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Mestrado em Sociologia
2ºciclo
Disciplina
Sociologia da Deficiência e da Reabilitação
Tema
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Informação disponível online em http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/Nossos_Meios_RBC_RevAbr2003_Artigo_2.rtf
resulta da interacção do sujeito com o meio social onde a representação social
que é formada em torno da deficiência é cada vez mais o resultado da própria
percepção e imagem que o sujeito com deficiência constrói de si próprio.
Esta alteração de perspectiva no modo de entender a deficiência ocorre
no contexto de transição de um “modelo médico” para um “modelo social” no
processo de reabilitação.
No paradigma médico-biológico, a deficiência é considerada como o
resultado de uma patologia individual, ou seja, as suas causas são estritamente
de natureza biológica logo, a deficiência é apenas de âmbito individual.
Eliminam qualquer hipótese de as suas causas serem provocadas pela
sociedade ou pelo meio físico e social (Veiga, 2006: 205).
O modelo social que define a deficiência como resultado da interacção
do indivíduo com o seu meio envolvente e que preconiza que a inclusão social
das pessoas com deficiência é considerada uma responsabilidade pública,
tende a emergir: à rejeição do modelo médico subjaz a ideia de que a
deficiência (física ou mental) é, à semelhança de outros conceitos, socialmente
construída” (Araújo, 2001: 121). É um modelo baseado na ideia de “patologia
social”, ou seja, a deficiência não é inerente ao indivíduo mas sim, à estrutura
social. A desvantagem da deficiência encontra-se no meio ambiente onde se
inserem as pessoas e nas situações do dia a dia com que se deparam.
As fracas condições de acessibilidade e mobilidade, o alto desemprego
e a fraca escolarização das pessoas com deficiência devem-se à inadequada
organização institucional dos sistemas sociais como os transportes, a
educação ou o trabalho que fazem com que as desvantagens vivenciadas
pelas pessoas nas situações mais rotineiras não cessem de aumentar.
Este modelo social permitiu perceber que os cidadãos deficientes lidam
fundamentalmente com limitações que lhes são extrínsecas: incapacidade da
sociedade adaptar-se às necessidades das pessoas com deficiência. Esta nova
abordagem sociológica da deficiência é concretizável por meio de
financiamentos, leis, estruturas físicas e apoios técnicos, mas
fundamentalmente através de uma maior consciencialização da sociedade para
as reais capacidades das pessoas com deficiência.
Deste modo, é necessário referir que a sociedade é regulada por regras
sociais construídas ao longo da história e que estas por sua vez regulam
comportamentos, estruturam comportamentos e atitudes sociais.
Relativamente às representações sociais da deficiência uma das regras
que vigora é o dever prestar assistência e auxílio, sentindo piedade pelas
pessoas que tiveram este triste destino. Mais regras sociais se verificam
nomeadamente, a de inculcar numa qualquer pessoa com deficiência
incapacidades que são socialmente reconhecidas a outras categorias, a
descrença na (res)socialização das pessoas com deficiência, o que reforça a
regra da marginalização que considera indesejável para as pessoas sem
deficiência estarem na presença de pessoas com deficiência, a regra da
segregação, segundo a qual é bom para as pessoas com deficiência estarem
juntas em locais próprios e o mais afastadas das pessoas normais, e ainda a
regra da dependência e improdutividade que, pressupõe incapacitados, inúteis,
anormais as pessoas com deficiência.
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Informação disponível online em http://www.cchla.ufpb.br/paraiwa/00-dantasdasilva.html
medidas destinadas a impedir que se promovam deficiências físicas, mentais e
sensoriais (prevenção primária) ou a impedir que as deficiências, quando se
tiverem produzido, tenham consequências físicas, psicológicas e sociais
negativas”. O princípio da reabilitação consiste num “processo de duração
limitada e com um objectivo, direccionado para permitir que uma pessoa com
deficiência alcance um nível físico mental e/ou social funcional óptimo,
proporcionando-lhe assim os meios para modificar a sua própria vida”. O
princípio da igualdade de oportunidades refere-se ao “processo mediante o
qual o sistema geral da sociedade - tal como o meio físico e cultural, habitação
e transporte, os serviços sociais e sanitários, as oportunidades de educação e
de trabalho, a vida cultural e social, incluindo as instalações desportivas e de
recreio - se tornem acessíveis para todos”. Este último princípio assume-se
como uma regra fundamental à qual as legislações dos países devem
obedecer.
Após uma leitura atenta do princípio da igualdade de oportunidades
identifica-se as seguintes contra-regras: as pessoas com deficiência devem
prover das mesmas oportunidades que as pessoas sem deficiência; as
pessoas com deficiência não devem ser vítimas de discriminação; devem ser
vistas como capazes de exercer os direitos e liberdades consagrados aos seus
concidadãos e devem, ainda, ter direito à educação, ao trabalho, à segurança e
protecção social.
Não obstante, para além das contra-regras de direitos, o Programa de
Acção Mundial estipula, também, regras de deveres e obrigações relativos às
pessoas com deficiência. É o que provém da contra-regra que considera o
dever destas pessoas em participar na construção da sociedade, referindo que
para isso se tem de oferecer oportunidades de emprego e não pensões de
reforma prematura ou assistência pública aos jovens com deficiência.
Por conseguinte, no documento Standarts for Services for People Whith
Developemental Disabilities, estão contidos outros princípios que identificam
outras tantas contra-regras, sendo eles: o princípio da capacidade de
crescimento e desenvolvimento; o princípio de acessibilidade para melhorar a
independência, autonomia, bem-estar e desenvolvimento do indivíduo; o
princípio da integração no ambiente físico, social e cultural; o princípio da
interacção entre os membros da família e as pessoas sem deficiência; por
último o princípio da normalização que preconiza como regra que o dia-a-dia
das pessoas com deficiência deve ser o mais aproximado possível ao das
pessoas ditas normais.
De acordo com Veiga (2006: 238), estas e outras contra-regras,
“emergem da discussão em torno de alguns direitos essenciais, como são o
direito a estar com os outros e o direito à participação funcional e social, que
são vistos como instrumentos capazes de romper o sistema de regras sociais
negativas a que estão votadas as pessoas com deficiência e de promover a
sua reabilitação e integração social”. O direito de estar com os outros encontra-
se ligado à contra-regra da acessibilidade, que permite o acesso ao exercício
de outros direitos de cidadania tais como, o direito de ter a sua própria casa, de
frequentar a escola, de ter um emprego, de deslocar-se sem obstáculos, entre
outros. Este primeiro direito relaciona-se com o direito à sexualidade activa, a
casar e ter filhos, a escolher os amigos, entre outros. A aplicação desses
direitos visa eliminar as regras segundo as quais compete às pessoas sem
deficiência definir as escolhas das pessoas com deficiência.
Por sua vez, o direito à palavra e à liberdade de expressão relaciona-se
com a contra-regra que considera o direito das pessoas com deficiência a
serem ouvidas e ao estatuto de interlocutores.
Por fim, o direito a um papel social de adulto activo e reconhecido
socialmente, considera as pessoas com deficiência aptas a encontrarem por si
próprias o equilíbrio para a sobrevivência, assim como, para o desenvolvimento
pessoal e social. Sob este ponto de vista, trata-se também do direito a uma
imagem pessoal e a uma identidade socialmente valorizada que, pressupõem o
direito das pessoas com deficiência ao uso de vestuário e acessórios de acordo
com o seu gosto, enquadrado nos padrões sociais correntes e valorizados, e a
cursar espaços sociais valorizantes.
Porém, até no campo da reabilitação e integração existem práticas
subtis de exclusão o que permite concluir, que exclusão e integração não são
práticas antinómicas. “A própria luta contra o poder do sistema de regras
sociais sobre a deficiência que se encontra socialmente instituído fica
submergida por disposições ditas de discriminação, que embora classificadas
como positivas não deixam de se desviar desse princípio. O sucesso das
próprias lutas pela normalização e pela plena integração parece depender do
próprio desvio aos princípios e contra-regras do campo da reabilitação, quando
obriga a recorrer a práticas de excepção” (Veiga, 2006: 245), como se constata
pelos lugares reservados às pessoas com deficiência que são devidamente
assinalados e por isso estigmatizantes.
Contudo, estas práticas são necessárias porque, sem elas, a participação das
pessoas com deficiência nas actividades sociais pode tornar-se problemática.
Webgrafia
http://www.mtss.gov.pt/docs/Paipdi.pdf
www.pnai.pt
http://200.156.28.7/Nucleus/media/common/Nossos_Meios_RBC_RevAbr2003_Artigo
_2.rtf
http://www.cchla.ufpb.br/paraiwa/00-dantasdasilva.html
Legislação Consultada