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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – DTCS

COLEGIADO DO CURSO DE DIREITO

TEORIA GERAL DO ESTADO

ORIENTADOR: JÚLIO CESAR LIRA

TRABALHO ESCRITO DO SEMINÁRIO

Juazeiro-Ba
BRUNA RAFAELA
CARLA SENA
GIUSEPPE FERREIRA
LADIELSON GONÇALVES
PABLO REIS
UELTON DIAS

Este trabalho será entregue à disciplina Teoria


Geral do Estado, ministrada pelo professor Júlio
César Lira. O presente trabalho tem por escopo
a elaboração de um trabalho escrito para
seminário sobre o livro Do Contrato Social -
Jean-Jaques Rousseau.

Juazeiro-BA
2010
CONTEXTO HISTÓRICO: ILUMINISMO

No século XVIII, um grupo de pensadores começou a se mobilizar em torno


da defesa de idéias que pautavam a renovação de práticas e instituições vigentes
em toda Europa. Levantando questões filosóficas que pensavam a condição e a
felicidade do homem, o movimento iluminista atacou sistematicamente tudo àquilo
que fosse considerada contrária a busca da felicidade, da justiça e da igualdade.
Dessa maneira, os iluministas preocuparam-se em denunciar a injustiça, a
dominação religiosa, o estado absolutista e os privilégios enquanto vícios de uma
sociedade que, cada vez mais, afastava os homens do seu “direito natural” à
felicidade. Segunda a visão desses pensadores, sociedades que não se organizam
em torno da melhoria das condições de seus indivíduos concebem uma realidade
incapaz de justificar, por argumentos lógicos, sua existência.

Por isso, o pensamento iluminista elege a “razão” como o grande


instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e
funcionais. No entanto, se o homem não tem sua liberdade assegurada, a razão
acaba sendo tolhida por entraves como o da crença religiosa ou pela imposição de
governos que oprimem o indivíduo. A racionalização dos hábitos era uma das
grandes idéias defendidas pelo iluminismo.

As instituições religiosas eram sistematicamente atacadas por esses


pensadores. A intromissão da Igreja nos assuntos econômicos e políticos era um
tipo de hábito nocivo ao desenvolvimento e o progresso da sociedade. Até mesmo o
pensamento dogmático religioso era colocado como uma barreira entre Deus e o
homem. O pensamento iluminista acreditava que a natureza divina estava presente
no próprio indivíduo e, por isso, a razão e o experimento seriam seguros meios de
compreensão da essência divina.

Inspirados pelas leis fixadas nas ciências naturais, os iluministas também


defendiam a existência de verdades absolutas. O homem, em seu estado originário,
possuía um conjunto de valores que fazia dele naturalmente afeito à bondade e
igualdade. Seriam as falhas cometidas no desenvolvimento das sociedades que teria
afastado o indivíduo destas suas características originais. Por isso, instituições
políticas preocupadas com a liberdade deveriam dar lugar às injustiças provocadas
pelo estado absolutista.

Por essas noções instalava-se uma noção otimista do mundo que não teria
como interromper seu progresso no momento em que o homem contava com o
pleno uso de sua racionalidade. Os direitos naturais, o respeito à diversidade de
idéias e a justiça deveriam trazer a melhoria da condição humana. Oferecendo
essas idéias, o iluminismo motivou as revoluções burguesas que trouxeram o fim do
Antigo Regime e a instalação de doutrinas de caráter liberal.

Principais pensadores iluministas

Publicando em 1721 a obra “Cartas Persas”, o barão de Montesquieu


realizou uma crítica sistemática ao autoritarismo político e aos costumes de diversas
instituições européias. No ano de 1748, discutiu as formas de governo fazendo uma
análise da monarquia inglesa no livro “O Espírito das Leis”. Na mesma obra pregava
que os poderes deveriam ser divididos entre Executivo, Legislativo e Judiciário. O rei
deveria ser um mero executor das ações tomadas pelos poderes a serem intuídos
nessa forma de governo. Além disso, acreditava que uma Constituição deveria ser
redigida como lei máxima dos governantes e da sociedade.

Jean-Jaques Rousseau foi outro pensador que, para a época, tinha algumas
opiniões de caráter mais radical. Contrário a uma vida luxuosa ele afirmou que a
propriedade privada originava a desigualdade entre os homens. Em sua obra
“Discurso sobre a origem e o fundamento da desigualdade entre os homens”,
Rousseau defendeu que o homem era corrompido pela sociedade e que a soberania
popular e a simplicidade deveriam ser princípios básicos na ascensão de uma
sociedade mais justa e igualitária. No texto “Contrato Social”, defendia o princípio no
qual a vontade geral dos homens promoveria instituições mais justas.

Outro importante pensador foi Voltaire. Atacando ferozmente a Igreja e o


clero, ele acreditava que Deus não seria conhecido pelos dogmas religiosos.
Somente os homens dotados de razão e liberdade seriam capazes de conhecer as
vontades e desígnios divinos. Em seu livro “Cartas Inglesas”, criticou as instituições
religiosas e a existência de hábitos feudais ainda presentes na sociedade européia.
Mesmo sendo um grande crítico, Voltaire não defendia a revolução como
instrumento de mudança. A seu ver, as monarquias dotadas de princípios
racionalizantes poderiam renovar suas práticas e ações.

Diderot e D’Alembert, além de contribuírem com idéias, também se


preocuparam em difundir os valores do iluminismo pela Europa. Através de uma
grande compilação chamada “Enciclopédia”, reuniram o saber produzido por
diferentes pensadores iluministas. Subdividida em trinta e cinco volumes, essa obra
condensava a perspectiva iluminista sobre os mais variados assuntos.
Estabelecendo um verdadeiro movimento que ganhou o nome de enciclopedismo, o
esforço de ambos conseguiu contar com a colaboração de mais de cento e trinta
diferentes autores.

Os principais filósofos do Iluminismo foram: Jonh Locke (1632-1704), ele


acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo através do
empirismo; Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de pensamento e não
poupava crítica a intolerância religiosa; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ele
defendia a idéia de um estado democrático que garanta igualdade para todos;
Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo,
Executivo e Judiciário; Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-
1783), juntos organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e
pensamentos filosóficos da época.

CONTRATUALISMO: PRINCIPAIS TEORIAS

O contrato social tem como objetivo precípuo explicar de que forma os


membros de uma sociedade se associaram na busca da ordem social através da
formação de um Estado. Durante a história, vários pensadores expuseram suas
teorias de caráter contratualista, quase todas baseadas no trinômio estado de
natureza/contrato social/estado civil, mas divergindo na forma de execução desse
trinômio. Antes de vermos as diferentes concepções dos contratualistas, trataremos
dos requisitos para a válida existência de um contrato.

Para que haja um contrato social, faz-se necessário a predominância da


vontade geral. Esta é a manifestação da vontade de todos subtraída das vontades
que reciprocamente se destroem. Para tal, é preciso que os direitos dos indivíduos
sejam alienados. Predominando a vontade geral, temos o exercício da soberania
popular e essa jamais poderá ser dividir, justamente por ser a emanação de um
corpo coletivo. Finalmente, a forma de governo (qualquer que seja a adotada)
deverá está sempre a serviço do soberano, a serviço do povo.

Dentre as teorias contratualistas, três se destacam. Primeiramente a de


Thomas Hobbes, que foi a primeira a detalhar o contrato social e parte da premissa
de que os indivíduos vivem naturalmente e individualmente em um estado de guerra,
a partir do momento em que todos são iguais, desejam desfrutar das mesmas
coisas, mas não tem acesso igualitário a estas. Do conflito, em soma a instituição da
propriedade privada, surgem as desigualdades e nasce a necessidade do pacto que
visa à preservação da vida dos homens. Estes devem transferir seus direitos a um
homem ou assembléia que em troca dará a segurança do Estado. Tal teoria foi
exposta em Leviatã, obra publicada em 1651. A passagem do estado de natureza
para o estado civil vem com o surgimento da propriedade. Com tal teoria, Hobbes
deixa claro sua preferência monárquica de governo.

Outra importante teoria contratualista é a de John Locke. Este também


começa por explicar um estado anterior do qual os homens vieram (estado de
natureza) entretanto, tal estado, diferente do descrito por Hobbes, não se encontra
em guerra, mas em harmonia e paz. O conceito de propriedade de Locke também é
diferente, pois considera como propriedade também os bens imateriais como a vida
e a liberdade. A partir daí, infere-se que Locke acreditava que a propriedade já
existia antes da vida em sociedade. Locke, entretanto, não acredita que o estado de
natureza esteja livre de inconvenientes e propõe o contrato com a finalidade de
preservar e prevenir uma possível violação da propriedade. O caráter de submissão
hobbesiano dá lugar a um pacto de consentimento, onde os homens devem
concordar livremente em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda
mais os direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. John Locke
inova também ao inserir o direito de resistência onde a população poderia destituir o
governante caso esse não cumprisse com o estabelecido.

Na teoria de Rousseau, temos a legitimação da soberania onde a titularidade


dela agora é transferida para o povo. A liberdade do homem foi perdida com a
passagem do estado de natureza para o estado civil. Rousseau considera que não
há possibilidade de retomar o estado de natureza e propõe um pacto que forme um
corpo moral e coletivo pela união das pessoas em prol de um bem comum, tendo
como base a liberdade e a soberania popular. Tais ideais de Rousseau, explicitados
no livro “Do contrato social” publicado em 1762 e analisado por nós neste trabalho,
serviram de base para a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão.

O CONTRATO SOCIAL - LIVRO I

INTRODUÇÃO

Perguntar-me-ão se sou legislador ou príncipe, para escrever sobre


política. Se eu fosse príncipe ou legislador, não perderia meu tempo em dizer o
que é preciso fazer; eu o faria ou me calaria. Rousseau atribui às autoridades
políticas uma importante função. Admira o governo e sente-se responsável pelo
governo da sua pátria, daí sua preocupação em refletir e escrever sobre política.

CAPÍTULO I - OBJETO DESTE PRIMEIRO LIVRO

“O homem nasce livre, e por toda parte encontra-se aprisionado. O que


se crê senhor dos demais é de todos o maior escravo.”

“Quando um povo é obrigado a obedecer e o faz, age acertadamente;


mas logo que possa sacudir esse julgo e o faz, age ainda melhor, pois,
recuperando a sua liberdade pelo mesmo direito com que esta lhe foi roubada,
ou ele tem o direito de retomá-la ou não o tinham de subtraí-la.”

A ordem social é um direito sagrado, onde todos os outros se fundamentam.


Esse direito não tem origem na natureza, como a força, mas em convenções.

CAPÍTULO II - DAS PRIMEIRAS SOCIEDADES

“A família é a mais antiga das sociedades e a única natural.”

Os filhos só se sujeitam ao pai enquanto necessitam dele, depois ficam


unidos a família por vontade própria, e é por convenção que a família se mantém.

A família é a primitiva sociedade política: A cabeça é a imagem dos pais, o


povo a dos filhos. Todos nascendo iguais e livres, somente quando tiram vantagem
pra si, alienam a própria liberdade. Na família os cuidados que os pais dispensam
aos filhos supre o amor que ele lhes dedica, só que no Estado a ambição dos
governadores são maiores que o amor ao povo.

“Se há, pois escravos por natureza, é porque os há contra a natureza; a


força formou os primeiros, e a covardia os perpetuou.”.

O homem particular só pode ser soberano quando somente ele habita a terra
em que está desta forma não teme guerra, nem rebeliões.

CAPÍTULO III - DO DIREITO DO MAIS FORTE.

Reflete-se, a esse respeito, que “o mais forte nunca é suficientemente


forte para ser sempre o senhor, se não transformar sua força em direito, e a
obediência em dever”. Seria bastante fácil dar embasamento a essa afirmação,
pois qualquer tipo de associação ilegítima e involuntária poderia ser rompido a
qualquer instante, bastaria que uma das partes abdicasse da sua vontade ou, no
caso da servidão compulsória, conseguisse fugir.

A força é um poder físico, a moralidade não resulta, portanto da força. Ceder


á força é um ato preciso, e não voluntário, ou quando muito prudente. Se por força
cumpre obedecer, então, desnecessário é o direito.
CAPÍTULO IV - DA ESCRAVIDÃO

Já que nenhum homem tem autoridade natural sobre seus semelhantes,


e já que a força não produz nenhum direito, restam então as convenções como
base de toda autoridade legítima entre os homens.

Assim como um particular pode alienar sua liberdade, um povo todo também
pode. Dizer que um homem gratuitamente se dá é um absurdo, dizer o mesmo
de um povo é uma loucura, e loucura não cria direito.

Mesmo que um homem aliene a si mesmo não pode alienar seus filhos, que
nascem livres. Sua liberdade lhes pertence. Renunciar a própria liberdade é
renunciar à qualidade de homem, aos direitos da humanidade, aos nossos próprios
deveres; para quem renuncia a tudo, não há compensação possível.

Não se tem compromisso algum com aquele que se tem o direito de tudo
exigir. Na guerra tendo o vencedor direito de matar o vencido, pode resgatar a vida
à custa de sua liberdade. Os homens em absoluto não são naturalmente inimigos. A
relação entre as coisas e não entre os homens é que gera a guerra. A guerra não
representa, pois uma relação de homem para homem, mas uma relação de Estado
para Estado, na qual os particulares só acidentalmente se tornam inimigos.

O estrangeiro que mata ou detém os súditos e não declara guerra ao príncipe,


não é um inimigo, é um bandido.

Pode-se eliminar o Estado sem matar um só de seus membros. Só se tem o


direito de matar o inimigo, quando não se pode torná-lo escravo. È uma troca injusta,
fazê-lo comprar, pelo preço da sua liberdade, a sua vida.

A escravidão é um tipo de morte útil. Firmaram uma convenção que dá


continuidade ao Estado de Guerra. O direito de escravidão é nulo e ilegítimo e não
significa nada. Escravo e direito são palavras contraditórias, excluem-se
mutuamente.
CAPÍTULO V - CUMPRE RECORRER SEMPRE A UMA PRIMEIRA
CONVENÇÃO.

Homens que se sujeitam a uma só autoridade, independente do número, não


passam de escravos, segundo Rousseau. Um homem por mais que escravize todo o
mundo, é sempre um particular com interesses privados.

Realmente, se não existisse nenhuma convenção anterior, onde estaria a


obrigação da minoria em se submeter à escolha da maioria? E de onde provém o
direito de cem, que querem um senhor, votar por dez que não o querem.

CAPÍTULO VI - DO PACTO SOCIAL

O meio de conservação que os homens têm para resistência é somar forças


para pô-las em ação e obrar em harmonia. A força e a liberdade são os principais
instrumentos de conservação do homem, porém ele não pode empenhá-los sem
prejudicar o cuidado que deve a si mesmo.

CAPÍTULO VII - DO SOBERANO

Quando a multidão se encontra reunida segundo o pacto social não se pode


ofender um dos membros sem atacar o corpo, e ainda atacar o corpo sem que os
membros se ressintam.

O corpo soberano não é mera agregação de indivíduos em suas


particularidades, ao ser membro de um corpo soberano, cada indivíduo deve
considerar somente o interesse comum que compartilha com outros indivíduos
iguais a ele, deve considerar-se, e julgar e decidir somente como um membro do
povo. Portanto, para Rousseau, surge junto com o Estado civil a troca da liberdade
natural pela liberdade civil, através do pacto social, o homem substitui a liberdade
natural por uma liberdade moral. Aquele que se recusar obedecer à vontade geral
será a ela constrangido por todo um corpo.

CAPÍTULO VIII - DO ESTADO CIVIL

No estado civil o homem substitui o instinto de justiça pela moral, até então
desconhecida. O autor exalta o estado civil atribuindo-lhe que fez o ser anterior que
era um animal estúpido e limitado tornar-se um ser inteligente e um homem.

O que o homem perde pelo contrato social é sua liberdade natural e um


direito ilimitado a tudo que o seduz e que ele pode alcançar. O que ele ganha é a
liberdade civil e a propriedade de tudo que possui.

A liberdade moral é a única a tornar o homem verdadeiramente senhor de si


mesmo, porque o impulso do puro apetite é a escravidão, e a obediência à lei que se
prescreveu é liberdade.

CAPÍTULO IX - DO DOMÍNIO DO REAL

A posse pública é mais forte e irrevogável. No estado civil são necessárias as


seguintes condições para direito de primeiro ocupante para qualquer terreno: 1º -
Que este terreno não esteja ainda habitado por ninguém; 2º Que dele se ocupe a
porção que tem necessidade para subsistir; 3º Que dele se tome posse pelo trabalho
e pela cultura e não por uma cerimônia vã, estes requisitos devem ser respeitados
na ausência de títulos jurídicos.

Quando se toma por posse um terreno conjuntamente, o direito que cada


particular tem sobre seus próprios bens está sempre subordinado ao direito que a
comunidade têm sobre todos. “O pacto fundamental em lugar de destruir a
igualdade natural, pelo contrário substitui por uma igualdade moral e legítima aquilo
que a natureza poderia trazer de desigualdade física entre os homens que, podendo
ser desiguais na força ou no gênio, se tornam todos iguais por convenção e de
direito.”
Livro II – Análise dos Principais Pontos

A definição de soberania é uma das bases do Estado Moderno e só vai


aparecer com Bodin no século XVI onde soberania é definida como poder absoluto e
perpétuo de uma república. Absoluto, pois o poder soberano não tem qualquer
limite, com exceção das leis divinas e naturais, pois estas ninguém podia contrariar e
perpétuo, pois a soberania não pode ter duração, tempo limite. Com a publicação do
Contrato Social em 1762, Rousseau transfere a titularidade da soberania para o
povo. A concepção de soberania popular criada por esse filósofo francês está entre
as mais radicais já criadas na teoria política, pois coloca cada cidadão na condição
de formador da vontade geral, o órgão ao qual Rousseau atribuía o exercício do
poder soberano.

Rousseau afirma que a soberania é algo inalienável, pois somente a vontade


geral pode dirigir as forças do Estado, segundo o fim de sua instituição, o bem
comum. Embora seja possível fazer uma vontade particular concordar com a
vontade geral em torno de algum ponto, é impossível que este acordo seja durável e
constante, pois a vontade particular tente às preferências e a vontade geral tente à
igualdade. Mais impossível é um fiador deste acordo, pois se houvesse seria um
efeito do acaso. O soberano pode desejar o que um homem deseja atualmente, mas
não pode desejar o que o homem desejará depois. Não há poder que possa obrigar
o ser que deseja a consentir algo contrário ao seu próprio bem. Se o povo promete
simplesmente obedecer, perde a condição de povo e se dissolve por este ato. Se
houver um senhor não haverá soberano e o corpo político se dissolverá. O soberano
por se configurar como ser coletivo, só pode ser representado por ele mesmo. É
possível transmitir a outrem o poder, mas nunca a vontade. Esta será sempre do
corpo coletivo como um todo.

A soberania também é indivisível pelo mesmo fato de ser inalienável, pois a


vontade ou é geral ou não é. A declaração da vontade geral é um ato soberano e é
lei. A declaração de uma parte é uma vontade particular ou ato de magistratura, um
decreto, no máximo. Rousseau faz uma crítica aos políticos que não podendo dividir
a soberania em princípio, a dividem em seus fins e objeto, em força e vontade, em
poder executivo, legislativo, judiciário, etc., ora confundindo as partes, ora
separando-as. Fazem do soberano um ser formado de peças relacionadas, como
um homem feito de membros de diferentes corpos. Após desmembrar o corpo social
com habilidade e prestígio ilusórios, unem as diferentes partes não se sabe como.

Após constatarmos a vontade geral como órgão soberano, aqui nos vale fazer
uma distinção entre vontade geral e vontade de todos. A vontade geral seria a do
todo coletivo, a que visa o interesse comum, o bem comum. A vontade geral seria a
soma das vontades particulares que reciprocamente se destroem. A vontade de
todos, ao contrário, observa o interesse privado e nada mais é do que a soma das
vontades particulares.

Quanto aos limites do poder soberano, podemos inferir que este está
condicionado às convenções estabelecidas. Vimos que as principais idéias são
desenvolvidas a partir de um princípio centra que é a soberania do povo, inalienável
e indivisível. Tal povo, então, tem interesses, que são nomeados como vontade
geral, que é o que mais beneficia a sociedade. Evidentemente, o “soberano” tem que
agir de acordo com essa vontade, o que representa o limite do poder de tal
governante: ele não pode ultrapassar a soberania do povo ou a vontade geral.
Rousseau, no capítulo IV do livro ao qual analisamos, fala que: “Por isto, o poder
soberano, por mais absoluto, sagrado e inviolável que seja, não passa nem pode
passar dos limites das convenções gerais, seguindo daí que o soberano jamais terá
o direito de onerar mais a um do que a outro cidadão, porque, então, tornando se
particular a questão, seu poder não é mais competente.” (Rousseau, 1987, p.50-51)
Sintetizando tudo isso, podemos dizer que o contrato social estabelece um
patamar de igualdade no qual todos se comprometem nas mesmas condições e, em
conseqüência disso, devem usufruir dos mesmos direitos. Quando se trata de um
direito ou fato particular sem regulação geral e prévia, torna-se um processo
contencioso, com particulares interessados como uma parte e o público outra, no
qual não há lei ou juiz adequado. Uma expressa decisão da vontade geral seria
apenas a conclusão de uma das partes, uma vontade estranha, particular e
inclinada. Como a vontade particular pode não representar a vontade geral, a
vontade geral muda de natureza quando cuida de um objeto particular e não pode
decidir nem sobre um homem ou fato específico. Todo ato de soberania que é
autêntico da vontade geral, obriga ou favorece da mesma forma que o soberano
conheça apenas o corpo da nação sem distinguir os corpos que a compõe. O ato
deve ser uma relação do corpo do soberano com cada um de seus membros.

Quanto à lei, podemos afirmar que esta é o que todo povo estatui para todo
povo. A lei é o que dará vontade e movimento ao corpo político criado a partir do
pacto social. Quando o povo estatui sobre o povo, só a si mesmo considera. A
relação que se forma é do objeto inteiro visto pelo mesmo objeto inteiro, sem
nenhuma divisão. Então a matéria que se estatui passa a ser geral, da mesma forma
que é geral a vontade que a estatui. A este ato, chamamos de lei. Existe uma justiça
universal que emana da razão, mas que precisa ser recíproca para ser admitida
entre nós. São vãs as leis dessa justiça à falta de sanção natural, pois se tende a
observá-la nos outros e não consigo, favorecendo o mal e prejudicando o bom.
Assim se faz necessárias convenções e leis para unir os direitos e deveres e orientar
a justiça ao seu objetivo. No estado natural nada se devia àqueles a quem nada se
prometeu; só se reconhecia como de outrem aquilo que se considerava inútil para si.
No estado civil, porém, os direitos são fixados por lei.

Quanto à figura do legislador, Rousseau afirma que seria necessário


verdadeiramente deuses para a construção de leis para os homens. Para descobrir
normas convenientes às nações, seria necessário alguém que tivesse uma
inteligência superior, que conhecesse as paixões e o íntimo humano, mas que não
fosse influenciado por tais fatores. Aquele que dar leis a um povo, deve se sentir
elemento transformador da natureza humana.

LIVRO III “Que trata das leis políticas, isto é, da forma de governo”. Nesse
livro Rousseau mostra os principais pontos deste tratado, as formas de governo
possíveis que pode ser encontrado. Este livro se desdobra em 18 capítulos.

É necessário um mecanismo que reúna e empregue a força da vontade geral


e que sirva de comunicação entre o Estado e o Soberano. O governo é o canal
estabelecido entre o soberano e os vassalos, encarregado na execução das leis e
na manutenção da liberdade civil e pública. Sendo assim ele é o exercício legal do
poder executivo; e o príncipe ou magistrado, a pessoa incumbido dela. Ele fala
também que quanto mais se amplia o estado mais a liberdade diminui. Isto porque
quando um certo numero de pessoas ficam submetidas a um único soberano, a sua
liberdade é dividida entre todos. Todos ficam submetidos ao mesmo regime de leis,
mais seu voto terá a importância condicionada pelo número de pessoas que podem
votar.

É o governo é um novo corpo do estado distinto do soberano e do povo e uma


intermediação entre os dois. A diferença entre estado e governo, é que o primeiro
existe por si só e o segundo só existe por vontade do soberano. Dessa forma a
vontade do magistrado é a vontade geral, e sua força é a força pública concentrada.
Quanto maior for o numero de magistrado mais fraco será o governo. Ele fala ainda
que o ideal seja que a vontade individual ou particular fique nula, e a vontade geral
que é soberana, sempre domine na execução das vontades do governo.

No terceiro capítulo, ele faz a divisão das formas de governo. Quando o


governo é confiado ao povo, temos a Democracia. Quando o poder é restrito nas
mãos de um pequeno número de pessoas temos a Aristocracia. E quando o governo
fica concentrado nas mãos de um único homem, temos a monarquia.

Democracia – É muito perigoso concentrar o poder de legislar com o de


executar as leis, pois interesses privados podem se misturar a interesses públicos.
Ele fala que a democracia de fato nunca existiu e nunca poderá existir. Ele fala que
a democracia é privilégio de estados pequenos, onde é possível juntar o povo com
facilidade. E nesse estado deve haver igualdade de classes e não existir luxo.
Salienta ainda que não exista governo que mude de forma tanto como o
Democrático e por isso é um dos mais suscetíveis a guerra civis e agitações
internas. Divido a perfeição na sua essência, o governo democrático é tão perfeito
que não pode ser implantado em sua totalidade na sociedade humana.

Aristocracia – No Governo aristocrático, por causa do poder estar nas mãos


de poucos, existem duas vontades gerais: uma para todos os cidadãos e outra só
para a parte que administra. Existem três tipos de Aristocracia: A Natural, que é
particular das sociedades simples; a eletiva que segundo ele seria a melhor forma,
em que o povo elegia os magistrados. E por fim a hereditária, que segundo ele seria
a pior forma de aristocracia.

Monarquia – Na monarquia temos o poder reunido nas mãos de uma pessoa


natural. Sendo assim um indivíduo representa o coletivo, tendo todas as faculdades
de governo em um único lugar. Apesar de ser o mais vigoroso é o que mais impera a
vontade particular. Os réis desejam ser absolutos e amados, contudo esse poder é o
mais precário e condicional. As monarquias se manifestam nos estados maiores.

Quanto mais à administração pública é numerosa mais se chega a igualdade


política entre os cidadãos, a monarquia ao contrario é o ponto máximo de
desigualdade política. Outra desvantagem do governo monárquico em relação ao
republicano é que este quase sempre coloca no poder homens esclarecidos e
capazes, enquanto o governo monárquico coloca comumente trapalhões e tolos,
tendo em vista sua hereditariedade.

Ele fala ainda que os governos mistos é a pior forma de governo, pois não
tem uma unidade central, sendo mais fácil a revolução, pois este não tem uma força
suficiente para manter a ordem numa época de crise. Diz que não existe uma forma
de governo adequada a todos os países. Para cada clima, condição social, cultura
existe um modelo mais adequado. Para os estados pequenos a democracia, para os
médios a aristocracia e para os grandes a monarquia.

Rousseau diz que o objetivo da sociedade política é a conservação e


prosperidade de seus membros, procurando manter seu número e população.
Mostra como a atitude de alguns governos possa degenerá-lo. Ele faz a analogia do
governo que se opõe a soberania a de um homem na velhice, em que ambos
inevitavelmente morrerão. Ele continua falando que o corpo político morre assim
como o homem que trás consigo a sua destruição. E cabe ao homem prolongar o
máximo possível a existência do estado.

Adverte que um estado não deve manter uma grande quantidade de


população a exemplo de Roma que teve uma população imensa e muitas
dificuldades de exercer a autoridade soberana, extinguindo assim o Estado e fala
que a autoridade soberana em si é simples e não pode ser destruída. Ele diz que
quando o povo está legitimamente junto do corpo soberano, suspende-se o
executivo, pois onde se encontra o representado extingue-se o representante. Fala
que o povo deve ser amante da liberdade. Condena os deputados e representantes
que dizem que são a favor do povo e só se preocupam com dinheiro. A soberania é
inalienável e não pode haver políticos que exerçam o direito de executar a vontade
geral que esteja alienada ao dinheiro.

Fala ainda que a idéia de governo não é um contrato. Afinal não se pode fazer
um contrato social que obrigue a obedecer a um soberano e ao mesmo tempo viver
em liberdade. Nesse caso, quem estabelece o estado é a lei. A instituição do
governo consiste na criação e execução das leis. Quando um povo cria um governo
ele não contrai um compromisso, mas dá de forma provisória a administração.
Sendo assim, enquanto for do seu agrado, tem de manter a ordem e cumprir o que
está prescrito.

LIVRO IV

A Vontade Geral é Indestrutível

Embora a vontade geral possa ser silenciada ou vendida à melhor oferta


nos estados que falta a simplicidade da paz, unidade e igualdade, nunca pode ser
aniquilada a vontade geral não pode ser mudada, mas pode ser subordinada a
outras vontades, nomeadamente as vontades particulares de cada cidadão. Mesmo
quando a vontade de todos deixarem de expressar a vontade geral, ainda, continua
a existir, porém pouco perceptível. Se nos lembrarmos, a vontade geral é a vontade
que visa o bem comum. Como resultado, a vontade geral, continua a existir mesmo
quando ela é totalmente ignorada Rousseau faz uma importante distinção entre a
vontade geral e a vontade particular de cada cidadão na medida em que ele trata o
indivíduo como um soberano coletivo, a vontade geral é a vontade particular do
soberano assim como a vontade particular de cada objetivo individual para o melhor
proveito desse indivíduo, a vontade geral destina-se para o melhor proveito do
soberano, que é o bem comum.
Dos Votos

Unanimidade nas decisões populares é um sinal de um estado saudável isso


é um sinal de que a vontade geral é acordada por todos. Quando todo mundo está
apenas expressando sua vontade particular, não estão vinculados a
desentendimentos. Em um cenário pessimista, a unanimidade reaparece quando as
pessoas votam de acordo com um tirano ou por medo ou bajulação. Enquanto o
contrato social em si deve ser acordado por unanimidade, e todos os que discordam
dele devem ser expulsos do Estado, todos os outros atos de soberania pode ser
decidida por maioria de votos. Em matéria de grande importância, um voto deve ser
necessário algo próximo da unanimidade, a fim de ser aprovado, legitimado. Não
menos importante as questões administrativas, uma maioria de um deve ser
necessária para regulamentá-las de modo que as pessoas não devem votar por
desejo pessoal, mas por aquilo que consideram ser a vontade geral e o bem social.

Das Eleições

Rousseau distingue entre a eleição por sorteio (escolha ao acaso) e a eleição


de escolha. No primeiro caso em se tratando de uma democracia, o único método
justo de determinar quem deve arcar com a responsabilidade do poder seria o
acaso. Nas Eleições pela escolha temos a aristocracia escolhendo seus
representantes em que o governo é livre para escolher seus próprios membros. De
um modo geral, a eleição por escolha é melhor para preencher cargos que exigem
certo grau de especialização (tais como escritórios militares), e a eleição, por sorteio,
é melhor para o preenchimento escritórios (tais como escritórios políticos) que
exigem o senso comum, da justiça em que a sua integridade que deve ser comuns a
todos os cidadãos.

Disposições Finais
No último livro, o autor fala que a vontade geral é indestrutível, enfatiza os
problemas do sufrágio, onde abordam em uma monografia a parte, os comícios
romanos. Discute o tribunato e da ditadura, os remédios excepcionais quando o
Estado está em crise esse livro exige estudo e comentário à parte. Podemos notar
em Rousseau algumas incongruências entre vida e obra. Ele se aprimora na arte de
bem dizer ao mesmo tempo em que critica a civilização. Tem preocupação
sistemática nas obras políticas. Nos livros Considerações sobre o governo da
Polônia, projeto de constituição para a Córsega e Cartas da montanha, Rousseau
aborda aspectos práticos da vida política isso vai contra a visão de que seria um
mero especulador utópico. No primeiro discurso, Rousseau lamenta a primazia
conferida à civilização aos bem agradáveis, em oposição aos bem úteis e denuncia
a vaidade dos conhecimentos científicos e artísticos, que servem de ornamento para
o espírito, e não aprimoram a postura de cidadão. Rousseau busca tem
fundamentação lógica na sua história, buscando os fundamentos do pacto político.
Em Cartas da montanha, Rousseau fala que a pior das soberanias e a aristocráticas.
Na Polônia da época de Rousseau, está pouco presente esse princípio de ser o
povo o que mais tem direito ao governo. O Estado está estagnado e desunido, mas
apesar disso conserva o vigor. A república deteriora em oligarquia. A obra de
Rousseau sobre a Polônia em alguns pontos é contrária a obra sobre o pacto social.
No contrato social temos a influência do individualismo de Locke e dos historicismo
de Montesquieu, Rousseau lamentava o fato de Montesquieu, um espírito tão
brilhante, se dedicar só a descrição histórica, e não ter muita abstração
imaginativa… Rousseau diz que as ciências e as artes servem para tornar o homem
sociável e para fazê-los amar a escravidão. Mesmo com os esforços para estudar os
homens, nos distanciamos de conhecê-lo. Foi enorme sua influência, como
pensador do Iluminismo, na Revolução Francesa e no romantismo. Ainda hoje suas
obras têm validade e são discutidas.

O livro Do Contrato Social teve influência na revolução Francesa

O livro de Rousseau é considerado a Bíblia da Revolução francesa.


Principalmente na segunda fase da revolução.
Seus dogmas de igualdade e de supremacia da maioria foram à principal
inspiração da segunda etapa da Revolução Francesa. Os ideais de liberdade e
igualdade tão discutidas na revolução francesa tiveram uma grande contribuição dos
ideais formulados por Rousseau. Entre os seus discípulos mais fervorosos
contavam-se doutrinários radicais como Robespierre. Napoleão disse que a
Revolução Francesa não teria ocorrido sem a Rousseau. Seu contrato Social foi à
base para o surgimento do homem democrático e do estado democrático que
conhecemos hoje.

Influenciou também a Declaração dos Direitos do homem e do cidadão -1789


- ocasião em que se encontraram Thomas Jefferson, então embaixador da jovem
república norte-americana em Paris, e o marquês de Lafayette, o nobre cavalheiro
francês que fora lutar, anos antes, pela libertação das 13 colônias inglesas da
América do Norte. Enfim os princípios aprovados por essa declaração acabou sendo
influenciada pelas ideais de Rousseau e outros intelectuais.

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