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Natureza humana
Natureza humana
super.abril.com.br (https: //super.abril.com.br/ciencia/natureza-humana/) - by Da
Redagiio
Jerénimo Teixeira
O filho de dois consagrados astrofisicos foi perdido, ainda bebé, em uma
floresta, onde uma matilha de lobos resolveu adoté-lo. Anos mais tarde, ele é
encontrado ¢ trazido de volta civilizagio. Sua reeducagio acontece em tempo
recorde: logo esta se formando entre os melhores de sua classe no Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT), uma das mais prestigiosas universidades
norte-americanas, Um ano depois da formatura, o rapaz morre, tragicamente,
ao perseguir a roda de um carro.
A anedota acima apareceu na seco de correspondéncia da revista Time.
Comentava uma resenha de The Blank Slate (“Tabula rasa”, ainda sem versio
em portugués), livro em que o psicdlogo canadense (e também, claro,
professor do MIT) Steven Pinker apresenta sua imodesta proposta para a
compreensao da natureza humana. A obra investe sobre um velho debate
cientifico (ou ideolégico, ou ambos, conforme o ponto de vista) que, em inglés,
6 eufonicamente referido como nature x nurture, Nature é traduzido
facilmente por natureza. Nurture é um pouco mais complicado. Inclui as
nogées de educar, de dar cuidados — comumente, nurture é 0 que uma mie
prové ao filho. Para nosso objetivo, a expressio ser vertida com mais
exatidao (ainda que o trocadilho se perca) como natureza x cultura.
O problema é saber o que faz voc’, leitor, ser o que é: a cultura adquirida na
familia, na escola, na sociedade, ou o seu repertério genético? Se voce fosse
criado, como o sujeito da piada, em uma cultura canina, vocé faria pipi nos
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postes? Ou ser4 que sua natureza humana imporia o uso dos urindis?
O debate esta na mesa h muito tempo. “A dicotomia natureza/cultura é uma
ressaca do pensamento do século 19 e est na hora de reconhecermos que a
ciéncia j4 a superou’, diz o neurobidlogo Steven Rose, da Open University, na
Inglaterra. Ele nao é o tinico a pensar assim. Na introdugo de seu livro, 0
proprio Pinker lembra a reacio dos colegas quando ele mencionava o projeto
de escrever The Blank Slate: “Ah, nao! Nao mais um livro sobre natureza x
cultura!”, diziam. O esgotamento 6 compreensivel. A discusstio muitas vezes
ganha os contornos aridos da mimicia estatistica, na tentativa de determinar
quanto do nosso comportamento é hereditario ou quanto da nossa
inteligéncia é adquirida culturalmente. Nas instancias mais inflamadas, 0
debate parece chegar ao beco sem saida da esterilidade argumentativa. O
campo de batalha foi dividido grosseiramente em dois partidos intransigentes,
que nao se comunicam.
De forma genérica e simplificada, temos, de um lado, o pessoal das ciéncias
sociais — socidlogos, historiadores, antropélogos — e, do outro, a turma das
istas. Para os
ciéncias naturais — psicdlogos evolutivos, neurocientistas, geneti
cientistas sociais, os bidlogos seriam reducionistas, ou seja, teriam o vicio de
limitar qualquer comportamento sua dimensio organica, fazendo do ser
humano uma espécie de marionete de seu cédigo genético. Os cientistas
sociais, na visdo dos oponentes, seriam, na melhor das hipéteses, pouco
rigorosos e, na pior, embusteiros que disfarcam proselitismo ideolégico como
pesquisa académica. “Falta reconhecimento de parte a parte. Os dois lados
constroem discursos impermedveis”, afirma o psicanalista Edson Sousa,
professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS).
Como seria de prever, The Blank Slate defende as ciéncias naturais.
Conhecido no Brasil por suas obras Como a Mente Funciona (Companhia das
Letras) e O Instinto da Linguagem (Martins Fontes), Pinker utiliza as nogdes
de adaptabilidade e selegao natural para explicar a conformagao da mente
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humana, Algumas de suas posigdes sio certamente controvers
: por
exemplo, a sugestio de que as posigées politicas radicais ou conservadoras
que adotamos podem ser informadas por caracteristicas genéticas. Ou a idéia
de que a nossa concepcao de beleza — e, por conseqiiéncia, nossa apreciaciio
de obras de arte — é inata e universal, tendo surgido como produto secundario
de adaptagées evolutivas realizadas ainda na pré-histéria. Concordemos ou
nao com proposicées desse género, The Blank Slate tem o mérito de
demonstrar que o debate natureza x cultura pode ser mais sutil do que as
posig6es extremas sugerem. E, sobretudo, Pinker mostra como a relevancia do
problema extrapola os muros da academia.
Da educacdo das criangas até a punigao dos criminosos, as implicagoes
cotidianas de nossa concepedo de natureza humana sio inémeras.
Mas sera pertinente falar em “natureza humana’? 0 filésofo Renato Janine
Ribeiro, da Universidade de Sao Paulo (USP), acredita que nao: a diversidade
de comportamentos e valores que encontramos em diferentes sociedades
desmentiria a idéia de uma naturez
tinica e imutavel. Ele afirma que mesmo
caracteristicas tidas como universais sofrem alteragGes ao longo da histéria
(veja lista na pagina 69). O amor aos filhos é um exemplo: em Esparta, a
pratica do infanticidio era comum. O filésofo Luiz Felipe Pondé, professor da
Pontificia Universidade Catélica (PUC) de Sao Paulo e pesquisador convidado
da Universidade de Marburg, Alemanha, discorda: “Natureza humana, como
todo conceito, pode sofrer alteracdes, mas acredito que uma certa
permanéncia de comportamento humano possa ser confirmada.
Mesmo acerca do relativismo antropolégico, ainda que mudem os valores, 0
animal humano permanece um animal moral, o que significa que faz parte da
sua natureza a percepgao do mundo ao seu redor via estabelecimento de
valores”. No entanto, Edson Souza diz que, do ponto de vista da psicandllise, 0
homem é 0 ser mais desprovido em termos naturais. 0 bebé depende por mais
tempo da mie: “Nossa dependéncia em relago ao outro est inscrita no nosso
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corpo. E essa relagao é mediada pela palavra, pela linguagem. As inscrigdes do
cédigo genético nao sao suficientes para a construgio do objeto em que
investimos o nosso afeto”, afirma.
Como se vé, hé uma grande pluralidade na abordagem do assunto. De acordo
com Pinker, porém, a visio relativista tornou-se o paradigma predominante
das ciéncias humanas. O modelo corrente ~ que ele acredita remontar 4 obra
do filésofo inglés John Locke (1632-1704) — seria o da tabula rasa: 0 ser
humano nfo traz nenhuma caracteristica inata. Nasce como uma folha em
branco, na qual a sociedade vai imprimir seus valores basicos. Dessa visfio
fundamental surgiriam duas convicgdes subsidiarias: a idéia de que o homem
em estado natural é bom e a sociedade o perverte, cuja formulagéo mais
conhecida é 0 “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). A outra
60 chamado dualismo filoséfico, de René Descartes (1596-1650): a crenga de
que corpo e alma so entidades distintas. Pinker opde-se ao dualismo.
Duramente materialista, ele cré que mente e corpo sfio uma coisa s6. A “alma”
seria o resultado da complexa atividade neural em nosso cérebro.
O bidlogo David Barash, da Universidade de Washington, Estados Unidos, em
uma resenha de The Blank Slate publicada em Human Nature Review, afirma
que Pinker forga o argumento ao filiar as trés concepgées criticadas a uma
“nica matriz. O “bom selvagem” nao nasce como uma folha lisa: sua bondade,
afinal, 6 congénita. Tampouco a crenga de que 0 corpo é habitado pela alma é
congruent com a doutrina da tabula rasa. A verve do polemista ofuscaria o
rigor do cientista.
Mesmo assim, ha boas razes para o reducionismo ter virado um palavrao nas
ciéncias humanas. As descobertas de Charles Darwin desbancaram o ser
humano da sua posigdo de preferido do Criador, mas o homem branco
europeu rapidamente compensou o golpe, deturpando a nova teoria para
justificar seu impeto colonialista. Negros e indios eram vistos como um
estagio intermediério entre os brancos e formas inferiores da escala
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evolucionéria. A eugenia —a selecéo dos melhores individuos para reprodugao
~— parecia ser uma boa estratégia para garantir o aperfeigoamento da
humanidade. O termo eugenia, alids, foi cunhado por um primo de Darwin,
Francis Galton. O proprio Darwin era um liberal generoso, que, durante a
legendaria viagem do navio Beagle, se horrorizou com o modo brutal como os
escravos eram tratados no Brasil. Mesmo assim, como lembra o paleontélogo
Stephen Jay Gould em A Falsa Medida do Homem, Darwin deixou algumas
paginas no minimo ambiguas sobre o status evolutivo da raga negra
Em seu livro, Gould mostra que a neutralidade ideolégica da ciéncia é relativa.
“A ciéncia talvez nao consiga ser sempre ideologicamente neutra, mas ela
tenta ser”, afirma Pinker. “Pressdes politicas e sociais tém o seu papel, tanto
quanto outras fragilidades humanas, como a ambigo e a busca de respeito. O
objetivo da ciéncia é minimizar esses fatores. O fato de que tantas descobertas
cientificas ja tenham subvertido a sabedoria convencional das classes
dominantes mostra que ela geralmente tem sucesso.”
Muitos acreditam que a eugenia é uma bandeira exclusiva dos extremismos de
direita. Na verdade, ela foi saudada com entusiasmo pela esquerda no inicio
do século 20. Socialistas famosos como H.G. Wells e George Bernard Shaw
acreditavam no aprimoramento biolégico. Esse fato ficou obscurecido pela
conseqiiéncia mais radical e sinistra do pensamento eugénico: os campos de
concentragdo nazistas. As teorias racistas esto hoje amplamente
desacreditadas, mas a sombra da sudstica parece perseguir os bidlogos.
Qualquer pesquisa que sugira a existéncia de diferencas comportamentais
entre os sexos ou causas genéticas para a criminalidade est fadada a balancar
os esqueletos do armario. A sugestao de que temos uma natureza humana
desenhada pelo DNA pode ser inquietante. Se todos compartilhamos um
substrato biolégico comum, é possivel que também as nossas diferencas sejam
determinadas pela genética. O temor é de que isso venha a minar na base os
ideais humanistas de igualdade.
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Mas The Blank Slate se dedica a exorcizar esses velhos fantasmas. O fato de
que no somos iguais nao invalidaria a idéia moral de que devemos ter
igualdade de direitos. Pinker argumenta que a doutrina da tabula rasa
também gerou seus pesadelos politicos. A concepgao do homem como um ser
plastico, a ser moldado pela sociedade e aperfeicoado pela cultura, teria
servido de base para as ditaduras comunistas. Mao Tsé-tung defini o homem
como uma “folha em branco” na qual “os mais novos e belos desenhos podem
ser pintados”. O construtivismo social — concepgdo segundo a qual nogées
como sexo nao sao inatas, mas construidas culturalmente — também gerou
aberracées. O caso de David Reimer (veja “O terceiro sexo”, na Super 185,
edicao de fevereiro) costuma ser citado para ilustrar o erro do construtivismo
extremo. Ainda bebé, David perdeu parte do pénis em uma circuncisdo mal-
realizada.
Aconselhada por John Money, um sexélogo da Universidade Johns Hopkins, a
familia submeteu-o a uma operacao de mudanga de sexo e o criou como se
fosse uma menina, Pinker lembra que, quando era estudante de psicologia,
essa experiéncia era tida como um exemplo do sucesso da perspectiva
construtivista. Mais tarde, revelou-se que a infancia de David fora um
pesadelo. A natureza masculina por fim se fez ouvir. Ele reverteu a operagio
de mudanga de sexo e hoje esta casado com uma mulher.
Mas nem todos os que criticam a moderna biologia por suas tendéncias
reducionistas estardo dando seu voto A nefasta engenharia social de um tirano
chinés ou aos delirios de sexdlogos charlatdes. O debate nao esta polarizado
apenas entre ciéncias sociais e biologicas. Algumas das criticas mais
contundentes ao reducionismo partiram de darwinistas de carteirinha. A
€poca herdica desses debates foram os anos 70. Em 1975, Edward O. Wilson
langava Sociobiology (“Sociobiologia”, sem tradugdo em portugués), livro que
buscava entender o comportamento social de variadas espécies a partir de
uma base evolutiva. No ano seguinte, surgiria uma das obras mais influentes
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da biologia moderna, O Gene Egoista, de Richard Dawkins. Wilson e Dawkins
foram acusados de ressuscitar 0 velho darwinismo social, segundo o qual é a
selecio natural que determina quem seré rico ou pobre.
Opondo-se a sociobiologia, surgiu um movimento chamado ciéncia radical,
que congregava nomes do porte do paleontélogo Stephen Jay Gould e do
geneticista Richard Lewontin, também professor de Harvard.
Em seu livro, Pinker reconstitui as brigas da época com franca parcialidade.
Wilson ¢ Dawkins sio seus herdis e cle sugere que os opositores da
sociobiologia seriam, no fundo, partidarios da tabula rasa. “Pinker esta
brigando com espantalhos. Nem eu, nem Lewontin, nem qualquer bidlogo que
eu conhega acredita que o ser humano é uma tabula rasa’, diz, Steven Rose,
um dos mais destacados membros da ciéncia radical. A despeito de todos os
protestos e da celebridade de seus criticos, as teorias de Wilson e Dawkins
sobreviveram e sto as mais influentes nos departamentos de biologia.
Na verdade, a sociobiologia foi rebatizada como psicologia evolutiva e é um
dos campos de pesquisa mais promissores da atualidade. Na busca de
entendimento dos comportamentos sociais a partir de pressupostos
darwinistas, ela em certa medida disputa terreno com as ciéncias humanas.
“H4 um certo medo do materialismo biolégico por parte das ciéncias
humanas, devido ao fato que 2
éncias duras tém melhor desempenho
epistemoldgico”, diz Luiz Felipe Pondé. A evolucio poderia mesmo explicar
nosso comportamento social? Pinker responde invocando a necessidade de
diferentes niveis de andlise: “Estudos sociais nao podem ser reduzidos
psicologia ou biologia, mas precisam levar essas Areas em consideragao. A
biologia nao pode ser reduzida a fisica, mas qualquer teoria biologica que
contradiga ou ignore as leis da fisica ser uma perda de tempo. Também é
assim com as ciéncias sociais.
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‘A maior parte dos fendmenos que elas estudam jamais seria entendida sé a
partir da psicologia evolutiva, mas ao mesmo tempo elas serao cegas se
ignorarem a natureza humana ou fingirem que ela nao existe”. O geneticista e
professor da UFRGS Renato Zamora Flores compara: “Para entender os
conflitos do Oriente Médio, nao basta saber que a violéncia é uma constante
humana”.
Renato diz que a linguagem de alguns cientistas, especialmente aqueles
ligados a biologia molecular, é de um “reducionismo extremo”. De outro lado,
falta aos cientistas sociais um conhecimento mais rigoroso de andlise
estatistica, que permita entender as causas miiltiplas de certos
comportamentos. No complexo cruzamento entre biologia e sociedade, a
violéncia é, ao lado das diferengas sexuais, um dos pontos mais sensiveis.
Pesquisas recentes mostram, por exemplo, que uma determinada
conformacdo genética — um alelo menos eficiente da enzima MAO-A —
aumenta 0 risco de um adolescente apresentar desordens de conduta em 2,8
vezes, ¢ de ser preso por crime violento em 9,8 vezes, mas apenas quando 0
individuo foi maltratado na infancia. Na auséncia de maus-tratos, nao se
produz nenhuma diferenga estatistica relevante na tendéncia a
comportamentos anti-sociais.
E um exemplo de interagao complexa entre os genes ¢ o ambiente.
A violéncia potencial parece ser uma caracteristica inata do ser humano.
Pinker insiste na base biolégica dessa tendéncia. Seria uma atitude
compartilhada com outras espécies proximas. O primatologista holandés
Frans de Waal documentou verdadeiras guerras entre chimpanzés. Dentro de
um mesmo grupo, na disputa pelo status de macho alfa, a macacada chega até
mesmo a fazer conspiragées e aliangas de ocasido, numa versio simia do que
estamos acostumados a ver em Brasilia ou Washington. A idéia de que indios
ou tribos pré-historicas viviam em um estado de paz idilica foi derrubada pela
paleontologia e pela antropologia mais recentes. Jé foram desencavados ossos
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Natrezanunana
humanos pré-hist6ricos que traziam evidéncias de assassinatos brutais.
Alguns desses ossos mostravam inclusive sinais de raspagem, como se
encontraria em um animal cuja carne comemos. Na opinido de Pinker, ndo
deveriamos perguntar por que existe violéncia, mas, como é que a violéncia
pode ser evitada.
Renato Janine Ribeiro, no entanto, afirma que a idéia de uma base biol6gica
para o comportamento violento pode ser enganosamente confortadora: “Ei.
tranqiiilizador pensar que o criminoso que nos perturba é um monstro, ou que
a violéncia é uma constante natural, pois, desta maneir a, a sociedade é
inocentada. Assim como é mais tranqiiilizador tomar Prozac do que fazer
anilise”.
“As quatro dimensdes da vida humana — trés no espago e uma no tempo — nao
podem ser lidas a partir do DNA unidimensional, com seus cerca de 30
milhées de genes”, diz Rose. Pinker, ao contrario, sugere que nossa natureza
esta em grande parte contida no material genético. Francis Fukuyama, o
cientista politico que ficou famoso ao afirmar que a historia chegou ao fim,
dedicou sua mais recente obra — Our Posthuman Future (“Nosso futuro pés-
humano”, inédito no Brasil) - a especulagées sobre a possibilidade de os.
avancos da biotecnologia colocarem em risco a natureza e dignidade
humanas. Para Pinker, essa é uma chance bastante remota: “Os genes
aleancam seus efeitos agindo em conjunto, em combinagées demasiado
complexas”. Nao existe um gene da inteligéncia, da agressividade ou do
talento misucial, o que torna a manipulagao de caracteristicas como essas
muito dificil, sendio impossivel.
De qualquer modo, 0 racismo eugenico parece estar fora de cena, Para Luiz
Felipe Pondé, a tecnologia genética sera um bem de mercado e nao um
instrumento de Estados totalitarios. Em paises com grandes desigualdades,
como o Brasil, deveriamos nos preocupar antes com o fato de que os mais
privilegiados, com seus seguros de satide, em breve terdo acesso exclusivo A
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genética preventiva, abrindo ainda mais o fosso entre ricos e pobres. “A
diferenga econémica se transformard em biol6gico-adaptativa’, afirma. A
biologia, cada vez mais, é um problema social.
Universais humanos
Steven Pinker apresenta, em The Blank Slate, uma lista de caracteristicas
humanas que seriam universais. Compilada pelo antropélogo Donald E.
Brown, da Universidade da California, Estados Unidos, ela foi publicada pela
primeira vez no livro Human Universals (“Universais humanos”, sem
traducao no Brasil), de 1991. Abaixo, adaptamos as mais importantes — e
curiosas — das caracteristicas que seriam comuns a todas as culturas do
planeta.
ABSTRACAO na fala e no pensamento
ARMAS - criacdo e utilizagao
CIUME — ¢ 0 sentimento de posse
CRENCA no sobrenatural ou em religiéo
CRENGAS relacionadas 4 morte
CLASSIFICACAO das pessoas por idade
CLASSIFICAGAO das cores
CLASSIFICACAO das pessoas por grau de parentesco
COMPLEXO de Edipo
DIVISAO do trabalho entre os membros do grupo
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ESTUPRO (e também sua proibigao)
GOSTO por doces
INCESTO entre filho e me considerado tabu
L{DERES — e a disputa pelo poder
LINGUAGEM - a boa util:
do é forma de prestigio
LUTO — formas de externar a dor pela perda
MACHOS mais agressivos e com maior tendéncia a praticar formas letais de
violéncia (em comparagao as fémeas)
MEDO de cobras
MEDO infantil de ruidos altos
MUSICA e danca
NOCAO do passado, presente e futuro
NEPOTISMO (predilegao por filhos ou parentes)
PIADAS — narrativas humoristicas
PROIBIGAO do assassinato
SENTIMENTOS morais
VIOLENCIA - ea proibigao de algumas formas
Para saber mais
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Na livraria
The Blank Slate — The Modern Denial of Human Nature, Steven Pinker,
Viking, 2002
Our Posthuman Future, Francis Fukuyama, Farrar, Straus and Giroux, 2002
Lifelines: Biology Beyond Determinism, Steven Rose, Oxford University Press,
1997
A Falsa Medida do Homem, Stephen Jay Gould, Martins Fontes, 1997
Na internet
http://www.mit.edu/~pinker (http://www.mit.edu/~pinker)
http://www.edge.org/3rd_culture/pinker_rose/pinker_rose_p1.html
(http://www.edge.org/3rd_culture/pinker_rose/pinker_rose_p1.html)
super.abril.com.br (https://super.abril.com.br/ciencia/nature:
Redagio
-humana/) - by Da
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