You are on page 1of 26

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

APOSTILA DE GEOLOGIA

PROF. Luiz Carlos Godoy

PONTA GROSSA /2005


69

ÍNDICE

5 ÁGUAS DE SUPERFÍCIE...................................................................................................................................70
5.1 Ciclo Hidrológico ..........................................................................................................................................70
5.2 Balanço Hídrico ............................................................................................................................................70
5.2.1 Escoamento superficial .........................................................................................................................71
5.2.2 Infiltração ...............................................................................................................................................71
5.2.3 Evapotranspiração.................................................................................................................................72
5.3 O Papel da Cobertura Vegetal .....................................................................................................................72
5.5 Bacias Hidrográficas ....................................................................................................................................72
5.5.1 Características morfológicas .................................................................................................................73
5.5.1.1 Forma..............................................................................................................................................73
5.5.1.2 Relevo .............................................................................................................................................74
5.5.1.3 Padrão de drenagem ......................................................................................................................74
5.5.2 Sistemas de classificação dos rios........................................................................................................75
5.5.2.1 Classificação genética ....................................................................................................................75
5.5.2.2 Classificação geométrica................................................................................................................76
5.6 Dinâmica Fluvial...........................................................................................................................................77
5.6.1 Erosão, transporte e deposição de sedimentos ....................................................................................78
5.6.1.1 Erosão fluvial ..................................................................................................................................78
5.6.1.2 Transporte e deposição de sedimentos..........................................................................................78
5.6.2 Morfologia fluvial....................................................................................................................................80
5.6.3 Perfil longitudinal ...................................................................................................................................81
6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS .................................................................................................................................82
6.1 Infiltração e Escoamento Subterrâneo.........................................................................................................82
6.1.1 Zonas de umidade do solo ....................................................................................................................82
6.1.2 Escoamento subterrâneo ......................................................................................................................83
6.2 Propriedades Hidráulicas .............................................................................................................................83
6.2.1 Porosidade ............................................................................................................................................83
6.2.2 Permeabilidade......................................................................................................................................84
6.3 Escoamento em Meios Fraturados ..............................................................................................................85
6.4 Tipos de rochas e materiais quanto à capacidade de armazenar água ......................................................85
6.5 Principais aqüíferos regionais ......................................................................................................................87
6.6 Obtenção de água subterrânea ...................................................................................................................89
6.7 Poluição das águas subterrâneas................................................................................................................90
7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .........................................................................................................................92
70

5 ÁGUAS DE SUPERFÍCIE
As águas de superfície, formadas pelo conjunto de rios e lagos, em seus variados tamanhos, e ainda as
massas de gelo e neve, nas suas diversas formas de ocorrência, representam menos de 3% do volume de
água do Planeta. Deste total, 58,33% encontra-se congelada na Antártica e no Pólo Norte, e 41,5% ocorre
como água subterrânea muito profunda e de difícil obtenção. A água de rios, lagos e subterrânea de pequena
profundidade (menos de 100 metros), de boa qualidade e que pode ser usada em processos industriais e para
consumo humano representa menos de 0,01% do total de água do planeta.
Apesar do pequeno volume, é muito importante estudar o seu comportamento, pois são as águas de
superfície que realizam o trabalho mais intenso de desgaste da superfície e esculturação das formas de relevo,
bem como de transporte e deposição de sedimentos, originando deltas, planícies aluviais, etc.
O aproveitamento da água de superfície permite ainda geração de energia elétrica, abastecimento de
água potável, irrigação de áreas agricultáveis, etc., estando, portanto, diretamente relacionado aos vários
aspectos de nossas vidas.
A análise do meio físico para caracterização do comportamento das águas de superfície (trabalhos de
campo, observação de fotografias aéreas, cartas topográficas, etc.), permite, por exemplo, distinguir regiões
com maior ou menor capacidade de infiltração, com base na análise da densidade da rede de drenagem, dentre
outros exemplos.
Análises deste tipo não podem deixar de contemplar os fatores antrópicos que alteram
significativamente o comportamento das águas de superfície, através das diversas formas de uso do solo.
Analisar essas formas e interpretar seu papel na infiltração e no escoamento é uma tarefa fundamental para o
estudo do comportamento das águas de superfície das bacias hidrográficas.

5.1 Ciclo Hidrológico


As relações entre as várias formas de ocorrência da água se processam dentro de um sistema fechado
denominado ciclo hidrológico (Fig. 62).
O ciclo da água na natureza inicia-se com a evaporação que ocorre nos mares, rios e lagos. O vapor de
água, alcançando a atmosfera, é distribuído pelos ventos e se precipita quando atinge temperaturas mais
baixas. Quando chove sobre a superfície da Terra, uma parte da água se evapora e retorna à atmosfera,
enquanto outra se desloca sobre a superfície, constituindo as águas de escoamento superficial (rios e lagos).
Parte da água das chuvas infiltra-se no solo, formando as águas subterrâneas. Além disso, uma pequena
parcela é absorvida pelos animais e plantas, sendo utilizada no seu metabolismo.

Fig. 62 - Ciclo Hidrológico

5.2 Balanço Hídrico


A análise comparativa entre as quantidades de água que entram e que saem de um sistema definido
(bacia hidrográfica), levando-se em conta as variações das reservas hídricas superficiais e subterrâneas,
durante um determinado período de tempo (freqüentemente o período anual) é denominado balanço hídrico.
71

Esse balanço envolve de um lado, como entrada, a precipitação, e, de outro, o escoamento superficial,
a infiltração e a evapotranspiração, apresentados a seguir.

5.2.1 Escoamento superficial


O escoamento superficial ou deflúvio corresponde à parcela da água precipitada que permanece na
superfície do terreno e que está sujeita à ação da gravidade que a conduz para cotas mais baixas. O
conhecimento de sua ocorrência e de seu comportamento na superfície da terra é importante para o
dimensionamento de obras hidráulicas, como barragens para fins de abastecimento de água potável, geração
de energia elétrica, irrigação, controle de cheias, navegação, lazer e tantas outras. Conforme as características
do seu deslocamento, as águas superficiais podem provocar erosão dos solos, inundação de várzeas, etc.
O escoamento superficial depende das características hidráulicas dos solos e das rochas, da cobertura
vegetal e das estruturas biológicas, assim como da forma da bacia de drenagem, da declividade de sua
superfície e do teor de umidade dos seus terrenos. Nas regiões ocupadas pelo homem, deve-se ainda
considerar as diversas formas de uso do solo que intensificam ou atenuam o escoamento superficial.
O coeficiente de escoamento superficial ou coeficiente de deflúvio corresponde à razão entre o
volume de água escoado superficialmente e o volume de água de chuva que provocou o deflúvio. Alguns
destes valores típicos são apresentados no quadro 11.

Quadro 11 - Valores do coeficiente de escoamento superficial C, em função das características das bacias.
CARACTERÍSTICAS DAS BACIAS C (%)
Superfícies impermeáveis. 90-95
Terreno estéril montanhoso: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 80-90
nenhuma vegetação e alta declividade.
Terreno estéril ondulado: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 60-80
nenhuma vegetação em relevo ondulado e com declividades moderada.
Terreno estéril plano: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 50-70
nenhuma vegetação e baixa declividade.
Áreas de declividades moderadas (terrenos ondulados), grandes porções de gramados,
flores silvestres ou bosques, sobre um manto fino de material poroso que cobre o material 40-65
não-poroso.
Matas e florestas de árvores decíduas em terreno de declividades variadas. 35-60
Florestas e matas de árvores de folhagem permanente em terreno de declividades 5-50
variadas.
Pomares: plantações de árvores frutíferas com áreas abertas cultivadas ou livres de 15-40
qualquer planta, a não ser gramas.
Terrenos cultivados em plantações de cereais ou legumes, em zonas altas (fora de zonas 15-40
baixas e várzeas).
Terrenos cultivados com plantações de cereais ou legumes, localizadas em zonas baixas e 10-30
várzeas.

5.2.2 Infiltração
A infiltração é a passagem de água da superfície para o interior do terreno. É um processo que
depende da disponibilidade de água, da natureza do terreno, do estado de sua superfície, da sua cobertura
vegetal e do seu teor de umidade.
A capacidade de infiltração de um solo é definida como sendo a taxa máxima pela qual a água pode
ser absorvida pelo solo. Em geral, os solos e as rochas mais permeáveis apresentam maior capacidade de
infiltração, favorecendo a rápida transferência da água para o lençol subterrâneo, reduzindo o escoamento
superficial direto.
A infiltração influi nas características hidrológicas dos cursos d'água. Os rios permanentes, que
apresentam fluxo relativamente constante durante todo o ano, mesmo durante os períodos de tempo seco, são
mantidos pelas descargas de água subterrânea armazenada nos aqüíferos. Tais rios situam-se abaixo do nível
freático e a transferência de água do nível freático para o curso de água é denominada infiltração efluente.
72

Os rios que fluem somente em períodos de chuvas, denominados intermitentes ou periódicos, estão
situados acima do nível freático, drenando apenas a água que permaneceu na superfície e não se infiltrou. Em
geral apresentam fluxo muito variável, com grandes cheias ou pequenas vazões. Por estarem situados acima
do nível freático, ao invés de serem alimentados pela água subterrânea armazenada nos aqüíferos, verifica-se
a transferência de água destes rios para o nível freático. Tal transferência é denominada infiltração influente
(fig. 62 A).

Fig. 62 A – Rio intermitente ou temporário (infiltração influente) e rio permanente ou perene (infiltração
efluente).

5.2.3 Evapotranspiração
Um outro componente do ciclo hidrológico é a evapotranspiração, que corresponde à perda de água por
evaporação a partir do solo e transpiração das plantas. Os fatores que influenciam a evapotranspiração são:
temperatura do ar, umidade e vento. A evapotranspiração de uma bacia hidrográfica pode ser estimada através
do balanço hídrico, medindo-se as precipitações na bacia e as vazões na seção em estudo.

5.3 O Papel da Cobertura Vegetal


A cobertura vegetal tanto pode ser natural, como a vegetação da Serra do Mar, quanto artificial ou
cultural, como as plantações. Nestes casos, o solo dispõe de uma cobertura que exerce uma ação, maior ou
menor, de proteção contra as intempéries. Entretanto, pode-se considerar que as relações de equilíbrio,
existentes entre a vegetação primitiva e o solo, adquiridas ao longo de centenas ou mesmo milhares de anos,
apontam este tipo de cobertura vegetal como a de maior ação de proteção.
A cobertura vegetal exerce grande influência na distribuição da água de chuva pelos fenômenos de
interceptação, escoamento pelos troncos e retenção na serrapilheira (cobertura de restos orgânicos que cobre
o solo). A parcela que atinge o solo, ou precipitação terminal, é a que se infiltra. A água retida acima do solo, no
edifício vegetal e na serrapilheira, sofre evaporação, enquanto que, da parcela infiltrada, parte será extraída
pelas raízes, através do fenômeno da transpiração e parte poderá atingir o lençol freático.
Alguns pesquisadores (Prandini et al., 1976, 1982) admitem que o escoamento superficial seja, de fato,
desprezível nas condições de florestas densas e que a cobertura vegetal também dificulta a penetração
profunda da água no maciço. Entretanto, não se deve generalizar tal comportamento, dado que os fatores
intervenientes como solo, relevo, substrato geológico, clima, flora e fauna, são muitos e variáveis, no espaço e
no tempo. Assim, o papel da cobertura vegetal, na distribuição das águas pluviais, deve ser estudado,
especificamente, em cada região.
De qualquer modo, o desmatamento é considerado uma alteração drástica no equilíbrio do balanço
hídrico de uma região, proporcionando um aumento significativo do escoamento superficial e da infiltração, já
que mais água atinge diretamente o solo. É provável que, com o tempo, a infiltração sofra redução, tendo em
vista a perda da serrapilheira e dos horizontes superficiais, mais porosos, dos solos, o que acabaria por se
refletir num aumento ainda mais notável do escoamento superficial.

5.5 Bacias Hidrográficas


Bacia hidrográfica ou bacia de drenagem de um rio, até a seção considerada (exutório), é a área de
drenagem que contém o conjunto de cursos d'água que convergem para esse rio, até a seção considerada,
sendo limitada em superfície pelos divisores de água, que correspondem aos pontos mais elevados do terreno
e que separam bacias adjacentes (Fig.63). O conjunto dos cursos d'água, denominado rede de drenagem, está
estruturado, com todos os seus canais, para conduzir a água e os detritos que lhe são fornecidos pelos terrenos
da bacia de drenagem.
73

A quantidade de água que atinge os rios está na dependência das características físicas de sua bacia
hidrográfica, da precipitação total e de seu regime, bem como das perdas devidas à evapotranspiração e à
infiltração.
As características físicas são definidas pelas características morfológicas, representadas pelo tipo de
relevo, forma, orientação e declividade da bacia de drenagem e pelos aspectos geológicos, representados
pelas estruturas, tipos litológicos, mantos de intemperismo e solos. Além destes aspectos, a cobertura vegetal e
o tipo de ocupação da bacia exercem também uma influência importante nas relações entre infiltração e
escoamento superficial em uma bacia de drenagem.

Bacia Hidrográfica do Rio Imboassica


Ri
o

Imb
oa ss
i ca

N.V

2.000 m

Fig. 63 - Representação esquemática de bacia hidrográfica.

5.5.1 Características morfológicas


Várias características morfológicas de uma bacia podem ser mensuradas. A seguir serão apresentadas
algumas medidas de forma, de relevo e de padrão de drenagem (Christofoletti, 1988).

5.5.1.1 Forma
A forma superficial de uma bacia hidrográfica é importante devido ao tempo de concentração, definido
como o tempo, a partir do início da precipitação, que uma partícula de água de chuva leva para percorrer a
distância entre o ponto mais afastado da bacia e o seu exutório.
Existem vários índices utilizados para determinar a forma das bacias, procurando relacioná-las com
formas geométricas conhecidas e que, entre outras coisas, são indicativos de uma maior ou menor tendência
para a ocorrência de enchentes destas bacias: coeficiente de compacidade e fator de forma.
74

− Coeficiente de compacidade (Kc): é a relação entre o perímetro da bacia (P, em km) e a circunferência de
um círculo com área (A) igual a da bacia.
P
Kc = 0,282
A

Este coeficiente é um número adimensional que varia com a forma da bacia, independentemente de
seu tamanho: quanto mais irregular a bacia, tanto maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente
igual à unidade corresponderia a uma bacia circular. Quanto mais próximo da unidade for o valor desse
coeficiente, mais acentuada será a tendência para maiores enchentes.

− Fator de forma (Kf): é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia. A largura média é
obtida pela divisão da área da bacia (A, em km2) pelo seu comprimento (L, em km). O comprimento da
bacia corresponde à extensão do curso d'água mais longo, desde a desembocadura até a cabeceira mais
distante da bacia.
A
Kf = 2
L

Uma bacia com um fator de forma baixo (por exemplo, estreita e longa) é menos sujeita a enchente que
outra de mesmo tamanho, porém com maior fator de forma (por exemplo, circular).

5.5.1.2 Relevo
O relevo de uma bacia hidrográfica e, principalmente, a declividade dos seus terrenos, exerce grande
influência sobre a velocidade do escoamento superficial, afetando, portanto, o tempo que a água da chuva leva
para concentrar-se nos leitos fluviais, constituintes da rede de drenagem das bacias.
O conhecimento da declividade e das curvas hipsométricas da bacia são úteis para o seu zoneamento
quanto ao uso e ocupação do solo, estudo dos processos erosivos, etc. A curva hipsométrica é a
representação gráfica do relevo médio de uma bacia e constitui o estudo da variação da elevação dos vários
terrenos da bacia, com referência ao nível do mar.
A organização espacial dos rios é influenciada e controlada pelas características geomorfológicas e
pelas estruturas geológicas da bacia de drenagem. As atitudes das camadas, bem como outras estruturas
geológicas, influem tanto na topografia e forma da bacia, como também no padrão de drenagem.

Fig. 63 A – Mapa hipsométrico.

5.5.1.3 Padrão de drenagem


O padrão de drenagem constitui o arranjo, em planta, dos rios e cursos d'água dentro de uma bacia
hidrográfica. O conhecimento das ramificações e do desenvolvimento do sistema de drenagem permite avaliar
a velocidade com que a água deixa a bacia hidrográfica.
Na análise da rede de drenagem costuma-se hierarquizar os cursos d'água de uma bacia, desde os
afluentes menores, de cabeceira, até o curso principal. Uma das classificações mais utilizadas é a de Horton:
75

os cursos d'água de primeira ordem, de cabeceira, são os que não recebem afluentes. Os de segunda ordem
só recebem afluentes de primeira ordem, e são formados quando dois rios de primeira ordem se unem. Os de
terceira recebem rios de primeira e segunda ordem, e são formados quando dois rios de segunda ordem se
unem, e assim sucessivamente (Fig. 63 B).
Os padrões de drenagem são indicativos da permeabilidade relativa do terreno e dos controles
exercidos pelas estruturas e pelos tipos de rocha sobre a infiltração e os movimentos da água subterrânea.
Conhecendo-se a tipologia dos padrões, podem-se fazer interpretações sobre a natureza dos terrenos, a
disposição das camadas, as linhas de falhamento e os processos fluviais e climáticos predominantes.

Fig. 63 B – Hierarquização de canais fluviais.

A densidade de drenagem constitui um dos parâmetros mais simples que representam os padrões de
uma bacia, sendo definida por:
ΣL
d=
A
onde:
d = densidade de drenagem;
ΣL = somatório de todos os comprimentos (l) de cursos d'água contidos na bacia;
A = área da bacia.

Em geral, terrenos relativamente impermeáveis apresentam densa rede de drenagem, enquanto que os
mais permeáveis possuem densidade menor.

5.5.2 Sistemas de classificação dos rios


Podem ser consideradas duas classificações, uma genética e uma geométrica.

5.5.2.1 Classificação genética


Com base na sua disposição em relação á atitude das camadas geológicas, os rios podem ser
classificados em:

− Rios conseqüentes: são aqueles cujo curso foi determinado pela declividade do terreno, coincidindo, em
geral, com o mergulho das camadas geológicas. Estes rios formam cursos retilíneos e paralelos, podendo-
se citar, como exemplos, os rios Tietê, Paranapanema e Iguaçu, na Bacia do Paraná (Fig. 64);
− Rios subseqüentes: são rios cujo sentido de fluxo é controlado pela estrutura rochosa, acompanhando
sempre zonas de fraqueza como falhas, diaclasamentos, rochas menos resistentes, etc. Geralmente são
perpendiculares aos rios conseqüentes (Fig. 64);
76

Fig. 65 - Classificação geométrica da disposição espacial dos rios e seus afluentes

− Rios obseqüentes: são rios que correm em sentido inverso ao mergulho regional das camadas geológicas,
isto é, em sentido oposto ao dos rios conseqüentes. Em geral, possuem pequena extensão, descendo de
escarpas e terminando nos rios subseqüentes (Fig. 64);
− Rios inseqüentes: são aqueles que não apresentam qualquer controle geológico e estrutural visível na
disposição espacial da drenagem e, por esta razão, tais rios tendem a se desenvolver sobre rochas
homogêneas, representadas tanto por sedimentos horizontais, como por rochas ígneas (Fig. 64).

5.5.2.2 Classificação geométrica


Com base no critério geométrico da disposição espacial dos rios e seus afluentes, sem qualquer
conotação genética, os tipos fundamentais dos padrões de drenagem e suas ocorrências podem ser
classificados em:
− Drenagem dendrítica ou arborescente: ocorre tipicamente sobre rochas de resistência uniforme ou em
rochas estratificadas horizontais. Os rios que constituem este padrão de drenagem confluem em ângulos
relativamente agudos, o que permite identificar o sentido geral da drenagem, pela observação do
prolongamento da confluência (Fig. 65);
− Drenagem retangular: este padrão de drenagem é conseqüência do controle estrutural exercido pelas
falhas ou sistemas de diaclasamentos. Encontra-se nas regiões onde diáclases ou falhas cruzam-se em
ângulo reto (Fig. 65);
− Drenagem paralela: caracteriza áreas onde há presença de vertentes com declividades acentuadas ou
onde existam controles estruturais. O padrão de drenagem paralela revela a presença de declividade
unidirecional, constituída por camadas resistentes de inclinação uniforme (Fig. 65);
− Drenagem radial: podem ser do tipo centrífuga, quando os rios divergem a partir de um centro mais
elevado, como os padrões de drenagem desenvolvidos em áreas de domos, cones vulcânicos, relevos
residuais situados acima do nível geral da superfície de erosão, morros isolados, etc., e do tipo centrípeto,
onde os rios convergem para um ponto central mais baixo, como as drenagens de crateras vulcânicas,
depressões topográficas, etc. (Fig. 65);
77

− Drenagem anelar: é típica de áreas dômicas profundamente entalhadas em estruturas formadas por
camadas moles e duras (Fig. 65).

Além destes padrões há a drenagem irregular que ocorre em áreas de soerguimento ou sedimentação
recentes, nas quais a drenagem ainda não alcançou um padrão definido.

Fig. 64 - Classificação genética baseada na disposição dos rios em relação à atitude das camadas geológicas
(Suguio e Bigarella, 1990).

5.6 Dinâmica Fluvial


Os rios são cursos de água estabilizados, de circulação permanente ou intermitente, em que se
realizam três processos geológicos principais: erosão, transporte e sedimentação. Deste modo, quanto ao
tipo de trabalho geológico predominante, é possível considerar os rios divididos em diferentes cursos,
caracterizados quer pela morfologia do traçado, quer pela predominância de ações de erosão, transporte ou
sedimentação. Portanto, pode-se admitir a existência de três sectores principais:

− Curso superior – setor mais a montante, em geral com maior declividade, cujas águas com elevada energia
cinética, promovem o predomínio da erosão que tende a aprofundar o vale, dando-lhe neste setor, uma
forma de "V" fechado.
− Curso médio – setor com perfil menos inclinado e, em conseqüência, de águas mais calmas e de vales
relativamente mais largos que no curso superior, recebendo a contribuição de várias afluentes. Neste setor o
processo predominante é o transporte de sedimentos.
− Curso inferior – setor mais a jusante, de baixa declividade e vales amplos, onde as águas são
relativamente calmas, promovendo o predomínio da sedimentação, como se verifica nos extensos depósitos
de aluvião.

Teoricamente, uma corrente encontra-se em equilíbrio fluvial quando não se verifica, em qualquer ponto
do seu curso, erosão ou deposição de material. O perfil longitudinal de um rio é influenciado por muitos fatores,
como volume e carga da corrente, tamanho e peso da carga, declividade, etc. Nos pontos em que a velocidade
aumenta, ocorre erosão. Onde há decréscimo de velocidade predomina a sedimentação. Portanto, o perfil
longitudinal evidencia um declive bastante acentuado no curso superior, que vai diminuindo progressivamente à
medida que nos afastamos da nascente.
A velocidade das águas de um rio depende basicamente da declividade, do volume das águas, da
forma da seção e da rugosidade do leito. Qualquer alteração destas variáveis modifica a velocidade das águas
e, conseqüentemente, as condições de transporte, deposição ou erosão (Christofoletti, 1988).

Fig. 65 – Evolução do perfil longitudinal e estabelecimento de um perfil de equilíbrio.


78

5.6.1 Erosão, transporte e deposição de sedimentos


Erosão, transporte e deposição de sedimentos são processos interdependentes, que se alternam, com
o tempo, de acordo com a velocidade do fluxo da água e da carga existente.
Erosão é o conjunto de fenômenos superficiais pelos quais os materiais (rochas e solo) são
fragmentados e arrancados (destacados) do seu local original.
Transporte é a movimentação das partículas resultantes da erosão.
Sedimentação é a deposição das partículas por ação da gravidade.
Se a energia disponível para o transporte de carga sólida for suficiente, o leito do rio mantém-se em
condições estáveis. Se existir um excedente de energia, esta será usada para erodir os lados e o fundo do
canal, bem como transportar o material sólido que lhe é fornecido, contribuindo para um aumento de carga para
jusante. Se a energia for menor do que aquela capaz de transportar toda carga, parte será depositada,
diminuindo o total da carga. O trabalho total de um rio é medido pela quantidade de material que ele é capaz de
erodir, transportar e depositar.

5.6.1.1 Erosão fluvial


A erosão fluvial é realizada pelos processos de abrasão, corrosão e cavitação. As águas correntes
provocam erosão não só pelo impacto hidráulico, mas também por ações abrasivas e corrosivas.
Na abrasão, o impacto das partículas carregadas pelas águas, sobre as rochas e outras partículas,
provoca um desgaste pelo atrito mecânico. Já a corrosão compreende todo e qualquer processo de reação
química que se verifica entre a água e as rochas que estão em contato, resultando na dissolução de material
solúvel pela percolação da água. A cavitação ocorre somente sob condições de alta velocidade da água,
quando as variações de pressão, sobre as paredes do canal fluvial, facilitam a fragmentação das rochas. É um
fenômeno que se manifesta em vertedouros de barragens e outras obras hidráulicas onde a velocidade da água
é elevada.
A carga transportada pela corrente é fornecida pela erosão e compreende tanto o material sólido
arrastado no fundo ou carregado em suspensão, quanto o material solúvel de origem diversa.

Fig. 65 A – Erosão fluvial.

5.6.1.2 Transporte e deposição de sedimentos


Durante o processo de transporte de partículas pelas águas correntes, elas podem se depositar de
forma diferenciada, dependendo de sua granulometria, forma e densidade, fenômeno conhecido por transporte
seletivo. Para uma determinada granulometria, sabe-se que as esferas decantam mais rapidamente do que os
discos, bem como os minerais pesados assentam-se antes dos minerais leves. Dessa forma, as partículas mais
achatadas e mais leves são favorecidas pelo processo de transporte em suspensão. Por outro lado, durante o
transporte por arraste ou tração pelo fundo, as esferas rolam mais facilmente e vão deixando para trás as
partículas mais achatadas.
79

O transporte dos sedimentos pelas correntes fluviais pode, portanto, ser agrupado nas três categorias
seguintes (Carvalho, 1994):

− Transporte por arraste: relaciona-se aos esforços tangenciais ao longo do fundo da corrente, provocados
pela água em movimento, cujo efeito é reforçado pelas forças ascensionais devidas ao fluxo turbulento. O
transporte por arraste ou por tração é também função da forma, tamanho e densidade das partículas que
constituem a carga. Quando as condições de fluxo são alteradas, por uma redução na velocidade média da
corrente ou na intensidade de turbulência, as partículas maiores, mais densas e de menor esfericidade são
deixadas para trás. O movimento das partículas por arraste, pelo fato de estar restrito ao leito fluvial, é mais
limitado e sensível às condições de variação de velocidade e de turbulência do que o transporte por
suspensão;
− Transporte em suspensão: ocorre quando a intensidade de turbulência é maior que a velocidade de
deposição das partículas movimentadas pelos esforços tangenciais e pelas forças de ascensão. Neste
caso, as partículas são carreadas de forma completamente independente do leito fluvial;
− Transporte por saltação: o deslocamento das partículas ao longo do leito fluvial se dá por uma série de
saltos curtos. O movimento por saltação pode ser considerado como uma fase intermediária entre o
transporte por tração e por suspensão. As partículas, que não são suficientemente grandes para se
manterem sobre o leito, sofrendo arraste, nem suficientemente pequenas para serem transportadas em
suspensão, podem ser momentaneamente levantadas, movendo-se para diante, em uma série de saltos e
avanços sucessivos.

Fig. 65 B – Transporte de sedimentos em corrente fluvial.

Fig. 65 C – Sedimentação fluvial em canal meandrante.

Uma vez iniciada a movimentação de uma partícula, os processos envolvidos no seu transporte e
deposição, dependem fundamentalmente de sua velocidade de decantação. Esta depende de fatores inerentes
à partícula em decantação, tais como tamanho, forma e peso específico, além de fatores ligados ao meio fluido
como, por exemplo, viscosidade, peso específico, etc.
A deposição persistente em determinados locais dos cursos e corpos d'água configuram o assoreamento.
80

5.6.2 Morfologia fluvial


Como resultado do ajuste do seu canal à seção transversal, os rios podem adquirir várias formas, em
função da carga sedimentar transportada, descarga líquida e declividade do canal. As formas são geralmente
descritas como retilínea, anastomosada ou meandrante e todas podem ocorrer associadas em uma mesma
bacia de drenagem:

− Canais retilíneos: possuem sinuosidade desprezível em relação a sua largura, caracterizando-se pelo
baixo volume de carga de fundo, alto volume de carga suspensa e declividade acentuadamente baixa. A
erosão ocorre ao longo das margens mais profundas e a deposição nas barras de sedimentos.
Desenvolvem-se em planícies deltaicas de deltas construtivos, sendo de ocorrência relativamente pouco
freqüente na natureza;
− Canais anastomosados: caracterizam-se por sucessivas ramificações e posteriores reencontros de seus
cursos, separando ilhas assimétricas de barras arenosas. Apresentam canais largos, não muito profundos,
rápido transporte de sedimentos e contínuas migrações laterais, associadas às flutuações na vazão líquida
(descarga) dos rios. Apresentam grande volume de carga de fundo e desenvolvem-se, normalmente,
associados a leques aluviais, leques deltaicos, ambientes semi-áridos e planícies de lavagem de depósitos
glaciais;
− Canais meandrantes: são canais sinuosos, constituindo um padrão característico de rios com gradiente
moderadamente baixo, cujas cargas em suspensão e de fundo encontram-se em quantidades mais ou
menos equivalentes. Caracterizam-se por fluxo contínuo e regular, possuindo, em geral, um único canal
que transborda as suas águas no período das chuvas. Os canais meandrantes possuem competência e
capacidade de transporte mais baixas e uniformes do que os canais anastomosados, transportando
materiais de granulometria mais fina e mais selecionada. São comuns a quase todos os setores de
planícies fluviais de regiões tropicais e subtropicais úmidas. No Brasil, ocorrem vários modelos regionais de
drenagens meândricas, como o do alto Rio Tibagi, médio vale do Rio Paraíba do Sul, o do Pantanal Mato-
grossense e do Amazonas.

Fig. 66 - Canais meandrantes e anastomosados.


81

5.6.3 Perfil longitudinal


O perfil longitudinal de um rio indica a sua declividade ou gradiente, constituindo-se na representação
visual da relação entre a diferença total de elevação do seu leito e a extensão horizontal (comprimento) de seu
curso d'água, para os diversos pontos situados entre a nascente e a foz.
A velocidade de escoamento de um rio depende da declividade dos canais fluviais: quanto maior a
declividade, maior a velocidade de escoamento.
A inclinação do perfil de uma drenagem é determinada pelas condições impostas a partir de montante e
pelo seu nível de base de jusante. Nível de base de um rio é o ponto mais baixo a que o rio pode chegar, sem
prejudicar o escoamento de suas águas. Corresponde ao ponto, abaixo do qual, a erosão pelas águas
correntes não pode atuar. O nível de base geral de todos os rios é o nível do mar em que suas águas chegam.
O perfil longitudinal, em toda sua extensão, resulta do trabalho que o rio executa para manter o
equilíbrio entre a capacidade e a competência de um lado, com a quantidade e a granulometria da carga
detrítica, de outro. O perfil longitudinal é elaborado, de forma progressiva, da foz para montante, através de
processos erosivos remontantes.
O perfil longitudinal de equilíbrio da corrente apresenta forma côncava contínua, com declividade
suficiente para transportar a carga do rio. As declividades do perfil são maiores em direção às cabeceiras e
seus valores cada vez mais suaves à medida que o rio se aproxima da foz.

Fig. 67 – Perfis longitudinais esquemáticos de rios.


82

6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
A água subterrânea é toda água que ocorre em subsuperfície e seu estudo é importante na Geologia
de Engenharia devido aos efeitos que sua presença exerce nos processos de dinâmica superficial e na
estabilidade das obras de engenharia. Esses efeitos podem resultar de condições estáticas ou dinâmicas da
água no subsolo.
A primeira condição diz respeito às situações em que a alteração no volume ou conteúdo de água
instabiliza o maciço, resultando em colapsos e recalques. Pode ser citado o exemplo da cidade do México,
onde a contínua extração de água subterrânea contida em estratos argilosos provocou o lento e persistente
recalque do solo, resultando em afundamento significativo e generalizado das estruturas nele assentadas,
atingindo amplitudes verticais da ordem de alguns metros.
Nas condições dinâmicas, a força que a água exerce durante o escoamento pode causar instabilidade,
alterando as características de resistência e deformabilidade dos maciços. Comportam-se assim os taludes
naturais ou escavados que tiveram sua estabilidade comprometida pela força de percolação da água que
também pode provocar o fenômeno da erosão tubular interna (piping), em função de gradientes elevados.
Neste caso, cita-se, como exemplo, o colapso de Cajamar, em São Paulo e alguns casos em Ponta Grossa.
A Hidrogeologia estuda a água subterrânea em macroescala e o escoamento ao nível de estratos ou
conjunto de estratos geológicos, ocupando-se com a água enquanto recurso hídrico (formas de ocorrência e de
explotação, usos, preservação da qualidade e da quantidade das águas). A Hidrogeotecnia, uma das áreas da
Geotecnia, preocupa-se com o efeito mecânico da água nos maciços naturais.
A água que se infiltra está submetida a duas forças fundamentais: força da gravidade e força de adesão
de suas moléculas às superfícies das partículas do solo (força de capilaridade). Pequenas quantidades de água
no solo tendem a se distribuir uniformemente pela superfície das partículas. A força de adesão é mais forte do
que a força da gravidade que age sobre esta água. Como conseqüência ela ficará retida, quase imóvel, não
atingindo zonas mais profundas. Chuvas finas e passageiras fornecem somente água suficiente para repor esta
umidade do solo. Para que haja infiltração até a zona saturada é necessário primeiro satisfazer esta
necessidade da força capilar.

6.1 Infiltração e Escoamento Subterrâneo

6.1.1 Zonas de umidade do solo


O solo, onde se inicia a penetração da água através da infiltração, pode ser compartimentado em duas
zonas, de acordo com o seu teor de umidade. O primeiro compartimento, imediatamente abaixo da superfície
do terreno, corresponde à zona de aeração, assim denominado pelo fato de que uma parte dos espaços
intergranulares está preenchida com água e a outra parte, com o ar. Esta zona não-saturada é também
conhecida como zona vadosa. O segundo compartimento ocorre abaixo do limite inferior da zona de aeração,
onde todos os espaços intergranulares estão ocupados por água, o que permite denominá-lo zona de
saturação.
A água que penetra no solo irá constituir, abaixo do limite superior da zona de saturação, a água
subterrânea. O limite de separação entre estas duas zonas de umidade é conhecido como nível de água
subterrânea, nível freático ou nível piezométrico.
A zona de aeração corresponde à faixa de trânsito da parcela da água do ciclo hidrológico que penetra no
solo através da infiltração e se direciona para as porções mais inferiores do maciço. A espessura desta zona
varia desde menos de 1 m, em áreas alagadiças, até mais de 100 m em regiões desérticas.
A infiltração é condicionada por vários fatores, tais como tamanho e tipo dos vazios intergranulares, grau
de intercomunicação entre os mesmos, presença ou não de obstáculos em superfície, condições de umidade e
estado de tensões capilares na zona de aeração.
O movimento da água nesta zona se dá essencialmente devido à força da gravidade, porém está sujeita a
diversas outras forças, quais sejam, forças moleculares e tensões superficiais que resultam em águas
higroscópicas, peliculares e capilares.
Água higroscópica é aquela que envolve o grão do solo, particularmente dos solos argilosos, formando
uma camada muito fina, da ordem de grandeza de algumas moléculas, devido à atração molecular. Esta água
está fortemente presa ao grão do solo e sujeita a pressões elevadíssimas de tal modo que não se movimenta,
exceto se submetida a temperaturas superiores a 100o C. Forças gravitacionais ou de capilaridade não
conseguem movê-la.
-3
Água pelicular é aquela que forma uma película de espessura variável, da ordem de 0,5 x 10 cm,
envolvendo o grão de solo, estando submetida a atrações moleculares e a tensões superficiais. Forças
gravitacionais não a movimentam, porém ela pode migrar de um grão (onde a película é mais espessa) para
outro (onde é menos espessa). A espessura destes filmes de água é que determina algumas das propriedades
físicas dos solos, tais como a coesão e a capilaridade.
83

Fig. 67 A – Zonas de umidade do solo e nível freático.

A água capilar se encontra, por meio das tensões superficiais, retida em espaços intergranulares
diminutos, conhecidos como capilares, formando películas contínuas em torno das partículas do solo. Na zona
de aeração podem ocorrer movimentos da água capilar, no sentido contrário ao da ação da gravidade, no
fenômeno conhecido como ascensão capilar ou sucção. Este fluxo, que ascende a partir da zona de
saturação, é devido às tensões superficiais atuantes na água, na interface ar-água, no interior dos capilares. A
altura de ascensão da água depende do raio do capilar, da tensão superficial, do ângulo de contato do
menisco no capilar e da presença de impurezas na água.
Apesar de existirem águas de diferentes origens como águas conatas ou fósseis (preservadas nos
interstícios da rocha desde a sua formação) e águas juvenis (originadas nas profundezas da crosta e que
ascendem à superfície por processos magmáticos), a maior parcela da água subterrânea é originada pela
infiltração da chuva no solo, sendo a mais importante em termos de Geologia de Engenharia.

6.1.2 Escoamento subterrâneo


A água que percola os meios naturais é somente uma parte da água intersticial, denominada água
gravitacional ou água livre, pois escoa sob a ação da gravidade ou sob a ação de pressões externas, por
exemplo, em poços de captação.

6.2 Propriedades Hidráulicas

6.2.1 Porosidade
Porosidade é o termo utilizado para designar os espaços vazios ou poros existentes no interior dos
diferentes tipos de materiais.
Na natureza, é possível classificar cada material, segundo sua porosidade, em dois grandes grupos: os
meios porosos propriamente ditos, que compreendem os materiais de porosidade granular ou de interstícios,
representados por solos e sedimentos; e os meios fraturados, cuja porosidade é caracterizada por uma
porosidade de fraturas, fissuras ou fendas, ocorrentes em rochas duras e compactas, tais como granitos,
basaltos, gnaisses e outras rochas ígneas ou metamórficas.
Não obstante tratar-se de um caso particular, um terceiro grupo de porosidade pode também ser definido,
denominado porosidade cárstica, que ocorre, sobretudo em rochas solúveis, formada pela dissolução de
porções do material original.
Em algumas rochas, particularmente nas rochas sedimentares e nos horizontes de transição solo-rocha,
tem-se um meio que pode ser caracterizado como de dupla porosidade, ou seja, com porosidade granular e de
fraturas.
As redes de poros em um dado meio podem estar totalmente interconectadas e a circulação da água
ocorrer livremente. Em outros, os poros podem estar totalmente isolados e a água não circular, ficando
confinada no interior destes. Há ainda meios em que a intercomunicação entre os poros é extremamente
restrita e a água circula de forma muito lenta.
84

As variações na porosidade se devem a vários fatores, dentre os quais se destacam: a forma e


imbricamento dos grãos; a presença de materiais de granulometria fina, como argilas e siltes, ocupando os
espaços intergranulares; a presença de materiais cimentantes, normalmente constituídos por óxidos e
carbonatos, que podem preencher, total ou parcialmente, os poros do meio; a distribuição granulométrica, etc.
Nas argilas, embora possam ocorrer porcentagens muito elevadas de vazios, a água é muito pouco móvel.
Nos meios fraturados, a porosidade é caracterizada por uma porosidade de fraturas. Em geral, estas
estruturas controlam todo o fluxo no maciço, atuando como coletoras e transmissoras da água. O fluxo, por
vezes, ocorre das fissuras para a matriz rochosa, ou vice versa, o que caracteriza os meios de dupla
porosidade, ou seja, rochas com matriz de porosidade granular entrecortada por descontinuidades.
A Figura 68 ilustra os diferentes tipos de porosidade.

Fig. 68 - Diferentes tipos de porosidade: A) Porosidade granular, granulometria homogênea, porosidade


elevada; B) Porosidade granular, granulometria homogênea, porosidade diminuída por cimentação; C)
Porosidade granular, granulometria heterogênea, porosidade baixa; D) Porosidade granular, granulometria
homogênea, formado por elementos porosos; E) Porosidade cárstica; F) Porosidade de fissura.

Em termos numéricos, a porosidade total (η) é definida como sendo a relação entre o volume de vazios
(Vv) e o volume total considerado (V).

Vv
η=
V

Para estudos do fluxo subterrâneo, no entanto, o interesse recai sobre a porosidade efetiva, ou seja,
aquela que reflete o grau de intercomunicação entre os poros, permitindo assim a percolação da água. A
porosidade efetiva ( η e ) representa apenas uma pequena parcela da porosidade total, sendo expressa pela
relação entre o volume ocupado pela água livre (Ve) e o volume total (V).

Ve
ηe =
V

6.2.2 Permeabilidade
Permeabilidade é a propriedade que têm as rochas e solos de permitirem a passagem de fluidos
através delas, com certa velocidade num determinado espaço de tempo.
O valor da permeabilidade depende da interligação entre os poros, vazios e fraturas das rochas, e varia
com o diâmetro das partículas. Um cascalho bem homogêneo (bem graduado) tem permeabilidade maior do
que uma areia grossa bem graduada. Porém, quando mais irregular for a granulometria (composição
granulométrica heterogênea), menos permeável será o material, visto que as partículas finas colmatam os
poros existentes entre as partículas maiores. A permeabilidade depende ainda, além da distribuição
granulométrica, do arranjo interno das partículas granulares da rocha ou solo, conforme se depreende da figura
69.
85

Fig. 69 – Variação da porosidade segundo a disposição espacial dos componentes esféricos. Á


esquerda, disposição cúbica, tendo a porosidade o valor máximo de 47,6%. No centro, disposição
ortorrômbica, tendo a porosidade o valor máximo de 25,9%.

6.3 Escoamento em Meios Fraturados


Nos meios fraturados, com porosidade essencialmente de fraturas, o escoamento é determinado pela
permeabilidade da matriz rochosa e pela condutividade hidráulica das descontinuidades.
Em rochas cristalinas, com baixo grau de porosidade, o escoamento pela matriz é praticamente nulo e
as descontinuidades desempenham papel fundamental no escoamento. Medidas de permeabilidade efetuadas
em matrizes rochosas indicam que esta é desprezível, em relação ao valor da condutividade hidráulica das
descontinuidades.
Sendo a permeabilidade matricial, geralmente inferior a 10-8 cm/s, a matriz pode ser considerada como
impermeável, em comparação com as descontinuidades que, mesmo com aberturas muito pequenas,
apresentam valores de condutividades hidráulicas significativamente maiores, sendo estas que efetivamente
controlam o fluxo nos maciços rochosos fraturados.
Portanto, interessam ao fluxo todas as descontinuidades presentes nas rochas, descontinuidades aqui
entendidas como toda e qualquer estrutura que corta o maciço, englobando as diáclases, juntas, fraturas e
falhas, tornando-o essencialmente descontínuo, heterogêneo e anisotrópico. Acamamentos, xistosidades,
estratificações, etc., embora sejam estruturas do maciço, podem não se constituir em descontinuidades em
relação ao fluxo de água, uma vez que são feições intrínsecas à matriz rochosa.
Depreende-se que conhecer as características dos maciços, e particularmente das descontinuidades, é
de extrema importância para o estudo da permeabilidade em meios fraturados. Nestes, os principais
parâmetros que influenciam o escoamento são (Fig. 70):

− Fig. 70 – Maciço rochoso fraturado, evidenciando os parâmetros de interesse ao fluxo: orientação espacial
das famílias de descontinuidades (atitude); abertura das descontinuidades (e); espaçamento entre as
descontinuidades (l); rugosidade absoluta das paredes (Ra).

6.4 Tipos de rochas e materiais quanto à capacidade de armazenar água


A existência de porosidade em menor ou maior percentual, as dimensões dos poros e, sobretudo, a
forma como esses vazios se interconectam permitem classificar os materiais naturais em quatro grupos, de
acordo com a menor ou maior facilidade de armazenar e liberar as águas subterrâneas. As Figuras 71 e 72
mostram os diferentes tipos de aqüíferos.
86

Aqüíferos: São materiais ou rochas que armazenam água e permitem a sua circulação. De modo
geral, os solos e sedimentos são assim classificados, compreendendo, ainda nesta categoria, as rochas
sedimentares que apresentam porosidade granular (arenitos, alguns calcários detríticos); as rochas com
porosidade cárstica (calcários, brechas calcárias) com porosidade devido a alteração, ou a efeitos tectônicos
(cataclasitos, por exemplo); e, ainda, os maciços rochosos com grande número de descontinuidades, que
apresentam porosidade de fraturas (rochas cristalinas em geral).
O nível d'água subterrânea pode estar submetido a pressões iguais ou superiores à atmosférica. No
primeiro caso, os aqüíferos são ditos freáticos ou livres e o correspondente nível d'água é denominado nível
freático. No segundo caso, são chamados de confinados (ou artesianos) ou semiconfinados e o correspondente
nível d'água é denominado nível piezométrico.
Um caso particular de aqüífero freático é o dos denominados aqüíferos ou lençóis suspensos, de
distribuição espacial geralmente restrita e, comumente, com existência temporária. Ocorrem alçados em
relação ao nível do lençol d'água local e se formam quando a água, que se infiltra no terreno (maciço natural,
solo, aterro, etc.), encontra um obstáculo (superfícies impermeáveis, camada de argila, etc.) que dificulta sua
passagem até o lençol freático.

Fig. 71 - Tipos de aqüíferos.

Fig. 72 – Tipos de aqüíferos.


87

Aqüicludes: São materiais também porosos, que contêm água nos seus interstícios, muitas vezes
atingindo até o grau de saturação, mas não permitem a sua circulação. São rochas ou materiais
essencialmente argilosos, nos quais a água está firmemente fixada em poros de diminutas dimensões, por
pressões moleculares e tensões superficiais e a circulação é praticamente nula.

Aqüitardos: São materiais ou rochas porosas que, embora armazenem quantidades significativas de
água no seu interior, permitem a circulação apenas de forma muito lenta. São incluídas neste grupo as argilas
siltosas ou arenosas.

Aqüífugos: São materiais impermeáveis, com baixíssimo grau de porosidade, que tanto não contêm
como não transmitem água. Incluem-se neste grupo todas as rochas duras, cristalinas, metamórficas e
vulcânicas, sem fraturamento ou alteração.

Esses materiais podem aparecer, na natureza, isolados ou formando pacotes de dois ou mais estratos,
ocorrendo a diferentes profundidades, desde poucos metros, até dezenas ou centenas de metros, possuindo
espessuras métricas a decahectométricas e estruturando o arcabouço hidrogeológico local ou regional.

6.5 Principais aqüíferos regionais


Os principais aqüíferos regionais (arenitos Botucatu e Bauru) ocupam aproximadamente a metade da
superfície do Estado de São Paulo e, além disso, suas características hidrológicas, especialmente as da
Formação Botucatu, destacam sua importância dentro do sistema dos recursos hídricos da Bacia do Paraná.

AQÜÍFERO GUARANI - O Aqüífero Guarani é a principal reserva subterrânea de água doce da


América do Sul e um dos maiores sistemas aqüíferos do mundo, ocupando uma área total de 1,2 milhões de
km² na Bacia do Paraná e parte da Bacia do Chaco-Paraná. Estende-se pelo Brasil (840.000 Km²), Paraguai
(58.500 Km²), Uruguai (58.500 Km²) e Argentina, (255.000 Km²), área equivalente aos territórios de Inglaterra,
França e Espanha juntas. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total) abrangendo os
Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A Formação Botucatu, que dá nome ao aqüífero (de idade Triássico-Jurásico), é constituída por
arenitos finos e médios, arredondados e subarredondados, de origem eólica. A espessura da camada arenosa,
no Estado de São Paulo, varia de 300 m a 400 m. A boa seleção e arredondamento de suas partículas, devido
à sua origem eólica, dão lugar a excelentes condições de porosidade, permeabilidade e armazenamento, o que
se reflete nas elevadas vazões apresentadas pelos poços perfurados no mesmo.
A profundidade dos poços que exploram o aqüífero Botucatu varia entre 150 m-250 m nos afloramentos
e 400 m-500 m na faixa próxima ao norte e noroeste do Estado de São Paulo. Entre Presidente Epitácio e Três
Lagoas (MT), a profundidade atinge mais de 1500m. A profundidade dos níveis piezométricos, condicionados
pela topografia, varia entre 10 m e 40 m na zona dos afloramentos. Na parte confinada do aqüífero, as águas
são surgentes ou semi-surgentes. Os poços que exploram o aqüífero Botucatu estão entre os mais produtivos
do país.
Em centenas de poços perfurados, a vazão varia de 20 m3/h a 300 m3/h. Os poços da Petrobrás no
Estado de São Paulo, todos de características artesianas, que atravessaram o Arenito Botucatu confinado,
forneceram as seguintes vazões:

− Lins - inicial: 600 m3/h - atual: 302 m3/h


− Olímpia - 200 m3/h
3
− Três Lagoas (MT) - 1.500m /h
3
− Presidente Epitácio - 1.000 m /h

AQÜÍFERO BAURU - O Grupo Bauru, de idade Cretáceo-Superior, é constituído por arenitos, arenitos
sílticos, arenitos argilosos, arenitos com cimento calcífero e conglomerados basais, cobrindo uma área
2
aproximada de 100.000km . Sua espessura atinge até 300m. Suas características hidrológicas, como
permeabilidade e transmissibilidade, são moderadas devido à presença de siltitos e de uma cimentação
calcífera em toda a seqüência.
A profundidade dos poços varia entre 100 a 200m e seu diâmetro raramente ultrapassa 8 polegadas.
Sua vazão varia entre 5 m3 /h e 50 m3 /h, com água de boa qualidade.

AQÜÍFERO FURNAS - A Formação Furnas, de idade devoniana, é constituída por arenitos brancos e
cinza-claros, de granulação média, com níveis conglomeráticos na base, e grãos angulares e subangulares. A
estratificação cruzada é típica dessa formação, que aflora no Paraná e Mato Grosso, principalmente, com
espessura ultrapassando os 300m em algumas regiões.
88

Em geral, o aqüífero reúne boas perspectivas com relação à permeabilidade, transmissividade e


coeficiente de armazenamento.

AQÜÍFERO CAIUÁ - A Formação Caiuá, do Cretáceo Superior, aflora no Noroeste do Paraná,


Sudoeste de São Paulo e Leste do Mato Grossa do Sul.
Constitui-se por arenitos eólicos vermelhos, com estratificação cruzada típica. A formação está
subjacente ao aqüífero Bauru.
3
Informações hidrogeológicas sobre o aqüífero Caiuá indicam vazões de até 100 m /h, no Estado de
Mato Grosso do Sul. Em geral, as características hidrológicas parecem similares às do aqüífero Bauru.

Fig. 72 A – Área de ocorrência do Aqüífero Guarani mostrando as áreas de recarga (contorno escuro).

FORMAÇÃO SERRA GERAL - Falhas e zonas vesiculares nos derrames basálticos da Formação
Serra Geral - Os derrames basálticos da Formação Serra Geral (que datam do Jurássico--Cretáceo), atingem
uma espessura de mais de 1 500 m em locais como o poço de Presidente Epitácio, da Petrobrás, onde foram
encontrados mais de 30 derrames.
Em geral, a parte superior de cada derrame é vesicular. Arenitos intercalados, cuja espessura
comumente não ultrapassa algumas dezenas de metros, encontram-se ocasionalmente entre os derrames.
Os derrames basálticos não constituem, por si, camadas aqüíferas e somente ao longo das zonas de
falhas e em certos horizontes vesiculares ocorrem condições de produção de água subterrânea. As vazões
médias variam entre 10 m3 /h e 25 m3 /h. Vazões maiores são raras, como em Palmital, onde um poço com 150
m de profundidade, situado sobre uma zona de falhas com 400 m de largura, produz aproximadamente 100
3
m /h.
As possibilidades de sucesso na locação de poços nessas zonas fraturadas dependem, como no caso
do Embasamento Cristalino, de um estudo minucioso. Porém, sempre se tratará de fontes locais e não de um
fenômeno regional.
89

6.6 Obtenção de água subterrânea


− POÇOS CASEIROS - são abertos manualmente tendo diâmetro de aproximadamente 1,0 a 1,2 metro. A
profundidade atingida por estes poços dependerá da profundidade do lençol freático, podendo chegar até
25 ou 30 metros. Geralmente são perfurados em solo, entretanto, em certos locais, são também perfurados
em rocha compacta.

− POÇO TUBULAR PROFUNDO - também conhecido como "poço artesiano" e/ou "semi-artesiano", é
utilizado para o aproveitamento da água do subsolo, praticamente em todas as regiões do globo terrestre.
Um bom projeto para o poço objetiva otimizar: máxima eficiência, longa duração e baixo custo. Para
obter esta otimização os técnicos lançam mão dos seguintes elementos básicos:

− Consulta a mapas geológicos e hidrogeológicos.


− Análise quanto ao comportamento e disposição das feições estruturais da região que potencialmente tem
capacidade de fornecer água subterrânea.
− Análise dos poços existentes, quanto a profundidade, tipo de aqüífero, tipo de rochas perfuradas, volume de
água bombeada, características hidroquímicas da mesma, etc.

Determinado o melhor local para perfuração do poço, a sondagem deverá se processar de acordo com
as normas técnicas em vigor, e dentro de uma tecnologia que possibilite a maior segurança possível.

Fig. 72 B – Perfil esquemático de um poço tubular profundo.

Assim, um poço tubular profundo bem executado oferece condições totais de aproveitamento da água
subterrânea, apresentando as seguintes vantagens:

− Abastecimento para todos os fins: cidades, residências, industrias, fazendas, etc.


3
− Custo por m inferior a qualquer outra forma de abastecimento.
− Consumo direto sem necessidade de tratamento prévio.
− Suprimento constante de água independente das redes gerais de abastecimento, livre de defeitos,
rompimentos de canalizações, cortes temporários, etc.
Fim dos problemas de estiagem, poluição, etc.
Estes poços abertos através de sondagem rotativa, à percussão ou rotopercussão. O diâmetro varia de
300 a 600 mm, e a profundidade geralmente é superior a 100 metros. O tipo de equipamento utilizado para
perfuração do poço (sonda rotativa ou a percussão) dependerá do tipo de rocha a ser perfurada. Rochas
sedimentares pouco consolidadas ou inconsolidadas, normalmente são perfuradas com sonda rotativa,
90

evitando-se que as paredes do poço desabem com o impacto caso fosse executado com sonda a percussão.
Rochas mais compactas, mesmo sedimentares, podem ser perfuradas com sonda à percussão, já que nestes
tipos de rochas os perigos de desabamento são bem menores. A extração da água pode ser feita através de
bomba submersa ou através da injeção de ar comprimido dentro do poço que forçará a água para cima através
da tubulação (processo air lift).

− POÇOS CRAVADOS - São poços de pequeno diâmetro. São construídos através da cravação, no solo, de
uma ponteira ligada à extremidade inferior de um conjunto de segmentos de tubos firmemente conectados
entre si. A ponteira é constituída por um tubo perfurado, por onde a água entrará, tendo uma ponta de aço
na extremidade. O diâmetros destes poços varia de 32 mm (1 1/4”) a 100 mm (4”). A ponteira deverá ser
cravada até a profundidade da formação aqüífera, situada abaixo do lençol freático. Entretanto a
profundidade não deverá ser superior a 7,50 metros. A extração da água pode ser feita através de bomba
simples de pistão ou através de bomba submersa centrífuga.

− POÇOS ARTESIANOS - São poços em que a água jorra espontaneamente na superfície devido a pressão
natural. Isto ocorre quando lentes ou camadas de material permeável (aqüífero) acha-se envolvido por
material impermeável. A camada permeável (aqüífero) deverá ter uma zona de alimentação por onde a
infiltração da água compensará a quantidade extraída. A saída de água por pressão natural é
conseqüência da pressão hidrostática. A superfície ligando o nível que seria alcançado pela água nos
vários poços abertos num aqüífero confinado é denominada superfície piezométrica.

− FONTES - Lugar na superfície da terra onde brota água corrente, ou seja, é o afloramento de água
subterrânea.

6.7 Poluição das águas subterrâneas


As águas subterrâneas, representam o recurso mais precioso e menos protegido em diversos países
do mundo, inclusive nos EUA, onde representam a única fonte de água potável para cerca da metade da sua
população.
Qualquer poluente que entre em contato com o solo pode contaminar as águas subterrâneas, a qual,
cerca de um quarto das atualmente em uso já está contaminada.
Observa-se uma crescente contaminação destas águas com água salgada, contaminadores
microbiológicos e produtos químicos inorgânicos e orgânicos tóxicos, incluindo pesticidas. Práticas de irrigação
no oeste dos Estados Unidos têm elevado a salinidade das águas subterrâneas, à medida que a água utilizada
na irrigação é retirada de áreas da costa.
A descarga de detritos industriais tóxicos, entretanto, é a fonte principal de contaminação.
Áreas alagadas representam um importante papel no reabastecimento das águas subterrâneas, e
funcionam como purificadores naturais das águas. Porém, se estas áreas alagadas encontram-se parcialmente
assoreadas ou se servem como depósito de lixo, certamente serão focos de contaminação dos aqüíferos.
A vedação inadequada da porção superior dos poços tubulares profundos é outro foco de
contaminação e poluição da água subterrânea através da infiltração de águas superficiais poluídas.
Tanto a poluição como a destruição das águas subterrâneas podem ser irreversíveis. Uma vez
contaminadas, as águas tendem a permanecer dessa forma. A destruição pode causar a consolidação de um
lençol de água subterrâneo, diminuindo sua capacidade de armazenagem. Em áreas costeiras, a drenagem de
águas subterrâneas pode introduzir água salgada em um lençol de água e fazer com que esse se torne
permanentemente inadequado para a maioria dos usos.
91

Fig. 73 – Processos de contaminação da água subterrânea.


92

7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA - ABGE. 1995. Curso de geologia aplicada ao


meio ambiente. São Paulo. 247p.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA - ABGE. 1998. Geologia de engenharia. 587p.

BELLAIR, P. & POMEROL, C. 1986. Tratado de geologia. Editorial Vicens Vives.

BIGARELLA, J.J., LEPREVOST, A. & BOLSANELLO, A. 1985. Rochas do Brasil. Livros Técnicos e Científicos
Editora S.A. Rio de Janeiro.

CARVALHO, N.O. 1994. Hidrossedimentologia prática. Rio de Janeiro : CPRM. 372p.

CELESTINO, T.B. 1986. Determinação de propriedades e parâmetros de maciços rochosos. In: Simpósio Sul-
Americano de Mecânica de Rochas, 2, 1986, Porto Alegre. Anais... [S.l. : s.n.]. v.1, p.3-43.

CHIOSSI, N. J. 1975. Geologia aplicada à engenharia. USP. Escola Politécnica. São Paulo.

CHRISTOFOLETTI, ANTÔNIO. 1988. Geomorfologia fluvial. Edgard Blücher. 1a reimp. São Paulo/SP.

CUSTÓDIO, E.C. e LLAMAS, M.R. 1976. Hidrologia subterranea. Barcelona: Omega. 1-4.

DANA-HURLBUT. 1974. Manual de mineralogia. Livro Técnico e Científico Editora S.A. Rio de Janeiro.

DORADO, A. CASTRO. 1989. Petrografia basica - textura, clasificación y nomenclatura de rocas. Paraninfo
S.A. Madrid.

ERNST, W.G. 1969. Minerais e rochas. Ed. Edgard Blucher-EDUSP. São Paulo.

FLOREZ, M. R. SUAREZ. 1978. Fundamentos de geologia. 2a ed. Paraninfo S.A. Madrid.

GALPERIN, A.M.; ZAYTSEV, V.S. e NORVATOV, Y.A. 1993. Hydrogeology and Engineering Geology.
Rotterdam : A.A. Balkema. 367p.

GUERRA, J. TEIXEIRA & da CUNHA, S. BAPTISTA. 1995. Geomorfologia - uma atualização de bases e
conceitos. ed. Bertrand Brasil. Rio de Janeiro.

IBGE. 1998. Manual técnico de geologia. Rio de Janeiro. 306 p.

IBGE. 1994. Manual técnico de geomorfologia. Rio de Janeiro. 113 p.

KASHEF, A.A.I. 1986. Groundwater engineering. New York: McGraw-Hill.512p.

KLEIN, CORNELIS & HURLBUT JR, CORNELIUS S. 1999. Manual of mineralogy. ed John Wiley & Sons, Inc.
21a ed. New York.
a
KRYNINE, D.P. & YUDO, W.R. 1972. Princípios de geologia y geotecnia para ingenieros. Ed. Omega. 3 ed.
Barcelona.

LEINZ, V. & CAMPOS, E. de Souza. Guia para determinação de minerais. 1974. Companhia Editora Nacional.
São Paulo.

LEINZ, V., AMARAL, S.E. 1985. Geologia geral. Cia. Ed. Nacional. São Paulo.

LEOPOLD, L.B.; WOLMAN, M.G. e MILLER, J.P. 1964. Fluvial process in Geomorphology. San Francisco :
V.W. Freeman. 522p.

LINSLEY, R.K. e FRANZINI, J.B. 1978. Engenharia de recursos hídricos. São Paulo : Edusp/McGraw-Hill.

LOCZY, LOUIS de & LADEIRA, EDUARDO A. 1976. Geologia estrutural e introdução à geotectônica. Edgard
Blücher. São Paulo.
93

SETZER, J. e PORTO, R.L.L. 1979. Tentativa de avaliação de escoamento superficial de acordo com o solo e o
seu recobrimento vegetal nas condições do Estado de São Paulo. Bol. Téc. DAEE, São Paulo, v.2, n.2, p.82-
135.
a
STRAHLER, A. H. & STRAHLER, A. N. 1992. Modern physical geography. John Wiley & Sons, Inc. 4 ed. New
York.

SUGUIO, K. 1982. Rochas sedimentares. Edgard Blücher, 1a reimp. São Paulo.

SUGUIO, K. e BIGARELLA, J.J. 1990. Ambientes fluviais. 2.ed. Florianópolis : UFSC/UFPR. 183p.

WILLIANS, H., TURNER, F.J., GILBERT, C.H. 1970. Petrografia. Ed. Polígono-EDUSP. São Paulo.

WINKLER, H. G. F. 1977. Petrogênese das rochas metamórficas. Edgard Blücher. São Paulo.

http://course1.winona.edu/csumma/images/sedstrux/hcs8a.jpg

http://www.pitt.edu/~cejones/GeoImages/2IgneousRocks/IgneousTextures/7VesicularAmygdaloidalz/BasaltVesic
ular.jpg

webpub.alleg.edu/dept/ geology/Haney-foresets.htm

www.chm.bris.ac.uk/.../ spence/page3a.htm

www.geology.pitt.edu/ GeoSites/sedstructures.htm

http://srmwww.gov.bc.ca/risc/pubs/teecolo/fmdte/veg.htm

explodedlibrary.typepad.com/.../ dsc00693.html

www.for.gov.bc.ca/.../ lesson1/1-2_what.htm

coastal.er.usgs.gov/.../ 00-180/intro/karst.html

earth.geol.ksu.edu/ sgao/g100/plots/

www.geocities.com/ ~esabio/agua/agua.htm

www.riolagos.com.br/ calsj/bacia-hidrografica.htm

http://ipb.8m.com/sub.htm

fossil.uc.pt/ pags/sedime.dwt

www.garyhincks.com/ volcanoes.html

You might also like