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As crianças e a televisão – o papel dos pais

Texto: Teresa Paula Marques


Psicóloga Clínica/ Psicoterapeuta

As crianças e a televisão
Os efeitos nocivos da televisão podem ser evitados se os pais dialogarem com as
crianças acerca dos programas e anúncios assistidos

Todos concordamos quanto ao facto de que a televisão entretém, informa e


acompanha as crianças, mas também pode exercer influências indesejáveis. Basta
pensarmos que o tempo passado frente à televisão acaba por ser subtraído a muitas
actividades importantes, tais como a leitura, os trabalhos da escola, os jogos, a
interacção com a família e o desenvolvimento psicossocial. As crianças podem
aprender coisas que são inapropriadas ou incorrectas, pois ainda não conseguem
diferenciar a fantasia – que lhes é apresentada na televisão – da realidade.

Mas os problemas não se circunscrevem somente aos programas, estendem-se até às


centenas de anúncios, muitos dos quais induzem a hábitos de alimentação pouco
saudáveis, difundem estilos de vida que associam a posse de bens supérfluos como
factores de sucesso, alegria e bem-estar.

A violência dos desenhos animados

Crianças e jovens impressionáveis podem assumir que aquilo que se vê na televisão é


normal, seguro e aceitável. Nesse sentido, uma mensagem preocupante que a
televisão nos transmite é a de que a violência é aceitável e até pode ser divertida. O
mais perigoso disto tudo é que uma cena que dura apenas alguns segundos –
transmitida numa pequena parte de um programa – pode ser recordada a longo prazo,
mais do que qualquer outra cena da história. A violência possui uma mensagem muito
eficaz e, frequentemente, produz um efeito directo.

Geralmente as crianças começam aos dois anos a ver desenhos animados. As mais
novas vêem-nos porque eles estão construídos de forma a facilitar o seu
entendimento. Cada acção é sublinhada por efeitos sonoros particulares, que visam
ajudar a sua compreensão e captar as atenções e, como a capacidade de atenção das
crianças ainda é muito deficitária, os códigos sonoros vêm ajudá-las a manterem-se
atentas.

Devido a limitações cognitivas, as crianças captam apenas parte do que vêem. Não
conseguem ainda compreender uma boa fatia das motivações e intenções das
diferentes personagens, nem são capazes de fazer deduções ou de compreender o que
está implícito. Por exemplo, quando assistem a cenas de violência, é provável que
concluam que o mais forte é que tem sempre a razão.

Influência da TV no comportamento infantil

A partir dos anos 60, foram realizadas centenas de pesquisas e todos os resultados
convergem para conclusão de que as crianças que vêem muita televisão são mais
agressivas. Assistir a cenas de violência não afecta apenas o comportamento, mas
também altera as suas crenças e valores.

Constata-se a existência de crianças que se tornaram dessensibilizadas à violência


física, ou seja, começaram a desenvolver uma tolerância a esse tipo de violência, pelo
que precisarão de cada vez mais doses de violência para estarem entretidas.

Albert Bandura, um famoso psicólogo canadiano, efectuou pesquisas nas quais


demonstrou que as personagens atractivas têm mais probabilidade de funcionar como
modelos, isto é, que tendemos a ficar atraídos e a seguirmos o padrão de
comportamento de um herói quando este possui características sócio-demográficas
semelhantes às nossas. Assim, se existir uma identificação dos espectadores com as
personagens, está aberto o caminho para a desinibição da agressividade.

O mesmo investigador veio também mostrar claramente que as crianças aprendem


através da observação do comportamento dos outros. Na sua famosa experiência,
Bandura apresenta um boneco a uma criança e primeiramente esta não tem quaisquer
atitudes hostis para com ele. Porém, após observar um adulto a agredir o boneco,
assiste-se a uma mudança radical no comportamento da criança e ela também passa a
agredi-lo.

O PAPEL DOS PAIS


Os pais desempenham um importante papel neste contexto. Atitudes como as que
descrevemos de seguida podem transformar positivamente às experiências da
televisão:

• Assistir aos programas com os filhos, aproveitando ocasiões propícias para discutir o
conteúdo do que é visto, bem como daquilo que é veiculado pela publicidade.

• Estabelecer o horário de estudo, não permitindo a realização de tarefas escolares


com a televisão ligada.

• Desligar a televisão quando os programas parecerem inadequados.

• Escolher os programas adequados para o nível de desenvolvimento da criança.


• Limitar o tempo que é passado em frente à televisão.

• Estabelecer como regra incontornável que a hora das refeições deve ser um
momento de conversa entre a família, abolindo a televisão.

Tempo gasto a ver televisão


AS CONCLUSÕES do estudo A Criança e a Televisão-Contributos para o Estudo da
Recepção (apresentado em Outubro pela investigadora Sónia Carrilho como tese de
mestrado na Universidade Católica de Lisboa) mostram que a média portuguesa se
situa cerca de 80 minutos acima das 3,2 horas indicadas no relatório do Eurostat de
2001. As crianças e jovens portugueses com idades entre os 10 e os 16 anos passam
cerca de 4,5 horas/dia a ver televisão, um valor que aos fins-de-semana sobre para 7,5
horas/dia.
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