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ANDRADE, Manuel C. Caminhos e descaminhos
da geografia. Campinas: Papirus, 1989. ............................................................. 4

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004 ................................................. 8

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura.


O Brasil: território e sociedade no início do século XXI.
Rio de Janeiro: Record, 2001. .......................................................... 13

SANTOS, M. (Org). Novos Rumos da Geografia Brasileira.


São Paulo: Hucitec, 1982. ................................................................ 16

SIMIELLI, Maria Elena R. Cartografia no


ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana Fani A. (Org.).
A geografia na sala de aula.
São Paulo: Contexto, 1999. p. 92-108. ............................................ 19

VESENTINI, José William (Org.).


Ensino de geografia no século XXI.
São Paulo: Papirus, 2005. ................................................................ 21
ANDRADE, Manuel C. Caminhos e descaminhos da geografia. Campinas: Papirus, 1989.
Elaborada pelo Professor Auro Moreno Romero
Mestre em Geografia – USP

1 – INTRODUÇÃO tentes entre a natureza de um lugar e as formas de


exploração desenvolvidas pelo homem. No mesmo
Manuel C. de Andrade apresenta nesse livro uma
período Karl Hitter, procurou estudar os vários siste-
coleção de artigos escritos no período compreendido
mas de organização do espaço terrestre, comparando
entre os anos de 1984/1987, portanto, um momento
povos, instituições e sistemas de utilização de recur-
em que o Brasil e o mundo passavam por grandes trans-
sos. Assim, esses dois pensadores alemães deram à
formações sociais e políticas. É neste contexto de mu-
Geografia um status de ciência. Karl Hitter dedicou-se
danças que o autor rediscute o papel da geografia, como
muito mais ao ensino, desenvolvendo o método com-
ciência capaz de corroborar com a melhoria da quali-
parativo em Geografia, sendo professor de Ratzel e Elissé
dade de vida de todos e do geógrafo, como cidadão
Reclus que consolidariam o conhecimento geográfico
que participa das mudanças e as ajuda compreender.
em bases verdadeiramente científicas.
Assim, podemos dividir o livro, segundo o autor, nos
Ratzel naturalista alemão viveu em uma época em
seguintes artigos: A geografia e o problema da
que a Alemanha realizava sua unidade e seus estudos
interdisciplinaridade entre as ciências; A geografia e a
foram muito utilizados na política alemã do “espaço
crise brasileira; Populismo e organização social do es-
vital”, daí ser considerado o fundador da escola
paço; Perspectivas do papel do geógrafo, como profis-
determinista e ter dado suporte teórico à Geopolítica
sional no Brasil; O livro didático de geografia no con-
fundada por Kjillen em 1911. Ao contrário de Ratzel
texto da prática de ensino e A geografia e o problema
que apoiava a expansão imperialista alemã, Elissé
da redivisão territorial do Brasil.
Reclus militou contra essa política, adotando uma
política de contestação do imperialismo, por isso ter
2 - A GEOGRAFIA E O PROBLEMA DA ficado esquecido e marginalizado.
INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE AS CIÊNCIAS Já no século XX as concepções acerca da Geogra-
Desde o século XVIII, principalmente com Kant e, fia se diferenciam e ganham importância as chama-
no século XIX, com Comte, estabelecer os limites en- das escolas nacionais, cada uma refletindo os inte-
tre os campos das várias ciências tem se tornado uma resses de seus países, principalmente no que diz res-
preocupação para os filósofos. O conhecimento cien- peito ao imperialismo e ao processo de colonização.
tífico não pode ser compartimentado, todavia existe A influência do positivismo na Geografia aumen-
um problema entre a vastidão de conhecimentos de- tou o problema sobre a delimitação de qual deveria
senvolvidos pela humanidade e a capacidade do ho- ser a área de estudo da Geografia. Influenciada pelo
mem de acumulá-lo em um único campo. Sendo as- positivismo, a Geografia foi compartimentada em vá-
sim, a questão reside em como, sem quebrar o prin- rios setores ou ramos: Geografia da População, Geo-
cípio da totalidade dos conhecimentos, estabelecer grafia Agrária entre outras. Essa visão departimentada
ramos específicos para cada área do conhecimento. do contismo só será questionada após a Revolução
A preocupação central do autor neste artigo é como a Russa, que através do marxismo, proporcionou que a
geografia, que só se tornou uma ciência autônoma interdisciplinaridade fosse exercitada mais intensamen-
nas últimas décadas do século XIX, se posiciona no te na Geografia.
quadro das ciências. No caso Brasileiro a Geografia se desenvolveu muito
lentamente limitando-se aos estudos descritivos. Foi
2.1 – Da natureza da Geografia só a partir de 1930 com a criação do IBGE e das pri-
O que seria a Geografia e qual o seu objeto de meiras faculdades de Filosofia que a Geografia Brasi-
estudo? Inicialmente a Geografia se constituía em um leira ganha um caráter científico. Daí delinearam-se
conhecimento eminentemente prático, empírico e li- várias correntes: as preocupadas com a Geopolítica,
mitado em catalogar e cartografar os lugares, servin- de cunho militar e as de modelo francesa (mais filo-
do aos exércitos, governos e aos comerciantes que sófica) trazida por Pierre Mombeig Pierre Deffontaines
necessitavam de informações sobre os principais pro- e Francis Ruellan. Também se destacam nesse perío-
dutos a serem explorados em uma determinada área. do ensaístas como Gilberto Freire, Josué de Castro e
Na proporção que os navegantes necessitavam de mais Caio Prado Junior.
segurança nas viagens, a Geografia foi ganhando um Esse modelo de Geografia perdura até os anos 60
caráter científico e estabelecendo relacionamento com quando dois modelos de Geografia se chocam: uma
4 outras ciências. a serviço de um projeto de desenvolvimento capitalis-
Nº 18 A ciência geográfica ganha notoriedade a partir do ta dependente para o país (Geografia Quantitativa) e
MAIO/2006 século XIX quando Humboldt observou as relações exis- outro que questionava a pretensa neutralidade da
Geografia Quantitativa que dava suporte aos gover- dor sob alegação da necessidade de se pagar a dívida
nos autoritários da época (Geografia Crítica). Os externa, caindo em um círculo vicioso. Exporta para
Quantitivistas, em baixa durante toda a década de 80, pagar a dívida e aumenta a dívida por dar prioridade à
reaparecem nos anos 90 inspirados pela informática política exportadora.
e pelo uso do computador.
3.2 - A crise da Geografia.
2.2 - O problema da interdisciplinaridade Em uma sociedade permanentemente em crise é
Para o autor a interdisciplinaridade ganha uma di- natural, que a Geografia, como ciência social, tam-
mensão especial na Geografia, pois a existência de bém se encontre em crise.
uma Geografia Humana e de uma Geografia Física é Os grupos que estão no poder esperam que a Ge-
apenas artificial e apenas serve para estabelecer uma ografia esteja a serviço da exclusão social, que contri-
dicotomia que acaba pondo em risco a própria exis- bua para beneficiar o grande capital. Todavia as su-
tência geográfica. Os saberes próprios da Geografia cessivas crises internacionais colocaram sob suspeita
tais como: a climatologia, a geomorfologia, pedologia, a Geografia institucional e trouxe o problema do com-
etc. acabaram por se tornar objeto de estudo de es- prometimento do geógrafo com o país.
pecialista, criando assim uma preocupação para a
Geografia definir seu objeto. 3.3 – A geografia e a crise
Sendo a Geografia uma ciência social é importan- Sabendo que o país vive momentos de crise, o que
te que estreite sua relação com as chamadas ciências seve ser discutido é qual deve ser o papel do geógrafo
do homem, surgindo assim, saberes intermediários no momento atual.
entre elas e a Geografia. Assim, para Andrade, o geógrafo só poderá con-
A Geografia deve, portanto estabelecer um conta- tribuir com seu país se possuir uma boa formação
to direto com a História, com a Antropologia, com a científica; ser capaz de analisar a realidade brasileira,
Economia Política entre outras ciências. É justamen- dentro de sua especificidade; entender que não basta
te essa aproximação que enriquece a Geografia e tam- descrever o visível, mas também perceber e interpretá-
bém as outras ciências. lo; aceitar que existe um processo dialético na produ-
ção do espaço que obriga o geógrafo a dispor de um
3 – A GEOGRAFIA E A CRISE BRASILEIRA. quadro teórico que lhe permita analisar tanto as con-
A palavra crise é uma das mais usadas no Brasil, dições do meio natural, submetidas também a um
da mesma forma que o Brasil a Geografia também se processo dinâmico, como conhecer bem a estrutura
encontra em crise, isso porque antes de ser profissio- da sociedade em que vive; Possuir boa formação filo-
nal o geógrafo é um cidadão e daí, dentro de sua área sófica para que com esta e com a práxis possa carac-
de atuação, deve colaborar para procurar os caminhos terizar as categorias que vai utilizar e por fim, possuir
que ajudem na reformulação da sociedade brasileira. um espírito critico e apaixonado para poder fugir dos
modelos filosóficos idealistas que as classes dominan-
3.1. – Características da crise brasileira. tes utilizam com maestria para desviar os estudiosos
O Brasil, apesar de ser um país de grande exten- do caminho seguro na procura das soluções para a
são territorial, rico em recursos naturais e com uma problemática da sociedade.
população numerosa, se apresenta como um país po- Em síntese, é grande a responsabilidade do
bre. Esse atraso em parte pode ser explicado em fun- geógrafo diante da crise que atinge o país e a sua
ção de nossa herança colonial, sustentada na explo- ciência. Cabe a ele participar do encontro de uma saída
ração dos recursos naturais e nas populações indíge- autêntica para a crise nacional e de uma solução para
nas e negras. a retirada de sua própria ciência do descrédito e das
Ainda hoje, passado mais de 200 anos de nossa dificuldades com que ela se defronta.
independência, feita sem revolução e sem nenhuma
transformação, o país pouco mudou e praticamente 4 - POPULISMO E ORGANIZAÇÃO
até os anos de 1930 o Brasil era dominado pelos gran-
des proprietários rurais. SOCIAL DO ESPAÇO.
A partir da década de 30, abriu-se espaço para os O populismo é sempre tema atual e dos mais com-
grupos urbanos na participação da vida política. O plexos constituindo-se um desafio à reflexão. O
país se urbanizou e verificou-se o surgimento de uma populismo é uma das formas de governo mais co-
burguesia urbana que se aliou aos antigos chefes ru- muns em sociedades de transição, típicas dos países
rais mantendo a estrutura de dominação. As leis tra- subdesenvolvidos.
balhistas, notadamente populistas acabaram fazendo Constituem-se em um desafio refletir sobre a socie-
algumas concessões às classes mais baixas, todavia dade, política e a organização do espaço em regimes
mantendo o sistema social excludente. populistas. Para o autor, o estudioso que se propor a
Com exceção da PETROBRÁS, toda nossa econo- estudar o relacionamento entre o populismo e as for- 5
mia foi sendo incorporada ao capitalismo internacio- mas de organização do espaço se vê obrigado a ma- Nº 18
nal. O Brasil adotou um modelo econômico exporta- nejar com categorias científicas as mais diversificadas. MAIO/2006
Necessita refletir, levando em conta que o espaço nunca No Brasil podemos dizer que o populismo estava
está organizado de forma definitiva, não é algo estáti- muito mais voltado para as populações urbanas do
co, é profundamente dinâmico e vai se modificando que para as rurais. A modernização da indústria veio
dialeticamente de forma permanente. O espaço pro- a atender os desejos de uma burguesia urbana, toda-
duzido é sempre temporário pois é produto das rela- via, as intervenções que favoreceram às mudanças não
ções dialéticas entre sociedade e natureza, permane- provocaram alterações nas velhas formas de poder.
cendo ora de forma mais intensa, ora de forma me- As transformações urbanas e indústriais provoca-
nos intensa em permanente transformação. ram um grande êxodo rural, principalmente de traba-
lhadores sem qualificação o que provocou ainda mais
4.1 – Do espaço organizado a queda no padrão da qualidade de vida, das condi-
Durante muito tempo admitiu-se que o espaço ou ções sanitárias, da segurança, da saúde, etc.
era produto da influência da natureza, havendo um O crescimento urbano foi ainda estimulado pela
determinismo do meio natural sobre a ação do ho- construção de grandes rodovias que facilitaram a
mem, ou, que sem se libertar da influência do integração do território. O deslocamento de popula-
ambientalismo, haveria possibilidades recíprocas da ção (para atender as classes dominantes nacional e
influência do homem sobre o meio e do meio sobre o as empresas estrangeiras) se deu de forma
homem – o possibilismo. desordenada em sem planejamento provocando a
Hoje ao analisarmos o espaço em suas várias es- destruição e a degradação do meio ambiente.
calas devemos considerar um erro darmos ênfase Poderíamos citar diversos exemplos, todavia o que
unicamente qualitativa, ou seja, a problemática es- importa é demonstrar como a atuação populista pode
pacial não pode ser vista apenas pela visão da Geo- modificar a organização espacial do país nas mais di-
grafia. A análise espacial exige a participação da socio- versas escalas exacerbando as tendências dominan-
logia, da antropologia, da história, da economia, da tes em um país inserido na área de domínio do capi-
política entre outras ciências. talismo periférico.
Ao estudarmos o espaço produzido deve-se levar
em conta que esse espaço é a resultante de uma evo-
lução e foi produto da ação de numerosos fatores,
5 – PERSPECTIVAS DO PAPEL DO GEÓGRAFO
bastante diversificados. É necessário destacar que a COMO PROFISSIONAL, NO BRASIL
interferência individual na organização do espaço é Para discutir o papel do geógrafo como profissio-
praticamente nula por isso o que importa é entender- nal o autor coloca duas questões:
mos como atua a sociedade em seu conjunto. Na
medida em que nossa sociedade constitui-se em uma 1- Qual a formação profissional do geógrafo;
sociedade capitalista, a organização do espaço irá re- 2- Qual o mercado de trabalho que oferece oportuni-
fletir, dentro de certas limitações, os interesses das dades ao profissional de geografia.
classes dominantes. Limitações impostas pelas diver-
Nas primeiras quatro décadas do século XX prati-
gências de interesses dentro das classes dominantes
camente não houve preocupação, no Brasil, em se
e pelas pressões impostas pelas classes dominadas.
formar profissionais que requeriam maior especiali-
Desta forma, a organização de um determinado
zação, como é o caso da Geografia.
espaço, sempre irá refletir as estruturas sociais exis-
A Geografia só começou ser lecionada oficialmen-
tentes e dominantes.
te em institutos superiores após a Revolução de 1930,
4.2 – O populismo e suas características com a criação dos cursos de Geografia e História, nas
Os governos populistas são típicos dos países sub- faculdades de filosofia e com a introdução de uma
desenvolvidos, nos períodos de crises sociais. Sem- disciplina de Geografia Econômica nos cursos de Ad-
pre que ocorre uma certa instabilidade política e soci- ministração e Finanças, de Ciências Contábeis e
al e é comum o surgimento de lideres carismáticos. Atuariais e de Administração Pública e de Empresas.
O líder populista não tem compromisso com mudan- Mesmo assim a Geografia não era ministrada com
ças reais, procura com reformas superficiais atenuar a finalidade de formar geógrafos mas sim formar pro-
as tensões. fessores para as escolas de ensino médio e dar subsí-
No Brasil, os períodos populistas muitas vezes se dios aos economistas e administradores.
seguem ou coexistem com períodos autoritários (1930/ 5.1 – Os primeiros trabalhos geográficos
34,1937/45 e 1964).
Os primeiros trabalhos geográficos foram elabo-
4.3 – O populismo e a produção do espaço social rados por não geógrafos. Trabalhos, sobretudo im-
A questão central, segundo o autor, é discutir quais portantes quando das questões de limites, de frontei-
são as repercussões de uma política populista sobre ras entre o Brasil e as Repúblicas Vizinhas. Podemos
o espaço social produzido? Ou ainda, com que inten- considerar como pioneiros dos estudos geográficos,
6 sidade uma ação populista pode modificar o espaço embora não sendo geógrafos, Olville Derby, Teodoro
Nº 18 anteriormente produzido e que marcas poderá deixar Sampaio, Capistrano de Abreu, Oliveira Viana, Gilber-
MAIO/2006 para o futuro? to Freire e Caio Prado Junior, todavia é Delgado de
Carvalho que pode ser considerado o primeiro geógrafo de atuação específico, bem delimitado e tecnocrático.
brasileiro, precursor da Geografia científica no Brasil, Elaborada no período ditatorial, essa Lei vinculou os
com trabalhos publicados no início do século XX. geógrafos ao CONFEA, ao lado dos engenheiros, agrô-
nomos e dos arquitetos, ignorando a formação
5.2 – A oportunidade para a existência humanística que caracteriza a Geografia. Hoje a Geo-
de geógrafos profissionais grafia desempenha um grande papel na vida brasilei-
A formação de geógrafos foi proporcional às exi- ra e tem, pelas condições do país e pela capacidade
gências criadas pelo desenvolvimento do país. No de seus profissionais, um grande espaço a ocupar na
IBGE, houve uma grande preocupação com as fron- construção do Brasil de amanhã.
teiras do Brasil e com a necessidade de uma nova
divisão regional. O IBGE foi uma das grandes escolas 6 - O LIVRO DIDÁTICO DE GEOGRAFIA
de formação de geógrafos, enviando técnicos para NO CONTEXTO DA PRÁTICA DE ENSINO
realizarem cursos na França, principalmente para de-
senvolverem uma teoria sobre região que pudesse ser 6.1 – O livro didático no 1o e 2o graus
aplicada ao Brasil. Os primeiros livros didáticos refletiam o modelo
Um outro segmento que contribuiu para a forma- de ensino de geografia que se praticava até 1930. Os
ção de geógrafos foi a USP, que passou a exigir dos estudantes eram obrigados a decorar nomes de aci-
candidatos a professores o título de doutor. As nume- dentes geográficos – linha costeira, relevo, rios, la-
rosas teses de doutoramento, então defendidas, se gos, nomes de capitais e de principais cidades etc.
constituíram num verdadeiro marco para a história Após 1930 Delgado de Carvalho, inspirado na Ge-
do desenvolvimento da Geografia Brasileira. ografia Francesa, publica uma série de livros sobre o
Fundada em 1945 a AGB desempenhou um gran- Brasil, chegando a publicar, com fim estritamente di-
de papel para a formação de pesquisadores. Criada dático, uma Corografia do Brasil. A reforma educaci-
em São Paulo expandiu-se para todo o Brasil. Foram onal Francisco de Campos deu grande ênfase à Geo-
de suma importância os congressos e os grupos de grafia que passou a ser ensinada nas cinco séries do
trabalho que se formaram no interior da AGB. ensino ginasial. Essa reforma animou novos profes-
O desmembramento dos cursos de Geografia e sores a escreverem compêndios de geografia. Daí
História, a partir de 1955 favoreceu o surgimento de surgiram, na década de 30, as coleções de livros es-
inúmeras disciplinas auxiliares - embora agudizando critos por Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo,
ainda mais a dicotomia entre Geografia física e hu- Pierre Mombeig, João Dias da Silveira, Maria da Con-
mana – deu à Geografia mais autonomia. ceição Vicente de Carvalho.
Com a reforma do Estado Novo, a Geografia, con-
5.3 – A pós-graduação e a regulamentação da profissão
siderada uma ciência conservadora, ganhou espaço
Nos anos 60 houve no Brasil um grande estimulo à e passou a ser ensinada em todo curso secundário.
criação de cursos de pós-graduação, seguindo o mode- No início da década de 50 surgiram novos livros
lo norte-americano. Os primeiros mestrados surgiram didáticos que procuraram apresentar, de forma mais
ma Universidade de São Paulo posteriormente foram dinâmica, os fenômenos geográficos, abandonando
sendo implantados cursos na Universidade Federal do as classificações estáticas, principalmente tratando-
Pernambuco, na UNESP, na Universidade Federal de se das climáticas.
Sergipe, na Universidade Federal de Santa Catarina. Nos anos 60, com o domínio de uma política
populista, houve maior estímulo à produção de livros
5.4 – As perspectivas para o geógrafo
didáticos aparecendo novos autores e editoras que
As perspectivas para o geógrafo não são muito além dos livros didáticos produziam os cadernos de
amplas. Elas surgem sobretudo no setor público, nas exercícios, os chamados “livros do mestre”, com res-
áreas de planejamento, defesa do meio ambiente, pro- postas e formulações prontas, limitando a criatividade
blemas de urbanização etc. Inicialmente a procura era do professor e a perda de reflexão por parte deste.
maior por cartógrafos – área onde os geógrafos en- Assim, é fundamental uma revisão total no ensino
frentavam uma série concorrência dos engenheiros. de geografia no nível médio. O professor deve utilizar,
Além dessas áreas os geógrafos encontram traba- além do livro didático, outras formas auxiliares de
lho nos estudos rurais, principalmente em um mo- pesquisa. Os livros didáticos além de serem melhora-
mento em que se discute tanto uma reformulação dos necessitam ter um caráter mais regional afim que
fundiária. Na empresa privada o geógrafo encontra os estudantes comecem a aprendizagem a partir da
espaço nas empresas de mineração, exploração agrí- paisagem com que convivem diariamente. A geogra-
cola, de transportes, principalmente após o governo fia não pode ser ensinada a partir de grandes concep-
começar a exigir das empresas maiores cuidados quan- ções generalizantes, ela deve dar maior atenção à pro-
to à preservação ambiental. dução do espaço.
Após anos de batalha a profissão de geógrafo foi 7
regulamentada pelo projeto de Lei 6664 de 26 de ju- 6.2 – O livro didático para o ensino superior Nº 18
nho de 1979 que estabeleceu ao geógrafo um campo Para o ensino superior, o problema é bem diverso, MAIO/2006
o livro texto perde importância, embora também seja garquias que controlam o poder nessas áreas. O que
indispensável para dar uma linha mestra ao pensamento deveria ser levado em consideração no momento em
do formando, quer captando-o para uma linha de pen- que se discute a divisão do país em mais estados são
samento do autor, quer levando-o a raciocinar de for- as áreas de fronteiras. Os parlamentares e adminis-
ma crítica sobre essa linha de pensamento. tradores deveriam estudar a possibilidade de criação
de territórios federais em áreas fronteiriças, potenci-
7 – A GEOGRAFIA E O PROBLEMA DA almente ricas e sujeitas à infiltração estrangeira.
REDIVISÃO TERRITORIAL DO BRASIL 7.4 – Há outra alternativa
Talvez uma alternativa à divisão dos velhos esta-
7.1 – Origem da divisão
dos seria a criação de uma nova escala de divisão
político-administrativa do Brasil territorial de nível superior à municipal e inferior à es-
O Brasil, apesar de sua grande extensão territorial tadual. Ela constituiria na criação de departamentos
e de sua elevada população, comparado a outros pa- ou regiões administrativas nos vários estados, sobre-
íses vê-se pouco dividido politicamente, o que traz tudo nos de maior extensão territorial, que interme-
conseqüências nem sempre favoráveis à administra- diariam os dois níveis de administração.
ção e ao seu desenvolvimento.
A divisão político-administrativa, com pequenas al- 8 – REFLEXÕES A RESPEITO
terações, pouco mudou desde o período colonial. Do
ponto de vista geográfico, admite-se que os estados de DO DOUTORADO EM GEOGRAFIA.
grande extensão territorial mantiveram a sua unidade Os cursos de pós-graduação foram implantados
em função da inexistência de um povoamento efetivo durante o período autoritário sendo que antes disso
por parte do colonizador, concentrando as populações havia a nível federal um sistema bastante diferente.
próximas de algumas cidades de maior expressão. Após dois anos de formados na graduação os inte-
ressados em seguir uma carreira universitária podiam
7.2 – Os estados e as reivindicações autonomistas se inscrever para o concurso de Livre Docência apre-
A divisão político-administrativa brasileira sempre sentando uma tese já elaborada. O cargo de profes-
foi muito questionada, isto porque se consiste numa sor catedrático era obtido mediante concurso.
divisão abstrata e irreal na medida que ignora os inte- A deficiência de doutores na área de Geografia no
resses e as aspirações populares. Brasil resulta da falta de tradição na formação de dou-
Os grandes estados não dispõem de recursos para tores nas universidades federais.
promover o desenvolvimento de áreas periféricas ao Quanto à Geografia, o grande debate que ela está
mesmo tempo em os habitantes de áreas muito po- provocando atinge a sua conceituação e os métodos
voadas se sentem desvinculados do estado que per- utilizados; cremos que a Geografia encontra-se em
tencem e defendem o direito à autonomia alegando um processo evolutivo rápido de modo que, ao lado
sentirem-se desprezados pelos governos estaduais. das pesquisas empíricas, vem se travando uma pro-
funda discussão teórica que deságua em posições fi-
7.3 – A Assembléia Constituinte e a losóficas e epistemológicas as mais diversas.
divisão político-administrativa do Brasil A grande importância dos cursos de pós-gradua-
Na Assembléia Constituinte foram apresentados ção em Geografia, segundo Andrade, é a possibilida-
projetos de redivisão territorial do Brasil levando-nos de de deixarmos de copiar os modelos estrangeiros
a pensar se essas propostas correspondem às aspira- de Geografia e desenvolvermos nossa ciência de for-
ções de suas populações ou aos interesses das oli- ma crítica e autônoma.

HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização:


do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
Elaborada pela Profa. Joyce Regina da Silva Magalhães Bozzi
Graduada em Letras – Especialista em Ensino Superior – UNOPAR-PR

Território e desterritorialização nas ciências so- sem fronteiras, sociedade em rede) é, na verdade, a
ciais. Com a globalização via internet e o ciberespaço reconstrução do território em novas bases, isto porque
está destruindo a territorialidade das fronteiras dos o homem não vive sem território e que a sociedade
Estados e criando um único espaço virtual? O mundo não pode existir sem territorialidade. A questão é, se-
8 estaria se desterritorializando? A tese de Rogério gundo Haesbaert, enfocar o território numa perspecti-
Nº 18 Haesbaert é que o movimento de destruição de territó- va geográfica intrinsecamente integradora, ou seja, num
MAIO/2006 rios (com o mito da desterritorialização – um mundo sentido múltiplo e relacional, respeitando a diversidade
e a dinâmica temporal do mundo. Assim, a terri- minância de redes, completamente dissociadas de
torialização é vista para além do processo de domínio e/ou opostas a territórios, e como se crescente
político-econômico, ou de apropriação simbólico-cul- globalização e mobilidade fossem sempre sinôni-
tural do espaço pelos grupos humanos. Portanto, cada mos de desterritorialização.
ser humano precisa territorializar-se. Para Haesbaert, a Entender a Desterritorialização a partir da defi-
questão não é o fenômeno da desterritorialização, mas nição de Território. Trata-se de analisar as questões
o da multiterritorialização: experimentar diferentes ter- de como as diferentes concepções de território, ao longo
ritórios ao mesmo tempo. Entretanto, as relações ca- da tradição do pensamento geográfico e sociológico,
pitalistas relegaram a maior parte da humanidade à servem de pano de fundo para o debate sobre a
“exclusão aviltante ou às inclusões extremamente pre- desterritorialização. Território pode ser compreendido
cárias, no qual no lugar de partilharem múltiplos ter- em três vertentes básicas: a) política – referida às rela-
ritórios, vaguem em busca de um, o mais elementar ções espaço-poder ou jurídico-política – relativa a to-
território da sobrevivência cotidiana, como é o caso das as relações espaço-poder institucionalizadas. Ter-
dos múltiplos territórios precários que abrigam sem- ritório: espaço delimitado e controlado, no qual se exerce
tetos, sem terras e outros grupos minoritários que um determinado poder relacionado ao poder político
parecem não ter lugar numa desordem de ‘aglomera- do Estado. Trata-se do jogo entre os “macropoderes”
dos humanos’ (...) estigmatizados e separados”. Por- políticos institucionalizados e os “micropoderes” (Michel
tanto, “o sonho da multiterritorialidade generalizada, Foucault); b) cultural (culturalista) ou simbólico-cul-
dos ‘territórios-rede’ a conectar a humanidade intei- tural (Bourdieu): território como produto da apropria-
ra, parte (...) da territorialidade mínima, abriga e acon- ção/valorização simbólica de um grupo em relação ao
chego, condição indispensável para (...) estimular a seu espaço vivido; c) econômica (economicista): terri-
individualidade e promover o convício solidário das tório como fonte de recursos e incorporado no embate
multiplicidades – de todos e de cada um de nós”, diz entre duas classes sociais e na relação capital-traba-
Haesbaert. lho, como produto da divisão “territorial” do trabalho.
As questões sociológicas referentes ao espaço e Entretanto, segundo Haesbaert, há um entrecruzamento
território tiveram as contribuições de Michel Foucault de proposições teóricas, no qual é fundamental trazer
(emergência de uma era centrada no tempo e no es- uma outra postura teórica que seja mais ampla: terri-
paço com destaque para a questão do poder), Jameson tório numa perspectiva integradora e relacional, no
(sobre a questão da cultura e espaço), Deleuze e qual traz a idéia de território como um híbrido, seja
Guatarri (geofilosofia – no qual atentou para o perigo entre o mundo material e ideal, seja entre natureza e
do fascínio da desterritorialização: “inteiramente des- sociedade, em suas múltiplas esferas (econômica, po-
providos de territórios, nos fragilizamos até desman- lítica e cultural).
char irremediavelmente”). Já no Brasil há a contri-
buição de Otávio Ianni e, principalmente, Milton San- Haesbaert postula uma leitura integradora e
tos. Para este, a “desterritorialização é, freqüen- relacional do território. Hoje, a “experiência
temente, uma outra palavra para significar integradora” é possível somente se estivermos arti-
estranhamente, que é, também, desculturização” e culados (em rede) através de múltiplas escalas. Não
há, segundo ele, uma associação entre “ordem glo- há território sem uma estruturação em rede que
bal” que “desterritorializa” e “ordem local” que conecta diferentes pontos ou áreas. É o domínio dos
“reterritorializa”. Mas sobre o olhar geográfico, deve- “territórios-rede”, espacialmente descontínuos, mas
se compreender esta análise a partir da multerrito- intensamente conectados e articulados entre si. Tra-
rialidade. Portanto, para Haesbaert, sobre a desterrito- ta-se de uma leitura integrada do espaço social com
rialização: uma visão de território a partir da concepção de es-
paço como um híbrido na indissociação entre movi-
a) não há definição clara de territórios nos debates mento e (relativa) estabilidade. Território, neste sen-
que focalizam a desterritorialização; o território ora tido, pode ser concebido a partir da imbricação de
aparece como algo “dado”, um conceito implícito múltiplas relações de poder, do poder mais material
ou a priori referido a um espaço absoluto, oura das relações econômico-políticas ao poder mais sim-
ele é definido de forma negativa, isto é, a partir bólico das relações de ordem mais estritamente cul-
daquilo que ele não é; tural. Para além de uma leitura puramente materialis-
b) desterritorialização é focalizada quase sempre como ta do poder, na leitura relacional, o poder é com-
um processo genérico numa relação dicotômica e preendido “como relação, e não como coisa a qual
não intrinsecamente vinculada à sua contraparte, a possuímos ou da qual somos expropriados, envolve
(re)territorialização; este dualismo mais geral encon- não apenas as relações sociais concretas, mas tam-
tra-se ligado a vários outros, como as dissociações bém as representações que elas veiculam e, de certa
entre espaço e tempo, espaço e sociedade, materi- forma, também produzem. Assim, não há como se-
al e imaterial, fixação e mobilidade; parar o poder político nem sentido mais estrito do 9
c) desterritorialização significando “fim dos territóri- poder simbólico”.
Nº 18
os” aparece associada, sobretudo, com a predo- Território e Desterritorialização em Deleuze e MAIO/2006
Guattari. Trata-se de uma concepção teoricamente mais espaço. No período da Revolução Industrial já mos-
elaborada sobre desterritorialização que vem da filoso- trava traços que estavam sendo gestados pela
fia, como um dos conceitos centrais do pós-estrutura- modernidade como “tudo que é sólido” tende a se
lismo de Guilles Deleuze e Félix Guattari. Segundo eles, “desmanchar no ar” segundo Berman.
“não há território sem um vetor de saída do território, e Enquanto a modernidade passava pelo mito da
não há saída do território, ou seja, desterritorialização, Revolução, a pós-modernidade estaria ligada à repe-
sem, ao mesmo tempo, um esforço para se tição, ao anti-histórico, ao presente contínuo, enfim,
reterritorializar em outra parte”. Os territórios sempre na ótica severamente crítica. O projeto central da
comportam dentro de si vetores de desterritorialização e modernidade enfatizava o indivíduo-sujeito na esfera
de reterritorialização. Muito mais do que uma coisa ou da autonomia individual, levando como marco desta
objeto, diz Haesbaert, “o território é um ato, uma ação, época a reterritorialização, ou seja, o individuo sus-
uma relação, um movimento” (de territorialização e tentado pelo individualismo, faz com que indivíduo
desterritorialização), um ritmo, um movimento que se queira ultrapassar os diversos territórios, comunitári-
repete e sobre o qual se exerce um controle. Esta dialética os. Caracteriza-se sinteticamente o pós-modernismo
envolve a criação e a destruição de territórios, conforme aquele que desestabiliza a estrutura metonímica que
nos atestam Deleuze e Guattari: “o território pode se relaciona presença e ausência com proximidade e dis-
desterritorializar, isto é, abrir-se, engajar-se em linhas tância, assim compreende-se que desreterritorialização
de fuga e até sair do seu curso e se destruir. A espécie está fortemente vinculada com o fenômeno da com-
humana está mergulhada num imenso movimento de pressão tempo-espaço onde a sociedade complexa
desterritorialização, no sentido de que seus territórios vive no paradoxo da desigualdade diferenciada.
‘originais’ se desfazem ininterruptamente com a divi- Múltiplas Dimensões da Desterritorialização:
são social do trabalho, com a ação dos deuses univer- perspectivas econômicas, política e cultural. A
sais que ultrapassam os quadros da tribo e da etnia, desterritorialização é tratada em três grandes dimen-
com os sistemas maquínicos que a levam a atraves- sões sociais sendo elas: a econômica, a dimensão
sar, cada vez mais rapidamente, as estratificações política e a perspectiva simbólica ou cultural em sen-
materiais e mentais”. Para compreensão desta dialética tido mais restrito. A problemática destas dimensões
entre desterritorialização e reterritorialização, exemplifica- engloba a questão de território e a territorialização
se com a condição do bóia-fria morador de periferias sempre focados num sentido mais restrito, pelo qual
urbanas. Assim, como entender este universo para a ge- se busca responder problemáticas específicas ligadas
ografia? Segundo Deleuze, “a geografia não se conten- a questões econômicas, políticas ou culturais, mais
ta em fornecer uma matéria e lugares variáveis para a do que a problemática social que envolveria uma no-
forma histórica. Ela não é somente humana e física, ção de território mais integradora implícita quando se
mas mental, como a paisagem. Ela arranca a história fala em processos de exclusão social, já que exclusão
do culto da necessidade, para fazer valer a será vista aqui como um fenômeno amplo e comple-
irredutibilidade da contingência, ela a arranca do cul- xo, ao mesmo tempo de natureza econômica, política
to das origens, para afirmar a potência de um ‘meio’ e cultural.
(...). Enfim, ela arranca a história de si mesma para Na dimensão da perspectiva econômica pode-
descobrir os devires, que não são a história mesmo mos observar que não é a maior tradição nos debates
quando nela recaem (...)”. Ora, se a Geografia menos- sobre território assim analisando três pontos de vista
prezou as dinâmicas desreterritorializadoras como cen- econômicos que afetam a desterritorialização:
tro de sua análise, trata-se de recuperar os estudos es- a) a desterritorialização é vista como sinônimo de
paciais em torno dos fenômenos de deslocamento e das globalização econômica, esta situação econômica
desconexões, especialmente diante da nossa nova ex- acontece quando se forma um mercado mundial
periência “pós-moderna” de espaço-tempo, diz com fluxos comercias e financeiros e de informa-
Haesbaert. ções cada vez mais independentes de base
Pós-modernidade e Geometrias do Poder. Ana- territoriais bem definidas, como a dos Estados
lisa-se desterritorialização, no sentindo de que não nações:
representa mais uma extinção de território, e sim uma
dificuldade de definir o novo tipo de território muito b) em um sentido mais complexo podemos dar ênfa-
mais múltiplo e descontínuo, que está surgindo. No se a um dos momentos do processo de globalização
âmbito da historicidade fica complexo analisar a con- ou ao mais típico, aquele chamado capitalismo pós-
cepção de desterritorialização, especialmente quan- fordista ou capitalismo de acumulação flexível, fle-
do relaciona a experiência entre espaço-tempo, xibilidade esta que seria responsável pelo enfraque-
modernidade e a pós-modernidade. Após rompimen- cimento das bases territoriais;
to com uma época, o pós-modernismo estabelece uma c) em um sentido mais específico citamos ainda a
nova sensibilidade, uma nova leitura e uma nova ex- desterritorialização como um processo vinculado
10 periência de mundo, diretamente vinculada aos no- pela economia globalizada, o setor financeiro, onde
Nº 18 vos paradigmas tecnológicos que balançam as anti- a tecnologia informacional tornaria mais evidente
MAIO/2006 gas certezas e os antigos laços da sociedade com o tanto a imaterialidade quanto a instantaneidade.
Dentro da perspectiva política pode-se delimitar Dentro da sociedade percebe-se o tamanho do valor
seus aspectos onde território é aquele que vincula dado à sociedade contemporânea, ou seja, não signi-
espaço e soberania estatal, ou seja, território como a ficando obrigatoriamente que a mobilidade social num
área ou espaço de exercício da soberania de um Esta- mundo onde o movimento é regra, a fixidez e a esta-
do. Através do aparecimento do Estado vê-se que ele bilidade podem acabar, de alguma forma, transfor-
é o primeiro responsável pelo primeiro grande movi- mando-se também numa espécie de triunfo ou de
mento de desterritorialização, na medida em que ele recurso.
imprime a divisão de terra pela organização adminis- Territórios, Redes e Aglomerados de Exclusão.
trativa, fundiária e residencial. Pode-se identificar território no movimento ou pelo
No quadro da desterritorialização numa perspec- movimento. Talvez esta seja a grande novidade da
tiva cultural, pode-se pensar o território ao longo da nossa experiência espaço-temporal dita pós-moder-
história do pensamento nas Ciências Sociais, especi- na, onde controlar o espaço indispensável à nossa
almente entre geógrafos e cientistas políticos. Partin- reprodução não significa apenas controlar áreas e
do do par História-mito e da herança helenística, en- definir fronteiras. Com a globalização a comunicação
quanto as “potências regem o mundo” produz histó- revoluciona a formação de territórios pela configura-
ria, as cidades e seus territórios produzem e se ali- ção de redes que podem mesmo prescindir de alguns
mentam de mitos. de seus componentes materiais fundamentais, como
Desterritorialização e Mobilidade. Os processos linhas de energia ou até mesmo cabos telefônicos. O
de territorialização classificam como fruto de interação território hoje, mais do que nunca, considera-se tam-
entre relações sociais e controle do/pelo espaço, rela- bém movimento, ritmo, fluxo, rede não se trata de
ções de poder em sentido amplo, ao mesmo tempo um movimento qualquer, ou de um movimento de
de forma mais concreta (dominação) e mais simbóli- feições meramente funcionais: ele é também um
ca (um tipo de apropriação). Em uma visão mais tra- movimento dotado de significado, de expressividade,
dicional desterritorializar significa então, diminuir ou isto é, que tem um significado determinado para quem
enfraquecer o controle das fronteiras, aumentando constrói ou dele usufrui. As redes participam de um
assim a dinâmica, a fluidez, em suma, em suma, a jogo ambivalente com os fluidos, ao mesmo tempo
mobilidade, seja ela de pessoas, bens materiais, capi- tentando canalizá-los e/ou sendo desestruturadas por
tal ou informações. A desterritorialização em conse- eles, cria-se então a noção de aglomerados que sur-
qüência do território torna-se assim discurso da mo- ge pela necessidade de dar conta de outros tipos de
bilidade tanto da mobilidade material quanto da mo- espaços que não se encaixavam claramente na lógi-
bilidade imaterial, especialmente aquele diretamente ca zonal, nem na lógica reticular.
ligado aos fenômenos de compressão tempo-espa- Esta noção de aglomerados de exclusão traduz a
ço, propagado pela informatização através do chamado dimensão geográfica ou espacial dos processos mais
ciberespaço. Os frutos da sociedade sem territoria- extremos de exclusão social porque ela parece expres-
lidade, sem local, torna a mobilidade generalizada, ou sar bem a condição de desterritorialização ou de
seja, os territórios são construídos a partir do movi- territorialização precária a que estamos nos referin-
mento e onde o local se fundamenta na diferença das do. Em um sentido mais amplo, podemos considerar
mobilidades. Em um ângulo mais complexo da que “aglomerados de exclusão” seriam o exemplo mais
desterritorialização vemos freqüentemente uma cres- representativo especificamente no caso dos aglome-
cente mobilidade das pessoas, seja como, novos nô- rados de massa impostos pela sociedade capitalista,
mades, vagabundos, viajantes, turistas, imigrantes presentes em maior ou menor grau praticamente em
refugiados ou como exilados – expressões cujo signi- todos os espaços do nosso tempo.
ficado costuma ir muito além de seu sentido literal. Da Desterritorialização à Multiterritorialidade. Aqui
No contexto geográfico, segundo o Haesbaert, Haesbaert defende a tese de que desterritorialização é,
“podemos definir mobilidade como uma relação so- na verdade, uma nova forma de territorialização, a que
cial ligada à mudança de lugar, isto é, como conjun- chamamos de “multiterritorialidade”: um processo
to de mobilidades pelas quais os membros de uma concomitante de destruição e construção de territóri-
sociedade tratam a possibilidade de eles próprios ou os mesclando diferentes modalidades territoriais, como
outros ocuparem sucessivamente vários lugares”. é o caso dos “territórios-zona” e os “territórios-rede”,
Busca-se através de uma análise níveis para a em múltiplas escalas e novas formas de articulação
desterritorialização para cada grupo ou classe social, territorial. Segundo Rogério Haesbaert, “o mundo ‘mo-
percebe-se claramente que aquilo que é denominado derno’ das territorialidades contínuas/contíguas regidas
desterritorialização para a elite planetária que se pelo princípio da exclusividade (...) estaria cedendo
locomove com facilidade nada tem a ver com o des- lugar hoje ao mundo das múltiplas territorialidades
locamento compulsório das classes mais pobres. Na ativadas de acordo com os interesses, o momento e o
classe que compõe os ricos a desterritorialização para lugar em que nos encontramos”. Trata-se então, de
os ricos, pode ser confundida com uma multiterrito- um “mosaico-padrão” de unidades territoriais em área, 11
rialidade segura, mergulhada na flexibilidade e em seu convívio com uma miríade de territórios-rede mar- Nº 18
experiências múltiplas de mobilidade. cados pela descontinuidade e pela fragmentação que MAIO/2006
os possibilita a passagem de um território a outro, num a) desmaterialização ou domínio de relações simbóli-
jogo que denomina-se multiterritorialidade humana. cas ou “virtuais”; b) “não-presença” ou desvinculação
Desterritorialização: é a reterritorialização complexa, do aqui e do agora; c) aceleração do movimento ou
em rede e com fortes conotações rizomáticas, ou seja, predomínio da fluidez sobre a estabilidade; d) enfra-
não-hierárquicas. quecimento dos controles espaciais através de limi-
Neste contexto, destaca-se a “globalização”, isto tes-fronteiras e áreas; e) aumento da hibridização cul-
é, a dialética entre o global e o local combinados, ao tural; f) justaposição e imbricação de territórios. As-
mesmo tempo: “o global e o local são processos, sim, a desterritorialização é um mito.
não localizações. Globalização e localização produ- Não obstante, muitas vezes, o pano de fundo dos
zem todos os espaços como híbridos, como sítios discursos sobre a desterritorialização é o movimento
‘globais’ tanto de diferenciação quanto de integração. neoliberal que prega o “fim das fronteiras” e o “fim
O local e o global não são entidades fixas, mas são do Estado” para a livre atuação das forças do merca-
produzidas de forma contingente, sempre em pro- do. Assim, desterritorialização, referida aí à elite pla-
cessos de re-produção, nunca completados”. Assim, netária, é um mito. Não passa, para Haesbaert, de
a presença de territórios-rede proporciona as condi- um rearranjo territorial sob condições de grande com-
ções para a existência da multiterritorialidade. Esta preensão do espaço-tempo, em que as transforma-
depende, sobretudo do contexto social, econômico, ções nas relações ligadas à distância e à presença-
político e cultural em que estamos situados. Multiter- ausência tornam-se ainda mais intensas as dinâmi-
ritorialidade contemporânea pode ser altamente com- cas de desigualdade e de diferenciação do espaço pla-
plexa e dotada de ampla flexibilidade, como também, netário. Trata-se, neste sentido, da forma “versátil de
ser ativada e desativada numa incrível velocidade. reterritorialização dos ‘de cima’ que se forja, por ou-
Portanto, segundo Haesbaert, quem tiver mais opções tro lado, grande parte da desterritorialização dos ‘de
para ativar e comandar a riqueza da multiterritorialidade baixo’, através do agravamento da desigualdade e
que potencialmente se encontre a seu dispor, seja atra- da exclusão pela concentração de renda, do capital
vés de movimentos progressistas (movimento Zapatista (dos investimentos) e da infra-estrutura, associada à
de Chiapas), seja através de movimentos retrógrados ausência de políticas efetivas de redistribuição, aos
ou conservadores (Al Qaeda), consegue maior poder investimentos mais na especulação financeira do que
para produzir mudanças sociais (“linhas de fuga”), no no setor produtivo gerador de empregos, e à
sentido de um movimento concomitante de desterrito- globalização da cultura do status e do valor contábil
rialização e reterritorialização. em uma sociedade de consumo estendida a todas
Desterritorialização como Mito. O discurso da as esferas da vida humana”.
desterritorialização se coloca, segundo Haesbaert, como Entretanto, para além de hierarquizar as pedras,
um “discurso eurocêntrico ou ‘primeiro-mundista’, plantas, animais, pessoas deve-se considerar o “par-
atento muito mais à realidade das elites efetivamente lamento das coisas” (Bruno Latour), no qual “não
globalizadas e alheio à ebulição da diversidade de admite nenhuma hierarquia ontológica entre as coi-
experiências e reconstruções do espaço em curso não sas existentes”. Portanto, deve-se ter “amor por tudo
só nas chamadas periferias do planeta como no inte- o que existe” (Gualandi). Este amor deve estar no cen-
rior das próprias metrópoles centrais. Com certeza, o tro de nossos processos de territorialização, pela “cons-
desprezo de algumas correntes filosóficas pela trução de territórios que não fossem simples territó-
materialidade do mundo (elaboradas em países ‘cen- rios funcionais de re-produção (exploração) econô-
trais’) contribuiu para essa difusão da idéia de um mica e dominação política, mas efetivamente espa-
mundo de extinção dos territórios ou mergulhado numa ços de apropriação e identificação social, em cuja
dinâmica crescente de desterritorialização”. transformação nos sentíssemos efetivamente identi-
O fenômeno da desterritorialização e reterritoria- ficados e comprometidos” (Haesbaert). É “o espaço
lização não é um fenômeno pós-moderno ou da soci- do prazer” (Lefevre). Mas, como “amar tudo o que
edade pós-industrial ou da sociedade informacional, existe”, num mundo de crescente e abominável desi-
visto que o próprio império romano, medieval e o pró- gualdade, exclusão, segregação, violência e insegu-
prio Marx como Durkheim já falavam destes fenôme- rança? Para tanto - para poder “amar tudo o que existe”
nos. Também o é de longa data a questão do espaço e construir territórios efetivamente/afetivamente apro-
como esfera de possibilidade da existência da priados - é necessário “acabar com toda exploração
multiplicidade. Assim, o espaço é a condição múltipla e indiferença dos homens entre si e dos homens para
de possibilidade tanto de desterritorialização e com a própria natureza”, diz Haesbaert.
reterritorialização, simultâneos. Não obstante, Haes- Para que os territórios não sejam mais instrumen-
baert acrescenta ainda o fenômeno da Multiterrito- tos de alienação, segregação, opressão e “in-seguran-
rialidade, para manter e enfatizar a idéia de processo, ça”, mas espaços estimuladores, ao mesmo tempo,
de permanente movimento e devir. Multiterrito- da diversidade e da igualdade sociais. O tempo denota
12 rialização: é a condensação de um processo que re- que, segundo Santos, “a força dos fracos é o seu tem-
Nº 18 presenta a territorialização através da própria po lento”. Mesmo que a corrente ideológica do capita-
MAIO/2006 desterritorialização. Desterritorialização não é apenas: lismo volátil tente destruir as referências territoriais ou
que constrói multiterritorialidades num sentido Antes de ser a desterritorialização a grande ques-
destabilizador fragmentador de falta de liberdade, da tão da passagem de século (como quer Virilo), o que
dinâmica do consumo desenfreado, do correr o risco está dominando, segundo Haesbaert, é a complexi-
de perder todos os nosso referenciais e fragilizarmos dade das reterritorializações, “numa multiplicidade
até “desmanchar irremediavelmente” (Guattari), por de territorialidades nunca antes vista, dos limites mais
outro lado, já no universo dos “espaços lentos” e do fechados e fixos da guetoficação e dos ‘neoterritórios’
“reenraizamento” cabe reconhecer e lutar por essa da globalização”.
unidade das coisas do mundo e do território no interior Portanto, conclui-se com singular maestria
dessa unidade, estimular o potencial “invencionático”, Haesbaert: “O grande dilema deste novo século será
criativo, de multiplicidade. Trata-se de lutar concreta- o da desigualdade entre as múltiplas velocidades,
mente para, segundo Haesbaert, construir uma socie- ritmos e níveis de des-re-territorialização, especial-
dade onde não só esteja muito mais democratizado o mente aquela entre a minoria que tem pleno acesso
acesso à mais ampla multiterritorialidade – e a convi- e usufrui dos territórios-rede capitalistas globais que
vência de múltiplas territorialidades, onde estejam sem- asseguram sua multiterritorialidade, e a massa ou
pre abertas, também, as possibilidades para a os ‘aglomerados’ crescentes de pessoas que vivem
reavaliação de nossas escolhas e a conseqüente cria- na mais precária territorialização ou, em outras pa-
ção de outras territorialidades ainda mais igualitárias e lavras, mais incisivas, na mais violenta exclusão e/
respeitadoras da diferença humana. ou reclusão socioespacial”.

SANTOS, Milton & SILVEIRA, Laura Maria. O Brasil Território e sociedade


no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Elaborada pela Profa. Joyce Regina da Silva Magalhães Bozzi
Graduada em Letras – Especialista em Ensino Superior – UNOPAR-PR

1. A questão: o uso do território. to de suas partes, reconhecendo as respectivas


complementaridades.
A partir do século XXI, dá-se uma dimensão às pa- Para o contexto geográfico, a palavra território tam-
lavras com mais ênfase, devido à diversidade lingüísti- bém é definida como: implantação de infra-estrutura,
ca e assim são atribuídos novos sentidos e o aumento de ciência, técnica e informação, estudo do povoa-
de vocábulos. Estas mudanças freqüentes na lingua- mento, e, sobretudo, com a ocupação econômica. O
gem fazem com que dificulte a interpretação das pala- grande crescimento urbano demonstra como os sis-
vras, por exemplo, território e espaço. Pode-se atribuir temas de movimento de homens, capitais, produtos,
a estas palavras as seguintes significações: território, mercadorias, serviços, mensagens, ordens contribu-
extensão apropriada e usada, visto que se define es- em para o fluído de território.
paço como extensão indefinida. Território segundo os Com as cidades crescendo e o número maior de
autores é um nome político de um país, é difícil falar- pessoas em um número cada vez menor de lugares, a
mos de um Estado sem um território. urbanização significa uma maior divisão de trabalho
O território é visto como unidade e diversidade resultando em melhor qualidade de território.
como uma questão central da história humana. Cada Para obtenção da qualidade de território há uma
período pode, assim, perguntar o que é novo no es- necessidade de regulação política do território, ou seja,
paço e como se combina com que já existe. O pano resultado é a criação de regiões do mandar e regiões
de fundo de cada país constitui o estudo das suas do fazer.
diversas etapas e do momento atual, que marca o iní- A criação deste vínculo do mandar e fazer obser-
cio da divisão territorial do trabalho. vamos como as técnicas são desenvolvidas para me-
A partir da criação da divisão do trabalho estabe- lhor eficácia, divisão e a especialização do trabalho
lece uma hierarquia entre as pessoas e lugares jul- nos lugares como: a incorporação de técnicas ao solo
gando a capacidade de agir das pessoas, das firmas e (rodovias, ferrovias, hidrelétricas, telecomunicações,
das instituições, assim instaura-se nos dias atuais um emissora de rádios e TV, etc.), objetos técnicos liga-
novo conjunto de técnicas que constroem uma a base dos à produção (veículos, implementos), insumos téc-
material da vida da sociedade transformando em um nico-científicos (sementes, adubos, propaganda,
meio técnico-científico informacional, sendo a expres- consultoria).
são geográfica mais utilizada da globalização. Ensi- As técnicas desenvolvidas ao longo do tempo per- 13
nando a olhar a constituição do território a partir dos cebem que há uma preocupação muito maior para o Nº 18
seus usos, do seu movimento, formando um conjun- entendimento das diferenças regionais e com o novo MAIO/2006
dinamismo para busca de uma interpretação geográ- tos industriais no Brasil, sendo as áreas de mais com-
fica da sociedade brasileira. plexos industriais as regiões Sul, alguns pontos do Cen-
tro-Oeste, Nordeste e do Norte (Manaus).
2. A formação da Região Concentrada Ainda neste período podemos destacar o avanço e
as inovações na agricultura tratando de uma nova
e a urbanização interior. geografia feita de belts que são heranças e cristaliza-
Na década de 1930, houve o momento da
ções de fronts próprios de uma divisão do trabalho
integração nacional, sendo descoberta São Paulo como
anterior; áreas que ocupadas em outro momento, hoje
a metrópole industrial, pois estavam presentes todos
se densificam e se tecnificam. Constitucionalmente
os tipos de fabricação.
integradas a estes novos avanços as terras ganham
A revolução de 1932 trouxe a necessidade do avan-
nova valorização que acabam por “expulsar” certos
ço, e o crescimento para o transporte que facilitaria a
produtos para áreas ainda não utilizadas.
circulação de mercadorias entre os Estados e a União.
Podemos ver que, nas áreas privilegiadas pela con-
O transporte foi um grande marco neste período, prin-
centração, o trabalho adquire maior especialização e
cipalmente o marítimo onde se localizavam os mer-
cresce a necessidade de intercâmbios. As cidades tor-
cados permitindo um tráfego mais intenso.
nam-se especializadas reforçando a capacidade de
Os migrantes dos estados que provinham da Bahia,
conhecimento e informação.
Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Ceará e Sergipe
começaram a chegar entre 1935 e 1939, ultrapassando
os números de estrangeiros, assim fazendo um mo-
5. Por uma geografia do movimento.
Não basta apenas produzir, precisa por a produ-
mento preliminar da integração territorial dado por
ção em movimento. Para esta circulação acontecer é
uma integração regional do Sudeste e do Sul.
preciso a dialética entre a freqüência e a espessura
dos movimentos no período contemporâneo e a cons-
3. A integração nacional. trução e a modernização dos aeroportos, portos, es-
No período de 1945 a 1950, São Paulo se firma tradas, ferrovias e hidrovias.
como grande metrópole fabril do país, o que Milton Os fluxos aéreos. A concentração maior destes flu-
Braga Furtado chama de crescimento industrial in- xos acontece entre São Paulo e o Rio de Janeiro onde
tencional, para diferenciá-lo do crescimento industri- a divisão de trabalho é extrema e a vida de relações
al não intencional dos anos 30. assume especial relevo. Além da facilidade podemos
Estabelece um domínio paulista, com um aumen- classificar a utilidade da aviação na agricultura para o
to grande nos investimentos que se iniciava no regi- controle e a aplicação de fertilizantes e pesticidas de
me de Getúlio Vargas facilitando a concentração eco- forma rápida nas grandes fazendas.
nômica e espacial, desenvolvendo o mercado não ape- As ferrovias são resultado de conflitos e acordos
nas fora, mas sim dentro do país. sempre provisórios entre o Estado e as empresas fa-
Neste período da história acontece a Segunda Guerra zendo assim que o seu fluxo seja sempre datado au-
Mundial, favorecendo São Paulo como centro produ- mentando as cargas transportadas. O uso das ferro-
tor, e ao mesmo tempo, distribuição primária. A difi- vias não serve apenas para o transporte de cargas e
culdade financeira dos transportes marítimos acelera a sim de pessoas também, entre os anos de 1970 e
instalação do império do caminhão em São Paulo. 1994 foi criado nos estados de São Paulo e Rio de
Neste período de transição econômica e a criação Janeiro as companhias de trens metropolitanos.
de uma indústria automobilística conflui com a cons- A expansão das grandes metrópoles fez com que
trução de Brasília que foi um passo importante para as houvesse uma integração do território através das estra-
rodovias, pois sem o desenvolvimento industrial de São das, assim aumentando o fluxo rodoviário levando a dis-
Paulo seria impossível a construção de Brasília. puta com as ferrovias e favorecendo o aumento de gran-
A partir deste período também ocorreu o golpe de des empresas no sistema rodoviário dando autonomia
Estado de 1964 que foi considerado como um “novo ao poder público e domínio mercantil completo.
passo” para internacionalização da economia brasi- As hidrovias classificam-se através das cinco baci-
leira. Os movimentos reforçam os demais, enquanto as brasileiras tendo como critérios os elementos soci-
a economia e a sociedade se renovam. ais e econômicos diversos. Podemos citar a Amazô-
nia que a maior parte da população utiliza transporte
4. Uma reorganização produtiva do território. fluvial, ou seja, é uma pequena camada da sociedade
O desenvolvimento da ciência, da técnica e o ace- que tem acesso aos transportes aéreo e ao rodoviário
lerado mundo das informações, fazem com que au- assim torna-se o meio mais acessível de transporte.
mente a especialização do trabalho nos lugares. Atra-
vés deste momento surge uma nova divisão territorial, 6. O território brasileiro:
fundada na ocupação de áreas até então periféricas e
14 na remodelação de regiões já ocupadas.
do passado ao presente.
Nº 18 Nos anos 70 e 80, amplia-se a descentralização As tendências para uma dinâmica de um país que
MAIO/2006 industrial devido o grande número de estabelecimen- se industrializa começaram a partir do século XX, que
já vinha revelando o crescimento industrial que se deum verdadeira gangorra constante, pois o território é “uno”
a partir dos estados como Bahia, Pernambuco, Rio e seu movimento é solidário, desta maneira a desvalo-
de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. Nestas rização e revalorização obedecem a uma lógica.
regiões é implantado o sistema ferroviário, e depois A quantificação do valor do território que a lógica
estradas de rodagem facilitando a vida agrícola e pa- obedece, é dado pelo tipo de produto fabricado. No
ralelamente a população urbana crescia de maneira ano de 1950 observa-se um grande movimento mi-
mais rápida. gratório no país, e a diversidade de origens vão cada
Com a evolução vertiginosa da cidade de São Pau- vez mais se misturando sobre o território.
lo, cresce também a sua base industrial, estabelecen- Este aglomerado de pessoas tentava a sua estabi-
do uma aliança com outras indústrias, desse modo lidade, no campo, segundo Milton Santos, no ano de
fortalecendo um denso tecido industrial, do qual vão 1997 foram registrados pela Comissão Pastoral da
valer as atividades comerciais, de serviços, de trans- Terra 622 conflitos pela terra brasileira, em uma quantia
porte, do governo e as próprias indústrias presentes aproximadamente de 16 milhões de hectares produti-
ali e em outros pontos do Brasil, inclusive, em muitos vos não utilizados pelo Brasil.
casos, o próprio Rio de Janeiro. Os processos de valorização da terra por consoli-
dação das frentes pioneiras tiveram, certamente, um
7. Uma ordem espacial: papel detonador em vários movimentos migratórios
do país.
a economia política do território.
Ao falarmos de ordem espacial, nos referimos no-
vamente ao explicado em uso, ou seja, cada momen-
9. Neoliberalismo e uso do território.
As mudanças importantes para a utilização do terri-
to da história tende a produzir sua ordem espacial,
tório começam a partir da prática do neoliberalismo,
que se associa a uma ordem econômica e uma or-
tornando o uso do território mais seletivo, assim pu-
dem social, sendo necessário entender sua realidade
nindo as populações mais pobres, isoladas, mais dis-
a partir de forças que, freqüentemente, não são visí-
persas e mais distantes de grandes centros produtivos.
veis a olho nu.
O monopólio criado pelo neoliberalismo afastan-
Caracterizamos o espaço como um conjunto
do as populações mais carentes, assim aumentando
indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações.
o êxodo rural, aumentando a concentração de pesso-
Trata-se de caracterizar uma situação na qual, em cada
as nos grandes centros, atrás de empregos, desleal-
área, os objetos tendem a exercer certas funções e os
mente a concorrência é grande e cada vez a diminui-
respectivos processos são em grande parte, submeti-
ção no salário dos trabalhadores. Só conferir o au-
dos ao papel regulador de instituições e empresas.
mento de incidência de trabalho escravo.
O crescimento do território leva o desenvolvimen-
Dentro da divisão geográfica o neoliberalismo
to de atividades econômicas modernas que permite
conduz a uma seletividade dos provedores de bens e
uma cooperação entre empresas que facilita o pro-
serviços, que geram a acumulação e a competitividade
cesso de privatização do território. Este comportamen-
assim causando uma maior dificuldade para as
to influencia também outras empresas, industriais,
pessoas mais pobres e isoladas, mostrando que os
agrícolas e de serviços, influenciando fortemente o
grandes centros também criam gente pobre, pois há
comportamento do poder público, na União, nos Es-
um grande número de mão de obra que precisa de
tados e nos Municípios.
trabalho.
O uso do território é objeto de divisões de traba-
As grandes metrópoles seguem o padrão da
lho, as empresas produzem atividades e produzem a
globalização onde novas fontes de riqueza e novas
sua própria divisão de trabalho. Através das lógicas
razões de pobreza se estabelecem nas grandes cida-
globais, percebemos que os circuitos de cooperação
des. A globalização amplia a variedade econômica,
são também circuitos de competição, o que conduz à
cultural, religiosa e lingüística multiplicando os mo-
questão explicativa maior de saber quem, em deter-
delos produtivos de circulação e de consumo.
minadas circunstâncias, regula quem.
O valor dado ao território é caracterizado pela no-
ção de espaço, que inclui uma utilização privilegiada
10. A racionalidade do espaço: da solidariedade
dos bens públicos e uma utilização hierárquica dos orgânica à solidariedade organizacional.
bens privados. Neste aspecto as empresas tornam a A racionalidade dentro do espaço pode-se carac-
desempenhar um papel central na produção e no fun- terizar pelos aspectos cujas condições materiais e
cionamento do território e da economia. políticas permitem um uso considerado produtivo pelos
atores econômicos, sociais, culturais e políticos dota-
8. Desvalorizações e dos de racionalidade. Só pode haver racionalidade de
revalorizações do território. espaço quando o território oferece as condições ne-
O território é palco de grandes disputas comerciais cessárias. 15
sendo as maiores delas o espaço, que se torna um objeto No auge da globalização, em nossos atuais dias, Nº 18
de articulações entre grandes empresas. Existe uma podemos afirmar que racionalidade de espaço está a MAIO/2006
serviço das grandes empresas privadas, fazendo com próprio dinamismo, tenham uma evolução e recons-
que estas empresas constituam em território as ade- trução locais relativamente autônomas e apontando
quações técnicas e políticas necessárias para que usu- para um destino comum.
fruam uma maior produtividade e uma maior A solidariedade organizacional supõe uma
lucratividade. interdependência até certo ponto mecânica, produto
O neoliberalismo faz com que a racionalidade pri- de normas presididas por interesses de modo geral
vada tenha benefícios sobre os recursos públicos, le- mercantis, mutáveis em função de fatores do merca-
vando com que os setores sociais sejam prejudicados do. Dentro deste contexto verificamos que a solidari-
para manter o setor privado. edade organizacional é paralela à produção de uma
A solidariedade orgânica parte do ponto em que racionalidade que não interessa à maior parte das
suas atividades exercidas em território usado, fruto do empresas nem da população.

SANTOS, Milton (org). Novos rumos da geografia brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982.
Claudemir Lopes Bozzi
Filósofo, especialista em Filosofia Política e Jurídica – UEL

Num primeiro momento apontaremos as princi- superação. Esta cultura da crise se relaciona como o
pais contribuições brasileiras à teoria da geografia; em poder na medida em que questiona a ideologia do
seguida, veremos a geografia e o espaço brasileiro. poder e re-funda os fundamentos teóricos críticos da
própria geografia no sentido de explicar e transfor-
I – Contribuições brasileiras mar o real.
Num segundo momento, passar da crise da totali-
à teoria da geografia. dade aos espaços da geografia. Nem o progresso nem
Contribuição à crítica da crise da geografia, de as riquezas naturais são infinitos. Portanto o sonho do
Armando Corrêa da Silva. A crise da geografia se con- consumo infinito acabou. Que fazer? Há condições
figura como a crise da cultura que gerou a expansão materiais para realizar objetivos que a própria humani-
do capitalismo. Da idéia de espaço totalmente livre, dade se põe em seus vários espaços: da prática, da
planeta terra, passou-se para a noção de solo frag- técnica, da pesquisa, da ciência, do trabalho intelectu-
mentado. Compreender o espaço global é consciên- al, das opções possíveis e os espaços da geografia. O
cia de suas partes (unidades), como um todo de rela- espaço da prática é o mais imediato, empírico e coti-
ção. É tensão dialética entre o todo e a parte. Assim, diano. O espaço das soluções práticas do dia a dia. Já
a geografia atual é uma cultura em crise e na consci- o espaço da técnica faz a codificação e formalização
ência, cultura da crise. Como a cultura contemporâ- do empírico. É saber elaborado. O espaço da pesqui-
nea é a composição de um mosaico, também a geo- sa implica razão e técnica, imaginação ordenada e fa-
grafia atual é um mosaico (indivíduo e grupo social). zer metódico. É investigação analítica (hipótese, ob-
A crise da geografia é parte da cultura da crise. Sur- servação, análise de dados e generalização). Implica
gem, então, vários obstáculos: a) a crise da geogra- operações mentais mais complexas do que o homem
fia, a ideologia do fim das ideologias; b) crise dos prático e homem técnico. O espaço da ciência ultra-
geógrafos, renovação e multiplicidade de ideologias; passa a relação racionalismo-empirismo. É a elabora-
c) crise da universidade como lugar de produção da ção rigorosa de conexão interna de seus saberes, es-
geografia, abalo dos fundamentos empíricos das ide- paços da prática, técnica e pesquisa. O espaço do tra-
ologias; d) a crise do ensino, síntese e fim das ideolo- balho intelectual se depara com a contradição da divi-
gias. Portanto, é a crise efetivada como crise de con- são social do trabalho (intelectuais e técnicos versus
sumo e consumo de crise. O que fazer? No dia se- trabalhadores manuais) e diante desta fragmentação
guinte inquirir a liberdade da consciência da necessi- social põe-se como opção entre dicotomia social e
dade. A liberdade da consciência e consciência da li- unidade. O espaço das opções possíveis deve definir
berdade. Consciência da necessidade individual e so- os objetivos a serem alcançados e descobrir as condi-
cial. Consciência da sobre determinação. Vem o pro- ções reais de sua efetivação. Assim, os espaços da ge-
jeto! Efetivar a continuidade, mas com a técnica e a ografia se põem como espaços plurais. O espaço da
metodologia analítica a serviço da coletividade do tra- geografia, espaço: a) da ciência e ideologia que se re-
balho. Assim, a objetividade do real é posta sob o laciona com a interdisciplinaridade; b) de seu próprio
teleológico: serviço da humanidade. A metodologia espaço interno; c) referido ao segmento do real; d) do
16 analítica se instrumentaliza como libertação: põe a subespaço do real que remete à subtotalidade em seu
Nº 18 cultura da crise e se torna ciência da cultura em crise. conjunto; e) do discurso que extrapola a subtotalidade,
MAIO/2006 Pela contradição já possuem em si o germe de sua como consciência do real no todo e na parte.
Algumas considerações do espaço geográfico, faz o homem, pelo trabalho, e a ação da natureza so-
de Roberto Lobato Corrêa. Que é espaço? Para o bre o homem o faz sujeito natural. Segundo Moreira,
geógrafo é a superfície da terra vista enquanto mora- “é a estrutura econômica da formação econômico-
da, do homem e de sua história. Trata-se de pensar o social que determina a organização espacial, mas é
espaço-morada do homem. Qual a natureza do espa- a conjuntura política que comanda seus movimen-
ço geográfico? Como o geógrafo pensa este espaço e tos (processos e formas)”. Pensemos, por exemplo,
qual o conceito de processo espacial? O conceito de nas classes sociais e seus lugares geográficos: o ca-
espaço (Harvey) tem variado historicamente: espaço ráter de classe determina o caráter do lugar, seu ar-
absoluto, espaço relativo e espaço relacional. No con- ranjo espacial: a estética da moradia, a natureza dos
ceito de espaço absoluto: o espaço é uma coisa em serviços, a “política pública” de infra-estrutura espa-
si mesma e associado às idéias de áreas ou região e de cial, a geometria. O espaço geográfico, portanto é
unicidade, associado à geografia regional (Hartshorne). condição da reprodução econômico-social da socie-
Já o espaço relativo: entendido a partir de “relacio- dade. A organização do espaço, enquanto reprodu-
namentos entre objetos, só existe porque os objetos ção da produção capitalista, desempenha papel de
existem e se relacionam mutuamente. Assim, o movi- mediação de espaço enquanto arranjo: econômico
mento de pessoas, bens, serviços e informações veri- como uma formação de múltiplos espaços desiguais
ficam-se em um espaço relativo porque custa dinhei- (espaços industriais; instrumentos de trabalho; meios
ro, tempo, energia para se vencer a fricção da distân- de consumo individuais e coletivos;), jurídico-político
cia” (Harvey). Pode cair no perigo de geografia como (aparelhos ideológicos e repressivos do Estado), ide-
conexão, direção e distância sem referência com o so- ológico (aparelhos ideológicos de prescrição da ideo-
cial ou a serviço do “custo-benefício” do capitalismo. logia dominante: escola, igreja, quartel, tribunais).
Por fim, o espaço relacional: como existindo nos ob- Necessário desenvolver um método específico para a
jetos – “no sentido de que um objeto somente pode geografia: a partir do arranjo social, apreender a
existir na medida em que ele contenha e represente dialética social da formação econômico-social. Assim,
dentro de si relações com outros objetos” (Harvey). Mas a teoria crítica do espaço deve possui três facetas: a
porque três conceitos de espaço? Porque: a) espaço formação econômico-social, o modo de produção e
como valor de uso, no qual o homem valoriza a fertili- a formação sócio-espacial. Por fim, sobre a análise
dade e amenidades físicas; b) no mercado capitalista o geográfica deve-se argüir a direção das determinações
espaço possui valor de troca – espaço como extração e descobrir a essência da aparência. Portanto, o ca-
de renda (espaço é mercadoria), monopólio de classe; minho seguro do método é, segundo Moreira, o da
c) espaço como conteúdo relacional do qual extrai ren- imersão no arranjo espacial no jogo das suas deter-
da de monopólio. Portanto, trata-se de estudar o espa- minações múltiplas, sobretudo as determinações de
ço-morada a partir da formação social de uma deter- classe. Conhecer para transformar!
minada sociedade. O espaço-morada do homem é de Repensando a teoria das localidades centrais,
natureza social. Neste sentido, destaca Corrêa, a ação de Roberto Lobato Corrêa. Repensar a teoria da loca-
humana tem papel fundamental na organização do lidade criticando-a e recuperá-la em um nível mais
espaço. Pensa-se nos atores que monopolizam os meios elevado. Primeiro: a rede hierarquizada de localida-
de produção e o Estado. De um lado, a acumulação des centrais constitui-se em uma forma de organiza-
do capital e, de outro, a reprodução da força-de-traba- ção do espaço vinculado ao capitalismo, sendo de
lho. Os processos espaciais são efetivados para res- natureza histórica. Segundo: a rede de localidades
ponder, numa sociedade de mercado, estas duas for- centrais cumpre simultaneamente dois papéis que são
ças antagônicas. Por elas ocorrem a concentração e complementares: de um lado, constitui-se em um meio
dispersão da ação humana-tempo-espaço-mudança. para o processo de acumulação capitalista, e de ou-
Assim, o espaço reflete valores socialmente enraizados tro, constitui-se em um meio para a reprodução das
na comunidade. Portanto, trata-se de pensar o espa- classes sociais. Isto significa que a rede de localida-
ço-morada do homem em suas conexões com tempo des centrais constitui-se em um meio através do qual
e espaço, pois são experiências humanas. a reprodução do modo de produção capitalista se ve-
Repensando a geografia, de Ruy Moreira. O pro- rifica. Terceiro: as redes de localidades centrais apre-
cesso de socialização na natureza pelo trabalho soci- sentam-se caracterizadas por arranjos estruturais e
al, i. é, a transformação da história natural em histó- espaciais diversos, isto porque o capitalismo se verifi-
ria dos homens implica uma estrutura de relações sob ca de modo desigual. Quarto: a rede de localidades
determinação do social. É esta estrutura complexa e centrais constitui-se em uma estrutura territorial cuja
em perpétuo movimento dialético que conhecemos análise possibilita a compreensão do sistema urbano
sob a designação de espaço geográfico. História dos de países não industrializados ou onde a industrializa-
homens e história da natureza são inseparáveis. Há ção se verifica espacialmente concentrada. Quinto:
múltiplas determinações na relação dialética entre o possibilidade da conexão entre rede de localidades
homem e a natureza na qual, pela ação do trabalho centrais e capitalismo monopolítico. A emergência de 17
humano sobre a forma-natureza, gera a forma-socie- outro arranjo estrutural e espacial da distribuição de Nº 18
dade. Portanto, o modo de socialização da natureza bens e serviços caracterizados pela especialização dos MAIO/2006
centros de mercado, tanto no nível intra-urbano como ado, valor-de-uso, riqueza natural, etc., à luz deste
regional, onde tais centros oferecem uma gama de arsenal metodológico analisar a categoria território e
bens e serviços altamente associados entre si em ter- valor, concentração territorial do capital, entre outros.
mos de complementaridade. Por fim, trata-se de ana- Portanto, trata-se de destacar a valorização do territó-
lisar a questão da teoria das localidades centrais e de rio (urbano e rural, questão agrária) como objeto da
repensar em uma outra teoria geográfica que esteja geografia marxista.
fundada nas relações entre sociedades historicamen- Alguns problemas atuais da contribuição mar-
te determinadas e o espaço. xista, de Milton Santos. Santos cita algumas atitudes
Espaço e tempo: compreensão materialista e para desenvolver uma geografia marxista. Primeira: a
dialética, de Ariovaldo Umbelino de Oliveira. Espaço necessidade do trabalho teórico-empírico (recolher o
e tempo configuram-se no embate entre o materialis- real); segunda: a teorização como incorporação reno-
mo dialético e o idealismo. Para este, espaço e tempo vadora (sem ter medo de conhecer, de forma crítica,
são figuras de representação idealista da subjetivida- outras teorias); terceira atitude: contra o dogmatismo
de (Kant). Para o materialismo espaço e tempo são (autocrítica); quarta: agir contra o congelamento dos
formas essenciais da existência da matéria movente conceitos (o real é dinâmico, tudo flui). Por fim, a no-
(Fataliev). Afirma-se também, para o materialismo, a ção do real deve abarcar a totalidade, ou real-total como
extensão como essência do espaço. Este espaço tam- categoria essencial do fazer do geógrafo. E, por outro
bém configura a ordem das coisas (ou desordem), lado, há necessidade de renovação do discurso cientí-
como também os princípios e as leis dos fenômenos, fico. Visto que o real está penetrado pela história e pelo
mas também graças ao tempo, é nele que se configu- tempo corrente e concreto.
ra a luta dos contrários e a possibilidade objetiva de
mudar o curso dos fenômenos sociais, históricos e II – Estudando a geografia e o espaço brasileiro.
econômicos – no tempo e no espaço. Assim, o tempo Estrutura agrária e dominação do campo – no-
pode ser “lei” de mutação dos fenômenos. Para a con- tas para um debate, de Carlos Walter Porto Gonçal-
cepção materialista dialética de espaço e tempo como ves. Em síntese pode-se dizer que: “1) o desenvolvi-
formas peculiares de existência da matéria em movi- mento do capitalismo é desigual e combinado e, des-
mento. Espaço: forma de ser da matéria, visto que de a sua gênese, se apóia numa divisão do trabalho
toda matéria ocupa um espaço. Portanto há uma uni- em escala mundial; 2) por isso, o desenvolvimento de-
dade indissolúvel par a matéria: movimento, espaço e sigual e combinado, cada Estado nacional acaba por
tempo. Convém frisar, segundo Ariovaldo, que a uni- se constituir numa articulação contraditória, particu-
dade, a diversidade e a interdependência do espaço e lar, de classes que, no entanto, significa um elemento
tempo consistem, pois em uma das noções funda- da configuração imperialista mundial; 3) a “questão
mentais que fazem parte da concepção materialista- agrária” não pode se compreendida em si mesma, posto
dialético do espaço e tempo. Por fim, convém ressal- que o significado próprio às diversas formas de organi-
tar que espaço e tempo possuem uma unidade na zação deste ramo da produção social é dado pelas
diversidade. Tempo e espaço são duas formas injunções da produção e reprodução ampliada do ca-
intercondicionadas de ser da matéria. Espaço é movi- pital; 4) nos países de desenvolvimento capitalista re-
mento e transformação da matéria. Portanto, confor- tardatário a questão agrária assume um caráter parti-
me Ariovaldo, “Tempo e espaço se acham, pois, cular, dada a articulação do grande capital com a pro-
indissoluvelmente unidos ao movimento da maté- priedade fundiária; 5) no Brasil essa articulação come-
ria, ao movimento concebido no sentido materialis- ça por se delinear na segunda metade do século XIX, é
ta dialético, não como estados particulares de coi- redefinida nos anos 30 e cristalizada no golpe militar
sas ou fenômenos particulares, mas como forma de 1964; 6) ao “fundir quimicamente” o grande capital
universal de ser da matéria; acha-se igualmente unido com o grande proprietário de terras, o desenvolvimen-
ao movimento concebido como transformação, como to retardatário do capitalismo cumpriu uma das tare-
desenvolvimento que inclui o nascimento do novo”. fas da revolução burguesa, i. é, a constituição da uni-
A geografia como valorização do espaço, de dade nacional; 7) ao fazer isto, unificou a luta de clas-
Antonio Carlos Robert Moraes e Wanderley Messias ses em todo o território nacional – a luta indígena, dos
da Costa. Afirmam a tese de se passar de uma teoria posseiros, do bóia-fria com a luta dos operários do ABC;
crítica, como superação do paradigma positivista e 8) que o Estado – órgão centralizador do grande capi-
funcionalista, para uma teoria marxista da e na geo- tal e da grande propriedade fundiária não pode, en-
grafia. Aqui é fundamental o método do materialismo quanto tiver esta composição de classe, realizar a re-
histórico dialético aplicado ao objeto da geografia. forma agrária; 9) resta a dúvida: até que ponto um es-
Como método de interpretar o real. Trata-se de ado- tado de compromisso que busque incorporar parte das
tar o materialismo histórico e dialético enquanto um aspirações das classes dominadas seria capaz de reali-
método revolucionário que funde ciência e história, zar tal tarefa, considerando-se o atual estágio da eco-
18 do qual emergem categorias como modo de produ- nomia mundial?”, diz.
Nº 18 ção, formação econômico-social, relações de produ- Crise econômico-social no Brasil e o limite do
MAIO/2006 ção etc., e conceitos como capital, trabalho assalari- espaço, de Manoel Fernando Gonçalves Seabra. Tra-
ta-se, sinteticamente, que a crise tenha componentes no. 2) As relações das cidades com sua interlância agrá-
político-ideológicos, possui fundamento econômico, ria; crises de abastecimento de mercado interno (do
i.é, crise de acumulação capitalista. O Brasil está in- leite, por ex.); cidades e renda fundiárias; estudos so-
serido como capitalismo periférico e dependente bre a classificação territorial : que é o rural e o urbano.
(tecnológica e financeira) do imperialismo (america- Novos rumos da geografia brasileira, de Milton
no), conforme a década de 50 e o golpe militar de Santos. A geografia (fundação, estatuto teórico e pro-
1964 o demonstram. Com a homogeneização deste dução) está situada às grandes crises da própria hu-
modelo de capital irradiado pelo Brasil possibilita manidade (veja a 2ª Grande Guerra Mundial e o fenô-
fissuras para sua crise e a possibilidade do novo. meno das migrações). Herdeira do embate entre
O pensamento geográfico e a realidade brasilei- empirismo (positivismo) e idealismo, triunfou, no sé-
ra, de Manuel Correia de Andrade. Segundo Andrade, culo XIX, a geografia como ciência positiva. Pós 2ª
é hora de descolonizar a teoria da geografia de seu Guerra, com a bipolaridade mundial, recebe o peso
peso histórico: francês, americano, entre outros. Sua da ideologia americana (imperialista) – instrumento
proposta é a construção de uma teoria da geografia hegemônico do capital. Entretanto, com nova crise
genuinamente brasileira, sem desprezar, é claro, a con- do quantitativismo surge a possibilidade de repensar
tribuição externa. Cita alguns autores brasileiros que o homem e seu espaço e, com isso, de renovação da
falam de alguma forma de geografia e de sua geografia. É o contexto geopolítico da ditadura mili-
cosmovisão: os cronistas viajantes e aventureiros, e os tar no Brasil e da resistência de parte dos intelectuais
estudos de: Capristano de Abreu, Euclides da Cunha, (caso exemplar foi a publicação da Associação dos
Joaquim Nabuco, Caio Prado Jr., Raimundo Faoro, Geógrafos Brasileira), movimentos sociais, OAB, ABI,
Sérgio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Djacir entre outros. Outro problema é o boicote e censura
Menezes, Florestan Fernandes, Darcy Ribeiro, Antonio da imprensa em relação às publicações que questio-
Candido, Amélia Cohn, Nelson Werneck Sodré, Josué nam o poder estabelecido. Há também o obstáculo
de Castro, Milton Santos, Manoel Seabra, Lea Goldstein, do monopólio das fontes, veja o caso do IBGE, que
Armando Corrêa da Silva, entre outros. Portanto, criar se fecha perante os geógrafos críticos. Impera a fonte
uma identidade teórica de nossa diversidade. e divulgação de cópias dóceis dos estrangeirismos.
Notas sobre a geografia urbana brasileira, de Entretanto, é imperioso, segundo Milton Santos, a
Armen Mamigonian. Seu destaque para duas linhas de construção de uma geografia brasileira descolo-
pesquisa para os estudos urbanos: 1) o processo de nizada: elaboração de trabalhos autônomos, auto-
industrialização continua despertando interesse entre gerados e auto-sustentados. Trata-se de aprender nos-
economistas, historiadores e sociólogos com poucas so lugar no mundo e nossa localização específica neste
contribuições dos geógrafos. Apesar disso, destacam- mundo. Para tanto, se faz premente romper com a
se os temas: bloqueios dos ramos industriais desen- tradição empirista e desenvolver uma fundamentação
volvidos em São Paulo; a desnacionalização de inúme- e práxis comprometida com a teoria da geografia que
ros ramos industriais; a industrialização das metrópo- reflita nosso mundo real, com a formação do geógrafo,
les regionais num processo de substituição de impor- com o compromisso intelectual e político no sentido
tações (mercado regional), mas sob o controle exter- de reconstrução nacional, salienta Milton Santos.

SIMIELLI, Maria Elena R. Cartografia no ensino fundamental e médio. In: CARLOS, Ana Fani A.
(Org.). A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1999. p. 92-108.
Resenha elaborada pelo Professor Auro Moreno Romero
Mestre em geografia pela USP

Uma das grandes preocupações da autora neste ao observador a possibilidade de construir várias ima-
texto consiste em como realizar a transposição das gens. É a partir desse saber universitário que um sa-
informações da cartografia, enquanto disciplina uni- ber ensinado deve ser elaborado, reconstruído, reor-
versitária, para o ensino de geografia no ensino fun- ganizado. É necessário destacar que os saberes de-
damental e médio. É fundamental desenvolver méto- senvolvidos nos ensino fundamental e médio não se
dos que permitam essa transposição sem que se constituem em um resumo do saber universitário.
desconfigure, desvalorize ou empobreça o ensino uni- Assim, mais do que uma transposição didática,
versitário da cartografia. trata-se de reconstruir o saber geográfico sobre ba-
O saber universitário se apresenta sob forma de ses parcialmente diferentes já que os objetivos e os 19
peças de um quebra-cabeça sem uma imagem coe- meios da prática de geografia não são os mesmos na Nº 18
rente na qual ele é multiplicado, separado, deixando universidade e no ensino fundamental e médio. MAIO/2006
A RECONSTRUÇÃO DEVE SER da 6a à 8a séries os alunos já possuirão condições de
estar trabalhando com análise, localização e com a
FEITA EM VÁRIOS NÍVEIS correlação. Já no ensino médio juntamente com a
análise, localização, correlação, também se insere a
1. Reconstrução no nível dos programas oficiais
síntese.
Apenas uma parte da temática universitária deve Assim, a cartografia, além de constituir um recur-
ser implementada para determinar os conteúdos do so visual, oferece aos professores a possibilidade de
ensino fundamental e médio, levando-se em conta os se trabalhar em três níveis:
objetivos da formação geral do educando. No que diz
1) Localização e análise – cartas de análise, distribui-
respeito ao método de ensino é muito mais interes-
ção ou repartição, que analisam o fenômeno iso-
sante, no ensino fundamental e médio, partir do mé-
ladamente.
todo indutivo – do particular para o geral – do concre-
to para o abstrato. Os modos de raciocínio, os instru- 2) Correlação – permite a combinação de duas ou
mentos metodológicos, os temas de pesquisa, mui- mais cartas de análise.
tas vezes devem ser colocados de lado. 3) Síntese – mostra as relações entre várias cartas de
análise, apresentando-se em uma carta síntese.
2. Reconstrução no nível do professor
Diferentes professores elaboram cursos e lições Dentro dessa proposta de localização, análise, cor-
muito diversas. Cada professor reconstrói a geografia relação e síntese - aplicadas para a alfabetização
à sua maneira. O professor retém apenas uma parte cartográfica - devemos oferecer às crianças de 1a à 4a
do programa oficial seja devido: ao tempo, aos seus séries subsídios que favoreçam a compreensão dos
objetivos, à sua capacidade de interpretação pessoal, elementos presentes nas representações gráficas, so-
suas necessidades ou ainda, em função dos interes- bretudo os mapas. Em outras palavras, a idéia é edu-
ses dos seus alunos. car o aluno para uma visão cartográfica.
Para que possamos educar nossos alunos para a
3. Reconstrução no nível da lição cartografia é necessário, em primeiro lugar, aprovei-
À medida que as lições prosseguem e os alunos tar-se do interesse natural das crianças pelas imagens
adquirem novas competências, o conteúdo dos cur- utilizando-se de inúmeros recursos visuais tais como:
sos e métodos de ensino previstos são modificados e desenhos, figuras, tabelas, jogos e representações
reconstruídos. feitas por crianças.
A cartografia, para as séries iniciais, deve iniciar
4. Reconstrução no nível do aluno seu trabalho com o estudo do espaço concreto dos
O aluno, por sua vez, constrói ele mesmo seu sa- alunos, o mais próximo deles, ou seja, o espaço da
ber, retendo apenas uma parte dos conteúdos, inte- sala de aula, o espaço da escola, espaço do bairro
grando-a à sua maneira nos esquemas de pensamento para somente, nos dois últimos anos, se falar em es-
e ação. paços maiores.
Do ensino fundamental para o médio os conteú- O que importa é desenvolver a capacidade de lei-
dos e métodos se modificam e o problema principal a tura e para que a alfabetização alcance bons resulta-
ser administrado pelo professor é evitar o desvirtua- dos se faz necessário o de desenvolvimento de no-
mento total do projeto geográfico ou ainda, que sur- ções de:
jam contradições entre o saber ensinado e o saber
• Visão oblíqua e visão vertical;
universitário. A cada lição o professor deve realizar
• Imagem tridimensional, imagem bidimensional;
uma triagem e classificar os fatos propostos pelo sa-
• Alfabeto cartográfico: ponto, linha e área;
ber universitário propondo uma adaptação coerente
• Construção da noção de legenda;
para os objetivos e capacidades dos alunos do ensino
• Proporção e escala;
fundamental e médio, com o objetivo de evitar gran-
• Lateralidade/referências, orientação
des desvios.
Quanto à cartografia para 5a e 8a séries pode ser
A CARTOGRAFIA NO ENSINO DA GEOGRAFIA trabalhada a partir de dois eixos:
Os mapas nos permitem ter domínio espacial e No primeiro eixo, trabalha-se com o produto
realizar sínteses dos fenômenos que ocorrem num cartográfico já elaborado, tendo um aluno leitor críti-
determinado espaço. Os mapas nos auxiliam no dia- co no final do processo.
a-dia ou ainda pode-se ter diferentes produtos repre- No segundo eixo, o aluno é participante do pro-
sentando deferentes informações para diferentes fi- cesso ou participante efetivo, resultando deste segundo
nalidades: mapas de turismo, de planejamento, ro- eixo um aluno mapeador consciente. Esses dois eixos
doviários, minerais, geológicos, entre outros. têm como objetivo básico eliminar a situação do alu-
É importante destacar que cada aluno tem um no copiador de mapas. A cartografia-cópia e a carto-
20 potencial diferente para leitura e interpretação de grafia-desenho são atividades que não devem ser con-
Nº 18 mapas. Sendo assim, alunos de 1a à 6a séries, traba- sideradas como possibilidades efetivas de trabalho em
MAIO/2006 lhariam basicamente com alfabetização cartográfica, sala de aula.
No primeiro eixo devemos considerar como pro- o aluno confeccione a maquete, deve servir também para
dutos cartográficos os mapas, as cartas e as plantas, correlações, na medida em que a maquete, por ser um
partido de uma escala menor para uma maior. Os alu- produto tridimensional, estará dando ao aluno a opor-
nos – usuários do mapa – trabalharão com esses pro- tunidade de ver diferentes formas topográficas.
dutos em três níveis propostos: Além da maquete, neste eixo, o professor pode tra-
1- Localização e análise; balhar com croquis, que são representações bidimen-
2- Correlação; sionais. Os croquis tratam-se de uma representação
3- Síntese. esquemática, que simplificam mantendo a localiza-
ção da ocorrência dos fatos e evidenciam os detalhes
Esses três níveis de atividade da cartografia podem significativos, portanto, um importante elemento de
começar a ser trabalhados com o aluno desde a 4a e 5a localização e análise. Um segundo tipo de croqui é
série. Na medida em que o aluno evolui na compreen- aquele que permite a correlação, de duas ou mais
são do mapa ele será conduzido para relações mais variáveis que ocorrem no mesmo espaço.
complexas. Começa-se a trabalhar com um número No terceiro nível – síntese – o aluno estará partici-
menor de variáveis e vai-se aumentando esse número. pando efetivamente do processo de produção do mapa
Um dos grandes problemas que encontramos no (croqui), porque quem estará selecionando e
primeiro eixo (mapas já elaborados) é que a maioria correlacionando as informações é o próprio aluno e
dos professores trabalha com seus alunos apenas no essa correlação, desenhada por ele, obriga-o a ir sis-
nível localização e análise – o primeiro e mais elementar tematizando e estruturando essas informações.
dos níveis, ou ainda, estabelecem apenas correlações Cada cidadão tem uma idéia sobre a organização
do ponto de vista físico. Somente quando o professor do espaço em um determinado território; a essa idéia
conseguir desenvolver os três níveis é que conseguirá corresponde uma imagem – um mapa mental. O mapa
formar um aluno leitor crítico, que saberá usar corre- mental permite observar se o aluno tem uma percep-
tamente os mapas, cartas e as plantas. ção efetiva da ocorrência de um fenômeno no espaço
No segundo eixo, os alunos trabalharam com ima- e a condição de fazer sua transposição para o papel.
gem tridimensionais/bidimensional, utilizando-se ba- O mapa mental dever ser avaliado de acordo com as
sicamente de maquetes (tridimensional) e com cro- diferentes faixas etárias.
quis (bidimensional). Esse segundo eixo terá como Em síntese, devemos e podemos usar cada vez mais
resultante um aluno mapeador consciente. Nesse eixo a cartografia em nossas aulas, pois ela facilita a leitu-
o aluno participa efetivamente do processo de ra de informações para os alunos e permite um domí-
mapeamento, o aluno será confeccionador do mapa. nio do espaço de que só os alfabetizados cartogra-
A maquete, todavia, não pode servir apenas para que ficamente podem usufruir.

VESENTINI, José William (Org.). Ensino de geografia no século XXI.


São Paulo: Papirus, 2005.
Resenha elaborada pelo Professor Auro Moreno Romero
Mestre em Geografia pela USP

O livro é composto por uma coletânea de textos – da importância da escola para o cidadão do século
que procuram traçar um perfil do ensino da Geogra- XXI – a pergunta que devemos fazer é se o ensino da
fia, no ensino fundamental e médio em alguns países geografia vai conseguir sobreviver ou até mesmo se
tais como: Estados Unidos, México, Portugal, Espanha, fortalecer com essas mudanças em curso no sistema
França, Brasil incluindo, ainda um texto sobre o con- escolar.
ceito de estudo do meio. Não há dúvida que um sistema escolar renovado e
Para o autor, um dos grandes desafios neste novo apropriado aos desafios do século XXI deve levar em
século diz respeito ao papel da escola na sociedade: conta a “compressão do espaço/tempo”, a valoriza-
as suas relações com a cidadania – que também se ção das escalas global e local, a expansão dos direi- 21
redefine com a globalização e com a criação/expan- tos humanos, a necessidade do educando de apren- Nº 18
são de novos direitos. Assim dentro desta perspectiva der a conviver com os outros e a questão ambiental. MAIO/2006
O ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ESTADOS UNIDOS sos de colocação adiantada em geografia – curso pre-
paratório para o ensino superior – e maior incentivo à
Susan W. Hardwick formação de professores habilitados em geografia, o
que agregou status e honra a disciplina.
Após quase ter sido extinta do currículo do ensino
fundamental e médio em meados da década de 1980, a
Geografia norte-americana ganhou uma nova esperan-
O ENSINO DE GEOGRAFIA NO MÉXICO:
ça com o lançamento de um programa de âmbito na- EDUCAÇÃO BÁSICA (PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA)
cional em prol da disciplina. A Sociedade Geográfica Na-
cional lançou um programa intitulado “Aliança Geográ- Javier Castañeda Rincón
fica” objetivando resgatar a necessidade do ensino da
Geografia nas escolas de ensino fundamental e médio. Este artigo pretende mostrar a situação atual do
Em 1989 foi criada a lei federal “Goals 2000” que ensino de geografia na educação básica no México.
elegeu a geografia como uma das cinco disciplinas Ou seja, o que é ensinado, como é ensinado, porque
essenciais para o ensino fundamental e médio. Em- é ensinado e para que a geografia é ensinada.
bora a lei tenha dado um impulso significativo para o Recentes pesquisas mostram que o ensino da ge-
ensino da geografia, existe uma pressão muito gran- ografia no México se processa mais por memorização
de para que o currículo escolar se volte para a melhoria que por compreensão o que coloca os Mexicanos muito
do ensino de outras disciplinas consideradas mais abaixo da média internacional em termos de conheci-
importantes como a leitura, matemática e ciências. mento da geografia.
Nos últimos 15 anos ocorreu uma redescoberta Para a maioria dos professores mexicanos a geo-
do ensino da geografia nos Estados Unidos. Ocorreu grafia vive um atraso total. O ensino de geografia tem
uma verdadeira “revolução” na reforma da geografia sido posto em segundo plano em comparação com o
escolar que envolveu professores, administradores ensino de matemática ou de espanhol. Isto se deve
escolares e associações profissionais. Depois de mui- em primeiro lugar, por ter sido colocada no âmbito
tas décadas de interpretações incorretas do significa- das ciências sociais e das ciências naturais - foi só a
do e importância da geografia já é possível ver algu- partir de 1993 que a geografia no México ganhou status
ma melhora no nível médio. de disciplina independente.
Essa reformulação deve-se em grande parte ao fato Percebe-se que a geografia no México tem tido
de que o conhecimento que os norte-americanos têm uma importância secundária no ensino fundamental.
da geografia mundial compara-se desfavoravelmente com Sua imagem e identidade como disciplina escolar fo-
seus conterrâneos 40 anos atrás, bem como com o de ram construídas com base em uma geografia descri-
seus contemporâneos em outros países industrializados. tiva e cartográfica.
Os estudantes americanos não dominam concei- Entre os erros detectados nos programas de geo-
tos básicos de geografia nem topônimos em conseqüên- grafia das escolas primária e secundária poderíamos
cia das negligencias em relação ao currículo de geo- destacar: falta de seqüência lógica nos temas; erros
grafia na educação básica. Em exames realizados, 70% conceituais; conceitos obsoletos; temas e subtemas
dos alunos, em cada série, estavam no nível básico de básicos ausentes; duplicidade temática; falta de rela-
conhecimento no que se refere aos conteúdos da geo- ção entre os temas, imprecisão temática.
grafia. A partir desta constatação foram definidos cin- Quanto aos conteúdos esses são definidos por
co temas fundamentais os quais os alunos deveriam categorias, a saber: espaço geográfico; temporalidade
ter domínio: Localização, Lugar, Relações nos lugares, e mudança; localização; representação; distribuição;
Movimento e Região. No começo da década de 1990 relação e interação.
foram criados parâmetros nacionais para o ensino da
geografia onde se definiu que os estudantes deveriam A EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA EM PORTUGAL
possuir o domínio das seguintes categorias geográfi- O sistema educativo português se divide em duas
cas: Visão espacial do mundo; lugares e regiões; siste- grandes etapas: ensino básico (quatro anos), segun-
mas físicos; sistemas humanos; meio ambiente e so- do ciclo (dois anos), terceiro ciclo (três anos) e o ensi-
ciedade e aplicação da geografia. A geografia deveria no secundário (três anos).
ainda, superar o ensino baseado na localização/ A aquisição das competências relacionada com o
memorização de informações. A nova geografia deve espaço faz-se ao longo desses 12 anos de escolarida-
dar ênfase nas relações espaciais, incentivo à resolu- de, em diversas disciplinas e por intermédio de pro-
ção de problemas, conexão com o pensamento críti- fessores com formação diversa.
co, substituição da amplitude pela profundidade, es- Segundo o atual currículo nacional, as competên-
tratégias coletivas de aprendizagem, fundamentação cias a serem desenvolvidas pela geografia ao longo
em pesquisa, adaptação às novas tecnologias, traba- da escolaridade de três ciclos possuem as seguintes
22 lho de campo e ênfase na interação homem-meio. organizações temáticas:
Nº 18 Aliado a uma renovação dos conteúdos foi reali- 1o ciclo – A descoberta do mundo local – Escala
MAIO/2006 zado um amplo trabalho de avaliação, criação de cur- de análise local e regional (ambiente natural, inter-
relações entre espaços, inter-relações entre a nature- mundo dividido entre a competitividade e a falsa idéia
za e a sociedade). de que vivemos em plena democratização do saber
2o ciclo – A descoberta de Portugal e da Península por meio dos mitos das novas tecnologias. No tercei-
Ibérica – Escala de análise local, regional e peninsular ro tópico o autor aponta os desafios educacionais (na
(a Península Ibérica na Europa e no Mundo, O territó- geografia) que devemos enfrentar em um mundo cada
rio Português) vez mais globalizado.
3o ciclo – A descoberta de Portugal, da Europa e
do Mundo – Diferentes escalas de análise (meio am-
Tópico um
biente e sociedade, o meio natural, a terra: estudos e O ensino da geografia até metade do século XX
representações, atividades econômicas, população e constituía-se como um conjunto de saberes eruditos
povoamento, contrates de desenvolvimento). que procuravam ilustrar as elites; que, em forma de
É só no terceiro ciclo que a disciplina de geografia estereótipos pátrios, serviam para doutrinar os demais
é autônoma. Os alunos deverão abordar seis temas estratos sociais; trata-se de conteúdos que contempla-
tendo como obrigatoriedade o ensino relativo à Terra vam basicamente a descrição da paisagem e dos pro-
– estudos e representações – ser ministrado no início dutos derivados da atividade humana; um ensino
do 7o ano. patrimonial do território que se enquadra em diferen-
No ensino, secundário, a geografia é opcional para tes unidades político-administrativas: municípios, pro-
os alunos de cursos voltados para a área de exatas. A víncias, comunidades autônomas e Espanha. Durante
geografia no ensino médio tem como principal finali- todo o período do franquismo o conhecimento geo-
dade desenvolver competências que tornem os alu- gráfico ficou relegado a uma espécie de enciclopedismo
nos capazes de: reconhecer a existência de diferentes cultural o que acabou, até os dias atuais, atribuindo
padrões de distribuição de fenômenos geográficos no uma certa vulgaridade no ensino da geografia.
espaço nacional; relacionar a existência de conflitos Assim, segundo o autor, se realizarmos uma avali-
no uso do espaço e na gestão de recurso; desenvol- ação do ensino de geografia até a segunda metade
ver a percepção espacial; interessar-se pela concilia- do século XX o resultado não será positivo. As pro-
ção entre crescimento econômico e melhoria na qua- postas de educação geográfica não levaram em con-
lidade de vida; e participar na resolução de proble- ta as grandes transformações vividas pela humanida-
mas que se expressam no espaço. de e, mais especificamente, as mudanças que ocor-
Em síntese, segundo o autor, os principais problemas reram Espanha.
do ensino de geografia em Portal constituem-se em: Tópico dois
• Deficiência na formação dos professores do primei- De um modo geral o ensino de geografia, nas es-
ro grau; colas primárias e secundárias na Espanha, pouco mu-
• Programas centrados na aprendizagem de concei- dou desde a sua implantação até os dias atuais. Ocorre
tos nem sempre relevantes; uma reorganização dos conteúdos de geografia que
• Impossibilidade da freqüência da disciplina para os se caracteriza por uma volta a um enciclopedismo
estudantes dos cursos de exata. próprio da cultura espanhola do século XIX, com o
acréscimo de referências a feitos específicos das Co-
Como aspectos favoráveis no ensino da geografia munidades Autônomas. Sem dúvida a impressão que
o autor destaca: temos é que estamos diante da imposição de um de-
• Formação superior específica para os professores terminado modo de entender a cultura, distante dos
de geografia; parâmetros fixados nos debates educativos do anos
• Existência de uma disciplina de geografia autôno- 80 na Espanha.
ma, no terceiro ciclo; Tópico três
• Existência de cursos e ações de formação contínua A geografia, neste terceiro milênio, deve facilitar
para professores de geografia. ao alunado a compreensão do mundo em que vive,
explicando adequadamente os problemas mais rele-
vantes, pois a didática não consiste na formulação
UMA PROPOSTA PARA O ENSINO técnica de alguns conteúdos, mas em uma
DA GEOGRAFIA NA ESPANHA metodologia que possui finalidades educativas.
Para tanto, é preciso repensar as finalidades do
Xosé Manuel Souto Gonzáles ensino de geografia no início do século XXI, para que,
como professores, tenhamos a oportunidade de dis-
O autor organiza este artigo em três tópicos fun- cordar ou não do conjunto de conteúdos didáticos
damentais. No primeiro, esboça a evolução didática que nos é proposto pelos editores dos manuais esco-
da geografia na segunda metade do século XX. No lares, pois certamente todos aceitamos os grandes
segundo tópico é proposto um estudo das mudanças princípios educacionais da legislação escolar e o marco 23
que aconteceram nos anos finais do segundo milênio constitucional. Nº 18
e que incidem no estudo geográfico do mundo. Um A geografia que se ensina nas escolas deve cola- MAIO/2006
borar no sentido de permitir que os alunos possam dagem da ciência geográfica. Nesse sentido, desta-
adotar posições críticas em relação às informações ca-se o livro didático: Compêndios de geografia ele-
que lhes chegam, é preciso que analisem os códigos mentar, de autoria de Manuel Said Ali Ida (professor
e filtros que se interpõem entre a realidade visível e as do colégio Pedro II) onde propõe, pela primeira, vez
redes invisíveis que a transformam a cada dia. estudar o Brasil em regiões.
Delgado de Carvalho representou um nítido avan-
ço em relação à proposta de divisão regional de Ma-
O ENSINO DE GEOGRAFIA NA FRANÇA nuel Said Ali Ida. É D. de Carvalho quem confere ao
Isabelle Lefort ensino de geografia uma grande importância ao ligá-
lo a uma certa ideologia nacionalista, onde a geogra-
A geografia na França faz parte da tradição escolar, fia deveria fornecer ao aluno os fundamentos lógicos,
principalmente de verificarmos o importante papel que com o fim de atingir um patriotismo verdadeiro.
a geografia francesa desempenhou em momentos de Além desses dois precursores da geografia brasilei-
conflitos durante o decorrer do século XIX e meados ra é necessário destacar as contribuições de Everardo
do século XX. Assim, o ensino da geografia na França, Adolpho Backheuser que inseriu na perspectiva da edu-
de maneira como funciona hoje no sistema escolar, só cação e do ensino da geografia a questão da unidade
pode ser compreendido por meio dos laços necessári- político-territorial do Estado brasileiro e as contribui-
os e originais que ele tem com a política. ções de Aroldo de Azevedo que tem uma participação
O ensino de geografia na França, colocando seu indissociável no processo de institucionalização univer-
nascimento a partir de 1870, apresenta uma sitária da ciência geográfica no Brasil. Por meio de seus
periodização em três momentos distintos. O primeiro livros poderíamos dizer que Aroldo de Azevedo “implan-
refere-se ao período entre 1870 e 1902 (instalação) o tou” um modelo de geografia que compartimentou a
segundo, de 1902 a 1977 (período do paradigma realidade sob o paradigma “a terra e o homem”.
vidalino) caracterizado por notável estabilidade e, o O fato de os primeiros professores de geografia
terceiro, de 1977 até os dias atuais, caracterizados do curso de geografia e história da USP terem sido
pelo retorno às hesitações, passando por múltiplas Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig atribuíram à geo-
reformas e releitura de programas. grafia brasileira um caráter muito semelhante à geo-
Podemos dizer que o ensino de geografia no siste- grafia praticada na França.
ma educacional francês caracteriza-se fundamental- O modelo francês perdurou no Brasil até aproxi-
mente pela repetição. Uma disciplina que ativa essen- madamente os anos 60 quando alguns professores –
cialmente o trabalho da memória. Essa repetição con- estimulados pelas mudanças que aconteciam no ce-
duz o aluno a aprender pelo menos três vezes os mes- nário nacional e internacional – procuraram alternati-
mos conteúdos. vas para um ensino da geografia que levasse em con-
Essa repetição se funda sobre o princípio de uma ta essas mudanças.
acumulação progressiva de saberes, na qual se passa
de um nível de generalidades elementares para níveis REALIDADES E PERSPECTIVAS DO
progressivamente mais detalhados de informação.
A geografia na França é tida como uma disciplina
ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL
claramente “mal-amada”. Todas as pesquisas con- José William Vesentini
duzidas durante as últimas décadas evidenciaram que
se tem uma imagem negativa da disciplina. A repre- O ensino de geografia no Brasil vive uma fase de-
sentação social da geografia é essencialmente de uma cisiva, um momento de redefinições impostas tanto
disciplina fastidiosa sem real interesse, demandando, pela sociedade em geral como também pelas modifi-
um esforço muito grande de memorização e prepara- cações que ocorrem na ciência geográfica. Ou a geo-
ção para exames. grafia muda radicalmente e mostra que pode contri-
buir para formar cidadãos ativos ou ela vai acabar vi-
rando uma peça de museu.
O ENSINO DE GEOGRAFIA NO BRASIL: Podemos dizer que existe quase um consenso en-
UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA tre os professores de geografia que atualmente
estamos vivenciando uma transição de uma geogra-
Vânia Rubia Farias Vlach fia tradicional para uma(s) crítica(s). Enquanto a pri-
meira seria descritiva, alicerçada no paradigma “ter-
A geografia que se ensinava, no Brasil, principal- ra-homem” a segunda, consiste na criticidade e no
mente após 1930 era inspirada na obra do padre engajamento.
Manoel Aires de Casal – Corografia Brasílica - em Podemos dizer que o ensino da geografia no Brasil
outras palavras, uma geografia que não podia sequer reflete a própria condição do ensino de maneira ge-
24 ser classificada como descritiva. ral, com todas as dificuldades que já conhecemos.
Nº 18 É no âmbito da escola (primária superior e secun- É preciso ter claro que a geografia escolar não pode
MAIO/2006 dária) que surgem propostas de mudanças na abor- consistir na mera reprodução daquilo que foi anteri-
ormente produzido nas universidades. O fundamen- pudessem refletir sobre desigualdades, injustiças e
tal é levar em conta a realidade dos alunos e os pro- promover mudanças na sociedade. Com o fim das
blemas de sua época e lugar. escolas anarquistas o estudo do meio foi resgatado
Sem dúvida, a geografia deve assumir, no Brasil o pelos escolanovistas, embora com outros objetivos: o
compromisso de contribuir para a cidadania plena, de integrar o aluno ao seu meio.
em levar o educando a conhecer o mundo em que Foi somente a partir de 1992 que professores reu-
vivemos, desde a escala local até a global, sem ne- nidos na SE da cidade de São Paulo elaboraram uma
nhuma preocupação com conceitos petrificados e publicação sobre o assunto. No estudo do meio na
sempre levando em conta o fato de que o mundo está geografia, passou-se a não mais separar o espaço e o
sempre em processo de mudanças e transformações tempo, pois as observações sensíveis permitem uma
que não possuem uma causa simples nem constan- aproximação concreta com problemas estudados pela
te, mas, pelo contrário, resultam do entrecruzamento história e pela geografia.
de inúmeros fatores que variam muito de acordo com O contato direto com um local, seja da realidade
a escala geográfica e com determinações culturais, do aluno, seja de outras realidades, e as reflexões so-
econômico-sociais e até mesmo ambientais. bre ele permitem que se formem referenciais para
entender que o meio não é estático, é dinâmico. Ele
foi e será transformado.
O CONCEITO DE ESTUDO DO MEIO A construção e a reconstrução de um espaço po-
TRANSFORMA-SE...EM TEMPOS DIFERENTES, dem mobilizar os agentes sociais envolvidos no pro-
EM ESCOLAS, COM PROFESSORES DIFERENTES. cesso, porque com ritmo e intensidade diferentes in-
terferem na vida das pessoas. O jogo desses interes-
Nídia Nacib Pontuschka ses vai definir a maneira da construção e reconstru-
ção do espaço.
As escolas anarquistas foram as primeiras no Bra- Os conflitos sociais podem estar materializados no
sil introduzir atividades semelhantes ao estudo do meio espaço visível. No entanto, nem sempre isso ocorre,
– nas escolas que seguiam a pedagogia Ferrer – com havendo necessidade de ir ao encontro das explica-
o objetivo de que os alunos, observando, descreven- ções junto com os moradores do local, por meio da
do o meio dito natural e o social do qual eram parte, memória oral e das contradições reveladas.

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DIRIGENTES RESPONSÁVEIS CONSELHO EDITORIAL
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