Professional Documents
Culture Documents
1 INTRODUÇÃO
Através desse trabalho, apresentam-se aspectos da história das pessoas que nos
antecederam. Identificam-se os tempos, as ações, o modo de viver, de agir, os costumes e as
heranças culturais destes personagens, não apenas contando e recontando fatos, mas
pesquisando e registrando, através de fontes documentais e principalmente da memória dos
habitantes que vivenciaram esses acontecimentos ou foram testemunhas de relatos de
terceiros. Trata-se, em outras palavras, da história do enoturismo.
O presente estudo esta dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo tem como
referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo,
e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O mesmo capítulo
aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no
Brasil e no Rio Grande do Sul.
O segundo capítulo trata de uma breve história do surgimento do turismo numa visão
geral no mundo, Brasil e Rio Grande do Sul, tendo como enfoque principal a Região Uva e
Vinho, que por sua vez compõe a Serra Gaúcha.
O terceiro capítulo, por sua vez, retrata um breve histórico dos municípios que
fizeram o enoturismo na Região Uva e Vinho, tendo como foco principal Bento Gonçalves,
Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.
16
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
A história está voltada pelas construções humanas, pelo passado e suas relações com
o presente. Nesse sentido, há um método positivista em maximizar os fatos, os períodos e os
heróis de cada época. Há um método marxista em estar voltado as transformações sociais pela
base da própria sociedade e outro introduzido pela denominada Escola Nova. Seguindo esse
último método, o passado não morreu, pois o presente é tão somente o fruto dele. O modo e as
experiências humanas são vistas como a representação do tempo histórico que organiza a
percepção das experiências humanas do presente na perspectiva futura. O tempo histórico é
subjetivo e é determinado pela temporalidade e pelo pensamento de uma época que se
transforma continuamente.
19
Conforme Reis (2008), a Escola de Annales foi estruturada num momento em que a
ilusão daquilo que é eterno se acaba, e os eventos fizeram esta visão ruir foram muito
violentos, daí a necessidade dos Annales de evitá-los, de procurar harmonia com
transformações repetitivas que dão idéia de eternidade. Portanto essa escola elabora uma
mudança substancial na compreensão do tempo histórico. Os historiadores tradicionais
pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova
história esta interessada com a análise das estruturas, isto é, os historiadores novos entendem
que a história não pode ser conhecida e produzida com base em uma compreensão
especulativa e revolucionária do tempo histórico.
Para obtenção das informações a presente pesquisa insere em seu escopo, a busca por
informações nas mais diversas fontes. Os dados coletados devem relacionar-se positivamente
ou negativamente ao objeto de pesquisa. Desta maneira as informações coletadas para a
elaboração deste estudo foram obtidas através da pesquisa em documentos oficiais, políticas
de governo, dados estatísticos, documentos históricos, publicações em jornais, revistas,
folhetos, sites, livros, fotografias, depoimentos, organizações privadas, organizações não
governamentais, associações, entre outros. Enfim, nas mais diversas fontes de pesquisa que
podem subsidiar a compreensão da trajetória do surgimento/desenvolvimento do enoturismo
na região. Apesar das limitações desta pesquisa, todos os resultados podem revelar
importantes fatos deste tema.
Desta maneira, a pesquisa teve como objetivo coletar informações importantes sobre
este segmento do turismo, utilizando o seguinte pré-roteiro:
foi necessária a utilização da entrevista por escrito, isto é, quando o entrevistado se sentia
pouco a vontade mediante a gravação.
Na formação do planeta Terra, várias eras se sucederam. Algumas delas têm relação
estreita com a história e origem da videira. Na Era Arqueozóica houve a consolidação da
crosta terrestre, tendo o Brasil grande parte do seu solo formado nesse período. As
temperaturas eram muitas elevadas não permitindo o aparecimento de qualquer ser vivo. Daí
em diante a crosta terrestre foi se esfriando lentamente e várias eras se passaram como a
Proterozóica, a Paleozóica, a Mesozóica, chegando a Cenozóica em que as condições já
começavam a permitir vida, pois já havia calor no Equador, frio nos pólos e as estações do
ano já eram sentidas. Essa Era Cenozóica aconteceu cerca de 100 milhões de anos atrás. Foi
dividida em dois períodos, o Terciário e o Quaternário. No período Terciário a vida já estava
presente na terra, no mar e no ar.
O ser humano surgiu no Quaternário dessa mesma Era Cenozóica, e nos primeiros
passos de sua evolução, utilizava o fruto da videira na sua alimentação. Este fato é
comprovado por achados arqueológicos, onde sementes de uva apareciam junto com os
vestígios de populações pré-históricas.
Phillips (2005) nos fala que fósseis mais antigos das videiras primitivas têm como
região de origem a atual Groenlândia, de onde foram se alastrando para regiões mais
meridionais, seguindo duas direções: uma Américo-Asiática e a outra Euro-Asiática. No
23
O foco americano originou as atuais espécies Vitis labrusca, Vitis rupestris, Vitis
berlandieri, entre outras. O foco europeu, compreendendo as áreas mediterrâneas francesas e
italianas, até a península balcânica, originou uma única espécie: a Vitis vinifera silvestris.
O foco asiático-ocidental, localizado entre o mar Cáspio e o mar Negro, deu origem às
Vitis vinifera Caucásicas. Essa região corresponde exatamente à região citada na Bíblia onde
Noé, após o dilúvio, plantou e cultivou a primeira videira.
Cita o mesmo autor que não devemos confundir a origem da videira com a origem da
viticultura. A videira é anterior ao homem. A viticultura é uma decorrência da evolução da
civilização do homem. Muitos milhões de anos separaram uma da outra.
24
A ação do homem está presente na elaboração do vinho que bebemos hoje como
nunca esteve na história e a garrafa de vinho que compramos é o resultado de uma
série de decisões. Muitas decisões dizem respeito à viticultura: onde plantar, que
variedades de uva escolher, a distância entre as videiras, como deve ser guiadas e
podadas, como podem ser irrigadas e adubadas, quando colher a uva, com máquina
ou manual. Resumindo: cultivar uvas para vinho é um processo complexo no qual o
viticultor deve pensar antes de tomar a decisão. (PHILLIPS, 2005, p.18).
As origens do vinho são nebulosas como devem ter sido as primeiras safras. É muito
difícil saber quem foi o primeiro que permitiu que o sumo fermentasse até se tornar vinho,
também nunca saberemos quem foi o primeiro que colheu os grãos de trigo e assou o primeiro
pão. (PACHECO, 2006; PHILLIPS, 2005).
Vestígios de vinho foram encontrados em jarras de barro ou outros tipos de vasos que
continham evidências de que foram usados para guardar vinho: restos de uvas - sementes, ou
manchas e resíduos de vinho. Tais vestígios foram encontrados em vários lugares do Oriente
Médio que datam do período neolítico, que se estendeu de 8500 a 4000 a.C.
A prova mais consistente da descoberta das origens do vinho foi obtida em vários
sítios arqueológicos na montanha Zagros, no que é hoje o Irã. Os mais antigos achados desse
período são seis jarras de nove litros enterradas no piso de uma construção de tijolos de
barro que data de 5400 a 5000 a.C., a noroeste das montanhas Zagros. Os vasos não
continham apenas resíduos de vinho, mas também sedimentos de resina, usada como
conservante de vinho no passado por sua capacidade de matar algumas bactérias. Vários
tampões de argila foram encontrados próximo às jarras, o que se entende que a bebida pode
ter sido até protegida do contato do ar.
25
Outro fato importante para a disseminação do vinho foi de ele estar associado a
divindades específicas ter se tornado elemento de rituais religiosos. A oferenda de vinho aos
deuses era comum na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia e em Roma, e os deuses chegaram a
ser associados à uva e ao vinho.
26
No Antigo Egito o vinho denota status social, sendo que era bebido somente pela
família do faraó. Também foi usado em honra aos deuses, nos sepultamento dos mortos e
usado como remédio.
O amor dos gregos pelos vinhos pode ser avaliado através dos Simpósios, cujo
significado literal é bebendo junto. Eram reuniões (daí o significado atual) onde as pessoas
se reuniam para beber vinho em salas especiais, reclinados confortavelmente em divãs, onde
conversas se desenrolavam num ambiente de alegre convívio. Todo Simpósio tinha um
presidente cuja função era estimular a conversação. Embora muitos Simpósios fossem sérios
e constituídos por homens nobres e sábios, havia outros que se desenvolviam em clima de
festa, com jovens dançarinas ao som de flautas.
O mesmo autor cita que este povo relacionava também o vinho à fertilidade, uma
causa talvez um pouco mais “cortesã”:
O vinho passa a ser um instrumento de várias religiões no mundo antigo, era usado
freqüentemente em libações. Também foi muito usado em nome de um deus especifico,
derramando-o durante uma oração em agradecimento a um presente recebido por este. No
Egito o plantio das videiras pode ter se tornado uma obrigação religiosa:
Dirigindo-se ao grande deus Amon-Ra, Ramsés III falou da contribuição que ele
havia feito naquela área: “Fiz para o senhor três jardins de videiras no Oásis
27
A Itália foi a região que mais aceitou e cultivou a videira, isto cerca de 2000 a.C.
Entretanto, essa cultura só começou a ganhar proporções 400 a.C. Por essa época, Plínio já
catalogava 91 variedades de videiras e 40 tipos de vinho.
Johnson (1989) e Phillips (2005) descrevem que, em Roma, as uvas eram colhidas o
mais tardar possível, por tantas vezes eram deixadas secar ao sol para poder desidratar e
concentrar o açúcar. Os romanos inventaram a prensa, usaram tonéis de madeira para
armazenar o vinho para sua melhor conservação. Também tornaram o vinho uma marca
própria, uma forma de impor seus costumes e sua cultura. Expandiram o hábito de cultivar e
beber vinho em todo o seu vasto império. Transformaram o vinho no principal produto do
Império Romano e foram responsáveis pela fundação de grandes regiões vinícolas no mundo,
até hoje famosas, principalmente na Itália, França e Alemanha.
Da Itália, as legiões romanas, nas suas conquistas, levaram a videira por toda a
Europa. Nessa época, em todo Continente, se bebia vinho romano que era trazido pelos toscos
caminhos de terra ou pelo mar. O interesse pelo vinho, conseqüentemente, trouxe o cultivo da
videira. Vinhedos foram sendo formados por toda a Europa. Variedades foram se adaptando
aos climas mais frios, e assim, a arte de cultivar a uva se propaga e se fixa na França, Suíça,
Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal.
MacNeil (2003) cita que, no final do século XIX, a filoxera1 espalhou-se por toda a
Europa, destruindo todos os vinhedos. Da Europa, esta praga se deslocou por todo o mundo,
matando vinhedos na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e América. Na década de 1860,
videiras nativas da América foram enviadas para a França, a fim de serem utilizadas para
experiências. A filoxera entrou neste país de carona nas raízes destas plantas. Em duas
décadas, a maioria dos vinhedos da Europa fora destruídos. Existe um pequeno consolo nessa
história, os vinhedos foram replantados com variedades, clones e bacelos adequados a cada
local.
1
Filoxera é um pequeno inseto altamente destrutivo que ataca as raízes das videiras destruindo-as aos poucos.
Videiras americanas nativas, como as pertencentes às espécies Vitis labrusca ou Vitis riparia, toleram esse
inseto, sem conseqüências adversas. No inicio, denominada Phylloxera vastatrix (a devastadora), hoje
identificada como o inseto Dactylasphaera vitifoliae.
29
De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), embora o Brasil tenha sido descoberto
em 1500, somente em 1532, com a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, que
trazia agricultores da Ilha da Madeira e dos Açores, homens com tradições vitícolas, é que a
videira foi trazida ao Brasil.
Com a intenção de colonizar a nova colônia, conhecida como Terra de Santa Cruz,
formando povoados, surgiu a necessidade de desenvolver uma agricultura de subsistência.
Assim davam-se condições à cultura da videira, que foi trazida junto a animais, sementes e
outras árvores frutíferas.
Mesmo depois dessa revogação, a viticultura não marcou presença entre as culturas
agrícolas do Brasil. O fracasso das variedades viníferas não se limitou apenas ao Brasil. Na
América do Norte também essas culturas não tiveram sucesso, então os Estados Unidos se
voltaram para variedades nativas que produziam mais e com muito menos trabalho. Tal foi o
sucesso das variedades americanas que o mundo inteiro passou a se interessar por elas.
pelas formigas. Souza (1938) confirma que a principal árvore é a videira, quanto mais a
podam, mais fruto produz.
O mesmo autor cita ainda, que na Bahia, em toda época do ano, há uvas que
amadurecem e são muito doces, e é possível encontrar em uma só videira, braços com uvas
maduras e outros com a fruta em flor.
De acordo com Philips (2005), estudos arqueológicos atuais, realizados por Oldemar
Blasi e Igor Chmyz, comprovam a existência de uma viticultura com raízes espanholas, nas
margens do rio Paraná, mais precisamente na fundação da cidade Real de Guairá, no ano de
1557. Esta cidade foi colonizada por espanhóis que entraram por Buenos Aires.
Esta viticultura, em terras paranaenses, dura até 1631 quando sua população foi
aniquilada por Raposo Tavares. O missionário jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, foi
precursor e pioneiro da viticultura no extremo sul do Brasil no ano de 1626. Graças a sua ação
de catequizar os autóctones, funda a Redução Cristã de São Nicolau, na margem esquerda do
rio Uruguai, introduzindo ferramentas e mudas de videiras de origem espanholas, via Buenos
Aires. Após a morte do jesuíta Roque Gonzáles, pelos índios Caparaós, os catequizadores da
Companhia de Jesus prosseguem a obra de expansão, fundando os Sete Povos das Missões,
onde cultivaram diversas lavouras, inclusive as videiras de origem européia, além de
fabricarem doces, conservas, roupas, pão e vinho, como relata os escritos do padre Luiz
Gonzaga Jaeges (1939). Os Sete Povos das Missões, considerados a cunha da viticultura sul-
rio-grandense, terminaram como ruínas históricas por obra de dominadores espanhóis e
portugueses.
Vale relembrar que no período colonial a vitivinicultura não chega a ter importância
econômica, e a videira se manteve como uma planta de cultivo mais doméstico, sendo que no
32
ano de 1785, por ordem de Dona Maria I, se proíbe a instalação de indústrias no Brasil e,
como conseqüência, o cultivo da vinha e a elaboração de vinhos foram de proteção e
produção portuguesa.
Também se deve aos agricultores das colônias alemãs de São Francisco do Sul e
Joinvile, em Santa Catarina, a expansão da viticultura entre 1850 e 1870, no Vale do Rio
Negro e, mais tarde, para o norte, até Curitiba – Paraná, e para o sul, até Blumenau - Santa
Catarina, com sarmentos de Isabel, procedente do Rio Grande do Sul.
Com a segunda imigração italiana, em 1875, ao Rio Grande do Sul, começa uma
nova realidade na história da vitivinicultura brasileira, onde os imigrantes italianos iniciam o
33
cultivo da parreira na Encosta superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, denominada hoje
Serra Gaúcha (ou será melhor chamar Região Uva e Vinho?).
Na primeira metade do século XIX, com o fracasso da Vitis vinifera por ataques
criptogâmicos, inicia na América do Norte a formação de vinhedos com videiras nativas,
rústicas e produtivas, em primeiro lugar com a Alexandre ou Cape, em 1801; seguida da
Isabella em 1861; da “Catawba”, em 1823, e de muitas outras que rapidamente se
disseminaram pelo mundo. No Brasil a variedade americana “Isabella”, uma Vitis labrusca foi
a primeira a ser introduzida. No Rio Grande do Sul estas variedades chegam entre 1839 e
1842, cultivadas na Ilha dos Marinheiros.
2
Míldio: Doença causada pelo fungo Prasmopara viticola e que ataca a videira (frutas, ramos e folhas).
34
Em 1824 os imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul, muitos deles eram
conhecedores e apreciadores de vinho que rapidamente difundem a vitivinicultura
aproveitando as plantas existentes, ou melhor, a Isabel.
Como consta, a arte de elaborar bons vinhos no Rio Grande do Sul já era percebida
no final do Brasil Império. A província do Rio Grande do Sul apresentou seis vinhos, um dos
35
quais branco. Um deles tinto, Monte Bonito, 1882, de Pelotas, de uva “portuguesa”, mereceu
a qualificação maior, com o comentário “não artificialmente adoçado” e considerado
semelhante ao vinho da Borgonha. (SANTOS, 1998, p. 60).
Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País, com 54,2% do
total, sendo que 90% da uva é transformada em vinhos, sucos e derivados. Isto mostra um
aumento de área de cultivo em relação a 2006 em 12,09%, segundo levantamento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE, 2007).
36
Antes mesmo de nascer a expressão turismo, os povos antigos sabiam que existia um
grande espaço físico ao seu redor e que neste espaço podiam se deslocar por diversos motivos.
A palavra é originaria do francês tourisme, derivado de tour, em que está implícita a idéia de
retorno. O “grande volume dos intercâmbios culturais e, sobretudo comerciais,
proporcionados pelo turismo teve início na segunda metade do Século XX quando se criou
uma indústria de grandes dimensões”. (BARSA, 1998, p. 213).
De acordo com Barretto (2003, p. 45), teriam sido os romanos os primeiros a viajar
por prazer. Através de pinturas pré-históricas (mapas, azulejos, vasos,...) comprovam que os
antigos romanos iam à praia e aos spas, buscando divertimento em primeiro lugar, e em
segundo momento, cura. Com o desaparecimento do Império Romano, as viagens de prazer
acabaram e as estradas começaram a deteriorar-se e até mesmo destruir-se totalmente.
construído, o que foi determinante para que seus cidadãos viajassem. (LIBERATI;
BOURBON, 2005).
Matias (2007) comenta que, com o declínio da Idade Média, voltam os viajantes de
espírito investigativo composto por artistas, artesões, músicos e poetas pessoas que viajavam
para mostrar o seu trabalho, adquirir experiência profissional e, também, conhecer outras
culturas e localidades. Nessa época surgem também as viagens conhecidas como Grand Tour,
atingindo seu auge no século XVIII, onde jovens filhos de famílias nobres, com intuito
educacional, deveriam percorrer o mundo, adquirir experiência profissional e se preparar para
ser um membro da classe dominante. Por volta do século XVIII, o Grand Tour tornou-se
comum entre as elites britânicas, reunindo ao mesmo tempo prazer e instrução.
Surgem também nessa época, as lutas das causas trabalhistas que resultam no direito
de adquirir férias remuneradas, redução da jornada de trabalho e outras lutas que passam a
repercutir no mundo inteiro, aumentando cada vez mais o número de pessoas em viagens.
O turismo só passa a ser uma atividade organizada no Século XIX, quando o inglês
Thomas Cook organizou a ida de um grupo de pessoas para participar de um congresso, isso
em 1841. O turismo, para se consolidar definitivamente como atividade econômica e social no
século XX, recebeu contribuições de outros tipos de turismo, como o esportivo, feiras de
amostras e, principalmente, das exposições universais. O automóvel causou verdadeiro
impulso ao turismo. Depois do automóvel é a vez do avião, que encurtou as distâncias,
propiciando aos viajantes, rapidez, segurança e muito conforto.
De acordo com Matias (2007), o Brasil desperta para o turismo no século XX:
3
Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil é um dos Programas do Plano Nacional de
Turismo - PNT (2003-2007), que propõe a organização de territórios definidos em conformidade com os
critérios e as realidades de cada estado e Distrito Federal.
4
O mesmo que turismo.
40
numerosos visitantes do país e do exterior para Exposição do Centenário Farroupilha. Este foi
o primeiro local de prestação de serviços a turistas, de que se tem notícia no Estado.
(FLORES, 1993).
Assim que o Touring Clube se instalou no Rio Grande do Sul, em 1935, edita a
Revista Touring, visando conquistar adeptos para a sua causa. Foi à primeira publicação
turística que circulou em nosso Estado. A revista foi publicada até 1945, ano que marcou
trauma para toda a atividade turística, decorrente da II Guerra Mundial. Durante a década de
1935 a 1950, o Touring conduziu sozinho o turismo no Estado. Foram quinze anos de bons
trabalhos que acompanharam o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Sul.
A história do turismo no Rio Grande do Sul teve seu marco inicial em 23 de janeiro
de 1950, quando o governador Walter Jobim promulgou a Lei nº 997, criando o Conselho
Estadual de Turismo, CET, e o Serviço Estadual de Turismo, SETUR. Assim o Rio Grande do
Sul passa à condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil em nível estadual.
A posição de vanguarda assumida pelo Rio Grande do Sul repercutiu muito, não
demorou para os demais Estados brasileiros adotarem as mesmas medidas, enviando
emissários ao sul, para aprender com a experiência gaúcha.
41
O município de Canela doa uma extensa área para que o Governador do Estado aí
construísse uma residência oficial de verão, tal como ocorria na esfera do Governo Federal, o
qual se transferia do Catete para o Palácio Guanabara, em Petrópolis.
hidrominerais dos dois Estados e do estreito do Rio Uruguai; criação do Parque Turístico dos
Aparados da Serra; melhoria do acesso rodoviário entre Torres e Araranguá e criação do
Conselho Estadual de Turismo de Santa Catarina. Em 1956, foi instalada uma Comissão
Parlamentar Especial de Turismo, com objetivo de amparar e fomentar o turismo, a partir
desse ponto o empresário brasileiro começa a tomar consciência da importância do turismo.
Apesar de o turismo ser uma indústria que poderia render milhões de dólares para o
país, o mesmo continuava desprezado e ignorado pelo Governo Brasileiro. “Nunca, em
momento algum, constatara do Orçamento da União uma rubrica que se destinasse
especificamente ao turismo”. (FLORES, 1993, p. 52).
No ano seguinte, a VARIG impulsionou o turismo gaúcho, “leva suas asas a estância
termal de Irai e libertando-a de seu isolamento” (FLORES, 1993, p. 54). Nos anos sessenta o
turismo gaúcho ganha novos estímulos, quando o SETUR, com apoio da VARIG e da Pluna,
promoveu a vinda ao Estado de agentes de viagem uruguaios e argentinos, contatou jornais e
revistas do Brasil que mantinham páginas de turismo. Organizou um arquivo de fotografias e
slides dos principais pontos turísticos do Estado, em 1961, foi criado os Conselhos de
Turismo Locais, Gramado e Canela foram os primeiros a optarem pela sugestão, em 1962
realiza-se o 1º Festival da Serra em Canela. Outros municípios gaúchos aderem à nova idéia e
surgem outros eventos no Estado, se destacando a Festa do Pêssego em Pelotas; a Festa das
Rosas em Sapiranga; a 1ª Festa do Milho em Guaporé e a Festa Nacional do Calçado em
Novo Hamburgo.
Para melhorar e inovar a capacidade hoteleira do Rio Grande do Sul foi criado o
Fundo Rotativo de Crédito Hoteleiro. Nos transportes, o turismo em automóveis e ônibus é
favorecido pela pavimentação das rodovias federais e estaduais. O avião também passa a
exercer importante papel nos transportes, passando a ocupar o segundo lugar mundial quanto
à extensão comercial doméstica e freqüência de vôos em todo o País. Já os trens de
passageiros não se modernizam em conforto e rapidez, estando fadados ao desaparecimento.
43
O turismo social foi uma preocupação na época. Cita Flores (1993), duas iniciativas
foram conduzidas na área da grande Porto Alegre: a primeira, desapropriação das terras e
praias do Guaíba, e a outra a fundação do Parque Estadual de Turismo do Itapuã, com
objetivo de preservar a fauna, flora e as águas do Guaíba. Outra iniciativa foi o projeto de
Balneários Populares em Tramandaí e Pinhal, esses terminais turísticos deviam proporcionar
conforto aos milhares de turistas que procuravam essas áreas da orla marítima.
No final da década de 1960, início da década de 1970 a Região das Hortênsias passa
a ganhar um sério competidor, segundo a autora, “surge o Roteiro da Uva e do Vinho,
reunindo atrações em Caxias do Sul, com a Festa Nacional da Uva; em Bento Gonçalves, com
a Fenavinho e Garibaldi, com a Fenachamp”. (FLORES, 1993, p. 81).
sendo que este fluxo de turistas se dirige, principalmente, para as praias do litoral norte:
Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, que são as mais conhecidas no Estado. No entanto, a
região turística com maior número e turistas ao longo do ano é a Serra Gaúcha.
De acordo com De Paris (2008), Michelon (2008) e Dal Pizzol (2008) 5, as serras6 do
Sul atraem milhares de turistas todos os anos. Por ser a única região brasileira a apresentar
clima temperado, o Sul do Brasil possui estações bem definidas. O turismo de inverno é um
grande atrativo na região. As cidades de Gramado e Canela muito conhecidas na época de
Natal pela criatividade na decoração de suas ruas, avenidas, jardins e parques natalinos.
Também no inverno os turistas visitam essas cidades e acrescentam outras mais nos roteiros
como São José dos Ausentes e Cambará do Sul, atraídos pelas baixas temperaturas, que
podem chegar a -10º C e com nevascas, para a felicidade dos turistas. Nas mesmas podem-se
encontrar os cânions de Itaimbezinho e de Fortaleza, os quais são os maiores do Brasil.
5
Entrevistas concedidas nos dias 05/08/08, 11/08/08 e10/09/08 respectivamente.
6
Referiam-se à Serra Gaúcha e à Serra Catarinense.
7
Este último entrevistado no dia 05/05/08.
8
Dados do site www.hotelcasacurta.com.br. Acessado em 23/12/08.
9
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
45
Em Bento Gonçalves existiam vários hotéis voltados para este tipo de turismo, entre
eles, o Hotel Planalto. O atual Museu Casa do Imigrante, na época servia como dormitório
dos funcionários deste hotel. Depois, devido alguns problemas tributários, passa o
empreendimento para o Estado, sendo posteriormente utilizado como estação de sericicultura.
Na década de 1950 é repassado ao governo municipal, com o objetivo de voltar a funcionar
como hotel, quando o prefeito Mario Mônaco tentou revitalizá-lo, criando a taxa de turismo.
A taxa era revertida em ações para o desenvolvimento do turismo, sendo que, com o término
de seu mandato, não houve seqüência desta inovação para o período. O hotel foi vendido,
passando por vários proprietários, sendo finalmente adquirido por Elias Dall’Onder. Como se
pode ver na figura a seguir representa veranistas pertencentes da elite de Porto Alegre, no ano
de 1930, veraneando em Bento Gonçalves.
10
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
11
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
12
Dados do site www.hoteldalmolin.hpgvip.ig.com.br Acessado em 23/12/08.
46
Além deste, Bento Gonçalves contava com os seguintes hotéis: Hotel Bela Vista,
Hotel Paris, Hotel Zanoni, Hotel América, Hotel Estação, Hotel Valenti, Hotel Dalla Coletta,
Casa de Pouso Pasquetti, entre outros. Em Monte Belo do Sul encontrava-se o Hotel Brusqui
e, em Pinto Bandeira, o Hotel Nichetti. Com a falta de estradas pavimentadas e o advento da
“moda” de veranear no litoral, os hotéis não resistiram, vindo a desaparecer a grande maioria
deles na década de 40 e de 50.
13
Entrevista concedida em 10/10/08.
47
negócios se deslocavam para a região para visitarem as indústrias e começaram a utilizar uma
infra-estrutura turística, então houve a necessidade de reconstruir os hotéis para alojar essas
pessoas. (FÁVERO, 2006).
O passeio nos parreirais do Vale dos Vinhedos foi estudado e organizado para
atender a demanda dos turistas. Mais tarde é implantada a Ferrovia do Vinho, passeio de trem
“Maria Fumaça”, que tinha como ponto inicial a estação de Bento Gonçalves percorrendo a
região sentido norte até Jaboticaba (próximo a Ponte Ernesto Dornelles, mais conhecida como
Ponte do Rio das Antas), que não demorou em atrair mais turistas.
história do turismo “remonta aos anos 1920 - 1950, quando a Serra Gaúcha era muito visitada
como destino de veraneio, conforme ocorria na região”. (FÁVERO, 2006).
A primeira experiência regional deu-se com o Trem Maria Fumaça, e com o apoio do
poder público e da iniciativa privada, envolvendo os municípios de Carlos Barbosa, Bento
Gonçalves e Garibaldi.
14
Informações em:www.serragaucha.com/portal/downloads/CurriculumeAtivi- dadesdaAtuaserra.
50
Desde o século XX, o turismo é um dos fenômenos sociais mais importantes e não
pode ser tratado com descaso. Tendo como ponto de referência os municípios que fazem parte
da Região Uva e Vinho, apresentam atrativos de variadas culturas, se destacando pelos
aspectos geográficos diversificados, potencial ecológico, histórico e pela hospitalidade de seu
povo.
A atual globalização da economia faz com que os mercados se tornem cada vez mais
fragilizados, principalmente no setor vinícola, onde os vinhos nacionais lutam com os
importados para se manterem no mercado nacional. Uma das possibilidades de se fazer frente
à avalanche de vinhos estrangeiros é através do enoturismo.
Enoturismo é a soma da palavra eno e turismo. Eno deriva do grego oinos que
significa vinho e turismo originário da palavra francesa Tour e do inglês Turn; quer dizer
volta. Por sua vez turismo em latim é Tornare, que significa voltar ou voltear. Turismo em
português tem o significado de Viajar no sentido de embarcar; ir; e vir; partir e voltar.
15
Entrevista concedida no dia 15/09/08.
16
Entrevista concedida no dia 05/06/08.
52
Barretto (2003, p.22) reforça a idéia de que “turismo cultural seria aquele que tem
como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem”. A mesma
autora reforça que o turismo, quanto ao objetivo ou à motivação, pode ter muitas
classificações. Segundo a mesma autora, atualmente existem algumas ofertas, “tour de dez
dias percorrendo vinhedos e vinícolas, para enólogos ou pessoas interessadas [...]”.
(BARRETO, 2003, p.20).
A origem do enoturismo, assim como sua data ainda é uma incógnita, talvez por se
tratar de um estudo recente, ou pela falta de reunir todos os estudos em uma literatura
especializada no assunto. No entanto, sabe-se que em todos os locais do mundo onde se
encontram videiras e vinhos, há uma grande possibilidade de se desenvolver o enoturismo.
Cabe citar aqui que, conforme Phillips (2005), no início do século XVII, havia um
crescente interesse por vinho na Inglaterra e em outros lugares. Muitos viajantes que haviam
participado do Grand Tour, comentavam com freqüência, e de forma otimista, sobre a comida
17
www.enoturismobrasil.com.br/ acessado em 27/10/08.
18
Entrevista concedida no dia 05/06/08.
19
Entrevista concedida no dia 10/11/08.
53
e a bebida encontrada em lugares como a Itália. Muitos destes viajantes eram atraídos pela
curiosidade sobre as terras estrangeiras. Vários destes viajantes mencionavam o vinho em
seus relatos. John Raymond trata sobre Albano, uma cidade que “merece ser visitada, se não
por sua antiguidade, ao menos por seu bom vinho – um dos melhores da Itália”. (PHILLIPS,
2005, p.193).
Outro fato curioso, talvez o mais antigo, sobre enoturismo registrado, aconteceu por
volta do ano 48 a.C. no Antigo Egito. Quando César (Imperador de Roma), em visita a este
país, declarando que desejava conhecer a cultura da terra de Cleópatra, (última rainha do
Antigo Egito) realizou uma viagem pelo Rio Nilo. Conforme estudos de Bencheley (2007), o
casal foi acompanhado por uma frota de 400 barcos. Ao longo de seis ou sete semanas de
navegação, conheceram cidades, templos, visitaram campos cobertos de trigo e de cevada, e o
mais importante, os vinhedos, herança Ptolomaica grande orgulho dos nobres egípcios.
Cita ainda Locks e Tonini (2004) que, com a preocupação no controle da qualidade
da oferta turística e na divulgação da mesma, a associação “Cantina Aberta,” desenvolveu o
Decalogo dell’Accoglienza, agrupando todas as regiões enoturísticas que estavam associadas
ao Movimento do Turismo del Vino.
Este regulamento passou a usar como símbolo uma folha de parreira, para representar
o nível de qualidade do estabelecimento. Conforme o tipo de serviço, espaço, método e
54
Citam as mesmas autoras que, segundo o site da Winemaker of. Australia (WFA-
Federação das Vinícolas Australianas), no ano de 1993, 235 mil turistas estrangeiros visitaram
o país. Em 1999, 456 mil, sendo que o maior incremento é verificado nas regiões
vitivínicolas, que passaram a investir em outros serviços para atender o turista, como
alimentação e hospedagem. Para a maioria dos turistas, a compra de vinhos é a principal
motivação. Entre os turistas nacionais, predomina casais sem filhos, num faixa de 40 - 60
anos de idade, com educação de curso superior.
Outro fator que tem contribuído para o aumento do consumo do vinho são as
publicações sobre seus benefícios para a saúde. Muito se fala e se escreve sobre a
harmonização dos vinhos com os cardápios da gastronomia. E especula-se sobre os seus
benefícios para o coração.
56
Neste capítulo serão apresentados os municípios foco desta pesquisa, tendo em vista
que o recorte para esta pesquisa privilegiou os mais desenvolvidos enoturisticamente na
atualidade e, também, limitou-se ao tempo da mesma.
Até o ano de 1870, Bento Gonçalves denominava-se de Cruzinha. Alguns dizem por
ser o local onde morreu e foi enterrado um traçador de estradas; outros dizem que a cruz era o
túmulo de um tropeiro. No mesmo ano, o Governo da Província através de seu Presidente do
Estado do Rio grande do Sul, João Sertório, criava as Colônias Dona Isabel e Conde D’Eu.
A arte de elaborar vinhos inicia na metade da década de 1885, quando surgem uns
dos primeiros estabelecimentos vinícolas na Colônia Dona Isabel.
57
No dia 11 de outubro de 1890, a Colônia Dona Isabel foi desmembrada de São João
de Montenegro, pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de
Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves de Lima e Silva20. A
jurisdição político-administrativa das colônias italianas Dona Isabel e Conde D’Eu estava
consignada ao Município de São João de Montenegro, constituindo-se o 4º Distrito, com sede
na Colônia Dona Isabel. Em 1919 chega o tão esperado trem, vários estabelecimentos foram
transferidos para as proximidades da Estação Férrea, dentre eles pode-se citar a Casa
Comercial Dall Mollin21 e a Vinícola Riograndense.22
“[...], era a cultura italiana, esta era diferente e o povo era alegre, as pessoas
visitavam a região e os imigrantes se sentiam confiantes em receber os visitantes em
suas casas, eles mostravam tudo que tinham, tomavam café junto e tinham vinho a
oferecer. (DE PARIS, 08).
20
General Bento Gonçalves de Lima e Silva, foi presidente da República Piratini em 1835, proclamada pelos
revolucionários Farrapos - Revolução Farroupilha.
21
Casa Comercial Dall Mollin Era considerada uma das mais importantes casas de comércio do Estado,
chegando a participar da Exposição do Cinqüentenário de Porto Alegre, divulgando a indústria e o comércio do
município. Exportava gêneros alimentícios (queijos e produtos suínos), para a Itália, Alemanha, França e
Inglaterra (DE PARIS, 2006, p.110).
22
Vinícola Riograndense: foi fundada em 22 de julho de 1929, com a denominação de Sociedade Vinícola
Riograndense, foi considerada por muitos anos como a maior produtora de vinhos do país. Sua matriz estava
localizada em Porto Alegre e tinha estabelecimentos em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, e em
Flores da Cunha estava situado o principal vinhedo denominado Granja União, considerado o maior centro
brasileiro de uvas de castas finas (Centenário da Imigração Italiana - RS, 1975, p.364).
58
A história de Caxias do Sul inicia bem antes da chegada dos imigrantes italianos. De
acordo com Brambatti (2002), a primeira picada que se tem notícia em direção à futura
Colônia situada aos “Fundos de Nova Palmira” foi aberta por Antônio Machado de Souza, em
1864. A região, já ocupada por indígenas, foi percorrida por tropeiros em busca de gado
alçado que fazia dos campos gaúchos seu habitat. De 1875 e início de 1877, foi denominada
"Campo dos Bugres". A ocupação por imigrantes italianos em sua maioria camponeses
provenientes da região do Vêneto (Itália) deu-se a partir de 1875, localizando-se em Nova
Milano.
23
Disponível em www.bentogoncalves.rs.gov.br. Acessado em 16/10/2008.
59
No dia 1º de junho de 1910, Caxias foi elevada a categoria de cidade e, neste mesmo
dia, chegava o primeiro trem, ligando a região à Capital do Estado.
Num primeiro momento, este vinho era para consumo próprio e mais adiante para
comercialização. A indústria vinícola na década de 60 chegou a ser a principal da região de
colonização italiana. No interior nasciam as cantinas familiares e os parreirais ocupam os
espaços destinados a outras culturas, na cidade expandiam-se as vinícolas. A qualidade do
vinho era uma busca constante, surgiram as cooperativas, oferecendo alternativas
protecionistas ao setor. Na década de 30, muitas cantinas coloniais foram incorporadas pelas
grandes vinícolas, estas já possuíam um complexo de atividades: parreirais, tanoarias,
vidraçarias e empalhamento de garrafões. Mesmo com dificuldades a produção de vinhos
crescia significativamente. Nos anos 70, a vitivinicultura continuava a ocupar destaque na
economia local, mas a tecnologia de produção permanecia estacionada e com poucos ou
talvez sem recursos para novos investimentos, algumas vinícolas começam a enfraquecer e a
mostrar sinais de falência.
a BR 116 e RST 122. Seu PIB é de 8,1 milhões (2004) e sua Renda per capita de R$
20.485,00 (2004). A base da economia é a indústria 50,01%; comércio e serviços, 38% e
agropecuária 4,51%.24
24
Dados do site www.caxiasdosul..rs.gov.br Acesso em 16/10/2008.
25
Dados do site ww.floresdacunha.rs.gov.br . Acesso em 16/10/2008.
26
Apromontes - esta localizada no Villa Borghese Albergo, a Apromontes tem uma central de atendimento aos
turistas que desejam obter mais informações sobre a Rota dos Vinhos dos Altos Montes, atendendo de
segunda-feira a sábado.
61
Em maio de 1870, o Presidente da Província do Rio Grande do sul, Dr. João Sertório,
desejando ampliar a área de colonização, criava as Colônias de Dona Isabel e Conde D’Eu,
em terras devolutas do Planalto. A divisão em lotes custou à Província quase setenta contos de
réis e, mais tarde, quando iniciado o povoamento, as terras seriam devolvidas ao Governo
Imperial. Os imigrantes alemães, temendo os índios e feras, não chegaram a povoar estas
terras. O mesmo aconteceu com os descendentes portugueses, estes não apreciavam esta
região, devido ser pouco apropriada à criação de gado bovino.
Costa (1999), afirma que o município de Garibaldi no ano de 1913, possuía uma
população de aproximadamente 17 mil habitantes e, Bento Gonçalves, aproximadamente 25
mil habitantes. Por Decreto de 31-10-1900, foi desmembrado o território do Município e a ex-
colônia Conde D’Eu passou à categoria de Município com a denominação de Garibaldi. “O
sábio governo do Estado, sob a égide de um Júlio de Castilhos e de um Borges de Medeiros,
ao declarar autônomo de Bento Gonçalves quis glorificar e imortalizar um se seus filhos na
gloriosa epopéia de 1835, Garibaldi: ‘o herói dos dois mundos’.” (DE PARIS, 2005, p. 82).
Conforme Girondi (2007), em 1900, muitas pessoas vinham conhecer o local, já com
a intenção de residirem, sendo que era considerado o município mais desenvolvido de toda a
região. Com a emancipação, em 1904 surge o Clube Borges de Medeiros, que na época
serviria concomitantemente de teatro, cinema, salão de festas e de palco para a 1ª Exposição
de Uvas.
27
Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 – 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879,
descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro.
Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e
orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social,
fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do
Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25).
28
A pista de Ski D. Santini, fundada em 24/08/68. Inicialmente foi denominada Estação de Eski Presidente
Médici, por ser este o primeiro Presidente do Brasil, da origem da colonização italiana. Foi a primeira pista
artificial de esqui da América Latina. Possuía infra-estrutura de parque, pista artificial de 350 metros, pista de
esqui para iniciantes, teleférico com 40 cadeirinhas, tobogã de 280 metros, restaurante panorâmico, chalés de
montanha, artesanato e maquete da Serra Gaúcha. Todos os anos, no frio do mês de julho, aconteciam o
Campeonato Brasileiro de Esqui, podia contar com concorrentes de todos os estados brasileiros e a Competição
63
fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país. Entre os eventos, destacam-se o
Festival do Frango e do Vinho e a Fenachamp, que se mantém até hoje.
Brasileira de Esqui, acontecia dentro da semana de Garibaldi. Atualmente este parque esta desativado.
www.geocities.com/TheTropics/Paradise/6624/esqui.htm, acessado 08/09/08.
29
Entrevistado em 11/07/2008.
30
Informações obtidas no Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi.
31
Dados disponíveis no site www. garibaldi.rs.gov.br – Acesso em 16/10/08.
64
O plantio de videiras iniciou-se por volta de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena
produção de vinhos, elaborados nos porões das casas feitas de basalto. Nas primeiras três
décadas do século XX, em toda a região de colonização italiana, a policultura vai
desaparecendo gradativamente cedendo lugar à expansão da viticultura. Leis estaduais e
federais promulgadas nas décadas de 1920/1930, especialmente relativas à higiene na
elaboração de alimentos, centralizam a produção de vinhos em grandes vinícolas localizadas
nas cidades, algumas das quais instalaram, posteriormente, centrais de recebimentos da
colheita, o que dificultou o desenvolvimento de vinícolas locais.
O comércio local foi se desenvolvendo com o passar dos anos, como cita Razador
(2005), a família Franzoni possuía casa de comércio, cantina de vinhos e licores (em 1913 já
produzia 15.000 hl anuais), fábrica de queijos, salames e serraria e mulas para o transporte de
65
mercadorias. Possuía filiais em Porto alegre e São Paulo. Em 1930, a família Scanzili
construiu cantina de vinhos. Funcionou neste ano também uma agência do Banco Pelotense.
Em 1889, é oficialmente criada a Paróquia de São Francisco de Assis. Dez anos mais
tarde, a pedido do Padre Francisco Piccoli instalaram-se as Irmãs do Imaculado Coração de
Maria, neste mesmo ano começa a funcionar a Escola Sagrada Família. No ano de 1936, para
fazer frente à crise econômica, a Escola recebeu veranistas. Em 1989 a Escola cessou suas
atividades, devido a inexistência de interessadas na formação religiosa.
Realiza diversos eventos, ligados a cultura local, entre eles: Festa de Abertura da
Vindima; O Polentaço e o Festival do Artesanato Dança e Música.
A área para a Indicação Geográfica Monte Belo do Sul, foi delimitada de modo a
privilegiar a homogeneidade em termos de fatores como altitude, cuja média é de 691 metros,
bem como a valorização da paisagem e a preservação ambiental, pela preservação da mata
nativa que forma um cinturão entorno da área. Esta demarcação abrange parte dos municípios
de Monte Belo do Sul (4.114,6 hectares), Santa Tereza (381,08 hectares) e Bento Gonçalves
(553,48 hectares), totalizando 5.049,02 hectares.
videira. Esses fatores possibilitam a obtenção de vinhos brancos, tintos e espumantes, com
uma tipicidade própria.
Onze vinícolas, reunidas desde 2003, fazem parte da área demarcada. São cultivados
segundo dados do Cadastro Vitícola 2007, 2.450 hectares de videiras, sendo 800 delas de
variedades de uvas finas. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2008). Este município esta localizado
na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 691 metros,
apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas. Apresenta uma área geográfica de
70 km² e uma população de 2.879 habitantes (2007). Esta situado a 137 km de Porto Alegre,
Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de R$ 64.497,00 e sua Renda per capita de R$
22.559,00. A base da economia é a agricultura, principalmente o cultivo da uva. A taxa de
analfabetismo chega 0, 956% e a expectativa de vida aos78 anos. (MONTE BELO DO SUL,
2007).
32
Grande casa feita com a utilização de madeiras rústicas (troncos), que servia para abrigar os imigrantes, na sua
chegada.
67
Em 1893, durante a Revolução Federalista33 que abalou o Estado, a vila por diversas
vezes foi ocupada por forças militares, de um ou de outro lado. Depois de muitos sacrifícios
tanto materiais como em vidas humanas, somente em 1894 as coisas melhoram.
33
A Revolução Federalista ocorreu no sul do Brasil logo após a Proclamação da República, e teve como causa a
instabilidade política gerada pelos federalistas, que pretendiam "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de
Júlio Prates de Castilhos", então presidente do Estado.
34
Pesquisa realizada em 4/9/2008
35
Pelos dados obtidos entre 1996 e 2000, sabe-se que, em números redondos, a média de expectativa de vida
registrada é a seguinte: Brasil -68 anos; Rio Grande do Sul -72; Veranópolis -78 anos. (Fonte: Prefeitura
municipal de Veranópolis, setembro de 2008).
68
Na Serra Gaúcha, há uma transposição da cultura do vinho. Isso porque suas forças
combinam com um hábito de números crescentes: o fazer turismo. A chegada de visitantes em
busca de degustação, passeios nos parreirais e outros prazeres já representa entre 30% e 35%
da economia do Vale dos Vinhedos, esta pequena região formada pelos principais produtores
de uva e de vinho do país: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. “Para algumas
vinícolas de menor porte, essa fatia atinge 50%”, afirma Valduga (2007, p. 26).
Cita Balico (2005) que, na década de 1950, a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já
possuía um departamento especial com a finalidade de atender os turistas, onde recepcionistas
69
O entrevistado Dal Pizzol (2008) cita que, no Rio Grande do Sul, o enoturismo
oficialmente começou na Serra Gaúcha na década de 1930, em Caxias do Sul, com a
realização da I Festa da Uva e complementa: “nos anos de 1984 e 1985, a média de
enoturistas que visitaram a empresa Maison Forestier era entorno de 65 a 70 mil visitantes
ano, e o faturamento médio era de onze (11) a doze (12) dólares por pessoa”. Paulus, em sua
entrevista (dia 10/11/08), afirma que, durante todo o período de funcionamento da Maison
Forestier, a folha de pagamento era custeada integralmente com os recursos provenientes do
enoturismo.
Com o passar das décadas, o enoturismo vem ampliando sua importância econômica
na Região, sendo que, conforme o entrevistado Miolo (2008),36 “atualmente o enoturismo é
responsável por 4% do faturamento total da empresa (Vinícola Miolo), isto é muito
importante...” No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na Miolo; este
ano são esperados aproximadamente 10.000 a mais.
A importância vai além da geração de renda. O enoturismo tem sido responsável pela
37
geração de inúmeras vagas de emprego. Conforme Valduga; J. (2008) somente a Casa
Valduga, recebe anualmente em media de 60 a 70 mil turistas/ano e, graças ao enoturismo, o
empreendimento emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos serviços,
hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.
36
Entrevista concedida no dia 30/09/08.
37
Entrevista concedida no dia 25/09/08.
38
Entrevista concedida no dia 26/08/08.
70
visitaram o Vale. Para este ano esta previsto mais de 130 mil, sendo que o primeiro semestre
já registrou 109 mil visitantes.
Ainda, cita o mesmo site, que outra questão de grande importância para o enoturismo
na região foi o extraordinário avanço, em termos de qualidade, pela qual o vinho brasileiro
passou nas ultimas décadas. Com o aumento dos investimentos em pesquisa e a conquista do
mercado externo fez do Brasil , em 1995, membro da Organização Mundial do Vinho, órgão
que regula as normas internacionais de cultivo e produção do vinho.
Segundo dados da OIV, onde o Brasil tem se situado, nos últimos anos, entre os 20
maiores produtores de vinho do mundo. O consumo é ainda reduzido, cada brasileiro consome
cerca de 2 litros de vinho por ano - bem pouco, se forem levadas em consideração a superfície
e a população do país. Nos últimos anos tem havido um grande avanço no consumo, devido
principalmente à melhora da qualidade do vinho nacional. (MACNEIL, 2004, p.744).
Para os enoturistas ou até mesmo para quem busca conhecer novas culturas, a visita a
Serra Gaúcha é uma experiência inesquecível. Atualmente existem muitos outros municípios
da Serra Gaúcha que produzem vinhos e merecem ser visitados como Antônio Prado,
Cotiporã, Farroupilha, São Marcos, Guaporé, Nova Pádua, e outros mais.
39
Disponível em: www.planetalazer.com. Acesso em: 09 set. 08.
71
dentro de cada garrafa. A vontade de conhecer os locais nos quais se elabora o vinho se
intensifica.
Para Dal Pizzol (2008), o Rio Grande do Sul é dividido em dois grandes vértices
indutores do enoturismo: o primeiro vértice que tem como principais municípios Caxias do
Sul e Flores da Cunha, considerados o berço do enoturismo no Estado. O segundo grande
vértice, Bento Gonçalves e Garibaldi, detentores dos melhores destinos enoturísticos do
Brasil.
Exposições agro-industriais;
Festas da Uva e do Vinho em toda a
1971 a
Especialização Terceira Fase: Expansão região;
1990
Visita às vinícolas em diferentes
municípios (prioritariamente, urbanas).
Exposições agro-industriais;
Festas da Uva e do Vinho em toda a
região;
1991 a Quarta Fase: Entidades de ensino superior e
Qualificação
2008 Consolidação associativistas, ligadas ao setor;
Visita às vinícolas em diversas cidades;
Roteirização do Enoturismo;
Identidade do vinho brasileiro.
No Rio Grande do Sul, o enoturismo tem seu início na Serra Gaúcha, na década de
1930, em Caxias do Sul, com a realização da I Festa da Uva, no dia 07 de março de 1931,
quando houve uma exposição discreta e elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro
(esquina Visconde de Pelotas com a Sinimbu). Carros alegóricos desfilavam pelas ruas da
73
O eixo Caxias do Sul e Flores da Cunha se destaca como o primeiro pólo de atração
turística do Rio Grande do Sul, comenta Dal Pizzol (2008). Caxias do Sul se beneficiou muito
com as correntes turísticas, motivadas pelo acesso pavimentado. Algumas empresas, como a
Eberle, que na época produzia variados artigos sacros e a Gazzola, que fabricava artigos de
cutelaria, já motivavam o fluxo de pessoas à Caxias do Sul. Algumas vinícolas aproveitaram
este fluxo de “turistas”, tais como a Vinícola Luiz Antunes & Cia,40a Vinhos Mosele, a
40
A vinícola Luiz Antunes & Cia., trabalha na elaboração de vinhos desde 1866. Em 1873, foram exportados os
primeiros mil litros de vinho brasileiro. (RODRIGUES, 1972, p.29).
74
Dal Pizzol (2008) relata que as Vinícolas Luiz Michelon S.A. e a Vinhos Mosele, se
destacaram mais com o turismo, foram duas empresas que traziam muitos clientes, entre eles
havia um tipo especial o “turista político”, autoridades de importante cunho político
(governadores, ministros, deputados, e outros).
Conforme o mesmo entrevistado, Flores da Cunha nesta mesma época, contava com
a Companhia Vinícola Riograndense e a Granja União, sendo que a Abertura da Vindima
geralmente era feita na Granja União, para onde fluíam presidentes, ministros, governadores e
demais autoridades. A Granja União e a Granja São Mateus foram as duas pioneiras no
plantio e difusão de variedades viníferas, no mesmo período de Caxias do Sul.
Lembra Dal Pizzol (2008), “que a coragem em construir um hotel que passou a
abrigar enoturistas, autoridades, viajantes e clientes, foi um marco, um bom exemplo de
pioneirismo no enoturismo serrano.” Brambatti (2002) destaca, ainda, que além do já citado
Roteiro dos Parreirais, lançado em 1971, abrangendo Flores da Cunha e seu distrito Otávio
Rocha, surge, em 1989, um roteiro denominado de Caminhos da Colônia, com a finalidade de
atrair turistas para o interior de Caxias e Flores da Cunha. (DAL PIZZOL, 2008).
Flores da Cunha atualmente comercializa o roteiro dos Vinhos dos Altos Montes, que
conta com doze vinícolas que compõem a rota e que fazem parte da Associação de Produtores
de Vinhos dos Altos Montes (APROMONTES). Este roteiro foi criado em 2003, sendo que a
região é considerada a maior produtora de vinhos do Brasil. (ANUÁRIO BRASILEIRO DA
UVA E DO VINHO, 2004).
75
Empresa-Início da Atividade
Período Município Enoturistica Festas (principais)
-Vinícola Antunes
-Vinhos Mosele
Caxias do Sul -Vinícola Luiz Michelon 1931
1970
-Dreher
Bento Gonçalves -Aurora 1967
-Vinícola Rio Grandense I Fenavinho
Caxias do Sul
-Miolo
-Dom Cândido
Bento Gonçalves -Valduga 1971 - I Festa Regional
-Cordelier da Uva
1990
-Don Laurindo
-Dal Pizzol
1971 a
Dal Pizzol (2008), Splendor (2008), De Paris (2008) e Frare (2008), em suas
entrevistas, relatam e concordam que, em Bento Gonçalves, o enoturismo ganha impulso em
1967, com a realização da I Fenavinho, depois de trinta e seis (36) anos da realização da I
Festa da Uva em Caxias do Sul. Apesar desta constatação, é sabido que algumas vinícolas já
recebiam visitantes em períodos anteriores. As empresas que mais se destacaram na época
foram a Dreher e a Cooperativa Aurora.
Por ser Bento Gonçalves o maior produtor de uvas e vinhos do Brasil, foi pensado
em realizar um Festival do Vinho. No mesmo período também coincidia com o
cinqüentenário da instalação das Irmãs Carlistas (Colégio Medianeira) no município, e Bento
Gonçalves iria comemorar os 75 anos de sua existência. Portanto, 1965 havia de ser um ano
marcante.
Lembra Michelon (2008), que Bento Gonçalves era deficiente de todo tipo de infra-
estrutura, não existiam estradas pavimentadas, não existia telefonia e havia deficiência de
energia elétrica, alguma coisa prescisava ser feito, como relata o mesmo autor:
Este fato não foi realmente uma coincidência, mas sim uma inspiração divina, e
consolidou a I Fenavinho, o fato de ter oferecido o vinho encanado nas ruas de
Bento Gonçalves, repercutiu mais que o esperado [...]. A idéia do vinho encanado
foi tomando corpo e notamos que além de promovermos Bento Gonçalves e o
vinho como produto símbolo do município, estávamos promovendo o enoturismo.
(MICHELON, 08).
41
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (Fortaleza, 20 de setembro de 1900 — Fortaleza, 18 de julho
de 1967) foi um militar e político brasileiro, primeiro presidente do regime militar instaurado pelo Golpe
Militar de 1964. Nomeado chefe do Estado-Maior do Exército pelo então presidente da República João
78
nas proximidades da Avenida Planalto. Toda a comitiva oficial chegou pela BR 116, via
Caxias do Sul, “[...] enfrentaram uma estrada com poucas condições de uso, cheia de
buracos e de curvas e muito lodo.” (MICHELON, 2008). Ao chegar a comitiva presidencial
a Bento Gonçalves, uma das primeiras palavras que o Presidente falou ao cumprimentar o
Prefeito Municipal (Milton Rosa), que o estava esperando na escadaria da Prefeitura, foi “Eu
falei aqui ao Governador (Perachi), que Bento Gonçalves merece uma estrada melhor do que
essa que tem aqui.” esta foi a primeira grande repercussão política dessa visita, comenta
Michelon (2008) e De Paris (2008).
Foi muito difícil, visto que Caxias do Sul se habilitou também e o Governador
encontrava dificuldade em construir duas estradas, mas a pressão política foi tanta
que ele construiu as duas, a que ligava Porto Alegre a Farroupilha e São Vendelino
a Bento Gonçalves. Segundo o Governador, a estrada São Vendelino foi a mais
cara do Estado, devido à topografia, pontes e viadutos que tiveram de ser
construídos. (MICHELON, 08).
Corroboram Splendor (2008), Dal Pizzol (2008), De Paris (2008) e Michelon (2008),
que a vinda do Presidente da República do Brasil a Bento Gonçalves e, no domingo seguinte
Goulart em 1963, Castelo Branco foi um dos líderes militares do Golpe de Estado de 31 de março de 1964,
que depôs João Goulart. Presidente do Brasil - de 15/4/1964 a 15/3/1967. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08.
79
a visita de Assis Chateaubriand42, Diretor Geral dos Diários e Emissoras Associadas, e estas
deram ampla cobertura do evento, Bento Gonçalves passou a constar no mapa político do
Brasil. Com esta divulgação na imprensa brasileira, nasce o enoturismo em Bento
Gonçalves.
Cita Balico (2005) e confirma o entrevistado Sganzerla (2008) que, na década 1950,
a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já possuía um departamento especial com a finalidade de
atender os turistas, onde recepcionistas tipicamente trajadas, percorriam o interior do
estabelecimento explicando o processo de elaboração dos vinhos e derivados da uva.
De acordo com Splendor (2008), Sganzerla (2008), e Dal Pizzol (2008), a Dreher se
destacou com seus vinhos, espumantes e destilados, por ser uma empresa muita bem
relacionada com os veículos de comunicação, sendo o seu proprietário amigo pessoal do
jornalista e embaixador Assis Chateaubrian. Carlos Dreher Neto43 homenageou-o, lançando
um chamado Velho Capitão. Tudo isso, veio a influenciar a vinda de turista, e todos se deram
conta que era um bom negócio para a divulgação do vinho e da região.
A Dreher foi fundada em 1910, atinge seu auge na década de 1960 a 1975. Iniciou
suas atividades na Av. Marechal Floriano, onde hoje se situa a Eletro Dam (empresa de
materiais elétricos), ainda hoje podem ser visto um brasão em suas paredes. Todo o prédio foi
42
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, mais conhecido como Assis Chateaubriand, ou Chatô
(Umbuzeiro, Paraíba 4 de outubro de 1892 — São Paulo, 4 de abril de 1968) foi um jornalista, empreendedor,
mecenas e político brasileiro. Criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34
jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O
Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis e uma editora. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08.
43
Carlos Dreher Neto era filho do imigrante Carlos Dreher Filho, este, quando chegou em Bento Gonçalves,
vislumbrou o lugar ideal para concretizar um velho sonho: produzir vinhos diferentes, da mais alta qualidade,
como os da sua terra natal (Alemanha). Na Alemanha, foi buscar inspiração e conhecimentos. De lá, trouxe as
melhores castas de videiras brancas. Ofereceu aos viticultores mais progressistas de Bento Gonçalves sem cobrar
nada. Em 1932, com seu falecimento assume seus filhos Carlos Dreher Neto e Erny Hugo Dreher.
(RODRIGUES, 1972, p. 58).
80
construído em estilo europeu, mais tarde a empresa se muda para a Rua Assis Brasil 613,
devido o pouco espaço físico de suas instalações.
Segundo Splendor (2008), e Sganzerla (2008), a Dreher S/A atraía muitos turistas
que chegavam em grandes caravanas de ônibus provenientes principalmente de Recife,
Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando o proprietário Carlos Dreher Neto visitava
alguns estados, muitas vezes era recebido pelo governador local. Ele projetava o nome de
Bento Gonçalves e da região, “o nome Dreher era um sucesso no Brasil, um marco para o
turismo e do desenvolvimento da palavra uva e vinho,” reforça Splendor (2008).
Comenta Splendor (2008), sobre a construção do local e seu objetivo: “[...] a adega
era um lugar todo especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita
ao município, sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega
era feita em arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira.” (SPLENDOR, 2008).
Além das vinícolas, os turistas queriam conhecer toda a região, pois já era famosa
pelos outros atrativos locais, como a Ponte Ernesto Dornelles, o esqui, o Vale do
Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os turistas
ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do
Sul. (SGANZERLA, 08).
Dal Pizzol (2008), Paulus (2008), e Frare (2008), também comentam a entrada da
Aurora para o enoturismo e a construção do local nas suas dependências para atrair os
visitantes da festa:
44
Em 2007 se agrava a crise no setor aéreo.
82
Desde sua data de fundação, o Centro vem formando profissionais nos cursos de
Técnico em Enologia; Técnicos em Agropecuária com Habilitação em Agricultura,
Agroindústria e Zootecnia; Técnicos em Informática; Tecnólogos em Viticultura e Enologia
(Nível Superior) e Tecnólogos em Alimentos (Nível Superior). (CEFET-BG).45
45
Disponível em www.cefetbg.gov.br/imana. Acessado em 16/12/2008.
84
Por sua vez De Paris (2008), menciona a força de uma sociedade envolvida em
concretizar num sonho comum:
No entanto em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por
séries dificuldades. A uva nos parreirais começava a dar sinais de amadurecimento, o tom de
verde das mesmas vai mudando para o vermelho-violeta, sinalizando que a colheita não
demora a chegar, mas o setor vinícola estava quieto demais e a ansiedade dos produtores
aumentava a cada dia.
O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes tinham
sido já colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto
que Caxias do Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a
opinião de Moisés Michelon (primeiro presidente da Fenavinho de Bento
Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves.
(BRANDELLI, L., 08).
46
Entrevista concedida em 19/07/08.
47
Armindo Franzoni – natural da Linha 15 da Graciema, era produtor de uvas e revendedor de carros da marca
Ford, em Bento Gonçalves.
85
A festa aconteceu no mês de fevereiro, no principio era para ser apenas um fim de
semana, com o sucesso foi além do esperado, a festa se estendeu por mais um fim de semana,
segundo o mesmo entrevistado:
No primeiro fim de semana, compareceu tanta gente, que não sabíamos de onde
vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também
prestigiaram a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas
carrocerias, carros particulares, ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas
localidades mais próximas chegavam a pé. (BRANDELLI, L., 08).
A presença do apoio feminino à festa não faltou, nem tão pouco sua colaboração,
segundo Zélia Brandelli (2008):48
Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime,
barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam
na cozinha e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a
preparação do churrasco e das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos
ficaram admirados com o sucesso da festa, foi muito bonito. (BRANDELLI, Z., 08).
A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de
visitantes, foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões. No entanto, Brandelli, L.,
(2008), relata a falta de apoio e de credibilidade na época pelos órgãos públicos:
O mesmo entrevistado lembra, que no último fim de semana, foi realizado um desfile
de carros alegóricos, retratando a chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha
e das princesas da festa, e todas as empresas participantes dispuseram de um carro para
representá-las. No local foram servidos almoços e jantas, “e os visitantes passavam a noite
48
Entrevista concedida em 19/07/08.
86
cantando e bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal”. Compareceram mais
de 15.000 visitantes. (BRANDELLI, L.,2008).
Nas palavras de Paulus (2008) e Milan (2008), em 1992, com um trabalho esplêndido
do Rubens Laude e a união e esforços da comunidade, a estrada (RS 444) passa no Vale dos
Vinhedos que liga Bento Gonçalves a Monte Belo do Sul é finalmente pavimentada com
87
asfalto. De acordo com relatos de Valduga. J (2008), e Miolo (2008) o enoturismo nasceu de
forma espontânea, isto é, ao natural. A Vinícola Casa Valduga foi pioneira no recebimento de
enoturistas no Vale dos Vinhedos.
Por sua vez Paulus (2008) afirma que, o enoturismo no Vale dos Vinhedos inicia
com a Família Tumelero (Ceará da Graciema, pequena comunidade que compõe o Vale dos
Vinhedos):
Durante quatro anos, os turistas eram encaminhados pelo Hotel Dall’Onder para
aquele local. Os visitantes eram recepcionados pela família no porão da casa, onde
podiam adquirir vinhos, salames, queijos e outros produtos. Em 1985, a esposa do
senhor Tumelero desiste de trabalhar com os turistas e o casal se muda para a
cidade. (PAULUS, 08).
Valduga (2008), Paulus (2008) e Miolo (2008) corroboram que nos anos de 1973 a
1975, a agência do Banco do Brasil de Bento Gonçalves oferecia cursos de treinamento a seus
funcionários, e estes eram provenientes de várias regiões do Estado e também de alguns
outros estados brasileiros. Estas pessoas de bom poder aquisitivo ficavam hospedados nos
hotéis da cidade (Hotel Dall’Onder, Vinocap, e outros), visitavam o comércio local, faziam
suas compras, mas não havia nada de especial entretenimento no tempo livre. Por iniciativa
do empresário Tarcisio Michelon e outras pessoas mais, a Casa Valduga inicia oferecendo a
estas pessoas jantares simples: polenta, massas, frango, sopa de capeletti, vinho e cantorias.
“Os jantares eram servidos nos centros dos corredores, entre as pipas de vinho. “[...] os
turistas ficavam maravilhados com tudo isso, principalmente com a simplicidade, carinho,
aconchego e atenção prestada pelos proprietários.” (VALDUGA, J., 08).
49
Vinoterapia consiste num tratamento corporal à base de extratos de uva, molhos, folhas, vinhos e óleos
derivados, que ajudam a relaxar. Surgiu na França em 1999. Benefícios: A terapia do vinho tem um grande
poder antioxidante e tonificante, que mantém a pele jovem e elástica. Além disso, previne problemas
cardíacos, ajuda a perder peso e combate ainda o estresse. Jornal de Notícias - O vinho como terapia jn.sapo.pt
acessado em /2006/03/08.
89
Cita o mesmo entrevistado que “a grande diferença entre a Casa Valduga e a Miolo,
é que o enoturismo para a Casa Valduga é o principal negócio, na Vinícola Miolo, o grande
negócio é a elaboração de vinhos e derivados.” (MIOLO,2008).
O enoturismo pode ser a grande saída para as pequenas empresas, visto que a nível
nacional e internacional cada vez é mais difícil chegar ao mercado consumidor,
devido aos custos logísticos de locomoção e de vendas. Manter uma estrutura
comercial no mundo é muito elevada e no Brasil é mais alta ainda. (MIOLO, 08).
90
O Napa Valley (USA) recebe 3,5 milhões de turistas ao ano, um trabalho feito a 30
– 40 anos atrás, as empresas estão totalmente voltadas ao enoturismo, e as vendas
de seus produtos ao visitante é o foco principal. Na França o enoturismo é visto
como bom negócio para os hotéis, pousadas e restaurantes, as vinícolas enxergam
o enoturismo como uma ferramenta para promover seus produtos, não como
negócio. (MIOLO, 08).
Relata Paulus (2008), quais foram as primeiras vinícolas a receber os turistas no Vale
dos Vinhedos, tendo como atrativo inicial a enogastronomia: “No final de 1991, já estão
constituídas a Miolo, Casa Valduga, e a Vinícola Cordelier, depois surge a Don Laurindo,
com a enogastronomia, pouco tempo depois fica somente com a parte de vinhos”. (PAULUS,
2008).
Conforme a mesma entrevistada surgem no Vale uma empresa que oferece outros
tipos de produtos alternativos e uma nova geração de vinícolas que se destacam com uma
visão diferenciada de mercado:
Paulus (2008) ainda cita as empresas que compõem essa nova geração e a sua visão
de mercado:
A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri,
Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis. Enquanto a
Miolo e a Casa Valduga, procuravam mercados internacionais, as pequenas
vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. (PAULUS, 08).
Conforme Dal Pizzol (2008), o visitante que chega para conhecer nossa região não se
limita somente em conhecer vinhos ele procura outros atrativos: “o turista valoriza não só o
91
vinho, mas o entorno da vinícola, a natureza e a gastronomia que também fazem parte da
cultura do vinho”. (DAL PIZZOL, 2008).
A crise vinícola que surge na década de 1990, abala o setor na Região Uva e Vinho e
faz surgir uma entidade no Vale dos Vinhedos voltada à divulgação do enoturismo.
Conforme Michelon (2008) surge a Aprovale em 1995, que deu maior notoriedade à
região, em termos de enoturismo. Seus fundadores deram maior atenção aos vinhos finos, as
vinícolas do Vale dos Vinhedos se diferenciam das demais da região com a elaboração dos
vinhos provenientes de uvas nobres e com o enoturismo. “Isto deu certo, a partir daí surgiram
outras entidades com objetivos idênticos em outros municípios da região”. (MICHELON,
2008).
Milan (2008) concorda com as palavras de Michelon (2008), que a crise no setor de
vinhos, fez surgir a APROVALE em 1995. Os problemas no setor vitivínicola, nos anos de
1995 a 1997, sobretudo agravados pela crise econômica da Aurora, fizeram com que os
produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começassem a ganhar
espaço no mercado nacional.
Atualmente 32 vinícolas são associadas à Aprovale e cinco ainda estão fora dessa
associação. Conforme o mesmo entrevistado, a associação, vem trabalhando em campanhas
voltadas ao enoturismo no Vale dos Vinhedos, tendo quatro (04) objetivos fundamentais:
desenvolvimento do vinho, espaço físico e meio ambiente, enoturismo e desenvolvimento
sócio-cultural e Indicação Geográfica.
Não podemos esquecer da Aurora e da Salton. Estes investem forte [...], em seus
locais é possível encontrar história, tradição e trabalho em conjunto, não esquecer
também da Rota Caminhos de Pedra, e Pinto Bandeira e Faria Lemos com suas
paisagens e seus vinhos, formando um grande pacote enoturístico, fazendo com
que o visitante permaneça mais tempo na região. (MILAN, 08).
93
Conforme Valduga, V., (2008), ele mesmo realizou uma pesquisa, tendo como foco
central investigar se a Indicação de Procedência tinha sido definitiva para o desenvolvimento
do Enoturismo no local, ou se tinha que considerar todo o processo histórico anterior e se tudo
isso tinha contribuído de alguma forma para o fortalecimento endógeno do Vale dos
Vinhedos.
Por sua vez Milan (2008), relata as preocupações do Plano Diretor do Município em
relação ao Vale dos Vinhedos com o futuro:
As vinícolas do Vale dos Vinhedos sabem elaborar bons vinhos, mas isso não é tudo,
segundo o mesmo entrevistado:
Ferreira(2008), concorda com a idéia de Milan (2008) e reforça dizendo tendo como
foco de sua opinião Garibaldi: “Ainda hoje, falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a
aprender, pois temos clientes, produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram
trabalhar nos fins de semana e feriados.” (FERREIRA, 2008).
O mesmo entrevistado fala sob a nova visão dos cursos no mercado: “Atualmente
com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos interessados pela
FISUL, é um bom início, para criar um novo conceito de estratégica de mercado,
principalmente no atendimento e na hospitalidade.” (FERREIRA, 2008).
O Vale dos Vinhedos proporciona muito mais que vinhos e espumantes aos
visitantes, conforme Milan (2008) relata:
O passeio, por diversos fatores foi encerrado no mesmo ano, diante disso, Clacir
Romagna toma a iniciativa de falar com Tarcisio Michelon, (empresários do turismo) para a
reativação do trem, mas com um novo percurso iniciando em Bento Gonçalves, passando por
Garibaldi a Carlos Barbosa. A união entre a iniciativa privada e Poder público dos três
municípios, inicia-se a negociação em novembro de 1992, e em cinco de junho de 1993 foi
realizada a viagem inaugural. Desde então o trem Maria Fumaça - Uma Volta ao Passado - se
mantém como um dos produtos de maior atração turística da Região Uva e Vinho.
(ATUASERRA, 2001).
mercados consumidores, para onde era comercializado em barris. “[...] isso fez que fossem
criados laboratórios enológicos destinados a fiscalizar os nossos vinhos [...]” (RODRIGUES,
1972, p.45).
Bellini (2008) corrobora com Rodrigues (1972), em sua opinião, o enoturismo nasce
em Garibaldi nos ano de 1913 com a primeira festa alusiva à uva, graças ao intendente
Affonso Aurélio Porto, que buscava saída para a crise do setor vitivinícola, tentando moralizar
o vinho gaúcho:
Fitarelli (2008) e Romagna (2008)50 afirmam que, em 1986, houve uma preocupação
muito grande com o turismo no município de Garibaldi. Os turistas que visitavam a região
muito pouco entravam na cidade. Os lugares mais visitados eram o Esqui e a Maison
Forestier, depois seguiam para outros municípios, em Bento Gonçalves visitavam a
Cooperativa Aurora e o Dreher ou para Caxias do Sul. “Garibaldi era um corredor de
passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos hotéis da cidade, preferia os
hotéis das cidades vizinhas.”(FITARELLI, 08).
Por sua vez Romagna (2008), tenta classificar o tipo de turismo que acontecia antes
de 1986. Em suas palavras: “[...], até então tínhamos um tipo de turista se podemos classificá-
lo como turista de passagem”. (ROMAGNA, 2008).
Um projeto foi elaborado para atrair esse público à cidade. Este projeto tinha como
meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi, tombar prédios, revitalizar toda a cidade, mas
isto não foi suficiente, “Garibaldi tinha mais coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além
da Maison Forestier (esta foi até então a única vinícola voltada para o recebimento de turistas
em Garibaldi), e o Esqui voltado para público jovem, ambos situados na RST 470.”
(ROMAGNA, 2008).Segundo o entrevistado:
50
Entrevista concedida no dia 03/08/08.
99
Romagna (2008), Milan (2008), Girondi (2008), Sganzerla (2008) e Fitarelli (2008),
concordam que o Esqui foi um grande centro de atrações de jovens, visitantes do Brasil
inteiro. Depois do encerramento de suas atividades, restou uma lacuna junto ao público
jovem.
Paulus (2008) reforça a idéia, citando que a primeira pesquisa qualitativa51 realizada
pela Atuaserra, em novembro de 1997, durante os três dias do Festival de Turismo de
Gramado, no qual foi a mentora desta investigação, relata que foram ouvidas 1.507
entrevistados vistos como possíveis potenciais turísticos para a Região Uva e Vinho, aonde o
esqui chegou a ser votado como a segunda maior atração da Região Uva e Vinho perdendo
apenas para o trem Maria Fumaça de Bento Gonçalves. Inicialmente as questões conduziam
aos atrativos que os pesquisados tinham acesso/conheciam da Região Uva e Vinho. A ordem
foi essa:
1. Maria Fumaça
2. Sky de Garibaldi
4. Caminhos de Pedra
5. Vinícolas de Garibaldi
6. Vinícola Aurora
51 Essa pesquisa visou identificar as principais carências mercadológicas da Região Uva e Vinho, e que nos
diferenciavam de outros destinos turísticos.
100
8. Belezas Naturais
já havia restaurantes especializados nessa área, o Restaurante Pão Queijo e Vinho (hoje o
Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga eram os que mais se destacavam, aqui até então, era
deficiente”. (SGANZERLA, 2008).
[...] devido ser pouca desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos
especiais ou diferentes, apenas os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e
algumas variedades de massas. O Hotel Casacurta foi uma exceção, outros
restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica, eram muito pobres e simples
demais. (FITARELLI, 08).
Concordam Dal Pizzol (2008), Sganzerla (2008), Romagna (2008) e Paulus (2008)
que a Maison Forestier, provavelmente, foi a primeira empresa vinícola a preparar um local
102
onde o enoturista podia visitar o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma condução mais
abrangente, que fazia parte de uma atividade ligada a cultura do vinho.
De acordo com Dal Pizzol (2008) a Maison Forestier foi totalmente planejada para o
recebimento dos visitantes, o enoturismo não nasceu ao natural, assim como nas demais
vinícolas da região, como relata em sua entrevista:
Conforme Dal Pizzol (2008) e Sganzerla (2008) uma nova estrutura de recepção da
Forestier ficou concluída em 1985, o objetivo era de receber e abrigar autoridades e pessoas
importantes (Vips). Uma casa foi construída tendo uma sala de negociações e três suítes que
abrigaram ministros, governadores e secretários de estado.
O seu local, junto a RST 470, favoreceu muito o fluxo de turistas. Lembra Dal
Pizzol (2008) do avançado projeto do empreendimento “[...] era uma vinícola moderna, com
equipamentos de última geração. No seu interior, tanques de aço inoxidável eram utilizados
para elaboração e armazenamento dos vinhos.” (DAL PIZZOL, 2008).
Esta observação foi sentida, também, na reação dos turistas, que sentiam a
ausência das tradicionais pipas. Mais tarde, construíram uma adega feita de pedras, de estilo
rústico, com seu ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, um palco para
apresentações artísticas e uma linda sala de confraternização. Um ambiente de cantina na
103
concepção da época e da região, que foi muito bem aceito pelos visitantes. (DAL PIZZOL,
08).
A população local deve ser consultada, para saber se os habitantes locais querem que
Garibaldi seja turístico ou não. Caso queiram, a comunidade deve ser preparada,
temos que educar nossas crianças desde o ensino fundamental até no nível secundário,
preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar bem os
turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser
preparadas para orientar os alunos. (GIRONDI, 08).
A união da rota Estrada do Sabor com a rota Vale dos Vinhedos e Monte Belo do Sul,
através de boas estradas pavimentadas, aliadas a bons empreendedores e profissionais
especializados em enoturismo, tudo se completará originando um grande centro de
atendimento enoturístico do Brasil. (MILAN, 08).
104
A maioria dos produtores de uva do município fornecia sua produção para esta
cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua produção de uvas à Aurora,
devido à grande crise de 1995, que abalou aquele estabelecimento, resolveram
investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e legalizando os mesmos.
(ZANELLA, 08).
52
Entrevista concedida em 03/08/08.
105
Sul, existe uma localidade denominada Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive
apreciável numero de velhinhos, em sua maioria, quase totalidade, descendentes de colonos
imigrantes [...]”. (VERANÓPOLIS, 2008).
Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como
apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos
explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da
Organização Mundial de Saúde - OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e
terceira no mundo”. A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso,
atingiu renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só
municipal, mas regional (VERANÓPOLIS, 2008). Esta constatação também se relaciona ao
enoturismo, visto estar atribuída a longevidade ao consumo regular do vinho.
Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a vinda de
turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem trabalhando com
outros roteiros, comenta Zanella (2008):
Veranópolis está despontando cada vez mais como um grande potencial enoturístico,
o mais importante, a comunidade local esta inserida nesta idéia. Graças ao apoio do poder
municipal que através de medidas e parcerias vem destacando o município no cenário
nacional e como grande centro turístico.
Sua bela localização, clima agradável, bela paisagem formada por vales, montanhas,
rios e pontes, vinícolas novas, aliadas a boa hospitalidade, a cada ano vem incrementando
novos diferenciais turísticos e novos empreendimentos de atração turística.
106
Celebrar a vindima: esse era o objetivo da primeira festa agrária realizado em Caxias
do Sul, na década de 30. O dia 07 de março de 1931 foi marcado por uma exposição discreta e
elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro (esquina Visconde de Pelotas com a
Sinimbu). Quem está acostumado com carros alegóricos desfilando pelas ruas de Caxias,
confraternizações festivas e bailes de gala, que representam a festa de hoje, ficaria surpreso
em visitar a cidade nesta data.
No dia 05 de março de 1932, aconteceu a II festa da uva com o tema “Mais Brilho e
o Primeiro Corso Alegórico”. Sob a direção da associação dos comerciantes de Caxias, essa
segunda edição aconteceu na Praça Dante e contaram com um desfile de alegorias sobre
rodas, puxadas por juntas de bois ou cavalos, representando a produção de algumas colônias
da região.
Em sua 5ª edição, aconteceu um belo desfile de carros alegóricos, mas não houve a
escolha da rainha. Foi nesta festa que aconteceu a inauguração da fonte luminosa no centro da
Praça Dante. Em 1938 a 1949 novamente as celebrações foram interrompidas. Mais uma vez
a Festa da Uva não foi realizada, porém, desta vez, o motivo foi a segunda grande guerra, que
trouxe instabilidade interna, afetando profundamente a Região Colonial Italiana.
visita do Presidente Jânio Quadros e de sua esposa, Eloá, foi o ponto forte no dia da
inauguração da festa, em 27 de fevereiro, recebido pelo Governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola. Foi nesta data, também, que ele determinou o asfaltamento da BR/2 (atual BR
116). Outra presença marcante nos festejos foi a Miss Brasil, Gina Mac Pherson, que vestiu
trajes típicos italianos.
Em 1965 o evento teve como tema “Maior evento do gênero na América Latina”.
Esta festa foi presidida por Ottoni Minghelli, que já liderara o certame em 1937. A X Festa da
Uva teve como rainha Silvia Celli. O Presidente da República, Humberto Castello Branco,
participou intensamente dos festejos. Neste ano, a Festa da Uva e a Feira Agro-Industrial
foram consideradas o maior evento no gênero na América do Sul, com cerca de 300 mil
visitantes. Não era uma festa somente da cidade, mas de toda a região.
Em 1969 o evento teve como tema Corso Noturno. Lívio César Gazola foi eleito,
pela Comissão da festa, para presidir a XI Festa da Uva, que começou no dia 22 de fevereiro
de 1969. A rainha, escolhida por um júri composto por 14 pessoas foi Elizabeth Maria
Menetrier. A grande inovação da festa foi o corso noturno, com carros alegóricos iluminados.
Desfilaram carros alegóricos financiados por embaixadas estrangeiras (Itália, Espanha e
Japão). Houve também o Congresso de Literatura, Encontro Interestadual de Apicultores e
Simpósio Internacional de Viticultura e Enologia. O encerramento oficial da festa contou com
a presença do presidente Costa e Silva.
Em 1972 o evento teve como tema Festa da Uva. A década de 70 marcou o auge da
indústria metal-mecânica na cidade. A festa tradicional não poderia mais continuar sendo
comunitária; tinha que se tornar um empreendimento organizado. O âmbito da festa de 72 foi
sensivelmente ampliado e a presença das autoridades nacionais foi maciça. O Presidente
Médici inaugurou a festa e o Ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, caxiense,
inaugurou aqui a TV em cores no Brasil, durante o corso do dia 19 de fevereiro. Pela primeira
vez, a festa foi registrada em cores, pelas câmeras de televisão. A rainha escolhida foi
Margareth Trevisan e o presidente foi Mário Bernardino. A partir desta Festa, algumas
mudanças estruturais que se faziam necessárias na organização do evento começaram a
acontecer. A transferência dos pavilhões de exposições da Rua Alfredo Chaves para a Rua
Ludovico Cavinato começou nesse ano. Em 12 de fevereiro de 1974, a Sociedade Civil
Comissão da Festa da Uva foi transformada em Festa da Uva Turismo e Empreendimentos
S.A e, em 31 de março, foi inaugurada a TV Caxias, canal 8.
109
Em 1975, o evento teve como tema ‘100 anos de imigração.” A Festa foi, também,
uma celebração do centésimo ano decorrido desde a povoação do nordeste do Estado pelos
imigrantes. O presidente da festa foi Humberto Bassanesi, contando com o apoio dos
governos federal, estadual e municipal. Nesse ano, além da escolha da Rainha da Festa da
Uva, tendo como eleita Roxane Torelli, foi feita a escolha da Rainha do Centésimo, contando
com candidatas de diversos municípios da região. A vencedora foi a representante de Caxias,
Tânia Slongo.. A presença do presidente Geisel foi muito marcante para todos os caxienses.
Em 1978, o evento teve como tema “Réplica de Caxias”. A XIV Festa da Uva foi
presidida por Flávio Ioppi. A obra mais marcante de sua gestão foi a construção da réplica de
Caxias 1885, na área do Parque de Exposições. A rainha da festa de 78 foi Ana Méri Brugger.
O Presidente Geisel retorna a Caxias para visitar a festa, renovando as emoções da festa
anterior. Uma escola de samba do Rio de Janeiro homenageou a imigração italiana, ajudando
a difundir a festa.
Em 1984, o evento teve como tema “Volta às Origens.” O êxito da festa anterior
levou seus organizadores a prosseguirem no resgate das tradições italianas, para que o evento
da feira agro-industrial não diminuísse o brilho da festa. Mas o evento coincidiu com o auge
da recessão econômica. O presidente da XVI Festa da Uva foi o Sr. Mário David Vanin e a
rainha eleita foi Marisa Dotti.
Em 1986, o evento teve como tema “55 anos de Festa.” Com a retomada do
crescimento, se decidiu realizar a festa de dois em dois anos, sendo inaugurada em fevereiro
de 1986, com a presença do presidente José Sarney. O presidente Mário Vanin voltou a dirigir
os festejos em 86. A rainha eleita foi Silvia Slomp.
Em 1989, o evento teve como tema “A maior Festa do Século.” A Festa de 1989
coincidiu com o auge da escalada inflacionária. O presidente Sarney decidiu não comparecer
ao evento, deixando o governador Pedro Simon ouvir as reclamações dos agricultores e dos
operários contra a política econômica do governo. O Presidente da festa de 89 foi Luiz
110
Zamboni Neto. Uma das atitudes mais marcantes foi ter fomentado a memória histórica da
festa. Calcula-se que 400.000 pessoas percorreram os pavilhões durante os dias do evento. A
rainha da XII festa foi Deliz De Zorzi.
Em 1991, o evento teve como tema “XIX Festa da Uva.” Para aumentar o público, a
Festa incluiu novas atrações, como espetáculos musicais gratuitos, contribuindo para trazer as
pessoas das cidades vizinhas, que se voltava contra o seu artificialismo. O presidente da festa,
Alexandre Wisintainer, a rainha, Catiana Rossato, e as princesas, Joane Schüller e Flora
Magnabosco, percorreram várias cidades do país, divulgando a Festa da Uva. A festa de 91
não contou com a presença do Presidente da República, o Sr. Fernando Collor.
Com o tema "Uma história que vem de longe", a Festa da Uva de 1994 foi presidida
por Flávio Ioppi. Neste ano, a Sociedade Civil Comissão Festa da Uva foi reativada para a
organização da festa. O presidente da comissão foi Sr. Nestor Perini. A Rainha de 94 foi
Cristina Briani, tendo como princesas Carine Pozzenato e Fabrícia Fedrizzi. A visita do
Presidente da República, Sr. Itamar Franco, aconteceu na abertura da festa, juntamente com o
Governador do Estado, Sr. Alceu de Deus Collares.
Em 1996, o evento teve como tema “A América que nós fizemos.” A festa de 96 foi
um mega-evento que celebrou os 120 anos da imigração italiana. Houve grandes atrações
paralelas: corso alegórico, distribuição de 250 mil quilos de uvas, espetáculo Som & Luz.
Além disso, a Festa da Uva foi tema no desfile da escola de samba Vila Isabel.
O presidente da empresa foi o Sr. João Flávio Ioppi e o presidente da Comissão Comunitária
foi o Sr. Nestor Perini. A rainha eleita foi Srta. Patrícia Horn Pezzi, e as princesas, Márcia
Maróstica e Valéria Weiss.
Em 1998, o presidente da empresa Festa da Uva foi o Sr. José Carlos Monteiro e o
presidente da Comissão Comunitária foi o Sr. Ricardo Golin. A rainha eleita foi Patrícia Roth
dos Santos, e as princesas, Alessandra Kuhn Marta e Letícia Bachi Mazzochi. O tema
escolhido foi "A Festa das Festas”. A inauguração da XXII Festa da Uva foi feita pelo Vice-
Presidente da República, Marco Maciel; pelo Governador do Estado, Antônio Britto; Ministro
da Agricultura, Francisco Dorneles e pelo Prefeito de Caxias do Sul, Gilberto Pepe Vargas.
Em 2000, o evento teve como tema “O trabalho e os dias de um povo. Venha ver e
festejar.” A Festa da Uva de 2000 aconteceu com o objetivo de marcar o novo milênio. Os
presidentes foram o Sr. José C. Monteiro, presidente da empresa, e o Sr. Ricardo Golin,
111
presidente da Comissão. A escolha da Rainha e das princesas foi uma grande festa, marcada
por shows regionais. As escolhidas foram: Fabiana Bressanelli Koch, como rainha, e Henriete
Caldas Vaccari e Vanessa Slavieiro, como princesas.
A Mulher Imigrante foi o tema da 24ª edição, que ocorreu entre 15 de fevereiro a três
de março de 2002. O presidente deste ano foi Sr. Valter Agostinho Minuscoli. A Rainha eleita
foi Juliana Marzotto e as princesas foram Fernanda Frigeri e Adriana Corso.
Em 2004, o Sr. Ovídio Deitos presidiu tanto a Comissão como a Empresa Festa da
Uva. A rainha foi Priscila Caroline Tomazzoni, e as princesas, Greice Demoliner Tedesco e
Victoria Titton De Carli. A XXV Festa Nacional da Uva teve como tema central a terra e os
produtos do trabalho do homem no seu cultivo. Através das palavras "Terra, pão e vinho", a
festa prestou uma homenagem aos imigrantes de todas as origens - em especial aos italianos
que - chegaram ao Estado no século XIX em busca de terra e ao fruto do trabalho do cultivo
do solo.
Em 2006, aconteceu a 26ª Festa da Uva, contou com Gelson Palavro como
presidente, que organizou, juntamente com as comissões, uma belíssima festa responsável por
um público de quase 900 mil pessoas. Nessa festa, como o tema “A alegria de estarmos
juntos,” foi celebrada a união de todos os povos, tendo toda a beleza da região representada
pela rainha, Julia Brugger de Carli, e pelas princesas, Marcela de Fátima Bertussi e Natália
Menegat Vanzin.
Em 2008, o evento teve como tema Uma vez Imigrante para Sempre Brasileiro. A
27ª Festa da Uva encerrou no dia 9 de março, contou com a presença de aproximadamente um
milhão de visitantes. A atual rainha é a jovem Andressa Grillo Lovato e as princesas Paula Da
Costa Taddeucci e Vanessa Susin. A próxima festa esta prevista nos dias 18 de fevereiro a
sete de março de 2010. (Festa Nacional da Uva, 08).
112
Festa de Abertura da Vindima. O evento, que está em sua 5ª edição, marca o início da
colheita da uva na serra gaúcha. Os parreirais de Monte Belo do Sul são um dos protagonistas
do desenvolvimento econômico, social e cultural do Rio Grande do Sul. Desde a colheita até
o vinho, cultivam-se hábitos, nascem histórias, surgem cantos, fluem emoções. E, tanto
quanto a produção propriamente dita, a colheita da uva também foi se incorporando
juntamente com a cultura regional como uma importante tradição do Rio Grande do Sul.
De acordo com o Padre Darci Bortolini (2008), “o vinho novo, que é elaborado com
uva da última safra, é considerado símbolo da fertilidade, da longa vida, revigorante dos
fracos e a alegria dos festeiros que no fim da festa está presente no sorriso, no canto, na
poesia, no sangue e no vigor”, salienta.
Na Festa do Vinho Novo, os turistas podem degustar os primeiros vinhos resultado das
uvas colhidas nos meses de fevereiro e março, visto que a festa geralmente ocorre no mês de
julho. A festa reúne 14 comunidades do local, além do vinho novo, os turistas encontram a
farta culinária de origem da imigração italiana no Brasil, ao som de grupos típicos e
apresentação de danças. Nas ruas do distrito, o visitante pode conhecer a história da
colonização, através de desfiles de carros alegóricos temáticos. Olimpíadas coloniais fazem
parte desta festa, além dos torneios de bocha e outros jogos. (SERRA GAÚCHA, 08). Edições
das Festas do Vinho Novo ocorreram em:
O Rio Grande do Sul passa a comemorar a partir desta década dois dos seus mais
importantes produtos: o vinho e o espumante fino brasileiro. Através desta iniciativa, além de
estimular a cultura e o consumo desses produtos, contribui para o impulso e desenvolvimento
do enoturismo no Estado.
119
A primeira celebração da data, contou com ampla programação. Na Serra Gaúcha, isto
se deu através de eventos nas praças centrais das cidades, abertura de vinícolas à visitação e
oferta de produtos com preços promocionais em estabelecimentos diversos, entre outras
ações. Em Porto Alegre, encenação da chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do
Sul, no Cais do Porto, assistida por autoridades e convidados, marcou oficialmente o Dia do
Vinho. Também na região metropolitana da Capital, churrascarias e restaurantes associados à
Irmandade dos Italianos ofereceram sua carta de vinhos com valores promocionais.
O Dia Estadual Do Espumante Fino Brasileiro – Foi instituído em 2005, pela Lei nº
12.330, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do sul, sendo o dia 22 de outubro, festejado
juntamente com o Dia do Enólogo. Este projeto foi encaminhado pela Deputada Estadual
Maria Helena Sartori. O projeto tem como objetivo valorizar o espumante fino brasileiro,
120
através de data especial, e promover o mesmo. O projeto foi sugerido pela Confraria do
Champanhe da Serra Gaúcha. (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 08).
121
10 CONCLUSÃO
Assim, pois, o Enoturismo brasileiro pode ser considerado jovem, não chega a
completar um século de atividade. Pode-se dizer que é mais recente ainda sua
representatividade econômica. É de suma importância ressaltar que, mesmo nos países que
apresentam mais de mil anos em tradições vitivinícolas, o enoturismo somente nas últimas
décadas vem conquistando espaço no segmentado setor turístico. No Brasil, mais
especialmente na Região Uva e Vinho, o Enoturismo demonstrou importante evolução. As
oportunidades surgem e os empreendedores estão aproveitando o momento para crescer
juntos. As informações adquiridas para o desenvolvimento do trabalho permitiram esclarecer
algumas considerações, embora limitadas, uma vez que houve um corte no número de
entrevistados e na área geográfica.
Resulta desta maneira, de informações que puderam ser absorvidas no período e que
confirmam o destaque do Enoturismo, sua maneira de interferir no desenvolvimento de uma
região, contribuindo com o surgimento de associações, festas alusivas a uva e ao vinho,
instituições de ensino, serviços de profissionais qualificados e, sobretudo, o incremento
socioeconômico, cultural na região Uva e Vinho. Atualmente, o Enoturismo incorpora um
cenário potencializado dado a sua importância para inúmeras empresas que trabalham nesse
segmento e, para a comunidade local, que dele dependem para sua sustentabilidade e registro
de memória coletiva. Percebe-se que a região estudada tem vocação para o Enoturismo,
justificado através das raízes culturais e certamente, pela hospitalidade local, que evidencia a
preocupação com o bem receber, traduzindo-se em uma cultura hospitaleira.
Conforme Paulus (2008), para uma região ser considerada turística, esta deve contar
com infra-estrutura de aporte, ou seja, a união da hotelaria, transporte e gastronomia. Diante
disso podemos afirmar que a Região Uva e Vinho atinge seu auge turístico no período de
1920 a 1940. O cenário do modelo turístico (veraneio) apresenta sinais de declínio a partir dos
anos 50, se agravando nos anos 70, quando a região passa a obter um crescimento industrial e
deixa a atividade do turismo de veraneio para um segundo plano. O reposicionamento da
atividade turística ocorre a partir da década de 80, tendo como principal modelo turístico na
região o Enoturismo.
122
E como terceiro aspecto relevante do estudo, o destaque é dado aos vinhos finos e,
conseqüentemente, a região começa a ser reconhecida como importante produtora. Portanto, a
conquista da Indicação de Procedência passa a ser vista como uma ferramenta de marketing.
Mas não resta dúvida que a Indicação de Procedência solidifica uma nova fase para o
Enoturismo brasileiro, especialmente pelo diferencial de seus produtos, cercados por um
mercado contemporâneo e globalizado.
REFERÊNCIAS
ANSARAH, Marília Gomes dos Reis. Turismo: como aprender, como ensinar. São Paulo:
SENAC, 2001.
BASSO, Vlademir João. Histórico do Bela Vista Parque Hotel. [dez. 2008]. Entrevistador:
Carlos Miguel Carraro. Bento Gonçalves: entrevista concedida por telefone no dia 23 de
dezembro de 2008.
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: SENAC, 2004.
124
BONATTO, Mari Stella R. e MAFFEI, Daiane. Trabalho das três classes de atrativos
turísticos. Garibaldi, 2006.
BRANDELLI, Lucindo. História da I Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves. [09 ago.
2008]. Entrevistador: Carlos Miguel Carraro. Bento Gonçalves: gravação própria, 2008. 01
cd.
BRANDELLI, Zélia C. História da I Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves. [09 ago.
2008]. Entrevistador: Carlos Miguel Carraro. Bento Gonçalves: gravação própria, 2008. 01
cd.
COSTA, Rovílio. As colônias italianas Dona Isabel e Conde d’Eu. Porto Alegre: Est, 1999.
DAL PIZZOL, Rinaldo. A história da uva e do vinho no Rio Grande do Sul – I Revista do
vinho, Bento Gonçalves, v.1, n.4, jan./fev. p.26 – 29, 1988.
125
DAL PIZZOL, Rinaldo. História do Enoturismo na Região Uva e Vinho e da Vinícola Dal
Pizzol de Bento Gonçalves. [10 set. 2008]. Entrevistador: Carlos Miguel Carraro. Bento
Gonçalves: gravação própria, 2008. 01 cd.
DIA ESTADUAL DO VINHO. No Rio Grande do Sul o vinho tem o seu dia. Disponível
em: <http://www.diaestadualdovinho.org.br/>. Acesso em: 08 set. 2008.
DUARTE. José Bacchieri. Centenário da migração italiana no Rio Grande do Sul 1875-
1975. Centenario dell’immigrazione italiana. Porto Alegre: Edel, 1975.
FÁVERO, Ivane Maria Remus. Políticas de turismo: planejamento na região uva e vinho.
Caxias do Sul: Educs, 2006.
FLORES, Hilda. Hübner. Turismo no Rio Grande do Sul: 50 anos de pioneirismo no Brasil.
Porto Alegre: Edipucrus, 1993.
HALL, Colin M. Et al. (Org.). Wine tourism around the world: development,
mamnagement and markets. Oxford: Elsevier, 2004.
HALL, Michael. Wine tourism. Tradução dos principais pontos do texto. Guilherme C.
C.Del Porto Petrilli. Garibaldi, 2007.
LETHBRIDGE, Tiago. O homem que não entendia de vinho. Revista Exame, São Paulo, p.
62-65, 12 nov. 2003.
LOCKS, Eliza Bianchini Dallanhol, TONINI, Hernanda. O vinho como produto turístico.
Correio do Povo, Porto Alegre, 07 set.2004.
MAC NEIL, Karen. A bíblia do vinho. Tradução: Laura Alves e Aurélio Rebello. Rio de
Janeiro: Ediouro, 2003.
128
PACHECO, Aristides de Oliveira. SILVA, Siwva Helena. Vinhos & Uvas: Guia
internacional com mais de 2.000 citações. São Paulo. SENAC. 2005.
PHILLIPS, Rod. Uma breve história do vinho. Rio De Janeiro. Record: 2005.
RAZADOR, Leonir. Povoadores e história de Monte Belo do Sul. Porto Alegre: Suliani,
2005.
REETZ, Erna. Anuário Brasileiro da Uva e do Vinho. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa
Cruz, 2004.
RODRIGUES, Jimmy. Subsídios para a história da uva e do vinho. Caxias do Sul: Educs,
1972.
SERRA GAÚCHA, revista. Bento Gonçalves. Festa do Vinho Novo. p 12, Maio, 2008.
SOUSA, Julio Seabra Inglez de. Uvas para o Brasil. Piracicaba: FEALQ, 1996.
SOUZA, G.S.de. Tratado descritivo do Brasil em 1587. São Paulo: Nacional. 1938.
SPLENDOR, Firmino. Vinhos e licores: degustação e serviço. Caxias do Sul: Educs, 2007.
131
VALDUGA, João. História da Casa Valduga e do Enoturismo no Vale dos Vinhedos. [25
set. 2008]. Entrevistador: Carlos Miguel Carraro. Bento Gonçalves: gravação própria, 2008.
01 cd.
VALDUGA, Vander. História do Enoturismo no Vale dos Vinhedos. [06 ago. 2008].
Entrevistador: Carlos Miguel Carraro. Bento Gonçalves: gravação própria, 2008. 01 cd.
A Miolo foi inaugurada 1989, sua primeira safra foi realizada em 1990. Foi uma
época marcada pela crise no setor vinícola, muito parecida com a atual, e muitos agricultores
não sabiam para quem entregar suas uvas. Nesta mesma época surgiram várias vinícolas como
a Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Don Laurindo, Vallontano e outras mais.
O enoturismo na Miolo aconteceu ao natural, ele foi tratado como uma maneira de
promover os vinhos, um método parecido naquele momento com o da Casa Valduga que
fazia jantares para os funcionários do Banco do Brasil que vinham a Bento Gonçalves realizar
treinamentos. Era tanta gente que vinha que foi fomentando as pequenas empresas a fazer o
mesmo trabalho dos jantares. [...], surgiu à idéia de criar uma hostearia no porão da casa, ali
foram realizados jantares de duas a três vezes por semana e ainda hoje é servido o mesmo tipo
de cardápio com comida colonial: galeto, polenta, sopa de capeletti e saladas. A hostearia
funcionava também como varejo, onde os visitantes podiam adquirir os vinhos, nesta época
não era ainda oferecida visitação no interior da vinícola. [...].
Com o passar dos tempos, percebeu-se que as vendas dos vinhos nos jantares eram
bem maiores do que nos mercados. A partir disso se estruturou melhor a hostearia e se
procurou trazer um fluxo maior de pessoas. Conseqüentemente aumentaram as vendas de
vinho. O próximo passo foi abrir uma sala de vendas na hostearia. Durante o dia o turista
tinha acesso à vinícola e depois adquiria os vinhos na hostearia. [...], o acesso ao Vale dos
Vinhedos era horrível, não existia asfalto e mesmo assim as pessoas vinham visitar. Como o
fluxo estava aumentando, houve a necessidade de abrir um varejo na vinícola e este foi
desenvolvido entre as próprias pipas de vinho.
Em 2001, a Miolo construiu um novo complexo de visitação, desta vez dentro de um
plano voltado ao enoturismo. Em 2002, foi inaugurada a nova sala de degustação e com
horários de visitação programados, [...]. Neste ponto o enoturismo passa a ser visto como
forte ferramenta de Marketing, o visitante passa a ter uma experiência positiva com a marca e
os produtos. Atualmente o enoturismo é responsável por 4% do faturamento total da empresa,
isto é muito importante, fazendo do próximo passo uma ampliação da estrutura de atrativos.
133
seu pólen passou a complicar o ar dos veranistas, que temiam que fizesse mal à saúde para os
que tinham problemas de brônquios, asmas ou difícil respiração. [...].
Os planos altos eram os recomendáveis para os veranistas se hospedarem. [...].
A Ponte Ernesto Dornelles, conhecida com Ponte do Rio das Antas e Ponte de
Veranópolis, através de sua arte projetou também o turismo na região, principalmente em
Bento Gonçalves. [...].
136
No final da década de 80, Tarcísio Michelon sugere a Casa Valduga uma experiência
nova, vender seus vinhos em garrafa, visto que este estabelecimento produzia vinhos finos e
os vendia em garrafão de 4,6 litros.
Uma vez por semana um grupo de funcionários de aproximadamente 60 pessoas era
enviado a jantar na Casa Valduga. Era uma época em que se discutia a privatização dos
bancos, e na ocasião o Banco do Brasil defendia uma idéia “nacionalista”, defendiam o
produto brasileiro. A experiência deu certo, os turistas acabavam levando vários produtos
além do vinho. A Dona Maria (matriarca da casa) fazia os pães, seu marido Luiz era uma
figura folclórica ele encantava os turistas com suas histórias.
Depois de oito meses aproximadamente a Miolo inicia um trabalho idêntico,
recebendo os turistas no porão da casa (hoje Hostearia Miolo) de chão batido.
No final de 91, já estão constituídas a Miolo e Casa Valduga e a Vinícola Cordelier
iniciando, depois surge a Don Laurindo com a enogastronomia, pouco tempo depois fica
somente com a parte de vinhos. [...]
A Adega Casa de Madeira, se posiciona com produtos diferentes, graspa, geléias e
sucos.
Em 1999 e 2000 surge uma nova geração de vinícolas a “Geração Atuaserra,”
empresas familiares profissionalizadas, onde seus empreendedores passaram a ter orientações
e treinamentos. A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri,
Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis.
Enquanto a Miolo e a Casa Valduga procuravam mercados internacionais, as pequenas
vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. [...].
O enoturismo é uma experiência completamente diferenciada, até hoje o melhor
produto de turismo que nós temos é o enoturismo, ele é sempre melhor qualificado, melhor
atendido, aponta de certa forma para uma possível enogastronomia. [...].
Enoturismo é a valorização do vinho, do espumante por pessoas que buscam através
de inúmeras experiências, descobrir o vinho ou espumante que mais agrada ao seu paladar,
junto com uma experiência vivenciada. Enoturismo é o desenvolvimento da cultura do vinho.
138
Lembra que ainda com oito anos de idade, turistas vindos principalmente de Porto
Alegre e região chegavam a Pinto Bandeira para veranear. Na grande maioria casais, a época
mais procurada era de dezembro a fevereiro. Hospedavam-se no Hotel Nichetti, [...]. O
Santuário de Nossa Senhora De Pompéia era também uma atração turística (Turismo
Religioso).
No ano de 1967, foi trabalhar na Dreher no atendimento ao turista, em Bento
Gonçalves nesta na época a Dreher já possuía um sistema de recebimento aos enoturistas,
iniciado no final da década de 50 inícios de 60. Nesta época os turistas eram recepcionados
na Adega Frau Lydia, criada especialmente para o atendimento dos visitantes. [...]. O
primeiro grupo a visitar a Dreher era oriundo de São Paulo, convidado em parceria com o
Hotel Atlântica (hoje Dall’Onder), este grupo foi conduzido por Nilson Vicenti, da
Panorama Turismo de São Paulo. Era composto por 36 pessoas, sendo a maior parte da
terceira idade. Estas pessoas viajavam como objetivo conhecer locais diferentes. [...].
Célio trabalhou na equipe de recepção dos enoturistas, esta equipe era composta por
mais quatro pessoas, atendiam todos os dias da semana, no domingo somente das 08h30min
às 12: horas. Isto na década de 70.
Estes turistas visitavam quase todas as dependências da empresa, engarrafamento,
recebimento das uvas, salas de vinificação e na Adega Frau Lydia era oferecido à
degustação dos produtos elaborados e os visitantes podiam adquirir os mesmos. Os turistas
ao visitarem a empresa podiam degustar os espumantes diretamente das autoclaves, coisa
inédita até o momento. Além das vinícolas os turistas queriam visitar toda a região, pois já
era famosa pelos outros atrativos locais ex: a Ponte de Veranópolis, a Estação do Esqui de
Garibaldi, o Vale do Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os
turistas ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do
Sul.
O esqui em Garibaldi contribuiu muito para atrair turistas na região, principalmente
público jovem. [...].
Após a venda da Dreher para a Heublein, passou a trabalhar na Forestier, juntamente
com Rinaldo Dal’Pizzol. No ano de 1981, desenvolveram um departamento de recepção
turística, os visitantes não só degustavam os produtos elaborados da casa, mas também
139
podiam conhecer toda a estrutura da empresa, assim como o plantio dos porta enxertos, as
mais de 20 espécies de videiras novas em estado de climatização e o minizoológico. O
turista era quase obrigado a conhecer todas as instalações da empresa. [...].
- Até 1981 recebíamos alguns turistas num local improvisado.
- 1985 foram construídas a Adega de Pedra, a hospedagem, onde políticos foram
recepcionados: presidente, deputados, senadores e outras autoridades importantes
do governo.
- 1985 a 1986 foram convidadas as empresas de turismo do Brasil inteiro (captação
de turistas), se destacando as empresas CVC, Soletur, Costa e a Inelvis de
Veranópolis. Recebemos todos os tipos de grupos, inclusive os turistas que
viajavam na região.
- No início da década de 90, num só dia de feriado de Carnaval, foi recebido 35
grupos de turistas.
- Em 1989 – 1990 foram recebidos 36 a 40 mil turistas ano.
- Em 1990 foram ministrados cursos de degustação de vinhos aos visitantes, estes
visitavam os vinhedos, a vinícola e recebiam explicações da elaboração dos
vinhos, no final recebiam um diploma, talvez os pioneiros em oferecer diplomas
aos visitantes.
Nessa época a maior porcentagem de visitantes viajavam de ônibus entorno de 75%,
e o restante de carro particular. Em 1991 foi construído o Restaurante da Fenachamp, cuja
atividade principal era atender os turistas que visitavam a região e manter o visitante aqui
por mais tempo. Em Bento Gonçalves já havia restaurantes especializados nessa área, o
Restaurante Pão Queijo e Vinho (Hoje o Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga.
Em 2001 Célio passa a trabalhar na Cooperativa Garibaldi, exercendo a mesma
função, trazer turistas do Brasil inteiro. Atualmente essa empresa é visitada por
aproximadamente 70 mil turistas ano, vindos principalmente de São Paulo e do Rio Grande
do Sul (Porto Alegre, Santa Maria), Rio de Janeiro, Santa Catarina e do Nordeste.
[...]. O enoturista representa 3 – 4% do faturamento bruto da empresa, sendo o varejo
o segundo maior cliente da Cooperativa Garibaldi. Ainda o vinho é o produto mais
procurado pelo enoturista, depois vem o espumante e o suco de uva. Os produtos orgânicos
vêm se destacando cada vez mais na procura do consumidor.
140
Na época em que era secretário de turismo de Garibaldi no ano de 1986, houve uma
preocupação muito grande com o turismo no município. Os turistas que visitam a região,
muito pouco entravam na cidade, os lugares mais visitados era a Estação de Esqui e a
Maison Forestier, depois seguiam para outros municípios. Em Bento Gonçalves a
Cooperativa Aurora e o Dreher eram as mais visitadas ou seguiam a Caxias do Sul.
Garibaldi era um corredor de passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos
hotéis da cidade, preferia os hotéis das cidades vizinhas.
Como se tratava de “turismo de passagem,” foi elaborado um projeto para atrair esse
público à cidade. Este projeto tinha como meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi,
tombar prédios, revitalizar toda a cidade. Mas isto não foi suficiente. Garibaldi tinha mais
coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além da Maison Forestier (esta foi até então a
única vinícola voltada para o recebimento de turistas em Garibaldi), e o Esqui voltado para
público jovem, ambos situados na RST 470. Elaborou-se um projeto junto as principais
vinícolas da cidade, George Aubert, Cooperativa Garibaldi, Martini e Rossi e Peterlongo, em
que constava que cada vinícola ficaria aberta num final de semana para receber os
enoturistas que chegavam aqui. O resultado do trabalho se deu em negociações com as
vinícolas, apresentando projetos, novas idéias, fazer as pessoas acreditar, ouvindo os
empreendedores e levar adiante esta filosofia de trabalho. A divulgação foi realizada nos
principais jornais gaúchos e nacionais e também em revistas. Havia um centro de
informações turísticas localizado anexo ao Posto do Avião (RST 470), por motivos de
segurança foi transferido para o Esqui. [...]. Neste local foi instalada uma placa de 10 m de
comprimento por 6 m de altura, nela constava o nome das vinícolas, horários e datas que
podiam ser visitadas. Os turistas olhavam e tomavam interesse em visitar. [...]. No início
algumas vinícolas reclamavam do pouco fluxo de turistas que as visitava, mas depois foi
normalizando com o tempo, e passou a dar certo.
Esta rota passou a ser chamada de “Roteiro de Visita às Vinícolas de Garibaldi”, e
este foi o início do enoturismo no município, descobriu-se o potencial deste segmento e este
foi trabalhado e tornado conhecido em toda a comunidade local, para melhor informar os
visitantes que ali chegavam. [...].
141
Lembra que o Esqui foi um grande centro de atrações para jovens, depois do
encerramento de suas atividades, restou uma lacuna vazia junto ao público jovem. [...].
A Fenachamp também teve destaque importante na divulgação do turismo em
Garibaldi. Lembra que na divulgação da I Fenachamp, a comunidade garibaldense colaborou
muito, inclusive algumas divulgações da festa foi realizada nos vidros traseiros dos carros,
com tinta spray. [...].
142
A Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves foi fundada em 1931, por 16 produtores de uva,
vinificaram aproximadamente 300.000 kg de uva, grande maioria de castas americanas. Hoje
com 77 anos de história são vinificados em média/ ano 50.000.000 kg de uvas, em 2008 foram
56.000.000 kg.
O enoturismo inicia no final da década de 60, mais precisamente em 67 com a
realização da I Fenavinho em Bento Gonçalves. Foi uma das primeiras vinícolas a abrir as
portas ao turista em Bento Gonçalves. Nesta época se visualizou que o enoturismo era uma
boa fonte de renda, geração de emprego, e uma boa forma de divulgação institucional dos
produtos. Percebeu-se que as pessoas que visitavam a empresa, acabavam levando uma
imagem dela e de seus produtos, isso fez que a emoção ficasse gravada na sua memória,
influenciando depois na escolha dos produtos.
Em 1967 foi o marco inicial, mas a década de 70 foi uma das épocas em que aconteceu
um aumento considerável de visitantes, tanto que o roteiro turístico de visitação era pequeno,
mas era suficiente para a ocasião, talvez metade do atual. Havia uma sala de degustação que
era uma pipa de vinho de madeira de 40.000 litros de capacidade, onde o visitante podia
entrar. O varejo era muito pequeno. Mas com o número de visitas aumentando
constantemente, no final dos anos 70, o ambiente foi reformado e criou-se um roteiro para
atender todos os visitantes que aqui chegavam. [...].
Em 1984, foi inaugurado um novo circuito turístico, este roteiro mostra os diversos
O ponto alto da visitação é a chegada a Cave di Bacco, que ainda existe sendo um dos
maiores sucessos da visitação. No local é oferecida degustação gratuita de toda a sua linha de
produtos. No varejo da empresa o turista tem a oportunidade de adquirir os produtos
degustados. Atualmente 150.000 turistas ano visitam este estabelecimento vinícola. Em julho
deste ano foram contabilizados aproximadamente 20.000 visitantes, sendo 2.000 visitantes a
143
mais do mesmo período anterior. (2007 crises no setor aéreo, agravado pela TAM). Uma
equipe de 25 atendentes todos devidamente treinados faz a recepção dos visitantes. [...].
Splendor escolheu numa propriedade da família Barbieri no município de Monte Belo do Sul,
que no início era denominado de filtrado doce. Este filtrado doce era elaborado com 100% de
uvas moscatéis e com três atmosferas de pressão e se denominava de Espumone. Era
extremamente rico, agradável, natural e muitas pessoas vinham provar, dar opiniões e ficavam
maravilhadas com a bebida, comentavam “os senhores não vão ter produto suficiente para
vender”. Mais tarde o filtrado doce é alterado com permissão do Ministério da Agricultura,
vindo a permite hidratar o produto até 50%. Lamento muito, isso fez modificar toda uma
realidade de um produto que nasceu bem e o tornou inviável, de qualidade inferior e acabou
sendo rotulado com produto de massa. O Dreher foi o pioneiro em elaborar esta bebida
maravilhosa, mas com a alteração do produto, caiu o consumo, pois esta alteração veio para
piorar e não para melhorar.
No ano de 1967, em função da I Fenavinho, a Dreher abre seu varejo para atender os
visitantes desta festa. Em 1970, o varejo se consolida com a criação da adega Frau Lidia
(nome da matriarca da família), e fica até o final de sua história. Esta adega era um lugar todo
especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita ao município,
sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega era feita em
arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira. Neste local os visitantes eram bem
recepcionados, se dava uma atenção toda especial e particular, era um ambiente de diálogo,
conversação, trocas de idéias e, sobretudo de receber opiniões.
Muitas pessoas ilustres visitaram a Dreher, o Presidente da República Castelo Branco
(em visita a I Fenavinho em 1967), governadores de estado, o Presidente Ernesto Geisel, os
jornalistas com destaque a Assis Chateuaubriaux, sendo que em homenagem de sua visita foi
lançado um vinho elaborado com uvas Cabernet Franc e Merlot, parte deste vinho
envelhecido em barris de carvalho, denominado “Velho Capitão”. Este vinho serviu como
projeção ao nome Dreher no cenário vinícola brasileiro em vinhos nobres. Na época a Dreher
tinha uma filial em Porto Alegre e outra na cidade do Rio de Janeiro, isto foi muito bom para
projetar o nome de Bento Gonçalves no ramo de visitação enoturística do Brasil. No início de
sua fundação, a Dreher teve que “importar” enólogos, pois não existia ainda a escola CEFET
de Bento Gonçalves que formava estes profissionais.
Nos primeiros anos (1965 - 1980), os visitantes que vinham a Bento Gonçalves eram
levados a conhecer a Ponte de Veranópolis (Ponte Ernesto Dornelles), era um ponto de
referência. A I Fenavinho atraiu muitos turistas, somente no início da década de 1980, nos
damos conta em dar atenção melhor aos visitantes passamos a mostrar mais o estabelecimento
149
vinícola, visto que antes só dávamos degustação dos produtos. [...], valorizamos mais o vinho
como fator cultural, místico para aportar e atrair o elemento humano. [...].
Atualmente o vinho e o espumante se tornaram patrimônio da nossa região e outros
mais produtos elaborados em pequena escala poderão ser incorporados ao patrimônio da
região: licores, sucos, artesanatos, graspa, e outros mais.
Depois da Dreher e da Vinícola Aurora surgiu um bloco de vinícolas pequenas, creio
que o mais feliz de todos os bentogonçalvenses, na época foi o Vereador Carlos Perizzolo,
este decide nomear de Vale dos Vinhedos, as terras que eram mais conhecidas como Colônia
Leopoldina, ou colônia dos Valduga, ou colônia dos Carraro que eram famílias que moravam
nestas terras e eram clientes da Dreher.
Com o desaparecimento da Vinícola Rio Grandense, mais o agravamento da
Cooperativa Aurora, tudo veio a aportar condições favoráveis para o crescimento das
pequenas empresas familiares, isto na década de 1985 - 1990, onde a Casa Valduga e a
Vinícola Miolo se destacaram mais, [...].
[...], enoturistas é toda aquela pessoa, além de visitar a região, de satisfazer o
organismo ou seu descanso espiritual ele vai buscar também a sede de uma nova cultura que
se chama vinho. A vindima também é um produto turístico, quantas pessoas se deslocam de
suas casas, cidades para vivenciar este acontecimento importante em nossa região?[...].
Investir nos jovens para que eles possam conhecer o patrimônio da região, porque quando os
mais velhos vão morrer quem vai beber vinho?[...].
150
Para a cidade ser turística a população local deve ser consultada, para saber se os
habitantes locais querem que Garibaldi seja turística ou não. Caso queiram, a comunidade
deve ser preparada, temos que educar nossas crianças no ensino fundamental até no nível
secundário, preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar os
turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser preparadas
para orientar os alunos. [...].
Garibaldi recentemente voltou a ter um planejamento turístico, e o turismo foi
trabalhado de forma séria juntamente com a população local. Ivane Fávero é uma grande
profissional, com visão em turismo, reuniu o Projeto das Vinícolas, o Projeto das Passadas e o
da Estrada do Sabor. Ela conseguiu também trazer a Garibaldi os ônibus da CVC, estes nunca
traziam turistas à cidade. Anterior a ela, somente no período do Romagha, quando este foi
Secretário de Turismo do Município. Ele se preocupou em trazer os enoturistas ao município.
[...].
Garibaldi é considerada a terra dos espumantes, mas a comunidade não sabe explorar
este potencial, quando as coisas estão caminhando, de repente pára tudo (referindo a saída da
Secretária de Turismo Ivane Fávero). Poucas pessoas são capacitadas a trabalhar no turismo.
Turismo se faz com pessoas capacitadas e acima de tudo que gostem desse ramo. [...]
O esqui atraiu muitos turistas a Garibaldi, vindos do país inteiro, depois de seu
encerramento os jovens ficaram sem atrativo algum. [...].
Os primeiros turistas que aqui chegaram vieram de trem, para veranear e alguns para
buscar saúde, naquela época existiam muitos hotéis e pousada para atender essa demanda. A
gastronomia também fez parte dos atrativos aqui buscados, talvez a segunda atração turística,
seguido depois pelas vinícolas, as mais destacadas foram a Peterlongo, Cooperativa Garibaldi,
George Aubert e Carraro- Bruzina. [...].
O hotel Casacurta também contribuiu para atrair turistas em Garibaldi convidando os
moradores de Porto Alegre a conhecerem a região e a vindima. Muitas pessoas acabavam
gostando do local quando aqui chegavam, vindo a se casar e acabavam permanecendo
morando em Garibaldi.
151
A Aprovale surgiu com a união de seis vinícolas do Vale dos Vinhedos, o objetivo
inicial era de viabilizar economicamente projetos, principalmente encontrar soluções para
baratear custos de insumos: garrafas, rolhas, caixas de papelão, rótulos, e outros materiais.
Foi pensado inicialmente em adquirir equipamentos de engarrafamento, fazendo um
investimento só, ao invés de todos adquirirem o seu, também foi pensado na parte comercial,
onde todas as vinícolas pudessem se unir para divulgar e comercializar os produtos em feiras,
eventos e festas. A idéia inicial de cooperativismo é abandonada por motivos de burocracia e
foi optado em fundar uma associação, embora bastante limitada sem fins lucrativos, sem atos
comerciais, mas sim agrupar as pequenas e novas vinícolas que estavam surgindo.
Em 1992, com a união e esforço da comunidade, a estrada do Vale dos Vinhedos é
finalmente pavimentada com asfalto. Em 1995, surge a Aprovale, motivada por crises no setor
de vinhos, neste mesmo ano se inicia campanhas voltadas ao enoturismo no Vale dos
Vinhedos com quatro objetivos: Desenvolvimento do vinho; espaço físico e meio ambiente;
enoturismo - desenvolvimento sócio-cultural e Indicação Geográfica.
Com a crise no setor nos anos 95, 96 e 97, sobretudo agravada pela crise econômica da
Aurora, os produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começam a
ganhar espaço no mercado nacional. Acredito pessoalmente, que o crescimento e o
desenvolvimento da marca e dos produtos do Vale dos Vinhedos se devem, em primeiro lugar
ao enoturismo, em conseqüência do Vale estar próximo de cidades importantes, destacando-se
Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e outras mais, e estar localizado perto da Região das
Hortênsias (Gramado, Canela e Nova Petrópolis), e estas cidades são muito importantes por
apresentar pessoas com o hábito de apreciar bons vinhos. Bento Gonçalves possui uma rede
razoável de hotéis e restaurantes, esses requisitos somados, fizeram com que o Vale dos
Vinhedos, com seu charme especial, nome interessante, vinícolas novas e vinhos novos, [...]
despertou o interesse de muitos enoturistas querendo conhecer mais o local e seus atrativos.
Com a conquista da Indicação Geográfica, embora não muito conhecida por grande
maioria dos brasileiros, por ser esta a primeira no Brasil ela foi importante por ocupar espaço
na mídia nos últimos anos. A partir disso o Vale dos Vinhedos vem atraindo cada vez mais
enoturistas, a prova disso mostra que em 2001 mais de 45 mil; 2006 - 105 mil e 2007 - 120
mil turistas visitaram o Vale dos Vinhedos e neste ano esta previsto mais de 130 mil, sendo
que o primeiro semestre já registrou 109 mil visitantes.
154
Reclamações:
A través de reclamações feitas pelos turistas muitas coisas foram resolvidas, por
exemplo: as sinalizações nas estradas secundárias do Vale dos Vinhedos algumas foram
renovadas, a segurança foi tratada com muita atenção e foi planejado e lançado o mapa
turístico do Vale. [...] a grande maioria das reclamações ainda estavam ligadas a cultura local,
nosso horário de almoço, algumas empresas fechavam nos feriados e o mau humor de alguns
atendentes. Também existem turistas que não entendem bem a proposta do Vale dos
Vinhedos, algumas acham que deveria funcionar como na Europa e querem mudar toda e
identidade cultural do local. Hoje o turista pode almoçar até as 16 horas sem problema, pois o
156
Vale dos Vinhedos já tem bons restaurantes para atender essas pessoas. Outra reclamação é a
falta de atrações à noite, mas em qualquer lugar do mundo o enoturismo ao anoitecer se reduz
a restaurantes.
157
[...], o enoturismo é muito importante, e não se ganha dinheiro se você não fizer uma
gestão séria rígida com controle financeiro de todos os processos e sentidos. Na George
Aubert o enoturista era reconhecido como sendo o melhor cliente da empresa. Para que isso
ocorra é necessário um bom trabalho voltado a ele, com bom atendimento e preços justos.
[...].
Enoturismo é trabalhar a imagem, sentidos, emoções, história e cultura. [...]. O
enoturismo em Garibaldi é muito jovem, é coisa recente, hoje Garibaldi vive um momento
rico, sendo o enoturismo o maior fomentador de sonhos de idéias e realizações. Enoturismo é
labutar na demanda de sensações de vazios emocionais das pessoas.
Hoje “Garibaldi” sabe trabalhar “coisas concretas” sabe cultivar as videiras, elaborar
bons vinhos e espumantes, aprenderam a trabalhar “coisas”, mas ainda falta saber trabalhar
emoções, afeto, relacionamentos como base na cultura que é o enoturismo, e enoturismo não é
concreto é relacionamento.
Ainda hoje falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a aprender, pois temos clientes,
produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram trabalhar nos fins de semana e
feriados. [...], no enoturismo não pode ter mentira, se não souber não fala, procura saber ou
vai procurar em pesquisas. [...]. É um relacionamento recíproco, onde cada um aprende com o
outro. Quem tem bom relacionamento tem cultura, quem não tem cultura, pode amar as
pessoas, mas não tem amor pelo vinho. [...].
Atualmente com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos
interessados pela FISUL, é um bom início para criar uma nova visão estratégica de mercado,
principalmente no atendimento e na hospitalidade.
158
a entrada de vinhos importados muitas dessas empresas foram embora, com exceção da
Chandon.
Em 2000, ocorre a conversão dos parreirais tipo latada para espadeiras.
Atualmente a Casa Valduga emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos
serviços, hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.
Recebe anualmente em media de 60- 70 mil turistas /ano. Além dos restaurantes
Dom Luigi e Persona, um novo restaurante e uma quinta nova pousada em breve será
inaugurada, nesta o enoturista poderá contar com a técnica “vinho terapia”, e salas para
cursos de degustação. [...].
Hoje a Casa Valduga conta com 142 hectares de videiras, sendo que 100 estão
situados no município de Encruzilhada do Sul e os outros no Vale dos Vinhedos. Recebe
uvas de 25 pequenos produtores estabelecidos no Vale dos Vinhedos. Atualmente são
elaborados aproximadamente 1.500.000 litros de vinho, sendo que 40% são destinados para
elaboração de espumantes (método champenoise e charmat) e os outros 60% para vinhos
tranqüilos. [...]. O enoturista também poderá visitar a maior adega particular da América
Latina e participar da Festa da Vindima, podendo colher uvas, animada com pelo show de
coral típico italiano, esmagar as uvas com os pés, ver de perto todo o processo de elaboração
dos vinhos e espumantes, aprender a realizar o sabrage, almoçar nas cavas, degustar vinhos e
espumantes sob a sombra de um parreiral e também é oferecida uma visita à Capela das
Neves, onde é relatada a história da imigração italiana e da construção da igreja. Assim que
os vinhos estiverem prontos para o consumo, os “elaboradores” poderão adquirir os mesmos.
160
Em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por séries
dificuldades no setor vitivinícola. A comunidade do 8 da Graciema ( Vale dos Vinhedos,
BG), resolve a realizar uma festa. Armindo Franzoni incentiva essa festa em sinal de protesto
aos órgãos oficiais do governo e as grandes vinícolas que se recusavam a vinificar.
O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes haviam sido já
colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto que Caxias do
Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a opinião de Moisés Michelon
(primeiro presidente da Fenavinho de Bento Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa
Regional da Uva de Bento Gonçalves.
Esta festa aconteceu no mês de fevereiro, a princípio era para ser apenas um fim de
semana, mas o sucesso foi além do esperado, que a festa se estendeu para mais um fim de
semana. No primeiro fim de semana compareceu tanta gente que não sabíamos de onde
vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também prestigiaram
a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas carrocerias, carros particulares,
ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas localidades próximas chegavam a pé. [...].
A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de
visitantes foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões para acomodar o pessoal.
[...].
Num dos salões da comunidade foi realizada uma exposição de uvas e de produtos
produzidos no local: batatas, milho, cebolas, abóboras, e outros mais. Também havia espaços
para algumas vinícolas que patrocinaram a festa para esporem seus produtos e degustação dos
mesmos, como a Vinícola Rio Grandense, Cooperativa Garibaldi, Cooperativa Aurora,
Dreher, Salton, Mônaco, Fontanive, Júlio Brandelli & filhos, Dumont, e outras mais. [...], foi
cobrado um ingresso para a visitação da exposição, [...]. Os melhores produtores de uva foram
premiados com taças e medalhas. [...].
O prefeito Darcy Fialho Fagundes (31/01/69 – 28/02/73, 21º prefeito do município) se
mostrou indiferente em ajudar a comunidade, mais tarde ficou sabendo do sucesso de público,
161
e que o evento iria se estender por mais um fim de semana, procurou os organizadores do
evento e se colocou a disposição dos mesmos.
Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime,
barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam na cozinha
e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a preparação do churrasco e
das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos ficaram admirados com o sucesso da
festa, foi muito bonito. Comenta Zélia Carraro Brandelli.
No último fim de semana foi realizado um desfile de carros alegóricos, retratando a
chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha e princesas da festa e outras
vinícolas também foram representadas.
No local eram servidos almoços e jantas, e os visitantes passavam a noite cantando e
bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal de Bento Gonçalves. [...].
Compareceram mais de 15.000 visitantes. [...].
162
Um dos grandes marcos do turismo em Garibaldi foi o Hotel Casacurta, que trazia
muita gente principalmente de Porto Alegre para conhecer a vindima e também para veranear.
Garibaldi sempre foi muito carente em hotéis, não se preocupou muito com o turismo, outro
problema era a falta de atrativos para serem oferecidos para que o turista permanece-se mais
no local. Bem diferente de Gramado e Canela, aqui grande maioria do comércio e restaurantes
fecham nos finais de semana e feriados, o turista não fica aqui por muito tempo, ele quer
comprar também, este é um problema cultural.
Em Garibaldi o enoturismo é recente pouco mais de 15 anos, a pioneira foi a
Peterlongo que iniciou trazendo turistas, devido sua história, bela arquitetura, caves e adegas
magníficas, grande produtora de espumantes, mas eram poucos os que vinham aqui. O esqui
de Garibaldi chegou a ser a maior atração de turistas no município, infelizmente veio a
desativar por problemas particulares, até hoje é ainda muito lembrado pelos moradores da
região, [...].
A gastronomia não representou papel muito importante, devido ser pouca
desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos especiais ou diferentes, apenas
os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e algumas variedades de massas. O Hotel
Casacurta foi uma exceção, outros restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica,
eram muito pobres e simples demais.
Somente nos últimos 15 anos houve mais incentivo ao enoturismo em Garibaldi com a
Fenachamp, e seu restaurante voltado para o turismo, onde o Clacir Romagna trazia ônibus
lotados de turistas a Garibaldi e a almoçar neste restaurante. [...], o período de trazer
enoturistas é muito recente, [...].
[...], continua sendo o grande foco de atração turística de Garibaldi o vinho, e quem
esta fazendo um bom trabalho enoturístico é o Vale dos Vinhedos, que despertou a
curiosidade e vontade de conhecer a região. Garibaldi depois começa a despertar com a
George Aubert, que faz um trabalho de história do vinho, criando um museu temático, trouxe
muitos turistas, [...].
Em Bento Gonçalves o Tarcíso Michelon com uma visão futurista, incentiva a
restauração das casas no interior do município, originando a Rota Caminhos de Pedra, esta
rota fomenta outras, inclusive o Vale dos Vinhedos e vinícolas de Garibaldi. Aos poucos
163
todos começam a enxergar o enoturismo como uma boa alternativa para a região.
Um problema do enoturismo é que ele geralmente é destinado ao público masculino,
poucas mulheres são adeptas a este segmento e as crianças e adolescentes quase nada. [...].
Não adianta Garibaldi e região ter uma paisagem interessante, um belo acervo histórico, casas
e igrejas belíssimas, tanto no interior como nas cidades, é preciso trabalhar isso tudo para se
tornar um potencial atrativo turístico, onde o visitante possa contemplar tudo isso, e também é
preciso incentivar mais as agroindústrias locais, como acontece no interior dos países
europeus. O que falta aqui é envolver mais a comunidade no espírito turístico, um exemplo a
seguir é Gramado e Canela, onde nestes municípios tudo esta voltado ao turismo, desde as
indústrias, comércio, serviços, casas, jardins e tudo mais. [...].
Educar a comunidade local, formando profissionais na área assim como a FISUL esta
fazendo, para prestar melhor atendimento ao turista, mostrar que o turista é uma oportunidade
de negócio e ele traz dinheiro e desenvolvimento ao local, precisamos pensar grande. [...].
A proximidade de Gramado favorece muito a região, hoje o turista que a visita aquela
região, visita também a nossa principalmente o Vale dos Vinhedos e as principais vinícolas de
Garibaldi. Hoje o enoturista não só quer comprar vinhos, ele quer atenção, história, ser bem
atendido, e nos temos anos de história herdados de nossos imigrantes. Obrigatoriamente quem
trabalha com turismo tem que conjugar história com o produto a ser oferecido, buscar saber
mais detalhes, coisas simples, só não pode mentir, nem inventar fatos, ter conhecimento e
falar o que se sabe, pesquisar mais sobre a região.
O turista não procura apenas obras faraônicas, ele quer coisas simples, e enoturismo
não é só vinho, ele é o principal, mas outros atrativos devem ser implantados, como diz o
ditado “não se deve colocar todos os ovos num cesto só”, precisamos ter agroindústrias,
artesanatos, museus, parques temáticos e outras coisas mais. Turismo é uma forma de troca de
idéias, opiniões, cultura, informação que ocorre no lado do visitante e no lado do autóctone.
[...].
Enoturismo não é apenas vinho, mas gastronomia, história, cultura, belezas naturais e
diversificação de outros produtos.
164
Atualmente Veranópolis conta com nove vinícolas, sendo destas uma é a Cooperativa
Vinícola Alfredo Chaviense, as outras oito são consideradas familiares e estas vieram a ser
regulamentadas e organizadas como agroindústria no ano 2000. Antes desta data, sua
grande maioria elaborava vinhos de forma artesanal - caseira e, com ajuda e incentivos da
EMATER, passaram a ser registradas.
Grande maioria dessas vinícolas familiares surgiu com o agravamento da
Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves. A maioria dos produtores de uvas do município
fornecia sua produção para esta cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua
produção de uvas à Aurora, devido à grande crise de 1995, que abalou aquele
estabelecimento, resolveram investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e
legalizando os mesmos. [...].
A prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Turismo, apoiou e auxiliou na
divulgação dos estabelecimentos vinícolas através de folhetaria e de sinalização turística,
pois a grande maioria se encontra no interior do município, em média de 2 a 3 km da cidade
ou da rodovia principal - RSC 470.
[...]. Fato importante aconteceu em maio de 1981, onde a Revista Geográfica
Universal, na pagina 51, publica que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades,
dedicados aos estudos da gerontologia, citavam Veranópolis entre os locais mundiais
considerados como favoráveis ao prolongamento da vida humana. Ali, lia-se textualmente:
“[...] no Estado do Rio Grande do Sul, existe uma localidade denominada
Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive apreciável numero de velhinhos, em sua
maioria, quase totalidade, descendentes de colonos imigrantes [...].”
Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como
apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos
explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da
Organização Mundial de Saúde – OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e
terceira no mundo”.
A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso, atingiu
renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só municipal,
mas regional. [...]. Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a
vinda de turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem
165
Passados vários anos surge a Aprovale, que deu maior notoriedade a região. Estes
fundadores deram maior atenção ao vinho fino. O Vale dos Vinhedos se destaca com os
vinhos e com o enoturismo, esse trabalho deu certo. Surgiram outras entidades em outros
municípios da região, buscando o mesmo ideal. [...].
A divulgação da I Fenavinho foi bem simples. Inicialmente foi usada uma impressão
estampada encima de jornais velhos, esse material era distribuído nas vinícolas e colado nas
lonas dos caminhões que cobriam as cargas de vinhos que eram comercializados em outras
cidades ou estados. Depois foi conseguida uma verba com uma produtora de rótulos de
Santa Cruz. [...]. Também os carros de passeio foram utilizados. Foi pintada no vidro
traseiro dos caminhões e carros a seguinte frase: “Visite Bento Gonçalves - I Festa Nacional
do Vinho”. [...].
Na I Fenavinho todos os visitantes recebiam uma pequena garrafa de vinho, com o
intuito de levar para casa este vinho para comemorar com os que não puderam prestigiar o
evento. Aproximadamente 150.000 garrafas de vinho foram doadas pela indústria Nifosa
(vidraçaria), o vinho, rótulo e rolha as vinícolas doaram. [...]. Apenas um contra-rótulo foi
colocado contendo alguns dizeres da Fenavinho. [...]. Sobraram 30.000 unidades e estas
foram vendidas aos credores da festa. [...].
172
No ano de 1973, a Cooperativa Aurora passou a produzir vinhos para terceiros, neste
mesmo ano nasce a Maison Forestier dentro da Aurora. No ano de 1977, a Forestier se
instala em local próprio no município vizinho de Garibaldi, iniciando com a implantação de
vinhedos. Em 1980, é construído seu estabelecimento baseado num projeto voltado para o
recebimento de turistas. Provavelmente foi a primeira empresa vinícola que preparou um
local onde podia ser visitado o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma coisa mais
abrangente que faz parte de uma atividade da cultura ao vinho. Esta empresa foi planejada
para o recebimento de enoturistas, não aconteceu ao natural como as demais na região. O
seu modelo foi inspirado nas vinícolas californianas (EUA), principalmente as do Napa
Valley, onde os turistas visitam as dependências, conhecem todo o processo de elaboração
de vinhos, degustam e podem adquirir os produtos e outros souvenires, como camisetas,
saca-rolhas e demais objetos ligados ao mundo do vinho, tudo com muito profissionalismo.
No ano de 1985, toda uma nova estrutura ficou pronta, para receber autoridades e
pessoas importantes, uma casa foi construída com três suítes que abrigaram ministros,
governadores e secretários de estado e mais uma sala para negociações. Seu local de
instalação junto a RST 470 favoreceu muito o fluxo de turistas. A Maison Forestier era uma
vinícola moderna, com equipamentos de ultima geração. No seu interior tanques de aço
inoxidável eram utilizados para elaboração e armazenamento dos vinhos. O entrevistado
lembra muito bem no dia da inauguração da vinícola, quando o chefe do laboratório de
Enologia de Bento Gonçalves, uma pessoa muito respeitada e culta, dirigindo-se a mim,
comentou: “vocês me convidaram para assistir uma inauguração de uma cantina ou de uma
queijaria, onde estão as pipas de madeira?”. Isso foi um problema que acabaram notando
também na reação dos outros turistas.
Mais tarde construíram uma adega feita de pedras, de estilo rústico, com seu
ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, palco para apresentações artísticas,
sala para confraternizações, tudo no meio das pipas de madeira, em fim foi criado um
ambiente de “cantina” na concepção da época e da região. [...]. A CVC iniciou um trabalho
muito profissional na área de enoturismo, trazia turistas principalmente de São Paulo e do
Rio de Janeiro. No ano de 1984 - 1985, a média de turistas que visitam o estabelecimento
era entorno de 65 - 70 mil turistas/ano e o faturamento médio eram de 11 - 12 dólares por
pessoa, [...] era uma estrutura voltada para vender e promover seus produtos no cenário
nacional. Embora tendo um escritório na Região Sudeste, ela tinha uma pessoa exclusiva
que viajava para divulgar e trazer turistas à vinícola. Assim Garibaldi começa a criar uma
imagem voltada para o enoturismo com forte influência da Forestier. Com o passar do tempo
175
Veraneio Desvio Blauth foi fundado em 1920, pelos irmãos Elza e Elvino Blauth,
filhos de Carlos Blauth e de Sophia Blauth. Este estabelecimento se situava no Desvio Blauth
município de Farroupilha, RS. Localizado a 10 km da cidade de Farroupilha. Segundo a
entrevistada o Veraneio Desvio Blauth era uma estação de veraneio, sendo um dos primeiros
ou o primeiro hotel de veraneio mais importante no Estado. O Veraneio Desvio Blauth ficava
localizado próximo aos trilhos do trem. Neste local se situava uma parada obrigatória do trem,
onde o mesmo se abastecia de água, vindo a transformar o local em uma atração especial. [...].
O Veraneio Desvio Blauth atinge seu auge na década de 1930, quando a elite da
Capital do Estado e outras famílias de classe média procuravam a região atraídas pelo clima
das montanhas, isolamento, descanso, comida farta e bom atendimento. Na Europa eram
comuns as pessoas das cidades maiores veranearem nas montanhas em busca de climas mais
agradáveis e saudáveis. O local era procurado em todas as épocas do ano, inverno e verão
sendo que algumas famílias inteiras chegavam a se hospedar até três meses por ano. [...]. Os
visitantes chegavam de trem. O trem chega a Caxias do Sul em 1910, partindo de Rio dos
Sinos, 7 km antes de Novo Hamburgo. Em 1917, as estações férreas de Carlos Barbosa e de
Garibaldi são inauguradas. [...].
O estabelecimento oferecia os mais diversos serviços de hospedagem, sendo que as
famílias eram distribuídas em vários alojamentos. Os filhos menores ficavam instalados
juntamente com os pais. Havia alojamentos exclusivos para as moças e outro para os rapazes.
Existiam normas a serem seguidas, desde o horário das refeições até o banho. Muitas
vezes essas normas se estendiam sobre o comportamento em geral dos visitantes. Os horários
de banho eram agendados previamente com um empregado do estabelecimento e este por sua
vez preparava a sala de banho e a reservava, para realizar as caminhadas junto à natureza um
procedimento parecido era adotado. Havia horário de silêncio. As crianças não podiam fazer
algazarra depois do almoço até as 15 horas, (horário considerado de descanso e de sestear).
178
O gerador de energia elétrica geralmente era desligado às 22 horas, este estava instalado junto
à barragem e era movido pelas águas do reservatório. [...].
O Veraneio Desvio Blauth oferecia diversos atrativos, desde piscina, possibilidade de
banho nas águas do lago, passeio a cavalo e de barco à remo, e outros mais. Os homens
podiam desfrutar da sala de jogos onde era possível jogar cartas e bochas, acompanhados de
um bom vinho colonial, graspa, pão caseiro, salame e queijo. As mulheres ficavam entretidas
realizando crochê e conversando entre elas. O estabelecimento disponibilizava de uma
charrete para passear e conhecer as plantações e parreirais próximos.
Em 1953, com o declínio da “moda” de veranear na serra, o Veraneio Desvio Blauth
não resiste e vem a encerrar suas atividades. Hoje restam as ruínas da antiga caixa d’água que
abastecia o trem e uma fileira de pedras que formavam a plataforma de desembarque junto aos
trilhos. [...].
179
No ano de 1903, Marino João Nichetti, avô do entrevistado, constrói o Hotel Nichetti
em Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves. Esse estabelecimento atinge seu maior auge
na década de 1920 – 1940, quando veranistas de Porto Alegre (grande maioria turistas
portugueses e italianos residentes na Capital do Estado), procuravam a região por ser
considerada de clima ideal à saúde. Embora o hotel fosse procurado em todas as épocas do
ano, era nos meses de dezembro a março em que os turistas mais procuravam se hospedar,
devido às temperaturas serem consideradas mais amenas e agradáveis. [...].
Os veranistas geralmente utilizavam seus carros particulares para chegar a Pinto
Bandeira, sendo sua grande maioria formada por pessoas da terceira idade, poucos casais
jovens optava a esse tipo de veraneio. Os visitantes geralmente realizavam caminhadas na
praça e nas ruas do distrito, visitavam os parreirais e os pomares, adquiriam produtos
coloniais (vinhos, graspa, salames, queijos e outros mais). Havia a possibilidade dos visitantes
passearem de carroça, um morador local Volmar Mazzotti, oferecia este tipo de serviço. [...].
O hotel desde sua fundação sempre esteve voltado ao atendimento aos turistas. Depois
da década de 1940, passa a hospedar viajantes e professoras que atuavam no distrito. [...]. O
estabelecimento encerra suas atividades em treze de março de 1969, conseqüência de um
incêndio que destruiu o prédio. Depois do sinistro a família proprietária se muda a Bento
Gonçalves.
180
O Bela Vista Parque Hotel- foi inaugurado em1927, por José Basso e seus dois filhos: Jacó e
Jacinto Basso. Localizado na frente da Igreja de Ana Rech em Caxias do Sul. Em 1937, é
inaugurado o Hotel Bela Vista nas instalações atuais e passa a ser ampliado.
A fundação do hotel foi sugerida por uma comadre do proprietário, visto que o mesmo
gostava muito de convidar os amigos para almoçar em sua casa. Algumas vezes as visitas chegavam
de surpresa e a dona da casa não estava preparada e improvisava alguns pratos de comida. Num
certo dia a comadre conversa com a esposa do José e incentiva a construir um hotel para servir
almoços aos convidados. [...]. A boa comida e a grande variedade de pratos oferecidos, tudo isso
aliado ao bom atendimento fez o empreendimento prosperar cada vez mais.
Na década de 1927, o hotel não possuía muito espaço físico disponível, houve a necessidade
de utilizar um terreno vizinho de um parente. Com a ampliação e mudança para o atual espaço
situado dentro de um parque bem arborizado principalmente por acácias mimosas, o
empreendimento passou a oferecer melhor conforto aos hospedes. A preocupação com a natureza
sempre foi um diferencial. Os irmãos Basso quando viajavam geralmente traziam plantas
ornamentais para serem plantadas no jardim do hotel. O parque passou a oferecer caminhadas entre
as árvores, piscina, lago com barcos à remo e a possibilidade de banho nas suas águas límpidas. O
hotel disponibilizava de sala de recreação, carteados, boliche, cancha de bochas, salão de baile,
padaria, tambo de leite onde os visitantes podiam ordenhar as vacas e tomar o leite, (geralmente esta
atividade acontecia à tarde, e os visitantes traziam potes com achocolatados e se serviam com o leite
da ordenha), janta, almoço e lanches. No café da tarde eram geralmente servidas frutas
provenientes do próprio pomar do hotel, uvas, ameixas, pêssegos, laranjas e outras mais.
Famílias provenientes na sua grande maioria de Porto Alegre procuravam suas instalações
para veranear. [...]. Foi muito utilizado para casamentos e férias longas (variavam de 15 dias até três
meses no verão). No início de suas atividades os veranistas chegavam de trem, o hotel possuía um
carro (jardineira), que fazia o trajeto da estação ferroviária ao hotel. Em 1937, com a Br 116 ainda
não pavimentada, os visitantes começaram a chegar de ônibus ou de automóveis. Mesmo assim a
“jardineira” buscava os hospedes, desta vez não mais na estação ferroviária, mas da rodoviária de
Caxias do Sul.
Com o passar do tempo a comunidade de Ana Rech foi crescendo, surgiram outros
empreendimentos, dentre eles, um abatedouro de aves e de porcos. A carne bovina era proveniente
de Criúva (distrito de Caxias do Sul), esta era enviada duas vezes por semana ao hotel. O cardápio
181
constituía de massas, bifes, batata frita, arroz, polenta, panada, frango preparado de várias maneiras,
pão de milho, bolachas e bolos sortidos, mel e frutas da época. O prato principal eram os molhos de
carne e os queijos serranos. Utilizavam muitas conservas de frutas e de legumes para compensar a
falta do produto em determinadas épocas do ano.
Os hospedes podiam comprar vários produtos coloniais diretamente dos produtores que
abasteciam o hotel. [...]. O transporte mais utilizado pelos agricultores para abastecer o hotel eram
os burros. [...]. Os veranistas podiam realizar passeios no interior e na cidade, adquiriam vinhos nas
pequenas cantinas rurais, graspa, schmier de frutas e vários outros produtos coloniais. Durante a
II Guerra Mundial com a escassez de combustível, os ônibus e alguns automóveis usavam como
alternativa o gasogênio, quando os turistas chegavam ao seu destino, muitas vezes suas roupas
ficavam cobertas por uma pequena camada de fuligem. [...].
Os turistas vindos de Porto Alegre, Santa Maria, Rio Grande e Pelotas geralmente
utilizavam o trem como meio de transporte, depois da década de 1960, passam a utilizar o
transporte rodoviário. [...]. Caxias do Sul passa a crescer cada vez mais, a Festa da Uva torna-se
referência, o inverno chega a ser um bom atrativo turístico, a moda européia é adotada, onde as
pessoas saíam de suas cidades para veranear nas montanhas em busca de ar puro e de temperaturas
amenas.
Em 1937, Amélia (esposa de um dos filhos) assume a cozinha sob orientação da avó. [...].
Em 1954, a avó veio a falecer. Amélia graças a sua dedicação e bom talento na arte de cozinhar
herdado da avó continua se aperfeiçoando cada vez mais. Para incrementar seu cardápio muitas
vezes mandava trazer livros de culinária de Porto Alegre (Livraria o Globo), conseqüentemente
passou a formar diversos chefes de cozinha, graças ao seu talento e criatividade. [...]. Os jornais
Correio do Povo e o Jornal do Comércio eram recebidos diariamente através dos ônibus que
chegavam de Porto Alegre, isto na década de 1990. [...].
Na década de 1960, surgem os Hotéis Menegotto, City e Real. Na década seguinte o Hotel
Samuara e Alfred e outros mais modelos de hotéis executivos. [...].
182