Você já teve aquela sensação de que o tempo está passando rápido
demais? Que parece que a virada do milênio foi outro dia? E que 2009 simplesmente voou? Ou talvez você achou que 2009 passou muito devagar, que o ano se arrastou e que, finalmente, entramos em 2010. Embora o tempo cronológico seja o mesmo para todos, a sensação do tempo passando pode variar de pessoa para pessoa. Cientistas ainda não sabem explicar como o nosso cérebro processa a noção de tempo. Entretanto, alguns estudos na área têm nos dado pistas de como o cérebro e o tempo se relacionam. Ao que tudo indica, eventos emocionais, por exemplo, uma promoção no trabalho ou o rompimento de uma relação amorosa, são sentidos por nós como fatos recentes, mesmo que já tenham ocorridos há anos atrás. Em outras palavras, a nossa percepção de tempo parece estar relacionada com a percepção de eventos em nossa memória. Maurizio Montalbini, pesquisador italiano, idealizou um experimento no qual ele mesmo foi o sujeito. Nos anos 80, Montalbini decidiu que iria morar em cavernas subterrâneas da Itália para estudar os efeitos do isolamento completo da mente humana. Levou com ele cigarros, velas, uma lâmpada a gás, e alguns livros. Sua alimentação era a base de comprimidos, mas ele também levou chocolate e mel. Através de monitores de vídeo, podia-se ver que Montalbini percebia o tempo de forma diferente: chegava a ficar acordado por 50 horas e a dormir apenas cinco. Montalbini repetiu o experimento várias vezes, sempre ficando em completo isolamento em cavernas. Nos seus experimentos, o resultado era o mesmo: Montalbini pensava que havia passado muito menos tempo na caverna do que realmente passou. Em 1987, por exemplo, Montalbini passou 210 dias em uma caverna. Ele, porém, achou que tivesse passado apenas 79 dias. A conclusão dos cientistas é que, se não tiver nenhuma influência ou referência ao tempo cronológico, por exemplo, um relógio ou o sol para nos dar a sensação de tempo, o nosso cérebro tende a condensar o tempo. Ao que parece, assim como podemos ter ilusões ópticas, podemos também ter ilusões temporais. Se você tivesse que ouvir música clássica por uma hora, como você sentiria o tempo passar? Que foi rápido, ou que pareceu durar umas 3 horas? Quando estamos fazendo uma atividade que para nós é divertida, a sensação é de que o tempo passa rápido. Se a atividade nos parece estressante, a nossa mente percebe o tempo passando devagar. O mesmo ocorre quando não temos nada para fazer e o dia nos parece enfadonho. Nesse caso, o tempo parece se arrastar. Mas se você esta fazendo algo interessante e estimulante, o tempo passa rápido. A maneira como percebemos o tempo passar tem ligação com o nosso estado mental. A verdade é que nossa mente não funciona como um relógio. Além do mais, tudo indica que a resposta sobre a nossa percepção do tempo está ligada à maneira como vemos e sentimos certos eventos. Não tendo um relógio cronológico, a mente humana emprega outros mecanismos para a percepção do tempo. Então, se você acha que o tempo passa rápido quando você está de férias se divertindo, você está certo. Comprovado cientificamente.
Denise Maria Osborne é mestranda em Lingüística Aplicada na Columbia
University (Nova York) e professora de português como língua estrangeira. dmdcame@yahoo.com
Artigo originalmente publicado pelo Jornal Clarim (Minas Gerais, Brasil):
Osborne, D. (2010, July 16). O Tempo Mental. Clarim, Ano 15, n. 727, p. A2.