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Jacques-Antoine Malarewicz
PAI — Tudo! É como se não vivesse mais lá em casa, salvo com o irmãozinho…
aproxima-se dele desde há algumas semanas… mas de qualquer forma têm oito anos
de diferença e eu penso que isso é um pouco estranho… Para além do mais, os
professores convocaram-nos, eles também estão preocupados porque os resultados
são fracos… é possível que repita o ano…
BERNARD — …
PAI — Ora aí está, é sempre assim… nem responde quando lhe fazem uma pergunta…
é o que lhe dizia… um verdadeiro túmulo… é assim desde há várias semanas… não se
lhe consegue sacar nada…
TERAPEUTA (dirigindo-se a Bernard) — Será que o teu pai pode explicar-me o que se
passa?
BERNARD — …
BERNARD — Sim…
Bernard testa-me. Tem necessidade de saber – o que é totalmente legítimo – de que
lado estou: do seu ou do lado do pai. Mas tenho que lhe mostrar que continuo dono
do jogo e que ele não pode decidir tudo. Então, proponho-lhe um compromisso.
TERAPEUTA — Concordo, mas antes quero falar com o teu pai em privado… Podes
deixar-nos sozinhos durante alguns instantes? (Bernard sai da sala depois de ter
hesitado um pouco.)
PAI — Sim e… não. De facto, parece-me que ele tem… digamos… problemas desde há
alguns meses… sobretudo depois do seu último aniversário, de ter completado
dezasseis anos…
TERAPEUTA — Problemas?
PAI — Sim, tenho a impressão de que ele tem medo de tudo… não quer ver ninguém,
nem os amigos mais próximos. Evita-os sistematicamente.
PAI — Mas mesmo que seja isso… Não há nenhuma razão… tem tudo o que necessita…
É sempre difícil passar de uma explicação clínica, que o pai vem buscar, à compreensão
relacional da atitude de Bernard. Tal não significa que não haja explicação clínica. Só
que, enquanto terapeuta familiar, não posso contentar-me em receitar –
eventualmente – um ou mais medicamentos. Durante esta consulta com o pai, tentei
dar-lhe uma outra perspectiva das dificuldades do seu filho.
TERAPEUTA — Será que pode estar inquieto pelo senhor ou pela mãe?
PAI — Se a minha mulher estivesse aqui, diria provavelmente que Bernard foi muito
afectado por um pequeno problema de saúde que eu tive há alguns meses.
Em seguida observei Bernard a sós, como ele desejava. Só que a maior parte do tempo
ficou entrincheirado no seu silêncio e ficámos pelas banalidades. Não quis falar-lhe
demasiado rapidamente das inquietações que ele podia ter em relação ao estado de
saúde do pai e da ligação que podia ser feita com os seus problemas. Pareceu-me que
cabia aos pais fazê-lo, sobretudo ao pai.
Vi os pais várias vezes para os ajudar a falar de tudo isso, primeiro entre eles, em
seguida com os dois filhos. A mãe estava muito angustiada, mas não ousava
demonstrar ao marido a sua angústia, com medo de agravar o estado de saúde do
coração do marido. Cada um refugiou-se nas suas próprias apreensões em relação ao
futuro.