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PREFEITURA MUNICIPAL DE JATAI

SECRETARIA DE CULTURA

Cineclube Nelson Pereira dos Santos

24.04.2010 Sábado 20h

Filmes
Esta seleção apresenta obras assinadas por importantes nomes da cinematografia brasileira. Estão
presentes o cinemanovista Joaquim Pedro de Andrade (Brasília: contradições de uma cidade nova, 1967)
e um dos diretores mais aclamados da atualidade, Jorge Furtado (Ilha das Flores, 1989), além do carioca
Joaquim Assis, responsável pelo clássico documentário nacional ,Ô xente, pois não (1973).

Filmes do Programa 54
Brasília, Contradições de uma Cidade Nova
Joaquim Pedro de Andrade, DF, 1967
Ilha das Flores
Jorge Furtado , RS, 1989
Ô Xente, pois não
Joaquim Assis , PE, 1973

Crítica

CICLOS DE UMA VIDA PRIMITIVA


Marcelo Miranda

A idéia de um ciclo sem fim parece ser a sina dos problemas do Brasil. Tudo começa num ponto crítico para, após
várias voltas, retornar ao mesmo ponto crítico, e assim indefinidamente. Brasília: contradições de uma cidade
nova (1967), do carioca Joaquim Pedro de Andrade, vai diretamente ao centro do poder nacional tentar entender
esse mistério chamado Brasil. Na então recém-inaugurada capital, o diretor realiza o inventário do que seja
Brasília naquele momento histórico; isso, a partir do olhar de quem se mudou para lá acreditando numa vida
mais promissora. É filme de investigação, que parte de uma questão ainda não muito clara (Brasília é um retrato
do Brasil?) para perceber que, naquele lugar tão milimetricamente planejado, está fincada boa parte das
contradições aludidas no título do curta.

Ô xente, pois não!, de Joaquim Assis, guarda sua força no discurso de trabalhadores rurais de Pernambuco em
choque com as imagens captadas pela câmera. As falas completam o registro, e o registro completa as falas, nos
planos detalhados dos trabalhadores em questão. É o filme que mais diretamente transmite outra noção muito
precisa dos demais no programa: personagens em conflito com os ambientes onde vivem. É um enfrentamento
contínuo contra as adversidades surgidas por ações externas e pelo contexto político, econômico e social no qual
essas pessoas estão inseridas.

É o que ainda se vê em Ilha das Flores (1989), do gaúcho Jorge Furtado. Por uma linguagem hoje tornada pop pelo
próprio realizador (cujo filme mais famoso é O homem que copiava), o curta parte de um conceito de humor e
vai, literalmente, adentrar nas entranhas de uma comunidade que vive do lixo em Porto Alegre. O filme parece
exalar um certo ar de pós-modernidade com ânsia de atingir a quem o vê através das fragilidades e contradições
do próprio espectador. É um ponto de chegada curioso para um ciclo iniciado no interior da subdesenvolvida
Paraíba (Aruanda) e finalizado na periferia da moderna Porto Alegre (Ilha das Flores).

*Marcelo Miranda: crítico de cinema dos sites Digestivo Cultural, Cinequanon e Filmes Polvo e repórter de Cultura
do jornal O Tempo (Belo Horizonte).

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