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DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS
APOSTILA DE GEOLOGIA
ÍNDICE
5 ÁGUAS DE SUPERFÍCIE...................................................................................................................................70
5.1 Ciclo Hidrológico ..........................................................................................................................................70
5.2 Balanço Hídrico ............................................................................................................................................70
5.2.1 Escoamento superficial .........................................................................................................................71
5.2.2 Infiltração ...............................................................................................................................................71
5.2.3 Evapotranspiração.................................................................................................................................72
5.3 O Papel da Cobertura Vegetal .....................................................................................................................72
5.5 Bacias Hidrográficas ....................................................................................................................................72
5.5.1 Características morfológicas .................................................................................................................73
5.5.1.1 Forma..............................................................................................................................................73
5.5.1.2 Relevo .............................................................................................................................................74
5.5.1.3 Padrão de drenagem ......................................................................................................................74
5.5.2 Sistemas de classificação dos rios........................................................................................................75
5.5.2.1 Classificação genética ....................................................................................................................75
5.5.2.2 Classificação geométrica................................................................................................................76
5.6 Dinâmica Fluvial...........................................................................................................................................77
5.6.1 Erosão, transporte e deposição de sedimentos ....................................................................................78
5.6.1.1 Erosão fluvial ..................................................................................................................................78
5.6.1.2 Transporte e deposição de sedimentos..........................................................................................78
5.6.2 Morfologia fluvial....................................................................................................................................80
5.6.3 Perfil longitudinal ...................................................................................................................................81
6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS .................................................................................................................................82
6.1 Infiltração e Escoamento Subterrâneo.........................................................................................................82
6.1.1 Zonas de umidade do solo ....................................................................................................................82
6.1.2 Escoamento subterrâneo ......................................................................................................................83
6.2 Propriedades Hidráulicas .............................................................................................................................83
6.2.1 Porosidade ............................................................................................................................................83
6.2.2 Permeabilidade......................................................................................................................................84
6.3 Escoamento em Meios Fraturados ..............................................................................................................85
6.4 Tipos de rochas e materiais quanto à capacidade de armazenar água ......................................................85
6.5 Principais aqüíferos regionais ......................................................................................................................87
6.6 Obtenção de água subterrânea ...................................................................................................................89
6.7 Poluição das águas subterrâneas................................................................................................................90
7 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .........................................................................................................................92
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5 ÁGUAS DE SUPERFÍCIE
As águas de superfície, formadas pelo conjunto de rios e lagos, em seus variados tamanhos, e ainda as
massas de gelo e neve, nas suas diversas formas de ocorrência, representam menos de 3% do volume de
água do Planeta. Deste total, 58,33% encontra-se congelada na Antártica e no Pólo Norte, e 41,5% ocorre
como água subterrânea muito profunda e de difícil obtenção. A água de rios, lagos e subterrânea de pequena
profundidade (menos de 100 metros), de boa qualidade e que pode ser usada em processos industriais e para
consumo humano representa menos de 0,01% do total de água do planeta.
Apesar do pequeno volume, é muito importante estudar o seu comportamento, pois são as águas de
superfície que realizam o trabalho mais intenso de desgaste da superfície e esculturação das formas de relevo,
bem como de transporte e deposição de sedimentos, originando deltas, planícies aluviais, etc.
O aproveitamento da água de superfície permite ainda geração de energia elétrica, abastecimento de
água potável, irrigação de áreas agricultáveis, etc., estando, portanto, diretamente relacionado aos vários
aspectos de nossas vidas.
A análise do meio físico para caracterização do comportamento das águas de superfície (trabalhos de
campo, observação de fotografias aéreas, cartas topográficas, etc.), permite, por exemplo, distinguir regiões
com maior ou menor capacidade de infiltração, com base na análise da densidade da rede de drenagem, dentre
outros exemplos.
Análises deste tipo não podem deixar de contemplar os fatores antrópicos que alteram
significativamente o comportamento das águas de superfície, através das diversas formas de uso do solo.
Analisar essas formas e interpretar seu papel na infiltração e no escoamento é uma tarefa fundamental para o
estudo do comportamento das águas de superfície das bacias hidrográficas.
Esse balanço envolve de um lado, como entrada, a precipitação, e, de outro, o escoamento superficial,
a infiltração e a evapotranspiração, apresentados a seguir.
Quadro 11 - Valores do coeficiente de escoamento superficial C, em função das características das bacias.
CARACTERÍSTICAS DAS BACIAS C (%)
Superfícies impermeáveis. 90-95
Terreno estéril montanhoso: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 80-90
nenhuma vegetação e alta declividade.
Terreno estéril ondulado: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 60-80
nenhuma vegetação em relevo ondulado e com declividades moderada.
Terreno estéril plano: material rochoso ou geralmente não-poroso, com reduzida ou 50-70
nenhuma vegetação e baixa declividade.
Áreas de declividades moderadas (terrenos ondulados), grandes porções de gramados,
flores silvestres ou bosques, sobre um manto fino de material poroso que cobre o material 40-65
não-poroso.
Matas e florestas de árvores decíduas em terreno de declividades variadas. 35-60
Florestas e matas de árvores de folhagem permanente em terreno de declividades 5-50
variadas.
Pomares: plantações de árvores frutíferas com áreas abertas cultivadas ou livres de 15-40
qualquer planta, a não ser gramas.
Terrenos cultivados em plantações de cereais ou legumes, em zonas altas (fora de zonas 15-40
baixas e várzeas).
Terrenos cultivados com plantações de cereais ou legumes, localizadas em zonas baixas e 10-30
várzeas.
5.2.2 Infiltração
A infiltração é a passagem de água da superfície para o interior do terreno. É um processo que
depende da disponibilidade de água, da natureza do terreno, do estado de sua superfície, da sua cobertura
vegetal e do seu teor de umidade.
A capacidade de infiltração de um solo é definida como sendo a taxa máxima pela qual a água pode
ser absorvida pelo solo. Em geral, os solos e as rochas mais permeáveis apresentam maior capacidade de
infiltração, favorecendo a rápida transferência da água para o lençol subterrâneo, reduzindo o escoamento
superficial direto.
A infiltração influi nas características hidrológicas dos cursos d'água. Os rios permanentes, que
apresentam fluxo relativamente constante durante todo o ano, mesmo durante os períodos de tempo seco, são
mantidos pelas descargas de água subterrânea armazenada nos aqüíferos. Tais rios situam-se abaixo do nível
freático e a transferência de água do nível freático para o curso de água é denominada infiltração efluente.
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Os rios que fluem somente em períodos de chuvas, denominados intermitentes ou periódicos, estão
situados acima do nível freático, drenando apenas a água que permaneceu na superfície e não se infiltrou. Em
geral apresentam fluxo muito variável, com grandes cheias ou pequenas vazões. Por estarem situados acima
do nível freático, ao invés de serem alimentados pela água subterrânea armazenada nos aqüíferos, verifica-se
a transferência de água destes rios para o nível freático. Tal transferência é denominada infiltração influente
(fig. 62 A).
Fig. 62 A – Rio intermitente ou temporário (infiltração influente) e rio permanente ou perene (infiltração
efluente).
5.2.3 Evapotranspiração
Um outro componente do ciclo hidrológico é a evapotranspiração, que corresponde à perda de água por
evaporação a partir do solo e transpiração das plantas. Os fatores que influenciam a evapotranspiração são:
temperatura do ar, umidade e vento. A evapotranspiração de uma bacia hidrográfica pode ser estimada através
do balanço hídrico, medindo-se as precipitações na bacia e as vazões na seção em estudo.
A quantidade de água que atinge os rios está na dependência das características físicas de sua bacia
hidrográfica, da precipitação total e de seu regime, bem como das perdas devidas à evapotranspiração e à
infiltração.
As características físicas são definidas pelas características morfológicas, representadas pelo tipo de
relevo, forma, orientação e declividade da bacia de drenagem e pelos aspectos geológicos, representados
pelas estruturas, tipos litológicos, mantos de intemperismo e solos. Além destes aspectos, a cobertura vegetal e
o tipo de ocupação da bacia exercem também uma influência importante nas relações entre infiltração e
escoamento superficial em uma bacia de drenagem.
Imb
oa ss
i ca
N.V
2.000 m
5.5.1.1 Forma
A forma superficial de uma bacia hidrográfica é importante devido ao tempo de concentração, definido
como o tempo, a partir do início da precipitação, que uma partícula de água de chuva leva para percorrer a
distância entre o ponto mais afastado da bacia e o seu exutório.
Existem vários índices utilizados para determinar a forma das bacias, procurando relacioná-las com
formas geométricas conhecidas e que, entre outras coisas, são indicativos de uma maior ou menor tendência
para a ocorrência de enchentes destas bacias: coeficiente de compacidade e fator de forma.
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− Coeficiente de compacidade (Kc): é a relação entre o perímetro da bacia (P, em km) e a circunferência de
um círculo com área (A) igual a da bacia.
P
Kc = 0,282
A
Este coeficiente é um número adimensional que varia com a forma da bacia, independentemente de
seu tamanho: quanto mais irregular a bacia, tanto maior será o coeficiente de compacidade. Um coeficiente
igual à unidade corresponderia a uma bacia circular. Quanto mais próximo da unidade for o valor desse
coeficiente, mais acentuada será a tendência para maiores enchentes.
− Fator de forma (Kf): é a relação entre a largura média e o comprimento axial da bacia. A largura média é
obtida pela divisão da área da bacia (A, em km2) pelo seu comprimento (L, em km). O comprimento da
bacia corresponde à extensão do curso d'água mais longo, desde a desembocadura até a cabeceira mais
distante da bacia.
A
Kf = 2
L
Uma bacia com um fator de forma baixo (por exemplo, estreita e longa) é menos sujeita a enchente que
outra de mesmo tamanho, porém com maior fator de forma (por exemplo, circular).
5.5.1.2 Relevo
O relevo de uma bacia hidrográfica e, principalmente, a declividade dos seus terrenos, exerce grande
influência sobre a velocidade do escoamento superficial, afetando, portanto, o tempo que a água da chuva leva
para concentrar-se nos leitos fluviais, constituintes da rede de drenagem das bacias.
O conhecimento da declividade e das curvas hipsométricas da bacia são úteis para o seu zoneamento
quanto ao uso e ocupação do solo, estudo dos processos erosivos, etc. A curva hipsométrica é a
representação gráfica do relevo médio de uma bacia e constitui o estudo da variação da elevação dos vários
terrenos da bacia, com referência ao nível do mar.
A organização espacial dos rios é influenciada e controlada pelas características geomorfológicas e
pelas estruturas geológicas da bacia de drenagem. As atitudes das camadas, bem como outras estruturas
geológicas, influem tanto na topografia e forma da bacia, como também no padrão de drenagem.
os cursos d'água de primeira ordem, de cabeceira, são os que não recebem afluentes. Os de segunda ordem
só recebem afluentes de primeira ordem, e são formados quando dois rios de primeira ordem se unem. Os de
terceira recebem rios de primeira e segunda ordem, e são formados quando dois rios de segunda ordem se
unem, e assim sucessivamente (Fig. 63 B).
Os padrões de drenagem são indicativos da permeabilidade relativa do terreno e dos controles
exercidos pelas estruturas e pelos tipos de rocha sobre a infiltração e os movimentos da água subterrânea.
Conhecendo-se a tipologia dos padrões, podem-se fazer interpretações sobre a natureza dos terrenos, a
disposição das camadas, as linhas de falhamento e os processos fluviais e climáticos predominantes.
A densidade de drenagem constitui um dos parâmetros mais simples que representam os padrões de
uma bacia, sendo definida por:
ΣL
d=
A
onde:
d = densidade de drenagem;
ΣL = somatório de todos os comprimentos (l) de cursos d'água contidos na bacia;
A = área da bacia.
Em geral, terrenos relativamente impermeáveis apresentam densa rede de drenagem, enquanto que os
mais permeáveis possuem densidade menor.
− Rios conseqüentes: são aqueles cujo curso foi determinado pela declividade do terreno, coincidindo, em
geral, com o mergulho das camadas geológicas. Estes rios formam cursos retilíneos e paralelos, podendo-
se citar, como exemplos, os rios Tietê, Paranapanema e Iguaçu, na Bacia do Paraná (Fig. 64);
− Rios subseqüentes: são rios cujo sentido de fluxo é controlado pela estrutura rochosa, acompanhando
sempre zonas de fraqueza como falhas, diaclasamentos, rochas menos resistentes, etc. Geralmente são
perpendiculares aos rios conseqüentes (Fig. 64);
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− Rios obseqüentes: são rios que correm em sentido inverso ao mergulho regional das camadas geológicas,
isto é, em sentido oposto ao dos rios conseqüentes. Em geral, possuem pequena extensão, descendo de
escarpas e terminando nos rios subseqüentes (Fig. 64);
− Rios inseqüentes: são aqueles que não apresentam qualquer controle geológico e estrutural visível na
disposição espacial da drenagem e, por esta razão, tais rios tendem a se desenvolver sobre rochas
homogêneas, representadas tanto por sedimentos horizontais, como por rochas ígneas (Fig. 64).
− Drenagem anelar: é típica de áreas dômicas profundamente entalhadas em estruturas formadas por
camadas moles e duras (Fig. 65).
Além destes padrões há a drenagem irregular que ocorre em áreas de soerguimento ou sedimentação
recentes, nas quais a drenagem ainda não alcançou um padrão definido.
Fig. 64 - Classificação genética baseada na disposição dos rios em relação à atitude das camadas geológicas
(Suguio e Bigarella, 1990).
− Curso superior – setor mais a montante, em geral com maior declividade, cujas águas com elevada energia
cinética, promovem o predomínio da erosão que tende a aprofundar o vale, dando-lhe neste setor, uma
forma de "V" fechado.
− Curso médio – setor com perfil menos inclinado e, em conseqüência, de águas mais calmas e de vales
relativamente mais largos que no curso superior, recebendo a contribuição de várias afluentes. Neste setor o
processo predominante é o transporte de sedimentos.
− Curso inferior – setor mais a jusante, de baixa declividade e vales amplos, onde as águas são
relativamente calmas, promovendo o predomínio da sedimentação, como se verifica nos extensos depósitos
de aluvião.
Teoricamente, uma corrente encontra-se em equilíbrio fluvial quando não se verifica, em qualquer ponto
do seu curso, erosão ou deposição de material. O perfil longitudinal de um rio é influenciado por muitos fatores,
como volume e carga da corrente, tamanho e peso da carga, declividade, etc. Nos pontos em que a velocidade
aumenta, ocorre erosão. Onde há decréscimo de velocidade predomina a sedimentação. Portanto, o perfil
longitudinal evidencia um declive bastante acentuado no curso superior, que vai diminuindo progressivamente à
medida que nos afastamos da nascente.
A velocidade das águas de um rio depende basicamente da declividade, do volume das águas, da
forma da seção e da rugosidade do leito. Qualquer alteração destas variáveis modifica a velocidade das águas
e, conseqüentemente, as condições de transporte, deposição ou erosão (Christofoletti, 1988).
O transporte dos sedimentos pelas correntes fluviais pode, portanto, ser agrupado nas três categorias
seguintes (Carvalho, 1994):
− Transporte por arraste: relaciona-se aos esforços tangenciais ao longo do fundo da corrente, provocados
pela água em movimento, cujo efeito é reforçado pelas forças ascensionais devidas ao fluxo turbulento. O
transporte por arraste ou por tração é também função da forma, tamanho e densidade das partículas que
constituem a carga. Quando as condições de fluxo são alteradas, por uma redução na velocidade média da
corrente ou na intensidade de turbulência, as partículas maiores, mais densas e de menor esfericidade são
deixadas para trás. O movimento das partículas por arraste, pelo fato de estar restrito ao leito fluvial, é mais
limitado e sensível às condições de variação de velocidade e de turbulência do que o transporte por
suspensão;
− Transporte em suspensão: ocorre quando a intensidade de turbulência é maior que a velocidade de
deposição das partículas movimentadas pelos esforços tangenciais e pelas forças de ascensão. Neste
caso, as partículas são carreadas de forma completamente independente do leito fluvial;
− Transporte por saltação: o deslocamento das partículas ao longo do leito fluvial se dá por uma série de
saltos curtos. O movimento por saltação pode ser considerado como uma fase intermediária entre o
transporte por tração e por suspensão. As partículas, que não são suficientemente grandes para se
manterem sobre o leito, sofrendo arraste, nem suficientemente pequenas para serem transportadas em
suspensão, podem ser momentaneamente levantadas, movendo-se para diante, em uma série de saltos e
avanços sucessivos.
Uma vez iniciada a movimentação de uma partícula, os processos envolvidos no seu transporte e
deposição, dependem fundamentalmente de sua velocidade de decantação. Esta depende de fatores inerentes
à partícula em decantação, tais como tamanho, forma e peso específico, além de fatores ligados ao meio fluido
como, por exemplo, viscosidade, peso específico, etc.
A deposição persistente em determinados locais dos cursos e corpos d'água configuram o assoreamento.
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− Canais retilíneos: possuem sinuosidade desprezível em relação a sua largura, caracterizando-se pelo
baixo volume de carga de fundo, alto volume de carga suspensa e declividade acentuadamente baixa. A
erosão ocorre ao longo das margens mais profundas e a deposição nas barras de sedimentos.
Desenvolvem-se em planícies deltaicas de deltas construtivos, sendo de ocorrência relativamente pouco
freqüente na natureza;
− Canais anastomosados: caracterizam-se por sucessivas ramificações e posteriores reencontros de seus
cursos, separando ilhas assimétricas de barras arenosas. Apresentam canais largos, não muito profundos,
rápido transporte de sedimentos e contínuas migrações laterais, associadas às flutuações na vazão líquida
(descarga) dos rios. Apresentam grande volume de carga de fundo e desenvolvem-se, normalmente,
associados a leques aluviais, leques deltaicos, ambientes semi-áridos e planícies de lavagem de depósitos
glaciais;
− Canais meandrantes: são canais sinuosos, constituindo um padrão característico de rios com gradiente
moderadamente baixo, cujas cargas em suspensão e de fundo encontram-se em quantidades mais ou
menos equivalentes. Caracterizam-se por fluxo contínuo e regular, possuindo, em geral, um único canal
que transborda as suas águas no período das chuvas. Os canais meandrantes possuem competência e
capacidade de transporte mais baixas e uniformes do que os canais anastomosados, transportando
materiais de granulometria mais fina e mais selecionada. São comuns a quase todos os setores de
planícies fluviais de regiões tropicais e subtropicais úmidas. No Brasil, ocorrem vários modelos regionais de
drenagens meândricas, como o do alto Rio Tibagi, médio vale do Rio Paraíba do Sul, o do Pantanal Mato-
grossense e do Amazonas.
6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
A água subterrânea é toda água que ocorre em subsuperfície e seu estudo é importante na Geologia
de Engenharia devido aos efeitos que sua presença exerce nos processos de dinâmica superficial e na
estabilidade das obras de engenharia. Esses efeitos podem resultar de condições estáticas ou dinâmicas da
água no subsolo.
A primeira condição diz respeito às situações em que a alteração no volume ou conteúdo de água
instabiliza o maciço, resultando em colapsos e recalques. Pode ser citado o exemplo da cidade do México,
onde a contínua extração de água subterrânea contida em estratos argilosos provocou o lento e persistente
recalque do solo, resultando em afundamento significativo e generalizado das estruturas nele assentadas,
atingindo amplitudes verticais da ordem de alguns metros.
Nas condições dinâmicas, a força que a água exerce durante o escoamento pode causar instabilidade,
alterando as características de resistência e deformabilidade dos maciços. Comportam-se assim os taludes
naturais ou escavados que tiveram sua estabilidade comprometida pela força de percolação da água que
também pode provocar o fenômeno da erosão tubular interna (piping), em função de gradientes elevados.
Neste caso, cita-se, como exemplo, o colapso de Cajamar, em São Paulo e alguns casos em Ponta Grossa.
A Hidrogeologia estuda a água subterrânea em macroescala e o escoamento ao nível de estratos ou
conjunto de estratos geológicos, ocupando-se com a água enquanto recurso hídrico (formas de ocorrência e de
explotação, usos, preservação da qualidade e da quantidade das águas). A Hidrogeotecnia, uma das áreas da
Geotecnia, preocupa-se com o efeito mecânico da água nos maciços naturais.
A água que se infiltra está submetida a duas forças fundamentais: força da gravidade e força de adesão
de suas moléculas às superfícies das partículas do solo (força de capilaridade). Pequenas quantidades de água
no solo tendem a se distribuir uniformemente pela superfície das partículas. A força de adesão é mais forte do
que a força da gravidade que age sobre esta água. Como conseqüência ela ficará retida, quase imóvel, não
atingindo zonas mais profundas. Chuvas finas e passageiras fornecem somente água suficiente para repor esta
umidade do solo. Para que haja infiltração até a zona saturada é necessário primeiro satisfazer esta
necessidade da força capilar.
A água capilar se encontra, por meio das tensões superficiais, retida em espaços intergranulares
diminutos, conhecidos como capilares, formando películas contínuas em torno das partículas do solo. Na zona
de aeração podem ocorrer movimentos da água capilar, no sentido contrário ao da ação da gravidade, no
fenômeno conhecido como ascensão capilar ou sucção. Este fluxo, que ascende a partir da zona de
saturação, é devido às tensões superficiais atuantes na água, na interface ar-água, no interior dos capilares. A
altura de ascensão da água depende do raio do capilar, da tensão superficial, do ângulo de contato do
menisco no capilar e da presença de impurezas na água.
Apesar de existirem águas de diferentes origens como águas conatas ou fósseis (preservadas nos
interstícios da rocha desde a sua formação) e águas juvenis (originadas nas profundezas da crosta e que
ascendem à superfície por processos magmáticos), a maior parcela da água subterrânea é originada pela
infiltração da chuva no solo, sendo a mais importante em termos de Geologia de Engenharia.
6.2.1 Porosidade
Porosidade é o termo utilizado para designar os espaços vazios ou poros existentes no interior dos
diferentes tipos de materiais.
Na natureza, é possível classificar cada material, segundo sua porosidade, em dois grandes grupos: os
meios porosos propriamente ditos, que compreendem os materiais de porosidade granular ou de interstícios,
representados por solos e sedimentos; e os meios fraturados, cuja porosidade é caracterizada por uma
porosidade de fraturas, fissuras ou fendas, ocorrentes em rochas duras e compactas, tais como granitos,
basaltos, gnaisses e outras rochas ígneas ou metamórficas.
Não obstante tratar-se de um caso particular, um terceiro grupo de porosidade pode também ser definido,
denominado porosidade cárstica, que ocorre, sobretudo em rochas solúveis, formada pela dissolução de
porções do material original.
Em algumas rochas, particularmente nas rochas sedimentares e nos horizontes de transição solo-rocha,
tem-se um meio que pode ser caracterizado como de dupla porosidade, ou seja, com porosidade granular e de
fraturas.
As redes de poros em um dado meio podem estar totalmente interconectadas e a circulação da água
ocorrer livremente. Em outros, os poros podem estar totalmente isolados e a água não circular, ficando
confinada no interior destes. Há ainda meios em que a intercomunicação entre os poros é extremamente
restrita e a água circula de forma muito lenta.
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Em termos numéricos, a porosidade total (η) é definida como sendo a relação entre o volume de vazios
(Vv) e o volume total considerado (V).
Vv
η=
V
Para estudos do fluxo subterrâneo, no entanto, o interesse recai sobre a porosidade efetiva, ou seja,
aquela que reflete o grau de intercomunicação entre os poros, permitindo assim a percolação da água. A
porosidade efetiva ( η e ) representa apenas uma pequena parcela da porosidade total, sendo expressa pela
relação entre o volume ocupado pela água livre (Ve) e o volume total (V).
Ve
ηe =
V
6.2.2 Permeabilidade
Permeabilidade é a propriedade que têm as rochas e solos de permitirem a passagem de fluidos
através delas, com certa velocidade num determinado espaço de tempo.
O valor da permeabilidade depende da interligação entre os poros, vazios e fraturas das rochas, e varia
com o diâmetro das partículas. Um cascalho bem homogêneo (bem graduado) tem permeabilidade maior do
que uma areia grossa bem graduada. Porém, quando mais irregular for a granulometria (composição
granulométrica heterogênea), menos permeável será o material, visto que as partículas finas colmatam os
poros existentes entre as partículas maiores. A permeabilidade depende ainda, além da distribuição
granulométrica, do arranjo interno das partículas granulares da rocha ou solo, conforme se depreende da figura
69.
85
− Fig. 70 – Maciço rochoso fraturado, evidenciando os parâmetros de interesse ao fluxo: orientação espacial
das famílias de descontinuidades (atitude); abertura das descontinuidades (e); espaçamento entre as
descontinuidades (l); rugosidade absoluta das paredes (Ra).
Aqüíferos: São materiais ou rochas que armazenam água e permitem a sua circulação. De modo
geral, os solos e sedimentos são assim classificados, compreendendo, ainda nesta categoria, as rochas
sedimentares que apresentam porosidade granular (arenitos, alguns calcários detríticos); as rochas com
porosidade cárstica (calcários, brechas calcárias) com porosidade devido a alteração, ou a efeitos tectônicos
(cataclasitos, por exemplo); e, ainda, os maciços rochosos com grande número de descontinuidades, que
apresentam porosidade de fraturas (rochas cristalinas em geral).
O nível d'água subterrânea pode estar submetido a pressões iguais ou superiores à atmosférica. No
primeiro caso, os aqüíferos são ditos freáticos ou livres e o correspondente nível d'água é denominado nível
freático. No segundo caso, são chamados de confinados (ou artesianos) ou semiconfinados e o correspondente
nível d'água é denominado nível piezométrico.
Um caso particular de aqüífero freático é o dos denominados aqüíferos ou lençóis suspensos, de
distribuição espacial geralmente restrita e, comumente, com existência temporária. Ocorrem alçados em
relação ao nível do lençol d'água local e se formam quando a água, que se infiltra no terreno (maciço natural,
solo, aterro, etc.), encontra um obstáculo (superfícies impermeáveis, camada de argila, etc.) que dificulta sua
passagem até o lençol freático.
Aqüicludes: São materiais também porosos, que contêm água nos seus interstícios, muitas vezes
atingindo até o grau de saturação, mas não permitem a sua circulação. São rochas ou materiais
essencialmente argilosos, nos quais a água está firmemente fixada em poros de diminutas dimensões, por
pressões moleculares e tensões superficiais e a circulação é praticamente nula.
Aqüitardos: São materiais ou rochas porosas que, embora armazenem quantidades significativas de
água no seu interior, permitem a circulação apenas de forma muito lenta. São incluídas neste grupo as argilas
siltosas ou arenosas.
Aqüífugos: São materiais impermeáveis, com baixíssimo grau de porosidade, que tanto não contêm
como não transmitem água. Incluem-se neste grupo todas as rochas duras, cristalinas, metamórficas e
vulcânicas, sem fraturamento ou alteração.
Esses materiais podem aparecer, na natureza, isolados ou formando pacotes de dois ou mais estratos,
ocorrendo a diferentes profundidades, desde poucos metros, até dezenas ou centenas de metros, possuindo
espessuras métricas a decahectométricas e estruturando o arcabouço hidrogeológico local ou regional.
AQÜÍFERO BAURU - O Grupo Bauru, de idade Cretáceo-Superior, é constituído por arenitos, arenitos
sílticos, arenitos argilosos, arenitos com cimento calcífero e conglomerados basais, cobrindo uma área
2
aproximada de 100.000km . Sua espessura atinge até 300m. Suas características hidrológicas, como
permeabilidade e transmissibilidade, são moderadas devido à presença de siltitos e de uma cimentação
calcífera em toda a seqüência.
A profundidade dos poços varia entre 100 a 200m e seu diâmetro raramente ultrapassa 8 polegadas.
Sua vazão varia entre 5 m3 /h e 50 m3 /h, com água de boa qualidade.
AQÜÍFERO FURNAS - A Formação Furnas, de idade devoniana, é constituída por arenitos brancos e
cinza-claros, de granulação média, com níveis conglomeráticos na base, e grãos angulares e subangulares. A
estratificação cruzada é típica dessa formação, que aflora no Paraná e Mato Grosso, principalmente, com
espessura ultrapassando os 300m em algumas regiões.
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Fig. 72 A – Área de ocorrência do Aqüífero Guarani mostrando as áreas de recarga (contorno escuro).
FORMAÇÃO SERRA GERAL - Falhas e zonas vesiculares nos derrames basálticos da Formação
Serra Geral - Os derrames basálticos da Formação Serra Geral (que datam do Jurássico--Cretáceo), atingem
uma espessura de mais de 1 500 m em locais como o poço de Presidente Epitácio, da Petrobrás, onde foram
encontrados mais de 30 derrames.
Em geral, a parte superior de cada derrame é vesicular. Arenitos intercalados, cuja espessura
comumente não ultrapassa algumas dezenas de metros, encontram-se ocasionalmente entre os derrames.
Os derrames basálticos não constituem, por si, camadas aqüíferas e somente ao longo das zonas de
falhas e em certos horizontes vesiculares ocorrem condições de produção de água subterrânea. As vazões
médias variam entre 10 m3 /h e 25 m3 /h. Vazões maiores são raras, como em Palmital, onde um poço com 150
m de profundidade, situado sobre uma zona de falhas com 400 m de largura, produz aproximadamente 100
3
m /h.
As possibilidades de sucesso na locação de poços nessas zonas fraturadas dependem, como no caso
do Embasamento Cristalino, de um estudo minucioso. Porém, sempre se tratará de fontes locais e não de um
fenômeno regional.
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− POÇO TUBULAR PROFUNDO - também conhecido como "poço artesiano" e/ou "semi-artesiano", é
utilizado para o aproveitamento da água do subsolo, praticamente em todas as regiões do globo terrestre.
Um bom projeto para o poço objetiva otimizar: máxima eficiência, longa duração e baixo custo. Para
obter esta otimização os técnicos lançam mão dos seguintes elementos básicos:
Determinado o melhor local para perfuração do poço, a sondagem deverá se processar de acordo com
as normas técnicas em vigor, e dentro de uma tecnologia que possibilite a maior segurança possível.
Assim, um poço tubular profundo bem executado oferece condições totais de aproveitamento da água
subterrânea, apresentando as seguintes vantagens:
evitando-se que as paredes do poço desabem com o impacto caso fosse executado com sonda a percussão.
Rochas mais compactas, mesmo sedimentares, podem ser perfuradas com sonda à percussão, já que nestes
tipos de rochas os perigos de desabamento são bem menores. A extração da água pode ser feita através de
bomba submersa ou através da injeção de ar comprimido dentro do poço que forçará a água para cima através
da tubulação (processo air lift).
− POÇOS CRAVADOS - São poços de pequeno diâmetro. São construídos através da cravação, no solo, de
uma ponteira ligada à extremidade inferior de um conjunto de segmentos de tubos firmemente conectados
entre si. A ponteira é constituída por um tubo perfurado, por onde a água entrará, tendo uma ponta de aço
na extremidade. O diâmetros destes poços varia de 32 mm (1 1/4”) a 100 mm (4”). A ponteira deverá ser
cravada até a profundidade da formação aqüífera, situada abaixo do lençol freático. Entretanto a
profundidade não deverá ser superior a 7,50 metros. A extração da água pode ser feita através de bomba
simples de pistão ou através de bomba submersa centrífuga.
− POÇOS ARTESIANOS - São poços em que a água jorra espontaneamente na superfície devido a pressão
natural. Isto ocorre quando lentes ou camadas de material permeável (aqüífero) acha-se envolvido por
material impermeável. A camada permeável (aqüífero) deverá ter uma zona de alimentação por onde a
infiltração da água compensará a quantidade extraída. A saída de água por pressão natural é
conseqüência da pressão hidrostática. A superfície ligando o nível que seria alcançado pela água nos
vários poços abertos num aqüífero confinado é denominada superfície piezométrica.
− FONTES - Lugar na superfície da terra onde brota água corrente, ou seja, é o afloramento de água
subterrânea.
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