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(Cigncia Rural, Santa Maria, v. 28,0, 3,p.$21-528, 1998 SN 103-84 788 A DIVERSIDADE DOS RECURSOS GENETICO! 521 VEGETAIS E A NOVA PESQUISA AGRICOLA. THE DIVERSITY OF PLANT GENETIC RESOURCES AND THE NEW APPROACHES IN THE AGRONOMIC RESEARC ‘Miguel Pedro Guerra’ Rubens Onofre Nodai Mauricio Sedrez dos Reis Afonso Inacio Orth - REVISAO BIBLIOGRAFICA - RESUMO As novas demandas da pesquisa agricola requerem ‘a formagin de recursos humanox com niveis avancadox de qual fcagdo ¢ capaces de elaborar e executar proposias clentficas tecnoldgicas « polticas relacionadas ao wo. melhoramenta © ceonservacio dos recursos genéticos vegetais, domestcados ow do. Esta nova dnfase tem demandas associadas predominant Imente ao uso intensivo do conhecimento. Os desafios atuais a serem enfrentados pela nova pesquisa agricola referom-se ao ‘estabelecimento de estratéglas de Caracterizacao & conservaga in sia; a definigdo precisa sobre 0 uso sustemvel dos recursos sgenéiicos: a valoragdo: a regulamentagado ao acess, incluindo- 4 of aspectos associados @ soberania da diversidade genctica regetal. O Brasil € «pais com a maior diversdade gendtica segetal do mundo, ainda amplamente desconhecida, Neste cent do torna-se fundamental a earacterizagao do material genético fristente nas formagdes florestais e variedades crioulas, para ‘ubsidiar 0 manejo de determinadas populagdes naturais e 08 programas de melhoramento genetico, visando ao aumento do rendimento econdmico da exploragdo vegetal. Propoe-se 0 esta belecimento de programas de pesquisa conjuntos ¢a formacio de recursos capaces de mancjar a diversidade genética exisiene ‘através do dominio e emprego de teenologias perinente, hab ‘ando-os @ atuar nas transformagies agricolasatuai, de modo a favorecer o desenvolvimento agricola susentéve Palavras-chave: hindiversidade, avesso, conservacdo genética pesquisa agricola SUMMARY The nev demands ofthe agricultural research require human resources highly qualified able to develop scien proposals, technologies and polices. related 10 the use improvement and conservation of plant genetic resources domesticated or not. Tis new emphase is based mainly in the imense use of the knowledge. The current challenges faced by the new agricultural revearch dealing sith the establishment of Sravegies of characterization and in situ conservation: the ‘defintion of the sustainable use of the genetic resources: the valoration of biodiversity: the access regulation, including issues associated the couatry sovereignty ofthe genetic divesty. Brasil is the country with the highest level of plant genetic diversity in the world, mostly unkown. Thus, it is necessary to characterize she plant geemplasm and landraces to aid the natural population ‘management and the breeding programs, taking into account the Increase in te economic vield of the agricultural exploitation. A research program 18 proposed to train graduate students and researchers to manage the existing genetic diversi. by the Anonledge and ase of pertinent technologie, and with sills to ‘act in the current agricultural transformations. favoring the sustainable rural development, Key words: biodiversiy; plant introduction, genet ‘conservation, agricultural research Biodiversidade e recursos genéticos vegetais Neste trabalho, serd focalizada a questo da diversidade genética vegetal e suas implic: sobre a nova pesquisa agricola em um contexto de caracterizagao, conservacao, utilizagao € melhora- mento dos recursos genéticos vegetais domesticados, ou nlo, estabelecendo-se diferentes estratégias para cada caso. A conceituagao de biodiversidade mais amplamente utilizada refere-se & variedade e varia- bilidade entre organismos vivos ¢ os ecossistemas, nos quais eles interagem (OTA, 1987). Portanto, biodiversidade inclui todas as formas de vida sistemas € processos ecoldgicos e, reconhecendo a ' Professores do Departamento de Ftoteenia, Cento de Cincias Agritias, Universidade Federal de Santa Catarina, Caina Postal 476 '88040-900, Plorianpolis, SC. E-mail: mpguerraG@cca usb, Fax 0882342014, 29 Guersa eta hierarquia nos niveis genético, taxondmico e do ecossistema. Brasil é considerado o pais detentor da maior diversidade genética vegetal do planeta, con- tando com mais de 55.000 espécies catalogadas. de tum total estimado entre 350,000 e 550.000. Cerca de dois tergos destas espécies se encontram nos tr6pi- cos, estimando-se que 0 Brasil detenha cerca de 75% de todas as espécies florestais nas suas duas princi pais formagées, a Floresta Tropical Atlantica © a Floresta Amazénica (DIAS. 1996). ‘As oportunidades para a identificagdo de produtos com possivel utilizagio econémica au- mentam com a diversidade das espécies. Alguns exemplos sio ilustrativos: uma variedade silvestre de trigo da Turquia resistente a moléstias, cujos ‘genes foram transferidos para variedades comercia proporciona uma economia anual de US$S0 milhdes, somente nos EUA. Uma variedade de cevada da Fti6pia forneceu um gene de resisténcia a virus que, transferido para variedades em cultivo na Califomni resulta numa economia de US$160 milhdes. Outro exemplo elucidativo € 0 do Catharantus roseus originério de Madagascar. As vendas das drogas antileucémicas vincristina e vinblastina, derivadas desta planta, atingem valores anuais de USS200 milhdes (DIAS, 1996). Um exemplo recente refere se ao gene denominado de Xa21, identificado em 1977 em uma variedade crioula de arroz (Oryza longistaminata), que é cultivada no Mali (Africa) & clonado em 1995 por pesquisadores da Universidade da California em Davis. Este gene, responsavel pela resisténcia a uma bacteriose que ocorre no arroz, foi patenteado pelos pesquisadores americanos e jd se encontra licenciado para uso. Intimeros outros, exemplos de utilizagio e de apropriagio da diversi- dade genética vegetal com fins agricolas sio apre- sentados e discutidos por BURTON et al. (1992). A valoragao da biodiversidade aumenta significativa- mente quando se leva em consideragio a visio de alguns cientistas, que véem as plantas como peque- nas fébricas que produzem desde compostos tera- péuticos até plisticos biodegradaveis, Nese quadto, confronta-se um Hemisfé rio Norte rico em tecnologia, mas pobre em recursos genéticos e um Hemisfério Sul pobre em tecnologia, mas riquissimo em diversidade biol6gica. Estima-se que um gene potencialmente itil do Sul, pode repre- sentar negdcios de USSI bilhdo no Norte e que 0 germoplasma do Sul contribua com valores estima- dos em USS66 bilhdes por ano, na economia dos EUA (MACHADO, 1996). 2, Biodiversidade: conservago € acesso aos re- cursos genéticos Brasil, México, Equador, Colombia, Per, China, Malisia, india, Indonésia, Zaire, Madasear ¢ Austrilia slo considerados paises detentores. de megadiversidade. Esta biodiversidade, segundo 0 World Resources Institute, encontra-se seriamente ameagada, O ritmo atual de extingao de plantas ji € entre 50 € 100 vezes maior que as taxas médias observadas no passado mais proximo. Estima-se que sem a acdo antrépica uma espécie vive entre um e dez milhoes de anos. As observagdes feitas nos il mos quatro séculos apontam a extingfo de um ma- mifero a cada 400 anos e de uma ave a cada 200 anos. Estima-se também que até 0 ano de 2015, ‘mantido o ritmo atual, podem desaparecer entre 4 ¢ 8% das espécies presentes nas florestas tropicais. Especiticamente para plantas, estes valores corres- pondem a 15 milhdes de hectares por ano, 0 que significa uma perda de aproximadamente 1% ao ano, ji que restam no planeta cerca de I bilhio ¢ 700 milhes de hectares de florestas tropicais. A Améri- ca do Sul detém 52% destas florestas e, somente na década de 80, o Brasil respondeu por 28% das per- das das florestas tropicais e por 14% dos outros tipos de florestas. Embora nao se conhega todas a fungdes desta diversidade, estudos mais recentes t&m de- monstrado que a produgao de biomassa de um sitio & dependente da biodiversidade funcional (diversidade de espécies) nele existente (TILLMAN et al, 1997), Este quadro sintético demonstra que cessirio estabelecer estratégias para caracterizar & conservar a diversidade genética vegetal in situ. S considerarmos um cromossomo como uma associ Gio temporaria de alelos especificos, no caso da conservagao genética ex sifu, a intensidade de con- servagdo € parcial, uma ve que a variabilidade esta congelada. J4 em condigdes naturais, a cada rodada eprodutiva, ocorrem mutagdes, rearranjos e recom- binagdes em niveis superiores aos que ocorem nas condigdes ex situ. Além disso, 6 importante conside- rar que, em muitos casos, quando se considera a complexidade de ecossistemas tropicais, ocorrem nas condigdes im situ interagdes complexas entre os seus componentes que no so possiveis de serem reconstituidas nas consigdes ex situ. Um exemplo ilustrativo desta situagdo ocorre com a familia Bro- ‘meliaceae no dominio da mata atlantica. Em outros casos, a interagdo genstipo-habitat é to elevada que algumas espécies nfo sobrevivem em ambientes degradados ou com menor complexidade (palmiteiro x fauna dispersora de sementes, por exemplo). O significado disso & que, em muitos casos, mais im- portante do que conservar um germoplasma especi- fico, toma-se necessario estabelecer estratégias para a conservagao de todo 0 ecossistema ‘A Convengao sobre Diversidade Bioldgi- ca (CB), assinada em 1992, define em seu Art. 1 que “os objetivos desta Convengio so a conserva- io da diversidade biolégica, a uliizagao sustentivel de seus componentes e a repartigao justa e eqiitativa Ciéneia Rural, v. 28, n. 3, 1998. A diversidade dos recursos genéticos vegetais ea nova pesquisa agrcol 24 dos beneficios derivados da utitizago dos recursos, genéticos, mediante, inclusive, 0 acesso adequado aos recursos genéticos e a transferéncia adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, mediante 0 financiamento adequado”. Acesso pode ser entendi- do como o estudo & uso dos componentes da biodi- versidade e, como pontuado por ARCANIO (1997), as implicagdes do termo acesso podem ser analisa das sob trés diferentes contextos: acesso aos recursos enéticos, acesso & tecnologia e acesso aos benelic! ‘08 advindos do uso da biodiversidade. E importante notar que por influéncia dos paises do Hemisfério Sul a biodiversidade deixou de ser “patriménio co mum da humanidade” e passou a ser “preocupagio comum da humanidade”. Além disso, a CDB passou a reconhecer os “direitos soberanos dos Estados, sobre seus recursos biol6gicos © Brasil, em sua extraordinéria biodiver- sidade, tem todas as condigdes de criar nos trépicos ‘uma eivilizagio moderna baseada na gestio prudente de suas florestas, do seu solo € das suas. dguas (SACHS, 1996). Afirma-se que 0 patenteamento de seres vivos e de processos biol6gicos & um dos com- ponentes da estratégia que visa a garamtir 0 ingresso © permanéneia de grandes empresas transnacioni em mercados emergentes e de grande potencial, como aqueles relacionados com as biotecnologias, inddstrias de sementes e farmacéutica. Desta manei- ra, seria desejavel que os direitos de propriedade intelectual, na drea biol6gica, fossem concedidos na vigéncia de uma legislagdo nacional soberana, regu- lamentando o acesso a biodiversidade nativa, con- forme disposto na Convengio da Diversidade Biol6- gica, em vigor desde 29 de dezembro de 1993. Esta convengio raz avangos consideriiveis na questio dos recursos genéticos ao incluir a biodiversidade na sua totalidade, a0 considerar todas as formas de manejo da biodiversidade e a0 estabelecer instru- rmentos para subsidiar © planejamento e uso da bio- diversidade. {As propostas mais recentes de se regula- rmentar o acesso a biodiversidade brasileira surgiram na constituigdo de 1988. No seu Cap. VI, Art. 225 iso II & estabelecida a incumbéncia do poder publico para “preservar a diversidade e integridade do patrimdnio genético do pais e fiscalizar as enti- dades dedicadas & pesquisa e manipulago do mate- rial genético”. O projeto de lei do senado n° 306, de 1995, de autoria da Senadora Marina da Silva (AC), em tramitagio no senado, com um substitutive do Senador Osmar Dias (PR), dispoe sobre os instru- mentos de controle do acesso aos recursos genéticos 4o pais. Este projeto deverd regular direitos e obri- gages relatives 20 acesso a recursos genéticos, ‘material genético e produtos derivados, tanto em ex sia como in situ, existentes no tertit6rio nacional dos quis 0 Brasil & 0 pats de origem; bem como os conhecimentos tradicionais de populagdes indigenas © comunidades locais, associados a recursos genéti- cos ou produtos derivados e a cultivos agricolas domesticados no Brasil. O projeto ainda estabelece que “todo © qualquer procedimento de acesso a re- cursos genéticos em territério brasileiro, em condi- Ges in situ, dependerd de autorizagao prévia pela autoridade competente © da assinatura € publicagio de contrato entre a autoridade competente e as pes- soay fisicas ou juridicas interessadas”, sendo consi- deradas partes no contrato de acesso: a) 0 Estado, representado pela autoridade competente: b) 0 soli- citante do acesso, ¢) a agéncia de acesso, d) 0 prove- dor do conhecimento tradicional ou do cultivo agei- col domesticado, no caso de contratos de avesso que envolvam estes componentes. Ainda ndo hi previsio de votagao deste projeto, contudo & impor- {ante salientar que, ao contrario da tramitagao da Lei de Patentes, na tramitagao deste PL. ocorreram vari- as audigncias pablicas, com participagio de amplos setores de Sociedade, principalmente as. Organiza- ges Nao Governamentais. De qualquer mancira, hi Certo consenso que seis pontos bisicos devem norte- at a discussao sobre esta questio: a detinigio precisa sobre 0 uso sustentivel dos recursos gensticos: os aspectos associados & conservago de germoplasma 2 situ ¢ in situ; os aspectos associados a soberania, as questOes contratuais; 2 transferéncia de tecnologia ‘€8 protegio do conhecimento indfgena, 43. Tecnologias Pertinentes ¢ Sustentabilidade ‘A necessidade de manutenga0 ou metho- ria da qualidade do ambiente de cultivo e as limita- ‘g0es & expansdo das fronteiras agricolas. associadas uma expectativa de methoria da qualidade de vida no meio rural e nas cidades, exigem uma maior eficiéncia dos processos relacionados & produgao vegetal, 0 que poder ser aleangado com © uso de tecnologias pertinentes. Tecnologias pertinentes, no conceito propasto pela FAO (IZQUIERDO et al 1995), compreendem ferramentas tecnokigicas que coniribuem para o desenvolvimento sustentivel. por serem tecnicamente factiveis no contexto do desen- volvimento tcnico-cientifico de um pais, por pro- porcionarem beneficios aos destinatirios. por serem ambientalmente seguras e s6cio-econdmica e cultu ralmente assimildveis, As tecnologias pertinentes referem-se, em particular, aquelas tecnologias que promovem © desenvolvimento de uma agricultura sustentvel através do uso de recursos genéticos e de processos de transformagio destes recursos, conside- rando a cultura ¢ a tecnologia local. O termo uso sustentivel dos recursos genéticos & aqui empregado de acordo com o texto da Convengao da Diversidade Ciéneia Rural, v. 28, n. 3, 1998, 24 Guerra etal Biolégica adotado a partir da Conferéncia das N ges Unidas sobre 0 Meio Ambiente e Desenvolvi- mento, ocortida no Rio de Janeiro de 3.4 14 de junho de 1992 e define 0 uso dos componentes da diversi- dade biol6gica de maneira a evitar 0 seu declinio, mantendo assim o potencial de tornar compativeis as aspiragBes © necessidades das geragSes presente © Futuras, omo decorréncia, os principais centros de pesquisa agrondmica do mundo esto atualmente elaborando e difundindo modelos tecnolégicos que utilizem mais o conhecimento do que 0 capital e. sobretudo, que sejam mais adaptados aos ambientes naturais em que vivem as populacdes do campo. Os. pesquisadores que trabalham nesta dirego apontam para uma revolugdo dupla, que possa ao mesmo tempo ampliar a capacidade produtiva, mas que valorize também os ambientes sociais e naturais que foram marginalizados pelos padres da pesquisa agrondmica tradicional. A percepcao geral & que existem cada vez menos razdes técnicas que possam impedir que os agricultores tenham no aumento de sua capacidade produtiva o elemento chave de sua emancipagio social (ABRAMOWAY & SACHS. 1996), Assim, & procura por tecnologias perti- nentes A realidade agricola e fundidria do Sul do Brasil, bem como as condigdes fisicas, quimicas e ecoligicas das dreas agricolas, parecem convergir na diregdo de se adequar © sistema de produgio a0 ambiente e nao 0 contririo, sem, contudo, abrir mio da produtividade. Neste contexto, a maximizagio do processo produtivo ¢ a conservagio do ambiente estio intimamente associadas com o aproveitamento da diversidade vegetal, no que tange & variagdo entre as espécies e dentro das espécies, 4, Biodiversidade e Oportunidades Agricolas A grande diversidade das formacies flo- restais que cobrem 0 Estado de Santa Catarina (SC) ea riqueza de material genético crioulo existente nas pequenas propriedades criam novas possibilidades para redirecionar 0 modelo de pesquisa ¢ exploragdo agricola vigente, através do manejo adequado destes recursos genéticos (Figura 1). A estrutura fundidria dos Estados do Parana (PR), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS) tem um forte componente baseado em minifiindios e esta caracteristica, associ ada aos aspectos sécio-culturais dos diferentes gru- pos de imigrantes que desencadearam a explora agricola nestas regides, favoreceu. a0 longo dos anos, a formagao de um imenso banco de germo- plasma de variedades crioulas (‘land varieties") e de Variedades cultivadas, antigas e modernas, que se adequam a uma grande variedade de microclimas ¢ regides fisiograficas. A diversidade genética domé tica compreende a variagio genética existente entre as espécies, cultivares ¢ individuos de espécies ve- getais que foram domesticadas, incluindo, muitas Yezes, seus ancestrais ndo domesticados. Tal germo: plasma demonstra uma grande adaptagdo aos locais de cultivo © se constitui em um pool génico com caracteristicas singulares, por vezes tinico, que pode ser utilizado no melhoramento © que necessita ser caracterizado e conservado. A caracterizagio, a conservagao © a utilizagio deste germoplasma sio desafios que a nova pesquisa agricola deve perse guir. Especificamente para a conservagao da biodi versidade doméstica, podem ser propostos sistemas in situ em nivel de propriedade agricola (in site on farm), Considerando as caracteristicas de relevo, clima e estrutura fundiria e social do Estado de SC. dois ramos da agricultura mostram-se especialmente relevantes: Silvicultura e Fruticultura. © Estado apresenti um relevo predominantemente declivoso sendo originalmente coberto pela Floresta Tropical Atlantica em sua maior parte, Atualmente, segundo a FATMA (1977), restam 29,14% da area coberta por esta floresta no Estado, em sua grande maioria na forma de fragmentos com formagées florestais se- cundirias, A” expresso Mata Atlantica (Floresta Tropical Atlantica), aqui empregada, representa 0 dominio da Mata Atlantica, que inclui as formagbes florestais © ecossistemas associados como a Floresta Ombréfila Mista, Floresta Ombréfila Aberta, Flo- resta Ombréfila Estacional Decidual, Floresta Om- brofila Estacional Semidecidual, manguezais, restin- ‘gas, campos de altitude brejos interioranos (De creto Lei n? 750 de 10 de fevereiro de 1998) ‘A Mata Atlantica sofreu forte alteragio em sua estrutura € composicio, inicialmente com os primeiros habitantes. os indios nativos, que pratic vain a agricultura abrindo clareiras na mata e, poste riormente, com os agricultores imigrantes que utili- zaram tanto 0 processo extrativista como a amplia co de atividades e fronteiras agricolas. Do ponto de Vista da dindmica da regeneragao, a extragao seletiva de madeiras nobres condicionou a floresta a uma dinamica populacional diversa da natural. Espécies de menor freqiéncia tomaram-se abundantes, quanto outras se extinguiram, em parte devido & climinagao de plantas matrizes fornecedoras de sementes. Além disso, a derrubada de grandes éreas provocou © isokamento de populagdes de plant impedindo a retomada da dinamica sucessional em freas de formagio secundaria, alm da possivel perda de valiosos recursos genéticos, A atividade extrativista predatéria neste ecossistema também foi responsivel pela redugio drastica e até pela exting’o Ciéneia Rural, v. 28, n, 3, 1998. A diversidade dos recursos RECURSOS GENETICOS VEG ETAIS AMMENTES RECURSOS néticos veges ¢ nova pewuiss agricola IMIS DE ATIACAO, Caracterizaso da biologiareprodutiva PRODLTOS FOU PROCESSOS “Manejo de populdesnatrais Formagies he Diverse nara (ater nfo Lo domestica conserves CCaraceraago da diversidade genstica Conservag “insta” Agrealtores tradtcionals | TVariedades cious Bancos de (Clandraces") germoplasma Coleta de germoplasina Monitoromento de diversitade gneten Conservagso in wt do sgrcutor z acteriango do germoplasma Consersagio “x sit Aagrieutores ‘Variedadesrecenes (welhorades) Variedades locals melhoradas Empress Banco ativos de Introvtgbes i germoplacina Melhoramento propaga (enies convencionis ¢ avangadas ‘vas varedades Produ de propaga, Figura 1 - Proposta exquemsitica do manejo de recurs gensticos vegetis a ética da tecnologias pertnentes, de populagdes de animais, os quais tm um papel importante na dindmica das florestas, especialmente pela sua agio como polinizadores especificos (ex. abelhas nativas), dispersores de sementes (ex. avi- Fauna local) ou pela fitofagia (ex. lagartas desfolha: doras). O ecossistema da Floresta Tropical Allintica, cuja caracteristica mais notivel & a sua elevada biodiversidade, foi seriamente comprometi do. Este aspecto torna-se evidente quando se consi- dera a biodiversidade no somente como 0 conjunto écies de plantas, animais e outros organismos, m a amplitude da variag3o genética dentro de cada espécie, e a variedade de ambientes e pro- cessos ecol6gicos dentro dos ecossistemas. Neste contexto, a conservagao destes ccossistemas e, conseqiientemente, da diversidade neles existente, implica necessariamente 0 desenvol- vimento e utilizagao de estratégias de manejo fun- damentadas no uso miltiplo da diversidade genética existente, bem como no conhecimento da auto- ologia das espécies de interesse. A utilizagtio de recursos florestais pode permitir a obtengao de renda de modo sustentivel para os proprietérios da terra Neste sentido, toma-se fundamental a caracterizac do material genético existente nas formagées flores- com desdobramentos posteriores em programas thoramento genético e manejo de determina das espécies, para aumentar 0 rendimento econdmi co desta exploragao. Nas dreas degradadas ou com uso agricola inadequado, e considerando a vocagio de uso relaci- ‘onaula ao plantio com espécies perenes ou a necessi- dade de cobertura vegetal permanente, © potencial de uso com 0 cultivo de especies Horestais exsticas & elevado. O Estado apresenta a maior parte de sua superficie com declividade superior a 25%. Nos Gltimos anos, a demanda por éreas para plantios de espécies de Pinus e Eucallyptus aumentou signifi- cativamente, principalmente pelo deficit de maria prima no parque industrial madeiteiro do Estado. Além disso, virias especies nativas poderiam ser _utilizadas em programas de feflorestamento, Entre elas, destaca-se a Araucaria féncia Rural, v. 28, n. 3, 1998, 6. Guerra etal. angustifolia _(pinheiro brasileiro) cujo. potencial para a producdo de alimento, madeira nobre e papel e celulose & enorme. As dreas originalmente cobertas por esta espécie, isoladamente ou em suas. combinagdes mais promissoras com a canela-imbuia © a erva-mate, correspondiam, no inicio do século, a mais de 20 milhdes de hectares nos Estados do PR, SC e€ RS (CARVALHO, 1994). A exploragio desordenada desta espécie reduziu sua area a 5% da composigao original. O potencial produtivo do pinheiro brasileiro tem sido demonstrado em varias regides. sendo que, em alguns sitios de produgio, seu crescimento & igual ou superior as outras. coniferas. Contudo, 0 set potencial genético ainda nao foi detalhadamente estudado e aproveitado, Por outro lado, as reas com plantio de outras espécies perenes, especialmente as frutiferas, também tém aumentado, especialmente pelas pers- pectivas de mercado crescente, tanto no pi em nivel internacional, em particular nos pa MERCOSUL e da Comunidade Européia. (© Sul do Brasil apresenta grandes areas de produgio de plantas frutiferas. No Estado de SC, a fruticultura de clima temperado nao € atividade recente, tendo iniciado com a colonizagao curopéia. Porém, esta atividade ganhou uma maior expresso a partir de 1970 com a eriagio do Projeto de Fruticul- tura de Clima ‘Temperado (PROFIT), programa governamental que procurow incentivar a implanta- Gao e 0 desenvolvimento desta atividade no Estado, Atualmente, o Estado de SC conta com uma expres- siva area de produgio de magi, uva, péssego, amei- xa, péra e kiwi, aparecendo no contexto nacional como um dos principais estados produtores de frutas de clima temperado, destacando-se a cultura da macieira, cuja produgao anual atingiu 355.000t na safra 1996/97, representando 54% da producao naci- ‘onal (BOEING, 1997) ‘A fruticultura de clima temperado tem demonstrado ser uma atividade adequada as condi- Ges edafo-climiticas e sécio-econdmico-culturais do Estado, apresentando uma alta densidade econd- mica com excelente retorno a terra ocupada, a0 ca- pital investido © & mio de obra utilizada. Além da criagdo de riquezas, esta atividade contribui para a sustentagdo e fixago do homem no meio rural, de- vido aos altos rendimentos, mesmo em pequenas propriedades ¢ a utilizacdo intensiva de mao-de-obra nas propriedades maiores. 0 litoral do Estado de SC dispde de mais de trés milhdes de hectares, com dreas disponiveis para a produgdo horticola. Neste ambiente, s80 ex- ploradas fruteiras tropicais © sub-tropicais, notada- mente a bananeira, os citros, © maracujazeiro © 0 abacaxizeiro, que além de abastecerem os mercados, locais, tém vantagem competitiva nos mercados do Mercosul. A organizagao de produtores do litoral Norte do Estado, para a produgdo e exportagao de bananas para o mercado argentino, ¢ de produtores do Sul do Estado, para a produgao e exportagio de abacaxi, tem sido um fator detetminante para a ma- nnutengao © ampliagao destes mercados. FE conveni- ente lembrar que esta regido geogritica se constitui no limite austral pata cultivo de espécies tropicais. Esta condigio climética cria oportunidades para a diversificago com outras espécies horticolas. A atividade fruticola nestas regides apre- senta caracteristicas comuns as das principais re Ges proxlutoras do mundo, tais como alta produtivi- dade, alta rentabilidade e fixagio do homem no campo, por ser intensiva em mio-de-obra, E ilustra- tivo lembrar que um hectare de area cultivada com plantas frutiferas apresenta uma demanda média de mao-de-obra_de trés homens. enquanto que explora- ‘Ges extensivas, como cereais e leguminosas, em- pregam, em média, um homem para cada 10ha. Por ‘outro lado dados atuais revelam que a rentabilidade média de éreas cultivadas com graos no Brasil varia centre RS300,00 a RS500,00/ha, enquanto que a ren- tabilidade média de reas cultivadas com frutiferas atinge valores médios de RS6.000.00/ha (MAARA, 1994). Uma outra caracteristica da exploragio fruticola é a demanda continua por tecnologias rela cionadlas com 0 incremento da produtividade e com a redugio de custos de produgio. Nos tiltimos anos, © mercado consumidor de frutas e hortaligas tem apreseniado uma nova demanda associada a quali- dade biolégica destes produtos. Esta nova demanda implica a revisio day tecnologias relacionadas aos sistemas de produgo até entio empregados. Varie- dades menos dependentes do uso de insumos (em dos agrotéxicos) & mais adaptadas aos 's ambientes de cultivo necessitam ser cria- das através da manipulagdo dos recursos genéticos, A produgao de plantas ormamentais tam- ‘bém apresenta um grande potencial econdmico para © Estado. SC apresenta varias condicdes favordveis para se tornar um grande produtor e exportador, tais como: tradigéo na produgdo, dispoe de material genético diversificado e abundante (ex. bromélias © ‘orquideas) e encontra-se préximo a grandes merea- dos consumidores. Esta atividade exige grandes investimentos em capital, tecnologia e mao-de-obra qualificada, 0s quais sto remunerados pelo alto retorno proporcionado, Além disso, no Estado de SC, populagdes indigenas € milhares de produtores cultivam plantas de cick» anual, como milho, soja. feijdo, cebola, alho, etc. Em uma parcela significativa destas pro- priedades, ainda sao cultivadas variedades crioulas, no melhoradas em programas de-melhoramento. ‘Tais variedades foram ao longo do tempo acurnulan- Ciéneia Rural, v, 28, n. 3, 1998. A diversidate dos recursos do modificagdes genéticas que contribufram para sua adaptagio as condigées ambientais locais, Pode- afirmar que muitas caracteristicas de grande impor- Lncia estio presentes neste tipo de germoplasma & que poderio ser utilizadas em programas de melho- ramento voltados para condi¢des especificas, cons- tituindo-se, portanto, em um verdadeiro patriménio ‘que merece ser estudado e conservado. 5. Nova Abordagem: Aproveitamento do Am cente Atualmente, na maior parte das atividades agricolas, o enfogue referente aos ganhos de produ- tividade relaciona-se com a oblengio de materiais genétivos que aproveitem melhor 0 ambiente, com menor utilizagao de insumos, levando a uma agri cultura mais eficiente, do ponto de vista ecolégico & econdmivo, seja nos ecossistemas naturais, seja em Jireas cultivadas, Téenicas biotecnolégicas pertinen- tes poderio ser de grande valia na propagagao de gendtipos superiores © adaptados. Assim, a utiliza- ‘glo. de recursos genéticos adaptados aos ambientes disponiveis & uma estratégia adequada e de baixo custo para o aumento da eficiéncia do processo de producio vegetal ¢ & melhoria da qualidade de vida no meio rural ‘As novas demandas da pesquisa agricola requerem a formacio de recursos humanos com niveis avangados de qualificagdo ¢ capazes de elabo- rar e executar propostas cientificas, tecnolgicas © politicus relacionadas 20 uso, melhoramento © con- servago dos recursos genéticos, domesticados ou no. Esta nova énfase tem demandas associadas predominantemente a0 uso intensivo do. conheci- mento, Mais do que nunca, 0 profissional de con- cepedo, com sélida formagio bisica, constitu uma necessidade, no sentido de agregar o aprendizado e a convivéncia com a pesquisa cientifica e tecnol6gica. Estas novas demandas na pesquisa em re- cursos genéticos. vegetais devem obrigatoriamente promover a agregagio de todos os pesquisadores relacionados com esta area, atuantes nas Universida- des e demais insttuigdes piblicas ou privadas de pesquisa. Em SC, a Empresa de Pesquisa Agropecu- ia e Extensio Rural de Santa Catarina S.A. (EPAGRI) conduziu varios programas de pesquisa que geraram tecnologias agricolas que tém sido repassadas aos produtores. Para isso, estabeleceu uma considerivel rede de estagdes experimentais & centros de treinamento em todas as regides lisiogré ficas do Estado, Esta estrutura poderia ser utilizada para o estabelecimento de bancos de germoplasma, vvisando a conservago ¢ 0 melhoramento genético de variedades crioulas ¢ variedades cultivadas. Como exemplo, pode-se citar o grande nlimero © variedades de mandioca existentes no Estado que, 20, ais © anova penguins ageeola longo dos anos, foram mantidas em cultivo visando a alimentacio humana, animal ¢ a fabricagao de farinha e polvilho. Ax alteragdes drésticas observa das nos sistemas de produgio agricola no Brasil. nos Uiltimos anos, resultaram em um sistema de pesquisa e exploracao agricola baseado em monocultivos com reflexos no sistema de produclo agricola do Estado, Os agricultores comegaram a suprimir a diversifica- io do cultivo nas suas propriedudes e, com isso. grande parte dos recursos vegetais — especialmente variedades crioulas — vem sendo abandonadas. © correm 0 risco de se extinguirem. Desta maneira, toma-se imprescindivel a coleta, caracterizagio © manutengio deste germoplasma vegetal que poderd ser passivel de utilizagio © methoramento. 6. A nova pesquisa em recursos genéticos vegetais As novas demandas de pesquisa no setor agricola estio associadas 4 necessidade de se tra- balhar os recursos genéticos vegetais sob uma ética associada & condigdo brasileira de detentora da mai- or biodiversidade do planeta. Parte da diversidade genética vegetal esté sendo devastada rapidamente. Sao necessdrios esforcos de pesquisa para a caracte- rizagio, a conservagao, a utilizagao convencional © nio tradicional e © melhoramento deste germoplas- ma, empregando-se as chamadas tecnologias perti- nentes, Neste sentido, seria de todo recomendvel 10 de esforgos entre Universidades, através de seus grupos de pesquisa e pos-graduacao, empresas puiblicas de pesquisa © organizagdes no ‘governamentais, para o estabelecimento de progra- mas de pesquisa conjuntos. Desta maneira, seria possivel a formagio ¢ a atualizagao de pesquisadores, ‘capazes de manejar a diversidade genética existente, através do dominio ¢ emprego de tecnologias pert nentes, habilitando-os a atuar nas transformacdes agricolas atuais, de modo a favorecer o desenvolvi- mento agricola sustentavel A Figura | resume uma proposta de um programa de pesquisa associado & caracterizagao, conservacdo, manejo € utilizagio da. diversidade ‘genética vegetal, considerando 0 ambiente, os recur- sos (domesticados € nao domesticados), as linhas de atuagdio € os produtos € processos a serem abtidos, estabelecendo-se uma abrangente © holistica da diversidade genética vegetal. Por apresentar uma abordagem estrutural, esse programa propde aides de curto, médio e longo prazos, partindo-se da pres- suposigdo de que sustentabilidade © economicidade de recursos naturais somente podem ser abordadas sob este prisma, Desa maneira, os recursos genéti- cos vegetais so analisados em fungao dos ambientes € dos recursos propriamente ditos. A parti disso so estubelecidas as linhas de agio € os produtos ow Ciéneia Rural, v. 28, n. 3, 1998, 521 Guerre processos resultantes. A proposta final relaciona-se com a caracterizagio, a conservagio, a utilizagio, 0 manejo e 0 methoramento da diversidade genética vegetal sob a dtica das tecnologias pertinentes, REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ABRAMOWAY. Re SACHS. 1. A face oculta da Hubitat 2, Folha de Sie Paulo, Si Paulo, p. 2, Cader 1, 76/1996, ARCANIO. BEM. 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