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“Agente ndo quer mais sr visto como doente' a Vida de quem é alvo de gordotobia
"A gente nao quer mais ser visto como
doente': a vida de quem é alvo de
gordofobia
BBC (http://www.bbe.com/portuguese/brasil-42446726) - by Vinicius Lemos De
Cuiaba para a BBC Brasil
O cinto de seguranca da jornalista e youtuber, Alexandra Gurgel, de 28 anos,
nao fechou durante sua tiltima viagem aérea. O episédio, que aconteceu em
setembro, tornou-se rotina. No entanto, desta vez a companhia aérea
informou que nao havia extensor para adaptar o item de seguranga e ela teve
de fazer o trajeto de Sao Paulo a Salvador sem cinto.
“"£ uma situago constrangedora. Foi péssimo, me senti desprotegida e
diferente dos demais. Conhego pessoas gordas que evitam viajar de avido s6
para nao passar por isso", comenta a youtuber. Nas viagens aéreas, Alexandra
sempre recorre a cadeiras maiores, para que possa se sentir confortével. "Eu
sou alta, tenho 1,74m, e possuo 127 centimetros de quadril, entao quando
posso, compro o assento mais espacoso, mas ainda assim preciso do
extensor."
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"Agente no quer mals er to come does’ avid de quem 6 to de gordfobla
A dificuldade durante o voo é apenas um exemplo das tantas adversidades
encontradas por Alexandra ao longo de sua vida, em razio do sobrepeso que a
acompanha desde a infancia. A jornalista demorou décadas até aprender a
lidar com 0 fato de ser uma pessoa gorda. No caminho da auto-aceitagao,
chegou a fazer uma lipoaspiragdo em diversas partes do corpo e tentou 0
suicidio.
Os empecilhos enfrentados por pessoas gordas esto em todos os lugares. Seja
na hora de comprar roupa, escolher lugar para sentar ou ao passar em uma
catraca, as dificuldades mostram que nem tudo é inclusivo. Além disso, ha
ainda os diversos comentarios ofensives e as piadas preconceituosas e as
observagées maldosas disfargadas de preocupacio. Isso tudo recebeu o nome
de gordofobia.
O termo recente é utilizado para definir o preconceito enfrentado por quem
tem sobrepeso. Apesar de ter ganhado uma definigao, os atos nfo sfo
considerados crimes.
O problema nfo é recente. Olhares tortos para pessoas gordas j4 eram comuns
na Idade Média, quando a igreja passou a considerar a gula como um dos sete
pecados capitais. "O cristianismo fez com que tudo fosse muito ponderado,
inclusive 0 corpo. Ent&o a pessoa nao poderia ser muito gorda, porque isso
seria um pecado. Além disso, a comida era extremamente escassa na Europa,
durante os periodos frios. Nao havia alimentagio para todos e nao era
interessante que as pessoas fossem gordas", explica a historiadora Débora
Casanova.
"Na Idade Média, havia a necessidade de a igreja ser responsabilizada pela
ibar dei.
0 outro sem nada, acabou que a gula se tornou pecado", acrescenta.
ando
fome. Para justificar que a pessoa nao poderia comer muito e 2
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“A gente ndo quer mais se visto como doente a vida de quem &alvo de gordofobia
A gordofobia chama a atengdo em um pais cuja populagio esta cada vez mais
acima do peso. Conforme levantamento divulgado pelo Ministério da Satide
neste ano - por meio de andlise da Pesquisa de Vigilancia de Fatores de Risco
e Protecdo para Doencas Crénicas por Inquérito Telefénico (Vigitel) -, a
populagao obesa no Pais passou de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016.
A mesma pesquisa apontou que o excesso de peso também aumentou nos
ltimos 10 anos. Em 2006, o ntimero era correspondente a 42,6% dos
entrevistados. O indice subiu para 53,8% no ano passado. Os levantamentos
so feitos com base no indice de Massa Corporal (IMC) da populagao.
A discriminacao
Os comentarios maldosos e a sensagiio de ser diferente acompanharam
Alexandra Gurgel desde a infancia. "Eu sou gorda desde sempre. Quando
crianga, tentei muitas dietas, mas nada dava certo, porque era tudo muito
restritivo”, relembra. Na adolescéncia, o sobrepeso comecou a incomodar
ainda mais a youtuber. "Eu era a tinica pessoa gorda na minha familia e entre
os meus amigos. Os meus parentes costumavam dizer que eu no era normal e
que poderia ter um infarto e morrer a qualquer momento."
As criticas vindas da propria familia também eram ouvidas pela universitéria
Isabela Venancio, de 23 anos. "Eu comecei a engordar na infancia e isso
preocupou a minha mie, Hoje temos uma relac&io melhor, mas ela sempre
repetia: 'se vocé emagrecer vai ser melhor e vai ficar mais bonita”, conta. A
jovem também lidava com comentarios maldosos na escola. "Na pré-
adolescéncia, os meninos me xingavam e as meninas nfo andavam comigo.
Certa vez, um menino me falou uma coisa muito pesada e eu comecei a chorar
na sala, Eu nao lembro o que ele falou, parece que meu cérebro deletou.”
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"Agente ndo quer mais servo come doe ava de quem 6 ao de gorda
Aprofessora Laine Souza, de 35 anos, lida com 0 preconceito de diversas
formas desde a infaincia. "Eu era uma crianga que sofria por ser negra e gorda.
A minha familia teve boas condigées e eu estudava em bons colégios. Em
algumas épocas, era a tinica negra e gorda da escola. As pessoas me viam
diferente por isso.”
Para evitar que os comentérios ofensivos o afetassem, o publicitario e
youtuber Bernardo Boechat, de 27 anos, passou a criar uma espécie de
autoprotegao. "Aprendi a lidar com isso cedo, porque sempre fui xingado na
escola e sofria humilhagées por ser gordo. Nao havia nenhuma protecao na
escola, viam isso acontecer e nao faziam nada. Ento, eu tive que criar uma
‘casca’ para que essas coisas nfo me afetassem tanto", diz.
O perfil mais combativo é adotado por algumas pessoas que sio alvos de
gordofobia, como no caso da empresdria Allyne Turano, de 31 anos. Ela
engordou durante a adolescéncia e passou a ser alvo de piadas. "Eu comecei a
perceber os xingamentos e sempre os respondia. Nunca deixei as pessoas me
diminufrem", pontua. Para ela, qualquer tipo de comentario sobre 0 peso é
uma espécie de invasi. "A pessoa quando engorda, parece que vira de
dominio piblico e todo mundo tem o direito de falar o que quiser, coma
desculpa de que é uma ajuda, Na verdade, é porque o gordo incomoda.”
Appsicéloga Iolete Silva explica que a gordofobia traz consequéncias como
constrangimento e dificuldade de socializagio. "As pessoas se sentem
inadequadas, como se houvesse algo errado com elas. It como se elas nao
fossem boas 0 suficiente para estar com os outros e para receber afeto”, conta.
Ela detalha que a psicologia pode ter papel fundamental para auxiliar quem
enfrenta tais situagdes. "A gente tenta mostrar que a pessoa que exprime esse
preconceito é quem est errada e nao quem é 0 alvo.”
"E fundamental que as pessoas que passam por situagSes assim possam
expressar seus sofrimentos, para que possam ser acolhidas o quanto antes.
Muitas vezes elas escondem esse sentimento ¢ isso 6 ainda mais prejudicial”,
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“Agente ndo quer mais sr visto como doente' a Vida de quem é alvo de gordotobia
acrescenta Iolete.
Dificuldades do cotidiano
Os comentérios relacionados ao peso nao incomodam mais o publicitério
Bernardo Boechat, que afirma que sua maior preocupaco atual é com a
acessibilidade. "A primeira coisa que precisamos fazer é olhar em volta, para
ver se cabemos no mundo. Sempre analiso, antes de sair, preciso avaliar se as
cadeiras vao suportar meu peso. Em aviao e énibus, sempre pesquiso se a
cadeira vai me aguentar, por isso cheguei a ficar quatro anos sem viajar”,
conta.
"Nao interessa o quanto eu me ame e me aceite, a sociedade continua sendo
contra mim. Nao é porque eu me amo que vou conseguir passar em uma
catraca de Gnibus, que vou conseguir assento no aviao ou que vou encontrar
roupa com facilidade. Nao adianta eu me achar lindo e maravilhoso, porque a
estrutura gordofobica vai dizer que nao faco parte daquilo ali", completa
Boechat.
O episédio da falta de extensor no cinto de seguranga é apenas uma das
situagdes que Alexandra Gurgel cita sobre casos de inacessibilidade. Ela se
recorda de diversos problemas enfrentados por pessoas proximas. "Eu fui com
um amigo ao teatro, para assistir a um show, e nao havia cadeira para cle
sentar. Ele ficou desconfortavel na ponta da cadeira, a gente assistiu cinco
misicas e foi embora. Eu também tenho uma amiga que esté gravida e nao
tem onde ter o filho, porque a maca nao suporta o tamanho dela."
"£ muito mais facil emagrecer e se encaixar a um padrao, para no passar por
esse tipo de problema, do que mudar a sociedade. Muita gente nfo se
pergunta o porqué de as pessoas gordas nao terem os mesmos direitos que as
", assevera.
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"Agente no quer mals er to come does’ avid de quem 6 to de gordfobla
A dificuldade para comprar roupas é relato constante entre as pessoas que
vivem acima do peso. A universitdria Isabela Vendncio conta que sempre
sofria em busca de alguma pega que lhe coubesse. "As lojas oferecem até
determinado mimero. Em muitas nao ha roupa no meu tamanho, jé enfrentei
isso varias vezes. Hoje em dia existem lojas que nem perco meu tempo
entrando, porque sei que vou passar raiva e ficar triste”, relata. Hoje, ela
compra a maioria das roupas em lojas plus size.
Bernardo Boechat acredita que o mercado plus size é fundamental para a
inserg&o da pessoa gorda na sociedade. "Nao é raro a gente ver as pessoas
vestindo roupas e chorando, porque imaginaram que nunca conseguiriam
isso. E como se elas percebessem que também tém esse direito”, diz. O
publicitario revela que hé um ano se emocionou ao colocar, pela primeira vez,
uma camiseta. "Parece bobo, porque quase ninguém passa por isso, mas pra
mim foi muito importante", relata.
Os contratempos para encontrar roupas também fizeram parte da rotina da
empreséria Allyne Turano. Em uma das vezes, ela buscava uma lingerie para
comemorar os oito anos de casamento, porém nao encontrou nenhuma do seu
tamanho. "Acho que as pessoas pensam que gordas s6 devem usar roupas
largas e se esconder”, diz,
Diante da dificuldade, decidiu criar uma loja virtual especializada em lingeries
para mulheres com sobrepeso. "A minha marca existe hé trés anos de modo
online e hé um més criei um espaco fisico. O meu intuito é mostrar para
outras meninas que gorda também pode ser sensual.”
Emagrecimento
Ohistérico de diversas tentativas de emagrecimento faz parte das vidas das
pessoas gordas, "Eu brinco que se uma pessoa quer saber sobre uma dieta,
pode conversar com uma pessoa gorda, Eu ja fiz muitas dietas restritivas, nas
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"Agente ndo quer mais servo come doe ava de quem 6 ao de gorda
quais ficava até quatro dias sem comer. Jé tomei remédios e perdi mais de 50
quilos, mas nada disso era saudavel", diz Bernardo Boechat.
Para conseguir emagrecer, a professora Laine Souza decidiu procurar 0
primeiro emprego, aos 19 anos. "Consegui trabalhar como recepcionista e com
meu primeiro salario comprei remédios para emagrecer’, se recorda.
Ela perdeu 12 quilos em um més, porém comegou a ter diversos problemas de
satide, "Eu comecei a ter distirbios, por conta dos medicamentos. Eu ouvia
coisas que nao existiam, passava muito mal, mas nao falava nada disso para
ninguém, Eu pensava: ‘estou sofrendo, mas ao menos estou magra™, diz.
Na adolescéncia, Alexandra Gurgel desenvolveu depressio, "Vocé tém
doengas paralelas por conta dessa pressao estética, Eu sofri com crises de
ansiedade’, diz. Aos 19 anos, ela fez uma dieta com a qual conseguiu
emagrecer 15 quilos em duas semanas. "Era uma coisa muito louca, eu apenas
bebia agua e nao comia nada, mas logo desisti disso e recuperei todo o peso.”
Em 2012, ela ganhou um presente da mae: uma lipoaspiracao em diversas
partes do corpo. "Hoje, acredito que esse procedimento seja uma agressio ao
corpo. Antes dele, eu tinha 90 quilos e depois fui para 80. O médico tirou nove
litros de gordura. Isso é muito mais que o permitido", comenta. Apés a
cirurgia, a depressio da jornalista se intensificou. "Eu voltei a engordar tudo
de novo e isso me deixou muito mal.”
Durante esse periodo, Alexandra enfrentou o episédio que considera dos mais
dificeis de sua vida. "Eu nfo aceitei que estava engordando novamente e
comecei a me culpar muito. Por isso, tentei me matar tomando todos os tipos
de remédios possiveis", relata. Ela foi socorrida a tempo e se recuperou meses
depois
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"Agente ndo quer mais servo come doe ava de quem 6 ao de gorda
Para a nutricionista Marcela Kotait, especialista em transtorno alimentar e
obesidade, situagdes de gordofobia fazem com que a pessoa se sinta obrigada
a emagrecer.
"O padrao de beleza é de extrema magreza. Enquanto um perfil ¢ valorizado
", comenta, Marcela
demais pela magreza, o outro é rechagado pela gordur:
explica que a satide vai além do peso corporal. "As pessoas com excesso de
peso e obesidade sofrem com um estigma muito grande. Existe a crenga de
que alguém acima do peso é doente. Isso nao é verdade", argumenta.
"Uma pessoa obesa que faz atividade fisica e se alimenta de maneira
adequada, pode ter os exames laboratoriais estveis. Ela pode estar bem e
saudavel. Nao necessariamente esse peso vai ser um fator de risco isolado”,
completa.
Segundo a nutricionista, uma pessoa gorda deve ter os mesmos cuidados que
alguém magro. "As pessoas devem se alimentar de modo equilibrado, nao
pode fazer restrigdes de grupos alimentares nem dietas malucas. A gente sabe
que 95% das pessoas que fazem esse tipo de dieta vio ganhar novamente o
peso. Isso aumenta a culpa, a sensagio de fracasso e colabora com a pecha de
que todo gordo é preguicoso."
Aespecialista ainda relata que o indice de Massa Corporal nao é um método
confidvel para definir se alguém possui sobrepeso. "O IMC vai avaliar
simplesmente o peso pela altura, multiplicado ao quadrado. Se a pessoa for
muito forte, vai pesar muito. Ele nao consegue caracterizar a composicao
corporal. Uma das metodologias mais adequadas 6 a variagio da composicao
corporal, percentual de gordura ou percentual de massa magra."
Problemas de satide
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"Agente no quer mals er to come does’ avid de quem 6 to de gordfobla
Para as pessoas gordas, a ligacdo entre obesidade e doenga é um dos estigmas
que mais causam preocupagéio. "A nossa luta é para que a obesidade seja
retirada da categoria de doencas. O corpo gordo, em si, néio causa doenga
nenhuma. O que pode causar problemas sao as varias doengas que podem ser
associadas", justifica Bernardo Boechat.
"A gente quer deixar de ser visto como pessoa doente. Queremos que nos
enxerguem como seres humanos. f importante também que haja uma
medicina que nos abrace, para que possamos ser a versio mais saudavel de
nés mesmos", complementa.
Allyne Turano afirma que as diversas criticas relacionadas a satide costumam
incomodé-la. "Usam sempre essa questio como desculpa. Dizem que devemos
emagrecer por questdes de satide, mas ninguém pergunta se vocé est
realmente doente", comenta.
Segundo ela, o esteredtipo que relaciona a pessoa acima do peso a doengas
dificulta diagnésticos de médicos. "A gente acaba nio se consultando com
frequéncia por medo de receber ataques, em vez de medicacdo. Certa vez fui
ao endocrinologista para fazer procedimentos de rotina e sai de 14 com exames
para uma cirurgia bariatrica, mesmo sem ter pedido", relembra.
A dificuldade para receber um diagnéstico foi vivenciada pelo bacharel em
Direito Joao Vitor Dias, de 33 anos. O rapaz acredita que demorou nove anos
para descobrir que possuia problemas nos rins, pois os médicos acreditavam
que suas mazelas se restringiam ao sobrepeso. "Durante anos, meu principal
diagnéstico foi a obesidade, s6 em 2015 descobri que sofro de insuficiéncia
renal crénica."
Atualmente, Dias faz tratamento de hemodidlise e perdeu 42 quilos em razao
dos procedimentos médicos.
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“Agente ndo quer mais sr visto como doente' a Vida de quem é alvo de gordotobia
Em paz com 0 peso
De diversas formas, as pessoas gordas tentam buscar meios para lidar da
melhor maneira com o peso. Laine Souza mudou a visio que possuia de si
mesma apés ouvir uma aluna lamentar o sobrepeso. "Ela tinha os mesmos
problemas que eu quando mais jovem. Entio, decidi que poderia lidar melhor
com isso e ajudar diversas pessoas, principalmente adolescentes, que passam
por essa pressio estética de um modo muito grande."
Ela conta que sofre mais preconceito por ser negra do que gorda. "Acho que
por eu me aceitar como gorda, e como negra também, as pessoas no chegam
tanto para falar comigo sobre o meu peso. Mas em relagiio a raga, eu vejo nos
lugares. Diversas vezes ja estive em lojas e os segurancas ficaram de olho em
mim", comenta. Mesmo com as adversidades, Laine tenta nao se abater.
"Estou em uma fase da vida em que as pessoas podem falar o que quiser, pois
vou continuar fazendo o que tenho vontade."
Uma das sensagdes mais libertadoras para Allyne Turano aconteceu ha dois
anos, em uma praia, "Eu nunca tive grandes problemas com meu peso, mas
mesmo assim tinha meus receios. Um dia, fui de maid para a praia, por
conforto e também porque me boicotei para nao ir de biquini. Mas eu peguei
sol, fiquei com a barriga branca e odiei. Depois disso, coloquei o biquini. Foi
uma experiéncia incrivel", rememora.
O biquini também foi um dos meios de libertagio de Alexandra Gurgel. "As
pessoas me olhavam, mas eu nao me importava. Sao varias amarras que
existem na cabega da pessoa gorda, mas hoje vou para a praia de biquini, sem
paranoias”, explica. Além da roupa de banho, ela também conta que comegou
a fazer terapia, logo apés se recuperar da tentativa de suicidio, e passou a
estudar sobre minorias.
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"Agente ndo quer mais servo come doe ava de quem 6 ao de gorda
"Eu digo que uma das minhas maiores ajudas para me recuperar de tudo isso
foi descobrir sobre o feminismo, porque ele me ensinou que eu nao sou
obrigada a nada e posso ser da forma que quiser. Entendi a gordofobia e
peguei essa causa para mim", diz.
Desde 2015, ela possui um canal no qual fala sobre situagGes relacionadas
pessoas gordas. "Eu costumo dizer que a camera é a minha terapeuta", conta
Alexandra, que costuma ignorar as eriticas ofensivas que recebe em sua
pagina. "Nao vale a pena me importar com isso, porque descobri que sto
pessoas frustradas.”
Bernardo Boechat também encontrou na producio de contetido para a
internet uma alternativa para ajudar outras pessoas. Um dos videos dele, no
qual explica sobre gordofobia, possui mais de 1,5 milhao de visualizacdes no
Facebook.
"Costumo receber muitas mensagens de pessoas que me dizem que nao
sabiam que poderiam reclamar de determinado fato. Elas percebem que no
sii os tinicos que passam por isso. Os gordos normalmente se sentem muito
sozinhos."
Assumidamente homossexual, o rapaz conta que sempre sofre mais
preconceito em razio do peso. "O movimento LGBT est4 muito avancado, ha
diversos debates sobre o assunto, entao é mais esclarecido. Porém, o
movimento gordo ainda est ganhando visibilidade, porque antes nao havia
isso", comenta. Ele torce para que a causa das pessoas acima do peso passe a
ganhar mais visibilidade. "A gente quer uma sociedade inclusiva, aberta a
todos, independente de a pessoa ser gorda ou nao."
BBC (http: //www.bbe.com/portuguese/brasil-42446726) - by Vinicius Lemos De
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