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Marcela de Avila Villaron

Análise Temporal das condições de nevoeiro no


Aeroporto de São José dos Campos entre os anos de
1982 e 2004.

Taubaté –SP

2008
Marcela de Avila Villaron

Análise Temporal das condições de nevoeiro no


Aeroporto de São José dos Campos entre os anos de
1982 e 2004.

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em


Geografia apresentado ao Departamento de
Ciências Sociais e Letras da Universidade de
Taubaté, como parte dos requisitos para colação de
grau em Licenciatura e Bacharelado do Curso de
Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Gilberto Fernando Fisch

Taubaté –SP

2008
Marcela de Avila Villaron

Análise Temporal das condições de nevoeiro no Aeroporto de São José


dos Campos entre os anos de 1982 e 2004.

Universidade de Taubaté; Taubaté - SP

Data:______________________________________________________

Resultado:__________________________________________________

BANCA EXAMINADORA

Prof. ______________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________

Prof.______________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________

Prof.______________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________

Prof.______________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________
Dedico este trabalho aos meus pais, que puderam
me proporcionar uma boa educação e
ensinamentos de boa conduta; ao meu marido,
pela compreensão nas horas em que estive
compenetrada nos estudos e aos companheiros de
trabalho, que se mostraram solidários à causa.
AGRADECIMENTOS

Ao Instituto de Controle do Espaço Aéreo, pela cessão dos dados do Aeroporto de São
José dos Campos.

Ao Major Cleber e demais membros da seção de Estudos Climatológicos do ICEA, pelo


apoio dado ao trabalho.

Ao orientador, Prof. Dr. Gilberto Fisch, pela paciência e pela sempre rápida resposta aos
meus questionamentos.

Ao Prof. Dr. Edson Cabral, pela colaboração com o envio de material bibliográfico a
respeito do tema.

Ao Tenente Marcos Luiz, pela revisão deste trabalho e pelo grande incentivo à pesquisa
científica.
RESUMO

Este estudo visou caracterizar a ocorrência de nevoeiro no Aeroporto de São José dos Campos,
buscando identificar razões para o seu comportamento ao longo do período analisado. Foram
utilizados dados anuais e horários de temperatura do ar, umidade relativa, precipitação, além de
informações quantitativas do fenômeno. Os dados, provenientes de três tipos de formulários
utilizados nos aeroportos brasileiros, e armazenados digitalmente no Banco de Dados
Climatológicos do ICEA, foram agrupados em planilhas do Excel. A análise estatística
identificou uma pequena elevação nas médias das temperaturas, nas médias das máximas e das
mínimas, embora insuficiente para afirmar ser uma das conseqüências do aquecimento global.
Houve, também um decréscimo nos valores de precipitação, na umidade relativa e na quantidade
de horas anuais de nevoeiro, principalmente a partir de 1990. Os meses mais comprometedores
para as atividades aéreas foram, em ordem, junho, maio e julho, e os horários mais críticos foram
os do início da manhã. Foram encontradas, também, tendências de redução quantitativas em
todos os meses do ano, bem como nos horários mais críticos. Considerando os horários com
nevoeiro, verificou-se que 83% das operações de pouso e 72% das operações de decolagem
foram comprometidas devido à restrição de visibilidade. Relacionou-se a redução de nevoeiro
com o aumento das “noites quentes” e com a diminuição da umidade relativa nos horários mais
susceptíveis à formação do fenômeno.
Palavras-chave: tendências climáticas; aeroporto; nevoeiro.
ABSTRACT

This work proposed to characterize fog occurrence at São José dos Campos Airport, trying to
identify its behavior over the analised period. Beside quantity information about fog there were
annual data about: air temperature, relative humidity and rainfall. These data came from three
differents forms used at Brazilian airports and filed in Climatologic Database of ICEA. They
were grouped in Excel sheets. During this period, the statistics analysis identified a small in the
temperature average increase, as well as in the averages of the maximums and of the minimums,
but its not enough to be said it would be a consequence of global warming. There was also a
decrease in the values of rainfall, relative humidity and annual hours of fog, specially after 1990.
The most dangerous months to air activities were in order, June, May and July, and the first hours
of early morning were the worst. It was found some tendencies of decrease of the quantity of
occurrences in the all months in the year as well as the worst hours. Considering the hours with
fog, it was found that 83% of landings and 72% of departures were compromised due to
restriction of visibility. The fog decrease was related to increase in warm nights and the decrease
in relative humidity during the hours more susceptible to formation of the phenomenon.
Key Words: climatic trends; airport; fog.
SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO.......................................................................................................11
2-REVISÃO DA LITERATURA..............................................................................13
3- MATERIAL E MÉTODO.....................................................................................22
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.............................................22
3.1.1 O MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS.......................................22
3.1.2 O AEROPORTO.......................................................................................23
3.2 DADOS UTILIZADOS ....................................................................................23
3.3 COLETA DE DADOS ......................................................................................24
4- RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................................28
4.1 ANÁLISE TEMPORAL DA TEMPERATURA DO AR, PRECIPITAÇÃO E
UMIDADE RELATIVA NO AEROPORTO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS .......... 28
4.2 ANÁLISE TEMPORAL DO NEVOEIRO NO AEROPORTO DE SÃO JOSÉ
DOS CAMPOS ............................................................................................................ 33
4.3 O NEVOEIRO NO LOCAL DO ESTUDO......................................................44
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES................................................47
REFERÊNCIAS ...........................................................................................................50
LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Representação esquemática de nevoeiro baixo .......................................................15


Figura 2- Representação esquemática de bancos de nevoeiro ................................................15
Figura 3- Representação esquemática de nevoeiro parcial ......................................................15
Figura 4- Município de São José dos Campos - SP, em destaque região do aeroporto ...........22
Figura 5- Ortofoto com o aeroporto de São José dos Campos. Folha 21 ................................23
Figura 6 - Formulário de Superfície IEMA 105-25 ................................................................26
Figura 7 - Pluviógrafo do Aeroporto de São José dos Campos. .............................................27
Figura 8 - Temperatura Média, Médias das Máximas e das Mínimas Anuais das Temperaturas
na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004. ...............................................................................29
Figura 9 - Máximas Absolutas Anuais das Temperaturas na EMS-SJ entre os anos de 1982 e
2004..........................................................................................................................................30
Figura 10 - Mínimas Absolutas Anuais das Temperaturas na EMS-SJ entre os anos de 1982 e
2004..........................................................................................................................................31
Figura 11 - Quantidade Horária Anual de Registros de Temperaturas superiores ou iguais à
33ºC e inferiores ou iguais à 7ºC na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004 ...........................32
Figura 12 - Total de Precipitação Anual na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004................32
Figura 13 - Umidade Relativa Média Anual na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004..........33
Figura 14 - Quantidade horária anual de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004 34
Figura 15 - Quantidade horária anual de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 a 1989 34
Figura 16 - Quantidade horária anual de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1990 a 2004 34
Figura 17 - Quantidade horária mensal de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004
..................................................................................................................................................35
Figura 18: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Janeiro entre os anos de 1982 e 2004 .............36
Figura 19: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Fevereiro entre os anos de 1982 e 2004 .........36
Figura 20: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Março entre os anos de 1982 e 2004 ..............36
Figura 21: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Abril entre os anos de 1982 e 2004 ................37
Figura 22: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Maio entre os anos de 1982 e 2004 ................37
Figura 23: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Junho entre os anos de 1982 e 2004 ...............37
Figura 24: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Julho entre os anos de 1982 e 2004 ................38
Figura 25: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Agosto entre os anos de 1982 e 2004 .............38
Figura 26: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Setembro entre os anos de 1982 e 2004 .........38
Figura 27: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Outubro entre os anos de 1982 e 2004 ...........39
Figura 28: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Novembro entre os anos de 1982 e 2004........39
Figura 29: Horas de Nevoeiro na EMS-SJ em Dezembro entre os anos de 1982 e 2004 ........39
Figura 30 - Quantidade de registros por hora de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e
2004..........................................................................................................................................40
Figura 31 - Freqüência dos registros de visibilidade nos casos de nevoeiro na EMS-SJ entre os
anos de 1982 e 2004 .................................................................................................................41
Figura 32 - Tipos de nevoeiros mais freqüentes na EMS-SJ no período de 1990 a 2004........41
Figura 33: Quantidade de registros de nevoeiro entre os horários das 05 h às 10 h em EMS-SJ
entre os anos de 1982 e 2004 ...................................................................................................43
Figura 34 - Média da Umidade Relativa e da Temperatura do Ar nos horários das 05 h, 06 h e
07 h em EMS-SJ entre os anos de 1990 a 2004 .......................................................................44
Figura 35 - Aeroporto de São José dos Campos, com visibilidade comprometida pelo nevoeiro,
restrita a 400 metros, foto tirada dia 06/06/2008 às 09 h 30 min.............................................45
Figura 36 - Imagem do satélite GOES 10 com destaque para nevoeiro e/ou nuvem do tipo
Stratus, do dia 06/06/2008 às 06 h local, com destaque ao Vale do Paraíba-SP......................45
Figura 37 – Imagem do satélite GOES 10, no canal visível, dia 06/06/2008 às 07 h 45 min
local, com destaque ao Vale do Paraíba-SP ............................................................................46
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tendências das temperaturas médias, médias das máximas e médias das mínimas na
estação do IAG-USP, no posto agrometeorológico da UNITAU e na EMS-SJ entre os anos de
1995 e 2002 ..............................................................................................................................30
Tabela 2 – Tendências de precipitação na Estação do IAG-USP, no posto agrometeorológico da
UNITAU e na EMS-SJ no período de 1983 a 2002.................................................................33
Tabela 3- Tabela 4677 (WW) ..................................................................................................42
11

I – INTRODUÇÃO

Nas atividades aéreas, terrestres e aquáticas (entende-se aqui, as atividades marítimas,


lacustres e fluviais), a preparação para a partida, ou chegada, exige esforços humanos e recursos
materiais específicos. Quando se trata de atividades de caráter profissional, acrescenta-se o
compromisso com o cumprimento de horários. Assim, todos os elementos que participam da
preparação para a saída/decolagem ou chegada/pouso do meio de transporte utilizado são
dinâmicos e interdependentes.
Em virtude disso, as adaptações logísticas às condições atmosféricas apresentam-se como
fundamentais para o sucesso de qualquer atividade humana relacionada ao transporte.
Considerando a relevância do nevoeiro, para o exercício dessas atividades, seu estudo é
extremamente pertinente, uma vez que o nevoeiro é um fenômeno meteorológico caracterizado
“pelo conjunto visível de partículas microscópicas de água em suspensão na atmosfera, capazes
de restringir a visibilidade a menos de um quilômetro” (Oliveira, 1998 apud Tubelis,1984).
No caso das vias de transportes aquáticas e terrestres, o fenômeno pode ocorrer em
qualquer momento da rota, restando a escolha entre a adoção de caminhos alternativos, ou a
redobrada atenção e o uso de sinalização adequada.
Já no caso das atividades aéreas, que é o foco deste trabalho, os riscos de se enfrentar a
redução da visibilidade causada por nevoeiro se aplicam às operações de pouso e decolagem. A
maioria dos aeroportos de rota comercial e militar já dispõe de instrumentos de auxílio à
navegação, chamados de Instrument Landing System (ILS) - cujos parâmetros de teto e
visibilidade1 variam de aeroporto para aeroporto, e de aeronave para aeronave.
Por todos os esforços e recursos materiais envolvidos, o estudo da ocorrência de nevoeiro
é um forte contribuinte para o planejamento das atividades aéreas. O atraso da decolagem, o
combustível extra para levar a aeronave até o aeroporto alternativo2 e depois trazê-la para aquele
que era inicialmente destino, taxas aeroportuárias e outros serviços que eventualmente podem
surgir, como hospedagem e refeições, são algumas das implicações financeiras. Além disso, o

1
A ocorrência de teto se dá quando a cobertura de nuvens é superior a 4/8 da abóboda terrestre, visível do ponto de
observação. No caso do aeródromo de São José dos Campos, a visibilidade horizontal mínima permitida para
operações de pouso é de 800 metros e, para decolagem, é de 600 metros, com o uso dos auxílios à navegação, além
da altura mínima de teto de 200 pés ou 60 metros para ambos procedimentos.
2
Aeroporto alternativo é aquele informado pelo piloto, antes da decolagem em um documento chamado no plano de
vôo. É utilizado no caso do aeroporto de destino estar indisponível, ou como tecnicamente se diz, estar fechado.
12

cansaço físico e mental de todo o pessoal envolvido, gera conflitos e discussões em que pouco se
pode fazer se tratando de problemas causados por fenômenos naturais.
A inexistência de estudos sobre o nevoeiro no aeródromo de São José dos Campos, aliado
à necessidade de se ampliar à quantidade de vôos diários de rota comercial, em vista ao projeto
de ampliação do terminal de passageiros e a sobrecarga dos Aeroportos de Congonhas e
Guarulhos, motivaram a elaboração deste trabalho.
Assim, este estudo visa caracterizar os meses e horários mais comprometedores das
atividades aéreas, bem como a intensidade em que o fenômeno ocorre, a partir de observações
meteorológicas realizadas no aeródromo de São José dos Campos, pelo Comando da
Aeronáutica.
Considerando o fenômeno de nevoeiro no aeroporto de São José dos Campos, elaboraram-se
alguns questionamentos a serem averiguados ao longo deste trabalho, a saber:
1) Considerando os dados históricos do fenômeno de nevoeiro, existe alguma tendência de
diminuição da ocorrência do fenômeno? Em caso positivo, esta tendência se apresenta em
todos os meses do ano?
2) Quais são os meses e horários mais comprometedores para as atividades aéreas?
3) É possível quantificar impactos no fechamento do aeroporto?
4) Haveria algum possível efeito do aquecimento global com a freqüência de ocorrência do
fenômeno, como um aumento nas médias das temperaturas mínimas?
13

Capítulo 2 - REVISÃO DA LITERATURA

As primeiras classificações quanto ao fenômeno do nevoeiro, da maneira como se aceita


atualmente, foram realizadas, principalmente, por Willet em 1928. Partindo do pressuposto que
as temperaturas do ar e do ponto de orvalho3 devam coincidir e, assim, o ponto de saturação for
alcançado, admitem-se duas formas para que isso ocorra: o resfriamento da temperatura do ar até
o ponto de orvalho, ou, a adição de vapor de água até que o ponto de orvalho se iguale à
temperatura do ar. Dessa forma, a classificação divide os nevoeiros naqueles que são formados
pelo rebaixamento da temperatura por uma massa de ar e naqueles que são formados na presença
de precipitação. A classificação, apresentada a seguir, foi também descrita nos trabalhos de
Oliveira (1998) e de Januário (2003).

A) Nevoeiro por Abaixamento da Temperatura:


Os nevoeiros por abaixamento da temperatura do ar podem ser subdivididos em:
A.1) Nevoeiro Advectivo: Está relacionado com o transporte de ar entre regiões de
temperaturas de superfície contrastantes.
A.1.1) Nevoeiro de Vapor: É aquele que é formado pelo contato do ar mais
frio, com baixa pressão de vapor, sobre uma superfície de água mais quente.
A.1.2) Nevoeiro de Brisa Terrestre: O ar proveniente do continente aquecido é
resfriado ao passar sobre a superfície mais fria de um corpo d’água. Dependendo da
intensidade do vento pode-se formar um tênue nevoeiro ou uma camada de nuvens baixas.
Ocorre apenas no verão, já que no inverno é associado ao fenômeno radiativo.
A.1.3) Nevoeiro de Ar Marítimo: Forma-se no oceano, com a passagem do ar
marítimo mais frio sobre uma corrente de ar mais quente.
A.1.4) Nevoeiro de Ar Tropical: Forma-se no oceano, com o resfriamento
gradual do ar que parte das baixas latitudes e move-se em direção aos pólos.
A.2) Nevoeiro Radiativo: É formado pela perda radiativa do solo durante a noite.
A maioria dos nevoeiros que ocorre no continente é causada por radiação.

3
Pode-se afirmar que a Temperatura do Ponto de Orvalho é aquela em que a molécula de vapor d’água se condensa
em uma molécula de água. Seu valor é sempre igual ou inferior a Temperatura do Ar. Quando ambas temperaturas se
igualam podemos dizer que o nível de condensação foi alcançado e a Umidade Relativa chegou a 100%.
14

A.2.1) Nevoeiro de Superfície: Forma-se em condições de céu claro e vento


calmo, com uma inversão térmica na superfície, causada pelo resfriamento radiativo.
A.2.2) Nevoeiro de Alta Inversão: Forma-se após um longo período de
resfriamento radiativo acrescida pelo resfriamento de uma única noite. É típico da estação
climática de inverno e das regiões continentais de alta latitude. Neste caso, a camada de
inversão é mais espessa que no nevoeiro de superfície.
A.2.3) Nevoeiro Advectivo-Radiativo: Forma-se durante o dia, em regiões de
alta perda radiativa. É causado pela entrada do ar quente e úmido do oceano durante o dia.
A.2.4) Nevoeiro Orográfico: Forma-se pelo resfriamento do ar por expansão
4
adiabática à medida que a altitude do obstáculo aumenta.

B) Nevoeiro por adição de vapor d’água:


Os nevoeiros provocados pela elevação da Temperatura do Ponto de Orvalho são
subdivididos em:
B.1) Nevoeiro Pré-Frontal (Frente Quente): Forma-se com o contato da
precipitação nas colunas estáveis de ar frio, provocando o aumento da Temperatura do
Ponto de Orvalho.
B.2) Nevoeiro Pós-Frontal (Frente Fria): Forma-se de forma semelhante à frente
quente, porém a área de precipitação é mais restrita. Tende a se torna quase-estacionário e
usualmente, orientadas no sentido leste-oeste.
B.3) Nevoeiro Frontal: Forma-se com a mistura de ar quente e frio na zona frontal
pode produzir nevoeiro, se o vento estiver calmo e se ambas as massas estiverem perto da
saturação.

Para o COMAER (2005), os nevoeiros possuem uma denominação operacional para


classificá-los quanto ao seu posicionamento em relação à pista. São assim classificados:
1) Nevoeiro de céu obscurecido ou de céu invisível: é aquele que também obstrui a
visibilidade vertical, não permitindo identificar uma altura para a camada de nuvens mais baixa.

4
Em uma expansão adiabática o volume do ar aumenta, a pressão e a temperatura diminuem, embora não haja troca
de calor com o meio.
15

2) Nevoeiro de superfície ou de céu visível: é o nevoeiro que reduz a visibilidade


horizontal5 a menos de 1000m, não obstruindo, contudo, a visibilidade vertical.
3) Nevoeiro nas vizinhanças: será utilizado para informar qualquer tipo de nevoeiro
observado nas proximidades do aeródromo.
4) Nevoeiro Baixo (Figura 1): será utilizado quando a camada de nevoeiro atinge uma
altura abaixo de dois metros, tendo a visibilidade acima igual ou superior a 1000 metros.

Figura 1: Representação esquemática de nevoeiro baixo.


Fonte: Comando da Aeronáutica, 2005.

5) Bancos de Nevoeiro (Figura 2): Serão utilizados para informar bancos de nevoeiro que
cobrem, de forma descontínua, setores do aeródromo.

Figura 2: Representação esquemática de bancos de nevoeiro.


Fonte: Comando da Aeronáutica, 2005.

6) Nevoeiro Parcial (Figura 3): Será utilizado para informar nevoeiro que cobre, de forma
contínua, parte do aeródromo.

Figura 3: Representação esquemática de nevoeiro parcial.


Fonte: Comando da Aeronáutica, 2005.

5
Visibilidade Horizontal é a maior distância que um objeto, de dimensões apropriadas, pode ser visto e identificado.
16

Segundo Cabral e Romão (2006), as estações mais favoráveis à ocorrência de nevoeiro no


sudeste brasileiro, são o outono e o inverno, “...quando se verifica maior estabilidade atmosférica,
com menores temperaturas, menor cobertura de nuvens e, conseqüentemente, maior resfriamento
noturno devido à perda, pela superfície, de radiação de ondas longas”. Nas regiões de vale, como
é o caso do município de São José dos Campos, esse conjunto de fatores climáticos favorece a
formação de nevoeiros de radiação.
Segundo Januário (2003), se a atmosfera estiver estavelmente estratificada, com vento
calmo na superfície, céu sem nebulosidade, ar saturado e a temperatura sofrer uma grande queda
pela perda de calor, uma inversão térmica poderá ocorrer e assim, formar uma camada que
conhecemos como nevoeiro. Se a camada de ar que estiver acima da inversão estiver seca, a
ocorrência do fenômeno é ainda mais provável.
Januário (2003) ainda afirma, além das altas pressões, o tipo de solo também influencia
no resfriamento terrestre, relacionando-o com a capacidade de perda radiativa. Os aerossóis são
essenciais para o que se conhece como núcleo de condensação6, pois quanto maior a capacidade
de absorção de radiação, mais denso será o nevoeiro. Assim, a incidência de nevoeiro é maior em
regiões poluídas, porque a quantidade de material particulado é maior.
Os principais fatores responsáveis pela dissipação dos nevoeiros são o aumento da
velocidade do vento e a ocorrência da insolação, causando o aumento da temperatura do ar e a
conseqüente evaporação das partículas de água líquida (SANTOS, 2002).
A série temporal de registros das observações de nevoeiros no período de 1972 a 1997,
analisada por Cabral (1998) nos aeroportos de Guarulhos e Congonhas, revelou maior ocorrência
desse fenômeno em Guarulhos do que em Congonhas, embora em ambos aeroportos o número de
horas de nevoeiro diminuiu ao longo dos anos considerados. Quanto à freqüência mensal, o
fenômeno ocorre preferencialmente no período de outono e inverno. Nos dois aeroportos
analisados, o nevoeiro de radiação prevalece, estando associado a sistemas atmosféricos
anticiclônicos. Quanto à análise das médias das mínimas anuais da temperatura do ar, entre os
dois aeroportos, verifica-se um aumento significativo de seus valores, com maior incremento no
aeroporto de Guarulhos. O decréscimo da ocorrência de nevoeiro, segundo o autor:

6
Podem ser considerados como tais: poeira, areia, sal marinho, fuligem, fumaça de queimadas, resíduos industriais,
entre outros.
17

pode ser atribuído ao processo de urbanização nessas áreas, ligada à grande área
pavimentada e construída e à retirada da vegetação outrora existente, resultando
em um conseqüente aumento das médias térmicas e da redução dos valores de
umidade relativa e com a queda dos totais de horas anuais de nevoeiros. Tal
situação tem contribuído sensivelmente com a maior operacionalidade nesses
dois movimentados locais, resultando em maior segurança e economia dos vôos
(CABRAL e ROMÃO, 2006).

Segundo Cunha e Maia (2004), o nevoeiro é um aglomerado de gotículas de água que


ficam em suspensão na atmosfera junto à superfície, formando-se quando há condensação de
vapor d’água. Pode ser classificado, quanto à intensidade, em: forte, quando a visibilidade fica
menor que 100 metros; moderado, quando a visibilidade encontra-se entre 100 e 500 metros;
fraco, a visibilidade é menor que 1000 metros e maior que 500 metros.
Conforme citado por Marengo (2006), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o
Programa das Nações Unidas para o Meio ambiente (PNUMA) estabeleceram um painel
científico conhecido como Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) que procura
reunir informações a respeito das mudanças climáticas que seriam provocadas por ações
humanas.
Os relatórios do IPCC têm diagnosticado um aumento da temperatura global, sendo a
década de 1990 considerada a mais quente desde as primeiras medições em 1861. Além disso, os
anos de 1995 a 2004 (exceção a 1996) estão entre os mais quentes de todo o período considerado.
Avalia-se que a temperatura global da superfície tenha aumentado, em média, quase 0,6ºC e que,
desde 1950, essas mudanças também têm sido impactadas em outros aspectos do clima, como na
redução das temperaturas mínimas extremas e na elevação das temperaturas máximas extremas.
Segundo Marengo (2006), a Terra passa por ciclos naturais de aquecimento e
resfriamento. Entretanto, verifica-se que a atividade industrial está afetando o clima terrestre,
com o aumento na concentração de gases do efeito estufa, especialmente nos últimos cinqüenta
anos.
Estudos do CEPAGRI-Unicamp (Marengo,2006 apud Pinto, 2003) demonstram a
tendência positiva da temperatura mínima para a cidade de Campinas que ultrapassa os 2,0ºC nos
últimos 100 anos. Essa tendência, considerando a variabilidade natural do clima, pode ser
associada aos efeitos antropogênicos sobre a região, com o aumento da urbanização.
Marques (2003) compara a série de informações de temperatura e precipitação do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-
18

USP), em São Paulo, com aquelas registradas no posto agrometeorológico da UNITAU, em


Taubaté, localizado em uma área rural do município. Os resultados apontam para um
aquecimento em ambas localidades, e um decréscimo no total de precipitação, mais expressivos
em São Paulo, provavelmente associado às influências antrópicas. Entretanto, como ambas as
séries sugerem um aquecimento, e as características locacionais serem completamente
diferenciadas, o autor sugere que possa existir maior influência de variabilidade natural da
temperatura, do que da evolução urbana. Além disso, o aumento das temperaturas mínimas no
inverno, notavelmente mais significativo, pode estar ligado à urbanização, que:
em função das propriedades térmicas dos materiais urbanos, o calor absorvido
durante o dia é liberado durante a noite, diminuindo o declínio significativo das
temperaturas na madrugada, gerando uma menor amplitude térmica, e,
conseqüentemente um menor resfriamento das mínimas temperaturas. Os
invernos vão, dessa forma, se tornando mais quentes (MARQUES, 2003).

Oliveira (2007) em sua análise de projeção da temperatura do ar até 2099, no município


de Taubaté, partindo de dados locais do posto agrometeorológico da UNITAU e de simulações
climáticas futuras, estimou uma elevação de aproximadamente 6ºC da temperatura do ar desde
1950, quando se iniciou a série estudada até a projetada (2099). Ressalta-se que este trabalho foi
realizado com dados futuros oriundos de simulações climáticas.
A elevação das temperaturas pode afetar a formação de nevoeiros, especialmente os de
radiação, uma vez que a amplitude térmica necessária para a saturação do vapor d’água, exigiria
uma irradiação terrestre com conseqüente perda de calor.
Considerando que, o nevoeiro é formado quando a temperatura de ponto de orvalho se
iguala à temperatura do ar, isto significa que a umidade relativa chega 100%. Entretanto, admite-
se a ocorrência de nevoeiros com valores de umidade relativa do ar entre 81 a 100%
(JANUÁRIO, 2003 apud ARAÚJO, 2003 apud PRUPPACHER e KLETT, 1997). O Comando
da Aeronáutica, que estabelece as formas de registro das observações meteorológicos nos
aeroportos no Brasil, admite o registro de nevoeiro quando a visibilidade horizontal estiver
inferior a 1000 metros e a umidade relativa superior a 80%.
Scolar (2000) realizou um estudo de um caso de formação de nevoeiro na região central
de São Paulo causado pela passagem de um sistema frontal acompanhado de precipitação, através
de uma simulação numérica com um modelo unidimensional. Com o deslocamento do sistema,
houve a predominância do sistema de alta pressão, sendo que o ar mais próximo à superfície,
19

durante o período noturno, esfriou-se por perda radiativa e tornou-se saturado. Os resultados
obtidos foram satisfatórios e pôde identificar a associação do fenômeno com a existência de
vento calmo, progressiva queda da umidade específica e da temperatura do ar na noite anterior ao
nevoeiro.
Friedlein (2004) investigou algumas variáveis, como vento, temperatura e fatores locais a
fim de propor uma análise sazonal e sugerir possíveis causas para a formação de nevoeiro denso,
com visibilidade horizontal inferior a 500 metros no aeroporto de Chicago, nos Estados Unidos,
no período de julho de 1996 a abril de 2002. Durante todo o ano, predominou a maior parte das
ocorrências do fenômeno no período da madrugada. Cerca de 75% dos casos ocorreram na
estação fria, quando também foi comum a permanência do nevoeiro durante o dia. Os ventos de
sudeste/sul são fundamentais para a formação do nevoeiro de advecção no inverno, pois são mais
quentes. Os ventos provenientes de nordeste/leste estão ligados à influência do Lago Michigan,
localizado próximo ao Aeroporto. Em todas as estações, o vento fraco foi associado ao fenômeno.
Em relação à temperatura, observou-se uma relação entre a ocorrência de nevoeiro e a
temperatura superior à média da estação, no caso do inverno; e no caso do verão, a temperatura
tendia a ser inferior a média.
Santos (2002), em seu estudo preliminar no Aeroporto Afonso Pena de Curitiba-PR,
utilizando dados do período de janeiro de 1998 a janeiro de 2002, observou que as estações com
maiores ocorrências de nevoeiro foram às estações de inverno e de outono. O mês com maior
incidência foi o de junho. Verificou que quanto mais cedo se inicia o fenômeno mais tarde é a sua
dissipação, e isso ocorre predominantemente entre os meses de maio a agosto, quando as
temperaturas são menores. Isto se deve pela formação de um nevoeiro mais espesso, demorando
mais para evaporar. A intensidade do vento foi fraca, com menos de cinco nós e com direção
predominante de norte/leste em quase todos os meses. O tipo de nevoeiro predominante foi o de
radiação de superfície, com céu visível, e teto variando de 100 a 200 metros. Na maioria dos
casos, a umidade relativa do ar foi superior a 90%.
Oliveira (1998) procurou relacionar fatores sinóticos com a ocorrência de nevoeiro, na
cidade de Pelotas-RS. Verificou que a estação climática com maior ocorrência do fenômeno foi a
de outono. A situação sinótica mais favorável é quando o anticiclone de curvatura ciclônica7 das

7
Anticiclone é um centro de alta pressão, cujo movimento do ar é descendente, expandindo-se à superfície. As
isóbaras são de curvatura ciclônica, ou seja, a curvatura das superfícies isobáricas é côncava.
20

isóbaras está a leste/nordeste da cidade. Além disso, são verificados valores elevados de umidade
relativa, temperatura baixa e vento fraco. O autor também identificou quatro tipos de perfis
verticais de temperaturas do ar e do Ponto de Orvalho, sendo os principais: a inversão da
temperatura com grau de inversão entre 2 e 8 ºC; e, uma camada úmida em baixos níveis com
topo entre 950 e 670 hPa e temperatura do ar próxima a de Orvalho, e uma camada seca mais
elevada com depressão psicrométrica8 entre 10 e 30 ºC;
Cunha e Maia (2004), realizaram um estudo sobre a visibilidade em cinco aeroportos da
cidade do Rio de Janeiro, utilizando dados de METAR9 do ano de 2003. Pode-se identificar que
em apenas 2% das observações obteve-se visibilidade inferior a 1000 metros ligada à presença de
nevoeiro. Os aeroportos mais atingidos, em ordem crescente foram: Jacarepaguá, Santos Dumont,
Santa Cruz, Campo dos Afonsos e Galeão. O horário mais propício foi entre as 06hs e 08hs local.
No aeródromo de Galeão, lugar onde a ocorrência foi maior, a freqüência de nevoeiros fortes e
moderados é baixa e a faixa horária mais comprometida é das 04hs às 11hs local, com máximo às
07hs. Quanto à freqüência mensal, o mês de julho foi o mais propenso à restrição da visibilidade
causada por nevoeiro, chegando a apresentar no ano de 2003, sete dias com registro do
fenômeno.
Piva e Fedorova (1999) procuraram caracterizar as condições atmosféricas mais propícias
para a ocorrência de nevoeiro de radiação em Porto Alegre-RS. Durante o período analisado, de
janeiro de 1995 a abril de 1996, observaram-se onze casos de nevoeiro, sendo que oito eventos na
estação do outono e o restante no inverno. A maior ocorrência nesta estação se deve a maior
duração do período noturno, fato que favorece a saturação do ar. Em todos os casos, foram
encontradas uma camada úmida em baixos níveis (até 950h Pa) e uma camada seca logo acima.
Segundo os autores: “A inversão térmica é uma evidência do resfriamento radiativo noturno da
superfície terrestre”. A perda de calor é ainda maior quando as camadas superiores são ainda
mais secas, dificultando a absorção de vapor d’água. Os autores identificaram que numa
seqüência de dias com nevoeiro, a duração do fenômeno aumentava, em média, quatro horas de
8
A Depressão Psicrométrica pode ser definida pela diferença entre a Temperatura do Ar (ou do Bulbo Seco) e a
Temperatura do Bulbo Úmido. O conjunto desses termômetros é chamado de psicrômetro e é utilizado nas estações
meteorológicas de superfície convencionais
9
O METAR é um código internacional meteorológico, estabelecido pela Organização Meteorológica Mundial, de
caráter horário e com fins aeronáuticos, que visa informar condições meteorológicas no local da observação.
Basicamente é composto por dados de vento, visibilidade, tempo presente, nebulosidade, temperatura do ar e do
ponto de orvalho, pressão ao nível do mar para ajuste de altímetro. Conforme necessidade, algumas informações
suplementares podem ser registradas após a informação de pressão.
21

um dia para o próximo. Em relação à análise da depressão psicrométrica, estão associadas ao


nevoeiro: valores baixos, valores mínimos constantes e duradouros, valores crescentes para os
dias posteriores ao primeiro fenômeno. Os ventos são provenientes do Sul. Muitos autores citados
no trabalho relacionam a ocorrência de nevoeiro de radiação com a presença de um sistema
anticiclone, que no caso de Porto Alegre, estaria a leste ou a nordeste. A variabilidade horária da
Temperatura e da Umidade Relativa foi, em média, de 0,8ºC e 2,0% por hora no dia anterior da
ocorrência de nevoeiro. Assim, para a formação de nevoeiro de radiação são necessários:
inversão de temperatura, umidade nos baixos níveis, vento fraco e ausência de convecção
térmica, favorecida também pela estabilidade atmosférica.
22

CAPITULO 3 – MATERIAL E MÉTODO

3.1 Caracterização da Área de Estudo

3.1.1 O município de São José dos Campos

O município de São José dos Campos (Figura 4), situa-se na região Leste do Estado de
São Paulo. Possui área total de 1099,6 km2, subdividida em 361,95 km2 de área urbana, 734,39
km2 de área rural e 3,26 km2 de área de expansão urbana (PMSJC, 2007). A população estimada
pelo IBGE (2008), no ano de 2007, foi de 594.948 habitantes.

Figura 4: Município de São José dos Campos – SP, em destaque região do aeroporto.
Fonte: Adaptada de Moura et al, 2008.

O clima da região, pelo sistema de Köeppen modificado, é do tipo Cwa, quente, verão
úmido e inverno seco. Localiza-se na Depressão do Rio Paraíba do Sul, que está inserido nos
Cinturões Móveis Neoproterozóicos Sudeste-Sul (IBGE,2006). Esta área apresenta em uma
parcela a vegetação do tipo Cerrado e, em outra, Floresta Ombrófila Densa na sua forma
secundária, ambos tipos com atividade agrária (IBGE, 2004).
23

3.1.2 O Aeroporto

O aeroporto Professor Urbano Ernesto Stumpf (Figura 5) está localizado nas coordenadas
geográficas 23°13’44’’S e 045°52’16’’W, a uma altitude aproximada de 646 metros (COMAER,
2005). O número sinótico da estação, para fins de identificação na Organização Meteorológica
Mundial, é 83829. Possui fins militares e civis e, segundo a Empresa Brasileira de Infra-Estrutura
Aeroportuária (INFRAERO, 2008), administradora do atual terminal civil de passageiros, já se
encontra em tramitação o processo de zoneamento civil/militar, delimitando o terreno para a
implantação da nova área terminal, com fins de expansão para o desenvolvimento de um terminal
de cargas e maior atendimento aos passageiros.

Figura 5: Ortofoto10 com o aeroporto de São José dos Campos. Folha 21.
Fonte: Projeto Cidade Viva, PMSJC, 2004.

3.2 Dados Utilizados

Para este trabalho, foram utilizados os dados registrados em formulários meteorológicos


preenchidos na Estação Meteorológica de Superfície do aeródromo de São José dos Campos

10
Ortofoto é uma fotografia aérea retificada, ou seja, corrigida as distorções de geometria (posição e inclinação) e de
deslocamentos provocados pelo relevo (ESTEIO, 2008).
24

(EMS-SJ), nos horários das 00h às 23hs (local), dos anos de 1982 a 2004, mantidos arquivados
pela Subdivisão de Climatologia Aeronáutica do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA)11,
em São José dos Campos - SP.
Os dados se referem às observações horárias nos quais as condições de tempo presente
foram classificadas como nevoeiro (associado aos valores de visibilidade horizontal), umidade
relativa, temperaturas do ar e precipitação.
Para as análises das temperaturas anuais foram realizados cálculos para a obtenção dos
dados médios mensais de temperatura, além de médias mensais paras as temperaturas máximas e
mínimas diárias. A partir da geração destas informações, foram calculadas as médias anuais.
Procedimento semelhante foi adotado para a umidade relativa. Os totais anuais de precipitação
são resultados do somatório das precipitações diárias ao longo do ano.
Os registros de visibilidade seguem os seguintes critérios técnicos e operacionais: os
registros devem ser feitos de hora em hora, tendo como referência os pontos descritos na carta de
visibilidade do aeródromo; visibilidades acima de 5.000 m são registradas como múltiplos de
1.000 (mil), visibilidades abaixo de 5.000 m, em múltiplos de 100 (cem) e visibilidades abaixo de
800 m, em múltiplos de 50 (cinqüenta) (COMAER, 2004).

3.3 Coleta de Dados

Os principais formulários meteorológicos das estações meteorológicas de superfície


convencionais, presentes nos aeródromos do país, consistem em um conjunto de registros
horários de informações de importância para a atividade aérea. A partir dos dados registrados nos
formulários são geradas as informações do METAR. Eventualmente, quando algum parâmetro
comporta-se de modo diferente do que é esperado, cujos valores típicos ou padrões são
estabelecidos em norma especifica, ou quando ultrapassa, seja para valores superiores ou
inferiores, os chamados mínimos operacionais, também é necessário o registro no formulário com
todas as informações meteorológicas da hora e minuto em que foram observadas. Neste caso são
gerados os códigos SPECI12

11
O ICEA é um órgão subordinado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Mais informações sobre este na
página:<www.icea.gov.br>.
12
Uma variação do código METAR, para casos em que a ocorrência não é horária, ou seja, o minuto é diferente de
zero.
25

No período de janeiro de 1982 a março de 1990, o formulário vigente na EMS-SJ era o


IEMA 105-25 (Figura 6). Neste caso, foram selecionados os registros que apresentavam,
cumulativamente, no campo de condições gerais do tempo (W) o número 4, definido para casos
de névoa úmida, nevoeiro ou nevoa seca, visibilidade horizontal menor que 1000 metros e
umidade relativa superior a 80% (quando presente na informação), visto que, até então, não havia
sido definido um código exclusivo para o fenômeno de nevoeiro. No formulário IEMA 105-25, o
registro de umidade relativa era realizado apenas nos horários sinóticos13, assim foi
implementada a restrição de umidade superior a 80% apenas quando esta informação estava
presente. Já no período de abril de 1990 a setembro de 1999 (excluindo o mês de junho de 1999),
o formulário utilizado na EMS-SJ passou a ser o IEPV 105-13. A partir desse formulário o campo
de condições gerais do tempo (WW) passou a ter dois dígitos, variando de 1 a 99, cujo
significado foi divulgado pelo Manual do Comando da Aeronáutica (MCA 105-10). Neste caso,
foram utilizados registros de condições gerais de tempo referentes à condição de nevoeiro da hora
e no local da observação (WW 11, 12, 41 a 49), e, complementarmente, a visibilidade horizontal
menor que 1000 metros e umidade relativa superior a 80%. Por fim, do período de outubro de
1999 a dezembro de 2004, e o mês de junho de 1999, o formulário utilizado foi o IEPV 105-78,
que é utilizado até os dias atuais em todos os aeródromos do país. A principal mudança, em
relação ao formulário anterior, foi à criação de três campos para registro de condições de tempo
presente. Isso otimizou a possibilidade de registro de diferentes condições atmosféricas, entre as
cem previstas da Tabela 4677 da MCA 105-10. Neste formulário, adotou-se o mesmo
procedimento do IEPV 105-13, verificando a partir de então, os três campos disponíveis as
informações WW referentes ao fenômeno de nevoeiro.

13
Os horários sinóticos na atividade aérea são 00 UTC, 03 UTC, 06 UTC, 09 UTC, 12 UTC, 15 UTC, 18 UTC, 21
UTC e 23 UTC. Os horários UTC (Tempo Universal Coordenado) são baseados no fuso horário de referência, ou
seja, de Greenwich.
26

Figura 6 – Formulário de Superfície IEMA 105-25.

Nos aeródromos, é indispensável a presença de um observador meteorológico com


formação profissional. Usualmente, são técnicos formados pelo Comando da Aeronáutica, para
casos de sargentos especialistas em meteorologia, ou em cursos profissionalizantes, reconhecidos
pelo Ministério da Educação (MEC), para casos de técnicos da INFRAERO. São eles os
responsáveis pelas observações de ordem visual, como: a visibilidade horizontal; a altura, tipo e
cobertura de nuvens; e o próprio registro de condições de tempo presente. O uso de instrumentos
como pluviográfos, termômetros, barômetros e anemômetros, também são realizados por este
profissional. As novas tecnologias que utilizam de informática e eletrônica, puderam otimizar o
trabalho dos observadores, visto que em algumas EMS já estão disponíveis equipamentos como o
Runway Visual Range (RVR), ou Alcance Visual da Pista que mede a visibilidade da pista e o
tetômetro (ceilometer), que estima a altura da base das nuvens.
No caso do aeroporto de São José dos Campos, a EMS é do tipo 1, ou seja, é uma estação
automática, com sensores de pressão atmosférica, temperatura, umidade, vento, teto e visibilidade
(RVR para caso de visibilidade menor que 2000 metros). Os dados pluviométricos são coletados
do pluviógrafo (Figura 7).
27

Figura 7 – Pluviógrafo do Aeroporto de São José dos Campos.

Os dados digitalizados encontram-se arquivados no Banco de Dados Climatológicos


(BDC), do ICEA. Após separação das variáveis e ocorrências de nevoeiro, os dados foram
trabalhados estatisticamente em planilhas do Excel.
Além dos dados coletados no ICEA, foram extraídas do trabalho de Marques (2003), para
efeito de comparação, as tendências de temperatura média, média das máximas e das mínimas no
período de 1995 a 2002, e as tendências de precipitação no período de 1983 a 2002 da estação do
IAG-USP e do posto agrometeorológico da Universidade de Taubaté, cujos números sinóticos
são, respectivamente, 83004 e 83286.
28

4) RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados das análises realizadas foram divididos em três partes. A primeira, procura
investigar tendências nas séries temporais anuais de temperatura do ar, umidade relativa e
precipitação. A seguir, são apresentadas séries de registros anuais de nevoeiro, além de
informações de horários, visibilidades e tipos de nevoeiro mais freqüentes. Procurou-se, também,
associar umidade com os horários mais críticos. Por fim, foi apresentado um caso de nevoeiro no
aeroporto de São José dos Campos, no dia 06 de junho de 2008, com as imagens de satélite da
região. As séries temporais foram apresentadas com análise de tendência linear, cujos valores
correspondem à linha retilínea que se ajusta aos dados.

4.1) Análise temporal da Temperatura do Ar, Precipitação e Umidade Relativa no Aeroporto de


São José dos Campos

A série temporal da temperatura do ar é apresentada na Figura 8, através dos valores médios


anuais de temperatura máxima, média e mínima. A partir destas informações, é possível
visualizar as tendências das três séries. A série contendo as médias das máximas anuais (linha
verde) apresenta uma maior tendência positiva em relação às outras, seguida das médias anuais
(linha azul) e da média das mínimas anuais (linha rosa), que foi a série que menos sofreu
alteração ao longo dos anos. A estimativa de elevação, no final do período, foi em torno de
0,61ºC para as médias das máximas, 0,47ºC para as médias e 0,22 ºC para as médias das
mínimas.
29

y = 0,0266x + 26,611 y = 0,0206x + 20,44 y = 0,0097x + 16,21


R2 = 0,0706 R2 = 0,0907 R2 = 0,0295
29,0
28,0
27,0
26,0
Temperatura (ºC)

25,0
24,0
23,0
22,0
21,0
20,0
19,0
18,0
17,0
16,0
15,0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos
Temperatura Média Temperatura Mínima Temperatura Máxima
Linear (Temperatura Máxima) Linear (Temperatura Média) Linear (Temperatura Mínima)

Figura 8: Temperatura Média, Médias das Máximas e das Mínimas Anuais das Temperaturas na
EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

Na Tabela 1, procurou-se comparar as tendências das temperaturas médias, das médias


das máximas e das mínimas anuais da estação do IAG-USP e no posto agrometeorológico de
Taubaté, encontradas por Marques (2003), com as da EMS-SJ entre os anos de 1995 e 2002. As
três séries apresentaram tendência positiva. Em relação às outras localidades, a estação de São
José dos Campos foi a que apresentou menores variações nas temperaturas média e média das
máximas, e uma variação intermediária nas médias das mínimas.
Entretanto, utilizando-se da série de 1982 a 2004, a taxa de variação anual para a EMS-SJ
foi maior para a média das máximas, com valores em torno de 0,03ºC, seguida da temperatura
média, 0,02ºC e da média das mínimas, com 0,01ºC. Assim, sugere-se que a variabilidade
encontrada entre os anos de 1995 e 2002, seja insuficiente para apontar um aquecimento, e sim
apenas uma variabilidade natural, fato também sugerido por Marques (2003), visto que nos anos
de 2003 e 2004 as séries de temperaturas voltaram a oscilar para valores inferiores.
30

Tabela 1 – Tendências das temperaturas médias, médias das máximas e médias das mínimas na
estação do IAG-USP, no posto agrometeorológico da UNITAU (Marques, 2003) e na EMS-SJ
entre os anos de 1995 e 2002.

Temperatura Média Média das Mínimas Média das Máximas


Taxa de Taxa de Taxa de
Variação Variação Variação Variação Variação Variação
Anual Total (ºC) Anual Total (ºC) Anual Total (ºC)
(ºC) (ºC) (ºC)
IAG-USP (São
0,0988 0,7900 0,0655 0,5200 0,1548 1,2400
Paulo)
Posto
Agrometeorológico 0,0970 0,7800 0,0440 0,3500 0,1500 1,2000
UNITAU
EMS-SJ 0,0476 0,3808 0,0534 0,4272 0,0230 0,1840

A análise das temperaturas absolutas anuais revelou que a série de temperatura máxima
absoluta (Figura 9) apresentou uma pequena elevação ao longo dos anos e a série de temperatura
mínima absoluta um pequeno decréscimo (Figura 10), embora ambas as séries tenham se
comportado razoavelmente estáveis ao longo do tempo. Os extremos de temperaturas máxima e
mínima no aeroporto de São José dos Campos, ocorrido no período considerado, foram,
respectivamente, de 38,0ºC em novembro de 1993, e 1,0ºC em junho de 1988. A elevação da
série de temperatura máxima condiz com o que se verifica na figura 8, cuja série das médias das
máximas apresentou uma elevação mais significante em relação às outras da mesma figura. A
elevação estimada por década, de acordo com a regressão linear simples, foi em torno de 0,2ºC
para as máximas absolutas. Já o decréscimo estimado para as temperaturas mínimas absolutas foi
de 0,1ºC por década.
y = 0,0229x + 35,39
R2 = 0,0243
39,0
38,0
Temperatura (ºC)

37,0
36,0
35,0
34,0
33,0
32,0
31,0
30,0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos
Máxima Absoluta Linear (Máxima Absoluta)

Figura 9: Máximas Absolutas Anuais das Temperaturas na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.
31

y = -0,0123x + 5,2731
R2 = 0,0022
10,0
9,0
Temperatura (ºC)

8,0
7,0
6,0
5,0
4,0
3,0
2,0
1,0
0,0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos
Mínima Absoluta Linear (Mínima Absoluta)

Figura 10: Mínimas Absolutas Anuais das Temperaturas na EMS-SJ entre os anos de 1982 e
2004.

Entretanto, procurando-se associar o fenômeno de nevoeiro com a diminuição das noites


quentes14 do ano, a série de temperatura foi dividida em duas outras (Figura 11): a primeira,
contendo a quantidade horária de registros anuais maiores ou iguais à 33ºC; e a segunda,
contendo a quantidade horária de registros anuais menores ou iguais à 7ºC.
A análise da primeira série revelou a tendência de aumento na quantidade de registros
com temperaturas superiores ou iguais à estipulada. Isto demonstra que, apesar do aumento das
médias das máximas não ser tão significativo, o aumento de “dias quentes” pode estar
relacionado com o aumento quantitativo de tardes mais “abafadas”, ou seja, o seu prolongamento,
visto que é por volta das 14-15 h que a temperatura diária atinge seu máximo.
Já a análise da segunda série revelou a diminuição da quantidade de registros com
temperaturas inferiores ou iguais à 7ºC. Isto está relacionado, possivelmente, com o aumento das
“noites quentes” no inverno. É nesta estação, que as temperaturas são menores e os dias tendem a
apresentar maiores amplitudes térmicas, favorecendo a ocorrência do nevoeiro. O aumento das
“noites quentes” relacionado com a queda da amplitude térmica, pode favorecer a diminuição do
nevoeiro no aeroporto local.

14
Considera-se neste trabalho “noites quentes” aquelas em que a temperatura não foi inferior nem igual a 7ºC.
32

y = 0,42x + 65,7 y = -0,3547x + 25,213


R2 = 0,0028 R2 = 0,01
240
Quantidade Horária de

210
180
Registros

150
120
90
60
30
0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos
Temp>=33ºC Temp<=7ºC Linear (Temp>=33ºC ) Linear (Temp<=7ºC )

Figura 11: Quantidade Horária Anual de Registros de Temperaturas superiores ou iguais à 33ºC e
inferiores ou iguais à 7ºC na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

A Figura 12 refere-se aos totais anuais de precipitação no aeroporto de São José dos
Campos. A regressão linear da série indica uma significativa tendência de diminuição ao longo
dos anos analisados, em torno de 83,7mm por década. O ano de 1983 apresentou o maior total de
precipitação anual, alcançando 1765,2mm. No outro extremo, o ano de 1990 apresentou
894,7mm de precipitação.
y = -8,3744x + 1331,6
R2 = 0,0829
2000
Precipitação (mm)

1750

1500

1250
1000

750

500
1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Anos
Precipitação Linear (Precipitação)

Figura 12: Total de Precipitação Anual na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

Em comparação com as tendências encontradas por Marques (2003) em São Paulo e em


Taubaté, no período de 1983 a 2002, podemos perceber que nas três localidades houve redução
no total de precipitação, sendo mais significativa em São Paulo. A estação meteorológica de São
José dos Campos é a segunda localidade, entre as comparadas, com maior taxa de variação anual,
cujo valor é intermediário entre Taubaté e São Paulo.
33

Tabela 2 – Tendências de precipitação na Estação do IAG-USP, no posto agrometeorológico da


UNITAU e na EMS-SJ no período de 1983 a 2002.

PRECIPITAÇÃO (1983 a 2002)


Taxa de
Variação
Variação Tendência
Total (mm)
Anual (mm)
IAG-USP (São
-9,7466 -194,90 Negativa
Paulo)
Posto
Agrometeorológico -0,549 -11,00 Negativa
UNITAU
EMS-SJ -3,8955 -77,91 Negativa

A Figura 13 exibe a média anual da umidade relativa ao longo dos vinte e três anos. A
série apresenta uma ligeira redução ao longo do tempo, variando de 75% a 82%. A umidade
relativa média da EMS, é de 77,94%. A estimativa de redução, por ano, é de 0,05% apresentando
no final da série, uma média 1,2% menor do que a inicial.

100
Umidade Relativa (%)

90 y = -0,0515x + 78,558
R2 = 0,0251
80

70

60

50
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos Umidade Relativa Linear (Umidade Relativa)

Figura 13: Umidade Relativa Média Anual na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

4.2) Análise temporal do Nevoeiro no aeroporto de São José dos Campos

A quantidade horária anual de nevoeiro, ao longo do período analisado, é apresentada na


Figura 14 com uma acentuada redução ao longo dos anos. O valor do ano de 2004 (final da série)
é praticamente 4 vezes menor do que no ano de 1987 (início da série). A extrapolação linear
simples desta tendência mostra o desaparecimento completo da ocorrência de nevoeiros no ano
de 2015. Obviamente, este prognóstico é simplesmente uma estimativa matemática, mas revela
que existe uma forte tendência na diminuição do fenômeno.
34

y = -6,17x + 210,13
R2 = 0,7023
250
225
Horas de nevoeiro

200
175
150
125
100
75
50
25
0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos

Figura 14: Quantidade horária anual de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

Entretanto, dividindo a série total nos períodos de 1982 a 1989 (Figura 15),
correspondente ao formulário IEMA 105-25, e de 1990 a 2004 (Figura 16), correspondente aos
formulários IEPV 105-13 e IEPV 105-78, verifica-se que, no primeiro período, a série apresenta
uma pequena tendência positiva contrariando a série da figura 14. Entretanto, na análise de
tendência do segundo período, que conta com a classificação WW, a tendência negativa aparece,
evidenciando sua influência deste último período na análise do período total.
y = 1,1905x + 186,89 y = -4,025x + 138,33
R2 = 0,0087 R2 = 0,4885
250 250
225 225
200 200
Horas de nevoeiro

175 175
Horas de nevoeiro

150 150
125 125
100 100
75 75
50 50
25 25
0 0
Anos 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 Anos 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 15: Quantidade horária anual de Figura 16: Quantidade horária anual de
nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 a nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1990 a
1989. 2004.
35

Assim, pode-se deduzir que, a utilização da classificação exclusiva de nevoeiros,


iniciada em abril de 1990, provavelmente, está relacionada com o decréscimo de registros do
fenômeno, realizada pelos observadores. Entretanto, a tendência negativa ainda é evidente ao
longo dos quinze anos.
A Figura 17 apresenta os totais mensais de registros de nevoeiro. O mês de junho foi
no qual se verificou a maior quantidade de registros, seguido dos meses de maio e julho,
meses caracterizados pelas temperaturas mais amenas, noites com pouca nebulosidade e
calmaria, favorecendo a perda de radiação pela superfície, corroborando com Cabral e Romão
(2006), que afirmaram que, no sudeste do país, as estações mais favoráveis à formação de
nevoeiro são outono e inverno.

1000
900
Horas de nevoeiro

800
700
600
500
400
300
200
100
0
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Meses
Figura 17: Quantidade horária mensal de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.

As Figuras 18 a 29 apresentam as quantidades anuais de registros de nevoeiro para os


meses de janeiro a dezembro. Todas as séries temporais apresentam tendência negativa, sendo
mais significativas nos meses de junho, maio e julho (Figuras 23, 22 e 24), na mesma ordem
dos meses com maiores quantidades horárias mensais de registros (Figura 17). Já os meses
que tiveram menores reduções foram, na ordem, os meses de outubro, dezembro e setembro
(Figuras 27, 29 e 26), três dos quatro meses com menores quantidades horárias mensais
(Figura 17). Isso demonstra que a redução de ocorrência de nevoeiro por mês, ao longo do
período considerado, teve uma relação direta com os meses que registraram maiores
quantidades de nevoeiro.
36

y = -0,249x + 6,1621
R2 = 0,2915
14

Quantidade horária de nevoeiro


12

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 18: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em janeiro entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,2105x + 7,2213
R2 = 0,0956
18
Quantidade horária de nevoeiro

16
14
12
10
8
6
4
2
0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 19: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em fevereiro entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,2559x + 11,202
R2 = 0,0968
30
Quantidade horária de nevoeiro

25

20

15

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 20: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em março entre os anos de 1982 e 2004.
37

y = -0,415x + 15,937
R2 = 0,1279
30

Quantidade horária de nevoeiro


25

20

15

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 21: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em abril entre os anos de 1982 e 2004.

y = -1,5593x + 45,407
R2 = 0,5006
70
Quantidade horária de nevoeiro

60

50

40

30

20

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 22: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em maio entre os anos de 1982 e 2004.

y = -1,6166x + 59,225
R2 = 0,3043
90
Quantidade horária de nevoeiro

80
70
60
50
40
30
20
10
0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 23: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em junho entre os anos de 1982 e 2004.
38

y = -0,9644x + 31,66
R2 = 0,193
60

Quantidade horária de nevoeiro


50

40

30

20

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 24: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em julho entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,5711x + 19,593
R2 = 0,3191
30
Quantidade horária de nevoeiro

25

20

15

10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 25: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em agosto entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,0652x + 4,7826
R2 = 0,0122
16
Quantidade horária de nevoeiro

14
12
10
8
6
4
2
0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 26: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em setembro entre os anos de 1982 e 2004.
39

y = -0,0494x + 2,8972
R2 = 0,0129
12

Quantidade horária de nevoeiro


10

0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 27: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em outubro entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,1561x + 3,4822
R2 = 0,0818
16
Quantidade horária de nevoeiro

14
12
10
8
6
4
2
0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 28: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em novembro entre os anos de 1982 e 2004.

y = -0,0563x + 2,5455
R2 = 0,0319
9
Quantidade horária de nevoeiro

8
7
6
5
4
3
2
1
0
Anos 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004

Figura 29: Horas de nevoeiro na EMS-SJ em dezembro entre os anos de 1982 e 2004.
40

Quanto à análise horária do nevoeiro, a Figura 30 apresenta quais seriam os horários


mais comprometedores às atividades aéreas. O horário das 07 h foi o que se verificou a maior
quantidade de registros, seguido das horas anterior e posterior. A concentração do fenômeno
na primeira metade do dia está ligada à formação de nevoeiro de radiação, pois considerando
a afirmação de Cabral e Romão (2006), as regiões de vale são mais propensas à formação de
nevoeiro de radiação.

750

675
Registros de nevoeiro

600

525

450

375

300
225

150

75

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

Horas

Figura 30: Quantidade de registros por hora de nevoeiro na EMS-SJ entre os anos de 1982 e
2004.

A Figura 31 revela as visibilidades mais registradas, de acordo com as orientações de


registro estipuladas pelo Comando da Aeronáutica e especificadas no capítulo três deste
trabalho. As distâncias horizontais foram captadas pelo equipamento de RVR presente no
aeroporto e arredondadas para valores demonstrados no eixo das abscissas da Figura 31.
Pode-se verificar uma boa distribuição dos registros o que pode ser explicado pela dispersão
gradual do fenômeno. Entretanto, e apesar de não ser o objetivo deste trabalho, verifica-se
uma possível preferência dos observadores em registrar o fenômeno de cem em cem metros.
41

500
450
400

Horas de nevoeiro 350


300
250
200
150
100
50
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800 900

Visibilidade (m)
Figura 31: Freqüência dos registros de visibilidade nos casos de nevoeiro na EMS-SJ entre os
anos de 1982 e 2004.

Em relação à classificação operacional, utilizada pelo Comando da Aeronáutica


(Tabela 3), a partir do formulário IEPV 105-13, os tipos de nevoeiros mais freqüentes no
aeroporto estão expostos na figura 32. A maior ocorrência de nevoeiro, classificado como 46,
é explicada porque este inclui o início e a intensificação do nevoeiro.

600
Quantidade de horas

500
400

300

200
100
0
11 12 41 42 43 44 45 46 47 48 49
WW

Figura 32: Tipos de nevoeiros mais freqüentes na EMS-SJ no período de 1990 a 2004
42

Tabela 3: Tabela 4677 (WW).


WW Descrição Observação
11 Em bancos Camada fina de nevoeiro ou de nevoeiro gelado
na estação, quando em terra sua espessura não é
12 Mais ou menos contínua superior a 2 metros e no mar a 10 metros

Nevoeiro ou nevoeiro
41
glacial em bancos

Nevoeiro ou nevoeiro
42
glacial, céu visível
Tornou-se mais fraco durante a hora precedente
Nevoeiro ou nevoeiro
43
glacial, céu invisível

Nevoeiro ou nevoeiro
44
glacial, céu visível Sem mudança apreciável durante a hora
precedente
Nevoeiro ou nevoeiro
45
glacial, céu invisível

Nevoeiro ou nevoeiro
46
glacial, céu visível Começou ou tornou-se mais forte durante a hora
precedente
Nevoeiro ou nevoeiro
47
glacial, céu invisível

Nevoeiro, depositando
48
escarcha, céu visível

Nevoeiro, depositando
49
escarcha, céu invisível
Fonte: Adaptada de MCA 105-10.

Analisando a série horária de nevoeiro a partir de 1982 (Figura 33), é evidente a


diminuição da quantidade de registros do fenômeno ao longo dos anos. Esta diminuição foi
mais significativa na seguinte ordem de horários: às 06 h, às 05 h, às 07 h, às 08 h, às 09 h e
às 10 h. A partir de 1992, o horário mais comprometedor passou a ser às 07 h e assim
permaneceu até o final do período.
43

50
45
40
35
30
25
20
15
10
5

Quantidade de Registros
0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Anos 05 h 06 h 07 h 08 h 09 h 10 h

Figura 33: Quantidade de registros de nevoeiro entre os horários das 05 h às 10 h na EMS-SJ entre os anos de 1982 e 2004.
44

Com isso, procurou-se identificar os três horários com maiores ocorrências (05 h, 06 h
e 07 h), associando às médias da umidade relativa e às médias da temperatura do ar nos
horários correspondentes. Assim, buscou-se investigar uma possível associação dos horários
mais freqüentes da ocorrência de nevoeiro com aumento da temperatura e o decréscimo da
umidade.
Em virtude do registro de umidade relativa ter sido realizado apenas em horários
sinóticos no formulário IEMA 105-25 (utilizado até março de 1990), realizou-se a análise a
partir dos dados de abril de 1990, como exposto na Figura 34.
As temperaturas médias dos horários analisados tiveram pouca alteração, sendo que as
temperaturas das 05 h e das 06 h apresentaram valores semelhantes, e a temperatura das 07 h,
um valor superior de, aproximadamente, 1ºC.
A análise da umidade relativa média revelou significativa tendência de redução nos
horários selecionados, especialmente a partir de 1999. A queda da umidade nos horários mais
favoráveis à ocorrência de nevoeiro, pode contribuir para justificar o declínio do fenômeno de
nevoeiro, visto que além de significativa perda radiativa, a presença de umidade é
fundamental para a condensação dos núcleos higroscópicos ou, núcleos de condensação.

100 19,0
Umidade Relativa (%)

98
18,5

Temperatura (ºC)
96
94 18,0
92
17,5
90
88 17,0
86
16,5
84
82 16,0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Anos Umidade das 05 h Umidade das 06 h Umidade das 07 h


Temperatura das 05 h Temperatura das 06 h Temperatura das 07 h

Figura 34: Média da Umidade Relativa e da Temperatura do Ar nos horários das 05 h, 06 h e


07 h na EMS-SJ entre os anos de 1990 a 2004.

4.3 O Nevoeiro no local do estudo

Procurando contribuir com a caracterização do nevoeiro no aeroporto de São José dos


Campos, decidiu-se apresentar um estudo de um caso ocorrido em 2008, a respeito do tema
abordado.
45

Segundo as mensagens de METAR, pela página interna da REDEMET15 do Comando da


Aeronáutica, o nevoeiro do dia 06/06/2008 iniciou-se às 03 h local e permaneceu até às 10 h
local, restringindo a visibilidade em até cem metros nos horários das 04 h às 08 h local.

Figura 35 – Aeroporto de São José dos Campos, com visibilidade comprometida pelo
nevoeiro, restrita a 400 metros, foto tirada dia 06/06/2008 às 09 h 30 min.

Neste dia, o aeroporto ficou fechado para pousos e decolagens, desde as 03 h até às 10
h, prejudicando aeronaves que tinham como destino a cidade, visto que neste dia iniciava-se
uma feira de aviação de caráter civil.
O fenômeno também pode ser identificado pelas imagens do satélite GOES 10,
específico para o estudo meteorológico, como se pode ver nas Figuras 36 e 37.

15
Rede de Meteorologia do Comando da Aeronáutica. A página também está disponível para o público externo,
no endereço <www.redemet.aer.mil.br>
46

Figura 36 – Imagem do satélite GOES 10 com destaque para nevoeiro e/ou nuvem do tipo
Stratus, do dia 06/06/2008 às 06 h local, com destaque ao Vale do Paraíba-SP.
Fonte: INPE, 2008.

Figura 37 – Imagem do satélite GOES 10, no canal visível, dia 06/06/2008 às 07 h 45 min
local, com destaque ao Vale do Paraíba-SP.
Fonte: INPE,2008.
47

5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

As tendências nas séries temporais de temperatura do ar, no período de 1982 a 2003,


apontaram um aumento de, aproximadamente, 0,61ºC para as médias das máximas, 0,47ºC
para as médias e 0,22 ºC para as médias das mínimas. Os resultados corroboram com o que
foi encontrado por Marques (2003), para a estação meteorológica do IAG-USP, em São
Paulo, e para o posto agrometeorológico da UNITAU, em Taubaté, no período de 1995 a
2002. O aumento das médias das máximas, no caso de São Paulo e Taubaté, refletiu nas taxas
de variação anual das temperaturas médias, que se mostraram um pouco mais significativas
que o aumento das médias das mínimas. A EMS-SJ apresentou taxas de variação anual
inferiores às outras localidades na análise das temperaturas médias e nas médias das máximas.
Já na análise das médias das mínimas, São José dos Campos apresentou uma elevação
superior à de Taubaté e inferior a São Paulo. Verifica-se que São Paulo foi a localidade que
apresentou maior aquecimento dentre as localidades comparadas, possivelmente em virtude
de influências antrópicas e por ser também uma megacidade.
Entretanto, comparando as taxas de variação anual no período de 1995 a 2002, em
torno de 0,02ºC para as médias das máximas, 0,05ºC para as médias e 0,05ºC para as médias
das mínimas, com as taxas no período de 1982 a 2004, respectivamente, com valores em torno
de 0,03ºC, 0,02ºC, 0,01ºC, as mesmas apresentaram algumas variações, embora as tendências
permaneçam positivas. Portanto, é prudente sugerir que essas oscilações sejam apenas uma
variabilidade natural do clima na região.
A análise das temperaturas absolutas anuais para máximas e mínimas relevou uma
pequena tendência de elevação para as máximas, na ordem de 0,2ºC por década, e um
pequeno decréscimo das mínimas, em torno de 0,1ºC por década.
A quantidade horária anual de registros de temperatura superiores ou iguais à 33ºC
mostrou uma tendência positiva ao longo do tempo, cujos valores estiveram em torno de 0,42
registros por ano. Este fato pode estar relacionado com o aumento quantitativo de tardes mais
quentes, ou o seu prolongamento, visto que das 14 h às 15 h a temperatura diária atinge seu
máximo. Já a quantidade horária anual de temperaturas inferiores ou iguais à 7ºC, apresentou
uma tendência negativa, com redução na quantidade de ocorrências em torno de 0,35 registros
por ano. Em virtude deste comportamento, pode-se sugerir que houve um aumento das “noites
quentes” no inverno, estação do ano em que as temperaturas atingem menores valores e as
amplitudes térmicas tornam-se maiores, fato que desfavorece a ocorrência de nevoeiro.
48

A análise dos totais de precipitação anual, no período de 1982 a 2004, estima um


decréscimo em torno de 83,7mm por década. Comparados aos resultados encontrados por
Marques (2003), no período de 1983 a 2002, São José dos Campos apresentou uma tendência
intermediária em relação a São Paulo e Taubaté, com redução de, aproximadamente, 40mm
por década. Apesar da diferença entre os decréscimos encontrados por década ser mais que o
dobro, em relação ao primeiro período, a média anual de precipitação na EMS-SJ foi
semelhante, com 1231,2mm no primeiro período e 1238,2mm no segundo período. A
diferença se deve a inclusão dos anos de 2003, 2004, com totais de precipitação inferiores à
média anual, no final da série, e a inclusão de 1983, com total acima da média, no início da
série, afetando o coeficiente angular da reta de regressão linear.
A média anual da umidade relativa indicou uma pequena redução, na ordem de 1,2%
em relação ao valor inicial de umidade no início da série.
Na segunda parte dos resultados deste trabalho, foram caracterizadas a quantidade e a
freqüência do nevoeiro no aeroporto de São José dos Campos. Primeiramente, foi
diagnosticada uma forte tendência de redução de nevoeiro. A partir de 1990, quando foi
adotada a classificação WW, que englobaria casos específicos como o de nevoeiro, houve um
decréscimo acentuado nos registros, fato que pode ser atribuído a modificação no registro do
fenômeno em relação ao período do formulário anterior. Entretanto, a tendência negativa
persiste e se apresenta em todos os meses do ano.
Os meses com maior quantidade de registros de nevoeiro são, em ordem decrescente,
junho, maio e julho, sendo estes com maiores tendências de redução ao longo dos anos
analisados.
Os horários mais comprometedores para as atividades aéreas no Aeroporto de São José
dos Campos são os do início da manhã, sendo alguns com formação mais prematura (noite
anterior e primeiras horas do dia). A concentração do fenômeno nestes horários caracteriza a
presença de nevoeiro de radiação.
As visibilidades registradas estão bem distribuídas, em virtude da dispersão gradual do
fenômeno. Entretanto, dentre os registros horários de ocorrência de nevoeiro, implicaram no
fechamento do aeródromo, por restrição de visibilidade, 72% dos registros, para decolagem
(600 metros), e 83% dos registros, para pouso (800 metros). Este resultado revela o impacto
do nevoeiro nas atividades aéreas, e com a tendência da diminuição do fenômeno, estes
problemas tendem a diminuir.
De acordo com a classificação operacional do nevoeiro, a maior parte dos registros
refere-se ao início ou a intensificação do nevoeiro de céu visível. A ocorrência de nevoeiro de
49

céu visível mostrou-se mais recorrente, pois necessariamente também inclui os registros
anteriormente classificados de céu invisível, e que tiveram uma dispersão da nebulosidade
baixa e conseqüente aumento da visibilidade vertical.
A análise dos principais horários mais comprometedores, das 05 h às 10 h, confirmou
a tendência de diminuição do nevoeiro. No período de 1990 a 2004, procurou-se associar os
três horários mais críticos (05 h, 06 h e 07 h) com as médias da umidade relativa e da
temperatura do ar. A análise revelou uma significativa tendência de redução da umidade,
especialmente a partir de 1999, fato que pode estar relacionado com a redução do nevoeiro,
pois a presença de umidade é fundamental para a condensação dos núcleos higroscópicos.
O objetivo deste trabalho foi o de caracterizar a ocorrência de nevoeiro no Aeroporto
de São José dos Campos a fim de buscar respostas aos questionamentos elaborados na
introdução desta monografia. Entretanto, este trabalho pode ser estendido em virtude da
insipiência de estudos sobre o tema, em especial no Vale do Paraíba.
Infelizmente, a maior dificuldade está em obter dados reais, cujo registro está restrito a
estações meteorológicas que contam com um profissional observador, tornando os aeroportos
os principais fornecedores de informações desta natureza.
50

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMANDO DA AERONÁUTICA (COMAER). Manual de Auxílio de Rotas Aéreas:


ROTAER. Rio de Janeiro: Departamento de Controle do Espaço Aéreo, 2005.

_____.Manual de Estações Meteorológicas de Superfície: MCA 105-2. Rio de Janeiro:


Departamento de Controle do Espaço Aéreo, 2004.

_____.Apostila de Meteorologia para BCT. Guaratinguetá: Escola de Especialistas da


Aeronáutica, 2005.

CABRAL, E.Climatologia dos nevoeiros no Aeroporto de Guarulhos. SIPAER, São Paulo, n.


57, p. 262-268, 1998.

CABRAL, E.; ROMÃO, M. Estação dos nevoeiros. AeroMagazine, São Paulo, v. 13, n. 146,
p. 32-34, 2006.

CUNHA,A.E.S; MAIA,L.F.P.G. Análise da Visibilidade nos Aeroportos da Cidade do Rio


de Janeiro. Departamento de Meteorologia/IGEO/CCMN/UFRJ. Grupo de Estudos e
Aplicações em Meteorologia Aeronáutica – GEAMA. Rio de Janeiro: Universidade Federal
do Rio de Janeiro, 2004.

FRIEDLEIN,M.T. Dense Fog Climatology: Chicago O’Hare International Airport, July 1996-
April 2002. American Meteorological Society,2004.

EMPRESA BRASILEIRA DE INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA (INFRAERO).


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