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1 INTRODUÇÃO

Através desse trabalho, apresentam-se aspectos da história das pessoas que nos
antecederam. Identificam-se os tempos, as ações, o modo de viver, de agir, os costumes e as
heranças culturais destes personagens, não apenas contando e recontando fatos, mas
pesquisando e registrando, através de fontes documentais e principalmente da memória dos
habitantes que vivenciaram esses acontecimentos ou foram testemunhas de relatos de
terceiros. Trata-se, em outras palavras, da história do enoturismo.

O atual estágio no progresso do ramo enoturístico é também, fruto de nossos


ancestrais. É o fruto do nosso imigrante italiano, francês, alemão, austríaco, espanhol ou de
qualquer outra raça, que aqui chegou depositou toda a sua fé, energia e, acima de tudo,
acreditou na cultura da uva e do vinho. Hoje seus descendentes dispõem para o fomento da
atividade enoturística de uma orientação em nível educacional, empresarial e de pesquisa,
para tornar mais humana e sustentável essa valorosa profissão.

Esse trabalho contará a história da origem do turismo, do enoturismo, da uva e do


vinho, no mundo e no Brasil, e a importância do Enoturismo para o desenvolvimento regional,
principalmente para os municípios que fazem parte da Região Uva e Vinho, onde será
abordado, através dos dados coletados em pesquisa de fontes primárias e secundárias, seu
contexto histórico e os primeiros atrativos turísticos (festas temáticas da uva e seus
derivados).

O presente estudo esta dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo tem como
referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo,
e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O mesmo capítulo
aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no
Brasil e no Rio Grande do Sul.

O segundo capítulo trata de uma breve história do surgimento do turismo numa visão
geral no mundo, Brasil e Rio Grande do Sul, tendo como enfoque principal a Região Uva e
Vinho, que por sua vez compõe a Serra Gaúcha.

O terceiro capítulo, por sua vez, retrata um breve histórico dos municípios que
fizeram o enoturismo na Região Uva e Vinho, tendo como foco principal Bento Gonçalves,
Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.
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O quarto capítulo do referencial teórico aborda questões relacionadas aos conceitos e


definições de enoturismo, bem como fontes de pesquisas orais, bibliográficas e acadêmicas,
relacionadas ao tema no mundo e no Brasil.

O quinto capítulo tem como objetivo principal do trabalho de pesquisa a história do


surgimento do Enoturismo nos municípios gaúchos citados acima que compõem a Região
Uva e Vinho.

O último capítulo se delimita em apresentar um breve histórico das principais festas


impulsionadoras do Enoturismo no Rio Grande do Sul. Dentre estas festas, que têm como
foco principal a Festa da Uva e do Vinho Novo – Forqueta - em Caxias do Sul, a Fenavinho
em Bento Gonçalves, a Fenavindima em Flores da Cunha, as Exposições da Uva e a
Fenachamp em Garibaldi e a Abertura da Vindima em Monte Belo do Sul. Esse mesmo
capítulo aborda um simples relato do Dia Estadual do Vinho e do Espumante Fino Brasileiro,
comemorados no Estado.
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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

É objetivo deste trabalho apresentar a história do Enoturismo na Região Uva e Vinho


- Serra Gaúcha, com foco nos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da
Cunha, Garibaldi e Veranópolis, visto que estes municípios estarem muito ligados a
vitivinicultura e ao turismo.

2.2. Objetivos Específicos

a) Descrever, sucintamente, a história da vitivinicultura na Região;


b) Pesquisar em fontes primárias e secundárias a História do Enoturismo na Região;
c) Identificar o papel das Festas temáticas decorrentes da uva e derivados, no
desenvolvimento do Enoturismo;
d) Identificar a influência do Enoturismo no desenvolvimento da vitivinicultura da
Região.
e) Realizar o estágio na Atuaserra (Bento Gonçalves).
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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia, segundo Dencker (2004), é o estudo do método da pesquisa. Neste


sentido, utiliza-se, o Método Histórico, partindo do principio de que a forma de vida social
atual, as instituições e os costumes têm origem no passado, sendo assim, é de fundamental
importância conhecer suas raízes, para compreender sua natureza e função.

Enquanto método, esse permite investigar acontecimentos, processos e instituições


do passado, tornando mais fácil a análise e compreensão destes fenômenos, principalmente
sobre seu desenvolvimento, permitindo verificar alterações e variações e comparações entre
sociedades distintas. Portanto, o método histórico preenche os espaços vazios dos fatos e
acontecimentos, apoiando-se em um tempo, assegurando a percepção da continuidade e do
entrelaçamento dos fenômenos passados e atuais. (LAKATOS; MARCONI, 2003, p.107).

Enquanto técnica de pesquisa o trabalho está fundamentado, principalmente, nos


relatos de pessoas que presenciaram, participaram, desenvolveram ou de qualquer forma
foram testemunhas do nascimento do Enoturismo na Serra gaúcha. Também está
fundamentado em obras de diversos autores e demais informações e conhecimentos
adquiridos durante o curso Tecnológico em Gestão do Turismo - Enoturismo.

A base da metodologia histórica segundo Fagherazzi (2007), é a própria reflexão dos


fatos históricos a fim de entendê-los e poder transformá-los. A categoria da história clássica
surgiu com os gregos. Este povo estava preocupado com o eterno e não com as mudanças
transitórias. Com o pai da história, Heródoto, que se preocupava com as coisas vividas na
temporalidade, o ofício de registrar os fatos históricos nos foi legado.

A história está voltada pelas construções humanas, pelo passado e suas relações com
o presente. Nesse sentido, há um método positivista em maximizar os fatos, os períodos e os
heróis de cada época. Há um método marxista em estar voltado as transformações sociais pela
base da própria sociedade e outro introduzido pela denominada Escola Nova. Seguindo esse
último método, o passado não morreu, pois o presente é tão somente o fruto dele. O modo e as
experiências humanas são vistas como a representação do tempo histórico que organiza a
percepção das experiências humanas do presente na perspectiva futura. O tempo histórico é
subjetivo e é determinado pela temporalidade e pelo pensamento de uma época que se
transforma continuamente.
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A Escola de Annales em contato com as ciências sociais modificam a concepção de


tempo histórico. As ciências sociais empregam o conceito de estrutura social, procurando
encontrar no mundo regularidades como a física e a matemática. Este conceito torna o evento
irrelevante. Por sua vez, a história compreende esta influência, mas continua analisando as
mudanças e inserindo os eventos em uma ordem sucessiva. Para os Annales o homem não só
constrói a história, mas também é construído por ela. Com a irrelevância conquistada pelos
eventos, a história aumentou seu vértice de fontes históricas, valendo-se de todos os meios
para preencher as lacunas vazias deixadas pelas fontes. Com esta visão a história passa a ser
vista como a história-problema, onde o historiador olha o passado e o integra construindo os
argumentos primordiais a comprovação de suas hipóteses. Tem-se o conhecimento da
impossibilidade de narrar os fatos como realmente se passaram.

Conforme Reis (2008), a Escola de Annales foi estruturada num momento em que a
ilusão daquilo que é eterno se acaba, e os eventos fizeram esta visão ruir foram muito
violentos, daí a necessidade dos Annales de evitá-los, de procurar harmonia com
transformações repetitivas que dão idéia de eternidade. Portanto essa escola elabora uma
mudança substancial na compreensão do tempo histórico. Os historiadores tradicionais
pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova
história esta interessada com a análise das estruturas, isto é, os historiadores novos entendem
que a história não pode ser conhecida e produzida com base em uma compreensão
especulativa e revolucionária do tempo histórico.

Para obtenção das informações a presente pesquisa insere em seu escopo, a busca por
informações nas mais diversas fontes. Os dados coletados devem relacionar-se positivamente
ou negativamente ao objeto de pesquisa. Desta maneira as informações coletadas para a
elaboração deste estudo foram obtidas através da pesquisa em documentos oficiais, políticas
de governo, dados estatísticos, documentos históricos, publicações em jornais, revistas,
folhetos, sites, livros, fotografias, depoimentos, organizações privadas, organizações não
governamentais, associações, entre outros. Enfim, nas mais diversas fontes de pesquisa que
podem subsidiar a compreensão da trajetória do surgimento/desenvolvimento do enoturismo
na região. Apesar das limitações desta pesquisa, todos os resultados podem revelar
importantes fatos deste tema.

O presente estudo também se utilizou de pesquisa com fontes primárias, visto a


escassez de informações, principalmente escritas, registradas, sobre a história do enoturismo
na Região Uva e Vinho, disponíveis em fontes secundárias. Ressalta-se, ainda, a importância
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da elaboração de um banco da história oral dos personagens que fizeram a história do


enoturismo acontecer.

Assim a metodologia priorizou a entrevista aberta, com um pré-roteiro. As


entrevistas foram gravadas. Os entrevistados eram questionados sobre acontecimentos
relevantes ao surgimento do enoturismo nos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul,
Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.

Desta maneira, a pesquisa teve como objetivo coletar informações importantes sobre
este segmento do turismo, utilizando o seguinte pré-roteiro:

Nome completo do entrevistado e sua data de nascimento e função?

Quais as vinícolas que se destacaram como pioneiras no enoturismo? Quando


iniciaram essa atividade?

Quais foram as festas, exposições e eventos que se destacaram?

Que motivos levaram a realizar estes acontecimentos?

Quais os problemas encontrados, e as respostas para os mesmos?

O que levou a investir no enoturismo?

O que o enoturismo representa ou representou para a empresa e para o meio social?

Quais foram os produtos que se destacaram na época? E hoje são os mesmos?

Tendo em vista a necessidade de pesquisa, foram selecionados alguns especialistas


do setor enoturístico que se destacaram ou se destacam e aceitaram ceder entrevista. Segundo
Silveira Bueno (2000), especialista é definido como aquele que se dedica a determinada
especialidade; perito; técnico; o que tem conhecimento.

As entrevistas foram antecipadamente agendadas, por telefone, e apresentado o


objetivo e o tempo estimado de duração, sendo as mesmas realizadas pelo próprio
pesquisador, com um tempo médio de 25 minutos a 1hora e 20 min. Elas foram realizadas, na
maioria das vezes, com auxilio de um gravador, mediante autorização do entrevistado e
transcritas posteriormente. Foram realizadas nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e
Veranópolis, no período de abril a novembro de 2008. Geralmente, foram realizadas nos
locais de trabalho dos entrevistados. Não houve ordem de formulação ou padrão das
perguntas, geralmente aconteciam na ordem das respostas dos entrevistados, em alguns casos
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foi necessária a utilização da entrevista por escrito, isto é, quando o entrevistado se sentia
pouco a vontade mediante a gravação.

Nessa metodologia de pesquisa, dois componentes se destacam no processo do


surgimento, bem como o desenvolvimento do enoturismo na região estudada. O primeiro caso
engloba os fatos históricos de algumas comunidades (festas e exposições alusivas a uva), e o
segundo os depoimentos (entrevistas), cedidas por aqueles que fizeram parte da história, a
saber: (I) secretário de turismo municipal; (II) responsáveis pelo serviço de turismo; (III)
representantes de associações locais; (IV) empreendedores locais; (V) historiadores e outros.
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4 BREVE HISTÓRICO DA VITIVINICULTURA NO MUNDO

Apresenta-se, neste capítulo, a história da vitivinicultura no mundo e no Brasil.


Destacando o papel dos pioneiros no processo de disseminação da cultura da uva e do
consumo do vinho pelo mundo.

4.1 Introdução à viticultura – origem da videira

Na formação do planeta Terra, várias eras se sucederam. Algumas delas têm relação
estreita com a história e origem da videira. Na Era Arqueozóica houve a consolidação da
crosta terrestre, tendo o Brasil grande parte do seu solo formado nesse período. As
temperaturas eram muitas elevadas não permitindo o aparecimento de qualquer ser vivo. Daí
em diante a crosta terrestre foi se esfriando lentamente e várias eras se passaram como a
Proterozóica, a Paleozóica, a Mesozóica, chegando a Cenozóica em que as condições já
começavam a permitir vida, pois já havia calor no Equador, frio nos pólos e as estações do
ano já eram sentidas. Essa Era Cenozóica aconteceu cerca de 100 milhões de anos atrás. Foi
dividida em dois períodos, o Terciário e o Quaternário. No período Terciário a vida já estava
presente na terra, no mar e no ar.

Conforme Manfrói (2004), a videira surgiu aproximadamente a cem milhões de anos.


Portanto, quando o ser humano apareceu sobre a Terra, há três milhões de anos, a videira
selvagem já conquistava seu habitat e enfeitava as copas das árvores, crescia ao longo dos rios
ou em pedras, com suas formas, troncos, folhas, cores e frutos. Sendo assim, a videira tem sua
origem no Terciário da Era Cenozóica.

O ser humano surgiu no Quaternário dessa mesma Era Cenozóica, e nos primeiros
passos de sua evolução, utilizava o fruto da videira na sua alimentação. Este fato é
comprovado por achados arqueológicos, onde sementes de uva apareciam junto com os
vestígios de populações pré-históricas.

Phillips (2005) nos fala que fósseis mais antigos das videiras primitivas têm como
região de origem a atual Groenlândia, de onde foram se alastrando para regiões mais
meridionais, seguindo duas direções: uma Américo-Asiática e a outra Euro-Asiática. No
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roteiro Euro-asiático encontramos a Vitis sezannesnsis considerada como a Vites tercearia


mais importante, pois é a ancestral da evolução para a Vitis vinifera.

No fim do período quaternário, as vitis já eram em grande número com dois


subgêneros o Euvitis e o Muscadinea. Nessa época, sobreveio a glaciação, ou seja, o período
Glacial em que a terra ficou quase totalmente coberta de gelo. As videiras foram atingidas por
esse flagelo, restando apenas três focos de sobrevivência; um americano, um europeu e um
asiático-ocidental.

O foco americano originou as atuais espécies Vitis labrusca, Vitis rupestris, Vitis
berlandieri, entre outras. O foco europeu, compreendendo as áreas mediterrâneas francesas e
italianas, até a península balcânica, originou uma única espécie: a Vitis vinifera silvestris.
O foco asiático-ocidental, localizado entre o mar Cáspio e o mar Negro, deu origem às
Vitis vinifera Caucásicas. Essa região corresponde exatamente à região citada na Bíblia onde
Noé, após o dilúvio, plantou e cultivou a primeira videira.

Videiras silvestres cresciam em várias regiões do Hemisfério Norte, especialmente


na Eurásia, na América do Norte e na Ásia. Indícios arqueológicos e botânicos sugerem
fortemente que as videiras foram cultivadas pela primeira vez no Oriente Médio antes de 4000
a.C.. Outros estudos apontam a possibilidade de ter iniciado o cultivo até por volta de 6000
a.C., tendo sido encontrados indícios na Geórgia. O homem só pode ter iniciado o cultivo de
videiras no período neolítico, quando passou a criar animais, e não só caçar animais
selvagens, e cultivar alimentos.

Embora houvesse uvas silvestres em muitas partes da Europa e do oeste da Ásia, os


primeiros vestígios surgiram numa região bem delimitada do Crescente Fértil: as encostas do
Cáucaso entre o mar Negro e o mar Cáspio, as montanhas Tauros da Turquia e a parte norte
das montanhas Zagros no oeste do Irã. (PHILLIPS, 2005, p. 30).

Cita o mesmo autor que não devemos confundir a origem da videira com a origem da
viticultura. A videira é anterior ao homem. A viticultura é uma decorrência da evolução da
civilização do homem. Muitos milhões de anos separaram uma da outra.
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4.2 Expansão da vitivinicultura no mundo

Os primeiros produtores de vinho da Idade da Pedra podem ter colhido as uvas


selvagens, as amassado, deixado o sumo e os resíduos da uva fermentar em pequenos sulcos
nas rochas e bebido antes que o líquido azedasse. Com o passar do tempo, o ser humano foi
evoluindo e a intervenção do homem para a elaboração do vinho aumentou progressivamente.
As uvas eram cultivadas e as variedades mais adequadas eram selecionadas e fermentadas.
(PHILLIPS, 2005).

A influência humana sempre esteve muito ligada à cultura do vinho:

A ação do homem está presente na elaboração do vinho que bebemos hoje como
nunca esteve na história e a garrafa de vinho que compramos é o resultado de uma
série de decisões. Muitas decisões dizem respeito à viticultura: onde plantar, que
variedades de uva escolher, a distância entre as videiras, como deve ser guiadas e
podadas, como podem ser irrigadas e adubadas, quando colher a uva, com máquina
ou manual. Resumindo: cultivar uvas para vinho é um processo complexo no qual o
viticultor deve pensar antes de tomar a decisão. (PHILLIPS, 2005, p.18).

As origens do vinho são nebulosas como devem ter sido as primeiras safras. É muito
difícil saber quem foi o primeiro que permitiu que o sumo fermentasse até se tornar vinho,
também nunca saberemos quem foi o primeiro que colheu os grãos de trigo e assou o primeiro
pão. (PACHECO, 2006; PHILLIPS, 2005).

Vestígios de vinho foram encontrados em jarras de barro ou outros tipos de vasos que
continham evidências de que foram usados para guardar vinho: restos de uvas - sementes, ou
manchas e resíduos de vinho. Tais vestígios foram encontrados em vários lugares do Oriente
Médio que datam do período neolítico, que se estendeu de 8500 a 4000 a.C.

A prova mais consistente da descoberta das origens do vinho foi obtida em vários
sítios arqueológicos na montanha Zagros, no que é hoje o Irã. Os mais antigos achados desse
período são seis jarras de nove litros enterradas no piso de uma construção de tijolos de
barro que data de 5400 a 5000 a.C., a noroeste das montanhas Zagros. Os vasos não
continham apenas resíduos de vinho, mas também sedimentos de resina, usada como
conservante de vinho no passado por sua capacidade de matar algumas bactérias. Vários
tampões de argila foram encontrados próximo às jarras, o que se entende que a bebida pode
ter sido até protegida do contato do ar.
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A teoria do vinho foi limitada a um só lugar, sendo muitas vezes chamada de


“hipótese de Noé,” por causa do relato de Noé e o vinho presentes no primeiro livro do
Antigo Testamento. O livro faz curiosa sugestão de que a viticultura e a produção de vinhos
começaram no Monte Ararat, onde a Arca de Noé atracou depois que as águas do Dilúvio
refluíram. Segundo a descrição bíblica do gênese do vinho, Noé foi o primeiro viticultor e o
pioneiro produtor da bebida. (PACHECO, 2006).

Os primeiros vinhos eram provavelmente menos alcoólicos do que os modernos. As


uvas silvestres têm cerca de metade de açúcar das cultivadas. No passado, o homem
costumava adicionar ao vinho produtos como ervas mel e outros.

Os primeiros vinhos elaborados eram consumidos logo, caso contrário, se


transformariam em vinagre. Era uma grande festa bebê-lo tão logo ficasse pronto. Já nesta
época era reconhecido por trazer benefícios à saúde. Os poucos que consumiam vinho todos
os dias tinham melhores condições de vida.

Da Ásia menor, a viticultura propagou-se para a Síria, Egito e Grécia. No Egito as


uvas eram cultivadas por reis, sacerdotes e importantes autoridades. Raramente o cultivo se
dava em vinhedos, eles preferiam os jardins maiores e as videiras eram plantadas
normalmente no centro das plantações, com o propósito de ficarem protegidas do vento por
outras árvores mais altas a sua volta. A viticultura ganha maior desenvolvimento no Egito,
no período final da colonização grega, quando o cultivo da uva passou a cobrir uma extensão
de terras bem maior. (PHILLIPS, 2005).

A viticultura e a produção de vinho também acompanhavam a colonização. Os


gregos, por exemplo, intensificaram e estenderam a viticultura já existente quando
colonizaram o Egito em 300 a.C. e introduziram a produção de vinho no sul da Itália. Os
romanos, por sua vez, introduziram o plantio de uvas e a elaboração do vinho em regiões de
seu império que são hoje em dia importantes produtoras. França, Alemanha e Hungria estão
entre os países que possuem a origem de sua indústria vinícola na época do Império
Romano.

Outro fato importante para a disseminação do vinho foi de ele estar associado a
divindades específicas ter se tornado elemento de rituais religiosos. A oferenda de vinho aos
deuses era comum na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia e em Roma, e os deuses chegaram a
ser associados à uva e ao vinho.
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No Antigo Egito o vinho denota status social, sendo que era bebido somente pela
família do faraó. Também foi usado em honra aos deuses, nos sepultamento dos mortos e
usado como remédio.

O amor dos gregos pelos vinhos pode ser avaliado através dos Simpósios, cujo
significado literal é bebendo junto. Eram reuniões (daí o significado atual) onde as pessoas
se reuniam para beber vinho em salas especiais, reclinados confortavelmente em divãs, onde
conversas se desenrolavam num ambiente de alegre convívio. Todo Simpósio tinha um
presidente cuja função era estimular a conversação. Embora muitos Simpósios fossem sérios
e constituídos por homens nobres e sábios, havia outros que se desenvolviam em clima de
festa, com jovens dançarinas ao som de flautas.

Segundo Phillips (2005), o vinho também se tornou importante símbolo de conceitos


fundamentais, como a morte e a ressurreição, e passou a representar o sangue de algumas
divindades em religiões tão diversas quanto as do Antigo Egito e do cristianismo. As
videiras também ficaram associadas a um grupo de crenças religiosas e, quando essas
crenças se expandiram no mundo, se disseminou, inicialmente com propósitos religiosos e,
mais tarde, para satisfazer o desejo do povo.

Uma das mais freqüentes associações é ao mistério da morte e ressurreição -


enigma que acabou sendo representado pela própria videira. As videiras parecem
morrer no inverno, quando suas folhas caem e o tronco seca; o “renascimento” das
videiras acontece [...] na primavera. Em muitas pinturas egípcias, a videira
simboliza a ressurreição [...]. (PHILLIPS, 2005, p.52).

O mesmo autor cita que este povo relacionava também o vinho à fertilidade, uma
causa talvez um pouco mais “cortesã”:

O vinho tem a capacidade de relaxar as convenções e as travas sociais, facilitando


a interação das pessoas, incluindo as relações sexuais. A ligação entre vinho e
sexo, uma conexão tanto celebrada quanto deplorada há milênios, deu origem à
associação do vinho com a fertilidade. (PHILLIPS, 2005, p.52).

O vinho passa a ser um instrumento de várias religiões no mundo antigo, era usado
freqüentemente em libações. Também foi muito usado em nome de um deus especifico,
derramando-o durante uma oração em agradecimento a um presente recebido por este. No
Egito o plantio das videiras pode ter se tornado uma obrigação religiosa:

Dirigindo-se ao grande deus Amon-Ra, Ramsés III falou da contribuição que ele
havia feito naquela área: “Fiz para o senhor três jardins de videiras no Oásis
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Meridional, um número semelhante no Oásis do norte e vários no sul...” Ele afirma


ter oferecido ao deus 59.588 jarras de vinho. (PHILLIPS, 2005, p.53).

As técnicas de viticultura, segundo o mesmo autor, são transferidas do Egito para


Creta, baseadas na lenda do deus do vinho para os gregos. Após o nascimento de Dionísio,
Zeus decide salvar o filho mandando ele para o Egito. É lá que conhece a arte da vinicultura à
qual se identifica.

Conforme Johnson (1989), na Grécia a viticultura ganha, realmente,


desenvolvimento e passa a integrar os seus costumes, religião, história e tradições. Da Grécia
é levada para todos os cantos do mar Mediterrâneo pelos fenícios, mercadores e aventureiros,
que difundindo os famosos vinhos gregos introduziram também, por onde passavam
negociando a cultura da videira.

A Itália foi a região que mais aceitou e cultivou a videira, isto cerca de 2000 a.C.
Entretanto, essa cultura só começou a ganhar proporções 400 a.C. Por essa época, Plínio já
catalogava 91 variedades de videiras e 40 tipos de vinho.

Johnson (1989) e Phillips (2005) descrevem que, em Roma, as uvas eram colhidas o
mais tardar possível, por tantas vezes eram deixadas secar ao sol para poder desidratar e
concentrar o açúcar. Os romanos inventaram a prensa, usaram tonéis de madeira para
armazenar o vinho para sua melhor conservação. Também tornaram o vinho uma marca
própria, uma forma de impor seus costumes e sua cultura. Expandiram o hábito de cultivar e
beber vinho em todo o seu vasto império. Transformaram o vinho no principal produto do
Império Romano e foram responsáveis pela fundação de grandes regiões vinícolas no mundo,
até hoje famosas, principalmente na Itália, França e Alemanha.

Da Itália, as legiões romanas, nas suas conquistas, levaram a videira por toda a
Europa. Nessa época, em todo Continente, se bebia vinho romano que era trazido pelos toscos
caminhos de terra ou pelo mar. O interesse pelo vinho, conseqüentemente, trouxe o cultivo da
videira. Vinhedos foram sendo formados por toda a Europa. Variedades foram se adaptando
aos climas mais frios, e assim, a arte de cultivar a uva se propaga e se fixa na França, Suíça,
Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal.

Na Idade Média os padres desenvolvem os vinhedos e a técnica de elaborar os


vinhos. O vinho passa a ser símbolo da liturgia, uma bebida sagrada para os cristãos. Foi
muito consumido em festas de casamento.
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Na Idade Moderna, passa a inspirar grandes artistas e passa a acompanhar os


alimentos, surgindo assim a enogastronomia. Surge a garrafa de vidro e a rolha de cortiça.
Louis Pasteur torna-se o pai da Enologia. Surgem, nesta época, o espumante e os vinhos
licorosos.

No século XX, a difusão do vinho intensificou-se com a utilização de modernos


equipamentos e novas tecnologias, permitindo que se produzisse em todos os continentes.
Portugal foi o último a ser conquistado pela viticultura cerca de 100 a. C. a partir desta época
começou a ensaiar a sua viticultura, que mais tarde se caracterizou por desenvolver variedades
e técnicas próprias de cultivo, elaborando vinhos e aguardentes. Quando Portugal começou a
se projetar como país de grandes navegantes e colonizadores, levou com suas expedições a
videira disseminando-a pelas terras que conquistava, entre elas, a Ilha da Madeira, onde foi
introduzida a viticultura e, rapidamente, aí se desenvolveu, produzindo vinhos que eram muito
disputados na Inglaterra.

Com as expedições colonizadoras, as videiras européias chegam a outros continentes.


Na América, Cristóvão Colombo introduz as primeiras videiras na sua segunda viagem às
Antilhas, em 1493, mais tarde as videiras se espalham para o México e os Estados Unidos,
chegando às colônias espanholas da América do Sul, em especial Chile e a Argentina.

MacNeil (2003) cita que, no final do século XIX, a filoxera1 espalhou-se por toda a
Europa, destruindo todos os vinhedos. Da Europa, esta praga se deslocou por todo o mundo,
matando vinhedos na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e América. Na década de 1860,
videiras nativas da América foram enviadas para a França, a fim de serem utilizadas para
experiências. A filoxera entrou neste país de carona nas raízes destas plantas. Em duas
décadas, a maioria dos vinhedos da Europa fora destruídos. Existe um pequeno consolo nessa
história, os vinhedos foram replantados com variedades, clones e bacelos adequados a cada
local.

A partir do século XX a elaboração dos vinhos tomou novos rumos com o


desenvolvimento tecnológico na viticultura e da enologia, propiciando conquistas tais como o
cruzamento genético de diferentes cepas de uvas e o desenvolvimento de leveduras

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Filoxera é um pequeno inseto altamente destrutivo que ataca as raízes das videiras destruindo-as aos poucos.
Videiras americanas nativas, como as pertencentes às espécies Vitis labrusca ou Vitis riparia, toleram esse
inseto, sem conseqüências adversas. No inicio, denominada Phylloxera vastatrix (a devastadora), hoje
identificada como o inseto Dactylasphaera vitifoliae.
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selecionadas geneticamente, controle de temperatura, entre outros. Para os produtores, o vinho


é feito no vinhedo, o que significa que a qualidade do vinho vem da uva da qual ele é feito.

4.3 Expansão da vitivinicultura no Brasil

De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), embora o Brasil tenha sido descoberto
em 1500, somente em 1532, com a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, que
trazia agricultores da Ilha da Madeira e dos Açores, homens com tradições vitícolas, é que a
videira foi trazida ao Brasil.

Com a intenção de colonizar a nova colônia, conhecida como Terra de Santa Cruz,
formando povoados, surgiu a necessidade de desenvolver uma agricultura de subsistência.
Assim davam-se condições à cultura da videira, que foi trazida junto a animais, sementes e
outras árvores frutíferas.

São Vicente é fundado nessa época e, conseqüentemente, a agricultura brasileira e,


com ela, a introdução da videira. Quando chega Dom Martim Afonso de Souza, enviado por
Dom João III, Rei de Portugal que traz da Ilha da Madeira as primeiras vinhas. Brás Cubas,
donatário de vastas terras cultiváveis, mandou trazer do Porto (Portugal) seus irmãos e seu
pai, em 1540, e nas terras infecundas de Jeribatiba, na serra de Piratininga, na modesta Vila de
São Paulo dos Campos, cultivou seus vinhedos, que já estavam em franca produção em 1551,
dando origem aos vinhos que supriam a falta do produto português, conforme comprova o
Inventário dos Bens, documento guardado no Convento do Carmo na cidade de Santos no
Estado de São Paulo.

A vitivinicultura brasileira iniciou após 32 anos do descobrimento do Brasil.


Podemos dizer que estes primeiros vinhos brasileiros foram elaborados brancos originários de
uvas Malvasia, provenientes do Douro ou de Verdelho, uma das mais cultivadas na Ilha da
Madeira ou ainda da Galego de Alentejo; os tintos com a casta Bastardo, Tinta e Alvaralho
provenientes da Ilha Madeira e do Douro. As referências históricas enumeram ainda
variedades como Ferraes, Boaes, Bastardo e Dedo de Dama, como as uvas mais destacadas.

Também é de procedência portuguesa o registro de 1542, referente à plantação de


vinhedos em Pernambuco, e de 1549, na Bahia, no litoral do Nordeste do Brasil, com castas
Ferral, Moscatel e Dedo de Dama, muito usadas na elaboração de vinhos.
30

A descoberta de ouro, em Minas Gerais, foi um desastre para a agricultura em geral.


A “febre do ouro” esvaziou a região agrícola. Todos queriam minerar e enriquecer
rapidamente. Tempos mais tarde, com a decadência das minas, a agricultura começou a
renascer, mas com outros objetivos.

A cana-de-açúcar, algodão e o café eram as prioridades. Santos (1998) comenta


sobre a facilidade de importar vinhos. Isso fez com que a viticultura não fosse importante e,
no ano de 1785, Dona Maria I, por meio de um documento proibiu o cultivo da videira e a
elaboração de vinhos no Brasil, para não prejudicar a produção vinícola portuguesa. Esse
“alvará” só foi revogado em 1808 por Dom João VI.

Mesmo depois dessa revogação, a viticultura não marcou presença entre as culturas
agrícolas do Brasil. O fracasso das variedades viníferas não se limitou apenas ao Brasil. Na
América do Norte também essas culturas não tiveram sucesso, então os Estados Unidos se
voltaram para variedades nativas que produziam mais e com muito menos trabalho. Tal foi o
sucesso das variedades americanas que o mundo inteiro passou a se interessar por elas.

Reforçam Albuquerque, Souza e Oliveira (1987) que, tanto a Bahia quanto


Pernambuco, apresentavam irretorquível documentação de existência da viticultura desde o
Século XVI. Onde consta que o ponto de partida do cultivo das videiras foi introduzido pela
expedição colonizadora vinda de Portugal e hábil para introduzir, nas novas terras, bacelos e
povoadores pioneiros. A primeira expedição capacitada foi a de Duarte Coelho que deu inicio,
em 1535, ao povoado de Pernambuco estabelecendo seu primeiro núcleo em Mirim, hoje
Olinda: onde grande número de colonos, tanto de Portugal e mesmo de outras capitanias onde
afirma também que as primeiras vinhas tivessem sido plantadas no nordeste brasileiro.
(ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987).

Os mesmos autores também reforçam que, em 1542, desembarcou na Ilha de


Itamaracá o capitão João Gonçalves, com a incumbência de retomar a administração. Em sua
atuação fomentou a lavoura, importou mudas e sementes e, acrescenta o autor, “o cultivo da
cana, da vinha, do tabaco e do algodão generalizou-se na ilha e logo foi se estendendo pelo
continente fronteiriço”. (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987, p.01).

Na Bahia, pode-se admitir o cultivo da parreira antes de 1549, como se verifica no


exame das cartas escritas, mais precisamente na Carta V, Informações da Terra Brasil, escrita
em 1549 na Bahia, por Nóbrega (1931, apud ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987),
nas quais relata que a produção de uvas chega a duas vezes por ano, quando não atacadas
31

pelas formigas. Souza (1938) confirma que a principal árvore é a videira, quanto mais a
podam, mais fruto produz.

O mesmo autor cita ainda, que na Bahia, em toda época do ano, há uvas que
amadurecem e são muito doces, e é possível encontrar em uma só videira, braços com uvas
maduras e outros com a fruta em flor.

Os cultivares, plantados na Bahia e Pernambuco, eram todos de Vitis vinifera, as


mesmas castas trazidas pelos primeiros portugueses, que fizeram vir da Ilha da Madeira ao
tempo das primeiras viagens, vale destacar as Malvasias, Moscatéis, Dedo de Dama, entre
outras. Estas variedades já davam celebridade ao vinho da Madeira ao tempo das viagens
colonizadoras para o Brasil. (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987).

De acordo com Philips (2005), estudos arqueológicos atuais, realizados por Oldemar
Blasi e Igor Chmyz, comprovam a existência de uma viticultura com raízes espanholas, nas
margens do rio Paraná, mais precisamente na fundação da cidade Real de Guairá, no ano de
1557. Esta cidade foi colonizada por espanhóis que entraram por Buenos Aires.

Esta viticultura, em terras paranaenses, dura até 1631 quando sua população foi
aniquilada por Raposo Tavares. O missionário jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, foi
precursor e pioneiro da viticultura no extremo sul do Brasil no ano de 1626. Graças a sua ação
de catequizar os autóctones, funda a Redução Cristã de São Nicolau, na margem esquerda do
rio Uruguai, introduzindo ferramentas e mudas de videiras de origem espanholas, via Buenos
Aires. Após a morte do jesuíta Roque Gonzáles, pelos índios Caparaós, os catequizadores da
Companhia de Jesus prosseguem a obra de expansão, fundando os Sete Povos das Missões,
onde cultivaram diversas lavouras, inclusive as videiras de origem européia, além de
fabricarem doces, conservas, roupas, pão e vinho, como relata os escritos do padre Luiz
Gonzaga Jaeges (1939). Os Sete Povos das Missões, considerados a cunha da viticultura sul-
rio-grandense, terminaram como ruínas históricas por obra de dominadores espanhóis e
portugueses.

Uma segunda introdução vitícola portuguesa no Nordeste do Brasil surge na Ilha de


Itamaracá com vinhedos constituídos por castas Ferral, Moscatel e Dedo de Dama e, desde
então, se difunde no continente, inclusive merecendo incentivos oficiais durante a dominação
holandesa, iniciada em 1647.

Vale relembrar que no período colonial a vitivinicultura não chega a ter importância
econômica, e a videira se manteve como uma planta de cultivo mais doméstico, sendo que no
32

ano de 1785, por ordem de Dona Maria I, se proíbe a instalação de indústrias no Brasil e,
como conseqüência, o cultivo da vinha e a elaboração de vinhos foram de proteção e
produção portuguesa.

A imigração italiana no Brasil se inicia aos poucos, no ano de 1820, principalmente


em São Paulo, crescendo até o final do século XIX. Muito ligados à viticultura devido a
tradição e vocação, os imigrantes italianos, trouxeram a videira para ser cultivada em suas
terras. Provavelmente, trouxeram espécies de Vitis vinifera que, ou secaram, devido a
travessia, ou não chegaram a crescer e se desenvolver, como o esperado, devido às
enfermidades e pragas já introduzidas anteriormente com as variedades americanas.

Com o passar do tempo, os imigrantes italianos, e/ou seus descendentes, levaram as


videiras para o Rio Grande do Sul e promoveram sua expansão geográfica rumo ao norte,
implantando centros vitivinícolas em Santa Catarina, no Vale do Rio do Peixe; no Paraná, em
União da Vitória, Curitiba e Londrina alcançando, recentemente, as regiões do sul - médio:
São Francisco (Juazeiro, Irecê e Curaça/ Bahia e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Casa
Nova/ Pernambuco), e do Centro-Oeste do Brasil.

O século XIX foi importante na contribuição à viticultura do sul do Brasil


principalmente pela contribuição dos imigrantes europeus. A partir de 1824, os imigrantes
alemães chegam ao Rio Grande do Sul, sendo que muitos eram conhecedores e apreciadores
de vinho e se constituíram em propagadores do cultivo de videiras nos municípios de São
Lourenço do Sul e São Leopoldo.

Também se deve aos agricultores das colônias alemãs de São Francisco do Sul e
Joinvile, em Santa Catarina, a expansão da viticultura entre 1850 e 1870, no Vale do Rio
Negro e, mais tarde, para o norte, até Curitiba – Paraná, e para o sul, até Blumenau - Santa
Catarina, com sarmentos de Isabel, procedente do Rio Grande do Sul.

A imigração de origem francesa também esteve associada à expansão da viticultura


sul-brasileira. Em 1865, se estabeleceram nos arredores de Curitiba cem agricultores franceses
chegados da Argélia, formando os primeiros grupos de viticultores com interesses comerciais
no Paraná. No Rio Grande do Sul os franceses foram notórios desde 1880, difundindo a
viticultura em Pelotas onde foram formados vinhedos com 340 mil cepas de Isabel, Concord e
Barbera na região de Santo Antônio.

Com a segunda imigração italiana, em 1875, ao Rio Grande do Sul, começa uma
nova realidade na história da vitivinicultura brasileira, onde os imigrantes italianos iniciam o
33

cultivo da parreira na Encosta superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, denominada hoje
Serra Gaúcha (ou será melhor chamar Região Uva e Vinho?).

4.4 Variedades americanas chegam ao Brasil

De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), no Brasil a primeira variedade


americana introduzida foi a ‘Isabel’ uma Vitis labrusca, logo depois chegaram às outras
variedades a ’Concord, Martha, Delaware, York Madeira e Catawba’ e outras variedades de
origem Vitis bourquina como a ’Jacque e Hebermont’ e diversos Vitis aestivales como ’Blanc
Jully, Rulander, Clinton e Norton Virgínia’.

Na primeira metade do século XIX, com o fracasso da Vitis vinifera por ataques
criptogâmicos, inicia na América do Norte a formação de vinhedos com videiras nativas,
rústicas e produtivas, em primeiro lugar com a Alexandre ou Cape, em 1801; seguida da
Isabella em 1861; da “Catawba”, em 1823, e de muitas outras que rapidamente se
disseminaram pelo mundo. No Brasil a variedade americana “Isabella”, uma Vitis labrusca foi
a primeira a ser introduzida. No Rio Grande do Sul estas variedades chegam entre 1839 e
1842, cultivadas na Ilha dos Marinheiros.

Com o surgimento do míldio2, a história da viticultura brasileira sofre


transformações, e, especialmente a do Rio Grande do Sul, onde graças a sua rápida
aclimatação, capacidade de produção e expansão, passa a ser conhecida como “uva nacional”.
Mais tarde chegam outras Vitis labrusca, como a Concord, Catawba, Martha, Delaware e
York Madeira; também algumas Vitis bourquina como Jacquez e Herbemont, e diversas Vitis
aestivalis como Black July, Rulander, Clinton e Norton’s Virginia. Em 1894 Benedito
Marengo introduz a Niágara Branca, que rapidamente se estendeu por todas as regiões
brasileiras. Em 1933, no vinhedo do Sr. Antônio Carbonari, no município de Louveira, surge
a Niágara Rosada, dada à cor rosada de suas bagas, sendo que, em menos de dez anos, é
convertida na mais importante uva de mesa do Brasil.

Entretanto, a falta de cultura vitivinícola de algumas regiões, ou a opção pelo cultivo


de outras variedades agrícolas, tais como o café e a cana-de-açúcar, fez com que não tivesse
êxito a produção de uvas no Brasil. Cabendo assim, ao Rio Grande do Sul, o papel de
desenvolver a cultura vitivinícola brasileira.

2
Míldio: Doença causada pelo fungo Prasmopara viticola e que ataca a videira (frutas, ramos e folhas).
34

4.5 A expansão da vinicultura no Rio Grande do Sul

Sem dúvida, o nascimento da vinicultura na Província do Rio Grande de São Pedro


(Rio Grande do Sul), se deu graças aos imigrantes açorianos que povoaram o litoral desde Rio
Grande e Pelotas até Porto Alegre. No período compreendido entre 1732 e 1773, além das
variedades de uvas já citadas anteriormente, introduzem as variedades Bastardo, Alvaralhão e
Malvasia. Atribui-se a Manoel de Macedo Brum da Silveira, natural da Ilha do Pico, o título
do primeiro vitivinicultor gaúcho, sendo que elaborou seus vinhos no município de Rio Pardo.
Um decreto de D. João VI, datado de 11 de março de 1813, reconhece seu pioneirismo.
(UBALDO, 1999).

Em 1824 os imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul, muitos deles eram
conhecedores e apreciadores de vinho que rapidamente difundem a vitivinicultura
aproveitando as plantas existentes, ou melhor, a Isabel.

A introdução de variedades americanas no Rio Grande do Sul, conforme Ubaldo


(1999) deu-se em 1840, por José Marques Lisboa, que envia dos Estados Unidos da América
mudas da variedade Isabel. As variedades Niágara e Concord são introduzidas na década
seguinte por viticultores paulistas.

O nascimento oficial da exploração vitivinícola, com caráter econômico-industrial,


no Rio Grande do Sul, deu-se em 1870. Em 1890, o Liceu Riograndense de Agronomia e
Veterinária de Pelotas, incluiu a cadeira de viticultura e enologia e, no mesmo ano, foi
fundada a firma Scalzilli & Cia. Ltda, com adegas em Caxias do Sul e Bento Gonçalves e
filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. (RODRIGUES, 1972).

Em 1873, a produção de vinho na província foi de 987 litros e, em 1880, já subia


para 63.160 litros elaborados com uvas híbridas, americanas e européias. (BRAMBATTI,
2002).

Em 1889, no final do Império, ocorre a Primeira Exposição de Vinhos nacionais,


juntamente com a Primeira Exposição Internacional do Açúcar, no Rio de janeiro.
Concorreram ao certame, vinhos brancos e tintos, das províncias do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de Pernambuco, num total de 58
amostras. Todos foram analisados e comentados do ponto de vista organoléptico, sensorial.

Como consta, a arte de elaborar bons vinhos no Rio Grande do Sul já era percebida
no final do Brasil Império. A província do Rio Grande do Sul apresentou seis vinhos, um dos
35

quais branco. Um deles tinto, Monte Bonito, 1882, de Pelotas, de uva “portuguesa”, mereceu
a qualificação maior, com o comentário “não artificialmente adoçado” e considerado
semelhante ao vinho da Borgonha. (SANTOS, 1998, p. 60).

Em 21 de abril de 1899, foi inaugurada em Pelotas, pelo Governo do Rio Grande do


Sul, a 1ª Exposição Agrícola do Estado, com uma presença expressiva de vinhos elaborados
naquele município.

Uma publicação da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, no Jornal da


Semana de 14/02/71, mostrava que no Estado existiam 1.120 estabelecimentos vinícolas e 329
engarrafadores, representando 80% do total do vinho elaborado no país.

Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País, com 54,2% do
total, sendo que 90% da uva é transformada em vinhos, sucos e derivados. Isto mostra um
aumento de área de cultivo em relação a 2006 em 12,09%, segundo levantamento do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE, 2007).
36

5 TURISMO – BREVE HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

Antes mesmo de nascer a expressão turismo, os povos antigos sabiam que existia um
grande espaço físico ao seu redor e que neste espaço podiam se deslocar por diversos motivos.
A palavra é originaria do francês tourisme, derivado de tour, em que está implícita a idéia de
retorno. O “grande volume dos intercâmbios culturais e, sobretudo comerciais,
proporcionados pelo turismo teve início na segunda metade do Século XX quando se criou
uma indústria de grandes dimensões”. (BARSA, 1998, p. 213).

As buscas por novas experiências e a vivência de novas descobertas sempre foram


características do ser humano. Podemos verificar tais fatos desde as civilizações antigas, em
que foi possível encontrar registros de deslocamentos humanos de um determinado local para
outro. Estes deslocamentos eram motivados pelas mais diversas razões: sobrevivência,
guerras, conquistas de novos territórios, peregrinações religiosas, saúde, diversão entre outros
motivos que levaram o ser humano a se deslocar. (BARRETTO, 2003).

Heródoto (pai da história), já relatava em seus manuscritos suas experiências em


viagens, nos quais descreve a sua visita às pirâmides do Egito. Outro fato de importância
vital, que podemos julgar como o embrião do turismo, isto é, deslocamento de pessoas de um
determinado lugar para outro por determinado tempo, sem dúvida foi ocasionados pelo
desenvolvimento dos povos gregos e romanos. Na Grécia em 776 a.C., realizaram-se os
primeiros Jogos Olímpicos da Era Antiga. Este tipo de evento acontecia de quatro em quatro
anos e possuía caráter religioso. A partir desses Jogos Olímpicos o espírito de hospitalidade
desenvolveu-se. “neste período em que estavam ocorrendo os jogos, se estabelecia uma trégua
e nenhum tipo de batalha era travado.” (MATIAS, 2007, p.3).

De acordo com Barretto (2003, p. 45), teriam sido os romanos os primeiros a viajar
por prazer. Através de pinturas pré-históricas (mapas, azulejos, vasos,...) comprovam que os
antigos romanos iam à praia e aos spas, buscando divertimento em primeiro lugar, e em
segundo momento, cura. Com o desaparecimento do Império Romano, as viagens de prazer
acabaram e as estradas começaram a deteriorar-se e até mesmo destruir-se totalmente.

Citam-se, ainda, os espetáculos no Anfiteatro Flávio, mais conhecido como Coliseu,


com capacidade de 50 a 70 mil espectadores, era uma das grandes paixões dos antigos
romanos, a festa de inauguração durou cem dias, sem interrupção, atraindo pessoas dos mais
variados locais, beneficiadas pelas inúmeras estradas que, até então, o Império Romano havia
37

construído, o que foi determinante para que seus cidadãos viajassem. (LIBERATI;
BOURBON, 2005).

Outros tipos de acontecimentos identificados na Antigüidade foram as Festas


Saturnálias, instituídas em 500 a.C., das quais deriva o carnaval. As civilizações antigas
deixaram de herança para o turismo o espírito de hospitalidade, infra-estrutura de acessos e
espaços para eventos.

Na Idade Média houve pouco desenvolvimento do turismo, em conseqüência da falta


de segurança nas estradas. Em contrapartida, conforme MATIAS (2007) surgiu o primeiro
Guia de Estradas de Charles Estiene em 1552, que continha informações, roteiros e
impressões sobre viagens, e a publicação Of Travel, de Francis Bacon em 1612, com
orientações para os viajantes. Destacaram-se nesta época os eventos religiosos e comerciais,
onde um grande número de pessoas se deslocava, principalmente membros do clero (os
concílios e as representações teatrais de caráter religioso) e os mercadores (as feiras
comerciais).

Matias (2007) comenta que, com o declínio da Idade Média, voltam os viajantes de
espírito investigativo composto por artistas, artesões, músicos e poetas pessoas que viajavam
para mostrar o seu trabalho, adquirir experiência profissional e, também, conhecer outras
culturas e localidades. Nessa época surgem também as viagens conhecidas como Grand Tour,
atingindo seu auge no século XVIII, onde jovens filhos de famílias nobres, com intuito
educacional, deveriam percorrer o mundo, adquirir experiência profissional e se preparar para
ser um membro da classe dominante. Por volta do século XVIII, o Grand Tour tornou-se
comum entre as elites britânicas, reunindo ao mesmo tempo prazer e instrução.

O grande impacto do Grand Tour representou uma mudança revolucionária,


principalmente por tratar de interesse na saúde. Eram comuns viagens para lugares que
ofereciam banhos considerados medicinais, prática que ficou restrita aos aristocratas. Por sua
vez, a burguesia se preparava à busca do lucro na atividade.

Com o aparecimento das hospedagens, albergues ou estalagens e a melhoria das


condições de viagens através das ferrovias e do trem, em 1830, propicia-se maior conforto e
segurança ao passageiro, reforçando o surgimento do turismo.

De acordo com Fávero (2006) e Matias (2007), a Revolução Industrial, já no final do


Século XVIII, operou grandes mudanças na sociedade, transformando a economia manual em
mecanizada. O trabalho humano ou animal foi substituído por outros tipos de energia, como a
38

máquina a vapor ou de combustão. Tais mudanças causaram transformações também nos


transportes e comunicações. Todas essas mudanças refletiram também nos tipos de eventos
realizados, causando o surgimento dos eventos técnicos e científicos. Os problemas sociais
decorrentes ao stress dos trabalhadores, provocado pelas longas jornadas de trabalho nas
linhas de produção e o conseqüente desejo de evasão, motivaram os primeiros deslocamentos
dos proletários.

Surgem também nessa época, as lutas das causas trabalhistas que resultam no direito
de adquirir férias remuneradas, redução da jornada de trabalho e outras lutas que passam a
repercutir no mundo inteiro, aumentando cada vez mais o número de pessoas em viagens.

O turismo só passa a ser uma atividade organizada no Século XIX, quando o inglês
Thomas Cook organizou a ida de um grupo de pessoas para participar de um congresso, isso
em 1841. O turismo, para se consolidar definitivamente como atividade econômica e social no
século XX, recebeu contribuições de outros tipos de turismo, como o esportivo, feiras de
amostras e, principalmente, das exposições universais. O automóvel causou verdadeiro
impulso ao turismo. Depois do automóvel é a vez do avião, que encurtou as distâncias,
propiciando aos viajantes, rapidez, segurança e muito conforto.

5.1 Breve histórico do turismo no Brasil

De acordo com Matias (2007), o Brasil desperta para o turismo no século XX:

[...],em 1922, quando realiza no Palácio de Festas, no Rio de Janeiro, a Exposição


Internacional do Centenário, evento esse que tinha por objetivo comemorar o
Centenário da Independência do Brasil. Esse foi um grande passo para o Brasil
começar a desenvolver o Turismo. A Exposição Internacional do Centenário
contou com a participação de quatorze países expositores: Argentina, Estados
Unidos, Portugal, Inglaterra, Bélgica, França, Noruega, México, Dinamarca, Itália,
Suécia, Uruguai, Tcheco-Eslováquia e Japão. A exposição recebeu cerca de
3.626.402 pessoas, uma média diária de 12.723 visitantes. (MATIAS, 2007. p. 26-
27).

No ano de 1928, no Brasil é criada a Convenção Interestadual de Turismo, hoje


Touring Club do Brasil. Na década de 1930 e início dos anos de 1940, os segmentos de
turismo param devido a Segunda Guerra Mundial. Nesta época foram inaugurados vários
hotéis-cassinos, que ofereciam espetáculos nacionais e internacionais. Também foi
inaugurado o Estádio Mário Filho, também conhecido como Estádio do Maracanã, no Rio de
Janeiro, em 1950, para sediar a Copa do Mundo.
39

Após esses importantes acontecimentos, o Turismo no Brasil foi se transformando


em uma atividade cada vez mais organizada. Em 1953, criou-se no Rio de Janeiro a
Associação Brasileira de Agências de Viagens - ABAV. Os congressos da ABAV mostram o
crescimento do Turismo Nacional, apresentando tendências para uma maior
profissionalização, em que os agentes de viagens demonstram o interesse por informações
técnicas e novas possibilidades de acordos empresariais, para melhor atender seus clientes.

Outro acontecimento importante no Turismo aconteceu no final da década de 1970.


Foi o Encontro Nacional de Bacharéis e Estudantes de Turismo - ENBETUR. Em 1999, sua
denominação foi alterada para Congresso Brasileiro de Turismo - CBTUR.

Em 2005, o Ministério do Turismo - MTUR - cria o Salão do Turismo, para


impulsionar o Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil3, visando
promover e comercializar novos produtos/roteiros turísticos desenvolvidos de acordo com as
diretrizes políticas estabelecidas no Plano Nacional de Turismo – PNT, como também mostrar
um novo olhar sobre a atividade turística como forma de promover o desenvolvimento
sustentável e a inclusão social, entre outros benefícios para as comunidades envolvidas.

5.2 Breve histórico do turismo no Rio Grande do Sul

No ano de 1935, o Rio Grande do Sul, preparava-se para comemorar o Centenário


Farroupilha. Este fato glorioso certamente iria atrair milhares de pessoas, sendo primordial
criar um órgão que cuidasse da recepção, da assistência e da informação turística, fundou-se o
Touring Club do Rio Grande do Sul, como entidade capaz de gerenciar tais tarefas. No dia 21
de março de 1935, em assembléia de fundação realizada no Clube do Comércio, nasceu o
Touring Club do Rio Grande do Sul. Em cinco de setembro do mesmo ano em assembléia
geral extraodinária, o Touring Club do Rio Grande do Sul passa a ser incorporado ao Touring
Club do Brasil.

No dia 15 de setembro de 1935, o Touring4 inaugurou sua sede no Hotel Magestic,


loalizado na Rua dos Andradas, 736, onde funcionou por mais de trinta anos, até sua nova
sede na Av. João Pessoa. A 20 de setembro de 1935, finalmente os portões foram abertos aos

3
Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil é um dos Programas do Plano Nacional de
Turismo - PNT (2003-2007), que propõe a organização de territórios definidos em conformidade com os
critérios e as realidades de cada estado e Distrito Federal.
4
O mesmo que turismo.
40

numerosos visitantes do país e do exterior para Exposição do Centenário Farroupilha. Este foi
o primeiro local de prestação de serviços a turistas, de que se tem notícia no Estado.
(FLORES, 1993).

Assim que o Touring Clube se instalou no Rio Grande do Sul, em 1935, edita a
Revista Touring, visando conquistar adeptos para a sua causa. Foi à primeira publicação
turística que circulou em nosso Estado. A revista foi publicada até 1945, ano que marcou
trauma para toda a atividade turística, decorrente da II Guerra Mundial. Durante a década de
1935 a 1950, o Touring conduziu sozinho o turismo no Estado. Foram quinze anos de bons
trabalhos que acompanharam o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Sul.

Em conseqüência da realização da Exposição do Centenário Farroupilha, o Touring


inicia o trabalho de conduzir esses visitantes que atraídos a Porto Alegre para visitarem este
evento, passam a conhecerem também a Serra Gaúcha: utilizava trem ou carromotor. A
primeira meta turística foi Caxias do Sul, onde o vinho, a metalúrgica e as malhas eram a
atração. Caxias do Sul foi, assim, o primeiro ponto turístico do Estado, afora Porto Alegre, a
despertar interesse nacional. (FLORES, 1993, p. 27). Cita a mesma autora que, outros fatos
importantes ocorreram na década de 1930 na Serra Gaúcha, que eram alvo de curiosidade dos
brasileiros: A fonte do vinho, durante a Festa da Uva, evento realizado desde 1931, e a neve
cobrindo a cidade nos dias de inverno, foram imagens que espicaçaram a curiosidade dos
brasileiros dos anos trinta, mesmo sem as facilidades de divulgação da mídia de hoje em dia.
(FLORES, 1993, p. 27).

Com o início do turismo em automóvel, o Touring preocupa-se com o fato e começa


a editar roteiros que permitiam viajar de carro, com alguma segurança, apesar do atraso da
rede rodoviária. Publica o primeiro guia turístico de Porto Alegre, que logo veio a juntar-se a
primeira Carta Rodoviária do Rio Grande do Sul, todas distribuídas gratuitamente.

A história do turismo no Rio Grande do Sul teve seu marco inicial em 23 de janeiro
de 1950, quando o governador Walter Jobim promulgou a Lei nº 997, criando o Conselho
Estadual de Turismo, CET, e o Serviço Estadual de Turismo, SETUR. Assim o Rio Grande do
Sul passa à condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil em nível estadual.

A posição de vanguarda assumida pelo Rio Grande do Sul repercutiu muito, não
demorou para os demais Estados brasileiros adotarem as mesmas medidas, enviando
emissários ao sul, para aprender com a experiência gaúcha.
41

O descaso da União em beneficio do turismo, aliado aos poucos recursos do Estado,


dificultou a instalação do Serviço Estadual de Turismo, privando assim seu braço executivo.
Essa situação mudou somente em 1959, quando o CET, passa a criar a Taxa de Turismo, com
objetivo de arrecadar recursos financeiros para desenvolver os seus planos de fomento e de
estruturação.

No entanto, a falta de apoio da Assembléia Legislativa Estadual, por diversos


motivos, somado a pouca vontade política, veio dar o fim a Taxa de Turismo.
Conseqüentemente, o Serviço Estadual de Turismo, por falta de recursos, deixou de ser
instalado. Durante o mandato do governador Ernesto Dornelles, de 1951 a 1955, o trabalho do
Conselho Estadual de Turismo, ganha apoio. “Sob a rubrica turismo, foram consignados
recursos na ordem de 30 milhões de cruzeiros." (FLORES, 1993, p. 47).

Com recursos, o CET projetou e construiu o Paradouro do Morro Reuter, situado


entre Porto Alegre e Caxias do Sul, destinado a receber os fluxos turísticos de fim de semana
que demandavam para a Região das Hortênsias. Procedeu a desapropriação dos rochedos à
beira-mar na praia de Torres, nasceu assim o Parque Estadual da Guarita. Igualmente
procedeu a desapropriação de uma área de 29 hectares entorno da Cascata do Caracol, que
delineou e criou o Parque Estadual de turismo do Caracol.

Em março de 1951, foi organizado o 1º Rallye de Turismo e Regularidade Porto


Alegre-Canela, visava incentivar o turismo em automóveis para a serra e chamar a atenção do
Governo Federal por melhoramentos da rodovia federal. Uma centena de participantes
disputou o Rallye, entre eles, num gesto de apoio à iniciativa do Touring, o governador
Ernesto Dornelles, mandou inscrever o carro oficial do Palácio. (FLORES, 1993, p. 48).

O município de Canela doa uma extensa área para que o Governador do Estado aí
construísse uma residência oficial de verão, tal como ocorria na esfera do Governo Federal, o
qual se transferia do Catete para o Palácio Guanabara, em Petrópolis.

Leonel Brizola, Secretário de Obras Públicas da administração Ernesto Dornelles, em


visita à Cascata do Caracol, entusiasmado com as possibilidades turísticas levou a
desapropriação e instalação do Parque Estadual de Turismo do Caracol.

Em novembro de 1956, em Torres, o governador Ildo Meneghetti encontrou-se com


Jorge Lacerda governador de Santa Catarina, pela primeira vez o turismo foi considerado
oficialmente uma questão de interesse dos dois Estados. Do encontro dos dois Governadores
foi definida uma política comum de aproveitamento turístico do parque das águas termais e
42

hidrominerais dos dois Estados e do estreito do Rio Uruguai; criação do Parque Turístico dos
Aparados da Serra; melhoria do acesso rodoviário entre Torres e Araranguá e criação do
Conselho Estadual de Turismo de Santa Catarina. Em 1956, foi instalada uma Comissão
Parlamentar Especial de Turismo, com objetivo de amparar e fomentar o turismo, a partir
desse ponto o empresário brasileiro começa a tomar consciência da importância do turismo.

Apesar de o turismo ser uma indústria que poderia render milhões de dólares para o
país, o mesmo continuava desprezado e ignorado pelo Governo Brasileiro. “Nunca, em
momento algum, constatara do Orçamento da União uma rubrica que se destinasse
especificamente ao turismo”. (FLORES, 1993, p. 52).

Na década de 1950, a Confederação Nacional do Comércio, CNN, liderada por


Umberto Stramandinoli, luta pela oficialização do turismo no Brasil, e organiza os
Congressos Brasileiros de Turismo, também é de sua autoria o Conselho de Turismo da
Confederação Nacional do Comércio. Em 1956, foi proposta a criação o COMTUR –
Conselho Municipal de Turismo, segundo Flores: “foi a primeira vez que o órgão do poder
público municipal fez ouvir a sua voz em favor do turismo” (FLORES, 1993, p. 54).

No ano seguinte, a VARIG impulsionou o turismo gaúcho, “leva suas asas a estância
termal de Irai e libertando-a de seu isolamento” (FLORES, 1993, p. 54). Nos anos sessenta o
turismo gaúcho ganha novos estímulos, quando o SETUR, com apoio da VARIG e da Pluna,
promoveu a vinda ao Estado de agentes de viagem uruguaios e argentinos, contatou jornais e
revistas do Brasil que mantinham páginas de turismo. Organizou um arquivo de fotografias e
slides dos principais pontos turísticos do Estado, em 1961, foi criado os Conselhos de
Turismo Locais, Gramado e Canela foram os primeiros a optarem pela sugestão, em 1962
realiza-se o 1º Festival da Serra em Canela. Outros municípios gaúchos aderem à nova idéia e
surgem outros eventos no Estado, se destacando a Festa do Pêssego em Pelotas; a Festa das
Rosas em Sapiranga; a 1ª Festa do Milho em Guaporé e a Festa Nacional do Calçado em
Novo Hamburgo.

Para melhorar e inovar a capacidade hoteleira do Rio Grande do Sul foi criado o
Fundo Rotativo de Crédito Hoteleiro. Nos transportes, o turismo em automóveis e ônibus é
favorecido pela pavimentação das rodovias federais e estaduais. O avião também passa a
exercer importante papel nos transportes, passando a ocupar o segundo lugar mundial quanto
à extensão comercial doméstica e freqüência de vôos em todo o País. Já os trens de
passageiros não se modernizam em conforto e rapidez, estando fadados ao desaparecimento.
43

O turismo social foi uma preocupação na época. Cita Flores (1993), duas iniciativas
foram conduzidas na área da grande Porto Alegre: a primeira, desapropriação das terras e
praias do Guaíba, e a outra a fundação do Parque Estadual de Turismo do Itapuã, com
objetivo de preservar a fauna, flora e as águas do Guaíba. Outra iniciativa foi o projeto de
Balneários Populares em Tramandaí e Pinhal, esses terminais turísticos deviam proporcionar
conforto aos milhares de turistas que procuravam essas áreas da orla marítima.

O SETUR iniciou a organização do calendário turístico do Estado e mediu a


importância econômica do fenômeno turístico, e elaborou e publicou o primeiro Guia de
Hotéis de Praia e Serra do Rio Grande do Sul.

O descaso da União em relação ao turismo brasileiro, fez surgir em 1963, o 1°


Simpósio Nacional de Turismo em Brasília, e no ano seguinte em Porto Alegre o 2º Simpósio
Nacional de Turismo. A hotelaria do interior do Estado, conforme a mesma autora (FLORES,
1993, p. 80), ganhou impulso e inovação com a inauguração do Hotel Charrua, em Rio
Grande, Bagé e o Hotel das Hortênsias em Gramado.

No final da década de 1960, início da década de 1970 a Região das Hortênsias passa
a ganhar um sério competidor, segundo a autora, “surge o Roteiro da Uva e do Vinho,
reunindo atrações em Caxias do Sul, com a Festa Nacional da Uva; em Bento Gonçalves, com
a Fenavinho e Garibaldi, com a Fenachamp”. (FLORES, 1993, p. 81).

O patrimônio histórico-cultural constitui uma forte atração turística do Estado. As


ruínas da Missão de São Miguel foram recuperadas e ganharam um belíssimo Espetáculo de
Som e Luz, atraindo grande número de turistas fascinados pela reconstituição in loco da saga
missioneira, em 1982, foram reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da
Humanidade.

A importância do turismo ganha às salas de aula em 1986, quando foi elaborada e


publicada uma Cartilha Turística do Rio Grande do Sul, destinada aos alunos de 1º Grau das
Escolas Estaduais, com objetivo de ensinar à juventude sobre turismo, sua importância
econômica e social, e incluindo informações sobre o patrimônio turístico gaúcho.

No campo de desenvolvimento do turismo gaúcho se deve a outros setores, o


campismo e o da construção de traillers e ônibus de turismo. Sendo que a Marco Polo foi a
primeira fábrica de carrocerias destinadas a viagens turísticas, em 1949. A Turiscar foi a
primeira no país a fabricar traillers, e a empresa administra campings em alguns municípios
gaúchos. Atualmente, o Estado recebe cerca de dois milhões de turistas estrangeiros ao ano,
44

sendo que este fluxo de turistas se dirige, principalmente, para as praias do litoral norte:
Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, que são as mais conhecidas no Estado. No entanto, a
região turística com maior número e turistas ao longo do ano é a Serra Gaúcha.

5.2.1 Breve histórico do turismo na Serra Gaúcha

De acordo com De Paris (2008), Michelon (2008) e Dal Pizzol (2008) 5, as serras6 do
Sul atraem milhares de turistas todos os anos. Por ser a única região brasileira a apresentar
clima temperado, o Sul do Brasil possui estações bem definidas. O turismo de inverno é um
grande atrativo na região. As cidades de Gramado e Canela muito conhecidas na época de
Natal pela criatividade na decoração de suas ruas, avenidas, jardins e parques natalinos.
Também no inverno os turistas visitam essas cidades e acrescentam outras mais nos roteiros
como São José dos Ausentes e Cambará do Sul, atraídos pelas baixas temperaturas, que
podem chegar a -10º C e com nevascas, para a felicidade dos turistas. Nas mesmas podem-se
encontrar os cânions de Itaimbezinho e de Fortaleza, os quais são os maiores do Brasil.

Alguns municípios que compõem a Região Uva e Vinho – Serra Gaúcha,


principalmente Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha e Veranópolis, se destacaram no
turismo muito cedo. Como citam os entrevistados Michelon (2008), De Paris (2008), Girondi
(2008), e Sganzerla (2008),7 a região já tinha alguma experiência em turismo, fato pelo qual
esses municípios já eram considerados estações de veraneio, muito tempo antes de surgir à
moda de veranear no litoral. Diante disso podemos afirmar que a Região Uva e Vinho atinge
seu auge turístico no período de 1920 – 1940. Sabendo que no final da década de 1870 surge o
primeiro hotel de Garibaldi, o Casacurta8, pode ser considerado o primeiro hotel construído na
região de colonização italiana do Estado, que encerrou suas atividades em 1947, quando veio
as ser vendido e demolido, somente em 1953 foi inaugurado o novo Hotel Casacurta.
No início da década de 1990, surgem os primeiros hotéis na região. Segundo Nichetti9
(2008), no ano de 1903, é construído o Hotel Nichetti em Pinto Bandeira distrito de Bento
Gonçalves este atendia principalmente famílias de italianos e portugueses residentes em Porto
Alegre. Com a chegada do trem em 1919 surge o Hotel Estação em Bento Gonçalves.

5
Entrevistas concedidas nos dias 05/08/08, 11/08/08 e10/09/08 respectivamente.
6
Referiam-se à Serra Gaúcha e à Serra Catarinense.
7
Este último entrevistado no dia 05/05/08.
8
Dados do site www.hotelcasacurta.com.br. Acessado em 23/12/08.
9
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
45

A entrevistada Blauth10 (2008), afirma que o Veraneio Desvio Blauth em Farroupilha


foi construído em 1920, com o objetivo de atender os veranistas que chegavam à região. Em
1927, afirma Basso11 (2008), surge o Veraneio Bela Vista em Ana Rech, Caxias do Sul. O
Hotel Planalto de Bento Gonçalves inicia suas atividades na década de 1930. Na década de 50
12
surge em Cotiporã (antigo distrito de Veranópolis), o Hotel Dal Molin que durante os anos
50-70 atendia veranistas principalmente constituídos por espanhóis residentes na capital
gaúcha.

Em Bento Gonçalves existiam vários hotéis voltados para este tipo de turismo, entre
eles, o Hotel Planalto. O atual Museu Casa do Imigrante, na época servia como dormitório
dos funcionários deste hotel. Depois, devido alguns problemas tributários, passa o
empreendimento para o Estado, sendo posteriormente utilizado como estação de sericicultura.
Na década de 1950 é repassado ao governo municipal, com o objetivo de voltar a funcionar
como hotel, quando o prefeito Mario Mônaco tentou revitalizá-lo, criando a taxa de turismo.
A taxa era revertida em ações para o desenvolvimento do turismo, sendo que, com o término
de seu mandato, não houve seqüência desta inovação para o período. O hotel foi vendido,
passando por vários proprietários, sendo finalmente adquirido por Elias Dall’Onder. Como se
pode ver na figura a seguir representa veranistas pertencentes da elite de Porto Alegre, no ano
de 1930, veraneando em Bento Gonçalves.

Figura 1 - Veranistas do Hotel Planalto

Fonte: Museu Casa do Imigrante de Bento Gonçalves

10
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
11
Entrevista concedida no dia 23/12/08.
12
Dados do site www.hoteldalmolin.hpgvip.ig.com.br Acessado em 23/12/08.
46

Além deste, Bento Gonçalves contava com os seguintes hotéis: Hotel Bela Vista,
Hotel Paris, Hotel Zanoni, Hotel América, Hotel Estação, Hotel Valenti, Hotel Dalla Coletta,
Casa de Pouso Pasquetti, entre outros. Em Monte Belo do Sul encontrava-se o Hotel Brusqui
e, em Pinto Bandeira, o Hotel Nichetti. Com a falta de estradas pavimentadas e o advento da
“moda” de veranear no litoral, os hotéis não resistiram, vindo a desaparecer a grande maioria
deles na década de 40 e de 50.

Segundo Paulus (2008), na década de 70 inicia outro modelo de hotéis os chamados


executivos. Nesta mesma década, a grande maioria dos hotéis de Bento Gonçalves não
resistem e desaparecem. Por sua vez Michelon (2008), afirma que em decorrência da I
Fenavinho, surge o Hotel Vinocap, inaugurado em 1967. Inicialmente, o objetivo era de ser
um prédio residencial, no entanto, em função da Festa, Aristides Bertuol, o transformou em
hotel, hospedando a imprensa.

Conforme entrevista de Girondi13, o turismo surge em Garibaldi motivado pela


inauguração da Estação Férrea de Carlos Barbosa e Garibaldi, em 1917, quando junto com o
trem chegam também os turistas ou veranistas, além de pessoas que, por indicação médica,
procuravam a Serra Gaúcha para curar suas doenças pulmonares. A cidade oferecia uma boa
rede hoteleira como o Hotel Casacurta, Hotel Faraon, Hotel do Comércio, Pensão familiar da
Dona Emilia Dornelles e Pensão Farroupilha. Com o passar dos anos, o turismo se consolida,
tendo como principal evento da década de 70, a inauguração da primeira Estação Artificial de
Esqui do Brasil, fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país.

Como citam De Paris (2008) e Michelon (2008), em suas entrevistas, e corrobora


Fávero (2006), somente nos últimos tempos, mais precisamente nas décadas de 30 - 50, a
Região Nordeste do Estado, recebia um grande número de turistas que se hospedavam em
seus pequenos hotéis para veranear. No verão subiam a serra, atraídos pelo clima mais ameno
e saudável. Com o surgimento das indústrias as cidades cresceram, e a oferta de bons
empregos atraía grande número de pessoas de todo o Estado, principalmente de áreas rurais
que buscavam condições melhores de vida.

No período de 1970–1990, a nova “Era Industrial” provocou transformações na


região. Muitos hotéis fecharam, o turismo era lembrado somente para se referir às viagens dos
moradores para outros locais. Com o passar do tempo, vendedores, empresários e homens de

13
Entrevista concedida em 10/10/08.
47

negócios se deslocavam para a região para visitarem as indústrias e começaram a utilizar uma
infra-estrutura turística, então houve a necessidade de reconstruir os hotéis para alojar essas
pessoas. (FÁVERO, 2006).

Em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, conhecidas como “Pequena Itália”


pode-se encontrar algumas das melhores vinícolas do Brasil, com bastante destaque ao Vale
dos Vinhedos, situado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do
Sul. Ainda no Estado, se encontram as Missões Jesuíticas, patrimônio da humanidade,
fundadas em 1632 pelos jesuítas da Companhia de Jesus, que congregaram milhares de
indígenas guaranis que foram catequizados. Passados quase 400 anos de sua fundação, as
ruínas ainda podem ser visitadas pelos turistas apaixonados pela cultura e história local.

Com o desenvolvimento da região, um município chamado Gramado, passou a


explorar e se beneficiar com as atividades turísticas, atraindo um fluxo de aproximadamente
de um milhão de turistas por ano, isto só na década de 90. Também visitaram as cidades mais
próximas. Com o passar do tempo, as operadoras sentiram a necessidade de diversificar o
modelo de oferta turística e passaram a oferecer outros atrativos. Outro problema surge: a
superlotação dos hotéis que fez com que os visitantes se hospedassem em outros hotéis da
Serra Gaúcha. Com isso uma nova frente de turistas começa a se dirigir para a Região Uva e
Vinho, fazendo com que alguns empresários hoteleiros de Bento Gonçalves buscassem novas
formas de lazer para oferecerem a seus hospedes. Assim, sendo a uva e o vinho um produto de
atração turística em todos os lugares do mundo, o que não poderia ser diferente nesta região,
esses produtos autênticos da cultura regional passaram a ser um dos principais ingredientes na
atração dos turistas.

O passeio nos parreirais do Vale dos Vinhedos foi estudado e organizado para
atender a demanda dos turistas. Mais tarde é implantada a Ferrovia do Vinho, passeio de trem
“Maria Fumaça”, que tinha como ponto inicial a estação de Bento Gonçalves percorrendo a
região sentido norte até Jaboticaba (próximo a Ponte Ernesto Dornelles, mais conhecida como
Ponte do Rio das Antas), que não demorou em atrair mais turistas.

Mais tarde é lançado o roteiro Caminhos de Pedra, modelo de turismo rural-cultural


que despertou uma grande possibilidade de usufruir o patrimônio histórico-arquitetônico,
dando força e valor à cultura regional como a culinária e o sotaque do dialeto Vêneto, mais
conhecido como “talian”, ao estilo de vida, aos usos e costumes típicos dessa região, herdados
dos primeiros imigrantes italianos que aqui chegaram (FÁVERO, 2002). Vale lembrar que a
48

história do turismo “remonta aos anos 1920 - 1950, quando a Serra Gaúcha era muito visitada
como destino de veraneio, conforme ocorria na região”. (FÁVERO, 2006).

De acordo com a entrevistada De Paris (2008) e Fávero (2006), os turistas


provenientes da Capital do Estado e demais cidades vizinhas, vinham em busca do clima mais
ameno e, pela crença que se difundia na época, que os “ares das montanhas faziam muito bem
à saúde”, afirmavam. (DE PARIS, 2008).

Oficialmente, a história do turismo na administração pública municipal inicia em 28


de dezembro de 1957, com a criação do Conselho Municipal de Turismo em Garibaldi. “[...]
este foi o primeiro conselho municipal a ser instalado no Rio Grande do Sul”. (FÁVERO,
2006, p. 85). Também vale ressaltar o que foi escrito por Flores (1993), que afirma que o
Conselho Estadual de Turismo foi instituído em 1950, fazendo assim do Rio Grande do Sul a
condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil.

5.2.2 O Desenvolvimento da Governança do Turismo na Serra Gaúcha – a Atuaserra

A Atuaserra - Associação de Turismo da Serra Nordeste teve como data de fundação


1985, na cidade de Caxias do Sul. Surgiu de uma iniciativa de onze secretarias de turismo dos
municípios de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha,
Garibaldi, Guaporé, Nova Prata, São Marcos, Serafina Corrêa e Veranópolis. Esses
municípios tinham como objetivo, unificar os atrativos da região dos vinhedos, fortalecer e
resgatar o turismo, presente até a década de 50 quando veio a ser substituído pela atividade
industrial, cujo auge se deu nos anos 70.

O primeiro estatuto foi registrado em junho de 1986 e os objetivos eram: promover e


congregar os órgãos de turismo da Serra Nordeste; sugerir e tratar de medidas destinadas à
promoção do desenvolvimento dos municípios associados; promover o aperfeiçoamento dos
métodos de trabalho e desenvolver os usos, costumes e as tradições particulares de cada
município; estimular o intercâmbio entre os órgãos de turismo; interelacionamentos entre os
municípios; viabilizar roteiros turísticos; assessorar eventos; elaborar um calendário anual de
eventos; reivindicar aos órgãos competentes, infra-estrutura financeira, material e apoio
técnico.

Em 1995, contava com dezenove municípios integrantes. Em 1997, foi eleito o


primeiro Presidente da Atuaserra da iniciativa privada, representando a CIC de Bento
49

Gonçalves, que contratou uma técnica para desenvolver as ações de implementação e


promoção da Região Uva e Vinho.

Hoje a Atuaserra coordena as ações de Desenvolvimento do Turismo Regional, com


foco na sustentabilidade das comunidades, além da conservação da cultura e do ecossistema
existente na região. Atualmente, com 28 associados provenientes do setor público e seis
representantes do setor privado, totaliza 34 integrantes. Os municípios que compõe a Região
Uva e Vinho são: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Casca,
Caxias do Sul, Cotiporã, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guaporé,
Marau, Monte Belo do Sul, Nova Araçá, Nova Bassano,Nova Pádua, Nova Prata, Nova Roma
do Sul, Parai, Protásio Alves, Santa Tereza, Santo Antônio do Palma, São Marcos, Serafina
Corrêa, Veranópolis, Vila Flores e Vila Maria.

A primeira experiência regional deu-se com o Trem Maria Fumaça, e com o apoio do
poder público e da iniciativa privada, envolvendo os municípios de Carlos Barbosa, Bento
Gonçalves e Garibaldi.

Entre 1997 e 1998, a Atuaserra lidera o processo de desenvolvimento regional.


Elabora um plano de ação e define prioridades. Em 1998, inicia o trabalho com o artesanato
regional e desenvolve o Projeto dos Mapas Turísticos Municipal, além de parcerias com o
Sebrae para o desenvolvimento do turismo em toda Região, com o “Projeto de Turismo no
Meio Rural, Artesanato e Agronegócios”.

Entre as ações desenvolvidas pela Atuaserra, estão; inventários de todos os


municípios, criação de mapas municipais turísticos – urbanos e rurais; lançamento de 156
empreendimentos turísticos; lançamento do Guia Região Uva e Vinho; lançamento da
Comunicação Visual única para os municípios; lançamento do Pólo de Aventura Rio das
Antas; Portal e o Vídeo Institucional; definição da Paisagem Urbana de Santa Tereza e sua
participação no Movimento Brasil de Turismo e Cultura; entrega de 732 certificações de
profissionais pelo Instituto de Hospitalidade; atuação no tombamento dos Caminhos de Pedra,
Monte Belo do Sul e Garibaldi; registro das marcas para preservação da identidade regional;
criação do Banco de Imagens e de Dados; presença constante nas comunidades; auxílio
constante e transferência de Know Hall às comunidades envolvidas.14

14
Informações em:www.serragaucha.com/portal/downloads/CurriculumeAtivi- dadesdaAtuaserra.
50

5.2.3 Importância do Turismo na Região Uva e Vinho

Desde o século XX, o turismo é um dos fenômenos sociais mais importantes e não
pode ser tratado com descaso. Tendo como ponto de referência os municípios que fazem parte
da Região Uva e Vinho, apresentam atrativos de variadas culturas, se destacando pelos
aspectos geográficos diversificados, potencial ecológico, histórico e pela hospitalidade de seu
povo.

A atual globalização da economia faz com que os mercados se tornem cada vez mais
fragilizados, principalmente no setor vinícola, onde os vinhos nacionais lutam com os
importados para se manterem no mercado nacional. Uma das possibilidades de se fazer frente
à avalanche de vinhos estrangeiros é através do enoturismo.

Na Região Uva e Vinho, as atividades turísticas apresentam diversas alternativas aos


apreciadores do vinho. Existem lugares encantadores, com características peculiares, como o
Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do sul); a Rota dos
Espumantes, Estrada do Sabor e Rota das Cantinas (Garibaldi); a Rota Enoturística Vinhos de
Montanha, Caminhos de Pedra, (Bento Gonçalves), Roteiro Vinhos dos Altos Montes (Flores
da Cunha e Nova Pádua), Roteiro Vinhos e Longevidade (Veranópolis); Estrada do Imigrante,
(Caxias do Sul); Vale Trentino (Caxias do Sul e Farroupilha); Caminhos da Colônia (Caxias
do Sul e Flores da Cunha); Passeio nos Parreirais (Monte Belo do Sul) e esta surgindo um
novo roteiro em Faria Lemos (Bento Gonçalves) a Rota das Cantinas Históricas.
51

6 ENOTURISMO – CONCEITOS, DEFINIÇÃO E BREVE HISTÓRICO

Este capítulo fundamenta-se em alguns conceitos e definições do enoturismo,


conforme estudos publicados no Brasil e no mundo. Pode-se afirmar que o vinho e o turismo,
há muito tempo andam de mãos dadas, mas é recente o fato de serem reconhecidos,
principalmente pelos pesquisadores, autoridades e pela indústria turística, o que faz com que
as publicações sobre o tema sejam escassas. Atualmente no “mundo do turismo,” o vinho está
crescendo de maneira considerável como atrativo motivacional.

6.1 Enoturismo – Concepção da Atividade

Enoturismo é a soma da palavra eno e turismo. Eno deriva do grego oinos que
significa vinho e turismo originário da palavra francesa Tour e do inglês Turn; quer dizer
volta. Por sua vez turismo em latim é Tornare, que significa voltar ou voltear. Turismo em
português tem o significado de Viajar no sentido de embarcar; ir; e vir; partir e voltar.

Splendor (2008) contribui para a conceituação do Enoturismo, com sua visão de


enólogo: “O enoturismo é a cadeia para o crescimento de uma região quando bem
desenvolvido, e de estagnação, quando explorado impropriamente [...], é a troca de
experiência entre vinhateiro e consumidor.” 15 (SPLENDOR, 2008).

Para João Ferreira (2008),16 “Enoturismo é trabalhar a imagem, sentidos, emoções,


história e cultura, [...]. Enoturismo é labutar na demanda de cessações de vazios emocionais
das pessoas.” Já Lavandoski (2008), define o enoturismo puramente ligado as tradições da
cultura do vinho:

Falar em enoturismo é analisar assuntos ligados ao turismo e ao mundo dos vinhos.


É um nicho novo de mercado turístico ligado às culturas e às técnicas de
elaboração, à história e degustação do vinho e seus derivados. Enoturismo
proporciona o conhecimento e o entendimento a respeito de tudo o que cerca esta
bebida, o vinho. (LAVANDOSKI, 2008, p.25).

15
Entrevista concedida no dia 15/09/08.
16
Entrevista concedida no dia 05/06/08.
52

Barretto (2003, p.22) reforça a idéia de que “turismo cultural seria aquele que tem
como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem”. A mesma
autora reforça que o turismo, quanto ao objetivo ou à motivação, pode ter muitas
classificações. Segundo a mesma autora, atualmente existem algumas ofertas, “tour de dez
dias percorrendo vinhedos e vinícolas, para enólogos ou pessoas interessadas [...]”.
(BARRETO, 2003, p.20).

De acordo com Valduga (2007) o enoturismo pode assim ser definido:

Enoturismo, é um segmento do fenômeno turístico, que pressupõe deslocamento


de pessoas, motivadas pelas propriedades organolépticas e por todo o contexto da
degustação e elaboração de vinhos, bem como a apreciação das tradições, da
cultura, gastronomia, das paisagens e tipicidades das regiões produtoras de uvas e
vinhos. É um fenômeno dotado de subjetividade, cuja principal substância é o
encontro com quem produz uvas e vinhos. (VALDUGA, 2007 , p. 43).

Conforme Souza (2008), “o enoturismo é um poderoso instrumento de valorização e


dignificação humana que encurta caminhos fortalece laços, consolida amizades e fomenta
negócios.” 17
18
De acordo com o entrevistado Fitarelli (2008) , “Enoturismo não é apenas vinho,
mas gastronomia, história, cultura, belezas naturais e diversificação de outros produtos.”
Paulus (2008) 19 define: “Enoturismo é a valorização do vinho, do espumante por pessoas que
buscam, através de inúmeras experiências, descobrir o vinho ou espumante que mais agrada
ao seu paladar, junto com uma experiência vivenciada”. (PAULUS, 2008).

6.2 Breve histórico do Enoturismo no mundo

A origem do enoturismo, assim como sua data ainda é uma incógnita, talvez por se
tratar de um estudo recente, ou pela falta de reunir todos os estudos em uma literatura
especializada no assunto. No entanto, sabe-se que em todos os locais do mundo onde se
encontram videiras e vinhos, há uma grande possibilidade de se desenvolver o enoturismo.

Cabe citar aqui que, conforme Phillips (2005), no início do século XVII, havia um
crescente interesse por vinho na Inglaterra e em outros lugares. Muitos viajantes que haviam
participado do Grand Tour, comentavam com freqüência, e de forma otimista, sobre a comida

17
www.enoturismobrasil.com.br/ acessado em 27/10/08.
18
Entrevista concedida no dia 05/06/08.
19
Entrevista concedida no dia 10/11/08.
53

e a bebida encontrada em lugares como a Itália. Muitos destes viajantes eram atraídos pela
curiosidade sobre as terras estrangeiras. Vários destes viajantes mencionavam o vinho em
seus relatos. John Raymond trata sobre Albano, uma cidade que “merece ser visitada, se não
por sua antiguidade, ao menos por seu bom vinho – um dos melhores da Itália”. (PHILLIPS,
2005, p.193).

Outro fato curioso, talvez o mais antigo, sobre enoturismo registrado, aconteceu por
volta do ano 48 a.C. no Antigo Egito. Quando César (Imperador de Roma), em visita a este
país, declarando que desejava conhecer a cultura da terra de Cleópatra, (última rainha do
Antigo Egito) realizou uma viagem pelo Rio Nilo. Conforme estudos de Bencheley (2007), o
casal foi acompanhado por uma frota de 400 barcos. Ao longo de seis ou sete semanas de
navegação, conheceram cidades, templos, visitaram campos cobertos de trigo e de cevada, e o
mais importante, os vinhedos, herança Ptolomaica grande orgulho dos nobres egípcios.

De acordo com Splendor (2005, p.38), Donatella Colombini, presidente e fundadora


do (MTV), Movimento do Turismo do Vinho na Itália, o enoturismo é uma forma de fazer
excursões relacionadas ao vinho. Este movimento foi fundado em três de abril de 1993. A
associação disponibilizou para os turistas um roteiro de visitação às vinícolas, chamado de
“Cantina Aberta”, neste roteiro os enoturistas conhecem locais previamente estudados,
castelos, museus da cultura colonial, vinhedos e propriamente a degustação nas vinícolas.

A manifestação “Cantina Aberta” deu origem ao Wine Day (Dia do Vinho),


comemorado mundialmente no último domingo do mês de maio. Essa associação sem fins
lucrativos é responsável pela divulgação das diferentes rotas do vinho existentes ao longo do
país, aproximadamente 900 cantinas italianas estão cadastradas, cujo objetivo principal é
garantir a preservação do meio ambiente e da agricultura de qualidade, promovendo um estilo
de vida o mais natural possível, o que se torna um dos atrativos. (VALDUGA, 2007; LOCKS;
TONINI, 2004).

Cita ainda Locks e Tonini (2004) que, com a preocupação no controle da qualidade
da oferta turística e na divulgação da mesma, a associação “Cantina Aberta,” desenvolveu o
Decalogo dell’Accoglienza, agrupando todas as regiões enoturísticas que estavam associadas
ao Movimento do Turismo del Vino.

Este regulamento passou a usar como símbolo uma folha de parreira, para representar
o nível de qualidade do estabelecimento. Conforme o tipo de serviço, espaço, método e
54

pessoas, o estabelecimento recebe a identificação de três a cinco folhas de videiras verdes.


Somente os que possuírem qualidade máxima pode chegar a cinco folhas douradas.

Um dos programas de desenvolvimento do Enoturismo na Europa foi apresentado no


dia 11 de abril de 2003 pela Assembléia das Regiões Vinícolas da Europa (AREV). A Carta
do Enoturismo da Europa pretende potencializar os diferenciais das regiões com vocação
vitivínicola, agrupando todos os envolvidos e permitindo aos enoturistas escolherem seu
destino em nível local, regional e nacional. Atualmente, na Europa, existem 216 rotas de
vinhos, subdivididas da seguinte maneira: 98 na Itália, 20 na Slovenia, 17 na Áustria, 16 na
Espanha, 15 na França, 15 na Hungria, 11 na Alemanha, 11 em Portugal, 6 na Grécia, 4 na
Croácia, 2 na Suíça e 1 Eslováquia. (LOCKS; TONINI, 2004).

Citam as mesmas autoras que, segundo o site da Winemaker of. Australia (WFA-
Federação das Vinícolas Australianas), no ano de 1993, 235 mil turistas estrangeiros visitaram
o país. Em 1999, 456 mil, sendo que o maior incremento é verificado nas regiões
vitivínicolas, que passaram a investir em outros serviços para atender o turista, como
alimentação e hospedagem. Para a maioria dos turistas, a compra de vinhos é a principal
motivação. Entre os turistas nacionais, predomina casais sem filhos, num faixa de 40 - 60
anos de idade, com educação de curso superior.

Uma pesquisa realizada em 1998 contabilizou aproximadamente três milhões de


visitantes em todas as vinícolas da Austrália, sendo que 81,9% eram turistas nacionais. Sendo
o principal motivo para as visitas a degustação e compra de vinhos. (VALDUGA, 2007).

De acordo com estatísticas fornecidas pelo Office Inernational de la Vigne et du Vin


(Escritório Internacional da Uva e do Vinho - OIV), verificou-se que, nos últimos quinze
anos, a produção e o consumo de vinhos reduziu. Segundo as autoridades internacionais
ligadas ao setor vitivínicola, embora o consumo esteja em declínio, o consumidor está em
busca de maior qualidade, pois o que reduziu foi a elaboração de vinhos comuns. Em
compensação, aumentou a elaboração de vinhos finos. As mesmas estatísticas apontam os
fatores que contribuíram para a diminuição do consumo de vinhos, se destacam, por exemplo:
o desconhecimento da bebida pelos jovens, o alto preço do produto (altas taxas
administrativas e alíquotas de impostos) e a falta de campanhas publicitárias e educativas
sobre os benefícios da bebida. Com a divulgação do enoturismo e a formação de profissionais
capacitados aos poucos este segmento de mercado tende a crescer cada vez mais. (LOCKS;
TONINI, 2004).
55

Na visão de Pacheco e Silva (2001, p. 331) “os profissionais da área de serviços


turísticos devem, cada vez mais, se adaptar aos novos interesses desse público, buscando
conhecimentos que lhes permitam diferenciar e valorizar seu trabalho.”

Segundo Locks e Tonini (2004), as visitas organizadas aos roteiros enoturísticos de


países tradicionais como a França, Itália, Portugal, Espanha e Alemanha são comparadas
como as visitações aos monumentos e museus. O grande diferencial encontrado nestes países
europeus é a oferta gastronômica como atrativo cultural, pois esta reflete e concentra a
história, tradição e evolução destes povos. Além disso, considerarem o vinho como
patrimônio cultural.

Outro fator que tem contribuído para o aumento do consumo do vinho são as
publicações sobre seus benefícios para a saúde. Muito se fala e se escreve sobre a
harmonização dos vinhos com os cardápios da gastronomia. E especula-se sobre os seus
benefícios para o coração.
56

7 OS MUNICÍPIOS QUE FIZERAM O ENOTURISMO NA REGIÃO UVA E VINHO

Neste capítulo serão apresentados os municípios foco desta pesquisa, tendo em vista
que o recorte para esta pesquisa privilegiou os mais desenvolvidos enoturisticamente na
atualidade e, também, limitou-se ao tempo da mesma.

7.1 Breve histórico e apresentação do município de Bento Gonçalves

Até o ano de 1870, Bento Gonçalves denominava-se de Cruzinha. Alguns dizem por
ser o local onde morreu e foi enterrado um traçador de estradas; outros dizem que a cruz era o
túmulo de um tropeiro. No mesmo ano, o Governo da Província através de seu Presidente do
Estado do Rio grande do Sul, João Sertório, criava as Colônias Dona Isabel e Conde D’Eu.

A demarcação dos lotes das duas novas Colônias exigiu um investimento de 70


contos de réis. Em 1873, alguns imigrantes começam a chegar e ocupar 20 lotes da Colônia
Dona Isabel. Os imigrantes ficavam abrigados em barracões, alimentando-se de caça, pesca e
frutos silvestres e do pouco que era fornecido pelo governo. Depois de instalados, iniciaram
uma agricultura de subsistência. Com os excedentes agrícolas e a criação de animais, surgem
as primeiras indústrias artesanais. A troca compra e venda de produtos era feita na sede da
Colônia.

De Paris (2006), Fagherazzi (2005) e Costa (1999), citam que, em 24 de dezembro de


1875, imigrantes do norte da Itália ocupam as terras de Dona Isabel. As dificuldades nos
primeiros tempos foram enfrentadas com muito sacrifício, fé e coragem. No lombo do cavalo
ou a pé desciam até Montenegro para moer os cereais, para terem farinha. Em 1881 é iniciada
a construção da estrada, ligando as Colônias Dona Isabel, Conde D’Eu e Alfredo Chaves
cortando o norte do Estado. A atual RST-470, chamada na época de Buarque de Macedo
sendo a mais antiga via do Rio Grande do Sul a ligar Montenegro até o Estado de Santa
Catarina. Assim os produtos da Colônia Dona Isabel e Conde D’Eu eram levados em carroças
para Montenegro e Porto Alegre.

A arte de elaborar vinhos inicia na metade da década de 1885, quando surgem uns
dos primeiros estabelecimentos vinícolas na Colônia Dona Isabel.
57

Augusto Pasquali & Irmãos- estabelecimento fundado em 1885, pelo imigrante


italiano Alexandro Pasquali, elaborava vinhos e queijos, comercializados em todo
o país. Chegou a produzir em 1925, 45.000 litros de vinho e 100.000 quilos de
queijo. A indústria mantinha uma filial em São Paulo, denominada Nardon Cia.
(DE PARIS, 2006, p. 112).

No dia 11 de outubro de 1890, a Colônia Dona Isabel foi desmembrada de São João
de Montenegro, pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de
Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves de Lima e Silva20. A
jurisdição político-administrativa das colônias italianas Dona Isabel e Conde D’Eu estava
consignada ao Município de São João de Montenegro, constituindo-se o 4º Distrito, com sede
na Colônia Dona Isabel. Em 1919 chega o tão esperado trem, vários estabelecimentos foram
transferidos para as proximidades da Estação Férrea, dentre eles pode-se citar a Casa
Comercial Dall Mollin21 e a Vinícola Riograndense.22

Depois de 25 anos de colonização, relata De Paris (2008), foi iniciada uma


divulgação na Capital e demais regiões do Rio Grande do Sul, onde médicos compreenderam,
também, que a alimentação do imigrante italiano era saudável e a região era chamada de Serra
não só pelas montanhas, mas pelos ventos que podiam trazer benefícios à saúde. Uma região
onde o visitante podia vislumbrar distantes horizontes. Estes visitantes começaram a se
estabelecer nas casas dos moradores locais, estes queriam conhecer os hábitos dos imigrantes,
sua cultura e seu modo de viver.

O principal atrativo, no início do desenvolvimento do turismo em Bento Gonçalves,


segundo o relato da mesma entrevistada:

“[...], era a cultura italiana, esta era diferente e o povo era alegre, as pessoas
visitavam a região e os imigrantes se sentiam confiantes em receber os visitantes em
suas casas, eles mostravam tudo que tinham, tomavam café junto e tinham vinho a
oferecer. (DE PARIS, 08).

20
General Bento Gonçalves de Lima e Silva, foi presidente da República Piratini em 1835, proclamada pelos
revolucionários Farrapos - Revolução Farroupilha.
21
Casa Comercial Dall Mollin Era considerada uma das mais importantes casas de comércio do Estado,
chegando a participar da Exposição do Cinqüentenário de Porto Alegre, divulgando a indústria e o comércio do
município. Exportava gêneros alimentícios (queijos e produtos suínos), para a Itália, Alemanha, França e
Inglaterra (DE PARIS, 2006, p.110).
22
Vinícola Riograndense: foi fundada em 22 de julho de 1929, com a denominação de Sociedade Vinícola
Riograndense, foi considerada por muitos anos como a maior produtora de vinhos do país. Sua matriz estava
localizada em Porto Alegre e tinha estabelecimentos em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, e em
Flores da Cunha estava situado o principal vinhedo denominado Granja União, considerado o maior centro
brasileiro de uvas de castas finas (Centenário da Imigração Italiana - RS, 1975, p.364).
58

Com o passar do tempo grandes parreirais foram surgindo, algumas propriedades


passaram a plantar plátanos, para substituir as taipas de pedras. O plátano, na primavera, com
seu pólen começou a complicar o ar dos veranistas, sendo que os mesmos temiam que fizesse
mal à saúde, principalmente para os que tinham problemas de brônquios, asma ou difícil
respiração. Sobre o mesmo tema, turismo, De Paris (2008) acrescenta que a Ponte Ernesto
Dornelles, através de sua arte ajudou a projetar e atrair visitantes à região.

Em janeiro de 1943, chega a primeira turma do 1º Batalhão Ferroviário, vinda de


Santiago, que provoca uma nova imigração para a cidade.

No período de 1948 - 1955, Bento Gonçalves é muito bem representado na


vitivinicultura, sendo que possuía uma das maiores áreas de parreiras do país, com uma
produção anual de 25.900 toneladas de uvas. Este município esta localizado na Encosta
superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. Com altitude média de 618 metros, apresenta clima
subtropical e quatro estações bem definidas. Possui uma área geográfica de 382,5 km² e uma
população de 100.643 habitantes (PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES,
200723). Esta situado a 115 km de Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de
R$ 2.367.582,00 e sua Renda per capita de R$ 22.763,00 (dados de 2006). A base da
economia é a indústria, com destaque ao setor moveleiro e vinícola. No Índice de
Desenvolvimento Humano – IDH ocupa o 1º lugar no Estado e a 6ª posição no Brasil (dados
de 2003).

7.2 Breve histórico e apresentação do município de Caxias do Sul

A história de Caxias do Sul inicia bem antes da chegada dos imigrantes italianos. De
acordo com Brambatti (2002), a primeira picada que se tem notícia em direção à futura
Colônia situada aos “Fundos de Nova Palmira” foi aberta por Antônio Machado de Souza, em
1864. A região, já ocupada por indígenas, foi percorrida por tropeiros em busca de gado
alçado que fazia dos campos gaúchos seu habitat. De 1875 e início de 1877, foi denominada
"Campo dos Bugres". A ocupação por imigrantes italianos em sua maioria camponeses
provenientes da região do Vêneto (Itália) deu-se a partir de 1875, localizando-se em Nova
Milano.

23
Disponível em www.bentogoncalves.rs.gov.br. Acessado em 16/10/2008.
59

Embora tivessem ganhado auxílio do governo, através de ferramentas, alimentação e


sementes, esse auxílio teve que ser reembolsado aos cofres públicos. Dois anos após, a sede
da colônia do Campo dos Bugres recebeu a denominação de Colônia de Caxias. Em 1884,
expira-se o prazo para emancipação das Colônias Imperiais, sendo que, no mesmo ano, a
Colônia se emancipa e passa a ser distrito de São Sebastião do Cai, em 12 de abril.

No dia 20 de junho de 1890 foi então criado o Município e, em 24 de agosto do


mesmo ano, foi efetivada a sua instalação.

No dia 1º de junho de 1910, Caxias foi elevada a categoria de cidade e, neste mesmo
dia, chegava o primeiro trem, ligando a região à Capital do Estado.

Os Imigrantes eram agricultores, porém, muitos deles possuíam outras profissões. O


cultivo da videira e a elaboração de vinho marcaram a evolução e a identidade de um povo
que acreditou no trabalho.

Num primeiro momento, este vinho era para consumo próprio e mais adiante para
comercialização. A indústria vinícola na década de 60 chegou a ser a principal da região de
colonização italiana. No interior nasciam as cantinas familiares e os parreirais ocupam os
espaços destinados a outras culturas, na cidade expandiam-se as vinícolas. A qualidade do
vinho era uma busca constante, surgiram as cooperativas, oferecendo alternativas
protecionistas ao setor. Na década de 30, muitas cantinas coloniais foram incorporadas pelas
grandes vinícolas, estas já possuíam um complexo de atividades: parreirais, tanoarias,
vidraçarias e empalhamento de garrafões. Mesmo com dificuldades a produção de vinhos
crescia significativamente. Nos anos 70, a vitivinicultura continuava a ocupar destaque na
economia local, mas a tecnologia de produção permanecia estacionada e com poucos ou
talvez sem recursos para novos investimentos, algumas vinícolas começam a enfraquecer e a
mostrar sinais de falência.

Na localidade de Vila Forqueta, no ano de 1929, foi fundada a primeira Cooperativa


Vitivínicola da América Latina por um grupo de pequenas famílias em um momento de
dificuldade em que o setor estava passando. Através da uva e do vinho, Caxias se notabilizou,
sendo o berço do turismo do Estado quando em 1931, lançava a maior festa do sul: a Festa da
Uva. Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha e
apresenta altitude média é de 760 a 800 metros. O clima é subtropical. Possui quatro estações
bem definidas. Sua área geográfica é de 1.588,4 km² e conta com uma população de 412.053
habitantes (2006). Esta situado a 130 km de Porto Alegre. Suas principais vias de acesso são
60

a BR 116 e RST 122. Seu PIB é de 8,1 milhões (2004) e sua Renda per capita de R$
20.485,00 (2004). A base da economia é a indústria 50,01%; comércio e serviços, 38% e
agropecuária 4,51%.24

7.3 Breve Histórico e apresentação do município de Flores da Cunha

Segundo os historiadores, a colonização de Flores da Cunha começou em 1877, com


a chegada das famílias vindas do Vêneto, Piemonte e Treviso. Em 1878, chegaram mais
famílias de imigrante italianos vindos, principalmente, de Cremona e do Trento. No início
surgem dois pequenos povoados formados por ranchos cobertos com cascas de pinheiros,
sendo um o de São Pedro, onde hoje se encontra a sede do município, e o outro de São José, a
um quilômetro a leste. Mais tarde este povoado extinguiu-se, devido à falta de água.
Aumentada a capela de São Pedro, muitos queriam que ela fosse chamada de Nova Tirol, em
homenagem à terra de origem e outros preferiam que fosse Nova Cremona, e assim por
diante. Numa certa manhã encontraram uma placa de quatro metros pendurada no pinheiro
mais alto da praça, onde estava escrito, a carvão, “Nova Trento”, e o nome foi adotado.
Quando nasceu o município de Campos dos Bugres (Caxias do Sul), Nova Trento foi o 2º
distrito.

Em maio de 1924, Nova Trento tornou-se município. Em 1935, por decreto do


Governo Municipal, passa a se chamar Flores da Cunha. Este município esta localizado na
Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 710 metros, apresenta
clima subtropical tipo serrano. Possui uma área geográfica de 253 km² e uma população de
23.678 habitantes (2000). Esta situado a 150 km de Porto Alegre. Sua economia é baseada
na agricultura e indústria, atualmente detém o titulo de maior produtor de vinhos e de 2º maior
produtor de uvas do país25.

Em função da forte produção vitivinícola, é fundada, em 23 de janeiro de 2002, a


Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes – Apromontes26, uma associação de
dez vinícolas localizadas nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua.

24
Dados do site www.caxiasdosul..rs.gov.br Acesso em 16/10/2008.
25
Dados do site ww.floresdacunha.rs.gov.br . Acesso em 16/10/2008.
26
Apromontes - esta localizada no Villa Borghese Albergo, a Apromontes tem uma central de atendimento aos
turistas que desejam obter mais informações sobre a Rota dos Vinhos dos Altos Montes, atendendo de
segunda-feira a sábado.
61

7.4 Breve histórico e apresentação do município de Garibaldi

Em maio de 1870, o Presidente da Província do Rio Grande do sul, Dr. João Sertório,
desejando ampliar a área de colonização, criava as Colônias de Dona Isabel e Conde D’Eu,
em terras devolutas do Planalto. A divisão em lotes custou à Província quase setenta contos de
réis e, mais tarde, quando iniciado o povoamento, as terras seriam devolvidas ao Governo
Imperial. Os imigrantes alemães, temendo os índios e feras, não chegaram a povoar estas
terras. O mesmo aconteceu com os descendentes portugueses, estes não apreciavam esta
região, devido ser pouco apropriada à criação de gado bovino.

Em 1875, é aberta a Linha Colonial Figueira de Melo, ao longo da qual e da Estrada


Geral estavam disseminadas 790 pessoas em 348 lotes demarcados. Destas pessoas, 48 eram
francesas, sendo que o Presidente da Província, Dr. José Antônio de Azevedo Castro,
anunciava terem sido mandadas para servirem de núcleo e 729 eram italianos que tinham
vindo espontaneamente à Província, sem que seus nomes contassem nas listas de imigração.
No ano de 1876, foi construído um galpão para abrigar os colonos, bem como abrir uma
picada na Linha Figueira de Melo.

Oficialmente, a primeira família italiana vinda a Conde D’Eu, no ciclo da imigração,


foi a de Cirilo Zamboni, que contava com 33 anos de idade, quando se instalou no pequeno
núcleo em 15 de novembro de 1875, onde já se encontravam imigrantes de famílias suíço-
francesas. No fim de 1876, chegam novas levas de imigrantes italianos.

Escassos são os documentos da época, mas tudo indica a precariedade em que se


encontravam os imigrantes. Mesmo assim, os colonos trabalhavam, construíam casas, abriam
suas roças, plantavam, enfim, sobreviviam apesar de todas as dificuldades. Em 1878, o
Presidente da Província queixava-se das dificuldades que os imigrantes enfrentavam, visto
que muitos estavam na dependência dos subsídios pagos pelos trabalhos em estradas.

Em 1° de setembro de 1886, foi erigida a primeira capela no lugar denominado Santo


Antônio, sendo seu pároco o padre Bartolomeu Tiecher.

Finalmente, em 11 de outubro de 1890, o Governo do Estado desmembrava as


colônias Conde D’Eu e Dona Isabel, do município de Montenegro, passando ambas a
constituírem o município de Bento Gonçalves.
62

Para desenvolver a vitivinicultura no município, Aurélio Porto27, promoveu a


primeira Exposição de Uvas de Garibaldi, nos dias 24 a 26 de fevereiro de 1913, onde
compareceram 133 expositores de uvas, com 38 diferentes variedades, e 20 expositores de
vinhos. Em 1914, realiza a segunda Exposição de Uvas, nos dias 12 a 15 de fevereiro, onde
participaram 268 expositores. (GIRONDI, 2007, p. 24; COSTA, 1999, p. 102).

Costa (1999), afirma que o município de Garibaldi no ano de 1913, possuía uma
população de aproximadamente 17 mil habitantes e, Bento Gonçalves, aproximadamente 25
mil habitantes. Por Decreto de 31-10-1900, foi desmembrado o território do Município e a ex-
colônia Conde D’Eu passou à categoria de Município com a denominação de Garibaldi. “O
sábio governo do Estado, sob a égide de um Júlio de Castilhos e de um Borges de Medeiros,
ao declarar autônomo de Bento Gonçalves quis glorificar e imortalizar um se seus filhos na
gloriosa epopéia de 1835, Garibaldi: ‘o herói dos dois mundos’.” (DE PARIS, 2005, p. 82).

Conforme Girondi (2007), em 1900, muitas pessoas vinham conhecer o local, já com
a intenção de residirem, sendo que era considerado o município mais desenvolvido de toda a
região. Com a emancipação, em 1904 surge o Clube Borges de Medeiros, que na época
serviria concomitantemente de teatro, cinema, salão de festas e de palco para a 1ª Exposição
de Uvas.

O turismo nasce oficialmente com a inauguração da Estação Férrea de Carlos


Barbosa e Garibaldi em 1917, quando junto com o trem chegam os turistas ou veranistas,
chegam também às pessoas que por indicação médica que procuravam a Serra Gaúcha para
tratarem doenças pulmonares. A cidade oferecia uma boa rede hoteleira como o Hotel
Casacurta, Hotel Faraon, Hotel do Comércio, Pensão familiar da Dona Emilia Dornelles e
Pensão Farroupilha. Com o passar dos anos o turismo se consolida, tendo como principal
evento, da década de 70, a inauguração da primeira Estação Artificial de Esqui do Brasil28,

27
Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 – 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879,
descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro.
Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Sul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e
orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social,
fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do
Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25).
28
A pista de Ski D. Santini, fundada em 24/08/68. Inicialmente foi denominada Estação de Eski Presidente
Médici, por ser este o primeiro Presidente do Brasil, da origem da colonização italiana. Foi a primeira pista
artificial de esqui da América Latina. Possuía infra-estrutura de parque, pista artificial de 350 metros, pista de
esqui para iniciantes, teleférico com 40 cadeirinhas, tobogã de 280 metros, restaurante panorâmico, chalés de
montanha, artesanato e maquete da Serra Gaúcha. Todos os anos, no frio do mês de julho, aconteciam o
Campeonato Brasileiro de Esqui, podia contar com concorrentes de todos os estados brasileiros e a Competição
63

fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país. Entre os eventos, destacam-se o
Festival do Frango e do Vinho e a Fenachamp, que se mantém até hoje.

Segundo Bellini (2008)29, em 1918, algumas comitivas oficiais provindas da Itália


chegam a Garibaldi. Os moradores locais enfeitaram suas casas, colocavam lanternas
venezianas nas janelas, portas, sacadas e paredes. As ruas foram enfeitadas com bandeiras
italianas, brasileiras e lampiões, foi uma recepção muito calorosa, onde os visitantes se
impressionaram com a hospitalidade local, foi um momento inesquecível. Os jornais de Porto
Alegre publicavam: “Milhares de estrelas iluminaram as ruas de Garibaldi”. (BELLINI,
2008).

Conforme o mesmo entrevistado, os Irmãos Maristas fundaram a Vinícola Pindorama


e plantaram parreirais de cepas européias e, em 1908, elaboram seus primeiros vinhos. No ano
seguinte, seu primeiro espumante é elaborado. Vitório Espac, engenheiro prático, constrói as
primeiras máquinas para auxiliar no processo dessa bebida, tanto na elaboração quanto no
engarrafamento.

A indústria vinícola, a partir de 1924, passa a formar a base da economia do


município, com grandes vinícolas conhecidas em todo o país, tais como: a Cooperativa
Garibaldi (a maior da América do Sul, no gênero, fundada em 1936), a Cooperativa
Tamandaré, a Vinícola Armando Peterlongo (produtor do famoso champagne que leva seu
nome), a Carraro - Brosina & Cia. (produtora dos vinhos Palácio), a Vinícola Riograndense e
a Granja Santo Antônio (dos irmãos Maristas).30

Da mesma forma, lembra-se que Garibaldi está localizado na Encosta superior do


Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 613 metros. Apresenta clima subtropical,
quatro estações bem definidas e possui uma área geográfica de 181,2 km² que abriga uma
população de 29.709 habitantes É privilegiado por apresentar uma boa malha rodoviária,
tendo acesso pelas rodovias RST 470, RST 453 - Rota do Sol, BR 116, RST 240, RST 446 e
RST 122. Esta situado a 105 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.31 Seu PIB é
de US$ 397 milhões (2006) e sua Renda per capita de R$ 23.502,00 (2005). A base da

Brasileira de Esqui, acontecia dentro da semana de Garibaldi. Atualmente este parque esta desativado.
www.geocities.com/TheTropics/Paradise/6624/esqui.htm, acessado 08/09/08.
29
Entrevistado em 11/07/2008.
30
Informações obtidas no Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi.
31
Dados disponíveis no site www. garibaldi.rs.gov.br – Acesso em 16/10/08.
64

economia é a indústria metalúrgica, moveleira, alimentícia e metalúrgica. (GARIBALDI,


2008).

7.5 Breve histórico e apresentação do município de Monte Belo do Sul

O município de Monte Belo do Sul situa-se na região da Encosta Superior do


Nordeste do Rio Grande do Sul, no contexto da Serra Gaúcha, a principal produtora de vinhos
do Brasil. Seu território assim como o do município de Santa Tereza, integrou a área da
Colônia Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves, sendo colonizado por imigrantes
italianos, das regiões do Vêneto, Piemonte e da Lombardia, que chegaram a partir de 1876.

Em 13 de dezembro de 1888 é elevada à categoria de freguesia, a povoação de Linha


Zamith, sob a invocação de São Francisco de Assis, fixando-lhes limites. Em 1888 passou a
chamar-se Montebello. Nos anos de 1945 a 1949 passa-se a chamar de Caturetã (em
linguagem indígena significa povoado bonito). De 1950 a 1992 denominou-se Monte Belo e,
em 20 de março de 1992, quando emancipado, Monte Belo do Sul. (RAZADOR, 2005).

Os imigrantes exploraram suas pequenas propriedades com trabalho exclusivamente


familiar. A superação do isolamento dos imigrantes em seus lotes materializou características
que marcam a identidade cultural do município: a criação de comunidades, voltadas,
sobretudo na religiosidade das igrejas e capitéis, e a salões e clubes, em locais escolhidos para
serem sedes das comunidades ao longo das linhas.

O plantio de videiras iniciou-se por volta de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena
produção de vinhos, elaborados nos porões das casas feitas de basalto. Nas primeiras três
décadas do século XX, em toda a região de colonização italiana, a policultura vai
desaparecendo gradativamente cedendo lugar à expansão da viticultura. Leis estaduais e
federais promulgadas nas décadas de 1920/1930, especialmente relativas à higiene na
elaboração de alimentos, centralizam a produção de vinhos em grandes vinícolas localizadas
nas cidades, algumas das quais instalaram, posteriormente, centrais de recebimentos da
colheita, o que dificultou o desenvolvimento de vinícolas locais.

O comércio local foi se desenvolvendo com o passar dos anos, como cita Razador
(2005), a família Franzoni possuía casa de comércio, cantina de vinhos e licores (em 1913 já
produzia 15.000 hl anuais), fábrica de queijos, salames e serraria e mulas para o transporte de
65

mercadorias. Possuía filiais em Porto alegre e São Paulo. Em 1930, a família Scanzili
construiu cantina de vinhos. Funcionou neste ano também uma agência do Banco Pelotense.

Em 1889, é oficialmente criada a Paróquia de São Francisco de Assis. Dez anos mais
tarde, a pedido do Padre Francisco Piccoli instalaram-se as Irmãs do Imaculado Coração de
Maria, neste mesmo ano começa a funcionar a Escola Sagrada Família. No ano de 1936, para
fazer frente à crise econômica, a Escola recebeu veranistas. Em 1989 a Escola cessou suas
atividades, devido a inexistência de interessadas na formação religiosa.

Em 10 de abril de 1955, na celebração da festa da Páscoa, foram realizadas as


últimas funções na igreja velha e, no dia 15 do mesmo mês, começa a demolição da igreja. No
dia 17 de janeiro de 1965, é inaugurada a nova igreja com a presença do grande idealizador -
Padre José Ferlin, do Bispo Diocesano e do Governador do Estado - Dr. Hildo Meneghetti,
além de inúmeras autoridades e fiéis. (RAZADOR, 2005).

O município que serviu de cenário para gravação da novela da Globo, Esperança


(capítulos finais) e do filme Saneamento Básico, também é conhecido como o berço da
vitivinicultura da Serra Gaúcha. Destacam-se na produção de cítricos, leite,
hortifrutigranjeiros e agricultura de subsistência.

Realiza diversos eventos, ligados a cultura local, entre eles: Festa de Abertura da
Vindima; O Polentaço e o Festival do Artesanato Dança e Música.

Seguindo os passos do Vale dos Vinhedos e de Pinto Bandeira (distrito de Bento


Gonçalves), Monte Belo do Sul busca a delimitação geográfica. Os avanços dos trabalhos
desta futura Indicação Geográfica de seus vinhos e espumantes tendem a valorizar ainda mais
a produção local de vinhos de qualidade, de origem controlada, que expressam a identidade da
região.

A área para a Indicação Geográfica Monte Belo do Sul, foi delimitada de modo a
privilegiar a homogeneidade em termos de fatores como altitude, cuja média é de 691 metros,
bem como a valorização da paisagem e a preservação ambiental, pela preservação da mata
nativa que forma um cinturão entorno da área. Esta demarcação abrange parte dos municípios
de Monte Belo do Sul (4.114,6 hectares), Santa Tereza (381,08 hectares) e Bento Gonçalves
(553,48 hectares), totalizando 5.049,02 hectares.

O clima característico da Serra gaúcha é distinto do encontrado na maioria das outras


regiões vitícolas mundiais, com verões temperados e úmidos, possibilitando o cultivo da
66

videira. Esses fatores possibilitam a obtenção de vinhos brancos, tintos e espumantes, com
uma tipicidade própria.

A identidade cultural também se destaca a influência dos imigrantes italianos e seus


descendentes. As casas centenárias de basalto ou de madeira fazem parte dessa identidade,
bem como os capitéis, uma característica do apego religioso e o uso de plátanos e pedras para
sustentação das videiras.

Onze vinícolas, reunidas desde 2003, fazem parte da área demarcada. São cultivados
segundo dados do Cadastro Vitícola 2007, 2.450 hectares de videiras, sendo 800 delas de
variedades de uvas finas. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2008). Este município esta localizado
na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 691 metros,
apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas. Apresenta uma área geográfica de
70 km² e uma população de 2.879 habitantes (2007). Esta situado a 137 km de Porto Alegre,
Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de R$ 64.497,00 e sua Renda per capita de R$
22.559,00. A base da economia é a agricultura, principalmente o cultivo da uva. A taxa de
analfabetismo chega 0, 956% e a expectativa de vida aos78 anos. (MONTE BELO DO SUL,
2007).

7.6 Breve histórico e apresentação do município de Veranópolis

A colonização de Veranópolis teve inicio em 1884, por uma leva de imigrantes


italianos e, algum tempo depois, por um grupo de famílias polonesas. Os primeiros imigrantes
italianos eram oriundos das províncias de Vicenza, Pádua, Treviso, Cremona, Mântua, Beluno
e Tirol. No inicio foi construído um barracão32 que destinava a alojar provisoriamente os
imigrantes. Esta construção, provavelmente, gerou o nome de “Roça Reiúna”, que significa
“Roça do Rei”, isto é, de ninguém e de todos. No dia 31 de maio de 1892, através do decreto
do governo provisório, a colônia foi elevada a categoria de “vila”, com a denominação de
Benjamin Constant. No dia 15 de julho do mesmo ano, este ato foi anulado, volta novamente
a ser colônia, ou seja, distrito de Lagoa Vermelha.

32
Grande casa feita com a utilização de madeiras rústicas (troncos), que servia para abrigar os imigrantes, na sua
chegada.
67

Em 1893, durante a Revolução Federalista33 que abalou o Estado, a vila por diversas
vezes foi ocupada por forças militares, de um ou de outro lado. Depois de muitos sacrifícios
tanto materiais como em vidas humanas, somente em 1894 as coisas melhoram.

A elevação definitiva de Vila chegou em 15 de janeiro de 1898, com o


desmembramento de Lagoa Vermelha, passando o lugar a chamar-se de Alfredo Chaves. Em
26 de fevereiro de 1941, o município passa a ser denominado de Veranópolis, (que significa
“cidade veraneio”) por sugestão do escritor e poeta Mansueto Bernardi. (ARQUIVO
HISTÓRICO DE VERANÓPOLIS).34

A cultura da maçã foi introduzida na localidade de Lajeadinho pelo agricultor José


Bin, que trouxe as mudas da Argentina. A 1ª Festa Municipal da Maçã foi em 1971, ganhando
dimensões de Festa Estadual em 1973. Já, em 1976, passa a se denominar de Festa Nacional
da Maçã, hoje em sua sétima edição. Assim, Veranópolis ficou conhecida como o “Berço
Nacional da Maçã”.

Em maio de 1981, uma reportagem publicada na página 52 da Revista Geográfica


Universal, constava que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades, dedicados aos
estudos da gerontologia, citavam Veranópolis entre os locais mundiais considerados como
favoráveis ao prolongamento da vida humana. Isto levou a ser lançado um folder turístico,
onde despontava a seguinte frase: “É considerada, por técnicos da Organização Mundial de
Saúde, como Cidade da Longevidade35, primeira no país e terceira no mundo. A partir disso,
Veranópolis ganhou grande impulso, atingiu renome nacional e internacional, e impulsionou o
turismo não só municipal, mas regional. (VERANÓPOLIS, 2008). Este município esta
localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 705
metros. Apresenta clima subtropical e quatro estações bem definidas, em uma área geográfica
de 289 km² e uma população de 23.904 habitantes em 2007. Esta situado a 170 km de Porto
Alegre, Capital do Estado. Seu PIB é de R$ 347.786,640 (2002) e sua Renda per capita de R$
17.219,00 (2006). A taxa de analfabetismo é de 4,55% (2000).

33
A Revolução Federalista ocorreu no sul do Brasil logo após a Proclamação da República, e teve como causa a
instabilidade política gerada pelos federalistas, que pretendiam "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de
Júlio Prates de Castilhos", então presidente do Estado.
34
Pesquisa realizada em 4/9/2008
35
Pelos dados obtidos entre 1996 e 2000, sabe-se que, em números redondos, a média de expectativa de vida
registrada é a seguinte: Brasil -68 anos; Rio Grande do Sul -72; Veranópolis -78 anos. (Fonte: Prefeitura
municipal de Veranópolis, setembro de 2008).
68

8 HISTÓRIA DO ENOTURISMO NA REGIÃO UVA E VINHO – SERRA GAÚCHA

Na Serra Gaúcha, há uma transposição da cultura do vinho. Isso porque suas forças
combinam com um hábito de números crescentes: o fazer turismo. A chegada de visitantes em
busca de degustação, passeios nos parreirais e outros prazeres já representa entre 30% e 35%
da economia do Vale dos Vinhedos, esta pequena região formada pelos principais produtores
de uva e de vinho do país: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. “Para algumas
vinícolas de menor porte, essa fatia atinge 50%”, afirma Valduga (2007, p. 26).

Brambatti (2002) destaca, ainda, que na década de 70 foi construído um Roteiro


denominado de “Roteiro dos Parreirais” abrangendo o município de Flores da Cunha.

Figura 2 - Primeiro roteiro de Enoturismo de Flores da Cunha

Fonte: Floriano Molon, Flores da Cunha.

Cita Balico (2005) que, na década de 1950, a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já
possuía um departamento especial com a finalidade de atender os turistas, onde recepcionistas
69

tipicamente trajadas, percorriam o interior do estabelecimento explicando o processo de


elaboração dos vinhos e derivados da uva.

O entrevistado Dal Pizzol (2008) cita que, no Rio Grande do Sul, o enoturismo
oficialmente começou na Serra Gaúcha na década de 1930, em Caxias do Sul, com a
realização da I Festa da Uva e complementa: “nos anos de 1984 e 1985, a média de
enoturistas que visitaram a empresa Maison Forestier era entorno de 65 a 70 mil visitantes
ano, e o faturamento médio era de onze (11) a doze (12) dólares por pessoa”. Paulus, em sua
entrevista (dia 10/11/08), afirma que, durante todo o período de funcionamento da Maison
Forestier, a folha de pagamento era custeada integralmente com os recursos provenientes do
enoturismo.

Com o passar das décadas, o enoturismo vem ampliando sua importância econômica
na Região, sendo que, conforme o entrevistado Miolo (2008),36 “atualmente o enoturismo é
responsável por 4% do faturamento total da empresa (Vinícola Miolo), isto é muito
importante...” No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na Miolo; este
ano são esperados aproximadamente 10.000 a mais.

A importância vai além da geração de renda. O enoturismo tem sido responsável pela
37
geração de inúmeras vagas de emprego. Conforme Valduga; J. (2008) somente a Casa
Valduga, recebe anualmente em media de 60 a 70 mil turistas/ano e, graças ao enoturismo, o
empreendimento emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos serviços,
hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.

Os números expressam a importância da atividade para a Região. Em média 150.000


turistas visitam, anualmente, a Cooperativa Vinícola Aurora. Atualmente, o enoturista
representa o 2º maior cliente em rentabilidade. (FRARE, 08). Na George Aubert, o enoturista
era o melhor cliente da empresa, afirma Ferreira (2008). Mesmo para uma multinacional
como a Chandon, o enoturismo já possui grande representatividade, representando, em 2007,
quando foram contabilizados 5.391 visitantes. (CATTANI, 2008).

A roteirização do enoturismo tem ajudado no fortalecimento da identidade da


atividade na Região Uva e Vinho. Conforme o entrevistado Milan (2008),38 o Vale dos
Vinhedos vem atraindo cada vez mais enoturistas. A prova disso tudo mostra que, em 2001,
mais de 45 mil turistas visitaram a rota; em 2006, 105 mil, e em 2007, 120 mil turistas

36
Entrevista concedida no dia 30/09/08.
37
Entrevista concedida no dia 25/09/08.
38
Entrevista concedida no dia 26/08/08.
70

visitaram o Vale. Para este ano esta previsto mais de 130 mil, sendo que o primeiro semestre
já registrou 109 mil visitantes.

Conforme citado anteriormente, a elaboração oficial de vinhos no Rio Grande do Sul


é marcada com a chegada da imigração italiana em 1875, com estes imigrantes vieram seus
hábitos e as tradições, principalmente no cultivo da videira. A forte influência desse povo
rendeu temas de novelas consagradas, minisséries e até filmes como O Quatrilho, indicado ao
Oscar em 1996. “Esta divulgação fez crescer o interesse turístico por algumas cidades que
hoje fazem parte da Região Uva e Vinho, e são consideradas as maiores áreas produtoras
vinícolas do país”.39

Ainda, cita o mesmo site, que outra questão de grande importância para o enoturismo
na região foi o extraordinário avanço, em termos de qualidade, pela qual o vinho brasileiro
passou nas ultimas décadas. Com o aumento dos investimentos em pesquisa e a conquista do
mercado externo fez do Brasil , em 1995, membro da Organização Mundial do Vinho, órgão
que regula as normas internacionais de cultivo e produção do vinho.

Segundo dados da OIV, onde o Brasil tem se situado, nos últimos anos, entre os 20
maiores produtores de vinho do mundo. O consumo é ainda reduzido, cada brasileiro consome
cerca de 2 litros de vinho por ano - bem pouco, se forem levadas em consideração a superfície
e a população do país. Nos últimos anos tem havido um grande avanço no consumo, devido
principalmente à melhora da qualidade do vinho nacional. (MACNEIL, 2004, p.744).

O Vale dos Vinhedos, região formada pelos municípios de Bento Gonçalves,


Garibaldi e Monte Belo do Sul, em 2001, passa a ter a primeira Indicação Geográfica no
Brasil. Este é um dos motivos que fazem com que a região do Vale dos Vinhedos seja
considerada o maior pólo enoturístico do país. (VALDUGA, 2007).

Para os enoturistas ou até mesmo para quem busca conhecer novas culturas, a visita a
Serra Gaúcha é uma experiência inesquecível. Atualmente existem muitos outros municípios
da Serra Gaúcha que produzem vinhos e merecem ser visitados como Antônio Prado,
Cotiporã, Farroupilha, São Marcos, Guaporé, Nova Pádua, e outros mais.

O Enoturismo brasileiro é jovem como também é recente a cultura do vinho e o


conhecimento do que envolve a bebida. Mas assim como o vinho nacional cresce em
qualidade, da mesma forma que o brasileiro passa a se interessar mais pela história que há

39
Disponível em: www.planetalazer.com. Acesso em: 09 set. 08.
71

dentro de cada garrafa. A vontade de conhecer os locais nos quais se elabora o vinho se
intensifica.

Confirmam Balico (2005) e Rodrigues (1972) que o enoturismo, na Região Uva e


Vinho, iniciou somente no século XX, mais precisamente em primeiro de junho de 1910,
quando da construção da Ferrovia que ligava Caxias do Sul, Garibaldi, Carlos Barbosa,
Farroupilha e Bento Gonçalves. Com as primeiras cantinas caseiras, onde pessoas dos centros
urbanos e de outras regiões, adeptos ao vinho procuravam esses pequenos estabelecimentos
para adquirir o produto.

O enoturismo, segundo Balico (2005), despertou o amor pela história, tradição e a


gastronomia, como resultado a conscientização, a preservação e o exercício do riso, tornando
as pessoas mais agradáveis e receptivas. A primeira festa (e exposição) alusiva à uva
aconteceu em 1913, no município de Garibaldi, conforme a autora.

Segundo Rodrigues (1972), aconteceram no Estado pelo menos três exposições


anteriores a 1913, onde foram apresentados vinhos e uvas. A primeira foi realizada em1881,
denominada 1ª Exposição Agro-Industrial da Colônia Caxias, onde foram expostos, “além de
produtos da lavoura, garrafas contendo “graspa”, vinho tinto e branco, [...] O vinho provinha
da produção particular dos colonos”. (RODRIGUES, 1972, p.41). A segunda foi realizada em
1889, quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul criou o primeiro Laboratório
Enológico Riograndense em Pelotas, em 21 de abril do mesmo ano, foi inaugurada a “1ª
Exposição Agrícola do Estado”, com a presença de expressiva mostra de vinhos elaborados
naquele município. A outra exposição aconteceu em Porto Alegre, em 19 de março de 1900,
quando o Intendente José Cândido de Campos Junior, “mandou cunhar uma medalha de ouro
para ser oferecida ao viticultor do município que for classificado em primeiro lugar”, na
Exposição Estadual. (RODRIGUES, 1972, p. 44).

Para Dal Pizzol (2008), o Rio Grande do Sul é dividido em dois grandes vértices
indutores do enoturismo: o primeiro vértice que tem como principais municípios Caxias do
Sul e Flores da Cunha, considerados o berço do enoturismo no Estado. O segundo grande
vértice, Bento Gonçalves e Garibaldi, detentores dos melhores destinos enoturísticos do
Brasil.

A região se preocupa em manter parcerias, em suas ações de implementação do


turismo e do enoturismo, com o Ministério do Turismo, Embratur, Setur, Sebrae, Senar,
Emater, Instituições de Ensino Superior (UCS, FISUL, Faculdade Cenecista, CEFET/BG) e
72

com Entidades de Ciência e Tecnologia, Convênios Nacionais e Internacionais além do


Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares, que atua com uma infra- estrutura de
mais de 5000 leitos, ampliando e qualificando a infra-estrutura e a promoção do setor.
(SERRA GAUCHA, 08).

Apresentam-se, a seguir, as fases do enoturismo na Região Uva e Vinho, destacando


os principais períodos.

Tabela 1 - Desenvolvimento da vitivinicultura e do enoturismo na Região Uva e Vinho, 1875


- 2008.

Período Vitivinicultura Fases do Enoturismo Características do Enoturismo


Exposições agro-industriais;
1875 a Implantação de Primeira Fase:
Visita às cantinas familiares, em tempo
1930 vinhedos Nascimento
de colheita.

Festas da Uva e do Vinho em vários


1931 a Segunda Fase: municípios;
Expansão
1970 Implantação/Difusão Surgem as primeiras vinícolas abertas à
visitação turística.

Exposições agro-industriais;
Festas da Uva e do Vinho em toda a
1971 a
Especialização Terceira Fase: Expansão região;
1990
Visita às vinícolas em diferentes
municípios (prioritariamente, urbanas).

Exposições agro-industriais;
Festas da Uva e do Vinho em toda a
região;
1991 a Quarta Fase: Entidades de ensino superior e
Qualificação
2008 Consolidação associativistas, ligadas ao setor;
Visita às vinícolas em diversas cidades;
Roteirização do Enoturismo;
Identidade do vinho brasileiro.

Fonte: Elaborado pelo autor

8.1 O Enoturismo em Caxias do Sul e Flores da Cunha

No Rio Grande do Sul, o enoturismo tem seu início na Serra Gaúcha, na década de
1930, em Caxias do Sul, com a realização da I Festa da Uva, no dia 07 de março de 1931,
quando houve uma exposição discreta e elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro
(esquina Visconde de Pelotas com a Sinimbu). Carros alegóricos desfilavam pelas ruas da
73

cidade: “Caxias do Sul, foi o marco do pioneirismo em enoturismo, com a realização da I


Festa da Uva e, com a pavimentação da BR 116”. (DAL PIZZOL, 2008).

Figura 3 - Primeira Festa da Uva. Caxias do Sul, 1931

Fonte: Acervo Casa do Imigrante, Museu de Bento Gonçalves

No período áureo da indústria vinícola, de 1930 a 1970, as cantinas sempre foram os


pontos mais visitados pelos turistas que passavam por Caxias do Sul. Com a decadência da
maioria das cooperativas vinícolas, estas deixaram de ser visitadas. Hoje a Igreja de São
Pelegrino é o atrativo turístico mais visitado, seguida da Casa de Pedra (BRAMBATTI,
2002).

O eixo Caxias do Sul e Flores da Cunha se destaca como o primeiro pólo de atração
turística do Rio Grande do Sul, comenta Dal Pizzol (2008). Caxias do Sul se beneficiou muito
com as correntes turísticas, motivadas pelo acesso pavimentado. Algumas empresas, como a
Eberle, que na época produzia variados artigos sacros e a Gazzola, que fabricava artigos de
cutelaria, já motivavam o fluxo de pessoas à Caxias do Sul. Algumas vinícolas aproveitaram
este fluxo de “turistas”, tais como a Vinícola Luiz Antunes & Cia,40a Vinhos Mosele, a

40
A vinícola Luiz Antunes & Cia., trabalha na elaboração de vinhos desde 1866. Em 1873, foram exportados os
primeiros mil litros de vinho brasileiro. (RODRIGUES, 1972, p.29).
74

Vinícola Luiz Michelon S.A, a Cooperativa Aliança, a Cooperativa Forqueta e a Estação


Experimental de Caxias do Sul. (DAL PIZZOL, 2008; MICHELON, 2008; BRAMBATTI,
2002).

Dal Pizzol (2008) relata que as Vinícolas Luiz Michelon S.A. e a Vinhos Mosele, se
destacaram mais com o turismo, foram duas empresas que traziam muitos clientes, entre eles
havia um tipo especial o “turista político”, autoridades de importante cunho político
(governadores, ministros, deputados, e outros).

Conforme o mesmo entrevistado, Flores da Cunha nesta mesma época, contava com
a Companhia Vinícola Riograndense e a Granja União, sendo que a Abertura da Vindima
geralmente era feita na Granja União, para onde fluíam presidentes, ministros, governadores e
demais autoridades. A Granja União e a Granja São Mateus foram as duas pioneiras no
plantio e difusão de variedades viníferas, no mesmo período de Caxias do Sul.

Prossegue relatando o mesmo entrevistado que em 1957-1958, no vértice Caxias do


Sul e Flores da Cunha, teve grande destaque a Vinícola João Slaviero, situada em Otávio
Rocha, distrito de Flores da Cunha. Esta vinícola trazia caravanas de turistas de São Paulo,
para visitarem a empresa, seus principais atrativos eram os vinhedos, degustações de seus
vinhos elaborados com variedades viníferas e visitas ao estabelecimento. Devido à dificuldade
da localização, bem no interior de Flores da Cunha, e por seu acesso dificultado em função da
falta de boas estradas, João Slaviero constrói um hotel para abrigar os visitantes, sendo que
também usavam estas instalações viajantes e comerciantes.

Lembra Dal Pizzol (2008), “que a coragem em construir um hotel que passou a
abrigar enoturistas, autoridades, viajantes e clientes, foi um marco, um bom exemplo de
pioneirismo no enoturismo serrano.” Brambatti (2002) destaca, ainda, que além do já citado
Roteiro dos Parreirais, lançado em 1971, abrangendo Flores da Cunha e seu distrito Otávio
Rocha, surge, em 1989, um roteiro denominado de Caminhos da Colônia, com a finalidade de
atrair turistas para o interior de Caxias e Flores da Cunha. (DAL PIZZOL, 2008).

Flores da Cunha atualmente comercializa o roteiro dos Vinhos dos Altos Montes, que
conta com doze vinícolas que compõem a rota e que fazem parte da Associação de Produtores
de Vinhos dos Altos Montes (APROMONTES). Este roteiro foi criado em 2003, sendo que a
região é considerada a maior produtora de vinhos do Brasil. (ANUÁRIO BRASILEIRO DA
UVA E DO VINHO, 2004).
75

Apresentam-se, a seguir, as fases das principais Vinícolas dos municípios


pesquisados, destacando o início de suas atividades no Enoturismo.

Tabela 2 - Surgimento do enoturismo em algumas importantes vinícolas da Região Uva e


Vinho, 1930 -1990.

Empresa-Início da Atividade
Período Município Enoturistica Festas (principais)
-Vinícola Antunes
-Vinhos Mosele
Caxias do Sul -Vinícola Luiz Michelon 1931
1970

-Coop. Aliança I Festa da Uva


-Coop. Forqueta
- Vinícola Rio Grandense
-Granja União
Flores da Cunha -Granja São Mateus 1967
a

-Vinícola João Slaviero I Festa da Vindima

Garibaldi -Coop. Garibaldi


-Peterlongo
-George Aubert
1930

-Dreher
Bento Gonçalves -Aurora 1967
-Vinícola Rio Grandense I Fenavinho
Caxias do Sul
-Miolo
-Dom Cândido
Bento Gonçalves -Valduga 1971 - I Festa Regional
-Cordelier da Uva
1990

-Don Laurindo
-Dal Pizzol
1971 a

Garibaldi -Maison Forestier 1981


-Martini e Rossi I Fenachamp
Veranópolis -Coop. Alfredo Chaviense
OBS- Outras vinícolas a partir de 2000

Fonte: Elaborado pelo autor.

8.2 O Enoturismo em Bento Gonçalves

No vértice que compreende as localidades de Bento Gonçalves e Garibaldi, o


município de Garibaldi foi que mais se destacou no turismo. Conforme Dal Pizzol (2008) e
Fitarelli (2008), Garibaldi além de possuir um bom hotel, o Casacurta, onde se hospedavam
pessoas importantes vindas principalmente da capital gaúcha para veranear, foi beneficiado
pela chegada do trem e pelas tradicionais vinícolas já existentes. Esta idéia se consolida e se
confirma com o relato de Paulus, conforme a entrevistada, as vinícolas passam a agregar um
76

diferencial turístico no local, destacando-se a Cooperativa Garibaldi, Peterlongo George


Aubert entre outras. Anos depois, se instalam a Maison Forestier e a Martini & Rossi. Todas
vieram a oferecer um local apropriado para o recebimento dos visitantes.

Dal Pizzol (2008), Splendor (2008), De Paris (2008) e Frare (2008), em suas
entrevistas, relatam e concordam que, em Bento Gonçalves, o enoturismo ganha impulso em
1967, com a realização da I Fenavinho, depois de trinta e seis (36) anos da realização da I
Festa da Uva em Caxias do Sul. Apesar desta constatação, é sabido que algumas vinícolas já
recebiam visitantes em períodos anteriores. As empresas que mais se destacaram na época
foram a Dreher e a Cooperativa Aurora.

Na opinião do entrevistado Michelon (2008), o enoturismo surgiu um pouco por


acaso em Bento Gonçalves. Conforme o mesmo autor, em 1965, o Colégio Aparecida se
preparava para comemorar os 25 anos de sua existência no municipio. Na circunstância o
ensino particular e religioso estava sob ameaças e, nos debates que realizavam para
comemorar os 25 anos, surgiu a idéia de promover uma festa, tendo como ponto de referência
o Festival do Chope em Blumenau (Santa Catarina).

Por ser Bento Gonçalves o maior produtor de uvas e vinhos do Brasil, foi pensado
em realizar um Festival do Vinho. No mesmo período também coincidia com o
cinqüentenário da instalação das Irmãs Carlistas (Colégio Medianeira) no município, e Bento
Gonçalves iria comemorar os 75 anos de sua existência. Portanto, 1965 havia de ser um ano
marcante.

A partir disso, surgiram as primeiras reuniões com as entidades participativas, entre


elas as associações rurais, o Centro da Indústria e Comércio e a Câmara de Vereadores.
Surge a Festa Nacional do Vinho e a Exposição Agrícola Industrial, referendando o símbolo
do município: o vinho. Este passa a brindar as bodas de prata dos Maristas, as bodas de ouro
do Colégio Medianeira e as bodas de diamante de Bento Gonçalves.

Lembra Michelon (2008), que Bento Gonçalves era deficiente de todo tipo de infra-
estrutura, não existiam estradas pavimentadas, não existia telefonia e havia deficiência de
energia elétrica, alguma coisa prescisava ser feito, como relata o mesmo autor:

Na verdade o objetivo da festa era chamar a atenção às autoridades do Estado e do


País pela existência de Bento Gonçalves. [...]. A idéia não foi no enoturismo, mas
sim colocar Bento Gonçalves no mapa político brasileiro, para ser justamente
ouvida pelas autoridades responsáveis pela falta de infra-estrutura em que se
encontrava o município. (MICHELON, 08).
77

O evento deveria acontecer em 1966, porém neste ano aconteceu um desastre


meteorológico, o acesso a Porto Alegre ficou interrompido em São Leopoldo, o Rio dos Sinos
transbordou mais de um metro, o interior do Estado foi muito atingido. O município não
possuia recursos, e o Estado não atendia a estes apelos, consequentemente, foi adiada para
1967, a realização da Festa Nacional do Vinho.

A Assembléia da Comissão da I Fenavinho, convoca o Sr. Moysés Luiz Michelon,


para presidir o evento em 1967. O mesmo entrevistado relata as prioridades para organizar o
evento: “ em primeiro lugar, foi decidido sobre a escolha da imperatriz, não se falou em
escolha de rainha, pensando que Bento Gonçalves antigamente se chamava Colônia Dona
Isabel e Dona Isabel era uma imperatriz e não uma rainha, foi feita uma ligação com o
fato.”(MICHELON, 2008). Ao ser anunciado o vinho encanado nas ruas de Bento Gonçalves,
lembra o mesmo, houve a maior repercussão a respeito do evento a ser realizado:

Este fato não foi realmente uma coincidência, mas sim uma inspiração divina, e
consolidou a I Fenavinho, o fato de ter oferecido o vinho encanado nas ruas de
Bento Gonçalves, repercutiu mais que o esperado [...]. A idéia do vinho encanado
foi tomando corpo e notamos que além de promovermos Bento Gonçalves e o
vinho como produto símbolo do município, estávamos promovendo o enoturismo.
(MICHELON, 08).

O vinho representava cerca de 60% da economia de Bento Gonçalves, as indústrias


de móveis eram ainda artesanais e a Barzenski Móveis estava iniciando suas atividades de
forma muito pequena. Nesta época, o setor vitivinícola enfrentava série dificuldades, as
cantinas estavam abarrotadas de vinho, criando dificuldades financeiras e uma concordatária.

A vinda de um presidente para conhecer Bento Gonçalves, consolidou


definitivamente a I Fenavinho e o municipio, como relata Michelon (2008):

Na verdade passamos a dar notoriedade ao vinho, conseguimos pela primeira vez


trazer um Presidente da República a Bento Gonçalves (Marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco), isto aconteceu poucos dias antes de encerrar seu
governo, sabendo que sua gestão acabaria em 15 de março e no dia 25 de fevereiro
veio a Bento Gonçalves. (MICHELON, 08).

Na chegada do Presidente da República41, o dia amanheceu com um forte nevoeiro, o


avião Hercules, não conseguiu pousar no aeroclube de Bento Gonçalves, este estava situado

41
Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (Fortaleza, 20 de setembro de 1900 — Fortaleza, 18 de julho
de 1967) foi um militar e político brasileiro, primeiro presidente do regime militar instaurado pelo Golpe
Militar de 1964. Nomeado chefe do Estado-Maior do Exército pelo então presidente da República João
78

nas proximidades da Avenida Planalto. Toda a comitiva oficial chegou pela BR 116, via
Caxias do Sul, “[...] enfrentaram uma estrada com poucas condições de uso, cheia de
buracos e de curvas e muito lodo.” (MICHELON, 2008). Ao chegar a comitiva presidencial
a Bento Gonçalves, uma das primeiras palavras que o Presidente falou ao cumprimentar o
Prefeito Municipal (Milton Rosa), que o estava esperando na escadaria da Prefeitura, foi “Eu
falei aqui ao Governador (Perachi), que Bento Gonçalves merece uma estrada melhor do que
essa que tem aqui.” esta foi a primeira grande repercussão política dessa visita, comenta
Michelon (2008) e De Paris (2008).

Figura 4- Visita do Presidente da República Marechal Humberto de Alencar Castelo


Branco. I Fenavinho, Bento Gonçalves, 1967

Fonte: Moysés Michelon

O próprio Presidente intimou o Governador a dar uma maior atenção a Bento


Gonçalves. Surge então a Estrada São Vendelino segundo o mesmo entrevistado:

Foi muito difícil, visto que Caxias do Sul se habilitou também e o Governador
encontrava dificuldade em construir duas estradas, mas a pressão política foi tanta
que ele construiu as duas, a que ligava Porto Alegre a Farroupilha e São Vendelino
a Bento Gonçalves. Segundo o Governador, a estrada São Vendelino foi a mais
cara do Estado, devido à topografia, pontes e viadutos que tiveram de ser
construídos. (MICHELON, 08).

Corroboram Splendor (2008), Dal Pizzol (2008), De Paris (2008) e Michelon (2008),
que a vinda do Presidente da República do Brasil a Bento Gonçalves e, no domingo seguinte

Goulart em 1963, Castelo Branco foi um dos líderes militares do Golpe de Estado de 31 de março de 1964,
que depôs João Goulart. Presidente do Brasil - de 15/4/1964 a 15/3/1967. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08.
79

a visita de Assis Chateaubriand42, Diretor Geral dos Diários e Emissoras Associadas, e estas
deram ampla cobertura do evento, Bento Gonçalves passou a constar no mapa político do
Brasil. Com esta divulgação na imprensa brasileira, nasce o enoturismo em Bento
Gonçalves.

Cita Balico (2005) e confirma o entrevistado Sganzerla (2008) que, na década 1950,
a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já possuía um departamento especial com a finalidade de
atender os turistas, onde recepcionistas tipicamente trajadas, percorriam o interior do
estabelecimento explicando o processo de elaboração dos vinhos e derivados da uva.

O primeiro grupo a visitar a Dreher era oriundo de São Paulo, convidado em


parceria com o Hotel Atlântica (hoje Hotel Dall’Onder), este grupo foi conduzido
por Nilson Vicenti, da Panorama Turismo de São Paulo. Era composto por 36
pessoas, sendo a maior parte da 3ª idade. Estas pessoas viajavam tendo como
objetivo conhecer locais diferentes. (SGANZERLA, 08).

O mesmo entrevistado relata que trabalhou na equipe de recepção dos enoturistas na


década de 1970 na Dreher. A equipe era composta por mais quatro pessoas que atendiam
todos os dias da semana. No domingo o horário era somente das 08h30min às 12 horas.

De acordo com Splendor (2008), Sganzerla (2008), e Dal Pizzol (2008), a Dreher se
destacou com seus vinhos, espumantes e destilados, por ser uma empresa muita bem
relacionada com os veículos de comunicação, sendo o seu proprietário amigo pessoal do
jornalista e embaixador Assis Chateaubrian. Carlos Dreher Neto43 homenageou-o, lançando
um chamado Velho Capitão. Tudo isso, veio a influenciar a vinda de turista, e todos se deram
conta que era um bom negócio para a divulgação do vinho e da região.

A Dreher foi fundada em 1910, atinge seu auge na década de 1960 a 1975. Iniciou
suas atividades na Av. Marechal Floriano, onde hoje se situa a Eletro Dam (empresa de
materiais elétricos), ainda hoje podem ser visto um brasão em suas paredes. Todo o prédio foi

42
Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, mais conhecido como Assis Chateaubriand, ou Chatô
(Umbuzeiro, Paraíba 4 de outubro de 1892 — São Paulo, 4 de abril de 1968) foi um jornalista, empreendedor,
mecenas e político brasileiro. Criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34
jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O
Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis e uma editora. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08.
43
Carlos Dreher Neto era filho do imigrante Carlos Dreher Filho, este, quando chegou em Bento Gonçalves,
vislumbrou o lugar ideal para concretizar um velho sonho: produzir vinhos diferentes, da mais alta qualidade,
como os da sua terra natal (Alemanha). Na Alemanha, foi buscar inspiração e conhecimentos. De lá, trouxe as
melhores castas de videiras brancas. Ofereceu aos viticultores mais progressistas de Bento Gonçalves sem cobrar
nada. Em 1932, com seu falecimento assume seus filhos Carlos Dreher Neto e Erny Hugo Dreher.
(RODRIGUES, 1972, p. 58).
80

construído em estilo europeu, mais tarde a empresa se muda para a Rua Assis Brasil 613,
devido o pouco espaço físico de suas instalações.

Segundo Splendor (2008), e Sganzerla (2008), a Dreher S/A atraía muitos turistas
que chegavam em grandes caravanas de ônibus provenientes principalmente de Recife,
Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando o proprietário Carlos Dreher Neto visitava
alguns estados, muitas vezes era recebido pelo governador local. Ele projetava o nome de
Bento Gonçalves e da região, “o nome Dreher era um sucesso no Brasil, um marco para o
turismo e do desenvolvimento da palavra uva e vinho,” reforça Splendor (2008).

No ano de 1967, em função da I Fenavinho, a Dreher reestrutura o seu varejo para


atender aos visitantes desta festa. Em 1970, o varejo se consolida com a construção da Adega
Frau Lídia (Senhora Lídia, nome da matriarca da família), e esta adega fica até o final de sua
história.

Comenta Splendor (2008), sobre a construção do local e seu objetivo: “[...] a adega
era um lugar todo especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita
ao município, sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega
era feita em arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira.” (SPLENDOR, 2008).

A recepção ao público visitante era muito profissional, segundo Splendor (2008),


“neste local os visitantes eram bem recepcionados, se dava uma atenção toda especial e
particular, era um ambiente de diálogo, conversação, trocas de idéias, e sobre tudo de receber
opiniões.” Na época, a Dreher tinha uma filial em Porto alegre e outra na cidade do Rio de
Janeiro, isto foi muito bom para projetar o nome de Bento Gonçalves no ramo de visitação
turística do Brasil. (SPLENDOR, 2008).

Os turistas visitavam a grande maioria das instalações da empresa, engarrafamento,


recebimento das uvas, salas de vinificação e era permitido degustar os espumantes
diretamente das autoclaves, coisa inédita até o momento, como relata Sganzerla (2008). O
mesmo entrevistado lembra, dos demais atrativos que os visitantes procuram na região:

Além das vinícolas, os turistas queriam conhecer toda a região, pois já era famosa
pelos outros atrativos locais, como a Ponte Ernesto Dornelles, o esqui, o Vale do
Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os turistas
ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do
Sul. (SGANZERLA, 08).

Concordam Michelon (2008), Sganzerla (2008), e Splendor (2008), que muitas


pessoas ilustres visitaram a Dreher, o Presidente da República Humberto Castelo Branco (em
81

visita a I Fenavinho, 1967), governadores de estados, o Presidente Ernesto Geisel e jornalistas


com destaque a Assis Chateaubriand. “A Dreher se destacava das demais, foi ali servido o
almoço ao Presidente da República e ali estive presente Assis Chateaubriand”, reforça
Michelon, (2008).

A Cooperativa Aurora passa a aderir com a I Fenavinho. Conforme Dal Pizzol


(2008), este ato foi de muita coragem por parte da empresa, por ser uma cooperativa, que
recentemente tinha entrado no mundo dos vinhos finos, isto é, até o momento ela só lidava
com vinhos elaborados de uvas americanas e híbridas, no entanto, não tinha marcas
importantes no mercado, mas a partir de 1967, começou a crescer e se destacar em vinhos
finos, ao natural sentiu a necessidade de participar deste movimento enoturístico.

Dal Pizzol (2008), Paulus (2008), e Frare (2008), também comentam a entrada da
Aurora para o enoturismo e a construção do local nas suas dependências para atrair os
visitantes da festa:

Durante a realização da I Fenavinho, a Aurora construiu uma adega muito especial,


era uma pipa de vinho em que os visitantes entravam nela, era uma idéia muito
inovadora, simples e ao mesmo tempo aconchegante e os turistas queriam muito
visitar esta adega, e isso contribuiu para a empresa se projetar na vanguarda no
enoturismo. (DAL PIZZOL, 08).

Conforme Frare (2008), o varejo da Aurora foi reformado em 1970 e criou-se um


roteiro, com a finalidade de atender a grande demanda de enoturistas. Somente em 1984, foi
inaugurado um novo circuito turístico, este novo roteiro permitiu aos visitantes presenciarem
os diversos procedimentos da arte de elaborar vinhos, percorrendo corredores com barris de
carvalho, tanques de inox e enormes pipas de madeira. O trajeto é interligado por túneis, que
fazem o visitante vivenciar um pouco da cultura, das tradições locais e do romantismo
fascinante do mundo do vinho. O ponto alto da visitação é a chegada a Cave di Bacco, um
dos maiores sucessos da visitação. No local, é oferecida degustação gratuita de toda a sua
linha de produtos. No varejo da empresa, o turista tem a oportunidade de adquirir os produtos
degustados.

De acordo com Frare (2008), aproximadamente 150.000 turistas/ano visitam este


estabelecimento vinícola. Em julho deste ano foram contabilizados, aproximadamente, 20.000
visitantes, sendo 2.000 a mais do mesmo período anterior44. Uma equipe de 25 atendentes,
todos devidamente treinados, faz a recepção dos visitantes que chegam à Aurora.

44
Em 2007 se agrava a crise no setor aéreo.
82

Conforme Balico (2005), a Cooperativa Aurora, chegou a ser considerada o maior


Centro de Recepção Turística Vinícola da América Latina. O enoturismo para a Aurora
representa o 2º maior cliente em rentabilidade, ele passou a ser visto como uma ferramenta
importante de divulgação, comercialização e de grande potencialidade, segundo Frare (2008).

A entrevista de Frare (2008) reforça a idéia da importância do enoturista para a


empresa no seu desenvolvimento: “O enoturismo não só vende vinho, ele vende
principalmente emoção, história, tradição e hospitalidade. A qualidade dos produtos aqui
encontrados se deve também aos enoturistas, muito tem contribuído para o desenvolvimento
dos mesmos.” (FRARE, 2008). E prossegue em seus relatos sobre mudanças de conceitos no
país e no exterior na visão dos consumidores: “O vinho é um grande atrativo, o espumante
brasileiro está com uma boa aceitação no Brasil e no exterior. O enoturismo esta mudando um
pouco o conceito, que o país não tem a penas Carnavais, futebol e caipirinha”.(FRARE,
2008).

Aos poucos, os produtos brasileiros e o enoturismo regional vêm conquistando


credibilidade junto ao mercado externo. A Aurora vem fazendo sua parte, participando de em
feiras internacionais, segundo Frare (2008):

A Aurora participa em várias divulgações turísticas, talvez a vinícola que mais


participa em eventos, divulgando, fomentando o enoturismo em todos os locais
visitados, não leva apenas o nome Aurora ou Bento Gonçalves, mas o de toda a
região, Vale dos Vinhedos, Caminhos de Pedra, Pinto Bandeira, Garibaldi, enfim,
o nome Serra Gaúcha. Sabe-se que o turista que visita nossa região, não visita só
um local ou uma só vinícola, ele quer conhecer outros atrativos. (FRARE, 08).

Segundo a mesma entrevistada, com a realização da I Fenavinho, em 1967, a Aurora


passou a visualizar o enoturismo como uma boa fonte de renda, geração de emprego e uma
boa forma de divulgação institucional dos produtos. “Percebeu-se que as pessoas que
visitavam a empresa, acabavam levando uma imagem dela e de seus produtos, isso fez que a
emoção ficasse gravada na sua memória, influenciando depois na escolha dos produtos”.
(FRARE, 08).

A Cia. Mônaco, também criou ambientes voltados ao recebimento de turistas, relata


Dal Pizzol (2008) e Splendor (2008): “uma coisa fomentava outra, hotéis e restaurantes
voltaram a ser ocupados por turistas, que há muito tempo tinham desaparecido devido à
deficiência das estradas e falta de atrativos, optando a Gramado e Canela”. (DAL PIZZOL,
08).
83

A viticultura regional ganha grande impulso de desenvolvimento, iniciado na década


de 1930, com Celeste Gobatto, técnico italiano, que ensina métodos de enxertia e traz para a
região o enólogo “Paternó,” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas. Conforme relatam
Michelon (2008) e De Paris (2008): “O vinho começa a ter espaço com o surgimento destas
cooperativas, onde estas passaram a vinificar cada vez mais uvas” (DE PARIS, 08).

Na Região Uva e Vinho a vitivinicultura moderniza-se com a fundação da Empresa


Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1972. Seu programa visa à geração de
conhecimentos que permitam melhorias no processo de produção agropecuário. Trata-se de
uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, possui autonomia administrativa
e financeira. Sua unidade desenvolve pesquisa relacionada ao desenvolvimento da
vitivinicultura através da implantação de novas tecnologias. Vem atuando de forma integrada
e em parceria com produtores e instituições, tendo como meta viabilizar soluções tecnológicas
para o desenvolvimento sustentável do agronegócio da vitivinicultura brasileira. (DE PARIS,
2006).

No ano de 1985 através da Deliberação 008/85, a passa a se denominar de Centro


Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho – CNPUV. É uma empresa pública, vinculada ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Conforme De Paris (2006), a
EMBRAPA caracteriza-se por ser um dos centros de pesquisa mais modernos da América do
Sul na área da vitivinicultura. Apresenta atualização constante e convênios de cooperação
técnico-científica com a França.

O desenvolvimento regional passa a se solidificar mais em 1959, quando o


Ministério da Agricultura cria uma instituição de ensino profissionalizante, a Escola de
Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves. No entanto em 1967, a Escola passa a ser
vinculada ao Ministério da Educação e Cultura – MEC. Em outubro de 1985, passa a
denominar-se de Escola Agrotécnica Federal “Presidente Juscelino Kubitschek” de Bento
Gonçalves. No ano de 2002, a Escola torna-se um CEFET – Centro Federal de Educação
Tecnológica, passando a ser uma pequena universidade federal.

Desde sua data de fundação, o Centro vem formando profissionais nos cursos de
Técnico em Enologia; Técnicos em Agropecuária com Habilitação em Agricultura,
Agroindústria e Zootecnia; Técnicos em Informática; Tecnólogos em Viticultura e Enologia
(Nível Superior) e Tecnólogos em Alimentos (Nível Superior). (CEFET-BG).45

45
Disponível em www.cefetbg.gov.br/imana. Acessado em 16/12/2008.
84

Segundo Michelon (2008), com a realização da I Fenavinho surge a Fenachamp, em


Garibaldi. Foi uma seqüência lógica, as festas iniciam na década de 30 com a I Festa da Uva
em Caxias do Sul, Fenavindima em Flores da Cunha, na mesma época da Fenavinho (1967), e
outras mais, todas tendo como foco principal o enoturismo.

Prossegue o mesmo autor reforçando a mesma idéia:

O despertar do tema “vinho”, nasce com a Festa da Uva e se consolida com as


outras festas mais, então temos hoje nessa região vários municípios que exploram
o charme que tem como produto central o vinho. “[...] notamos que depois desses
grandes eventos na região, o enoturista esta presente em todas as épocas do ano, e
não só quando acontecem os eventos. (MICHELON, 08).

Por sua vez De Paris (2008), menciona a força de uma sociedade envolvida em
concretizar num sonho comum:

[...] as pequenas comunidades, os distritos começaram a realizar exposições de


seus produtos, estas eram feitas geralmente no dia do agricultor ou nas festas
religiosas do padroeiro, mostrando ou fazendo oferendas do que eles produziam e
assim se chegou a uma complementação. Nos anos 60 conhecidos como os “anos
de chumbo” devido à ditadura militar, [...] é realizada a I Fenavinho, onde o povo e
o clero se uniram e mostraram Bento Gonçalves ao Brasil. (DE PARIS, 08).

No entanto em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por
séries dificuldades. A uva nos parreirais começava a dar sinais de amadurecimento, o tom de
verde das mesmas vai mudando para o vermelho-violeta, sinalizando que a colheita não
demora a chegar, mas o setor vinícola estava quieto demais e a ansiedade dos produtores
aumentava a cada dia.

Brandelli, L., (2008),46 lembra que, em 1971 a comunidade da Linha 8 da Graciema


(Vale dos Vinhedos) resolve realizar uma festa, incentivada por Armindo Franzoni47 em
sinal de protesto aos órgãos oficiais do governo e as grandes vinícolas que se recusavam a
vinificar. Os preparativos para o evento iniciaram e surge uma polêmica, segundo o mesmo
entrevistado:

O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes tinham
sido já colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto
que Caxias do Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a
opinião de Moisés Michelon (primeiro presidente da Fenavinho de Bento
Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves.
(BRANDELLI, L., 08).

46
Entrevista concedida em 19/07/08.
47
Armindo Franzoni – natural da Linha 15 da Graciema, era produtor de uvas e revendedor de carros da marca
Ford, em Bento Gonçalves.
85

A festa aconteceu no mês de fevereiro, no principio era para ser apenas um fim de
semana, com o sucesso foi além do esperado, a festa se estendeu por mais um fim de semana,
segundo o mesmo entrevistado:

No primeiro fim de semana, compareceu tanta gente, que não sabíamos de onde
vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também
prestigiaram a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas
carrocerias, carros particulares, ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas
localidades mais próximas chegavam a pé. (BRANDELLI, L., 08).

Em um dos pavimentos do salão da comunidade, foi realizada uma exposição de


uvas e de produtos agrícolas cultivados no local: batatas, milho, cebolas, abóboras, e outros
mais, também havia espaços para algumas vinícolas que patrocinaram a festa para exporem
seus produtos e degustação dos mesmos, participaram a Vinícola Riograndense, as
Cooperativas Garibaldi e Aurora, Dreher, Salton, Mônaco, Fontanive, Júlio Brandelli,
Dumont, entre outras. Foi estipulado um valor para a visitação das exposições. Os melhores
produtores de uva foram premiados com taças e medalhas.

A presença do apoio feminino à festa não faltou, nem tão pouco sua colaboração,
segundo Zélia Brandelli (2008):48

Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime,
barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam
na cozinha e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a
preparação do churrasco e das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos
ficaram admirados com o sucesso da festa, foi muito bonito. (BRANDELLI, Z., 08).
A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de
visitantes, foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões. No entanto, Brandelli, L.,
(2008), relata a falta de apoio e de credibilidade na época pelos órgãos públicos:

O prefeito Darcy Fialho Fagundes (31/01/69 – 28/02/73, 21º prefeito do município)


se mostrou indiferente em ajudar a comunidade, mais tarde ficou sabendo do
sucesso de público, e que o evento iria se estender por mais um fim de semana,
procurou os organizadores e se colocou a disposição dos mesmos. (BRANDELLI,
L., 08).

O mesmo entrevistado lembra, que no último fim de semana, foi realizado um desfile
de carros alegóricos, retratando a chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha
e das princesas da festa, e todas as empresas participantes dispuseram de um carro para
representá-las. No local foram servidos almoços e jantas, “e os visitantes passavam a noite
48
Entrevista concedida em 19/07/08.
86

cantando e bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal”. Compareceram mais
de 15.000 visitantes. (BRANDELLI, L.,2008).

No final da década de 80 e início de 90, com desaparecimento da Vinícola Rio


Grandense e Mônaco S/A, e mais as crises no setor vinícola, tudo veio a aportar condições
favoráveis para o crescimento e surgimento de pequenas empresas familiares, segundo os
relatos de Splendor (2008).

Figura 5- Primeira Festa Regional da Uva. Linha 8 da Graciema. BG. 1971.

Fonte: Acervo Sociedade 8 da Graciema, Vale dos Vinhedos.

Splendor (2008) comenta o surgimento do nome da localidade mais importante no


enoturismo brasileiro na atualidade:

Depois da Dreher e da Vinícola Aurora, surgiu um bloco de vinícolas pequenas,


creio que o mais feliz de todos os bentogonçalvenses, na época, foi o Vereador
Carlos Perizzolo, este decide nomear de Vale dos Vinhedos, as terras que eram
mais conhecidas como Colônia Leopoldina, ou colônia dos Valduga, ou colônia
dos Carraro que eram famílias que moravam nestas terras e eram clientes da
Dreher. (SPLENDOR, 08).

Nas palavras de Paulus (2008) e Milan (2008), em 1992, com um trabalho esplêndido
do Rubens Laude e a união e esforços da comunidade, a estrada (RS 444) passa no Vale dos
Vinhedos que liga Bento Gonçalves a Monte Belo do Sul é finalmente pavimentada com
87

asfalto. De acordo com relatos de Valduga. J (2008), e Miolo (2008) o enoturismo nasceu de
forma espontânea, isto é, ao natural. A Vinícola Casa Valduga foi pioneira no recebimento de
enoturistas no Vale dos Vinhedos.

Por sua vez Paulus (2008) afirma que, o enoturismo no Vale dos Vinhedos inicia
com a Família Tumelero (Ceará da Graciema, pequena comunidade que compõe o Vale dos
Vinhedos):

Durante quatro anos, os turistas eram encaminhados pelo Hotel Dall’Onder para
aquele local. Os visitantes eram recepcionados pela família no porão da casa, onde
podiam adquirir vinhos, salames, queijos e outros produtos. Em 1985, a esposa do
senhor Tumelero desiste de trabalhar com os turistas e o casal se muda para a
cidade. (PAULUS, 08).

A mesma entrevistada comenta a desistência da Família Tumelero em trabalhar no


turismo: “Tem-se a compreensão de que o turismo, principalmente no meio rural depende
principalmente da participação decisiva da mulher”. (PAULUS, 2008).

A entrevistada prossegue relatando sobre a mudança de local de recebimento dos


visitantes: “Depois da desistência da Família Tumelero, os turistas são encaminhados para
São Valentin (Bento Gonçalves, Distrito de Tuiuty), na Família Possamai, nesse meio tempo a
Aurora se torna grande parceira do Hotel Dall’Onder”. (PAULUS, 2008).

Conforme a mesma entrevistada, no início a CVC trazia turistas a região, estes


pensavam em estarem em Gramado ou em Caxias do Sul. Em Bento Gonçalves estes turistas
reclamavam muito pela falta de atividade de lazer.

Valduga (2008), Paulus (2008) e Miolo (2008) corroboram que nos anos de 1973 a
1975, a agência do Banco do Brasil de Bento Gonçalves oferecia cursos de treinamento a seus
funcionários, e estes eram provenientes de várias regiões do Estado e também de alguns
outros estados brasileiros. Estas pessoas de bom poder aquisitivo ficavam hospedados nos
hotéis da cidade (Hotel Dall’Onder, Vinocap, e outros), visitavam o comércio local, faziam
suas compras, mas não havia nada de especial entretenimento no tempo livre. Por iniciativa
do empresário Tarcisio Michelon e outras pessoas mais, a Casa Valduga inicia oferecendo a
estas pessoas jantares simples: polenta, massas, frango, sopa de capeletti, vinho e cantorias.
“Os jantares eram servidos nos centros dos corredores, entre as pipas de vinho. “[...] os
turistas ficavam maravilhados com tudo isso, principalmente com a simplicidade, carinho,
aconchego e atenção prestada pelos proprietários.” (VALDUGA, J., 08).

O mesmo entrevistado comenta sobre o determinismo e perseverança no trabalho:


88

No inicio a comunidade os achou estranhos, receber os turistas e oferecer jantares


na vinícola. Com muita, fé, trabalho e determinação, a idéia ia amadurecendo e se
consolidando cada vez mais. Os enoturistas ficavam envolvidos com a boa
hospitalidade, aliada a gastronomia e aos bons vinhos. (VALDUGA, J., 08).

No ano de 1979, foram inaugurados o restaurante e a pousada, com o passar do


tempo a Casa Valduga foi fomentando outras vinícolas no Vale. A parte social também aos
poucos foi se fortalecendo, cita o mesmo entrevistado, com o aumento do número de
visitantes, o acesso que separa a comunidade do município sede foi pavimentado, telefonia e
escolas novas foram instaladas. “Os moradores locais passaram a cuidar melhor das suas
residências, com boas pinturas e jardins coloridos de flores. Tudo isso para deixar uma boa
impressão do local aos visitantes que ali chegavam”. Com o resultado deste trabalho, a Casa
Valduga foi crescendo e se modernizando cada vez mais, adquirindo equipamentos modernos:
tanques de aço inox, refrigeração, moedoras, prensas, e outros mais. Assim passaram a
elaborar vinhos com semelhante tecnologia das multinacionais, Maison Forestier, M.
Chandon e Martini e Rossi. Com a entrada de vinhos importados, muitas dessas empresas
foram embora com exceção da M. Chandon. Graças ao enoturismo a Casa Valduga emprega
168 pessoas diretamente nos seus mais diversos serviços, hospedarias, restaurantes, vinhedos
e vinícola. (VALDUGA, J., 08).

A Casa Valduga recebe anualmente em media de 60 - 70 mil turistas/ano. Além dos


Restaurantes Dom Luigi e Persona um novo restaurante e uma 5ª nova pousada em breve
serão inaugurados. O enoturistas poderá contar com a técnica vinoterapia49, e salas para
cursos de degustação. O visitante também poderá ter acesso a maior adega particular da
América Latina e participar da Festa da Vindima, colher uvas, com a presença de um coral
típico italiano, esmagar as uvas com os pés, acompanhar de perto todo o processo de
elaboração dos vinhos e espumantes, sabrage, almoçar nas cavas, degustar vinhos e
espumantes sob a sombra de um parreiral. Assim que os vinhos estiverem prontos para o
consumo, os “elaboradores” poderão adquirir os mesmos. Aos turistas é oferecida a visita à
Capela das Neves, que esta localizada muito próxima do estabelecimento, onde é relatada a
história da imigração italiana e da construção da igreja.

49
Vinoterapia consiste num tratamento corporal à base de extratos de uva, molhos, folhas, vinhos e óleos
derivados, que ajudam a relaxar. Surgiu na França em 1999. Benefícios: A terapia do vinho tem um grande
poder antioxidante e tonificante, que mantém a pele jovem e elástica. Além disso, previne problemas
cardíacos, ajuda a perder peso e combate ainda o estresse. Jornal de Notícias - O vinho como terapia jn.sapo.pt
acessado em /2006/03/08.
89

De acordo com Miolo (2008) e Paulus (2008) o enoturismo na Vinícola Miolo


aconteceu ao natural, ele foi tratado como uma maneira de vender vinhos, um método
parecido naquele momento com o da Casa Valduga, que fazia jantares ao pessoal do Banco do
Brasil que vinham a Bento Gonçalves fazer treinamentos. Muita gente era atraída, e isto foi
fomentando as pequenas empresas a fazer o mesmo trabalho, os jantares. A partir disso
nasceu à idéia de criar uma hostearia no porão da casa, foram realizados jantares duas a três
vezes por semana. Atualmente é servido o mesmo tipo de cardápio, comida colonial típica da
imigração italiana: galeto, polenta e sopa de capeletti, saladas e vinho. A hostearia funcionava
como varejo, era possível adquirir os vinhos e não existia visitação à vinícola.

Em 2001, foi construído um complexo de visitação, dentro de um plano voltado ao


enoturismo. Em 2002, foi inaugurada a nova sala de degustação e com horários de visitação
programada. Segundo Miolo (2008), “[...] o enoturismo passa a ser visto como forte
ferramenta de Marketing, o visitante passa a ter uma experiência positiva com a marca e os
produtos.” Atualmente o enoturismo é responsável por 4% do faturamento total da empresa,
fazendo no próximo passo uma ampliação da estrutura de atrativos. “A gastronomia, foi a
principal atração do enoturismo no início, agora o vinho é o primeiro atrativo”. (MIOLO,
2008).

No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na Miolo, este ano


são esperados aproximadamente 10.000 a mais. O maior emissor de turistas é o Rio Grande
do Sul, principalmente da Grande Porto Alegre. O modelo ideal de enoturismo no Vale dos
Vinhedos atualmente é o da Casa Valduga, segundo Miolo (2008), por apresentar uma infra-
estrutura toda voltada ao atendimento do enoturista, desde visitações aos vinhedos, ao
estabelecimento vinícola e possuir restaurantes e pousadas. Na Miolo, o principal foco de
atração é o vinho e foram buscadas parcerias em outros setores da gastronomia e hospedagem
que é o caso do Hotel Villa Europa.

Cita o mesmo entrevistado que “a grande diferença entre a Casa Valduga e a Miolo,
é que o enoturismo para a Casa Valduga é o principal negócio, na Vinícola Miolo, o grande
negócio é a elaboração de vinhos e derivados.” (MIOLO,2008).

O mesmo entrevistado fala da importância do enoturismo para as pequenas vinícolas


do local e das dificuldades de se manter no atual mercado:

O enoturismo pode ser a grande saída para as pequenas empresas, visto que a nível
nacional e internacional cada vez é mais difícil chegar ao mercado consumidor,
devido aos custos logísticos de locomoção e de vendas. Manter uma estrutura
comercial no mundo é muito elevada e no Brasil é mais alta ainda. (MIOLO, 08).
90

Miolo (2008) faz uma comparação entre os modelos de enoturismo americano e o


francês:

O Napa Valley (USA) recebe 3,5 milhões de turistas ao ano, um trabalho feito a 30
– 40 anos atrás, as empresas estão totalmente voltadas ao enoturismo, e as vendas
de seus produtos ao visitante é o foco principal. Na França o enoturismo é visto
como bom negócio para os hotéis, pousadas e restaurantes, as vinícolas enxergam
o enoturismo como uma ferramenta para promover seus produtos, não como
negócio. (MIOLO, 08).

Relata Paulus (2008), quais foram as primeiras vinícolas a receber os turistas no Vale
dos Vinhedos, tendo como atrativo inicial a enogastronomia: “No final de 1991, já estão
constituídas a Miolo, Casa Valduga, e a Vinícola Cordelier, depois surge a Don Laurindo,
com a enogastronomia, pouco tempo depois fica somente com a parte de vinhos”. (PAULUS,
2008).

Conforme a mesma entrevistada surgem no Vale uma empresa que oferece outros
tipos de produtos alternativos e uma nova geração de vinícolas que se destacam com uma
visão diferenciada de mercado:

A adega Casa de Madeira, se posiciona com produtos diferentes, graspa, geléias e


sucos. Em 1999 e 2000 surge uma nova geração de vinícolas a Geração Atuaserra,
empresas familiares profissionalizadas, onde seus empreendedores passaram a ter
orientações e treinamentos. (PAULUS, 08).

Paulus (2008) ainda cita as empresas que compõem essa nova geração e a sua visão
de mercado:

A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri,
Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis. Enquanto a
Miolo e a Casa Valduga, procuravam mercados internacionais, as pequenas
vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. (PAULUS, 08).

De acordo com a mesma entrevistada no final da década de 1990, início da década de


2000, a Maison Forestier encerra suas atividades. Seu modelo de profissionalismo serviu de
inspiração para muitas vinícolas principalmente no Vale dos Vinhedos e outros
estabelecimentos da região, destacando-se a Vinícola Dal Pizzol, situada em Faria Lemos
(Bento Gonçalves).

Conforme Dal Pizzol (2008), o visitante que chega para conhecer nossa região não se
limita somente em conhecer vinhos ele procura outros atrativos: “o turista valoriza não só o
91

vinho, mas o entorno da vinícola, a natureza e a gastronomia que também fazem parte da
cultura do vinho”. (DAL PIZZOL, 2008).

O ambiente de entorno da Vinícola Dal Pizzol, exemplificando, foi totalmente


planejado, comenta o mesmo entrevistado. Criou-se um cenário totalmente voltado à cultura
do vinho. O estabelecimento vinícola apresenta um parque temático com lagos e pode ser
visitada a coleção de plantas nativas e exóticas. Um outro belo atrativo é o vinhedo, que
possui mais de 200 espécies de videiras, originarias dos cinco continentes, mais conhecido
como Vinhedos do Mundo. Também é possível ver uma réplica do Vinhedo do Imigrante, a
Enoteca localizada no interior de uma antiga olaria, que abriga uma coleção de inúmeras
garrafas de vinho de antigas safras, desde a fundação da empresa, em 1974. Possui também
um restaurante, com vista panorâmica para o lago, onde são oferecidos almoços e jantares
com cardápios que resgatam as tradições dos imigrantes italianos.

A crise vinícola que surge na década de 1990, abala o setor na Região Uva e Vinho e
faz surgir uma entidade no Vale dos Vinhedos voltada à divulgação do enoturismo.

Conforme Michelon (2008) surge a Aprovale em 1995, que deu maior notoriedade à
região, em termos de enoturismo. Seus fundadores deram maior atenção aos vinhos finos, as
vinícolas do Vale dos Vinhedos se diferenciam das demais da região com a elaboração dos
vinhos provenientes de uvas nobres e com o enoturismo. “Isto deu certo, a partir daí surgiram
outras entidades com objetivos idênticos em outros municípios da região”. (MICHELON,
2008).

Milan (2008) concorda com as palavras de Michelon (2008), que a crise no setor de
vinhos, fez surgir a APROVALE em 1995. Os problemas no setor vitivínicola, nos anos de
1995 a 1997, sobretudo agravados pela crise econômica da Aurora, fizeram com que os
produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começassem a ganhar
espaço no mercado nacional.

Atualmente 32 vinícolas são associadas à Aprovale e cinco ainda estão fora dessa
associação. Conforme o mesmo entrevistado, a associação, vem trabalhando em campanhas
voltadas ao enoturismo no Vale dos Vinhedos, tendo quatro (04) objetivos fundamentais:
desenvolvimento do vinho, espaço físico e meio ambiente, enoturismo e desenvolvimento
sócio-cultural e Indicação Geográfica.

O mesmo entrevistado relata a viabilidade do enoturismo do Vale dos Vinhedos no


seu contexto histórico-geográfico:
92

Acredito pessoalmente, que o crescimento e o desenvolvimento da marca e dos


produtos do Vale dos Vinhedos se devem, em primeiro lugar, ao enoturismo, em
conseqüência do Vale estar próximo de cidades importantes, destacando-se Porto
Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e outras mais, e estar localizado perto da
Região das Hortênsias (Gramado, Canela e Nova Petrópolis), e estas cidades são
muito importantes por apresentar pessoas com o hábito de apreciar bons vinhos.
(MILAN, 08).

O mesmo entrevistado, complementa a idéia sobre as fortalezas que fizeram o Vale


dos Vinhedos se consolidar:

Bento Gonçalves possui uma rede razoável de hotéis e restaurantes, esses


requisitos somados, fizeram com que o Vale dos Vinhedos, com seu charme
especial, nome interessante, vinícolas novas, vinhos novos [...] despertou o
interesse de muitos enoturistas querendo conhecer mais o local e seus atrativos.
(MILAN, 08).

Prossegue o mesmo entrevistado relatando sobre os benefícios da localização do


Vale dos Vinhedos dentro do contexto crescimento:

Sua localização estratégica entre municípios fortes em tradição enológica,


Garibaldi com o espumante, Bento Gonçalves com vinhos finos, e Monte Belo do
Sul com uma boa tradição em viticultura, tudo tem contribuído para o
desenvolvimento do Vale dos Vinhedos. (MILAN, 08).

Milan (2008) relata sobre a importância da Indicação Geográfica, como ferramenta


de marketing para o enoturismo local: “Embora não muito conhecida por grande maioria dos
brasileiros, por ser esta a primeira do Brasil, ela foi importante por ocupar espaço na mídia
nos últimos anos”. A partir disso, o Vale vem a cada ano atraindo cada vez mais enoturistas,
segundo o mesmo entrevistado: “A prova disso tudo mostra que em 2001 mais de 45 mil;
2006 - 105 mil e, em 2007 - 120 mil turistas visitaram o Vale. Neste ano está previsto mais de
130 mil, sendo que o primeiro semestre já registrou 109 mil visitantes”. (MILAN, 2008).

Reforça o mesmo entrevistado que o enoturismo em Bento gonçalves é importante


devido a outros atrativos oferecidos e empreendedores que apostam neste segmento do
turismo:

Não podemos esquecer da Aurora e da Salton. Estes investem forte [...], em seus
locais é possível encontrar história, tradição e trabalho em conjunto, não esquecer
também da Rota Caminhos de Pedra, e Pinto Bandeira e Faria Lemos com suas
paisagens e seus vinhos, formando um grande pacote enoturístico, fazendo com
que o visitante permaneça mais tempo na região. (MILAN, 08).
93

Conforme Valduga, V., (2008), ele mesmo realizou uma pesquisa, tendo como foco
central investigar se a Indicação de Procedência tinha sido definitiva para o desenvolvimento
do Enoturismo no local, ou se tinha que considerar todo o processo histórico anterior e se tudo
isso tinha contribuído de alguma forma para o fortalecimento endógeno do Vale dos
Vinhedos.

Uma das suas principais constatações foi que:

A Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos foi secundária, teve interferência


indireta no Enoturismo, em função de todo um marketing, de toda uma mídia
conseguida (na visão do produtor de vinhos). Estas atrações se solidificaram em
1995 com a criação da Aprovale. (VALDUGA, V., 08).

O mesmo entrevistado segue relatando o resultado de seu trabalho sobre a influência


da Indicação de Procedência:

No início se pensava que a IPVV iniciou o enoturismo no Vale dos Vinhedos, na


verdade não foi bem assim, o enoturismo foi conseqüência de um longo processo de
especialização na produção de uvas e de vinhos, não se esquecendo do contexto
histórico que foi fundamental. (VALDUGA, V., 08).

De acordo com o mesmo entrevistado alguns entraves sociais foram percebidos no


atual modelo enoturístico adotado no vale dos Vinhedos. “O enoturismo é muito parcial ainda,
existe uma falsa idéia que é vendida ao turista como Região Uva e Vinho, no entanto se vende
muito mais vinho do que uva; falta um contato maior com o produtor local de uvas”.
(VALDUGA, V., 2008). O mesmo entrevistado relata um pouco da história da Vinícola
Vallontano, de sua família, situada no Vale dos Vinhedos e seus principais objetivos com o
turismo: “a vinícola foi fundada em 1997, foi aberta ao público em 2001, todo seu
empreendimento foi voltado ao enoturismo, desde seu projeto, baseado na arquitetura
industrial da imigração italiana das décadas de 1930 a 1950”. (VALGUGA, V., 2008).

Comenta sua preocupação com as rotas enoturísticas na Região Uva e Vinho em


buscar um diferencial entre si:

Um grande desafio destas regiões que estão surgindo em relação ao enoturismo é


criar uma identidade própria e marcas que estabeleça diferenças particulares, não
igualdade. O segundo atrativo depois do vinho, é a paisagem, e o enoturismo deve
agregar mais produtos ao vinho. (VALDUGA, V., 08).
94

Conforme o mesmo entrevistado “enoturismo tanto para vinícolas médias e pequenas


representa 35 – 40% do faturamento, isso pode ser um dado ruim até certo ponto de vista,
quanto mais vende para o turista, menos vende para outros mercados”. (VALDUGA, V.,
2008).

Por sua vez Milan (2008), relata as preocupações do Plano Diretor do Município em
relação ao Vale dos Vinhedos com o futuro:

O Plano Diretor do Município está se sedimentando e os conselhos distritais estão


se reunindo constantemente, estabelecem critérios para evitar mudanças bruscas na
paisagem, no jeito de ser, no jeito de viver, conservando a identidade do local para
uma evolução mais orientada e evitando futuramente que o Vale dos Vinhedos se
torne um “dormitório”, temos que ter o nosso espaço físico voltado à atividade
principal que é o enoturismo. (MILAN, 08).

As vinícolas do Vale dos Vinhedos sabem elaborar bons vinhos, mas isso não é tudo,
segundo o mesmo entrevistado:

O Vale precisa se aperfeiçoar mais em comercializar seus produtos. Precisam


investir mais em visão técnica no enoturismo, é muito importante o trabalho que
entidades como a FISUL e a UCS estão fazendo, preparando profissionais
capacitados e levando para o interior das vinícolas essa visão técnica e
profissional. (MILAN, 08).

Ferreira(2008), concorda com a idéia de Milan (2008) e reforça dizendo tendo como
foco de sua opinião Garibaldi: “Ainda hoje, falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a
aprender, pois temos clientes, produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram
trabalhar nos fins de semana e feriados.” (FERREIRA, 2008).

O mesmo entrevistado fala sob a nova visão dos cursos no mercado: “Atualmente
com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos interessados pela
FISUL, é um bom início, para criar um novo conceito de estratégica de mercado,
principalmente no atendimento e na hospitalidade.” (FERREIRA, 2008).

O Vale dos Vinhedos proporciona muito mais que vinhos e espumantes aos
visitantes, conforme Milan (2008) relata:

O Vale possui um calendário especial de eventos, com o propósito de aproveitar as


quatro estações do ano, talvez essa semente foi lançada precocemente, mas se
espera que possa germinar e dar bons resultados. O Vale possui uma atração que
poucas regiões enoturisticas do mundo tem, que é o Spa do Vinho, sendo este um
belo empreendimento que esta sendo reconhecido cada vez mais na comunidade.
(MILAN, 08).
95

O mesmo entrevistado fala dos projetos futuros da Aprovale para o enoturismo


continuar crescendo no Vale dos Vinhedos:

Atualmente a Aprovale possui um programa a ser implantado em médio prazo,


subdividido em quatro projetos, o primeiro a ser implantado é o Museu Brasileiro
do Vinho e depois, os outros de ordem esportiva cultural, integração de
comunidades e um voltado aos jovens. (MILAN, 08).

Indagado sobre qual o objetivo especifico da implantação do Museu do Vinho e onde


seria instalado, o mesmo entrevistado definiu o seguinte:

O Museu do Vinho seria instalado no Vale, e o visitante poderia interagir com os


principais museus do vinho do mundo inteiro para conhecer a cultura, pesquisar e
pode receber peças itinerantes de outros museus, mas principalmente estar
interligado com os mais importantes museus mundiais, num conceito bem
moderno. (MILAN, 08).

De acordo com Milan (2008) e Michelon, (2008) a Aprovale atualmente vem


trabalhando cada vez mais a divulgação do enoturismo, através de DVD’s, sites sempre
atualizados, mapas e folders, mas isso não é tudo, a região espera que profissionais na área do
turismo e do enoturismo, juntamente com os empreendedores e órgãos oficiais possam cada
vez mais incrementar o calendário de eventos da Região.

No Vale dos Vinhedos, é importante que o enoturismo inclua outra característica


presente em outras regiões vinícolas: a criação de condições para que o enoturista consuma
não só o vinho, mas também a paisagem e a cultura da região. (VALDUGA, V., 2008).

Bento Gonçalves apresenta outras vinícolas importantes no segmento do enoturismo,


além da Aurora e as que fazem parte do Vale dos Vinhedos podemos citar a Vinícola Salton.
A Vinícola Salton, foi fundada em 1910, atualmente está se destacando cada vez mais no
Enoturismo regional. Atualmente com suas novas instalações em Tuiuty - Bento Gonçalves, a
empresa tem investido fortemente no enoturismo. Os visitantes podem conhecer as
dependências da empresa, visitar seus parreirais e adquirir seus produtos, sempre
acompanhados por profissionais que explicam sobre os métodos de elaboração de seus
produtos e oferecem degustação dos mesmos.
96

Outros fatores colaboraram para a sedimentação e desenvolvimento do enoturismo


em Bento Gonçalves. O Passeio de Trem Bento Jaboticaba - Ferrovia do Vinho, tendo sua
viagem inaugural em 26 de outubro de 1986, realizando o percurso entre Bento Gonçalves e
Jaboticaba - Vale das Antas.

A gestão era pública sendo conduzida pelo Secretário de Turismo de Bento


Gonçalves, José Oro que o manteve até 1990. Após essa data, assume Jovino Nolasco de
Souza, que mantém o trajeto em parceria com a Rede Ferroviária até o ano de 1991.
(PAULUS, 08).

O passeio, por diversos fatores foi encerrado no mesmo ano, diante disso, Clacir
Romagna toma a iniciativa de falar com Tarcisio Michelon, (empresários do turismo) para a
reativação do trem, mas com um novo percurso iniciando em Bento Gonçalves, passando por
Garibaldi a Carlos Barbosa. A união entre a iniciativa privada e Poder público dos três
municípios, inicia-se a negociação em novembro de 1992, e em cinco de junho de 1993 foi
realizada a viagem inaugural. Desde então o trem Maria Fumaça - Uma Volta ao Passado - se
mantém como um dos produtos de maior atração turística da Região Uva e Vinho.
(ATUASERRA, 2001).

Lideranças e pessoas como Tarcísio Michelon, também fizeram a diferença no


desenvolvimento do Enoturismo. Este contribuiu no fortalecimento da Atuaserra, no resgate
da Fenavinho, na criação do Espetáculo do Vinho, entre outras ações de importante impacto.
O enoturismo atualmente não acontece por acaso.

Existe um belo planejamento no contexto. Felizmente a região da Serra Gaúcha


desperta para a promoção do enoturismo. “ Enoturismo é uma nova página para o Brasil atuar
com a qualiade de serviço, cujo crescimento o setor vinícola merece”. (SPLENDOR, 2007, p
40).

8.3. O enoturismo em Garibaldi

No município de Garibaldi, conforme Girondi (2008) e Bellini (2008) foram


realizadas duas exposições de uvas no início na década de 1910. Nos anos de 1913 e 1914,
ocorreu uma crise vinícola no Estado, decorrentes em parte, da desmoralização que se iniciava
com os vinhos gaúchos, como conseqüência das adulterações que aconteciam nos grandes
97

mercados consumidores, para onde era comercializado em barris. “[...] isso fez que fossem
criados laboratórios enológicos destinados a fiscalizar os nossos vinhos [...]” (RODRIGUES,
1972, p.45).

Bellini (2008) corrobora com Rodrigues (1972), em sua opinião, o enoturismo nasce
em Garibaldi nos ano de 1913 com a primeira festa alusiva à uva, graças ao intendente
Affonso Aurélio Porto, que buscava saída para a crise do setor vitivinícola, tentando moralizar
o vinho gaúcho:

Um grande incentivador ao enoturismo local, talvez o primeiro, foi Aurélio Porto,


que promove as primeiras Exposições de Uva em 1913 e 1914, atraindo muitos
apreciadores locais e também dos municípios próximos como Bento Gonçalves,
Caxias do Sul, Montenegro, São Sebastião do Caí e de outras localidades.
(BELLINI, 08).

O mesmo entrevistado relata que os participantes do evento foram reconhecidos e


homenageados os que mais se destacaram:

Os expositores de vinhos, espumantes e de uvas, foram agraciados com medalhas de


ouro, prata e bronze, estas fundidas pelo João Bellini (avô do entrevistado),
proprietário da mais antiga joalheria do Estado e o mais antigo estabelecimento
comercial de Garibaldi. (BELLINI, 08).

Figura 6: Segunda Exposição de Uvas de Garibaldi. 1914

Fonte: Acervo Casa do Imigrante, Museu de Bento Gonçalves.


98

De acordo com Fitarelli (2008) e Girondi (2008) um dos grandes incentivadores do


turismo em Garibaldi foi o Hotel Casacurta, que trazia muita gente principalmente de Porto
Alegre para conhecer a vindima e também para veranear, inclusive no inverno.

Fitarelli (2008) e Romagna (2008)50 afirmam que, em 1986, houve uma preocupação
muito grande com o turismo no município de Garibaldi. Os turistas que visitavam a região
muito pouco entravam na cidade. Os lugares mais visitados eram o Esqui e a Maison
Forestier, depois seguiam para outros municípios, em Bento Gonçalves visitavam a
Cooperativa Aurora e o Dreher ou para Caxias do Sul. “Garibaldi era um corredor de
passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos hotéis da cidade, preferia os
hotéis das cidades vizinhas.”(FITARELLI, 08).

Por sua vez Romagna (2008), tenta classificar o tipo de turismo que acontecia antes
de 1986. Em suas palavras: “[...], até então tínhamos um tipo de turista se podemos classificá-
lo como turista de passagem”. (ROMAGNA, 2008).

Um projeto foi elaborado para atrair esse público à cidade. Este projeto tinha como
meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi, tombar prédios, revitalizar toda a cidade, mas
isto não foi suficiente, “Garibaldi tinha mais coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além
da Maison Forestier (esta foi até então a única vinícola voltada para o recebimento de turistas
em Garibaldi), e o Esqui voltado para público jovem, ambos situados na RST 470.”
(ROMAGNA, 2008).Segundo o entrevistado:

Elaborou-se um projeto junto às principais vinícolas da cidade, George Aubert,


Cooperativa Garibaldi, Martini e Rossi e Peterlongo, em que constava que cada
vinícola ficaria aberta num final de semana para receber os enoturistas que
chegavam aqui. (ROMAGNA, 08).

Conforme o mesmo, “o resultado do trabalho se deu em negociações com as


vinícolas, apresentando projetos, novas idéias, fazer as pessoas acreditar, ouvindo os
empreendedores e levar adiante esta filosofia de trabalho”. (ROMAGNA, 2008). A
divulgação do novo projeto nos canais de comunicação e no local de maior atração turística
de Garibaldi, além da transposição do centro de informações foram medidas tomadas como
prioridades para reativar o enoturismo no município:

A divulgação foi feita nos principais jornais gaúchos e nacionais e também em


revistas. Havia um centro de informações turísticas, localizado anexo ao Posto do
Avião (RST 470). Por motivos de segurança foi transferido para o Esqui. Neste local

50
Entrevista concedida no dia 03/08/08.
99

foi instalada uma placa de 10 m de comprimento por 6 m de altura, nela constava o


nome das vinícolas, horários e datas que podiam ser visitadas. Os turistas olhavam e
tomavam interesse em visitar. (ROMAGNA, 08).

Lembra o mesmo entrevistado das dificuldades encontradas pelos empresários na


implantação da rota enoturística: “No início algumas vinícolas reclamavam do pouco fluxo de
turistas que as visitava, mas depois foi normalizando com o tempo, e passou a dar certo”. A
rota se chamava Roteiro de Visita às Vinícolas de Garibaldi, “e este foi o início do
enoturismo no município, descobriu-se o potencial deste segmento e este foi trabalhado e
tornado conhecido em toda a comunidade local, para melhor informar os visitantes que ali
chegavam” (ROMAGNA, 2008) .

Romagna (2008), Milan (2008), Girondi (2008), Sganzerla (2008) e Fitarelli (2008),
concordam que o Esqui foi um grande centro de atrações de jovens, visitantes do Brasil
inteiro. Depois do encerramento de suas atividades, restou uma lacuna junto ao público
jovem.

Paulus (2008) reforça a idéia, citando que a primeira pesquisa qualitativa51 realizada
pela Atuaserra, em novembro de 1997, durante os três dias do Festival de Turismo de
Gramado, no qual foi a mentora desta investigação, relata que foram ouvidas 1.507
entrevistados vistos como possíveis potenciais turísticos para a Região Uva e Vinho, aonde o
esqui chegou a ser votado como a segunda maior atração da Região Uva e Vinho perdendo
apenas para o trem Maria Fumaça de Bento Gonçalves. Inicialmente as questões conduziam
aos atrativos que os pesquisados tinham acesso/conheciam da Região Uva e Vinho. A ordem
foi essa:

1. Maria Fumaça

2. Sky de Garibaldi

3. Vale dos Vinhedos

4. Caminhos de Pedra

5. Vinícolas de Garibaldi

6. Vinícola Aurora

51 Essa pesquisa visou identificar as principais carências mercadológicas da Região Uva e Vinho, e que nos
diferenciavam de outros destinos turísticos.
100

7. Raftig no Rio das Antas

8. Belezas Naturais

9. Chateau Lacave e Igreja São Pelegrino - Caxias do Sul

10. Caminhos da Colônia- Flores da Cunha. (PAULUS, 2008).

Nas palavras da mesma entrevistada, “a proximidade de Gramado favorece muito o


enoturismo, hoje o turista que a visita a Região das Hortênsias, visita também a nossa,
principalmente o Vale dos Vinhedos e as vinícolas de Garibaldi”. A Fenachamp também teve
destaque importante na divulgação do turismo em Garibaldi. Lembra Romagna (2008): “na
divulgação da I Fenachamp, a comunidade garibaldense colaborou muito, inclusive algumas
divulgações da festa foi realizada nos vidros traseiros dos carros, com tinta spray”.
(ROMAGNA, 2008).

Conforme Fitarelli (2008), o período de trazer enoturistas é muito recente. Somente


nos últimos anos houve mais incentivo ao enoturismo em Garibaldi com a Fenachamp e o
restaurante localizado no Parque da Festa, voltado para o turismo desde 1991, sob a
administração de Clacir Romagna, entre outros, onde muitos grupos almoçavam e ainda
almoçam. Em relação às vinícolas: “a pioneira foi a Peterlongo que iniciou trazendo turistas,
devido sua história, bela arquitetura, caves e adegas magníficas, grande produtora de
espumantes, mas eram poucos os que vinham aqui”. (FITARELLI, 2008).

Girondi (2008) concorda, complementa e dá mais ênfase à idéia anterior de Fitarelli


(2008) sobre o trabalho de Clacir Romagna no recebimento de turistas e reconhece o
profissionalismo e comprometimento de Ivane Fávero com o turismo em Garibaldi:

Garibaldi recentemente voltou a ter um planejamento turístico, e o turismo foi


trabalhado de forma séria juntamente com a população local. Ivane Fávero é uma
grande profissional, com visão em turismo, reuniu o Projeto das Vinícolas, o Projeto
das Passadas e o da Estrada do Sabor. Ela conseguiu também trazer a Garibaldi os
ônibus da CVC, estes nunca traziam turistas à cidade. Anterior a ela, somente no
período do Romagna, quando este foi Secretário de Turismo do Município.
(GIRONDI, 08).

Sganzerla (2008) corrobora a idéia de Fitarelli (2008) e Girondi (2008), sobre o


restaurante da Fenachamp, e acrescenta a idéia de que a atividade principal do
estabelecimento era atender os turistas que visitavam a região e manter o visitante em
Garibaldi por mais tempo. Comenta ainda o mesmo entrevistado que: “Em Bento Gonçalves,
101

já havia restaurantes especializados nessa área, o Restaurante Pão Queijo e Vinho (hoje o
Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga eram os que mais se destacavam, aqui até então, era
deficiente”. (SGANZERLA, 2008).

Falando em gastronomia, Girondi (2008) acredita que a gastronomia foi a segunda


atração de turistas em Garibaldi, depois dos veranistas que se motivavam pela temperatura, e
agora mais recentemente as vinícolas.

Na opinião de Fitarelli (2008), a gastronomia não representou papel muito


importante, para o turismo por apresentar poucas muitas opções:

[...] devido ser pouca desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos
especiais ou diferentes, apenas os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e
algumas variedades de massas. O Hotel Casacurta foi uma exceção, outros
restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica, eram muito pobres e simples
demais. (FITARELLI, 08).

O entrevistado Sganzerla (2008) cita que em 2001 foi trabalhar na Cooperativa


Garibaldi, onde continua até hoje, tendo o mesmo objetivo de suas anteriores ocupações
profissionais, isto é, trazer turistas do Brasil inteiro. Sabe muito bem da importância do
enoturismo no contexto econômico e na divulgação dos produtos para uma empresa: “o vinho
é o produto mais procurado pelo enoturista, depois o espumante e o suco de uva”. Destaca,
ainda, que os produtos orgânicos estão cada vez mais sendo procurados pelos visitantes.
(SGANZERLA, 2008).

Atualmente, a Cooperativa é visitada por aproximadamente 70 mil turistas/ano,


sendo o Rio Grande do Sul (Porto Alegre), o maior emissor de visitantes, seguido por São
Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Nordeste. “O enoturista representa de 3 a 4% do
faturamento bruto, sendo o varejo o segundo maior cliente da Garibaldi”. (SGANZERLA,
08).

Dal Pizzol (2008) relata o surgimento da Maison Forestier em 1973, maior


empreendimento vinícola da região voltado ao enoturismo da época, que nasceu no ventre da
Cooperativa Aurora, que elaborava vinhos para terceiros: “Em 1977 a Maison Forestier se
instala em local próprio, no município de Garibaldi, iniciando com a implantação de
vinhedos. Em 1980, constrói seu estabelecimento todo baseado num projeto voltado ao
atendimento de turistas”. (DAL PIZOL, 08).

Concordam Dal Pizzol (2008), Sganzerla (2008), Romagna (2008) e Paulus (2008)
que a Maison Forestier, provavelmente, foi a primeira empresa vinícola a preparar um local
102

onde o enoturista podia visitar o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma condução mais
abrangente, que fazia parte de uma atividade ligada a cultura do vinho.

Reforça Sganzerla (2008) que já em 1990, na Maison Forestier, eram ministrados


cursos de degustação de vinhos aos visitantes. Além de visitarem todo o estabelecimento,
estes recebiam explicações da elaboração dos vinhos e, ao final, recebiam um diploma.
“Provavelmente a Vinícola tenha sido a pioneira, na Região, em oferecer este tipo de
certificados aos visitantes.” (SGANZERLA, 2008).

De acordo com Dal Pizzol (2008) a Maison Forestier foi totalmente planejada para o
recebimento dos visitantes, o enoturismo não nasceu ao natural, assim como nas demais
vinícolas da região, como relata em sua entrevista:

O seu modelo foi inspirado nas vinícolas californianas (EUA), principalmente as do


Napa Valley, onde os turistas visitam as dependências, conhecem todo o processo de
elaboração de vinhos, degustam e podem adquirir os produtos e outros souvenires,
como camisetas, saca-rolhas e demais objetos ligados ao mundo do vinho, tudo com
muito profissionalismo. (DAL PIZZOL, 08).

Conforme Dal Pizzol (2008) e Sganzerla (2008) uma nova estrutura de recepção da
Forestier ficou concluída em 1985, o objetivo era de receber e abrigar autoridades e pessoas
importantes (Vips). Uma casa foi construída tendo uma sala de negociações e três suítes que
abrigaram ministros, governadores e secretários de estado.

O seu local, junto a RST 470, favoreceu muito o fluxo de turistas. Lembra Dal
Pizzol (2008) do avançado projeto do empreendimento “[...] era uma vinícola moderna, com
equipamentos de última geração. No seu interior, tanques de aço inoxidável eram utilizados
para elaboração e armazenamento dos vinhos.” (DAL PIZZOL, 2008).

Também lembra muito bem do dia da inauguração da Forestier, quando o chefe do


Laboratório de Enologia de Bento Gonçalves estranhou os modernos equipamentos e fez uma
comparação cômica: “dirigindo-se a mim, comentou: vocês me convidaram para assistir uma
inauguração de uma cantina ou de uma queijaria, onde estão as pipas de madeira?” (DAL
PIZZOL, 2008).

Esta observação foi sentida, também, na reação dos turistas, que sentiam a
ausência das tradicionais pipas. Mais tarde, construíram uma adega feita de pedras, de estilo
rústico, com seu ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, um palco para
apresentações artísticas e uma linda sala de confraternização. Um ambiente de cantina na
103

concepção da época e da região, que foi muito bem aceito pelos visitantes. (DAL PIZZOL,
08).

Conforme Dal Pizzol (2008) e Sganzerla (2008), várias empresas de turismo do


Brasil foram convidadas, se destacando as empresas CVC, Soletur3, Costa e a Inelvis de
Veranópolis. A CVC iniciou um trabalho muito profissional na área do enoturismo na
Forestier. A empresa trazia turistas, principalmente provenientes de São Paulo e do Rio de
Janeiro. Nos anos de 1984 e 1985 a média de enoturistas que visitavam o estabelecimento era
entorno de 65 a 70 mil visitantes/ano e o faturamento médio era de onze (11) a doze (12)
dólares por pessoa, “[...] era uma estrutura voltada para vender e promover seus produtos no
cenário nacional” reforça Dal Pizzol (2008).

Embora tendo um escritório na Região Sudeste, a Forestier, contava com um


profissional que viajava exclusivamente para divulgar e trazer turistas à região. Conforme Dal
Pizzol (2008), Garibaldi, começa a criar uma imagem voltada para o enoturismo, com forte
influência da Forestier. Depois outras passaram a aderir ou se estruturar melhor: Cooperativa
Garibaldi, Peterlongo, Georges Aubert e outras mais.

No final da década de 1990, a Vinícola Forestier encerra suas atividades. “Seu


modelo de profissionalismo serviu de inspiração para muitas vinícolas, principalmente no
Vale dos Vinhedos e outros da Região Uva e Vinho”. (DAL PIZZOL, 2008).

Girondi (2008) comenta sua preocupação com o envolvimento da comunidade de


Garibaldi, a respeito do enoturismo e sugere alternativas para desenvolver melhor a
hospitalidade local:

A população local deve ser consultada, para saber se os habitantes locais querem que
Garibaldi seja turístico ou não. Caso queiram, a comunidade deve ser preparada,
temos que educar nossas crianças desde o ensino fundamental até no nível secundário,
preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar bem os
turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser
preparadas para orientar os alunos. (GIRONDI, 08).

Uma sugestão para o desenvolvimento do enoturismo regional, talvez seja aproximar


mais as rotas evolvidas neste segmento conforme relata Milan (2008):

A união da rota Estrada do Sabor com a rota Vale dos Vinhedos e Monte Belo do Sul,
através de boas estradas pavimentadas, aliadas a bons empreendedores e profissionais
especializados em enoturismo, tudo se completará originando um grande centro de
atendimento enoturístico do Brasil. (MILAN, 08).
104

O turismo em Garibaldi volta a despontar como diferencial no segmento do


Enoturismo, depois do encerramento do esqui, que em 1997, foi apontado como a segunda
maior atração turística da Região Uva e Vinho. Atualmente o espumante é a principal atração
do município e importante diferencial das demais localidades produtoras de uva e seus
derivados. A vocação no enoturismo novamente está na ativa e muito bem sedimentada,
planejada, agregando novos atrativos e ofertando várias opções ao visitante que ali chega.

8.4 O Enoturismo em Veranópolis

Conforme Zanella52 (2008), (Secretário de Turismo de Veranópolis), o município


atualmente conta com 09 vinícolas. Destas uma é Cooperativa (Alfredo Chaviense) e as
demais são consideradas familiares, que vieram a ser regulamentadas e organizadas como
agroindústria no ano 2000. Antes desta data, a grande maioria elaborava vinhos de forma
artesanal e, com ajuda e incentivos da EMATER, passaram a ser registradas.

A grande maioria dessas vinícolas familiares surgiu com o agravamento da situação


econômica da Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves. Comenta o mesmo entrevistado:

A maioria dos produtores de uva do município fornecia sua produção para esta
cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua produção de uvas à Aurora,
devido à grande crise de 1995, que abalou aquele estabelecimento, resolveram
investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e legalizando os mesmos.
(ZANELLA, 08).

O mesmo entrevistado comenta sobre o apoio do poder municipal em divulgar o


enoturismo em Veranópolis:

A prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Turismo, apoiou e auxiliou na


divulgação dos estabelecimentos vinícolas através de folhetaria e de sinalização
turística, pois a grande maioria se encontra no interior do município, em média de 2 a
3 km da cidade ou da rodovia principal - RSC 470. (ZANELLA, 08).

Fato muito importante que ajudou a alavancar o enoturismo em Veranópolis foi o


que aconteceu em maio de 1981, onde a Revista Geográfica Universal, na página 51, publica
que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades, dedicados aos estudos da gerontologia5,
citavam Veranópolis entre os locais mundiais considerados como favoráveis ao
prolongamento da vida humana. Ali, lia-se textualmente: “[...] no Estado do Rio Grande do

52
Entrevista concedida em 03/08/08.
105

Sul, existe uma localidade denominada Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive
apreciável numero de velhinhos, em sua maioria, quase totalidade, descendentes de colonos
imigrantes [...]”. (VERANÓPOLIS, 2008).

Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como
apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos
explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da
Organização Mundial de Saúde - OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e
terceira no mundo”. A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso,
atingiu renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só
municipal, mas regional (VERANÓPOLIS, 2008). Esta constatação também se relaciona ao
enoturismo, visto estar atribuída a longevidade ao consumo regular do vinho.

Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a vinda de
turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem trabalhando com
outros roteiros, comenta Zanella (2008):

O Roteiro Vinhos e Longevidade já é consolidado pela Atuaserra, formatado e bem


estabelecido, e a grande preocupação é estabelecer outros atrativos entorno como a
Ponte Ernesto Dornelles, o Rio das Antas, grutas, águas termais, usinas hidrelétricas
e mirantes para que o turista fique mais em Veranópolis. (ZANELLA, 08).

Veranópolis está despontando cada vez mais como um grande potencial enoturístico,
o mais importante, a comunidade local esta inserida nesta idéia. Graças ao apoio do poder
municipal que através de medidas e parcerias vem destacando o município no cenário
nacional e como grande centro turístico.

Sua bela localização, clima agradável, bela paisagem formada por vales, montanhas,
rios e pontes, vinícolas novas, aliadas a boa hospitalidade, a cada ano vem incrementando
novos diferenciais turísticos e novos empreendimentos de atração turística.
106

9 BREVE HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS FESTAS IMPULSORAS DO


ENOTURISMO NO RS

Apresentam-se, neste capítulo, as mais importantes festas impulsoras do enoturismo


no Estado. Destacando os principais eventos alusivos à uva, ao vinho e ao espumante nos
municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Monte Belo do
Sul.

9.1 Festa da Uva - Caxias do Sul

Celebrar a vindima: esse era o objetivo da primeira festa agrária realizado em Caxias
do Sul, na década de 30. O dia 07 de março de 1931 foi marcado por uma exposição discreta e
elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro (esquina Visconde de Pelotas com a
Sinimbu). Quem está acostumado com carros alegóricos desfilando pelas ruas de Caxias,
confraternizações festivas e bailes de gala, que representam a festa de hoje, ficaria surpreso
em visitar a cidade nesta data.

No dia 05 de março de 1932, aconteceu a II festa da uva com o tema “Mais Brilho e
o Primeiro Corso Alegórico”. Sob a direção da associação dos comerciantes de Caxias, essa
segunda edição aconteceu na Praça Dante e contaram com um desfile de alegorias sobre
rodas, puxadas por juntas de bois ou cavalos, representando a produção de algumas colônias
da região.

Na terceira edição chamada de “Adélia! Senhora nossa e rainha,” houve a primeira


rainha coroada. A Festa da Uva aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1933, no Cine Teatro
Central. O então governador do Estado do Rio Grande do Sul, Coronel Flores da Cunha,
colocou na cabeça de Adélia Eberle uma pequena coroa e, após seu discurso, cortou a fita,
declarando inaugurada a III Festa da Uva.

Em 24 de fevereiro de 1934 foi inaugurada a IV edição da Festa com o tema “Caxias,


a Pérola das Colônias.” Dr. Olmiro Azevedo mais uma vez saudou a rainha, desta vez era
Odila Zatti. Vários discursos marcaram o início do evento, entre eles, o do Comandante da 3ª
Região Militar, José Franco Ferreira, que se referiu à cidade como “Pérola das Colônias”,
referindo-se ao carinhoso apelido da cidade atribuído pelo então Presidente da Província do
Rio Grande do Sul, Júlio Prates de Castilhos, no dia 14 de março de 1897.
107

Em 1935 e 1936 a celebração foi interrompida. Problemas econômicos no setor da


vitivinicultura afetaram a realização da festa nesses dois anos. Em 1937 foi inaugurada a fonte
luminosa. Após dois anos, a Festa da Uva é novamente realizada, no dia 28 de fevereiro de
1937.

Em sua 5ª edição, aconteceu um belo desfile de carros alegóricos, mas não houve a
escolha da rainha. Foi nesta festa que aconteceu a inauguração da fonte luminosa no centro da
Praça Dante. Em 1938 a 1949 novamente as celebrações foram interrompidas. Mais uma vez
a Festa da Uva não foi realizada, porém, desta vez, o motivo foi a segunda grande guerra, que
trouxe instabilidade interna, afetando profundamente a Região Colonial Italiana.

Em 1950, realizou-se a VI Festa da Uva. Se passaram 11 anos desde a realização da


última Festa da Uva, novamente a festa começa a ser preparada, desta vez com mais de um
ano de antecedência, no dia 02 de abril de 1949, na sede da Associação Comercial local. A
tradicional escolha da rainha aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1950, tendo como campeã
Teresinha Morganti, de Bento Gonçalves. Aconteceram algumas brigas em protesto ao
resultado, pois a torcida queria a vitória da caxiense Bila Vial.

Em 1954, obteve-se a visita do Presidente da República e inauguração do


Monumento ao Imigrante. Na noite do dia 20 de fevereiro de 1954, o baile de coroação da
rainha, Maria Elisa Eberle, inaugurou oficialmente a VII Festa da Uva. Durante esta edição da
festa, aconteceu a inauguração do Monumento ao Imigrante, com a presença do então
Presidente da República, Getúlio Vargas, que inaugurou também o Parque de Exposições da
Festa da Uva.

Em 1958, a VIII Festa da Uva começou em 1º de março de 1958 e terminou no dia


23 do mesmo mês. O concurso de Rainha foi um pouco diferente dos anteriores. Houve dois
sufrágios. O primeiro, de cunho eminentemente popular, o povo indicou suas candidatas
preferidas. As quatro mais votadas passaram, então, pelo crivo de uma comissão formada
especialmente para escolher, entre elas, a Rainha. A eleita foi Zila Turra, segunda mais votada
pelo povo, mas descendente de uma das famílias mais antigas de Caxias. A mais votada em
pleito popular, foi Rosemary Spinatto. O Presidente da República, Sr. Juscelino Kubistchek,
não participou da festa.

Em 1961, a IX Festa da Uva teve como presidente Bertilo Wiltgen, e a soberana,


escolhida por seis jurados de Porto Alegre e três de Caxias, foi Helena Luiza Robinson. A
108

visita do Presidente Jânio Quadros e de sua esposa, Eloá, foi o ponto forte no dia da
inauguração da festa, em 27 de fevereiro, recebido pelo Governador do Rio Grande do Sul,
Leonel Brizola. Foi nesta data, também, que ele determinou o asfaltamento da BR/2 (atual BR
116). Outra presença marcante nos festejos foi a Miss Brasil, Gina Mac Pherson, que vestiu
trajes típicos italianos.

Em 1965 o evento teve como tema “Maior evento do gênero na América Latina”.
Esta festa foi presidida por Ottoni Minghelli, que já liderara o certame em 1937. A X Festa da
Uva teve como rainha Silvia Celli. O Presidente da República, Humberto Castello Branco,
participou intensamente dos festejos. Neste ano, a Festa da Uva e a Feira Agro-Industrial
foram consideradas o maior evento no gênero na América do Sul, com cerca de 300 mil
visitantes. Não era uma festa somente da cidade, mas de toda a região.

Em 1969 o evento teve como tema Corso Noturno. Lívio César Gazola foi eleito,
pela Comissão da festa, para presidir a XI Festa da Uva, que começou no dia 22 de fevereiro
de 1969. A rainha, escolhida por um júri composto por 14 pessoas foi Elizabeth Maria
Menetrier. A grande inovação da festa foi o corso noturno, com carros alegóricos iluminados.
Desfilaram carros alegóricos financiados por embaixadas estrangeiras (Itália, Espanha e
Japão). Houve também o Congresso de Literatura, Encontro Interestadual de Apicultores e
Simpósio Internacional de Viticultura e Enologia. O encerramento oficial da festa contou com
a presença do presidente Costa e Silva.

Em 1972 o evento teve como tema Festa da Uva. A década de 70 marcou o auge da
indústria metal-mecânica na cidade. A festa tradicional não poderia mais continuar sendo
comunitária; tinha que se tornar um empreendimento organizado. O âmbito da festa de 72 foi
sensivelmente ampliado e a presença das autoridades nacionais foi maciça. O Presidente
Médici inaugurou a festa e o Ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, caxiense,
inaugurou aqui a TV em cores no Brasil, durante o corso do dia 19 de fevereiro. Pela primeira
vez, a festa foi registrada em cores, pelas câmeras de televisão. A rainha escolhida foi
Margareth Trevisan e o presidente foi Mário Bernardino. A partir desta Festa, algumas
mudanças estruturais que se faziam necessárias na organização do evento começaram a
acontecer. A transferência dos pavilhões de exposições da Rua Alfredo Chaves para a Rua
Ludovico Cavinato começou nesse ano. Em 12 de fevereiro de 1974, a Sociedade Civil
Comissão da Festa da Uva foi transformada em Festa da Uva Turismo e Empreendimentos
S.A e, em 31 de março, foi inaugurada a TV Caxias, canal 8.
109

Em 1975, o evento teve como tema ‘100 anos de imigração.” A Festa foi, também,
uma celebração do centésimo ano decorrido desde a povoação do nordeste do Estado pelos
imigrantes. O presidente da festa foi Humberto Bassanesi, contando com o apoio dos
governos federal, estadual e municipal. Nesse ano, além da escolha da Rainha da Festa da
Uva, tendo como eleita Roxane Torelli, foi feita a escolha da Rainha do Centésimo, contando
com candidatas de diversos municípios da região. A vencedora foi a representante de Caxias,
Tânia Slongo.. A presença do presidente Geisel foi muito marcante para todos os caxienses.

Em 1978, o evento teve como tema “Réplica de Caxias”. A XIV Festa da Uva foi
presidida por Flávio Ioppi. A obra mais marcante de sua gestão foi a construção da réplica de
Caxias 1885, na área do Parque de Exposições. A rainha da festa de 78 foi Ana Méri Brugger.
O Presidente Geisel retorna a Caxias para visitar a festa, renovando as emoções da festa
anterior. Uma escola de samba do Rio de Janeiro homenageou a imigração italiana, ajudando
a difundir a festa.

Em 1981, a festa da uva teve a visita do Presidente Figueiredo. A festa de 81 foi


presidida por Flávio Salomoni, caxiense que tomou sobre si a tarefa de realizar o evento
apesar da grande crise econômica que já se insinuava naquela época. A rainha eleita foi
Marília Conte. O Presidente Figueiredo esteve presente na abertura dos festejos, visitando a
exposição e tecendo vários elogios ao trabalhador do nordeste gaúcho.

Em 1984, o evento teve como tema “Volta às Origens.” O êxito da festa anterior
levou seus organizadores a prosseguirem no resgate das tradições italianas, para que o evento
da feira agro-industrial não diminuísse o brilho da festa. Mas o evento coincidiu com o auge
da recessão econômica. O presidente da XVI Festa da Uva foi o Sr. Mário David Vanin e a
rainha eleita foi Marisa Dotti.

Em 1986, o evento teve como tema “55 anos de Festa.” Com a retomada do
crescimento, se decidiu realizar a festa de dois em dois anos, sendo inaugurada em fevereiro
de 1986, com a presença do presidente José Sarney. O presidente Mário Vanin voltou a dirigir
os festejos em 86. A rainha eleita foi Silvia Slomp.

Em 1989, o evento teve como tema “A maior Festa do Século.” A Festa de 1989
coincidiu com o auge da escalada inflacionária. O presidente Sarney decidiu não comparecer
ao evento, deixando o governador Pedro Simon ouvir as reclamações dos agricultores e dos
operários contra a política econômica do governo. O Presidente da festa de 89 foi Luiz
110

Zamboni Neto. Uma das atitudes mais marcantes foi ter fomentado a memória histórica da
festa. Calcula-se que 400.000 pessoas percorreram os pavilhões durante os dias do evento. A
rainha da XII festa foi Deliz De Zorzi.

Em 1991, o evento teve como tema “XIX Festa da Uva.” Para aumentar o público, a
Festa incluiu novas atrações, como espetáculos musicais gratuitos, contribuindo para trazer as
pessoas das cidades vizinhas, que se voltava contra o seu artificialismo. O presidente da festa,
Alexandre Wisintainer, a rainha, Catiana Rossato, e as princesas, Joane Schüller e Flora
Magnabosco, percorreram várias cidades do país, divulgando a Festa da Uva. A festa de 91
não contou com a presença do Presidente da República, o Sr. Fernando Collor.

Com o tema "Uma história que vem de longe", a Festa da Uva de 1994 foi presidida
por Flávio Ioppi. Neste ano, a Sociedade Civil Comissão Festa da Uva foi reativada para a
organização da festa. O presidente da comissão foi Sr. Nestor Perini. A Rainha de 94 foi
Cristina Briani, tendo como princesas Carine Pozzenato e Fabrícia Fedrizzi. A visita do
Presidente da República, Sr. Itamar Franco, aconteceu na abertura da festa, juntamente com o
Governador do Estado, Sr. Alceu de Deus Collares.

Em 1996, o evento teve como tema “A América que nós fizemos.” A festa de 96 foi
um mega-evento que celebrou os 120 anos da imigração italiana. Houve grandes atrações
paralelas: corso alegórico, distribuição de 250 mil quilos de uvas, espetáculo Som & Luz.
Além disso, a Festa da Uva foi tema no desfile da escola de samba Vila Isabel.
O presidente da empresa foi o Sr. João Flávio Ioppi e o presidente da Comissão Comunitária
foi o Sr. Nestor Perini. A rainha eleita foi Srta. Patrícia Horn Pezzi, e as princesas, Márcia
Maróstica e Valéria Weiss.

Em 1998, o presidente da empresa Festa da Uva foi o Sr. José Carlos Monteiro e o
presidente da Comissão Comunitária foi o Sr. Ricardo Golin. A rainha eleita foi Patrícia Roth
dos Santos, e as princesas, Alessandra Kuhn Marta e Letícia Bachi Mazzochi. O tema
escolhido foi "A Festa das Festas”. A inauguração da XXII Festa da Uva foi feita pelo Vice-
Presidente da República, Marco Maciel; pelo Governador do Estado, Antônio Britto; Ministro
da Agricultura, Francisco Dorneles e pelo Prefeito de Caxias do Sul, Gilberto Pepe Vargas.

Em 2000, o evento teve como tema “O trabalho e os dias de um povo. Venha ver e
festejar.” A Festa da Uva de 2000 aconteceu com o objetivo de marcar o novo milênio. Os
presidentes foram o Sr. José C. Monteiro, presidente da empresa, e o Sr. Ricardo Golin,
111

presidente da Comissão. A escolha da Rainha e das princesas foi uma grande festa, marcada
por shows regionais. As escolhidas foram: Fabiana Bressanelli Koch, como rainha, e Henriete
Caldas Vaccari e Vanessa Slavieiro, como princesas.

A Mulher Imigrante foi o tema da 24ª edição, que ocorreu entre 15 de fevereiro a três
de março de 2002. O presidente deste ano foi Sr. Valter Agostinho Minuscoli. A Rainha eleita
foi Juliana Marzotto e as princesas foram Fernanda Frigeri e Adriana Corso.

Em 2004, o Sr. Ovídio Deitos presidiu tanto a Comissão como a Empresa Festa da
Uva. A rainha foi Priscila Caroline Tomazzoni, e as princesas, Greice Demoliner Tedesco e
Victoria Titton De Carli. A XXV Festa Nacional da Uva teve como tema central a terra e os
produtos do trabalho do homem no seu cultivo. Através das palavras "Terra, pão e vinho", a
festa prestou uma homenagem aos imigrantes de todas as origens - em especial aos italianos
que - chegaram ao Estado no século XIX em busca de terra e ao fruto do trabalho do cultivo
do solo.

Em 2006, aconteceu a 26ª Festa da Uva, contou com Gelson Palavro como
presidente, que organizou, juntamente com as comissões, uma belíssima festa responsável por
um público de quase 900 mil pessoas. Nessa festa, como o tema “A alegria de estarmos
juntos,” foi celebrada a união de todos os povos, tendo toda a beleza da região representada
pela rainha, Julia Brugger de Carli, e pelas princesas, Marcela de Fátima Bertussi e Natália
Menegat Vanzin.

Em 2008, o evento teve como tema Uma vez Imigrante para Sempre Brasileiro. A
27ª Festa da Uva encerrou no dia 9 de março, contou com a presença de aproximadamente um
milhão de visitantes. A atual rainha é a jovem Andressa Grillo Lovato e as princesas Paula Da
Costa Taddeucci e Vanessa Susin. A próxima festa esta prevista nos dias 18 de fevereiro a
sete de março de 2010. (Festa Nacional da Uva, 08).
112

9.2 Festa Nacional do Vinho de Bento Gonçalves – Fenavinho

Passa-se a descrever sucessivamente sobre os principais fatos de cada festa comemorativa do


vinho de Bento Gonçalves:

I FENAVINHO – de 25 de fevereiro a 12 de março de 1967. Presidente, Moysés


Luiz Michelon, a Imperatriz do Vinho foi Sandra Guerra; e Damas de Honra, Iegla
Gehlen e Liane Mazzini. O presidente da República Humberto de Alencar Castelo
Branco visita Bento Gonçalves, sendo o primeiro Presidente Brasileiro a visitar o
município. Aproximadamente cem mil visitantes prestigiaram o evento.

II FENAVINHO – de 13 a 28 de fevereiro de 1971. Presidentes, José Eugênio


Farina, Carlos Reno Dreher e Horácio Guedes Mônaco, a Imperatriz do Vinho foi
Naira Valenti; e Damas de Honra, Vera Regina Pompermayer e Maria Aparecida
Soares. Presença do ministro da Agricultura Cirne Lima e do Governador Walter
Perachi.

III FENAVINHO –. De 15 de fevereiro a nove de março de 1975. Presidente, Tel


Antinolfi, a Imperatriz do Vinho foi Marisa Tondo, e Damas de Honra, Stela
Fasolo e Maria Lolita Menegotto, marcou a presença o Presidente da República
Ernesto Geisel e do Governador Euclides Triches.

IV FENAVINHO – De primeiro a 19 de fevereiro de 1980. Presidente, Nelton


Callegari, Imperatriz do Vinho, Sílvia Ross, e Damas de Honra, Ângela Ozelame e
Elisabete Rotava. Presenças do Presidente da República João Batista Figueiredo e
do Governador do Estado José Augusto Amaral de Souza.

V FENAVINHO – De oito de 24 de fevereiro de 1985. Presidente, Carlos Bertuol.


Imperatriz do Vinho, Sheila Telli, Damas de Honra, Liana Cristina Fortuna Rigon
e Cláudia Sfoggia. Presença do Ministro da Agricultura Nestor Jost, e do
Governador Jair de Oliveira Soares.

VI FENAVINHO – De 14 a 29 de julho de 1990. Presidente, Jovino Nolasco de


Souza. Imperatriz do Vinho, Nádia Cini, e Damas de Honra, Eliane Gobatto e
Raquel Possamai. Presenças; Ministro da Agricultura Antônio Cabrera e do
Governador Sinval Guazzelli.
113

VII FENAVINHO – De 12 a 28 de Julho de 1991. Presidente Jovino Nolasco de


Souza. Imperatriz do Vinho, Nádia Cini,e Damas de Honra, Eliane Gobatto e
Raquel Possamai. Presenças, Ministro da Agricultura Antônio Cabrera e
Governador Alceu de Deus Collares.

VIII FENAVINHO – De 10 a 26 de julho de 1992. Presidente, Jovino Nolasco de


Souza. Imperatriz do Vinho, Andréa Poletto, Damas de Honra, Maristela Titton e
Lucimara Minozzo. Presenças, Ministro de Minas e Energia Pratini de Moraes e o
Governador Sinval Guazzelli.

IX FENAVINHO – De 9 a 25 de julho de 1993. Presidente, Erci Zottis Grapiglia.


Imperatriz do Vinho, Loren Hofsetz, Damas de Honra, Sônia Arlete Rasador e
Janete Rizzi. Presenças, Ministro da Presidência Antônio Brito Filho e
Governador Alceu de Deus Collares.

X FENAVINHO – De 15 a 31 de julho de 1994. Presidente, Erci Zottis Grapiglia.


Imperatriz do Vinho, Loren Hofsetz; Damas de Honra, Sônia Arlete Rasador e
Janete Rizzi. Presenças, Ministro da Agricultura Sinval Guazzelli e Governador
Alceu de Deus Collares.

XI FENAVINHO – De 4 a 14 de maio de 2000. Presidente Jaime Milan. Contou


com 25 expositores. Prefeito Darcy Pozza.

XII FENAVINHO – De 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 2005. Presidente Paulo


Geremia. Participaram 43 vinícolas. Prefeito Alcindo Gabrielli.

XIII FENAVINHO – Fevereiro de 2007. Presidente Tarcísio Michelon. Inicio de


uma nova era, em termos de festa, O Espetáculo Cênico. (DE PARIS, 2006, p.257
a p.259).
114

9.3 Exposições de Uvas e Festas do Champanha – Garibaldi

Nos dias 24, 25 e 26 de fevereiro de 1913 se realizou a 1ª Exposição de Uvas da Serra


Gaúcha, realizada nos salões do Clube Borges de Medeiros, compareceram 133 expositores
de uvas e 20 de vinho, a Casa Bromberg & Cia, de Porto Alegre, apresentou uma coleção de
máquinas para a vinicultura. Comissão julgadora- Enólogo Horacio Mônaco, G. Bormancini e
irmão José Sion. Os vinhos premiados foram medalha de ouro para Manoel Peterlongo, prata
para Irmãos Maristas e bronze para Domingos Deconto, David Bagatini, Albino Parisi e
Pedro Carrera. Em 1914, se realiza a 2ª Exposição de Uvas, no Clube Borges de Medeiros,
nos dias 12 a 15 de fevereiro, participaram 268 expositores. (ARQUIVO HISTÓRICO DE
GARIBALDI). Cita-se a seguir as principais festas e suas principais características:

I FENACHAMP - De 10 a 26 de julho de 1981. Presidente, Adolfo Alberto Lona.


Rainha, Ana Beatriz Peterlongo Franciosi. Princesas, Ana Inês Fachin e Marines
Emanuelli. Presenças: Presidente da República General João Batista de Figueiredo e
o Governador do Estado, Amaral de Souza.

II FENACHAMP – De 29 de junho a 22 de julho de 1984. Presidente, Lauro Rigoni.


Rainha, Rosana Cristina Ogliari. Princesas, Mariléia Inês D’Arrigo e Anelise Pizzi.
Presença: Ministro da Indústria e Comércio, Camilo Penna.

III FENACHAMP – De 10 de julho a 02 de agosto de 1987. Presidente, Valdomiro


José Brandelli. Rainha, Josaina Brandelli. Princesas, Roselice Parmegiani e
Alexandra Nicolini.

IV FENACHAMP – De 06 a 29 de julho de 1990. Presidente, Ambrósio Chesini.


Rainha, Beatriz Bocchese Arregui. Princesas, Ana Cristina Cofferi, Fabiana
Agostini, Mara Zorrer e Simone Simonaggio.

V FENACHAMP – De 09 de julho a 01 de agosto de 1993. Presidente, Ademar


Petry. Rainha, Morgana Facchinelli. Princesas, Lisiane Delazzeri e Renata
Santarosa.
115

FESTA DO CHAMPANHA – De 30 de outubro a 08 de novembro de 1998. Não


teve presidente, mas comissões, o promotor executivo da festa foi Cláudio Troian.
Rainha, Roberta Delazzari. Princesas, Antonella Fellini e Franciele Carraro. A Festa
ocupou parte da Rua Buarque de Macedo e das Av. Rio Branco e Presidente
Vargas.

FESTA DO CHAMPANHA 2000 - De 11 a 22 de outubro de 2000. Rainha, Kelli


Lorenzi. Princesas, Andréia Meneguzzi e Grasiela Pertille. Também realizada nas
principais ruas do centro da cidade.

FENACHAMP 2003 - De 03 a 19 de outubro de 2003. Presidente, Antenor Fellini.


Rainha, Caroline Benini Magagnin. Princesas, Alessandra Guarnieri e Lúcia
Misturini. Esta festa foi realizada pela Prefeitura Municipal, Secretaria de Turismo,
Indústria e Comércio e Comissão da Fenachamp.

FENACHAMP 2005 – De 30 de setembro a 16 de outubro. A organização da festa


foi de responsabilidade do Presidente Antenor Fellini, vice-presidente Gilberto
Pedrucci e suas comissões. A corte da mesma foi formada pela Rainha Mariana
Milani e pelas princesas Marizete Locatelli e Vanessa Dalla Valle Sabei.

FENACHAMP 2007 – De 19 de setembro a sete de outubro. Presidente, Gilberto


Pedrucci. Rainha, Veroní Ballestrin Girelli. Princesas: Claiana Pieta e Cristina
Carniel. A 10ª edição da Fenachamp – Festa Nacional do Champanha teve como
proposta resgatar a história dos 25 anos da Festa e homenagear todos que
trabalharam pela realização e pelo sucesso das edições anteriores.

FENACHAMP 2009 – Este evento esta previsto de primeiro a 25 de outubro de


2009. (FENACHAMP, 08).
116

9.4 Festa Nacional da Vindima de Flores da Cunha – Fenavindima

Expõem-se a seguir as principais festas já realizadas em Flores da Cunha:

I FENAVINDIMA – De 26 de fevereiro a 12 de março de 1967. Presidente:


Claudino Muraro.Rainha: Marisa Bigarella. Princesas: Odali Fontana, Silvia
Mattioni, Bernardete Soldatelli e Maria do Carmo Toigo.

II FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1973. Presidente: Januário


Bulla. Rainha: Justina Finger. Princesas: Leonor Mioranza e Olívia Chiarani

III FENAVINDIMA - De 21 de fevereiro a 7 de março de 1976. Presidente: Victório


Carlos Toigo. Rainha: Miriam Pedron. Princesas: Clara Panizzon e Maria Fernanda
Borgetti.

IV FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1979. Presidente: Ângelo


Araldi. Rainha: Jaqueline Cardoso. Princesas: Márcia Lunardi e Kátia Gonzáles.

V FENAVINDIMA - De 27 de fevereiro a 14 de março de 1982. Presidente:


Januário Bulla. Rainha: Sueli Veadrigo. Princesas: Marisa Coloda, Ritamar Devenz e
Sílvia Molon. Miss Simpatia: Rosane Caldart.

VI FENAVINDIMA - De 21 de fevereiro a 8 de março de 1987. Presidente: Floriano


Molon. Rainha: Sônia Dalla Vale. Princesas: Adriana Muraro e Gema Smiderle.

VII FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1990. Presidente:


Honorino Toigo. Rainha: Andréia Carpeggiani. Princesas: Sandra Guerra e Renata
Zorgi.
117

VIII FENAVINDIMA – De 18 de fevereiro a 5 de março de 1995. Presidente: Carlos


Raimundo Paviani. Rainha: Cristiane Passarin. Princesas: Alessandra Muraro e
Kelen Cavalli.

IX FENAVINDIMA – De 12 de fevereiro a 14 de março de 1999. Presidente:


Floriano Molon. Rainha: Giovana Ulian. Princesas: Cláudia Muraro e Cristiane
Piccoli.

X FENAVINDIMA - De 14 de fevereiro a 16 de março de 2003. Presidente:


Floriano Molon. Rainha: Márcia Belincanta. Princesas: Franciele Sgarioni e Andréia
Debon.

XI FENAVINDIMA - De 23 de fevereiro a 18 de março de 2007. Rainha: Fabiane


Veadrigo Princesas: Fernanda Longhi Nicole Toigo Montanari. Encerra com mais de
80 mil visitantes. (FENAVINDIMA, 08).

9.5 Festa de Abertura da Vindima - Monte Belo do Sul

Festa de Abertura da Vindima. O evento, que está em sua 5ª edição, marca o início da
colheita da uva na serra gaúcha. Os parreirais de Monte Belo do Sul são um dos protagonistas
do desenvolvimento econômico, social e cultural do Rio Grande do Sul. Desde a colheita até
o vinho, cultivam-se hábitos, nascem histórias, surgem cantos, fluem emoções. E, tanto
quanto a produção propriamente dita, a colheita da uva também foi se incorporando
juntamente com a cultura regional como uma importante tradição do Rio Grande do Sul.

(MONTE BELO DO SUL, 08).


118

9.6 Festa do Vinho Novo de Forqueta – Caxias do Sul

Festa do Vinho Novo - Nasceu oficialmente em 2001, no distrito de Forqueta, Caxias


do Sul. Foi idéia do Padre Darci Bertolini, devido que a maioria das famílias do distrito
trabalha na vitivinicultura. De acordo com os organizadores, o evento tem como principal
objetivo resgatar uma cultura universal, que é a “benção do vinho,” herança trazida pelos
primeiros imigrantes que chegaram à região, como forma de manter vivas as suas raízes.
Conta a tradição, que após o trabalho da colheita, as famílias chamavam o padre da paróquia
para abençoar o vinho e depois faziam uma grande festa.

De acordo com o Padre Darci Bortolini (2008), “o vinho novo, que é elaborado com
uva da última safra, é considerado símbolo da fertilidade, da longa vida, revigorante dos
fracos e a alegria dos festeiros que no fim da festa está presente no sorriso, no canto, na
poesia, no sangue e no vigor”, salienta.

Na Festa do Vinho Novo, os turistas podem degustar os primeiros vinhos resultado das
uvas colhidas nos meses de fevereiro e março, visto que a festa geralmente ocorre no mês de
julho. A festa reúne 14 comunidades do local, além do vinho novo, os turistas encontram a
farta culinária de origem da imigração italiana no Brasil, ao som de grupos típicos e
apresentação de danças. Nas ruas do distrito, o visitante pode conhecer a história da
colonização, através de desfiles de carros alegóricos temáticos. Olimpíadas coloniais fazem
parte desta festa, além dos torneios de bocha e outros jogos. (SERRA GAÚCHA, 08). Edições
das Festas do Vinho Novo ocorreram em:

2001 – A melhor novidade da Serra gaúcha.


2004 – Da alma de nossa gente, aos cálices em nossas mãos.
2006 – Uma viagem ao coração do imigrante.
2008 – Foi a última edição com o lema “Esta Festa te espera” no mês de julho.
(FESTA DO VINHO NOVO, 08).

9.7 Homenagens ao Vinho e ao Espumante no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul passa a comemorar a partir desta década dois dos seus mais
importantes produtos: o vinho e o espumante fino brasileiro. Através desta iniciativa, além de
estimular a cultura e o consumo desses produtos, contribui para o impulso e desenvolvimento
do enoturismo no Estado.
119

9.7.1 Dia Estadual do Vinho

O Dia Estadual Do Vinho - É uma promoção de Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)


e Governo do Estado, através das secretarias da Agricultura e Abastecimento e de Turismo e
de Esporte e Lazer. Na capital, as ações tiveram como parceiros, a Prefeitura Municipal de
Porto Alegre, e Irmandade dos Italianos e patrocínio da Rede Wal Mart hipermercados Big, e
execução de Phoenix Produções e Marketing. A ser realizado anualmente, no primeiro
domingo de junho, o Dia Estadual do Vinho foi criado em dezembro 2003, através da Lei n°
12.019, de projeto do deputado Iradir Pietroski, aprovado por unanimidade pela Assembléia
Legislativa e sancionado pelo governador Germano Rigotto, a 11 de dezembro. A
comemoração foi formalmente sugerida pelo senador Sérgio Zambiasi. A primeira celebração
da data foi em seis de junho de 2004.

A primeira celebração da data, contou com ampla programação. Na Serra Gaúcha, isto
se deu através de eventos nas praças centrais das cidades, abertura de vinícolas à visitação e
oferta de produtos com preços promocionais em estabelecimentos diversos, entre outras
ações. Em Porto Alegre, encenação da chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do
Sul, no Cais do Porto, assistida por autoridades e convidados, marcou oficialmente o Dia do
Vinho. Também na região metropolitana da Capital, churrascarias e restaurantes associados à
Irmandade dos Italianos ofereceram sua carta de vinhos com valores promocionais.

A data comemorativa tem, não apenas o propósito de estimular a cultura e o consumo


do vinho, e de impulsionar o turismo temático - no caso, o enoturismo - mas também, celebrar
um dos mais tradicionais e importantes produtos do Estado do Rio Grande do Sul, principal
pólo vitivinícola do país. (DIAS ESTADUAL DO VINHO, 08).

9.7.2 Dia Estadual do Espumante Fino Brasileiro

O Dia Estadual Do Espumante Fino Brasileiro – Foi instituído em 2005, pela Lei nº
12.330, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do sul, sendo o dia 22 de outubro, festejado
juntamente com o Dia do Enólogo. Este projeto foi encaminhado pela Deputada Estadual
Maria Helena Sartori. O projeto tem como objetivo valorizar o espumante fino brasileiro,
120

através de data especial, e promover o mesmo. O projeto foi sugerido pela Confraria do
Champanhe da Serra Gaúcha. (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 08).
121

10 CONCLUSÃO

O presente trabalho dobrou-se sobre o estudo do surgimento do Enoturismo nos


municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Flores da Cunha e Veranópolis,
integrantes da Região Uva e Vinho.

Assim, pois, o Enoturismo brasileiro pode ser considerado jovem, não chega a
completar um século de atividade. Pode-se dizer que é mais recente ainda sua
representatividade econômica. É de suma importância ressaltar que, mesmo nos países que
apresentam mais de mil anos em tradições vitivinícolas, o enoturismo somente nas últimas
décadas vem conquistando espaço no segmentado setor turístico. No Brasil, mais
especialmente na Região Uva e Vinho, o Enoturismo demonstrou importante evolução. As
oportunidades surgem e os empreendedores estão aproveitando o momento para crescer
juntos. As informações adquiridas para o desenvolvimento do trabalho permitiram esclarecer
algumas considerações, embora limitadas, uma vez que houve um corte no número de
entrevistados e na área geográfica.

Resulta desta maneira, de informações que puderam ser absorvidas no período e que
confirmam o destaque do Enoturismo, sua maneira de interferir no desenvolvimento de uma
região, contribuindo com o surgimento de associações, festas alusivas a uva e ao vinho,
instituições de ensino, serviços de profissionais qualificados e, sobretudo, o incremento
socioeconômico, cultural na região Uva e Vinho. Atualmente, o Enoturismo incorpora um
cenário potencializado dado a sua importância para inúmeras empresas que trabalham nesse
segmento e, para a comunidade local, que dele dependem para sua sustentabilidade e registro
de memória coletiva. Percebe-se que a região estudada tem vocação para o Enoturismo,
justificado através das raízes culturais e certamente, pela hospitalidade local, que evidencia a
preocupação com o bem receber, traduzindo-se em uma cultura hospitaleira.

Conforme Paulus (2008), para uma região ser considerada turística, esta deve contar
com infra-estrutura de aporte, ou seja, a união da hotelaria, transporte e gastronomia. Diante
disso podemos afirmar que a Região Uva e Vinho atinge seu auge turístico no período de
1920 a 1940. O cenário do modelo turístico (veraneio) apresenta sinais de declínio a partir dos
anos 50, se agravando nos anos 70, quando a região passa a obter um crescimento industrial e
deixa a atividade do turismo de veraneio para um segundo plano. O reposicionamento da
atividade turística ocorre a partir da década de 80, tendo como principal modelo turístico na
região o Enoturismo.
122

Nota-se que o Enoturismo na região passa por três momentos distintos.


Primeiramente o turista foi atraído para a região através de festas e exposições alusivas à uva
e ao vinho. Esses grandes eventos ajudaram a projetar o nome dos municípios no Brasil
inteiro, muitas vezes, prestigiados por personalidades importantes e o mais interessante foi
que a comunidade local foi inserida neste espírito receptivo. As empresas passaram a
“enxergar” o turista com grande potencial de propagação e de consumo de seus produtos,
tendo como finalidade fidelizar o cliente.

Num segundo momento, o Enoturismo ganha força usando como atrativo a


gastronomia típica da imigração italiana. Várias empresas abriram suas portas aos visitantes,
oferecendo jantares, simples ou requintados, tendo como estrela principal o vinho. Este,
muitas vezes, acompanhava o visitante em sua viagem de retorno.

E como terceiro aspecto relevante do estudo, o destaque é dado aos vinhos finos e,
conseqüentemente, a região começa a ser reconhecida como importante produtora. Portanto, a
conquista da Indicação de Procedência passa a ser vista como uma ferramenta de marketing.
Mas não resta dúvida que a Indicação de Procedência solidifica uma nova fase para o
Enoturismo brasileiro, especialmente pelo diferencial de seus produtos, cercados por um
mercado contemporâneo e globalizado.

Evidencia-se a localização geográfica da Região Uva e Vinho, de fundamental


importância, devido à proximidade com a Região das Hortênsias, considerada importante pólo
indutor do turismo do Estado, favorecendo a criação de uma rede de parcerias entre agências
de viagens e operadoras, possibilitando ao visitante descobrir novos destinos turísticos. Além
disso, está próxima ao principal emissor de turistas do Estado, a região da capital gaúcha.
Outro papel importante do Enoturismo é sua contribuição para a preservação da identidade
histórico-cultural, motivando agregar novos atrativos ligados à uva, ao vinho e seus derivados.

No entanto, como resultado as entrevistas somaram longos momentos, grande parte


do material foi analisado e aproveitado como base nas principais idéias consideradas
importantes para tecer a história do enoturismo e, com auxílio do professor orientador, foram
analisadas e organizadas.

E finalizando, considera-se o presente estudo como sendo parcial, sem a pretensão de


encerrar o tema e sim, pelo contrário, instigar outros estudos, que venham contribuir para
novos conhecimentos sobre o Enoturismo na Região.
123

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132

APÊNDICE A – Entrevistas concedidas, referente ao surgimento do turismo e do


enoturismo na região.

ENTREVISTA DE ADRIANO MIOLO – Enólogo diretor técnico da Miolo Wine Group.


Entrevista concedida em: 30 de setembro de 2008.

A Miolo foi inaugurada 1989, sua primeira safra foi realizada em 1990. Foi uma
época marcada pela crise no setor vinícola, muito parecida com a atual, e muitos agricultores
não sabiam para quem entregar suas uvas. Nesta mesma época surgiram várias vinícolas como
a Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Don Laurindo, Vallontano e outras mais.
O enoturismo na Miolo aconteceu ao natural, ele foi tratado como uma maneira de
promover os vinhos, um método parecido naquele momento com o da Casa Valduga que
fazia jantares para os funcionários do Banco do Brasil que vinham a Bento Gonçalves realizar
treinamentos. Era tanta gente que vinha que foi fomentando as pequenas empresas a fazer o
mesmo trabalho dos jantares. [...], surgiu à idéia de criar uma hostearia no porão da casa, ali
foram realizados jantares de duas a três vezes por semana e ainda hoje é servido o mesmo tipo
de cardápio com comida colonial: galeto, polenta, sopa de capeletti e saladas. A hostearia
funcionava também como varejo, onde os visitantes podiam adquirir os vinhos, nesta época
não era ainda oferecida visitação no interior da vinícola. [...].
Com o passar dos tempos, percebeu-se que as vendas dos vinhos nos jantares eram
bem maiores do que nos mercados. A partir disso se estruturou melhor a hostearia e se
procurou trazer um fluxo maior de pessoas. Conseqüentemente aumentaram as vendas de
vinho. O próximo passo foi abrir uma sala de vendas na hostearia. Durante o dia o turista
tinha acesso à vinícola e depois adquiria os vinhos na hostearia. [...], o acesso ao Vale dos
Vinhedos era horrível, não existia asfalto e mesmo assim as pessoas vinham visitar. Como o
fluxo estava aumentando, houve a necessidade de abrir um varejo na vinícola e este foi
desenvolvido entre as próprias pipas de vinho.
Em 2001, a Miolo construiu um novo complexo de visitação, desta vez dentro de um
plano voltado ao enoturismo. Em 2002, foi inaugurada a nova sala de degustação e com
horários de visitação programados, [...]. Neste ponto o enoturismo passa a ser visto como
forte ferramenta de Marketing, o visitante passa a ter uma experiência positiva com a marca e
os produtos. Atualmente o enoturismo é responsável por 4% do faturamento total da empresa,
isto é muito importante, fazendo do próximo passo uma ampliação da estrutura de atrativos.
133

A gastronomia foi à principal atração do enoturismo no início, agora o vinho passa a


ser o primeiro atrativo. No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na
Miolo, neste ano esperamos aproximadamente 10.000 a mais. O maior emissor de turistas é o
Rio Grande do Sul, principalmente oriundos da Grande Porto Alegre. [...].
O modelo ideal de enoturismo no Vale dos Vinhedos atualmente é o da Casa Valduga,
por apresentar uma infra-estrutura toda voltada ao atendimento ao enoturista, como visitações,
restaurantes e pousadas. Na Miolo o principal foco de atração é o vinho e foram procuradas
parcerias em outros setores do turismo, como o da gastronomia e hospedagem, que é o caso
do Hotel Vila Europa.
A grande diferença entre a Casa Valduga e a Miolo é que o enoturismo para a Casa
Valduga é o principal negócio; na Miolo o grande negócio é a elaboração de vinhos e
derivados.[...]
O enoturismo pode ser a grande saída para as pequenas empresas, visto que a nível
nacional e internacional cada vez é mais difícil chegar ao mercado consumidor, devido aos
custos logísticos de locomoção e de vendas. Manter uma estrutura comercial no mundo é
algo que requer elevados investimentos e no Brasil é maior ainda.
O Napa Valley recebe atualmente em torno de 3,5 milhões de turistas ao ano, retorno
de um trabalho realizado aproximadamente há 30 – 40 anos atrás. As empresas estão
totalmente voltadas ao enoturismo, e as vendas de seus produtos ao visitante é o foco
principal. Na França o enoturismo é visto como um bom negócio para os hotéis, pousadas e
restaurantes. As empresas vinícolas enxergam o enoturismo como uma ferramenta para
promover seus produtos e não como negócio.
134

ENTREVISTA DE ASSUNTA DE PARIS - Professora, historiadora, pós-graduada em


História da América Latina. Diretora do Arquivo Público e Histórico Municipal de Bento
Gonçalves, escritora de vários livros dentre eles “Bento, origem e história; Bento Gonçalves
ontem e hoje; a Trajetória do Comércio em Bento Gonçalves e Memórias: Bento Gonçalves-
RS Fundamentação Histórica. Entrevista concedida em: 05 de agosto de 2008.

Depois de 25 anos de colonização, começou uma divulgação na Capital e demais


regiões do Rio grande do Sul, aonde médicos entenderam que a alimentação do imigrante
italiano era sadia e a nossa região, por ser chamada de Serra, não só pelas montanhas, mas
pelos ventos que podiam trazer benefícios à saúde. Um lugar aonde o visitante podia
vislumbrar de horizontes ao longe. Estes visitantes começaram a se estabelecer nas casas dos
moradores locais, estes queriam conhecer os hábitos dos imigrantes, sua cultura e modo de
viver. O lema dos imigrantes era: “trabalho e oração”.
O vinho começa a ter espaço com o surgimento das cooperativas, onde estas passaram
a comprar cada vez mais uva. O prefeito de Caxias do Sul – Celeste Gobatto traz para a região
o enólogo “Paternó” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas.
A estrada de ferro tirou o município do isolamento em 1919, várias empresas
transferiram seus estabelecimentos nas proximidades da estação ferroviária, facilitando o
escoamento de suas produções, [...] o clero ajudou o imigrante a se fixar no campo, e fundou
diversas escolas particulares. [...].
[...], as pequenas comunidades e os distritos começaram a realizar exposições de seus
produtos. Estas exposições eram feitas geralmente no dia do agricultor ou nas festas religiosas
do padroeiro, mostrando ou fazendo oferendas do que eles produziam e assim se chegou a
uma complementação. Nos anos 60, conhecidos como os “anos de chumbo” devido à
ditadura militar, mais precisamente em1967 é realizada a I Fenavinho em Bento Gonçalves,
onde o povo e o clero se uniram e mostraram Bento Gonçalves ao Brasil. Pela primeira vez
um presidente visita Bento Gonçalves (Humberto Alencar Castelo Branco),
conseqüentemente, mais tarde, em 73 é inaugurado o asfalto São Vendelino. [...].
O principal atrativo no início de Bento Gonçalves, foi a cultura italiana, esta era
diferente das demais e o povo era alegre. As pessoas visitavam a região e os imigrantes se
sentiam confiantes em receber os visitantes em suas casas, eles mostravam tudo que tinham,
tomavam café juntos e tinham vinho a oferecer.
Com o passar do tempo, os grandes parreirais foram surgindo, algumas propriedades
passaram a plantar Plátanos, para substituir as taipas de pedras. O plátano na primavera com
135

seu pólen passou a complicar o ar dos veranistas, que temiam que fizesse mal à saúde para os
que tinham problemas de brônquios, asmas ou difícil respiração. [...].
Os planos altos eram os recomendáveis para os veranistas se hospedarem. [...].
A Ponte Ernesto Dornelles, conhecida com Ponte do Rio das Antas e Ponte de
Veranópolis, através de sua arte projetou também o turismo na região, principalmente em
Bento Gonçalves. [...].
136

ENTREVISTA DE BEATRIZ PAULUS - Diretora – Executiva da Atuaserra e Professora


Universitária. Entrevistada concedida em: 10 de novembro de 2008.

A vinícola Dreher elabora o primeiro espumante moscatel na região, [...]. Durante a


década de 1970 a 1986, empresas como a Dreher, Mônaco, Aurora e Rio Grandense recebiam
turistas em Bento Gonçalves.
Em 1978, a Forestier investe fortemente no enoturismo com a criação de um parque
temático. Durante todo o período de funcionamento da Maison Forestier, a folha de
pagamento era paga com dinheiro proveniente do enoturismo. [...]. No final da década de 60 a
Cooperativa Aurora cria um ambiente para o recebimento dos visitantes. Uma pipa de vinho
onde os turistas podiam entrar e degustar os vinhos.
Depois de algum tempo a Dreher, Mônaco e a Vinícola Riograndense deixam de
atender o turista, restando a Martini & Rossi, Cooperativa Garibaldi, Maison Forestier (esta
atuou até 2002), e a Peterlongo inicia no ramo enoturístico na década de 80.
Em 1980, Tarcísio Michelon após a morte do cunhado, assume o Hotel Dall’Onder,
de propriedade do sogro. Vale-se de sua experiência na Itália e muda a idéia inicial de
empreendimento imobiliário para empreendimento hoteleiro. Por ser um empreendedor de
visão, afirmava que Bento Gonçalves tinha mercado e era possível buscar turismo.
Implementa o Hotel com áreas de gastronomia e áreas de eventos. Começa a captar turistas e
eventos do Banco do Brasil.
No início a CVC trazia turistas à região e estes pensavam estar em Gramado ou Caxias
do Sul. Chegando aqui estes turistas reclamavam muito pela falta de atividade de lazer. [...].
O enoturismo no Vale dos Vinhedos começa na Família Tumelero (Ceará da
Graciema). Durante quatro anos os turistas eram encaminhados pelo Hotel Dall’Onder para
aquele local. Os visitantes eram recepcionados pela família no porão da casa, onde podiam
adquirir vinhos, salames, queijos e outros produtos. [...]. Em 1985, a esposa do Sr. Tumelero
desiste de trabalhar com os turistas, e o casal se muda para a cidade.
Tem-se a compreensão de que o turismo principalmente no meio rural depende
principalmente da figura da mulher.
Depois da Família Tumelero os turistas são encaminhados para São Valentin (distrito
de Tuiuty) na Família Possamai, nesse meio tempo a Aurora se torna grande parceira do Hotel
Dall’Onder.[...]
137

No final da década de 80, Tarcísio Michelon sugere a Casa Valduga uma experiência
nova, vender seus vinhos em garrafa, visto que este estabelecimento produzia vinhos finos e
os vendia em garrafão de 4,6 litros.
Uma vez por semana um grupo de funcionários de aproximadamente 60 pessoas era
enviado a jantar na Casa Valduga. Era uma época em que se discutia a privatização dos
bancos, e na ocasião o Banco do Brasil defendia uma idéia “nacionalista”, defendiam o
produto brasileiro. A experiência deu certo, os turistas acabavam levando vários produtos
além do vinho. A Dona Maria (matriarca da casa) fazia os pães, seu marido Luiz era uma
figura folclórica ele encantava os turistas com suas histórias.
Depois de oito meses aproximadamente a Miolo inicia um trabalho idêntico,
recebendo os turistas no porão da casa (hoje Hostearia Miolo) de chão batido.
No final de 91, já estão constituídas a Miolo e Casa Valduga e a Vinícola Cordelier
iniciando, depois surge a Don Laurindo com a enogastronomia, pouco tempo depois fica
somente com a parte de vinhos. [...]
A Adega Casa de Madeira, se posiciona com produtos diferentes, graspa, geléias e
sucos.
Em 1999 e 2000 surge uma nova geração de vinícolas a “Geração Atuaserra,”
empresas familiares profissionalizadas, onde seus empreendedores passaram a ter orientações
e treinamentos. A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri,
Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis.
Enquanto a Miolo e a Casa Valduga procuravam mercados internacionais, as pequenas
vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. [...].
O enoturismo é uma experiência completamente diferenciada, até hoje o melhor
produto de turismo que nós temos é o enoturismo, ele é sempre melhor qualificado, melhor
atendido, aponta de certa forma para uma possível enogastronomia. [...].
Enoturismo é a valorização do vinho, do espumante por pessoas que buscam através
de inúmeras experiências, descobrir o vinho ou espumante que mais agrada ao seu paladar,
junto com uma experiência vivenciada. Enoturismo é o desenvolvimento da cultura do vinho.
138

ENTREVISTA DE CÉLIO SGANZERLA - Diretor do recebimento turístico da


Cooperativa Garibaldi. Entrevista concedida em: 05 de maio de 2008. Nasceu em 1948 em
Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves.

Lembra que ainda com oito anos de idade, turistas vindos principalmente de Porto
Alegre e região chegavam a Pinto Bandeira para veranear. Na grande maioria casais, a época
mais procurada era de dezembro a fevereiro. Hospedavam-se no Hotel Nichetti, [...]. O
Santuário de Nossa Senhora De Pompéia era também uma atração turística (Turismo
Religioso).
No ano de 1967, foi trabalhar na Dreher no atendimento ao turista, em Bento
Gonçalves nesta na época a Dreher já possuía um sistema de recebimento aos enoturistas,
iniciado no final da década de 50 inícios de 60. Nesta época os turistas eram recepcionados
na Adega Frau Lydia, criada especialmente para o atendimento dos visitantes. [...]. O
primeiro grupo a visitar a Dreher era oriundo de São Paulo, convidado em parceria com o
Hotel Atlântica (hoje Dall’Onder), este grupo foi conduzido por Nilson Vicenti, da
Panorama Turismo de São Paulo. Era composto por 36 pessoas, sendo a maior parte da
terceira idade. Estas pessoas viajavam como objetivo conhecer locais diferentes. [...].
Célio trabalhou na equipe de recepção dos enoturistas, esta equipe era composta por
mais quatro pessoas, atendiam todos os dias da semana, no domingo somente das 08h30min
às 12: horas. Isto na década de 70.
Estes turistas visitavam quase todas as dependências da empresa, engarrafamento,
recebimento das uvas, salas de vinificação e na Adega Frau Lydia era oferecido à
degustação dos produtos elaborados e os visitantes podiam adquirir os mesmos. Os turistas
ao visitarem a empresa podiam degustar os espumantes diretamente das autoclaves, coisa
inédita até o momento. Além das vinícolas os turistas queriam visitar toda a região, pois já
era famosa pelos outros atrativos locais ex: a Ponte de Veranópolis, a Estação do Esqui de
Garibaldi, o Vale do Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os
turistas ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do
Sul.
O esqui em Garibaldi contribuiu muito para atrair turistas na região, principalmente
público jovem. [...].
Após a venda da Dreher para a Heublein, passou a trabalhar na Forestier, juntamente
com Rinaldo Dal’Pizzol. No ano de 1981, desenvolveram um departamento de recepção
turística, os visitantes não só degustavam os produtos elaborados da casa, mas também
139

podiam conhecer toda a estrutura da empresa, assim como o plantio dos porta enxertos, as
mais de 20 espécies de videiras novas em estado de climatização e o minizoológico. O
turista era quase obrigado a conhecer todas as instalações da empresa. [...].
- Até 1981 recebíamos alguns turistas num local improvisado.
- 1985 foram construídas a Adega de Pedra, a hospedagem, onde políticos foram
recepcionados: presidente, deputados, senadores e outras autoridades importantes
do governo.
- 1985 a 1986 foram convidadas as empresas de turismo do Brasil inteiro (captação
de turistas), se destacando as empresas CVC, Soletur, Costa e a Inelvis de
Veranópolis. Recebemos todos os tipos de grupos, inclusive os turistas que
viajavam na região.
- No início da década de 90, num só dia de feriado de Carnaval, foi recebido 35
grupos de turistas.
- Em 1989 – 1990 foram recebidos 36 a 40 mil turistas ano.
- Em 1990 foram ministrados cursos de degustação de vinhos aos visitantes, estes
visitavam os vinhedos, a vinícola e recebiam explicações da elaboração dos
vinhos, no final recebiam um diploma, talvez os pioneiros em oferecer diplomas
aos visitantes.
Nessa época a maior porcentagem de visitantes viajavam de ônibus entorno de 75%,
e o restante de carro particular. Em 1991 foi construído o Restaurante da Fenachamp, cuja
atividade principal era atender os turistas que visitavam a região e manter o visitante aqui
por mais tempo. Em Bento Gonçalves já havia restaurantes especializados nessa área, o
Restaurante Pão Queijo e Vinho (Hoje o Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga.
Em 2001 Célio passa a trabalhar na Cooperativa Garibaldi, exercendo a mesma
função, trazer turistas do Brasil inteiro. Atualmente essa empresa é visitada por
aproximadamente 70 mil turistas ano, vindos principalmente de São Paulo e do Rio Grande
do Sul (Porto Alegre, Santa Maria), Rio de Janeiro, Santa Catarina e do Nordeste.
[...]. O enoturista representa 3 – 4% do faturamento bruto da empresa, sendo o varejo
o segundo maior cliente da Cooperativa Garibaldi. Ainda o vinho é o produto mais
procurado pelo enoturista, depois vem o espumante e o suco de uva. Os produtos orgânicos
vêm se destacando cada vez mais na procura do consumidor.
140

ENTREVISTA DE CLACIR ROMAGNA – Data de Nascimento: 13 de maio de 1947.


Empresário; atual Presidente da Atuaserra; tesoureiro por nove anos na Atuaserra e Ex-
Secretário de Turismo de Garibaldi por duas gestões. Entrevista concedida em: 03 de agosto
de 2008.

Na época em que era secretário de turismo de Garibaldi no ano de 1986, houve uma
preocupação muito grande com o turismo no município. Os turistas que visitam a região,
muito pouco entravam na cidade, os lugares mais visitados era a Estação de Esqui e a
Maison Forestier, depois seguiam para outros municípios. Em Bento Gonçalves a
Cooperativa Aurora e o Dreher eram as mais visitadas ou seguiam a Caxias do Sul.
Garibaldi era um corredor de passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos
hotéis da cidade, preferia os hotéis das cidades vizinhas.
Como se tratava de “turismo de passagem,” foi elaborado um projeto para atrair esse
público à cidade. Este projeto tinha como meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi,
tombar prédios, revitalizar toda a cidade. Mas isto não foi suficiente. Garibaldi tinha mais
coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além da Maison Forestier (esta foi até então a
única vinícola voltada para o recebimento de turistas em Garibaldi), e o Esqui voltado para
público jovem, ambos situados na RST 470. Elaborou-se um projeto junto as principais
vinícolas da cidade, George Aubert, Cooperativa Garibaldi, Martini e Rossi e Peterlongo, em
que constava que cada vinícola ficaria aberta num final de semana para receber os
enoturistas que chegavam aqui. O resultado do trabalho se deu em negociações com as
vinícolas, apresentando projetos, novas idéias, fazer as pessoas acreditar, ouvindo os
empreendedores e levar adiante esta filosofia de trabalho. A divulgação foi realizada nos
principais jornais gaúchos e nacionais e também em revistas. Havia um centro de
informações turísticas localizado anexo ao Posto do Avião (RST 470), por motivos de
segurança foi transferido para o Esqui. [...]. Neste local foi instalada uma placa de 10 m de
comprimento por 6 m de altura, nela constava o nome das vinícolas, horários e datas que
podiam ser visitadas. Os turistas olhavam e tomavam interesse em visitar. [...]. No início
algumas vinícolas reclamavam do pouco fluxo de turistas que as visitava, mas depois foi
normalizando com o tempo, e passou a dar certo.
Esta rota passou a ser chamada de “Roteiro de Visita às Vinícolas de Garibaldi”, e
este foi o início do enoturismo no município, descobriu-se o potencial deste segmento e este
foi trabalhado e tornado conhecido em toda a comunidade local, para melhor informar os
visitantes que ali chegavam. [...].
141

Lembra que o Esqui foi um grande centro de atrações para jovens, depois do
encerramento de suas atividades, restou uma lacuna vazia junto ao público jovem. [...].
A Fenachamp também teve destaque importante na divulgação do turismo em
Garibaldi. Lembra que na divulgação da I Fenachamp, a comunidade garibaldense colaborou
muito, inclusive algumas divulgações da festa foi realizada nos vidros traseiros dos carros,
com tinta spray. [...].
142

ENTREVISTA DE ELIANE MARTA FRARE – Data de nascimento: 26 de agosto de


1969. Supervisora da Área de Turismo do varejo da Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves.
Atua na área de turismo há oito anos. Entrevista concedida em: 26 de setembro 2008.

A Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves foi fundada em 1931, por 16 produtores de uva,
vinificaram aproximadamente 300.000 kg de uva, grande maioria de castas americanas. Hoje
com 77 anos de história são vinificados em média/ ano 50.000.000 kg de uvas, em 2008 foram
56.000.000 kg.
O enoturismo inicia no final da década de 60, mais precisamente em 67 com a
realização da I Fenavinho em Bento Gonçalves. Foi uma das primeiras vinícolas a abrir as
portas ao turista em Bento Gonçalves. Nesta época se visualizou que o enoturismo era uma
boa fonte de renda, geração de emprego, e uma boa forma de divulgação institucional dos
produtos. Percebeu-se que as pessoas que visitavam a empresa, acabavam levando uma
imagem dela e de seus produtos, isso fez que a emoção ficasse gravada na sua memória,
influenciando depois na escolha dos produtos.
Em 1967 foi o marco inicial, mas a década de 70 foi uma das épocas em que aconteceu
um aumento considerável de visitantes, tanto que o roteiro turístico de visitação era pequeno,
mas era suficiente para a ocasião, talvez metade do atual. Havia uma sala de degustação que
era uma pipa de vinho de madeira de 40.000 litros de capacidade, onde o visitante podia
entrar. O varejo era muito pequeno. Mas com o número de visitas aumentando
constantemente, no final dos anos 70, o ambiente foi reformado e criou-se um roteiro para
atender todos os visitantes que aqui chegavam. [...].

Em 1984, foi inaugurado um novo circuito turístico, este roteiro mostra os diversos

procedimentos da arte de elaborar vinhos, percorrendo corredores com barris de carvalho,


tanques de inox e enormes pipas de madeira. O trajeto é interligado por túneis, que fazem o
visitante vivenciar um pouco da cultura, das tradições locais e do romantismo contagiante do
mundo do vinho. [...].

O ponto alto da visitação é a chegada a Cave di Bacco, que ainda existe sendo um dos
maiores sucessos da visitação. No local é oferecida degustação gratuita de toda a sua linha de
produtos. No varejo da empresa o turista tem a oportunidade de adquirir os produtos
degustados. Atualmente 150.000 turistas ano visitam este estabelecimento vinícola. Em julho
deste ano foram contabilizados aproximadamente 20.000 visitantes, sendo 2.000 visitantes a
143

mais do mesmo período anterior. (2007 crises no setor aéreo, agravado pela TAM). Uma
equipe de 25 atendentes todos devidamente treinados faz a recepção dos visitantes. [...].

Atualmente o enoturista representa o segundo maior cliente em rentabilidade, ele


passou a ser visto como uma ferramenta importante de divulgação, comercialização e de
grande potencialidade. [...].
O Rio Grande do Sul continua sendo o maior mercado emissivo de visitantes, seguido
por São Paulo, Paraná, Santa Catarina e outros estados mais. O enoturismo de Bento
Gonçalves tem crescido bastante no conceito dos visitantes e ainda pode crescer mais, não é
por acaso que o município é hoje o terceiro pólo indutor do turismo do Estado.
A Aurora participa em várias divulgações turísticas, talvez a vinícola que mais
participa em eventos, divulgando, fomentando o enoturismo em todos os locais visitados, não
leva apenas o nome Aurora ou Bento Gonçalves, mas o de toda a região Vale dos Vinhedos,
Caminhos de Pedra, Pinto Bandeira, Garibaldi, enfim o nome Serra Gaúcha. Sabe-se que o
turista que visita nossa região, não visita só um local ou uma só vinícola, ele quer conhecer
outros atrativos.
O vinho é um grande atrativo, o espumante brasileiro está com uma boa aceitação no
Brasil e no exterior. O enoturismo esta mudando um pouco o conceito, que o país não tem
apenas Carnaval, futebol e caipirinha. [...], aos poucos o turista estrangeiro vem surgindo,
graças também a presença da Aurora em feiras internacionais.
O enoturismo não só vende vinho, ele vende principalmente emoção, história, tradição
e hospitalidade. A qualidade dos produtos aqui encontrados se deve também aos enoturistas,
muito têm contribuído para o desenvolvimento dos mesmos.
144

ENTREVISTA DE EVANDRA STRINGHINI - Departamento Financeiro Giordani


Turismo Ltda. E-mail: evandra@giordaniturismo.com.br - recebido no dia 03 de agosto de
2008.

Histórico da Empresa – Giordani Turismo Ltda.

A Giordani Turismo Ltda foi fundada em 17 de novembro de 1992 com o propósito de


ser a agência operadora do passeio turístico-cultural Maria Fumaça.
Concessionária da RFFSA a princípio, e posteriormente da ANTT (Agência Nacional
de Transportes Terrestres), é responsável pela operação total do passeio, tanto operacional
quanto comercial e de divulgação. Logo após sua criação instalou o departamento de emissão
de passagens aéreas e pacotes. Em abril de 1999, instalou-se em escritório próprio, e em 07 de
junho de 2002 abriu a filial de receptivos, instalada dentro de um hotel da cidade, visando
atender outro segmento do mercado turístico.
Em 10 de dezembro de 2003, inaugurou a Epopéia Italiana Parque Temático, um
espetáculo de som e luz guiado por atores que contam a história da imigração italiana através
de personagens. A Giordani Turismo faz parte do grupo Santo Antônio.
Em janeiro de 2006, a empresa recebeu a certificação integrada nas Normas NBR ISO
9001:2000 e 14001:2004.
Talvez você já tenha ouvido falar, mas antigamente, ou seja, antes da Giordani Turismo
operar o trecho ferroviário de Bento a Carlos Barbosa, o passeio de Maria Fumaça era
realizado pela prefeitura de Bento Gonçalves, no trecho entre Bento Gonçalves e Jaboticaba.
Por motivos de segurança este trecho teve que ser desativado. Alguns anos depois a RFFSA
liberou o trecho de Bento Gonçalves a Carlos Barbosa para transporte turístico e a Giordani
Turismo assumiu esse passeio, pois viu a possibilidade prosperar, desenvolvendo um roteiro
turístico que pudesse alavancar o turismo de Bento e região.
A maior parte dos turistas recebidos em nossa cidade provém dos estados de São Paulo,
Minas Gerais, Santa Catarina e aqui do Rio Grande Sul, principalmente Porto Alegre e
municípios da região metropolitana. Do exterior recebemos turistas da Argentina e Uruguai.

A empresa possui a seguinte estrutura:


A Giordani Turismo é a operadora do Passeio de Maria Fumaça, possui agência que
emite passagens aéreas e pacotes turísticos nacionais e internacionais e uma filial de
receptivos que atende nas dependências do Grande Hotel Dall' Onder. Além disso, possui
145

frota própria de ônibus e também é proprietária do Parque Temático Epopéia Italiana,


localizado próximo à estação ferroviária de Bento Gonçalves.
A Giordani Turismo possui a concessão do trecho ferroviário junto a ALL (América Latina
Logistica), e a RFFSA (Rede Ferroviária Estadual Sociedade Anônima).
São duas locomotivas: Mikado ano 1941 e Yung ano 1954. A composição é formada por
06 vagões. Está sob respondabilidade da Giordani Turismo, o prédio da Estação Ferroviária
de Bento Gonçalves e Garibaldi e a Plataforma de Carlos Barbosa, localizada próxima à
entrada da cidade. A empresa possui no total 45 colaboradores.

Histórico das Locomotivas:


As máquinas a vapor marcaram um importante período da história, o da Revolução
Industrial, em que o trem era o principal meio de transporte da época. Hoje restam somente
alguns exemplares em todo o mundo. Duas dessas raridades ainda percorrem os trilhos
gaúchos entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa.
Mikado: A locomotiva modelo Mikado 156, fabricada nos Estados Unidos em 1941.
Trabalhou na famosa estrada de ferro Teresa Cristina em Tubarão - Santa Catarina.
Yung: A locomotiva modelo Yung fabricada na Alemanha em 1954 veio para o Brasil
onde puxava 11 vagões de minérios nas minas de carvão da Companhia Siderúrgica Nacional.
A composição é formada pela locomotiva e seis carros. A locomotiva pesa
aproximadamente 80 toneladas e cada carro pesa em torno de 30 toneladas. A locomotiva é
movida à lenha e água para o vapor. O percurso realizado é de 23 km de ida e 23 km de volta.
O surgimento da ferrovia teve grande importância para o desenvolvimento da economia local,
e alavancou o progresso da região. Foi à comunidade, principalmente os comerciantes, que
solicitaram a linha férrea junto ao governo no ano de 1895, facilitando assim a
comercialização e o transporte de produtos coloniais como uva, milho, trigo e batata doce.
Porém, ela só foi inaugurada no ano de 1910, pelo governador Carlos Barbosa. A linha
Bento Gonçalves/Garibaldi/Carlos Barbosa começou a ser construída em 1916 e operada
somente em 1919. Mas com o passar do tempo os trens deixam de correr sobre os trilhos
ficando no esquecimento. O maquinista agora é motorista; o progresso agora é sinônimo de
novas necessidades como foi o trem tão esperado pela população. E por isso, através de nosso
passeio queremos proporcionar a todos um emocionante retorno ao passado, aos tempos
áureos do transporte ferroviário.
Em 07 de setembro de 1918, foi inaugurado o trecho Carlos Barbosa/Garibaldi.
Em 10 de agosto de 1919, o trem chegou a Bento Gonçalves.
146

Conforme Inventário das Locomotivas a Vapor no Brasil, organizado por Regina


Perez foram registradas um total de 419 locomotivas em todo Brasil, que foram catalogadas e
fotografadas nesse livro. No estado foram registradas no total 25 locomotivas. Vale salientar
que de todas essas apenas 02 estão em funcionamento, que são as operadas pela Giordani
Turismo. As demais são estáticas, presentes em museus, praças e depósitos.
147

ENTREVISTA DE FIRMINO SPLENDOR – Ano de nascimento: 1940 em Bento


Gonçalves. Formou-se no curso de viticultura e enologia. Trabalhou 11 anos como enólogo na
Dreher. Empresário e professor de Enologia (CEFET/BG). Entrevista concedida em 15 de
setembro de 2008.

Sua primeira atividade profissional foi na Dreher em 1964, pertencente a um grupo


alemão. Esta empresa iniciou suas atividades na Av. Marechal Floriano, hoje se situa a Eletro
Dam (empresa de materiais elétricos), ainda hoje podem ser visto um brasão em suas paredes,
toda sua arquitetura em estilo europeu. Mais tarde mudou-se para a Rua Assis Brasil 613,
devido o pouco espaço físico de suas instalações. [...].
A empresa foi fundada em 1910, atinge seu auge na década de 60 - 75. Nesta época a
Dreher ostentava uma primazia, de um prestigio tão grande com o produto mais vendido no
Brasil, o Conhaque Dreher. Este produto projetou o nome Dreher em todo o país. Este é o
ponto, a raiz, ou melhor, a semente do turismo em Bento Gonçalves no ano de 1965 em
diante. Na década de 60 havia apenas três grandes empresas em Bento Gonçalves, Dreher,
Aurora e Barzenski (indústria de móveis). Estas empresas foram as pioneiras e as maiores
impulsionadoras do turismo. A Dreher atraia muitos turistas que chegavam em caravanas de
ônibus, principalmente de Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando o
proprietário Carlos Dreher Neto visitava alguns estados, muitas vezes era recebido pelo
governador local. Ele projetava o nome do produto que vendia. Sendo que o Conhaque
Dreher era muito comentado em todas as principais capitais do Brasil.
Na Guanabara (RJ) existia um grande navio que tinha uma bandeira, nela estava
estampado o nome do conhaque. O nome Dreher era um sucesso no Brasil, um marco para o
turismo e do desenvolvimento da palavra uva e vinho. Além do conhaque produzia excelentes
espumantes, estes não vendiam em grandes quantidades como os espumantes de Garibaldi das
vinícolas George Aubert e Peterlongo, estes foram os dois maiores vendedores de
espumantes. Os espumantes Dreher não eram fortes em vendas de grandes volumes, mas sim
era forte na qualidade, sendo que estes eram comercializados com preços mais elevados dos
concorrentes e eram muito requisitados pelos grandes apreciadores das cidades brasileiras. Na
ocasião eram elaboradas quatro autoclaves de 10.000 litros cada, por mês. Para a ocasião era
considerado um volume pequeno, mas expressivo para quem não tinha como produto o
espumante em primeiro plano no mercado.
Estes espumantes eram elaborados com vinho base de castas Riesling, Trebbiano e
de Peverela. [...]. Também a Dreher produzia o moscatel, com uma uva que o próprio
148

Splendor escolheu numa propriedade da família Barbieri no município de Monte Belo do Sul,
que no início era denominado de filtrado doce. Este filtrado doce era elaborado com 100% de
uvas moscatéis e com três atmosferas de pressão e se denominava de Espumone. Era
extremamente rico, agradável, natural e muitas pessoas vinham provar, dar opiniões e ficavam
maravilhadas com a bebida, comentavam “os senhores não vão ter produto suficiente para
vender”. Mais tarde o filtrado doce é alterado com permissão do Ministério da Agricultura,
vindo a permite hidratar o produto até 50%. Lamento muito, isso fez modificar toda uma
realidade de um produto que nasceu bem e o tornou inviável, de qualidade inferior e acabou
sendo rotulado com produto de massa. O Dreher foi o pioneiro em elaborar esta bebida
maravilhosa, mas com a alteração do produto, caiu o consumo, pois esta alteração veio para
piorar e não para melhorar.
No ano de 1967, em função da I Fenavinho, a Dreher abre seu varejo para atender os
visitantes desta festa. Em 1970, o varejo se consolida com a criação da adega Frau Lidia
(nome da matriarca da família), e fica até o final de sua história. Esta adega era um lugar todo
especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita ao município,
sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega era feita em
arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira. Neste local os visitantes eram bem
recepcionados, se dava uma atenção toda especial e particular, era um ambiente de diálogo,
conversação, trocas de idéias e, sobretudo de receber opiniões.
Muitas pessoas ilustres visitaram a Dreher, o Presidente da República Castelo Branco
(em visita a I Fenavinho em 1967), governadores de estado, o Presidente Ernesto Geisel, os
jornalistas com destaque a Assis Chateuaubriaux, sendo que em homenagem de sua visita foi
lançado um vinho elaborado com uvas Cabernet Franc e Merlot, parte deste vinho
envelhecido em barris de carvalho, denominado “Velho Capitão”. Este vinho serviu como
projeção ao nome Dreher no cenário vinícola brasileiro em vinhos nobres. Na época a Dreher
tinha uma filial em Porto Alegre e outra na cidade do Rio de Janeiro, isto foi muito bom para
projetar o nome de Bento Gonçalves no ramo de visitação enoturística do Brasil. No início de
sua fundação, a Dreher teve que “importar” enólogos, pois não existia ainda a escola CEFET
de Bento Gonçalves que formava estes profissionais.
Nos primeiros anos (1965 - 1980), os visitantes que vinham a Bento Gonçalves eram
levados a conhecer a Ponte de Veranópolis (Ponte Ernesto Dornelles), era um ponto de
referência. A I Fenavinho atraiu muitos turistas, somente no início da década de 1980, nos
damos conta em dar atenção melhor aos visitantes passamos a mostrar mais o estabelecimento
149

vinícola, visto que antes só dávamos degustação dos produtos. [...], valorizamos mais o vinho
como fator cultural, místico para aportar e atrair o elemento humano. [...].
Atualmente o vinho e o espumante se tornaram patrimônio da nossa região e outros
mais produtos elaborados em pequena escala poderão ser incorporados ao patrimônio da
região: licores, sucos, artesanatos, graspa, e outros mais.
Depois da Dreher e da Vinícola Aurora surgiu um bloco de vinícolas pequenas, creio
que o mais feliz de todos os bentogonçalvenses, na época foi o Vereador Carlos Perizzolo,
este decide nomear de Vale dos Vinhedos, as terras que eram mais conhecidas como Colônia
Leopoldina, ou colônia dos Valduga, ou colônia dos Carraro que eram famílias que moravam
nestas terras e eram clientes da Dreher.
Com o desaparecimento da Vinícola Rio Grandense, mais o agravamento da
Cooperativa Aurora, tudo veio a aportar condições favoráveis para o crescimento das
pequenas empresas familiares, isto na década de 1985 - 1990, onde a Casa Valduga e a
Vinícola Miolo se destacaram mais, [...].
[...], enoturistas é toda aquela pessoa, além de visitar a região, de satisfazer o
organismo ou seu descanso espiritual ele vai buscar também a sede de uma nova cultura que
se chama vinho. A vindima também é um produto turístico, quantas pessoas se deslocam de
suas casas, cidades para vivenciar este acontecimento importante em nossa região?[...].
Investir nos jovens para que eles possam conhecer o patrimônio da região, porque quando os
mais velhos vão morrer quem vai beber vinho?[...].
150

ENTREVISTA DE HELENITA GIRONDI – Ano de nascimento: 1957. Trabalha no


Arquivo Histórico de Garibaldi, pós-graduada em História da América Latina. Entrevista
concedida em: 11 de julho de 2008.

Para a cidade ser turística a população local deve ser consultada, para saber se os
habitantes locais querem que Garibaldi seja turística ou não. Caso queiram, a comunidade
deve ser preparada, temos que educar nossas crianças no ensino fundamental até no nível
secundário, preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar os
turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser preparadas
para orientar os alunos. [...].
Garibaldi recentemente voltou a ter um planejamento turístico, e o turismo foi
trabalhado de forma séria juntamente com a população local. Ivane Fávero é uma grande
profissional, com visão em turismo, reuniu o Projeto das Vinícolas, o Projeto das Passadas e o
da Estrada do Sabor. Ela conseguiu também trazer a Garibaldi os ônibus da CVC, estes nunca
traziam turistas à cidade. Anterior a ela, somente no período do Romagha, quando este foi
Secretário de Turismo do Município. Ele se preocupou em trazer os enoturistas ao município.
[...].
Garibaldi é considerada a terra dos espumantes, mas a comunidade não sabe explorar
este potencial, quando as coisas estão caminhando, de repente pára tudo (referindo a saída da
Secretária de Turismo Ivane Fávero). Poucas pessoas são capacitadas a trabalhar no turismo.
Turismo se faz com pessoas capacitadas e acima de tudo que gostem desse ramo. [...]
O esqui atraiu muitos turistas a Garibaldi, vindos do país inteiro, depois de seu
encerramento os jovens ficaram sem atrativo algum. [...].
Os primeiros turistas que aqui chegaram vieram de trem, para veranear e alguns para
buscar saúde, naquela época existiam muitos hotéis e pousada para atender essa demanda. A
gastronomia também fez parte dos atrativos aqui buscados, talvez a segunda atração turística,
seguido depois pelas vinícolas, as mais destacadas foram a Peterlongo, Cooperativa Garibaldi,
George Aubert e Carraro- Bruzina. [...].
O hotel Casacurta também contribuiu para atrair turistas em Garibaldi convidando os
moradores de Porto Alegre a conhecerem a região e a vindima. Muitas pessoas acabavam
gostando do local quando aqui chegavam, vindo a se casar e acabavam permanecendo
morando em Garibaldi.
151

Em 1913 e 1914, o terceiro intendente de Garibaldi Affonso Aurélio Porto realizou


exposições de uvas neste município. Ele alavancou o setor vitivinícola, quando este estava
desacreditado e em sérias dificuldades. [...].
152

ENTREVISTA DE IVAN LUIZ BELLINI – Data de nascimento: 11 de junho de 1937.


Economista; Comerciário e Empresário de Garibaldi. Entrevista concedida em 11 de julho de
2008.

Os Irmãos Maristas em 1904 plantaram parreirais de cepas européias, fundaram a


Vinícola Pindorama em 1908 elaboram seus primeiros vinhos, e no ano de 1911, seu primeiro
espumante é elaborado. [...]. Vitório Espac constrói as primeiras máquinas para auxiliar no
processo dessa bebida, tanto na elaboração assim como no engarrafamento.
Em 1910, aconteceu uma exposição em São Paulo, nela estavam presentes vários
produtos do Rio Grande do Sul, nesta exposição já se encontrava um espumante gaúcho não
elaborado em Garibaldi. O espumante foi elaborado no município de Pelotas.
Em 1918, umas comitivas oficiais provinda da Itália chegam a Garibaldi, os moradores
locais, enfeitaram suas casas, colocaram lanternas venezianas nas janelas, portas, sacadas e
paredes, as ruas foram enfeitadas com bandeiras italianas, brasileiras e lampiões, foi uma
recepção muito calorosa, os visitantes se impressionaram com a hospitalidade local, foi
inesquecível. Os jornais de Porto Alegre publicavam: “Milhares de estrelas iluminaram as
ruas de Garibaldi”.
Um grande incentivador ao enoturismo local, podemos dizer que foi Aurélio Porto,
que promove as primeiras Exposições de Uva em 1913 e 1914, atraindo muitos apreciadores
locais e também dos municípios próximos: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Montenegro, São
Sebastião do Caí e de outras localidades. Os expositores de vinhos, espumantes e de uvas,
foram agraciados com medalhas de ouro, prata e bronze, estas fundidas pelo João Bellini,
proprietário da mais antiga joalheria do Estado e o mais antigo estabelecimento comercial de
Garibaldi. [...], nesses tempos houve uma grande crise no setor vitivinícola, o intendente
tentou reverter à situação, realizando as exposições de uva. [...].
153

ENTREVISTA DE JAIME MILAN - Diretor Executivo da Aprovale. Entrevista concedida


em: 26 de agosto de 2008.

A Aprovale surgiu com a união de seis vinícolas do Vale dos Vinhedos, o objetivo
inicial era de viabilizar economicamente projetos, principalmente encontrar soluções para
baratear custos de insumos: garrafas, rolhas, caixas de papelão, rótulos, e outros materiais.
Foi pensado inicialmente em adquirir equipamentos de engarrafamento, fazendo um
investimento só, ao invés de todos adquirirem o seu, também foi pensado na parte comercial,
onde todas as vinícolas pudessem se unir para divulgar e comercializar os produtos em feiras,
eventos e festas. A idéia inicial de cooperativismo é abandonada por motivos de burocracia e
foi optado em fundar uma associação, embora bastante limitada sem fins lucrativos, sem atos
comerciais, mas sim agrupar as pequenas e novas vinícolas que estavam surgindo.
Em 1992, com a união e esforço da comunidade, a estrada do Vale dos Vinhedos é
finalmente pavimentada com asfalto. Em 1995, surge a Aprovale, motivada por crises no setor
de vinhos, neste mesmo ano se inicia campanhas voltadas ao enoturismo no Vale dos
Vinhedos com quatro objetivos: Desenvolvimento do vinho; espaço físico e meio ambiente;
enoturismo - desenvolvimento sócio-cultural e Indicação Geográfica.
Com a crise no setor nos anos 95, 96 e 97, sobretudo agravada pela crise econômica da
Aurora, os produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começam a
ganhar espaço no mercado nacional. Acredito pessoalmente, que o crescimento e o
desenvolvimento da marca e dos produtos do Vale dos Vinhedos se devem, em primeiro lugar
ao enoturismo, em conseqüência do Vale estar próximo de cidades importantes, destacando-se
Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e outras mais, e estar localizado perto da Região das
Hortênsias (Gramado, Canela e Nova Petrópolis), e estas cidades são muito importantes por
apresentar pessoas com o hábito de apreciar bons vinhos. Bento Gonçalves possui uma rede
razoável de hotéis e restaurantes, esses requisitos somados, fizeram com que o Vale dos
Vinhedos, com seu charme especial, nome interessante, vinícolas novas e vinhos novos, [...]
despertou o interesse de muitos enoturistas querendo conhecer mais o local e seus atrativos.
Com a conquista da Indicação Geográfica, embora não muito conhecida por grande
maioria dos brasileiros, por ser esta a primeira no Brasil ela foi importante por ocupar espaço
na mídia nos últimos anos. A partir disso o Vale dos Vinhedos vem atraindo cada vez mais
enoturistas, a prova disso mostra que em 2001 mais de 45 mil; 2006 - 105 mil e 2007 - 120
mil turistas visitaram o Vale dos Vinhedos e neste ano esta previsto mais de 130 mil, sendo
que o primeiro semestre já registrou 109 mil visitantes.
154

Apesar do dólar em baixa, o vinho importado inundando o mercado nacional, o Vale


dos Vinhedos vem se sedimentando cada vez mais como importante rota enoturistica
nacional.
Sua localização estratégica entre dois municípios fortes em tradição enológica,
Garibaldi com o espumante, Bento Gonçalves com vinhos finos, e Monte Belo do Sul com
uma boa tradição em viticultura, tudo tem contribuído para o desenvolvimento do Vale dos
Vinhedos.
Outras localidades situadas próximas do Vale dos Vinhedos, também apresentam
papel importante para o enoturismo, se destacando Pinto Bandeira (Bento Gonçalves), com
grande possibilidade de crescer graças ao bom espumante e vinhos tintos, devido ser uma
região de altitude. Monte Belo do Sul, trabalhando na busca da Indicação de Procedência e
sendo o maior produtor de uvas brancas do país para elaboração de espumantes.
A união da rota Estrada do Sabor, com rota Vale dos Vinhedos e Monte Belo do Sul,
através de boas estradas pavimentadas, aliadas a bons empreendedores e profissionais
especializados em enoturismo, tudo se completará originando um grande centro de
atendimento enoturístico do Brasil.
Não podemos esquecer-nos da Aurora e da Salton que investem forte neste segmento
de mercado turístico, em seus locais é possível encontrar história, tradição e trabalho em
conjunto, não esquecer também da Rota Caminhos de Pedra, e Pinto Bandeira e Faria Lemos
com suas paisagens e seus vinhos, formando um grande pacote enoturístico, fazendo com que
o visitante permaneça mais tempo na região.
Gramado e Canela possuem atrativos criados, verdadeiros parques temáticos, diferente
do Vale dos Vinhedos em que o enoturismo nasceu ao natural, e o turista ainda não é muito
explorado, aqui se tem outro espírito de empreendedorismo.
O Plano Diretor do Município está se sedimentando e os conselhos distritais se
reunindo constantemente, estabelecem critérios para evitar mudanças bruscas na paisagem, no
jeito de ser, no jeito de viver, conservando a identidade do local para uma evolução mais
orientada e evitando futuramente que o Vale dos Vinhedos se torne um “dormitório”, temos
que ter o nosso espaço físico voltado à atividade principal que é o enoturismo.
O Vale possui um calendário especial de eventos, com o propósito de aproveitar as
quatro estações do ano, talvez essa semente foi lançada precocemente, mas se espera que
possa germinar e dar bons resultados. O Vale possui uma atração que poucas regiões
enoturisticas do mundo tem, que é o Spa do Vinho, sendo este um belo empreendimento que
esta sendo conhecido cada vez mais na comunidade.
155

O Vale precisa se aperfeiçoar mais em comercializar seus produtos, precisam investir


mais em visão técnica no enoturismo, é muito importante o trabalho que entidades como a
FISUL e a UCS estão fazendo, preparando profissionais capacitados e levando para o interior
das vinícolas essa visão técnica e profissional. Até pouco tempo atrás, não se tinha associados
envolvidos em outros ramos (hotéis, restaurantes, pousadas, artesanatos, alimentos, serviços e
outros), hoje eles reunidos somam num total de 27 e são muito importantes dentro da
Aprovale e também para o Enoturismo local.
A Aprovale atualmente vem trabalhando cada vez mais o enoturismo, através de Dvds,
sites sempre atualizados, mapas e folderes, mas isso não é tudo, a região espera que
profissionais na área do turismo e enoturismo juntamente com os empreendedores e órgãos
oficiais possam cada vez mais incrementar o calendário de eventos do Vale dos Vinhedos.
A falta de atrativos para os jovens tem sido uma preocupação em toda a região, não só
no Vale dos Vinhedos, depois do esqui de Garibaldi ter encerado suas atividades, ficou uma
grande lacuna aberta para ser preenchida.
Hoje a Aprovale possui um programa a ser implantado em médio prazo, subdividido
em quatro projetos, o primeiro a ser implantado é o Museu Brasileiro do Vinho e depois os
outros de ordem esportiva cultural, integração de comunidades e um voltado aos jovens. O
Museu do Vinho seria criado no Vale, e o visitante poderia interagir com os principais museus
do vinho do mundo inteiro para conhecer a cultura, pesquisar e poder receber peças itinerantes
de outros museus, mas principalmente estar interligado com os mais importantes museus
mundiais, num conceito bem moderno.
A produção de vinhos finos se mantém atualmente, sendo elaboradas 10 a 12 milhões
de garrafas de vinhos e espumantes. Atualmente 32 vinícolas são associadas à Aprovale e
cinco ainda estão fora dessa associação.

Reclamações:
A través de reclamações feitas pelos turistas muitas coisas foram resolvidas, por
exemplo: as sinalizações nas estradas secundárias do Vale dos Vinhedos algumas foram
renovadas, a segurança foi tratada com muita atenção e foi planejado e lançado o mapa
turístico do Vale. [...] a grande maioria das reclamações ainda estavam ligadas a cultura local,
nosso horário de almoço, algumas empresas fechavam nos feriados e o mau humor de alguns
atendentes. Também existem turistas que não entendem bem a proposta do Vale dos
Vinhedos, algumas acham que deveria funcionar como na Europa e querem mudar toda e
identidade cultural do local. Hoje o turista pode almoçar até as 16 horas sem problema, pois o
156

Vale dos Vinhedos já tem bons restaurantes para atender essas pessoas. Outra reclamação é a
falta de atrações à noite, mas em qualquer lugar do mundo o enoturismo ao anoitecer se reduz
a restaurantes.
157

ENTREVISTA DE JOÃO FERREIRA - Ano de nascimento: 1963. Natural de Porto


Alegre. Diretor de Marketing da Peterlongo. É pós-graduado em Gestão de Marketing
Empresarial, trabalha na Peterlongo desde 2005. Trabalhou na George Aubert durante cinco
anos.Entrevista concedida em: 05 de junho de 2008.

[...], o enoturismo é muito importante, e não se ganha dinheiro se você não fizer uma
gestão séria rígida com controle financeiro de todos os processos e sentidos. Na George
Aubert o enoturista era reconhecido como sendo o melhor cliente da empresa. Para que isso
ocorra é necessário um bom trabalho voltado a ele, com bom atendimento e preços justos.
[...].
Enoturismo é trabalhar a imagem, sentidos, emoções, história e cultura. [...]. O
enoturismo em Garibaldi é muito jovem, é coisa recente, hoje Garibaldi vive um momento
rico, sendo o enoturismo o maior fomentador de sonhos de idéias e realizações. Enoturismo é
labutar na demanda de sensações de vazios emocionais das pessoas.
Hoje “Garibaldi” sabe trabalhar “coisas concretas” sabe cultivar as videiras, elaborar
bons vinhos e espumantes, aprenderam a trabalhar “coisas”, mas ainda falta saber trabalhar
emoções, afeto, relacionamentos como base na cultura que é o enoturismo, e enoturismo não é
concreto é relacionamento.
Ainda hoje falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a aprender, pois temos clientes,
produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram trabalhar nos fins de semana e
feriados. [...], no enoturismo não pode ter mentira, se não souber não fala, procura saber ou
vai procurar em pesquisas. [...]. É um relacionamento recíproco, onde cada um aprende com o
outro. Quem tem bom relacionamento tem cultura, quem não tem cultura, pode amar as
pessoas, mas não tem amor pelo vinho. [...].
Atualmente com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos
interessados pela FISUL, é um bom início para criar uma nova visão estratégica de mercado,
principalmente no atendimento e na hospitalidade.
158

ENTREVISTA DE JOÃO VALDUGA – Diretor – sócio da Casa Valduga.


Entrevista concedida em: 25 de setembro de 2008.

A Casa Valduga foi o primeiro estabelecimento vinícola do Vale dos Vinhedos no


que diz respeito ao recebimento dos enoturistas, visto que tal movimento surgiu de forma
espontânea e natural. Nos anos de 1973 -1975, a agência do Banco do Brasil de Bento
Gonçalves oferecia cursos de treinamento a seus funcionários, e estes eram oriundos de
várias regiões do Rio Grande do Sul, também de alguns outros estados brasileiros que se
deslocavam a Bento Gonçalves. Estas pessoas de bom poder aquisitivo ficavam hospedadas
nos hotéis da cidade: Hotel Dall’Onder, Vinocap e outros. Visitavam o comércio local,
faziam suas compras, mas não havia nada de especial a fazer no tempo livre. Por iniciativa
de Tarcísio Michelon e outras pessoas mais, a família Valduga inicia oferecendo a estas
pessoas jantares.
O cardápio era simples, comidas típicas da imigração italiana: polenta, massas,
frango, sopa de capeletti, vinho e saladas, tudo acompanhado de cantorias. Os jantares eram
servidos nos centros dos corredores entre as pipas de vinho. [...] os turistas ficavam
maravilhados com tudo isso, principalmente com a simplicidade, carinho, aconchego e
atenção prestada pelos proprietários. No início a comunidade os achou estranhos, receber os
turistas e oferecer jantares no meio da vinícola. Com muita fé, trabalho e determinação, a
idéia foi amadurecendo e se consolidando cada vez mais.
Os enoturistas ficavam envolvidos com a boa hospitalidade, aliada a gastronomia e
aos bons vinhos. No ano de 1979 foi inaugurado o restaurante e a pousada, esta, com
capacidade de atender cinco casais ou 10 pessoas, com o passar do tempo a Casa Valduga
foi fomentando outras vinícolas vizinhas do Vale dos Vinhedos.
A parte social também aos poucos foi se fortalecendo, com a chegada de cada vez
mais de enoturistas, o acesso que separa a propriedade do município sede foi pavimentada,
telefonia e escolas foram instaladas. Os moradores locais passaram a cuidar melhor das suas
residências, com boas pinturas e jardins coloridos de flores. Tudo isso para deixar uma boa
impressão do local aos visitantes que ali chegavam. Com o resultado obtido deste trabalho, o
empreendimento foi crescendo cada vez mais e conseqüentemente se modernizando, foram
adquiridos equipamentos modernos para a elaboração de vinhos: tanques de aço inox,
refrigeração, moedoras e prensas. Com este equipamento passamos a elaborar vinhos com
semelhante tecnologia das multinacionais Maison Forestier, Chandon, Martini e Rossi. Com
159

a entrada de vinhos importados muitas dessas empresas foram embora, com exceção da
Chandon.
Em 2000, ocorre a conversão dos parreirais tipo latada para espadeiras.
Atualmente a Casa Valduga emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos
serviços, hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.
Recebe anualmente em media de 60- 70 mil turistas /ano. Além dos restaurantes
Dom Luigi e Persona, um novo restaurante e uma quinta nova pousada em breve será
inaugurada, nesta o enoturista poderá contar com a técnica “vinho terapia”, e salas para
cursos de degustação. [...].
Hoje a Casa Valduga conta com 142 hectares de videiras, sendo que 100 estão
situados no município de Encruzilhada do Sul e os outros no Vale dos Vinhedos. Recebe
uvas de 25 pequenos produtores estabelecidos no Vale dos Vinhedos. Atualmente são
elaborados aproximadamente 1.500.000 litros de vinho, sendo que 40% são destinados para
elaboração de espumantes (método champenoise e charmat) e os outros 60% para vinhos
tranqüilos. [...]. O enoturista também poderá visitar a maior adega particular da América
Latina e participar da Festa da Vindima, podendo colher uvas, animada com pelo show de
coral típico italiano, esmagar as uvas com os pés, ver de perto todo o processo de elaboração
dos vinhos e espumantes, aprender a realizar o sabrage, almoçar nas cavas, degustar vinhos e
espumantes sob a sombra de um parreiral e também é oferecida uma visita à Capela das
Neves, onde é relatada a história da imigração italiana e da construção da igreja. Assim que
os vinhos estiverem prontos para o consumo, os “elaboradores” poderão adquirir os mesmos.
160

ENTREVISTA DE LUCINDO BRANDELLI E ZÉLIA CARRARO BRANDELLI -


Ano de nascimento: 1927. Morador da Linha 8 da Graciema (Vale dos Vinhedos, BG) – um
dos fundadores mais antigo da comunidade. Organizador da I Festa regional da Uva de Bento
Gonçalves em 1971. Empresário do setor vitivinícola. Entrevista concedida em: 09 de agosto
de 2008. Zélia, esposa do Lucindo Brandelli e uma das colaboradoras da organização da I
Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves. Entrevista concedida em: 09 de agosto de 2008.

Em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por séries
dificuldades no setor vitivinícola. A comunidade do 8 da Graciema ( Vale dos Vinhedos,
BG), resolve a realizar uma festa. Armindo Franzoni incentiva essa festa em sinal de protesto
aos órgãos oficiais do governo e as grandes vinícolas que se recusavam a vinificar.
O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes haviam sido já
colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto que Caxias do
Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a opinião de Moisés Michelon
(primeiro presidente da Fenavinho de Bento Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa
Regional da Uva de Bento Gonçalves.
Esta festa aconteceu no mês de fevereiro, a princípio era para ser apenas um fim de
semana, mas o sucesso foi além do esperado, que a festa se estendeu para mais um fim de
semana. No primeiro fim de semana compareceu tanta gente que não sabíamos de onde
vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também prestigiaram
a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas carrocerias, carros particulares,
ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas localidades próximas chegavam a pé. [...].
A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de
visitantes foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões para acomodar o pessoal.
[...].
Num dos salões da comunidade foi realizada uma exposição de uvas e de produtos
produzidos no local: batatas, milho, cebolas, abóboras, e outros mais. Também havia espaços
para algumas vinícolas que patrocinaram a festa para esporem seus produtos e degustação dos
mesmos, como a Vinícola Rio Grandense, Cooperativa Garibaldi, Cooperativa Aurora,
Dreher, Salton, Mônaco, Fontanive, Júlio Brandelli & filhos, Dumont, e outras mais. [...], foi
cobrado um ingresso para a visitação da exposição, [...]. Os melhores produtores de uva foram
premiados com taças e medalhas. [...].
O prefeito Darcy Fialho Fagundes (31/01/69 – 28/02/73, 21º prefeito do município) se
mostrou indiferente em ajudar a comunidade, mais tarde ficou sabendo do sucesso de público,
161

e que o evento iria se estender por mais um fim de semana, procurou os organizadores do
evento e se colocou a disposição dos mesmos.
Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime,
barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam na cozinha
e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a preparação do churrasco e
das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos ficaram admirados com o sucesso da
festa, foi muito bonito. Comenta Zélia Carraro Brandelli.
No último fim de semana foi realizado um desfile de carros alegóricos, retratando a
chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha e princesas da festa e outras
vinícolas também foram representadas.
No local eram servidos almoços e jantas, e os visitantes passavam a noite cantando e
bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal de Bento Gonçalves. [...].
Compareceram mais de 15.000 visitantes. [...].
162

ENTREVISTA DE LUIZ FITARELLI – Data de nascimento 25 de maio de 1959.


Empresário e empreendedor no setor enoturístico de Garibaldi. Entrevista concedida em: 05
de junho de 2008.

Um dos grandes marcos do turismo em Garibaldi foi o Hotel Casacurta, que trazia
muita gente principalmente de Porto Alegre para conhecer a vindima e também para veranear.
Garibaldi sempre foi muito carente em hotéis, não se preocupou muito com o turismo, outro
problema era a falta de atrativos para serem oferecidos para que o turista permanece-se mais
no local. Bem diferente de Gramado e Canela, aqui grande maioria do comércio e restaurantes
fecham nos finais de semana e feriados, o turista não fica aqui por muito tempo, ele quer
comprar também, este é um problema cultural.
Em Garibaldi o enoturismo é recente pouco mais de 15 anos, a pioneira foi a
Peterlongo que iniciou trazendo turistas, devido sua história, bela arquitetura, caves e adegas
magníficas, grande produtora de espumantes, mas eram poucos os que vinham aqui. O esqui
de Garibaldi chegou a ser a maior atração de turistas no município, infelizmente veio a
desativar por problemas particulares, até hoje é ainda muito lembrado pelos moradores da
região, [...].
A gastronomia não representou papel muito importante, devido ser pouca
desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos especiais ou diferentes, apenas
os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e algumas variedades de massas. O Hotel
Casacurta foi uma exceção, outros restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica,
eram muito pobres e simples demais.
Somente nos últimos 15 anos houve mais incentivo ao enoturismo em Garibaldi com a
Fenachamp, e seu restaurante voltado para o turismo, onde o Clacir Romagna trazia ônibus
lotados de turistas a Garibaldi e a almoçar neste restaurante. [...], o período de trazer
enoturistas é muito recente, [...].
[...], continua sendo o grande foco de atração turística de Garibaldi o vinho, e quem
esta fazendo um bom trabalho enoturístico é o Vale dos Vinhedos, que despertou a
curiosidade e vontade de conhecer a região. Garibaldi depois começa a despertar com a
George Aubert, que faz um trabalho de história do vinho, criando um museu temático, trouxe
muitos turistas, [...].
Em Bento Gonçalves o Tarcíso Michelon com uma visão futurista, incentiva a
restauração das casas no interior do município, originando a Rota Caminhos de Pedra, esta
rota fomenta outras, inclusive o Vale dos Vinhedos e vinícolas de Garibaldi. Aos poucos
163

todos começam a enxergar o enoturismo como uma boa alternativa para a região.
Um problema do enoturismo é que ele geralmente é destinado ao público masculino,
poucas mulheres são adeptas a este segmento e as crianças e adolescentes quase nada. [...].
Não adianta Garibaldi e região ter uma paisagem interessante, um belo acervo histórico, casas
e igrejas belíssimas, tanto no interior como nas cidades, é preciso trabalhar isso tudo para se
tornar um potencial atrativo turístico, onde o visitante possa contemplar tudo isso, e também é
preciso incentivar mais as agroindústrias locais, como acontece no interior dos países
europeus. O que falta aqui é envolver mais a comunidade no espírito turístico, um exemplo a
seguir é Gramado e Canela, onde nestes municípios tudo esta voltado ao turismo, desde as
indústrias, comércio, serviços, casas, jardins e tudo mais. [...].
Educar a comunidade local, formando profissionais na área assim como a FISUL esta
fazendo, para prestar melhor atendimento ao turista, mostrar que o turista é uma oportunidade
de negócio e ele traz dinheiro e desenvolvimento ao local, precisamos pensar grande. [...].
A proximidade de Gramado favorece muito a região, hoje o turista que a visita aquela
região, visita também a nossa principalmente o Vale dos Vinhedos e as principais vinícolas de
Garibaldi. Hoje o enoturista não só quer comprar vinhos, ele quer atenção, história, ser bem
atendido, e nos temos anos de história herdados de nossos imigrantes. Obrigatoriamente quem
trabalha com turismo tem que conjugar história com o produto a ser oferecido, buscar saber
mais detalhes, coisas simples, só não pode mentir, nem inventar fatos, ter conhecimento e
falar o que se sabe, pesquisar mais sobre a região.
O turista não procura apenas obras faraônicas, ele quer coisas simples, e enoturismo
não é só vinho, ele é o principal, mas outros atrativos devem ser implantados, como diz o
ditado “não se deve colocar todos os ovos num cesto só”, precisamos ter agroindústrias,
artesanatos, museus, parques temáticos e outras coisas mais. Turismo é uma forma de troca de
idéias, opiniões, cultura, informação que ocorre no lado do visitante e no lado do autóctone.
[...].
Enoturismo não é apenas vinho, mas gastronomia, história, cultura, belezas naturais e
diversificação de outros produtos.
164

ENTREVISTA DE LUCIANO ZANELLA – Atual Secretário de Turismo do Município


de Veranópolis. Entrevista concedida em: 03 de agosto de 2008.

Atualmente Veranópolis conta com nove vinícolas, sendo destas uma é a Cooperativa
Vinícola Alfredo Chaviense, as outras oito são consideradas familiares e estas vieram a ser
regulamentadas e organizadas como agroindústria no ano 2000. Antes desta data, sua
grande maioria elaborava vinhos de forma artesanal - caseira e, com ajuda e incentivos da
EMATER, passaram a ser registradas.
Grande maioria dessas vinícolas familiares surgiu com o agravamento da
Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves. A maioria dos produtores de uvas do município
fornecia sua produção para esta cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua
produção de uvas à Aurora, devido à grande crise de 1995, que abalou aquele
estabelecimento, resolveram investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e
legalizando os mesmos. [...].
A prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Turismo, apoiou e auxiliou na
divulgação dos estabelecimentos vinícolas através de folhetaria e de sinalização turística,
pois a grande maioria se encontra no interior do município, em média de 2 a 3 km da cidade
ou da rodovia principal - RSC 470.
[...]. Fato importante aconteceu em maio de 1981, onde a Revista Geográfica
Universal, na pagina 51, publica que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades,
dedicados aos estudos da gerontologia, citavam Veranópolis entre os locais mundiais
considerados como favoráveis ao prolongamento da vida humana. Ali, lia-se textualmente:
“[...] no Estado do Rio Grande do Sul, existe uma localidade denominada
Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive apreciável numero de velhinhos, em sua
maioria, quase totalidade, descendentes de colonos imigrantes [...].”
Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como
apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos
explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da
Organização Mundial de Saúde – OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e
terceira no mundo”.
A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso, atingiu
renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só municipal,
mas regional. [...]. Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a
vinda de turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem
165

trabalhando com outros roteiros. O Roteiro Vinhos e Longevidade já é consolidado pela


Atuaserra, formatado e bem estabelecido, e a grande preocupação é estabelecer outros
atrativos entorno como a Ponte Ernesto Dornelles, o Rio das Antas, grutas, águas termais,
usinas hidrelétricas e mirantes para que o turista fique mais em Veranópolis.[...].
Investigações nutricionais mostram que idosos ingerem em média as quantidades de
carboidrato, proteínas e gorduras que são indicadas pela OMS como sendo saudáveis; em
média o consumo alcoólico é moderado e inclui principalmente a ingestão de vinho
(máximo 300 ml/dia). Diversos estudos internacionais mostram que o vinho principalmente
contém substâncias antioxidantes, que protegem o organismo contra a ação dos radicais
livres, o resveratrol. Pesquisa realizada por químicos da PUCRS comprova que os vinhos
possuem alto valor de resveratrol, o que poderia auxiliar como protetor no risco de doenças
cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio e derrame (acidente vaso cerebral,
AVC). Fonte: Livro: Projeto Veranópolis: reflexões sobre o Envelhecimento Bem Sucedido.
Dra. Ivana Cruz, Emílio Moriguchi, Veranópolis: Ed. Oficina da Longevidade, 2002.
166

ENTREVISTA DE MOYSÉS MICHELON – ano de nascimento 1934. Natural de Caxias


do sul. Empresário do setor hoteleiro, fundador da primeira Fenavinho de Bento Gonçalves.
Entrevista concedida em: 11 de agosto de 2008.

O enoturismo surge um pouco por acaso, no ano de 1965 o Colégio Aparecida se


preparava para comemorar os 25 anos de sua existência em Bento Gonçalves. Como era de
tradição, os antigos alunos maristas se encontravam e era preparado um churrasco de
confraternização, isto acontecia cada 3 - 4 meses. O reencontro visava manter a comunidade
marista unida. Na circunstância, o ensino particular e religioso estava sob ameaças, nos
debates que realizavam para comemorar os 25 anos surgiu à idéia de promover um Festival
do Vinho.
Tendo como experiência o Festival do Chope em Blumenau (Santa Catarina). Na
época Bento Gonçalves era o maior produtor de uvas e vinhos do Brasil e acharam que
deveria ser o realizado um festival do vinho. A idéia amadurecia com o tempo, e notaram
nas discussões que simultaneamente iria acontecer o cinqüentenário das irmãs Carlistas em
Bento Gonçalves. Continuando os debates, identificaram que Bento Gonçalves iria
comemorar os 75 anos de sua existência.
O entusiasmo dos jovens e ex-alunos maristas era muito grande, onde se encontrava
o Engenheiro Agrônomo Loreno Augusto Gracia que tinha sido vice-prefeito de Bento
Gonçalves. Presente estava o padre coadjutor da igreja Cristo Rei, Arnaldo Gasparotto, ele
no seu entusiasmo que contagiou a todos falou que deveria ser realizada uma festa do vinho,
mas nesse momento começaram a questionar sobre as dimensões da festa. Depois de
realizado o debate se chegou a uma conclusão que deveria ser realizada uma Festa Nacional
do Vinho.
Para ser uma Festa Nacional do Vinho não podia ficar restrita aos ex-alunos
maristas, mas sim uma mobilização comunitária e assim foi levada a idéia ao prefeito
municipal Milton Rosa que já estava tratando da festa dos 75 anos do município. Com esta
sugestão ele ficou surpreendido. Nesta época a prefeitura municipal não dispunha de
estrutura de pessoal e não tinha idéia de como a festa deveria ser planejada. Nas discussões
com o prefeito se perguntou quem poderia presidir. O Loreno Augusto Gracia se ofereceu
para ser o presidente. A partir disso, surgem às primeiras reuniões com as entidades
participativas, associações rurais, centro da indústria e comércio e câmara de vereadores.
Surge a Festa Nacional do Vinho e Exposição Agrícola Industrial, que tinha como símbolo
de Bento Gonçalves o vinho para comemorar as bodas de prata dos maristas, as bodas de
167

ouro do colégio Medianeira e as bodas de diamante de Bento Gonçalves. Na verdade o


objetivo da festa era chamar a atenção das autoridades do Estado e do País pela existência de
Bento Gonçalves. Nessa época, Bento Gonçalves era carente em tudo, isolada de todos os
municípios, aqui não existia asfalto e nem sequer boas estradas, não existia telefone,
carência de energia elétrica, enfim, de todo tipo de infra-estrutura. A idéia não foi no
enoturismo, mas sim colocar Bento Gonçalves no mapa político brasileiro, para ser
justamente ouvida pelas autoridades responsáveis pela infra-estrutura em que se encontrava
o município.
Ocorre que este evento deveria acontecer em 1966, porém, neste ano aconteceram
desastres meteorológicos, enchentes e o acesso a Porto Alegre ficou interrompido em São
Leopoldo o Rio dos Sinos transbordou mais de um metro, o interior sofreu muito com isso.
O resultado foi que o município não tinha recurso, e o estado não atendia a estes apelos,
então, foi adiada para 1967. Neste meio tempo Loreno é convocado pela Secretaria da
Agricultura para viajar aos EUA, fazer um curso de conservação para uvas, porque a
empresa Dal’Molin tinha instalado câmeras frigoríficas, (local ode hoje esta localizado o
edifício Cristo Rei), pois não tinha quem as opera-se. [...].
Mesmo assim foi lançada a pedra fundamental no campo municipal (imediações do
SENAI), porém o Milton Rosa adoece e o vice- prefeito Dr. Ervalino Bozzetto assume e este
convida Moysés para conhecer um terreno. Sabendo através dos debates que não havia
concordância em construir o parque de eventos nas imediações (onde hoje é Ginásio de
Esportes do Município), visto que o espaço ser pequeno demais, ele ofereceu-se para
analisar um terreno. Quando Moysés analisou o terreno logo falou, “Se vocês não compram,
eu compro, não tenho dinheiro, mas vou dar um jeito”. [...]. Ele realmente comprou o
terreno, mas nesse meio tempo as coisas iam acontecendo, mas poucas ações concretas. [...].
Surge uma pessoa extraordinária que vive entre nós o Padre Mânica. Com a volta do
prefeito da cirurgia, este reestrutura a diretoria da Fenavinho não esperando Loreno voltar.
Numa manhã, sem aviso prévio o prefeito e o padre aparecem no local de trabalho do
Moysés (Massas Isabela), e o convocam como presidente da Fenavinho eleito em
Assembléia da Comissão. Foi estipulado um tempo de 24 horas para Moysés decidir. Foi
realizada uma reunião à noite e ele aceitou e passou a ser o presidente da I Festa Nacional do
Vinho.
Mais tarde foi feita uma reestruturação, foi convidado Luiz Mateus Todeschini para
ocupar o cargo de vice-presidente da festa. Assim passaram a tomar atitudes que viessem a
dar bons resultados. Em primeiro lugar foi decidido sobre a escolha da imperatriz, não se
168

falou em escolha de rainha, pensando que Bento Gonçalves antigamente se chamava


Colônia Dona Isabel e Dona Isabel era uma imperatriz e não uma rainha foi feito uma
ligação com o fato. Outro acontecimento importante foi a divulgação do vinho encanado nas
ruas de Bento Gonçalves.
Este fato não foi realmente uma coincidência, mas sim uma inspiração divina, e
consolidou a I Fenavinho. O fato de ter oferecido o vinho encanado nas ruas de Bento
Gonçalves, repercutiu mais que o esperado, maior do que qualquer imagem, e assim com
este tema, sendo o vinho encanado nas ruas da cidade é que se desenvolveu toda a
programação desde a escolha da imperatriz. Quando a imprensa foi convidada para compor a
mesa dos jurados, foi realizado um churrasco e foi instalado o vinho sobre as mesas. A idéia
do vinho encanado foi tomando corpo e notamos que além de promovermos Bento
Gonçalves e o vinho como produto símbolo do município, estávamos promovendo o
enoturismo. Sabendo que o vinho representava cerca de 60% da economia de Bento
Gonçalves, as indústrias de móveis eram ainda artesanais e a Barzenski (indústria de
móveis), estava iniciando suas atividades de forma muito pequena.
Nesta época o setor vitivinícola enfrentava série dificuldades, as cantinas estavam
abarrotadas de vinho, dificuldades financeiras e uma concordatária. Na verdade passamos a
dar notoriedade ao vinho, conseguimos pela primeira vez trazer um Presidente da República
a Bento Gonçalves (Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco), isto aconteceu poucos
dias antes de encerrar seu governo, sabendo que sua gestão acabaria em 15 de março e no
dia 25 de fevereiro, veio a Bento Gonçalves.
Na chegada do Presidente, o dia amanheceu com um forte nevoeiro, o avião
Hercules, não conseguiu pousar no aeroclube de Bento Gonçalves, este estava situado nas
proximidades da Avenida Planalto. Chegaram a Bento Gonçalves toda a comitiva vinda pela
BR 116, via Caxias do Sul. Na vinda a Bento Gonçalves enfrentaram uma estrada com
poucas condições de uso, cheia de buracos e de curvas e muito lodo. Quando chegaram a
Bento Gonçalves, uma das primeiras coisas que o Presidente falou ao cumprimentar o
Prefeito que o estava esperando na escadaria da Prefeitura foi: “eu já falei aqui ao
Governador (Perachi), que Bento Gonçalves merece uma estrada melhor do que essa que
tem aqui.” esta foi a primeira grande repercussão política dessa visita, visto que o próprio
Presidente intimou o Governador a dar uma maior atenção ao Município. Mais tarde as
lideranças municipais, juntamente com o Centro da Indústria e Comércio, autoridades de
classe, Prefeito e outros, conseguiram desatar os nós, sejam de telefonia, água, energia
elétrica e de estradas. Surge então à estrada São Vendelino. Foi muito difícil, visto que
169

Caxias do Sul se habilitou também e o Governador encontrava dificuldade em construir duas


estradas, mas a pressão política foi tanta que ele construiu as duas, a que ligava Porto Alegre
a Farroupilha e São Vendelino a Bento Gonçalves. Segundo o Governador, a estrada São
Vendelino foi a mais cara do Estado, devido à topografia, pontes e viadutos que tiveram de
ser construídos.
Com o Presidente do Brasil em Bento Gonçalves, no domingo seguinte esteve
prestigiando também Assis Chateaubriand, Diretor geral dos diários e emissoras associadas,
estas deram ampla cobertura do evento, tudo de graça, nada foi gasto com divulgação. Visto
que o Carlos Dreher era muito amigo dele, inclusive a Dreher lançou um vinho em sua
homenagem chamado “Velho Capitão” e com essa atitude Bento Gonçalves passou a constar
no mapa político do Brasil. Com esta divulgação na imprensa brasileira, nasce o enoturismo
em Bento Gonçalves.
Bento Gonçalves já tinha alguma experiência em turismo, fato pelo qual muitos anos
antes era uma estação de veraneio antes de surgir a moda de veranear no litoral. Não era só
Bento Gonçalves que se destacava também Farroupilha e Garibaldi. [...]. Em Bento
Gonçalves existiam vários hotéis voltados para este tipo de turismo, se destacando o Hotel
Planalto. O atual Museu do Imigrante era o dormitório dos funcionários deste hotel, depois
devido alguns problemas tributários passam o empreendimento para o Estado. Tempos
depois foi utilizado como estação de sericicultura. Mais adiante na década de 50, é
repassado ao governo municipal com o objetivo de voltar a funcionar como hotel, o prefeito
Mário Mônaco tentou revitalizá-lo, criou a taxa de turismo e esta taxa era revertida em
ações, com o término de seu mandato o substituto não deu seqüência. O hotel foi vendido,
passou por vários proprietários e ficou com Elias Dall’Onder. Além deste, havia o Hotel
Bela Vista, Hotel Paris, Hotel Zanoni, Hotel América, Hotel Estação, Hotel Valenti, Casa de
Pouso Pasquetti, Hotel Dalla’Coletta e outros mais.
Em Monte Belo do Sul o Hotel Brusqui, em Pinto Bandeira o Hotel Nichetti. Com a
falta de estradas boas e com o surgimento do turismo no litoral os hotéis não resistiram,
vindo a desaparecer em sua grande maioria na década de 40 e de 50.
Com a realização da I Fenavinho, surge o hotel Vinocap inaugurado em 1967. Era
para ser um prédio residencial, mas Aristides Bertuol o transformou em hotel, hospedando a
imprensa. [...].
O pessoal vinha veranear na serra e não existia o costume de ir ao litoral. [...]. Com a
realização das seguintes Fenavinhos, Bento Gonçalves despertou para uma maior
importância ao produto vinho, no sentido de consolidar ainda mais o desenvolvimento do
170

projeto enoturístico. Na I Fenavinho foram recebidos aproximadamente 120.000 visitantes


pagantes no Parque de Eventos, além do vinho encanado foi realizado um desfile de carros
alegóricos típicos, se distribuiu uva aos visitantes. Elas foram doadas pelos agricultores,
devido à grande quantidade. [...].
A prefeitura se ocupava em organizar a cidade, a comunidade toda foi envolvida com
a idéia. Em 1967 existia em Bento Gonçalves a Dreher, Aurora, Mônaco, Salton e a Vinícola
Rio Grandense, estas eram os principais estabelecimentos vinícolas. [...].
A Dreher se destacava das demais, foi ali servido o almoço ao Presidente da
República e ali estive presente Assis Chateaubriand. [...]. Em Garibaldi destacavam-se a
Cooperativa Garibaldi, George Aubert, Peterlongo, Carraro & Bruzina e a Cooperativa
Tamandaré.
Em Caxias do Sul os Vinhos Michelon, Antunes, Moselle, Cooperativa Aliança e a
Forqueta. O grande destaque na viticultura de Caxias foi iniciado com o técnico italiano
Celeste Gobatto, que veio a Caxias na década de 30, com o intuito de ensinar as técnicas de
enxertia. [...]. Esta forma de enxertia é trazida a Bento Gonçalves, por Lourenço Mônaco. A
Vinícola Rio Grandense nasce com a idéia de Mandelli, que resolveu juntar várias vinícolas
pequenas na região e formar uma só, com melhor tecnologia. [...].
Como conseqüência da I Fenavinho surge na região a Fenachamp em Garibaldi, foi
uma seqüência lógica. [...], as festas alusivas a uva acontecem no início da década de 30 em
decorrência da realização da I Festa da Uva em Caxias do Sul e da Fenavindima em Flores
da Cunha realizada na mesma época da Fenavinho, todas tendo como foco principal
valorizar o produto local e o enoturismo.
O despertar desse tema “vinho”, nasce com a Festa da Uva e se consolida com a
Fenavinho, Fenachamp, Fenavindima e outras festas mais. Hoje nessa região, vários
municípios exploram o charme que tem como produto central a uva e o vinho. Notamos que
depois desses grandes eventos na região, o enoturista esta presente em todas as épocas do
ano e não só quando acontecem os eventos.
É uma lástima que hoje quem está desfrutando desse trabalho de implantação do
consumo de vinhos são os importados, beneficiados com tarifas baixas, dólar em queda,
descaso das autoridades locais e federais e como conseqüência fez com que o consumidor
procure mais os importados devido seu baixo preço. [...].
Diante das crises do setor vitivinícola, surge a Vinosul (destiladora de vinhos), com
a finalidade de regular os estoques de vinhos nas vinícolas. Foram construídas duas, sendo
que uma em Bento Gonçalves e a outra em Flores da Cunha.
171

Passados vários anos surge a Aprovale, que deu maior notoriedade a região. Estes
fundadores deram maior atenção ao vinho fino. O Vale dos Vinhedos se destaca com os
vinhos e com o enoturismo, esse trabalho deu certo. Surgiram outras entidades em outros
municípios da região, buscando o mesmo ideal. [...].
A divulgação da I Fenavinho foi bem simples. Inicialmente foi usada uma impressão
estampada encima de jornais velhos, esse material era distribuído nas vinícolas e colado nas
lonas dos caminhões que cobriam as cargas de vinhos que eram comercializados em outras
cidades ou estados. Depois foi conseguida uma verba com uma produtora de rótulos de
Santa Cruz. [...]. Também os carros de passeio foram utilizados. Foi pintada no vidro
traseiro dos caminhões e carros a seguinte frase: “Visite Bento Gonçalves - I Festa Nacional
do Vinho”. [...].
Na I Fenavinho todos os visitantes recebiam uma pequena garrafa de vinho, com o
intuito de levar para casa este vinho para comemorar com os que não puderam prestigiar o
evento. Aproximadamente 150.000 garrafas de vinho foram doadas pela indústria Nifosa
(vidraçaria), o vinho, rótulo e rolha as vinícolas doaram. [...]. Apenas um contra-rótulo foi
colocado contendo alguns dizeres da Fenavinho. [...]. Sobraram 30.000 unidades e estas
foram vendidas aos credores da festa. [...].
172

ENTREVISTA DE RINALDO DAL PIZZOL – Data de nascimento: março de 1937.


Historiador e Diretor-sócio da Vinícola Monte Lemos. Entrevista concedida em 10 de
setembro de 2008.

Em 1911, os irmãos Maristas fundam a Pindorama, sendo que o irmão “Pacomio”


elabora o primeiro Brut. Em 1913 Manuel Peterlogo elabora o seu espumante com ajuda do
Irmão Pacomio. [...].
O eixo Caxias do Sul, Flores da Cunha, se destaca como o primeiro pólo de atração
turística do Rio Grande do Sul. [...], Caxias se privilegiou muito disso pelo fato da realização
do asfalto, [...], os mais focados nas correntes turísticas foi a Eberle, que na época produzia
variados artigos ligados a igreja, cálices e outros artefatos sacros, a Gazzola (cutelaria), estas
empresas traziam pessoas para Caxias, ali algumas vinícolas aproveitavam este fluxo, por
exemplo: a Vinícola Luiz Antunes, a Vinhos Moseler, a Michelon e a Estação Experimental
de Caxias do Sul. A Vinícola Michelon trabalhou bem a parte de divulgação do vinho,
realizava divulgações nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Sendo a Michelon e
Moseler foram as duas empresas que trabalharam com o turista, trazendo clientes. Entre seus
clientes turísticos tinham um tipo especial, se assim podemos dizer, o “turista político”,
grandes autoridades, governadores, ministros, deputados, e outros. Em Flores da Cunha
nesta mesma época existia a Companhia Vinícola Rio Grandense, e a granja União, sendo
que a abertura da vindima geralmente era realizada na Granja União, vinham ministros,
presidente, governador e demais autoridades.
Em Flores da Cunha estavam situadas a Granja União e a Granja São Mateus, essas
foram as duas pioneiras no plantio e difusão de variedades viníferas, na mesma época de
Caxias do Sul. [...]. Caxias foi o marco do pioneirismo do turismo do vinho (enoturismo),
muito contribuiu foi a pavimentação da Br 116 e a Festa da Uva 1937.
Nesta região podemos dizer, neste vértice teve grande destaque em 1957 - 1958 a
Vinícola João Slaviero situada em Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha. Esta vinícola
realizava um trabalho em São Paulo, onde trazia caravanas de turistas para visitar o
estabelecimento vinícola. Além de degustação o turista visitava seus vinhedos e instalações,
era uma forma de vender e promover o produto vinho. Devido à dificuldade de sua
localização situada bem no interior de Flores da Cunha e o acesso dificultoso, pois não havia
asfalto e viajar para lá era um desafio. João Slaviero planeja construir um hotel com a
finalidade de hospedar esses turistas. Essas instalações passaram a ser usadas por viajantes e
comerciantes. A sua coragem em construir esse hotel para abrigar os turistas foi uma idéia
173

interessante, ali se hospedavam os enoturistas, clientes ou não e até autoridades, esse


trabalho passa a ser um marco, um exemplo de pioneirismo no setor enoturístico. A vinícola
possuía uma linha muito diversificada de produtos de boa qualidade entre eles se
destacavam os vinhos elaborados a partir de castas viníferas.
Neste lado que compreende Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa, o
município que se destacou mais foi Garibaldi, por possuir um bom hotel o Casacurta, hotel
de veraneio, nele pessoas importantes principalmente da capital gaúcha costumavam se
hospedar ali. [...]. A Cooperativa Garibaldi entre todas se destacava por oferecer um local
apropriado para o recebimento de autoridades e de caravanas de turistas. Em Bento
Gonçalves o enoturismo ganha impulso com a Dreher e a Cooperativa Aurora no ano de
1967 com a realização da I Fenavinho depois de 36 anos da realização da I Festa da Uva em
Caxias do Sul. A questão da Fenavinho fez a motivação, pois os municípios de Bento
Gonçalves e Garibaldi se destacavam cada vez mais como grandes produtores de uva e
vinho. A festa da Uva era um evento que atraia grande fluxo de visitantes, foi um dos
motivos para a realização da I Fenavinho, mas havia um inconveniente, era a falta de
estradas boas.
A Dreher se destacava com seus vinhos, espumantes e destilados, era uma empresa
muito bem relacionada com os veículos de comunicação, sendo o seu proprietário muito
amigo do jornalista e embaixador Assis Chateaubriand, sendo esse diretor de vários jornais
associados muito fortes na época, tudo isso veio a influenciar a vinda de turistas e todos se
deram conta que era um bom negócio para a divulgação do vinho e da região. A Cooperativa
Aurora também aderiu ao enoturismo com a I Fenavinho, foi um ato corajoso por parte da
direção por ser uma cooperativa, pois recentemente tinha entrado no mundo da elaboração
de vinhos finos, visto que até então ela só lidava com vinhos de castas americanas e não
possuía marcas importantes no mercado. A partir de 1967, começou a crescer e se destacar
em vinhos finos, ao natural sentiu a necessidade de participar deste segmento do turismo, se
não podemos dizer turistas ao menos podemos dizer de relações públicas.
Durante a realização da I Fenavinho, a Aurora construiu uma adega muito especial,
era uma pipa de vinho em que os visitantes entravam nela, era uma idéia muito inovadora,
simples e ao mesmo tempo aconchegante e os turistas queriam visitar esta adega, e isso
contribuiu para a empresa se projetar na vanguarda do enoturismo. A Mônaco também criou
ambientes voltados ao recebimento de turistas, uma coisa fomentava outra, hotéis e
restaurantes voltaram a ser ocupados por turistas, que há muito tempo tinham desaparecido
devido à deficiência das estradas e falta de atratídos optando a Gramado e Canela.
174

No ano de 1973, a Cooperativa Aurora passou a produzir vinhos para terceiros, neste
mesmo ano nasce a Maison Forestier dentro da Aurora. No ano de 1977, a Forestier se
instala em local próprio no município vizinho de Garibaldi, iniciando com a implantação de
vinhedos. Em 1980, é construído seu estabelecimento baseado num projeto voltado para o
recebimento de turistas. Provavelmente foi a primeira empresa vinícola que preparou um
local onde podia ser visitado o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma coisa mais
abrangente que faz parte de uma atividade da cultura ao vinho. Esta empresa foi planejada
para o recebimento de enoturistas, não aconteceu ao natural como as demais na região. O
seu modelo foi inspirado nas vinícolas californianas (EUA), principalmente as do Napa
Valley, onde os turistas visitam as dependências, conhecem todo o processo de elaboração
de vinhos, degustam e podem adquirir os produtos e outros souvenires, como camisetas,
saca-rolhas e demais objetos ligados ao mundo do vinho, tudo com muito profissionalismo.
No ano de 1985, toda uma nova estrutura ficou pronta, para receber autoridades e
pessoas importantes, uma casa foi construída com três suítes que abrigaram ministros,
governadores e secretários de estado e mais uma sala para negociações. Seu local de
instalação junto a RST 470 favoreceu muito o fluxo de turistas. A Maison Forestier era uma
vinícola moderna, com equipamentos de ultima geração. No seu interior tanques de aço
inoxidável eram utilizados para elaboração e armazenamento dos vinhos. O entrevistado
lembra muito bem no dia da inauguração da vinícola, quando o chefe do laboratório de
Enologia de Bento Gonçalves, uma pessoa muito respeitada e culta, dirigindo-se a mim,
comentou: “vocês me convidaram para assistir uma inauguração de uma cantina ou de uma
queijaria, onde estão as pipas de madeira?”. Isso foi um problema que acabaram notando
também na reação dos outros turistas.
Mais tarde construíram uma adega feita de pedras, de estilo rústico, com seu
ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, palco para apresentações artísticas,
sala para confraternizações, tudo no meio das pipas de madeira, em fim foi criado um
ambiente de “cantina” na concepção da época e da região. [...]. A CVC iniciou um trabalho
muito profissional na área de enoturismo, trazia turistas principalmente de São Paulo e do
Rio de Janeiro. No ano de 1984 - 1985, a média de turistas que visitam o estabelecimento
era entorno de 65 - 70 mil turistas/ano e o faturamento médio eram de 11 - 12 dólares por
pessoa, [...] era uma estrutura voltada para vender e promover seus produtos no cenário
nacional. Embora tendo um escritório na Região Sudeste, ela tinha uma pessoa exclusiva
que viajava para divulgar e trazer turistas à vinícola. Assim Garibaldi começa a criar uma
imagem voltada para o enoturismo com forte influência da Forestier. Com o passar do tempo
175

outras empresas se integram, a Cooperativa Garibaldi, Peterlongo, George Aubert, e outras


mais. No final da década de 1990, início da década de 2000 a Forestier encerra suas
atividades. Seu modelo de profissionalismo serviu de inspiração para muitas empresas
vinícolas, principalmente no Vale dos Vinhedos e outras da Região Uva e Vinho.
A vinícola Dal Pízzol nasce no ano de 1974, nas imediações da RS 431, km 5 no
distrito de Faria Lemos. Inicia elaborando vinhos de mesa, logo em seguida passa para
vinhos finos onde vende de forma direta ao consumidor final. Nesta forma se mostrou que
uma propriedade familiar pequena podia elaborar vinhos finos com boa qualidade. [...].
Na Forestier tivemos a experiência que o turista valoriza não só o vinho, mas o
entorno da vinícola, a natureza e a gastronomia que também fazem parte da cultura do
vinho. No início os turistas que chegavam ao estabelecimento eram recebidos no meio das
pipas e ali era servida uma tábua de frios, salame, pão e vinho. Os visitantes podiam se
servir diretamente da torneira dos tanques de vinho. Este momento era muito emocionante,
os turistas ficavam ali entretidos até madrugada adentro. [...]. Depois passaram a adicionar
ao cardápio pratos quentes, como massa, frango e polenta.
O ambiente entorno do estabelecimento vinícola também foi trabalhado, criou-se um
cenário totalmente ligado a cultura do vinho. Um parque temático com uma área de 80 mil
m², com lagos e uma ampla área verde que reúne uma grande coleção de plantas nativas,
exóticas, ornamentais e frutíferas. Um grande atrativo é o vinhedo que possui mais de 200
espécies de videiras, originarias dos cinco continentes, mais conhecido como “Vinhedos do
Mundo. Também é possível ver uma réplica do “Vinhedo do Imigrante”, a Enoteca (antiga
olaria da família), que abriga uma coleção de garrafas exclusivas de safras antigas desde a
fundação da empresa. Possui também um restaurante, com vista panorâmica para o lago,
onde são oferecidos almoços e jantares com cardápios que resgatam as tradições dos
imigrantes italianos.
176

ENTREVISTA DE VANDER VALDUGA. Atua na UCS na área de planejamento Turístico


e Gestão Territorial. Orientador do Curso de Turismo no Campus Universitário da Região dos
Vinhedos de Bento Gonçalves. Entrevista concedida em: 06 de agosto de 2008.

Trabalhou no estudo de Desenvolvimento do Enoturismo no Vale dos Vinhedos. O


trabalho teve como foco central, investigar se Indicação Procedência do Vale dos Vinhedos
tinha sido definitiva para o desenvolvimento do Enoturismo no Vale dos Vinhedos, ou se
tinha que considerar todo o processo histórico anterior e se tudo isso tinha contribuído de
alguma forma para o fortalecimento endógeno do Vale dos Vinhedos. Uma das principais
constatações foi que em primeiro lugar, a Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos foi
secundária, teve interferência indireta no Enoturismo, em função de todo um marketing, de
toda uma mídia conseguida (na visão do produtor de vinhos). Estas atrações se solidificaram
em 1995, com a criação da Aprovale. [...].
No início se pensava que a IPVV iniciou o enoturismo no Vale dos Vinhedos, na
verdade não foi bem assim, o enoturismo foi conseqüência de um longo processo de
especialização na produção de uvas e de vinhos, não se esquecendo do contexto histórico, que
foi fundamental. O enoturismo é muito parcial ainda, existe uma falsa idéia que é “vendida”
ao turista como Região Uva e Vinho, no entanto se vende muito mais vinho do que uva, falta
um contato maior com o produtor local de uvas. O enoturismo tanto para vinícolas grandes e
pequenas representa 35 – 40% do faturamento, isso pode ser um dado ruim até certo ponto de
vista, que, quanto mais vende para o turista, menos vende para outros mercados.
A Vallontano foi fundada em1997, a recepção ao público teve início no ano de 2001,
todo seu empreendimento foi voltado ao enoturismo, desde seu projeto, baseado na
arquitetura industrial da imigração italiana das décadas de 1930 a1950. [...].
O enoturismo é uma relação pessoal, uma prática social, onde se estabelece uma
relação pessoal. Não existe turismo sem pessoas, não é o estabelecimento vinícola que se
desloca. O centro de estudo do enoturismo é o próprio enoturista e não as vinícolas, o vinho.
[...]. Enoturistas são pessoas que visitam uma região não apenas atraída pelo vinho, mas
também pelo contato afetivo com os moradores locais, sua cultura, sua tipicidade, os
processos de elaboração dos vinhos, modo de vida e a paisagem da região.
Um grande desafio destas regiões que estão surgindo em relação ao enoturismo é criar
uma identidade própria e marcas que estabeleça diferenças particulares, não igualdade. O
segundo atrativo depois do vinho, é a paisagem, e o enoturismo deve procurar agregar mais
produtos atrativos ao vinho. [...].
177

APÊNDICE B – Resumo das entrevistas concedidas sobre o surgimento do turismo e de


alguns hotéis na região pesquisada

ENTREVISTA DE MARTA LUIZA DE ARANHA BLAUTH. Empresaria do turismo


rural, moradora no Desvio Blauth, Farroupilha. Marta é uma das descendentes diretas dos
Blauth, proprietários do Veraneio Desvio Blauth. Entrevista não gravada, concedida no dia 23
de dezembro de 2008.

Veraneio Desvio Blauth foi fundado em 1920, pelos irmãos Elza e Elvino Blauth,
filhos de Carlos Blauth e de Sophia Blauth. Este estabelecimento se situava no Desvio Blauth
município de Farroupilha, RS. Localizado a 10 km da cidade de Farroupilha. Segundo a
entrevistada o Veraneio Desvio Blauth era uma estação de veraneio, sendo um dos primeiros
ou o primeiro hotel de veraneio mais importante no Estado. O Veraneio Desvio Blauth ficava
localizado próximo aos trilhos do trem. Neste local se situava uma parada obrigatória do trem,
onde o mesmo se abastecia de água, vindo a transformar o local em uma atração especial. [...].
O Veraneio Desvio Blauth atinge seu auge na década de 1930, quando a elite da
Capital do Estado e outras famílias de classe média procuravam a região atraídas pelo clima
das montanhas, isolamento, descanso, comida farta e bom atendimento. Na Europa eram
comuns as pessoas das cidades maiores veranearem nas montanhas em busca de climas mais
agradáveis e saudáveis. O local era procurado em todas as épocas do ano, inverno e verão
sendo que algumas famílias inteiras chegavam a se hospedar até três meses por ano. [...]. Os
visitantes chegavam de trem. O trem chega a Caxias do Sul em 1910, partindo de Rio dos
Sinos, 7 km antes de Novo Hamburgo. Em 1917, as estações férreas de Carlos Barbosa e de
Garibaldi são inauguradas. [...].
O estabelecimento oferecia os mais diversos serviços de hospedagem, sendo que as
famílias eram distribuídas em vários alojamentos. Os filhos menores ficavam instalados
juntamente com os pais. Havia alojamentos exclusivos para as moças e outro para os rapazes.
Existiam normas a serem seguidas, desde o horário das refeições até o banho. Muitas
vezes essas normas se estendiam sobre o comportamento em geral dos visitantes. Os horários
de banho eram agendados previamente com um empregado do estabelecimento e este por sua
vez preparava a sala de banho e a reservava, para realizar as caminhadas junto à natureza um
procedimento parecido era adotado. Havia horário de silêncio. As crianças não podiam fazer
algazarra depois do almoço até as 15 horas, (horário considerado de descanso e de sestear).
178

O gerador de energia elétrica geralmente era desligado às 22 horas, este estava instalado junto
à barragem e era movido pelas águas do reservatório. [...].
O Veraneio Desvio Blauth oferecia diversos atrativos, desde piscina, possibilidade de
banho nas águas do lago, passeio a cavalo e de barco à remo, e outros mais. Os homens
podiam desfrutar da sala de jogos onde era possível jogar cartas e bochas, acompanhados de
um bom vinho colonial, graspa, pão caseiro, salame e queijo. As mulheres ficavam entretidas
realizando crochê e conversando entre elas. O estabelecimento disponibilizava de uma
charrete para passear e conhecer as plantações e parreirais próximos.
Em 1953, com o declínio da “moda” de veranear na serra, o Veraneio Desvio Blauth
não resiste e vem a encerrar suas atividades. Hoje restam as ruínas da antiga caixa d’água que
abastecia o trem e uma fileira de pedras que formavam a plataforma de desembarque junto aos
trilhos. [...].
179

ENTREVISTA DE PAULO NICHETTI- entrevista concedida por telefone no dia 23 de


dezembro de 2008.

No ano de 1903, Marino João Nichetti, avô do entrevistado, constrói o Hotel Nichetti
em Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves. Esse estabelecimento atinge seu maior auge
na década de 1920 – 1940, quando veranistas de Porto Alegre (grande maioria turistas
portugueses e italianos residentes na Capital do Estado), procuravam a região por ser
considerada de clima ideal à saúde. Embora o hotel fosse procurado em todas as épocas do
ano, era nos meses de dezembro a março em que os turistas mais procuravam se hospedar,
devido às temperaturas serem consideradas mais amenas e agradáveis. [...].
Os veranistas geralmente utilizavam seus carros particulares para chegar a Pinto
Bandeira, sendo sua grande maioria formada por pessoas da terceira idade, poucos casais
jovens optava a esse tipo de veraneio. Os visitantes geralmente realizavam caminhadas na
praça e nas ruas do distrito, visitavam os parreirais e os pomares, adquiriam produtos
coloniais (vinhos, graspa, salames, queijos e outros mais). Havia a possibilidade dos visitantes
passearem de carroça, um morador local Volmar Mazzotti, oferecia este tipo de serviço. [...].
O hotel desde sua fundação sempre esteve voltado ao atendimento aos turistas. Depois
da década de 1940, passa a hospedar viajantes e professoras que atuavam no distrito. [...]. O
estabelecimento encerra suas atividades em treze de março de 1969, conseqüência de um
incêndio que destruiu o prédio. Depois do sinistro a família proprietária se muda a Bento
Gonçalves.
180

ENTREVISTA DE VLADEMIR JOÃO BASSO- Proprietário do Bela Vista Parque Hotel,


de Caxias do Sul. Entrevista concedida por telefone no dia 23 de dezembro de 2008.

O Bela Vista Parque Hotel- foi inaugurado em1927, por José Basso e seus dois filhos: Jacó e
Jacinto Basso. Localizado na frente da Igreja de Ana Rech em Caxias do Sul. Em 1937, é
inaugurado o Hotel Bela Vista nas instalações atuais e passa a ser ampliado.
A fundação do hotel foi sugerida por uma comadre do proprietário, visto que o mesmo
gostava muito de convidar os amigos para almoçar em sua casa. Algumas vezes as visitas chegavam
de surpresa e a dona da casa não estava preparada e improvisava alguns pratos de comida. Num
certo dia a comadre conversa com a esposa do José e incentiva a construir um hotel para servir
almoços aos convidados. [...]. A boa comida e a grande variedade de pratos oferecidos, tudo isso
aliado ao bom atendimento fez o empreendimento prosperar cada vez mais.
Na década de 1927, o hotel não possuía muito espaço físico disponível, houve a necessidade
de utilizar um terreno vizinho de um parente. Com a ampliação e mudança para o atual espaço
situado dentro de um parque bem arborizado principalmente por acácias mimosas, o
empreendimento passou a oferecer melhor conforto aos hospedes. A preocupação com a natureza
sempre foi um diferencial. Os irmãos Basso quando viajavam geralmente traziam plantas
ornamentais para serem plantadas no jardim do hotel. O parque passou a oferecer caminhadas entre
as árvores, piscina, lago com barcos à remo e a possibilidade de banho nas suas águas límpidas. O
hotel disponibilizava de sala de recreação, carteados, boliche, cancha de bochas, salão de baile,
padaria, tambo de leite onde os visitantes podiam ordenhar as vacas e tomar o leite, (geralmente esta
atividade acontecia à tarde, e os visitantes traziam potes com achocolatados e se serviam com o leite
da ordenha), janta, almoço e lanches. No café da tarde eram geralmente servidas frutas
provenientes do próprio pomar do hotel, uvas, ameixas, pêssegos, laranjas e outras mais.
Famílias provenientes na sua grande maioria de Porto Alegre procuravam suas instalações
para veranear. [...]. Foi muito utilizado para casamentos e férias longas (variavam de 15 dias até três
meses no verão). No início de suas atividades os veranistas chegavam de trem, o hotel possuía um
carro (jardineira), que fazia o trajeto da estação ferroviária ao hotel. Em 1937, com a Br 116 ainda
não pavimentada, os visitantes começaram a chegar de ônibus ou de automóveis. Mesmo assim a
“jardineira” buscava os hospedes, desta vez não mais na estação ferroviária, mas da rodoviária de
Caxias do Sul.
Com o passar do tempo a comunidade de Ana Rech foi crescendo, surgiram outros
empreendimentos, dentre eles, um abatedouro de aves e de porcos. A carne bovina era proveniente
de Criúva (distrito de Caxias do Sul), esta era enviada duas vezes por semana ao hotel. O cardápio
181

constituía de massas, bifes, batata frita, arroz, polenta, panada, frango preparado de várias maneiras,
pão de milho, bolachas e bolos sortidos, mel e frutas da época. O prato principal eram os molhos de
carne e os queijos serranos. Utilizavam muitas conservas de frutas e de legumes para compensar a
falta do produto em determinadas épocas do ano.
Os hospedes podiam comprar vários produtos coloniais diretamente dos produtores que
abasteciam o hotel. [...]. O transporte mais utilizado pelos agricultores para abastecer o hotel eram
os burros. [...]. Os veranistas podiam realizar passeios no interior e na cidade, adquiriam vinhos nas
pequenas cantinas rurais, graspa, schmier de frutas e vários outros produtos coloniais. Durante a
II Guerra Mundial com a escassez de combustível, os ônibus e alguns automóveis usavam como
alternativa o gasogênio, quando os turistas chegavam ao seu destino, muitas vezes suas roupas
ficavam cobertas por uma pequena camada de fuligem. [...].
Os turistas vindos de Porto Alegre, Santa Maria, Rio Grande e Pelotas geralmente
utilizavam o trem como meio de transporte, depois da década de 1960, passam a utilizar o
transporte rodoviário. [...]. Caxias do Sul passa a crescer cada vez mais, a Festa da Uva torna-se
referência, o inverno chega a ser um bom atrativo turístico, a moda européia é adotada, onde as
pessoas saíam de suas cidades para veranear nas montanhas em busca de ar puro e de temperaturas
amenas.
Em 1937, Amélia (esposa de um dos filhos) assume a cozinha sob orientação da avó. [...].
Em 1954, a avó veio a falecer. Amélia graças a sua dedicação e bom talento na arte de cozinhar
herdado da avó continua se aperfeiçoando cada vez mais. Para incrementar seu cardápio muitas
vezes mandava trazer livros de culinária de Porto Alegre (Livraria o Globo), conseqüentemente
passou a formar diversos chefes de cozinha, graças ao seu talento e criatividade. [...]. Os jornais
Correio do Povo e o Jornal do Comércio eram recebidos diariamente através dos ônibus que
chegavam de Porto Alegre, isto na década de 1990. [...].
Na década de 1960, surgem os Hotéis Menegotto, City e Real. Na década seguinte o Hotel
Samuara e Alfred e outros mais modelos de hotéis executivos. [...].
182

ANEXO A – Roteiro do Vinho

Fonte: Revista do Vinho, 1988.


183

ANEXO 02 – Parada Blauth com o trem. Farroupilha - RS

Fonte: Acervo Patrícia Haupt.

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