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A poesia pode ser definida como imitação, bem como a epopéia e a tragédia, diferindo-
se em três aspectos: ou porque imitam por meios diversos, ou porque imitam objetos
diversos ou porque imitam por modos diversos e não da mesma maneira.
Essas artes imitam com o ritmo, a linguagem e a harmonia, usando esses elementos
separada ou conjuntamente.
A epopéia é a arte que apenas recorre ao simples verbo, quer metrificado ou não.
Cap. II.
As espécies de poesia imitativa diferem devido ao objeto de sua imitação, podendo ser
homens melhores, piores ou iguais a nós. Os gêneros poéticos podem usar como meio, a
linguagem em prosa ou em verso. O que separa a tragédia da comédia é a diferença de
que esta procura imitar os homens piores, e aquela, melhores do que eles ordinariamente
são.
Cap. III.
Cap. IV.
Duas causas naturais geram a poesia, uma sendo o imitar congênito no homem
(por imitação aprende as primeiras noções), e outra pelo fato de os homens se comprazem
no imitado. É através das imagens que os homens aprendem e discorrem sobre o que seja
cada uma delas, por exemplo, “este é tal”.
Assim sendo a imitação é própria da nossa natureza (e a harmonia e o ritmo,
porque é evidente que os metros são partes do ritmo).
O metro jâmbico (de iánbizom [injuriar]) foi introduzido por Homero nos poemas
Margites e outros semelhantes, de modo que, alguns poetas antigos produziram versos
heróicos (imitação de ações nobres dos mais nobres personagens), outros versos jâmbico.
Homero foi o primeiro que traçou as linhas fundamentais da comédia, dramatizando o
ridículo.
Tanto tragédia como a comédia havia nascido de um princípio improvisado (a
tragédia, dos solistas do ditirambo; a comédia dos solistas dos cantos fálicos).
No estagio em que a tragédia alcançou e desenvolveu o diálogo, o engenho natural
logo encontrou o metro adequado, sendo que o jambo é o metro que mais se conforma ao
ritmo natural da linguagem corrente.
Cap. V.
A comédia é considerada imitação de homens inferiores, onde predomina o
ridículo. Outrora o coro da comédia era constituído por voluntários, não se sabendo quem
introduziu as máscaras, prólogo e número de atores.
Sobre a comparação entre tragédia e epopéias essas mesmas concordam apenas
em serem, ambas, imitações de homens superiores, em verso; porém difere-se a epopéia
da tragédia, pelo seu metro único e a forma narrativa.
Sobre a relação entre poesia épica e a tragédia podemos citar que, todas as partes
daquela se encontram na tragédia, porém nem todas as partes da poesia trágica intervêm
na epopéia.
Cap. VI.
Cap. VII.
O “todo” que possui certa grandeza na tragédia é aquilo que possui princípio,
meio e fim. Assim sendo, os mitos bem compostos necessitam se conformarem aos
princípios anteriormente mencionados.
Sobre o belo, como um ser vivente ou o que quer que se componha de partes, ele
consiste na grandeza e na ordem, excluindo assim, o organismo vivente pequeníssimo e o
grandíssimo, devido à sua falta de harmonia e proporção.
O limite suficiente de uma tragédia é o que permite que nas ações uma após outra
sucedidas, conformemente à verossimilhança e à necessidade, se dê o transe da
infelicidade à felicidade ou da felicidade à infelicidade.
Cap. VIII.
Uno é o mito, mas não por se referir a uma só pessoa, e sim como o fez Homero
ao compor a Odisséia, não poetou todos os sucessos da vida de Ulisses, pelo fato de haver
acontecido uma dessas coisas (ter sido ferido no Parnaso e o simular-se louco no
momento em que se reuniu o exército), não se seguia necessária e verossimilmente que a
outra houvesse de acontecer, mas compôs em torno de uma ação uma a Odisséia.
Assim sendo, o mito, como imitação de ações, deve imitar as que sejam unas e
completas, e todos os acontecimentos se devem suceder em conexão tal que, uma vez
suprimido ou deslocado um deles, também se confunda ou mude de ordem do todo.
Cap. IX.
Cap. X.
Cap. XI.
Cap. XII.
Cap. XIII.
Sobre a composição das tragédias mais belas, ela é complexa, e deve imitar casos
que suscitam o terror e a piedade, pelo fato de que a piedade tem lugar a respeito do que é
infeliz sem o merecer.
A situação intermediária é a do homem que não se distingue muito pela virtude e
pela justiça, donde seu infortúnio é decorrente de algum erro. Por isso é necessário que
um mito seja simples, onde se passa da dita para a desdita, por causa de algum erro de
uma personagem da qual antes propenda para melhor do que para pior.
Cap. XIV.
Cap. XV.
Cap. XVI.
Cap. XVIII.
Cap. XIX.
Cap. XX.
Cap. XXI.
Sobre a elocução poética podemos citar o caso de que há nomes simples e duplos.
Posteriormente “ou são compostos de uma parte não significativa e de uma parte
significativa; ou de partes ambas significativas.
Os nomes são divididos em oito partes:
1. Nome corrente: “aquele de que ordinariamente se serve cada uma de nós.”.
2. Nome estrangeiro: “aquele de que se servem os outros.”.
3. A metáfora: “consiste no transportar para uma coisa o nome de outra, ou do
gênero para a espécie, ou da espécie para o gênero, ou da espécie de uma para a
espécie de outra, ou por analogia.”.
4. [O ornato..............].
5. Nome inventado: “é o nome que ninguém usa, mas que é o próprio poeta forjou.”.
6. Nome alongado: “o nome tem uma vogal mais longa do que a própria, ou uma
sílaba a mais.”.
7. Nome abreviado: “é omitida uma parte da palavra.”.
8. Nome alterado: “é o vocábulo do qual uma parte é mantida e outra transformada.”.
Assim os nomes “Considerados em si mesmos, ou são masculinos, ou femininos, ou de
gênero intermédio.”; e também “Nenhum nome termina em muda ou vogal breve.”.
Cap. XXII.
Sobre a elocução poética é afirmado que a sua qualidade essencial é a clareza sem
baixeza. A poesia é elevada quando usa vocábulos peregrinos e se afasta da linguagem
vulgar. Será necessária a mistura de “palavras estrangeiras, metáforas, ornatos e todos os
outros nomes... enquanto os termos correntes lhe conferem clareza.”.
Sobre os alongamentos e abreviações, as “alterações dos nomes contribuem em grande
parte para a clareza e elevação do discurso; afastados da forma e do uso vulgar, fazem
esses nomes que a linguagem não seja banal, enquanto, pela parte que mantêm do uso
vulgar, subsistirá a clareza”.
Também deve ser considerado que “pelo demasiado evidente destes modos, se incorre
no ridículo, e, por outro lado, a moderação também é necessária nas outras partes do
discurso”.
Sobre o emprego das metáforas, maior ainda é sua importância, devido ao fato de que
as mesmas não se aprendem nos demais, “e revela portanto o engenho natural do poeta;
com efeito, bem saber descobrir as metáforas significa bem se aperceber das
semelhanças”.
E para finalizar sobre a tragédia e a imitação que se efetua mediante ações, “dos vários
nomes, os duplos são os mais apropriados aos ditirambos, os vocábulos estrangeiros aos
versos heróicos, e as metáforas aos versos jâmbicos”.
Cap. XXIII.
Cap. XXIV.
Outra necessidade referente à epopéia é “que a epopéia tenha as mesmas espécies que a
tragédia, a saber, ou simples ou complexa ou de carácter ou de sofrimento; e também as
mesmas partes, à excepção da música e do espetáculo.”, bem como possuir “peripécias,
reconhecimentos e cenas de sofrimento; e ainda beleza de pensamento e elocução.”.
Sendo assim, “a epopéia difere da tragédia na extensão da composição e no metro.”. Ao
mesmo tempo, “a epopéia tem uma característica muito importante para aumentar a
extensão, uma vez que, na tragédia, não é possível imitar muitas partes da acção que se
desenrolam ao mesmo tempo, mas apenas a parte representada em cena pelas actores.”.
No entanto, por ser a epopéia uma narrativa, “é possível apresentar muitas acções
realizadas simultaneamente”, donde “se aumenta a elevação do poema.”.
Disso decorre que “realmente nas tragédias deve-se criar o maravilhoso, mas na
epopéia é mais possível o irracional, principal fonte do maravilhoso.”, onde “o
maravilhoso dá prazer.”.
Assim sendo, “deve preferir-se o impossível verosímil ao possível inverosímil; não se
devem compor-se enredos com partes irracionais mas, pelo contrário, não devem ter
absolutamente nada de irracional e, se tiverem, que seja fora do enredo.”.
Referente “à elocução, deve ser trabalhada, com especial cuidado, nas partes estáticas e
que não têm nem caracteres nem pensamento.”, ao mesmo tempo em que “a elocução
demasiado brilhante asombra os caracteres e o pensamento.”.
Cap. XXV.
Com respeito à imitação de imagens do poeta, “imita sempre necessariamente uma de três
coisas possíveis: ou as coisas como eram ou são realmente, ou como dizem e parecem, ou
como deveriam ser.”.
Posteriormente haverá o caso em que, “de uma forma geral, o impossível deve
justificar-se em relação ou ao objectivo da poesia ou ao que é melhor ou à opinião
comum.”, ao passo que, “o irracional deve ser justificado por aquilo que as pessoas dizem
e ainda porque, às vezes, não é irracional. Com efeito, é verosímil que possa acontecer
alguma coisa contra a verosimilhança.”.
Sobre as censuras, elas “provêm de cinco espécies: coisas impossíveis ou irracionais,
ou impróprias ou contraditórias ou contrárias ao que é correcto em relação à arte.”.
Cap. XXVI.
Neste momento indaga-se, “qual das duas é melhor, a imitação épica ou a trágica”? No
entanto, “se a forma menos vulgar é a melhor, e essa é sempre a que se dirige ao melhores
espectadores, é por demais evidente que a que imita todas as coisas é extremamente
vulgar.”.
Posteriormente levante-se a posição de que “na verdade, dizem que a epopeia é
para espectadores distintos, -que- dispensam completamente os gestos, e a tragédia para
espectadores vulgares. Portanto, se é vulgar, é evidente que será inferior.”. Porém
primeiramente, “a acusação é feita não à arte do poeta mas do actor”; “em segundo lugar,
nem todo o movimento é reprovável, como nem toda a dança, mas apenas o dos maus
actores.”.
No entanto, “a tragédia, tal com a epopeia, mesmo sem nenhum movimento,
produz o seu efeito próprio: de facto, a sua qualidade é visível através da leitura.”.
Ao mesmo tempo, a tragédia “tem tudo que a epopéia tem e tem ainda um
elemento que não é de menos importância, como a música [e o espetáculo], através dos
quais se produzem os mais vivos prazeres.”.
Também a tragédia “realiza o objectivo da imitação numa extensão menor.”; “a
imitação dos poetas épicos tem menos unidade”; no entanto, “se a tragédia se distingue
em todas estas coisas e ainda no efeito próprio da arte (pois estas imitações devem
produzir não um prazer qualquer mas o que já foi referido), é evidente superior, uma vez
que atinge o seu objectivo melhor do que a epopeia.”.
Ao final consta que, “sobre a tragédia e a epopéia, quer sobre elas em si, quer sobre as
suas espécies e partes, quantas são e em que diferem, quais as causas de serem boas ou
não e sobre os problemas e soluções, disse o suficiente.”.