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Revista de Ciências

Farmacêuticas
Básica e Aplicada Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl., v. 28, n.3, p. 279 - 286, 2007
Journal of Basic and Applied Pharmaceutical Sciences ISSN 1808-4532

Avaliação do uso de pomada à base de sementes de


jaqueira (Artocarpus heterophyllus Lam) na terapêutica
tópica de feridas
Vitorino Filho, R.N.L.1; Batista, M.C.S.2*; Verçosa, B.L.A.1; Silva, S.M.M.S.3; Machado, A.S.F.1;
Bonfim, J.M.1; Brandão, A.A.C.1; Sousa, J.B.B.4.

1
Curso de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina, PI, Brasil.
2
Departamento de Morfofisiologia Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina, PI, Brasil.
3
Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Piauí, UFPI, Teresina, PI, Brasil.
4
Secretaria Estadual da Saúde do Piauí, SESAPI, Teresina, PI, Brasil.

Recebido 17/10/2007 / Aceito 17/04/2008

RESUMO observada nos seres vivos é de suma importância para sua


sobrevivência (Sanchez Neto et al.,1993).
As propriedades cicatrizantes da jaqueira (Artocarpus A cicatrização de feridas consiste em uma perfeita
heterophyllus Lam) são atribuídas a uma proteína en- e coordenada cascata de eventos celulares e moleculares que
contrada na semente de sua fruta que, em casos de quei- interagem para que ocorra a repavimentação e a
maduras de pele, proporciona a regeneração do tecido reconstituição do tecido. Tal evento é um processo dinâmico
danificado em vez da substituição por tecido conjuntivo que envolve fenômenos bioquímicos e fisiológicos que se
fibroso. Objetivando avaliar macro e microscopicamen- comportam de forma harmoniosa a fim de garantir a restau-
te o efeito da pomada formulada com o pó obtido a par- ração tissular (Mandelbaum et al., 2003).
tir de sementes de jaca na cicatrização, por segunda in- A cura ou reparação de feridas corresponde ao pro-
tenção, de feridas cutâneas em camundongos, limpas e cesso de cicatrização, que pode ocorrer por primeira inten-
infectadas experimentalmente por Staphylococcus aureus, ção, quando há união imediata das bordas ou por segunda
realizou-se o estudo em 96 camundongos nos quais fo- intenção, quando as bordas ficam separadas e há necessida-
ram feitas feridas experimentais na região dorso-late- de de formação de um tecido chamado cicatricial (Howel &
ral. Cada grupo, com 12 animais, recebeu um tipo de Maquart, 1991).
tratamento. O grupo GI serviu como controle para feri- Na rotina diária, os médicos veterinários atendem
das limpas, o grupo GII foi o controle para feridas pacientes com os mais diversos tipos de ferimentos, deven-
infectadas e os demais foram tratados topicamente com do escolher a melhor forma de tratamento, que busca repa-
pomada à base de semente de jaca em diferentes esque- ração tissular e cuja instituição depende da localização do
mas de administração. Os animais foram avaliados dia- ferimento, grau de lesão tecidual, tipo de secreção e de cica-
riamente e sacrificados cinco, 10 e 13 dias após a cirur- trização observada (Pereira & Arias, 2002).
gia, sendo removido o tecido cicatricial e circunjacente Em feridas limpas, ou seja, aquelas isentas de con-
para avaliação histológica. Os resultados mostraram que taminação, a cura pode ocorrer dentro de 15 dias, dependen-
não houve diferença estatisticamente significativa entre do da extensão do traumatismo, higidez orgânica, adoção ou
os tratamentos. não de medidas terapêuticas que acelerem o processo. Nas
Palavras-chave: camundongos; cicatrização; feridas; jaca; feridas contaminadas, o período requerido para a cura é maior
Artocarpus heterophyllus Lam; lectina. e a instituição do tratamento adequado é indispensável
(Richardson et al., 1988).
A semente de jaca, assim como a de muitos vege-
INTRODUÇÃO tais, contém uma classe especial de proteínas, as lectinas. A
lectina KM+, presente na semente de jaca, além da proprie-
Ferida, ou ferimento, é uma lesão corporal física dade de induzir a migração de neutrófilos e proliferação ce-
que resulta no rompimento da continuidade normal das es- lular, favorece a regeneração, que é feita pela substituição
truturas (Probst, 1998). A capacidade de reparação tecidual do tecido lesado por tecido normal em vez de tecido cicatricial

*Autor Correspondente: Maria do Carmo de Souza Batista - Departamento


de Morfofisiologia Veterinária - Centro de Ciências Agrárias - Universidade
Federal do Piauí, UFPI - Campus Universitário Min. Petrônio Portela, s/
no. Bloco 6 - CEP: 64049-450 - Teresina - PI, Brasil. - Telefone: (86)3215-
5562 - Fax: (86)3215-5560 - e-mail: cbatista@ufpi.br
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Terapêutica tópica de feridas

(Barreira, 2004). Lectinas correspondem a uma classe de tório de Imunohistoquímica e Biologia Molecular do Cen-
proteínas presentes em diferentes organismos, incluindo o tro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí.
homem. Suas estruturas moleculares são diferenciadas, pro-
porcionando o encaixe específico com açúcares de superfí- Sementes de jaqueira
cies celulares. Esse reconhecimento de açúcares feito pela
lectina da semente de jaca, denominada KM+, é responsável Nome científico: Artocarpus heterophyllus Lam.
por desencadear reações celulares que induzem o comporta- Exsicata No de Registro TEPB: 23.131. Herbário Graziela
mento ideal do tecido diante de queimaduras. Um estudo Barroso - Centro de Ciências da Natureza/ UFPI.
experimental com esta proteína em queimaduras mostrou que
as lesões são regeneradas de modo acelerado, a necrose Metodologia
tecidual é evitada e o tecido que se recompõe não é fibrótico,
cicatricial, mas sim formado por células sadias, funcionais, Preparo da formulação
fato demonstrado pela repilificação precoce do local lesado
(Barreira, 2005). As sementes extraídas foram desidratadas em estu-
Embora tenham sido pesquisados e desenvolvidos fa de ventilação forçada a 45oC onde permaneceram por dois
muitos recursos e tecnologias para favorecer a cicatrização, dias. Em seguida, foram pulverizadas em moinho elétrico
muito há o que se pesquisar para descobrir recursos acessí- do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrá-
veis a maior número de pessoas e que sejam igualmente efi- rias da Universidade Federal do Piauí. Testou-se a seguinte
cientes, tecnologicamente mais simples e oriundos de maté- formulação de pomada (30 g de pó de sementes + glicerina
rias-primas encontradas em regiões menos desenvolvidas. qsp 100 g).
O objetivo deste estudo é avaliar a cicatrização por
segunda intenção de feridas cutâneas, limpas e infectadas Preparação das feridas
por Staphylococcus aureus, e tratadas topicamente com po-
mada formulada com o pó obtido a partir de sementes de Após prévia aprovação do Projeto pelo Comitê de
Artocarpus heterophyllus Lam, utilizando o camundongo Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, as feri-
como modelo experimental. das experimentais foram feitas pelo método cirúrgico, me-
diante prévia anestesia dissociativa, pela associação de
cloridrato de xilazina na posologia de 8,0 mg/kg, com
MATERIAL E MÉTODOS cloridrato de ketamina na posologia de 140 mg/kg, via
intraperitoneal. Após a anestesia, foram feitas a tricotomia e
Animais de experimento anti-sepsia com álcool iodado a 2%, bem como, a demarca-
ção da área da pele pela aderência de esparadrapo na dimen-
Foram utilizados 96 camundongos (Mus musculus são de 1 cm2 e exérese do retalho de pele em torno da área
domesticus) BALB/c com cinco a seis semanas de idade, marcada (Potier et al., 1992; Nascimento & Batista, 1998).
divididos em oito grupos de doze animais, formados eqüita-
tivamente por machos e fêmeas, mantidos em condições uni- Infecção experimental
formes de manejo, recebendo ração balanceada (Fri-Lab ra-
tos - FRI-RIBE) e água à vontade. Estes animais foram for- Nos grupos experimentais pares, imediatamente
necidos pelo Biotério do Centro de Ciências Agrárias da Uni- após a cirurgia, foi procedida a infecção das feridas através
versidade Federal do Piauí. do gotejamento de cultura de S. aureus (Cepa MRPI98)
oriunda da coleção do Departamento de Microbiologia e
Amostra bacteriana Parasitologia do CCS-UFPI, com o auxílio de pipetas este-
rilizadas, na quantidade de 50 µL sobre cada ferida.
Cultura de Staphylococcus aureus (Cepa MRPI98) Para a comprovação da infecção, foi feito o
oriunda da coleção do Departamento de Microbiologia e esfregaço de material proveniente das feridas e preparação
Parasitologia do CCS-UFPI. de lâminas coradas pelo método de Gram (Koneman et al.,
2001), vinte e quatro horas após a infecção.
Reagentes
Tratamento
Reagentes utilizados na avaliação microscópica -
formol neutro tamponado a 10%, álcool etílico a 95%, ál- Confirmada a infecção, foram iniciados os trata-
cool etílico absoluto, xilol, parafina, hematoxilina, eosina, mentos e procedida a avaliação macroscópica da reparação
solução fixadora de Bouin, cloreto de ferro, água destila- tissular. O início do tratamento ocorreu 28 horas após a con-
da, ácido clorídrico concentrado, Biebrich Scarlet 1% aq, fecção das feridas (Figura 1).
fucsina ácida 1% aq, ácido acético glacial, ácido O grupo GI serviu como controle para feridas lim-
fosfomolimbidico, ácido fosfotunguistico e anilina azul. pas, o grupo GII para feridas infectadas e os demais foram
Todos os reagentes citados foram fornecidos pelo Labora- tratados topicamente com pomada à base de semente de jaca,

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Terapêutica tópica de feridas

dias após a cirurgia. Os fragmentos retirados das feridas fo-


ram fixados em formol a 10% por 24 horas, desidratados em
álcool, diafanizados em xilol, incluídos em parafina, corta-
dos em 5 m e corados pela técnica de Hematoxilina &
Eosina (Luna, 1968) e técnica do Tricrômico de Masson
(Behmer et al., 1976).

Análise estatística

O teste utilizado para a análise de variância foi o


Teste F de G. W. Snedecor ao nível de 5% de probabilidade
admitindo-se a hipótese de F > 1 (Godfrey, 1985).

RESULTADOS

Figura 1. Tratamento tópico da ferida com pomada de se- Avaliação Macroscópica


mente de jaca.
O estudo macroscópico sobre os efeitos da pomada
de semente de jaca em diferentes esquemas de administra-
sendo que, respectivamente, os grupos GIII, GV e GVII con- ção, na terapêutica tópica de feridas limpas e infectadas por
tinham animais com feridas limpas tratadas uma, duas e três Staphylococcus aureus, permitiu observar que não ocorre-
vezes ao dia. Os grupos GIV, GVI e GVIII agrupavam ani- ram diferenças estatisticamente significativas entre os gru-
mais com feridas infectadas tratadas uma, duas e três vezes pos, quanto ao tempo de cicatrização.
ao dia, respectivamente. Nos dois primeiros dias após a cirurgia, as feri-
A avaliação macroscópica do processo cicatricial das apresentaram-se hiperêmicas, com pouco exsudato e
foi feita pela observação diária das feridas, verificando-se a em todos os grupos tratados (feridas limpas ou infectadas),
ocorrência de hiperemia, exudação e aspecto da crosta e pro- as mesmas mostraram-se mais retraídas e ressecadas (Fi-
cedendo-se a mensuração de cada ferida com determinação gura 2).
da área da lesão a cada três dias com o auxílio de um No décimo primeiro dia após a cirurgia, todas as
paquímetro (Batista et al., 1996; Batista et al., 1997; Nasci- feridas apresentaram-se com crostas em franco processo de
mento & Batista, 1998). demolição e fagocitose pelos macrófagos, evidenciando a
Para verificar microscopicamente a evolução da ci- formação do tecido de granulação (Figura 3).
catrização foi feita a coleta de material para exame No décimo terceiro dia, as feridas evidenciaram o
histopatológico. De cada grupo foram avaliados dois ani- movimento centrípeto das suas bordas (Figura 4).
mais escolhidos ao acaso, dos quais foram retiradas cirurgi- Finalmente, no décimo sétimo dia, todas as feridas
camente as áreas da lesão e circunjacentes, no 5o, 10o e 13o de todos os grupos apresentaram-se fechadas (Figura 5).

Figura 2. Ferida infectada tratada três vezes ao dia dois dias Figura 3. Ferida limpa tratada uma vez ao dia no 11o dia pós-
após a cirurgia evidenciando uma crosta mais retraída e cirúrgico. O tecido de granulação pode ser observado no lei-
ressecada que a observada nos demais grupos de animais. to da ferida com sua coloração rósea e brilho metálico.

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Terapêutica tópica de feridas

Figura 4. Ferida limpa tratada uma vez ao dia no 13o dia pós- Figura 5. Mesmo animal da Figura 04. No 17o dia após a
cirúrgico. Os miofibroblastos promovem o movimento cirurgia as feridas apresentaram-se fechadas iniciando o pro-
centrípeto das bordas da ferida. cesso de remodelação.

Avaliação Microscópica A análise realizada nas secções histológicas no déci-


mo dia após a cirurgia sugere que no grupo GI (não tratado), e
A avaliação microscópica descritiva permitiu obser- nos grupos GIV e GVI (tratados), o processo de cicatrização
var que no quinto dia pós- cirúrgico não foi observada dife- estava mais avançado que nos demais, pois, em pelo menos
rença entre os tratamentos. Os animais de todos os grupos um animal de cada grupo foi observada migração completa de
apresentaram, na sua grande maioria, grandes coágulos com queratinócitos e presença de queratina (Figura 10). Pela aná-
presença de polimorfonucleados (principalmente neutrófilos) lise histológica não houve diferença entre grupos de ferida
e restos celulares (Figura 6). Em todos os grupos constatou-se limpa não tratada e grupos de feridas tratadas. Em todos os
o início da migração de queratinócitos (Figura 7). Grande grupos os animais evidenciaram uma redução no tamanho e/
quantidade de fibrina estava presente nas feridas dos animais ou na espessura do coágulo, sendo que em alguns animais
de todos os grupos. O tecido de granulação nos animais de este estava completamente eliminado e a fibrina mostrou-se
todos os grupos apresentou-se migrando das bordas para o cen- em mínima quantidade ou completamente removida (Figura
tro da ferida onde se mostrou como uma fina camada (Figura 8). 11). O tecido de granulação e o colágeno, na maioria dos gru-
Na análise por meio da coloração de Masson (Figura 9) obser- pos encontravam-se das bordas para o centro da ferida, sendo
vou-se quantidade mínima de colágeno nas feridas dos animais que no centro apresentavam-se de moderada a média quanti-
de todos os grupos. dade (Figura 12).

Figura 6. Grande crosta com restos celulares e poli- Figura 7. Ao quinto dia pós-cirúrgico constatou-se nos ani-
morfonucleados em ferida no quinto após a cirurgia mais de todos os grupos o início da migração de queratinócitos
(Hematoxilina & Eosina - objetiva 4x). apontada pela seta (Hematoxilina & Eosina - objetiva 10x).

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Terapêutica tópica de feridas

Figura 8. A seta curva indica o sentido da migração do teci- Figura 9. Fibras colágenas escassas nas feridas dos animais
do de granulação das bordas para o centro da ferida no quin- de todos os grupos no quinto dia após a cirurgia (Tricrômico
to dia após a cirurgia (Hematoxilina & Eosina - objetiva 4x). de Masson - objetiva 4x).

Figura 10. Setas indicando migração completa de


queratinócitos em ferida limpa não tratada dez dias após a Figura 11. Ferida com coágulo removido dez dias após a
cirurgia (Hematoxilina & Eosina - objetiva 4x). cirurgia (Hematoxilina & Eosina - objetiva 10x).

No 13o dia os grupos GII, GIV e GVI apresentaram tes-Jensen, 1998). Quando persiste o exsudato, ocorre desa-
ao menos um animal com migração completa de gregação da crosta favorecendo o desenvolvimento de ger-
queratinócitos, presença de queratina e reepitelização com- mes entre ela e o tecido de granulação (Oliveira, 1992).
pleta (Figura 13) sendo que em um dos animais destes gru- No presente estudo a substituição de neutrófilos por
pos a epiderme já se apresentava espessa com papilas macrófagos ocorreu tradicionalmente quando comparado
dérmicas formadas (Figura 14), sugerindo que os animais com a literatura, possivelmente pelo fato deste ser um estu-
destes grupos estavam em um estágio mais avançado da ci- do com feridas infectadas e de segunda intenção. Brasileiro
catrização. Também foi constatado ao 13o dia a presença de Filho (1998) relata que na cicatrização de feridas por pri-
média a grande quantidade de tecido de granulação e de meira intenção, cerca de seis horas após o trauma, a margem
colágeno na quase totalidade dos grupos (Figura 15). da ferida contém fagócitos, e por volta de 24 horas o coágu-
lo já está invadido por estas células, com predomínio dos
neutrófilos. Com 48 horas, o número de neutrófilos diminui
DISCUSSÃO sensivelmente, passando o exsudato a ser constituído predo-
minantemente por macrófagos, fenômenos esses que ocor-
Nas feridas agudas, a presença de exsudato na inci- rem também na cicatrização por segunda intenção e que fo-
são é normal durante as primeiras 48 a 72 horas. Após esse ram observados neste experimento.
período, a exsudação é sinal de prejuízo à cicatrização (Ba- A epiderme, nos seus bordos cortados, torna-se es-

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Terapêutica tópica de feridas

Figura 12. Quantidade de colágeno aumentando na matriz Figura 13. Reepitelização completa (indicada pelas setas)
extracelular de ferida dez dias após a cirurgia (Tricrômico em ferida infectada tratada uma vez ao dia no 13o dia pós-
de Masson - objetiva 4x). cirúrgico. (Hematoxilina & Eosina - objetiva 4x).

Figura 14. A seta indica uma papila dérmica em ferida Figura 15. Grande quantidade de tecido de
infectada tratada duas vezes ao dia 13 dias após a cirurgia granulação e colágeno (Tricrômico de Masson - ob-
(Tricrômico de Masson - objetiva 10x). jetiva 4x).

pessa como resultado da atividade mitótica das células basais por tecido de granulação (Contran et al., 1989). O colágeno
e, em 24 a 48 horas, células epiteliais das bordas tanto mi- inicialmente é escasso e se cora fracamente (Thomson, 1983).
gram quanto crescem ao longo das margens da derme corta- Ao décimo dia os animais do GI apresentaram um
da e por debaixo da crosta superficial, fundindo-se na linha processo de cicatrização mais acelerado, todavia, Monheit
média, assim produzindo uma camada epitelial delgada e (2004) relata que a reepitelização em feridas de primeira in-
contínua (Contran et al., 1989). tenção começa no terceiro dia e continua até o 10o a 14o dias.
Foram encontrados focos bacterianos em feridas lim- Ao décimo dia após a cirurgia, a substancial redu-
pas, possivelmente, pela utilização de serragem não estéril no ção do tamanho e/ou espessura do coágulo ou até mesmo a
manejo dos animais resultando em infecções secundárias. sua completa remoção, coincide com o que afirma Lacerda
Foi visualizada uma grande quantidade de fibrina Neto (2007), de que os macrófagos são removedores
nas feridas dos animais de todos os grupos. Kentlloyd (1992) macrofagocíticos que sintetizam proteases, fazendo a remo-
afirma que a baixa tensão de oxigênio e o acúmulo de fibrina ção de coágulos de fibrina da ferida.
no centro da lesão estimulam a multiplicação e migração Segundo (Brasileiro Filho, 1998), a quantidade de
centrípeta dos fibroblastos pela malha de fibrina. colágeno aumenta com o tempo e por volta de duas semanas
O tecido de granulação invade progressivamente o suas fibras passam a predominar na matriz extracelular, o
espaço incisional. No quinto dia, este espaço é preenchido que foi evidenciado neste experimento.

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Terapêutica tópica de feridas

No 13o dia pós-cirúrgico observou-se retração da 13 days after surgery, the scar tissue and surrounding
ferida. A função de contrair a ferida é atribuída aos tissues being removed for histological evaluation. The
miofibroblastos. Quando a ferida se fecha, o número de cé- results showed that there was no statistically significant
lulas dos vasos sangüíneos e de miofibroblastos diminuem. difference between treatments.
Isto se deve ao fenômeno denominado apoptose ou morte Keywords: mice; healing; wounds; jack-fruit; Artocarpus
celular programada, pelo qual o tecido de granulação evolui heterophyllus Lam; lectin.
para a cicatriz (Desmoliere et al.,1995).
Embora os animais dos grupos GII, GIV e GVI te-
nham apresentado ao menos um animal com migração com- REFERÊNCIAS
pleta de queratinócitos, presença de queratina e reepitelização
completa, sugerindo um estágio mais avançado de cicatriza- Barreira MCR. Utilizando substância presente na jaca, pes-
ção, não houve diferença significativa em relação aos outros quisadores da USP em Ribeirão Preto desenvolvem pomada
grupos, os quais ainda encontravam-se na fase proliferativa, capaz de regenerar as células em caso de queimaduras, 2004.
a qual, segundo Hatanaka & Curi (2007), tem duração de 12 Disponível em URL: http://www.usp.br [20 out 2004].
a 14 dias. Nesta fase, ocorre angiogênese, produção de
colágeno pelos fibroblastos e intensa migração celular, prin- Barreira MCR. Pesquisadora desenvolve pomada
cipalmente de queratinócitos, promovendo a reepitelização. regeneradora celular a partir de proteína da jaca. Desenvol-
O grande aumento na quantidade de tecido de vida na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2004.
granulação e de colágeno ao 13o foi descrito por (Contran et Disponível em URL: http://www.frmp.usp.br [27 jan 2005].
al., 1989), que afirma que durante a segunda semana, come-
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