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A agonia européia ea gestacdo da nova ordem internacional (1939-1947) José Flavio Sombra Saraiva Se o periodo de 1914 a 1939 foi um todo historico nas relagdes internacionais européias, a breve fase que 0 sucedeu (1939-1947) foi marcada pelo inicio de uma outra era, quantitativa ¢ qualitativamente diferente da anterior. ‘08 espacos internacionais conquistados pela forca. Apesar do premtincio dessa nova ordem vir do periodo entre as guerras, o nascimento de um ordenamento internacional sustentado na emergéncia dos flancos europeus € desdobramento inequivoco da Segunda Guerra Mundial. Daf a relevincia daqueles nove anos turbulentos para 0 estudo das relagdes internacionais. Iniciada como mais um capitulo da guerra européia que vinha des- dobrando-se desde 1914, a Segunda Guerra passou a ser verdadeiramente mundial em 1941, Em 1947, 0 mundo jé era outro e a Europa jé tinha sucumbido. 0 presente capitulo foi dividido em trés partes qué, 20 buscam o curso subterrineo da vida internacional sobre 0 curso episédico da su- perficie politica e da historia das estratégias militares da guerra. A)pHimnGiRa pane discute a fase inicial da Segunda Guerra Mundial (1939-1941) ¢ as ilusdes dos velhos Estados enropeus, que ainda insistiam em conduzir o tempo das relagées internacionais. A segunda aborda a mundializagao do conflito (a partir de 1941) ¢ suas conseqiléncias para o nascimento da nova ordem global. [NESS SSaH |_mente tratada a evolusio progressiva na direcdo da emergéncia dos novos atores:| (MMSSEStadOS|U Nid OS TaIUiAOISOVICtICATEIAPAG! A terceira trata da regulamentacao da paz depois do conflito e da emergéncia da ordem de poder mundial sustentada na bipolaridade ideologica e militar dos Estados Unidos e da Unido Sovietica. © 5.1 Aagonia da guerra civil européia (1939-1941) Excetuando-se 6 breve period de trégua do final dos anos 1920, &BUOpA viveu uma verdadeira guerra interna desde 1914. [O/peHOdORUEWaiAOHMICIOT| _ Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939, 8 sua verdadeira mundializacao, 4 partir de maio de 1941, foi o momento mais dindmico dessa agonia, Fm tac breve espago de tempo, Paris e Londres deixariam de ser os principais centros da gravitagao do poder internacional para ceder lugar a Washington e Moscou ¢, pelo menos até 1945, a Berlim e Toquio. Apesar dos conflitos na Asia que desdobraram a agressao japonesa contra @ China, nao se pode falar ainda de uma guerra mundial. As duas guerras paralelas, ‘A agonia européia e a gestacdo da nova ordem internacional (1939-1947) ® 5.1.1 Aguerra européia (setembro de 1939 a maio de 1940) ) EL AGEESRORERET "is objetivos nao foram formulados ao mesmo tempo. Alguns autores, alids, argumentam que Hitler planejou externa alema. ou seja, a instauragdo de um Império Germanico no leste, "em territ6rio russo. Outros associam a guerra ao fanatismo nacionalista_ “anti-semita ou ao. De todo modo, hi -_ claros indicios de que seu governo RStaNanAEtEMiAaGOS, 20 final clos anos 1930, utilizar a via militar para a realizagao de seus objetivos. HEREREEVENGIE Aqueles meses lembravam, para muitos euro- peus, o compasso lento e corrosivo da Grande Guerra de 1914-1918, (GRSAGEMEA | him ssi percocet Apesar da FTG francesamomordestexiospais, Na Gri-Bretanha, 0 ministro das finangas, e depois primeiro-ministro Chamberlain, escondia, nas cores da prudéncia, 0 receio de 8 posigaes de uma arrancada de Hitler sobre a Franga e a Gra-Bretanha. D: distanciamento estratégico dos conservadores britanicos no poder. Animada pelos seus lideres, a opiniao publica nem sempre tinha a percep¢a0 dos tempos. Apesar da inferioridade militar, franceses e britinicos sentiam-se- eran Historia das relacées internacionais contemporéneas Jean Monnet, ministro francés das finangas, ficou & frente da S@juarta aria” — 0s tesouros financeiros e as poupangas monetarias de franceses e britanicos para o eventual esforgo de guerra JATEORCepIO dalvitei pela Via SCOROICAICra a0 mesmo tempo, um objetivo ¢ um ideal para os aliados franco-britanicos, [BEL ‘A percepcio de que a supremacia econdmica sobre a militar era central para vencer Hitler explica a movimentagao dos britinicos no Atlintico. ASTGGESO sistema cash-and-carry, A estratégia econdmica ¢ politica da guerra longa resultou em uma tatica Wailitar AeFEASIVA. O Conselho Supremo Aliado, 0 organismo de definigdo estra- tégica dos franceses e britanicos, era a expressio dessa visio da guerra [NISSIM [Giferengas|entre!os[aliados| Chamberlain nao queria sacrificar tropas britanicas. Daladier pensava abrir um novo front contra os alemaes de forma a impedir seu acesso a0 aco noruegués. Os conselhos do entao Coronel De Gaulle de mudar a estratégia para o campo militar e ofensivo nao foram ouvidos. GSiNgIeses azn a guerra contra Hitler e resguardavam a possibilidade de o Reich ter seu papel na | configuracio politica das relagdes internacionais européias. Os franceses faziam a guerra contra Hitler e queriam ver a Alemanha reduzida a um poder menor no conjunto europeu. De qualquer forma jffaneeses © Britanicos eXiGiai ee Os alehnes Cease as agressBes e reparassem os danos impostos a Polénia e & Tchecoslovaquia. Hitler propés a paz em 6 de outubro de 1939. Chamberlain ¢ Daladier nao a aceitaram, pois s6 Ihes interessava a paz no contexto da substituicdo do governo titere na Pol6nia e da retomada da influéncia franco-britanica sobre o continente ccuropeu. Diante das ameagas alemas, ASS Meniocracias liberais radicalizaFamn| ‘Aagonia européia ea gestacdo da nova ordem intemacional (1939-1947) 2 Para Chamberla conquista da Polonia, Para a Franca, a guerra era a oportunidade para arruinar definitivamente a Alemanha in, a tinica manei ‘a de restabelecer a ordem européia era a re- Hitler seguia seu curso, sem problemas com os aliados. O Japao estava longe e envolvido com seu avango sobre a China. A Itilia ainda nao havia se comprometido com a guerra, A Unio Soviética, apesar de seu envolvimento na Europa do Leste e do Norte, ainda nao era uma forga militar no centro da Europ: S0SOwE (mentos da Blitzkriee. da euerra-relampago. prepararam o caminho para a invasio | ‘A Alemanha perdera a guerra de 1914-1918, mas suas] [" liderancas politicas jamais haviam admitido “a vergonha de Versalhes” e perdoado. NERA alinentadios pelo es- __ pirito de revanche e por uma psicologia coletiva dominada pelo culto da forga, os a querra deveria utilizar armas nao sangrentas. A opiniao publica e os partidos, na Franga, estavam divididos. Muitos nao sabiam por que estavam em guerra, \Is.1ns até estimularam, nas divisdes francesas ¢ na a anglofobi nprensa, o debate entre a anglofilia e ia. E tudo isso levou o pais a falta de agio. Chamberlain, 0 primeiro-mi stro que antecedeu Churchill, considera va Hitler um possivel aliado e suas politicas passiveis de ajustes diplomaticos. Contudo, ao desencadear-se 0 conffito, a coesio nacional estabeleceu-se na opi- nido publica da Gra-Bretanha. Para os britanicos, a guerra era mais ideol6gica do que nacional, O inimigo era Hitler e nao 0 povo alemao. 5.1.2 0s vizinhos armados e as guerras paralelas | outras regide) A Unido Soviética. neutra.interveia na Palbnia ([jaise digiaaiavarn| (EROS Os Estados Unidos observavam, a certa distancia, os desdobra- mentos das guerras paralelas, A opiniao puibl a norte-americana i tinha feito a opgao a favor da alianga franco-bi EBIES. A opcao, contudo, era platénica ¢ nao implicava ruptura do isolacionismo. [AISGteHDFO Meso ROOSevEuanUNEIOU a neutralidade e o embargo — politica, de um modo geral, seguida pela América Latina, Na Europa, a situacao era mais complexa para os vizinhos da guerra. ia declarou-se nao beligerante, mas Mussolini pediu a Hitler dois a trés anos para GUGM PAS IHONEASSE OI PACTOTUSNGT! Os franceses e britanicos, imaginando que a Itélia se comportaria como em 1914-1915, ao mudar de time, enviaram emissirios 4) Ronn. A Bélgica retornou, em 1936, & sua tradicional neutralidade depois da Q Historia das relacoes internacionais contempordneas (RISES CGH TFFANGAERTINO. O governo Pierlot decidiu que os aliados s6 atraves- sariam a Bélgica se solicitados por Bruxelas. A protecao que a Grécia e a Roménia tinham da alianga franco-britanica de abril de 1939 parecia ter perdido sentido depois da invasio a outro pais com a mesma protegao: a Polonia, Dai as reticéncias romenas ¢ iugoslavas ¢ a prudéncia de varios paises do oriente europeu, (UWOIMe&iterRane@ OFiental, Apesar disso, os russos insstiam na possbilidade de en- volver 0 governo turco em conversagdes bilaterais de seguranga no Mediterrineo. | @ eventualmente, na Bessarabia. Gracas a Hitler, Stalin pode romper 0 “corda0 | ERRGONGEEGTERCUATGEE em 28 de setembro SIBMH| em 5 de outubro a mz. em 10 de outubro iti iS alata SOBER CS - Aarrancada da Unio Soviética sobre a Finlandia teve ressonancia internacio-- (Gal, Depois de uma herdica resisténcia liderada por Helsinque, o exército vermelho entrou no pais em 30 de novembro ¢ um governo finlandés “vermelho” foi cons: tituido por Moscou. Estocolmo, Londres ¢ Pai levantaram-se para protestar, de uma forma muito mais emocionante do que quando da invasio da Polénia, em 17 de setembro. Moscou dominou completamente a Finlandia, em marco de 1940. 5.1.3 A Franca em meio a uma guerra britanico-alema (1940-1941) ‘Renaud, um homem de decisdo que lembrava Clemenceau, Sucedeu Daladiét 1940. Os franceses forgaram os britinicos a decidir que nenhum dos dois paises deixaria a guerra separadamente. Engajavam-se as duas velhas poténcias euro- péias na mesma politica de guerra e de paz. seria cortada pela montagem de minas nas aguas territoriais da Noruega. As tro- pas de Hitler, no dia 9 de abril, desembarcaram na Dinamarca e na Noruega. Em 28 de maio, os aliados chegaram a conquistar temporariamente Narvik. A Franga era o palco de uma nova Blitzkrieg alema. A agonia européia e a gestacao da nova ordem internacional (1939-1947) ® (ESSN Em 14 de junho, Paris ia era dos alemaes, Aproveitando-se da brecha aberta pela movimentacio francesa e britanica para proteger a Holanda e a Bélgica e das debilidades estratégicas da linha Maginot, Hitler resolveu correr 0 risco de nao deixar que a alianga tranco- britanica pudesse ganhar tempo e armar-se plenamente para enfrenté-lo. © gigantesco éxodo de oito milhdes de civis franceses encheu as estradas € derrubou o moral francés. O governo ficou paralisado e dividido. Em 5 de 1940, Paul Reynaud nomeou © general De Gaulle para a Subsecretaria de Guerra, mas designou 0 Marechal Pétain para a Vice-presidéncia do Conselho. de iunho segundo, defensor do armisticio com a Alemanha, nao concordava com a idéia de Reynaud de cessar os combates, mas permanecer em guerra. Em 16 de junho, Paul Reynatid renuinciow ¢ Pétain, que o sucedeu, assinaria 0 armisticio com os alemies, em 22 de junho, € com os italianos, em 24 do mesmo més. Em ambos 0s casos, 0s governos foram transferidos para Londres. (AUER! dividida: trés quintos do seu territério encontravam-se sob a ocupagdo alemas uma pequena zona sob ocupagao italiana: ¢ dois quintos constituiam a “zona livre”. Era a propria anti-Repiblica entregue a Pét O parlamento se refugiara em Vichy e entregara seus poderes ao velho marechal. Os lideres do governo de Vichy, Pétain e Laval, dotados de certa anglofobia, acreditavam que, com a derrota francesa, os britinicos afundariam também. il HGSRGREREESMMGOAN Por mais aa aan Raciocinio tipico da agonia européia ¢ reflexo da falta de perspectiva de parte das elites francesas, a percepgao de Pétain era contida pelo apelo do general inda Gaulle. a 18 de iunho, em Londres, quando insistia que 0s aliados podiam a contar com seuss impérios coloniais ¢ com a indiistria norte-americana. A guerra, para o general, ndo era uma “batalha francesa”, mas uma “guerra mundial” ‘Seara'a Grae Bretanha/enfrentar-sozinhara’Alemanha, Para o historiador francés das relagdes internacionais René Girault, al sittiagao d0 Sea! pais &lépoca eraja/devum - poder decadente ¢ sem forca para impor seus interesses no jogo duro da guerra. Histéria das relagées internacionais contempordneas primeiro encontro entre Churchill e De Gaulle, em 9 de junho, mostrow a diferenga entre os dois aliados. O primeiro queria preservar as armas da guerra, 0 segundo _ queria langar os avides sobre a Franga. A evacuacdo de Dunquerque mostrou 0. - divéreio intelectual e estratégico entre os dois paises. Fla havia provado, para os britanicos, os limites da marina alema ea falta de eficdcia da Luftwaffe. projeto de unio franco-britanica, encabecada por Jean Monnet, proposta em Paris em 16 de junho, nao havia impedido a queda de Paul Reynaud da directo do governo francés. Churchill quis evitar, a qualquer custo, que os navios franceses se rendessem 0s alemies nos portos. Para tal, foi necessério enfrentar o almirante Gensoul e afundar alguns navios franceses. A perda de 1.200 marinheiros franceses em tais manobras acelerou a anglofobia do governo de Pétain e abriu a brecha para a ruptura das relacoes diplomaticas com a Gra-Bretanha. | apelos ecoavam todos 68 dias pela BBC. 0 acordo de 7 de outubro permitiu 0 financiamento dos sete mil homens que se juntaram a De Gaulle mais tarde. l | A agonia européia e a gestacao da nova ordem internacional (1939-1947) @ y iriam encontrar, pela via da diplomacia Os britanicos e os moderados de Vi secreta, uma forma de conviver. 5.1.4 Os ultimos suspiros da agonia européii abre-se um vazio (1940-1941) “ déncias, caracteristica central das relacbes internacionais euronéias havia varios” ropéia, auto-imputada pelos alemaes, nao mais na evolugdo das relagdes internacionais. -construra no século XIX, e do sistema de dominacdo que havia globalizado as_ _ relagdes entre os povos, o mundo caminhava em trajetéria errdtica. Os indicios. dda agonia apareciam por todos os lados, dentro e fora da Europa — seStaia "a Unio Soviética ou a China, mas a favor de uma esfera de prosperidade econo- |ans priviléains econémicos sobre aeroportos € caminhos maritimos. O governo do principe Konoye, formado em 16 de julho de 1940, favoreceu os belicistas como Matsuoka, nos assuntos estrangeiros, e 0 general Tojo, no comando dos assuntos da guerra. ~ tomaram consciéncia do vazio criado nas relagdes internacionais. [HBABLER, © jornalista White criou um comité destinado a ajudar os aliados com © intuito de defender a/Aiieria & conseguiaretunir ceren'de/800 milipessons <0” ® Histéria das relacées internacionais contempordneas Na América Latina, os movimentos das diplomacias foram difusos. A Argen- tina, mergulhada em movimentos politicos desestabilizadores, optou pela neutra- dade nos assuntos europeus. Apesar da forte relagao historica com a Alemanhae com a Itélia, OSargentinos mmaintinhann(distanciatestrategica.(OIMEKES, marcado pelo nacionalismo de Lazaro Cardenas (1934-1940) que remontava a Revolugao de 1910, mantinha posicdo de eqitidistancia, No Brasil, as correntes de opiniao se dividiam acerca da guerra européia. O -governo de Vargas traduzia as indefinigdes entre o apoio a Hitler ou as velhas, INPOLEHGHISWGRIENEAS. A politica externa apresentou-se bastante ativa nos assuntos da guerra, As definigdes acerca dos amigos ¢ inimigos, entretanto, esperariam os movimentos norte-americanos e 0s objetivos estratégicos do projeto de desenvol- vimento nacional empunhado pelas elites dirigentes. - (Os recrutamentos de contingentes coloniais ini- iaram-se, mas foram acompanhados pela formagio de outros contingentes: os dos nacionalistas africanos, que se animavam com a perspectiva de aproveitar as crises internacionais para libertarem-se das suas metr6poles, _Os primeiros passos das independéncias afro-asidticas, com suas meltiplas “feigGes © causalidades, foram dados no contexto da Segunda Guerra Mundiall 0 [EREIERERAREEEOERS 205 fatores intrinsecos| ERECT | colonial, animaria movimentos nacionalistas de libertacao na Jordania, na India, — (Dio aise ina Palestinate ein Ottras Tocalidade) A India, obrigada a entrar no conilito como parte da mobilizagio britanica, iniciou seu proprio caminho para a libertagao do jugo colonial. © impacto da guerra sobre a politica e a sociedade indianas ajudaria a explicar a independéncia daquele pais jé em 1947. Na Unio Sovietica, a Vitdria de Hitler sobre a Franea e a posicao de relativa eqilidistancia foram percebidas com apreensao, Stalinlesperava nial guetalOngal “na Franga € preparava-se para atuar como um grande poder perante o TIT Reich: | Masa rapidez do armisticio francés levou Stalin a reforcar os espacos de influéncia, (seviética nolleste europeul Na perspectiva dos acordos assinados entre Moscou Berlim e aproveitando-se da incapacidade das duas velhas poténcias liberais, Stalin i icagao do mapa politico europeu, AgiaNobre Oe Estados bAallicos) ‘para garantir a ocupa¢ao, € comandou uma série de anexagoes na Roménia € na) Bessarabia (transformada em Moldavia). Para agravar ainda mais a agonia curopéia, MASSOliai tambem iniciou saa SlGHTa paval€lal COM Os PrOPHOS MEIGS EOB}etVOS, Disputando espagos coloniais no Mediterraneo, a mobilizagio italiana foi dirigida para a Grécia e para o norte da Africa, Em 28 de outubro de 1940, Mussolini langou suas tropas para a Grécia, sem consultar a seus aliados. ‘Aagonia européia ea gestacao da nova ordem internacional (1939-1947) ® Seonivergir para unvlpontelcomumicentradomalEuropa, A impossibilidade euro péia de conduzir os destinos das relagdes internacionais era a conseqtiéncia mais evidente da dramatica instabilidade que aqueles anos vivenciaram. © 5.2 Amundializacao da guerra e a emergéncia dos flancos (1941-1945) O ano de 1941 deve ser visto como um momento crucial de inflexao das rela- es internacionais contemporineas. Desmontaram-se, defi tinico ano, as regras do jogo herdadas do século anterior. Terminou o longo pe- riodo de transigao iniciado na Grande Guerra de 1914-1918. E uma nova ordem internacional, sustentada pela emergéncia dos flancos europeus, no Ocidente ¢ no Oriente, realizava seus primeiros movimentos, ainda que timidos. O vazio de poder mundial comecou a ser preenchido. ivamente, em um Varios acontecimentos alimentaram o turning point de 1941. A guerra mun- dializou-se com 0 ataque alemao contra a Unido Soviética, em junho, e o japonés contra bases norte-americanas, em dezembro. A Franga invadida e a Gra-Bretanha falida evidenciavam a decadéncia das antigas poténcias, As novas correlagdes de forgas ampliaram o teatro dos conflitos. As guerras paralelas se uniram na maior conflagragao da historia da humanidade. Ao final de 1945, 0 mundo ja se modifi- cara plenamente. Em 1947, a balanga de poder internacional era outra. 5.2.1 0 fim do poder britanico e a emergéncia norte-americana: ‘© novo conceito de superpoténcia 0 declinio naval britinico e a crise do mercado financeiro comandado pela City londrina foram os elementos epis6dicos da perda gradativa ¢ profunda do poderio da velha poténcia liberal. Criadora da ordem internacional liberal do sé- culo XIX, a Gra-Bretanha iria ceder 0 espaco do poder mundial a sua ex-coléni: os Estados Unidos. No inicio de 1941, Hitler ja enfrentava os britanicos no norte da Africa. Mandara seu afrikakorps, uma frente militar, para 0 norte da Africa, sob 0 co- mando do general Rommel. Com a ocupagio germanica dos portos franceses e a construgao dos novos submarinos u-boote, a batalha do Atlantico também se inclinava para os alemaes. 0s britanicos, que haviam perdido muitos navios mercantes e tinham 0 ritmo de construgdo naval limitado pelo esforgo de guerra, enfrentavam trés problemas: 0 uso dos navios para a compra das mercadorias norte-americanas, 0 pagamento dos produtos adquiridos nos Estados Unidos pelo sistema cash-and- carry (pagamento a vista) e a utilizagao das reservas monetatias para 0 pagamen- to desses encargos, A Gra-Bretanha estava a beira da faléncia. Os Estados Unidos observavam a crise britanica de maneira apreensiva, O endividamento da ilha demonstrara que ela nao teria condigées de continuar as compras dos produtos industriais norte-americanos. A Gra-Bretanha era a tilti- ma resisténcia democrética européia as ambigdes hegeménicas de Hitler. Desse modo, compreende-se por que a opiniao publica norte-americana, conduzida pelos seus lideres, percebeu que os britanicos nao lutavam apenas para um conjunto de valores ¢ regras que haviam alimentado a vida internacional do mundo liberal e democré- manter seu poder internacional, mas para preserva tico. A superagio do citime anglofébico dos norte-americanos é, nesse sentido, peca-chave na ruptura do isolacionismo dos Estados Unidos. Desde sua recleigao, em novembro de 1940, o presidente Roosevelt pre- parava a opiniao publica para o engajamento dos Estados Unidos no conifito europeu. A preparacio ideolbgica da opiniao piblica, por sua vez, confundia-se com a prépria mobilizacao industrial e com 0 rearmamento. No inicio de 1941, os Estados Unidos ja viviam em economia de guerra sem que estivessem nitida- mente presentes na guerra européia. As operagdes econdmicas de preparagio da guerra pelos norte-americanos, principalmente por meio do sistema lend-lease (empréstimo ¢ arrendamento), desenvolvidas a partir de margo de 1941, davam a Roosevelt plena autonomia para emprestar € vender produtos militares e estratégicos a todos os paises que apre- Estados Unidos. O sistema de reciprocidade tornava os paises beneficiarios da ajuda norte-americana dependentes das novas sentassem interesse & defesa vital dos praticas comerciais lideradas pelos Estados Unidos e do projeto de abertura total das economias aos capitais e produtos norte-americanos. No caso dos britanicos, haviam assumido 0 compromisso de suspender, depois do conflito, as priticas comerciais preferenciais vigentes na Commonwealth. A arrancada norte-americana era, assim, sustentada na generosidade com a democracia britanica, na defesa dos seus interesses comerciais e na demonstracao da sua forga € da vontade de poténcia. Mesmo com algum custo, os britanicos compreenderam o novo papel que se desenhava para os Estados Unidos no plano internaciona nova poténcia atlantica. |. Churchill percebera o declinio do velho império ¢ a emergéncia da Paraos Estados Unidos, os experimentos da cooperagao econdmica coma Gra: Bretanha,asvésperasdamundializagao da Segunda Guerra,serviriam paraomundo Aagonia européia e a gestacao da nova ordem internacional (1939-1947) ® ddo pés-guerra. As bases do Plano Marshall ja estavam sendo plantadas antes mesmo da entrada efetiva dos norte-americanos no conflito mundial. A “diplomacia do

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