer para tomar consciéncia (Worge 1989) Através da leitura e andlise de tudo o que anteriormente foi exposto podemos constatar que, numa primeira fase (tendéncia oriunda dos paises do Leste da Europa) quase se procurou seguir a frase olimpica “Citius Altius, Fortius” nao othando a meios para atingir os fins (Oliveira, 1991) Segundo Court (1992) durante muitos anos, todos os treinadores do mundo funcionaram com um modelo de programagéo do treino baseado nas concepsbes elaboradas pot Matvéiev Nem todos sabiam quem era este autor sovietico, mas todos faziam uso do seu modelo Garganta (1993), complementa a ideia anterior referindo que tem sido varios os usos ¢ abusos relativos A aplicagao do modelo preconizado por Malveiev, principaimente ino que conceme aos jogos desportivos colectivos Esta afirmacao é confirmada por Lago Pefias & Lopez Grafia (2000), ao salientar que os jogos desportivos colectivos apresentam dois conceitos fundamentals que 08 diferenciam dos individuais respectivamente a interacgao grupal e a incerteza espacial ‘Anatoly Bondarchuk Carlos Morino, Jorge Araujo, Jorge Castelo, José Olvera, José Vieira Leon Teodorescu Monge da Silva, Peter Tschiene, Vitor Frade Yur Verjoshanski, entre outros, tém manifestado a sua preocupacdo acerca da colonizacdo dos desportos colectivos pelos desportos individuals (Vieira 1993) proclamando @ necessidade de uma nova teoria dos jogos desportivos colectivos, organizada e teorizada ‘em fungéo da especificidade da modalidade desportiva em causa (Carvalhal 2001) Oliveira (1999) considera que a generalidade dos modelos teéricos propostos; fol desenvolvida tomando como referéncia desportos em abstracto, modalidades individuals ou ainda formulagSes pedagégicas pouco ajustadas as verdadeiras exigéncias da actividade desportiva concreta De acordo com 0 anteriormente mencionado 0 Futebol constitul uma realidade para a qual o modelo classico nfo apresenta respostas condizentes Este facto deve-se 20 confito entre a curta duragéo do periodo preparatério © a longa duragao do periodo competitive, durante o qual se exigem bons niveis de prestacao (Garganta, 1993 Monge da Silva, 1998) 27 Revisdo da literatura Verifica-se que a literatura relativa aos aspectos do planeamento ¢ da periodizagao do treino desportivo, tem apresentado abordagens que se limitam as modalidades desportivas em que somente é necessério estar em forma em dois ou trés momentos do ciclo anual (Garganta 1993) Balyi & Hamiton (sd) complementam esta ideia, salientando que os atletas envolvidos em modalidades desportivas como 0 atletismo a natagéo a gindstica etc , ao contrario dos atletas dos jogos desportivos colectivos, tem a possibilidade de atingir 0 “pico de forma’ na competicao desejada Para Frade (1998) a periodizago mais tradicional € manifestamente fisica, porque se baseia numa analise quase estritamente fisica, ou seja, as variaveis que identifica como fundamentais so fisicas Reportando-nos agora 4 segunda fase da evolugo conceptual do proceso de treino (tendéncia oriunda dos paises do Norte da Europa), Oliveira (1991) refere que comegou a perceber-se a existéncia de determinadas capacidades fisicas que 0 jogador de Futebol requisitava quando em jogo Deste modo, deu-se it funcional do esforgo do futebolista © mesmo autor salienta que a partir de entdo, o io & caracterizago energético- planeamento e estruturagao do processo de treino em Futebol comegou a basear-se na caracterizagao do esforgo especifico do futebolista, ou seja comegou a atender-se sobretudo & componente fisica Em conformidade com este facto Garganta (1993, p 261) reforca a ideia de que a periodizagdo do treino tem assentado numa base predominantemente referenciada aos aspectos da adaptago morfoldgica fisiolégica ou bioquimica do organismo” Relativamente as constatages anteriormente mencionadas, segundo Gonzalo Prieto (2001), & evidente que o jogador deve ter uma boa condigdo fisica para poder desenvolver a sua actividade porém € pouco provavel que com um repertério técnico- tdctico discreto se possa ser um bom jogador Um futebolista deve ser mais do que um bom atleta Neste seguimento, 0 autor coloca a seguinte questéo de que vale ter uma equipa de Futebol constitulda por onze portentosos atletas do decatlo capazes de correr atrés da bola sem se cansar se uma vez recuperada a sua posse néo realizam nada de proveitoso? Por seu lado Monge da Silva (1998) considera que para que os problemas da fora sejam explicados no é necessério analisar os problemas da contrace4o muscular, assim como para se efectuar uma abordagem a resisténcia nao se tem que estudar as fontes de energia De acordo com Garganta (1993), esta perspectiva apenas traduz uma visio parcelar do proceso de treino Neste seguimento, Jorge (1989) afirma que 0 privilégio dado as qualidades condicionais conduz a uma manifesta mecanicidade O jogo permanece exageradamente 28 Revisao da literatura marcado por aspects mecanicistas sem possibilidade de desenvolvimento de ordem criativa com disciplina Atendendo ao anteriormente exposto, segundo Garganta (1993), constata-se frequentemente que quando a periodizago do treino em Futebol é perspectivada os factores dominantes da capacidade de jogo so pouco considerados O processo & reduzido as repercussées das cargas no plano fisico-atlético resultando daf numa intervengdo pouco adequada as exigéncias da modalidade desportiva Em consequéncia do que acaba de ser mencionado o mesmo autor defende a necessidade da reformulagéo do modo como se procede a periodizagéo do treino, devendo comegar a dedicar-se mais atengéo a analise dos aspectos tactico-técnicos do jogo formal Contudo Monge da Silva (1998) salienta que é sabido que a reformulagao evolucdo das ideias nao se faz de forma linear mas sim a custa de periddicos processos de ruptura com anteriores concepgées Todavia segundo Garganta (1993), essa reformulaco deve mesmo acontecer passando os objectivos e a natureza dos efeitos e dos conteudos, assim como dos exercicios a propor aos atletas durante 0 proceso de treino a ser sistematizados em funco da andlise dos aspectos estruturais e funcionais do jogo formal © mesmo autor citando Seirullo Vargas (1987) afirma ser possivel efectuar uma conjugagéo dos aspectos propostos por Verjoshanski (1987) e Bondarchuk (1988) Assim relativamente ‘ao primeiro autor o conceito de trabalho concentrado e por “blocos” adquire grande importancia, uma vez que possibilta a manutengdo e elevagao dos niveis de forga explosiva, durante toda a temporada (sabe-se que a forga explosiva é cada vez mais importante para o futebolista) Por outro lado, Bondarchuk defende a redugo substancial do trabalho geral durante o periodo preparatério Além disso, este autor afirma que a nogo de sinergia é um aspecto importantissimo a reter no que conceme ao proceso de ais tactico- treino, i e a interligago entre as componentes do rendimento (condi técnicas, psiquicas) 29 Revisdo da literatura 2416 Tendénci treino “Treino Integrado” latino - americana para a concepgao do processo de A concepgso reducionista e cartesiana do treino desportive caracterizada sinteticamente pela decomposigao do esforco do atleta num conjunto de parcelas ainda & a dominante Com este mado de perspectivar 0 processo de treino, pretende-se compreender a complexidade do todo pela multipicagao de *pseudo’ partes constitutivas E neste contexto que aparece 0 treino fisico, técnico, tactico e psicolégico, tendo cada um deles varias subdivisdes (Monge da Silva 1989b, Monge da Silva 1998 Lago Pefias & Lopez Grafia, 2000) De acordo com Monge da Silva (1998), os investigadores tem centrado a sua atengéo em aspectos cada vez mais isolados, na convicgéo de que quanto methor se conhece cada pormenor, melhor se conhece 0 todo ‘Segundo Garganta et al (1996) na investigagao relativa & performance do jogador de Futebol, baseada em factores energéticos, fisiolégicos © biomecanicos, os comportamentos s&o perspectivados como resultado de uma maior ou menor adequagao do organismo as exigéncias energéticas e funcionais do jogo em termos de unidade entre 0 estimulo e a resposta Dessa forma, ndo sao consideradas as configuragses tacticas que induzem tais comportamentos Todavia no entender de Garganta & Cunha e Silva (2000 p 5) © problema essencial & a complexidade “um principio transacional que faz com que no nos possamos deter apenas num dos nivels do sistema sem ter em conta as articulagbes que ligam os diversos niveis’ De acorde com Konzag (1991) 0 jogo apresenta multiplas componentes de prestagio tornando-se necessério que estas possam vir a actuar de modo convergente através da sua integragéo reciproca Partindo desta constatagao Jorge (1989) evidencia que os ‘métodos analitices’ nao so os mais ajustados & realidade do Futebol até porque, como aponta Bondarchuk (1984) citado por Monge da Silva (1998) 0 atleta é uma unidade e, como tal, as estruturas condicional especifica e a técnica devem ser treinadas em simultaneo Garganta (1999a) salienta que as exigencias do jogo de Futebol caminham mais no sentido de reclamar inteligéncia (adaptabiidade) aos jogadores do que fore, resisténcia ou velocidade entendidas como capacidades autinomas Assim, no basta chegar mais Jonge saltar mais alto ou ser mais forte € necessario ser mais veloz, mais rapide nao apenas a chegar ao local pretendido ou a realizar uma acgdo, mas também a pensar, 2 encontrar solugdes, a perceber 0 erro, a descodificar os sinals do envolvifnento (Garganta 1999b) Revisto da literatura Em conformidade com 0 que acabamos de expressar Teodorescu (1984) refere que o jogador executa procedimentos (hadbitos) técnicos adaptados as diversas fases do jogo em condigées de luta com os adversarios e em regime de qualidades motoras e de tensdo psiquica, solicitadas com diferentes intensidades Deste modo as capacidades motoras em vez de se restringirem a acepgao fisica do termo devem impor-se sobretudo como uma grandeza tactico-técnica, perceptiva informacional (Garganta 1999a) Concordamos com Van Lingen (1992), quando refere que ao falar-se em velocidade ou em poténcia ndo se consegue um aporte de informagao importante para melhorar a qualidade do treino e do jogo A velocidade, por exemplo, esté sempre relacionada com os companheiros e os oponentes E sobretudo uma velocidade tactico-técnica ‘Seguindo a mesma linha de raciocinio Konzag (1991) menciona que a capacidade de jogo 6 uma capacidade complexa que possibilita a utlizac4o reciproca das capacidades condicionais e coordenativas assim como das qualidades psicologicas dos atletas e das habilidades técnico-tacticas para que desta forma seja possivel enfrentar e resolver racionalmente i ¢ de modo ajustado & situago, os problemas existentes no jogo Para Jorge (1989) os aspectos estruturais (téctico-técnicos) © os energético- funcionais (fisicos) constituem-se numa unidade dialéctica, condicionando-se @ influenciando-se reciprocamente na realizacdo das situagdes de jogo Do mesmo modo Chirosa Rios et al (1998) e Quesada Aguila & Puga Turifio (2002) consideram que todas as variaveis do rendimento so inerentes a competic&o Na competicdo exige-se uma acco integradora das miltiplas capacidades e habilidades (Muller, 1996 citado por Chirosa Rios et al 1998 Tschiene 1996, citado por Chirosa Rios et al 2000) ‘Assim sendo se 0 jogador se implica a nivel fisico técnico tactico e psiquico durante a competigao de Futebol, é légico que 0 treino de alto rendimento deva ser 0 mais parecido com a mesma, abarcando todos esses aspectos @ procurando uma influéncia matua entre estes conteudos de treino Por outras palavras 0 treino deve seguir as premissas da competigao e adaptar os seus meios as exigéncias da mesma (Lorenzo Calvo 1998 Chirosa Rios et al 1998 Romero Cerezo, 2000) No fundo isto aponta para a criagSo de exercicios que reproduzam, parcial ou integralmente 0 conteudo e a estrutura do jogo (Teodorescu 1984) Em decorréncia do anteriormente exposto, autores como Antén (1994, citado por Lorenzo Calvo, 1998) Chirosa (1996, citado por Chirosa Rios et al 2000), Lorenzo Calvo (1998) Chirosa Rios et al (1998), Gonzalo Prieto (2001), entre outros, fazem aluséo a um modelo de treino baseado na articulagao ou integragao dos varios factores que contribuem para 0 rendimento desportivo A esse modelo atribuiu-se a designagao de Treino Integrado” 34 Revisao da literatura ‘As novas tendéncias do treino desportivo contemplam uma maior interacgao entre as aquisigdes das habilidades técnico-tacticas e 0 desenvolvimento da condig&o fisica dos jogadores (Quesada Aguila & Puga Turifio, 2002) Segundo os mesmos autores, estas novas tendéncias levam ao nascimento da ideia de ‘Treino Integrado” nos desportos de equipa, definido por Antén (1994) citado por Lorenzo Calvo (1998) como a preparacdo fisica-técnica-tactica integral em que todas as capacidades sao desenvolvidas num contexto semelhante ao da competi¢ao Demonstrando total concordancia com os autores anteriormente referidos, Chirosa (1996, citado Chirosa por Rios et al , 2000), Lorenzo Calvo (1998), Chirosa Rios et al (1998) afirmam que é possivel (¢ necessério) realizar a preparacdo fisica técnica e tactica, em simultaneo Dado que 0 Futebol é algo i mais correcto fazer-se uso de métodos integrados que garantam a adequagao do treino & isivel, em vez de se recorrer a métodos analiticos & realidade do jogo e a continua inter-relagdo entre os elementos que o constituem (Gonzalo Prieto 2001) Segundo Jorge (1989), é necessario que estes sejam trabalhados de forma integral Os problemas actuais do treino nao s4o os do treino fisico do treino técnico ou de outro tipo de treino Nao se pretende um somatério de coisas separadas Queiroz (1986) salienta que a condigao fisica a técnica e a tactica embora nogbes diferentes, devem estar estritamente ligadas no treino tanto como est&o na competicao Segundo Jorge (1989), no existe treino fisico existe treino apenas Quesada Aguila & Puga Turifio (2002) afirmam que as habilidades técnico-tacticas devero ser empregues como mais um meio para o desenvolvimento das capacidades fisicas Neste contexto, Teodorescu (1984) refere que a velocidade de reaccdo, a destreza, a combinagao velocidade-forga e a resisténcia aerdbia e anaerébia so desenvolvidas através do caracteristico e necessério dinamismo dos habitos técnico-tacticos Monge da Silva (1989b) considera que quanto mais préxima do jogo estiver a situagdo criada maior sera a interligagao dos distintos factores, embora se tome mais dificil controlar a componente fisica Por outro lado, segundo o autor quanto mais lades de se controlar a componente fisica mas também menor seré a interligagao dos factores e afastado da situacdo real estiver 0 exercicio, maiores serio as possibil provavelmente menor transferéncia terd para a realidade Assim toma-se imprescindivel que durante 0 processo de treino se verifique uma interacgo e integragao das suas diversas componentes, pois, 86 assim sera possivel 0 aparecimento de uma capacidade de jogo elevada (Konzag, 1991) Sintetizando, a realizagdo de um "Treino Integrado” permite optimizar o rendimento, economizar é administrar 0 tempo de modo ponderado e acelerar 0 processo de preparago Os objectivos desejados podem ser alcangados com menos tempo e volume 32 Revisso da literatura de trabalho Estes sdo aspectos de fundamental importancia no processo de preparagéo de equipas de alto rendimento (Chirosa Rios et al , 1998, Chirosa Rios et al , 2000) (Os autores mencionados ao longo deste capitulo demonstraram-se a favor de uma ‘concepgdo de treino, na qual os diversos factores que concorrem para o rendimento so trabalhados em simultaneo Contrariamente a uma visao analitica do proceso de treino, estes autores defendem uma concepgao global em que o desenvolvimento de um factor contribui para o desenvolvimento de outro Todavia alguns autores referem que néo basta que se desenvolvam os referidos factores do rendimento de forma integral pois esse facto ndo garante a obtengo de resultados desportivos positives Assim, é realgada a necessidade de se elaborar um modelo de treino capaz de fazer frente a toda a problematica conceptual e metodolégica inerente ao jogo de Futebol 2417 A emergéncia de uma nova orientagdo conceptometodolégica do Processo de treino No seguimento daquilo que expusemos anteriormente varios autores, entre os quais destacamos Vitor Frade, tém vindo a afirmar a necessidade de emergéncia de uma nova orientagao conceptometadolégica do proceso de treino, dado considerarem que nenhuma das tendéncias anteriormente referidas atende as reais necessidades exigéncias do jogo de Futebol Neste contexto Frade (1985) salienta que o pensamento tactico reflecte a imperativa necessidade da emergncia da dimensdo tactica em detrimento da fisica uma vez que apenas a acco intencional 6 educativa Na perspectiva de Castelo (1998) educar nado é meramente desenvolver os varios grupos musculares, mas sim habituar 0 cérebro a comandar 0 corpo A inteligéncia 6 uma caracteristica muito importante pois 0 atleta precisa de ser perspicaz para primeiro, observar e captar 0 que deve fazer depois ter capacidade de o registar na meméria e, em seguida enviar uma ordem que possa ser cumprida pelos varios grupos musculares Segundo Garganta (1997), a esfera directora em Futebol é a dimensio tactica pois @ através desta que os comportamentos que ocorrem durante uma partida sao consubstanciados Mesmo tomando como exemplo os movimentos basilares de locomogo dos jogadores nas suas diferentes formas (marcha trote comida répida sprint), constata-se que as razées da sua expresso se fundam numa intencionalidade guiada sobretudo por imperativos tacticos (Garganta 1999a) Para Jorge (1989) a importancia da preparagdo téctica em Futebol & evidente Oliveira (1991) tem opiniéo idéntica afirmando mesmo que o tactico” é 0 aspecto mais 33 Revisao da iteratura importante da planificac&o e periodizag&o Na perspectiva de Frade (1998, p 3), 0jogo de Futebol “no é um fenémeno natural é um fenémeno construido e em construgao” em que 0 factor tactico é a sua ‘esséncia’ Neste sentido Garganta et al (1996) salientam que a construgao de um corpo de conhecimentos ao nivel do ensino do treino e da competicio em Futebol deve ser realizada a partir de uma matriz organizacional que considere a tactica como niicleo director sem contudo descurar os restantes factores do rendimento E neste contexto que Vitor Frade faz emergit 0 conceito "Periodizagao Tactica” A partir do momento em que este autor fez alusdo ao referido conceito, outros autores elaboraram trabalhos nos quais se constata uma certa aproximago a algumas das suas premissas e fundamentos Entre esses autores, destacamos Oliveira (1991) Vieira (1993) Faria (1999) Carvalhal (2000), Rocha (2000) e Resende (2002) Contudo, verifica-se que a ‘Periodizacao Tactica & um conceito acerca do qual subsistem muitas dividas e incertezas_n&o estando ainda muito claros quais os aspectos que a distinguem de outros modelos de treino E por essa raz4o que (ainda) nao é possivel referimo-nos a Periodizacao Tactica’ como uma tendéncia de treino implantada no contexto desportive nacional e intemacional tal como sucede em relagdo as trés tendéncias anteriormente mencionadas Embora os trabalhos anteriormente referidos possam ser considerados como um ponto de partida para dar a conhecer a “Periodizacao Téctica’ e afirmé-la como uma forma alternativa de conceber o processo de treino, constata-se que muitas das suas premissas permanecem pouco claras havendo, por isso, a necessidade de realizagao de mais trabalhos de investigagao neste ambito Somente dessa forma serd possivel fazer da ‘Periodizaco Tactica’ um modelo de treino reconhecido pelo facto das suas premissas possibilitarem a obteng&o de bons resultados desportivos ao nivel do Futebol e quigé ao nivel de outros jogos desportivos colectivos e dos proprios desportos individuais Esperamos que a nossa entrevista a Vitor Frade ajude a tornar mais claros alguns aspectos referentes ao modelo de treino de que ele é pioneiro e percursor, ou seja, a “Periodizagao TActica” e ao mesmo tempo a evidenciar os aspectos que a distinguem das demais concepgées de treino Assim, com a realizagao da andlise e discussdo da referida entrevista, pretendemos contribuir para que a ‘Periodizagao TActica" seja, cada vez mais, um modelo de treino colocado em pratica por todos aqueles que sao responséveis pela gestdo do processo de treino de suas equipas Enquadramento metodotégico 3 Enquadramento metodoldégico 31 Caracterizagaéo da amostra ‘A nossa amostra é constituida unicamente pelo Dr Vitor Frade A escolha deste autor para nosso entrevistado, esteve relacionada com 0 facto de este ter sido 0 pioneiro e percursor da Periodizagao Téctica’ Sendo esse o tema central deste trabalho pensamos que a escolha deste autor é bastante pertinente ‘A sua “forma de estar e de reflectir 0 Futebol” possibilitou-lhe a acumulagéio de um enorme conjunto de conhecimentos Esse facto permite que este se expresse de forma clara acerca de todos os aspectos referentes ao planeamento e periodizagao do processo de treino © curriculo que 0 referido autor apresenta diz bem da sua experiéncia Assim sendo, Vitor Frade fez parte de varias equipas técnicas do F C Porto ao servigo do qual conquistou dois Campeonatos Nacionais trés Tagas de Portugal e trés Supertacas Candido de Oliveira Além das conquistas a nivel nacional, conta ainda com uma patticipagao nas meias finais da Liga dos Campedes e com outra na Taga das Tacas Ainda ao servico do F C Porto foi vice-campedo por duas vezes Além do trabalho realizado neste clube, o nosso entrevistado fez ainda parte de equipas técnica de clubes como 0 Boavista F C (onde trabalhou durante seis anos e contabilizou quatro presengas nas competig6es europeias) Rio Ave F C (cinco anos) e F C Felgueiras (1 ano) Presentemente Vitor Frade é 0 coordenador técnico do Departamento de Futebol Juvenil do F C Porto e lecciona a disciplina de Metodologia Aplicada | e Il Opodo de Futebol na Faculdade de Ciéncias do Desporto e de Educagdo Fisica da Universidade do Porto, instituig&o & qual se encontra ligado & cerca de vinte e cinco anos 32 Métodos de investigagao seleccionados Para realizago do presente trabalho monografico foi efectuada uma reviséo da literatura referente & problematica em questo Posteriormente procedeu-se a elaboracéio de um questionério que serviu de suporte entrevista realizada Tratou-se de uma entrevista semidirectiva, na qual permitimos ao nosso entrevistado a exposigao de todos 0s seus conhecimentos acerca dos aspectos que pretendiamos abordar Durante a entrevista foi utilizado um gravador da marca Olympus Posteriormente-a entrevista foi transcrita para o papel, tendo sido efectuada a andlise de contedo (técnica de investigagao empirica) da mesma 35 Enquadramento metodol6gico 33 Recolha de dados ‘A entrevista foi realizada do dia 10 de Abril de 2003 e decorreu nas instalagdes da Faculdade de Ciéncias do Desporto e de Educagao Fisica da Universidade do Porto 36 ‘Andlise e discussao do conteuido da entrevista 4 Anilise e discuss4o do contetido da entrevista A revisao da literatura efectuada permitiu identificar trés tendéncias distintas no que conceme a orientago conceptometodolégica do processo de treino Relativamente a primeira tendéncia identificada, constata-se que esta é oriunda dos paises do Leste da Europa e que se caracteriza fundamentalmente pela diviséo da época desportiva em periodos e pela grande importancia atribulda aos factores da carga, como a intensidade, a densidade e o volume Verifica-se ainda que a carga é vista de um modo algo abstracto, no havendo qualquer relagdo com a forma de jogar pretendida ‘A segunda tendéncia surge do Norte da Europa e América do Norte Nesta, ¢ atribuida grande importancia aos aspectos energéticofuncionais da actividade dos atletas, sendo frequente a realizagdio de estudos relacionados com a avaliagéo da carga fisica de competicao, tanto pelo seu aspecto exterior (caracteristicas dos deslocamentos dos jogadores, tempos de esforgo e recuperago, etc ) como pelas repercussées internas no organismo do jogador Verifica-se ainda uma terceira tendéncia, na qual os seus principais representantes originarios dos paises latino-americanos, preconizam 0 Treino Integrado" das varias dimensdes (dimenséo téctica, técnica fisica e psicolégica) Para maior facilidade de comunicagao, a partir deste momento, a primeira tendéncia oriunda do Leste da Europa passard a ser designada por LE A segunda com origem nos paises do Norte da Europa e América do Norte, atribuiremos a designagao de NE, sendo que a terceira tendéncia, cuja premissa fundamental 6 a integrago das varias dimensées inerentes ao treino serd designada por TI ‘Além destas trés tendéncias alguns autores como 0 caso de Vitor Frade vém defendendo uma ‘nova’ orientagéio metodolégica para o processo de treino em Futebol Este autor atribuiu a designagéio de ‘Periodizagéo TActica’ a essa ‘nova concepgdo de treino Com a realizagdo da entrevista pretendemos esclarecer algumas duvidas que ainda subsistem acerca dos fundamentos desta concep¢ao de treino e acerca dos aspectos que a distinguem das demais Para se levar a efeito esse esclarecimento, sera efectuado de seguida um contraponto entre o contetido mais relevante da entrevista e a revisdo da literatura efectuada Todavia dado que 0 objectivo central deste trabalho se prende com a Periodizacao Téctica , sera esta que ird nortear toda a discusso Apenas gostariamos de acrescentar que tal como fizemos em relagéo as tendéncias de treino também a partir deste momento, para maior facilidade de comunicagdo, passaremos a referir 0 nosso entrevistado, Vitor Frade através da expresso VF 37 ‘Analise e discussio do conteddo da entrevista 41 O treino enquanto processo criador da competicao ‘Antes de nos reportarmos & “Periodizagao Téctica’ propriamente dita foi nossa intengo indagar acerca da relevancia que Vitor Frade (VF) atribui ao proceso de treino Deste modo, pretendemos obter uma nocdo geral acerca da significagdo do referido processo, bem como constatar a valorizagdo que o referido autor ihe atribui uma vez que em nosso entender, o surgimento da Periodizagdo Tactica’ é reflexo da importancia atribuida ao treino, enquanto processo que contribui para a obtengao dos resultados desportivos almejados Esta primeira abordagem é ainda mais importante se considerarmos o facto de normalmente, na opiniéio do nosso entrevistado, o processo de treino ser referido de um modo “abstracto” Quando VF menciona o termo abstracto” esta certamente a referir-se ao facto de, muitas das vezes 0 gestor do treino elaborar as diversas situag6es de exercitagéo sem ter uma ideia bem definida acerca daquilo que pretende para a equipa em termos de forma de jogar Essa forma de jogar deverd ser a linha orientadora de todo o processo de treino, caso contrario, tal como refere o mesmo autor, o proceso torna-se ‘abstracto” Assim partindo da revisdo da literatura que levamos a efeito pensamos que as trés tendéncias relativas a orientacao conceptometdolégica do processo de treino (LE, NE e TI) acabam por se abstrair da mencionada linha orientadora pois em momento algum fazem alusdo a forma de jogar pretendida Neste sentido concordamos com VF quando refere que exceptuando a “Periodizacdo Tactica todas as outras tendéncias encaram o processo de treino de uma forma algo “abstracta A grande ‘missao do gestor do treino. 6 tomar 0 processo mais concreto sendo para isso indispensavel a idealizago de uma forma de jogar Estamos plenamente de acordo com 0 nosso entrevistado quando refere que o objectivo do treino passa pela criagdo de condigdes que permitam ou possi aquilo que se pretende e que a forma de jogar pretendida no acontece por “geragdo espontanea pois “carece de tempo, carece de uma certa légica, as vezes, até pedagégica” item atingir © mesmo autor salienta que o treino em Futebol deve basear-se no jogar, na criagde de condigées de jogar Somente desse modo é possivel “alcangar” a forma de jogar pretendida VF acrescenta ainda que ‘o termo treinar terd que estar absolutamente, ou sobretudo condicionado aquilo a que se aspira’ Como facilmente se depreende, a concretizacdo da forma de jogar pretendida é um dos objectivos fundamentais do responsavel pelo processo de treino Todavia sabe-se o quio dificil € aplicar essa pretenso em situagdo de jogo devido ao elevado numero 38 ‘Anélise e discusstio do contesido da entrevista variedade de factores que envolvem a competigao Pensamos que é praticamente impossivel, durante o jogo, verificar uma total concordancia entre aquilo que se pretende e os comportamentos reais apresentados pela equipa Assim, em nosso entender, © treinador deve aspirar a que a equipa realize, o maior nimero de vezes possivel os ‘comportamentos pretendidos Neste sentido VF salienta que ‘aquilo que 0 treino nos d4, é fazermos crescer a densidade de um determinado numero de coisas e fazé-las acontecer mais vezes O autor refere-se a esta ideia como o “principio das propensoes' ‘Ainda neste contexto, o mesmo autor apresenta uma analogia, salientando que se Virmos um penedo com dois pontos de musgo isolados sabemos que passado um més, este estara cheio de musgo Mas se quisermos que o musgo cres¢a mais depressa, devemos empurrar a égua para o penedo No fundo é isto que também tem que se fazer no treino Esta analogia coloca em evidéncia a necessidade de elaborar situagées de treino que reproduzam aquilo que s° pretende e de as repetir sistematicamente, até que 0s comportamentos pretendidos aparegam o maior niimero de vezes possivel durante a competic#io Procura-se acelerar 0 processo de aquisigéo de habitos que devem ser colocados em pratica na competicao Por outras palavras provoca-se 0 aparecimento de determinados comportamentos durante 0 treino para que a equipa chegada a competicao, seja capaz de apresentar esses comportamentos com uma maior regularidade sabendo nés de antemao que nem sempre isso é possivel Neste sentido VF salienta a absoluta necessidade do treino enquanto proceso ctiador da competigéio Todavia, em seu entender, a competicao também tem que ser considerada como treino, como um momento relevante do treino dado que "é ai que 0 aspecto mais global e mais exigente do colectivo se apresenta” Num outro plano, contrastando com o que acaba de ser teferido parece estar a NE Nesta ha uma tendéncia para conceber o treino com base em dados cinematicos ¢ fisiolégicos obtidos em situagdes reais de competi¢ao, bem como em estudos de terreno ¢.em contexto laboratoral, objectivando configurar 0 perfil energético-funcional reclamado pelo jogo de Futebol Inerente a esta tendéncia esta o facto de se acreditar que a recolha desses dados possibilita um processo de treino mais rigoroso Daqui se depreende que nesta, contrariamente a “Periodizacao Téctica’, a competi¢ao € que ‘cria" o treino e nao 0 treino que ‘cria’ a competicao Como se constata, embora varios autores sejam unanimes em considerar que © treino adquire grande importancia enquanto processo regulador da actividade compefitiva (Lorenzo Calvo, 1998 Chirosa Rios et al 1998, Bompa, 1999, Romero Cerezo 2000 Olabe Aranzébal 2002 Pérez Garcia, 2002, Garcia Lavera 2002, Aguirre Onaindia, 39 ‘Andlise e discussio do contetdo da entrevista 2002, Mel Pérez, 2002 Garganta, 1999), nem todos apresentam um igual entendimento conceptometodolégico acerca do mesmo Em seguida, procuraremos esclarecer a posi¢éo do nosso entrevistado relativamente as trés tendéncias referentes A conceptualizagéo do treino que identificamos através da revisdo da literatura efectuada, bem como justificar as razbes pelas quais 0 mesmo autor defende um ‘corte’ em relago ao passado i e , em relacdoa alguns dos fundamentos que sustentam essas tendéncias Como nao poderia deixar de ser, essa justificagéo seré dada com base em algumas das premissas da “Periodizacao ‘Tactica” 42 Aneces: jade de um “corte” em relagao ao passado De acordo com VF, realmente existem trés tendéncias no que se refere & conceptualizag&o do processo de treino No entanto, o autor esclarece que ndo se identifica com nenhuma delas uma vez que as suas premissas nao se coadunam com o ‘seu entendimento de treino Para o autor, todos aqueles que, por uma razo ou outra, se identificam com as mesmas, enfermam de um mesmo mal conceptual que é a separagdo das coisas e a lbégica ascensional, das etapas, das fases. Na perspectiva do nosso entrevistado n&o se deve falar em factores do rendimento pois na sua perspectiva, 0 factor é uma nogo matematica que implica separagéo Ao referir que se opbe & separagéo das ‘coisas’ este autor esta em desacordo com Matvéiev (1980) pois este divide 0 processo de treino em preparacdo fisica técnica, tactica volitiva e tedrica VF também se apresenta em discordancia com Verjoshanski (1990), uma vez que este separa o treino em fisico-condicional e técnico Matvéiev e Verjoshanski so dois dos principais representantes da LE Assim sendo faciimente se constata que o facto da LE efectuar a separacdo das dimens6es do treino um aspecto que a diferencia da Periodizagao Téctica” uma vez que esta ao basear-se na realizago de situagdes de jogo, possibilita o desenvolvimento global das mesmas Deste modo, na Periodizagdo Téctica’ ndo faz sentido falar em preparagao fisica, técnica tactica ou psicolégica como aspectos isolados pois o seu desenvolvimento ocorre em simultaneo Por outro lado, Bangsbo (1998), Weineck (1997) e Bompa (1999), autores que podemos identificar como representantes da NE, embora refiram a possibilidade de desenvolver a dimens&o fisica através de situagdes similares as da competicéo também defendem a necessidade de por vezes a desenvolver de forma isolada Desta forma 40 ‘Andlise e discussio do conteddo da entrevista estes autores referemse frequentemente a0 treino isolado da force da velocidade e da resistencia Conatate-se que os autores que se identifica com esta tendéncia (NE) efectuam varios estudos objectivando uma melhor caracterizagao fisiloaica © cinematica do jogo de Futebol Esse facto surge como resultado da grande énfase dada a dimensao fisica Neste contexio acredita-se que depois de efectuar essa caracterizagéo é possivel elaborar o conteudo e a estrutura do treino mais adequada Contrariamente ao que acaba de ser referido, na Periodizagao Tactica’, a imenséo fisica no 6 muito enfatizada pois como ja foi salientado, considera-se que © mais importante 6 0'tactico! VE considera que os conhecimentos resultantes de estudos fisiologicos ¢ biomecanicos no ambito do Futebol nao tem nenhuma aplicagao na “Periodizacao ‘Tactica’ O mesmo autor justfica essa constatago com o facto de a grande maioria das pessoas que avangam estudos nessas Areas, terern pouquissimos conhecimentos acerca daquilo que ele acha que se deve conhecer ou entender melhor ou seja, 0 jogo Assim al oct eel aid habitualmente se mede quando muito & medir a qualidade do jogo" e, n0 Seu ‘entender, ninguém faz isso Tal como foi possivel constatar na revisao da literatura por nos efectuada, na terceira tendéncia (T), @ semelhanga da ‘Periodizagdo Tactica 6 levado a efeito 0 desenvolvimento integrado das varias dimensfes Neste sentido, autores como Anton (1994, citado por Lorenzo Calvo 1998) Chirosa (1996, citado por Chirosa Rios et al 2000), Lorenzo Calvo (1998) Chirosa Rios ot al (1998) Gonzalo Prieto (2001) defendem a artioulagdo ou intepraglo das varias dimeneties durante 0 processo de treino Em nosso entender, das trés tendéncias de treino identificadas @ Tié aquela que mais se aproxima da ‘Periodizagao Tactica’, sendo que o nosso entrevistado nao deixou claro quais os aspectos que as diferenciam Todavia 0 facto de ambas se oporem & separagio das varias dimensées que contribuem para o rendimento em Futebol, é um aspecto que as une Neste contexto, VF salienta que na Periodizago Téctica’ nao ha separacdo, dal que a nogdo de ‘Yéctica' seja dominante Para este autor “o tactico née é fisico, nBo é teenico, no & psicoldgico ndo estratégico, mas sem estes no existe’ De forma semelhante Queiroz (1986) refere que a condicao fisica, @ técnica e a tactica embora nogées diferentes, dever estar estrtamente ligadas no treino, tanto como estéo na competicao Como jé foi referido 0 nosso entrevistado também criica @ diviso da” época desportiva em periodos, etapas e fases Assimsendo 2 *Periodizag&o Tactica’ opdem-se 4 LE, pois nesta utima de acordo com 0 modelo de Matvéiey (1980), 6 preconizada a a Anélise e discusstio do conteuido da entrevista diviséio do ciclo de treino em trés periodos nomeadamente em periodo preparatério periodo competitive e periodo de transig0 O perlodo preparatério, por sua vez ainda é dividido numa primeira etapa de preparagdo geral e numa segunda de preparago especial VF refere que a generalidade das pessoas ligadas as referidas tendéncias de treino, “no tirou da cabega aquilo que é 0 grande cancro conceptual” ou seja ‘as fases, os perfodos, as etapas, constituindo-se estas como momentos significativamente diversos” Neste sentido Matvéiev (1980) salienta que a durago dos trés periodos anteriormente mencionados é definida pelas fases de desenvolvimento da forma e que estas condicionam fortemente a dinamica das cargas e os contetidos do treino No entender de VF na Periodizagao Tactica nao existe esta diviséo do proceso de treino sendo que outro dos aspectos em rela&o ao qual 6 necessario efectuar um “corte , diz respeito 4 nogo de carga O mesmo autor refere que Tschiene salienta 0 quéo negativa 6 a nogao de carga “o grande cancro que isso é" mas que o proprio continua a usar esse termo ‘© mesmo autor considera que “as pessoas vao continuar a falar da mesma maneira porque sé se ultrapassam perante situagées de vulto, situagées significativas, testes cruciais” Pelas palavras do nosso entrevistado, depreende-se a necessidade de um corte’ em relagdo as premissas da LE mais concretamente em relagdo a Matvéiev Na sua 6ptica, nem Verjoshanski, nem Tschiene efectuaram esse “corte , pois embora tenham levado a efeito um afastamento relativamente a certos aspectos contradizem-se com demasiada regularidade Segundo 0 mesmo autor, 0 unico que ‘suprime todos os pressupostos todas as premissas de Matvéiev’ é Bondarchuk Em nosso entender VF refere que Bondarchuk foi o unico autor a suprimir todas as premissas de Matvéiev, devido ao facto de este salientar a importancia da redugao substancial da prepara¢do geral durante o periodo preparatério bem como da nogao de sinergia (atleta visto como uma unidade, em que nao ha separacao das varias dimensoes do treino) Na revisdo da literatura efectuada, tivemos a oportunidade de constatar que na NE 6 dada grande importancia a realizagao de testes fisicos Neste contexto, Weineck (1997) e Bangsbo (1998) salientam a importancia que adquire tanto para 0 jogador como para © treinador, 0 conhecimento do modo como 0 processo de treino tem influenciado os factores individuais Bangsbo (1998) acrescenta ainda que os testes permitem motivar os jogadores para um empenhamento, cada vez maior, no treino ; Todavia, a ‘Periodizaco Tactica n&o contempla a realizagdo desses testes sendo que VF em total discordancia refere mesmo que “qualquer tipo de testes s6 so tteis 42 Andlise e discussao do conteudo da entrevista para quem os puder dispensar e os fisicos ainda mais Eles podem mostrar «muita coisan, mas escondem o essencial’ Segundo o autor, o ico que determinado jogo requisita ‘nao tem nada a ver com o fisico que os testes isolam’ © mesmo autor salienta que o mais importante 6 saber se os jogadores sao capazes de jogar e que nem sempre aqueles que alcangam os melhores resultados nos testes fisicos s8o os que esto melhor a jogar Em nossa opinido, isto acontece porque um jogador, quando em jogo nao efectua apenas os comportamentos que leva a efeito durante os testes Assim ele pode obter resultados muito bons na realizado dos testes mas depois na situago de jogo néo conseguir coordenar as suas acces com as dos companheiros, por exemplo E o contrario também se podera verificar, i e , os jogadores obterem resultados fracos a0 nivel dos testes e apresentaram um rendimento elevado em situagao de jogo Este facto 6 confirmado pelo préprio Bangsbo (1998) ao esclarecer que, devido aos muitos aspectos que um jogo comporta, devemos ter consciéncia de que um teste nao pode prognosticar ‘como renderd um jogador durante 0 jogo Nao obstante Bangsbo (1998) nao deixa de apontar mais uma razo para levar a efeito a realizagao de testes fisicos Assim ele afirma que os testes poderdo ser uteis, para constatar se um jogador recuperou de determinada leséo Todavia no entender de VF, nem mesmo nessas situagSes devem ser efectuados testes Este autor comeca por esclarecer que, enquanto 0s atletas esto lesionados tém um problema clinico e no como se costuma dizer um problema fisico Assim quando 08 atletas tm um problema clinico podem ser sujeitos aos testes que o departamento médico achar mais compativeis com a sua légica de tratamento todavia, quando o atleta est em condig6es clinicas. no devem ser efectuados quaisquer testes Segundo 0 nosso entrevistado sempre que os atletas estejam em condigdes clinicas deve-se “testar a légica de progresséo pedagogicamente” O mesmo autor salienta que, em caso de lesao, 0 desfasamento que vai existir entre este e os restantes diz respeito ao jogar Se 0 processo for bem dirigido tempos depois, os atletas vo estar melhor do que tempos antes e assim sucessivamente mas em relagéo ao que se pretende (que é jogar Futebol) VF refere que caso 0 Futebol fosse apenas “ir e vir’ poderia fazer-se o teste do “yo-yo” por exemplo porém o Futebol & muito mais do que isso Para este autor as informagées retiradas dos testes s4o indicagdes parcelares que nao tém interesse absolutamente nenhum, é perder tempo O que é preciso é saber dominar 0 jogo saber qual a muttiplicidade de nuances do jogo" ; Analise e discussio do conteudo da entrevista © mesmo autor argumenta que o tempo de treino deve ser curto, pelo que nao se deve perder tempo com os testes com o acessério No entanto, 0 autor esclarece que os testes, para ele, nem acessérios so pois utiliza a “Periodizacao Tactica’ De acordo com VF, a ‘Periodizago Téctica’ coloca o jogar como objecto de preocupagdo regular e sistematica dando-lhe énfase Perspectiva idéntica tem Queiroz (1986 p41) para quem “o jogo deve constituir no treino, 0 nticleo de todo o proceso" e que quanto maior for o grau de correspondéncia entre os modelos de preparagdo eo jogo melhores e mais eficazes sero os seus efeitos VF considera que nenhum dos autores ligados 4 LE, NE ou 8 TI, coloca a énfase no jogar, sendo esse 0 seu grande erro conceptual Todavia, como ja foi referido anteriormente, VF nao esclarece a diferenca entre a “Periodizago Tactica’ e a TI Na nossa perspectiva, existe uma certa aproximacao entre estes dois modelos de treino, pelo menos no que concere a colocagéo da énfase no jogo A nossa opinido baseia-se no facto de Antén (1994) citado por Lorenzo Calvo (1998), definir esta tendéncia de treino (TI) como a preparagao fisica-técnica-tactica integral na qual todas as capacidades s4o desenvolvidas num contexto semelhante ao da competi¢ao Como resultado da sua experiéncia e da sua reflexdo de trinta anos, VF conclui que 6 absolutamente imprescindivel cortar com essas ideias todas Este autor considera que nenhuma das trés tendéncias de treino tem aspectos positivos, pois entende que apenas a Periodizagao TActica” é ajustada as necessidades do Futebol As outras tendéncias nao se ajustam ao Futebol porque todas elas tem aspectos negativos que por mais pequenos que sejam, podem prejudicar o rendimento da equipa Para VF “o problema nao reside a média exigéncia ou a baixa exigéncia’ O problema da eficdcia apenas se coloca a um nivel muito elevado em que é obrigatério estar-se sempre no maximo das capacidades A este nivel um pormenor por mais infimo que seja pode fazer desmoronar tudo Em seguida abordaremos mais aprofundadamente a “Periodizagao Tactica’ esclarecendo algumas das suas premissas fundamentais Anilise e discussio do conteudo da entrevista 43 Da “Periodizacao Tactica” a “Fenémeno — Técnica” Como ja foi referido, a forma como Vitor Frade conceptualiza o proceso de treino adquire a denominacéio de “Periodizagao TActica’ Esta surge com o propésito de contrastar com uma légica conceptometodolégica que se vinha verificando no processo de treino dos jogos desportivos colectivos e do Futebol em particular ‘A designacdio “Periodizagdo Tactica” pode induzir em erro dada a nogao tradicional que se tem acerca dos termos “periodizacao" (jé salientamos anteriormente que 0 nosso entrevistado se opée a divisdo da época em periodos) e tactica Todavia nesta concepgo de treino, tanto o termo “periodizagao" como o termo “tactica’ nao apresentam uma significagéo semelhante aquela que, normalmente se Ihes atribui Tal como refere VF “o que eu entendo por «Periodizagao Tactica» nao tem nada a ver com a nogo geral que se tem de periodizagao , da mesma forma que ‘aquilo que eu entendo por tactica € contrastante com aquilo que habitualmente se refere como tactica” Garganta (1991) refere que a periodizacao é um aspecto particular do planeamento que diz respeito, fundamentalmente, aos aspectos relacionados com a dinamica das cargas de treino e com a consequente dindmica da adaptaco do organismo as mesmas tendo em conta os periodos da época em que nos encontramos Como ja foi mencionado esta nogdo de periodizagao € tipica da LE, designadamente do modelo de Matvéiev, e ndo se coaduna com as premissas da Periodizagao TActica’, uma vez que, nesta, 0 treino é visto como um processo de continuidade 0 facto da “Periodizagao Tactica perspectivar 0 processo de um modo continuo implica a presenga assidua do gestor do treino observando tudo o que la (no treino) se passa, com o intuito de detectar evolugdes ou regressdes e proceder aos devidos reajustamentos Tal como refere VF, 0 processo ao acontecer, em determinadas circunstancias fornece indicadores no aqui e agora que tém que ser interpretados por quem esta a gerir ‘© processo” de maneira a interferir no mesmo acicatando-o a uma melhor qualidade e evitando que este regrida ‘© mesmo autor salienta que o gestor do treino deve utilizar agendas estratégicas e no a planificag&o tradicional Este tem que ter sempre presente o que é que fez e o que fez 6 determinante em relaco ao que vai fazer’ No entender do referido autor depois de se ‘fazer’ de se intervir no proceso ndo se sabe o que vai resultar Todavia o resultado dessa intervengdo, vai interferir naquilo que se ira continuar a fazer E por isso que, ‘de facto, a «Periodizacdo Tactican uma coisa que ndo tem nada a ver com a légica coma filosofia’ Para o autor, a planificagéo e a periodizacao tradicional os planos de prospectiva ndo tém qualquer interesse Porém esses conceitos continuam a ser 45 Analise e discusstio do contetido da entrevista retratados em termos de bibliografia e é impossivel elimind-los de um momento para o outro No entender de VF, 0 facto da Periodizagao Tactica” ser encarada como um proceso continuo (tal como acaba de ser esclarecido) faz emergir 0 conceito “Fenomeno-Técnica Segundo 0 nosso entrevistado “«Fenémeno-Técnica» é uma fenomenologia que implica uma preocupagao que é levar alguém a treinar, no sentido de «regestar» evolugdo qualitativa” © mesmo autor acrescenta que “«Fenémeno-Técnica» € uma fenomenologia da responsabilidade técnica de quem esta a gerir Esta nogdo visa realgar que o gestor do treino deve ser interventivo antes, durante & depois do processo até porque este é revelador de muita coisa inesperada Na perspectiva do autor s6 faz sentido existir 0 treinador se este for interventivo e catalisar a apreensdo de tudo o que é conveniente e importante para o crescimento do proceso Tal como refere VF uma coisa é presenciar o proceso e intervir e outra é saber tudo 0 que os livros dizem Por isso é que ele fala em Fenémeno-Técnica’ ou seja, para enfatizar o lado pragmatico do processo de treino © mesmo autor esclarece que ndo substitui o termo “Periodizacao Tactica’ pelo termo Fenémeno-Técnica Ele utiliza estes dois termos com 0 intuito de melhor se fazer entender, i @ para que as pessoas compreendam melhor a sua forma de conceber o treino A utilzagao da expressao ‘Fenémeno-Técnica’ surge apenas para acentuar uma légica de concep¢ao de treino, dado que as pessoas, como ja foi referido tem um ‘entendimento de periodizagao que é precisamente aquele que ele pretende contestar Deste modo 0 conceito Periodizacao Tactica’ poderia induzir as pessoas em erro Tal ‘como refere VF ‘muitas das vezes 0 termo periodizagdo nao cumpre serve mais para perturbar’ Tal como se verifica em relac&o ao termo ‘periodizacao", quando falamos em Periodizagao Tactica, 0 termo “tactica também nao adquire a significagdo que habitualmente the é atribuida Neste sentido VF menciona que “muitas vezes no radio e nos jomnais, as pessoas esto a falar, quando muito, em estratégia e estdo a referir tactica © mesmo autor considera que é fulcral que se entenda o que é tactico Para o nosso entrevistado 0 tactico € 0 jogo" “O tdctico sé é tactico se incorporar as outras dimens6es , i € , ele nao ¢ fisico, ndo ¢ técnico, nao é psicolégico, nem é estratégico mas precisa deles todos para existir No seu entender, a tactica pode ser definida como a cultura da actividade neste caso como cultura de jogo como um entendimento de jogo A tactica é resultante de um processo sendo muitos dos comportamentos dos jogadores efectuados 46 ‘Analise e discussao do conteido da entrevista espontaneamente O mesmo autor acrescenta ainda que os individuos apresentam esses comportamentos espontaneos mas que estes so “obrigados” pela mesma cultura Perspectiva semelhante tem Garganta (1997), pois refere que na construgao da atitude tdctica 0 desenvolvimento das possibilidades de escolha de um jogador depende do conhecimento que este possui do jogo estando a sua forma de actuagao fortemente condicionada pelo modo como ele o concebe e percebe, ou seja pelos seus modelos de explicagéo VF salienta que o ‘tactico" é “a aquisig&o de uma forma de jogar como uma cultura de jogo, como um entendimento de jogo, um entendimento do jogo’ Por esta raz&o 6 que a ‘Periodizagao Tactica” assenta fundamentalmente, no jogar por isso é que, nesta concepgao se dé grande énfase ao jogar, ou seja, para cimentar um entendimento acerca do jogo Em conformidade com o que acaba de ser referido Teodorescu (1984) e Seirullo Vargas (1990 citado por Chirosa Rios et al , 2000) referem que devem ser criados exercicios que reproduzam parcial ou integralmente, o contetido e a estrutura do jogo para que possam ter aplicabilidade para o mesmo IWwoilov (1984 citado por Garganta 1997) define a téctica como uma série de acgdes coordenadas e adaptadas por parte dos jogadores duma equipa tendo como objectivo a ‘obtengao dos melhores resultados em competico Por sua vez, Bauer & Ueberle (1988 citados por Garganta, 1997) referem que a tactica a forma de solucionar os objectivos e tarefas relacionados com o jogo através da utilizacdo estruturada de conhecimentos & experiéncias Em nossa opiniéo, as duas definigdes que acabamos de apresentar estéo de acordo com aquilo que VF designa de tactica ou seja, uma cultura de jogo um ‘entendimento do jogo Em consonancia com 0 que acaba de ser referido Garganta & Pinto (1995) mencionam que, durante 0 jogo de Futebol os jogadores devem saber o que fazer para depois poderem seleccionar e utilizar a resposta motora mais adequada Atendendo ao anteriormente exposto, pensamos que se justifica a grande énfase que a “Periodizac&o Tactica’ dé a dimens&o tactica Por sua vez tanto a LE como a NE, do especial énfase a dimensdo fisica, pois acreditam que os resultados desportivos podem ser maximizados através da melhoria fisica dos atletas O facto da LE centralizar a sua atencao no desenvolvimento dos aspectos fisicos & confirmado por Matvéiev (1980) quando refere que a preparacdo fisica geral cria as bases para a preparagao especial, uma vez que assegura o desenvolvimento miiltiplo da forga velocidade, resisténcia flexibilidade e agiidade, premissa necessaria para que 0 aperfeigoamento ocorra (em qualquer modalidade desportiva) Silva (1998), refere que no modelo de Verjoshanski 0 processo de treino estrutura- se a partir de um volumoso bloco inicial de treino em que a forga predomina, ao qual se 47 Andlise e discusséo do conteddo da entrevista segue 0 desenvolvimento das demais capacidades condicionais e técnico-tacticas, de acordo com as necessidades da modalidade Assim, mais uma vez constatamos a grande importancia que a LE atribui a dimensdo fisica ANE também atribui um papel central ao desenvolvimento dos aspectos fisicos Para se constatar a veracidade do que acaba de ser referido, basta estarmos atentos ao elevadissimo numero de estudos efectuados com o intuito de efectuar a caracterizagao do perfil energético-funcional reclamado pelo jogo de Futebol Garganta (1999a) refere mesmo que estes s&o 0s factores que tém sido alvo de mais estudos até 20 momento ‘Tschiene (1991) salienta que o crescente niimero de estudos dedicados a adaptagao dos diversos sistemas organicos do atleta de alto nivel 4 carga de treino e de competicao, demonstra o facto de na teoria do treino se estar a dar importancia dominante ao aspecto biolégico Neste contexto Alvarez del Villar (1983) refere que a methoria da condicdo fisica provocada pelo treino & determinante para conseguir bons resultados em qualquer modalidade desportiva Em sintonia com 0 que acaba de ser referido, Mufios Marin (2001) considera que 0 éxito poder ser mais facilmente alcangado mediante um bom suporte fisico e psicolégico dos atletas Por sua vez Oliveira (1991) opde-se a ideia de que a elevacdo das capacidades fisicas assuma um papel preponderante no que conceme a obtengdo de bons resultados desportivos considerando que a tactica é a dimens&o mais importante da planificagao e periodizacao Garcia Lavera (2002) refere que a tactica é 0 aspecto mais importante da base interactiva dos elementos coordenativos, condicionais e cognitivos © mesmo autor, salientando a importncia que a tactica adquire no proceso de treino em Futebol refere que esta 6 0 ponto de encontro de todos os factores psico-sécio-funcionais do jogador, devendo ser a referéncia para o planeamento de qualquer tarefa em Futebol Por sua vez, Konzag (1991) considera que a formagao técnico-tactica assume, no processo de treino_ uma posigao central Confirmando 0 que acaba de ser mencionado Garganta (1997) afirma que, a esfera directora em Futebol, 6 a dimensdo tactica, uma vez que os comportamentos que ocorrem durante uma partida so consubstanciados através desta Para melhor compreendermos as asserg6es anteriores, VF aponta um exemplo Imaginemos que onze individuos de paises diferentes que néo falam nenhuma lingua dos outros se encontram por acaso e decidem realizar um jogo de Futebol Como Obvio eles vo organizar-se com uma certa espontaneidade de acordo com a Tepresentatividade que tém desse objecto (jogo) De facto, em termos qualitativos vamos 48 ‘Analise e discussao do contetdo da entrevista verificar uma dimenso tactica pouco evoluida mas que por isso nao deixa de ser tactica Como jé foi anteriormente referido, para que o tactico se manifeste, é imprescindivel conhecer-se 0 jogo de Futebol é imprescindivel que se o entenda A primeira preocupag&o neste processo, tanto para os jogadores como para o gestor do treino, deve ser entender a actividade que esto a levar a efeito, neste caso deve ser entender © jogo, entender 0 que é 0 jogo de Futebol Neste sentido, VF esclarece que “o problema é entender 0 jogo 0 que € 0 jogo” Depois de se entender 0 jogo é absolutamente necessério que se entendam os varios jogos i e as varias formas de jogar Neste momento pode reconhecer-se que o objecto de estudo e 0 objecto de preocupagao passa a sero nosso’ jogo Quando 0 referido autor salienta a necessidade de se estudar e definir 0 ‘nosso! jogo esta a introduzir uma noc&o muito importante em Futebol, mais concretamente no processo de treino, ou seja a nogdo de modelo de jogo Todavia, na perspectiva do nosso entrevistado, é necessério termos muito cuidado com as nogées que usamos “As vezes a gente utiliza uma linguagem no sentido de ser possivel exprimir melhor, expressar melhor, entender melhor compreender melhor ligar melhor com aquilo que a gente quer mas quem esté do outro lado quem esta a conversar connosco n&o tem dessa linguagem o mesmo significado, nao extrai o mesmo significado" De acordo com o mesmo autor hd varias interpretaces de modelo de jogo porém, na sua éptica “o modelo de jogo é uma conjectura, é uma ideia, uma ideia em relagao a algo, em relagao ao jogar” E nossa firme convicg&o que, para que 0 proceso de treino se desenrole com a maxima qualidade possivel é imprescindivel que cada treinador tenha o seu proprio modelo de jogo No entanto estamos inteiramente de acordo com o autor quando menciona que antes de conceber e adoptar o seu préprio modelo o treinador tem que entender 0 jogo os varios jogos $6 depois ¢ que ele deve tentar formular uma ideia conereta acerca do seu jogo ou seja, acerca do jogo que pretende ver praticado pela sua ‘equipa Por outras palavras, s6 depois 6 que ele podera conceber o seu proprio modelo de jogo Considerando que 0 modelo é uma concepgao de jogo e sabendo que o jogo constituido pela fase ofensiva e defensiva bem como pelas transigdes da fase defensiva para a ofensiva e da fase ofensiva para a defensiva, segundo VF 0 treinador tem que se preocupar com esses quatfo momentos aquando da conceptualizagao do seu proprio modelo de jogo Andlise e discussao do contetdo da entrevista Na perspectiva deste autor quase que se poderia dizer que 0 modelo esté em permanente construgo nunca esta acabado "O modelo é qualquer coisa que néo existe mas que todavia se pretende encontrar” Para o nosso entrevistado néo existe um modelo de jogo evoluido Devido a riqueza do Futebol existem varios modelos de jogo evoluidos, pois 0 jogo nao é sé um A tinica coisa que se pode universalizar 6 a énfase no jogo no treinar jogando Teodorescu (1984) apresenta uma perspectiva semelhante, afirmando que a aplicagao da modelagem, i e , a criagao no treino das condigées de jogo ‘ou proximo delas, é um pressuposto da boa preparacao. No seguimento do que jé havia referido anteriormente VF salienta que 0 modelo de jogo tem uma cultura e que é fundamental sintonizar os jogadores com os aspectos fundamentais dessa cultura Estamos de acordo com o autor, dado que se todos os jogadores da equipa estiverem identificados com o jogo, ou seja, se eles tiverem um mesmo entendimento do seu jogo, a dimensdo tactica’ apresentar-se-4 mais evoluida Consequentemente, o relacionamento dos jogadores em competigao sera muito melhor Todavia, segundo VF, deve ter-se sempre em conta que o modelo é tanto mais rico, quanto mais possibilitar que os individuos acrescentem algo as suas fungdes, mas nunca a revelia das suas fungdes Com base nestas assergdes podemos depreender que o modelo de jogo nao deve ser encarado como uma estrutura rigida exigindo que todos os comportamentos sejam estritamente cumpridos O modelo deve permitir a criatividade dos individuos deve permitir o detalhe Todavia, os jogadores ao levarem a efeito esses comportamentos nao devem alhear-se das premissas que o modelo contempla Neste ambito, Teodorescu (1984) considera que o treino consta da aprendizagem e aperfeicoamento de certos ‘modelos’ de acco de ataque ou defesa VF salienta que, mais importante do que a nogao de modelo de jogo, séo os principios que Ihe do corpo Assim, 0 facto do modelo dever contemplar os quatro momentos do jogo e de cada um desses momentos ter especificidade, requer a formulagao de principios especificos No entender do mesmo autor os principios expressam a matriz, s40 0s grandes momentos do jogo a organizagao do ataque a organizagéo da defesa e, no seu lado mais global as passagens de uns momentos para 0s outros Em concordancia com VF, Faria (1999) refere a existéncia de uma forma de periodizar e planificar o processo de treino, denominada de "Periodizagao Tactica", na qual 6 preconizada a assimilagao e apropriagdo de uma determinada forma de jogar, através da operacionalizacdo de um modelo de jogo adoptado e respectivos principios Como facilmente se constata, os principios sao as partes de um todo que 60 modelo de jogo Deste modo, para que cada uma dessas partes seja abordada e 50 FCDEF Andlise e discusstio do contetido da entrevista desenvolvida, torna-se imprescindivel decompor o todo sem no entanto perder de vista a matriz do seu jogo Neste sentido, segundo VF, embora a Periodizagao Tactica’ dé énfase ao jogar isso no significa que se jogue sempre onze contra onze O mesmo autor salienta que 0 jogar é decomposto e nesse decompor é necessério muito tacto muita sensibilidade" por parte de quem gere 0 processo Mais uma vez esté a fazer-se alusdo a tal "Fenémeno- Técnica ‘© mesmo autor entende que a decomposigao do jogo implica a redugéo do espaco do tempo e do numero de jogadores e que este facto salvaguarda o desgaste possibilitando uma melhor aquisico A transferéncia destes jogos reduzidos para o jogo formal decorrera sem qualquer problema, desde que sejam utilizados meios ajustados as pretensées do gestor do treino Para justificar a afirmagao anterior, o autor apresenta o seguinte exemplo Imaginemos que o treinador pretende que o jogo se realiza a amplitude do terreno Caso © processo de treino decorra sempre em espagos reduzidos, é evidente que os individuos dificilmente daréo amplitude ao jogo aquando da transposigao para o jogo formal Todavia, pode darse maior amplitude ao espaco de exercitago e encurtar a profundidade Deste modo embora se continue a trabalhar em espacos redi jos, os jogadores teréo menores dificuldades em dar amplitude ao seu jogo aquando da transposigdo para situago de jogo formal Inerente & anteriormente referida decomposicao do jogo esté um aspecto que VF designa de “reducdo sem empobrecimento’, i e reduzir 0 ‘téctico” sem contudo 0 empobrecer Isto implica que, mesmo depois de se reduzir 0 jogo a jogos, a matriz do jogo esteja sempre presente Efectuada essa redugdo segundo o mesmo autor, ndo devemos ver este processo como a realizag’o de exercicios mas sim como o desenvolvimento de principios do modelo de jogo adoptado Frade (1998 p 18) considera que © modelo de jogo € concebido durante 0 processo de treino, através da operacionalizagao dos respectivos principios Segundo VF, ao falarmos em desenvolvimento de principios, devemos ter a nogo que estamos a referir-nos também a sub-principios e a sub-principios dos sub-principios, sendo que estes devem ter sempre uma ligagao contextual Na perspectiva do mesmo autor os jogadores devem ter uma representagao mental do contexto global (do jogo que o treinador pretende), para que estes consigam associar de forma coerente os principios ou sub-principios que esto a desenvolver com a forma de jogar pretendida, i e, para que eles percebam a ldgica do trabalho que estao = realizar E por isso que é importante que os jogadores entendam o jogo e, depois, o seu jogo 51 Andlise e discussao do contetido da entrevista VF entende que a Periodizagdo Tctica” tem a ver com a distribuigao dos principios a0 longo do processo de treino A “Periodizagao Tactic” é 0 processo que comega coma abordagem dos quatro momentos do jogo no sentido de ir proporcionando a possibilidade de interligagao entre eles Em consonancia com as ideias anteriormente expostas Jorge (1989) considera que a preparaco tactica tera necessariamente que contemplar 0 tipo de solicitagses que o modelo de jogo adoptado suscita distribuindo-se coordenadamente no tempo através do pragmatizar de uma fraccionagao, i e de uma “periodizagao" da preparagdo tactica que na dificuldade especifica de cada patamar de rentabilidade, associa essas ‘unidades funcionais’, conjunto de solug6es técticas, cada vez mais complexas ricase diversificadas Em concordancia com 0 que acaba de ser referido Faria (1999) considera que, no fundo, a “Periodizago Téctica’ obriga a uma decomposig&o do fenémeno complexo (jogo) articulando-o em acgdes também elas complexas ie, acgdes comportamentais de uma determinada forma de jogar (modelo de jogo adoptado) Esta articulagao surge em funcao daquilo que se pretende ver instituido (um conceito de acgées intencionais uma cultura de jogo) De acordo com VF, esta forma de encarar 0 processo de treino tem muito a ver com © sentido da devida proporgao das coisas tem a ver com a sensibilidade do proprio com a reflexéo de cada um dai que ele Ihe atribua a designagdo de Fenémeno-Técnica O nosso entrevistado salienta que o treino tem que ter um contexto de propensdo, ou seja aquilo que se quer que acontega tem que acontecer mais vezes do que as outras coisas Em nosso entender ndo é facil regular esta situagéo pois é necessario que 0 gestor do treino tenha um entendimento preciso acerca do seu jogo, ou seja é necessario que tenha uma ideia concreta acerca do jogo que pretende Na reviséo da literatura que efectuamos nunca os autores associados a cada uma das trés tendéncias (LE NE ou TI) se referem ao desenvolvimento dos principios de jogo Assim, os autores referentes 4 LE preferem falar em factores da carga de uma forma algo “abstracta” nunca fazendo referéncia a relagao que esta (carga) deverd ter com a forma de jogar pretendida Contrariamente a "Periodizacdo Tactica’ na LE é dada grande importancia as alterages e adaptagées organicas, sendo esquecido que o atleta & um todo e que 0 principal objectivo do treino deve ser que este se identifique ou ‘interiorize” uma determinada forma de jogar i e os principios do modelo de jogo adoptado Relativamente & NE também podemos afirmar que o desenvolvimento dos principios de jogo ndo é visto como o aspecto central do treino Pelo contrario nunca estes sdo mencionados pelos diversos autores consultados Como jé foi referido, constata-se que estes estdo mais preocupados com a dimensao fisica pois acreditam 52 Andlise e discusstio do contetido da entrevista que mediante 0 seu desenvolvimento, se pode melhorar o proprio jogo Neste sentido, so efectuadas diversas observag6es e andlises da dimensdo fisica inerente ao jogo de Futebol n&o sendo contudo consideradas as peculiaridades tacticas do jogo que se observa (Garganta, 1999a) Ainda no Ambito da NE Bangsbo (1998) salienta o facto de uma parte importante do treino dever ser efectuada em presenga da bola Todavia o objectivo central inerente a essa situagdo € fisico e nao tactico i e 0 objectivo nao passa pelo desenvolvimento dos principios do modelo de jogo mas sim pelo desenvolvimento da dimensao fisica O mesmo autor salienta que, nas situagdes em que a bola esta presente em primeiro lugar treinam-se os grupos musculares especificos usados em Futebol e, em segundo lugar desenvolvem-se as habilidades técnicas e tacticas em condig6es similares as dos jogos Tschiene (1994) apresenta uma perspectiva distinta das duas tendéncias anteriormente mencionadas (LE e NE) salientando o facto de nao se dever pensar que a adaptagao do jogador as condigées especiais de treino se limita ao lado organico- muscular (condicional) Segundo este autor deve terse em consideracéo que o pensamento tactico é um sector importante dos pressupostos de prestagdo do jogador e que este também & susceptivel ocorréncia de adaptagdes Em sintonia com este autor Oliveira (1991) afirma que a componente tactica, através do modelo de jogo adoptado e respectivos principios, deve ser alvo de um perspicaz planeamento e periodizago ou seja deve surgir como a orientadora de todo 0 processo de treino O mesmo autor apresenta a sua discérdia em relagSo as premissas preconizadas pela LE e pela NE ao referir que sendo os jogos desportivos colectivos actividades fundamentalmente tactico-técnicas no entende as razées pelas quais muitas das vezes as periodizagées e planificagdes ‘sdo predominantemente fisicas Reportando-nos agora aos autores que se associam a TI podemos afirmar que também estes nunca mencionam a necessidade de desenvolver principios do modelo de jogo adoptado Estes autores contrariamente ao que se verificava no seio da LE e da NE, defendem a integragao dos factores e ndo colocam a énfase na dimensdo fisica Referem apenas que o desenvolvimento das varias dimensées (fisica, técnica, tactica e psicolégica) deve acontecer ao mesmo tempo Contudo nunca estes autores referem que 0 desenvolvimento simultaneo destas dimensdes deve ser efectuado tendo em vista 0 jogo a que se aspira Ou seja, parece-nos que este trabalho é um pouco ‘abstracto”, ou seja, ndo ha uma linha orientadora (modelo de jogo) pois, contrariamente a Periodizagao Tactica , nunca s4o mencionados os principios que devem servir de referéncia a esse trabalho integrado : Na perspectiva de VF, 0 jogo é 0 todo, é o global mas é um global feito de dimensées ou de partes (tactico técnico fisico, psicolégico e estratégico) No processo 53 Andlise e discussao do contetido da entrevista de redugo do todo (sem que, contudo se empobreca), atrés mencionado as partes ou as dimensées tém que estar subjugadas a um sentido nunca podem ser dominantes Este facto esté muito relacionado com aquilo que 0 nosso entrevistado apresenta como 0 “dilema da agua do nescafé” Com esta analogia o autor pretende demonstrar que da mesma forma que 0 nescafé pode ser melhor se as partes que 0 constituem tiverem mais qualidade e forem bem “calibradas’, também o nosso jogo teré mais qualidade, caso as partes que 0 constituem sejam bem trabalhadas e calibradas’ no decorrer do proceso de treino © mesmo autor aponta um exemplo objectivando esclarecer o que entende pelo “dilema da agua do nescafé" Imaginemos que o treinador da grande importancia a que 0s seus jogadores corram se movimentem (entdo isto 6, por exemplo o agticar) Se o treinador pretende que o nescafé tenha maior qualidade ele vai optar pelo agucar mascavado porque sabe que este é melhor Aplicado ao Futebol, o mascavado (uma parte do todo) € trabalhado naqueles momentos “analiticos’ que so os primeiros que depois fazem a transformagao Note-se, todavia que na perspectiva de VF o aspecto analitico, tal como & habitualmente referido, nao existe na ‘Periodizagao Tactica Os momentos ‘analiticos’ anteriormente referidos na realidade nao o s40 porque existem em fungao de uma Preocupacéo de uma parte do todo No seu entender, o analitico habitualmente mencionado diz respeito a uma concepgao, que faz orescer as coisas pelas partes constitutivas pela somagao pela justaposigao Certamente que 0 autor se esté a referir & LE e & NE pois como jé foi bastante salientado, estas tendéncias separam as dimensées durante 0 treino, esperando que a simples somagao das mesmas dé origem a um jogo de qualidade Isto é notério no Modelo Classico de Matvéiev (1980) e no Modelo de Treino em Blocos preconizado por Verjoshanski (1990) Alvarez del Villar (1983) também apresenta uma concep¢ao semethante, referindo que 0 proceso de treino compreende a preparagdo técnica, preparagdo tactica preparagao psicolégica, moral e volitiva e a preparagao biolégica Quando Bangsbo (1998) refere a possibilidade de realizag&o do treino formal e Weineck (1997) menciona 0 treino separado, estéo a dar a nogdo de que a capacidade dos futebolistas pode ser melhorada mediante 1agdes de treino mais analiticas Continuando com 0 exemplo do “dilema da agua do nescafé” VF salienta que ndo faz sentido ir buscar 0 pacote de aguicar mascavado e depois despejé-lo pois desta forma, o nescafé fica fraco Tem que se continuar a pér bocadinhos de agticar e bocadinhos de agua Segundo o mesmo autor, isto tem que ser feito todos os dias sendo esse o grande dilema Nesta perspectiva o dilema afigura-se como algo que nunca esta acabado Analise e discussio do conteddo da entrevista Este dilema pode ser aplicado ao Futebol, pois 0 todo que é 0 jogo pode ser melhor ou pior, consoante 0 modo como as partes s&o trabalhadas durante 0 treino “Transportando" o exemplo acima descrito para a realidade do Futebol, uma das partes do jogo podera ser uma determinada dimensdo fisica (forga por exemplo) Todavia para que 0 jogo tenha mais qualidade, essa parte deveré ser trabalhada do melhor modo possivel sendo que, na perspectiva de VF, a melhor forma possivel de trabalhar essa parte é fazendo com que esta tenha sempre relagéo com a matriz, com 0 jogo que se pretende Isto poderé ser conseguido através da realizagdo da redugao, sem empobrecimento, do jogo a jogos por exemplo © nosso entrevistado salienta, mais uma vez que € fundamental que se conhega o jogo e ao conhecé-lo sabe-se que 0 nosso jogo’ também vai apresentar momentos mais “fisicos’, em que & importante ser mais rapido ou saltar mais, por exemplo © mesmo autor refere que isso so as partes constitutivas do jogo, & a caracterizago do jogo é a realidade do jogo" Assim do mesmo modo que se deve dar importancia aos grandes principios, também se deve dar aos aspectos mais infimos, todavia o gestor do treino no deve ter a mesma preocupagdo em relaco a todos estes aspectos Na perspectiva deste autor embora, por vezes possam ser realizadas situagées mais parecidas com 0 que habitualmente se designa de analitico, a énfase n&o deve 10 de trabalho VF refere que no dilema da agua do nescafé também se faz musculago, mas trata-se de uma musculagao diferente E um tipo de musculagéo em que ha uma exigéncia que se coloca a cadeia muscular implicada numa gestualidade, no sentido de superar uma dificuldade, i e, é uma musculagdo realizada através de exercicios que tm semelhanga com o jogo e nao através de maquinas de musculagéo Este entendimento de musculacao contrasta com aquele que é apresentado pela NE Nesta prevé-se a utilizagao de maquinas de musculagdo convencionais com 0 intuito de aumentar os indices de forga dos jogadores Neste sentido Bangsbo (1998) salienta que, aquando da realizagdo de um treino formal de forga, 0s grupos musculares so trabalhados através de movimentos isolados, verificando-se um ajustamento da resisténcia oferecida pelas cargas a capacidade muscular actual dos jogadores Deste modo 0 referido autor considera que podem ser utilizadas diferentes classes de méquinas convencionais de treino de forca ou pesos livres Todavia Bangsbo (1998) considera que a grande desvantagem do referido treino formal reside no facto dos movimentos efectuados nao se assemelharem aos do jogo de Futebol Segundo o mesmo autor, com a realizago do treino formal, alguns musculos que intervém em certos movimentos rapidos durante o jogo ndo s&o suficientemente estimulados E por esta razao que VF salienta que a musculac&o na ‘Periodizaco Tactica” é operacionalizada através de situagdes que tém semelhanga com 0 jogo, 55 Anélise e discusstio do contetido da entrevista havendo assim a certeza que as cadeias musculares implicadas na sua realizagao so as mesmas que serao solicitadas durante a competi¢ao ‘Segundo o nosso entrevistado a énfase deve estar no decompor o jogo e a partir dai jogar Como jé foi referido, um dos aspectos fundamentais da “Periodizacao Tactica’, 6 exactamente esse, ou seja colocar como énfase o jogar E dbvio que o jogar proporciona dinamica (entenda-se, movimentos fisicos) e essa dinamica repercute-se em alteragées bioquimicas mas elas s40 consequéncia do propésito que é colocar a jogar de determinada forma Na sua éptica, 0 gestor do treino nao deve estar preocupado em saber de forma exacta tudo 0 que tem a ver com a dimensdo fisica Frade (1998) considera que em situaco de treino ndo se deve proceder a diviséo do treino nas suas varias componentes, pois 0 crescimento tactico, tendo em conta a proposta de jogo a que se aspira ao realizar-se, implicaré alteragdes ao nivel fisico, ao nivel psicolégico e ao nivel técnico A mesma ideia é expressa por Popov (1996), citado por Rubio (2002), a0 mencionar que a repetig&io de exercicios, cuja estrutura reflecte varios problemas tacticos permite aperfeigoar a qualidade técnico-tactica bem como a capacidade fisica De acordo com VF, as alteragées fisicas déo-se em func&o do modo como o gestor do treino quer que se jogue ou seja, em fung&o do desenvolvimento durante o treino dos principios e sub-principios correspondentes a cada um dos momentos do jogo Por isso € que o autor considera que o fundamental é a matriz, a matriz do atacar a matriz do defender e a matriz das transigses Em seu entender a matriz é uma ordem que condiciona, i , é deterministica Neste contexto, Garganta (2001) considera de grande importéncia 0 recurso a “complexos tactico-técnicos' entendidos como conjuntos de exercicios inspirados na matriz do modelo de jogo adoptado capazes de induzir um desenvolvimento motor especifico do sistema funcional dos jogadores e da equipa Em consonancia com o anteriormente exposto, Oliveira (1991) refere que o modelo de jogo e os seus principios devem ser sujeitos a uma periodizagao e planeamento dinamicos, em que a componente fisica deve surgir ‘arrastada" pela componente tactica mas sempre em paralelo No seguimento do anteriormente exposto Mourinho (1999), comentando o seu trabalho no F C Barcelona, refere que desde o inicio de época, eram realizados inimeros jogos reduzidos em que existia sempre uma superioridade numérica significativa, para que a equipa em posse de bola tivesse uma percentagem de utilizaco elevada e para que os jogadores em situagao defensiva estivessem sujeitos a periods de trabalho fisico intenso © mesmo autor salienta que mesmo no periodo preparatério, no foi efectuada uma Unica sesso colectiva de treino em regime fisico Todo esse trabalho de dominante fisica foi realizado em regime técnico-tactico Anal . discussao do contetido da entrevista Em sintese constata-se que as preocupages com o reduzir sem empobrecer, com 0 facto de se prestar mais atengSo a determinados principios relativos a cada um dos quatro momentos do jogo (ou a varios em simultaneo), devem estar sempre presentes ao longo do proceso de treino O gestor do treino é que tem que determinar e decidir a qual dos aspectos terd que dar mais énfase Este é 0 seu grande dilema Tal como dizia 0 nosso entrevistado, a resolugdo didria desde dilema exige muito ‘tacto", muita sensibilidade por parte de quem esta a gerir 0 proceso, pois este nunca esta terminado \VF considera que 0 Futebol nao é um fenémeno natural Pelo contrario 0 Futebol é um fenémeno construido através do processo de treino Na sua éptica, este proceso é, quando muito semanal As preocupagées do treinador devem ser semanais, no sentido de que 0 que aconteceu hoje tem que o espevitar (em termos de preocupagao) para aquilo que ird ser feito amanha O mesmo autor salienta que deve ser definido um padréo de trabalho para o microciclo de treinos uma vez que embora a énfase esteja sempre no jogar “o treino de terca-feira nao é igual ao de quarta-feira e 0 de quarta-feira no é igual ao de quintafeira etc 431 Amanutencao de um padrao de treino ao longo da época Principio da alternancia horizontal Dar énfase a organizagao de jogo Dado que a ‘Periodizagéo Tctica’ parece dar grande importancia ao estabelecimento de um padrao de microciclo, no qual os contetidos das varias unidades de treino so diferenciados, foi nossa intengao esclarecer junto do nosso entrevistado a padronizaco que ele definiria para o microciclo de treinos Todavia, antes de nos reportarmos ao padréo que 0 microciclo deve adquirir, faremos uma breve alusao ao modo como este é definido Assim VF esclarece que o microciclo é o ciclo mais pequeno entre dois jogos “Os jogos é que so 0 referencial para a utiizag&o acertada daquilo que tem que estar antes e daquilo que tem que estar depois” Neste sentido, 0 microciclo é balizado pelos jogos Efectuado este esclarecimento, passaremos a descrever o modo como o microcicio podera ser padronizado de acordo com as premissas da Periodizag&o Tactica Para o efeito tomamos como exemplo um microciclo em que os jogos se efectuam de domingo a domingo ‘Assim sendo VF refere que, apés a realizagdo do jogo, tanto pode ser concedida folga 4 segunda-feira como a terga-feira Isso depende de varios factores A vitéria ou a derrota poderé nao ser um factor decisivo no tocante a esta decisdo, pois em sua opiniad até pode ser conveniente treinar logo no dia a seguir a uma derrota Segundo o autor, 87 ‘Analise e discussfio do contetido da entrevista Mourinho costuma dizer que ha uma cultura que ele acha que tem que se mudar pois a seu ver, é fundamental que os jogadores se exponham a propria pressao do pubblico no dia imediatamente a seguir a derrota Deste modo na perspectiva do nosso entrevistado 0 facto de haver treino ou nao na segundaeira depende do objectivo Devemos é pesar se 0 objectivo parcelar ou secundario (como 0 anteriormente mencionado) vai colidir com algum objectivo fundamental Todavia em termos concretos, caso seja efectuado treino neste dia este deverd ser destinado a recuperacao activa De acordo com VF no treino a seguir ao jogo (segunda-feira ou terga-feira) os individuos que ndo tenham jogado também se poderao incorporar no trabalho de dita recuperag&o todavia, depois devem fazer algo mais em relagéo aos que jogaram Este algo mais deve passar fundamentalmente pelo jogar (se possivel competitivamente) até porque as diferengas que possam existir entre eles devem-se ao facto de uns jogarem mais regularmente do que outros Tal como refere o autor a competigao também é uma Parte do treino Antes de nos reportarmos ao primeiro treino a seguir aquele em que se considerou que ainda era para recuperar, faremos uma breve alusdo as caracteristicas das contracgdes musculares, pois estas no entender de VF influenciam a estruturagdo das unidades de treino que se seguem Assim poderemos dizer que os exercicios seleccionados para cada unidade de treino além de reflectirem alguns aspectos caracteristicos do modelo de jogo adoptado, devem estar relacionados com 0 tipo de contracgao muscular dominante ‘Assim segundo o mesmo autor as contracgées musculares caracterizam-se pela tensio, pela velocidade de contracgao e pela duragao da contraceéo Todavia, o autor refere que falta ainda uma caracteristica ou seja, algo que o Futebol requisita e que é 0 propésito que submete a maior ou menor velocidade de contracgo a maior duracéo ou tensdo, i e 0 propésito de jogar Assim independentemente do tipo de contracgao muscular dominante, este propésito deverd estar sempre presente Efectuado este esclarecimento de acordo com VF no treino de quarta-feira devem ser realizados, sobretudo, exercicios que requeiram tensao muscular Para que tal seja possivel, as situagdes de treino deverio promover a realizagéo de contracgdes musculares excéntricas Na perspectiva deste autor, este tipo de treino deve ser realizado numa fase intermédia do microciclo (quarta-feira), pois estas contraceées musculares so as que induzem maior desgaste nos jogadores : Considerando o desgaste provocado por este tipo de contracgées, estas devem ser predominantemente realizadas neste dia por duas raz6es fundamentais A primeira 58 ‘Andlise @ discusso do contetido da entrevista relaciona-se com 0 facto de eles ja estarem recuperados do jogo anterior e, portanto em condigdes de efectuar esforgos maximos A segunda tem a ver com o facto de os jogadores terem tempo para recuperar do esforco despendido nesta unidade de treino dado que o préximo jogo sé se realiza cerca de quatro dias depois Segundo VF, se pretendermos caracterizar esta unidade de treino pela dimenséo fisica poderiamos dizer que os exercicios propostos deverdo apresentar um cariz de forga Em seu entender o jogo requisita muitas vezes, contracgées musculares excéntricas pelo que é importante que estas sejam solicitadas também em situagao de treino Neste sentido, o gestor de treino deve verificar quais os comportamentos realizados em jogo que solicitam este tipo de contracgSes musculares Na sua perspectiva, as paragens , quedas, saltos, remates, etc originam tensdo muscular, dai que essas accdes devam ser repetidas em situacdo de treino VF salienta que estas situagbes contribuem para levar a efeito 0 dilema da agua do nescafé’ Neste sentido, Bompa (1999) esclarece que a simulag&o de um movimento padréo do desporto em causa tem como consequéncia o desenvolvimento apenas do tipo de forca dominante nessa mesma modalidade desportiva Isto acontece porque, tal como refere 0 nosso entrevistado, nestes movimentos so estimuladas as cadeias musculares implicadas durante 0 jogo VF menciona que, depois da realizacao destas situagées mais analiticas (embora, no seu entender elas nao possam ser vistas como analiticas na medida em que fazem parte do todo), mais massificadas , em que a sobrecarga incidiu fundamentalmente sobre as contracgdes musculares excéntricas mas cujos Angulos articulares tem a ver com o jogar deve-se proceder a sua transformagao para as ja referidas situagdes de jogo reduzido em que s8o desenvolvides principios e sub-principios do modelo de jogo adoptado (note-se que nestas situagdes continuam a verificar-se acgdes com caracteristicas de fora como saltos mudangas de direcgo, remates etc ) Tschiene (1994) manifesta a sua concordancia com o que acaba de ser referido ao considerar que a forga deve ser desenvolvida conjuntamente com os aspectos tactics e técnicos seja durante 0 periodo preparatério, seja durante a actividade de jogo no periodo competitivo Bangsbo (1998) autor associado a NE, apresenta-se em consonancia com algumas das ideias anteriormente expostas salientando que a capacidade de forca 6 uma componente importante de muitas actividades levadas a efeito durante os jogos, tais como tacklings e sprints No seu entender o treino de forga funcional contempla a realizagdo de movimentos relacionados com 0 jogo de Futebol Do mesmo modo Weineck (1997) refere que 0 treino de forga integrado no jogo permite que se treine de forma especifica os grupos musculares mais relevantes para o Futebol 59 Anilise e discussio do conteido da entrevista Embora estes dois representantes da NE partilhem de algumas das ideias mencionadas por VF, eles também apresentam algumas diferengas Assim embora eles refiram o treino funcional ou integrado da forga eles nunca se referem ao desenvolvimento dos principio do modelo de jogo Na “Periodizagao Téctica” pretende- se essencialmente, o desenvolvimento destes principios sendo que a dimensao fisica (forga) surgiré como consequéncia desse desenvolvimento Portanto é dada énfase a realizagao e repetigao da actividade com o intuito de se desenvolver uma forma de jogar Neste sentido Bezerra (2001) salienta que os exercicios de treino devem identificar- se 0 mais possivel com o tipo de jogo pretendido pelo treinador (componentes técnica e tactica) e que devem contemplar as capacidades fisicas (velocidade, forga resisténcia e flexibilidade) que se encontram subjacentes ao desenvolvimento desse mesmo jogo O mesmo autor refere que, para além de permitir a construgo de acgées ofensivas a criag&o de situagdes de finalizaco e a propria finalizacdo torna-se imprescindivel que os exercicios de treino contemplem uma intensidade e velocidade de execugdo idénticas as do jogo Deste modo, o jogador prepara o organismo para as solicitagdes fisicas inerentes competi¢ao permitindo ao mesmo tempo 0 aperfeicoamento técnico-tactico do jogador Em concordancia com o autor supracitado, Mifiano Espin (2002) demonstra- se a favor dum tipo de treino em que se verifique um elevado grau de competitividade e de exigéncia cognitiva, contendo um nivel de especificidade que aproxime 0 jogador da competicao, desenvolvendo o aspecto condicional e o técnico-tactico Contrariamente ‘Periodizac&o Tactica’, na NE 0 aspecto mais importante é 0 resultado fisico da realizagéo dos exercicios e ndo o desenvolvimento de principios de jogo, ou seja é dada maior importancia ao desenvolvimento da dimensao fisica do que propriamente a forma de jogar Por outras palavras, embora possam ser consideradas algumas semelhangas entre 6 trabalho realizado na parte inicial do treino de quarta-feira pela Periodizagao Tactica’ e ot ino formal da NE verificamos que os propésitos sdo diferentes, uma vez que a primeira visa 0 aumento da qualidade do jogo e a segunda a melhoria da condic&o fisica dos jogadores ‘Ainda no que concerne ao treino de quarta-feira VF considera que a duragao deste pode ser maior Segundo o autor, é 0 Unico que podera ter duas horas, devido & existéncia de muitos intervalos entre as varias repeticSes Podera inclusive, ser realizada uma hora de treino de manha e outra de tarde i e uma unidade de treino fraccionada cujo intervalo maior 6 a passagem da manhé para a tarde Na perspectiva do mesmo autor, contrariamente ao treino de quarta-feira em que s&o abordados os pequenos e médios principios na quinta-feira a preocupag&o jé deve estar na realizagdo dos grandes principios Assim, neste dia, deve aumentar o espago de 60 Anilise e discussio do conteudo da entrevista utllizagdo a durago e o nimero de jogadores envolvidos podendo ocorrer situagées em que é estimulada a tenséo muscular, outras em que é solicitada a velocidade de contracgéo embora em menor proporeao Tal como refere VF na quinta-feira, ‘estas coisas j4 esto todas misturadas" tratando-se de “uma espécie de duragdo uma resisténcia mais especifica’ ‘O mesmo autor refere que, neste dia pode realizar-se uma situagao de onze contra onze em espacos mais reduzidos ou até em espaco completo Todavia, esta situago néo deve ter uma durago muito grande, podendo realizar-se por exemplo cinco periodos de dez minutos a campo inteiro, com cinco minutos de recuperagdo entre si Em concordancia com esta légica de progressao ao longo do microciclo de treinos Faria (2002), reportando-se ao processo de treino levado a efeito no F C Porto refere que, ao longo do microciclo 6 efectuada uma articulagao dos varios principios (referentes & corganizag&o ofensiva e defensiva, bem como as transigées apés perda e conquista da posse de bola) correspondentes a0 madelo de jogo adoptado Assim inicialmente esses principios so exacerbados com um menor numero de jogadores e em espago mais reduzido, verificando-se posteriormente, o aumento do numero de jogadores e do espaco, com 0 intuito de proceder & articulagao dos diversos principios Passando agora para a sexta-feira, na opiniao de VF, esta unidade de treino deve contemplar situagées que solicitem a velocidade de contracgéo muscular O autor salienta que este tipo de contracgbes sé0 menos desgastantes do que as contracgées excéntricas, o que & benéfico se considerarmos a proximidade do jogo seguinte VF esclarece que quando coloca a énfase na velocidade de contracgéo esté a referir-se a situages efectuadas 4 maxima velocidade “em que os jogadores tenham que finalizar, mas em que a durago do deslocamento é curta e a interferéncia no movimento 6 pequena (para nao ter mudangas de sentido, mudangas de direcodo)’ Deste modo segundo 0 autor asseguramo-nos de que a velocidade de contracgao é superior & dos outros dias Todavia, dado que se trata da ante-véspera do jogo devemos ter maiores cuidados em relacdo ao nimero de repetigdes e aos tempos de recuperaco No que conceme a velocidade, Bangsbo (1998) e Weineck (1997) referem que 0 seu desenvolvimento pode ocorrer mediante 0 treino formal (analitico) ou funcional (global), salientando algumas vantagens relativamente a cada um deles Assim, em relag&o ao primeiro Bangsbo (1998) refere que é possivel treinar-se com intensidades elevadas, sendo este um aspecto favoravel a melhoria dessa capacidade fisica Por sua vez 0 autor refere que 0 treino funcional permite, paralelamente ao desenvolvimento fisico a melhoria das habilidades técnicas e tacticas, embora possa acontecer que nao se trabalhe a uma intensidade suficiente Tal como jé havia sido referido anteriormente, estes autores (associados 4 NE) apresentam os beneficios do treino funcional no entanto: “1 Analise e discussao do conteido da entrevista estes so apresentados sempre do ponto de vista fisico e nao em termos de melhoria da qualidade do jogo Na Periodizagdo Téctica” dé-se maior importancia as transformagées que ocorrem no colectivo do que no individuo ou seja é mais importante a velocidade do jogo da equipa do que a velocidade de cada um dos jogadores da equipa De acordo com VF poderd estar a dar-se énfase a um determinado principio ou sub-principio da organizagao ofensiva e ao mesmo tempo a proporcionar a maxima velocidade de contracgo, i e a dimensdo fisica € contemplada, mas através da realizagao de uma situagao tactica O nosso entrevistado considera que o treino s6 pode ser “aquisitivo nos momentos intermédios do microciclo ou seja na quarta-feira quinta-feira e sexta-feira, uma vez que esse tipo de treinos exige esforgos superiores Assim, nos dias mais proximos da competi¢ao, 0 treino no deve ter um cariz aquisitivo O autor esclarece que, no seu entender, 0 treino é aquisitivo quando as situagdes propostas envolvem o corpo todo Para que isto suceda € importante que 0 treino decorra tanto quanto possivel, em condigdes semelhantes as da competicao No que concerne ao sabado, do ponto de vista de VF, este n&o é um periodo de treino no sentido de aquisicao Trata-se de um periodo de recuperagdo do que foi efectuado ao longo do microciclo, i e trata-se de um periodo de treino em que é contemplada a outra face da moeda’ Segundo este autor deve-se efectuar qualquer coisa que disponha bem que n&o canse” Podem inclusive realizar-se algumas brincadeiras Até podera efectuar-se uma ou outra situacéo mais exigente , mas esporadica © mesmo autor menciona que o lado estratégico do jogo também pode ser contemplado nesta unidade de treino, nomeadamente a marcagdo dos lances de bola parada Com isto pretende-se salvaguardar eventualidades por isso nao deve ser realizado um nimero exagerado de repetig6es deste tipo de situagées, até porque os jogadores podem chegar ao jogo e nao as efectuar dessa forma Em consonancia com VF Tschiene (2001) refere que, caso sejam cometidos erros no periodo imediatamente anterior a competig&o podera destruir-se completamente toda a preparacdo anterior porquanto esta fase é ja uma parte da competicao, é uma introdugdo & mesma Assim segundo o mesmo autor, na preparacdo imediatamente precedente & competig¢ao n&o se podem provocar adaptagées funcionais nos jogadores, sob pena de hipotecar a recuperagdo dos jogadores De acordo com VF pode optar-se por nem sequer realizar treino no dia anterior ao jogo Em sintese, 0 nosso entrevistado refere que este deve ser 0 padréo que 0 microciclo deve adoptar Deve dar-se cumprimento ao principio da altemancia horizontal” devendo ter-se contudo bem presente que a énfase deve estar no jogo Esta 62 Analise e discussio do conteddo da entrevista padronizagdo apenas se altera caso a légica de presenga dos jogos também sofra alguma alterag&o Neste caso, na perspectiva de VF, se existir jogo no domingo no sdbado e na quarta-feira aquilo que deve “desaparecer’ so as preocupagées que habitualmente se tém a quinta-feira, porque estas so cumpridas no jogo realizado a meio da semana (até de uma forma mais acentuada) No entender deste autor caso se tratasse de uma semana em que ndo houvesse jogo, a auséncia da competicao seria colmatada, por exemplo, através da criagéo de treino no dia em que normalmente ha jogo Todavia, VF também considera que se pode dar folga no domingo sendo que no caso da auséncia de competicéo se verificar a meio do campeonato até se pode conceder folga no domingo e na segunda-feira criando-se jogo no sabado Continuando, o mesmo autor salienta que pode nem sequer realizar-se jogo podendo antes ser criadas situagdes em que a preocupacao esta centrada em determinados aspectos da organizagao de jogo que o treinador considere necessitarem de uma maior incidéncia Tal como refere o nosso entrevistado, como eu nao vou ter jogo posso perfeitamente até utilizar isso no sdbado e depois descansam no domingo na segunda-feira” No seu entender, é fundamental que 0 padrao do microciclo ndo se altere inclusivamente no inicio da época porque a habituagdo é um aspecto importante a contemplar Relativamente ao inicio da época, VF refere que a Unica diferenca 6 que nessa altura, o treinador tem mais necessidade em relagao a transmissao, dado que a paisagem mental” que os jogadores tém pode nao ter nada a ver com aquela que ele thes pretende incutir ou até ser contraria 4 mesma Portanto, no inicio de época, devem ter-se maiores cuidados em relagdo a este aspecto No que diz respeito ao tempo de treino ao tempo daquilo que é exigéncia de corpo inteiro, este nao deve ser superior no inicio da épor Todavia, segundo o mesmo autor embora possa gastar mais tempo "no outro plano de identificagéo que é na abstraceao, na conversa, no lado formal” o treinador deve ter consciéncia de que isso “nao Ihe resolve tudo ou resolve muito pouco porque depois é a esfera do saber fazer @, muitas vezes aquilo que chega a esfera do saber sobre 0 saber fazer no se incorpora logo no saber fazer’ Em decorréncia do anteriormente exposto conclui-se que a competigao tem que fazer parte do préprio processo de periodizagdo Verificamos também a necessidade de estabelecer um padrao de microciclo Isto ndo quer dizer que nos varios microciclos da 6poca desportiva, se trabalhem sempre os mesmos aspectos Como ja tivemos oportunidade de constatar, 0 trabalho a desenvolver em cada unidade de treino depende muito da sensibilidade e da atencdo do gestor do treino 63 Analise e discusstio do contetido da entrevista © que realmente 6 necessario é 0 estabelecimento de um padréo de trabalho, assente em determinados ‘pilares” que sustentem 0 proceso de treino Estes “pilares” deverdo ser sempre os mesmos todavia a singularidade do proceso faz com que o gestor do treino em determinado momento da época se preocupe mais com o trabalho de um determinado principio ou sub-principio do ataque da defesa ou até mesmo das transigdes Tal como refere 0 nosso entrevistado numa semana pode estar-se mais preocupado com a organizaco defensiva e noutra com a organizago ofensiva sendo que o fundamental é que a énfase, a “bussola” seja a organizagao de jogo VF salienta que até pode acontecer que numa semana se abordem principios do ataque, da defesa e das transigées e noutra apenas se abordem os principios de um dos momentos do jogo Na sua éptica, é neste facto que reside a grande dificuldade do gestor do treino, na “necessidade de ordenar as coisas de uma determinada maneira’ Esta é a nogdo de “Periodizagdo Tactica” que o autor refere 432 Especificidad alcangar regularidades intensidade e recuperagéo Aspectos cruciais para ‘Seja qual for a perspectiva conceptometodolégica que se tenha acerca do processo de treino a especificidade a intensidade e a recuperagao sf aspectos que adquirem uma importancia fundamental Todavia nem todos os autores apresentam um mesmo entendimento acerca dos mesmos Partindo do anteriormente exposto acerca da Periodizag4o Tactica , pode afirmar- se que a especificidade € um principio de treino que adquire grande importancia no Ambito da mesma Como tivemos oportunidade de constatar, embora as premissas da Periodizagéo TActica” possam ser colocadas em pratica por todos os individuos que se encontram implicados na preparagdo de suas equipas, este proceso assume sempre determinadas peculiaridades que exigem um tratamento especifico por parte de quem o gere E neste sentido que se afirma que a especificidade é um conceito inseparavel da Periodizacao Tactica VF refere que a especificidade inerente a “Periodizacao Tactica é diferente de uma outra nogdo de espe do treino Esta nogéo de especificidade de que o autor nos fala esté mais relacionada com a LE ea NE e diz respeito, sobretudo, a dimens4o fisica idade mais relacionada com os principios bioldgicos universais Neste sentido, Barbero Alvarez (1998) salienta que o conhecimento das exigéncias fisicas, fisiolégicas e energéticas de uma actividade permite a elaboracéo de um modelo de treino especifico O mesmo autor refere que para que isso seja possivel é necessario 64 Andlise e discusstio do conteido da entrevista efectuarem-se observagées e andlises dos indicadores externos e internos da referida actividade Assim os indicadores internos permitiréo caracterizar a carga energética ou fisiolégica daquela actividade especifica pelas repercussées internas no organismo do jogador Os indicadores extemos contribuem para a caracterizagao da carga fisica de competi jo pelo seu aspecto exterior ou seja, pela observagso e andlise das caracteristicas das acgbes que se desenrolam durante 0 jogo Volkov (1975), citado por Barbanti (1996) apresenta um outro entendimento de especificidade também muito relacionado com a dimenséo fisica Assim este autor considera que o principio da especificidade se baseia no facto das maiores mudangas funcionais e morfolégicas durante o processo de treino acontecerem apenas nos érgos células e estruturas intracelulares responsaveis pelo movimento A nog de especificidade apresentada por Volkov (1975, citado por Barbanti, 1996) confirma as assercdes de Oliveira (1991), segundo o qual, a determinada altura assumiu- se a especificidade como um principio de treino baseado na ideia geral de que as maiores mudangas funcionais apenas acontecem nos érgéos células e estruturas intra- celulares suficientemente activadas pela carga funcional surgindo depois a respectiva adaptagéo Por outro lado, Carvalhal (2001) considera que para alguns autores a especificidade passa por apés uma caracterizagao das exigéncias energético-funcionais, do jogo de Futebol treinar esses aspectos de forma isolada, sendo que para outros, a especificidade € apés a observacao do jogo, quantificar as acgdes técnicas dos futebolistas, treind-las isoladamente e garantir uma adaptagao As consideragées tecidas por este autor véo de encontro 4 nogéo de especificidade apresentado por Barbero Alvarez (1998) No entender de VF estas nogées de especificidade baseiam-se numa concepgao cartesiana segundo a qual as coisas so separadas e abordadas de forma isolada O mesmo autor defende que a verdadeira “Especificidade” resulta do ajustamento das situagdes de treino ao modelo de jogo adoptado No seu entender, a Periodizagao Tactica” coloca a énfase no modelo de jogo e nos seus principios Neste sentido, na perspectiva de Frade (2003), deve-se fazer no treino aquilo que se conjectura como competi¢ao possivel através da realizacdo de diversos exercicios que se mantenham sobrecondicionados a uma articulacao de sentido Demonstrando total acordo com o que acaba de ser mencionado Oliveira (1991) afirma que s6 se poderd afirmar que existe especificidade caso se verifique uma permanente e constante relago das componentes psico-cognitivas tactico-técnicas fisicas e coordenativas com 0 modelo de jogo adoptado e com os principios que Ihe déio corpo Caso isto ndo se verifique, 0 treino no 6 especifico, é meramente situacional 65 Anilise e discussao do contedo da entrevista Assim considerada segundo este autor, a especificidade assume-se como um factor preponderante e condicionante do alto rendimento dos atletas e respectivas equipas VF refere que os modelos de jogo e respectivos principios sao diferentes Todavia segundo este autor 0 facto dessas diferencas existirem nao impede que cada gestor do treino esteja a trabalhar de forma especifica Pelo contrario dado que existem varios modelos de jogo, a especificidade existe em fungdo da singularidade do processo i e em funcdo da adequabilidade do processo forma de jogar pretendida (ao modelo de jogo adoptado e respectivos principios e sub- principios) Tal como menciona 0 nosso entrevistado “é 0 meu jogo que eu quero implantar e desse, mais consistentemente ou menos consistentemente, s6 eu é que sei”, Por isso as estratégias que o gestor do treino utilize devem ser especificas devem estar relacionadas com essa forma de jogar, pois sé assim seré possivel concretizar as suas pretensées Contrastando com o que vem sendo referido Matvéiev (1980) salienta que a preparaco geral e a preparaco especial na actividade desportiva sao insepardveis Na perspectiva deste autor, a preparaco fisica deve ser dividida em geral e especial, uma vez que em qualquer modalidade desportiva 0 éxito depende das capacidades especificas e também do nivel geral das possibilidades funcionais do organismo No seu entender, a preparagdo fisica geral cria as bases para a preparagao especial, j que assegura 0 desenvolvimento miltiplo da fora velocidade resisténcia, flexibilidade e agilidade, premissa necessdria para que 0 aperfeigoamento ocorra (em qualquer modalidade desportiva) O mesmo autor completa afirmando que a preparagdo técnica e tactica também se divide em geral e especial Contrariamente a LE, segundo VF em nenhuma situagao a Periodizacao Tactica” contempla a preparago geral De facto poderdo ser realizadas algumas situagdes que no so especificas no entanto, isso ndo significa que se trate de uma preparagdo geral Para melhor esclarecer esta ideia o referido autor apresenta o seguinte exemplo ‘Se um sujeito estiver a visualizar qualquer imagem na televisdo em movimento lento nao se pode afirmar que esta seja especifica Essa imagem sé serd especifica quando decorrer 4 velocidade real Todavia a imagem em movimento lento permite aclarar determinados coisas que a imagem real nao esclarece Esta analogia aplica-se também ao processo de treino em Futebol sendo vejamos Caso uma equipa jogue de domingo a domingo esta s6 deverd ser submetida a esforgos semelhantes (e neste sentido, especificos) aos que vao ter na situacdo real de competicéio numa fase intermédia do microciclo Porém isso n&o implica que nao se treine nos restantes dias As preocupagdes 6 que vdo ser outras vao estar mais relacionadas com a recuperagao Comparando com o exemplo anteriormente Anilise e discussao do conteido da entrevista apresentado, a recuperacao em Futebol assemelha-se ao movimento lento da imagem da televisdo Neste sentido embora exista a possibilidade de realizar algumas situagdes ndo especificas (como a recuperagao, por exemplo), isto nao significa que estas sejam gerais, uma vez que so uma parcela do processo que contribui para que este decorra com maior qualidade A preparagSo geral no existe na ‘Periodizagao Tactica” Poderao 6 verificar-se algumas situagdes de complemento da especificidade Tal como refere Bompa (1999) os actuais calendarios competitivos nao deixam tempo disponivel para a utilizagdo de meios de preparagdo geral que nao correspondam a especificidade concreta da modalidade desportiva em questo Court (1992) refere que a substituigo do trabalho especifico, real e concreto de determinada modalidade desportiva por um tipo de trabalho muscular ou de solicitago do sistema nervoso de tipo geral_n&o é possivel O treino de exercicios especificos e especiais deve ser muito elevado durante todo o ano Frade (1993) refere que tendo em conta o respeito do principio da especificidade (que tem a ver com a escolha do modelo de jogo que se pretende) o fundamental 6 a intensidade e ndo o volume Neste contexto, segundo VF outro dos aspectos que distingue a “Periodizago Tactica” das teorias mais convencionais, diz respeito 4 nogao de volume e intensidade De acordo com 0 mesmo autor, as teorias convencionais tratam estes aspectos de forma ‘abstracta, enquanto que na “Periodizagao Tactica o volume e a intensidade séo concretos’ Assim sendo na LE e, mais concretamente, no Modelo Classico de Matvéiev, verifica-se um papel preponderante da preparacdo geral caracterizado por um periodo preparatério em que se trabalha muito em volume (Campos Granell & Ramén Cervera 2001) Assim segundo Matvéiev (1980), no que concere a etapa de preparacao geral do periodo preparatério hd uma tendéncia clara para que as cargas aumentem paulatinamente em volume e em intensidade verificando-se um crescimento preferencial em volume Ainda no periodo preparatorio, mas na etapa de preparagéo especial segundo o mesmo autor a carga apresenta uma orientagdo especial mais marcada, constatando-se uma reducao do volume total das cargas e um incremento da intensidade das mesmas Deste modo constata-se que a légica da rela¢do entre volume intensidade inverte-se da primeira para a segunda etapa do periodo preparatério No que diz respeito ao periodo competitivo, Matvéiev (1980) salienta que inicialmente, continua a verificar-se uma redugo do volume das cargas verificando-se de seguida a sua estabilizacdo Por outro lado a intensidade das cargas especificas aumenta até chegar ao maximo estabilizando-se a esse nivel 67 Anilise e discussao do contetdo da entrevista © mesmo autor considera que, no caso de um periodo competitive mais prolongado volta a produzir-se um novo incremento no volume geral das cargas, com uma certa reduc&o da sua intensidade Apés este breve periodo 0 volume é novamente reduzido e a intensidade aumentada De acordo com o mesmo autor, no periodo de transig&o reduz-se a intensidade e 0 volume das cargas especificas Partindo do anteriormente exposto, pode afirmar-se que 0 ciclo de treino € dividido ‘em trés periodos (periodo preparatorio competitive e de transig&o) cujas duragdes estao definidas pelas fases de desenvolvimento da forma e que estas condicionam fortemente a dinamica das cargas de treino (Matvéiev 1980) Mais adiante faremos alusdo as fases de desenvolvimento da forma preconizadas pelo Modelo Classico de Matvéiev Na “Periodizag4o Téctica” segundo o nosso entrevistado a relagao entre volume e intensidade nao é vista da mesma forma que na LE O mesmo autor refere que os jogadores devem efectuar as varias propostas de treino sua intensidade maxima logo desde 0 inicio da época Demostrando total acordo com o que acaba de ser mencionado, Tschiene (1987) Jorge (1989) e Bondarchuk (s d_citado por Abrantes 1992) defendem a utilizagdo de uma grande percentagem de exercicios especificos e especiais, com uma intensidade elevada, ao longo de toda a época Neste sentido Carvalhal (2001) afirma que 0 treino especifico requer intensidades maximas O nosso entrevistado acrescenta que essa intensidade maxima, no inicio da época é inferior aquela que se verificara tempos depois devido 4 nao conveniente adaptacao do seu organismo Todavia este facto no impede que se diga que o individuo efectuou o exercicio a intensidade maxima logo no inicio da época Alias, o respeito pelo principio da especificidade, exige que a intensidade seja sempre maxima Monge da Silva (1993) refere que no Futebol devem ser privilegiadas fracgdes de maxima intensidade instantanea e de curta duragao uma vez que isto tem a ver com as. caracteristicas do jogo Esta sucessao de instantaneos levaré a uma intensidade acumulada, que no é uma intensidade qualquer, mas sim correlacionada com o modelo de jogo adoptado (Carvalhal, 2001) Court (1992) parece estar em concordancia com VF ao referir que é necessario trabalhar-se diariamente a intensidade e que o volume de treino, ao contrario do que preconiza Matvéiev, deverd ser semelhante durante todo o ano Estudos efectuados por Costill et al (1985), Hickson et al (1982 1985) Hourmard (1991) e Neufer (1989), citados por Balyi & Hamilton (sd) demonstraram que no caso de atletas bem treinados, a intensidade e a frequéncia do treino s4o os principais factores influenciadores da performance e nao o volume 68 ‘Analise e discusstio do conteado da entrevista Relativamente ao volume, VF refere que este resulta da multiplicagio da intensidade pela duragdo Neste sentido, seré mais corecto falar num volume de intensidades A ideia que nos parece mais importante salientar & que a intensidade com que um determinado exercicio € efectuado no inicio de época desportiva é diferente daquela com que 0 mesmo serd realizado durante a mesma Com o decorrer da época, certamente que os jogadores efectuaréo 0 mesmo exercicio com uma intensidade superior, conseguindo simultaneamente suporté-la durante um maior periodo de tempo Todavia tanto no inicio como durante a época, a intensidade deve ser maxima Alias, isto vai de encontro a perspectiva apresentada por Court (1992) que salienta a possibilidade de se produzirem transformagées positivas e importantes sempre que sejam utilizadas cargas de alta intensidade tanto no periodo preparatério como no competitivo Em decorréncia do anteriormente exposto depreendemos que o volume de intensidades maximas aumenta com decorrer da época Balyi & Hamilton (s d ) referem que a conjugagao de intensidades e frequéncia de treino elevadas com baixos volumes possibiltara a estabilizago das capacidades fisicas Deste modo os referidos autores, recomendam intensidades de treino elevadas e sessées especificas de curta duragéo combinadas com um plano cuidadoso de recuperagéo e regeneragao Neste sentido Jorge (1989) refere que para que a maxima intensidade de realizag&o seja possivel é necessario partir-se do pressuposto que no treino desportivo, é tao importante a carga como a recuperacao Em sintonia com os autores anteriormente referidos, 0 nosso entrevistado salienta que na “Periodizac&o Tactica’ as unidades de treino devem ser curtas VF também refere que a sua durago no inicio de época é superior uma vez que deve ser concedido maior tempo de recuperacao entre as varias situagdes de exercitagdo, ou seja, entre as repetigdes Esta 6 a maior diferenca que existe entre as unidades de treino efectuadas no inicio de época e aquelas que se efectuam no decorrer da mesma O mesmo autor alerta, mais uma vez, para 0 facto da redugao da duragao desses intervalos entre repetigdes 20 longo da época, depender muito do tacto’ e da sensibilidade de quem est a gerir 0 processo De acordo com VF 0 processo ao desenrolar-se exige, por parte dos jogadores muita concentragdo naquilo que esto a fazer Neste sentido Frade (1998) menciona que a intensidade se relaciona com a concentracdo, acrescentando que um exercicio menos. veloz implicando uma determinada articulagao pode ser muito mais intenso, uma vez que exige maior concentraco Aquando da nossa entrevista, VF salientou ainda que > facto dos individuos efectuarem os exercicios com niveis de concentragdo maximos, origina aquilo a que ele atribui o nome de “fadiga tactica” i e, fadiga central Analise e discussao do contetdo da entrevista Completando este autor acrescenta que néo se deve treinar muito ¢ que € importante que tudo seja feito com concentragao Ao considerar-se que 0 cansaco dos jogadores nao € unicamente fisico, mas também psicolégico exige-se que o ‘taclo e a sensibilidade por parte do gestor do treino, ainda seja maior Na NE parece no existir a mesma vido do proceso, ou seja, parece ndo ser 0 “tacto’ e a sensibilidade do treinador a determinar as alteragSes a efectuar nos tempos de duragao dos exercicios e respectivos intervalos de recuperagéo mas sim os dados provenientes das investigagées cientificas Neste sentido Barbero Alvarez (2001) refere que os indicadores intemos e externos provenientes de estudos cientificos no ambito do Futebol, so de grande utilidade para os treinadores determinarem a intensidade e duragdo das cargas e os tempos de recuperagéo dos exercicios seleccionados para o treino ‘Segundo Manno (1994), 0 emprego de intensidade e especificidade na carga de treino induz ao estado de forma desportiva e o contrario afasta-a A forma desportiva é um dos aspectos centrais quando se fala em Futebol © modo como a “Periodizag&o Tactica” encara a forma desportiva também parece ser diferente do modo como esta é abordada nas teorias mais convencionais O nosso entrevistado refere no ser muito correcto “falar de forma desportiva pois este 6 um conceito muito balofo, muito abstract, que emana da tal concep¢ao anterior Nessa concepgao, ou seja_na LE, a forma é entendida como o estado de predisposi¢ao optima para a obtengao de resultados desportivos em cada fase da evolucao desportiva (Matvéiev, 1980) Este autor soviético salienta que para atingir esse estado deve-se verificar um crescimento gradual, tanto das cargas fisicas como das exigéncias da preparagdo técnica tactica e volitiva ‘Segundo Matvéiev (1980), 0 processo de desenvolvimento da forma apresenta trés fases interdependentes e sequenciadas respectivamente fase de aquisicéo (no periodo preparatério), de manuteng&o (no periodo competitive) e de perda (no periodo de transigo) De acordo com Garganta (1991) nas fases de manutencéo da forma desportiva, a intensidade deve prevalecer sobre 0 volume e os exercicios devem ser especificos Contrariamente a Matvéiev, Monge da Silva (1989a) salienta que nos desportos colectivos mais concretamente no Futebol é extremamente importante aquilo que se faz no periodo competitive (longo e compacto), pois 0 periodo preparatério é téo curto que praticamente é inexistente Desta forma, o rendimento da equipa no fim do campeonato depende fundamentalmente daquilo que se faz no periodo competitive O period preparatério afigura-se como decisivo para a definigao do rendimento da equipa no inicio do campeonato endo no fim deste 70 ‘Analise e discussio do contetdo da entrevista Na perspectiva de Matvéiev (1980), 0 processo de treino deve ser planeado de modo a que sejam criadas condig6es para alcangar a forma desportiva no momento exacto mantendo-a durante as competicdes mais importantes Em nosso entender 0 que acaba de ser referido por este autor soviético nao tem muita aplicabilidade ao Futebol na medida em que a equipa deve estar em forma em todos os jogos e ndo apenas naqueles considerados mais importantes Normalmente é a ‘equipa mais regular que vence os campeonatos e ndo a equipa que apenas apresenta um bom desempenho nos jogos mais importantes Embora a grande preocupacao da LE seja ao facto dos atletas alcangarem a forma, esta aparece sempre relacionada com o desenvolvimento das capacidades condicionais, ou seja, trata-se de uma forma fisica Neste sentido Segui (1981) salienta que o jogador de Futebol esta em forma desportiva quando alcanga um nivel éptimo das suas qualidades fisicas que maximizam as condigdes técnicas que possui nesse instante e se encontra com uma predisposi¢go psiquica que o leva a desempenhar a sua funcdo tactica dentro da equipa Na NE verifica-se a mesma tendéncia, i e a forma aparece associada ao desenvolvimento da dimenséo fisica dos atletas Barbero Alvarez (1998) Bompa (1999) e Alvarez del Villar (1983) atribuem grande importancia a dimensdo fisica, apresentando- a como factor determinante para a consecugdo de um bom nivel de jogo © para a obtengao de maior eficiéncia na competicao Neste sentido, Bangsbo (1998) salienta que todos os _futebolistas, independentemente do seu nivel de jogo podem retirar beneficios de programas de isica Segundo Reilly (1990) isto deve-se ao facto de estes treino da condi¢éo necessitarem, tanto de uma boa capacidade fisica como das habilidades de jogo para aleangarem vitérias Contrariamente & LE e a NE, segundo VF, na “Periodizagdo Téctica a forma desportiva é vista como a forma da equipa e esta dependente da relacdo ‘auto - hetero dos jogadores ‘ modelo de jogo é composto por varios principios sendo que a forma da equipa é manifestada pelo numero de vezes em que os comportamentos da equipa durante o jogo esto em consonancia com o que realmente é pretendido Assim para que seja possivel determinar a forma da equipa & necessério definirem-se os padrdes de comportamento mais relevantes do respectivo modelo de jogo De acordo com o nosso entrevistado, depois de estarem definidos esses padrées de comportamento vao ser treinados para que acontegam no jogo com a maior regularidade possivel Deste modo, procura-se que a equipa sujeite o adversario a Teacco e nao a acco. n Andlise e discusstio do contetido da entrevista Caso ndo fosse criada uma certa rotina regularidade e predictibilidade (através do treino) © jogo resumir-se-ia a uma série interminavel de escolhas aleatorias com ‘consequéncias também aleatérias e tornar-nos-ia prisioneiros impotentes da sorte (Aratjo & Garganta 2002) Assim a forma da equipa é tanto melhor quanto maior for a regularidade com que esta apresenta em situacao de competic¢ao os padrées de comportamento pretendidos Na 6ptica do nosso entrevistado, a forma da equipa (i e , a apresentagdo regular de determinados padrées de comportamento) pode ser estabilizada e até melhorada durante a época desde que se salvaguardem alguns principios pedagégicos do treino como a ja referida alternancia horizontal durante o microciclo de treino e 0 principio das propens6es Assim sendo é evidente que a manutengao de um determinado padrao de microciclo é essencial para a estabilizag&o ou até melhoramento das regularidades da equipa Neste contexto Peixoto (1999) refere que para obter a forma desportiva pretendida é necessario que as cargas variem regularmente ao longo do ano mantendo simultaneamente, os seus aspectos constantes Lorenzo Calvo (1998) menciona que durante o longo periodo competitive, devem ser realizados microciclos nos quais se alternem de forma ciclica e repetitiva momentos de carga competicao e recuperacdo Segundo o autor gragas a esta microestrutura das cargas consegue-se a manutencao do estado de forma ao longo de toda a temporada Esta ideia contrasta com as premissas referidas por Matvéiev (1980) segundo as quais no 6 possivel que o atleta mantenha a forma desportiva durante todo 0 proceso de pratica desportiva © facto de Matvéiev se reportar a forma do atleta como algo jual também contrasta com a “Periodizagao Tactica’ pois esta preconiza a forma do colectivo ou seja, as regularidades da equipa Relativamente ao primeiro jogo do campeonato o mesmo autor salienta que apenas 6 possivel aspirar a adquirir um determinado aquisitivo (mais genérico, mais geral) pois 0 tempo que a equipa teve para treinar foi curto Apenas se pode almejar que a equipa apresente determinadas regularidades Assim a equipa estaré ou néo em forma no primeiro jogo conforme apresente ou nao as regularidades que se coadunam com o que foi treinado VF refere que 0 Futebol é um problema de dinamicas dinamica ofensiva dinamica defensiva e dindmica de umas para as outras Se, de facto aquilo que nés idealizamos como possivel e treinamos, acontece regularmente normalmente isso ‘expressa-se em ganho" 72 Analise e discussto do conteddo da entrevista 433 Asobreposicao do colectivo a ividual Tal como acabamos de constatar, a forma da equipa, ou seja, a regularidade com que o colectivo apresenta os comportamentos pretendidos, s4o a grande preocupagao da Periodizagao Tactical O nosso entrevistado refere mesmo que apenas Ihe interessa a equipa e que é com esta que realmente se preocupa Em relagSo ao individual tudo é muito relativo Para salientar a importancia do colectivo, VF faz alusao a uma frase de Valdano em que este diz que o essencial em Futebol é que, de facto cinco, seis ou sete jogadores pensem a mesma coisa a0 mesmo tempo Assim sendo, dada a importéncia que a equipa (vista como um todo como uma unidade) assume num jogo de Futebol natural que o proceso de treino também deva atribuir grande énfase ao colectivo Todavia, Mombaerts (1998), citado por Romero Cerezo (2000), refere que por vezes, 0 treino das qualidades préprias do jogo € deixado de lado, em favor das qualidades fisicas esquecendo-se que o Futebol como desporto colectivo que é tem as suas exigéncias proprias de jogo Neste sentido, VF salienta que a alteragSo individual (auto-modificagao) fundamental € aquela que acontece por sobre-condicionamento” da alteragéo do colectivo (hetero-modificagSo) Estas alteragSes podem acontecer de varias formas i e, umas vezes com um maior numero de jogadores implicados outras vezes com um menor numero de jogadores, etc Tal como refere o mesmo autor, a individualizacéo, aquilo que se repercute no individuo como mudanga, como alteragéo como adaptagéo acontece ‘enquanto este se relaciona com os colegas de equipa Do anteriormente exposto depreende-se a importancia que o ‘tactico” (visto como uma cultura de jogo colectiva, como um entendimento do jogo comum aos jogadores da equipa) adquire na “Periodizagao Tactica’ © desenvolvimento da dimenséo fisica e da psicolégica surgem por arrastamento da grande énfase que 6 dada ao tactico” Portanto verifica-se um privilégio do 'tactico’ sem que as outras dimensées sejam descuradas Na Periodizagao Tactica’ ndo se fala no treino da velocidade da forca ou da resisténcia (aspectos individuals) fala-se sobretudo em treino da organizago de jogo (aspecto colectivo), partindo-se do pressuposto que este vai provocar o desenvolvimento das outras dimensées Na LE e na NE a tendéncia parece ser a inversa, ou seja, privilegiam-se os aspectos fisicos, embora ndo se descurem as outras dimensées Neste sentido autores como Weineck (1997) Bangsbo (1998) e Bompa (1999) fazem aluséo ao treino da velocidade da forca e da resisténcia Isto faz transparecer a importancia que é dada ao individuo € n&o ao colectivo Por vezes referem que estas capacidades podem ser 73 Analise e discussio do contetdo da entrevista trabalhadas em simultaneo com as outras dimensées, no entanto 0 objectivo final desse trabalho é 0 desenvolvimento fisico de cada atleta (individual) Neste contexto, ao mencionar que o treino é uma actividade sistematica de longa duragSo a qual 6 progressivamente e individualmente nivelada Bompa (1999) esté a confirmar a grande énfase que é dada ao individual em detrimento do colectivo Alvarez del Villar (1983) também atribui grande importancia aos aspectos individuais ao salientar que cada sujeito apresenta caracteristicas proprias sob 0 ponto de vista antropométrico funcional motor psicolégico de adaptagao etc , que o distinguem dos demais individuos Segundo este autor é este facto que justifica as diferentes reacgdes do sistema motor e de outros érgaos face as mesmas cargas de treino Assim sendo, na sua perspectiva é requerida uma individualizagao estrita dos meios e das cargas a licar aos atletas Por outro lado, VF afirma que a individualizagéo & 0 primado da Periodizagéo Téctica”. mas n&o se trata de uma individualizagao analitica Trata-se de uma individualizagdo em que a dominante de exercicios de treino é feita com os jogadores nas suas posig6es, nas suas fungées e em relacionamento constante com os colegas Isto significa que esta a ocorrer uma individualizagao em fungao do “hetero” Deste modo, verificar-se-4 um crescimento do auto” (individuo) em simultaneo com o crescimento do “hetero” (equipa) que na realidade é aquilo que se pretende Hughes (1980 citado por Gréhaigne 1992) reforca estas assercées ao afirmar que um bom jogador de Futebol deve acima de tudo, compreender como movimentar-se para ser 0 mais util equipa e aos seus companheiros O nosso entrevistado refere a importancia da existéncia de entrosamento entre os varios elementos da equipa Todavia, para conseguir esse entrosamento nao basta uma melhoria individual conseguida através de um trabalho isolado, i e através de um trabalho realizado na auséncia dos companheiro uma vez que desta forma, dificilmente havera interligagao entre os elementos da equipa ja que nao ha um habito de trabalho colectivo Pelo contrario, se a melhoria individual de cada sujeito ocorrer na presenga dos colegas de equipa, i e subjugada ou condicionada ao colectivo, o entrosamento entre eles sera superior Assim sendo, VF discorda de Barbero Alvarez (1998) quando este afirma que conhecimento dos dados cinematicos e fisiolégicos resultantes de estudos cientificos poderao contribuir para que se programem com maior rigor os exercicios idéneos para cada sess4o de treino Segundo o nosso entrevistado os resultados desse estudos (caracteristicos da NE) tém pouca utilidade para 0 proceso de treino em Futebol, dado que © jogador ndo chegou a esses valores individualmente © mesmo autor refere que n&o vale a pena potencializar individualmente porque o jogador no alcangou esses 4 Analise @ discussio do conteddo da entrevista resultados individualmente Esses resultados so consequéncia da sua relagéo da sua combinag&o com os demais elementos da equipa ou seja resultam do colectivo De acordo com VF na individualizagdo que a Periodizag&o Téctica’ defende a énfase é colocada no jogar e no crescimento da qualidade de articulagdo das acgdes que este tem que realizar com as acgdes dos demais companheiros Em decorréncia do anteriormente exposto e contrariamente ao que é preconizado pela NE o nosso entrevistado refere que a realizacdo de testes é absolutamente desnecessaria © mesmo autor demonstrando 0 seu desacordo em relacao a Weineck (1997) quando este considera que os testes de condigéo fisica so fundamentais dado que 6 muito importante, tanto para o jogador como para 0 treinador, conhecer de que forma 0 processo de treino que se esté a desenvolver tem influenciado os factores individuais Contrapondo 0 que acaba de ser referido VF salienta que os valores individuais que os testes medem no tém qualquer interesse © mesmo autor considera que, uma vez que a Periodizago Tactica coloca a énfase no jogar os valores que os jogadores possam alcangar nesses testes resultam de um trabalho baseado na ligagao do “auto” com 0 ‘hetero” Na realidade os testes nao apresentam esta relacdo, dai que o autor refira que nao Ihes atribui qualquer importancia VF salienta ainda que os testes apenas servem para saber se os jogadores esto doentes Na perspectiva do nosso entrevistado em caso de lesdo de um jogador, logo que 0 departamento médico diga que 0 sujeito esta em condigées clinicas os testes nao tem qualquer interesse Segundo o mesmo autor apés lesdo verifica-se um desfasamento do jegador em relagdo ao jogo Assim sendo, nesse momento, toma-se crucial criar situagées de facilitago, no sentido de, a pouco e pouce, ir inserindo o individuo em causa no trabalho com os colegas e desse modo, eliminar o desfasamento existente © mesmo autor dé um exemplo que 6 bem ilustrativo do que acaba de ser mencionado Assim, em caso de lesdo de um defesa central o fundamental 6 que este seja inserido gradativamente (para a tal individualizag&o) na gestualidade na actividade dele Por exemplo se for efectuado um jogo de seis contra seis em que os jogadores so distribuidos pelas suas posigées, podera colocar-se 0 sujeito que estava lesionado a jogar atrés do defesa central Deste modo, ele nao intervém na bola mas movimentava- se, sendo uma espécie de reprodugo do outro individuo 75 ‘Analise e discussio do contetido da entrevista 44 “Periodizagao Tactica” nos jogos desportivos colectivos, nos desportos individuais e nos escaldes de formagao de Futebol Tudo 0 que até agora foi referido acerca da Periodizagao Tactica’ disse respeito ao Futebol No que conceme a esta modalidade desportiva 0 nosso entrevistado salienta que esta é a forma mais eficaz de conceber 0 processo de treino Todavia, ser que a sua opiniéo se mantém quando se trata da aplicabilidade da Periodizago Tactica’ no Ambito dos restantes jogos desportivos colectivos, desportos individuais ¢ nos préprios escaldes de formac&o de Futebol? Esta é a questéo que em seguida, passaremos a esclarecer Na opinidio do nosso entrevistado, a Periodizagao Téctica” pode ser um modelo de treino a aplicar em todos os desportos colectivos, uma vez que todos apresentam 0 jogo € 0 “tactico Reportando-se ao Voleibol este autor salienta que tal como no Futebol o jogo formal pode ser “transformado” em jogos reduzidos A énfase é colocada igualmente no Jogar devendo ser abordados aqueles aspectos que o gestor do treino pretenda desenvolver Como exemplo, 0 autor refere que para potencializar a impulséio dos voleibolistas aquando do bloco poderdo ser realizadas situagdes de um contra um com distribuidor Parece-nos notério que a intencdo que esta subjacente a esta situacdo é a mesma que jé referimos para Futebol, ou seja pretende-se trabalhar as partes sem que se perca a ideia do todo (jogo) Com a situagao anteriormente descrita para o desenvolvimento da capacidade de impulséo segundo VF pretende-se colocar o individuo perante uma dose que implique uma sobrecarga, na qual ele tem que superar uma dificuldade Tal como no Futebol as exigéncias fisiolégicas e psicolégicas devem ser sempre colocadas em fungao de um propésito que é 0 jogo Deste modo a exercitagdo apresenta-se como um meio e nao como um fim em si mesma Com base nas assergées anteriormente efectuadas verifica-se que a ‘Periodizagéo Téctica” pode ser aplicada nos varios jogos desportivos colectivos sendo que a ideia fundamental é a da decomposigSo do jogo, no sentido de fazer aparecer em maior proporedo 0s aspectos que pretendemos enfatizar VE considera que a “Periodizacéo Tactica” também pode ser aplicada nos desportos individuais Para justificar esta afirmagao, o autor dé o exemplo do Langamento do Dardo apresentando uma légica de raciocinio semelhante a que apresentou para 0 Futebol Assim ele comeca por salientar que o “tactico 6 a cultura da actividade Da mesma forma que no Futebol a cultura 6 0 jogo também no Langamento do Dardo a cultura é 0 langamento 76 Andlise e discusstio do contetido da entrevista Assim no seu entendimento 0 processo de treino dos dardistas deve basear-se fundamentalmente no ‘langar’, podendo ser posteriormente criadas condigbes de dificuldade para o individuo Deverao imaginar-se contrariedades que levem o sujeito, progressivamente a langar mais longe Neste aspecto o nosso entrevistado concorda com Bondarchuk até porque este autor também defende que o mais importante ¢ a unidade e nao a separagao em capacidades fisicas técnicas tacticas e psicolégicas, VF salienta que a ‘Periodizacao Téctica” também 6 0 modelo de treino mais adequado para os escaldes de formagao em Futebol ‘Segundo 0 autor, nestas idades a grande dominancia deve estarno relacionamento do individuo com a bola O mesmo autor afirma que se deve ter em conta que esta é uma fase crucial pois em termos de hominizago a emancipagao do trem inferior foi para o sujeito se locomover e para estar de pé e no para se relacionar com um objecto como a bola Deste modo “a fase de reconversao ideal é nessas fases mais jovens” © nosso entrevistado aponta um exemplo, referindo que, nas escolas do Ajax, dada muita énfase a familiarizagdo dos sujeitos com a bola e ao jogo Isto acontece porque ha um modelo de jogo em que é dada grande importancia ao contacto com a bola, portanto a posse de bola Segundo 0 autor supracitado nas escolas do Ajax sdo realizadas muitas situagées de dois contra dois ou trés contra trés por exemplo, sendo que a sua capacidade para superar a oposiggo é tanto maior quanto maior é 0 “a vontade” deles com a bola Assim com este tipo de exercitagao, a preocupagdo continua a ser a equipa De acordo com VF no caso de se tratar de um modelo de jogo que privilegia o passe a ‘Periodizagao Tactica’ permite realizar um exercicio de facilitagéo como por exemplo, uma situagao de quatro contra dois em que se esta a permitir que os quatro sujeitos passem a bola com maior facilidade enfatizando-se um dos principios do modelo de jogo Na perspectiva deste autor nestas idades a “Periodizaco Tactica , deve dar muita importancia ao lado dito técnico Todavia, nao é técnico mas sim tactico-técnico dado que se trata de um técnico resultante da existéncia de uma concep¢ao de jogo que privilegia o passe E por esta raz4o que o autor defende que na sua concep¢ao de treino, 0 “analitico” nao existe Para ilustrar a importancia que adquire o relacionamento dos jovens com a bola VF apresenta 0 exemplo de Maradona Segundo este autor os grandes craques como 0 Maradona comegaram a jogar cedo” a bola esteve sempre presente o que significa que existiu uma “especificidade precoce’ De acordo com o nosso entrevistado ‘a periodizagao dele foi andrquica, organica mas com bola , sendo que se esta tivesse sido mais orientada poderia suceder que o Maradona fosse ainda um jogador mais completo 7 Analise e discussso do conteddo da entrevista Em sintese, VF preconiza, para os diversos escalées de formagéo uma especificidade precoce orientada por balizas ou seja a “Periodizagdo Tactica” 78 Conclustes 5 Conclusées imp6e-so uma periodizagao mais ajustada om que se dedique mais atencéo 4 andlise dos aspectos estruturais e funcionais do jogo formal (Garganta 1993) Tal como fomos referindo no decorrer deste trabalho, identificamos trés tendéncias lo que conceme @ concep¢do do proceso de treino, nomeadamente uma tendéncia oriunda dos paises do Leste da Europa (LE) uma outra origindria dos paises do Norte da Europa e América do Norte (NE) e ainda uma terceira tendéncia surgida dos paises latino-americanos (Tl) Estas sao as concepgées mais referidas ao nivel da literatura referente a teoria e metodologia de treino Todavia alguns autores tém vindo a fazer referéncia a um outro entendimento conceptometodolégico do processo de treino Esta forma de conceber o processo de treinabilidade € denominada de Periodizagao Tactica’ tendo sido seu pioneiro e percursor o nosso entrevistado, Vitor Frade Das trés tendéncias mencionadas a TI parece ser aquela cujas premissas mais se aproximam das da “Periodizacao Tactica’, dai que, a partir deste momento, passemos a considerar somente a LE e a NE como tendéncias englobadas na designada Periodizagao Convencional’ Efectuados estes esclarecimentos, passaremos a apresentagao de um quadro em que é efectuada uma comparagdo entre as premissas da “Periodizagao Convencional’ e as da Periodizag&o Tactica’ Este contraponto 6 efectuado com base na reviséo da literatura efectuada e na entrevista realizada a Vitor Frade Depois da apresentagao do quadro, séo apresentadas ainda algumas conclusées com o intuito de um melhor esclarecimento das premissas da “Periodizago Tactica @ da TI Assim no quadro numero 1 que a seguir apresentamos podemos observar um sas da “Periodizagdo Convencional e as da Periodizagao contraponto entre as pre! Téctica Para maior facilidade de entendimento os aspectos que distinguem estas duas concepgdes esto agrupados em varias categorias designadamente relacdo treino/competic&o, procedimentos metodolégicos no proceso de treino periodizacao do proceso de treino, especificidade relaco volume/intensidade, forma desportiva relevancia do colectivo e do individual Em cada uma destas categorias podemos observar uma série de premissas que permitem a diferenciagao das duas concepgées de treino anteriormente referidas 79 Conclusbes Quadro 1 Contraponto entre as premissas da ‘Periodizagéo Convencional e as da ‘Periodizagéo Tactica’ “Periodizag¢ao Convencional” “Periodizacao Tactica” Relago treino / compet Y A-competicéo “cria’ o treino Y Otreino “cria” a competi¢go YO proceso de treino é encarado de um ¥ © processo de treino adquire tragos modo algo “abstracto, no sendo coneretos, na medida em que é definida a idealizada a forma de jogar pretendida__forma de jogar pretendida Y A forma de jogar a que se aspira orienta todo o proceso de treino Procedimentos metodolégicos no processo de treino Y Propésito de desenvolver cada uma das v Propésito de promover a forma de jogar dimensées que contribuem para o rendimento dos atletas, esperando que da sua somacdo ou justaposigao resulte um jogo de qualidade YE dada énfase a dimensdo fisica Y Acredita-se que a melhoria da prestago na competicéo pode ocorrer mediante uma boa condigdo fisica dos atletas Y Sfo efectuadas registos e andlises de internos (fisiolégicos) ¢ exteros (cinematicos) através da observacdo da realizacdo de testes de indicadores terreno ou em contexto laboratorial e através de competi¢ao (jogos) Y Verifica-se o trabalho tactica, técnica, _fisica, psicolégica e estratégica Todavia, a situagSes reais de isolado das dimensées dimensao fisica € aquela & qual 6 atribuida maior importancia Y Embora alguns autores refiram a idealizada Pretende-se que a equipa treine e apresente no jogo comportamentos caracteristicos. | do modelo de jogo adoptado E dada énfase ao “tactico” Este é visto como uma cultura do jogo i e como um entendimento do jogo Em primeiro lugar deve-se entender o que & 0 jogo, depois entender os varios jogos e finalmente, entender o jogo que pretendemos O proceso de treino deve basear-se no jogar’ Todavia, este ‘jogar” nunca pode perder de vista a matriz do modelo de jogo adoptado jogo deve ser reduzido a jogos com o intuito de desenvolver principios e sub- principios do modelo de jogo adoptado Esta situagdo @ denominada de TedugSo sem empobrecimento Q desenvolvimento surge desenvolvimento fisico arrastado” pelo possibilidade de ser efectuado um trabalho global ou conjunto das diversas dimensées 0 objectivo final ndo é 0 desenvolvimento da forma de jogar pretendida (i e modelo de jogo) desenvolvimento da dimensdo fisica de principios do mas sim o Preconiza a utlizagao de maquinas de musculagao com o intuito de potenciar os indices fisicos dos atletas Conclusoes destes principios e sub-prineipios Y Principio das propensées repeticao sistematica de situagses em que séo reproduzidos os aspectos que se pretendem ver efectuados pela equipa na competicao Nao se verifica 0 trabalho separado das dimensées tactic, técnica _fisica, psicolégica e estratégica Elas séo desenvolvidas em simulténeo através do As dimensées desenvolvem-se como consequéncia do desenvolvimento tactico i fungdo da forma de jogar pretendida jogo varias em Nao preconiza a utilizacéo de maquinas de musculagao Periodizacao do processo de treino E preconizada a diviséo do ciclo de treino em periodo preparatério perfodo competitive e periodo de transigao O periodo preparatério é dividido em etapa de preparagao geral e etapa de preparagdo especial ‘A duragao de cada periodo depende das fases de desenvolvimento da forma sendo que estas __condicionam fortemente a dinamica das cargas e os conteudos do treino Y Opée-se a diviséo da época desportiva em periodos ou etapas Y O processo de treino é perspectivado de um modo continuo ao longo da época Este processo tem que ser diariamente ponderado, estando muito dependente do acto” e da sensibilidade de quem o gere Emerge 0 Técnica” conceito “Fenémeno- fenomenologia da responsabilidade técnica do gestor do © facto do treino ser um processo continuo e revelador de aspectos uma treino inesperados implica a presenga assidua e atenta do gestor E preconizado 0 estabelecimento de um microciclo padréo para toda a época no qual deve ser dado cumprimento ao “principio da alternancia horizontal” Conclustes. Especificidade © conceito de especificidade aparece ¥ muitas vezes associado 4 dimensdo fisica Pretendem-se elaborar treinos mais especificos com base no registo e andlise de indicadores intemos e externos do esforgo efectuado pelos futebolistas ‘A especificidade 6 ainda vista como um principio segundo o qual as alterages morfolégicas apenas células e ¥ funcionais ocorrem nos érgéos estruturas intracelulares_responsaveis pelo movimento v ‘A preparagdo geral e especial so inseparaveis A preparagdo fisica geral cria as bases para a preparagdo fisica especial Na primeira etapa do periodo preparatério predomina a preparagéo geral e na segunda hé uma orientagao especial mais marcada No periodo competitive predomina a preparacéo especial sobre a geral ‘S40 contempladas situagées analiticas de preparagao geral © conceito de especificidade esta intimamente associado ao modelo de jogo adoptado i e, a especificidade existe em fungao do ajustamento das propostas de treino a forma de jogar pretendida © processo de treino de cada equipa apresenta peculiaridades (é distinto de todos os outros) que exigem por parte do gestor um tratamento especifico constante Em situagéo alguma 6 contemplada a preparagao geral As situagdes de treino que no so “especificas" acontecem como forma de complemento do trabalho especifico, por isso ndo podem ser vistas como analiticas ou gerais E dada pouca énfase a realizacdo dessas situagdes Relagao volume / intensidade Y Ovolume e a intensidade adquirem um ¥ 0 volume e a intensidade séo aspectos v cardcter “abstracto” Na primeira etapa do _periodo preparatério as cargas aumentam paulatinamente em volume e ¥ intensidade Verifica-se um crescimento preferencial em volume concretos do treino, pois correlacionam- se com principios do modelo de jogo adoptado Todas as propostas de treino devem ser efectuadas & maxima intensidade possivel desde 0 inicio da época 82 Na segunda etapa do periodo ¥ preparatério, ha uma redugéo do volume total das cargas e um incremento da sua intensidade No periodo competitivo, inicialmente continua a verificar-se a redugéo do volume que depois estabiliza A intensidade das cargas especificas ‘aumenta até chegar a um ponto maximo em que estabiliza Caso © periodo competitivo seja mais longo, produz-se um novo incremento do volume geral das cargas e uma ¥ redugdo da sua intensidade apés o qual se verifica nova redugdo do volume e aumento da intensidade No periodo de transi¢éo reduz-se a intensidade e 0 volume das cargas especificas Conclustes ‘Apenas 6 considerado o volume de Este devera aumentar ao longo da época, mas intensidades maximas nunca em prejuizo da realizagdo das situagdes de treino a maxima intensidade Como consequéncia da elevada intensidade de treino as unidades de treino devem ter uma duragao curta Todavia, € fundamental que propostas de treino sejam efectuadas & as maxima intensidade de concentragao No inicio da época as unidades de treino poderao prolongar-se mais, devido a necessidade de se aumentar a duragdo dos intervalos de recuperagao Forma desportiva ‘A forma desportiva adquire um cardcter ¥ “abstracto’ A forma 6 adquirida no periodo preparatorio € mantida no perlodo competitive e perdida no period de transigaio Pretende-se que a forma seja “ alcancada no momento exacto ( pico de forma’) para que seja possivel manté-la durante competicées importantes Nao é possivel manter a as mais ¥ forma durante toda a época A forma aparece associada a dimenséo fisica Trata-se de uma forma associada € uma forma ao individuo i e idual A forma adquire um caracter mais concreto, caracterizando-se pela regularidade com que os padrées de comportamento definidos pelo modelo de jogo sao realizados pela equipa durante o jogo (competi¢&o) Neste sentido, a forma pode ser mantida e até melhorada durante toda a época © periodo preparatério apenas 6 importante para as regularidades apresentadas pela equipa nos primeiros jogos do campeonato e nao em fases mais avancadas da época desportiva _ E preconizada a forma da equipa, i e, a forma do colectivo 83 Conclustes. Relevancia do colectivo e do individual As preocupagdes sao dirigidas “ As preocupagdes so dirigidas fundamentalmente para o atleta fundamentalmente para a equipa E atribuida uma _—_importancia VE dada grande importancia ao treino da fundamental ao desenvolvimento organizagéo de jogo da equipa individual de cada uma das dimens6es Pretende-seincutir uma cultura que contribuem para o rendimento colectiva do jogo O colectivo & visto como o resultado da Vv As alteragbes individuais _(auto- soma das prestagées individuais modificagao) acontecem por sobre- Preconiza a realizacao de testes fisicos _condicionamento da alteracdo que se aos atletas verifica no colectivo (hetero- modificagéo) Neste sentido a individualizagdo 6 o primado Y Dispensa-se a realizacdo de testes de condigdo fisica (individuais) ‘ATI, tal como a “Periodizag&o TActica’, coloca a énfase no jogo, todavia esse jogo no tem como referéncia um modelo de jogo nem os respectivos principios relativos a cada um dos momentos de jogo (organizagdo ofensiva organizagao defensiva e transiges do ataque para a defesa e da defesa para o ataque) De acordo com a “Periodizago TActica’, num microciclo em que os jogos sejam realizados de domingo a domingo 0s contetidos predominantes da unidade de treino de quartafeira devem ser caracterizados pela tensdo muscular (contraccdes musculares excéntricas), os de quinta-feira pela durag4o da contrac¢des musculares os da sexta-feira pela velocidade de contraccéo muscular, embora todas as situag6es tenham como principal objectivo o desenvolvimento de principios e sub- principios do modelo de jogo adoptado As premissas da “Periodizagéo Tactica” tem aplicabilidade em todos os jogos desportivos colectivos, nos desportos individuais e nos escalées de formagao de Futebol a4 Conclusdes Sugestées para futuros estudos Y Sugerimos a realizag4o de um estudo aprofundado acerca da terceira tendéncia referente a conceptualizagdo do treino identificada neste trabalho, i e “Treino Integrado (T), no qual se procure definir as premissas e fundamentos que a distinguem da ‘Periodizagao Tactica 85 Referencias bibliogréficas 6 Referéncias bibliograficas Abrantes (1992) Anatoly Bondartchuk em Lisboa com Revolucionaria Programagao de Treino Revista Atletismo (122) pp 25-29 Aguirre Onaindia, J (2002) Nuestra entrevista del mes Entrevista de tactica Revista Training Futbol (80) pp 8-15 Alvarez del Villar, C (1983) La Preparacién Fisica de! 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Em seu entender, quais os principais aspectos negativos e positivos relativos a cada uma dessas tendéncias? 4 Matvéiev preconizava a exercitagao isolada dos factores de rendimento (componente tactica, técnica, fisica © psicol6gca), a preparagéo specifica precedida pela preparagao geral, volumes elevados de treino e intensidades mais baixas no periodo preparatorio, invertendo-se esta relagao @ medida que se aproxima o periodo competitive, a procura de picos de forma para as competi¢oes mais importantes, etc Na sua perspectiva, qual foi o primeiro autor a efectuar um “corte” em relagao a estas ideias? Tera sido Verjoshanski, Tschiene, ou outro autor? 5 Como define a “Periodizagao Tactica"? Em que consiste? Quais os seus fundamentos? 6 O.que distingue a “Periodizagao Tactica’ das demais periodizagbes? 7 0 facto de se denominar “Periodizagao Tactica’ significa que, segundo esta concepgao, 6 efectuada a divisdo do ciclo anual de treino em periodos ou, pelo contrario, os microciclos mantém a mesma estrutura desde o inicio da época (periodo preparatério)? 8 Imagine que era o treinador de uma equipa da primeira Liga Tendo subjacente os “determinismos” da “Periodizagao TActica’, como estruturaria 0 microciclo de treinos da sua equipa? 9 Para que a “Periodizagéio Tactica” seja colocada em pratica & estritamente necessario a realizacao unica e exclusiva de exercicios complexos, em que S40 Solicitados e desenvolvidos os varios factores do rendimento em simulténeo? Nao @ sequer considerada a hipdtese de realizagao de outro tipo de exercicios com 0 intuito de potenciar determinados factores de rendimento em separado (por exemplo, as capacidades motoras)? 40 Pode afirmar-se que a “Periodizagao Tactica” considera que aspectos como a complexidade, especificidade e intensidade sao fundamentais para alcangar a forma desportiva? Neste ambito, como € definida a forma desportiva? ‘Questionrio 11 Considerando que a “Periodizagao Téctica” implica a realizagao de exercicios ‘em espagos reduzidos e com numero reduzido de jogadores, de que modo é efectuada a transferéncia para o jogo formal (grandes espagos e nimero elevado de jogadores)? 12 Em que medida considera que os conhecimentos resultantes de estudos fisiolégicos e biomecdnicos no 4mbito do Futebol, podem ser titeis & elaboracdo de programas de treino no ambito da “Periodizacao Tactica’? 13 A operacionalizagao da “Periodizagao Téctica” determina que nunca sejam realizados exercicios anallticos ao longo de um microciclo? 14 Para um treinador que coloque em prética a denominada “Periodizagéo Tactica’, é pertinente a realizagao de testes fisicos? 15 Acha que a “Periodizagao Téctica” pode ser um modelo de treino a aplicar, tanto nos desportos individuais como nos colectivos? Ou entende que Futebol requer um modelo de treino a parte de todas as outras modalidades desportivas? 16 Os pressupostos da “Periodizagao Tactica” podem ser levados a efeito no treino com jovens ou apenas quando os fundamentos técnicos da relagéo com bola esto adquiridos? Mm FCDEF

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