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DIREITO CONSTITUCIONAL

AULA 1

Teoria Geral da Constituição

1. INTRODUÇÃO

O Direito é um todo. Sua divisão ocorre somente para fins didáticos. O


Direito Constitucional, de acordo com tal subdivisão, pertence ao ramo do
Direito Público, uma vez que regula e interpreta normas fundamentais do
Estado.

O Direito Constitucional é um ramo particularmente marcado por sua


historicidade, pois se desenvolve em paralelo à evolução do Estado de Direito,
abrangendo desde o liberal, de cunho negativo, ao atual, necessariamente
intervencionista.

De acordo com o conceito de José Afonso da Silva, Direito Constitucional


“é o ramo do direito público que expõe, interpreta e sistematiza os princípios e
normas fundamentais do Estado”.

1.1. Constituição

Constituição é a organização jurídica fundamental do Estado.

As regras do texto constitucional, sem exceção, são revestidas de


supralegalidade, ou seja, possuem eficácia superior às demais normas. Por isso
se diz que a Constituição é norma positiva suprema (positiva, pois é escrita).

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A estrutura do ordenamento jurídico é escalonada. Essa idéia remonta a


Kelsen, sendo que todas as normas situadas abaixo da Constituição devem ser
com ela compatíveis. A isso se dá o nome de relação de compatibilidade
vertical (RCV).

CF

Demais normas

No ápice da pirâmide estão as normas constitucionais; logo, todas as


demais normas do ordenamento jurídico devem buscar seu fundamento de
validade no texto constitucional, sob pena de inconstitucionalidade.

Basta que a regra jurídica esteja na Constituição Federal para ela ser
revestida de supralegalidade.

Na Constituição Federal de 1988, existem regras formalmente


constitucionais (RFC) e regras materialmente constitucionais (RMC).

1.2. Regras Materialmente Constitucionais

Regras materialmente constitucionais são as regras que organizam o


Estado. Somente são materialmente constitucionais as regras que se
relacionam com o “Poder” e que tratam de matéria constitucional,
independentemente de estarem ou não dispostas na Constituição, a exemplo
da Lei Complementar n. 64/90, que traça as hipóteses de inelegibilidades para
os cargos dos Poderes Executivo e Legislativo, e do Estatuto do Estrangeiro.

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Modo de Aquisição
Modo de Exercício

Elementos Limitativos
Elementos Orgânicos (enunciação dos direitos
ou Organizacionais (são fundamentais das
as regras que organizam PODER pessoas. Sistema de
o Poder) Garantia das Liberdades)

Elementos Socioideológicos
(princípios da ordem econômica
e social)

1.2.1. Exemplos de regras materialmente constitucionais

• A forma de Estado (Federal), a forma de governo (República) e o


regime de governo (Presidencialista) são definidos em regras jurídicas
que organizam o Poder.

• A Constituição Federal deve enunciar os direitos fundamentais dos


indivíduos. Quando se enunciam esses direitos, automaticamente é
definido um limite ao eventual exercício arbitrário do poder.

1.3. Regras Formalmente Constitucionais

Todas as regras dispostas no texto constitucional são formalmente


constitucionais, no entanto, algumas delas podem ser também regras
materialmente constitucionais. O fato de uma regra estar na Constituição
imprime a ela o grau máximo na hierarquia jurídica, seja ela regra material,
seja regra formal. O grau de rigidez também é o mesmo para toda norma
constitucional, independentemente de ser ela material ou formal.

As regras formalmente constitucionais podem ser observadas nos


seguintes exemplos: os artigos 182 (que trata da política de desenvolvimento
urbano) e 242, § 2.º, ambos da Constituição Federal de 1988. Essas regras,
sob o ponto de vista material, não são regras que tratam de matéria
constitucional. No entanto, devido ao fato de estarem dispostas na
Constituição, são regras formalmente constitucionais.

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1.4. Concepções sobre as Constituições

1.4.1. Sentido sociológico

Para Ferdinand Lassalle, a Constituição é a “soma dos fatores reais do


poder que regem nesse país”, sendo a Constituição escrita apenas uma “folha
de papel”. Para Lassalle, Constituição legítima é a que representa o efetivo
poder social.

1.4.2. Sentido político

Carl Schmitt concebe a Constituição no sentido político, pois para ele


Constituição é fruto da “decisão política fundamental” tomada em certo
momento. Para Schmitt há diferença entre Constituição e lei constitucional; é
conteúdo próprio da Constituição aquilo que diga respeito à forma de Estado, à
forma de governo, aos órgãos do poder e à declaração dos direitos individuais.
Outros assuntos, embora escritos na Constituição, tratam-se de lei
constitucional (observe-se que essas idéias estão próximas as de Constituição
material e formal).

1.4.3. Sentido jurídico

A Constituição também pode ser vista apenas no sentido jurídico. Para


Hans Kelsen, Constituição é considerada “norma pura”, puro “dever-ser”, sem
qualquer pretensão à fundamentação sociológica, política ou filosófica. Ao
defender essas idéias, Kelsen ressalta a diferença entre o Direito e as demais
ciências, sejam naturais ou sociais. O cientista do Direito deve buscar soluções
no próprio sistema normativo.

Kelsen concebe a palavra Constituição em dois sentidos:

• lógico-jurídico: norma fundamental hipotética;

• jurídico-positivo: conjunto de normas que regula a criação de outras


normas; nesse sentido, Constituição é a norma positiva suprema.

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

2.1. Quanto ao Conteúdo

• Constituição material ou substancial: é o conjunto de regras


materialmente constitucionais, que regula a estrutura do Estado, a
organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. Tais regras
podem ou não estar na Constituição. Há, por exemplo, regras
materialmente constitucionais disciplinadas em lei ordinária, como o
já citado Estatuto do Estrangeiro.

• Constituição formal: é o conjunto de regras jurídicas, inseridas no


texto unitário da Constituição escrita, diga ou não respeito à matéria
constitucional. Exemplo: o artigo 14, § 4.º, da Constituição Federal,
que trata da inelegibilidade, é regra formal e materialmente
constitucional porque delineia o modo de aquisição e exercício do
poder. Mas os casos de inelegibilidade não são apenas os previstos
nesse dispositivo; a Lei Complementar n. 64, de 18.5. 1990 disciplina
outras hipóteses, em consonância com o prescrito no § 9.º do próprio
artigo 14.

2.2. Quanto à Forma

• Constituição não-escrita, costumeira ou consuetudinária: é a


Constituição em que as normas não constam de um documento único
e solene. Suas fontes são: os usos e costumes, os precedentes
jurisprudenciais e os textos escritos esparsos (atos do Parlamento).
Na Constituição costumeira, os textos escritos não são as únicas
fontes constitucionais, mas sim apenas uma parte delas. Existem
textos escritos nessas constituições; no entanto, a maioria das fontes
constitucionais é de usos e costumes; os textos não são consolidados,
podendo haver entre eles um período de até 400 anos. O melhor
exemplo de Constituição não-escrita é a Constituição do Reino Unido.

• Constituição escrita: é composta por um conjunto de regras


codificadas e sistematizadas em um único documento.

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2.3. Quanto à Extensão ou ao Modelo

• Constituição sintética: é a Constituição concisa. A matéria


constitucional vem predisposta de modo resumido1 (exemplo: a
Constituição dos Estados Unidos da América, que tem 7 artigos e 26
emendas).

• Constituição analítica: caracteriza-se por ser extensa,


minuciosa. A Constituição brasileira é o melhor exemplo.

2.4. Quanto ao Modo de Elaboração

• Constituição dogmática: reflete a aceitação de certos dogmas, ideais


vigentes no momento de sua elaboração, reputados verdadeiros pela
ciência política.

• Constituição histórica: é a Constituição não-escrita,


resultante de lenta formação histórica. Não reflete um trabalho
materializado em um único momento.

2.5. Quanto à Ideologia

• Eclética, pluralista, complexa ou compromissória: possui uma linha


política indefinida, equilibrando diversos princípios ideológicos.
Conforme entende Manoel Gonçalves Ferreira Filho, no fato de a
Constituição Federal ser dogmática na sua acepção eclética consiste o
caráter compósito de nosso dogmatismo (heterogêneo).

• Ortodoxa ou simples : possui linha política bem definida,


traduzindo apenas uma ideologia.

2.6. Quanto à Origem ou ao Processo de Positivação

• Constituição promulgada, democrática ou popular (votada ou


convencional): tem um processo de positivação proveniente de acordo
ou votação. É delineada por representantes eleitos pelo povo para
exercer o Poder Constituinte (exemplo: a Constituição de 1988).

1
BULHOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001.p. 10.
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• Constituição outorgada: é imposta por um grupo ou por uma pessoa,


sem um processo regular de escolha dos constituintes, ou seja, sem a
participação popular (exemplo: a Constituição brasileira de 1937).

Observação: há uma tendência na doutrina de se restringir o uso


da expressão Carta Constitucional somente para a Constituição
outorgada (exemplo: a Carta de 1969) e Constituição apenas para os
textos provenientes de convenção (exemplo: a Constituição de 1988).

• Constituição Cesarista ou Bonapartista: assim chamada pela doutrina,


nada mais é do que uma Constituição outorgada que passa por uma
encenação de um processo de consulta ao eleitorado, para revesti-la
de aparente legitimidade.

• Constituição “dualista” ou “pactuada”: citada pela doutrina, essa


Constituição caracteriza-se por ser fruto de um acordo entre o
soberano e a representação nacional.

2.7. Quanto à Estabilidade, à Mutabilidade ou à Alterabilidade

• Constituição rígida: para ser modificada necessita de um processo


especial, mais complexo do que o exigido para alteração da legislação
infraconstitucional. A Constituição Federal do Brasil é um exemplo.

• Constituição flexível ou não-rígida: pode ser modificada por


procedimento comum, o mesmo utilizado para as leis ordinárias.

• Constituição semi-rígida: contém uma parte rígida e outra flexível.


Exemplo: a Constituição do Império de 1824, que previa, em seu
artigo 178, a modificação das regras materialmente constitucionais
por procedimento especial e a modificação das regras formalmente
constitucionais por procedimento comum.

2.8. Quanto à Função

Esta classificação, apresentada por José Joaquim Gomes Canotilho, não


apresenta categorias que sejam logicamente excludentes, ou seja, a
Constituição poderá receber mais de uma destas classificações:

• Constituição garantia, quadro ou negativa: é a clássica, enunciando os


direitos das pessoas, limitando o exercício abusivo do poder e dando
uma garantia aos indivíduos. Originou-se a partir da reação popular

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ao absolutismo monárquico. É denominada quadro porque há um


quadro de direitos definidos e negativa porque se limita a declarar os
direitos e, por conseguinte, o que não pode ser feito.

• Constituição balanço: é um reflexo da realidade. É a “Constituição do


ser”. Um exemplo é a Constituição da extinta URSS, de 1917.

• Constituição dirigente: não se limita a organizar o poder, mas


também preordena a sua forma de atuação por meio de “programas”
vinculantes. É a “Constituição do dever-ser”. A nossa Constituição
Federal inspirou-se no modelo da Constituição portuguesa.

Observações:

1. Programas constitucionais: devem ser desenvolvidos por quem


se encontre no exercício do poder.

2. Direção política permanente: é imposta pelas normas


constitucionais.

3. Direção política contingente: imposta pelos partidos políticos


que se encontram no governo.

3. HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

• 1824: positivada por outorga. Constituição do Império do


Brasil. Havia um quarto poder: o Poder Moderador.

• 1891: positivada por promulgação. Primeira Constituição da


República.

• 1934: positivada por promulgação.

• 1937: positivada por outorga (Getúlio Vargas). Apelidada de


Constituição “Polaca”.

• 1946: positivada por promulgação. Restabeleceu o Estado


Democrático.

• 1967: positivada por outorga. (há quem sustente ter sido


positivada por convenção, pois o texto elaborado pelo Governo
Militar foi submetido ao referendo do Congresso Nacional antes de
entrar em vigor).
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• 1988: positivada por promulgação (Constituição Cidadã).

Observação: em 1969 foram efetivadas várias alterações por meio da


Emenda Constitucional n. 1/69, que para alguns autores caracteriza uma
Constituição outorgada.

4. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

A Constituição Federal de 1988 possui a seguinte classificação:

• quanto ao conteúdo: formal;

• quanto à forma: escrita;

• quanto à extensão: analítica;

• quanto ao modo de elaboração: dogmática;

• quanto à ideologia: eclética;

• quanto à origem: promulgada;

• quanto à estabilidade: rígida;

• quanto à função: garantia e dirigente.

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