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Introdução
Muito se tem pesquisado, ao longo de todo o século XX, sobre o
envelhecimento e um dos fatores que tem contribuído tem sido o
considerável aumento da população idosa no mundo (VERAS;
RAMOS; KALACHE, 1987; RAMOS, 2003; RAMOS, 2004). A população
em geral necessita de conhecimentos científicos adequados para
poder compreender as múltiplas questões relacionadas a um processo
saudável de envelhecimento.
O conceito de envelhecimento, diferente do que é normalmente
entendido, refere-se a um processo que se inicia com o nascimento e
termina com a morte. Assim, o termo envelhecimento não é sinônimo
de velhice; no entanto, um conceito depende do outro. Grande parte
das vezes, uma velhice com qualidade estará em dependência de
alguns fatores diretamente relacionados ao estilo de vida.
Este estudo trabalhou com um construto teórico que tem
adquirido reconhecimento internacional e identificado, até como um
slogan, presente nas metas educacionais contemporâneas. O termo
alfabetização científica refere-se à compreensão que o público em
geral deve ter sobre diversos aspectos da ciência. Em alguns países é
reconhecido como compreensão pública sobre ciência, alfabetização
científica e, inclusive, na França, é reconhecido com o termo cultura
científica (LAUGKSCH; SPARGO, 1996).
No caso da alfabetização científica em áreas relacionadas com
as ciências da saúde, o fenômeno da alfabetização é de extrema
importância, pois condutas inapropriadas, em populações
analfabetas, podem acarretar graves conseqüências. A popularização
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Construção de um teste de alfabetização científica sobre envelhecimento saudável. Uma
análise de construto
Referencial teórico
2. Dimensão Funcional
Esta dimensão se fundamenta em contribuições da medicina, e
especificamente da gerontologia, ao conceito de saúde. Esta não deve
ser medida apenas pela presença ou ausência de doenças, mas,
também, pelo grau de preservação da capacidade funcional do
indivíduo (RAMOS, 2003).
Daí a importância de associar indicadores de capacidade
funcional à presença ou não de doenças, tanto na velhice como em
outras fases do desenvolvimento. Segundo Kane e Kane (1993), este
paradigma de saúde é resultante da interação entre diversos fatores
ligados à saúde física, à saúde mental, à independência para a
realização das atividades da vida diária, à integração social, ao apoio
sócio-familiar e à independência financeira. Como resultado, o
indivíduo poderia alcançar o bem-estar, entendido como um estado
de saúde em um sentido mais amplo. Com isto, estar saudável não
deriva, necessariamente, da ausência de problemas ou de doenças.
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Osni Alessandro Encenha, Paloma Corine Andrioli Silva, Paloma Toledo Pucca
Renato Soares Ramos, Riviane Borghesi Bravo , Roberta Cassia Vaz da Costa
Roberta Schwarz Lourenço Mendes, Samira Figueiredo Domingues
Shaila Virginia Bomfim Moreira, Profa. Dra. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira
Métodos de rejuvenescimento
Foi incluído o tema rejuvenescimento, como o outro assunto a
ser abordado dentro desta concepção de envelhecimento saudável,
porque muitas pessoas acreditam no desenvolvimento tecnológico a
favor do rejuvenescimento, confundindo este último com
envelhecimento saudável. Devido a isto, submetem-se a processos
cirúrgicos arriscados na procura de uma juventude física corporal
prolongada. Mesmo conhecendo os segredos de uma vida saudável
para um envelhecimento igualmente saudável, as pessoas continuam
tentando interromper apenas os sinais externos da velhice, tomando
cuidados com a saúde somente quando esta dá sinais claros de
debilidade e, mesmo assim, adotam medidas de modo corretivo, e
não preventivo, sem realmente adotar hábitos saudáveis. Em geral
essas práticas em cosmiatria e medicina estética são cada vez mais
freqüentes no mundo todo (DRAELOS, 1991; COLEMAN; BRODY,
1997; ODO; CHICHIERCHIO, 1998).
Muitas dessas práticas, a favor de um envelhecimento físico
estético, podem ser arriscadas quando não se têm em consideração
outros aspectos que comprometem o envelhecimento natural da pele;
por exemplo, exposições excessivas ao sol, consumo de álcool, fumo
e hábitos alimentares não balanceados (VELASCO; OKUBO; RIBEIRO,
2004).
Método
Descrição e seleção da amostra
Para este estudo, selecionou-se uma amostra de 18
profissionais que atuam na área de saúde e trabalham com pessoas
idosas, seja em ações preventivas como curativas. A amostra foi
composta por geriatras, educadores físicos, fisioterapeutas,
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Construção de um teste de alfabetização científica sobre envelhecimento saudável. Uma
análise de construto
Variáveis ou Definição
Fatores
Atividades da vida Avaliação das capacidades funcionais para a realização
diária (AVD) das atividades da vida diária e auto-cuidados (tomar
banho, alimentar-se etc) e capacidades para realizar
atividades instrumentais mais complexas (fazer
compras, cozinhar, ir ao banco, passear).
Saúde física (SF) Avaliação de diversos indicadores que interferem no
processo saúde-doença do indivíduo, como a presença
de doenças, sintomas, exames laboratoriais e clínicos
anormais, hábitos de vida inadequados, uso excessivo de
medicamentos, entre outros.
Saúde Mental (SM) Avaliação de indicadores de capacidades cognitivas ou
intelectuais e do estado afetivo-emocional.
Bem-estar social Avaliação de indicadores de satisfação, felicidade, bem-
(BS) estar com o relacionamento social, relações humanas
satisfatórias e apoio familiar.
Fatores Avaliação de conhecimentos gerais sobre
Multidimensionais envelhecimento, assim como da relação existente entre
(FM) os aspectos físicos, sociais e mentais , durante o
processo de envelhecimento na vida adulta.
Discussão de resultados
Segundo Pasquali (2000, p. 15), para se elaborar um
instrumento de avaliação, é extremamente necessário que exista,
previamente, uma sistematização teórica sobre os construtos que o
instrumento mede, no caso deste estudo, a alfabetização científica.
Embora o desenvolvimento teórico sobre o envelhecimento não
seja fraco, a multiplicidade de avanços e descobertas científicas faz
com que, constantemente, muitas pessoas tentem se conduzir
baseadas em tais descobertas, o que pressupõe um mínimo de
informações científicas sobre o tema. Entretanto nem sempre as
informações científicas que chegam ao leigo são rigorosas, sobretudo
porque a prevenção de problemas de saúde na velhice não deve ser
praticada somente nesta fase e, sim, ao longo de todo o curso de
vida. No corpo teórico introdutório do artigo procurou-se sistematizar
as informações científicas sobre envelhecimento saudável. Acredita-
se, como diz Pasquali (2000, p. 15), que a miniteoria desenvolvida
guiou a elaboração do instrumento de medida do construto
Considerações finais
Destacamos que, para a construção do instrumento, foi
realizada uma cuidadosa revisão bibliográfica das principais áreas que
podem ser incluídas em uma alfabetização, ou cultura geral,
orientada para um processo saudável de envelhecimento. É útil que
os conhecimentos científicos estejam presentes na cultura geral das
pessoas, sobretudo de um tipo de pessoa que, no século XXI, deve
estar consciente de que a sua expectativa de vida pode ultrapassar
os 70 anos de idade. Porém, não é suficiente atingir mais de 70 anos;
também é necessário que as pessoas, desde jovens, desenvolvam
hábitos saudáveis de vida para garantir um mínimo de qualidade na
velhice.
Sob esta perspectiva, foi construído este instrumento piloto,
que foi avaliado por um grupo de juízes quanto à pertinência dos
itens aos construtos que foram julgados essenciais para um processo
científico de alfabetização que as pessoas leigas deveriam ter.
Foi relevante o fato de poder inferir que, dos 74 itens que
inicialmente compuseram o instrumento, 50 podem ser considerados
para um futuro estudo de validação em uma amostra populacional de
indivíduos adultos. Os dados obtidos mostram que a maior parte dos
itens ficou distribuída em quatro dos cinco construtos definidos (SF,
SM, BS e FM). No caso do construto AVD, apenas um item obteve um
índice de concordância acima de 70%. Devido a esse dado, em uma
fase posterior da pesquisa será reavaliada a quantidade de itens do
instrumento, pois em outros construtos o número de itens foi
razoável em detrimento dos itens do construto AVD.
Finalmente, queremos salientar o resultado obtido em relação
aos índices de clareza dos itens que foram avaliados pelos juízes.
Referências bibliográficas
Contato:
Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira
cris@teixeira.org
Tramitação:
Recebido em junho/2006
Aceito em novembro/2006