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Instituto Politécnico da Guarda

Escola Superior de Educação

Didáctica das Linguagens


-Língua Portuguesa-

Tema: Linguagem, Comunicação, Percepção e Recepção

Curso: Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico

Docente: José Filipe Saraiva

Discente: Helena Sofia Pinheiro Saraiva Nº 5903


9 de Janeiro de 2008

Índice

.....................................................................................................................................................1

ÍNDICE.......................................................................................................................................2

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4

LINGUAGEM............................................................................................................................6

LÍNGUA E FALA......................................................................................................................9

COMUNICAÇÃO....................................................................................................................11

ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO....................................................................................13

MÁXIMAS CONVERSACIONAIS........................................................................................15

O HUMOR E A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS.............................16

LINGUAGEM NAS CRIANÇAS............................................................................................18

INICIAÇÃO À LEITURA E ESCRITA PELAS CRIANÇAS.............................................22

ENUNCIAÇÃO E ENUNCIADO............................................................................................24

PLANIFICAÇÃO DE UMA AULA........................................................................................26

HORA DO CONTO:............................................................................................................................26
O LOBO CULTO...............................................................................................................................26

PLANIFICAÇÃO.....................................................................................................................31

COMPETÊNCIAS/OBJECTIVOS.........................................................................................31

DESENVOLVER O GOSTO PELA LEITURA:.............................................................................................31


INTERPRETAR A HISTÓRIA:................................................................................................................31
PÚBLICO-ALVO:...............................................................................................................................31
DURAÇÃO:......................................................................................................................................31
RECURSOS/MATERIAIS USADOS:........................................................................................................31

ACTIVIDADES/ESTRATÉGIAS...........................................................................................32

2
DESENVOLVIMENTO..........................................................................................................................33

MATERIAIS UTILIZADOS:..................................................................................................34

FICHA 1..........................................................................................................................................34
VERIFICA SE COMPREENDESTE O CONTO “O LOBO CULTO”..................................................................34
LÊ E RESPONDE CORRECTAMENTE COM V DE VERDADEIRO E F DE FALSO AS SEGUINTES AFIRMAÇÕES.......34
FICHA 2..........................................................................................................................................35
RECONTA A HISTÓRIA COM A AJUDA DAS IMAGENS...............................................................................35
ESCREVE ALGUMAS FRASES DESCREVENDO AS IMAGENS........................................................................35
FICHA 3..........................................................................................................................................37
CRIA UMA NOVA CAPA PARA A HISTÓRIA. E DÁ UM NOVO TÍTULO..........................................................38
NOVO TÍTULO.................................................................................................................................38

CONCLUSÃO..........................................................................................................................38

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................40

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Introdução

A realização deste trabalho tem por finalidade apresentar o tema: “Linguagem,


comunicação, percepção e recepção” no âmbito da disciplina Didáctica das Linguagens
- Língua Portuguesa, no curso de Professores do 1º ciclo do Ensino Básico, no 3º ano.
Este trabalho tem como objectivo realizar um breve estudo sobre alguns
conceitos como linguagem; língua e fala; comunicação; elementos da comunicação; as
máximas conversacionais; a utilização das mesmas na produção de humor; enunciação
como um novo conceito; a linguagem nas crianças assim como uma breve reflexão
sobre a iniciação à leitura e escrita.
Para a elaboração deste trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica de
vários autores, tanto em suporte escrito como em suporte on-line.
Inicialmente será abordado o tema da linguagem, a sua definição, as suas utilizações, as
suas características tão próprias, o signo linguístico, tendo como referencia alguns
autores, como Saussure, o significado e significante conferindo ao signo linguístico uma
dupla articulação, isto é, uma entidade psíquica de duas faces.
Distinção entre língua e fala, língua como uma forma de linguagem, e fala como
uma expressão do homem, em tornar as coisas imaginadas em algo concreto, como
quando descrevemos uma sensação ou sentimento.
Como futura professora é importante que entendamos a importância da
comunicação nas linguagens humanas, para que possamos levar o aluno, num futuro, a
perceber e reconhecer em diferentes situações de comunicação a originalidade de cada
uma delas, sabendo distinguir em que casos ela se faz.
Assim como a distinção entre emissor e receptor, quais os papeis de cada um no acto
comunicativo, e que intenções comunicativas estarão por detrás dos nossos enunciados,
de carácter informativo, apelativo ou expressivo.

Para melhor entendermos a comunicação no seu todo, é essencial entender-se as


suas partes, neste caso os seus elementos comunicativos, como emissor e receptor,
mensagem, código e canal de comunicação.

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Irá apresentar-se também uma breve referência as máximas conversacionais
assim como a sua utilização na produção de enunciados humorísticos, causando a
quebra dessas máximas.
A linguagem nas crianças, abordará o tema das comunicações precoces nas
crianças, as crianças, ao contrários dos animais, não nasce a saber falar, é um processo
algo moroso de aprendizagem de uma língua, processo esse em que os adultos têm um
papel essencial.
Os seres humanos, utilizam variados meios, que podem ser visuais, auditivos ou
gestos, mas o instrumento principal da comunicação humana é sem dúvida a linguagem
verbal, falada ou escrita. E para garantir uma perfeita aquisição desses meios, desde
cedo as crianças são iniciadas na aprendizagem da leitura e escrita. E para que essa
aprendizagem ser perfeita os professores utilizam variados métodos de ensino,
adequando sempre esses métodos as dificuldades e capacidades dos alunos.
Como complemento deste trabalho, é apresentada uma planificação de uma aula,
assim como os objectivos/competências e alguns exercícios inseridos nas fichas de
trabalho sobre um conto “O Lobo Culto”.

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Linguagem

Linguagem é uma capacidade psíquica humana, que permite estabelecer relações


de comunicação entre os indivíduos de uma comunidade.
As línguas humanas ou naturais, surgem no seio de uma comunidade, devido à
interacção estabelecida entre os indivíduos dessa comunidade.
O homem é o único animal capaz de criar símbolos, isto é signos universais
convencionais, flexíveis e arbitrários em relação ao objecto que representam.
Como os seus símbolos não têm nada a ver com os objectos que representam e
são aceites por uma convenção, a linguagem humana depende da aceitação social e é,
necessariamente, uma construção racional, traduzindo-se como um dos princípios
instrumentos na formação do mundo cultural.
É a linguagem simbólica que nos permite transcender a nossa experiência.
É de carácter inato, é constituída por uma série de órgãos que são inatos ao ser
humano, órgãos fonadores, como pulmões; faringe; laringe; boca e fossa nasais, e
órgãos receptores/auditivos, os ouvidos.
Os gestos os comportamentos, as atitudes e os sentimentos permitem transmitir
determinadas ideias, pois é uma forma de comunicação não verbal.
Podemos então dividir a linguagem em linguagem verbal, aquela que recorre ao
uso da palavra, que pode ser usada na oralidade ou escrita, e linguagem não verbal
aquela que não recorre ao uso da palavra, como a dança, os gestos e símbolos do dia-a-
dia.
Entendemos linguagem, como um sistema organizado que serve para comunicar,
assim a linguagem é também sinónimo de código. Todo o conjunto de sinais
estabelecidos é tido de algum significado que pode ser considerado uma linguagem.
A linguagem humana não é restrita, tem o poder de se regenerar e criar sempre
novos vocábulos.
Tem características que são comuns universais, um carácter evolutivo, isto é as
línguas encontram-se em constante desenvolvimento e actualizam-se conforme as
necessidades de uma sociedade, hoje certamente que não falamos o mesmo português

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do século XIX, devido aos avanços sociais, económicos, políticos a língua tem evoluído
conforme essas necessidades.
São também criativas, pois através delas é possível produzir e receber
enunciados nunca antes produzidos, desde que o discurso quer oral, quer escrito se
encontre devidamente organizado e articulado.
As línguas naturais são redundantes, dado que nas frases existem elementos
redundantes, que não suscitam nenhuma informação extra.
Existe feedback ou retorno na linguagem humana, pois é possível recorrer à
utilização de palavras mais claras para transmitirem determinada mensagem.
As línguas humanas são ambíguas, dado que por vezes existem palavras que
suscitam interpretações distintas. Esta ambiguidade pode ser lexical, palavras que no
seu contexto suscitam diversas interpretações, como por exemplo, canto da mesa ou
canto do verbo cantar. E ambiguidade gramatical, quando existe diferentes
interpretações da mensagem, como por exemplo a seguinte frase “Vende-se cadeira-de-
rodas a doente em bom estado”, esta frase pode claramente levar a outra interpretação
que não a inicial ou pretendida.
A intermotabilidade ou reciprocidade de papéis é outra característica universal
da linguagem humana, caracteriza-se pela troca constante que experimentamos durante
o acto comunicativo, ora somos emissor ora somos receptor.
Quando através da produção do discurso, nomeadamente oral, se consegue
enganar o receptor do discurso isso é prevaricação, é outra possibilidade da linguagem
humana, enganar através do discurso o receptor.
Quando pela substituição de letras numa palavra se origina novas palavras, com
significados distintos, é chamada a comutação.
Segundo Saussure propôs que a língua é como um sistema de signos, Saussure
assinalou a importância da questão do arbitrário do signo linguístico, a dupla articulação
e com ela o significado e significante.

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Signo
linguísti
co

Dupla
articulaç
ão

Significante
(corresponde
Significado
uma
(corresponde
imagem
um
acústica ou
conceito)
gráfica
do conceito )
Imagem 1: quadro síntese do signo linguístico por Saussure.

O signo é visto como a união do sentido e da imagem acústica. O que ele chama
de “sentido” é a mesma coisa que conceito ou ideia, isto é, a representação mental de
um objecto ou da realidade social em que nos encontramos.
Em outras palavras, para Saussure, conceito é sinónimo de significado (plano
das ideias), algo como o lado inteligível, em oposição ao significante (plano da
expressão), que é sua parte sensível.
Assim a imagem acústica é o significante. Com isso, temos que o signo
linguístico é uma entidade psíquica de duas faces, o significante e o significado, estão
intimamente ligados, reclamam reciprocidade no acto comunicativo.

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Imagem 2: Significado e significante.

Os dois elementos, significante e significado, constituem o signo estão


intimamente unidos e um reclama o outro. São interdependentes e inseparáveis,
pois sem significante não há significado e sem significado não existe
significante. Exemplificando, quando um falante do português recebe a
impressão psíquica que lhe é transmitida pela imagem acústica ou significante
[kaza], graças à qual se manifesta fonicamente o signo casa, essa imagem
acústica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a ideia de abrigo, de lugar para
viver, descansar.

Língua e fala

Pode-se considerar língua como uma forma de linguagem, interpretação global


de linguagem.
Uma língua tem como funções a de comunicar e a de convencionar. A língua
não é apenas um conjunto de sons produzidos pelo aparelho fonador humano e emitidos
pelo emissor sem intenção, por outro lado a relação entre as referidas formas e

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conteúdos não é resultado de uma imposição intrínseca, mas definida por normas,
convenções, estabelecidas entre os utilizadores de uma língua.
A fala antes não era vista como expressão do homem, a linguística viu a língua
como expressão da realidade e tomou-a como realidade, coisa em si, objecto externo,
produto de estranha decantação social, inatingível a cada um, invulnerável á o
procedimento do indivíduo.
Se a fala é uma expressão do homem, o homem tem de estar no centro e não fora
da explicação.
Para Saussure a língua não é uma realidade mas uma abstracção, uma
possibilidade. Não é do mundo exterior, é do mudo interior. Realidade é a fala,
algo externo - momento sensível em que os elementos da língua se manifestam.
Como expressão do homem, a fala é uma projecção do mundo interior, área em
que se fecha a língua, inacessível à experiência alheia. Ninguém pode conhecer a
riqueza de língua de um homem que está calado.
A língua não é um serviço, é uma serventia, é um material de construção, não e
uma construção: é um estado de análise, não é uma síntese. Não é expressão, é uma
possibilidade. É intra-individual, não é extra-individual. A fala, sim, é que é um serviço,
uma construção, uma síntese, uma expressão, uma actividade inter-individual, uma
actividade social.
A fala cria a língua e a língua fornece meios veiculares à circulação, no reino
dos sentidos. Se o homem é um produto do meio e a fala uma expressão do homem,
então ela é feita de imagens do meio, de ressonâncias do mundo, captadas em vivências
expressivamente filtradas.
A linguagem comporta, duas partes: uma, essencial, tem por objecto a língua,
que é social em sua essência e independente do indivíduo, outra, secundária, tem por
objecto a parte individual da linguagem, a fala, inclusive a fonação.
Sem dúvida, esses dois objectos estão estreitamente ligados e se implicam
mutuamente; a língua é necessária para que a fala seja inteligível e produza todos os
seus efeitos; mas esta é necessária para que a língua se estabeleça.
“Como seria associar uma ideia a uma imagem verbal se não se surpreendesse de
início esta associação no acto de fala. Por outro lado, é ouvindo os outros que
aprendemos a língua materna, através da audição, repetição e memorização.”
(Prof. Dr. Sérgio Augusto Freire de Souza in Introdução à Análise de Discurso)

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É a fala que faz evoluir uma língua: são as impressões recebidas ao ouvir os
outros que modificam nossos hábitos linguísticos. Existe, pois, interdependência
da língua e da fala; aquela é ao mesmo tempo o instrumento e o produto desta.
Tudo isso, porém, não impede que sejam duas coisas absolutamente distintas.
A língua existe na colectividade sob a forma duma soma de sinais depositados
em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplares, todos idênticos.

Comunicação

A noção de comunicação é hoje encarada como transmissão de informação, uma


actividade unidireccional, cujos autores se encontram formal ou informalmente
revestidos de autoridade para o fazer. Em algumas situações nas relações humanas, a
comunicação assume um carácter mais complexo, multidireccional, a comunicação num
grupo, como por exemplo a linguagem familiar.
É importante que entendamos a importância da comunicação nas linguagens
humanas, para que possamos levar o aluno a perceber e reconhecer em diferentes
situações de comunicação a originalidade de cada uma delas, sabendo distinguir em que
casos ela se faz.
Mais importante é incluir na noção de comunicação a de interacção e o
alargamento dos conteúdos cognitivos aos afectivos e comportamentais. Assim a
criança poderá distinguir os papéis de autor e destinatário, ou emissor e receptor.
O emissor, é a fonte, o responsável pela emissão e produção de enunciados,
utilizados na comunicação. É também responsável pela adequação das mensagens ao
seu receptor, isto é, tem de tomar em consideração os seus condicionalismos, as suas
capacidades cognitivas, psicológicas, afectivas de as receber.
Por outro lado, o receptor ou destinatário, aquele que recebe a mensagem,
desempenha um papel de ouvinte, podendo condicionar o emissor, ao enviar sinais de
concordância, discordância desinteresse, incompreensão. Tornando-se assim tal como o
emissor, um elemento activo, tão activo como o emissor. Esta actividade é bem evidente
na relação professor-alunos, onde o professor adequa o seu discurso a sua mensagem

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conforme o interesse dos alunos, vai adequando o seu discurso conforme os sinais que
recebe dos alunos.
A interacção comunicativa de um emissor não pode ignorar esta relação, que
sempre se estabelece com o destinatário/receptor sob pena de atingir objectivos
contraditórios aos que pretendia.
Tendo em atenção esta problemática, Buhler organizou as intenções
comunicativas em três grupos distintos, intenções informativas, intenções apelativas e
intenções expressivas.
As intenções informativas são, definitivamente as mais facilmente detectadas e
que durante bastante tempo ocuparam um papel importante no acto comunicativo.
Com uma comunicação deste género, pretende o emissor introduzir novos
conhecimentos do receptor ou activar conhecimentos já existentes.
As notícias e comunicados são alguns dos exemplos mais evidentes, nestes casos
a acção do destinatário consiste em demonstrar o seu interesse, por outro lado o emissor
pretende que com a sua comunicação, o receptor a aceite e acredite nela.
A uma comunicação de conteúdo cognitivo espera-se uma adesão cognitiva.
As intenções apelativas têm uma forma imediatamente reconhecível, pelo apelo
que se faz de um modo directo. Esta comunicação pretende que o receptor ao receber a
mensagem actue, que o leve a agir de alguma maneira. Os pedidos, as ordens, as
perguntas são exemplos concretos deste tipo de intenção comunicativa.
Com ela pretende-se obter uma mera reacção e não aumentar o conhecimento.
Á primeira vista as intenções expressivas não têm objectivos, de facto o que se
pretende quando usadas são respostas afectivas. As promessas, as expressões de
sentimentos são sempre esperadas respostas afectivas.
Em qualquer das situações, é necessário um bom “comunicador” deve respeitar
as características do receptor a quem se destina a mensagem. Toda a informação seja ela
apelativa, informativa ou expressiva, não se organiza indiscriminadamente, de modo
igual para qualquer tipo de receptor. Este embora aparentemente seja passivo,
condiciona a produção humana.
Para que estas intenções comunicativas funcionem são necessários outros
elementos comunicativos, além do emissor, conteúdo ou mensagem e receptor.
É essencial que o aluno compreenda que há situações que definem e determinam
os contornos de uma comunicação.

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Elementos da comunicação

Imagem 5: esquema síntese dos elementos necessários para a comunicação humana.

Só existe verdadeira comunicação quando estes cinco elementos (emissor,


receptor, mensagem, canal de comunicação e código) são usados no processo
comunicativo.
Quanto ao emissor e receptor, de referir a relação entre estes dois elementos. A
relação é influenciada pela proximidade que existe entre ambos, e pela possibilidade de
interacção. A proximidade é definida pelo contexto ambiental em que se dá o contacto,
e pode ser física ou psicológica. Uma relação física, emissor e receptor estão no mesmo
espaço físico, ao alcance corporal mútuo ou com acesso através de uma ou duas
dimensões comunicacionais apenas (auditiva ou visual). Existe ainda três tipos que
caracterizam a aproximação ou distanciamento das conversações, individual; social e
grupal.
A individual é uma conversa simples entre amigos, uma entrevista de trabalho,
pode ainda tratar-se de um telefonema ou um e-mail. A grupal é a relação entre

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professor e aluno; empregador e empregado, é estratificada e segue algumas regras pré-
estabelecidas.
A social, embora emissor e receptor ocupem o mesmo espaço físico, não estão
ao alcance corporal, existindo um contacto visual e auditivo, é o caso da relação entre
conferencista e plateia.
Finalmente, o próprio contexto comunicativo influi na transmissão dos
conteúdos. As comunicações anteriores, mesmo quando perdidas na memória, podem
determinar uma interpretação e conduzi-la por vias inesperadas.
O mesmo se pode dizer das comunicações paralelas, simultâneas, subentendidas.
Comunicar implica utilizar um sistema de sinais e por um sistema de regras,
regras essas combinatórias dos sinais, e que são conhecidas por ambos os
intervenientes.
Esse sistema dá pelo nome de código. O emissor serve-se do código para poder
elaborar a sua mensagem, o receptor ao receber essa mensagem irá identificar o sistema
de signos utilizado, e irá descodificar então a mensagem recebida.

Imagem 6: Só há verdadeira comunicação (oral), quando a mensagem emitida pelo emissor é


recebida e descodificada pelo receptor.

Canal, em comunicação, também designado como canal de comunicação,


designa o meio usado para transportar uma mensagem do emissor ao receptor. Esta
pode ser por uma canal gasoso, líquido ou sólido. Conforme onde se é produzido o
enunciado ou mensagem.

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MÁXIMAS CONVERSACIONAIS

Imagem 7: quadro síntese das máximas conversacionais.

A troca de palavras (...) é, caracteristicamente, pelo menos em algum grau,


esforços cooperativos; cada participante reconhece em si e nos demais, em alguma
medida, um propósito ou conjunto de propósitos comuns ou pelo menos uma direcção
mutuamente aceita. (Grice, apud Lage, 2000)
A determinação do enunciado depende do conhecimento das regras que
governam os actos da fala, bem como da intenção que o falante tem ao enunciar
considerando o processo cooperativo. Processo este, que as pessoas seguem quando
comunicarem de modo eficiente: fornecendo informações, interrogando, respondendo e
respeitando regras de conduta na contribuição conversacional de forma convencional.
As máximas de Grice têm como base um princípio cooperativo entre
falante e ouvinte, possível de reger a comunicação. As informações, de acordo
com o princípio cooperativo, fazem parte do conhecimento compartilhado,
dependentes do contexto conversacional.

As máximas conversacionais são explicitadas da seguinte maneira:

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I Categoria da qualidade
Supermáxima: Tente fazer uma contribuição verdadeira
1a. Máxima: Não diga o que acredita ser falso;
2a. Máxima: Não diga algo de que não tem adequada evidência.

II Categoria da quantidade:
1a. Máxima: Faça da sua contribuição tão informativa quanto necessária (para os
propósitos reais da troca de informações);
2a. Máxima: Não faça sua contribuição mais informativa do que o necessário.

III Categoria da relação:


Máxima: Seja relevante

IV Categoria de modo
Supermáxima: Seja claro
1a. Máxima: Evite a obscuridade de expressão;
2a. Máxima: Evite a ambiguidade;
3a. Máxima: Seja breve;
4a. Máxima: Seja ordenado.

O HUMOR E A VIOLAÇÃO DAS MÁXIMAS CONVERSACIONAIS

As máximas conversacionais podem tornar-se num importante veículo na


produção de humor nas histórias de banda desenhada.
Segundo Grice (1975), que mostra que, por trás de uma afirmativa quase sempre há algo
“encoberto”, outra mensagem, e as máximas conversacionais são um excelente meio de
analisar essas mensagens implícitas, tendo como base as quatro máximas
conversacionais: Quantidade, Qualidade, Relevância e Modo.
O ouvinte procura um sentido para o enunciado que esteja de acordo com as
máximas estabelecidas, considerando o que a informação literal pode dizer de
verdadeiro, relevante para uma determinada situação discursiva. Caso não haja um

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sentido literal, então é preciso encontrar um sentido que responda tais princípios.
Quando ocorre quebra de máximas, o enunciado problematiza o dito e o leitor talvez
não consiga perceber o que está implícito naquele texto.
Se o ouvinte, ou leitor, falha em relacionar o dito e o implícito, automaticamente
inicia uma série de cálculos mentais a fim de buscar uma interpretação.
A ironia, as expressões ambíguas, a metáfora, entre outras constituem, para
Grice, uma violação do Princípio de Cooperação ou, pelo menos, de uma máxima
conversacional.
Tomando como exemplo a banda desenhada da publicação “Toda Mafalda”, da
autoria do argentino Quino, da editora Martins
Fontes – 1991, para analisar de acordo com as teorias citadas anteriormente.

Imagem 8: Banda desenhada da Mafalda

Para se perceber a mensagem implícita é necessário recorrer à memória social,


ou seja, lembrar que esta banda desenhada foi feita na época da ditadura argentina e
remete a um facto que ocorreu, em que pessoas foram mortas injustamente, só porque
não atendiam a mesma ideologia que os ditadores.
Na frase “Que mal fizeram as galinhas? NENHUM”. Notamos que o termo
galinhas se refere metaforicamente a pessoas, gente inocente que foram assassinadas.
O pronome NENHUM afirma que essas pessoas não fizeram nada de errado, e
que foram mortas injustamente.
Em “De que as galinhas são culpadas? DE NADA”. Podemos observar mais
uma vez a injustiça cometida com pessoas totalmente inocentes. Elas não eram culpadas
de nada, não fizeram nada que infringissem a lei. E mesmo que tivessem feito algo,
deviriam ter um julgamento e não serem sentenciadas à morte sem julgamento prévio.
Assim, como no primeiro e no segundo quadro aparecem em caixa alta as
palavras NENHUM e DE NADA, para dar mais ênfase a crítica, para salientar que as
pessoas assassinadas cruelmente não tiveram culpa alguma.

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E por fim, podemos notar que a palavra Mãe está metaforicamente lembrando
alguém que tem o poder, alguém que impõe, que oprime e castiga, nesse caso, o
governo em vigor na época referida. A banda desenhada da Mafalda viola a máxima do
modo (seja claro) quando metaforiza as pessoas como galinhas, pois como todos já
sabem que ela detesta sopa, pode ser que ela queira deixar claro que também não gosta
que sua mãe mate as galinhas para fazer a sopa. Ela poderia querer defender as aves.
E quando usa a metáfora acima, ela deixa de ser clara e pretende que o leitor
interprete o que ela diz, para então, construir sobre essa metáfora um significado
semântico adequado à situação e ao contexto.
Além do que, há também, a violação da máxima de qualidade (fale a verdade),
pois diz algo que não é verdadeiro; não são galinhas que foram mortas, mas sim, o povo
argentino e não era a sua mãe que as estava matando e sim o governo.
Quino convida o leitor a interpretar o que está implicado por atrás dessas
metáforas, ele espera que o leitor entenda o implícito e não o dito, já que não podia falar
abertamente, o seu ponto de vista, pois o país estava em plena ditadura militar e se ele
expressasse a sua opinião, provavelmente seria a próxima “galinha” que seria morta.
Aqui está um exemplo claro da utilização ou não das máximas
conversacionais.

Linguagem nas crianças

A criança desde o momento em que nasce, é envolvida por um universo de


linguagens, dentre as quais está fundamentalmente a linguagem verbal, usada
primeiramente pela sua mãe e depois pela família, que usam a linguagem verbal para
comunicar e para mostrar os seus sentimentos, apesar de saberem à partida que a criança
nada perceberá.
Os bebés quando nascem, não têm ainda o seu cérebro completamente formado.
Se os seres humanos permanecessem na barriga da mãe por um período
proporcional àquele de outros primatas, nasceriam aos dezoito meses, exactamente a
idade na qual os bebés começam a falar, portanto, nasciam já a falar.

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Envolvida num ambiente de falantes, a criança logo procura recursos que a
façam ser também compreendida pelos seus interlocutores.
Segundo Vigotski (2000) a comunicação representa a função primordial da fala,
as crianças com poucos meses de nascimento começam já a sentir a necessidade de
fazerem uso de recursos comunicativos.
Portanto, ao passo que a criança vai conseguindo emitir sons, cada vez mais, é
bombardeada de estímulos sonoros, no caso, a fala das pessoas que a cerca,
impulsionando-a a repetir as palavras ouvidas e conseguindo fazer uso da fala, aos
poucos a criança vai utilizar as palavras como instrumento para a comunicação.

Imagem 3: Comunicação precoce, através de expressões faciais.

Para tentar responder aos estímulos que recebe a criança, como ainda não
conhece nenhuma língua, expressa-se usando expressões faciais. Assim como o choro
ou o riso, que funcionam aqui como parte comunicativa essencial numa criança de
meses.
Nos primeiros meses de vida a criança fisicamente terá grandes mudanças, que
lhe permitiram aos poucos desenvolver o seu conhecimento linguístico.
O balbuciar dos bebés de aproximadamente seis meses sinaliza o começo da
aquisição de uma linguagem. Os sons produzidos não são associados a nenhum
significado linguístico. O estágio dos balbucios é marcado por uma variedade de sons
que muitas vezes são usados em alguma das línguas do mundo, embora muitas vezes
não sejam a língua que a criança irá, posteriormente, falar.

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Os balbucios sinalizam o começo da habilidade de comunicação linguística da
criança. Nesse estágio, os sons oferecem o repertório no qual a criança irá identificar os
fonemas da sua língua.
Segundo McNeil (1970 in STILINGS, 1987) ressalta que a ordem que os sons
aparecem durante o período de balbucio é, geralmente, contrária àquela que eles
aparecem nas primeiras palavras da criança. Por exemplo, consoantes posteriores e
vogais anteriores, como [k], [g] e [p], aparecem cedo nos balbucios das crianças, mas
tarde no seu desenvolvimento fonológico.
A repetição da mesma sílaba [papa], [baba], [mama], características nas crianças
entre os oito e dez meses de vida.

Imagem 4: Criança iniciando-se na comunicação oral.

Os comportamentos entre criança e meio que a rodeia, como troca de sinais,


sorrisos, imitações, trocas vocais, surgem precocemente.
O jogo simbólico na criança, que tem início entre os 2-6 anos, implica a
representação de um objecto ausente (o faz de conta) fazendo a comparação entre um
elemento oferecido e um elemento imaginado, representação fictícia. Por exemplo, a
criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa
simbolicamente, este último pela primeira e satisfaz-se com uma ficção, pois o vínculo
entre o significante e o significado permanece subjectivo.
A criança entre os 4-10 anos habitualmente direcciona-se em actividades lúdicas
no seu contexto sociocultural, como a casa, creche, infantário, escola, através do
jogo e do brinquedo (com o qual cria mais empatia) e ensaia papéis e valores
(pai, mãe, irmãos, professores) por imitação. Imita o que vê e o que ouve. A
criança sabe que as suas representações e reacções podem modificar o meio que

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a rodeia. Ela vai adquirindo manias, e sabe que com isso pode controlar as
atitudes dos adultos.
Existe quase sempre um objecto que permite à criança o reconhecimento do
ambiente familiar, um objecto de transição é muito importante para o desenvolvimento
saudável e equilíbrio emocional da criança.
A criança mais pequena, geralmente usa como objecto de transição um
paninho, uma fralda, um bocado de cobertor, um peluche, uma chucha, caso
contrário poderá apresentar algum tipo de distúrbio ou desequilíbrio emocional,
porque o objecto de transição constituí o primeiro objecto fora do "eu",
contribuindo como um apoio, um afecto, uma segurança para a mesma.

Imagem 5: Afectividade da criança.

Neste sentido não é de estranhar que a criança se acompanhe, muitas vezes,


deste objecto quando é hospitalizada ou vai passear com os seus pais ou educadores.
O brincar contribui para o crescimento e a saúde, conduzindo aos
relacionamentos em grupo.
Quando a criança imita no seu brincar o comportamento dos mais velhos está
criando uma oportunidade de desenvolvimento intelectual.
No desenvolvimento da criança, a imitação e o ensino desempenham um papel
de primordial importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas
do cérebro e direccionam a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento.
No início, as brincadeiras são lembranças e reproduções de situações reais;
posteriormente entram em jogo a dinâmica da imaginação e do reconhecimento de
regras implícitas que dirigem as actividades reproduzidas no seu jogo, adquirindo um
controle elementar do pensamento abstracto.

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Iniciação à leitura e escrita pelas crianças

Para comunicarem entre si, os seres humanos, utilizam variados meios, que
podem ser visuais, auditivos ou gestos, mas o instrumento principal da comunicação
humana é sem dúvida a linguagem verbal, falada ou escrita.
A escrita serve e serviu dentro das comunidades para comunicar pensamentos,
sentimentos e informações, estando-lhe associadas práticas sociais e culturais
específicas.
Aprender a ler e escrever implica a apreensão do sentido dessas mesmas
práticas, de modo que, o saber ler equivale a ser capaz de transformar uma mensagem
escrita numa sonora, de acordo com certas regras estabelecidas.
Assim ler não é somente uma técnica de decifração, mas também é
compreender.
Um dos objectivos fundamentais do ensino da leitura e da escrita é dotar a
criança de um conhecimento de símbolos escritos do pensamento, assim como da
capacidade de interpretar as ideias expressas por esses símbolos.
Segundo Mialaret “Não nos devemos contentar em ensinar a ler aos nossos
alunos, temos de os levar a gostar da leitura e a descobrir os prazeres e alegrias que ela
lhes pode proporcionar” (1974:19). É essencial que as crianças na aprendizagem da
leitura e escrita fomentem a curiosidade de aprender, de descobrir o gosto pela leitura e
escrita.
É necessário que na sala de aula surjam múltiplas ocasiões de convívio com a
escrita e com a leitura. Existem vários métodos e processos para ensinar a criança a ler e
a escrever.
O método sintético, que parte da unidade do som, ou seja, parte da letra para a
sílaba e só depois para a palavra, é talvez o mais usados nas escolas tradicionais.
Na escrita, é o método que se inicia com o traçado isolado de cada letra, e às
vezes só parte dela, sem se saber o que ela significa, tendo de ser traçada dentro dum
espaço limitado (papel de duas linhas) e logo nas proporções e nas inclinações devidas.
Na Escola ensinavam-se os nomes e o traçado de todas as letras do abecedário,
isoladas umas das outras, sem que o aluno soubesse o que era e para que servia aquilo,

22
depois de bem sabidas era suposto que o aluno soubesse ler porque bastava juntar as
letras e soletrar. Hoje este método não é muito usado e é desaconselhado.
O método global apareceu mais tarde, como um novo método de leitura, cuja
concepção foi elaborada pela primeira vez, de forma clara e sistemática, por Decroly.
Na aprendizagem da leitura e da escrita, o aluno aprende primeiro um texto
escrito.
À medida que contacta com o texto que já decorou, vai apercebendo-se a par e
passo, e à medida das suas capacidades, das suas partes componentes, tirando as suas
conclusões. É natural que a pouco e pouco, que comece por ele a identificar palavras
que lhe aparecem constantemente, e assim comece a ler sozinho algumas palavras e
mesmo algumas pequenas frases, que tendo algumas palavras que já conhece e outras
que não conhece, conclua pelo sentido a frase completa que dirá.
E o aluno começa a ler quase sozinho. É sem duvida um método bastante
autónomo, e com ele o aluno construa o seu próprio conhecimento, através da
autonomia que lhe é dada neste método.
Este método desperta na criança o gosto pela leitura, desenvolve mais
actividade, adquirindo hábitos precisos a uma boa leitura. Este método tem três fases, a
primeira é o momento das aquisições globais puras, durante o qual se faz a leitura,
fixação e reconhecimento das frases.
A segunda fase engloba o momento em que se faz o reconhecimento da palavra,
através de jogos de composição, recomposição e formação de frases com as mesmas
palavras.
A terceira fase engloba o momento de reconhecimento da sílaba por meio de
jogos de decomposição da palavra.
Estes dois métodos são os mais usados nas escolas, existindo outros como o
método analítico-sintetico e os métodos holísticos.
Muitos professores entenderam que nos métodos globais ou analíticos os alunos
ficavam muito dependentes de si próprios, porque eram levados a globalizar os textos,
sem no entanto serem encaminhados até à análise da mais pequena parte constituinte da
palavra – a letra. Admitiam até que muito dificilmente escreveriam sem erros
ortográficos, eventualmente não distinguiriam todas as letras de cada palavra e não
entenderiam a sua função de síntese nos vocábulos.
Então, muitos professores decidiram aplicar as vantagens próprias dos métodos
globais, mas descendo em análise até à letra, para imediatamente a seguir

23
proceder à síntese da mesma palavra, próprio do velho método sintético.
Supunha-se que assim o aluno, ao compreender a palavra e o seu significado
contextualizado, e ao desmontá-la e ao voltar a montá-la, entenderia o
mecanismo da leitura da referida palavra.
Surgiu assim o método analítico-sintetico.
Actualmente destaca-se a utilização dos chamados métodos holísticos, ou seja
cada professor constrói segundo a sua experiência e necessidades um método.
Como está explicito no programa do 1º Ciclo do Ensino Básico, objectivos que
permitem a utilização de diversos métodos, apontando para que cada professor
crie o seu próprio método, adaptando-o ás características do seus alunos.
Não há por isso métodos bons e métodos maus, uma vez que todos os métodos
conhecidos têm as suas vantagens, se forem ao encontro das necessidades das crianças e
cumprirem com a sua função que é a de ensinar a ler e escrever.

Enunciação e enunciado

No dizer de Bakhtin, através da enunciação, a interacção verbal é realizada como


fenómeno social. Ele concebe a interacção verbal como todas as formas de diálogo, ou
seja, actos de fala, que podem ser resumidos sob o termo discurso, seja oral ou escrito.
Ele valoriza o acto da fala, a enunciação, e afirma a sua natureza social: “a fala está
indissoluvelmente ligada às condições de comunicação, que, por sua vez, estão ligadas
às estruturas sociais” (Bakhtin, 1997, p. 14).
A enunciação é, para Bakhtin, a unidade real da cadeia verbal que está em
constante evolução, já que as relações sociais estão também sempre em evolução.
A enunciação como um todo realiza-se no discurso como actividade de
linguagem ininterrupta, que atende aos objectivos sociais de comunicação.
Na base linguística a enunciação é resultante da condição existencial no processo
de interacção da comunicação verbal.
Podemos considerar a enunciação a partir do signo verbal como "...a colocação
em funcionamento da língua por um acto individual", (BENVENISTE. 1974). Ou ainda,
"...uma actividade da língua exercida por aquele que fala, no momento e onde esse

24
alguém fala, e também por aquele que escuta, no momento e onde esse alguém escuta."
(ASCOMBRE & DUCROT apud KERBRAT-ORECCHIONI. 1980).
Enunciados são produtos do processo de enunciação, ideológicos e também
vivenciais para os interlocutores. Portanto, os sujeitos envolvidos nesse processo (que é
único e circunstancial), estão imersos num contexto situacional, que é histórico e
extrapolam o universo linguístico, já que estão referenciados numa prática que
transcende os aspectos puramente verbais, mas que estão marcados no discurso ou
enunciado.
Se a enunciação depende da interacção entre sujeitos em contextos espacio-
temporais precisos, os discursos também se materializam e se plasmam com marcas:
sujeitos; espaço e tempo, que viabilizam as práticas discursivas.

Esses traços constitutivos dos processos enunciativos, perceptíveis nos


enunciados, são os elementos que “... dão o funcionamento semântico-referencial
(selecção da codificação para a interpretação na de codificação), o que implica numa
aspiração em considerar certos elementos constitutivos da situação de comunicação a
saber: o papel que tem no processo de enunciação, cada enunciador do enunciado; e as
situações espacio-temporais do locutor e eventualmente do alocutário.
[(KERBRATORECCHIONI.1980)

25
Planificação de uma aula
Hora do conto:

O lobo culto

Depois de caminhar durante muitos dias, um Lobo chegou a uma pequena cidade.
Estava cansado e com fome, doíam-lhe os pés e só lhe restava algum dinheiro que
estava a guardar para uma emergência.
Então, teve uma ideia: "Há uma quinta fora da cidade", pensou. "Hei-de encontrar lá
alguma coisa para comer...
Quando espreitou por cima da cerca, viu um porco, um pato e uma vaca. Estavam a ler
sentados ao sol.

O lobo nunca tinha visto animais a ler. “Os meus olhos estão a pregar-me partidas”,
pensou. Mas, como tinha muita fome, não pensou mais no assunto.

Pôs-se muito direito, respirou fundo... e precipitou-se sobre os animais soltando um


rugido:

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Aaa-OOOOO-ooo!

As galinhas e os coelhos fugiram a correr, mas o Pato, o Porco e a Vaca não se


mexeram.

— Que chinfrim é este? — resmungou a Vaca. — Não consigo concentrar-me no livro.

— Ignora-o — aconselhou o Pato.


0 Lobo não gostou de ser ignorado.
— Qual é o vosso problema? — perguntou o Lobo. — Não vêem que eu sou um grande
lobo mau?
— Não tenho dúvida nenhuma — respondeu o Porco. — Mas não poderias ir ser
grande e mau para outro sítio? Nós estamos a ver se lemos. Esta quinta e para animais
educados. Sê um lobo bonzinho e vai-te embora — disse o Porco, empurrando-o.

0 Lobo nunca fora tratado daquela maneira.


"Animais educados... animais educados!", dizia ele com os seus botões. "Nunca tal vi.
Muito bem! Vou também aprender a ler!" E lá foi ele para a escola.
As crianças estranharam um pouco ter um lobo na sala de aula, mas, como não tentava
comer ninguém, acabaram por se habituar à sua presença.

0 Lobo era estudioso e bem comportado e, depois de se esforçar muito, aprendeu a ler
e a escrever. Daí a pouco era o melhor da turma.

27
Muito satisfeito, o Lobo voltou à quinta e saltou a cerca. "Vão já ver”, pensou.

Abriu o livro e começou a ler:

0 Romeu deu
a comida ao cão.

— Ainda tens de comer multa batata — disse o Pato, sem mesmo se dar ao trabalho de
levantar os olhos do livro. E o Porco, o Pato e a Vaca continuaram a ler os seus livros
sem parecerem nada impressionados.

O lobo saltou outra vez a cerca e correu… direito à biblioteca. Estudou muito, leu
montes de livros poeirentos e treinou até ser capaz de ler sem parar.

28
“Agora já devo estar bom para eles”, disse para consigo.
O Lobo caminhou até ao portão da quinta e bateu. “Isto vai impressioná-los, com toda
a certeza”, pensou.

O seu Primeiro Livro!


Ia lê-lo dia e noite, letra por letra e linha por linha. Havia de conseguir ler tão bem que
os animais da quinta não poderiam deixar de o admirar.
— Ding-dong! — tocou a campainha do portão.
Estendeu-se no chão, instalou-se confortavelmente, pegou no livro novo e começou a
ler.

Lia cheio de confiança e entusiasmo e o Porco, a Vaca e o Pato escutavam sem dizer
uma palavra.
Assim que ele acabava uma história, o Porco, a Vaca e o Pato pediam ao Lobo que
fizesse o favor de lhes ler mais uma.
E o Lobo leu uma história atrás da outra. Tão depressa era um génio a sair da
lâmpada, como o Capuchinho Vermelho ou um pirata fanfarrão.

— Isto é demais! — exclamou o Pato.


— É um mestre! — disse o Porco.
—por que é que não ficas a fazer um piquenique connosco? — convidou a Vaca.

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E lá fizeram o piquenique, o Porco, a Vaca, o Pato e o Lobo. Estenderam-se na erva e
passaram a tarde a contar histórias.

— Podíamos tornar-nos contadores de histórias — lembrou a Vaca de repente.


— Podíamos viajar pelo mundo fora — acrescentou o Pato.
— Podemos começar já amanhã — disse o Porco.
O Lobo esticou-se na erva. Estava feliz por ter aqueles amigos maravilhosos.

FIM
30
Planificação
Competências/Objectivos

Desenvolver o gosto pela leitura:

Antevê a história, a partir da descrição das imagens;


Emite claramente a sua opinião acerca da mensagem transmitida pelo título;
Revela interesse pelas actividades;
Participa activa e oportunamente na antecipação dos acontecimentos da história, nos
momentos da interpretação da leitura;
Usa vocabulário adequado ao contexto;
Cumpre regras de comunicação oral;
Emite claramente juízos de valor acerca da história;
Manifesta compreensão acerca da história: personagens; acção; tempos.

Interpretar a história:

Identifica: personagens; ocorrências; consegue interpretar a história, consegue fazer um


resumo da mesma.

Público-alvo:
Alunos do 1ºano do ensino básico.

Duração:
Duas horas.

Recursos/Materiais usados:

Livro – “O Lobo Culto”de Pascal Biet;

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Imagens do livro;

Computador e Projector;

Fichas diversas sobre o conto;

Pequenos cartões com nomes dos animais intervenientes no conto.

Actividades/Estratégias

• Apresentação do Livro/Leitura

• Numa primeira fase irá apresentar-se a história em PowerPoint, pelo docente.

• Conforme a história é contada o docente vai mostrando imagens sugestivas do


conto, chamando a atenção para as imagens, personagens e situações,
despertando a curiosidade pelo enredo.

• Ler e contar a história expressivamente, chamar a atenção para pormenores


engraçados a fim de prender a atenção das crianças e assegurar a compreensão
da história.

• Sempre que possível, criar empatia com as personagens e clima de emoção.

• No final da leitura, questionar os alunos sobre o desenvolvimento do conto, o


que gostaram o que menos gostaram.

• Realização pelos alunos de fichas de trabalho sobre o conto.

• Jogo “Oiço os animais”.

32
Desenvolvimento

Para iniciar a secção de leitura, é colocado na sala um computador e um


projector, de forma apresentar a história com imagens projectadas na parede para uma
melhor visualização dos alunos.
É iniciado um breve diálogo com os alunos de forma a integrar a história.
É apresentado o livro aos alunos, mostrando a capa do livro, e perguntando
quem conhece a historia. Através da visualização da capa é-lhes pedida uma antevisão
da história, “O que nos sugere a capa?”. Activação dos conhecimentos prévios
necessários à compreensão da história, através da interacção em torno do titulo “O Lobo
Culto”.
Depois de alguma interacção com os alunos de forma a provocar curiosidade
pela história, inicia-se a leitura expressiva e dialogada da história pela professora,
efectuando pausas de forma a dar espaço às crianças para irem antecipando a acção e
recorrendo ao texto que foi lido e às imagens do livro, que são mostradas.
Interacção com as crianças no final do conto, de forma a saber se gostaram do
conto, se entenderam o conto, se conseguem fazer um pequeno resumo oral, que
mensagem ou juízo de valor podemos tirar do conto, se conseguem fazer uma
caracterização das personagens.
De seguida os alunos preenchem algumas fichas de trabalho sobre o conto.
Para esta tarefa é dado aos alunos têm um tempo limite de quinze minutos, de
forma a iniciarem um controlo do tempo na resolução das suas actividades.
Concluídas as fichas, é pedido aos alunos que se coloquem em fila para jogar o
jogo “Oiço os animais”, que consiste em cada aluno escolher um cartão de
cartolina e sem mostrar aos colegas imitar o animal que está escrito no cartão.
Os colegas terão assim através da imitação tentar descobrir o animal e dizer o
nome. Depois de os colegas descobrirem qual o animal imitado, o aluno coloca o
cartão de novo no saco e pode tirar outro, um novo animal para imitar.

33
Materiais utilizados:

Ficha 1

Verifica se compreendeste o conto “O lobo culto”.

Lê e responde correctamente com V de verdadeiro e F de falso as seguintes


afirmações.

• Quando o Lobo, cheio de fome, se precipitou sobre os animais da


quinta, fugiram todos. ________

• O Lobo tornou-se rapidamente no melhor aluno da turma. ______

• Para melhorar a sua entoação o Lobo comprou um livro e leu muito.


_____

• Quando o Lobo conseguiu ler bem e com entoação as histórias do


seu Livro Novo, a Vaca convidou-o para fazer um piquenique. ____

• O Lobo e os amigos decidiram tornar-se contadores de histórias.


____

34
Ficha 2

Reconta a história com a ajuda das imagens

Escreve algumas frases descrevendo as imagens.

35
36
Ficha 3

37
Cria uma nova capa para a história. E dá um novo título.

Novo Título

Conclusão

38
Com a realização deste trabalho fez-se uma apresentação breve e cuidada de
alguns conceitos da linguagem humana.
A língua materna permite ao ser humano a sua identificação, a comunicação com
os outros, a descoberta e a compreensão do mundo em que as crianças vivem. Neste
sentido, é o instrumento privilegiado da comunicação, uma vez que é através dela que
exprime o que se pensa, o que se sente e o que se quer.
O homem ouve a língua materna ainda antes do seu nascimento e ao longo de
toda a sua infância, é através desta, que lhe são veiculados a maioria dos conhecimentos
essenciais à sua sobrevivência pessoal e social. Deste modo, é um canal de aquisição,
consolidação e transmissão de saberes, assumindo em qualquer sistema escolar, um
lugar de destaque, tornando-se um meio de aprendizagem de todas as disciplinas.
Assim “ Entende-se que o domínio da Língua Materna, como factor de
transmissão e apropriação dos diversos conteúdos disciplinares, condiciona o sucesso
escolar” (Programa 1990: 27).
A linguagem é um fenómeno humano universal e nomeadamente no campo da
educação, ocupa um lugar crucial, constituindo um meio privilegiado de cooperação
interpessoal e de desenvolvimento pessoal e social.
A comunicação oral é a primeira no sistema de relações humanas, uma vez que é
a base de toda a interacção social.
Assim a comunicação oral é um conjunto de competências que permite exprimir
emoções, sentimentos, ideias e opiniões. É portanto através desta, que a maioria dos
conhecimentos são veiculados, uma vez que “A língua é essencialmente um código de
comunicação oral” (Idem, 1992:36).
É através da fala que a criança exprime mais facilmente e directamente aquilo
que pensa. Quando chega à escola, já fala, já domina, bem ou mal, a língua. Cabe ao
professor tendo como base as características de cada aluno, incentivar as crianças a falar
do “seu mundo”, dos seus gostos, das suas vivências, pois é falando de si própria que
ela se vai descobrindo e construindo a sua personalidade e a sua autonomia.

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Bibliografia

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• Palavras, nº 32/ Outono 2007 (A.P.P.), pp. 17-21.

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Lisboa, Universidade Aberta.

• Reis, C., Adragão, V., J., (1992), Fundamentos do Português, Lisboa, Universidade aberta.

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• http://www.linkdobebe.com.br/desenvolvimento/comunica.htm

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• http://www.gforum.tv/board/619/47264/a-imitacao-nas-criancas.html

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