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RBTI ARTIGO ORIGINAL

2007:19:2:161-169

Mecânica Pulmonar de Pacientes em Suporte Ventilatório na


Unidade de Terapia Intensiva. Conceitos e Monitorização*
Concepts and Monitoring of Pulmonary Mechanic in Patients under
Ventilatory Support in Intensive Care Unit
Eduardo Antonio Faustino1

RESUMO terapia intensiva (UTI) pode fornecer dados relevantes e


deve ser implementada de forma sistemática e racional.
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Em ventilação mecâ- Unitermos: complacência pulmonar, mecânica pulmo-
nica invasiva e não-invasiva, o conhecimento da fisio- nar, mecânica respiratória, monitorização, PEEP intrín-
logia da mecânica respiratória, é imprescindível para seca, resistência pulmonar, ventilação mecânica.
tomada de decisões e no manuseio eficiente dos ven-
tiladores modernos. A monitorização dos parâmetros SUMMARY
da mecânica pulmonar é recomendada nos trabalhos
de revisão e de pesquisas clínicas. O objetivo deste BACKGROUND AND OBJECTIVES: In mechanical
estudo foi rever os conceitos de mecânica pulmonar ventilation, invasive and noninvasive, the knowledge
e os métodos utilizados para obtenção de medidas à of respiratory mechanic physiology is indispensable
beira do leito, enfatizando três parâmetros: resistência, to take decisions and into the efficient management of
complacência e PEEP intrínseca. modern ventilators. Monitoring of pulmonary mechanic
MÉTODO: Foi realizada revisão bibliográfica através parameters is been recommended from all the review
dos bancos de dados LILACS, MedLine e PubMed, no works and clinical research. The objective of this study
período de 1996 a 2006. was review concepts of pulmonary mechanic and the
RESULTADOS: Esta revisão abordou os parâmetros de methods used to obtain measures in the bed side, pre-
resistência, complacência pulmonar e PEEP intrínseca paring a rational sequence to obtain this data.
como fundamentais na compreensão da insuficiência METHODS: It was obtained bibliographic review throu-
respiratória aguda e suporte ventilatório mecânico, princi- gh data bank LILACS, MedLine and PubMed, from the
palmente na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) last ten years.
e na síndrome da angústia respiratória aguda (SARA). RESULTS: This review approaches parameters of re-
CONCLUSÕES: A monitorização da mecânica pulmonar sistance, pulmonary compliance and intrinsic PEEP as
em pacientes sob ventilação mecânica em unidade de primordial into comprehension of acute respiratory fai-
lure and mechanic ventilatory support, mainly in acute
respiratory distress syndrome (ARDS) and in chronic
1. Médico Intensivista e Cardiologista da UTI do Hospital de Referên- obstructive pulmonary disease (COPD).
cia de Gurupi.
CONCLUSIONS: Monitoring pulmonary mechanics in
*Recebido do Hospital de Referência de Gurupi, Tocantins, TO patients under mechanical ventilation in intensive care
• Tese de Conclusão de Pós-Graduação em Ventilação Mecânica units gives relevant informations and should be imple-
Apresentado em 07 de março de 2007
mented in a rational and systematic way.
Aceito para publicação em 22 de maio de 2007 Key Words: intrinsic PEEP, mechanical ventilation, mo-
nitoring, pulmonary compliance, pulmonary mechanic,
Endereço para correspondência:
pulmonary resistance
Dr. Eduardo Antonio Faustino
Av. Alagoas,1748 – Gurupi
77410-070 Tocantins, TO INTRODUÇÃO
Fones: (63) 3312-4149 / 8121-7952
E-mail: cardiofaustino@bol.com.br
A ventilação mecânica (VM) é uma das duas principais
©Associação de Medicina Intensiva Brasileira, 2007 razões pelas quais um paciente é admitido em UTI de

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acordo com Tobin e col. 1. O principal objetivo da VM é Diante do exposto, o estudo da mecânica pulmonar
promover o repouso da musculatura respiratória e re- em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica
duzir o trabalho da ventilação, expresso em custo de (DPOC), revela alterações de resistência das vias aé-
oxigênio. A sincronia paciente-ventilador tem relação reas e limitação ao fluxo expiratório, significativos nas
direta com o trabalho ventilatório. Para melhor relaxa- tomadas de decisões terapêuticas para combater a hi-
mento e repouso da musculatura inspiratória, o ven- perinsuflação dinâmica própria dessa condição, dimi-
tilador deverá ciclar em sincronia com a atividade do nuindo o trabalho imposto à inspiração e favorecendo
próprio ritmo respiratório do paciente 2. o desmame da VM.
Entretanto, quando é instituída a VM no paciente, mui- O objetivo deste estudo foi descrever e analisar os
tas variáveis ficam à disposição do intensivista para conceitos de mecânica pulmonar envolvidos nas doen-
análise contínua e tomada de decisões. A interpreta- ças respiratórias prevalentes em UTI, buscando obter
ção desses dados exige conhecimento da fisiologia benefícios que uma monitorização racional da mecâni-
e mecânica pulmonar. Estudo recente revelou que ca respiratória possa trazer no seguimento do paciente
até 35% dos residentes não conseguiram selecionar sob ventilação mecânica invasiva (VMI).
adequadamente um modo ventilatório que reduzisse a
PEEP intrínseca em pacientes com DPOC logo após a MÉTODO
intubação traqueal3.
Outro aspecto relevante é o conceito de lesão pulmo- Buscou-se referências bibliográficas nos bancos de da-
nar induzida pelo ventilador, atualmente já bem estabe- dos LILACS, MedLine e PubMed nos últimos 10 anos
lecido. Até 1998, os conceitos que definiam lesão pul- (1996-2006), usando os unitermos respiratory, pulmona-
monar aguda (LPA) e síndrome da angústia respiratória ry, mechanics e PEEP. Os trabalhos experimentais pio-
aguda (SARA), não utilizavam fatores relacionados à neiros no estudo da mecânica pulmonar foram realiza-
mecânica pulmonar, mesmo sabendo que a mortalida- dos na primeira metade do século XX, nas décadas de
de poderia ser a mesma para LPA e SARA, a despeito 1950 e 1960, podendo-se alguns serem averiguados a
dos valores aplicados no ventilador4. partir de referências de estudos mais recentes.
Amato e col.5, mostraram que uma forma “protetora“
de ventilação, em contraste com uma forma de trata- RESULTADOS
mento com ventilação “normal”, reduziu a mortalidade
de 71% para 38% na SARA, utilizando baixo volume- Os estudos e artigos revistos salientam a necessidade
corrente pulmonar. Apesar de não ter usado dados me- de se obter as medidas de mecânica pulmonar atra-
didos de mecânica pulmonar, o estudo revelou como vés de métodos rigorosos e consagrados. A análise
os alvéolos colapsados podem ser recrutados basea- das curvas de pressão, fluxo e volume nas telas dos
do no segmento da curva P-V para a complacência ventiladores modernos, associada a estudos que utili-
pulmonar máxima. zaram videomicroscopia direta de alvéolos subpleurais
Em 1999, uma ligação entre mecânica pulmonar e e estudos com tomografia computadorizada puderam
morbimortalidade foi suspeitada por Ranieri e Slutsky6, correlacionar a dinâmica alveolar com as alterações
relatando que a produção de indicadores inflamatórios regionais dos volumes pulmonares, as alterações na
e risco de desenvolver falência de múltiplos órgãos era função do surfactante e a presença de hiperinsuflação
menor com estratégia “protetora”. Independentemente pulmonar dinâmica . A técnica da oclusão inspirató-
da causa, os pulmões lesados têm uma função de bar- ria final para medir as resistências foi diversificada e
reira anormal. Os capilares pulmonares estão rompi- adaptada aos ventiladores contemporâneos, a decom-
dos e as células epiteliais alveolares não podem retirar posição da mecânica pulmonar e da caixa torácica em
apropriadamente a água e solutos do espaço alveolar, vários estudos, mostraram o comportamento destes
com importante conseqüência para a mecânica pul- dois componentes, em situações clínicas e cirúrgicas
monar. A lesão e o edema aumentam a resistência e a diversas.
elastância pulmonar7.
O colapso de unidades alveolares inundadas e depen- DISCUSSÃO
dentes acarreta aumento na elastância pulmonar refle-
tida pelo menor número de unidades alveolares recru- As propriedades mecânicas dinâmicas do sistema
táveis, não dependentes. respiratório dizem respeito a situações em que o flu-

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MECÂNICA PULMONAR DE PACIENTES EM SUPORTE VENTILATÓRIO
NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. CONCEITOS E MONITORIZAÇÃO

xo varia ao longo do tempo, enquanto as proprieda- cência dinâmica (Cdyn) do sistema respiratório. Para a
des estáticas realçam a ausência de fluxo8. O trabalho complacência estática a variação de volume refere-se
mecânico dos pulmões na respiração pode ser obtido à pressão de platô estática (P2). Para a complacência
confrontando-se em um gráfico o volume e a pressão dinâmica a variação de volume refere-se à pressão de
transpulmonar. A área resultante volume-pressão inclui pico inspiratória - Ppico8.
um componente estático e um dinâmico. O primeiro Para a estimativa da resistência e da complacência
reflete o trabalho devido às propriedades mecânicas do sistema respiratório, o paciente deve estar sedado
estáticas e o segundo reflete as variáveis dinâmicas, e paralisado, sem atividade muscular, em ventilação
ou seja a resistência intrínseca das vias aéreas e a re- controlada a volume, fluxo constante (onda quadra-
sistência adicional que é devida às desigualdades nas da) com a técnica de oclusão ao final da inspiração10.
constantes de tempo de enchimento e esvaziamento Importante lembrar que, quando a pausa de oclusão
das unidades alveolares e propriedades viscoelásticas inspiratória for menor que dois segundos, a pressão de
teciduais9. platô não refletirá a pressão alveolar quando analisada
A decomposição das resistências pulmonares foi ini- em pacientes com doença pulmonar grave (DPOC e
cialmente descrita por Von Neergard em 1927, quan- SARA). Portanto, as manobras de oclusão devem durar
do descreveu dois métodos para medir a resistência cerca de 4 segundos12.
ao fluxo: o método interruptor e as subtrações elásti- A análise da complacência e da resistência pulmonar a
cas, que permitem decompor a resistência pulmonar partir da curva P-V utiliza métodos estáticos e quasies-
(Rpulm) em resistências intrínseca e adicional. táticos. Os métodos estáticos, técnicas da superserin-
Bates e col.10, utilizando o método interruptor, mostra- ga e da oclusão inspiratória, mostraram ser fidedignos,
ram que à oclusão súbita das vias aéreas ao final da porém desvantajosos, por necessitarem desconexão
inspiração segue-se à diminuição imediata na pressão do paciente da prótese ventilatória, além da duração
transpulmonar de valor máximo, que é a pressão de demorada do procedimento e da perda de volume pul-
pico ou Pmáx, para um valor definido como P1. Divi- monar por absorção de oxigênio. O método quasiestá-
dindo-se a diferença Pmáx – P1 pelo fluxo imediata- tico necessita insuflação contínua de fluxos constan-
mente precedente à oclusão se obtém as resistências tes, gerando resistência pelas conexões e vias aéreas,
estáticas denominada de Rmin ou Rinicial, que reflete que deve ser subtraída da pressão total encontrada ou
somente a resistência das vias aéreas. Experimentos então utilizar fluxos muito baixos. Estudos mostraram
em animais mostraram que ela aumenta linearmente que o fator resistivo imposto por altos fluxos pode não
com o fluxo, devido este ser não laminar nas grandes ser clinicamente relevante, se forem usados baixos flu-
vias aéreas . xos (menores que 9 L/min), tornando este método de
Mantendo-se a oclusão, segue-se lenta e gradual di- fácil execução à beira de leito nos ventiladores moder-
minuição da pressão até atingir um valor de platô, P2, nos com telas de curvas (em torno de 2 min para sua
que representa a pressão de recolhimento elástico ins- realização).
piratório final estática do pulmão. Dividindo a diferen- Em ventilações espontâneas, a complacência total do
ça P1 – P2 pelo fluxo precedente têm-se a resistência sistema respiratório, incluindo parede torácica e pul-
adicional (R adic), porém neste momento de diminui- mões são de 100 mL/cmH2O. A complacência pulmo-
ção lenta, inexiste fluxo, ou seja, esta resistência não nar está ao redor de 200 mL/cmH2O e em indivíduos
reflete um componente resistivo puro e por isso deixa normais anestesiados e ventilados é de 70-80 mL/
de ser importante no cálculo da resistência pulmonar cmH2O. Um pulmão rígido como nos pacientes com
total. O tempo decorrido entre P1 e P2 é necessário SARA tem baixa complacência, enquanto um pulmão
para a acomodação do ar nos pulmões o que ocorre altamente distensível como no enfisema pulmonar tem
por dois fenômenos: Pendelluft, que é a transferência complacência muito alta. No indivíduo normal o ponto
de pequenos volumes de gás de alvéolos com altas de inflexão superior da curva P-V ocorre em volume
pressões para alvéolos com baixas pressões, devido pulmonar três litros acima da capacidade residual fun-
às desigualdades nas constantes de tempo das uni- cional (CRF), o qual define a capacidade pulmonar to-
dades alveolares e o relaxamento de tensão do tecido tal, e corresponde à pressão acima da qual inicia-se a
pulmonar - stress relaxation11. hiperdistensão pulmonar13.
Quanto à complacência, é importante entender a di- Algumas vezes o ponto de inflexão inferior da curva
ferença entre complacência estática (Cst) e compla- P-V pode não ser identificado em pacientes com insufi-

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ciência respiratória aguda. Vieira e col.14 mostraram estudos de análise do volume pulmonar a nível regio-
que estes pacientes eram mais jovens, a complacên- nal, tem-se contestado a existência do mecanismo de
cia do sistema respiratório mais baixo e a mortalidade recrutamento/desrecrutamento na gênese da VILI, ba-
tendia a ser mais alta. Nestes pacientes as opacidades seado em modelo de lesão pulmonar no qual o edema
radiográficas predominavam nos lobos inferiores, as alveolar mais do que o colapso é o achado patológico
atenuações à tomografia computadorizada se aproxi- predominante18-20.
mavam aquelas da água (7 HU) ou seja, regiões não DiRocco e col.17 realizaram estudos em ratos com vi-
aeradas, e a PEEP induziu recrutamento alveolar que deomicroscopia e cortes histológicos, provocando
esteve associado com hiperdistensão pulmonar. lesão pulmonar aguda com ácido oléico, detergente,
Os fisiologistas, em seus estudos pioneiros, afirma- barotrauma e endotoxina bacteriana. Em todos os mo-
ram que a insuflação e a desinsuflação pulmonar delos, a quantidade de água nos alvéolos era maior
resultavam da soma das expansões e contrações que nos grupos controles. Com exceção do grupo que
uniformes individuais de cerca de 300 milhões de recebeu endotoxina os outros grupos mostraram alvéo-
alvéolos. A videomicroscopia direta em pulmões de los mais instáveis, colapsando e expandindo a cada
animais avaliou as mudanças no volume pulmonar e ventilação, enquanto no grupo endotoxina os alvéolos
essas ocorriam muito mais por recrutamento e des- perderam a sua forma, com aparência sólida e bran-
recrutamento alveolar do que por mudanças unifor- ca, mas permaneceram estáveis durante a ventilação.
mes simultâneas no volume alveolar, e que a insu- Concluíram que a disfunção de surfactante pulmonar
flação até 80% da capacidade pulmonar total (CPT) era a causa mais provável para o desenvolvimento da
acarretava pouca mudança no volume alveolar, mas instabilidade alveolar, podendo não estar presente em
um significativo aumento no número de alvéolos re- todos os pacientes com SARA e nem a oxigenação re-
crutados15. fletir o grau de lesão prevalente.
A hiperinsuflação de alvéolos normais e abertura/fe- Anatomicamente os alvéolos são unidades interde-
chamento cíclicos de alvéolos colapsados contribuem pendentes com integridade estrutural que lembra um
para a lesão pulmonar progressiva não somente pelo favo de mel, quando combinadas com as propriedades
processo da doença em si, mas também, como resul- do surfactante de diminuir a tensão superficial, forne-
tado de padrões ventilatórios aplicados durante o cur- cem estabilidade física ao alvéolo, resultando em pou-
so da doença. A ruptura alveolar com extravasamento ca mudança no volume alveolar durante a ventilação.
de ar (barotrauma), a hiperdistensão alveolar (volutrau- Gatto e col.21, utilizaram videomicroscopia direta de
ma), recrutamento/desrecrutamento de alvéolos colap- alvéolos subpleurais e mostraram a não variabilidade
sados (atelectrauma) e mesmo lesão sutil manifestada no volume e no tamanho de alvéolos normais com a
pela ativação de processo inflamatório (biotrauma), ventilação, mesmo em condições de alta pressão nas
compõem o espectro da lesão induzida pela ventilação vias aéreas. Entretanto, nos alvéolos com função de
(VILI). surfactante alterada desenvolvia-se uma amplitude
Terragni e Ranieri16, sugerem um parâmetro de moni- variável de anormalidades da mecânica alveolar, que
torização que denominam “índice de estresse“ (stress denominaram colapso e expansão alveolar repetidos.
index), utilizando o perfil da curva pressão-tempo para Alguns alvéolos colapsavam parcialmente, enquanto
detectar e/ou prevenir VILI em pacientes com SARA. outros o faziam completamente para logo em seguida
Se a curva de pressão apresenta concavidade para se re-expandirem. Porém, o colapso de apenas um al-
cima sinaliza redução da complacência pulmonar (ín- véolo no ácino ocasionava estresse por cisalhamento
dice > 1), se a concavidade é para baixo mostra que (shear stress) não somente do alvéolo colapsado ou
a complacência aumentou (índice < 1) e se igual a 1 hiper-distendido, como também distorcia os alvéolos
a complacência permanece constante. Vários estudos adjacentes desencadeando pressões tão altas quanto
em animais e humanos evidenciaram boa correlação 140 cmH2O.
com melhores valores de elastância, níveis de citoci- Os conhecimentos atuais sobre mecânica no pulmão
nas e sinais morfológicos de lesão, quando ajustes nos edemaciado, baseiam-se em interpretações de tomo-
modos ventilatórios permitissem obter índices de es- grafias computadorizadas e análises das curvas P-V.
tresse igual a 116. Inferiu-se a partir daí, que regiões dependentes de pul-
Na VILI, contudo, o volutrauma é o único mecanismo mões edemaciados colapsavam sob baixas pressões
até agora confirmado em estudos clínicos17. A partir de transpulmonares e reabriam abruptamente em pres-

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MECÂNICA PULMONAR DE PACIENTES EM SUPORTE VENTILATÓRIO
NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. CONCEITOS E MONITORIZAÇÃO

sões de abertura elevadas. Wilson e col.19, mediram o a PEEP intrínseca ou auto-PEEP, que é a PEEP gera-
volume de regiões dependentes de pulmões de cães da pela hiperinsuflação dinâmica. A auto-PEEP é uma
lesados por ácido oléico, revelando que este volume carga adicional a ser superada pelo ventilador durante
regional era maior do que aquele de pulmões normais, a ventilação passiva. A PEEP intrínseca ou auto-PEEP,
porém, o volume-corrente era menor, o que fala contra deve ser levada em consideração a fim de se obter
o conceito pré-estabelecido de que regiões dependen- valor correto para a complacência estática do sistema
tes estão colapsadas em pulmões edematosos. Nos respiratório.
pulmões edemaciados, pequena quantidade de fluido Também para medir a PEEP total e conseqüentemente
fica confinado nos cantos do interior dos alvéolos, en- a PEEPi (PEEPi = PEEPtotal – PEEPext), é necessário
quanto grande quantidade de fluido se estende para manobra de oclusão, agora ao final da expiração. A
as bordas livres das paredes alveolares curvando leve- oclusão deverá ser mantida por cerca de 4 segundos
mente as interfaces ar-líquido. Ao fornecer baixos vo- para permitir equilíbrio pressórico intrapulmonar, certifi-
lume e pressão, o fluido se abaula em direção ao ducto cando-se que não há atividade muscular expiratória. A
alveolar adjacente comprimindo a entrada do alvéolo. aferição da PEEPi em pacientes respirando ativamente
À medida que o volume aumenta, a bolha de ar é for- é mais incerta, porém pode ser realizada e necessita
çada para dentro do alvéolo aumentando rapidamente a instalação de um balão esofágico para medida da
a tensão e a área de superfície, ainda que neste ponto pressão esofágica (pressão intrapleural).
a complacência mantenha-se pequena. Com volumes Em pacientes, com limitação ao fluxo expiratório e co-
progressivamente maiores a curva P-V torna-se quase lapso dinâmico das vias aéreas, a contração da mus-
que vertical refletindo ganho na complacência. culatura expiratória agravará o quadro de limitação ao
No indivíduo sadio, ao final de uma expiração normal, fluxo, movendo o ponto de igual pressão para mais pró-
a pressão alveolar aproxima-se de zero. Durante uma ximo dos alvéolos. Nesta situação não há como medir
expiração passiva, a taxa de esvaziamento depende da a auto-PEEP com precisão e o uso da PEEP externa
constante de tempo expiratória do sistema, isto é, do não é recomendado pelo esforço adicional imposto ao
produto da complacência total pela resistência total. A sistema respiratório.
fim de alcançar expiração passiva quase total (99%) o A abordagem da mecânica respiratória é mandatória
sistema respiratório exige um tempo expiratório igual a para avaliar a gravidade da doença, otimizar os ajus-
5 vezes a sua constante de tempo expiratória ao passo tes no ventilador e analisar os efeitos das várias mo-
que um tempo expiratório de 3 vezes a constante de dalidades terapêuticas. Na prática clínica corrente, as
tempo permite 95% de expiração total. Ocorrerá limita- aferições são limitadas ao cálculo da complacência
ção ao fluxo expiratório quando a resistência total e/ou estática (Cst), da resistência máxima (Rmáx) e da pres-
a complacência total forem altas, a freqüência respira- são expiratória final positiva intrínseca (PEEPi), para o
tória rápida e o tempo expiratório curto, o que impedirá sistema respiratório completo12.
o esvaziamento completo do pulmão. O ideal é iniciar as medidas logo após a intubação tra-
Esta impossibilidade do pulmão retornar à sua capa- queal, momento em que o paciente encontra-se pro-
cidade residual funcional (volume pulmonar ao final de fundamente sedado e curarizado. A rápida diminuição
uma expiração passiva) caracteriza a hiperinsuflação pressórica inicial corresponde à dissipação pressórica
pulmonar. O aumento do volume pulmonar acima da nas vias aéreas e é especialmente importante avaliá-la
CRF em pacientes em VM, tem como causa mais co- nos pacientes com DPOC e SARA, nos quais a resis-
mum a aplicação de PEEP externa, ajustada no apare- tência das vias aéreas está aumentada.
lho de ventilação e denomina-se hiperinsuflação pul- Antonaglia e col.22, estudaram o comportamento vis-
monar estática. A hiperinsuflação pulmonar dinâmica coelástico do sistema respiratório, responsável pela
ocorre quando uma nova inspiração inicia-se antes maior parte da pressão dissipada durante a ventilação
que a expiração total seja completada, ocasionando em indivíduos normais e com lesão pulmonar aguda
aumento no volume expiratório final por motivos dinâ- (LPA). A técnica da oclusão inspiratória final rápida
micos e não por interferência externa (estática), aplica- revela um modelo viscoelástico linear com descrição
da no ventilador12. acurada tempo-dependente da resistência e da elas-
O volume expiratório final na hiperinsuflação pulmonar tância do sistema respiratório; entretanto, a obtenção
dinâmica representa uma PEEP total, que se descontar desses valores exige múltiplas insuflações isovolúmi-
a PEEP externa ajustada do ventilador, será encontrada cas com diferentes fluxos inspiratórios ou múltiplas

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insuflações com o mesmo fluxo e diferentes volumes. o qual a complacência começa a diminuir é em média
O método preconizado por eles utiliza apenas duas 28% maior quando a curva P-V do pulmão é compara-
oclusões inspiratórias finais, uma após tempo inspira- da com a curva do sistema respiratório total; entretanto,
tório curto para determinar o componente elástico da na prática clínica é a curva do sistema respiratório total
viscoelasticidade e a outra com um tempo inspiratório que é determinada rotineiramente, levando potencial-
longo, para avaliar o componente resistivo da visco- mente a uma subestimação do volume-corrente tolerá-
elasticidade. Nos pacientes normais, quanto menor o vel. O estudo concluiu que o ponto de inflexão inferior
tempo inspiratório em relação à constante de tempo da curva P-V deverá ser 25% a 30% mais alto do que
(R/E ou RxC), a elastância adicional melhor representa aquele calculado com base na mecânica pulmonar. Na
a elastância total, e quanto mais longo o tempo inspi- estratégia protetora com utilização de baixos volumes-
ratório em relação à constante de tempo, a resistên- correntes, a análise da mecânica baseada na curva P-
cia adicional melhor representa a resistência total do V do sistema respiratório pode levar ao uso de níveis
sistema respiratório. Nos pacientes com lesão pulmo- de PEEP muito altos e níveis de volume-corrente mais
nar aguda o método fornece dados semelhantes com baixos ocasionando níveis mais altos de PaCO2.
razoável acurácia em comparação com o método de Musch e col.24, mostraram que a complacência diminuí-
múltiplas insuflações. da da parede torácica pode ocorrer por distensão ab-
O sistema respiratório pode ser decomposto em dois dominal secundário à hipomotilidade colônica, rigidez
componentes:a parede torácica e os pulmões. O dia- de parede torácica agravada por anestésicos (fentanil),
fragma está mecanicamente acoplado à parede e e edema de parede torácica por sobrecarga hídrica.
conteúdo abdominais. Qualquer aumento na pressão Para a complacência pulmonar, podem diminuí-la os
abdominal pode afetar a mecânica pulmonar, aumen- derrames pleurais e infiltrados pneumônicos. A resis-
tando a propensão para o desenvolvimento de atelec- tência da parede torácica não é um componente signi-
tasias e diminuindo a capacidade residual funcional ficativo na resistência pulmonar mais alta dos pacien-
(CRF). Pode também afetar diretamente a mecânica da tes com DPOC, porém ela é mais alta nos pacientes
parede torácica alterando a sua configuração, ou cau- com DPOC em relação aos normais. As propriedades
sando mudanças nas zonas de interação nas quais os reológicas da parede torácica podem ser anormais nas
pulmões se apõem à superfície lateral do diafragma. doenças restritivas do tórax e também na DPOC exa-
Algumas situações clínicas podem, também, levar a cerbada ou descompensada.
aumentos na pressão abdominal por distensão, como Ranieri e col.25, compararam indivíduos normais e pa-
ascite hipertensiva, hemorragias abdominais, obstru- cientes com insuficiência respiratória aguda na DPOC,
ção intestinal, laparoscopia, grandes tumores e diálise revelando a pequena contribuição da parede torácica
peritoneal. Contudo, não se sabe se apenas edema de para a PEEP intrínseca do sistema respiratório total,
alças intestinais e íleo podem afetar a mecânica res- e que PEEP extrínsecas muito altas (15 cmH2O) agra-
piratória. Ranieri e col.23, compararam pacientes com varam as propriedades elásticas do pulmão e parede
SARA de origem clínica e após cirurgias abdominais de torácica. Pacientes submetidos à pneumectomia para
grande porte, avaliando mudanças nas pressões intra- cirurgia de redução no volume pulmonar26 mostraram
torácicas e intra-abdominais através da pressão esofá- diminuição da resistência pulmonar sem alterações nas
gica (Pes) e gástrica (Pga). Estudos prévios em animais propriedades mecânicas da parede torácica. Houve di-
já haviam chamado atenção para o efeito deletério da minuição do componente elástico da resistência sem
distensão abdominal na mecânica respiratória através alteração do componente inicial resistivo, evidencian-
da repercussão sobre a parede torácica. Os pacientes do a importância das desigualdades nas constantes de
do grupo de grande cirurgia abdominal com disten- tempo do tecido pulmonar que ocorrem no DPOC. A
são abdominal significativa mostraram achatamento e diminuição do volume pulmonar e a conseqüente dimi-
convexidade para cima da curva P-V do sistema res- nuição da resistência adicional estiveram associadas
piratório e dos pulmões, e progressiva diminuição da com redução da dispnéia depois da cirurgia. Também
complacência ao aumento de volume-corrente insufla- ocorreu aumento na complacência dinâmica como re-
do. Em contraste, os pacientes com SARA de origem sultado da diminuição na pressão elástica adicional ar-
clínica, as curvas P-V exibiam concavidade para cima mazenada nas unidades viscoelásticas do tecido pul-
e progressivo aumento na complacência. Nos pacien- monar. O pulmão esvazia melhor e a limitação ao fluxo
tes com distensão abdominal o volume-corrente com expiratório é menor, dessa forma os pacientes não pre-

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MECÂNICA PULMONAR DE PACIENTES EM SUPORTE VENTILATÓRIO
NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA. CONCEITOS E MONITORIZAÇÃO

cisam mais aumentar o seu volume pulmonar para me- da resistência com limitação ao fluxo aéreo, ocorre au-
lhorar o fluxo expiratório. Além disso, como o volume mento do fluxo ao longo da expiração, enquanto que
expiratório final fica menor, os músculos expiratórios naqueles que apresentam limitação ocorre aumento
operam numa posição mais favorável da curva ten- apenas no início, no restante da expiração é semelhan-
são-comprimento melhorando a capacidade de gerar te ao fluxo da respiração controle29,30.
pressão. Acrescente-se a tudo isto redução no colapso Nos gráficos de pressão, fluxo e volume, a PEEPi
dinâmico contribuindo para melhora sintomática, pois pode ser detectada após rápida oclusão no ramo ex-
a compressão das vias aéreas colabora para a disp- piratório do ventilador, permitindo um intervalo para o
néia. Nava e col.27, estudaram pacientes com fibrose equilíbrio entre as pressões das vias aéreas e alveo-
pulmonar terminal em lista de espera para transplante, lares. Na presença de PEEPi, a pressão na via aérea
fornecendo pela primeira vez informações acerca da aumenta e o valor de platô revelado traduz o nível da
separação das propriedades resistivas e elásticas do PEEPi. No gráfico da alça fluxo-volume, a PEEPi é de-
sistema respiratório total entre as mecânicas do pul- tectada ao final da expiração, onde a alça expiratória
mão e parede torácica. A diminuição significativa da aparece truncada, não retornando à linha de base29.
complacência pulmonar chegou a ser maior compa- O efeito da resistência aumentada é somente visua-
rando com pacientes que não sobreviveram na SARA. lizado na alça expiratória da curva fluxo-volume pela
A complacência da parede torácica respondeu somen- diminuição no pico de fluxo expiratório, sem afetar o
te por cerca de 15% da complacência total do siste- padrão de fluxo inspiratório, além de ser particular-
ma respiratório. A resistência esteve significativamente mente importante na avaliação à resposta medica-
aumentada, porém em menor magnitude do que nos mentosa broncodilatadora8.
pacientes com DPOC, sendo a resistência pulmonar o A diferença entre o volume pulmonar expiratório final e
componente mais importante com aumento de ambas o volume residual, é definido como ΔCRF e pode ser
resistências interruptora e adicional. O que explica es- obtido prolongando-se o tempo expiratório e permitin-
tes resultados é a característica da doença nos está- do que o paciente exale até alcançar o volume residual
gios finais com achados patológicos em mosaico, isto (Vr). Em alguns pacientes com DPOC o tempo expi-
é, áreas com fibrose mais intensa (subpleurais) e áreas ratório pode ser tão longo quanto 40 segundos, até
com atividade inflamatória mais ativa. Nos estágios fi- alcançar o Vr e quantificar a hiperinsuflação dinâmica
nais, os pulmões tornam-se tão duros e a resistência com o ΔCRF. Em pacientes sob VM assistido-con-
aumenta a tal ponto, que os músculos respiratórios trolada ou pressão-suporte, a PEEPi aumenta os esfor-
não sustentam mais a carga de trabalho. ços inspiratórios necessários para disparar o ventilador
Os pacientes com grave obstrução nas vias aéreas co- e pode levar a esforços inspiratórios crescentes com
mumente exibem limitação ao fluxo expiratório em res- repercussão hemodinâmica, fadiga muscular inspirató-
piração normal, particularmente em insuficiência res- ria e assincronia paciente-ventilador, além de explicar
piratória aguda. O fluxo expiratório é máximo durante as falhas nas tentativas de desmame. A monitorização
a respiração em repouso, portanto em doença grave a da hiperinsuflação pulmonar dinâmica permite limitar a
ocorrência de limitação ao fluxo expiratório é crítica e ocorrência de volutrauma e hiperdistensão alveolar11.
conseqüentemente ocorrerá hiperinsuflação pulmonar Ainda que a SARA seja descrita como uma síndrome
dinâmica. A hiperinsuflação pulmonar dinâmica não de baixa complacência, também a resistência das vias
está restrita aos pacientes com DPOC, mas pode tam- aéreas pode estar aumentada como já referido. Junto
bém ocorrer nos pacientes com SARA, da mesma for- à possibilidade de desenvolvimento de SARA na pre-
ma apresentando aumento na resistência pulmonar11. sença de asma ou doença pulmonar obstrutiva crôni-
Além disso, deve-se levar em consideração, o aumen- ca, um leve aumento na resistência é encontrado nos
to na resistência imposta por tubos traqueais estreitos pacientes com LPA/SARA, independentemente da do-
e o acúmulo de secreções nas vias aéreas. ença de vias aéreas pré-existente. O aumento da Rsr é
A limitação ao fluxo expiratório e hiperinsuflação pul- essencialmente devido a redução no volume pulmonar
monar dinâmica podem ser detectados no gráfico da aerado, o qual em troca modifica as propriedades vis-
curva fluxo-volume com o método da pressão expira- coelásticas da árvore traqueobrônquica e na maioria
tória negativa (NEP), aplicando-se pressão negativa de dos pacientes não há broncoconstrição verdadeira13.
5 cmH2O na abertura da via aérea no início da expi- No início da SARA, a análise das curvas de pressão e
ração28. Nos pacientes que não apresentam aumento volume ao término da manobra de oclusão inspiratória

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FAUSTINO

final das vias aéreas, pode revelar que o componente limitação do fluxo expiratório, é útil nos pacientes com
resistivo (ohmic, Pressão de pico – P1), está aumenta- DPOC nos com SARA com menor freqüência, além de
do em proporção inversa à diminuição da capacidade orientar a utilização de PEEP externa na sincronia pa-
residual funcional, sugerindo que este não é devido ao ciente-ventilador e no processo de desmame.
estreitamento das vias aéreas mas a um menor volume A técnica de oclusão inspiratória final, permite separar
no pulmão ventilado. A resistência adicional (P1 – P2) as resistências das vias aéreas da resistência tecidual,
está aumentada em todos os pacientes indicando as e se associada ao balão esofágico decompor as resis-
desigualdades nas constantes de tempo do pulmão tências do pulmão e caixa torácica.
doente. Na SARA, a análise da curva pressão-volume revela os
Baixos níveis de PEEPe podem diminuir a resistência diferentes padrões evolutivos da complacência e da
média das vias aéreas ao normalizar o componente re- recrutamento alveolar. O potencial de recrutamento na
sistivo inicial, provavelmente através de um aumento do fase inicial exsudativa com complacência diminuída e
volume pulmonar. Entretanto PEEPe mais altas (aproxi- a seguir próxima do normal; e na fase tardia, fibropro-
madamente 15 cmH2O) aumentam a resistência total, liferativa, de baixa complacência e pouco potencial de
quase que exclusivamente através de um aumento no recrutamento.
componente adicional, conseqüentemente aumentan- No entanto, constatou-se que nos estudos realizados
do as desigualdades regionais sob grandes volumes envolvendo a necessidade da obtenção de dados de
pulmonares. Deve-se estar atento à possibilidade de mecânica respiratória, utilizaram-se várias medidas de
desenvolvimento de PEEPi com o uso de baixo volu- PEEP externa de maneira aleatória. Cabe perguntar
me-corrente (estratégia protetora) pois para manter a se a padronização de um único valor de PEEP exter-
ventilação-minuto acaba-se utilizando freqüências res- na aplicada, refletiria melhor e mais fidedignamente os
piratórias mais altas. Neste caso a PEEPi pode estar valores dos parâmetros da mecânica pulmonar .
mais alta do que a PEEP ajustada no ventilador31.
Em pacientes com SARA a análise da curva P-V, que
apresenta perfil sigmóide, é útil pois permite o ajuste REFERÊNCIAS
apropriado da PEEP e do volume-corrente (Vt) no ven-
01. Tobin MJ - Principles and Practice of Mechanical Ventilation 2nd Ed, Mc-
tilador. Nela, o ponto de inflexão inferior corresponde Graw Hill. 2006.
a pressão de abertura na maioria das vias aéreas pe- 02. Tobin MJ, Jubran A, Laghi F - Patient-ventilator interaction. Am J Respir
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veolares estão abertas e a complacência é máxima. O esth, 2003;91:92-105.
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do qual as unidades alveolares cheias de ar tornam-se Engl J Med, 1998;338:347-354.
hiperdistendidas. O recrutamento alveolar é um fenô- 06. Ranieri VM, Suter PM, Tortorella C et al - Effect of mechanical ventila-
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meno progressivo ocorrendo durante a insuflação do syndrome: a randomized controlled trial. JAMA, 1999;282:54-61.
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A quantificação da PEEP intrínseca, associada ou não à

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MECÂNICA PULMONAR DE PACIENTES EM SUPORTE VENTILATÓRIO
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