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SOBRE AS CRIANÇAS-PLANTA:
O CUIDAR E O SEDUZIR
NO PARENTESCO JARAWARA
Fabiana Maizza
Casar e “remendar”
casará com a filha do kokô (“sogro”) dele, citando o nome de um dos irmãos
da mãe do menino. A posição dos filhos dos irmãos dos pais, os “primos
cruzados bilaterais”, é a mais desejada para a realização de casamentos
“bonitos”/“certos” (amosákê), sobretudo no discurso das pessoas que, ao
falarem de suas próprias uniões, por exemplo, dão ênfase ao fato de terem
se casado com uma prima cruzada, se este tiver sido o caso. Mas os matri-
mônios com as primas cruzadas bilaterais seriam tão amosákê, “bonitos”
(ou tão “prescritivos”...) quanto casar com uma afim distante ou com uma
“consanguínea” distante, transformada em “afim” (Maizza 2012:158). Isto
nos lembra o que Viveiros de Castro (1996b) denominou de “dravidianato
concêntrico”, em que o autor sugere que nas sociedades amazônicas existiria
uma afinização dos parentes distantes, sobretudo para fins matrimoniais.
Casar-se de forma “bonita” (amosákê) é uma preocupação de todos,
sobretudo das mães com filhos em idade de se casar. Há um medo latente,
eu diria, de as pessoas se casarem de forma “feia/errada” (amosákêre), ou
seja, com alguém que elas chamariam de “irmão” (ayo, niso) ou de “irmã”
(ati, asima), um parente paralelo da mesma geração em termos dravidia-
nos. Ou então com pessoas de uma geração diferente da delas, a quem
elas chamariam de “tio” (abisê)/“tia” (amisê), “sogro” (kokô)/“sogra” (asô),
“filho”/“filha” (isini/ bese) ou “sobrinho”/“sobrinha” (bitimi) (ver Maizza
2012:116-117 para detalhes terminológicos).
Um casamento “errado” normalmente só é nomeado deste modo por
outras pessoas, não pelos próprios cônjuges. Estes, no momento em que se
casam, “remendam”. Remendar é a expressão utilizada em português pelos
Jarawara para traduzir o namosá neste contexto. Ela aponta para o fato de que
os cônjuges transformam a maneira vocativa com que se referem ao esposo e
também a alguns de seus parentes. No entanto, não vemos aqui, como nos Piaroa
descritos por Overing (1975), entre outros, o uso de tecnonímios para “apagar”
a afinidade, por exemplo, pelas mulheres se referindo aos cônjuges como “pai
do meu filho”. As pessoas parecem preferir transformar, namosá, em vez de
“mascarar”. Aquilo que os Jarawara chamam de “remendo” remete ao que
ficou conhecido na literatura antropológica com o nome de “reclassificações”.
Para Lévi-Strauss (1949), as reclassificações seriam uma das características que
definiriam os sistemas prescritivos, ou estruturas elementares, em que todos
os casamentos, mesmo os que não se encaixariam na regra prescritiva, seriam
descritos pelas pessoas como se se encaixassem. A divisão entre sistemas ele-
mentares e complexos foi problematizada ao longo dos anos (Viveiros de Castro
1996b; Taylor 1998), o que nos faz requestionar a própria ideia de prescrição
matrimonial. Vejamos mais de perto um exemplo de “remendo”, para pensar o
que poderia ser o casamento em um “sistema prescritivo”, como o dos Jarawara.
SOBRE AS CRIANÇAS-PLANTA 495
Koria
Amoru
Koria
Poderíamos dizer que Saka, Moka e Koria “subiram” Iza uma geração,
para que sua filha se tornasse da mesma geração que o homem com quem se
casou. O que demorei a saber, no entanto, é que essa mudança tinha um de-
talhe importante: Amoru e Janoa, ambas do grupo Wayafi, tinham um vínculo
entre si quando chegaram fugidas à aldeia Casa Nova: a mãe de Janoa, faleci-
da, era “irmã” (asima) de Amoru. Por isso, quando Saka se casou com Maria,
ele o fez com uma prima cruzada, como pode ser visto no diagrama 2. Aqui,
o casamento da filha de Amoru com Ware é que seria “errado” (amosákêre).
Ware, sua esposa, e seu cunhado (não casado) não fizeram as transformações
e continuam a chamar Iza da forma como a chamavam antes.
Este exemplo reflete a dificuldade, ou mesmo a impossibilidade, de
desenhar uma árvore genealógica única e “neutra” para algo que poderia
ser visto como “o grupo Jarawara”. Vemos que não existe uma única pos-
sibilidade, muito menos estática, e sim relações que se transformam e se
atualizam: um desenho não pode ser mais do que um ponto de vista em um
dado momento ou uma cristalização momentânea (Lima 2005).
As pessoas raramente voltam ao vínculo entre as mulheres wayafi para
explicar as relações atuais; parece-me que, uma vez feita a mudança, não
há mais a necessidade de justificá-la ou falar sobre ela. Por outro lado, a
SOBRE AS CRIANÇAS-PLANTA 497
forma como os dois irmãos, Koria e Ware, se referem à Iza reflete algo sobre
a proximidade entre as pessoas. Koria é solteiro e vizinho de casa de Moka.
Este se casou com duas de suas irmãs, teve diversos filhos, alguns são criados
por Koria e por suas outras irmãs solteiras que moram com ele. Moka, Koria
e as mulheres, que são esposas de um e irmãs de outro, dividem espaços,
trabalham e se alimentam juntos, formando um dos núcleos de convivência
da aldeia. Como descreveu Joana Overing para os Piaroa (1993:206), os atos
diários, como estar perto, cuidar, alimentar e trabalhar juntos, são aqueles
que nos falam sobre a proximidade das pessoas, sobre os parentes. Isto
explicaria porque Koria e suas irmãs transformaram Iza em amisê. Koria se
lembra do dia em que isso ocorreu, dizendo que primeiro seu coração parou
e depois teve muitas “dores de cabeça” (tati komá), o que apontaria para um
estado corporal do namosá e nos lembra as descrições de Coelho de Souza
(2004:43; 45) sobre os Timbira, nas quais a autora diz que o parentesco é um
processo medido pelo sucesso de fabricação de corpos assemelhados. Seria
quase como se, ao transformar a forma vocativa como se referia à Iza, Koria
estivesse transformando seu corpo como em uma mudança de perspectiva
(Viveiros de Castro 1996).
Já Ware mora em outra parte da aldeia, com seu cunhado João, irmão da
sua esposa, seu vizinho de casa. Ware, seus filhos, genros, netos e cunhado
(João) formam um núcleo separado de pessoas que se relacionam e convivem
no dia a dia. Ware e João dizem que o Saka “está perdido”, casou errado, de
forma amosákêre. Os filhos de Ware se casaram levando em consideração
as posições que aparecem no primeiro diagrama. Os filhos de Saka, as que
aparecem no segundo. Os filhos de Moka, ainda solteiros, oscilam entre as
duas possibilidades. Como sugeriu Viveiros de Castro, a posição dos primos
cruzados estaria mais para um “valor zero”, o importante seria a “presença de
uma oposição não neutralizável em G+1: a oposição entre consanguíneos e
afins resultante da troca simétrica que teve lugar na geração imediatamente
anterior à de Ego [...]” (1996b:83, grifos do autor).
Strathern, ao falar de atividades políticas e rituais na Melanésia, sugere
que “apenas efeitos validam procedimentos” (only effects validates procedu-
res) (1988:186): é pelo efeito ritual que as pessoas de Hagen saberiam se ele
foi feito da maneira como deveria ter sido. Poderíamos seguir essa diretriz
para pensarmos os casamentos jarawara. É como se devêssemos esperar os
casamentos da geração seguinte (G-1) para saber se o “remendo” de um
casamento surtiu o efeito desejado — transformar um tipo de relação em
outra. Em um grupo de apenas 200 pessoas que se casam entre si há anos,
todos estão vinculados de inúmeras maneiras. As transformações poderiam
ser vistas só como possibilidades que já estavam em algum lugar no meio
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Pais de criação
Pais de criação
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qt
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MZ FB FZ MM MB FW
ninguém mais, e só o fazia porque gostava dele — o que nos faz pensar na
domesticação como uma mistura de “coerção” e “sedução” (Taylor 2000:314).
Entre os Paumari, Bonilla fala de filhos “adotivos”, que seriam empre-
gados de seus pais (Bonilla 2005:48), a “adoção” sendo um meio de paci-
ficação do Outro, como se observa em um relato sobre uma criança que foi
criada pelos inimigos Joima, e anos depois salva seus parentes paumari da
agressão deles (:53-54). A autora igualmente vincula à “adoção” o tempo
passado pelos jovens paumari com seus patrões em suas adolescências
(:45). Neste último caso, Bonilla (2007:338) fala de crianças “adotivas”
como sinônimo de “afilhados”. Entre os Paumari, parece que a criação se
aproximaria de uma mistura de nossa ideia de adoção e apadrinhamento e
lembraria a domesticação de animais, tal como descrita acima. A “adoção”
paumari seria, assim, uma forma de se colocar em posição de presa para
“controlar” a relação com um predador, como várias outras formas discu-
tidas por Bonilla (2007). Entre os Jarawara, ser pai/mãe de criação, como
vimos, significa criar o filho de uma pessoa muito próxima e conhecida, em
80% dos casos, o(a) filho(a) de um irmão ou uma irmã. O nayaná nos fala,
assim, sobre relações de proximidade, de convivência, de cuidado mais do
que sobre relações de predação. No entanto, a possibilidade de ser criado
por outro tipo de gente, como relata Bonilla, não fugiria completamente à
lógica das criações jarawara, o que retomarei no final do ensaio.
Nayaná, “criar”, remete a um conjunto de ações que incluem o dar
banho, alimentar, vestir, pôr na rede para dormir, educar, comprar roupa na
cidade. A pessoa que cria ensina suas atividades a seus filhos do mesmo
gênero: as meninas aprendem com suas mães a cozinhar, a lavar roupa, a
fazer artefatos; enquanto os meninos aprendem com seus pais a pescar, a
caçar, a fabricar flechas, a construir casas e a abrir roçados. O aprendizado
se dá pela observação e participação; os pais levam seus filhos pequenos
às suas tarefas diárias para ensinar-lhes, e estes aprendem gradualmente.
Em contrapartida, a criança ajuda seus pais ao adquirir o conhecimento.
Foi-me dito que o processo de criar dura somente a infância e que, com
aproximadamente 13 anos, a pessoa estaria criada, o que não significa que
o carinho e a atenção tenham terminado, mas apenas que, de alguma forma,
ela precisa de menos cuidados de seus pais.
O nayaná não rima com abandono, mas sim com “cuidado” (narifá) e
“sedução” (nofá). Não seria a mãe que renunciaria a seu filho esperando que
alguém cuidasse dele em seu lugar, mas sim o filho que se deixaria seduzir
por outra pessoa, que comprovasse, por meio de ações, que cuidaria bem
dele. A criança escolhe os “pais de criação” por um processo de aproximação
e costume. Quando a criança é ainda pequena, com poucos meses, os “pais
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As crianças-planta
Fatará
sexo que seus pais, seus “tios paralelos” (MZ, amisê ou FB, abisê), ou então
pelos irmãos de sexo oposto ao de seus pais, seus “tios cruzados” (MB, kokô
ou FZ, asô), gente-planta. Estes tios podem também ser almas de humanos
que morreram, filhos do xamã ou filhos de outras pessoas da aldeia. Estas
duas possibilidades podem ser expressas de forma inversa pelas pessoas, que
não sabem bem ao certo o que acontece no nemê: “criou meu filho, é meu
irmão”. Finalmente, há a possibilidade de a criança-planta ser criada por seu
irmão-planta mais velho (ayo, homem ou ati, mulher), ou seja, pela alma de
outra planta do roçado da pessoa que o cultivou. No nemê, o nayaná (“criar”)
abarcaria também cuidado, atenção, educação, carinho, sedução. Na Terra,
as pessoas continuam cuidando de seus roçados, olham, conversam com as
plantas. Talvez pudéssemos pensar o cuidado com os roçados como uma forma
de cuidado com os filhos-planta, que estão sendo criados por outros pais no
nemê — da mesma forma que os pais yokaná se preocupam e cuidam de seus
filhos que estão sendo criados por outras pessoas, normalmente seus irmãos.
Nemêyá
alma criança que seria facilmente criada por um casal, pois estaria na fase
em que pode ser cuidada. Uma pessoa que morresse ainda jovem ou adulta
já estaria criada e teria que se casar para se inserir no nemê. Uma planta
antiga e grande teria uma alma velha. Uma pessoa boté precisaria rejuve-
nescer para casar.
Como mencionado, as coisas e as pessoas novas (yati) são considera-
das bonitas. Já as velhas e antigas (boté) são vistas como feias, precisando
ser substituídas, renovadas. O mesmo parece ser verdade para o contraste
jovem/velho, sobretudo no nemê. Uma alma velha precisa rejuvenescer, e
aqui o verbo utilizado é o namosá, que indica uma limpeza mas também
um embelezamento. Parece-me, igualmente, que na velhice as pessoas
perdem força e que o rejuvenescimento remete também a voltar a ter força.
O namosá no nemê nos diz algo muito comum na vida cotidiana da aldeia:
ninguém quer/gosta/seduz (nofá) o que ou quem é velho. Se a alma velha
não rejuvenescesse, provavelmente não conseguiria se casar com uma linda
e jovem pessoa-planta.
A sedução
“Cuidado, quando a alma do seu avô chegar, ela vai matar vocês” — o xamã
falou (para as almas de tingui).
“Não, a alma do nosso avô não vai matar a gente, a gente vai cuidar (kakatomá)
dela” — eles falaram.
lidade da sedução” que faz com que os Jarawara se casem, criem filhos,
vivam juntos, queiram deixar “tudo bonito”, é essa mesma socialidade que
permite que eles sejam seduzidos por outros tipos de seres. Se o parentesco
jarawara fosse um movimento, seria um movimento de sedução. Se ele fosse
um domínio, seria aquele em que “cônjuges”, “filhos”, “plantas” e “mortos”
seriam termos privilegiados para pensarmos os outros, ou “metáforas que
participam umas nas outras” (Strathern 1988:188, tradução livre).
***
Notas
1
Este artigo é fruto de um diálogo com as pessoas da aldeia Casa Nova, feito a
partir de viagens subsidiadas, respectivamente, pelo CNPq (durante meu doutora-
do), pela bolsa de terrain Legs Lelong (CNRS/ França) e pela Fapesp, instituições às
quais eu agradeço. Também agradeço a Uirá Garcia pela minuciosa leitura e pelos
inúmeros comentários ao texto. A Laura Rival por sua generosidade em discutir este
ensaio comigo, assim como a Marta Amoroso, Márcio Silva e Joana Cabral de Oli-
veira. Agradeço também a Tânia Stolze Lima e a Renato Sztutman pela oportunidade
de participar do Grupo de Trabalho de Etnologia Indígena do 37˚ Encontro Anual
da Anpocs e por seus instigantes comentários, assim como pelos comentários de
Els Lagrou e Elvira Belaunde na mesma ocasião. Finalmente, agradeço a Márcio
Goldman e Karen Shiratori pelo convite para apresentar este ensaio no NAnSi (Museu
Nacional/ UFRJ) e pelas sugestões de todos os presentes.
2
Procurarei escrever as palavras na língua jarawara da forma como são pronun-
ciadas, por isso utilizarei os acentos, que os Jarawara não usam ao escrever.
3
Existiria uma divisão no mundo jarawara entre a Terra e “algo acima da Ter-
ra”, que seria como uma “camada superior”, um “céu”, denominado nemê. O xamã
teria acesso ao nemê, da mesma forma que os habitantes lá de cima desceriam
regularmente para visitar o pajé. Peço gentilmente ao leitor e à leitora que guar-
dem a palavra nemê, pois a utilizarei ao longo do ensaio, raramente voltando a
traduzi-la.
4
Anos depois dessa história, sonhei com uma “alma de tingui” (kona abono) que
batia à porta de minha casa. Ela era um homem alto, com uma cabeça relativamente
grande. Foi assim que consegui, enfim, entender e visualizar as plantas como gente,
por mais que soubesse isso de forma abstrata.
5
Utilizo a notação inglesa para as posições genealógicas: F para pai (father),
M para mãe (mother) etc. Para quem fala português, é mais simples ler indo da direita
para a esquerda, assim, FBD, por exemplo, é a “filha (D) do irmão (B) do pai (F)”.
6
Para um trabalho recente sobre o parentesco deni, ver Florido (2013).
7
Mudarei alguns nomes e reduzirei outros, por se tratar de um assunto delicado
para as pessoas.
8
Deve-se levar em conta que em dois casos os pais de criação são simultanea-
mente a irmã da mãe (MZ) e o irmão do pai (FB). Em três casos, os irmãos do pai (FB
e FZ) criam juntos a criança sem serem casados; o caso da esposa do pai aqui citado
se refere ao novo cônjuge do pai; e, finalmente, esclareço que, nos casos colaterais,
assumi a relação como equivalente à relação não colateral, por exemplo, considerei
a prima paralela do pai (FMZD) irmã do pai (FZ).
SOBRE AS CRIANÇAS-PLANTA 515
9
Utilizei a tabela “Junções” do programa MaqPar (Máquina de Parentesco),
concebida por Márcio Silva e João DalPoz, para verificar algumas relações da ta-
bela. Agradeço também a Klaus Hamberger por sua ajuda no Atelier d’initiation au
traitement informatique de la parenté 2013 (EHESS, Paris).
10
No entanto, não se deve confundir aqui com os pais de criação ou pais
adotivos dos Apinayé, que são também idealmente os irmãos de mesmo sexo de
um dos pais (DaMatta 1976:118). O autor afirma que a paternidade biológica tem
uma função distinta da paternidade social, encarnada pelos pais adotivos (:119),
que são as “pontes” entre os pais biológicos e os nominadores de uma criança
(:121-122). Coelho de Souza (2004) fez uma releitura das ideias de DaMatta, que
não retomarei aqui, mas que apontam para o fato de que as relações de substância
seriam também construídas.
11
É preciso assinalar, no entanto, que os moradores do nemê são em sua maio-
ria almas de plantas, mas não só. Existem também almas de facas/coisas de ferro e
outras, que não discuto neste ensaio.
12
Em um primeiro trabalho sobre este tema (Maizza 2012), afirmei que estas
seriam clones. No entanto, Rival (2001:76) mostra que a própria ideia de clonagem
deve ser repensada quando falamos de povos amazônicos. Hoje, tenho tendência a
concordar com esta autora.
13
Para mais comparações com o post-mortem dos grupos Arawá, ver Maizza
(2012, capítulo 1); para uma análise recente sobre o destino póstumo Zuruahá, ver
Suarez (2014).
Nas mesmas linhas, Cohn (2000:83) afirma que a alma de uma criança xikrin
14
15
A este propósito, Rival (2009:62) afirma que, entre os Huaorani, as plantas
são nomeadas contextualmente de acordo com seu rebroto e estatuto de maturação
e desenvolvimento físico.
516 SOBRE AS CRIANÇAS-PLANTA
Referências bibliográficas
Resumo Abstract
As almas das plantas cultivadas pelos The souls of plants cultivated by the Ja-
Jarawara saem de seus corpos quando rawara come out of the bodies when they
pequenas e são criadas em aldeias no are young. They are nurtured in villages at
nemê, “camada superior ”, mas seriam the nemê, the upper layer, although they
filhas das pessoas que as cultivaram. are the children of those who cultivate
O artigo propõe pensar o parentesco them. The article reflects on Jarawara
jarawara a partir das relações entre hu- kinship through the relations between
manos e plantas em diálogo com as ideias humans and plants, in dialogue with the
de “pais de criação” e casamento. O fio ideas of “nurturing parents” and marriage.
condutor é o conceito namosá, uma for- Throughout the article, I focus on the con-
ma de embelezar, consertar, transformar, cept of the namosá, a way to embellish,
rejuvenescer as relações e o cotidiano, ou repair, transform and renew relations and
uma estética do viver que se entrelaça everyday life, or an aesthetic of living that
com cuidado e sedução. blends with care and seduction.
Palavras-chave Crianças, Plantas, Casa- Key words Children, Plants, Marriage,
mento, Parentesco, Jarawara. Kinship, Jarawara.