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CONTEÚDO

PROFº: ANISIO
05 As Gerações – Indianismo (Gonçalves Dias)
A Certeza de Vencer KL 140308 – AC(mtn)/ CN(t)/ PE(mt)/ AB(n)/ SF(mtn)

Geração Denominação Componentes Modelos Poéticos Temas


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- O Índio
Gonçalves de - A saudade da Pátria
1ª Nacionalista Magalhães e Gonçalves Chateaubriand e Lamartine - A natureza
Dias - A religiosidade
- O Amor indisponível.
- A dúvida
Álvares de Azevedo, - O tédio
Individualista ou Casimiro de Abreu, - A orgia
2ª Subjetivista. Fagundes Varela e
Byron e Musset
- A Infância
Junqueira Freire -O medo do amor
- O sofrimento

- Defesa de causas humanitárias


Liberal ou Social
3ª ou Condoreira
Castro Alves Vitor Hugo - Denúncia da escravidão
- Amor erótico

(1) normalmente atribuía-se a duração média de 15 anos para cada geração. A partir de meados do século XX, em função da rapidez da mudança de costumes e valores, reduziu-se este tempo para 10 anos.

A PRIMEIRA GERAÇÃO (GERAÇÃO NACIONALISTA)


A contribuição dos teóricos europeus, o nacionalismo ufanista No meio das tabas de amenos verdores,
pós 1822 e as viagens para o exterior de Cercadas de troncos - cobertos de flores,
uma jovem intelectualidade – nascendo daí o Alteiam-se os tetos de altiva nação. (...)
famoso sentimento do exílio fornecem o São todos Timbiras, guerreiros valentes!
quadro histórico onde aponta a primeira Seu nome lá voa na boca das gentes,
geração romântica. O apogeu da mesma Condão de prodígios, de glória e terror!
ocorre entre 1836 e 1851, quando Gonçalves
Dias publica Últimos cantos, encerrando o Em seguida, inicia-se um ritual antropofágico: "Em fundos vasos
período mais fértil e criativo de sua carreira. d'alvacenta argila / ferve o cauim. / Enchem-se as copas, o prazer
O elogio literário ao índio, como já começa, / reina o festim." O jovem prisioneiro tupi, que vai ser
foi observado, é mais do que uma convenção devorado, resolve falar antes do desenlace, e com "triste voz" narra a
poética. Trata-se da reafirmação dos intuitos sua vida desventurada.
nacionalistas da primeira geração romântica, Ao metro anterior, de dez sílabas poéticas, plástico e alegre, sucedem-se
consequência direta do sentimento localista, os versos de cinco sílabas, curtos, rápidos, sincopados. Estas variações
posterior à Independência. continuas indicam que o ritmo varia de uma parte do poema a outra,
Em geral, essa literatura mescla traduzindo a multiplicidade de situações do argumento.
elementos pitorescos (os habitantes do Novo Índio tupi pintado retratado pelo
Mundo) com a mitologia romântica européia holandês Albert Eckhout. Da tribo pujante,
(a teoria do bom selvagem), acrescidos de Meu canto de morte Que agora anda errante
uma a visão idealizada (os índios são falsos e, às vezes, inverossímeis) e Guerreiros, ouvi: Por fado Inconstante,
referências etnográficas que deveriam conferir um tom "verdadeiro" às Sou filho das selvas, Guerreiros, nasci:
obras (roupagens, armas, costumes, etc.). O objetivo era a elaboração Nas selvas cresci; Sou bravo, sou forte,
de um herói mítico brasileiro, de um antepassado glorioso do qual a Guerreiros, descendo Sou filho do Norte;
nação pudesse se orgulhar. Da tribo tupi Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
A superioridade do autor maranhense sobre outros escritores
indianistas resulta de três fatores:
¾ Maior conhecimento da vida aborígene; O índio tupi no seu canto de morte lembra o velho pai, cego e
¾ Uso épico e lírico de um índio ainda não deculturado pelo homem débil, vagando sozinho, sem amparo pela floresta, e pede para viver:
branco;
¾ Esplêndido domínio estilístico, sobretudo na questão do ritmo e da Deixai-me viver! (...)
estrutura melódica. Não vil, não ignavo, *
Vários de seus poemas, que tratam dos primitivos habitantes, Mas forte, mas bravo,
tornam-se antológicos, entre os quais Marabá, O canto do plaga, Leito Serei vosso escravo:
de folhas verdes e, principalmente, l-Juca Pirama. Aqui virei ter.
Guerreiros, não choro;
VESTIBULAR – 2009

1. JUCA PIRAMA Do pranto que choro;


Este texto é uma espécie de síntese do indianismo de Se a vida deploro,
Gonçalves Dias seja pela concepção épico-dramática da bravura e da Também sei morrer.
generosidade de tupis e timbiras, seja pela ruptura, ainda que * Ignavo: preguiçoso.
momentânea, da convencional coragem guerreira, seja ainda pelo
belíssimo jogo de ritmos que ocorre no texto. 1-Juca Pirama significa
"aquele que vai morrer" ou "aquele que é digno de ser morto". Em sua
abertura, o poeta apresenta o cenário onde transcorrerá a história:
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O chefe timbira manda soltá-lo. Não quer "com carne vil, é só na moldura do solo pátrio, que a natureza (brasileira) adquire um
enfraquecer os fortes". Solto, o jovem tupi perambula pela floresta até maior valor, um valor que em nenhum outro lugar ela pode ter.
encontrar o pai. Este, pelo cheiro das tintas utilizadas no ritual, pelo apalpar Estamos diante da essência do ufanismo romântico: minha
do crânio raspado do filho, e por algumas perguntas sem resposta, desconfia pátria é a melhor. Por outro lado, trata-se de uma verdade humana
de uma terrível fraqueza diante dos inimigos. Pede então que o rapaz o leve definitiva: qualquer indivíduo no exílio - independente da terra natal ser
até a aldeia timbira. Lá chegando, exige, em nome da honra tupi, que a boa ou ruim - sempre guardará por ela uma amorosa e obstinada
cerimônia antropofágica ritual seja completada e que o filho seja morto. Mas saudade. Assim, não é de estranhar que Canção do exílio se
o chefe timbira recusa-se, acusando o guerreiro tupi de ter chorado transformasse no nosso poema:
covardemente diante de toda a aldeia. Neste momento, o velho cego
amaldiçoa o seu descendente:
Minha terra tem palmeiras,
Tu choraste em presença da morte? Onde canta o Sabiá;
Na presença de estranhos choraste? As aves, que aqui gorjeiam,
Em cismar - sozinho, à noite
Não descende o cobarde do forte; Não gorjeiam como lá.
Mais prazer encontro eu lá;
Pois choraste, meu filho não és!
Minha terra tem palmeiras,
Possas tu, descendente maldito Nosso céu tem mais estrelas,
Onde canta o Sabiá.
De uma tribo de nobres guerreiros, Nossas várzeas têm mais flores,
Implorando cruéis forasteiros, Nossos bosques têm mais vida,
Não permita Deus que eu morra,
Seres presa de vis Aimorés. (...) Nossa vida mais amores.
Sem que eu volte para lá;
Sê maldito, e sozinho na terra;
Sem que desfrute os primores
Pois que a tanta vileza chegaste, Em cismar - sozinho, à noite -
Que não encontro por cá;
Que em presença da morte choraste, Mais prazer encontro eu lá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Tu, cobarde, meu filho não és. Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Onde canta o Sabiá.
Mal termina a maldição, o velho escuta o grito de guerra do Minha terra tem primores,
filho. Ouvindo o rumor da batalha, os sons de golpes, o pai percebe que Que tais não encontro eu cá;
o filho está lutando para manter a honra tupi, até que o chefe timbira
manda seus guerreiros pararem, pois o jovem inimigo se batia com
tamanha coragem que se mostrava digno do ritual antropofágico. Com O AMOR IMPOSSÍVEL
lágrimas de alegria o velho tupi exclama: "Este, sim, que é meu filho A lírica amorosa de Gonçalves Dias é marcada pelo sofrimento. Em
muito amado!”. seus poemas, o amor raramente se realiza, é sempre ilusão perdida,
Como chave de ouro do poema, ocorre uma transposição impossibilidade vital de relacionamento. Entre a esperança e a vivência, entre
temporal no seu último canto. O leitor fica sabendo que os a intenção e o gesto estão os abismos da experiência concreta. E a
acontecimentos dramáticos vividos pelos dois tupis já tinham ocorrido experiência concreta remete para o fracasso. "Cismar venturas e só topar
muito tempo e que tudo aquilo era matéria evocada pela memória de um friezas", eis a delimitação desse posicionamento. Em outro de seus versos,
velho timbira: um dos mais desencantados, ele desabafa: "Amor! delírio - engano".
Apaixonar-se é, pois, predispor-se à angústia e à solidão. O poeta
Um velho timbira, coberto de glória, guardou a memória confessa sua afetividade, suplica a paixão da mulher, mas não obtém resposta.
do moço guerreiro, do velho Tupi! Resta-lhe, pois, o desespero. Em poemas como se morre de amor, conseguiu
dar dignidade a esse sofrimento:
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava do que ele contava,
Dizia prudente: - Meninos, eu vi! Se se morre de amor! - Não, não se morre,
Quando ó fascinação que nos surpreende
OS TIMBIRAS De ruidoso sarau entre os festejos;
Além desses poemas indianistas, Gonçalves Dias tenta elaborar uma Quando luzes, calor, orquestra e flores
epopéia intitulada Os Timbíras. Era um projeto ambicioso: os índios Assomos de prazer nos raiam n'alma (...)
substituindo os heróis gregos, numa Ilíada brasileira, tropical, com
abundantes e coloridas descrições da flora e da fauna. A narrativa teria Simpáticas feições, cintura breve,
como eixo a formação e dispersão do povo timbira. A obra, contudo, fica Graciosa postura, porte airoso'
inconclusa e os fragmentos elaborados são inexpressivos. Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido acaso podem
A NATUREZA Num engano d'amor arrebatar-nos.
Enquanto poeta da natureza, Gonçalves Dias canta o mar, o Mas isso amor não ó, isso ó delírio,
céu, os campos, as florestas, etc. No entanto, a natureza não tem um Devaneio, ilusão que se esvanece
valor universal, só merecendo ser celebrada quando simbolizava seu Ao som final da orquestra, ao derradeiro
pais. A luz do sol, por exemplo, é sempre a imensa luz do sol brasileiro. Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Só aqui, no espaço da pátria, os elementos naturais se manifestam em Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
sua plena majestade. Significativamente, ele deu a esta parte de sua D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
obra o titulo de poesias americanas.
Não é de surpreender também que no espetáculo e nos Amor é vida; é ter constantemente
contornos da natureza brasileira, o poeta se elevasse até Deus. Assim, Alma, sentidos, coração - abertos
nacionalismo e panteísmo se mesclam em sua lírica. Ao grande, ao belo; ó ser capaz d'extremos,
A celebração da natureza entrelaça-se também com o D'altas vitudes, to capaz de crimes!
sentimento saudosista. Gonçalves Dias é um homem nostálgico que Compreender o infinito, a imensidade,
lembra a infância, os amores idos e vividos e, antes de mais nada, um E a natureza e Deus; gostar dos campos,
homem que, na Europa, sentira-se exilado. Por isso, a memória a todo o D'aves, flores, murmúrios solitários;
momento o arrasta até a terra natal. E a pátria aparece sempre como Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
natureza: palmeiras, céu, estrelas, várzeas, bosques e o indefectível E ter o coração em riso e festa
sabiá. Isso é amor, e desse amor se morre! (...)
Canção do exílio sintetiza genialmente esta identificação entre
o país e sua expressão física. Desde o seu surgimento, tornou-se o Amá-la, sem ousar dizer que amamos,
VESTIBULAR – 2009

poema mais conhecido do Brasil e, por derivação, o mais imitado e o E, temendo roçar os seus vestidos,
mais parodiado. Talvez seja o nosso verdadeiro hino nacional. Arder por afogá-la em mil abraços:
Contudo, se observamos este texto clássico, poderíamos Isso é amor, e desse amor se morra!'
argumentar que mesmo em Portuqal, (onde o poema é escrito no ano de *Airoso: esbeleto, elegante
1843) há árvores e aves, bosques e várzeas. Aliás, em todos os países
há uma natureza Interessante a ser cantada. Mas, para Gonçalves Dias,

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