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por
João Calvino
Salmo 32:1-2
"BEM-AVENTURADO aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é
coberto. Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e
em cujo espírito não há engano." (Sl. 32.1-2)
Alguns estão tão cegos pelo orgulho e hipocrisia, e outros por um desprezo tal
por DEUS, que não estão nem um pouco preocupados em buscar perdão, mas
todos reconhecem que precisam dele, até porque não existe um só homem
cuja consciência não o acuse em relação ao julgamento de DEUS e o
atormente com muitas censuras. Por conseguinte, a confissão de que todos
necessitam de perdão, porque não há homem perfeito e somente quando
DEUS nos perdoa é que estamos bem, é extorquida da natureza humana,
mesmo daqueles homens maus. Mas, a hipocrisia fecha os olhos de multidões,
enquanto outros estão tão iludidos por uma perversa segurança carnal, que
também não são alcançados pelo sentimento da ira divina, ou tem somente
uma apática sensação dela.
Assim, em todas as épocas, esta tem sido a idéia predominante, que, apesar
de todos os homens estarem infectados pelo pecado, estão, ao mesmo tempo,
adornados com méritos que são calculados com o fim de obter o favor de
DEUS, e que, apesar de O provocarem com seus crimes, eles tem expiações e
argumentos preparados para obter sua absolvição.
Esta ilusão de Satanás é igualmente comum entre os papistas, turcos, judeus e
outras nações.
Se Paulo não tivesse usado esse testemunho, seus leitores nunca teriam
penetrado no real significado daquilo que foi dito pelo profeta, pois constatamos
que os papistas, apesar de cantarem em seus templos: "Abençoados são
aqueles cujas iniqüidades são perdoadas", etc, passam sobre isso como se
fosse um ditado comum, de pouca importância. Mas com Paulo, esta é a
definição completa da justiça da fé; como se o profeta tivesse dito que os
homens somente são bem-aventurados quando são reconciliados com DEUS e
contados como justos por Ele.
Que as obras dos santos são indignas de recompensa porque elas são
manchadas, parece um duro discurso aos papistas. Mas, nisto eles denunciam
sua ignorância grosseira, estimando, de acordo com suas próprias concepções,
o julgamento de DEUS, em cujos olhos o próprio brilho das estrelas nada mais
é do que trevas.
Portanto, esta é uma doutrina estabelecida: que somos considerados justos
diante de DEUS pela remissão gratuita de pecados. Este é o portão para a
salvação eterna e, por conseguinte, só aqueles que confiam na misericórdia de
DEUS, são bem-aventurados. Devemos ter em mente o contraste que já
mencionei, entre crentes que, abraçando a remissão de pecados, confiam
somente na graça de DEUS, e todos os outros que não se colocam no
santuário da divina graça.
Além disso, quando Davi repete três vezes a mesma coisa, não o faz por vã
repetição. De fato, é suficientemente evidente que bem-aventurados são
aqueles cuja iniquidade é perdoada; mas a experiência nos ensina quão difícil
é ser persuadido disto, de maneira a ter isto perfeitamente estabelecido em
nossos corações.