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SCIENTIA IVRIDICA REVISTA DE DIREITO COMPARADO PORTUGUES E BRASILEIRO TOMOLXIV N.°339 - SETEMBRO/DEZEMBRO, 2015 UNIVERSIDADE DO MINHO Largo do Paco ~ 4704-553 Braga (Portugal) Competéncia judiciaria na Uniao Europeia Marco Carvalho Goncalves Professor da Esecla de Direto da Unizersidede do Minho Resumo: O presente texto procura, fundamentalmente, analisar 0 ambito de aplicacao do Regulamento (UE) n’ 1215/2012, doParlamento Europeu e do Conselho, de 12/12/2012, relae tivo Acompetei mercial, circunscrevendose essa anvilise & abordagem da competéncia judiciéria na Uniio Europeia, No presseguimento desse desiderate, si0 analisados os Ambites temperal, objetivoe subjetivo do regulamento, sem se descurar as preblemdticas da competéncia exclusiva e con- -vencicnal, bem como da litispendencia europeia. Frocurcu-se igualmente, ainda que de forma ‘gentrica, identificar as principais inovagtes do Regulamento (UE) n? 1215/2012no ambito da competéncia judiciéria, por contrapasigao ao Regulamento (CE) n° 44/2001, do Conselho, de 22/12/2000, ascinalandorse a jurisprudéncia mais relevante nesse dominio, ia junticidria, a0 recenhecimento ea execugio de decisiies em matéria civil e com Palavraschave: Regulamento (UE) n? 1215/2012 / Reguilamento Bruxelas I his / Reo ju- ridica plurilocatizada / Competéncia internaciensil / Competencia exclusiva / Competéncia con- ‘vencienal / Litispendéncia curepeia / Tribunal de Justica da Uniaio Europeia ‘Fst texto cenespande a canferencia proferida no dia 26/4/2015 no ambito do Ciclo de Cer feréncias intitulado “Questées praticas da aplicacéo do Diteito da Unio Furopeia”, crganizado pelo Consetho Dietrital doPortoda Ordem des Advogadose pelo Centrode Estudos em Direito da Unizio Furopeia da Universidade do Minho. ‘Scientia luridica —Torro LXV, 2015, 9339 SCTENTIA IVRIDICA 1. Introdugao ‘A cansagracio do principio da livre circuilacdo de pessoas, bens eservicas no es- Pago europeu veio permitir o desenvalvimento de relagtes pessoaise comerciaisentre cscidadéios e asempresas dos diferentes Estadas-Membros da Unio Europeia. Contudo, 0 desenvolvimento progressivo dessas relagdes acabou, de forma inevitavel, por potenciar 0 surgimento de litigios transfronteiricos ou plurilocali- zados, isto 6, de litigias em contacto com dois ou mais ordenamentos juridicos. Assumem particular destaque, neste dominio, os litigios em matéria de respon- sabilidade civil contratual e extracontratual, consume, trabalho e seguros. Ora, quando um litigio reveste uma natureza plurilocalizada, torna-se neces- sério determinar qual o tribunal internacionalmente competente para o dirimir. E-um facto que os diferentes Estados-Membros que integram a Uniao Euro- peia preveem, nos seus ordenamentos juridicos internos, regras de competéncia internacional, isto 6, regras que estabelecem em que casos os seus tribunais esta- duais tém competéncia para julgar e conhecer o mérito da causa de uma determi- nada relacio juridica plurilocalizada", Simplesmente, a criacao de um espaco eurapeu de livre circulacao de pesscas, ‘bens servigas esteve igualmente associada a implementacao de um espaco tinico europeu de liberdade, de seguranca e de justica, que fosse suscetivel de garantir quera uniformizago das regtas de competéncia internacional, quer a livre cireu- lacao das decisGes proferidas pelos tribunais dos diferentes Estados-Membros. Na tealidade, as “disparidades das regras nacicnais em matéria de competéncia judicial ¢ de reconhecimento de decisées judiciais dificultam o bom funciona- mento do mercado interno”®. © Aseim, o Cédigo de Processo Civil (CPO) portugues prevé diversas normas queregulam a.com ‘peténcia intemacional des tribunais portugueses na eventualidade de se verificar um itfgio tarsfrare teitico. Fo que sucede com o art. 32, que regula as situacbes em que os tritunais pertugueses tem competéncia internacional exclusiva, bem como com o art 62°, que estabelece dliverses ctitérios de competencia internacianal des tritunais portugueses. ®1Predmbulodo Regulamento (CE) n.°44/2001, de 22 de dezemt-ro de 2000. Ci, sct-reestaprob- lematica, Green paperron the evict f Council Regulation (EC) ne 44/2001 cn hurscictcn and the Recogniticn ‘and Ex forcement cf Juignents in Civil and Commercial Matters, Comissée da Unis Eurepeia, 21/4/2009, .3, in enselerenneper /LexLniSer LexUnSero.dotur=COM 2068: 0175:FINENEDE. 418 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. O primeiro passo para a adocio de regras uniformes no dominio da compe- téncia judicidria, reconhecimento e execuedo de decisées em matéria civil e co- mercial foi dado através dacelebracac, em 27/9/1968, da Canvencao de Bruxelas, relativa 4 competéncia judiciaria e 8 execucdo de decisées em matéria civil e co- mercial”, Paralelamente, em 16/9/1988 viria a ser celebrada a Canvengao de Lue gano entre as Estados-Membros da entao Comunidade Econémica Europeia e os Estados-Membros da European Free Trade Association (EFTA). Contudo, a vinculagéo dos diferentes Estados-Membtos a essas convengées implicava que as mesmas fossem ratificadas por cada um desses Estados, forma- lismo que ndio se compadecia quercom as necessidades cada vez mais prementes no ambito da competéncia judiciaria, reconhecimento e execucio de decisées em matéria civil e comercial, quer com o sucessivo alargamento da entéo Comuni- dade Econémica Europeia a novos Estadas-Membros. Foi precisamente neste contexto que, procurando que as regras rélativas a competéncia judiciaria, ao reconhecimento e a execucao de decisées em matéria civil e comercial passassem a constar de um “instrumento juridico camunitario vinculativo e directamente aplicavel”, 0 Conselho Europeu viria a adotar, em 22/12/2000, o Regulamento (CE) n° 44/2001, igualmente conhecido por “Regu- Tamento Bruxelas I” (doravante designado abreviadamente por Reg, 44/2001), 0 qual visou uniformizar as regras de competéncia internacional e tornar mais sin ples ¢ répidos os julgamentes em litigios transfronteirigos’ Entretanto, por forca do estatuido no art. 732 do Reg 44/2001, que impunha a Comissao Europeia o dever de proceder a avaliacdio deste instrumento norma- tivo no prazo de cinco anos apésa sua entrada em vigor, este regulamento viria a um processo de revis4o. No ambito desse processo, procurot-se, fundamentalmente, dar resposta a dois problemas fundamentais que afetavam 0 bom funcionamento do mercado interno, cansiderando o disposto no art. 81.° do Tratado sobre o Funcionamento da Unido Europeia (TFUE): por um lado, garantir Neste panticular preceitua o art, 220.° do Tratado que instituia Comunidade Fmopeia que os Fstaclos: Membtos devem estabelecer entre cles negociagées que visem assegurar a simplificago das formalidades de reconhacimento e execucao reciproca de decisves judiciais e dassentencasartitrais (8 Pkedmbulo do Regulamento (CF)n® 44/2001. © Une Macnuset al, Evropean Conanentarieson PricateFnternaticnl Law ~ Brussels Regulation, vol. I, Furcpean Law Publishers, 2007, p.7. 419 SCTENTIA IVRIDICA que qualquer decisdo proferida por um tribunal de um determinado Estado-Mem- bro fosse passivel de ser executada junto dos tribunais de outro Estado-Membro, sem necessidade de recurso prévio a um procedimento destinado a reconhecer a forca executiva dessa decisio (exequatur); por outro lado, proteger as cidadéasna- cionais e as empresas em caso de conflito com cidadaos e empresas domiciliadas em Estados terceiros, isto é, nao pertencentes a Unido Europeia®. Assim, no dia 12/12/2012 viria a ser publicado o Regulamento (UE) n° 1215/2012 (ou Regulamento Bruxelas I bis) - doravante designado abreviadamente por Reg, 1215/2012 -, 0 qual passou a ser aplicavel a partir do dia 10/1/2015 (art. Ly”. Analisemos, entéo, 0 Ambito de aplicacio do Reg. 1215/2012, bem como as suas principais inavagdes. 2. Ambito de aplicacao Oambito de aplicacdo do Reg, 1215/2012 é delimitado em funcdo do preen- chimento cumulativo de trés critérios, referentes, respetivamente, ao tempo, ao objeto e aos sujeitos. 21. Ambito temporal Nos termos do art. 81.°, 0 Reg, 1215/2012 aplica-se a partir do dia 10/1/2015, comexcecdo dosarts. 75.°e 762, que passaram aaplicar-sea partir do dia'10/1/2014. Por sua vez, & luz do art. 66.°, n.°'1, o Reg. 1215/2012 sé se aplica as agGes judi- ciais intentadas, aos instrumentos auténticas formalmente r idas ou registados (© Cammunicagio ca Comissio ao Farlanento Europeu co Conseil Un espaca ce iterdadle de segurcaiga cede justica co serviga cs cides, Comissao das Comunidades Europeiae, Bruxeles, junho de 2009, pp. 4e 11, inwuiwernoparleurpacintcor Aamdlavccrking_ gronp_mignatcr Anectings 27 28.01 2010_Enis- selepdessies com 2005 i262_pip f. Vide, solve.a mesma prctlernética, Geen paper en the revceo {Council Regulation (EC) n° 4/2001 on furisiction and the Reccgrition nud Fr forcement «f fuigments in Coil nud Ceormnercial Maters, Comnissao da Unio Buropeta, 21/4/2009, p. 2, in eurdexeurcyaer LexUriSere/Le= _xUiSertido?uti=COM:2008175: FINEN:FDF. © Fite regulamento foi, entretanto, alterado pelo Regulamento (UE) n° 542/2C14, do Parlamento Funopeu edo Censetho, de 18/5/20, face. necessidacte de seregular axclacao do Reg, 1215/2C12.com © Acardo relativo ao Tritunal Unificado de Patentese como Tratado do Tribunal ce Justiga clo Benelux. 420 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. © &s transacées judiciais aprovadas ou celebradas em 10 de janeiro de 2015 ouem data posterior. Contudo, 0 art. 80.° do Reg, 44/2001 cantinuaa aplicar-seas decisies proferidas em acées judiciais intentadas, aos instrumentos auténticos formalmente redigidos ou registados e as transacdes judiciais apravadas ou celebradas antes de 10 de janeiro de 2015 e abrangidas pelo ambito de aplicacao desse regulamento. 2.2, Ambito objetivo No que concerne ao seu ambito material ou okjetivo, dispde o art. 1.°, n° 1, do Reg, 1215/2012 que este se aplica em “matéria civile comercial”. Este conceito 6 “especifico, auténomo e exclusivo” do regulamento® - j4 que a qualificacdo da natureza civil ou comercial de um determinado litigio nao é uniforme nos dife- rentes Estados-Membros da Uniao Europeia - e tem vindo a eer integradoe den- sificado, caso a caso, em funcao da jurisprudéncia produzida pelo Tribunal de Justica da Unido Europeia (IJUE)”), Fundamentalmente, 0 objetivo central do le- gislador europeu foi o de restringir 0 ambito de aplicacéo material do regula- mento as telacées juridicas de direito privado™. Estao, no entanto, excluidas da sua aplicacao as matérias que, apesar de re- -vestirem natureza civil ou comercial, digam respeito ao estado e capacidade ju- ridica das pessoas singulares™, acs regimes de bens do casamento cu as relacées que produzem efeitos comparaveis ao casamento, as faléncias", concordatas e (OF srERANZA CATELLANCS RUZ, “Intemational private law prcblems in the sccpe of private err fexcementaf competition kaw”, in Private F forcement «f Cempetition Lazy Valladolid, Lex Nova, 2C11, p-39. Cf, no mesmo sentido, GIUSEPPE CAMPRIE/ARRICO DF PALL, Le Regie Euvcyeeed Intemzionali del Precesso Civile Haliane, Padua, Wolters Kluwer Italia, 2009, p. 109. Nosentido dese integrarno canceito de “matéria civil cucamercial” aagao quetem per objeto a “tepatagio do prejuizo resultante de alegadas Vielagdes do diteito da cencaméneia da Unio”, ide 0 Ac. do TUR de 23/10/2014, proc. CXC2/13 fly AL ~ Lithuanian Airlines AS ws Starplautisha idosta Riga VASe Air Baltic Corporation AS). (09Perer Stone, EU Pritate Inlernaticnal Lavo, 3 ed,, Edward Elgar Publishing, 2014, p. 29. (OV Tal como elucida Peter Stone, enquackanrse nesta matéria, entre cuitras,as acies de dvéncio, separagio judicial de pesscas e bens, anulagao de casamento e regulagao das responsatilidades pa- rentals em, iickm, p.23). © Acsterespeite, decidiurse no Ac. do TIUE de 4/9/2014, proc. C-157/13 (Nickel & Geelcner Spee dition GintHs «Kintra» UAB), que 40] antigo 12,n21, doRegulamento (CE)n244/2001 do Censelho, ce 22 de dezembro de 2000, relative a competéncia judiciria, a0 reconhecimentoe a execucdo de de 421 SCTENTIA IVRIDICA ‘outros processos andlogos, a seguranca social, a arbitragem, as abrigagies de ali- mentos decorrentes de uma relagéo familiar, parentesco, casamento ou afini- dade, bem como aos testamentos e sucessGes", Deigual modo, o Reg, 1215/2012 nao se aplica as matérias fiscais, aduaneiras eadministrativas (art. 1.° n° 1, 2? parte}, bem como a responsabilidade do Estado Por atos ou omissdes no exercicio da autoridade do Estado (acta iure imperii)"®. Nada obsta, no entanto, a aplicagao deste regulamento quando esteja em causa uma aco proposta por ou contra uma autoridade publica, desde que o ambito da aco se reconduza ao dominio do diteito privado (par exemple, ago proposta por um fornecedor contra uma camara municipal, exigindo o cumprimento de uma determinada obrigacdo pecuniaria emergente de um contrato de compra e ‘venda de bens ou de prestacao de servigos)"®, is6es em matéria civil e cemercial,cleve sr interpretado no sentido de que se integra no canceito de ““mratéria civil ecomexciat”, naacecao desta disposicio a ado para ragamento de uma divida decor rente de uma prestacio ce services de tranepcrle, propesta peloaciministrador da inalvencia, desig- nado no mbito de um processo de insolvéncia de uma empresa, inetaurado mum Fstacle-Memtroe divigido contrao beneficianio destes serviges,estabelecido num outro Fatado-Mentro.. (© Fata materia encontra-se devidarente disciplinada pelo Regulamento (CE)n°4/2008, do Cen selhe, de 18/12/2008 relativoa competéncia, Alei aplicavel,ao recenhecimento eAexecuxaodas de- cisbes € 4 cocperacao em matéria de obrigaceesalimentares. (09 Assim, extra-se do considerando (5) doReg, 1215/2012.que "[c] mito de aplicacao material do presente regulamento deveraincluiro escencial da matéria civile comercial, com excegao decertas ‘matérias bem definidae,em particularas cbrigagées de alimentos”. 9 Chr, aeste propésite, 0 Ac. do TUE de 15/2/2007, prce.C-292/(5 (Eirini Lectouritow, Vesleies Karkaulias, Georgios Paclepcudes, Panagiotis Brteikas, Dinitvics Sotircpaules, Georgics Dimopeules vs Di- ‘mosio tis Cmesyanctickis Dimokratias is Germania). Vide, ainda, a sertenga da CSCIt. de 12/5/2013, in ‘ececo cortetcassazionedil, na quel se decidiu.quea nocio de“matéria civil e comercial” deve ser inter ypretada no sentico de compreender uma.acao judicial por via da qual uma autoriclade publica de um Fetado- Membro peda teparacao de danes causades por pessoas fficas e juridicas de um cutro FS tado-Memino em virtude da celetracio de um pacto ilcito a fim de defraudar 0 pagamento do im- ‘posto sole valoractescentadlo devideno primeiro Fetado-Merrina, Chr, neste sentido, ADRIAN BRICCS, The Cor flict «f Laws, Oxfcxd, Oxford University Press, 2013, - 40, Assim, deacordo com este Autor, aquilo que tekva para se determinar se uma matéia 6 civil cucemercial 6a natuneza da cbrigacao que constitu ockjeto dolitigio, endo, por iso, indiferente se as leis de um determinado Fstade- Membxo qualificam cu ndo internamente esse litigio como reve ‘indo natuneza civil ou comercial. 422 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. Aluzdoart.19,n°11 parte, éirtelevante a natureza da jurisdicao, ou seja, “nao importa qual a espécie de tribunal ou a forma do proceso"), segundo direito interno do Estado-Membro. 2.3. Ambito subjetivo 2.311. Critério geral de competéncia 2.3.1.1. Réu domiciliado na Unido Europeia OReg, 1215/2012 estabelece, como critério geral de competéncia, odo domi- Cilio do réu*®, Com efeito, tal como se extrai do preambulo do regulamento, “[als regras de competéncia devem apresentar um elevado grau de certeza juridica e fundar-se no principio de que em geral acompeténcia tem por base o domictlio do requerido. Os tribunais deverao estar sempre dispaniveis nesta base, exceto nalgumas situagdes bem definidas em que a matéria em litigio ou a autonomia das partes justificam um critério de conexao diferente”. Assim, se 0 réu tiver 0 seu domicilio ou sede num dos Estados-Membros da Unido Europeia, este deve ser demandado, independentemente da sua nacio- nalidade, junto dos tribunais desse Estado-Membro €art.4°,n.°1)®, Trata-se, por MCRL TenwetRa De SCUEA DARIO McURA VICENIE, Camentéviod Cerengio de Brxelas ce 27 de Setembro de 1968, relation & Cometincia fuicunia ao Reconecimentoe a Execucin de Decisies em Materia Cicile Comercial e Textes Camplementares, Lisbea, Lex, 1954, p.24. No mesmosentido, MIGUEL TEDSEIRA eeSousa, A Competéncin Declaativa os Trtunais Canmuns, isboe, Lex, 1994, p.69. {09-Nos termos do art. 62°; 1, para se determinar se on€u tem ounao 0 seu cemictio no Es tado-Membro da Unite Funoreia ende a agio foi prcpesta, 0 juiz deve aplicara lei interna desse Es- tado-Membro, No tocante as scciedades, as outras pessoas celetivas cu as associagies ce pesscas singulares cu coletivas, etas concideram-ce domiciliadas no lugar cnde tiverem a sua sede sccial, a suaaciministracao central ouo seu estabelecimento principal (art. 35). Quanto as dificuldades dear- ticulagio ene anogaode “clomicilio” que é acotacla pelovegulamento ea queé tradlcionalmentese- guida pelos paises da commian Taw, vie Tostwvext Kexo, Intellectual Preperty and Private Tnlernaticnal Taco: Comparatice Perspectives, Bloorsstury Patlishing, 12, p. 714, kemcemo ADRIAN Braces, The Cor ick fies ity $p. E5e 66. ©)Nostermos doart.3°;n°2, do Accrdo entire a Comunidade Funapeia eo Reino da Dinamarca, de 15/10/2005, relativo a cempetencia jucicisria,ao recenhecimento ea execugao de decisCesem ma- {eria civil e comencial, “a Dinamarca notificcu a Comissa0, por aficio de 20 de dezem-ro de 2012, a 423 SCTENTIA IVRIDICA conseguinte, da consagrago do prinefpio actor sequitur forum rei, o qual visa asse- gurara protecdio legal das pessoas domicitiadas na Unido Europeia®. Aluz do principio da perpetuatio fori, aquilo que releva é que 0 domicilio do réu seencantre fixado no territério da Unido Europeia no momentoem quea aco 6 proposta, sendo irrelevantes quaisquer alteracées posteriores de domicitio®. Se o autor desconhecer o domicilio atual doréu, designadamente se o mesmo tem domicilio dentro ou fora do territétio da Uniao Europeia, o Reg, 1215/2012 sera aplicavel se o tiltimo domicilio conhecido do réu se situar no territ6rio de algum dos Estados-Membros da Unido Europeia®. Sendo a competéncia fixada em funcdo do domicilio do réu, o Reg, 1215/2012 nao permite a aplicacao da teoria do forunt non conveniens, tradicionalmente ado- tada nos paises da common law, segundo a qual um tribunal pode declinar a sua jurisdicao para conhecer um determinado litigio se considerar que um tribunal de uma outra jurisdigao esta em melhores condicdes para canhecer esse mesmo jo 29, Outro aspeto que importa salientar é que 0 critério do domicitio do réu é apli- vel mesmo nas casos em que o demandade, apesar dese encontrar domiciliado num determinado Estado-Memtbro, nao tenha a nacionalidade desse Estado. stia decisdo de aplicar o Regulamento (UF) n° 1215/2012, 0 que significa que 0 dispositive deste Re- gulamento sera aplicado as relagées entre a Unigo Furopeia e a Dinamarca' [Jornal C ficial da Unio Funopeia JOU) 79, de 21/3/2013, p. 4. 9 PrreR Sten, FU Private international La, city p.53, Cf. no mesmosentide, GERNCT BIEELER, Procedures in International Lac, Dulin, Springer, 2008, p. 117, bem como Gerst Van CatetrR, Firopcart Private Titernatinl Law, Bloomsbury Publishing, 2013. OMICUFL TRIXFIRA CE SOLEA/DARIO MOURA VICENTE, Cémentrio @ Concencio de Brunelis de 27 de Setembro de 1968, ct, p.25. © Vade,sclre esta problemstica, 0 Ac. do TUE de 17/11/2011, proc. C327/10 (Hypotecn barka s Udo Mike Lindner). 51Uuracr Macints etal, urcean Conmnentarieson Private Itertaticnal Lao — Brussels TRegulaticn, city pp. 71e72. €9 A este prepesite, assume panticular destaqueo Ac. do TILE de 1/3/2005, proc. C281 /C2 (Andrew Owns ts N. B. Jackson}, no qual se deci que um égfo jurisdicional de um Estado centratantendo, ‘pode dectina a competéncia que Ihe 6 cenfetida peloctitério geral do demicitio doxéu “por censiderar que um é1gao jurisdicionall de um Estado nao contratente é um foro maisadequado para carrhecer do Titfgio em causa, mesmo que a questo da competéncia de um érg20 jurisdicienal de auto Fstado cane tratantendo se coloque cu que esse litigio nao tenha qualquer nexo ccm auto Fstado centratante”. © Vide aeste prepéeito, RCPERIO BAKATIA, Ditto Internazionale Private, Giutfe Fitere, 2010, p. 342. as 424 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. Com efeito, oart. 42, n°, estabelece o principio da equiparacio, segundo o qual as pessoas domiciliadas num Estado-Membro, que nao pessuam a nacicnalidade desse Estado, ficam sujeitasas regras de competéncia internacional aplicaveisaos nacionais desse Estado. Contudo, como veremos i fia, mesmo que o réu tenha o seu domictlio ou sede num determinado Estado-Membro da Unio Europeia, este pode, ainda assim, ser demandado num outro Estado-Membro, quando se verifique alguma das regras especiais de competéncia previstas nos arts. 7° e segs. ou quando esteja em causa alguma competéncia de natureza exclusiva (art. 24) ou canvencional (art. 25.9. Havendo pluralidade de réus,o art. 8. permite que uma pessoa domiciliada num determinado Estado-Memibro seja demandada peranteos tribunais do(s) Es- tado(s)-Membro@) onde os demais réus tenham o seu domicilio, desde que os pe- didos, ainda que tenham por base fundamentos juridicos distintos®, estejam ligados entre si por um nexo tao estreito que haja interesse em que sejam instrui- dos e julgades simultaneamente para evitar decisdes que poderiam ser inconci- Tidveis se as causas fossem julgadas em separado™, ou seja, desde que, nocaso em cancreto, se verifique uma “conexao subjectiva’®. 2.3.1.2. Réu nao domiciliado na Unido Europeia Seo réu nd tiver o seu domictlio ou sede num Estado-Membro da Unizio Eu- ropeia, em principio o Reg, 1215/2012 nao pode ser aplicado, atenta a circunstan- cia de nao se encontrar preenchido 0 seu ambito sutjetivo™. Nessa eventualidade, a competéncia internacional para o canhecimento do litigio sera definida pela lei 29 Ci, nesse-sentide, 0 Ac. do TIDE de 11/1C/2007, proc. C-98/06 (Frecport pleas Clie Amal) =) vide a este respeite, 0 Ac. do BGH [Thitunal de Justiga Federal da Alemanha] de 27/9/2613, proc. 232/10, disponivel in cre jure 9 No sentido deesta dsposicdo nao seraplicavel a seccao5 do regulamento, referente acompe- {éncia em matéria de centrates indlividuais de trabalho, vide a centerca da CSCI. cle 22/8/28, in ‘wrucacortedicassazioneit. MIGUEL TEDMETRA LE SCUEA /DARIO MCURA VICENIE, Camentéviodl Cerengao de Bruxelas ce 27 de Setembro de 1968, city p. 9% Vide, aeste prepesite, Kur Sieue, “Private International Law”, in Inecuction to German Law, Kluwer Law Internaticnal, 2005, p.340, que ressalva a possibilidade de, mesmo assim, poder ser ayli- ccaclaa Convengaio de Lugano de 2007. 425 SCTENTIA IVRIDICA interna do Estado no qual foi propasta a acao. No caso portugués, a competéncia internacional seré regulada pelo disposto nos arts. 62°, 63.° au 94° do CPC. Esta regra 6, no entanto, suscetivel de gerar desequilibrios entre os diferentes Estados-Membros, designadamente em matéria de concarréncia, Isto porque, se ‘um determinado Estado-Membro cansagrar, a nivel interno, normas mais prote cionistas para os seus cidadaas e empresas (isto 6, normas que permitam eleger mais facilmente o seu foro em caso de canflito internacional) comparativamente com um outro Estado-Membro, os cidadios e as empresas daqueke primeito Estado sentir-se-do mais confiantes em estabelecer relagdes pessoais e cometciais com os cidadias ¢ empresas de outros Estados, ja que sabem que, em caso de conflito, po derdo intentar a competente acao judicial junto dos tribunais do seu damicilio®. Ora, o Reg, 1215/2012 procurou, por contrapasicgo ao Reg. 4/2001, atenuar exse desequilibrio, Assim, nos termos do art. 6°, 1°11, estando em causa um litigio em matéria de consumo (aco proposta pelo consumidor contra 0 vendedar/pres- tador deservico) ou um litigio em matéria de tratalho (acdo propesta pelo trabalha- dor ccntraoempregadar), aacio pode ser propostanos tribunais do Estado-Membro do damicilio do consumidor ou nas tribunais do Estado-Membro onde o trabalhador tenha prestado asua atividade, mesmoqueo réu tenha oseu domicilio cu sede num Estado terceiro®, Esta regra constitui uma importante inavagio do Reg, 1215/2012, jé que, aluz do Reg. 44/2001, ndo tendo o réu oseu domicilio ou sede na Unio Eu- ropeia, o regulamento, em principio, nao podia ser aplicado, sendo a competéncia internacional fixada a luz do direito interno de cada Estado-Membro. Por outro lado, mesmo que 0 réu no tenha o seu domicilio ou sede na Unio Europeia, ainda assim é aplicavel o Reg. 1215/2012 na eventualidade de estarem causa uma matéria em relagaoa qual os tribunais dos Estadas-Membros da Uniao Europeia tenham competéncia exclusiva (art. 24.°) ou se as partes tiverem cele- brado entre elas um pacto positive de jurisdicao, por via do qual atribuam aos 9 Vide, aeste prcyesitc, Reporton the Application cf Regulation Brussels Tin the Meniter States (Stuy T1S,C4,200E 43), Ruprecht-Karls-Universitit Heidelberg, sctembro 2007, pp. 76 € 77, in eceuropae/ civijustic rewsp does Steuty_spplication russel Tens No sentidodeesta dispesigio legal favorecer a protege des censumideres no ambito deope- ‘acts contratuais ou de marketing realizadasatravés da internet, vide DAN JERKERSVANTESEON, Private Internaticral Law and ibe Internet, Alphenaan den Rijp, Kinwer Law International, 207, p. 212. 426 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. internacional unais de um Estado-Membro da Uniio Europeia competénci para dirimirem um litigio plurilocalizado (art. 25). 232. Critérios especiais de competéncia Mesmo que o réu tenha 0 seu domicilio num Estado-Membro da Uniao Euro- Peia, este pode, ainda assim, ser demandado nos tritunais de um outro Estado- -Membro se, no caso em concreto, se verificar alguma das regras especiais decom- peténcia previstas nos arts. 7. a 25.° do Regulamento. De facto, conforme se extra do preambulo do Regulamento, “[o] foro do domicilio do requerido deve sercom- pletado pelos forosalternativos permitidos em razo do vinculo estreito entrea ju- risdigio eo litigio ou com vista a facilitar uma boa administragio da justica”®, Note-seque, estando simultaneamente preenchida a regra geral do damicilio do réu euma regta especial decompeténcia, a regra especial nao derroga a regra geral. Diversamente, verificando-se, no caso em concreto, algum critério especial decam- peténcia, 0 autor tema possibilidade de escolher entre propor a aco nos tribunais do Estado-Membro do domicilio do réu ou nos tribunais do Estado-Membro que 2jam competentes 4 luz desse critério especial, ou seja, a competéncia desses tribu- nais 6altemativa®™, Isto a nao ser que, no caso em cancreto, se verifique alguma si- tuagio de competéncia exclusiva (art. 24.9 ou convencional 25:9, as quais afastam os ctitéries gerais ¢ especiais de competéncia. Ocatrendo essa passibilidade de es- colha do foro, estamos perante uma situaciio de forum shepping®. 2.3.2.1. Competéncia em matéria contratual ‘Em matéria contratual, isto é, quando esteja em causa “uma obrigacao juridica livremente consentida por uma pessoa para com outra ena qual se baseia a acaio © Cf, aeste propisite, LAiOKicekés, "Euopean Unicn legislation and private intemational law: a view ficm Hungary’, in Rescling Tifertional Co flcis: Liter Amicon Tiber Véhady, Budapeste, CEU Press, 2009, p. 178. "29 Vide, no mesmo sentido, PETER SicNE, FLI Private hnternational La city p.27. Chr, aeste prepésite, MIGUEL THNERADESOLEA, A Con geténcia Declaraticia des Tritunaés Camus, city p44, bem como FsreRaN7a CATELLANCS RUY, “Internaticnal private law problemsinthesccpe cf private enforcement af ccmpetition law”, cit, p.616. 427 SCTENTIA IVRIDICA do demandante”®, o art. 72, n.°1, alinea a), determina que a acao pode ser pro- posta perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser cumprida a obrigacaoem questio™"), Cam efeito, neste tipo de litigios, o legisladar europeu entendeu que “0 foro do lugar de cumprimento da obrigacao ndo $6 esta bem colocado para a conducao do processo camo também é aquele que, em regra, apresentaa canexdo mais estreita com olitigio"®. No queconcerne ao lugar do cumprimento da obrigacao, oart.7.°,n°1,alinea b), estabelece diferentes elementos de conexaio, consoante o litigio tenha por ot jeto um cantrato de compra e venda de bens cu um contrato de prestacio de servi- cos, Assim, se estiver em causa a celebracio de um contrato de campra e venda de bens, o lugar do cumprimento da obrigacao serd, na falta de estipulagao em contrario, o lugar num Estado-Membro onde, nos termos do contrato, os bens © Ac. do TJUE de 18/7/2013, proc. C-147/12 (OFAB, Cslergotlands Fastigheter AB os Frank Kact e Beergreen In Vide, na doutrina, HaNwu KoNka, “Jurisdicticn and EC Law: Less of or damage to goods’, in furisiction cau Farum Selection in Tnternationsd Maritime Law: Fssays it Hon cf Rébert Force, Haia, Kluwer Law Internaticnel, 005, p. 273. ©)Nosentido de esta nema ser aplicivelnescascs em quese pretende determinar qual.o tibunal {nteracionalmentecompetenteno ambito de uma agio prapesta pelo beneficiario de umalletra de came tio residenterum Fstado-Memtto da Unite Funopeia, contia oavatista dessa letra, residentenum cutto stado-Memtto da Uniao Furcpeia, ainda que essa letta terha sido preenchida postericrmente, cam ase num pacto de preenchimente, vid asentenga da CSCIt. de 14/3/2013, in wiincertencassazienest, © Quanto a aplicabilidade deste preceito legal mesmornes casos em quea aco tenha par abjeto aapneciagio da validade do contrat, vide AceiaN Briccs, The Cor jlict fas itp. 82. © Ac. do Tribunal da Relacao de Coimbra (TRO) de 5/12/2006, prec. 2/(48TBAVR.C1, in ‘ecwtwudgsipt. Vide, no mesmo senticlo, ALEXANDER BELCHLAVEK, Reme Carrcenticn ~Rame TRegulaticn, Junis Publishing, Inc, 2C11, p.28, segundo 0 qual esta regya especial de competéncia resulta da assun- Go da conexdo mais préxima cam certo tipo de cantratos. ©) A este propésilc, deciditrse no Ac. do Tritunal da Relacao de Lisbca (TRL) cle 17/12/2008, roc. 3599/2008, inaracadgsipt, que als expressces “bens” e’servicos” constantes daalinea f) do 11 do antigo 5do Regulamento resyeitam a tealidades cerpateas suscettveis de serem entregues, ou prestadas», «Tal ecmose decidiu no Ac. do Suptemo Thitunal de Justiga €T)) de 11/5/2006 prec. 060756, in ‘wccwaigsipt oestabelecimente, pelo legisladareunapeu, deste citério “pratico e factual” teve como ot~ jetivo principal “evitar as incorvenientes de ter de serecomer as tegrasde diteitointemacional privado do Fstado do fe10”, 1a780 pela qual “séna impessitilidadede se aplicar tal citério éque, raraencentrar a jurisdicaonacional campetente, se deverd fazer apelo ao lugar do cumrimento ~alineas) e) dore- ferido preceito ~quesexé determinado, eni@o, de accrdo cemasregras do dieitonternacional yrivadd”. 428 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. foram ou devam ser entregues“?. Havendo pluralidade de lugares de entrega num mesmo Estado-Membro, “o tribunal competente para conhecer de tados os pedidos baseados no contrato de compra e venda de bens 60 tribunal emcuja ju- risdi¢do territorial se situa o lugar da entrega principal, que deve ser determinado em fungao decritérios ecanémicos, Na falta de fatores determinantes para definir lugar da entrega principal, o autor pode demandar o réu no tribunal do lugar de entrega da sua escolha’”*®, iferentemente, seestiver em causa acelebragio de um contrato de prestacio de servigost, o lugar do cumprimento da abrigagao corresponde ao lugar num Estado-Membro onde, nas termos do contrato, as servicos foram ou devam ser prestados. Sendo o servico prestado em diversos Estados-Membros, “o tribunal ‘competente para conhecer de todos os pedidas baseados no contrato é 0 da juris- dicao onde se encantra o lugar da prestacao principal dos servigos”*. © Vid a€ste propesite, 0 Ac. do TIUEde 25/2/2010, proc. C381 /C8 (Car Trim Gank Fs Keys fly ‘Systems Sil), mo qual se decidiu que «{o}s contratos cup ck eto 6a entrega de bensa fakricarou.a pro- dir, mesmo que o comprador tena formulaco determinachs exipéncias relativas a obtengo, trans: fermagio e entrega dos bens, sem que ¢s materiais tenfiam sido por este fornecidos, e mesmo que © fexecedor seja reepensivel pela qualidade pelacenformidade do bem cem ocantrato, devem ser quae liticados de “venda de bers", naacecao doartigo 5° 1 alinea b), yrimeino travessic, doregutarento, artigo 9, n°1, alfneal), primeizo travessio, do Regularenton? 44/2001, relativo a cempetencia joe diciinia, aorecenbecimento ea execucio de decistesem maléria civil ecomecial, deveser nterpretado no sentido de que, em caso de venda a distancia, o lugar ende os bens foram cu devam ser enttegues, per ferca do centratc, deveser determinado com base nas dispesicies desse centrato.Se for impessivel determinar o lugar de entrega nessa kace, sem fazer referencia ao direito material aplicavel 20 contrato, cesselugaré oda entrega material dosbers, através da qual o cempradaradeuitiu cu deva ter adquirido © Foder de dispar efetivamente desses Lene, no destino final da cperacio de venda». ©) Ac. TIUE de 3/5/2007, proc. C286 /(5 (Color Drack Gnik Hs Lex Intemational Vertriets Gk). “49 Vide, a este vespeito, o Ac. do TIUE de 14/11/2013, proc. C465/12 (Krrjci Lager & Umscilag- letrets GintH vs Ollrich Transyart und Lagisth Git) no qual se deciciuique[o] artigo 5°, pento 1, linea E), segundo travessio, do Regulamenton’ 44/2001, relative a cempeténcia judiciéria a0 reco- rrhecimento e a execugao de decisces em materia civil e comercial, deve ser interpretadono sentido cde que um contrato dearmazenamento de mercadorias como o que esta em causa no Precesso prin cipal ccnstitu um centrato de prestago de services a acecdo dessa dispesicio”. 9 Ac, do TIUE de 11/2/20, proc. C-19/C9 (Wand Floor Solutions Andieas Doniterger Grit zs Sifea Trade SA). Nosentido de esta disposiaoser aplicivel mesmo nas cases em que ce verifiqueuma phuralidade de lugares de cumprimento da cbrigagso, vide a sentenga da CSCIt. de 3/5/2007, in ‘uaucacortedicassazioneit, bem como 0 ja citado Ac. do TIUE de3 /5/2007, proc. C286 /C5. ‘Com particular relevancia sobre esta matéria, importa destacar-0 Ac. do TJUE de9/7/2008, proc. C204/08 (Peter Reluler es Air Baltic Corporation), no qual se deciciu 0 seguinte: "O artigo 59,21, 429 SCTENTIA IVRIDICA Aspeto de particular importancia é 0 de saber se, tendo o litigio por abjeto 0 cumprimento da abrigacao de pagamento de uma quantia pecunidria, ainda que emergente de um contrato decomprae venda ou de prestacao de servicas, a aco pode ser proposta junto dos tribunais do lugar onde a obrigacdo devia ser cum- prida e nao perante os tribunais do lugar onde os bens foram entregues ou os ser ‘Vicos prestados™. A nossa jurisprudéncia tem respondido de forma contraditéria essa questao, Assim, em sentido afirmativo, importa destacar 0 acérdao do Tri- bunal da Relacio de Lisboa de 14/12/2010, proc. 985/09.1TVLSB.L1-7, no qual se decidiu que “[clonstando do cantrato que o pagamento dos créditos se realizara por meio de transferéncia banciria para as contas que ambas as partes comuni- quem,e tendo a autora indicado parao efeito uma conta bancaria domiciliadacm Lisboa, encontra-se preenchido o critério especial previsto na alineaa) don°1 do art. 5° do Regulamento, que remete para o tribunal do lugar onde foi ou devia ser cumprida a obrigacdoem questo”. Em sentido negativo, salienta-se 0 acérdao do Supremo Tribunal de Justica de 3/3/2005, proc. 05B31, no qual se sustentou que o art.5.°,1n.°1, alinea 4), do Reg, 44/2001 [correspondente ao atual art. 7.%, n.° 1 alinea a), do Reg, 1215/2012], “abrange, salvo convencao em contraric, qualquer obrigacéo emergente do cantrato de compra e venda, designadamente a de pa- gamento da contrapartida monetéria do contrato e nao apenas a de entrega da coisa que constitui o seu okjecto mediato.”. Por conseguinte, de acordo cam este allnea b}, cegundo travessio, do Regulamento n° 44/2001, relative a cempeténcia judiciénia, ao eco nnhecimento ea execusdiode cecisCes em matéria civil eccmercial, deve ser interpretado no sentido de que, em caso de transperte aéreo de pesscas de um Estado-Membno cam destino a outro Estado- Memo, ealizaco com tase num centrato celebrado com uma tnica companhia aérea que éa trans- pontadera operadera, 0 tritunal competente para canhecer de um pedido de indermnizacto baseado rresse contrato de tranepente e no Regulamento n.°261/2004, que estatelece regras ccmuns pata a in- demnizacio ea assislencia aos passageiras dos traneportes acrecs em caso de recusa deembarquee de ccancelamento cuatrasocensidensvel das woos e querevoga o Regulamenton® 295/S1, éaquele,aescclha cb requerente, em cto foro situa o lugar de Fattida cu o lugar de chegada do avide, tal como esses, ugares sto estipulades no referido centrato”. © Cf, quanto a esta problemitica, ACRIAN BRKCS, The Car flict ¢f Laas; ct p. 4. Com feito, como bem salienta este Autcr, ocritério do foro attigacicnal néo 6 satistatério nos cascs em que 0 autor da agao visa cbter © pagamento da contraprestagao, pois que, nesta hipétese, a cbxigacio que esta em causa 6a do pagamento do prego, sendo que esea cltigagio, na maicr parte das vezes, ndo {em qualquer conexao suticientemente forte ccm o lugar onde cs bens venclidos foram entregues ou. esservices foram prestades, 430 COMPETENCIA JUDICIARIA NA UNIAO EUROPEIA. aresto, “[o]s tribunais portugueses so internacionalmente incompetentes para conhecer da aco de condenagao envolvente de duas sociedades comerciais, uma portuguesa e outra espanhola, na qual a primeira pede contra a segunda o paga- mento do preco, que devia ser pago por esta aquela em Portugal, relativo a um contrato de compra de coisas que deviam ser entregues em Espanha.”. 2.3.2.2. Competéncia em matéria extracontratual Nas agdes que tenham por otjeto um litigio em matéria de responsabilidade civil extracontratual, 0 réu pode ser demandado perante o tribunal do lugar onde ocorreu ou podera ocorrer 0 facto danaso (art. 72, n° 2). Se olugar onde ocorreu esse facto nao coincidir camo lugar onde se verificou 0 dano, a acao pode ser instaurada nos tribunais do lugar ande se verificou 0 dano9), No sentido de este regime ser igualmente aplicavel a uma agio declarativa de simples apre- cacao negativa, por via da qual se “requer que seja declaradaa inexisténcia de responsabilidad ex tracontrattal”, vide 0 Ac. do TIUE de 25/16/2012, proc. C-123/11 (Fallen Fischer AG, Fufitee AG ts Ritrana SA). “©MIGUFL TeDXEIRA DE SCUEA/DARIO MCURA VICENTE, Catentiving Corencio de Brucelas de 27 de Setembro de 1968, cit, p.22. A este respeito, decidivese no Ac. do TIUE de 16/1/2014, pice. C48 /13 (Andieas Kaine 0s Fanthercerke AG), que 0 “att. 5°, n23, do Regulamento (CE) n? 44/2001 de 22 de dezemino de 2000, relativo a cempeténcia, ao recemhecimento e a execugao de decisées em materia civil e ccmercial, deve ser interpretado no sentido de que, no caso de respenesabilidace de um fat cante de um produto defeitueso, 0 lecal do evento causader do dano é o local onde o produto foi fa- Tricado.”. Diversamente, no Ac. do TIUE de 16/7/2009, proc. C-189/08 (Zine CHentie BV es Fhlippo’s Miner fatrick NV/SA),ccnsidercu-se que o] antigo 5°, n°3, do Regulamento (CE) n° 44/2001 do Conselho, de 22 de dezembro de 2000, relative a competéncia judicira, ao recemhecimento ea exe- cugdo de decisies emmatéria civil ecomercial, deve ser interpretado no sentido de que, noambito de um litigio como ono precesso principal, os termes “higar ende ocorreu o facto cameo” designam o ugar onde-o dano inicial surgiu devido a utlizagionermal do produto para osfinsa quese destina». © Aeste propésite, assume particular relevancia o Ac. do TJUE de 3/16/2013, proc. CA7C/12 (Peter Pinckney vs KDG Mediated AG), a respeito de um dano emergente da violagao de diteites de autor mediante a colecagio de contedices protegidos na infernet. Assit, de acetdo com o referico axesto, fc] artigo 5.523, do Regulamento (CE) n° 44/2001 do Concelho, de 22 de dezembro de 2000, relativoa competéncia judicistia, ao recanhecimento ea execugio de decistes em matétia civil eco- mercial, deve ser interpretado no sentido de que, em caso de litigio relativo a uma alegada violago dh diteito exclusive de distrituigdo por via da colocacao a dispcsigio em linha desupcrtes material que reproduzem um conteudo prctegidoper direito deauter cu do diteito exclusive de comunicagao 431 SCTENTIA IVRIDICA Oconceito de“ responsabilidad civil extracontratual” tem vindo a ser inter- pretado de forma subsidiéria em relagao ao canceito de “responsabilidade civil contratual’” canstante do art. 7.°,n21, Assim, canfarme se decidiu no Ac. do TUE de 18/7/2013, proc. 147/12 OEAB, Ostergétlands Fastigheter AB us Frank Koot e Evergreen Investments BV), “[o] conceito de matéria extracontratual na acegao do artigo 5°, ponto 3, do Regulamenton.° 44/2001, relativoa competéncia judiciaria, a0 recanhecimento e a execugao de decissesem matéria civil e comercial, abrange qualquer aco que tenha em vista por em causa a responsabilidade do demandado ¢ que nao esteja relacionada com a matéria contratual na acegao do artigo 5°, ponto 1, alinea a), desse regulamento”€. Por cutro lado, sobre o que se deva entender por “lugar onde ocorreu ou po- dera ocorrer 0 facto danoso”,o TJUE tem vindo a considerar que esse lugar tanto abrangeo lugar onde se verificou 0 evento causal, como aquele onde se verificou facto danaso, Com efeito, aquilo queé relevante é que exista uma farte ligacso pela colecago em linha de um conteudo imaterial, a pessca que se considera lesacka pode intentar ‘uma agiono tritunal do lugar ende se situa o estabelecimento das pessoas que procederam a colocaga0, a dispesicao em linha das discos ccmpactos (CD) ou a celecagao em linha dos contetides a fim de obter a reparacio integral do seu dano, ou nas jurisdigoes do Fetade-Memxo para ande o sitio em «causa diteciena a cua atividade,a fim de obter a reparagao do dano causado nesse teritério.” Sobre a mesma problematica, 0 Ac. do TJUE de 22/1/25, proc. G-AS1/13 (Pez Hejcuk ts Energi Agentur NRW Grid), decid que "[o] artigo 5%, ponto3, do Regulamento (CE) n’ 44/2001 do Caneelha, de 22.de dezembro de 2000, relative a campeténcia judiciaria, a0 reconhecimento e a execuigao de decisoes em matéria civil e ccmercial, deve ser interpretado no gentido de que, no caso. cde uma violago alegada dos dieites de autor e des cieites canexos cem o direito de autor garantides elo Fxtado-Membro do cago jurisdicional chamado a decidir, este ¢ competente, a titulo do lugar da matetiatizagao do dano, para conhecer de uma acéo fundada em respancabilidade pr vielagao esses dlneitas em virtude da colecacio em linha ce fctegratias protegidas mum sitiona internet aces= sivel na sta jurisdicao. Fase érgfo jurisdicional s6 écempetente para conhecer do dano causado no {erzitério do Ftadlo-Membioem quese encentra/”. © Vuk, a este respeito, 0 Ac. do TIUE de 1/10/2002, proc. C-167 /CO (Verein itr Konsuamertenine Jormution ss Kavl Hein Henkel) no cual se decidiuiquese encuada no ambitode um litigioem materia de responsatilidade civil extaccntratual a ago “intentada per uma ascociagao de protecao dos cane sumicores com vista a fazer prcitir a utilizagdo por um cemerciante de cliusulas consideradas abu- sivae, em centrates com particuleres” ©) Vade,a este propsite, 0 Ac. do BGH de 24/9/2014, disponivel in gper jane. Interpretando esta nctma de ferma restitiva, impatta salientar 0 Ac. doST} de 3/3/25, proc. 4283/04, in acvcacigsipt, com o seguinte sumitio:

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