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PEDRO PINOTE
RAYOM RA
* PEDRO PINOTE
* O VELOCINO
"Esta obra está protegida por direitos autorais. Sua reprodução deverá ser
solicitada diretamente ao autor. É proibida qualquer alteração do conteúdo ou
fazer plágios de seus personagens."
rayomra278@gmail.com
http://arcadeouro.blogspot.com.br
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Essa é uma história infanto-juvenil para aqueles, como eu, que ainda gostam e
se divertem com coisas assim. Foi escrita há não muito tempo, quando ainda
não existiam computadores como agora ou internet, celulares, vídeos etc.,
tecnologias estas que mudaram em poucas décadas o sentido da educação em
todo o mundo. Mas não importam o tempo e a época porque a história carrega
nela – e nas suas duas continuações – a mensagem eterna da necessidade de
imaginar para o desenvolvimento da consciência supra física como também para
nos preparar para outros mundos dimensionais, conforme sugerem os
argumentos aqui apresentados. Esperamos que os leitores se divirtam com a
leitura, embora às histórias destes tempos de enxurradas de super heróis e
super vilões em desenhos animados e filmes na TV, tragam para o público
infantil e jovem em geral toda a sorte de aventuras. Mas estes nossos heróis são
brasileiros e isso nos dá um gostinho especial.
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Capítulo I
ENCURRALADOS
- Da outra vez seu pai prometeu dar as camisas e não deu, foi pro bar do
português tomar cerveja e nem viu o jogo - reclamou Tião.
- Olhe aqui, Tião, eu já lhe proibi falar nisto de novo! - Zecão, quase furioso,
apontava o dedo para Tião.
- Está bem, desculpe. Afinal nós perdemos de goleada e não íamos mesmo
ganhar os uniformes. Tião se encolhia e fingia medo.
- É!! – Zecão relaxou e encolheu o dedo, mas logo insistiu – como é então,
turma, será que não tem homem aqui? Vamos aproveitar hoje o nosso campo
porque pode ser o último dia!
- Amanhã estamos todos na cadeia - murmurou Tião, olhando para outro lado
como se isto fosse a coisa mais natural do mundo.
- Pare com isso, Tião! - gritou Zecão. Ninguém se mexeu e nem falou, Zecão
decidido recomeçou:
- Olhe aqui, turma, se ninguém quiser treinar eu não vou insistir mais. A
gente não tem mesmo outro campo, só esta droga. Então eu vou largar tudo e
jogar no time do outro bairro que me convidou. Vocês que se arranjem!
Os meninos de novo se entreolharam. O dono da bola era Zecão, se ele fosse
embora, adeus futebol. Dino foi o primeiro a se manifestar:
- Bem, eu topo! Os outros foram topando, restando somente Tião.
- Como é, Tião, não vai, não? - Zecão insistiu.
- Bem... Só se a gente combinar.
- Combinar o quê? - perguntou Antônio Carlos, falando pela primeira vez.
- Quem vai ficar de guarda pra vigiar quando ele chegar com os outros. Aí, dá
um aviso e a gente foge.
- Eu fico! - gritou Dino, que era loiro e claro.
- Fica nada! – gritou Zecão – Ninguém vai ficar de guarda coisa nenhuma! E
veja se para de fazer onda, Tião!
- Então eu não jogo! - afirmou Tião.
- Eu também não! - aderiu Edu, outro da turma.
- Eu também não! - aderiu igualmente Magriça, que era realmente muito
magro.
- Está bem – Zecão levantou os braços – está bem, florezinhas. O Dino vai
ficar de guarda pra vocês poderem jogar!
Zecão impacientou-se, mas Tião não lhe deu atenção, saindo para um dos
lados do muro que se desmanchava. Os demais o seguiram e o rodearam; Zecão
veio por último. Uma vez lá, Tião arcou-se e começou a retirar uns tijolos meio
soltos, abrindo um pequeno buraco no muro. Eles, curiosos, somente olhavam-
no.
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- Alguém aí, vá tirando estes outros tijolos. Depois a gente faz outro buraco
do lado de lá! - mostrou-lhes, fazendo-se de entendido em tática de retirada, sem
olhar a cara de Zecão.
- Pra que dois? - perguntou Magriça, realmente curioso.
- Não seja burro, Magriça, se eles vierem de repente e a gente não puder sair
pelo portão, tem mais duas saídas.
- Ah!! - fez o menino, entendendo.
- Olhe bem, turma – recomeçou Tião – vocês todos estão de prova, o capitão
do nosso time não tem coragem de entrar na casa, então nesse time que tem um
capitão medroso eu não jogo!
- Quem é medroso? - exasperou-se Zecão, correndo para cima de Tião. Este
mais do que ligeiro, deu-lhe uma lesa e foi em direção a Dino. Zecão desistiu de
perseguí-lo.
- Vamos treinar sem o Tião mesmo, ordenou ainda zangado. - Seis é muito
pouco, Zecão - reclamou Edu.
- Ei, turma, vem gente aí! - gritou Dino, agachando-se detrás do muro e
espiando.
- Quem é? - perguntou Jorge, correndo para lá, seguido dos outros. Todos se
agacharam atrás do guardião.
- Não sei, só escutei vozes - respondeu baixinho.
- Deve ser a polícia - falou Magriça, trêmulo.
- Estou com medo! - falou pela primeira vez Japonês, que era mesmo
descendente de japoneses.
- Psiu...! Calem a boca - ordenou Tião.
- Ninguém fale, senão eles descobrem a gente - quase implorou Zecão, com
voz cansada.
- Será que eles sabem que estamos aqui? - perguntou Magriça poucos
segundos depois, cochichando.
- Não sei - respondeu Zecão, também cochichando.
Uma onda de pavor espalhou-se e eles se uniram mais. Dali de onde estavam
conseguiam ver perfeitamente metade da caixa comprida e preta que a todos
impressionara.
- Mãe do céu, eu vou fugir daqui! - Magriça entrou em desespero.
- Pra onde, Magriça? - perguntou Zecão.
- Pra qualquer lugar, acho que vou me entregar pra polícia, não agüento
mais!
- Deixe de ser burro, Magriça, aquilo é só uma caixa com metralhadoras,
sozinhas elas não atiram - Zecão procurava mostrar coragem.
- Mas as granadas podem explodir! - alertou Japonês, levando as pontas dos
dedos de uma das mãos à boca.
- Sozinhas também não explodem - Zecão continuava a ensinar.
- Meu pai disse que elas só explodem se....
- Está bem, Edu, só o Japonês é que não sabe - cortou Jorge amuado.
- Mesmo assim é perigoso, eu vou me entregar - insistia Magriça.
- Se você der um passo pra porta, seu magricela, eu lhe dou um murro -
ameaçou Zecão, levantando o punho à frente.
- Mas eu quero sair! - reclamou fazendo cara enfarruscada.
- Se você sair, eles vão descobrir que estamos aqui - Jorge abria as mãos em
comovente apelo.
- Eu não conto nada, nem que me torturem! - tentou Magriça em desespero
ou em declaração heróica.
- Deixe de besteira. Então eles não vão vir pra cá logo que lhe pegarem! -
colocou Tião de maneira prática.
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- Será que eles vão botar agema na gente? - Dino trouxe uma nova
indagação.
- Não é agema, é algema! - corrigiu-o Antônio Carlos, enfatizando a primeira
sílaba, conforme a professora.
- É isso aí.
- Acho que não, pra mim eles vão jogar a gente no porão daquele camburão e
levar pra cela - Tião procurava adivinhar.
- Dizem que lá na cadeia eles fazem a gente dormir nuzinho no cimento frio e
ainda obrigam a gente tomar banho gelado - lembrou apreensivo Jorge.
- Eu não posso tomar banho gelado, eu tenho asma - disse Antônio Carlos,
como se apelasse para que interferissem a seu favor.
- Será que eles batem na gente? - perguntou Magriça, para lá de preocupado.
- Batem sim, até a gente não agüentar mais. Depois jogam água salgada nas
feridas. Esta informação Tião passou-lhes, acompanhada de gesto de quem joga
água salgada num corpo deitado.
- Estou com medo, não quero ir preso - choramingou Japonês, realmente
impressionado com aquela conversa. De novo silenciaram, aquietando-se por
quase dois minutos.
- Será que uma metralhadora é muito pesada? - Tião quebrou o silêncio.
- Tem umas pequenininhas assim - mostrou Edu, medindo com as mãos
abertas e paralelas.
- Uma só mata mais de cem. Meu avô viu na guerra, lá na Itália - informou
Dino.
- Cem? Não acredito - duvidou Tião.
- No tempo da guerra matava. Aquelas metralhadoras tinham um cordão
enorme assim, cheinho de balas. Era só ir atirando - Dino explicava e mostrava
com movimentos rápidos. Eles todos voltaram a olhar a caixa preta.
- Será que eles ainda estão lá fora? - voltou a questionar Jorge.
- Pelo tempo já deviam ter entrado, ou pelo menos furado a bola - concluiu
Edu.
- Pra mim eles só estão esperando a gente dar uma espiada pra começar a
atirar - opinou Dino.
- Será? - perguntou o trêmulo Magriça.
- Quê atirar nada, eles também não atiram assim à toa! - retrucou com
veemência, Zecão.
- Então experimente dar uma olhada - sugeriu Jorge.
- Eu, por que eu? O vigia era o Dino!
- Ei, pera aí. Eu era vigia lá fora, aqui não sou mais! - a negativa foi imediata.
- Psiu...! Falem baixo senão eles descobrem a nossa posição e começam a
atirar - reclamou Magriça.
- Já sei! Vamos tirar a sorte pra ver quem vai lá fora espiar. Quem dá a ideia
não disputa - Tião sorria como se tivesse inventado o avião.
- Nada disso, disputa sim senhor! - decretou Zecão.
- Quem topa? - perguntou Jorge. Ninguém respondeu.
- Tem que ser é no par ou impar - opinou Antônio Carlos.
- É isso mesmo! - concordou Jorge, satisfeito.
- Vamos dividir - assumiu rapidamente Zecão, como se todos já tivessem há
muito concordado – é quatro contra quatro, depois os quatro que perderem vão
disputar entre si, então sobram dois. Aí quem perder, vai sair e espiar.
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- Gente - atalhou Tião unindo os dedos das mãos adiante com estilo - se um
de nós sair pra espiar morre na hora. Se for eu quem perder eu não vou lá fora
não!
- Nem eu! - concordou Dino meio aliviado.
- Eu também não! - seguiu-se a negativa de Edu.
- Pera aí, turma. Também não precisa ir lá fora. É só abrir um pouco a porta e
meter a cabeça - encenou Jorge como se abrisse uma porta, esticando o
pescoço e segurando a maçaneta no ar. - Aí, pam...! - fez Edu, apontando com o
dedo indicador.
- Escute, gente - recomeçou Zecão, ignorando Edu - precisamos fazer
alguma coisa. Parados não resolvemos nada. Aquele que perder no par ou impar
vai ter mesmo de meter a cara pra fora, senão a gente nunca vai saber.
- É, vamos morrer de fome aqui - ajudou Jorge.
- Eu não quero morrer de fome - reclamou Japonês com voz chorosa
- Se não for de fome vai ser de tiro - o pessimismo de Tião era evidente.
- Nem de tiro - voltou a reclamar Japonês.
- Meu pai disse que quem morre de fome e sede, morre de inadição - lembrou
Edu inconvenientemente.
- É inanição, i-na-ni-ção - corrigiu-o Antonio Carlos, soletrando novamente
com autoridade didática.
- Chega, gente, vamos logo pro par-ou-ímpar. Aquele que perder e se negar
vai se danar comigo - ordenou Zecão de uma vez por todas.
Zecão botou a mão no trinco da porta, mas não a abriu. Jorge encostou-se à
parede e ficou todo encolhido. Zecão olhou para a turma como se estivesse se
despedindo e eles lhe devolveram o mesmo olhar. O terror se estampava
naqueles rostos. Zecão tirou a mão do trinco e fechou-a fortemente. A mão
estava gelada, mas o pescoço e as orelhas ardiam feito brasa. Ninguém falava e
Zecão não abria a porta.
- Abre, Zecão, acabe logo com isso! - Tião impacientou-se.
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Todos lhe pregavam os olhos como se ele fosse um poderoso imã. Súbito,
invadido de uma coragem surpreendente, ele enfiou a cabeça pela abertura e
olhou para fora. Mas tão rápido como fora, ei-lo de volta para o lado de dentro,
batendo a porta.
- Eles estão lá! - falou ofegante.
- Minha nossa! - desesperou-se Magriça.
- Nós vamos morrer! - sentenciou Edu.
- Quantos são, Zecão? - perguntou Jorge, nervoso, já próximo a ele.
- Não sei, só consegui ver aqueles dois que estão disfarçados.
- Eles estão de metralhadoras? - perguntou Dino.
- Não sei, não deu pra ver direito. Eu me escondi logo pra eles não me
enxergarem. Eles estão bem no portão, conversando. Cansado, Zecão foi em
direção da parede e sentou-se apoiando o corpo. Os outros o acompanharam.
- E agora, o que nós vamos fazer? - perguntou de imediato Magriça. Sem
resposta ficaram ali, preocupados, até que Edu de repente falou:
- Tudo por culpa da dona Cinira.
- Aquela velha implicante. Bem que ela disse que ia chamar a polícia. -
lembrou Dino.
- Só porque o Edu quebrou o vidro da janela dela - relembrou Jorge.
- Epa, o vidro, não! Eu quebrei o vaso de planta, quem quebrou o vidro foi o
Tião. - defendeu-se Edu.
- É, mas por culpa do Magriça, que não segurou a bola - apontou-lhe Tião.
- Minha culpa, nada. A bola veio muito alta, como é que eu ia alcançar? A do
Edu sim foi baixinha, o Japonês é que não pegou!
- Que culpa eu tenho se o Edu tem o pé torto? Além do mais, eu era o goleiro
e ele era do outro time! - Japonês piscava os olhinhos sem parar.
- Aquela velha coroca. Por causa de um vasinho à toa minha mãe me deixou
de castigo. - comentou Edu, fazendo careta após as últimas palavras.
- E ainda foi chamar a polícia pra pegar a gente - afirmou de novo Dino.
- Se eu sair vivo desta, aí é que eu vou quebrar um vidro dela de propósito -
ameaçou Tião.
- Mas nós vamos morrer! - lamentou Japonês.
- Cale a boca, não fique aí agourando! - reclamou alto Zecão.
- Psiu...! - Jorge levou o dedo aos lábios e todos se calaram.
- E se a gente enfrentasse eles com as granadas? - sugeriu corajosamente
Antônio Carlos, o mais calado de todos, segundos depois.
- Granadas?? - Jorge quase deu um pulo. Eles se entreolharam e viraram os
rostos para a caixa preta.
- Ia ser uma guerra danada! - falou Tião entre temeroso e excitado.
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- Meu avô falou que uma granada sozinha derruba uma casa inteira -
informou Dino.
- Exagero, uma só é pouco. - replicou Jorge.
- Mas se for velha como esta, derruba - reafirmou Dino com toda a certeza.
- A gente não vai explodir granada aqui dentro, vai? - Magriça estava super
apreensivo.
- Claro que não seu burro, senão a gente morre junto - explicou
inteligentemente Jorge.
- Se não tiver cuidado a granada explode na mão - alertou Tião.
- Não, se pegar ela, tirar o pino e jogar logo - ensinou Edu, mostrando com
gestos.
- É, mas tem de ser alguém que tenha muita força no braço pra ela não cair
perto e atingir a gente - o alerta agora era de Dino. Todos olharam ao mesmo
tempo para Zecão.
- Ei, espera lá, eu não vou jogar coisa nenhuma, tá legal? - protestou
prontamente, fazendo movimento negativo com o dedo.
- Mas você é o mais forte, Zecão - falou Tião, como se implorasse.
- E daí, vocês também não são tão fraquinhos, assim! Além do mais –
prosseguiu após breve pausa – não tem graça nenhuma eu ficar aí jogando
granadas, arriscando morrer, e vocês escondidos lá no canto. Já basta eu ter
espiado pela porta.
- Eu acho que uma só chega - afirmou Antônio Carlos.
- Uma só, pra vencer aquela gente toda? - questionou Edu.
- Não. Pra chamar a atenção de nossas mães - explicou Antônio Carlos -
então elas vinham e levavam a gente pra casa! Todos se surpreenderam por não
terem pensado nisto antes, afinal mãe é mãe. Silêncio e meditação.
- Pra mim não adianta, eu não tenho mãe - Zecão lembrou-os com certo
desânimo segundos depois.
- Adianta sim, Zecão, as outras mães não iam deixar ninguém ficar aqui -
animou-o Jorge.
- Não adianta, não – falou Japonês quase chorando – minha mãe trabalha
longe e não ia escutar.
- Deixe de ser boboca, Japonês, eu já disse que as outras mães não iam
deixar ninguém ficar aqui – a autoridade de Jorge sobre o assunto era notável, e
ele continuou – quem têm mãe em casa agora, levante o dedo? Todos levantaram
menos Zecão e Japonês.
- Taí, então dá certo - concluiu satisfeito.
- Mas quem vai atirar a granada? - Zecão queria logo saber.
- Temos que ir pro par ou impar outra vez - Jorge continuava a comandar.
- Eu não topo - negou-se Magriça.
- Nem eu - aderiu Japonês.
- Espera lá, turma, assim não dá. Temos que ser unidos - Jorge novamente
liderava.
- Mas eu tenho medo de granada - justificou Magriça, e Japonês concordou
com aceno de cabeça.
- Olhe aqui – a palavra era ainda de Jorge – ou a gente toma coragem e faz
logo o que precisa ser feito ou vamos morrer todos. Quem quer morrer?
- Eu não!
- Nem eu!
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- Eu também não!
- Então vamos todos pro par-ou-ímpar, quem ficar ficou, vai ter de se virar -
decretou Jorge. Dividiram-se e partiram para a nova disputa. Como da vez
anterior, aqueles que iam vencendo comemoravam. Ao final, sobraram Edu e
Tião.
- Agora, falador, tenho fé que vai ficar você! - torceu Zecão.
- Ganhei!! - gritou Tião.
- É, Edu, é você mesmo, vai ter de jogar a granada - disse Jorge, como se
lamentasse.
- Bem feito, ficava todo prosa com o pai sabe tudo. Agora eu quero ver se vai
saber mexer na granada - Dino aproveitava para zombar.
- Pelo menos meu pai sabe mais que seu avô, que nunca viu nada, e fica aí
contando história - a resposta foi imediata.
- Viu sim senhor, ele esteve na guerra! - zangou-se.
- Chega, turma, vamos planejar - atalhou Jorge.
- Mas eu não tenho força no braço, eu acho que não vai dar certo - tentou
Edu.
- Agora não adianta, Edu, tem de ser você mesmo - confirmou Zecão.
- Mas se explodir perto da casa eu não tenho culpa.
- Você tem de jogar assim, olhe - ensinou Tião.
- Jogar eu sei, eu estou falando de força - explicou com certo orgulho.
- Deixe de onda, Edu, se você consegue atirar pedra longe, pode muito bem
atirar granada - repreendeu-o Jorge.
- Pedra é pedra, granada é granada - insistiu meio desanimado.
- Ande, Edu, vá logo! - ordenou Zecão.
- Não fique me dando ordens, senão eu não vou - reagiu. Todos se calaram e
Edu se aprontou. Olhou para a dependência da casa onde se via metade da caixa
preta e refugou - Ih, está escuro!
- Mas dá pra enxergar muito bem - afirmou Zecão.
- A gente está olhando daqui - animou-o Jorge.
- Pegue ela com cuidado, Edu, senão a gente explode junto e aí, babau -
alertou Tião, fazendo gesto junto ao queixo.
- Pare com isso, Tião, senão dá azar e explode mesmo - repreendeu-o
Magriça.
- Querem calar a boca, estou ficando nervoso. - virou-se Edu para reclamar.
- É, cale a boca todo mundo, pra ajudar o Edu - pediu Jorge. Houve
expectativa e Edu saiu vacilante. Antes de chegar junto à caixa preta, ele parou e
voltou-se para todos que o espiavam atentamente.
- Aquele baú verde está aqui! - informou.
- Não interessa o baú, abra logo a caixa - ordenou Dino com visível
ansiedade.
- Eu só estou falando, pôxa - ele então se arcou e tocou a caixa preta muito
levemente. A caixa era comprida e estreita - uui, está fria, é de ferro!
- Não sacuda ela, não! - gritou Magriça, com olhos quase esbugalhados.
- Psiu...! - fez Jorge.
- Ei, não dá pra abrir, está com cadeado! - comemorou quase pulando.
- Essa não!! - aborreceu-se Jorge.
- Está sim, venham só ver aqui.
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Capítulo II
A turma que corria na frente só foi parar diante da casa de Dino. Ninguém
conseguia falar de tão cansados. Uns sentaram-se, outros ficaram em pé,
encostados pelo muro. Suavam demais. Japonês veio em seguida, quase
desmaiando, e sentou-se. Antonieta, mãe de Dino, por coincidência, chegou ao
muro.
- Que é isso, Dino? - Eles a olharam e Dino não respondeu - Que aconteceu,
por que estão todos assim tão cansados?
- A caveira... ela quis... pegar a gente - falou Tião ainda sem fôlego.
- Psiu...! - fez Dino.
- Hem, caveira? - espantou-se Antonieta.
- É, lá na casa velha... ela queria... comer o Tião - disse Magriça com
dificuldade.
- Que caveira é essa, meninos, quem inventou essa bobagem?
- Não é bobagem, não... dona Antonieta... olhe só o que ela... fez na minha
calça. - mostrou Tião se virando, embora estivesse sentado.
- Não é nada, não, mãe!
- É sim, ela estava lá, deitada no baú... por cima das metralhadoras - falou
Jorge.
- Metralhadoras?! Meu São Genaro, o que vocês estão me dizendo? - Ela,
nervosa, correu ao portão e o abriu - Dino conte tudo como foi.
- Bem, mãe... ah, deixe a gente descansar primeiro!
- Se eles prenderem vocês dois, como é que a gente vai saber? - perguntou
Antônio Carlos, detrás de sua mãe.
- É... quem ia saber? - animou-se o velho italiano.
- Parece que não há ninguém lá seu Vincenzo, só precisamos ser cuidadosos
por uma questão de casualidade. O velho voltou a ficar embaraçado.
- Mas tem a caveira - lembrou Elisa.
- É, e se ela agarrar o seu Jacinto, o seu Vincenzo sozinho não vai poder com
ela - confirmou Tião, fazendo gesto de quem abraça.
- Ela pode comer o seu Jacinto antes mesmo do seu Vincenzo chegar -
acreditou Magriça.
- Desconjuro menino, vire esta boca pra lá! - disse o guarda assustado.
- É sim, seu guarda, ela é feroz - reafirmou Japonês.
- Cruz credo, pra que mexer com gente morta - reclamou Sebastiana.
- Morta nada, ela está vivinha, ela até mordeu a bunda do Tião - mostrou Edu.
Tião ia de novo protestar, mas o policial gritou:
- Chega!! - Todos calaram-se e ele não soube o que dizer mais. Virou-se
então para a casa e ficou olhando-a; depois meio pálido, voltou-se novamente
para a multidão - mesmo assim eu preciso que seu Vincenzo vá comigo. A gente
tem de correr o risco juntos.
- Ma per quê io? - perguntou o velho italiano, trazendo as mãos adiante e
unindo as pontas dos dedos.
- Pra me ajudar a enfrentar a caveira. Com nós dois eu tenho certeza que ela
não vai poder. Ela não vai comer a gente não, a gente dá um jeito! - Jacinto falava
agora com grande convicção.
- Enfrentar a.... caveira? - murmurou o italiano.
- E os terroristas? - alguém na multidão voltou a lembrar.
- Bem, como eu disse, parece que não tem ninguém na casa, mas a caveira
deve estar.
- Mas se tiver mesmo terroristas e eles lhe prenderem e mais o seu Vincenzo,
como é que a gente vai saber? - novamente alguém perguntou.
- É..., alguém vai ter de avisar, então precisa de mais um - sugeriu Antônio
Carlos.
- É..., mais um - concordou satisfeito Jacinto, com ar de quem realmente
pensa.
- Mas três pode ser pouco, vô. Já pensou se os terroristas atacarem você e o
seu Jacinto e a caveira abraçar o outro, quem é que vai avisar? - Dino lembrou
oportunamente.
- É mesmo, então precisamos ser quatro - concordou mais uma vez o guarda.
Eles todos silenciaram e Jacinto recomeçou: - já tem eu e o seu Vincenzo, quem
mais é voluntário? O velho italiano olhava nervosamente para todos os lados,
apertando as mãos e mordendo os lábios.
- Um momento! Ninguém tem obrigação de ir. Somos moradores pacíficos, a
lei aqui é você - contestou o açougueiro.
- É isso mesmo! – apoiou-o o italiano.
- Mas é perigoso pra um homem só! – Jacinto quase choramingou.
- Então chame o exército! - outra voz gritou.
- Com o exército duvido que a caveira possa - desafiou Dino. Um vozerio de
novo se formou e Jacinto perdeu a paciência:
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Jacinto finalmente foi. Como desta vez estivesse convencido de que não
havia terroristas na casa nesta hora, andava normalmente, sem se agachar.
Chegando à porta, parou e ficou a observar.
- Ele deve estar escutando os passos da caveira - falou Edu.
- Pra mim ela deve estar dormindo - adivinhou Tião.
- E como é que ela pode dormir sem fechar os olhos? - perguntou Dino
- Sei lá, deve dormir assim mesmo, com aqueles dois buracos - respondeu
Tião.
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- Cruz credo, será que não tem medo mesmo? - duvidou Sebastiana.
- Já sei, vai ver que ele é coveiro de cemitério - adivinhou Dino.
- Será? - a dúvida veio de Edu.
- Nada disso. Eu acho que nós cometemos um grande engano. Não devíamos
ter deixado ele ir lá - falou Vincenzo.
- Por que papá, ele quis.
- Por isso mesmo. Pra mim ele é um terrorista.
- Oh!!! - fizeram muitas vozes.
- Que fazemos agora, vô? - perguntou Dino.
- Nada - respondeu meio embaraçado - vamos primeiro observar. Olhem, ele
está chegando!
- Ninguém se mexa, pode ser outra cilada - alertou Vincenzo. Como ninguém
realmente se mexesse, o guarda e seu acompanhante começaram a caminhar na
direção deles.
- Eles estão vindo, vô, que fazemos? - perguntou nervoso Dino.
- Acho bom a gente sair correndo - alguém sugeriu.
- Papá, veja bem, seu Jacinto está sorrindo - mostrou Antonieta.
- O moço também - confirmou Elisa. Vincenzo levantou o braço.
- Jacinto, pare aí - gritou - não vamos cair na cilada dos terroristas. Diga pra
eles que vamos chamar o exército!
- Que cilada? - perguntou o guarda - Não tem ninguém lá, seu Vincenzo. A
casa foi vendida pro seu Leal, este senhor que está aqui.
- Oh!!! - exclamaram muitos entre aliviados e envergonhados.
- Ele está convidando todos pra ver o que tem lá dentro - prosseguiu o
guarda.
- Pra ver as armas? - perguntou Antonieta.
- Não é nada disso, venham, venham todos! - insistiu o guarda. Como o povo
apesar de tudo ainda relutasse, ele se aproximou e mostrou - olhem, minha arma
está aqui com todas as balas. Vocês acham que eles iam me deixar sair armado,
isto é, se tivesse mesmo terrorista?
- É, vô, ele tem razão - concordou Dino.
- Terrorista não é trouxa - concluiu prontamente Jorge.
- E a caveira? - lembrou Magriça.
- A caveira? Ele vai esclarecer sobre isso também - respondeu Jacinto.
- Hum, hum - fez Leal negativamente com o dedo - se eu contar não será
mais surpresa. No dia saberão. Agora, por favor, deixem-me arrumar todas as
minhas coisas porque tenho muito a fazer. E não se esqueçam do que lhes
prometi.
Capítulo III
A CASA VELHA VIRA TEATRO
Leal apareceu no palco. O murmúrio cessou. Veio junto uma mocinha loira e
ele imediatamente começou a falar:
- Vamos iniciar o espetáculo de hoje. Quero antes apresentar-lhes minha
secretária, senhorita Esmeralda - ela teria dezesseis anos, agradeceu aos
aplausos e Leal continuou - vamos mostra-lhes agora duas pequenas histórias,
com nossas marionetes. Tenho certeza que todos gostarão.
Capítulo IV
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PEDRO PINOTE
Era uma vez um menino que se chamava Pedro. Sua pele era rosada, os seus
olhos de um azul profundo e os cabelos da cor do ouro. Pedro não era como os
outros meninos; ele possuía valores extraordinários! Era carinhoso com os pais,
amigo de todos e amava a natureza como ninguém. As pedras, a terra, as águas,
as plantas, os animais – tudo o que existia – tinha para ele especial significado.
Pedro era lépido, atuante, inovador! Ninguém jamais o vira chorar, somente
rir. Ele se entristecia com o mal, mas logo voltava a ficar alegre. E todos
admiravam o seu rosto e os seus cabelos doirados. As mocinhas alisavam
aqueles fios de ouro - e aqueles olhos azuis quanta admiração causavam – que
menino lindo, saiam falando!
Pedro era dócil e sem vaidades. Não conversava sobre coisas de que nada
sabia, mas a seus pais e mestra vivia a interrogar. E quede as respostas que ele
queria? Pouco sabiam responder e muitas perguntas fingiam não tê-las ouvido.
Um dia Pedro entendeu que ninguém sabia dizer o que ele realmente
desejava. Por isso decidiu buscar nas pedras. Depois abraçou às árvores e ficou
a escutar. Aos pássaros chamou, aos animais no zoológico inqueriu. No mar
chegou a mergulhar com roupas e até sapatos. Mas tudo era mudo tudo era
surdo!
Pedro começou a ficar triste. Não queria comer, nem estudar e nada
conversava. De novo vieram o médico, os exames e os remédios. Mas nada disto
deu resultado: Pedro caiu de cama e lá ficou. Sua mãe, coitada, chorou; o pai
ficou muito preocupado e a professora veio visitá-lo. Os colegas também vieram
e até trouxeram-lhe flores, aves e bichos. Mas tudo inútil, Pedro nada queria, nem
ao menos um sorriso ele dava. E sua casa ficou triste e a escola sentiu a sua
falta. Pedro, o amigo das pessoas, das pedras, da terra, das águas, das plantas,
e dos animais, não queria mais sorrir, não tinha mais alegria!
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- Por que, Pedro, só por causa de coisas que não sabemos? Estas coisas
pertencem a Deus, Ele é quem deve saber. O mundo é Dele, não respondemos
por Ele. Vamos, Pedro, está sol lá fora, viva a sua vida! - falou-lhe a professora.
Mas Pedro não a escutou e mais ainda se consumia.
Um dia Pedro sonhou. Ao acordar pela manhã mais do que depressa foi se
vestir. Mas para onde ele iria?
- Não faz mal, eu tenho é que andar – afirmou decidido.
E assim ele fez: cruzou ruas, enveredou por caminhos, atravessou matos,
pulou um riacho e finalmente parou.
- Uma casa velha, que engraçada, é igualzinha a que eu vi no sonho, agora
me lembro! Terá também luz de vela? Mas parado aqui não saberei, vou logo nela
entrar.
- Um momento, menino! - uma voz falou. Pedro se assustou e olhou para
todos os lados, nada vendo - aqui, menino, bem em cima de sua cabeça,
currupáco!
- Oh.... É somente um papagaio!
- Somente um papagaio, não senhor, eu tenho um nome, ouviu?
- Desculpe não saber o seu nome, amigo verde, mas não adianta negar que é
um papagaio.
- Sou um papagaio sim, mas me chamo Teovaldo.
- Teovaldo? Que nome engraçado para um papagaio.
- Você que é engraçado, com esta cara cor de rosa e estes cabelos amarelos!
Pedro riu e sentiu um alívio. Também fazia tanto tempo que não ria ou
conversava!
- Au, au, au! Um pequeno cão latiu, correndo para ele. Pedro alegrou-se e se
agachou, começando a acariciá-lo.
- Ele não gosta muito de gente, mas ficou contente ao vê-lo.
- Que bom que agora tem um amigo, mas qual é o seu nome?
- Petisco, e é esperto feito gente.
- Petisco, pule aqui, eu quero lhe dar um abraço. Petisco pulou e Pedro o
abraçou. O cão abanou então o rabinho e ficou todo satisfeito.
- E você, menino, como se chama?
- Meu nome é Pedro, porém me puseram um apelido, assim sou chamado de
Pedro Pinote.
- Pedro Pinote, quá, quá, quá, é um nome bem engraçado, e você também é.
- Então estamos iguais; sou rosado, me chamo Pedro Pinote e tenho os
cabelos cor de ouro. E você é verde e se chama Teovaldo.
- Pedro Pinote, quá, quá, quá! Deixe eu rir pra não chorar. E ele riu tanto que
quase caiu do galho.
- Escute, amigo verde, deixe o riso pra depois e me diga o que eu quero
saber. Quem mora nesta casa?
- Nesta casa que é toda amarela com janelas desbotadas?
- É, nesta mesma, eu quero conhecer ao seu dono.
- Aqui vive uma pessoa de terrível poder e que tem uma coisa que pode
cegar.
- Pode cegar? O que você quer dizer com isso?
30
A pequena ave gritava e pulava, mas Pedro não lhe deu mais atenção,
avançando em direção da casa. E de nada valeu o cão agarrá-lo pela perna,
porque, decidido, ele se desvencilhava. Ao chegar à porta não parou, logo
entrando.
- Bom dia, Pedro Pinote, finalmente vejo-o assim.
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Pedro se assustou ao ver quem falava, dando um passo para trás. Era uma
velha toda de negro, com a cabeça encoberta por um capuz. Apesar da fraca luz
de uma vela ele conseguia ver a sua fisionomia.
- Ah, ah, ah! Está com medo, Pinote, sou tão feia assim?
Pedro tremeu, mas não quis ceder. Porém, decidido, deu um, dois, três,
quatro passos, chegando à mesa. O cofre era muito bonito e Pedro logo
estendeu as mãos tocando a tampa do belo objeto, começando a abri-lo.
- É um disco de ouro! - admirou-se - E com pedras de cor que mudam o
brilho!
- Exatamente, Pedro, e agora é seu - falou a mulher sem o capuz, mostrando
a fisionomia modificada e jovem, causando enorme surpresa ao menino.
- É meu? E para que serve?
- Para fazê-lo viajar, meu filho. E agora lhe chamo Cabelos de Ouro!
- Cabelos de Ouro, outro apelido?
- Agora é um nome e saiba também que você cumpriu a condição.
- Qual condição?
- De amar e ser amigo. Você se tornou amigo das pedras, da terra, das águas,
das plantas e dos animais; é também amigo das pessoas e de tudo o que existe.
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É bondoso, paciente, e não agride. Você sabe respeitar a vida meu filho, a
natureza, e quer estudar para tudo saber.
- Puxa, agora estou confuso, será que cumpri mesmo esta tal condição?
- Sim, Cabelos de Ouro, e teve coragem. Os que aqui vieram sem ter méritos
ficaram cegos diante do brilho do disco, não conseguindo vê-lo. Assim voltaram
cegos como cegos aqui chegaram. Mas você o viu e o brilho não o cegou,
portanto, ele é seu. Agora, nas suas viagens, poderá conhecer.
- Irei conhecer?
- Se assim desejar.
Teovaldo já estava no seu ombro, ele agachou-se, tomou Petisco nos braços,
fechou os olhos e recitou: Senhor do Espaço, eu quero viajar, me leve no tempo
pra outro lugar! Os segundos se passaram e nada aconteceu; ele abriu os olhos
e, decepção! Via a mesma mesa, a vela acesa e a madrinha próximo a ele,
sorrindo.
- Você não mencionou o nome do lugar e nem pensou em nada, currupáco! -
alertou-o Teovaldo.
- É mesmo. Vamos tentar de novo. Senhor do Espaço, eu quero viajar, me
leve no tempo pra outro lugar, me leve pra....
- O Reino das Pedras! - intrometeu-se Teovaldo.
- O Reino das Pedras! - repetiu Pedro. Mal acabou de falar, Pedro sentiu algo
muito forte que nunca antes houvera sentido, tendo a impressão de que sua
mente viajava com a velocidade de um raio e o seu corpo vinha atrás. Logo
desceu, pisando num chão duro, em lugar bastante escuro.
- Eu pensei que a gente viria pra um lugar bem claro, droga - reclamou
Teovaldo.
- Eu não fazia nenhuma ideia, mas estou também decepcionado.
- Cuidado, Cabelos de Ouro, estou farejando qualquer coisa adiante - falou
Petisco fungando de um lado para outro.
- O que é, ui...! - Não deu nem tempo para nada, pois Cabelos de Ouro bateu
em algo duro e concreto. - É uma parede, creio estarmos dentro de um túnel! -
falou surpreso após tatear com a mão. Resolveu então prosseguir em frente,
apalpando a parede. Não demorou e viram um ponto luminoso, lá adiante,
parecendo uma lamparina vermelha que piscava.
- Que será, hem? - inquietou-se Teovaldo.
- Ainda não consegui farejar. O menino andou mais um pouco e de repente
parou ao escutar: tum-tum, tum-tum, tum-tum! Era um som de algo compassado
e lento.
- Estão ouvindo? - perguntou Cabelos de Ouro.
- É barulho que se mexe - acusou Teovaldo.
- Estou farejando algo, hum..., sniff, sniff! Que cheiro esquisito, não sei do
que se trata - falou o cão. Assim mesmo prosseguiram, vendo que a luz já
iluminava o caminho e ele pôs Petisco no chão.
- Que pedras horríveis! - reclamou Teovaldo.
- São negras como a noite, chego a sentir arrepio e calafrios - comentou
Petisco.
34
- Vocês têm razão amigos, tenho até a impressão de que elas não estão
gostando de nós - confirmou o menino.
- Azar delas, elas também são horríveis! - acentuou Teovaldo.
Os três não haviam visto antes nada parecido. Diante deles viam uma cratera
muito larga cujas paredes eram das mesmas pedras negras que já vinham
observando. Do fundo da cratera subiam línguas de fogo, e ao lado delas corria
uma matéria fervente, verdadeiro rio de lavas vermelhas que borbulhavam. Uma
nuvem negra se remexia, entrando e saindo das paredes, fazendo um zunido
desagradável. Porém, o que os impressionou mais foram os gigantes de pedra.
Eram negros e pesados, e seus olhos eram duas brasas vivas que expeliam
faíscas. O barulho que tinham ouvido era de seus passos. Eles andavam de um
lado a outro trabalhando; cortavam blocos de pedras com as próprias mãos e os
atiravam na lava. Uma fumaça negra subia das lavas enquanto a nuvem negra
das paredes continuava a zunir.
- Vamos embora, Cabelos de Ouro, isto aqui é pior que o inferno - pediu
Teovaldo.
- Não agüento mais este cheiro - reclamou Petisco.
- Vamos sim, amigos, eu não conseguiria mesmo ficar aqui por mais tempo.
Mas ele não parou e veio andando. Petisco, então, lançou-se valentemente
em sua direção para atrapalhar os seus passos e Teovaldo voou sobre sua
cabeça. O cão latia e pulava, enquanto a ave tentava beliscar-lhe. Num instante o
pé do gigante encontrou o corpo de Petisco, lançando-o longe. Teovaldo pulava
e não conseguia pousar na sua cabeça porque o calor que subia lhe esquentava
as patas. Cabelos de Ouro quis recuar, mas mudou de ideia por causa da cratera,
não tendo assim como fugir. O gigante esticou então os braços para agarrar o
menino. Ele sentia o calor enorme que saía do gigante; seus olhos estavam
assustados e a testa coberta de suor.
- Cuidado, Cabelos de Ouro, cuidado, ele vai lhe queimar, currupáco!
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Como não houvesse mesmo outro jeito, eles começaram a sair dando
opiniões, enquanto Leal observava-lhes serenamente.
Capítulo V
- Eu também.
- Já que entenderam, quero ver adivinharem o que vai acontecer com os três
- propôs Tião.
- Assim não dá, Tião, adivinhar é difícil - rebateu Magriça.
- E se ele inventar na hora, como é que a gente pode adivinhar? - Edu voltava
ao quesito anterior.
- Adivinhar é adivinhar, ora, não interessa - insistiu Tião.
- Então diga você, Tião! – desafiou Antônio Carlos.
- É, Tião, conte pra gente - o reforço foi de Zecão, com ar de riso.
- Só se vocês também adivinharem - respondeu com imponência.
- Ta legal, turma, então vamos fazer o seguinte: cada um vai contar o que
acha que vai acontecer com o Pedro Pinote - propôs Jorge.
- Cabelos de Ouro! - corrigiu Magriça.
- Ta! Cabelos de Ouro.
- Tião vai ser o primeiro - ordenou Zecão.
- Eu não quero ser o primeiro, não senhor! - protestou com energia.
- Mas você não estava contando vantagem, então tem de ser o primeiro -
lembrou Edu.
- Mas não vou ser; só se for no-par-ou-impar.
- Então vamos pro par-ou-ímpar - comandou Jorge.
Tião ficou contrariado, mas procurou fingir desinteresse por sua sorte. Os
demais se acomodaram melhor e ficaram na escuta.
- Bem, já que eu tenho de ser o primeiro, eu vou contar o que vai acontecer
com Cabelos de Ouro.
- É, conte logo! - impacientou-se Zecão.
- Calma, eu não tenho pressa. O seu Leal também faz as coisas devagar.
39
- O seu Leal é seu Leal, ele é o dono da história e faz como quer - disse Dino.
- E daí? Eu estou adivinhando, minha história vai ser igualzinha a dele.
- Conte logo, Tião, deixe de lorota - voltou a reclamar Zecão.
- Bem... O que vai acontecer é o seguinte: o gigante de pedra está vindo pra
pegar o Cabelos de Ouro. O cachorro está lá no chão e o papagaio não pode
fazer nada. Então quando ele for pegar o Cabelos de Ouro, que está cercado e
não pode fugir e nem ser ajudado pelo cachorro e pelo papagaio, porque o
cachorro está lá no chão e o papagaio...
- Você já disse isso, Tião - interrompeu Edu.
- Não me atrapalhe, Edu.
- Então seja breve! - pediu Jorge.
- Seja o quê?
- Breve, quer dizer, rápido.
- Rápido nada, eu tenho de contar como tem de ser. O seu Leal fala
igualzinho.
- Coitado do seu Leal. Se ele escuta isso... - debochou Zecão.
- Coitado nada, vocês estão é com inveja. Quero só ver quando chegar a vez
de vocês.
Capítulo VI
A HISTÓRIA CONTINUA
O terreno da casa velha tinha hoje mais gente do que no domingo anterior. O
palco menor fora retirado e acima do tablado haviam pintado em vermelho as
palavras: “Teatro Jornada do Amanhã”.
- Até que enfim você resolveu aparecer, Tião. Desde aquele dia não se junta
com a gente – provocou-o Jorge.
- E você ainda está admirado depois do que fizeram comigo?
- Lá vem ele se fazendo de vítima - observou Dino.
- Vítima nada. Vocês não entendem de histórias e agora eu é que sou a
vítima.
- Hoje sim nós vamos saber realmente como é essa história - falou Edu,
olhando Tião pelo canto dos olhos.
- Tomara que seja igual a minha. Aí eu só quero ver a cara de vocês - Tião
resmungou sério.
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Cabelos de Ouro está prestes a ter o seu corpo tocado pelas quentes
tenazes do gigante negro. Quando isto vai acontecer, uma espécie de som que
se repete por três vezes, faz o gigante estancar.
De novo o gigante branco bateu palmas e o gigante negro deu meia volta
desaparecendo por uma abertura na parede.
- Ele está apontando para o túnel, acho que está nos mandando embora.
- Vamos logo, já não aguento mais - pediu Petisco.
Entraram no novo salão. Este tinha uma cratera muito maior e também as
dimensões mais avantajadas.
- Tem outra passagem ali, que dá pra outro salão - mostrou desta vez
Teovaldo. O terceiro salão era idêntico aos anteriores, mas bem maior.
- Que coisa gigantesca, acho que não acaba nunca, pois há outra passagem
e outro salão adiante - falou abismado o menino.
- Pra cima tudo também é gigantesco - comentou Teovaldo.
- Veja, Cabelos de Ouro, aqui há outra passagem que parece não dar pra
nenhum outro salão - mostrou Petisco.
- Vamos entrar!
Assim os três heróis foram indo por aquele caminho escuro, mas iluminado
pela luz de seus corpos. Pouco depois chegavam ao final.
- Olhe lá, Cabelos de Ouro, outro lugar só daquelas pedras escuras -
mostrou assustado Petisco.
- Será possível? - indignou-se Teovaldo.
- Sim, Petisco, vejo ali embaixo pedreiras negras e aquelas repelentes
nuvens, mas vejo também caminhos.
- Acho que a gente devia ir embora - opinou Teovaldo.
- Ir embora?? - reagiu o menino.
- É, estou pressentindo que vamos ter mais problemas.
- Mas precisamos conhecer, saber por que estas pedras são negras e as
nuvens balançam dentro delas. E também porque as pedras que acabamos de
visitar são tão diferentes e maravilhosas e com nuvens que cantam!
- Mas é perigoso - reclamou por sua vez Petisco.
- Não me digam que vocês estão com medo. A madrinha disse-me que
estaria me dando dois companheiros que também desejavam viajar. Quem viaja
aprende, senão de quê valeu ter viajado!
- Mas é bom aprender vivo - insistiu o papagaio.
- Não exagere, Teovaldo, nada haverá de nos acontecer.
- Não vejo e nem farejo nenhum monstro, Cabelos de Ouro. - falou e fungou
Petisco.
- Eu também não vejo nada - comentou Teovaldo.
- Eu também não, então podemos descer.
- Se quer descer, vamos descer, mas depois não venha dizer que eu não
avisei, currupaco, que eu não avisei....
- Quieto, Teovaldo, pare de resmungar.
- Ele é assim mesmo quando fica com medo - contou Petisco.
- Medo não, eu não sou medroso. Eu estou é nervoso, isto mesmo, nervoso,
currupaco.
- Então se acalme Teovaldo, ainda não aconteceu nada.
- É verdade, mas o brilho agora está mais fraco – eles se examinaram com
mais atenção – bem, vamos andar e ver o que tem adiante. Reiniciaram os
passos e entraram no primeiro caminho que encontraram, entre rochas.
- Veja, Cabelos de Ouro, as nuvens negras estão reclamando de nossa
presença - alertou o cão.
- Elas estão querendo nos atacar - falou temeroso Teovaldo.
- Elas estão gritando e formando braços de um lado para outro do caminho -
mostrou o menino.
- Nossa mãe, neste lugar elas são mais ferozes ainda - criticou Teovaldo se
encolhendo.
- Que fazemos, Cabelos de Ouro. As nuvens além do mais não têm bom
cheiro - farejou Petisco.
- Vamos tentar prosseguir para ver o que existe mais adiante.
- Vejam, elas recuam enquanto andamos - mostrou satisfeito Petisco.
- Estão com medo da gente - encheu-se de maior coragem Teovaldo.
- Deve ser por causa da luz dos nossos corpos - afirmou Cabelos de Ouro.
- Mas como gritam, estão mesmo nos odiando! - disse Teovaldo.
- Algum motivo existe, tomara que a gente descubra logo, vamos adiante!
Neste exato instante surgiu uma gigantesca ave negra, montada por um
daqueles pequenos seres de asas curtas, e agarrou o menino por trás,
levantando-o.
- Eles estão levando Cabelos de Ouro! - falou nervosamente Petisco.
- Que irão fazer com ele? - perguntou Teovaldo, pousando numa pedra.
- Não sei, e agora?
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Leal deu proposital parada e olhou com mais atenção para a platéia.
45
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Cabelos de Ouro desaparecera das vistas porque a ave gigante voava muito
depressa. A última vez que Teovaldo a vira ela tinha atravessado uma cortina
negra e vermelha, de alguma coisa que parecia fumaça.
Petisco, por outro lado, corria desesperado pelos desfiladeiros ora de altas
paredes ora de paredes menores. Os seres de asas curtas vinham atrás dele,
pulando de pedra em pedra, com incrível agilidade. As nuvens negras que
habitavam dentro das rochas procuravam atrapalhar os seus passos, mas por
causa de sua luminosidade, ainda que fraca, não podiam fazer grande coisa: no
máximo zuniam, deixando-o atordoado, ou escureciam ainda mais os seus
caminhos. De vez em quando um daqueles seres atirava-lhe uma pedra e ela
passava rente ao seu corpo. Às vezes ele se escondia numa reentrância das
pedreiras para enganá-los ou para descansar, mas as nuvens localizavam-no
para os seus perseguidores. O cãozinho já estava cansado, mas valentemente
continuava.
castelo, mas por sorte o cabo do apanhador por ser mais pesado, foi na frente,
amortecendo a queda.
- Ai, quase me matam esses caras de vampiros - reclamou enquanto
procurava se soltar da rede.
Uma mulher começou a gritar. Vestia-se de negro e tinha uma coroa de igual
cor. De seu pescoço pendiam colares de pedras e usava muitas pulseiras. Todos
estes enfeites eram também negros. Era feia, tinha a fisionomia de morcego, e
neste momento arrastava o seu vestido longo. Subitamente dois daqueles seres
de asas compridas entraram e se atiraram ao chão diante dela. Ela grunhiu,
mandando-os levantar. Um deles começou a gesticular e soltar guinchos,
explicando qualquer coisa. Ela ficou furiosa com a explicação.
- E vocês os deixaram escapar, seus molengas?
- Ótimo, ótimo, os três haverão de nos dar sua energia e calor de que
necessitamos – disse a rainha mais satisfeita ainda.
Dar nossa energia e calor? Esta vampira está muito enganada se acha que
vai roubar isso da gente. Mas como escapar? - pensava Petisco.
- Eu sou a rainha e afirmo que vocês o invadiram o meu Reino das Pedras
Negras. De onde são vocês?
- Somos do Brasil
- Brasil, onde fica este lugar?
- Ora, fica... na América do Sul!
- América do Sul, que drogas de lugares são estes?
- Eu acho que a senhora não estudou geografia, não sabe onde fica a
América do Sul?
- Não sei não senhor, seu insolente. Pra mim você está vindo do Reino da
Aliança...argh! Sinto-me até mal em pronunciar este nome.
- Reino da Aliança, onde fica?
- Lá pra cima, ora, além do Reino do Desespero, do Reino das Provas e do
Reino da Preparação. Você não sabe nada, menino?
- Não senhora, eu não sou deste lado. Eu e meus amigos somos do lado de
lá, do Brasil, como já lhe disse, nada conhecemos daqui. Aliás, somente
estivemos naquele lugar cheio de calor e...
- O Laboratório? - cortou a rainha, fazendo careta.
- É...quero dizer, não sei. Lá se derretia pedras, uns gigantes as carregavam e
as jogavam num rio de lavas.
- Os Executores. É lá mesmo, o Laboratório.
- E também aquele lugar cheio de luz, onde as pedras...
- Pare, cale a boca! - gritou-lhe possessa - não fale mais sobre estes lugares
horríveis.
- Horríveis?
- Horríveis, sim. Quem dera pudéssemos destruí-los. Mas chega de conversa.
O que eu quero é que se entregue sem resistência, senão ordenarei que seus
amigos sejam atravessados pelas lanças.
- Mas eu não estou resistindo!
- Está sim. Há algo em você que não nos deixa chegar perto e precisamos
chegar.
- Algo não deixa? Cabelos de Ouro então ficou pensativo. A luz já havia se
apagado, por que seria então? Neste exato instante Teovaldo, que já vinha se
remexendo sem ser percebido, conseguiu soltar a mordaça e gritou:
- É o disco de ouro!
- Disco de ouro, então é isto. Não disse que você estava vindo do Reino da
Aliança? Eles é que têm estas invenções, Ande, jogue-o fora senão já sabe o que
acontecerá com os seus amigos.
Cabelos de Ouro pôs Teovaldo sobre o ombro, segurou Petisco com uma
das mãos e recitou:
- Senhor do Espaço, eu quero viajar, me leve no tempo pra outro lugar.
Porém nada aconteceu.
- Você esqueceu novamente de dizer o nome do lugar! - alertou-o nervoso
Teovaldo.
- É mesmo, mas pra onde vamos?
- Pra casa.
- Pra casa, não senhor, quero aprender sobre as pedras, até agora nada sei.
- Decidam logo, eles já estão se levantando - apressou-os Petisco.
- Já sei, quando essa ave gigante me agarrou e voou comigo eu consegui ver
lá adiante montanhas com claridade, é para lá que iremos.
Cabelos de Ouro recitou as palavras uma vez mais, porém não saíram do
lugar.
- Nós precisamos estar voltados para o nascente. - alertou Teovaldo.
- Então vou virar mais pra cá. E voltado para outra direção recomeçou a
recitação. Estava de costas para a ave gigante. Ela, por sua vez, já de pé, abriu
as asas, tomou impulso e pulou sobre ele, porém os três sumiram, deixando
todos dali com caras de bobos. Passados segundos, os três heróis foram surgir
num lugar semelhante a um pátio aberto, cercado de imensos blocos de pedras,
de onde podiam ver o céu.
- Viva, é um lugar cheio de luz e cor! - exclamou o menino.
- Com um céu bonito! - saudou Teovaldo.
- E cheio de sons e nuvens coloridas! - completou Petisco.
O lugar era realmente muito belo. O céu se mostrava com muitas faixas de
cor rosa bem forte. Os blocos de pedras eram brancos como montanhas de
neve; tinham transparência e irradiavam. As nuvens, que se moviam pelo interior
dos blocos de pedras, variavam de tonalidades quando raios ou outras formas
de energia os tocavam. Tudo era acompanhado de sons. Ao olharem o chão,
viram que pisavam sobre faixas sinuosas, porém transparentes. Tudo no lugar
tinha beleza e vida irradiante.
- Cabelos de Ouro veja ali, alguém surgiu de repente, de onde terá vindo? -
mostrou Teovaldo.
- Do nada, ele simplesmente apareceu - comentou Petisco.
- Ele é engraçado; é comprido e magro e tem a cabeça pontuda - descreveu-o
Teovaldo.
- Mas vejam, da cabeça dele está saindo uma luz vermelha - falou Petisco.
- Agora está chegando mais daquelas coisas, e estão rodeando aquele bloco
de pedra, colocando as mãos nele - falou Teovaldo.
- O bloco está mudando de cor! - espantou-se Petisco.
- E a nuvem está agora fazendo um som mais forte, ouçam! - admirou-se
Cabelos de Ouro.
- Olhem só, lá em cima tem uma espécie de sol enviando raios de luz pra
todos os blocos. Mas atingem muito mais o bloco que aqueles estão rodeando! -
alertou Teovaldo.
50
- Que maravilha!
- Que beleza!
- Que coisa linda!
Saíram. Uma vez lá fora, Cabelos de Ouro voltou a dirigir-se a Servo 38.
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Todos saíram. Leal ficou por ali, parado no meio do palco com expressão
pensativa. E estava tão distraído com seus pensamentos que somente despertou
quando seu braço foi tocado com carinho.
- Vamos entrar tio, Cabelos de Ouro não é mais o menino e precisa comer e
descansar um pouco. Meu pai está esperando lá dentro.
* PEDRO PINOTE
* O VELOCINO
"Esta obra está protegida por direitos autorais. Sua reprodução deverá ser
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de plágios de seus personagens."
Por Rayom Ra