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Chita de vestido de festa junina, chita de toalha de mesa ou chita de cortininha de pia. Flores,
florzinhas, florzonas. Às vezes até xadrezinhos e poás. Todo brasileiro que se preze viu, tocou
ou ao menos ouviu falar dessa tal de chita. Volta e meia, ela é coroada máxima expressão de
brasilidade. Outras vezes, ela é só um tecido baratinho, de estampas descontroladas. Mas a
verdade é que o tecido percorreu um longo caminho antes chegar ao Brasil. A história da chita
inclui viagens marítimas, antepassados orientais e muitas, muitas cores.
O roteiro da chita. Fonte: Que Chita Bacana (Mellão, Imbroisi e Kubrusly). Editora A Casa, 2005.
Moeda de troca
O Brasil demorou para entrar na rota da história da chita, pois o desenvolvimento têxtil no país
foi um pouco tardio, já que os portugueses tinham uma certa rejeição ao trabalho manual e,
ainda, os artesãos como tecelões e tintureiros eram estigmatizados. Por outro lado, devido aos
acordos comerciais entre Portugal e Inglaterra, os portugueses se viam obrigados a comprar os
tecidos manufaturados pelos britânicos, inviabilizando assim a produção própria.
Em determinado momento, o Brasil foi obrigado a importar tecidos de algodão estampado
fabricados na Índia e na Inglaterra para servir como moeda de troca com os atravessadores de
escravos. O tráfico de escravos, portanto, movimentava a indústria têxtil e por consequência
uma tímida Revolução Industrial.
A produção das chitas brasileiras foi, portanto, adiada por diversas imposições portuguesas.
Um episódio bem representativo foi quando a rainha Maria I (conhecida como "a louca")
assinou um alvará, em 1785, que proibia manufaturas no Brasil e ordenava desmontar e enviar
a Portugal qualquer tear que por estas terras estivesse.
Finalmente, os panos brasileiros
Na feitoria dos tecidos, o Brasil contribuía apenas
com o algodão. O algodão brasileiro chegou a
abastecer as indústrias inglesas e sua produção
se espalhou bastante pelo território da colônia.
Em Minas Gerais as manufaturas têxteis se
desenvolveram bastante, e os tecidos fabricados
eram tão bons que chegavam a ser enviados a
outras capitanias. Essa ânsia de independência
preocupou muito os portugueses, mas os
mineiros, apesar do alvará proibitivo da rainha
Maria I, continuaram tecendo, ainda que
clandestinamente.
No entanto, com o domínio de Napoleão na
Europa, a família real portuguesa foi obrigada a
fugir ao Brasil. Junto com ela, veio a permissão
de produzir tecidos aqui, afinal, o Brasil agora era
a capital do império. Os tecidos manufaturados
em território brasileiro eram estampados com
carimbos, em instituições chamadas de
"chitarias". O desenvolvimento industrial ainda demoraria um pouco, mas o primeiro passo
estava dado.
Tecido do povo
A industrialização do Brasil atraiu mais gente ao Novo Mundo. Colonizadores europeus eram
convocados para suprir a demanda de mão de obra para construção de usinas, ferrovias, ou
até mesmo para trabalhar na lavoura. No entanto, os imigrantes gostavam de vestir as roupas
vindas de seus países de origem, ainda que não fossem adequadas ao clima brasileiro. A chita,
portanto, era usada apenas pela classe mais pobre: ex-escravos, populações rurais ou errantes.
Em 1872 foi fundada a Companhia de Fiação e Tecidos Cedro & Cachoeira, em Curvelo, Minas
Gerais. Foi a primeira grande indústria dedicada a produzir chita no Brasil, e embora continue
em funcionamento, deixou de produzir
chitas em 1973.
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