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RESUMO
A partir do sonho de um paciente, o autor contesta, com base em Laplanche, a
assimilao lacaniana dos mecanismos onricos, condensao e deslocamento,
s figuras de linguagem metfora e metonmia. Em seguida, analisa o estatuto das
metforas do inconsciente enquanto esquecidas da tenso semntica que lhes deu
origem.
Palavras-chave: Elaborao
Metonmia.
onrica,
Condensao,
Deslocamento,
Metfora,
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Depois de Lacan, pretende-se evidente a assimilao dos mecanismos onricos,
condensao e deslocamento, s figuras de linguagem metfora e metonmia. A anlise
de um sonho permite discutir esta suposta evidncia.
Era o meu terceiro ano de estgio com Paulo Sette, no ambulatrio de psiquiatria do
velho Pedro II, no Recife. O diretor de uma escola agrcola do interior encaminhou para
atendimento um estudante com um quadro depressivo-ansioso, no qual se destacava
uma dor de cabea to forte, que o impedia de estudar. Discutido o caso e descartada a
possibilidade de um problema neurolgico, ele me foi encaminhado para que o
atendesse em psicoterapia.
Num tom de voz lacrimoso, de quem implorava por ajuda, comeou por me pedir
desculpas porque ainda no tinha lido Freud. Para o jovem intelectual que ele era,
submeter-se a uma psicoterapia sem essa leitura prvia parecia indesculpvel. No
queria, certamente, que o tomasse por um adolescente igual aos outros, igual aos
colegas que desprezava, porque s pensavam em futebol e mulher. Esses colegas a
quem jamais ocorreria a preocupao de me fazer saber, atravs de uma confisso de
ignorncia, que no ignoravam o que era psicanlise e quem era Freud. Era um rapaz
complicado!
Vinha de uma famlia muito pobre, no conhecia o pai. A me era lavadeira, a irm
prostitua-se. O diretor, tendo descoberto seu potencial, protegia-o na escola agrcola,
pedindo-lhe em troca uma espcie de reforo junto aos colegas, esses colegas que, por
s pensarem em futebol e mulher, fraquejavam nos estudos. Ora, a dor de
cabea impedia-o de exercer a funo que lhe tinha sido confiada e que lhe dava
inegvel prestgio. Estava numa situao difcil.
Morando na escola, distante do Recife, s podia vir ao ambulatrio uma vez por
semana. E, uma sesso atrs da outra, era sempre a mesma queixa: as dores de
cabea persistiam, no conseguia sequer estudar, quanto mais ajudar os colegas. O
diretor era compreensivo, no lhe exigia o que ele no podia, mas, para alm do