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O ROTEIRO SAGRADO EM Da milenar e sagrada Jerusalém POR NATÁLIA MANCZYK cal é sagrado para o judaísmo por se tratar
do vestígio mais próximo do Templo Sagra-
Jerusalém, a capital israelense,
guarda símbolos religiosos como
ISRAEL
à cosmopolita Tel Aviv, o polêmico exta-feira, fim de tarde. Um do, destruído em 70 d.C. A apenas al-
o Muro das Lamentações, ícone
S
do judaísmo, e o Domo da
anoitecer nada comum, sem o guns metros de lá estão também outros
país no Oriente Médio revela uma trânsito e a buzina habitual desse dois importantíssimos símbolos religiosos:
Rocha, com sua cúpula dourada,
local de fé dos muçulmanos
riqueza de cenários e paisagens horário nas principais cidades o Santo Sepulcro, local da ressurreição
cosmopolitas. Em Israel, as de Cristo para os católicos, e o Domo da
em seu pequeno território noites de sexta são caracterizadas pela Rocha, onde, segundo os muçulmanos,
ausência de carros nas ruas e pelas lojas e Maomé fez uma viagem para o céu. São
restaurantes fechados. Na mais impor- justamente as construções históricas e
tante cidade e capital do país, Jerusalém, sagradas que fazem de Jerusalém um des-
uma multidão se concentra, nesse perío- tino especial.
do, em um dos lugares mais famosos do Israel, com apenas 450 km de compri-
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mundo: o Muro das Lamentações. O lo- mento e 120 km de largura, consegue re-
Tel Aviv, centro econômico unir mais de três mil anos de história. A A CIDADE DE CALCÁRIO
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do da invasão romana na região. teção natural à cidade. A história está
de Israel, tem praias banhadas pequena área torna o país fácil de ser ex- Jerusalém é a cidade mais visitada por Jerusalém impressiona pela maneira por todos os cantos, o que faz da área
pelo Mar Mediterrâneo
plorado – em cerca de seis horas dá para sua importância histórica, religiosa e políti- como reúne a história e a cultura de três um grande museu a céu aberto.
atravessá-lo de norte a sul. No entanto, ca. Além disso, o cenário também é res- religiões: judaísmo, cristianismo e islamis- A história de Jerusalém remete aos
engana-se quem pensa que por causa do ponsável por todo o encanto e magia con- mo. Com apenas um quilômetro quadra- períodos da construção e reconstrução
tamanho há pouco o que ver. Israel con- tidos na região. O dourado da famosa do de área, a Cidade Antiga, cercada por do Templo. Assim, em meio à Cidade
centra paisagens das mais variadas. cúpula do Domo da Rocha sobressai na muralhas, é dividida em quatro quar- Antiga, o visitante se depara com esca-
Na parte central ficam Jerusalém e tonalidade bege que domina a cidade. Pela teirões (judaico, cristão, muçulmano e vações que mostram ruínas do período
Tel Aviv. No sul, o balneário de Eilat, lei, todas as construções devem ser em armênio), acessados por sete portões. Ali do Primeiro Templo, construído há cerca
famoso pelas praias, pela badalação e rocha calcária, o que torna Jerusalém uma é incrível a mistura de pessoas de diver- de três mil anos e destruído pelos ba-
pelas atividades aquáticas; a leste está o das mais peculiares cidades do mundo. sas crenças e a variedade de manifestações bilônios em 586 a.C. O santuário foi er-
deserto da Judeia, região do Mar Morto, Quem fizer o trajeto do norte do país religiosas. As muralhas que cercam a parte guido onde hoje está a Cidade de Davi,
e no norte estão as disputadas Colinas de a Jerusalém terá um passeio recheado de antiga são do século 16 e estão locali - parque arqueológico próximo à cidade
Golan, a sagrada Nazaré, o Mar da Galileia história. Passa-se por Samaria e pelo de- zadas entre três leitos de rio que dão pro- velha, que vale conhecer por trazer a história
e o Monte Hermon que, a 1.296 metros serto da Judeia, onde moradias beduínas
acima do nível do mar, abriga uma es- e rebanhos de cabras e ovelhas fazem os
tação de esqui. Além do contraste de paisa- visitantes voltarem no tempo. No traje-
gens, o país surpreende também pela mescla to, pega-se também a estrada de Jericó,
de tradição e modernidade. por onde era transportado o sal no perío-
Acima, a cúpula da Basílica de Jerusalém e dos judeus dos tempos tem lotação máxima. em algum lugar. É o típico mercado de filmes 1009. Ao entrar na igreja, você se depara Músico de rua vestido como
da Anunciação, em Nazaré, bíblicos. Setenta anos após a destruição Normalmente, o burburinho das rezas e novelas. Entre o grande emaranhado de com uma pedra onde estão penduradas um hebreu (acima à esq.) em
ao norte de Jerusalém um dos portões da muralha
do Templo, os judeus que voltaram do de dezenas de judeus ortodoxos mistura- ruelas acha-se uma variedade de artigos ori- lâmpadas que indicam o lugar onde Cristo
da Cidade Antiga, na capital
exílio reconstruíram-no. Foi reformado se à intensa cantoria dos festejos de Bar entais e souvenires. Desde anéis, pulseiras e foi lavado antes de ser enterrado. Dentro israelense; maquete do que
por Herodes e destruído novamente em Mitzvas (maioridade religiosa, que começa pingentes até belas pashminas, bolsas colo- da Basílica do Santo Sepulcro estão tam- era Jerusalém na época do
70 d.C. pelos romanos. aos 13 anos para os meninos e aos 12 ridas, almofadas, tapetes e narguilés. bém o calvário, onde Jesus foi crucificado, Segundo Templo exibida no
As ruínas da Esplanada do Templo para meninas). Entre as pedras do muro, E pechinche sempre. O preço de um e o túmulo de Cristo, local de grande im- Museu de Israel (acima, à dir.)
podem ser visitadas no quarteirão ju- milhares de papeizinhos com rezas e pe- anel chega a cair de US$ 40 para US$ 10. portância que emociona os peregrinos –
daico de Jerusalém. Lá estão vestígios didos em todas as línguas completam o Ao perguntar o preço de um item, o vende- que também incluem no roteiro as históri-
como as áreas para banho (mikvê), as cenário de fé do Muro das Lamentações. dor provavelmente lhe questionará quanto cas basílicas de Nazaré e a da Natividade,
portas dos mercados, paredes e pisos. O Para conhecer mais, vale a pena visitar você quer pagar. Se ele não aceitar o preço em Belém (veja box).
interessante é que as visitas a esses locais os túneis do Kotel, onde se observa todo o sugerido, diga que vai à loja ao lado. O Do pátio, é possível observa fiéis de
tão antigos são complementadas por mo- comprimento original do muro, hoje sub- comerciante rapidamente o encontrará lá diferentes religiões. Enquanto cristãos
dernos filmes explicativos ou maquetes terrâneo. O passeio ocorre sobre os arcos e venderá o item pelo preço desejado. Mas oram e se emocionam ao ver pela primeira
interativas. Na Esplanada do Templo, construídos para que a cidade chegasse ao jamais negocie um valor se não pensa em vez locais tão sagrados, ouve-se o som
além de um filme, há uma apresentação nível da montanha. Mesmo os mais céti- comprar o produto. Isso deixa os vende- da mesquita em frente convocando os
computadorizada que mostra em 3D a cos conseguem sentir a energia de cami- dores extremamente irritados. muçulmanos para a oração. O pátio do
área no período antigo. nhar sobre pisos intactos construídos há Na área cristã, o principal passeio é ir Santo Sepulcro, sempre vigiado por sol-
No mesmo quarteirão fica o Kotel, dois mil anos e de se aproximar do Tem- ao Santo Sepulcro, o último dos 14 pontos dados israelenses, leva ao souq, comple-
como é chamado o Muro das Lamen- plo, local de forte devoção por um longo percorridos pelos cristãos na Via Crucis. tando a fascinante mistura de culturas
tações em hebraico. É sagrado por ser a período da história. Construída em 326 por ordem do impera- em Jerusalém.
parte remanescente mais próxima do Tem- dor Constantino, a Basílica do Santo Sepul- Apesar dos vários atrativos da parte
plo. Está cheio de gente em todas as ho- NO MERCADO, PECHINCHE cro é marcada por reconstruções. A estru- antiga, a cidade nova não deve ser deixada
ras, mas é no Shabat, dia de descanso no Outro passeio imperdível é pelo souq, o tura atual é da época dos cruzados, do de lado. Bem movimentada, conta com Túmulo de Jesus Cristo no
judaísmo (vai do pôr do sol de sexta-feira mercado árabe da Cidade Antiga. Não se século 12, pois ela foi destruída pelos per- modernos hotéis, shoppings, bairros resi- interior da Basílica do Santo
até o pôr do sol de sábado) que o Kotel espante se tiver a impressão de já tê-lo visto sas no ano 614 e pelo califa Al Hakim, em denciais de alto padrão e áreas comerciais, Sepulcro, em Jerusalém
NATÁLIA MANCZYK
MINISTÉRIO DO TURISMO DE ISRAEL
Acima, anfiteatro romano em Cesareia, na
costa do Mediterrâneo; ao lado, modernos
edifícios do centro financeiro de Tel Aviv
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visitar o Centro Mundial da Fé Baha’i, re- casa de banhos do século 40; o hipódro- lembrando a história bíblica de Jonas (o
ligião independente, com leis próprias e mo para as corridas de bigas e cavalos, e profeta teria embarcado no porto de Yafo),
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Nono ono no no onononono no
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também com luxuosos hotéis e uma de 1930. São mais de 4 mil prédios raciona-
agitada vida noturna. listas, muitos situados na região central
que, por isso, ficou conhecida como
NATÁLIA MANCZYK
“Cidade Branca”, declarada patrimônio
mundial pela Unesco. A área com grande
concentração de construções nesse estilo
arquitetônico vai da Rua Allenby ao Rio
Yarkon, no norte, e da Avenida Begin
para o mar. Também podem ser vistos na
Avenida Rotshchild e perto do shopping
Dizengoff Center.
O estilo arquitetônico arrojado e a vi-
da cosmopolita são as marcas da cidade,
tão singular se comparada ao resto do país.
É por esse misto de modernidade e antigui-
dade que Israel encanta. O país pequeno,
mas nada insignificante, traz muitas sen-
sações, emoções e reflexões. Pelas experi-
ências religiosas e pelo contato com o históri-
co e o sagrado, é quase impossível voltar
Calçadão à beira-mar em Tel Aviv, cidade de intensa vida cultural e agitação noturna indiferente de lá.
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