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Analise dos relacionamentos existentes na construgao deum sistema especialista (Claudio Mazzitt Mestrando do Programa de Pés-Graduagao em Administragio Universidade Federal do Rio Grande do Sul Professor do Instituto de Informética da Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Sul Resumo O artigo apresenta uma visio global das fases de Desenvolvimento de Sistemas Especialistas. £ enfatizado o processo de aquisiglo do conhecimento visando a construgéo de um protétipo na érea de Andiise de Crédito, Sao enfocados os relacionamentos existentes entre especialista, o ususrio ¢ 0 engenheiro do conhecimento. Palavras-chave: « sistema especialista «© aquisigdo de conhecimento « base de conhecimento Este artigo € objeto de dsseragio de Mestrado deseavolvida no Programa de Pés-Graduacto cm AdministragSo da Universidade Federal o lo Grande do Sul, dentro dalinha de pesquisa "Sistema Dspecilistas nas Onganizagbs" 2 evista de Adminiatraglo, So Paulo 24(3):5268, julho/satembro 1969 INTRODUGAO A utilizagao de Sistemas denominados Especialistas, que podem simular 0 processo de inferéncia humana em um dominio especifico do conhecimento, encontra-se em pleno processo de desenvolvimento na érea administrati- va. Sistemas Especialistas propiciam melhorias no trei- ‘namento de funcionsrios ¢, conseqientemente, na divisio do trabalho Estas melhorias decorrem da difusdo do co- hecimento para os menos especialistas em uma determi- nada area do conhecimento, Disseminando 0 conhecimento, nao hé necessidade de ceatralizacao do rocesso de tomada de decisio, 0 que possibilita 0 apro- veitamento dos especialistas em outras fungdes. O fato de oferecerem beneficios significativos imediatos faz com que 0s sistemas especialistas possuam grande potencial de aceitagao no meio empresarial ‘Atualmente, estamos vivendo a primeira fase de de- senvolvimento desses sistemas em ambiente organizacio~ nal. Esta fase caracteriza-se pela implementagdo de ppequenos sistemas especialistas que resolvam problemas especificos, dentro de um determinado dominio da érea administrativa, ‘A segunda fase de seu desenvolvimento caracteriza- se pela construgao de grandes sistemas especialistas uti zando interfaces de linguagem natural; estes sistemas ‘podem competir fortemente com especialistas em relagio A preciso de respostas ¢ sio disseminados por toda a ‘organizagao. A entrada na segunda fase da evolugéo de sistemas cspecialistas € determinada ndo s6 pelo aperfeigoamento de ferramentas para a sua construgéo, mas também pelo aperfeigoamento das abordagens utilizadas para aquisicao do conhecimento. £ esta que determina as heuristicas incorporadas na base de conhecimentos € conseqiente abrangéncia do sistema especialista. A aquisigéo do co- shecimento ¢ considerada como sendo 0 ponto crucial na construgao de um sistema especialsta, Esta constatagao € decorrente da dificuldade em captar as heuristicas uiliza- das pelo especialista no processo de tomada de decisao € incorporé-las a base de conhecimentos. A interagao entre ‘ engenheiro de conhecimento ¢ 0 especialista neste pro- ‘cess0 € responsivel pela abrangéncia do sistema especia- Tista (Roth et ali, 1983; Duda & Shortcliff, 1983; Wilkings et alii, 1984). ‘A anilise dos relacionamentos existentes entre 0 ¢s- pecialista, o engenheiro de conhecimento € 0 usuétio possibilita-nos uma visio integrada do processo de desen- volvimento de um sistema especialista. © objetivo deste artigo ¢ apresentar 0 processo de desenvolvimento de um protétipo de sistema especialista na rea de andlise de cexédito para pessoa fsica, enfatizando a fase de aquisicéo do conhecimento € 0 relacionamento entre engenheiro do conhecimento ¢ o especialista. Revista de Administacto, Sko Paulo 24(3):52-68, julholeterbro 1089, INTELIGENCIA ARTIFICIAL ‘Segundo Nilsson (1980), Inteligéncia Artificial (LA) € uma érea de pesquisa que visa expressar conhecimentos, ‘usando formalismos proposicionais, representados por. truturas de dados manipulados com flexibilidade e efi cia. A pesquisa em A esté voltada para descavolvimento de linguagens naturais, para a robstica e para o desenvol- vimento de modelos computacionais dotados de compor- tamentointeligente, os quaissio denominados de sistemas cespecialistas (SE) (Harmon & King, 1985; Viccari, 1985). Definigio de Sistemas Especialistas SEs sio sistemas que incorporam conhecimentos, experiéncias ¢ processos de tomada de decisio de espe- cialistas numa dada rea profisional, Estes sistemas ten- tam limitar algumas formas de raciocinio humano na solugio de dominios especificos do conhecimento huma- 10, Sendo, portanto, orientados para resolugao de proble- ‘mas pouco estruturados ¢ bem delimitados. Distingio entre Sistemas de Informacio e Sistemas Especialistas Os sistemas de inform: tes caracteriticas principal «¢ abordagem algoritmica para a resolugéo de problemas bem estruturados; ‘¢ programacio orientada para o processamento numéri- 0; ‘© processamento seqitencial de informacdes. SEs apresentam caracteristicas distintas daquelas apresentadas pelos SIs. Estas diferencas esto presentes nos seguintes aspectos: « resolugio de problemas de um dominio espectfico de forma andloga & uilizada pelo especialist + uso de um conjunto de regras préticas (heuristicas) 20 invés de algoritmos; + processameato altamente interativo; « programacao orientada para o processamento simb6l- Objetivos de um Sistema Espectaliste O principal objetivo existente na construgio de SE. consiste na disseminacéo do conhecimento (Goncalves, 1986; Weiss & Kulikowski, 1984; Ribeiro, 1987). Este objetivo ¢ fundamentado na constatagio de que inexiste um processointegrado de disseminagéo doconhe- cimento ¢ da heuristica de um especialista para os menos especialstas que atuam em um mesmo domfaio. Um SE, 20 propiciar esta disseminagio, possbilita a utlizagio mais eficiente do especialista no desempenho de outras fungoes. Componentes de um Sistema Especialista ‘Um SE, sob o ponto de vista computacional, contém ‘Varios componentes ou sistemas constituindo sua arquite- tura, Estes componentes podem ser agregados em uma base de conhecimentos (BC), em um s6 motor de inferén- cia (MI) ¢ em uma interface de comunicagao (IC), confor- ‘me visualizado na Figura 1 (Roth et ali, 1983; Harmon & King, 1985). Usuério Final Ic LL, w | Be Figura 1: Arguiteara de um SE. Base de Conhecimentos (BC) suporte para o processamento de conhecimento ‘em SE encontra-se em uma BC que contém fatos,idéias, relagdes logicas ¢ regras relativas a uma érea de especia- lizagio. A BC pode ser vista como um clone de conheci- mento do especialista, devendo se aproximar, o méximo possfvel, de como este desempenha seu papel. A BC possui um enfoque diferente dos bancos de " Kimplicagéo) (Nilsson, 1980). Neste tipo de representagdo, a BC ¢ des- rita por relagées l6gicas, podendo ser implementa- da através da linguagem de programacao Prolog (Programming in Logic). A idéia de quadros € bem ampla e se baseia em considerar que as pessoas vejam ou percebam situagSes segundo cenas (frames). Um quadro é uma estrutura de dados utilizada para representar a percepgao de uma situaglo (Goncalves, 1986). Cada quadro que se configura ‘mentalmente tem, em seu interior, uma série de informa- ‘ges. Dentre essas, existem informagées de como usar 0 quadro € uma expectativa dos préximos quadros a serem usados. As pessoas detém sua observacio em elementos de um quadro, recolhem informagées e buscam detalhes em outros subquadros, que slo referenciados dentro do Conhecimento. Oprocessode aquisi¢éo do conhecimento fundamen- tase mo relacionamento existente entre especialista 7 <2 conhecimento (Figura 3 ~ Relacionamentos exis- teates em um SE). Especiatina | _—~ [Confecimen-| to ec =e] tmplements-| mt sf Be Usuério. Problema Figura 3: Relacionamentos exstentes em um SE. ‘0 relacionamento especialista <=> conhecimento refere-se 20 processo de obter de um especialista humano o conheciments necessério a solugéo de um problema, No processo de aquisigao do conhecimento, através da adogio de uma abordagem especifica, o EC tenta ‘compreender as heurfsticas que o especialista utiliza para solucionar problemas de um dominio de conhecimento. A verificagio das heuristicas do especialista conduzem oEC Aidentificagdo dos fatos c rclacionamentos integrantes do dominio do conhecimento. ‘* Abordagem para aquisigio do conhecimento de fatores crfticos de sucesso em sistemas especialistas. Orienta os esforgos do especialista e do engenheiro do conhecimento quando da formalizagio do conheci- mento. A abordagem € adequada para problemas que admitem 0 raciocinio monot6nico, baseado na premissa que, uma vez 0 fato determinado, néo pode ser alterado durante 0 desenvolvimento do processo de raciocinio. Neste tipo de enfoque ¢ possivel adotar um modo lincar de raciocini, de acordo com uma légica especifica paraa resolugao de problemas, organizando o conhecimento hie~ rarquicamente. Para problemas que néo admitem uma linha monot6nica de raciocinio, a hierarquizagéo de fato- res conduz a distorgbes. Estas distorgdes sio de natureza estrutural, decorrentes da incompatibilidade funcional en- tre 0 modelo ¢ a natureza do problema real. {As principais etapas da abordagem sio: + descoberta dos contextos de conhecimento: os princf- pos da abordagem sao explicados ao especialista, si0 so cexplictados 0s contextos.em que o tomador de deciséo atua ¢ uma estrutura que descreva o conhecimento; ‘* obtengio dos Fatores Criticos de Sucesso, « refinamento dos Fatores Criticos de Sucesso: esta fase caracteriza-se pela identificagso de objetos,atributos € valores. Estes bitimos so refinados ¢ acles sao atribuf- dos graus de importincia; « estabelecimento de precedéacias entre 0s fatores; « claboragio de regras de produggo na forma bruta “se... « validagio inicial das regras de produgio introduzidas nna BC de um prototipo; « refinagio das regras de producéo, identificacdo de si- nbnimos e validacio da rede semantica; « validacio final das regras de producio introduzidas na BC do prot6tipo construfdo (Gongalves, 1986). 5s fatores crticas de sucesso obtidos, em ordem decrescente de importincia foram: identidade, funcio, renda, residéncia, experincia financeira ¢ experiéncia comercial. Estes fatoresriicos de sucesso sofreram aatribuigéo de pesos, refletndo o seu grau de importanciaem relagio A concessao de crédito. + Descrigdo dos fatores eritcos de sucesso em andlise de crédito. Os fatores identidade, fungio, renda e residéncia foram divididos em duas classes: documentos de fécil violagio e documentos de dificil violagao. Fotor O1- Identidade Documentos de dificil violagao: + carteira de identidade civil; «© carteira de identidade militar; « carteira de identidade superior carteiras emitidas por rgios de classe profissional; '* cartcira de ideatidade pablica — canteiras emitidas por ‘rgios piblicos como, por exemplo, minisérios esecre- tarias. Documentos de fécil violagao: ¢ outros, Fator 02 - Fungio Documento utilizado pelo cliente para comprovar sua atividade profissional. evista de Admivstrasto, Sto Paulo 26(3):52-68, julho/setembro 1980 Documentos de dificil violagéo: «+ cartera de identidade militar; 1 Garteira de identidade superior, { carteira de identidade public,” Documentos de {cil violagéo: # outros. Fator 03 - Renda Documentos de dificil violagao: contra-cheque; resumo do imposto de Renda; recibo de aluguel; aplicagées superiores a 500 OTNs. Documentos de facil violagdo: outros. Fator 04 — Residéncia Documentos de dificil violaga «conta de dgua; ‘= conta de telefone; « catélogo telefSnico; ‘¢ caré do IPTU: « escritura de imével registrada; « certidio de posse de imével rural (Certidio INCRA). Documentos de fécil violagéo: ¢ outros. Fator 05 ~ Experiéncia financeira # O fator experiencia financeira identifica através deres- postas “sim” ou “no” se o cliente possui cartdes de exédito e, consequentemente, tradicéo no mercado fi- nanceiro, Fator 06 - Experiéncia comercial ‘© 0 fator experiéncia comercial permite identificar atra- vés de respostas “sim” ou “nio” se o cliente ¢ bom Revista de Administraglo, Sto Paulo 24(3):52-68, julho/setembro 1980 pagador, ou seja, se este cliente nao esté cadastrado no servigo de protegio ao crédito, nos cartérios ou n0 servigo dos cheques sem fundo. Construcdo de Protétipos de Sistemas Especialistas rmentos, quando representado de forma explicita, compoe ‘uma BC ati, obtida através da evolugao de prot6tipos de ‘BC parciais ¢ incompletas. © objetivo do EC, a0 construir protétipos de SE, é estabelecer se a ferramenta utilizada para 0 descnvolvi- ‘mento do SE, 0 modo de represcntacéo do conhecimento ceasestratégias de inferéncia sio adequadosem fungao dos Implementacéo (Figura 3— Relacionamentos cxis- tentes em um SE) compreende todos os recursos metodo- logicos, software ¢ hardware stilizados para o desenvolvimento de um SE. A fungio do EC consiste em identificar fotos ¢ regras de um dominio limitado de co- hecimento ¢ representé-los em forma computacional, reproduzindo, dessa forma, o conhecimento intrinseco do especialista, do qual extraiu o conhecimento, ‘A implementagdo de um SE uma tarefa que deve ser desempenhada pelo EC em conjunto com o especialis- tac os ususrios do SE. A implementacéo de um SE somen- te seré possivel se a validaggo do SE em questo for ccomposta dos parcceres do especialista, que verifica as regras a nivel de contexto global; dos usuérios e do EC responsével pela execucao das modificagées e ampliago da BC. (0 processo de implementacéo é determinado funda- mentalmente pela metodologia empregada para a aquisi- ‘¢4o do conhecimento ¢ pelo processo interativo entre 0 grupo de trabalho constituido. Nao existindo confiabilida- de no conhecimento obtido, torna-se a implementagioum processo degenerativo ¢ falho, conduzindo ao fracasso € desuso do SE. ‘Metodologia para a Implementagdo de Sistemas Especialistas Pesquisa-Agdo: A pesquisa-acio propicia, devido ao seu enfoque, @ implementacio de um SE em um contexto adaptado para este fim, através de um processo de mudanca organizacio- zal. Propicia, também, uma abordagem evolutiva no pro- ‘cess0 de desenvolvimento do SE, especialmente na fase de aquisigéo do conhecimento, Fundamentos da Pesquisa-Acao: Segundo Susman & Evered (1978), a pesquisa-a¢io 6 uma abordagem de pesquisa que une a geragéo de uma teoria coma mudanga de um sistema social. Esta mudanca érealizada através da atuacdo pro-ativa do pesquisador no contexto organizacional. A atuagao do pesquisador visa a evista de Adminisragto, Sto Paulo 24(3):52-68, juhofsetembro 1988 constante descoberta, avaliagéo e modificagio dos fatos observados € que constituem uma teoria (Trist, 1973). Com o objetivo de deflagracio de mudangas organi- zacionais, a pesquisa-agio concentra-se em trés fatores especificos para efetuar a andlise de um problema: a natu- rezadeste problema, ascaracteristcas pessoais do pesqui- sador © 0 desenvolvimento de um dominio te6rico (Hoppen, 1980). Frases da Pesquisa-Acao: A pesquisa-agéo pode ser vista como um processo

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