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WARBURTON, Vag hh, O Levnieo da. filrrofr A = Ran de tama: fre” Bbperfuce, eck. Capitulo 4 O mundo externo ‘Nosso conhecimento bisico do mundo exzerno nos chega através dos cinco sentidos:visho, audigdo, rato, olfato © pa- Jadar, Para a maioria de nds, o sentido da viséo desempe- "nha o papel-chave. Sei como €0 mundo fora de mim porque consigo vé-lo. Se me sinto inseguro quanto a se 0 que vejo realmente existe, geralmente posso estender a mo e tocé- lo, para ter certeza, Seique caiu uma mosca na minha sopa porque posso vila e, xe necessério, tocé-la e até provécla. ‘Mas qual éa relagSo precisa entre o que acho que vejo eo que estd de faco diante de mim? Posso algum dia ter certeza sobre 0 que existe af fora? Eu poderia estar sonhando? Os objetos continuam a existir quando ninguém os estd observando? Em algum momento eu tenho experitncia di- reta do mundo externo? Essas so todas perguntas sobre como adquirimos conhecimento do que nos cerca; perten- cem ao ramo da filosofia conhecido como teoria do conhe- cimento ou epistemologia. EE (0 BASICO DA FILOSOFIA Neste capftulo, examinaremos muitas quest6es epist- ol6gicas, concentrando-nos em reorias da percepsso. Realismo do senso comum Realismo de senso comum é uma posicdo adotada pela aioria daquelas pessoss que ndo estudaram filosofia. Essa posigdo (ou ponto de vst) pressupbe que existe um mundo de‘objecos fsicos — casa, Arvores, carros, peixinhos dou- rados, colheres de cha, bolas de futebol, corpos humanos, wvros de filosofia, e assim por diante — sobre o qual pode- mos aprender diretamente através de nossos cinco sentidos Eases objetos fsicos continuam a existir, quer os exejamos percebendo ou nao. E, mais, esses objetos sio mais ou me rnos como nos parecer: peixinhos dourados séo realmente alaranjadcs e bolas de furebol séo realmente esércas. Iso porque nostos érgios de percepcto sensorial — olhos, our vidos, lingua, pelee nariz — sfo de um modo geral confide js, Bles nos do uma apreciagéo realista do que realmente existe af fora. Entretanto, enquanto € possivel passar pela vida sem questionar as pressuposigSes do sealismo do senso comura excepcio sensorial, esse ponto de vista nfo é sa~ realismo do senso comum nio resiste bem a argumentos cétic lade dos sentidos. Examinaremos aqui varios argumentos céticos que pare- cem derrubar o tealismo do senso comum, antes de pas- sara examinar quatro teorias da percepco mais sofsticadas realismo representativo,idealismo, fenomenalismo e rear lismo causal. © MUNDO ExTERNO Ceticismo sobre a evidéncia dos sentidos O cftico eré que nunca podemos saber algo com ceguran- a, que existe sempre alguma base para se duvidar até mes- mo de nossas conviceSes mais fundamentals sobre o mundo. Argumentos céticos em filosofia tentam demonstrar que nossos meios tradicionais de descobrir 0 mundo nio sio confiéveis e no nos garantem conhecimento do que real- mente existe. Os argumentos ofticos das se66 baseiam-se nos argumentos de René Descartes na primeira de suas Meditagées. © Argumento da !lusdo Argumento da Iluséo é um argumento cético que ques- tiona a confiabilidade dos sentidos, ameagando derrubar 0 realismo de senso comum. Geralmente confiamos em nos- sos sentidos, mas hd momentos em que eles nos enganam. Por exemplo, a maioria de né: eve a constrangedora x- periéncia de reconhecer um amigo & distincia, para desco- brir depois que estava acenando para.uum compleco estranho. Uma vareta reta, quando parcialmente imersa em égua, pode parecer dobrada; uma magi pode ter gosto amargo quando voc? acaba de comer algo muito doce; vista de im certo Angulo, uma moeda redonda pode parecer ovals :ti- Ihos de estrada de ferro parecem convergir ao longe; 0 ca lor forte pode fazer a estrada parecer que esté se mexendos © mesmo vestido pode parecer vermelho sob luz fraca € escarlate luz do sol; lua parece tanto maior quanto mais baixa estiver no horizonte. Estes e outrasilusbes sensoriais semelhantes mostram que os sentides nem sempre sfo de (© BASICO DA FILOSOFIA todo confiéveis: parece improvavel que o mundo externo seja como parece ser. (© Argumento da Iusio reza que, como nossos senti- dos &s vezes nos enganam, nunca podemos ter certeza de que eles nfo estio nos enganando em um determinado mo- ‘mento, Esse argumento é ético porque contesta nossa con vicglo coridiana— 0 reli nossos sentidas nos proporcionam 0 conhecimento do mundo. 10 do senso comum — de que Criticas ao Argumento da Ilusao. Graus de certeza Embora eu possa me enganara respeito de objetos vistos & distancia, ou sob condig6es incomuns, certamente existem algumas observages a cujo respeito eu nfo posso ter qual- quer david rezodvel. Por exemplo, nfo posso duvidar se- riamente de que agora estou sentado & minha mesa de trabalho, escrevendo isto, deque tenho uma caneta na mao ede que hi um bloco de papel & minha frente. Do mesmo modo, nfo posso duvidar seriamente de que estou na In- elaterra, em vez de, por exemplo, no Japfo. Hé alguns ca- sos incontroversos em que a percep¢do nos faz aprender 0 conceito de conhecimento, £ s6 porque temos esse antece- dente de casos de conhecimento que podemos duvidar de ‘outras convicyGes: sem esses casos incontroversos nfo terfa- mos qualquer conceito de conhecimento, nem teramosalgo com que contrastar conviogSes mais duvidosas. Contra este ponto de vista, umm cético salientaria que eu poderia muito bem estar errado a respeito do que pare (© MUNDO EXTERNO cem ser instincias de conhecimento seguro: ea sonhos, eu posto ter achado que estava acordado escrevando, quando na verdade estava na cama, dormindo. Entfic como posso dizer que nfo estou sonhendo que estou escreendo? Como posto dizer que nfo estou deitado, dorminds, em alguma parte de Téqui6, sonhando que estou acorddo na Ingla- rerra? Eu certamente jé tive sonhos mais estraihos que este. Brisce algo na experincia do sonho que posa distingui-la conclusivamente da experiéncia de estar des;erto? Seré que esteu sonhando? Nao posso estar senpre sonhando Nio faria sentido dizer quea minka vida inzira ¢ um so- rho, Se eu estivesse sonkando o tempo todozn:fo eu nfo teria 0 conceito de um sonho: néo zeria con © que con- trastar o sonho, uma verque nio teria 0 corceito de estar acordado. $6 podemos ver 0 sentido da idéis de uma nota falsificada quando existem notas genufnas 2om as quais compari-las; semelhantemente, a idéia de am sonho sé faz sentido quando podemos compard-la com 2 vida des- perma, Isto é verdade, mas nfo destebi a posigacdo cftico. O que o cético esté dizendo nfo é que poderfenos estar so- nando o tempo todo mas, em vez disso, que @ qualquer dado momento néo podemos saber com seguransa se ‘estamos ou nfo realmente sonhando. as (© BASICO DA FILOSOFIA Sonhos séo diferentes Outra objesto & idéia de que eu poderia estar sonhando queexcou excrevendo é que aexperitncia dossonhos¢ muito diferente da experitneia da vida desperta, e que podemos na verdade dizer se estamos ou nfo sonhando através do exame da qualidade da nossa experiéncia, Sonhos envolvem muitos eventos que seriam impossiveis na vida desperta; néo costumam ser to vividos quanto a experiéncia que se tem acordedo; podem ser nevoentos, desconjuntados, impres- sionistas, bizarz0s, ¢ assim por diante, Além disso, 0 argu- mento cético apéia-se na capacidade de distinguir sonhos da vida desperta: de que outro modo eu iria saber que as veves sonhei que estava acordado, quando na verdade estar ‘va dormindo? Essa lembranga s6 fara sentido se houvesse tum modo de distinguir qual experincia era a de vigilia e qual era de um sonho em que se estd acordado, A fora dessa réplica depende muito da experiéncia de sonhos do individuo. Os sonhos de algumas pessoas po- dem ser espantosamente diferentes da vida desperta. Ea- retanto, sempre hé sonhos indistinguiveis da experiéncia cotidiana, ea experiéncia de algumas pessoas da vida des- perta, particularmente quando sob a influéncia de élcool ou outras drogas, pode ter uma forte qualidade ontrica. Da ‘mesma maneira a experidncia do falso despertar — quan- do o sonhador sonha que acordou, saiu da cama, vestiu-se, tomou café da manhi, essim por diante—é relativamente comum, Eniretanto, nesses casos, 0 sonhador geralmence no questiona se esta é ou nfo a vida desperta, Habitual- mente, é s6 depois de acordar que a pergunta “Estou so- nhando agora?” torna-se relevante. Waal (© MUNDS EXTERNO Impossivel perguntar “Estou sonhando?” Pelo menos um flésofo contemporineo, Norman Malcolm. (1911-1990), afirmou que 0 conceito em side sonhar tor- na logicamente impossivel fazer a pergunta “Estou sonhan- 462” durante um sonho. Questionat-se implica que a pessoa que pergunta esté consciente, Mas, Malcom sustentava, quando sonho, por definigdo, no estou consciente, uma ‘ver que estou dormindo. Se nao estou dormindo, nfo pos- so estar sonhando. Se posso fazer a pergunta, no posto estar dormindo, ¢ endo nfo posso estar sonhando. Posso ape- nas sonhar que estou fizendo a pergunta, ¢ isso nio €0 ‘mesmo que autenticamente fazé-la, Entretanto, pesquisas sobre sonhos mostraram que muitas pessoas vivenclam diferentes nfveis de consciéncia durante o sono, Algumas tém 0 que é conhecido como so- hos hicidos. Um sonho licido é aquele em que o(a) sonba- dor(a) toma consciéncia de que esté sonhando, eno entanto continua a sonhar. A existéncia desses sonhos refura a idéia de queé impossivel estar tanto sonhando quanto consciente a0 mesmo tempo. O erro que Malcolm cometeu foi rede- fini “sonhar” de tal modo que o termo nio significava mais co que geralmente se entende por ele. £ uma visio simples demais de um sonho dizer que ele & necessariamente um estado nfo consciente, Alucinagéo ‘Mesmo que eu nao esteja sonhando, posso estar tendo uma alucinagio. Alguém pode ter posto uma droga alteradora da consciéncia no meu café, de miodo que eu pareso ver 145 BASICO DA FILOSOFIA coises que néo existem, Talvez eu nio tenha de fato uma caneta na mio, talvez eu néo esteja realmente sentado em frente a uma janela em um dia de sol. Se ninguém botou 1SD no meu café, talvez eu tenha chegado a um estado tZ0 grave de aleoolismo que comeso a ter alucinagées. Encre- tanto, embora isso seja uma possibilidade, é altamente improvével que eu pudesse levar minha vida facilmente, Sea cadeira em que estou sentado & s6 imagi- ndria, como é que sustenta o meu peso? Uma resposta para isto é que eu poderia estar tendo a alucinasio de esta sen- tado, s6 para comesar: eu poderia achar que estou me deixando cair em uma poltrona confortive, quando na ver- dade estou deitado em um chio de pedea, tendo acabedo de tomar uma droga alucinégena ou de beber uma garrafa tei de Pernod. (Cérebro em um vidro? Avversio mais extrema desseceicsmo sobre o mundo ex- temo ¢ minha relagio com ele é imaginar que néo tenho corpo algum. Tudo que eu sou é um cérebro flutuando em uma cuba de vidro cheia de produtos quimicos. Um cien- tista “maluco” conecrou o meu cérebro de tal modo que eu tenhoa ilusio da experiéncia sensorial. No que me diz res- Peito, posso me levanrar e caminhar até as lojas, para com- Prar um jornal. Entretanto, nada disso é real: o cientista stimula certos nervos em meu cérebro para que eu tenha ssa ilusio, Toda a experiéncia que eu creio receber pelos meus cinco sentidos ¢ de fato resultante dos est{mulos. desse cientista “maluco” em meu eérebro desincorporado. Com essa méquina de experigncia, ocientista pode provocar em © MUNDO exteRNo sensorial. Por meio de uma comn- wulo dos nervos de meu cérebro, 0 sta pode me dar ailusfo de que estou assistindo & te- leviséo, correndo uma maratone, escrevendo sum livro, co- mendo uma massa italiana... Esta exagerada quanto pode parecer: do experitncias com oestfmulo por computadores, conite- cidas como ‘méquinas de realidade vireual A histéria do cientista maluco é um exemplo do que 0s fil6sofos chamam de uma experiéncia de pensamento. Essa ¢ uma situacio imaginéria descrita para nos escla- recer alguns de nostos conceitos e pressuposiges do co- tidiano, Em uma experiéncia de pensamenzo, como em uma experiéncia cientfica, pela eliminaséo de detalhes complicados e pelo controle do que acontece, o fil6sofo pode fuzer descobertas sobre os conceitos investigados. Nesse caso, a experiéncia de pensamento tem a intengio de demonstrar algumas de nossas pressuposig6es sobre as causas de nossa experiéncia. Existe algo em minha expe- ritncia que demonste que meu pensamento néo fornece tum quadro verdadeiro da realidade, ou que eu nao sou simplesmente um cérebro em um vidro no laboratério de tum cientista maluco? Memiéria e légica Emboraa iddia de que eu possa ser apenas um cfrebro em. um vidro pareca uma forma extrema de ceticismo, na ver- dade ainda h4 mais pressuposig6es a serem postas em diivida, Todos os argamentos que discutimos até agora pres- supGer que a meméria é mais ou menos confidvel. Quando a7 (© BASICO DA FILOSOFIA dizemos que nos lemibramos da confabilidade de nossos sentido, pessupomos que esis lembrancas sejam realmente lembrangas, nfo apenas produces de nossa imaginasio 08 de pensamento ut6pico. E todo argumento que usa pala- ‘ras pressupSe que nos lembremos corretamente do sgni- ficado das palavras usudas. E, no encanto, a memétia, como todo testemunho de nossos entidos, énotoriamente incon Ravel. Assim como toda a minha experiéncia ¢ compativel ccom a idéia de que poderia ser um cérebro em um vidro cendo estimulado por um cientista maluco, assim também, como Bertrand Russell (1872-1970) destacou, ela € com- pativel com a idéia de que o mundo poderia rer comecado ‘existiccinco minutos ards, com todo mundo nele possuin- do suas “memérias’intactas, todos relembrando um pas- sado totalmente irra. Entretanto, se comegarmos a questionar seriamente & confisbilidade da meméria, comamos qualquer comunica- se nfo podemos pressupor que nossas lem brangas dos significdos das palavras sio de um modo geral confiives, entio no hé maneira pela qual possamos se- quer discutir 0 ceticismo. E também poderia ser plausi- vyelmente afirmado que a experiéncia de pensamento do cientista maluco manipulando o cérebro em um video jé introduz um ceticismo sobre a confiabilidade da meméria, uma vez que presumivelmente esté dentro do poder desse nosso atormentador nos fazer acreditar que as palavrassig- nificam o que ee deseja que signifiquem. ‘Umm segundo tipo de pressuposigio que os ftios rarte mente colocam em divide éa confabilidade da ldgica. Se 198 chticos colocassem em questio se a légica ¢ realmente tr (0 MUNDO ExXTERNO ‘confidve, isso solaparia sua prépriapo: argumentos que se apéiam na log contradizer a si mesmes. No entanto, se eles usam argu rentos ligics par provar que nada estdimune & ddvida, isso significa que seus préprios argumentos Iégicos podem io valer. O proprio fato de usarem argumentos os des- niente, & que se valem de algo que, para ser consistente teriam de considerar incerto. : Entretanto, essas objegdes nfo contestam 0 Argumen- to da llusio, mas apenas sugerem que o ceticismo te ites; hd algumas suposig6es que até mesmo um ; 2 cktico radical tem de fazer Penso, logo existo Seé assim, nfo haveria coisa algumna sobre a qual ter certe- za? A resposta mais famosa e mais importante a essa per gunta cética foi dada por Descartes. Ele afirmou que, mesmo que toda a minha experiéncia fosse 0 produto de alguém ou algo me enganando deliberadamente— ele usou a idéia de um dem8nio perverso em ver da idéia de um tista maluco—, 0 proprio fato de que eu estava sendo ludido me mostraria alguma coisa certa. Isso me mostra- ria que eu existo, uma vez que, se eu nfo existisse, nada haveria para o enganador enganar. Este argumento costu- maser conhecido como Cogito, do latim Cogito ergo sum, que “Denso, logo existo”. (© BASICO DA FILOSOFIA Critica ao Cogito Algumas pessoas acharam o argumento do Cogito convin- cente, Eno entanto, suas conclusdes séo extremamente li- mitadas. Mesmo que aceitemos 0 fato de que eu de codo estou pensando porque exsto, isso nada diz sobre o que sou, fora uma coisa pensante. De fato, alguns fldsofos, incluindo A. J. Ayes afirma- ram que até mesmo isto vai longe demais. Descartes errou por ter usado a expresso “eu penso”: se ele quisesse ser con ente com suz abordagem cética geral, deveria ter dito ‘hd pensamentos”. Ele estava fazendo a suposigio de que, se existe pensamentos, deve haver um pensador. Mas isto . Talvez 0s pensamentos pudes- pode ser posto em divi sem existr independentemente de pensadores. Talvez s¢j 36 0 modo como nossa lingua é estruturada que nos leva a acreditar que todo pensamento necessita de um pensador. ( “eu” em “eu penso” pode ser 0 mesmo tipo de sujeito da expressio “chove”, ou “estd chovendo”, que no se referea ninguém ou a coisa alguma. Realismo representativo é cobrimos um longo caminho desde que consideramos a posigéo do realismo do senso comum. Percortendo os ar- gumentos céticos sobre os sentidos e sobre a questio de se poderfamos estar sonhando, vimos o Ambito ¢ os limices desse tipo de duvida filosbfica, Nesse processo, descobri- mos algumas das limitagées do realismo do senso comum. Em particular, o Argumenco da Husio mostrava que a pres- suposigdo de que os sentidos quase sempre nos do infor- Fen) (© MUNDO EXTERNO magio verdadeira sobre a natureza do mundo externo é implaustvel. O fato de que nossos sentidos podem muito facilmente nos enganar deveria ser suficiente para reduzir nssa confianga na consideracio de que os objeto: fo como parecem. Realismo ‘representative € uma modificagio do realis- ‘mo do senso comum. Chama-se repretentativo porque su- gere que toda percepeio € resultado de uma consciéaciade representagdes incernas do mundo externo. Quando vejo uma gaivota, no a vejo diretamente do modo come o rea- lismo do senso comum sugere. No tenho contato sensorial direto com a ave. Em vez io é uma representacio mei interna da gaivota. Minha experitncia visual nao é direta- ‘mente da gaivota, embora causada por ela, mas em vez dis- s0 6 experiéncia da representagio da gaivota que meus sentidos produzem. O realismo representative fornece uma resposta a obje- $6es levantadas pelo Argumento da Iluso. Peguem oexem- plo da cor. O mesmo vestido pode parecer muito diferente quando olhado sob luzes diferentes, mostrando cores que variam do escarlate 20 preto. Se examindssemos as fibras do seu tecido mais atentamente, provavelmente descobri- rlamos que séo uma mistura de cores. Como isso € perce- bido também dependerd do observador: 0 dalt8nico poderia muito bem vé-lo de modo diferente de como cu o vetia. Diante dessas observagSes, nio parece fazer sentido dizer que o vestido realmente é vermelho: sua vermelhidio néo Eindependente do observador. A fim de explicar este tipode fendmeno, o realismo representativo introduz a nogéo de qualidades primétias e secund: 0, aquilo de que estou cbns- (© BASICO DA FILOSOFIA Qualic des primérias e secundérias John Locke (1632-1704) trabalhou com a nogfo de quali- ddades primétias e secundétias. Qualidades primérias fo as que um objeto reslmente tem, independente das condig6es sob as quais estd sendo percebido, ¢ se esti de todo sendo percebido. Qualidades primérias incluem tamanho, forma e 1ento. Todos os objetos, no importa o quo peque- tém essas qualidades e, de acordo com Locke, nossas represeniagbes mentais dessas qualidades parecem-se muito 5. A céncia se ineeress particularmente pelas qualidades primérias dos objetos fisicos. A textura de um objeto, que é determinada por suas qualidades primarias, dé origem a nossa experiéncia de qualidades secundiétias. ‘Qualidades secundérias incluem cor, odor esabor. Pode parecer que estio realmente nos objetos que percebemos, de forma que a vermelhidio ¢ parte de um vestido verme- ho, Mas, na verdade, a vermelhidio ¢ 0 poder de produzir imagens vermelhas em um observador normal sob condi- g6es normais. Vermelhidio nfo é parte de um vestido ver- ‘melho do modo como é a sua forma. Idéias de qualidades secundarias nfo se parecem com os eros, mas, em ver disso, sfo em parte um produto do tipo dé sorial que acaso tenhamos. Segundo os realistas represen- tativos, quando yemos um vestido vermelho, vernos uma imagem mental que combina de alguma maneira com 0 ves- tido real que dé origem & imagem. A vermelhidio do vestido vyermelho (uma qualidade secundaria do vestido) na ima- gem afo se parece com as qualidades resis do vestido reals entretanto, a forma do vestido (uma qualidade priméria dele) na imagem se parece com a do vestido real. ema sen- (© MUNDO EXTERN Criticas ao realismo representativo 0 intérprete na cabeca ‘Uma critice 20 realismo representativo é que ele parece sim- plesmente pér de novo em cena o problema da percepgio. Deacordo como realismo representativo, fercebemos algo via algum tipo de represencagio mental. Entéo, ver alguém vvindo em minka diregio € como ver um filme disso acon- tecendo, Mas, se é assim, 0 que é que esté interprétando a imagem na tela? E como se eu tivesse uma pessoinha senta- da em minha cabeca interpretando o que se passa. Pre- sumivelmente, essa pessoinha precisaria ter uma ainda menor dentro dela, interpretando a interprecaglo: e assim, por diante, até 0 infinito. Parece pouco provivel que eu te- ‘nha um nmero infinito de pequenos intézpretes (a vezes chamados de bomunculi) em minha cabega, © mundo real é incognoscivel Uma importante 40 a0 realismo representativo € que ele toma o mundo real incognoscivel. Ou 36 cognoscivel mente. A tinica experiéncia que podemos ter sio nossas tepresentagSes mentzis do mundo, ¢ nfo temos meios de compari-las com o mundo real. # como se cada uum de 16s estivesse preso em um cinema privado de onde nunca podemos sair. Vernos na'tela vi ros em termos das qualidades vemos representados. Mas, como nio podemos nema para conferir nos suposicéo, nunca podemos ter iss } | | | { 0 BASICO DA FILOSOTIA certeza de exatamente 0 quanto essa semelhanga entre © mundo mostrado nos filmes ¢ o mundo real é exata Isto é um problema particular para o relismo repre sentativo porque a teoria afirma que nossas representagSes rmentais das qualidades primérias dos objetos assemelham- se As qualidades reais dos objetos no mundo externo. Mas, se indo ternos meio de conferir se ¢ verdade, nfio temos moti- a representagio mental de uma vo para crer nisso. Se mi moeda é circular, nfo tenho modo de checar se isso cor- responde & forma real da moeda, Estou limitado 20 teste- munho de meus sentides e, uma vez que estes funciona por meio de representagSes mentais, nunca posso ter uma informacio direta sobre as reais propriedades da moeda. Idealismo O idealismo é uma teoria que evita algumas das dificulda- des que se colocam para o realismo representativo. Como a ultima teoria acima, 0 idealismo faz do aporte dos senti- dos o ingrediente bisico de nossa expetiéncia do mundo, baseando-se igualmente na nogfo de que toda « nossa ex- periéncia é de representaggo mental. Entretanto, 0 idealismo vai um passo mais além do que o realismo representativo, afirmando que no he justficativa para dizer que o mundo cexterno de todo existe, jé que, como vimos nas crftcas a0 realismo representativo, ele ¢ incognosefvel. Isso parece absurdo, Como alguém pode afirmar que estamos enganados em falar de um mundo externo a nés? Por certo todas as evidéncias apontam para a diregio opos- ta, Um idealista responderia que objetos fisicos — a Cate- dral de So Paulo, minha mesa, outras pessoas — 6 existe ra (© MUNDO EXTERNO enquanto sio percebidos. Nao precisamos itroduzir a idéia de que existe um mundo real acima de nossa experitncia: tudo sobre o que podemos um dia saber sio nossas expe- rignelas. E mais conveniente dizer “Estou vendo meu vio- {io logo ali” em vez de “Estou tendo uma experiéncia visual do tipo violio”; mas um idealista afirmaria que a primeira forma ¢ sé um tipo de taquigrafia da iileima. As palavras “meu violio” sfo um modo conveniente de referis-se a um padrao repetido de experincias sensoriais, e nfo a algum objeto isico que exista independentemente de minhas per- cepg6es. Estamos todos trancados em cinemas individuais assistindo a filmes, mas nfo hé mundo real fora dos cine- mas. Néo podemos sair porque nada hé do lado de fora. Os filmes so nossa ‘nica realidade. Quando ninguém esd olhando para a tela, a luz do projetor ¢ desligada, mas 0 rolo da pelicula continua girando. Sempre que olho para tela, a luz volta ¢ o filme esté precisamente no ponto em aque estatia se tivesse continuado a ser projetado. Uma conseqiiéncia disto ¢ que, para o ide tos s6 existem enquanto estio sendo perc: ‘um objeto nio esté sendo projetado em minha te de cinema, ele nio existe mais. George Berke! 1753), 0 mais famoso idealista, declarou que. “existir ¢ ser percebido”. Portanto, quando saio de um apo- sento, ele deixa de exists; quando fecho os olhos, 9 mundo desaparece; quando pisco, o que estiver diante de mim no estd mais presente — contanto, é claro, que ninguém mais esteja percebendo essas coisas nesse momento, (© BASICO DA FILOSOFIA Criticas ao idealismo Alucinagées e sonhos A primeira vista essa teoria da percepedo poderia ter difi- culdades para lidar com alucinag6es e sonhos. Se tudo que experimentamos so nossas préptias idéias, como podemos de informagdo sensorial. Meu violio é um padrio de in- formasao sensorial recorrente de modos previstveis. Minhas expetiéncias visuais do violfo combinam com minhas ex- Ifo encostado periéncias téceis do violdo: posso ver meu: ir até ele e tocé-lo com a mio. Minhas jonam umas as outras de um modo regular. Se eu estivesse tendo uma alucinagao de 40, entéo n&o haveria relagéo entre minhas expe- completamente imprevistveis: meu violfo pareceria se ma terializar e se dissolver diante de mim. Do mesmo modo, um idealista pode ex podemos distinguir entre sonhos ¢ vida desperta em termos dos diferentes modos com que experiéncias sensoriais se relacionam umas com as outras. Em outras palavras, néo fata que identifica s como. s6 a natureza de uma experié ‘uma alucinagfo, um sonho ou uma experi mas também sua relagdo com outras experiéncias: 0 con- texto geral da experiéncia, [156] (© MUNDO exreRNO Leva ao solipsismo Uma critica importante & teoria da percepcio do ideaista & que parece levar a0 so que existe éa minha mente, e que tudo 0 mais é de minha propria inverisio. Seas tinicas coisas que posso experimen- tar sio minhas prépriasidéias, nfo s6 concluo qui ao exis- tem objetos fisicos, mas também de que no hé outras exatamente tantas evidés da existéncis de outras.pes- soas quanto tenho da existéncia de objetos fisicos, a ssber, encfo, uma fsicos reais experiéncia, talvez nada exista, ia em minha mente. Talvez ninguém sais exista. Nao hé outros cinemas, e nada forado meu cinema. . Por queo 30 seria, portanto, uma cctica? Por- que esté mais préximo de uma doenca mental, uma forma de megalomania, do que de uma posicio filoséfica defen- sével. Talver uma resposta mais convincente, usada por Jean-Paul Sarte em seu livro O sere o nada, que,em quase ver que excluimos a responsaveis por mi exceto como uma i toda agio que praticamos, todos nés deixamos implicito {que acreditamos na existéncia de outras mentes além da nossa. Em outras palavras, nko € o tipo de posicio que al- gum de nés pudesse adorar & vontade: estamos tio acostu- ‘mados a que existam outras pessoas que nos comportatmos consistentemente como um solipsista mal seria concebivel. Peguem o extmplo de emogSes socials como vergonha € constrangimento, Se eu for pego fuzendo algo que eu pre- feria que nfo fosse tetesmunhade por outras pessoas, como, 157 (© BASICO DA FILOSOFIA por exemplo, espa pelo burico da fechadura de alguém, uico provavelmente sentiei vergonhs. No entanto, #¢ ¢8 fosse um solipsista, isso seria absurdo. O proprio concelto de vergonha nio faria sentido, Como solipsista, eu acre ente em existéncia: nfo haveria mais dlitatia ser a nica m ninguém para me julgar. Da mesma forma, sentir constran- gimento, como um solipsist, ceria absurdo. Ninguém har vetia para sentir-me constrangido em sua presenga, exCEt0 feu mesmo. O grat em que todos nds nos entregemos 2 crengana existtncia de um mundo mais além de nossas pr Jéncias € véo grande que demonstrar que uma posigofilos6fica leva ao solipsismo é suficiente para des- tuuir sua plausibilidade. Explicaéo mais simples 0 igealismo também pode ser critcado em outros nivels, ‘Ainda que concordemos como idealsta que tudo a que a- gum dia eremos acessosio nossaspréprias experiéncissen- soriais, poderfamos ainda querer saber 0 que causa estas cexperiéncias, e por que seguem padrSes tao egulares. Por que as expertncias sensriis podem ser to facilmente or+ ganizadas como aquilo que, na linguagem coriiana, cha- mamos de “objetos fisicos"? De fato, a esposta mas direta paraisso € que os objecosfsicos exstem por af, no mundo cexterno, e que sio a fonte de onde emanam nossas expe rincias sensoriais. Era isso que 0 doutor Samuel Johnson (1709-1784) sem dvida queria dizer quando, em respos- ta20 idealismo do bispo George Berkeley, chutou com forga ‘uma grande pedta e declarou: “Eu o refuto assim.” al (© MUNDO EXTERNO Becceley sugeriu que ¢ Deus, ¢ no 0s objetos fiscos, aque causa nossa experitncia sensorial, Deus os dew Ss peridncia sensorial organizada. Deus percebe cada o! tempo todo, entfo o mundo continun a exitir quando des percebido pelos humanos. Entretanto, como vimos ne Capitulo 1, a existéncia de Deus no pode ser dada como certa, Para muitas pessoas a existincia de objetos fisicos con- cretos seria uma hipétese muito mais aceieivel como uma explicagio das causas de nossa experiéncia. Oid ser pereebide, Um motivo para esta crenga é que é gfcamenteimpossvelalguém conerix para ver seo coat Ho €0 caso: ninguém poderia observar se meu de existir quando ninguém esté percebendo sua presenca, a accedita que para lguma jécque, fim de fazer a observacio, alguém teria de perceb&- im, hd um grande vo- Ia. E,noes lume de jesmo que seja. c icando 0 continua existir despercebido. A explicagio mais simples, quando acordo de manha é que ninguém 0 mudou de lu- ‘gar, pegou emprestado ou roubou, eele continuou a existt, despercebido, durante a noi tia do enomenalismo € um desenvolvimento do idealismo que leva em conta essa hipétese altamente plaustvel. Fenomenalismo Como 0 idealismo, o fenomenalismo ¢ uma teoria da per- cepgio baseada na idéia de que 35 temos acesso direto& experiéncia sensorial, nunca ao mundo externo. Onde ele difere do idealismo ¢ em sua explicagio dos objetos fiscos. Enquanto os idealistas afirmam que nossa nogao de um (© BASICO DA FILOSOFIA objeto fisico ¢ uma espécie de taquigrafia para um grupo de experitncias sensorais, fenomenalistas como John Stuart Mill extem que objeos cos poder ser desrtos puramente em termos de padres de experiéncias ensoras reais epost eis, A possibilidade de experiéncia sensorial de meu violéo continua mesmo quando nfo estou concretamenteolhando para ele ou colocando nele mihas mos. Os fenomenalistas aereditam que todas as descrig6es de objeros sicos podem set traduzidas como desctig6es de experiéns reais ou hipocéticas. (© fenomenalista é como alguém preso em seu préprio cinema privado, assistindo a filmes. Mas, do idealista, que acredita que as coisas representadas na tela deixam de exisic quando nfo estéo mais sendo mostrads, o fenomenalistaacha que esses objetos continuam a exist como experiéncias possiveis, mesmo que no este} do projetados na tela naguele momento. Além disso, 0 fenomenalista acredita que tudo que surge na tela pode ser escrito na linguagem da experiéncia sensorial sem qual- quer referéncia a objeros fisicos. ; ‘Apresentaremos algumas crticas a0 fenomenalismo. Criticas ao fenomenalismo Dificuldade de descrever objetos E extremamente complicado expressar uma declaracio de io estd encostado im como “met um objeto fisico, na parede de meu quarto, despercebido”, somente em ter- mos de expetiénci 5 Na verdade, todas'astenta- tivas de descrever objetos fisicos desse modo fracassaram. © MUNDO ExTERNO Solipsismo e 0 Argumento da Linguagem Privada O fenomenalismo, como o idealismo, parece evar 2050 sismo: pessoas que vejo sio apenas experincizs perceprusis minhas, reais ou possiveis, J examinamos diversas objegbes 40 solipsismos"o Argumento da Linguagem Privada, um argumento originalmente usado por Ludwig Wittgenstein (1889-1951) em seu livto Investigardes flosfica, Fornece ais uma objegao a este aspecto do fenomenalismo. O fenomenalismo pressup6e que cada um pode iden- tificar e dar nome a sensag6es particulares somente com base fem sua prépria experitncia direra. Essa identificagio ¢ teidentificacio da sensasio se apdia na experiéncia priva- da, © nfo na existéncia de objecos fisicos gerais. O Argu- mento da Linguagem Privada mostra que a nomeagéo ea teidencificasio privadas das sensagSes no poderiam ocorres, derrubando o fenomenalismo, Toda linguagem depende de regras, e regras.Zependem de meios de aferigio para que sejam verificadas ¢ cormecs- mence aplicadas, Ora, suponhamos que um fenomenalisa tenha uma percepgio vermelha: como poderd checar sees: etcepedo corresponde as cores que ele rotulou previamente de ‘vermelho”? Nao hi meio de checar isso, uma vez que, para o fenomenalista, nfo hé diferencas significativas entre cor ser vermelha¢ ele achar que ¢ vermelha. E como al- guém tentando lembraro horirio de um trem e tendo de checar essa lembranga consigo mesmo em vez de olhar 0 quadro de horétios. £ uma “checagem” privada, e nfo ptt- blica, néo podendo verifcar se nosso uso piiblico da pala- ra “vermelho” é correto, Entio, a suposigéo de que um fenomenalista poderia descrever sua experiéncia a partir dessa linguagem autocorroborante é equivocada, (© BASICO DA FILOSOFIA Realismo causal realismo causal assume que as causas da nossa experién- cia sensorial sio os objeres fisicos do mundo externo. O realismo causal usa como ponto de partida a observacio de que a principal fungéo biolégica de nossos sentidos € nos orientar em nosso meio ambiente. De acordo com o realis- ‘mo causal, quando vejo meu violio, o que realmente acon- rece & que taios de luz refleidos do violéo causam certos efeitos em minha retina eem outras 4reas do meu cérebro. it certas convicgSes sobre o que estou. ia de adquirir as convicgdes éa experién- cia de ver meu violao. © caminho pelo qual adquirimos convicgdes percep- tivas é importante: néo é qualquer caminho que serve. Para que de fato eu o enxergue, ¢ essencial que meu violko seja 4 causa das convicy6es que adquiro sobre ele. O elo causal apropriado para ver € 0 provocado por um objeto refletin- do raics de luz em minha retina e o subseqtiente processa- mento dessa informacio em meu cérebro. Se, por exemplo, eu estivesse sob a influéncia de drogas, vendo alucin: no estaria vendo meu violéo. A droga, em vez do ao, teria sido a causa de minhas convicg6es. informagio sobre o que me ceéca. Como mo representative, o reclismo causal assume que -xise realmente um mundo externo que continua aexis- esteja ou no sendo experimentado. Também assu- me que as convicgSes que adquitimos através de rgios dos sentidos sio geralmente verdadeiras — eis por que, como resultado da selecio natural no decorrer da evolusio, nossos receptores sensoriais so como so, (© MUNDO EXTERNO fornecendo-nos em geral informacio configvel sobre rosso meio ambiente. Uma outra grande vantagem do realismo causa! sobre teorias da percepsio rivais é que ele pode facilmente expli- caro fato de que nosso conhecimento existente afeta o que percebemos. Ao adquitir informagio, nosso sistema de clas- sificagio ¢ nosso conhecimento existente afetam de modo reto a forma com que tratamos a informacio a ser rece- bida e 0 que escolhemos e interpretamos como relevante, Rerornaremos a isto na seco sobre “Observasio” no pré- ximo capitulo. Criticas ao realisme causal > Aexperiéncia de enxergar a0 realismo causal é que ele nfo leva em. consideragio 0 processo da visio em seu aspecto qualita ‘vo, mas reduz a experiéncia perceptiva a mero aciimulo de informé;des, En 0 causal 6a tearia da per- cepgio mais satisfatéria até ho} Pressupée o mundo real realismo causal pressupSe que hi um mundo real I fora, que existe independentemente da percepsio. Isto € 0 que se conhece como uma pressuposi¢io metafisica — em ou- ‘rat palaveas uma pressuposiggo sobre a nacureza da rea ftico de tendéncias idealistas receberia esta pressuposicio metafisica como inaceitavel. Entretanto, como a maioria de nds est engajada na convicgio de que hi um mundo real que existe independente de nés, essa (© BASICO DA FILOSOFIA pressuposicso pode ser vista como um ponto a favor do realismo causal, em ver de urna crftica a ele. Conclusdo Neste capftulo explorames algumas das principais teorias filoséficas sobre o mundo externo e nossa relago com ele, préximo capitulo concentra-se em um modo particular de descobrir as coisas sobre o mundo, a saber, pela investi- gagio cientifica. Leituras adicionais Osargumentos eétcos de Descartes sio apresentados na pri- meica de suas Meditagées, e seu argumento do Cogita esté no inicio da segunda. Ambas encontram-se em Discourse ‘on Method and the Meditations (Londres: Penguin Classics, 1908).* De longe a melhor breve introdugéo & filosofia de Descartes ¢ a entrevista de Bernard Williams em The Great Philosophers, organizado por Bryan Magee (Oxford: Oxford, University Press, 1987), um livro que jé recomendei. The British Empiriciss, de Stephen Priest (Londres: Penguin, 1990), outro livro que recomendei em minha Introdusio, inclui discusses de muitos dos tépicos deste capitulo. “A Guide Through the Theory of Krowledge Oxford: Blackwell, 1997) é uma introdugio clara 3 epistemologia. “Diane do mld « as Molter de Descartes esto publiados no Brasil por ives edcoras.(N. de B) (© MUNDO EXTERNO The Problem of Knowledge, de A. J. rowledge, de A. J. Ayer (Londres: Peng 1950), € til embora um pouco datado. The Problems of Philosophy de Bertrand Russell (Oxford: Oxford University Pres, 1912), ainda vale auto a pena Jer: é uma breve introdugao & Slosofia, concentrando-se em questées episternolégicas. Foi leitura recomendada a todos os estudantes de filosofia na universidade durante a maior parte do século XX. fies]

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