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Antonio Candido*
Talvez no seja exagero dizer que o Romantismo foi uma das
fontes principais da modernidade na literatura. Nas
literaturas do Ocidente houve duas grandes rupturas.
Pensando sobretudo nas de lngua latina, das quais
provieram as nossas, digamos que a primeira ruptura se deu
a partir do fim do sculo XV e gerou uma produo na qual a
tradio greco-latina foi considerada modelo supremo. Na
prtica a variedade das solues foi grande, mas possvel
dizer que a linha mais caracterstica dessa orientao foi
a que procurou refazer certos gneros antigos, como a
tragdia em verso, cujo momento mais alto ocorreu no sculo
XVII francs. Essa volta relativa Antiguidade importava,
de certo modo, em interpretar o presente por meio do
passado.
A segunda ruptura se deu a partir do fim do sculo XVIII e
foi o Romantismo, que libertou a produo literria das
normas preestabelecidas e impositivas, estimulando a
experimentao ao romper a tirania das regras. Por isso,
costume dizer que o Romantismo estabeleceu a liberdade de
criao literria, abolindo a servido s tradies. Houve,
portanto, uma inverso de concepes, porque os autores
passaram a interpretar o presente por meio de recursos
expressionais modernos, como foram a mescla de gneros ou o
romance em prosa de toque realista, que vinha de antes, mas
s ento se desenvolveu e adquiriu a dignidade de gnero de
primeira plana.
O Romantismo foi, portanto, o comeo de uma literatura
aberta s mudanas, ao aderir ao presente, no ao passado,
num momento de rapidas mudanas tecnicas e sociais. Isso
foi se acentuando ate as vanguardas do sculo XX, que
privilegiaram a mudana incessante, orientada por um
inconformismo permanente que se manifestou pela negao de
conceitos, valores e procedimentos. A partir dessa
verificao procurarei mostrar que -uma das grandes fontes
da modernidade nas literaturas do Ocidente foi o que se
pode chamar de negatividade, a meu ver um dos traos
romanticos mais interessantes.
Entendo aqui este termo em sentido amplo, abrangendo tanto
os temas quanto as formas de expresso que manifestam
aquilo que o oposto, o avesso do que se espera. Usou o