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Introdução aos

métodos de datação

Oswaldo Baffa
Departamento de Física e Matemática
FFCLRP-USP
baffa@usp.br
Por que datar ?
• Em ciência e na vida cotidiana algumas
perguntas freqüentes são:
– Como ?
– Onde ?
– Por quê ?
– Quando ?
Fonte: Folha de São Paulo-20/05/2008 - 09h02
Estudo de ocupação da América revê identidade de Luzia
CLAUDIO ANGELO-Editor de Ciência da Folha de S.Paulo
Uma digreção:
Mas afinal o que é o tempo ?
Como medir o tempo?
• Vejamos o dicionário Aurélio- esse substantivo (um
dos mais longos verbetes) aparece adjetivado em
pelo menos 40 situações! Trata-se de termo
complexo, que até mesmo um dicionário, que deve
ser sintético, encontra dificuldades em definir.
– A sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc..., que
para o homem envolve a noção de presente, passado e
futuro, ou... O tempo é um meio contínuo e indefinido no
qual os acontecimentos parecem suceder-se em
momentos irreversíveis.. Alguns dizem afirmam que
tempo é aquilo que acontece quando nada acontece !
Nada muito informativo…
A Física e o Tempo
• Como ciência experimental quantitativa a Física
tem na medida do tempo um de seus pilares
para expressar quantitativamente os seus
resultados. Muitas Unidades que no passado
tinham uma definição independente, hoje são
referenciados ao tempo. A unidade de tensão
elétrica por exemplo, ou o Volt, já foi definida em
função de uma célula eletrolítica padrão, e
modernamente é referenciada em termos uma
freqüência produzida em um Junção Josephson,
portanto em relação ao tempo.
O movimento periódico
dos astros serviu no
passado para marcar a
passagem do tempo.
Encontram-se vestígios
em todas as civilizações
conhecidas.
Atividades religiosas e sociais necessitavam de uma
demarcação do tempo ao longo dos dias e relógios mais
sensíveis foram desenvolvidos

Su Sung
egípcios 1088 DC
~3.500 AC
Curioso “relógio” em exposição
no museu de ciências de Tóquio
O Experimento de Galileu
Nascimento da Física
Galileu utilizou o seu próprio
pulso como uma base de
tempo. Soltando uma esfera
em um plano inclinado,
observou que a distância ao
longo do plano marcada nos
tempos 1, 2, 3, ... era de 1,
4, 9, .... unidades. Com isso
foi possível estabelecer que
a distância D percorrida era
proporcional ao tempo
elevado ao quadrado (D 
Relógios Mecânicos

• A Idade Média foi pródiga no


desenvolvimento de relógios mecânicos.
A maioria deles baseava-se no
movimento de um peso e um
mecanismo de escape. Esses
instrumentos não tinham muita precisão,
devido ao atrito e falta de controle da
força aplicada.
Relógios com Pêndulo

• Galileu foi o primeiro a estudar o movimento


pendular e mostrar que o seu período era
dado pela relação:
1 l
T
2 g
• Sanctorius (1602)-Propos o Pulsologium- o
período de pulsação é medido pelo
comprimento do pêndulo.
Christiaan Huygens
• Em 1656- Construiu o primeiro relógio a
pêndulo com uma precisão de 1
minuto/dia
• Em 1675- Construiu um oscilador baseado
em um sistema mola-roda que permitiu a
construção de relógios com uma precisão
de 10 minutos/dia
Warren Marrison desenvolveu o primeiro
relógio de quartzo em 1927.

Os cristais de
quartzo do
relógios de pulso
possuem várias
formas e
Relógio Atômico-Césio-133

1957- 1segundo=9.192.631.770 oscilações do


Césio-133
Satélite para Transmissão de
Padrões de Tempo
Como medir o tempo?
Métodos de Datação

Decaimento Temperatura
Radioativo, Taxa de
Dose Crescimento
U, Th, K, 14C Cristalização

Disparo
Controle

Concentração
Mostrador
de Radicais
Livres (ESR)
C-14 e outros materiais
C-14
produzido na
alta atmosfera
por raios
cósmicos. U238
e Th232 e K40
produzem
radiação ,  e

Adaptado de
Ikeya, 1993
• Série Urânio e
Tório utilizadas
para datação.
Partículas alfa e
beta são
emitidas. As
caixas em verde
são dos
isótopos
utilizados para
datação.
Efeitos das Radiações
Ionizantes
Ikeya, 1993
Dosimetria por Luminescência

EXPOSIÇÃO à
RADIAÇÃO

Detector de Radiação
\
(cristal isolante)

Adaptado de E. Yukihara – OK State


Dosimetria por Luminescência

ARMAZENAMENTO

Adaptado de E. Yukihara – OK State


Dosimetria por Luminescência

LEITURA

Emissão
de luz
(e.g.,
azul, UV)
Estimulação
térmica
(aquecimento)
Adaptado de E. Yukihara – OK State
Dosimetria por Luminescência

LEITURA
Estimulação
por luz
(verde)
Emissão
de luz
(azul, UV)

Adaptado de E. Yukihara – OK State


Dosimetria por Luminescência

LEITURA
Detetores Luminescentes
Opticamente Estimulados Estimulação
(OSLDs): Al2O3:C por Luz
( verde)
Emissão
de luz
(azul, UV)
DetetoresTermoluminescentes Estimulação
(TLDs): térmica
LiF:Mg,Ti, CaF2 (aquecimento)

Adaptado de E. Yukihara – OK State


Dosimetria por TL

6
Luz
units)

5
Intensity (arb.de

4
Intensidade

3
Proporcional
2 à dose
radiação
Light

0
100 200 300 400
Temperatura (oC)
Temperature (ºC)
Dosimetria por OSL ou LOE

400
units)
de Luz

300
Intensity (arb.

200
Intensidade

100 Proporcional à
dose radiação
Light

0
0 100 200 300 400 500 600
Tempo
Time (s)
Quantidade medida
Energia média depositada no material
Dose absorvida =
massa do material

d 10

D [J kg-1 = Gy] 8

Light Intensity
dm 6 5

y
2

G
m
5
2.
0
0 1 2 3 4 5
Dose of radiation (mGy)

Radiação • Fótons com alta energia (Raios-X e gama)


ionizante • Partículas carregadas com alta energia (elétrons, prótons, núcleos )
• Nêutrons
Espectroscopia de Ressonância
Spin Eletrônica

E
+½gH

h
-½gH

Hr H
E  h  gH r
[Swartz, 1972]
Espectrometro de ESR Banda X
Parâmetros: H0= 325 mT (3250 G); H= 20 mT (200 G)
e 4 mT (40 G); t = 2 min; f  9.09 GHz; fm = 100
kHz; P : 5-200 mW; Hm: 0.05-1.6 mT (0.5- 16 G).
Espectrômetro de ESR
Banda- K (24 GHz)
Etapas para a obtenção da dose
arqueológica
Método da dose aditiva

[Ikeya,1993]
D0 = ??? A0
Amplitude
A3

A1 A2
D0 +D1
A1
A0
D0 +D1+ D2 A2

D0 D1 D2 D3 Dose
D0 +D1+ D2 + D3 A3
Ajuste linear (A) e exponencial (B) para a
curva da intensidade RSE em função da
Dose Aditiva.

Passado Futuro Passado Futuro


3 , 3 ,
t (10 anos) t (h) t (10 anos) t (h)
Is

Intensidade
Intensidade

-(Q+AD)/SD
I=Is[1-e ]
, ,
(Q=D t )
I(Q)=I0(1+Q/AD)
, ,
(Q = D t ) AD
AD

-10 0 10 20 30 40 50
-15 -10 -5 0 5 10 15 20 25 30
, , , ,
Dt (A) Dose Aditiva D t Dt (B) Dose Aditiva D t
Como Calibrar a Escala de Tempo?

M. Ikeya. New Applications of Electron Spin


Resonance. Dating Dosimetry and
Microscopy. World Scientific, 1993
• Interação da
radiação
com os
fósseis

Extraído de
R. Grün 2006
Datação por ESR
AD AD = Dose Acumulada
Idade 
Dan Dan = Taxa de Dose Anual

Raios Cósmicos : 0,25 mGy/ano

Dan  238U; 232Th; 40K concentração


K2O (1%)  0,0678 mGy/ano (raios )
0,2030 mGy/ano(raios  )
Equilíbrio radioativo :
1 ppm 238U  Dan = 0,0628794 Ei
1 ppm 232Th  Dan = 0,00205514 Ei
Curva de Calibração --ED
versus Idade Conhecida
Pet-Petralona, Aki-
Akiyoshi, Do-Doura,
Pek-Peking, Ya-
Yamashita-cho, Am-
Amud, Hei-
Heidelberg, J(P)-
Jawa-Puchangan,
St-Steinheim, K-
Kamakura-era, Jo-
Jomon-era

Extraído de Ikeya,
1993
Faixas aproximadas dos métodos
de datação.

(adaptado de Rink, 1997)


Datação de Sambaquis
Espectro de ESR de um pedaço
de osso Fóssil ~ 2Ka
2+
Mn
120
140

120
Intensidade
100
100 B
80
Intensity (A.U.)

60

40

80 20
Dating Signal
0

-20 A
-40
60
-60
-2 0 2 4 6 8 10

40

280 300 320 340 360 380 400

Magnetic Field (mT)


Caverna
Botuverá
Santa
Catarina

• Dissolução do solo:
CaCO3 + H2O + CO2  Ca(HCO3)2
Resultados

Tempo: 3.000
anos
De fósseis para os
Animais

Fósseis de Ponta da
Flecha- Vale do Ribeira-
SP
Sinais de ESR de
Dentina e Esmalte
-5
Dentine + 0 Gy 1.5x10
Dentine + 100 Gy
-6
3.0x10

-6
2.0x10
-5
1.0x10

ESR Signal (Volts)


-6
1.0x10
ESR Signal (Volts)

0.0 5.0x10
-6

-6
-1.0x10

-6
0.0
-2.0x10

-6
-3.0x10

-6
-5.0x10
-6
-4.0x10

332 334 336 338 340 342 344 332 334 336 338 340 342 344

Magnetic Field (mT)


Magnetic Field (mT)

-4
1.2x10
Enamel + 0 Gy Enamel + 100 Gy
-5
2.0x10
-4
1.0x10

-5
1.5x10 -5
8.0x10
ESR Signal (Volts)
ESR Signal (Volts)

-5 -5
1.0x10 6.0x10

5.0x10
-6 4.0x10
-5
g^
-5
2.0x10
0.0
g//
0.0
-6
-5.0x10
-5
-2.0x10

-5
-1.0x10
-5
-4.0x10

-5
-1.5x10 -6.0x10
-5

332 334 336 338 340 342 344 332 334 336 338 340 342 344

Magnetic Field (mT) Magnetic Field (mT)


Crescimento do sinal de ESR de um
dente pre-molar deToxodon platensis (sp)

180
160 Enamel
ESR Signal (A.U.)

140
120
100

I ( D)  I 0 1  D / AD 
80
60
40
20
0
-20 0 20 40 60 80 100
Dose (Gy)
16
14
ESR Signal (A.U.)

12 Dentine
10
8 Irradiado com 60Co
6
4
2
0
-20 0 20 40 60 80 100
Dose (Gy)
Megafauna Brasileira

Haplomastodon waringi (Holland) Xenorhinotherium (Cartele & Lessa )


ESR DATING AT K AND X BAND OF NORTHEASTERN BRAZILIAN MEGAFAUNA
Angela Kinoshita, Alcina Magnólia Franca, José Augusto Costa de Almeida, Ana Maria Figueiredo, Patricia
Nicolucci, Carlos F. O. Graeff1 and Oswaldo Baffa
Fazenda Logradouro, Inço,
Fazenda Nova, Pernambuco
Dentes
Megafauna Brasileira

Amostras de
dente de
Haplomastodom
e
Macraucheniidae
de Puxinanã
(PB)
Idades, taxa de dose e Dose total
(Dt) de dentes
Amostra AD EU EU Dt LU LU Dt
(Gy) idade (mGy/a) idade mGy/a
(ka) (ka)
Haplomastodon 1* 213 305 70410 406 5184

Haplomastodon 1** 265 367 72710 4910 5305

Haplomastodon 2 224 397 5708 499 4525

Xenorhinotherium 266 399 6728 5212 5045

Dose Gama+ Raios Cósmicos = 250 Gy/ano


Idades calculadas com a AD obtida através de espectros em X-Banda
X (*) e Banda K(**)
Pedra Furada-Parque Nacional
da Serra da Capivara
Baixão da Pedra Furada
Baixão da Pedra Furada
Pinturas -São Raimundo
Nonato

Boqueirão da Pedra Furada Toca do Serrote da Bastiana com


depósitos de calcita
Amostra de Calcita
Toca do Serrote da Bastiana-Piauí

Calcite- Toca do Serrote da Bastiana


140

120

100

80

Lin (Counts)
60

40

20

0 10 20 30 40 50 60 70
2q (degrees)
Espectro de ESR
Calcita Toca do Serrote da Bastiana

~350 Gy
20 Gy
0.000008 0.000005
~ 350 Gy
20 Gy 0.000004
0.000006

0.000003
0.000004
Y Axis Title

Y Axis Title
0.000002
0.000002
0.000001
0.000000
0.000000

-0.000002
-0.000001

-0.000004
-0.000002

2800 3000 3200 3400 3600 3800 4000 3260 3280 3300 3320 3340 3360 3380 3400 3420 3440 3460 3480
X axis title X axis title

AD= 25 Gy → 25 ka ???
Toca da Santa
Toca da Santa
Idade: (5.700 ± 200) anos
Toca das Moendas
Toca das Moendas
Agradecimentos
• Sérgio Mascarenhas
• Angela Kinoshita-USC-Bauru
• Niéde Guidon -FUDHAM
• Patricia Nicolucci- FFCLRP- USP
• Alcina Franca-UFPe
• Luiz Carlos de Oliveira-USP Apoio Financeiro:
• Flávio Augusto José-USP FAPESP
• Carlos Brunello e Lourenço CNPq
Rocha- Apoio técnico- CAPES
FFCLRP-USP

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