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A BONECA DE SAL

Leonardo Boff

Era uma vez uma boneca de sal que desejava ardentemente conhecer o mar. Certo dia
decidiu pr-se a caminho e realizar o grande sonho da sua vida. Viajou muito, atravessando
montanhas, plancies e desertos, at chegar ao mar imenso, misterioso e fascinante ao
mesmo tempo.

Amanhecia e o sol comeava a acariciar a gua, acendendo tmidos reflexos, mas a boneca
nada conseguia compreender. Ficou imvel, boquiaberta por longo tempo, firmemente
agarrada ao solo. Diante dela aquela enorme massa sedutora.

Tomando ento coragem, perguntou ao mar:

- Diga-me: quem voc?


- Sou o mar
- E o que o mar?
- Sou eu.
- O que devo fazer para compreend-lo? Sozinha no consigo...
- simples! s me tocar

Ainda vacilando muito, a boneca deu um primeiro passo em direo gua at toc-la
mansamente com o p. A sentiu uma estranha sensao, como se comeasse a
compreender alguma coisa. Mas ao retirar o p, percebeu que os dedos haviam
desaparecido. Assustada, protestou:

- Voc mau! O que est fazendo? Para onde foram os meus dedos?

Imperturbvel, o mar retrucou:

- Por que est se queixando? Voc simplesmente deu algo de si para poder me
compreender. No era exatamente isso que voc queria?
- Sim, verdade, mas... balbuciou a boneca...

Ficou refletindo durante um instante. Depois, avanou para a gua, sem medo, e foi
envolvida pelo mar, e a cada passo a boneca de sal perdia um pouco de si. Mais avanava e
mais sentia que estava diluindo e... mais compreendia. S que ainda no conseguia dizer o
que era o mar.

E ento, mais uma vez, perguntou:

- O que o mar?

Uma ltima onda engoliu o que ainda restava dela. No momento em que estava
desaparecendo na onda que a levava e a dissolvia complemente, a boneca de sal, feita agora
mar, deu resposta a sua prpria pergunta:

- O mar sou tambm eu.

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