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da Igreja Brasileira
Professor:
João Romeu Morelli Neto
BELO HORIZONTE
2017
HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
Seminário Bíblico Mineiro – 2017.2
Prof: João Romeu Morelli Neto
Introdução
Ao iniciar este estudo sobre a história da igreja no Brasil, sugiro que usemos corretamente o
saber histórico. A história tem que servir para a edificação da igreja, e, a natureza da igreja é
expressa pela vida do cristão e pela vida coletiva do povo redimido em sua própria nação.
Sendo assim, a pergunta é: o que e como podemos aprender com a história da igreja em
nosso país?
Lloyd-Jones se expressou de maneira forte, dizendo que “talvez não exista nada que tenha
denegrido tanto a glória de Deus como a história do Seu povo na Igreja.” 1 Se realmente isso é
uma realidade, tal fato deve ser o que há de mais motivante e que mais expressa a
necessidade de aprendermos com a história.
De acordo com o raciocínio de Nietzsche2, temos que entender para que serve o conhecimento
histórico. O ser humano, desde criança, constrói sentidos históricos para sua vida e esta
construção deve ser feita com equilíbrio e sabedoria, a fim de tanto lembrarmos quanto
esquecermos do que é preciso.
Para explicar como podemos nos relacionar e aplicar corretamente o conhecimento histórico,
Nietzsche classifica três espécies de história: monumental, antiquaria (tradicional) e crítica. Ao
estudarmos a caminhada da igreja no Brasil, convém nos lembrarmos destas três atitudes para
com a história.
Monumental é a história dos grandes feitos, dos grandes personagens, dos modelos e
exemplos. Seu benefício está em nos desafiar e inspirar a conquistas. Seu malefício pode ser
uma intimidação, um desinteresse pelo que é novo e simples, criação de mitos e saudosismo.
Antiquária é a tipo de história feita com um olhar de preservação e honra ao passado, ligando-o
ao presente através do afeto e fidelidade para com pessoas, acontecimentos, lugares,
tradições e etc. Beneficamente, este olhar histórico nos dá senso de origem, de comunidade,
de familiaridade e reproduz desta mesma vida para o presente e futuro. Por outro lado, o
excesso desta espécie de história gera tradições intocáveis, prisão ao passado e preservação
sem geração de vida.
Uma conclusão de Nietzsche é que “todo homem e todo povo precisa de um certo
conhecimento do passado, ora sob a forma da história monumental, ora da antiquaria, ora da
crítica”3.
1
LLOYD-JONES, D.M. Podemos Aprender da História? São Paulo: PES, [s.d.]. p.1.
2
Friedrich W. Nietzsche (1844-1900) foi um importante filósofo e filólogo alemão. Cf. Segunda Consideração Intempestiva. Da
utilidade e desvantagem da história para a vida. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003.
3
Ibidem., p.31
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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Earl E. Cairns parece concordar claramente com as três influências da história classificadas por
Nietzche, ao escrever sobre “o valor da história da igreja”:
A história da Igreja mostra o Espírito de Deus em ação através da Igreja durante os séculos de
sua existência [...] é também valiosa como explicação do presente. Podemos compreender
melhor o presente se conhecemos as suas raízes no passado. [...]
Tornamo-nos conscientes de nossa herança espiritual. Crenças e práticas litúrgicas diferentes
são mais facilmente compreensíveis à luz da história. [...]
Os problemas contemporâneos da Igreja são muitas vezes esclarecidos pelo estudo do
passado, pois existem padrões e paralelos na história. [...]
A reparação dos males existentes na Igreja ou a capacidade de evitar erros e práticas
equivocadas é outra utilidade do estudo do passado da Igreja. [...]
A história da Igreja também oferece edificação, inspiração ou entusiasmo, que estimulam uma
vida espiritual elevada. [...]
Há também edificação quando alguém toma consciência de sua árvore genealógica espiritual.
É tão necessário para o cristão conhecer sua genealogia espiritual quanto o é para o cidadão
estudar a história de seu país para exercer sua cidadania de forma consciente. [...]
Quem estiver preocupado com o futuro da Igreja nos países onde ela é perseguida ficará mais
esperançoso à medida que perceber a indestrutibilidade da Igreja em tempos passados. [...]
Quem estuda a história da Igreja jamais se isolará em sua denominação, pois perceberá a
unidade do verdadeiro Corpo de Cristo ao longo dos séculos. Ele também se tornará mais
humilde ao encontrar os gigantes da sua herança espiritual e perceber o quanto lhes deve. 4
Não esqueçamos de que a história da igreja de Jesus Cristo está inserida dentro da história da
Igreja institucional e da história da sociedade em geral. Ao mesmo tempo em que não é
possível “isolar a igreja da Igreja” e dos contextos históricos locais, também não devemos
esquecer da sua real natureza e missão no mundo e porque não dizer, no Brasil.
Concluindo esta introdução, ao olharmos para o passado da igreja no Brasil, queremos que
estejam sempre diante de nós a revelação bíblica da real NATUREZA da igreja cristã e da sua
MISSÃO no mundo. A igreja é, sempre foi e nunca deixará de ser a família de Deus, o templo
do Espírito Santo e o Corpo de Cristo, vivendo no mundo para fazer discípulos de todas as
nações e ensiná-los a guardar tudo o que Jesus ensinou. Apesar de tudo e até de nós
mesmos, Cristo jamais deixará de edificar a Sua igreja. V. Ef 2:20; Mt 28:18-20; Mt 16:18
4
CAIRNS, Earl E; STURZ, Richard J. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja Cristã. Trad. 2ª
ed. São Paulo: Vida Nova, 1995.p. 18-21
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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Por fins didáticos, podemos subdividir a história da igreja brasileira em períodos. A divisão
marcada por datas é sempre uma divisão aproximada ou, pelo menos referencial, pois os
acontecimentos na história tem que ser observados sem perdermos o sentido de temporalidade
ou de transição.
Ele se refere ainda ao século XVI como “o grande século missionário católico”, ao século XIX,
como “o grande século missionário protestante” e ao século XX como “o grande século
pentecostal”.
A caminhada da igreja se mescla com os períodos históricos pelos quais o Brasil passou. Os
momentos culturais, políticos, econômicos e sociais interagem com o momento religioso. Por
isso, vamos orientar nosso estudo pelos próprios períodos da história do Brasil.
Tomando como exemplo as obras de Carl J. Hahn, Antônio Gouvêa Mendonça e outros
estudiosos da história do protestantismo no Brasil, caminharemos em uma cronologia de
estudo, conforme o quadro da página seguinte.
5
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil – Dos jesuítas aos neopentecostais. 2ª. Ed. Viçosa: Ultimato, 2000.
p.14,15.
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4. VISÃO CONTEXTUAL
É impossível isolarmos a história da igreja, da história geral, pois aquela faz parte do cenário
global. Se focarmos a história da igreja brasileira, portanto, deveremos observá-la como parte
integrante da história do Brasil.
A vida da igreja sempre influencia e é influenciada pelo seu ambiente e sua época. A teologia,
a liturgia do culto, as tradições e outros elementos estão sempre em relação com a cultura,
com a política, a economia, a sociologia, a geografia e etc.
Pense, por exemplo, na vida do povo de Israel no AT, na igreja neotestamentária em meio à
cultura judaica e greco-romana, na igreja ligada ao Império Romano, nas igrejas reformadas na
Alemanha, na Suíça, na Holanda ou na Escócia. E lembre-se também da igreja na Inglaterra (a
igreja anglicana) e da igreja norte-americana. Todas estas “histórias” da igreja são mais antigas
do que a história da igreja brasileira. Todas tiveram o seu próprio contexto e, em maior ou
menor grau, influenciaram a história da igreja brasileira. Neste estudo, então, podemos nos
referir a alguns fatos das nações, igrejas e denominações dos primeiros imigrantes e
missionários protestantes, a fim de entendermos melhor a nossa história como igreja brasileira.
E, evidentemente, a história de Portugal e sua igreja está totalmente ligada à nossa história.
A ORIGEM DE PORTUGAL
O território hoje português, na península ibérica, era ocupado por Cartago e foi conquistado
pelos romanos em 202 aC (Portus Cale, Portucalia ou Cidade do Porto). Ficou sob domínio de
Roma durante seis séculos, de onde recebeu o cristianismo. Os visigodos trouxeram do norte,
a influência do arianismo e este marcou a religiosidade portuguesa.
Além da influência africana de Cartago, Portugal recebeu também a influência do norte
africano, quando foi invadida pelos mouros muçulmanos no ano 711. Eles promoveram um
desenvolvimento intelectual e científico e consolidaram uma cultura greco-romana.
A independência portuguesa aconteceu com uma “reconquista cristã” através das Cruzadas e
ficou sob domínio espanhol. A partir de 1385, a Inglaterra envia soldados para libertar Portugal
e em 1386 assina com os portugueses o Tratado de Windson, com o qual firmaram acordo de
cooperação. Henrique, o Navegador, filho de uma rainha inglesa com o rei português D João I,
fundou a escola de navegação que proporcionou o crescimento do império marítimo português.
Todo este apoio inglês fez com que a Inglaterra considerasse que os portugueses deviam a ela
a sua independência e existência.
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CAIRNS, Earl E; STURZ, Richard J. O Cristianismo Através dos Séculos – Uma História da Igreja
Cristã. Trad. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 1995. p.22
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O Brasil não recebeu a influência imediata da Reforma protestante. Somente no século XVIII,
esse contato se torna mais estreito. Muitas são as análises que podemos fazer a partir deste
fato, para entender diversas questões da igreja protestante no Brasil.
Protestante foi um termo originariamente usado para se referir ao protesto de vários príncipes
cristãos alemães, contra a resolução do Imperador Carlos V (Dieta de Espira,1529), revogando
a liberdade de escolha pela Reforma. O termo “protestante” acabou sendo usado para designar
aqueles que aderiram aos princípios da Reforma na Europa. De forma geral, assim é até hoje,
embora na Europa, o nome “evangélico” tenha sido mais empregado para os luteranos e
“reformados” para os calvinistas. No Brasil, desde o início preferiu-se o termo “evangélico”.
Reflita e reveja seus conceitos durante o nosso curso. Isso pode nos ajudar muito a termos
uma visão clara da natureza e da missão da igreja no Brasil.
7
EPTING, Karl-Christoph. A Europa e a diáspora evangélica – As pedras angulares do protestantismo como contribuição à casa
européia. Estudos Teológicos, v. 46, n. 2, p. 101-112, 2006.
Extraído de http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4602_2006/et2006-2h_kepting.pdf
p.107. Acesso em Ago/2011.
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Observações.
• A igreja anglicana também pode ser citada como um ramo ao lado do protestantismo, do catolicismo
romano e do catolicismo ortodoxo. E há os que considerem que o Anglicanismo seja tanto católico quanto
protestante.
• Muitos batistas defendem a tese de que não são protestantes e não pertencem à igreja reformada.
Segundo eles, histórica e doutrinariamente os batistas antecedem às igrejas luteranas e reformadas.
• Protestante, principalmente no Brasil, tem recebido historicamente uma conotação de anti-católico.
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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1.1. O padroado
Vale a pena observar o que escreveu o padre católico Maurílio César de Lima:
Os governantes, como patronos, gozavam do privilégio de receber dízimos dos fiéis e rendas
eclesiásticas. Porém, se lhes tocava exercer alguns direitos eclesiásticos na área religiosa,
cumpria-lhes erigir e dotar dioceses e paróquias, edificar templos, designar e subsidiar
ministros e funcionários para o culto, incrementar missões entre os indígenas e manter os
missionários.
Assim, se a Igreja era beneficiada por quem atendia aos custos de sua ereção manutenção,
da mesma forma o patrono se beneficiava com seus dízimos e mantinha a Igreja submissa,
dependendo do tesouro governamental, quase sempre em escassez econômica crônica.
Portanto, o direito do Padroado trouxe vantagens e desvantagens à Igreja no Brasil. Entre
estas, a frequente intromissão do governo em assuntos estritamente eclesiásticos. 9
O Dr. Carl J. Hahn, missionário presbiteriano, também contribui para nosso estudo:
[...] em 1551, cinquenta e um anos após a descoberta do Brasil [...] o Papa designara D. João
III assim como seus sucessores, Grão Mestre da Ordem de Cristo e responsável pela
propagação da fé, nomeando bispos, administrando os fundos da Igreja e supervisionando os
tribunais eclesiásticos. Frequentemente o Rei, assim como seus sucessores, foi bastante frugal
no sustento do clero e de seu trabalho no Brasil e, por isso, favoreceu a restrição do clero às
capelanias de engenhos e fazendas.10
8
MATOS, Alderi Souza. Breve História do Protestantismo no Brasil. Extraído de: http://www.mackenzie.br/6994.html.
Acesso em Junho/2011.
9
LIMA, Maurílio César de. Breve História da Igreja no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 2004. p. 23
10
HAHN, Carl Joseph. História do Culto Protestante no Brasil. São Paulo: ASTE, 1989. p. 65
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A Ordem de Cristo ou Ordem da Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, era uma ordem
militar católica em Portugal que recebeu do papa Calisto III, em 1456, muitos privilégios de
Padroado para serem exercidos nas terras que viessem a ser descobertas sob o seu
patrocínio. Esta Ordem, com tesouros da extinta Ordem dos Templários, financiou a expansão
marítima portuguesa no século XV.
Portanto, a bandeira com a cruz da Ordem de Cristo, que aparecia nas velas das naus
portuguesas e nas bandeiras usadas nas primeiras missas brasileiras, era, antes de uma
devoção cristã, um emblema do patrocínio para as expedições de Pedro Álvares Cabral.
Havia capelães a bordo: oito franciscanos e o frei Dom Henrique Soares de Coimbra. O Frei
Henrique celebrou a primeira missa no Brasil, em 26 de Abril de 1500 e a segunda em 1º. de
maio de 1500, sexta-feira de Páscoa. Esses foram os primeiros “atos cristãos” em solo
brasileiro.
Principalmente nas décadas iniciais e prosseguindo por praticamente três séculos, o que havia
de evangelização era, na verdade, uma “cristianização”, ou seja, imposição de uma cultura
religiosa sobre os nativos e imigrantes escravos.
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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O primeiro “apelo missionário” para o Brasil, de que temos notícia, foi na carta de Pero Vaz de
Caminha, encaminhada ao rei Dom Manuel I, na qual descrevia a descoberta da nova terra.
Caminha teve a impressão de que os indígenas seriam receptivos ao cristianismo e solicita ao
rei que envie um sacerdote para batizá-los e assim salvar-lhes a alma:
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa,
seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências.
E, portanto, se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os
entenderem, não duvido que eles, segundo a santa atenção de Vossa Alteza, se farão cristãos
e hão de crer na nossa santa fé [...]. E portanto, Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a
santa fé católica, deve cuidar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco trabalho
seja assim!
[...]
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser
toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como
nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem
creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão
tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo
de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos
dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.11
Ao descrever a produtividade da terra, Caminha afirma: “o melhor fruto que nela se pode dar,
me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza
em ela deve lançar.”12
Este pedido de Caminha parece nunca ter sido levado em conta por Dom Manuel. Sua carta só
foi localizada em 1793 e publicada pelo historiador espanhol Juan Bautista Muñoz.
Somente em março de 1549, os primeiros missionários portugueses chegariam ao Brasil – os
jesuítas.
Reflexão:
Quais comentários relacionados com o cristianismo podem ser identificados
na carta de Pero Vaz de Caminha?
Você concorda com todos?
Discorda de algum?
Por que?
O Dr. Carl J. Hahn, missionário presbiteriano, escreve que “no início, o Brasil era a colônia
esquecida por Portugal. Ela ainda não produzia nenhum ouro, prata ou diamante”. As riquezas
e a beleza da Índia atraíam toda a atenção portuguesa. O Brasil era apenas uma “terra de
selvagens nus, pau-brasil e terreno para plantação de cana-de-açúcar”.13
11
A Carta de Pero Vaz de Caminha. Extraído de: www.nead.unama.br. Acesso em Julho/2011. p.11,13
12
Ibidem., p.14
13
HAHN, Op. Cit. p.37
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Em 1533, o território brasileiro foi divido em 12 Capitanias, cada uma governada por um nobre
português (“capitão” ou “donatário”), que deveria desenvolvê-la e protegê-la, sob privilégios
econômicos e políticos. Até mesmo a vida religiosa da capitania era responsabilidade do
donatário.
Mas as dificuldades eram muitas. Hahn, em sua tese de doutorado de 1970, descreve assim a
fragilidade da colonização portuguesa na época das Capitanias:
Portugal [...] exilava seus prisioneiros e “degredados” para o Brasil. Juntamente com
criminosos, estavam muitos que eram apenas hereges e não-conformistas, homens que tinham
zombado das leis. Os sacerdotes que vieram para dar assistência a eles eram “padres”
culpados de flagrantes violações das leis, aos quais era oferecida a escolha entre serem
“excomungados” e presos e virem ser missionários no Brasil.
No geral [...] as colônias eram espiritualmente esquecidas. A realidade era que as antigas
colônias tinham, em sua população, elevado número de exilados tanto políticos como
criminosos comuns e seus padres eram frequentemente homens aos quais tinha sido oferecida
a alternativa de, ou serem excomungados por crimes contra a sociedade, ou virem para o
Brasil como missionários.14
Além disso, estes homens, já com estas inclinações, e sem a presença de suas esposas que
permaneciam em Portugal, conviviam com mulheres nuas – as índias – e negras, com “formas”
atraentes. As nativas se ofereciam aos homens brancos com curiosidade e prazer. O
concubinato e o relacionamento sexual com essas mulheres se tornaram uma prática que
atingiu todos os grupos sociais, inclusive o clero!
Como se vê, a qualidade da espiritualidade cristã fazia parte de um contexto precário durante
as primeiras décadas brasileiras. Sem dúvida, este padrão original trouxe sérias conseqüências
sociais e religiosas para a história do cristianismo e da sociedade brasileira.
Reflexão:
Como se pode avaliar o verdadeiro zelo missionário português na época
descrita acima?
O que podemos aprender com isso?
14
Ibidem., p.37,38,55
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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A Companhia de Jesus ou Sociedade de Jesus foi oficializada em 1540, pelo papa Paulo III.
Era uma ordem religiosa organizada por Inácio de Loyola, cujos seguidores ficaram conhecidos
como jesuítas. Cairns escreve que “os principais objetivos da organização eram a educação, o
combate à heresia e as missões estrangeiras”.15
Depois desses, muitos outros jesuítas vieram para o Brasil, destacando-se: José de Anchieta
(1534-1597), Antonio Vieira (1608-1697) e Pedro Dias (1622-1700). O trabalho missionário dos
jesuítas cresceu muito e chegou a formar muitos jesuítas naturais do Brasil. Os jesuítas foram
enviados para trabalhar na “evangelização” dos índios e, muitos, como o padre Antônio Vieira,
tornaram-se seus fortes defensores. Eles exploravam regiões perigosas e, inicialmente muitos
morreram em sua missão em meio aos índios.
Até 1549, não havia nenhuma estratégia educacional no Brasil colônia. Com a chegada dos
jesuítas, a educação escolar tem início. Com uma ênfase “evangelizadora” e sob liderança do
padre Manoel da Nóbrega, a Companhia de Jesus atuava com catequese nas aldeias
indígenas – “reduções” – e fundou também colégios em várias regiões. Além da formação
religiosa, ensinavam artes, artesanato, gramática, retórica, filosofia e teologia.
A coroa portuguesa pouco atuava no campo da educação escolar, deixando essa tarefa à
Companhia de Jesus. No entanto, interferiu em algumas questões, como no impedimento da
criação de universidades no Brasil, com o intuito de garantir certo grau de dependência e
controle sobre a formação intelectual das elites coloniais.16
Os jesuítas tiveram discórdias com o clero secular (os padres) que tomavam conta das capelas
coloniais nas fazendas. Esse clero era responsável pelo atendimento religioso aos colonos
portugueses. O enriquecimento dos jesuítas, sua influência e certa autonomia diante do
Estado, fizeram com que fossem indesejados não só pelo clero, mas também por muitos donos
de terra e por outras autoridades. O voto de pobreza e controle de muitas riquezas eram
contraditórios na visão de muitos da população.
15
CAIRNS, Earl E. Op. Cit. p. 284
16
FONSECA, Thaís Nívea de Lima. História & Ensino de História. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. p.38.
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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Toda esta empresa se justificava em nome de Deus, e administrar de maneira eficiente os bens
temporais significava garantir a empresa “divina” dos jesuítas, ou seja, propagar por todos os
cantos as máximas da Igreja.
Essa não era uma empresa com fins meramente comerciais; seus fins últimos eram divinos [...]
Como eles consideravam o patrimônio divino, não existia, por essa razão, qualquer contradição
entre os preceitos religiosos e a ânsia por lucros. [...]
Desejar bens materiais e viabilizar meios para atingir esse fim não seria uma ação nociva,
desde que o produto desses bens fosse revertido para a Companhia, e dela para o louvor de
Deus.17
Sob o reinado de D. José I, o seu primeiro ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o
Marquês de Pombal (1751-1777), expulsou os jesuítas dos territórios portugueses em 1759. O
forte “regalismo” do marquês – idéia de submissão total de todas as instituições, principalmente
a Igreja, ao Rei – foi uma das principais razões para essa expulsão. A influência dos ideais do
Iluminismo com relação à educação – modernização e desenvolvimento – também motiva a
reforma educacional de Pombal. Infelizmente, porém, essa reforma ficou mais no campo
teórico do que prático. Desta maneira, a expulsão dos jesuítas do Brasil não foi acompanhada
por nenhum planejamento para suprir a educação. Houve, de novo, um vazio educacional,
suprido apenas por ensino de professores particulares de maneira avulsa e com poucos
recursos.
Reflexão:
Será que igreja atual poderia lidar, de maneira ética e equilibrada, com as
posses materiais, com a administração financeira e com o poder público, a fim
de utilizar todos os recursos para o cumprimento da missão delegada por
Cristo?
Quais as heranças da política educacional católico-portuguesa para a vida da
igreja brasileira?
José de Anchieta
O padre jesuíta José de Anchieta (1553-1597), foi um dos mais importantes nomes na obra de
evangelização do Brasil. É chamado de “o apóstolo do Brasil”. Os indígenas o nomearam
“Paye-guassu” – “o grande pajé”.
Anchieta escreveu uma gramática da língua tupi e também o catecismo bilíngüe Diálogo da Fé,
em tupi e português. O Diálogo da Fé foi uma grande ferramenta de doutrinamento para os
colonos portugueses e, principalmente, para os indígenas. Usando o método de perguntas e
respostas, Anchieta ensinava em sua catequese praticamente todos os pontos da fé cristã,
além de abordar questões específicas sobre a conduta dos índios e sobre a moral dos
portugueses.
17
CATÃO, Leandro Pena. Sacrílegas Palavras: Inconfidência e presença jesuítica nas Minas Gerais durante o período pombalino.
2005. 371 f. Tese (Doutorado em História Social e da Cultura)–Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de
História, Universidade Federal de Minas Gerais. 2005. p.64,65.
Disponível em: http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/VGRO-6HHPM3. Acesso em Jul/2011. Acesso: Jul/2011.
14
HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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não se harmoniza com a fé reformada são os ensinamentos das doutrinas romanas sobre
Maria, os santos, a transubstanciação, as imagens, as indulgências, o purgatório e etc.
Reflexão:
• Qual consequência histórica, para o catolicismo popular no Brasil, poderia
ter sido gerada por causa da falha presente no catecismo “Diálogo da Fé”,
ao omitir o doutrinamento sobre a ressurreição de Jesus?
• Que valor os cristãos “protestantes” deveriam dar a trabalhos como o de
José de Anchieta e o que poderíamos aprender com os seus erros?
O trabalho dos jesuítas com os índios era mais “romanizado”, mais ligado ao doutrinamento, à
escola. Por outro lado, desenvolveu-se nas fazendas coloniais, nas “Casas Grandes”, um
catolicismo popular brasileiro ou “catolicismo familiar” (HAHN, 58).
Neste ambiente das fazendas, havia poucos padres seculares e menos preparo teológico dos
mesmos. Os dogmas e o puritanismo eram mais frágeis e por isso, o sincretismo com a
religiosidade africana e indígena foi mais intensa.
18
Cf. NEILL, Stephen. Missões Cristãs. Citado em ELBEN, 57
15
HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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Os negros africanos contribuíram com seu temperamento alegre para a formação da cultura
brasileira, mas também trouxeram sua diversidade de espiritualidade animista e de cultos aos
espíritos.
Os africanos vinham para suprir o serviço com a cana-de-açúcar, com o algodão e nas minas.
As mulheres serviam de concubinas, amantes ou donas de casa para os colonos portugueses,
muitos deles com suas esposas morando ainda em Portugal.
Estima-se que havia entre um milhão a um milhão e meio de índios espalhados em tribos no
território brasileiro, na época da chegada de Cabral. Espalhados em uma grande extensão
territorial, com regiões perigosas, animais selvagens, insetos, doenças e clima diferente. Eram
uma diversidade enorme de tribos, com diferentes línguas e costumes. Tudo isso tornava o
trabalho missionário muito difícil.
A tentação existente por causa da nudez e assédio das índias, tornou-se um problema para os
missionários; e o caráter de boa parte dos imigrantes que chegavam ao Brasil era questionável,
pois muitos eram exilados, condenados, exploradores desonestos, sem senso moral e, muitos,
vindos sem a sua esposa. Acrescente a isso que muitos missionários e padres que aqui
chegaram não tinham uma clara mensagem do evangelho.
Além dos índios e dos escravos africanos, havia muita migração de portugueses, de outros
povos da Europa que também constituíam um grupo com cultura e religiosidade bem
diferentes.
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HISTÓRIA DA IGREJA NO BRASIL
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Como já foi mencionado, somente 300 anos depois do descobrimento do Brasil, os primeiros
missionários protestantes “definitivos” chegariam ao nosso solo.
Até o ano de 1654, a presença e a ação de protestantes em território brasileiro foi escassa,
ocasional e quase sempre sem significativa influência e registro histórico. Os contatos ficaram
por conta de soldados, marinheiros, exilados e outros, individualmente. Durante este período,
entretanto, ocorreram dois eventos que ficaram registrados na história da igreja brasileira, por
se tratarem das primeiras presenças de grupos da igreja protestante ou reformada no Brasil:
imigrantes franceses no Rio de Janeiro e depois holandeses no nordeste.
Em 10 de Novembro de 1555, 6 anos após a chegada dos primeiros jesuítas ao Brasil, três
navios trouxeram à Baía de Guanabara (Rio de Janeiro), imigrantes vindos da França. Eram
protestantes que estavam sendo perseguidos naquele país – chamados de “huguenotes” – e
também alguns católicos. Sua intenção era estabelecer uma colônia francesa no Brasil, que se
chamou França Antártica, com liberdade de culto para católicos e protestantes. A caravana era
liderada pelo vice-almirante Nicolau Durant de Villegaignon, um cavaleiro da Ordem de Malta,
que inicialmente se mostrou simpatizante aos protestantes. Estabeleceram-se na Ilha de
Serigipe.
Em 7 de março de 1557, uma novo grupo de franceses chegou ao Brasil, trazendo entre eles
mais quatorze huguenotes vindos de Genebra, segundo pedido de Villegaignon a João Calvino.
Guillaume Chartier (pastor), Pierre Richier (doutor em teologia) e Jean de Léry (historiador)
faziam parte deste grupo.
Villegaignon esteve entre os celebrantes da primeira ceia reformada e demais cultos, mas
começou a ter conflitos doutrinários com os reformados, por causa dos sacramentos,
especialmente a Ceia. Sete meses depois de participar do primeiro culto, o militar expulsou os
huguenotes da ilha para o continente, em outubro de 1557.
A resposta deu origem a uma das mais antigas confissões de fé reformada da história, que
ficou conhecida como Confissão Fluminense ou Confissão de Fé da Guanabara. Foi redigida
por Jean de Bourdel e também assinada por mais três huguenotes: Matthieu Verneuil, Pierre
Bourdon e André La Fon. Consta no seu artigo XVI:
17
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Cremos que Jesus Cristo é o nosso único Mediador, Intercessor e Advogado, pelo qual temos
acesso ao Pai, e que, justificados no seu sangue, seremos livres da morte, e por Ele já
reconciliados teremos plena vitória sobre a morte.19
No ano de 1567, também foi enforcado no Rio de Janeiro, Jacques de Balleur, sob ordens de
Mem de Sá. Outra nota triste é a participação do jesuíta José de Anchieta nesta execução.
Esses imigrantes que vieram para o Brasil eram, em sua maioria, membros da Igreja
Reformada Holandesa. O puritanismo da igreja holandesa trouxe um forte senso de moral, de
zelo pelo culto, pela Ceia, pelo pastoreio e cuidado com os necessitados. Um sistema de
governo da igreja foi organizado com presbíteros, pregadores, diáconos, professores,
proponentes (pastores auxiliares) e consoladores (socorro aos doentes, viúvas, órfãos e
prisioneiros). Estudam nos “cultos de doutrina”, o Catecismo de Heidelberg. Cerca de 22
igrejas locais foram fundadas no “nordeste holandês”.
O pastor Vicentius Joachimus Soler é considerado “o pai da missão evangélica entre os índios”
e outro pastor, o holandês David Doreslaer escreveu um catecismo triligue (tupi, português e
holandês), publicado na Holanda em 1641. Em abril de 1642, chegou ao Brasil (82 anos depois
do catecismo Diálogo da Fé, de Anchieta). No entanto, o catecismo de Doreslaer nunca foi
entregue aos indígenas, por causa de complicações organizacionais na igreja holandesa.
O período do governo do Conde João Maurício de Nassau-Siegen, que era membro da Igreja
Reformada, foi o de mais sucesso para os holandeses no Brasil: janeiro de 1637 a maio de
1644. Quando ele deixou o Brasil, a ocupação holandesa se enfraqueceu e também a igreja.
Com tudo isso e sob pressão política e guerra contra a Inglaterra (aliada de Portugal) na
Europa, os holandeses se retiraram do norte do Brasil em 1654. A igreja romana reassumiu
sua influência sobre aquela região.
Em 1645, duzentos soldados holandeses mataram o padre André de Soveral e mais 70 fiéis
católicos em uma missa no Rio Grande do Norte. O papa João Paulo II, no ano 2000, beatificou
vítimas católicas como mártires em ataques como estes, ocorridos no nordeste do Brasil, então
ocupado pelos holandeses.
Percebe-se que, tanto os huguenotes franceses quanto os membros da igreja holandesa, não
vieram para o Brasil puramente por “chamados missionários”. Mas é certo que influências
19
Trad de Domingos Martins (1917), cit por ELBEN, 39.
18
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Seu interesse era a implantação de uma “Nova França” (ou “Nova Genebra”) e de uma “Nova
Holanda”, respectivamente, o que em tese não consistia em nenhum “pecado”. Entretanto,
dentre outros motivos, a mescla com objetivos políticos e econômicos fez com que houvesse
pouca duração missionária e pouco tempo de duração das igrejas fundadas por estes
imigrantes em solo brasileiro. A presença francesa durou cerca de 11 anos (1555-1567) e a
holandesa, 24 anos (1630-1654).
O século XVIII é considerado a “Idade das Trevas” da época colonial do Brasil. 20 Foi uma
época de isolamento e enfraquecimento religioso, econômico e social.
• Cresceu o conflito interno entre clero secular (padres) e as Ordens religiosas (jesuítas e
outros). No início do governo do Marquês de Pombal, primeiro ministro em Portugal (1751-
1777), os jesuítas foram expulsos do Brasil (1759). O teor doutrinário ficou restrito aos
poucos padres nas capelas de engenhos e fazendas. Intensificou-se assim o “catolicismo
popular” e seus sincretismos (“folk-religion”).
O século XVIII foi a era da Inquisição no Brasil. A intensificação das atividades do Santo Ofício
e a legislação restritiva quanto à imigração quase paralisou a vida na Colônia nos seus mais
variados aspectos. [...] Em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa entrasse no Brasil, não
ser a serviço da Coroa ou da Igreja. [...]
Pode-se dizer que até a vinda da Família Real não houve mais protestantes no Brasil.21
• Com a descoberta de ouro no Brasil (1692) e de diamantes (1720), o isolamento ficou maior
para se evitar o contrabando. O trânsito, a agricultura e os investimentos industriais ficaram
limitados para proteção das minas; escolas ficaram fechadas durante mais de um século em
Minas Gerais.
20
Cf. Erasmo Braga, citado em HAHN, 64
21
MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir – A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Edições Paulinas,
1984. p. 20
19
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O ouro era enviado para Portugal, usado para pagar taxas e o que ficava no Brasil era
usado principalmente para construir e ornamentar os templos católicos.
Tudo isso, fez ressaltar a precariedade dos valores espirituais, morais e éticos, que já
comentamos.
“...A cidade é grande e populosa, e as ruas cheias de escravos; aqui também o papismo
prevalece universalmente: certamente, nem a própria Roma a excede a esse respeito. [...] Na
esquina de quase todas as ruas, há imagens e crucifixos aos quais o povo supersticioso presta
adoração ao passar. As procissões são numerosas. [...] No centro, andavam 24 meninas, de
aproximadamente treze anos de idade ... representavam anjos. Tinham algum objeto acima
das cabeças para representar raios de luz; toda a sua fantasia era bastante curiosa e cara.
Eram as figuras mais estranhas que jamais vi ou espero ver.”22
O professor francês Émile-G.Léonard diz que “mais profundo e geral que essa decadência
moral, aliás, causa desse decadência, foi o declínio do espírito apostólico entre esses
sacerdotes pouco numerosos que, por muitas razões, já não acreditavam muito em sua
missão.”23
Mesmo que o trabalho da igreja romana tenha tido algum valor positivo para a sociedade em
formação, não podemos deixar de afirmar que o saldo espiritual e social, ao final de três
séculos não foi admirável. Não devemos deixar de avaliar os métodos, intenções e frutos. Mais
do que uma crítica, temos a oportunidade de aprender e nos aperfeiçoarmos no processo
histórico.
O investimento feito pela Coroa Portuguesa para o crescimento do “cristianismo” no Brasil, foi
muito lento apesar de sempre receber os dízimos, conforme lhe permitia a regulamentação do
Padroado. Lembre-se de que os primeiros missionários católicos (jesuítas) só chegaram em
1549; a primeira paróquia só foi fundada em 1532 e, em 1551, a primeira Diocese; no ano de
22
Wesleyan-Methodist Magazine. Fevereiro, 1817. In: REILY, 44,45.
23
ÉMILE, G.Léonard. O Protestantismo Brasileiro – Estudo de Eclesiologia e História Social. São Paulo: ASTE, 1963. p.31,32
20
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1750 ainda havia apenas oito Dioceses no Brasil todo. E apenas em 1739 foi criado o primeiro
seminário católico no Brasil.
Elben M. L. César, resume muito bem a sua avaliação do trabalho da igreja nos três primeiros
séculos após o descobrimento do Brasil:
Henry Martyn foi mais um missionário inglês (anglicano) que, aos 24 anos de idade, no início
do século XIX, a caminho da Índia, fez uma escala na costa brasileira (12/11 a 06/12/1805).
Martyn escreveu em seu diário, observações sobre a vida espiritual dos cristãos brasileiros em
Salvador e desejou a vinda de missionários para pregar a doutrina da cruz em uma terra “cheia
de cruzes”. Este é outro grande apelo missionário para o Brasil. O primeiro, como citado
anteriormente, foi o de Afonso Vaz de Caminha em sua carta no ano de 1500.
O apelo e chamado de Henry Martyn, parece ter ecoado pelo século XIX, quando se iniciaria a
vinda definitiva dos primeiros imigrantes e missionários protestantes para o Brasil:
Que missionário será enviado para trazer o nome de Cristo a estas regiões ocidentais? Quando
será que esta linda terra se libertará da idolatria e do cristianismo espúrio! Há cruzes em
abundância; mas quando será levantada a doutrina da cruz?24
Reflexão:
Cabe a nós, estudantes e líderes da igreja no século XXI, avaliar o quanto
este chamado tem sido cumprido. O que seria escrito hoje a respeito do
cristianismo brasileiro, no diário de Henry Martyn? Qual seria o seu apelo?
24
SARGENT, John. A Memoir of Rev. Henry Martyn. New York. In: HAHN, 42
21
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O início do século XIX inaugura uma nova época para a história do Brasil e para a igreja em
nossa terra. Foi a época em que o Brasil se torna refúgio e sede para o Império Português
(1808-1822) e logo, com a independência, seria instaurado o Império do Brasil (1822-1889).
A falta de liberdade religiosa no Brasil, a pouca visão missionária das Igrejas Reformadas
durante os seus três primeiros séculos e a preferência por locais sem nenhuma presença de
cristãos (Ásia e África), podem ser citados como os principais fatores para que a atividade
missionária protestante demorasse tanto para vir e para se fixar no Brasil.
O livro de Willam Carey – Investigação Sobre a obrigação dos Cristãos de Empregar meios
para a Conversão dos Pagãos (1792) – foi um marco para o surgimento de sociedades
missionárias e uma nova visão a respeito da ordem de Cristo em Mateus 28:19.
Ainda podemos citar os apelos missionários que eram feitos por missionários de passagem
pelo Brasil, como Henry Martyn (1805) e outros. Três viajantes que passaram pelo Brasil
escreveram livros posteriormente, descrevendo a terra brasileira, sua religiosidade e carência
espiritual:
Robert Kalley (congregacionais, 1855) e Zacarias Taylor (batistas, 1882), vieram como
missionários para o Brasil, sob influencia do livros de Kidder.
22
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No início do século XIX, a situação geral da igreja católica romana no Brasil era muito
semelhante ao que havia ocorrido na Europa, logo antes da Reforma Protestante do século
XVI. Corrupção moral, interesses políticos, quase nenhum ensino da doutrina apostólica,
poucos padres, desinteresse pelo ministério, ordenações de homens frustrados que buscavam
apenas um meio de sobrevivência e etc. Tais características são denunciadas em registros
como os que foram citados anteriormente.
Essa foi a situação até o início do século XIX, quando se iniciaria uma nova época para a igreja
brasileira.
Em 1807, Portugal, por causa de sua aliança com a Inglaterra, foi invadido por tropas de
Napoleão Bonaparte. O Príncipe Regente D. João, sua mãe a Rainha Maria, partiram com toda
a família e corte real em uma frota inglesa, para se refugiarem no Brasil. Chegaram à Bahia em
janeiro de 1808 e depois se estabeleceram no Rio de Janeiro.
Com a presença da família real no Brasil, grandes mudanças sociais, culturais, econômicas e
religiosas começaram a ocorrer. Os portos brasileiros foram abertos às nações amigas de
Portugal (28/08/1808) e à entrada livre de imigrantes no país, independente da nacionalidade e
religião (25/11/1808). O Tratado de Comércio e Navegação, firmado em 19/02/1810 entre
Portugal e Inglaterra, garantiu liberdade de culto para imigrantes ingleses e a tolerância
religiosa para com os portugueses que não confessassem a religião oficial de Portugal, o
Catolicismo:
Artigo XII
Sua Alteza Real, o Príncipe Regente de Portugal, declara, e se obriga no seu próprio nome, e
no de seus herdeiros e sucessores, que os vassalos de Sua Majestade Britânica, residentes
nos seus territórios e domínios, não serão perturbados, inquietados, perseguidos, ou
molestados por causa da sua religião, mas antes terão perfeita liberdade de consciência e
licença para assistirem e celebrarem o serviço divino em honra ao Todo-Poderoso Deus, quer
seja dentro de suas casas particulares, quer nas suas igrejas e capelas, que Sua Alteza Real
agora, e para sempre graciosamente lhes concede a permissão de edificarem e manterem
dentro dos seus domínios. Contanto, porém, que as sobreditas igrejas e capelas sejam
construídas de tal modo que externamente se assemelhem a casas de habitação; e também
que o uso dos sinos não lhes seja permitido para o fim de anunciarem publicamente as horas
ao serviço divino [...].25
No mês de dezembro de 1815, o Brasil passa a ser oficialmente, a sede do Império português.
D. João elevou o Brasil à categoria de “Reino dentro do Império”.
25
REILY, Duncan Alexander Reily. História Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Aste e Traço a Traço Editorial,
1993. p.40,41
23
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D João VI, assim coroado após a morte de sua mãe, retornou para residir em Lisboa, mas no
Brasil permaneceu o Príncipe. Em 7 de setembro de 1822, D Pedro I declara a independência
e se torna o Imperador do Brasil. Foi redigida uma Constituição brasileira em 1824, que,
embora confirmasse o Catolicismo Romano como religião oficial do Brasil, a ligação do Estado
e da Igreja e a proibição da construção de “templos” protestantes, estendeu a tolerância dada à
igreja inglesa, também aos demais imigrantes e brasileiros.
Quando D. Pedro II assumiu definitivamente a Coroa (1841-1889) o Brasil tinha o mais culto
governante da América Latina. D. Pedro, apesar de ter que defender a Igreja Católica Romana
por causa da Constituição, foi um simpatizante e respeitador do protestantismo. Relacionou-se
com importantes homens da história em várias regiões do mundo – cientistas, filósofos, poetas,
etc. Chegou a ouvir uma pregação evangelística de Moody. O médico e missionário Dr. Kalley,
recebeu a visita do imperador que desejava conhecer mais sobre a “Terra Santa”.
Os nove anos de D. Pedro II como Príncipe e os seus 48 anos como Imperador do Brasil, se
constituíram em um período no qual a Bíblia pôde chegar às mãos do povo brasileiro;
missionários puderam vir definitivamente para o nosso país; uma nova visão e prática de
evangelização começou a atingir todo o território brasileiro e foram assim implantadas igrejas
nacionais de diversas denominações históricas.
26
Transcrito de Constituição Política do Império do Brasil, Rio de Janeiro, 1868. p. 9. In: REILY, p. 41,42
27
Transcrito de Código Criminal do Império do Brasil, Rio de Janeiro, 1876. pp. 199-200. In: REILY, p. 42
24
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Duas Bíblias no idioma Português já estavam editadas no início do século XIX. A primeira delas
foi a tradução de João Ferreira de Almeida (1628-1691), nascido em Portugal e convertido ao
evangelho em uma igreja reformada holandesa. A tradução de Almeida foi feita diretamente do
grego e hebraico. Mais à frente, o padre católico Antônio Pereira de Figueiredo (1725-1797)
traduziu a Bíblia para o português, a partir da Vulgata latina. Essas duas traduções são, até
hoje, as mais populares no Brasil. A Almeida é preferida pelos protestantes e a tradução de
Figueiredo é a mais escolhida pelos católicos, pois contém os livros apócrifos
(deuterocanônicos).
James Thomson (1781-1854), pastor batista escocês, foi enviado pela Sociedade Bíblica
Britânica para a América Latina, a fim de distribuir Bíblias. Ele tornou-se o maior responsável
pela introdução da Bíblia em quase todos os países, da Argentina ao México. Embora não deva
ter estado no Brasil, solicitou à Sociedade que despachasse Bíblias e Novos Testamentos para
nosso país, em maio de 1820.
Da fusão das duas Sociedades Bíblicas acima, nasceria bem mais à frente – em 10/06/1948 –
a Sociedade Bíblica Brasileira.
A reação católica ao trabalho de difusão da Bíblia pelas Sociedades Bíblicas no Brasil, foi
expressa principalmente por encíclicas papais (1824;1829 e 1846) que menosprezavam e
repreendiam as traduções da Bíblia em outras línguas e a possibilidade de interpretação
individual.
Kidder distribuía Bíblias na tradução do Padre Figueiredo, o que lhe permitiu muitas facilidades
no seu trabalho, apesar de ter enfrentado algumas publicações de acusações e intimidações
em certos locais e por alguns padres. Nem os livros contra o protestantismo, escritos pelo
25
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Padre Luiz Gonçalves dos Santos, nos quais acusava e atacava Kidder, prejudicaram a
disseminação das Bíblias pelo trabalho do missionário.
De forma geral, Kidder teve muitas oportunidades e até boa vontade por parte de muitos
clérigos. Utilizou a imprensa e outros meios de propaganda livremente. Levou a Bíblia a
escolas e professores se interessavam em ter a Bíblia como livro para prática de leitura dos
alunos. Ele escreveu em seus relatos:
A tolerância e a liberdade religiosa foram aos poucos se infiltrando no povo, preparando-o para
receber, com simpatia, qualquer movimento que lhes desse aquilo de que havia sido até então
sistematicamente privado: as Sagradas Escrituras. Os exemplares postos à venda e
anunciados pela imprensa encontraram logo compradores, não só na cidade como também
nas províncias distantes. Na sede de nossa missão, muitos livros foram distribuídos
gratuitamente e, em diversas ocasiões, deu-se o que se poderia chamar de verdadeira corrida
de pretendentes ao livro Sagrado.28
Tendo a esposa de Kidder adoecido, tiveram que retornar para os Estados Unidos em 1841.
Em 1845, escreveu seu relato sobre a nação brasileira, já citado antes.
Finalmente, não podemos esquecer que são muitos e muitos relatos de conversões e
implantações de igrejas pelo interior do Brasil, no século XIX, através da simples leitura da
Bíblia, levada pelos colportores, chamados por Maria de Melo Chaves de “Bandeirantes da
Fé”.29
Da chegada das primeiras Bíblias em português no Brasil (1814) até a chegada do primeiro
missionário protestante que residiria definitivamente no Brasil (1855), foram 41 anos! A
Escritura Sagrada, trazida e distribuída por um grande número de desbravadores da fé,
preparou o caminho para mais uma importante etapa da igreja em nosso país: os missionários,
a organização e o trabalho das denominações protestantes.
28
KIDDER, apud ÉMILE, G.Léonard. O Protestantismo Brasileiro – Estudo de Eclesiologia e História Social. São Paulo: ASTE,
1963. p.43
29
HAHN cita, como um dos exemplos, a obra escrita pela brasileira Maria de Melo Chaves em Bandeirantes da Fé, Belo Horizonte,
1947. Trata-se do testemunho de conversão da sua família e da implantação da igreja no Triângulo Mineiro.
26
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Logo que a tolerância religiosa foi decretada pelo Tratado de Comércio firmado entre Portugal
e Inglaterra, e depois estendida a todos os países e aos próprios brasileiros, através da
Constituição de 1824, iniciou-se a imigração de ingleses, alemães, norte-americanos e outros.
Colônias de pessoas vindas dos países onde a Reforma tinha sido abraçada, eram
estabelecidas em várias regiões. Dentro delas, colonos protestantes podiam cultivar a terra,
cultuar, construir capelas, “templos” e escolas. Embora também houvesse católicos com
liberdade de culto, geralmente a maior parte era de protestantes.
Já sabemos que cultos informais iam ocorrendo nas casas de vários brasileiros, que se
convertiam como resultado do contato direto com a Bíblia. Iniciam-se também os cultos
protestantes realizados dentro das colônias de imigrantes. No entanto, devemos lembrar que,
nesta primeira metade do século XIX, os colonos protestantes estrangeiros no Brasil, ainda não
visavam à ação missionária. Viviam sua cultura e religiosidade separadas da população
brasileira.
O primeiro capelão da Igreja Anglicana inglesa a chegar ao Brasil foi Robert Crane, em 1816.
Graças ao Tratado do Comércio, feito por Portugal com a Inglaterra em 1810, os ingleses
tiveram legalidade para construir a primeira capela anglicana no Brasil, em 26 de maio de
1822, na cidade do Rio de Janeiro. Este é considerada a primeira construção para o culto
público de protestantes no Brasil. Foi construída na Rua dos Barbonos, atual Rua Evaristo da
Veiga.
O capelão inglês Robert Walsh, descreveu em livro, a situação de precariedade em que estava
a capela anglicana do Rio de Janeiro quando ele esteve no Brasil. Walsh protesta contra as
marcas de descuido e “deteriorização” na estrutura da capela. Além disso, ele diz que, apesar
de comportar 600 a 700 pessoas, a frequência aos cultos era de umas 30 a 40 pessoas, sendo
que havia protestantes suficientes no Rio para lotá-la. Segundo ele, uma “indiferença para com
o culto público”.30
É interessante que o fato da capela ter sido construída, não significou crescimento e interesse
pelo culto e pelas Escrituras tão grande como haveria com a distribuição de Bíblias e as
reuniões simples de convertidos nas casas pelo interior do país, como já fomos informados.
30
WALSH, Robert. Notices of Brasil em 1928 and 1929. Boston, 1831. In: REILY, p.49,50.
27
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A maior parte dos colonos alemães que chegavam ao Brasil, estabeleceram-se na região sul,
principalmente no Rio Grande do Sul. Em 25 de julho de 1824, quando o território do RS ainda
nem havia sido desbravado, treze famílias alemãs chegaram ao Vale dos Sinos (São
Leopoldo), onde foi fundada outra colônia. Johann Georg Ehlers, em 1826, chegou para
pastorear os luteranos de São Leopoldo. Até hoje, São Leopoldo no RS é o mais importante
pólo luterano no Brasil e a data de 25 de julho é comemorada como Dia da Imigração Alemã.
Nos primeiros anos, a colônia sofreu ataques indígenas e houve morte de alguns colonos.
Em geral, católicos e protestantes praticavam a sua fé e conviviam dentro das colônias alemãs,
com alguns momentos de dificuldades, mas sem grandes problemas. Estima-se que o Brasil
tenha recebido cerca de 300 mil imigrantes alemães durante o século XIX. Da população
brasileira no final do século XIX (18 milhões), cerca de 600 mil eram alemães ou descendentes.
Mais da metade eram protestantes. Era o maior grupo protestante de então.
É preciso registrar que muitos colonos alemães que vieram para o Brasil tinham, como os
antigos colonos portugueses, problemas financeiros dentre outros. E entre os primeiros
pastores e padres, alguns foram péssimos exemplos de moral. Pastores protestantes tiveram
problemas com embriaguez constante, exploração de escravos, pouca ética financeira e moral
e etc. Não tinham bom preparo teológico. Só a partir de 1864, com a chegada do Pr Hermann
Borchad (1823-1891), a formação teológica e a ética cristã se estabeleceram e cresceram a
partir de São Leopoldo.
A anulação de casamentos entre alemães protestantes, feita por parte de padres católicos,
gerou pressão do governo alemão e levou o governo brasileiro a legalizar e reconhecer o efeito
civil nos casamentos praticados por pastores protestantes no Brasil.
Em 1886, foi fundado o Sínodo Rio-Grandense em São Leopoldo, sob iniciativa e presidência
de Wilhelm Rotermund (1843-1925). Este Sínodo, em 20 de setembro de 1887, requereu a
igualdade religiosa e revogação do artigo 5º. da Constituição, bem como do artigo 276 do
Código Criminal do Império do Brasil, que concedia a tolerância religiosa mas ainda impunha
limites à divulgação pública da fé protestante e às formas de construções dos prédios das
igrejas.
[...] Contrasta com o espírito do nosso século, que uma certa religião seja privilegiada e as
outras só toleradas com a condição de que o culto destas não se celebre em público [...]. Estes
artigos, já obsoletos pelo espírito de nosso tempo, são prejudiciais ao progresso do país, à
causa da imigração e ao bem-estar dos brasileiros acatólicos.
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Os luteranos não foram atendidos pelo governo imperial, mas sim pelo governo na República,
menos de dois anos depois (1889).
Este mesmo autor diz que continuaram a chegar imigrantes de outros países, fixando, da
mesma forma, seus cultos particulares no Brasil:
3. O PROTESTANTISMO DE MISSÃO
Congregacionais, Presbiterianos, Metodistas, Batistas e Episcopais.
O movimento metodista teve sua origem principalmente com o ministério de John Wesley
(1703-1791), membro da Igreja Anglicana na Inglaterra, em 1739.
• De 1835 a 1841, a Igreja Metodista nos Estados Unidos enviou alguns missionários
para o Brasil, mas ainda não se estabeleceria definitivamente no país.
• Em 1836, chega o Rev Justus Spaulding, organiza igreja com 40 membros estrangeiros.
Organiza uma primeira escola dominical no Brasil, mas não há prosseguimento.
Duração de 06 anos.
• Transforma-se na Union Church, para receber estrangeiros de várias denominações.
• Em 1842, primeira igreja metodista encerra suas atividades. Razões não claras. Talvez
a falta de recursos vindos dos EUA, falta de missionários ou dificuldades de liberdade.
3.2. Congregacionais
• Kalley era escocês, mas também recebeu influência do avivamento que aconteceu na
Inglaterra e depois nos EUA (Segundo Despertamento – XIX).
• Ramo calvinista das igrejas livres da Inglaterra.
• Democracia direta. Autonomia das igrejas locais.
• Conversionismo e ênfase na salvação individual.
• Batismo por aspersão, mas apenas de adultos.
• Geralmente fundamentalistas.
• Igreja Evangélica Fluminense – 1858 – no RJ, é a primeira Congregacional do Brasil.
3.2. Presbiterianos
PRECEDENTES
A questão escravista entre outras, divide a igreja nos EUA: norte e sul. A igreja do norte, pouco
antes da guerra entre norte e sul envia o jovem pastor Simonton ao Brasil.
Chegam também: Alexander Latimer Blackford (1860), Francis Joseph Christopher Schneider
(1861) e George Chamberlain.
Blackford se negou a usar o prédio da Igreja Luterana que lhe foi oferecido para cultos em
Petrópolis (1871), por causa do uso do crucifixo no “templo”. Revela postura anti-católica.
O primeiro pastor evangélico brasileiro foi um presbiteriano, ex-sacerdote católico: José Manoel
da Conceição, recebido na IP em 23/10/64 e ordenado em 17 de dezembro de 1865. Pregador
do evangelho cujo ministério foi um dos grandes responsáveis pela expansão do
presbiterianismo no Brasil.
RÁPIDA EXPANSÃO
Em 1869, chegam os primeiros missionários da Igreja do Sul dos EUA: George Nash Morton e
Edward Lane.
Criam colônias em diversos lugares, principalmente em Santa Bárbara do Oeste (SP), onde se
estabeleceram também metodistas e batistas.
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AUTONOMIA E IPB
Em 1888, foi organizado o Sínodo do Brasil, que marcou a autonomia eclesiástica da Igreja
Presbiteriana do Brasil.
As duas igrejas (vindas do Norte e Sul dos EUA), unem-se e formam a Igreja Presbiteriana do
Brasil em 1888, quando se torna uma igreja nacional autônoma. A primeira a conseguir esta
autonomia no BR.
ECLESIOLOGIA
Contribuição para o sistema educacional no Brasil, embora principalmente até o ensino médio.
DIVISÕES
A guerra nos EUA, se encerrou com a vitória das Colônias do Norte, que eram contra a
escravatura. A Igreja Metodista estava ligada a esta realidade. Com a derrota das Colônias do
Sul, vários colonos que eram metodistas vieram para América Latina, inclusive para o Brasil.
Em 1871, a Igreja Metodista Episcopal do Sul (EUA), funda nova igreja no Brasil. Fundador foi
Junius Eastham Newman (1819-1895). Newman iniciou o trabalho metodista permanente no
Brasil. Chegou em agosto de 1867 e em agosto 1871 fundou uma pequena igreja em Saltinho
(SP).
No ano de 1876, o Rev John James Ramson, chega ao Brasil. É o primeiro missionário oficial
da Igreja Metodista episcopal do Sul (EUA), vindo para trabalhar definitivamente com a
população brasileira.
Fundou uma Igreja Metodista no Rio de Janeiro. Esteve no Brasil por 10 anos (1876-1886).
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João da Costa Corrêa (RS), colportor de Bíblias, foi o primeiro pregador metodista brasileiro.
Em 1880, chega a Igreja Metodista do Norte dos EUA para seus trabalhos no Brasil, com o
missionário William Taylor. Ele trabalhou no norte e nordeste do país.
Bernardo de Miranda foi o primeiro pastor metodista brasileiro, ordenado em agosto de 1890.
CRESCIMENTO
Seu crescimento inicial se deu por causa do investimento na educação, abrindo escolas em
vários lugares. Atingiu a classe mais alta que preferia o sistema educacional protestante.
Entretanto, o crescimento inicial foi lento por concentrar seu trabalho nos grandes centros,
onde havia grande presença física da Igreja católica.
Outro motivo foi a ênfase na educação da elite da população, deixando em segundo plano a
evangelização das classes mais baixas e da população rural.
Assim, a igreja metodista cresceu menos dos que presbiterianos e batistas.
3.5. Batistas
Ficaram algum tempo em Santa Bárbara para aprender português e, orando ajoelhados sobre
o mapa do Brasil, entenderam a direção para estabelecer um ministério em Salvador-BA, a
segunda maior cidade do Brasil de então. Ali fundaram a primeira igreja batista em Salvador,
em 15 de outubro de 1882.
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ECLESIOLOGIA
Desses citados, destaca-se Antonio Teixeira, que tornou-se o primeiro pastor batista brasileiro,
ordenado em 1871
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3.6. Episcopais
O Estado do RS, por não ser muito ocupado por outras missões, foi escolhido para sediar a
missão episcopal. Iniciaram os cultos em julho de 1890. Estabeleceram uma escola em Porto
Alegre.
Em 1891, receberam dos presbiterianos, uma congregação na cidade do Rio Grande.
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IBGE – Censo Demográfico 2000. In: SEPAL , março de 2005. Disponível em: www.pesquisas.org.br
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Com a proclamação da república em 1889, inicia-se um novo quadro para a igreja no Brasil:
Veja em:
O Protestantismo Brasileiro no Período Republicano (Alderi. Op.Cit.)
2. A “Questão Religiosa”
Resumo:
D. Pedro II, muitos oficiais de seu governo e da Igreja, eram maçons. O Papa expediu um
anátema contra os maçons em 1865. Tal fato iniciou uma instabilidade no Brasil. O imperador
censurou a encíclica papal no Brasil e foi resistido por alguns bispos. Em sua ausência, a
Princesa Isabel, com influência dos abolicionistas, acaba com a escravatura no Brasil. As
pressões dos fazendeiros e a oportunidade vista por vários bispos, para se livrarem do
Regalismo limitante de D Pedro, levou à revolução e proclamação da República em novembro
de 1889.
Principais fatos:
Maçonaria e protestantismo
Durante o século XIX, crescia o número de bispos católicos que consideravam o Regalismo, a
associação da Igreja ao Estado, uma limitação aos ideais de “contra-reforma” católica no Brasil
e de real “romanização” da Igreja (ultramontanismo). A resistência de D. Pedro II, a “questão
religiosa” com a Maçonaria e as consequências sociais e políticas da abolição da escravatura,
serviram de oportunidade para aqueles bispos enxergarem no fim da monarquia, uma
oportunidade de “libertação” para a Igreja. Tudo isso, dentre outros fatores, levou à
proclamação da República em novembro de 1889. D. Pedro II abdicou e voltou para Portugal.
Uma parte dos bispos brasileiros sente-se livre da influência do Estado e agradece a
proclamação da República. Outra parte entretanto, sente a falta dos privilégios de antes e
levanta-se contra o protestantismo com acusações, perseguições e agressões. Esta reação
católica foi chamada pelos protestantes de “clericalismo”.
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Leitura:
• Pentecostalismo e Neopentecostalismo no Brasil, p.1 a 5
• É Tempo de Refletir, p. 13 a 16 e 21 a 26
Algumas das principais características são: a experiência chamada “batismo no Espírito Santo”,
com a evidência do falar em outras línguas (glossolalia); destaque também para os outros dons
ou manifestações do Espírito Santo, como cura e profecia; processo de libertação de forças
espirituais; uma liturgia mais informal e emotiva.
• Assembléia de Deus
Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-1933), em Belém, novembro de 1910.
http://www.cgadb.com.br/ e http://www.conamad.com.br/
O “Exército da Salvação” com forte ênfase na prática social, chegou ao Brasil em 08/05/1922,
através do ministério de David e Stelle Miche, no Rio de Janeiro.
www.exercitodesalvacao.org.br
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Leitura:
Infelizmente, forças políticas e interesses humanos acabaram por abafar mais um importante
momento do protestantismo em nossa nação. O “protestantismo de repressão”, termo usado
por Rubem Alves como título de livro seu, acabou por ser a prática de muitos conservadores
em apoio ao regime militar e em reação às idéias progressistas de movimentos cristãos
paraeclesiásticos e estudantis.
2. O NEOPENTECOSTALISMO
Leitura:
• Pentecostalismo e Neopentecostalismo no Brasil, pg. 6 a 1441
• É Tempo de Refletir, p. 26 a 36
Vídeo:
• O Neopentecostalismo no Brasil 42
40
Raimundo César Barreto Júnior. Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/310/a-conferencia-do-
nordeste-e-o-movimento-igreja-e-sociedade Acesso em Nov de 2011.
41
Alderi Matos. Op.Cit.
42
Luiz Sayão. Congresso Brasileiro de Teologia Vida Nova, 2007.
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Nesta “onda”, muitas outras igrejas poderiam ainda ser citadas, como por exemplo, a Igreja
Renascer em Cristo.
Características principais
• Teologia da prosperidade
• Hermenêutica alegórica e pouca exposição doutrinária e sistemática da Escritura
• Ênfase em cura divina e “revelações”
• Exorcismo e libertação
• Confissão positiva
• Clericalismo
• Ritualismo e sacramentalismo
• Sincretismos religiosos
• Forte apelo ao marketing, campanhas e correntes.
Luiz Sayão, no vídeo indicado acima, analisa os aspectos negativos a corrigir e os aspectos
sobre os quais devemos refletir e procurar extrair lições positivas do movimento
neopentecostal.
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3. A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA
A renovação carismática é vista como uma versão do pentecostalismo surgida dentro das
denominações históricas, inclusive a Católica Romana.
A experiência com a benção do batismo no (ou com) Espírito Santo, com os dons espirituais e
a liberdade litúrgica são características do movimento carismático.
O movimento carismático surge em 1960, com a experiência ministerial de Dennis Bennett nos
EUA, membro de uma Igreja Episcopal. Ainda no início da década de 60, atinge a igreja
Luterana e a Presbiteriana. Em 1967, a experiência carismática nasce na Igreja Católica
Romana.
5. LIÇÕES E CONCLUSÃO
Por exemplo, ao mesmo tempo em que o pentecostalismo está crescendo em igrejas locais,
Eduardo Braga e outros estão atuando na vida social e na teologia. Da mesma forma, o
movimento neopentecostal no Brasil, também entra em cena paralelamente ao movimento
protestante chamado de Movimento Igreja e Sociedade.
Atentar para estes fenômenos pode nos ajudar a tirar lições importantes para a igreja no Brasil
de hoje.
Como avaliar o envolvimento político, social e cultural que existe hoje da parte
da Igreja?
Igreja brasileira caminha para uma definição de postura política e social?
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Terminamos nosso curso, lembrando do que estudamos na introdução. A história nos ensina a
lembrar e a esquecer. A história nos ajuda a formar uma visão madura para a liderança
teológica e eclesiástica no presente e projetar, com a mesma maturidade, melhorias para a
caminhada da igreja no futuro.
Outra forma de observar e falar do diálogo entre academia e igreja local, entre teologia e
espiritualidade, é “AVIVAMENTO E REFORMA”.
Na história da igreja brasileira, como na história geral da igreja, observamos tempos de maior
ênfase no avivamento – vida devocional; espiritualidade; experiências – e tempos de maior
ênfase na reforma – vida doutrinária; teologia. Mas, afinal, o que é “avivamento” e “reforma”?
Sempre foi assim na história e, a igreja perde muito por não associar os dois elementos:
avivamento e reforma!
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