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Instituto Estadual de Educação Princesa Isabel

Língua Portuguesa – Professora: Aline Oliveira


Aluna(o):_________________________________ nº:_____ Turma:303

A Poesia Modernista Brasileira – 2ª fase

No Pão de Açúcar
de cada dia
dai-nos Senhor
a poesia
de cada dia

(Oswald de Andrade)

Momento histórico

O período que vai de 1930 a 1945 talvez tenha testemunhado as maiores transformações ocorridas neste
século. A década de 1930 começa sob o forte impacto da crise iniciada com a quebra da Bolsa de Valores de
Nova Iorque, seguida pelo colapso do sistema financeiro internacional: é a Grande Depressão, caracterizada por
paralisações de fábricas, rupturas nas relações comerciais, falências bancárias, altíssimo índice de desemprego,
fome e miséria generalizadas. Assim, cada país procura solucionar internamente a crise, mediante a intervenção
do Estado na organização econômica. Ao mesmo tempo, a depressão leva ao agravamento das questões sociais
e ao avanço dos partidos socialistas e comunistas, provocando choques ideológicos, principalmente com as
burguesias nacionais, que passam a defender um Estado autoritário, pautado por um nacionalismo conservador,
por um militarismo crescente c por uma postura anticomunista e antiparlamentar - ou seja, um Estado fascista. É
o que ocorre na Itália de Mussolini, na Alemanha de Hitler, na Espanha de Franco e no Portugal de Salazar.

Características

A poesia da segunda fase do Modernismo representa um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas


da geração de 1922. Formalmente, os novos poetas continuam a pesquisa estética iniciada na década anterior,
cultivando o verso livre e a poesia sintética.

Entretanto, é na temática que se percebe uma nova postura artística: passa-se a questionar a realidade com mais
vigor e, fato extremamente importante, o artista passa a se questionar como indivíduo e como artista em sua
"tentativa de explorar e de interpretar o estar no mundo". O resultado é uma literatura mais construtiva e mais
politizada, que não quer e não pode se afastar das profundas transformações ocorridas nesse período; daí
também o surgimento de uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo, caso de Cecília
Meireles, de Jorge de Lima, de Vinícius de Moraes e de Murilo Mendes em determinada fase.

É um tempo de definições, de compromissos, do aprofundamento das relações entre o "eu" e o mundo, mesmo
com a consciência da fragilidade do "eu".
Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes

MOTIVO
Cecília Meireles

Eu canto porque o instante existe Se desmorono ou edifico,


e a minha vida está completa se permaneço ou me desfaço,
Não sou alegre nem sou triste: - não sei, não sei. Não sei se fico
sou poeta ou se passo

Irmão das coisas fugidias; Sei que canto. E a canção é tudo.


não sinto gozo nem tormento. Tem sangue eterno a asa ritmada
Atravesso noites e dias E um dia sei que estarei mudo:
no vento. - Mais nada

JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José? sua biblioteca,


A festa acabou, sua lavra de ouro,
a luz apagou seu terno de vidro,
o povo sumiu, sua incoerência,
a noite esfriou, seu ódio – e agora?
e agora, José? Com a chave na mão
e agora, você? quer abrir a porta,
você que é sem nome, não existe porta,
que zomba dos outros, quer morrer no mar,
você que faz versos, mas o mar secou;
que ama, protesta? quer ir para Minas,
e agora, José? minas não há mais.
Está sem mulher, José, e agora?
está sem discurso, Se você gritasse,
está sem carinho, se você gemesse,
já não pode beber, se você tocasse
já não pode fumar, a valsa vienense,
cuspir já não pode, se você dormisse,
a noite esfriou, se você cansasse,
o dia não veio, se você morresse...
o bonde não veio, Mas você não morre,
o riso não veio, você é duro, José!
não veio a utopia Sozinho no escuro
e tudo acabou qual bicho-do-mato,
e tudo fugiu sem teologia,
e tudo mofou, sem parede nua
e agora, José? para se encostar,
E agora, José? sem cavalo preto
Sua doce palavra, que fuja a galope,
seu instante de febre, você marcha, José!
sua gula e jejum, José, para onde?
SONETO DE FIDELIDADE A ROSA DE HIROXIMA
Vinicius de Moraes Vinicius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento Pensem nas crianças


Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Mudas telepáticas
Que mesmo em face do maior encanto Pensem nas meninas
Dele se encante mais meu pensamento Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Quero vivê-lo em cada vão momento Rotas alteradas
E em seu louvor hei de espalhar meu canto Pensem nas feridas
E rir meu riso e derramar meu pranto Como rosas cálidas
Ao seu pesar ou seu contentamento Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
E assim quando mais tarde me procure Da rosa de Hiroxima
Quem sabe a morte, angústia de quem vive A rosa hereditária
Quem sabe a solidão, fim de quem ama A rosa radioativa
Estúpida e inválida
Eu possa me dizer do amor (que tive): A rosa com cirrose
Que não seja imortal, posto que é chama A anti-rosa atômica
Mas que seja infinito enquanto dure Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Bibliografia:

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 36. ed. São Paulo: Cultrix, 1994.

CHAVES, Flávio Loureiro. História e Literatura. 3. ed. amp. Porto Alegre: Ed. Universidade/ UFRGS, 1999.

MORICONI, Ítalo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

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