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ASSESSORIA DE IMPRENSA

Seleção Diária da Imprensa Nacional


Sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

VENEZUELA 3
O Globo – Itamaraty diz que Venezuela não deu informações sobre brasileiro preso 3
O Globo – Venezuela ignora pedido de informações sobre brasileiro 4
O Estado de S. Paulo – Itamaraty não sabe onde está brasileiro preso na Venezuela 4
Folha de S. Paulo – Itamaraty considera desaparecido brasileiro que chavismo diz ter detido 5
Folha de S. Paulo – Ideia de ação militar na Venezuela é 'delírio', diz chanceler brasileiro 6
Folha de S. Paulo – Intervenção de forças estrangeiras na Venezuela seria péssima ideia / Artigo / Sean
W. Burges e Fabrício Chagas Bastos 7
O Estado de S. Paulo – Opositores são alvo de governo 9

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 9


Portal UOL – Brasil desperdiça chance de liderança diante do provincianismo de Trump, diz Celso
Amorim 9

AMÉRICA DO SUL 13
Folha de S. Paulo – Referendo no Equador oficializará ruptura entre Correa e sucessor 13
O Estado de S. Paulo – Ministro se demite e aprofunda crise no país 15

ESTADOS UNIDOS 15
Folha de S. Paulo – Frio intenso no leste dos EUA cancela voos e suspende aulas 15
Folha de S. Paulo – Trump ameaça processar editora de livro sobre Casa Branca 16
Folha de S. Paulo – Governo Trump muda norma jurídica e aperta cerco à maconha nos EUA 17
O Globo – EUA: Legisladores consultaram psiquiatra sobre saúde mental de Trump 17

EUROPA 18
Folha de S. Paulo – Macron propõe lei na França contra disseminação de notícias falsas 18
Folha de S. Paulo – Primavera de Praga, iniciada há 50 anos, ainda inspira resistência pacífica 19

ÁSIA 20
O Globo – Nova revolução iraniana não chegou ainda / Artigo / Rasheed Abou–Alsamh 20

ORIENTE MÉDIO 22
Folha de S. Paulo – Jerusalém, 30 dias depois / Artigo / Jorge Zaverucha 22

TEMAS CONSULARES E MIGRATÓRIOS 23


O Globo – Livre mas sem poder sair da Ucrânia 23
O Estado de S. Paulo – PCC recruta venezuelanos em penitenciária de Roraima 23

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL 25


O Estado de S. Paulo – Sem super IPI, importadores esperam vender 35% mais 25

ASSUNTOS FINANCEIROS E INVESTIMENTOS 25


Valor Econômico – Bolsa fecha acima de 78 mil pontos pela 1ª vez 25
O Estado de S. Paulo – Bolsa sobe pelo nono pregão consecutivo e atinge novo recorde 26
O Estado de S. Paulo – Negócio de US$ 1 bi 27
MEIO AMBIENTE E ENERGIA 28
Folha de S. Paulo – Acordo da Petrobras beneficia mais de 1 milhão de aposentados 28
Folha de S. Paulo – Petrobras luta nos EUA para não virar 'empresa criminosa' 29
O Globo – Ação da Petrobras demora a se recuperar 30
Valor Econômico – EUA vão abrir águas para exploração de petróleo 31

EDITORIAIS 31
O Estado de S. Paulo – A ajuda aos municípios 31
O Estado de S. Paulo – A síndrome das 11 ilhas 32
O Estado de S. Paulo – O acordo da Petrobrás 33
O Estado de S. Paulo – Recuperação também no transporte aéreo 34
Folha de S. Paulo – Devaneio perigoso 35
Folha de S. Paulo – Recorde ocasional 36
O Globo – Privatização da Eletrobras não pode ser barganhada 36
O Globo – Briga entre Trump e Bannon pode ajudar investigação 37
Valor Econômico – Petrobras resolve problema nos EUA e cria outro no Brasil 38
Correio Braziliense – O piso salarial do magistério 39

OUTROS TEMAS 39
O Globo – Nasa apresenta missão para estudar ‘fronteira’ do espaço 39

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VENEZUELA

O Globo – Itamaraty diz que Venezuela não deu informações


sobre brasileiro preso
Ministério diz que autoridades têm mantido contato com a família de Jonatan Diniz

BRASÍLIA — O Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota divulgada nesta quinta–
feira, que as autoridades da Venezuela ainda não passaram informações sobre a situação
do brasileiro Jonatan Diniz, preso desde o dia 28 de dezembro em Caracas. O Itamaraty diz
que tem mantido contato a família do brasileiro.
De acordo com o ministério, o Consulado–Geral do Brasil em Caracas fez “reiterados
pedidos” de informações sobre a situação jurídica de Jonatan, mas as autoridades policias
não responderam. Já a embaixada do país na capital Venezuela entrou em contato com o
Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e com autoridades de segurança e recebeu
apenas uma “promessa de retorno”, mas não houve resposta.
A família do brasileiro aguarda na expectativa por notícias de Jonatan e está em contato
direto com o Itamaraty. Segundo Renata Diniz, mãe do jovem, o ministério informou que
solicitou uma visita para ver Jonatan pessoalmente e está aguardando parecer da
Venezuela. Ela falou com o filho pela última vez no dia 26 de dezembro, quando ele contou
ter participado de um Natal beneficente para 600 crianças.
— Todos estão sendo solidários e oferecendo ajuda no que for possível. Não tenho palavras
que expressem isso (a ansiedade por notícias). Toda vez que o telefone toca o coração
bate mais rápido. Sabemos que tudo é burocrático, principalmente fora do país quando se
precisa de outras pessoas. Somos conscientes de que tem um prazo, mas acredito que se
resolva o mais rápido possível — disse.
Jonatan, de 31 anos, mora nos Estados Unidos e viajou ao país sul–americano para fazer
trabalhos de caridade. O governo venezuelano acusa ele de dirigir uma ONG chamada Time
to Change the Earth, ques erviria de fachada para promover atividades contra o regime nas
redes sociais e nas ruas da Venezuela.
Na nota divulgada nesta quinta–feira, o Itamaraty reforça o pedido para que as
autoridades da Venezuela “respondam rapidamente aos diversos pedidos de informação
sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica, bem como de visita
consular”.
Confira a íntegra da nota do Ministério das Relações Exteriores:
“Desde que tomou conhecimento de declarações do militar e político venezuelano Diosdado
Cabello, em seu programa de televisão no dia 27 de dezembro, de que o cidadão brasileiro
Jonatan Moisés Diniz teria sido detido, o governo brasileiro procurou inúmeras vezes as
autoridades desse país, tanto em Brasília quanto em Caracas.
O Consulado–Geral do Brasil em Caracas entrou em contato com as autoridades policiais
venezuelanas expressando preocupação e pedindo informações sobre a presença do
cidadão brasileiro na Venezuela, bem como sua situação jurídica e autorização para visita
consular, nos termos da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, da qual os dois
países são signatários. Até o momento, as autoridades policiais não responderam, apesar
dos reiterados pedidos brasileiros, formalizados por notas diplomáticas.
Paralelamente, a Embaixada do Brasil em Caracas vem fazendo gestões contínuas junto ao
Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e às autoridades de segurança desse país,
em busca de mais informações sobre o paradeiro do nacional brasileiro. Até o momento,
apesar da promessa de retorno dos interlocutores, não houve resposta. Em Brasília,
instada a fazê–lo, a embaixada venezuelana tampouco prestou qualquer esclarecimento.
O Brasil solicita às autoridades da Venezuela que respondam rapidamente aos diversos
pedidos de informação sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica,
bem como de visita consular, cursados nos termos das convenções internacionais e de
acordo com as obrigações assumidas pelos dois países à luz do direito internacional.

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Tanto o consulado brasileiro em Caracas quanto o Itamaraty têm mantido contato com a
família de Jonatan Moisés Diniz.”

O Globo – Venezuela ignora pedido de informações sobre


brasileiro
Marta Szpacenkopf

Itamaraty ainda não sabe nada do paradeiro de Jonatan Diniz, preso no dia 28

RIO E BRASÍLIA – Uma semana após a detenção do brasileiro Jonatan Diniz, de 31 anos,
na Venezuela, o Ministério das Relações Exteriores ainda não recebeu informações do
governo venezuelano sobre a situação do jovem. Segundo uma nota do ministério, o
Consulado–Geral do Brasil em Caracas fez “reiterados pedidos” de informações sobre a
situação jurídica de Jonatan, mas as autoridades policiais não responderam. Já a
embaixada do país na capital entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores
da Venezuela e com autoridades de segurança e recebeu apenas uma “promessa de
retorno”. A família do brasileiro está na expectativa por notícias de Jonatan e em contato
direto com o Itamaraty. Segundo Renata Diniz, mãe do jovem, o ministério solicitou uma
visita para ver Jonatan pessoalmente e está aguardando parecer da Venezuela.
Ela falou com o filho pela última vez no dia 26 de dezembro, quando ele contou ter
participado de um Natal beneficente para 600 crianças. — Todos estão sendo solidários e
oferecendo ajuda no que for possível. Não tenho palavras que expressem isso (a ansiedade
por notícias). Toda vez que o telefone toca o coração bate mais rápido. Somos conscientes
de que há um prazo, mas acredito que se resolva o mais rapidamente possível — disse ao
GLOBO. Jonatan mora nos EUA e viajou ao país sul–americano para fazer trabalhos de
caridade, segundo Renata. Mas o governo venezuelano o acusa de dirigir a ONG Time to
Change the Earth, que serviria de fachada para promover atividades contra o regime na
internet e nas ruas da Venezuela. Ele foi detido no dia 28 de dezembro.

O Estado de S. Paulo – Itamaraty não sabe onde está brasileiro


preso na Venezuela
Ministério das Relações Exteriores reclama que governo chavista não dá informações sobre
Jonatan Diniz, detido em dezembro

Carla Araújo / BRASÍLIA

O Itamaraty desconhece o paradeiro do brasileiro Jonatan Moisés Diniz, preso desde 28 de


dezembro na Venezuela. O governo fez vários contatos com autoridades chavistas, mas
não obteve resposta, e admite não saber se Diniz está desaparecido ou se apenas tem sua
localização mantida em segredo. O brasileiro foi detido sob a acusação de promover
atividades contra o governo de Maduro.
O Itamaraty tenta localizar em vão, desde o dia 28, o brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de
31 anos, preso pelo governo da Venezuela. Segundo o ‘Estado’ apurou, o Brasil fez vários
contatos com autoridades chavistas, em tentativas que foram das esferas diplomáticas
mais básicas até conversas entre a cúpula das duas chancelarias.
Os pedidos de informação sobre o paradeiro do brasileiro não foram respondidos, o que
não permite saber se ele está desaparecido ou apenas tem sua localização mantida em
segredo pelo governo de Nicolás Maduro. Uma fonte no Serviço Bolivariano de Inteligência
Nacional (Sebin) também disse desconhecer o paradeiro dele.
Segundo nota divulgada pelo Itamaraty, até ontem, “apesar da promessa de retorno dos
interlocutores, não houve resposta”. “Em Brasília, instada a fazêlo,

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a embaixada venezuelana tampouco prestou qualquer esclarecimento”. O Brasil solicita na
nota às autoridades da Venezuela “que respondam rapidamente aos diversos pedidos de
informação sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica, bem como de
visita consular”.
Diniz foi detido sob a acusação
de promover atividades contra o governo de Maduro. Sua prisão foi anunciada por um dos
líderes do chavismo, Diosdado Cabello, conhecido pela forte ligação com o Exército, em seu
programa semanal de TV. O caso amplia a distância entre os dois governos, em uma
relação já abalada pela expulsão do embaixador Ruy Pereira pelo governo venezuelano. O
Brasil reagiu com a mesma medida.
Segundo a família do brasileiro, que vive em Balneário Camboriú (SC), Diniz estava na
Venezuela, no Estado de Vargas, ajudando crianças pobres. Ele mora na Califórnia, nos
EUA, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos. Em
suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há fotos dele distribuindo roupas e
alimentos. O brasileiro morava havia ao menos 4 anos em Los Angeles. Ele chegou a viver
em Caracas por dois meses, no início de 2017.
Em vídeos em sua conta no Instagram, Diniz aparece filmando colegas e afagando a
cabeça de crianças. Em novembro, ele começou a pedir doações para a ONG Time to
Change the World, um grupo que não tem site e cujas contas nas redes sociais têm menos
de dois meses.
Em postagem naquele mês, o jovem escreveu que a Time to Change the World “era um
ONG conectava todas as ONGs do mundo, espalhando comida, remédios, brinquedos e
uma nova e saudável filosofia”.
Cabello sugeriu que a CIA estaria envolvida nas supostas atividades do brasileiro. Segundo
ele, a ONG que Diniz lidera entrega alimentos e itens básicos a moradores de rua para
obter financiamento para grupos que o governo venezuelano qualifica como terroristas.
Segundo o Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Caracas “vem fazendo gestões contínuas
junto ao Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e às autoridades de segurança do
país, em busca de mais informações sobre o paradeiro do nacional brasileiro”. O governo
brasileiro diz ainda que “tanto o consulado em Caracas quanto o Itamaraty têm mantido
contato com a família de Jonatan”.
Foi quando viveu em Caracas, no início de 2017, que Diniz se envolveu mais
profundamente com a crise na Venezuela. A partir de então, ele se engajou nas causas
sociais locais. Em vários posts na internet ele pede para os venezuelanos “se levantarem”
contra Maduro.

Folha de S. Paulo – Itamaraty considera desaparecido brasileiro


que chavismo diz ter detido
BRUNO BOGHOSSIAN
DE BRASÍLIA

O Itamaraty considera desaparecido o brasileiro que o governo da Venezuela reivindica ter


prendido por suposta ligação com "organização criminosa", informou o ministério nesta
quinta (4).
O número dois do chavismo, Diosdado Cabello, afirmou em 27 de dezembro que o
catarinense Jonatan Moisés Diniz, 31, foi capturado com três venezuelanos no Estado de
Vargas, a norte de Caracas. Desde então, porém, o regime não comentou o caso.
Em nota, a Chancelaria brasileira afirmou que "procurou inúmeras vezes" as autoridades
venezuelanas em busca de informações sobre o paradeiro do catarinense.
"Até o momento, as autoridades policiais não responderam, apesar dos reiterados pedidos
brasileiros, formalizados por notas diplomáticas. A embaixada venezuelana tampouco
prestou qualquer esclarecimento."

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Integrantes do governo brasileiro afirmaram à Folha que o encarregado de negócios da
Venezuela em Brasília, Gerardo Delgado, alegou que não foi autorizado a dar informações
sobre Diniz.
O Ministério das Relações Exteriores solicitou a Caracas que revele a localização do
brasileiro e sua situação jurídica. O regime chavista não havia respondido até a publicação
deste texto.
Diniz morava em Los Angeles e estava havia 20 dias na Venezuela. No mesmo período,
pediu doações a seus seguidores nas redes sociais para comprar comida e brinquedos para
crianças e moradores de rua.
As ofertas eram pedidas também em nome de uma organização chamada Time to Change
the Earth, cuja única referência existente são páginas em redes sociais criadas em
novembro pelo brasileiro.
Para Cabello, a suposta ONG procurava obter "financiamento" e "procurar detectar
objetivos estratégicos". Também o acusou de trabalhar para a CIA baseando–se em sua
residência nos EUA.
Como prova para incriminá–lo, apresentou bonés da suposta entidade e postagens a favor
dos protestos contra Maduro, a maioria delas publicada entre maio e agosto, no auge das
manifestações.
Na mesma época, Diniz morava em Caracas. Pela lei, estrangeiros podem ser expulsos se
violarem a segurança da população, a ordem pública ou cometerem em delitos contra os
direitos humanos.
A Constituição determina que eles não têm direitos políticos, o que poderia ser estendido
também a protestos.

Folha de S. Paulo – Ideia de ação militar na Venezuela é 'delírio',


diz chanceler brasileiro
BRUNO BOGHOSSIAN
DE BRASÍLIA

O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse nesta quinta–feira (4) à Folha que
a ideia de realizar uma intervenção militar estrangeira na Venezuela para solucionar a crise
é "pura e simplesmente um delírio".
O chanceler fez uma crítica dura à ideia e descartou a participação do Brasil em qualquer
ação dessa natureza."Nem o surrealismo mais delirante poderia imaginar que o Conselho
de Segurança das Nações Unidas, com a Rússia e a China, vai aprovar uma intervenção",
afirmou.
Segundo o ministro, "por mais que esse cenário surrealista se concretize", não existe
hipótese de o governo brasileiro enviar tropas para participar da ação.
Aloysio Nunes disse que o debate, iniciado em artigo do economista venezuelano Ricardo
Hausmann, publicado pela Folha, beneficia o regime de Nicolás Maduro e prejudica a busca
pelo fim da crise institucional no país.
"[O debate] só ajuda Maduro e os setores mais radicais e mais refratários a qualquer tipo
de negociação no regime venezuelano."
O ministro criticou a proposta de Hausmann, que foi ministro do Planejamento em 1992 e
1993, no último mandato de Carlos Andrés Pérez. Hausmann, que hoje leciona na
Universidade Harvard, assumiu o cargo 20 dias depois da tentativa de golpe comandada
por Hugo Chávez contra o então presidente.
"É uma maravilha para essa gente [chavistas] que alguém, especialmente vindo do regime
pré–Chávez, diga que é preciso mobilizar uma força militar para derrubar Maduro. É sopa
no mel."
O chanceler se disse cético em relação às negociações para superar a crise na Venezuela,
mas afirmou que haverá mudanças no país.

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"Aquilo vai continuar, vai haver a deterioração. Pode durar mais ou menos tempo, mas não
tenho dúvida de que haverá mudanças. E não será a partir da intervenção de uma força
internacional."
Aloysio Nunes disse também que não há previsão de retorno do embaixador brasileiro a
Caracas, depois que o governo venezuelano ordenou a expulsão do diplomata, em 23 de
dezembro.
Em retaliação, o Brasil declarou persona non grata o encarregado de negócios da
Venezuela, Gerardo Antonio Delgado Maldonado.
"Eles tomaram a iniciativa e nós tomamos a iniciativa recíproca. Continuamos com relação
diplomática com a Venezuela, mas voltamos ao nível político anterior à ida do nosso
embaixador."

Folha de S. Paulo – Intervenção de forças estrangeiras na


Venezuela seria péssima ideia / Artigo / Sean W. Burges e
Fabrício Chagas Bastos
SEAN BURGES é professor de relações internacionais na Universidade Nacional Australiana
e professor visitante da Universidade Carleton.
FABRÍCIO CHAGAS BASTOS é pesquisador associado ao Centro de Estudos Latino–
Americanos da Universidade de Cambridge.

As intenções do professor Ricardo Hausman são boas, mas sua proposta de uma
intervenção militar para salvar a Venezuela do governo de Nicolás Maduro simplesmente
não vai virar realidade. E não funcionaria.
Para começo de conversa, a única maneira pela qual uma mudança de regime decorrente
de um ataque armado contra a Venezuela poderia ter êxito seria se as Forças Armadas dos
Estados Unidos liderassem os combates.
Deixando de lado por enquanto o fator Donald Trump, o legado de mais de um século de
ingerência direta e indireta dos EUA nos assuntos internos de quase todos os países nas
Américas significa que ninguém no continente vai tolerar uma invasão militar dirigida por
Washington.
Talvez um país latino–americano como o Brasil pudesse dirigir forças dos EUA, como
aconteceu com a força MOMEP, da ONU, que arbitrou o conflito entre Equador e Peru na
década de 1990.
De fato, isso seria coerente com os chamados por uma parceria regional maior lançados
pelo chefe do Comando Sul dos EUA, almirante da Marinha Kurt Tidd, em depoimento
perante o Congresso em abril de 2017.
Mas empreender exercícios de treinamento militar conjuntos na selva amazônica brasileira
é muito diferente de deixar uma potência estrangeira enviar tropas americanas à batalha e
alguns soldados, inevitavelmente, à morte. Também presume que Trump rejeitaria a
oportunidade de provar que é o maior líder militar na história americana —ou mundial
Mesmo assim, vamos presumir, como hipótese, que Trump decidisse ceder a liderança a
parceiros regionais, colocando todo o poderio das Forças Armadas americanas à sua
disposição. Quem nas Américas tem a capacidade de planejar e dirigir tal invasão?
Não queremos criticar a qualidade da liderança militar na região, mas sim observar que a
escala logística e estratégica de tal operação simplesmente estaria além do alcance da
experiência e dos programas de treinamento dos corpos de oficiais latino–americanos.
Um brasileiro, chileno, colombiano ou mexicano poderia ser o comandante titular, mas o
controle operacional e estratégico real estaria nas mãos das forças americanas e de
Washington. Em última análise, a proposta aventada por Hausmann apenas criaria mais
turbulência interna em um país já assolado por uma crise política e econômica que dura
anos.
SOBERANIA

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Mas essas não são as únicas razões por que o apelo de Hausmann por uma intervenção
armada provavelmente não será ouvido. A soberania é um princípio sacrossanto na
diplomacia latino–americana.
Os assuntos interamericanos são caracterizados comumente pelo bloqueio de precedentes
que pudessem permitir qualquer espécie de intervenção estrangeira futura em assuntos
nacionais.
De fato, basta considerar o fracasso do esforço da Organização de Estados Americanos
(OEA) para aplicar plenamente a Carta Democrática Interamericana no caso da Venezuela.
Hausmann procura se desviar da dificuldade com a soberania, sugerindo que a Assembleia
Nacional venezuelana promova o impeachment de Maduro e forme um novo governo que
poderia, então, convidar uma força libertadora estrangeira a entrar em ação. Isso seria
uma manobra técnica que não convenceria os diplomatas da região.
Não seria exagero visualizar isso sendo usado como precedente para chamados por
intervenção armada da próxima vez que ocorresse um desacordo importante entre o
Executivo e a Legislatura em outros países latino–americanos, como, dependendo do grau
de militância de cada um, a Bolívia contemporânea, o Brasil, Equador, Honduras ou
Nicarágua.
A crítica mais contundente à proposta de Hausmann talvez seja que ele deixa
completamente de levar em conta a história das intervenções armadas para impor a
democracia.
Como demonstram cabalmente as aventuras dos EUA no Oriente Médio, essas intervenções
simplesmente não funcionam. Os líderes latino–americanos sabem disso, e isso se reflete
no modo como promovem a democracia.
CORDA BAMBA
O regime político —autoritário ou democrático— de um país se baseia no equilíbrio
subjacente de poder social e econômico no país. O mal–estar atual na Venezuela reflete a
realidade de se caminhar sobre essa corda bamba política.
Quando o presidente Hugo Chávez tentou fazer uma revisão da Constituição, em 2007, o
eleitorado decidiu que essa revisão implicaria numa ampliação indevida do poder do
presidente, e a rejeitou.
Do mesmo modo, em 2015 os venezuelanos reagiram com inquietação à Presidência de
Maduro, dando à oposição uma vitória retumbante nas eleições parlamentares. Os freios e
contrapesos estavam em ação democrática.
As ambições do partido governista, o PSUV, foram limitadas, mas o partido continuou no
poder porque a oposição não ofereceu uma alternativa digna de crédito que pudesse
resolver os problemas enfrentados pela legião de pobres no país.
Além da aparente ausência de uma oposição digna de crédito na Venezuela, uma das
razões principais da sobrevivência política de Maduro é o controle rígido que seu regime
exerce sobre as Forças Armadas e a economia.
Hoje os interesses da elite estão indelevelmente vinculados ao controle total sobre o
Estado. A desestabilização dos interesses representados pelo pacto de Maduro com as
Forças Armadas poderia aprofundar a pobreza e potencialmente resultar numa guerra civil
catastrófica.
Novamente, a oposição não está apresentando nenhuma proposta clara para enfrentar
esse desafio, deixando a população com a opção de ficar com o diabo que ela conhece, e
não optar pelo inferno pior que poderia estar por vir.
Para os venezuelanos, isso aponta para um desastre ainda maior do que aquele que
Hausmann destacou. Parece não haver nenhuma opção digna de crédito para um governo
competente.
Mesmo que houvesse, os tecnocratas e burocratas necessários para fazer o país funcionar
ou já deixaram seus cargos ou foram expulsos deles, deixando no ar dúvidas reais quanto
à capacidade doméstica de reconstruir o país.
Some–se a isso o chamado lançado por Hausmann por uma intervenção armada para
restaurar a democracia, e o que se tem é uma receita para uma ocupação militar de longa
duração, que, convenientemente, poderia ser financiada pela maior reserva de petróleo do
mundo. Já vimos quão mal também isso funcionou no Oriente Médio.
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A tragédia venezuelana é altamente complexa e resiste a soluções simplistas.
Propor ideias que não se sustentam, como uma intervenção armada, desperdiça o tempo
valioso dos atores políticos que lidam com questões mais prementes, por exemplo, como
levar assistência humanitária à Venezuela e assegurar à elite nacional corrupta que ela
poderá deixar o país tranquilamente se arquitetar uma transição doméstica de volta à
governança representativa.
A tristeza e dor de Hausmann são compreensíveis e compartilhadas. Mas uma intervenção
atendendo a convite não é uma solução viável da crise da Venezuela.

O Estado de S. Paulo – Opositores são alvo de governo


O número exato de presos políticos na Venezuela é incerto. Na véspera do Natal, o governo
americano pediu a libertação de todos os “268 presos políticos” detidos no país, mesmo
número registrado pela ONG Foro Penal Venezolano. A maioria dos detidos (90) está em
prisão domiciliar. Nos comandos da Guarda Bolivariana, estão 78 presos e, nas instalações
do serviço secreto (Sebin), 70. O mais famoso preso político é o líder do partido Voluntad
Popular, Leopoldo López, detido em casa. No dia 25, o governo chavista libertou 52 dos 80
que seriam soltos após acordo com a oposição, o que colocaria o total em 216.

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

Portal UOL – Brasil desperdiça chance de liderança diante do


provincianismo de Trump, diz Celso Amorim
Eduardo Militão
Colaboração para o UOL, em Brasília

O Brasil perdeu protagonismo e liderança mundial nas relações comerciais e na mediação


de paz diante dos conflitos internacionais com o governo de Michel Temer (MDB). Ao
mesmo tempo, desperdiça a chance de ser uma liderança cultural e intelectual nas
Américas ocupando um vácuo deixado pelo EUA, cuja política de Donald Trump é não se
envolver em questões estrangeiras. Esta é a opinião de Celso Amorim, ex–chanceler nos
governos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Itamar Franco (PPS).
"Essa ausência de liderança, ou até de tentativa de liderança mundial, intelectual e cultural
tem até uma oportunidade desde que houvesse aqui uma liderança, mas não temos
nenhuma infelizmente", afirmou ele entrevista ao UOL, por telefone, de seu apartamento
em Copacabana, no Rio de Janeiro, onde mora.
"A voz internacional do Brasil hoje em dia é pouco mais que uma coisa esganiçada, não dá
para ouvir."
Aos 75 anos, Amorim está aposentado do Itamaraty, onde serviu por cerca de 50 anos,
começando antes do golpe militar de 1964. É autor do livro "Teerã, Ramalá e Doha:
memórias da política externa ativa e altiva" (Ed. Benvirá), com apresentação do ex–
secretário–geral da ONU Kofi Annan. Ele preside o conselho da organização da ONU para
pesquisa de medicamentos contra malária, tuberculose e Aids (Unitaid). Participa de
conselhos de um grupo contra crises internacionais e de fóruns de partidos socialistas.
Amorim foi ministro da Defesa no primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011–2014) e das
Relações Exteriores nos governos de Lula (2003–2010) e Itamar (1993–1994).

Veja os principais trechos da entrevista:

UOL – O senhor foi diplomata por mais de 50 anos, conhece boa parte do mundo. Como o
mundo enxerga esse Brasil de políticos às voltas com a Justiça hoje?
Amorim – Tem muita gente que não está preocupada. Tem muita gente que quer só
ganhar dinheiro. E se esse regime facilita investimentos e permite aquisições, como a da

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Embraer pela Boeing, eles estão pouco ligando. Agora, o que não tem, no país como está
hoje, é credibilidade. O Brasil não pode propor nada. Essa é uma opinião geral mesmo de
quem não estava de acordo com a nossa política externa.
É inegável que o Brasil tinha protagonismo. O Brasil criou a União Sul–americana de
Nações (Unasul), modificou o padrão de negociações na Organização Mundial do Comércio
(OMC), o [George W.] Bush [ex–presidente dos EUA] ligava imediatamente para o Lula
para propor a criação do G–20, criamos os Brics [comunidade formada pelo grupo de
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Nada disso hoje em dia existe.
Estamos totalmente sem liderança.
Veja a Venezuela [país em crise econômica e conflito civil com o presidente Nicolás
Maduro, que, acusado de corrupção, demitiu a procuradora–geral da República que o
investigava e reduziu os poderes do Congresso]. Estou repetindo as palavras do chanceler
[Aloysio Nunes Ferreira, senador pelo PSDB]: o Brasil não pode exercer nenhuma
mediação ou facilitação porque o Brasil tem partido. Isso é uma coisa inacreditável. É o
oposto do que, em 2003, o ex–presidente Lula criou o grupo de Amigos da Venezuela, teve
o referendo com observadores internacionais da OEA [Organização dos Estados
Americanos]. Claro que as situações vão evoluindo e talvez não fosse agora da mesma
maneira, mas foi possível encontrar uma maneira.

UOL – A Venezuela é uma ditadura?


Amorim – A questão é complexa. Certamente houve erros, mas os preços de petróleo
caíram de maneira brutal, o que permitia uma certa paz social na Venezuela, que tem
dependência total do petróleo. E há uma situação geral de boicote da maior potência do
mundo.

UOL – Mas o senhor considera a Venezuela uma democracia?


Amorim – Não estou falando isso. Mas também não considero o Brasil uma democracia.

UOL – O senhor não considera Venezuela e Brasil democracias?


Amorim – Democracias plenas não. Também nem sei onde há democracia plena. Há graus
de democracia. Lá, eles adotaram um outro caminho. Não estou defendendo, mas estou
explicando. Não é uma invenção do [Hugo] Chávez [ex–presidente da Venezuela, morto
em 2013] que houve um golpe de Estado patrocinado pelos EUA.
Frase do Millôr Fernandes: o fato de eu ser paranoico não quer dizer que não esteja sendo
perseguido. Eles tomam as medidas, que talvez não sejam as mais democráticas, mas eles
têm uma psicologia de cerco, que decorre de várias situações. Para falar na Venezuela, é
preciso contextualizar.
Tenho mais de 50 anos de diplomacia. Entrei para o Instituto Rio Branco antes do golpe
militar. Nunca tinha visto um presidente norte–americano [Donald Trump] ameaçar um
país sul–americano com o uso da força. Essa ameaça pode ser ao Brasil ou a outra força,
não precisa ser de esquerda, basta contrariar um interesse.

UOL – Trump cortou verba da ONU. Isso afeta imagem da instituição?


Amorim – Afeta a imagem do Trump. Pela primeira vez depois da 2ª Guerra, os EUA não
têm um projeto para o mundo. Bem ou mal, eles tinham, fizeram muita besteira. Mas a
Organização Mundial do Comércio, o Banco Mundial e a própria ONU. Até a defesa dos
interesses deles ficava disfarçada dentro desse projeto. Agora, eles não têm projeto. O
único projeto é "America first" ["A América primeiro", um dos lemas de Trump] e o resto
que se dane.
É esse tipo de atitude que se reflete nesse corte de verba para as Nações Unidas, na total
desconsideração a outras decisões da ONU, até mais importantes que esses US$ 200
milhões, que estão cortando agora, como qual será a capital de Israel e da Palestina. É um
ponto extremamente sensível que só pode ser resolvido no final das negociações.
Tudo demonstra despreza pela opinião que se formou no mundo em torno do tema. Isso
pode gerar conflitos. Para a América do Sul, essa atitude do Trump poderia... Essa
ausência de liderança, ou até de tentativa de liderança mundial, intelectual e cultural tem
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até uma oportunidade desde que houvesse aqui uma liderança, mas não temos nenhuma
infelizmente.
Porque o único país que teria capacidade para isso (assumir a liderança regional) é o
Brasil, que está como está.

UOL – México, Argentina, Chile e Colômbia não teriam essa força?


Amorim – Não têm. O México está muito perto dos EUA. Tenho grande admiração pelo
povo mexicano, mas tem a limitação imposta pela geografia. Os outros têm peso, mas não
o do Brasil, que é metade da América do Sul em território, população e PIB, entre 35% e
40% da América Latina. Fui embaixador no governo Fernando Henrique. A projeção do
Brasil cresceu muito no governo Lula, mas ele já tinha projeção, era respeitável.

UOL – Nosso protagonismo internacional está menor do que no governo FHC?


Amorim – Muito menor. No governo FHC, eu não concordava com as privatizações, mas
era um governo com legitimidade, tinha sido eleito, o Fernando Henrique foi reeleito. O
governo Collor não dá para medir porque depois do primeiro ano já começou o
impeachment. No governo Lula, as políticas sociais deram ao Brasil uma capacidade de
atuação internacional, o que se chama de soft power. E isso agora não tem nada. Você não
pode comparar.
O Brasil é maior do que no governo Sarney, mas, se for tomar do que era dois, três anos
atrás, nunca houve uma queda de credibilidade. Sempre procuramos atrair, mesmo
quando não concordávamos com opiniões. Quando a Colômbia atuou no Equador atrás das
Farc sem pedir licença, havia sugestões mais radicais, mas o Brasil não achou interessante
isolar a Colômbia. Preferimos o diálogo. A voz internacional do Brasil hoje em dia é pouco
mais que uma coisa esganiçada, não dá para ouvir.

UOL – Quais são os principais desafios para o Brasil em 2018?


Amorim – Tem muitas coisas complexas. Se tivesse no Brasil um partido de centro, talvez
houvesse uma aliança da esquerda com o centro para combater o fascismo. Problema que
não há centro, mas aqueles que não têm partido nenhum a não ser o do "eu primeiro",
uma versão brasileira tupininquim do Trump.
Vai ser uma batalha das forças progressistas de lutar pela volta de um projeto socialmente
mais justo e uma política externa mais autônoma e, ao mesmo tempo, lutar para que
movimentos de extrema–direita e de ódio não se propaguem.
Mas tenho esperança que se possa encontrar um caminho. Esse caminho depende de
termos eleições diretas e realmente irrestritas. Depois, necessariamente, revogar essas
medidas tomadas no governo Temer, que não tinha legitimidade para praticamente fazer
mudanças de nível constitucional, como a reforma trabalhista. E, ao mesmo tempo,
conduzir um processo de reforma política. Não é fácil. Tem que tomar o trem e depois
consertar a roda com o trem andando.

UOL – Temos um presidente da República denunciado criminalmente, mais de uma dezena


de ministros e parlamentares investigados ou denunciados à Justiça às vésperas de uma
nova eleição e o líder nas pesquisas é um ex–presidente condenado por corrupção. Há
mais corrupção ou o Judiciário está agindo de maneira diferente?
Amorim – As investigações produziram vários tipos de resultados diferentes. Não se pode
comparar, embora não tenha havido condenação porque o Congresso não permitiu a
continuidade das investigações, o tipo de acusação que é feito ao atual presidente e a
vários ministros e ex–ministros dele, em que uma das casas foram encontradas 50 malas
[o ex–ministro Geddel Vieira Lima tinha R$ 51 milhões escondidos em apartamento em
Salvador], coisa que nem em filme policial se via, é totalmente diferente, embora
judicialmente ela esteja mais adiantada, da acusação feita ao ex–presidente Lula.
A meu ver, (a acusação contra Lula) é muito baseada em coisas muito frágeis, que não se
sustentam. É opinião de mais de cem juristas que escreveram livro comentando a sentença
inclusive do ponto de vista processual, independentemente se você goste ou não do ex–
presidente.
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Você tem uma ação por um determinado tipo de acusação e é condenado por outro, coisa
que não existe no direito processual [Lula (PT) foi condenado a nove anos de prisão por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro porque, segundo Sérgio Moro, recebeu um tríplex
como propina em troca dos favores que prestou à empreiteira OAS durante seu governo].
Isso afeta o cenário, sendo ele de longe o candidato preferido pela população brasileira.
Tomei a iniciativa, não sozinho de fazer um manifesto "Eleição sem Lula é fraude ao povo",
porque tira o direito do povo de se manifestar, de ter um tipo de projeto mais voltado por
questões sociais. O manifesto [lançado em meados de dezembro] tem perto de 80 mil
assinaturas e nomes como Noam Chomsky [linguista norte–americano de esquerda], Yanis
Varoufakis [ex–ministro da Economia da Grécia], Richard Falk [ex–investigador da ONU
para direitos humanos em territórios palestinos], Perez Esquivel [arquiteto argentino
ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980 e militante dos direitos humanos], Cristina
Kirchner [ex–presidente da Argentina], Fábio Konder Comparato [jurista brasileiro] e o
cantor Chico Buarque.
O caso Temer e os outros casos há acusações que nem sequer puderam ser apuradas
porque houve bloqueio através de procedimentos que deixam a gente meio ruborizados.
Trocar votos por posições em relação... emenda parlamentar, trocar recursos por
posicionamento político. Se você comparar as acusações nos dois casos que chegaram ao
Congresso sobre o Temer [por supostamente pedir e receber uma mala de dinheiro de R$
500 mil por meio do ex–assessor Rodrigo Rocha Loures, o presidente da República foi
denunciado duas vezes, por corrupção passiva e organização criminosa] com as que
pesaram sobre a Dilma [Rousseff, ex–presidente deposta no impeachment em 2016], não
há termos de comparação. São coisas diferentes.
Agora, de fato, o Brasil vive um momento difícil. O ano vai ser decisivo, temos várias
armadilhas jurídicas, há ameaças com a extrema–direita crescendo nas artes, na cultura,
nas universidades, nessas conduções coercitivas, que tornam, digamos assim, o fascismo
batendo à porta. E isso tem sido tratado com quase uma normalidade. Se o Lula ou alguém
progressista vai ganhar ou não as eleições, eu não sei. De qualquer maneira, é importante
que o povo tenha a oportunidade de escolher quem for de sua preferência. Eu acho
também que o Brasil terá que passar por uma profunda reforma política senão a mesma
situação vai acabar se reproduzindo, com quem quer que seja eleito.
Do Sarney até o Fernando Henrique e mesmo nos governos do PT, esse chamado
presidencialismo de coalizão tem levado a alianças que não são nem ideológicas.

UOL – Do Sarney até o governo Temer, todas as práticas se repetiram?


Amorim – Em graus diferentes, evidentemente. Para a emenda da reeleição do Fernando
Henrique, o que está acontecendo agora... E também a necessidade de compor com um
Congresso em que o interesse fisiológico predomina.
Alianças são normais. Na Alemanha, o partido conservador se alia com o social–democrata,
dois partidos de ideologias diferentes, o que exige concessões. Mas no Brasil não é isso
que acontece. O partido que está no poder, que teria hegemonia, seja mais progressista,
mais à esquerda, como do ex–presidente Lula, seja mais de centro–direita, como foi do
Fernando Henrique, tem que se coligar com interesses puramente fisiológicos. É um
elemento de deformação da política.

UOL – É o cargo, a emenda...


Amorim – Exatamente.

UOL – O senhor acredita que isso aconteceu do Sarney ao Temer...


Amorim – Tem acontecido sempre em virtude do sistema eleitoral brasileiro. Claro que
aconteceu em graus e com objetivos diferentes. No governo Lula e Dilma, foram feitos
enormes progressos sociais, mas também, para obter isso, foi preciso fazer alianças não–
ideológicas. É você captar votos puramente fisiológicos. Os que estavam apoiando o
governo do ex–presidente Lula, para não falar do PMDB, passaram a apoiar o impeachment
e hoje estão no governo.

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UOL – E que eram os que apoiavam o governo FHC...
Amorim – Claro. Antes apoiavam o FHC. O que se chama de "Centrão" não é que as
pessoas sejam de centro. Mas como os interesses são muito localizados, muito ligados ao
clientelismo, não vou nem falar de corrupção, eles estão prontos a se aliar com qualquer
um. Uma reforma política para valer só pode acontecer na sequência de uma eleição
presidencial em que o presidente eleito tenha grande apoio popular para liderar o processo,
não impor. Se não você terá o Congresso atual que não votará contra os interesses que os
levaram ao poder.

UOL – A reforma política é para lidar com o financiamento eleitoral?


Amorim – Não é um problema só da oferta do dinheiro [As doações empresariais estão
proibidas no Brasil desde 2016, mas, como reação, os congressistas elevaram os recursos
públicos nas campanhas de cerca de R$ 300 milhões por ano para mais de R$ 1 bilhão por
ano]. É bom ter proibido o financiamento por empresa, mas você deixa os limites muito
altos para financiamento individual. Obviamente isso desvirtua. Mas é também problema
da demanda do dinheiro.
Você tem que tornar as eleições menos caras. Esse sistema proporcional uninominal, em
que você vota num candidato, torna as eleições extremamente caras. Eu prefiro voto em
lista, que mais fortaleceria os partidos, mas pode se conceber outro.

UOL – Se Lula não for candidato a presidente, o senhor é um plano "B" do PT?
Amorim – Nossa tarefa no momento é viabilizar a candidatura de Lula. Eu ainda estou no
plano "A" e pretendo continuar nele.

AMÉRICA DO SUL

Folha de S. Paulo – Referendo no Equador oficializará ruptura


entre Correa e sucessor
SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

O divórcio entre o presidente do Equador, Lenín Moreno, e seu padrinho político e


antecessor, Rafael Correa (2007–17), já tem data para ser formalizado. Em 4 de fevereiro
próximo, os equatorianos dirão nas urnas se querem manter parte das políticas
implementadas por Correa.
O ponto central do referendo convocado por Moreno, 64, está nas primeiras das sete
questões levadas a consulta popular (que poderão ser votadas separadamente): impedir
alguém que já ocupou o cargo de presidente de se reeleger mais de uma vez e afastar da
vida pública quem for condenado por corrupção.
Os alvos de Moreno, que tem 77% de popularidade na pesquisa do instituto Cedatos, são
seu ex–vice Jorge Glas, aliado de Correa que foi afastado do cargo e responde por crimes
de corrupção (entre eles, receber propina da Odebrecht), e o próprio Correa, 54, que
desembarca nesta sexta (5) em Guayaquil para fazer campanha contra o limite à reeleição
—ele quer concorrer em 2021.
Parte da explicação para o distanciamento dos dois políticos e a polarização do Aliança
País, partido que governa o Equador há dez anos, entre defensores de um e de outro está
no comportamento de Correa ao deixar o cargo.
Da Bélgica, onde pretendia passar os próximos anos, o ex–presidente passou a divulgar
vídeos criticando Moreno por medidas que amenizavam ou derrubavam as suas.
O sucessor cortou orçamento para promoção ideológica, amenizou a relação com a
imprensa —deixando de fazer pressão por meio de multas e processos contra jornalistas e
donos de meios de comunicação— e estabeleceu novos canais com os sindicatos, antes
bloqueados.

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As críticas de Correa, que quando presidente passava horas em cadeia nacional, vieram em
longos vídeos em redes sociais, aos quais Moreno não deu muita corda.
O quadro piorou quando o presidente passou a estimular a Justiça a investigar o destino
dos US$ 33 milhões (R$ 107 milhões) que a Odebrecht declarou, ao Ministério da Justiça
dos EUA, ter pago no Equador sob o governo Correa. A Procuradoria suspeita que US$ 13
milhões tenham ficado com Glas. O paradeiro do restante é uma incógnita.
ESCOLHA ELEITORAL
Quando o Aliança País escolhia o candidato para a eleição de 2017, Correa apoiou Moreno
porque este passara anos no exterior como enviado especial da ONU para pessoas com
deficiência e, segundo estrategistas do partido, era menos associado à gestão pública —ao
contrário de ministros de Correa e de Glas, sobre quem já pesavam acusações de desviar
verbas.
Nas mensagens atuais de Correa, há a sugestão de que Moreno teria quebrado um acordo
para que, se eleito, não estimulasse a investigação dos crimes do período correísta. Só que
o atual presidente fez o contrário, afastando pessoas ligadas ao antecessor e dando sinal
verde para a investigação, que pode atingir o próprio Correa.
A volta do ex–presidente ao país para a campanha é sinal disso. "Esta consulta é uma
traição à pátria", disse Correa, que prometeu visitar "cada rincão do país porque Moreno
conseguiu uma blindagem midiática e é preciso falar às pessoas diretamente."
O presidente, embora popular, não está imune a ataques. Ele nunca explicou seu passado
como guerrilheiro nem sua relação com a corrupção sob a gestão Correa.
Já Correa, que deixou o cargo com 48% de imagem positiva, ainda tem carisma nas
regiões da costa e da serra, seus redutos eleitorais.
Na campanha recém–iniciada, Moreno conta com apoios inesperados, como o dos
direitistas Cynthia Viteri e Guillermo Lasso, seus adversários na eleição ("estas sete
perguntas são pontos que nós gostaríamos de mudar se fôssemos eleitos", disse Lasso).
Mesmo que saia vitorioso e elimine a ameaça de Correa voltar no futuro próximo, Moreno,
que neste sábado verá a Assembleia Nacional eleger seu novo vice a partir de uma lista
tríplice indicada por ele, terá um problema nas mãos: com o Aliança País dividido entre os
dois, o Parlamento, onde o partido é majoritário, pode ser redesenhado em caso de
rompimento oficial.
Se Correa vencer, por outro lado, o presidente perderia apoio de congressistas, mas
contaria com amplo respaldo popular por responder a uma das principais demandas do
eleitorado na campanha: o combate à corrupção.
*
PLEBISCITO NO EQUADOR
Consulta do dia 4 de fevereiro pergunta sobre sete propostas
1) Reformar a Constituição para sancionar a todas as pessoas condenadas por atos de
corrupção com a cassação de seus direitos políticos e a perda de seus bens
2) Reformar a Constituição para que todas as autoridades de eleição popular possam ser
reeleitas por uma só vez para o mesmo cargo e anular a reeleição indefinida aprovada por
emenda pela Assembleia Nacional em 3 de dezembro de 2015
3) Reformar a Constituição para reestruturar o Conselho de Participação Cidadã e Controle
Social, assim como encerrar o período constitucional de seus atuais membros
4) Reformar a Constituição para que nunca prescrevam os delitos sexuais contra crianças e
adolescentes
5) Reformar a Constituição para que se proíba, sem exceção, a mineração em áreas
protegidas ou centros urbanos
6) Alterar a Lei Orgânica para evitar a especulação sobre o valor das terras e a fixação de
tributos, proposta conhecida como "Lei da Mais–Valia"
7) Incrementar a zona intangível em ao menos 50 mil hectares e reduzir a área de
exploração petroleira autorizada pela Assembleia Nacional no Parque Nacional Yasuní

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O Estado de S. Paulo – Ministro se demite e aprofunda crise no
país
O ministro da Defesa do Peru, Jorge Nieto, se demitiu ontem, em mais uma derrota política
para o presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK). A demissão foi em protesto contra o
perdão concedido por PPK ao exditador Alberto Fujimori, condenado por crimes contra a
humanidade. Desde que venceu a votação para permanecer no cargo e concedeu o indulto
a Fujimori, PPK perdeu três ministros e dois conselheiros presidenciais. Com isso, o
presidente será obrigado a reformular o gabinete mais uma vez.

ESTADOS UNIDOS

Folha de S. Paulo – Frio intenso no leste dos EUA cancela voos e


suspende aulas
SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK

Uma tempestade de neve que os meteorologistas apelidaram de "furacão de inverno"


transformou Nova York nesta quinta–feira (4) numa imensidão branca.
Voos foram cancelados, escolas fecharam, trens circulam em velocidade reduzida e ônibus
levam correntes nas rodas para aumentar a tração em ruas e avenidas escorregadias.
Temperaturas de até –14ºC na maior cidade americana e números baixíssimos em dezenas
de cidades do nordeste dos Estados Unidos, da fronteira com o Canadá até a Carolina do
Sul, ainda prometem fazer desse manto de neve uma perigosa casca de gelo, podendo
causar acidentes e caos nas ruas.
Em Rhode Island, perto de Nova York, o governo alertou que a tempestade pode causar
também falta de energia.
Ventos em Manhattan, coberta por até 30 centímetros de neve em alguns pontos,
passaram dos 70 quilômetros por hora, acentuando a sensação de frio intensíssimo e
dificultando o tráfego aéreo.
Os aeroportos John F. Kennedy e LaGuardia, em Nova York, ficaram fechados para pousos
e decolagens. O terminal de Newark, no Estado vizinho de Nova Jersey, também teve
grande número de voos cancelados. Boa parte deles está sendo desviada para a região de
Washington.
Empresas como American Airlines, Delta e United Airlines anunciaram que passageiros com
destino ao nordeste americano poderão remarcar seus bilhetes caso seus voos tenham sido
afetados.
A American e a Delta vão permitir que o passageiro troque a passagem gratuitamente até
domingo (7). A United afirmou que vai autorizar a remarcação sem custo para passageiros
dos voos afetados para embarque até a próxima segunda–feira (8).
No caso das companhias americanas, até o momento 12 voos foram cancelados entre São
Paulo e Rio de Janeiro e a região nova–iorquina nesta quinta e na sexta–feira (5) —seis da
American Airlines, cinco da Delta e um da United.
Já Latam cancelou seus dois voos desta quinta de Guarulhos a Nova York e o que sairia da
maior cidade americana à capital paulista. A empresa recomenda que os passageiros
afetados remarquem suas passagens em seu site ou pelo telefone 4002–5700 (capitais) e
0300–570–5700 (outras localidades) —as viagens podem ser adiadas sem custo para
embarque em datas nos próximos 15 dias.
A Avianca não informou se houve alterações em seus voos até o momento. Quem já está
em Nova York e não quer se mexer, no entanto, encontra uma calma atípica na cidade
mais movimentada dos Estados Unidos.
"Não saia de casa se você puder e, se sair, fique na rua o mínimo possível", disse o
prefeito, Bill de Blasio. "Está muito frio, um frio amargo."
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Temperaturas nos próximos dias devem continuar despencando, embora a nevasca esteja
chegando ao fim. O frio intenso e sem trégua já provocou a morte de pelo menos 17
pessoas nos EUA desde o início deste inverno.

Folha de S. Paulo – Trump ameaça processar editora de livro


sobre Casa Branca
ESTELITA HASS CARAZZAI
DE WASHINGTON

Em uma carta enviada por um de seus advogados nesta quinta (4), o presidente Donald
Trump pediu à editora responsável pelo livro "Fire and Fury" (Fogo e Fúria, em tradução
literal) que "cesse e desista imediatamente de publicar ou disseminar" a obra, a ser
lançada na próxima semana, sob pena de ser acionada judicialmente.
Escrito pelo jornalista Michael Wolff, o livro sobre os bastidores da Casa Branca no governo
Trump teve seus primeiros trechos divulgados nesta quarta (3) —que provocaram a fúria
do presidente e o rompimento com um de seus principais aliados, o ex–estrategista Steve
Bannon.
A carta enviada nesta quinta (4) à editora Henry Holt & Co e ao autor do livro, subscrita
pelo advogado Charles Harder, argumenta que a obra tem conteúdo difamatório e
malicioso, e ameaça entrar com processos judiciais contra a empresa caso o livro seja
publicado.
"É um pedido muito incomum para um presidente", afirma a professora Susan Low Bloch,
da faculdade de direito de Georgetown, em Washington.
O livro de Wolff, que teve acesso à Casa Branca durante meses e afirma ter realizado cerca
de 200 entrevistas com integrantes do governo Trump, sustenta que o republicano não
acreditava que iria vencer, que pretendia usar a campanha para ganhar fama e que achava
que sua equipe estava "repleta de perdedores".
O jornalista descreve o improviso dos primeiros meses do governo Trump, com direito a
ácidas críticas de alguns dos principais integrantes da equipe do republicano.
Bannon, por exemplo, afirmou ao autor que a reunião do filho de Trump com uma
informante russa durante a campanha, em busca de informações sobre a adversária Hillary
Clinton, foi "antipatriótica", e comparou a investigação do FBI sobre a influência russa na
eleição de 2016 a um "furacão de categoria cinco".
O presidente ficou "furioso" com os relatos do livro, segundo a porta–voz da Casa Branca,
Sarah Sanders. Além de soltar uma nota criticando severamente o ex–assessor, Trump
iniciou um cerco contra possíveis vazamentos de dentro do governo, ao determinar, nesta
quinta (4), que nenhum celular pessoal seja utilizado dentro da Casa Branca.
PRECEDENTES
A ameaça contra o "Fury and Fire" levanta novamente o debate sobre uma eventual
violação à Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de
expressão, versus o direito à personalidade em casos de difamação.
Harder, o defensor do presidente, é um dos mais célebres advogados do país na área de
mídia e difamação. Seu caso mais notório levou ao fechamento do site "Gawker", em 2016,
após a publicação de um vídeo do ex–lutador Hulk Hogan em cenas de sexo. O advogado
argumentou que houve invasão de privacidade e desrespeito aos direitos de personalidade
de Hogan, num argumento que venceu a alegação de interesse público pela publicação.
No início do ano, Harder também defendeu a primeira–dama Melania Trump contra o
tabloide "Daily Mail", que havia publicado erroneamente que ela atuara como
acompanhante de luxo antes de casar com Trump. O jornal fez um acordo e pagou uma
indenização milionária para Melania, em abril.
No caso do livro de Wolff, porém, a professora Low Bloch, especialista em direito
constitucional, afirma que a chance de um tribunal suspender a publicação é "praticamente
impossível".

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Para isso ocorrer, a defesa teria que demonstrar que as informações da obra são falsas e
que foram veiculadas com malícia ou intenção criminosa.
Sendo o presidente uma figura pública, a caracterização da difamação pelos tribunais é
muito mais criteriosa, a fim de proteger a Primeira Emenda. Mesmo uma eventual
indenização em um processo criminal é pouco provável, segundo Low Bloch. "É uma
tentativa inútil", resume ela.
Na noite de quarta (3), o defensor do presidente já havia acionado o próprio Steve
Bannon, numa carta extrajudicial semelhante à que foi enviada à editora. Harder
argumenta que o ex–assessor violou acordos de confidencialidade com Trump, e que está
sujeito a "iminentes" ações judiciais por calúnia e difamação.
A Casa Branca ainda não comentou a notícia, assim como a editora Henry Holt e o autor
Michael Wolff.
Já Bannon afirmou nesta manhã que "Trump é um grande homem" e que irá apoiá–lo "dia
após dia", e disse que os dois continuam próximos.
Nesta quarta (3), a Casa Branca havia informado que a obra de Wolff está repleta de
"relatos falsos e enganosos" de pessoas que não tinham acesso nem influência no governo
Trump, e classificou o livro como "um desprezível tabloide de ficção".
O lançamento do livro, que já está em pré–venda pela internet, deve ocorrer na próxima
terça–feira (9). A obra era a mais vendida da Amazon nesta quinta (4).

Folha de S. Paulo – Governo Trump muda norma jurídica e


aperta cerco à maconha nos EUA
SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK

Uma nova decisão de Donald Trump ameaça acabar com a festa de empresários que
planejam lucrar com a maconha. A erva recém–legalizada para uso recreativo na Califórnia
e já liberada em outros seis Estados americanos pode entrar na mira de juízes.
Esse é mais um capítulo da cruzada do presidente para desfazer o legado de seu
antecessor, Barack Obama, que orientou os tribunais federais a não processarem Estados
que legalizassem a maconha.
O anúncio de Trump coincide com os primeiros dias em que a droga pode ser usada para
fins recreativos na Califórnia, o maior mercado mundial para a erva. Enquanto investidores
se preparam para se adequar às regras, Washington ameaça processar.
Nos Estados Unidos, leis federais proíbem o uso, a venda e o cultivo da planta. Mas a
situação ficou mais ambígua há cinco anos, quando os Estados de Colorado e Washington
decidiram descriminalizar o consumo da droga.
Na tentativa de sanar o ruído entre tribunais regionais e a lei nacional, Obama orientou
juízes a não perseguir crimes envolvendo compra, venda e uso da maconha a não ser em
casos envolvendo o comércio para menores de idade ou suspeitas de atividade de gangues
e outros crimes.
Os maiores prejudicados pela medida podem ser empresários que investiram na indústria
bilionária da maconha, abrindo galpões para o plantio e montando fábricas de produtos
derivados, como doces e bebidas que levam a substância em suas receitas.
No Colorado, a indústria movimenta US$ 1 bilhão por ano. A expectativa na Califórnia é
que os negócios relacionados à maconha possam render até US$ 10 bilhões.
Em sua nova diretriz, Trump está em sintonia com a opinião de Jeff Sessions, seu
secretário de Justiça. Desde que assumiu o cargo, Sessions deixa claro a sua oposição à
legalização da droga.

O Globo – EUA: Legisladores consultaram psiquiatra sobre saúde


mental de Trump

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Professora de Yale disse que grupo se preocupava sobre risco do republicano para o país

WASHINGTON — Um grupo de legisladores americanos, a maioria democratas, consultou


uma professora de psiquiatria da Universidade de Yale, em dezembro, sobre a saúde
mental do presidente Donald Trump, revelou a rede CNN na noite de quinta–feira. Segundo
a profissional, as duas reuniões nos dias 5 e 6 do mês passado contaram com a presença
de legisladores da Câmara e do Senado e havia inclusive um senador republicano, cuja
identidade não foi revelada.
— Os legisladores disseram que estavam preocupados sobre o risco que representava o
presidente, o risco que representava sua instabilidade mental para o país — disse à CNN a
professora Brady Lee, editora do livro "O Perigoso Caso de Donald Trump", uma série de
ensaios de psiquiatras que analisam o estado psicológico do presidente dos Estados
Unidos.
Segundo a CNN, Lee deixou claro que não está na posição de diagnosticar o presidente,
mas disse que profissionais médicos devem intervir em casos onde há risco público.
— O senhor Trump está mostrando sinais de dano que uma pessoa média não poderia ver
— disse a psiquiatra. — Ela está se tornando muito instável rapidamente. Há uma
necessidade de avaliação neuropsiquiátrica que poderia demonstrar sua capacidade de
atuar.
A revelação da consulta à psiquiatra surge em meio a novas polêmicas e críticas contra
Trump. Após o presidente tentar barrar o lançamento do polêmico livro "Fire and Fury:
Inside the Trump White House", que revela "podres" da Casa Branca no atual mandato, a
editora Henry Holt antecipou para esta sexta–feira a divulgação da edição, que estava
prevista para a próxima terça. O livro que promete revelar uma série de "bombas" sobre o
governo de Donald Trump gerou uma crise na Casa Branca por causa de comentários feitos
pelo ex–estrategista Steve Bannon, ideólogo das políticas do presidente. A porta–voz da
Casa Branca Sarah Sanders qualificou as declarações de Lee "vergonhosas":
— Se não fosse apto, ele provavelmente não estaria onde está e não teria derrotado o
melhor grupo de candidatos jamais visto no Partido Republicano — disse a representante,
destacando que Trump é um líder "incrivelmente forte".
Na Câmara de Representantes, 57 legisladores democratas — 30% do total — redigiram
um projeto de lei para a criação de uma comissão parlamentar especial sobre "a
incapacidade presidencial", visando "determinar se o presidente esta psicologicamente ou
fisicamente capacitado para cumprir suas funções".
A Constituição americana prevê duas formas de se substituir um presidente: um
impeachment no Congresso ou pela 25ª emenda, que permite o vice–presidente e a
metade do gabinete declarar que o presidente é "incapaz de exercer o poder e cumprir com
os deveres do cargo". Caso o presidente conteste a decisão baseada na 25ª emenda,
corresponde ao Congresso confirmá–la com ao menos dois terços dos votos.
— Eles sabem que a preocupação é universal entre democratas, mas realmente depende
dos republicanos, disseram. Alguns sabiam de republicanos que estão preocupados,
igualmente preocupados, mas se tomariam alguma atitude sobre isso era a principal
preocupação deles — disse a professora de Yale.

EUROPA

Folha de S. Paulo – Macron propõe lei na França contra


disseminação de notícias falsas
DIOGO BERCITO
DE MADRI

O presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu nesta semana elaborar uma nova lei para
combater as "fake news" —notícias falsas— durante campanhas eleitorais.

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O país, porém, já tem um arcabouço legal para lidar com o fenômeno. A ideia foi recebida
com cautela pelos franceses, avessos a ações que possam representar risco à liberdade de
expressão.
O artigo 27 da lei sobre a liberdade de imprensa —de 1881 e modificado em 2000—
estipula que a divulgação de informações falsas prejudicando a "paz pública" pode ser
punida com uma multa de R$ 175 mil.
Esse texto raramente é invocado, no entanto, devido à dificuldade de provar em
julgamento que existe um vínculo real entre as notícias e a ordem pública.
Patrick Eveno, professor emérito da Universidade Paris 1 Panthéon–Sorbonne, publicou na
quinta–feira (4) um artigo analisando a proposta de Macron e o arsenal legislativo francês
existente.
Eveno, que é também presidente do Observatório da Deontologia da Informação, entidade
que congrega jornalistas e sindicatos, propõe que as notícias falsas não sejam combatidas
com mais legislação, e sim com um debate dentro da sociedade. A imprensa, em especial,
deve "justificar sua existência social" ao vigiar a circulação de informações inverídicas.
Já o jornal francês "Le Monde" foi cauteloso em sua reação. Em um editorial sobre a lei
contra as "fausses nouvelles" —o jargão em francês—, o diário disse que a ideia é
"elogiável", mas "corre o risco de se chocar contra uma realidade complexa".
"Esse tipo de ambição legislativa, dentro de uma área tão complicada e sobre uma coisa
tão crucial como a liberdade de imprensa, é por natureza perigoso", segundo o editorial.
Macron apresentou sua ideia de uma legislação de combate às "fake news" como uma
maneira de proteger a democracia. As notícias falsas têm rondado pleitos em todo o
mundo, preocupando inclusive no Brasil, neste ano de eleições presidenciais.
"Milhares de contas de propaganda em redes sociais têm espalhado por todo o mundo e
em todas as línguas mentiras inventadas para prejudicar políticos, figuras públicas,
jornalistas", disse ele.
A sugestão foi feita durante seu discurso anual a jornalistas no Palácio do Eliseu. A lei,
afirmou o presidente, será apresentada em breve. Citando exemplos do que pode ser feito,
Macron disse que sites terão de informar suas fontes de financiamento.
Excepcionalmente durante as campanhas eleitorais, as autoridades regulatórias poderão
remover conteúdos de maneira mais rápida, explicou ele, tendo o poder de bloquear sites
enganosos.
Macron, que derrotou a nacionalista de direita Marine Le Pen em maio, foi alvo de "fake
news" durante a campanha. Circularam, por exemplo, notícias de que ele tinha contas fora
do país. Ele processou a rival após ela citar essa informação falsa.
Os rumores surgiram horas antes de um debate na TV e foram depois rastreados até um
fórum na internet conhecido por congregar simpatizantes da direita americana.
Mesmo sua vida pessoal foi afetada por campanhas de desinformação, com a circulação de
boatos —nunca provados— de que ele teria um relacionamento às escondidas com outro
homem.
Reagindo à proposta, Le Pen escreveu na quarta no Twitter: "Quem vai decidir se uma
notícia é falsa? Juízes? O governo? A França ainda será uma democracia, caso censure
seus cidadãos?".

Folha de S. Paulo – Primavera de Praga, iniciada há 50 anos,


ainda inspira resistência pacífica
DIOGO BERCITO
DE MADRI

Quando foi eleito primeiro–secretário do Partido Comunista da Tchecoslováquia há 50 anos,


em 5 de janeiro de 1968, Alexander Dubcek representava uma esperança de mudança,
propondo um "socialismo com rosto humano".

19
A Primavera de Praga, como aqueles meses passaram a ser conhecidos, murchou
rapidamente com a chegada dos tanques soviéticos e com o ostracismo de Dubcek, mas
ainda persiste como um exemplo de movimento social.
Em retrospecto, a repressão à reforma tcheca foi um dos sinais da falência do modelo
soviético. A ideia de resistência não violenta, por sua vez, inspirou as revoluções de duas
décadas depois, levando ao fim da União Soviética.
Nascido em 27 de novembro de 1921 em Uhrovec, o eslovaco Dubcek foi educado no atual
Quirguistão, que era então um território soviético. Ele participou da resistência à ocupação
nazista durante a Segunda Guerra (1939–1945) e rapidamente ganhou destaque no
Partido Comunista.
Dubcek tinha 47 anos quando foi eleito primeiro–secretário da sigla, já em meio ao debate
sobre a liberalização do país, que vivia uma grave estagnação econômica. Ele era uma
forte promessa por ser ao mesmo tempo um veterano e um reformador.
A Tchecoslováquia (hoje dividida em República Tcheca e Eslováquia) era governada pelo
Partido Comunista, que havia nacionalizado a economia de acordo com linhas soviéticas —
um projeto acompanhado de magras liberdades individuais.
Com o aval do ex–presidente Ludvík Svoboda, Dubcek iniciou um programa de
liberalização, engatilhando o movimento popular da Primavera de Praga.
O projeto incluía um mercado mais aberto, liberdade de expressão mais ampla e um
governo mais democrático, duas décadas depois da chegada do Partido Comunista ao
poder em 1948.
Foram oito meses de Primavera, durante os quais o país viveu um intenso otimismo,
refletido na obra "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. "Depois de 20 anos,
era possível respirar e falar livremente", disse em 1998 o ex–presidente Václav Havel
(1936–2011).
O sonho definhou, no entanto, quando a União Soviética se deu conta do potencial de que
a Primavera de Praga crescesse até se tornar uma revolução. Leonid Brejnev, líder
soviético àquela época, decidiu agir.
O Pacto de Varsóvia (equivalente do bloco comunista à Otan, a aliança militar ocidental)
enviou 500 mil tropas e 6.000 tanques ao país, enfrentando a resistência pacífica
organizada por Dubcek.
Acuado, ele foi forçado a assinar um termo em que gradualmente revertia suas reformas —
algo que anunciou à população em um emocionado discurso. Um ano depois, Dubcek foi
substituído no cargo de primeiro–secretário do partido pelo pró–soviético Gustav Husak.
Mais tarde, foi expulso da sigla.
Foram anos de ostracismo e de crítica vinda de sua própria base, que lhe acusava de ter se
dobrado muito facilmente à pressão de Moscou e abandonado a reforma que daria o tal
"rosto humano" ao socialismo.
Em 1989, com o fim do comando comunista, Dubcek foi eleito líder da Assembleia Federal,
o que ele viu à época como uma continuação de sua Primavera. A transição, afinal, foi em
parte possível a partir de seu exemplo de resistência pacífica.
Dubcek morreu em 7 de novembro de 1992 devido a um acidente de carro. Dois meses
depois, a Tchecoslováquia foi dividida —ele era cotado para presidir a Eslováquia.

ÁSIA

O Globo – Nova revolução iraniana não chegou ainda / Artigo /


Rasheed Abou–Alsamh
Rasheed Abou–Alsamh é jornalista

Os protestos são um alerta da classe trabalhadora de que a divisão econômica entre ricos e
pobres no país está se alargando demais
Os protestos que irromperam em várias cidades do Irã, na semana passada, e em que 22
manifestantes já foram mortos e mais de 450 presos, não são um sinal de uma nova
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revolução para tirar os aiatolás do poder. Mas são um alerta da classe trabalhadora de que
a divisão econômica entre os ricos e os mais pobres no país está se alargando demais.
Iranianos se queixam de ver os filhos mimados dos novos ricos dirigindo seus Lamborghinis
pelas ruas de Teerã, enquanto muitos iranianos da classe média baixa viram suas
poupanças em bancos sumir da noite para o dia quando várias dessas instituições
financeiras faliram.
Um iraniano chamado Mehdi, que mora na província pobre de Khuzestan, se queixou para
o “New York Times”, dizendo que viu uma iraniana rica postar uma foto dela mesma no
Instagram com o SUV que dirige. “Ela escreveu que gasta US$ 3.000 com seus pets todo
mês. Uma pessoa pode viver aqui com esse dinheiro por ano. Eu fiquei zangado,” disse
Mehdi.
Diferentemente dos protestos de 2009, que eclodiram na capital e em outras cidades
grandes depois do resultado da eleição geral que elegeu o conservador Mahmoud
Ahmadinejad ao seu segundo mandato como presidente, esses novos começaram na
cidade sagrada de Mashhad e se espalharam para cidades menores. Nesses protestos,
iranianos gritaram “Nem Gaza, nem Líbano, minha vida pelo Irã!”, em um apelo claro
contra os milhões de dólares em suporte que o governo iraniano dá para o grupo Hamas,
em Gaza, e Hezbollah, no Líbano. Mas também houve gritos de “Morte a Rouhani” e “Morte
ao ditador”, referências ao presidente Hassan Rouhani e ao líder supremo Aiatolá Ali
Khamenei.
Em 2009, os protestos foram liderados por jovens da classe média, muitos deles
universitários, querendo mais direitos políticos e liberdade de expressão. Centenas de
pessoas foram presas, incluindo líderes políticos que até hoje estão em prisão domiciliar, e
o momento passou sem grandes mudanças.
Agora, nestes novos protestos, vemos pessoas de todas as idades, a maioria de classe
baixa, protestando contra o desemprego, a inflação e a falta generalizada de oportunidades
para eles. Rouhani, que foi eleito em 2013, deu uma esperança para o povo iraniano de
que o país ia desabrochar economicamente e que, depois que o acordo nuclear foi
aprovado em 2015, o Irã teria uma enxurrada de investimentos estrangeiros que iam gerar
muitos empregos para os iranianos. Infelizmente isso não aconteceu, e, com a eleição de
Donald Trump como presidente nos EUA, e sua hostilidade ao Irã, os iranianos veem que a
bonança de investimentos estrangeiros está longe de chegar.
“Mas o dano feito à reputação de Rouhani não ocorreu da noite para o dia. Ele fez muitas
promessas que não manteve, como nomear ministros mulheres e não nomear de novo
certos membros do gabinete considerados ineficazes,” me disse em entrevista Kelly
Niknejad, americana–iraniana, e fundadora e editora do “Tehran Bureau”, um serviço
independente de notícias sobre o Irã desde 2008.
Vale lembrar que o Irã gosta de se chamar de uma democracia, mas que, na verdade, tudo
é controlado com mão de ferro pelos clérigos religiosos, os aiatolás, que não são eleitos.
Todo candidato à eleição, seja ele ou ela um candidato municipal e até os candidatos
presidenciais, é vetado minuciosamente pelo regime iraniano. E o governo censura toda a
internet, e nesses últimos dias tem bloqueado o acesso ao aplicativo Telegram, muito
popular entre iranianos, porque estava sendo usado para coordenar os protestos.
Dos 80 milhões de iranianos, 20 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Com isso,
todos os governos iranianos ao longo dos anos tiveram como prioridade tentar conter os
preços de comida e dos combustíveis para manter a lealdade dos mais humildes e para
evitar conflitos sociais. Mas, recentemente, o novo orçamento do governo iraniano para
2018 foi vazado na internet, e nele se viu que o governo de Rouhani queria cortar muitos
desses subsídios. O primeiro corte, de acordo com Norman Roule, um analista aposentado
da Central de Inteligência americana, escrevendo no site “The Cipher Brief”, seria no
programa do governo que transfere dinheiro todo mês para os iranianos mais pobres. Com
isso, o governo ia economizar US$ 4,5 bilhões por ano.
O segundo método de economizar dinheiro para o governo seria aumentar o preço da
energia. De acordo com Roule, o Irã gasta US$35 bilhões por ano em subsídios de
combustíveis. O novo orçamento previa aumentar o preço de gás doméstico em 50% e o
preço do diesel em 33%. Cortar estes subsídios seria muito ousado e perigoso para o
21
governo de Rouhani. Vamos ter que esperar para ver se o Parlamento vai autorizar estes
cortes ou não.
Nikenejad acha que estamos testemunhando uma mudança nesses protestos. “As
dificuldades financeiras empurraram algo para a superfície que sempre esteve lá
crescendo. É bastante importante para mim que, ao contrário de 2009, os gritos dos
manifestantes nestes últimos dias foram desprovidos de linguagem religiosa ou slogans.
Vindo do que até agora era considerado a sólida base de apoio do regime, isso é
surpreendente,” disse a jornalista.
O líder supremo Khamenei já acusou outros países como os EUA e a Arábia Saudita de
interferirem nos assuntos internos do Irã e de terem instigado os protestos. É claro que os
americanos e sauditas estão sendo usados como bodes expiatórios.
Os verdadeiros problemas são uma corrupção generalizada no governo e uma economia
fraca que não está produzindo uma quantidade suficiente de empregos para a população.
Rouhani e sua classe de políticos têm focado demais na classe média, se esquecendo dos
mais necessitados. Agora esta camada social está se manifestando. O governo tem que
prestar atenção e fazer alguma coisa para ajudar esses iranianos, senão a estabilidade do
país estará em perigo.

ORIENTE MÉDIO

Folha de S. Paulo – Jerusalém, 30 dias depois / Artigo / Jorge


Zaverucha
JORGE ZAVERUCHA é doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago e professor–
titular do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco

Passaram–se 30 dias desde que o presidente americano Donald Trump anunciou, em 6 de


dezembro, a remoção da embaixada de seu país para Jerusalém.
Na verdade, em 1995, o Congresso dos EUA aprovou o traslado da embaixada de Tel Aviv
para Jerusalém. Durante a campanha presidencial, Trump prometeu que, em sendo
vencedor, colocaria em prática, rapidamente, a decisão do Congresso. Pode–se discordar
ou não de sua atitude, mas ninguém há de negar que ele foi responsivo para com seus
eleitores.
A transferência foi um ato simbólico. De prático pouco foi alterado. Trump deixou claro que
as futuras fronteiras da cidade serão acordadas via negociações entre palestinos e
israelenses. Alegou que a transferência da embaixada fará parte de um novo plano de paz
a ser apresentado.
Ele espera não repetir erros dos seus antecessores, que levaram ao impasse das várias
negociações de paz na região.Como almeja fazer isso, ainda não se sabe.
Mesmo assim, houve uma saraivada de prognósticos catastrofistas após o anúncio de
Trump, que não se concretizaram. Vejamos:
1) Trump é um piromaníaco e levará à eclosão de uma nova intifada: falso. Não ocorreu
qualquer intifada. Apenas algumas escaramuças em Gaza e na Cisjordânia, insufladas pelo
Hamas, organização que prega em seu estatuto a destruição de Israel. Jerusalém
manteve–se calma, mesmo sendo habitada por 35% de árabes. Inclusive, a cidade bateu o
recorde de turistas que lá foram passar os festejos natalinos;
2) O mundo árabe irromperá em chamas: falso. Egito e Jordânia, por terem acordo de paz
com Israel, ficaram quietos. A Arábia Saudita, que nunca esteve tão perto de um
reconhecimento mútuo com Israel, mediado por Trump, também ficou silente. Riad precisa
de ambos para conter a ameaça iraniana. Idem para outros países do Golfo. A Síria,
esfacelada, não tinha o que dizer.
O país que mais deu apoio à causa palestina foi o Iraque. Curiosamente, o governo
iraquiano acabou de sancionar uma lei retirando dos palestinos lá residentes o direito a
educação livre, saúde pública e documentos de viagem; proibiu–os, ainda, de trabalhar em

22
instituições estatais. Isto é apartheid. Até a morte de Saddam Hussein (1937–2006), cerca
de 40.000 palestinos moravam no Iraque. Hoje, são 7.000;
3) Os EUA perderam a condição de mediar a desejada, mas cada vez mais difícil, paz entre
palestinos e israelenses: falso. Enquanto o presidente da Autoridade Palestina vociferou
contra os EUA, seu ministro de Relações Exteriores declarou, pragmaticamente, que não
abandonará a mesa de negociações. Sabe que o único país capaz de fazer Israel negociar
chama–se EUA. Rússia, China e nenhum país europeu estão interessados em substituí–los;
4) A decisão de transferência da embaixada seria ilegal, de acordo com os cânones
internacionais: falso. Cada membro da ONU possui o direito de decidir qual cidade é capital
de outro país. A ONU nada tem a ver com isso, pois este tema não está sob sua jurisdição.
Os acontecimentos reforçam o preconizado pela recém–lançada Estratégia de Segurança
Nacional de Trump, segundo a qual o conflito árabe–israelense não é mais ponto central a
evitar a paz na região.
Atualmente, as ameaças à quietude, sob o ponto de vista americano, provêm,
primordialmente, de organizações terroristas jihadistas e da ameaça iraniana.

TEMAS CONSULARES E MIGRATÓRIOS

O Globo – Livre mas sem poder sair da Ucrânia


A história do brasileiro preso por terrorismo no Leste Europeu

Após passar pouco mais de um ano preso na Ucrânia, acusado de terrorismo por ter
participado de uma guerra ao lado de tropas separatistas ligadas a Rússia entre 2014 e
2015, o brasileiro Rafael Marques Lusvarghi, de 32 anos, ganhou liberdade provisória em
dezembro. Ele teve que entregar seu passaporte e não pode deixar a Ucrânia até novo
julgamento. Ex–integrante da Legião Estrangeira Francesa aos 18 anos, ex–policial militar
em São Paulo, autodefinido com “um guerreiro com convicções políticas e morais”, Rafael
já passou 45 dias presos no Brasil após ser detido em protesto no dia da final da Copa do
Mundo de 2014, nos arredores do Maracanã. No ano seguinte, cerrou fileiras junto a tropas
separatistas da Ucrânia, supostamente apoiadas pela Rússia, nos conflitos armados na
região de Donetski, que acabaram sufocados pelo governo ucraniano. Em 2016, ao fazer
escala no aeroporto de Kiev, foi preso e, em 25 de janeiro de 2017, condenado a 13 anos
de prisão por “atuar ao lado de organização terrorista”.
A Promotoria o acusou de ser “mercenário” e “assassino profissional”. Os advogados
ucranianos do brasileiro, porém, conseguiram anular o julgamento — alegando
irregularidades no processos e agressões na cadeia — e, no último dia 18 de dezembro, ele
foi posto em liberdade. Em nota, o Itamaraty informou que Rafael tem recebido da
Embaixada do Brasil em Kiev “assistência quanto à produção de documentos pessoais e
verbas para pequenos auxílios”, acrescentando que representantes da Embaixada
comparecem às audiências judiciais e realizaram visitas periódicas à prisão para verificar
as condições e ouvir relatos sobre a sua situação.

O Estado de S. Paulo – PCC recruta venezuelanos em


penitenciária de Roraima
Cada vez mais numerosos nos presídios, estrangeiros são cooptados pela facção, que
busca ampliar sua atuação

Marco Antônio Carvalho


ENVIADO ESPECIAL / BOA VISTA (RR)

A crise econômica na Venezuela se soma à crise dos presídios na Penitenciária Agrícola de


Monte Cristo, a maior do Estado de Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrantes do

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Primeiro Comando da Capital (PCC) – que dominam o presídio em Boa Vista e há um ano
foram os responsáveis pelo assassinato de 33 detentos – estão arregimentando
venezuelanos, cada vez mais numerosos nas cadeias da região após se envolver em crimes
como furtos, roubos, contrabando de combustível e tráfico de drogas, informa o enviado
especial Marco Antônio Carvalho. Com os estrangeiros, o PCC amplia sua conexão
internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro. “Esse contato com o País
vizinho vem se fortalecendo e tem relação com a imigração descontrolada”, disse o
secretário adjunto de Justiça e Cidadania de Roraima, Diego Bezerra de Souza.
A crise humanitária venezuelana está se somando a uma crise carcerária e de segurança
pública brasileira no interior da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), a maior de
Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC),
que dominam o presídio e há um ano foram responsáveis pela morte de 33 detentos, estão
cooptando venezuelanos que chegam cada vez em maior quantidade às cadeias locais.
Desde o fim de 2016, com o recrudescimento da crise política e econômica na Venezuela,
cujos impactos vão da precariedade do sistema de saúde à pouca oferta de produtos nos
supermercados, os vizinhos decidiram migrar. A cidade de Pacaraima, na fronteira, e a
capital Boa Vista são as que notam os efeitos do fluxo, que deixa um rastro de
superlotação em abrigos públicos e um número incomum de pedintes nas ruas.
A situação tem culminado na prisão de venezuelanos que se envolvem em crimes como
furto e roubo de celular, além da entrada ilegal de combustível, e tráfico de drogas. Dados
da Secretaria de Justiça de Roraima mostram que de cinco venezuelanos presos o número
passou para mais de 60 em um ano. Quem se aproveitou disso foram os integrantes da
facção paulista PCC, que recrutam os estrangeiros para os quadros e fortalecem a conexão
internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro.
“Observamos que muitos venezuelanos foram cooptados pelo PCC. Por meio do setor de
inteligência, percebemos que esse contato com o país vizinho vem se fortalecendo e tem
relação com a imigração descontrolada”, afirmou ao Estado o secretário adjunto de Justiça
e Cidadania (Sejuc), capitão da PM Diego Bezerra de Souza.
A pasta, segundo Bezerra, tem um monitoramento dos integrantes
da facção, catalogação que inclui presos e também aqueles que já foram soltos. Sobre os
motivos que levam os venezuelanos a se aproximarem do PCC, o capitão disse existir um
“conjunto de fatores”.
“Eles são intimidados e precisam
se agregar a algum grupo para se fortalecer, e isso tem acontecido principalmente com o
PCC. Dificilmente vemos venezuelanos entre os membros do Comando Vermelho (CV,
facção
do Rio de Janeiro)”, explicou. Após o massacre em janeiro, a secretaria decidiu retirar
todos os inimigos do PCC que ainda estavam presos na Pamc. Eles foram levados para a
Cadeia Pública de Boa Vista, que se transformou em reduto do CV, grupo criminoso que
após os assassinatos viu despencar o número de filiados.
A cônsul da Venezuela em Roraima, Gabriela Ducharne, disse ontem ao Estado que a
situação é verdadeira, mas a falta de informações fornecidas pelos presos impede que
sejam tomadas providências. “Não tenho muita informação porque eles não falam muito.
Mas é verdade: estão sendo obrigados a entrar nas facções, senão sofrem as
consequências. Eles não falam muito, mas dizem que estão sendo incluídos. Alguns não
falam que são obrigados, só que estão fazendo parte.”
Emergência. No dia 4 de dezembro, o caos migratório levou a governadora Suely Campos
(PP) a decretar situação de emergência no Estado. Na justificativa, sustentou que o
agravamento da situação se deu diante do “inesperado e rápido aumento do número de
imigrantes que chegaram a Roraima, majorando significativamente o contingente de
estrangeiros, sem que possuam meios e condições para sua manutenção”. Disse ainda que
as equipes estaduais enfrentam “sérias dificuldades” para dar apoio humanitário e logístico,
com riscos à saúde e segurança dos imigrantes e da população local.
A Rodovia BR–174, que dá acesso à Penitenciária Monte Cristo, é a mesma que, 200
quilômetros à frente, vai dar em Santa Elena de Uairén, principal porta de entrada dos
estrangeiros em território brasileiro na região. Nas ruas de Boa Vista, a prefeitura ainda
24
tenta impedir que venezuelanos vendam produtos e limpem para–brisas nos semáforos,
cena pouco comum antes da onda migratória.
Dos 726 mil detentos no sistema prisional do País, há 2,6 mil, estrangeiros, segundo
relatório do Ministério da Justiça. Dos estrangeiros, 56% são do continente americano. O
relatório soma dados relativos a julho de 2016, quando em Roraima havia 31 estrangeiros,
1,3% dos presos do sistema local.
Procurado, o Ministério da Justiça não se posicionou sobre a atuação do PCC em Roraima.
Afirmou que o serviço de inteligência da pasta recebe informes das polícias locais.

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL

O Estado de S. Paulo – Sem super IPI, importadores esperam


vender 35% mais
Sem a aprovação da nova política industrial, batizada de Rota 2030, o setor automotivo
iniciou o ano com as regras tarifárias que vigoravam antes da entrada em vigor do Inovar–
Auto, programa encerrado em dezembro após cinco anos de vigência.
A principal alteração é o fim dos 30 pontos porcentuais extras de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) para veículos importados de fora do Mercosul e do México e da cota
de até 4,8 mil carros para escapar dessa taxação. Com a volta do IPI normal de 7% a
25%, a Abeifa, que representa os importadores, espera alta de 35% nas vendas este ano,
para cerca de 40 mil veículos.
No ano passado foram vendidos 29,7 mil carros importados, 16,5% menos que em 2016.
Em 2012, último ano antes do Inovar–Auto, a venda chegou a 130,8 mil unidades. Além do
imposto maior, várias marcas passaram a produzir localmente, como Mercedes–Benz e
Audi.
Segundo o presidente da Abeifa, José Luiz Gandini, a projeção leva em conta também a
alta do dólar, que encarece as importações. Para ele, o aumento de 35% esperado para
2018 é conservador pois a base anterior é muito fraca. A Abeifa acredita que as
importações vão se concentrar em automóveis com preços a partir de R$ 80 mil a R$ 100
mil pois há pouco espaço para trazer modelos mais baratos.
A saída do ministro Marcos Pereira do Ministério da Indústria (Mdic) pode trazer mais
complicações para a aprovação do Rota 2030, dependendo de quem for seu sucessor.
Pereira defendia a manutenção de subsídios para empresas que investirem em pesquisa e
desenvolvimento. A resistência do Ministério da Fazenda em aprovar esse tipo de medida
adiou para fevereiro (após a votação da reforma da Previdência) a decisão sobre o Rota.
O Inovar–Auto, por exemplo, previa redução de até 2 pontos porcentuais do IPI para quem
superasse a meta de 12% de redução de emissões. Só Ford e GM conseguiram o incentivo
maior, pois, na média, reduzirem as emissões de seus carros em até 18%. Audi, Honda,
Mercedes–Benz, Nissan, PSA, Renault, Toyota e Volkswagen obtiveram 1 ponto de corte ao
reduzirem até 15%.

ASSUNTOS FINANCEIROS E INVESTIMENTOS

Valor Econômico – Bolsa fecha acima de 78 mil pontos pela 1ª


vez
Por Juliana Machado | De São Paulo

Pelo nono dia consecutivo, os investidores mantiveram as compras de ações no mercado


local e levaram o Ibovespa a registrar novo recorde – cenário que tende a continuar com o
ambiente político doméstico em trégua e com o bom humor que predomina na cena global.
No fechamento do pregão de ontem, o índice Ibovespa teve valorização de 0,84%, em
nova marca máxima, de 78.647 pontos. No intradia, o índice chegou a tocar o patamar dos
25
79 mil pontos, oscilando mais de mil pontos entre a mínima dos 77.998 pontos e a máxima
de 79.135 pontos.
A avaliação de operadores e analistas é que o momento continua favorável à negociação de
ativos de risco no mundo, em meio às perspectivas de crescimento global mais forte.
Ontem, o índice americano Dow Jones alcançou pela primeira vez os 25 mil pontos,
estimulando a bolsa brasileira a também perseguir um novo patamar.
Adicionalmente, a perspectiva é positiva também para a recuperação econômica brasileira
– o que amplia as expectativas dos investidores em relação a um cenário de melhora de
resultados das companhias. Com isso, cresce o interesse do investidor em montar posições
em bolsa, em um momento que o cenário político fica em segundo plano.
Um indicador de que a demanda vem se ampliando na renda variável local é o volume
financeiro, que se intensifica neste começo de ano. Ontem, o giro financeiro do Ibovespa
ficou em R$ 7,6 bilhões.
Além do impulso externo e da relativa calmaria na cena política, a bolsa contou com
fatores ligados às empresas para seguir em rota ascendente. À espera de bons resultados
financeiros pelo reflexo dos reajustes do preço do aço, as ações das siderúrgicas tiveram
intensa alta no dia, impulsionando o mercado. Em destaque, as ações da Gerdau (que
ganharam 5,41%) e da Usiminas (5,65%) lideraram as altas. Já CSN, que confirmou a
aplicação de ajuste de 18% a 23% no aço fornecido para a indústria automobilística e de
linha branca, também fechou com valorização de 3,11%.
Ao menos no curto prazo, analistas não veem fatores que devam interromper a escalada
do Ibovespa. Mais do que a reforma da Previdência, as atenções do mercado se voltam
para o julgamento de apelação do ex–presidente Lula em 24 de janeiro, pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF–4). Enquanto não há novidades a respeito do tema, no
entanto, o otimismo generalizado acaba sendo preponderante.
A forte alta da bolsa também corresponde a uma continuação de um movimento estrutural
de longo prazo que havia sido interrompido no fim de 2017 por fatores políticos, segundo
avaliação de André Salgado, sócio da Adam Capital. Ele diz que as incertezas políticas não
foram eliminadas, mas cresce no mercado a visão de que o julgamento do ex–presidente
Lula pode ser um aspecto muito positivo.
"O mercado já dava como certa a participação de Lula na eleição. Se de fato ele for
impedido de concorrer, tem um espaço para melhora muito grande", afirma Salgado. "É
um evento de grande peso para o rumo dos mercados, com potencial mais positivo do que
o contrário."
Enquanto aguardam o julgamento de Lula, os investidores voltam a operar de olho nos
fundamentos econômicos. E o mais importante deles, na visão de Salgado, é a inflação sob
controle, que permitirá juros baixos de forma sustentável.
Na comparação com outros mercados emergentes, o Ibovespa é um dos destaques em
desempenho neste início de 2018, acumulando alta de 2,94% nos primeiros pregões do
ano. Em dólar, a bolsa da Índia subiu 0,42% no mesmo período, enquanto a da Turquia
avança 0,75%. A bolsa mexicana teve valorização de 2,88%, e a russa, de 5,17%. Na
África do Sul, a alta acumulada está em 0,17%.
"Com o impulso das commodities e forte fluxo de estrangeiros para emergentes, temos
pelo menos um primeiro trimestre mais confortável", afirma Vitor Suzaki, analista da
Lerosa Investimentos. (Colaborou Lucinda Pinto)

O Estado de S. Paulo – Bolsa sobe pelo nono pregão consecutivo


e atinge novo recorde
Ibovespa fechou ontem acima dos 78 mil pontos, espelhando otimismo do exterior; risco
Brasil voltou ao nível de 2014

ALTAMIRO SILVA JUNIOR, EULINA OLIVEIRA, MATEUS FAGUNDES e SIMONE CAVALCANTI

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Embalada pelos bons ventos vindos do exterior e pelas perspectivas de um ambiente
doméstico mais favorável neste ano, a Bolsa fechou o nono pregão consecutivo em alta e o
Ibovespa encerrou a sessão de ontem com uma valorização de 0,84%, aos 78.647,41
pontos, renovando também a sua pontuação máxima histórica.
Na opinião de analistas, a Bolsa brasileira espelhou o otimismo observado nos mercados
internacionais, a começar pelo índice Nikkei, de Tóquio, que fechou acima dos 23 mil
pontos pela primeira vez desde 1992. Em Nova York, os mercados renovaram máximas
sucessivas durante o dia, com o Dow Jones superando os 25 mil pontos.
O apetite pelo risco fez os investidores estrangeiros alimentarem também o giro financeiro
da Bolsa por aqui. O volume, que chegou a R$ 9,6 bilhões, é maior que a média da
primeira semana do ano passado, que ficou em torno de R$ 5,6 bilhões.
Segundo a Bolsa, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 865,817 milhões no
primeiro pregão de 2018, na última terça–feira. Na ocasião, o Ibovespa fechou em alta de
1,95%, aos 77.891,03 pontos.
Nesse ambiente favorável, as ações consideradas mais seguras do setor financeiro
ganharam destaque no pregão de ontem, com Itaú Unibanco (PN) em alta de 2,08%, e
valorização de 5,96% em janeiro, e Bradesco (PN) com 1,64% de ganho, e 4,36% no
acumulado do ano.
Esse otimismo também fez a moeda americana à vista fechar na casa dos R$ 3,23, menor
patamar em quase um mês. Essa foi a terceira queda consecutiva do dólar, que já acumula
perdas de 2,45% desde o início deste ano.
Para Carlos Soares, analista de investimentos da Magliano Corretora, o fluxo puxado pelo
mercado global teve apoio na divulgação de indicadores econômicos muito positivos, como
os dados do indicador PMI de serviços da China, que veio reforçando a visão de que o país
segue em ritmo de crescimento.
“O dado, juntamente com a ata do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos),
que não trouxe novidades, acabou refletindo no bom humor das bolsas europeias
também.”
Marco Saravalle, da XP Investimentos, complementa que “o cenário global está jogando a
favor e, por falta de notícias da política, os investidores conseguem olhar para os
fundamentos, que mostram dados positivos e perspectivas de lucro”.
Risco menor. O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) – derivativo que
protege contra calotes – caiu abaixo de 150 pontos ontem, o que não ocorria desde 2014.
O CDS de 5 anos do País era negociado a 148 pontos, de acordo com relatório do Banco
Fibra.
Segundo fontes do mercado, esse foi o décimo dia consecutivo de queda do indicador,
sinalizando que a percepção de risco dos estrangeiros sobre o Brasil segue em trajetória de
melhora.
O CDS do Brasil começou a subir em ritmo forte no segundo mandato da ex–presidente
Dilma Rousseff e superou os 500 pontos no final de 2015, um dos maiores níveis entre os
emergentes. Em seguida, ficou acima do patamar de 400 pontos até o começo de 2016.
Após o impeachment, começou a cair com a expectativa de que o novo governo faria o
ajuste fiscal e outras reformas estruturais.
Na América Latina, a Venezuela tem o CDS mais alto, de 6 mil pontos. A Argentina
também tem CDS acima do nível brasileiro, em 229 pontos. Entre os países com CDS
abaixo do brasileiro, estão Colômbia (103), México (101), Peru (69) e Chile (47).

O Estado de S. Paulo – Negócio de US$ 1 bi


Raízen deve ficar com ativos da Shell na Argentina

A Raízen Combustíveis está prestes a comprar os negócios da Shell na Argentina, que


incluem distribuidoras de combustíveis e ativos da área de refino, apurou o ‘Estado’. As
negociações seguem avançadas e dependem agora de assinatura de contratos, de acordo
com pessoas familiarizadas com o assunto. A transação é da ordem de US$ 1 bilhão.

27
As conversas entre as empresas tiveram início no ano passado e envolveram outros
grupos. O processo está na fase de propostas vinculantes (em que há obrigação de
compra) e a companhia, joint venture entre os grupos Cosan e Shell, é apontada como a
favorita. Se concretizado o acordo, o grupo Cosan terá negócios naquele país em parceria
com a Shell, marcando o processo de internacionalização da Raízen Combustíveis.
Formada em 2010, a Raízen atua na área de distribuição de combustíveis no Brasil e na
produção de açúcar e etanol. Em distribuição, é a terceira maior do setor, atrás das redes
de postos Ipiranga (do grupo Ultra) e da BR Distribuidora, que pertence à Petrobrás e
recentemente abriu o capital na Bolsa. No setor sucroalcooleiro, a empresa é líder
absoluta.
Vendas.
Com planos de desinvestimentos, a Shell colocou à venda no ano passado seu negócio de
refino e cerca de 600 postos de combustíveis na Argentina. Os negócios atraíram diversos
interessados.
Fontes afirmam que, segundo a proposta da Raízen, o valor de US$ 1 bilhão será pago em
dinheiro. As discussões ainda não colocaram no preço o acordo sobre o uso da marca Shell,
o que pode alterar o montante final da operação.
Não interessaria à Raízen ficar com os negócios de refino. No entanto, no mercado
argentino, o distribuidor de combustível também é dono da estrutura de refino. Com isso,
se sair vencedora, a Raízen terá de ter atuação também nesse segmento.
O acordo de compra estava prestes a sair no fim do ano passado, mas trâmites
burocráticos atrasaram o processo. O banco Morgan Stanley está assessorando a Raízen na
operação.
Longa data.
Cosan e Shell são tradicionais parceiros. No ano passado, o grupo de Rubens Ometto
Silveira Mello comprou a fatia de 16,77% que a Shell tinha na Comgás, empresa cujo
controle foi adquirido pela própria Cosan em 2012. A operação, de R$ 1,15 bilhão,
envolveu dinheiro e ações.
Procurada, a Raízen não comentou. A Shell afirmou que não fala sobre rumores ou
especulações associadas ao status de possíveis ações comerciais.

MEIO AMBIENTE E ENERGIA

Folha de S. Paulo – Acordo da Petrobras beneficia mais de 1


milhão de aposentados
Maiores acordos coletivos com investidores nos EUA

SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK

O valor é altíssimo, mas a batalha ainda está no começo. Quando a Petrobras anunciou que
vai pagar US$ 2,95 bilhões, ou quase R$ 10 bilhões, para encerrar o processo movido nos
Estados Unidos por investidores lesados pela desvalorização de seus papéis, advogados,
que podem embolsar até um quinto desse dinheiro, festejaram.
Mas nos próximos meses, depois que o juiz Jed Rakoff aprovar os termos do acordo num
tribunal em Nova York, três grandes fundos de aposentadoria e outros 91 grupos de
investimento representados no processo precisam acertar quem recebe quanto.
O líder da ação é o fundo britânico Universities Superannuation Scheme, que controla cerca
de R$ 260 bilhões em ativos e representa as aposentadorias de 390 mil professores
universitários do Reino Unido. O grupo afirma ter sofrido um prejuízo de R$ 271 milhões no
período levado em conta na ação americana.
Também aparecem no topo da lista dois fundos de aposentadoria americanos. Um deles
tem R$ 356 bilhões em ativos e representa 900 mil funcionários públicos da Carolina do

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Norte e outro tem como beneficiários servidores do Havaí com cerca de R$ 47 bilhões em
investimentos.
Outros fundos relatam rombos ainda maiores com os papéis da petroleira alvo da Lava
Jato. O grupo norueguês Skagen AS diz ter perdido sozinho R$ 484 milhões.
Junto do Danske, outro fundo com sedes na Dinamarca, Luxemburgo e outros países
europeus, a sangria desse trio de empresas totaliza R$ 710 milhões, segundo transcrições
do julgamento num tribunal de Manhattan.
Isso não quer dizer que esses grupos vão receber esses valores exatos quando o acordo for
oficializado. Em última instância, mais de mil investidores podem ser beneficiados, mesmo
que nem saibam do processo que chega ao fim.
Entre os representados pelos vários fundos que levaram a Petrobras aos tribunais estão
professores aposentados do Reino Unido, policiais e bombeiros de Nova York e até a
fundação Bill e Melinda Gates, do criador da Microsoft.
A PARTE DO ESCRITÓRIO
Mas uma parcela significativa dos recursos devidos será destinada aos cofres da
Pomerantz, a firma de advocacia nova–iorquina que conseguiu consolidar todas as queixas
de quase uma centena de reclamantes numa só ação.
Especialistas em casos dessa natureza calculam que a banca pode levar um quinto dos R$
9,5 bilhões da Petrobras ""o maior valor pago nesse tipo de acordo na última década e o
quinto maior da história dos Estados Unidos.
Num caso dessa magnitude, um pagamento de até 30% também não seria impossível,
embora o fato de a firma ter concorrido com outras para liderar o processo indica que pode
ter aceitado menos já de olho no acordo.
"Não seria incomum um custo legal dessa ordem. Há gastos substanciais nesse tipo de
ação, envolvendo a distribuição de fundos aos investidores", diz Brandon Garrett, professor
de direito especialista em acordos de leniência. "O acordo ainda pode exigir a retenção
desses fundos."

Folha de S. Paulo – Petrobras luta nos EUA para não virar


'empresa criminosa'
ALEXA SALOMÃO
DE EDITORA DE "MERCADO"

Multas a esta altura são inexoráveis. O que a Petrobras não admite é ser tachada de
"empresa criminosa". É esse o argumento dos defensores da estatal para explicar a
estratégia que levou ao acordo de US$ 3 bilhões na Justiça americana.
Quem acompanha o seu calvário legal nos Estados Unidos diz que o acordo limpa o terreno
para duas "guerras": o processo administrativo na SEC (órgão que pune empresas que têm
papéis no mercado financeiro de lá) e o procedimento criminal no Departamento de
Justiça.
Nos Estados Unidos, ações judicias coletivas, as "class action", podem levar a disputas
ferrenhas e imprevisíveis. Encerrá–las é sinal de predisposição à negociação.
Nesse contexto, mais do que reduzir incertezas financeiras para os acionistas, o acordo
atesta a iniciativa da Petrobras em sanar eventuais prejuízos que tenha causado. É um
gesto de boa vontade que autoridades americanas tendem a considerar.
Pode ajudar em especial no processo na SEC, onde a derrota já é dada como certa. Nessa
esfera, a responsabilidade é objetiva e não há como negar que ela falhou por não
identificar e punir executivos corruptos. Ainda não se discute o valor da penalidade, mas
estima–se que passaria de US$ 1 bilhão.
Essas multas na SEC, porém, podem ser reduzidas ou até suspensas se uma "class action"
do caso for solucionada –tradição que pode aliviar esse custo para Petrobras.
No Departamento de Justiça, os defensores da empresa esperam que o acordo ajude a
solucionar um impasse já desgastante e perigoso.

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Autoridades americanas insistem para que ela assuma que cometeu crimes –algo que a
sua defensoria rejeita com veemência. Argumentam que a Petrobras foi vítima da
corrupção e sofreu perdas bilionárias com ela.
Nesse campo, o desfecho é imprevisível. O Departamento de Justiça nunca tratou de caso
semelhante com uma estatal. Para reafirmar a posição de vítima, já há quem pondere que
valeria a pena a Petrobras processar o acionista responsável por indicar os funcionários
corruptos –o Estado brasileiro.

O Globo – Ação da Petrobras demora a se recuperar


Bruno Rosa

Mesmo após acordo, analistas avaliam que estatal levará 2 anos para voltar ao valor de
mercado pré–Lava–Jato
Apesar de ter feito acordo para pagar US$ 2,95 bilhões (ou R$ 9,5 bilhões) a investidores
estrangeiros, o que pode encerrar uma de suas maiores disputas judiciais, a Petrobras
deve levar dois anos para recuperar todo o seu valor de mercado desde que foi abalada
pelos casos de corrupção revelados pela Operação Lava–Jato, em 2014. Entre altos e
baixos, a estatal viu seu tamanho na Bolsa de Valores de São Paulo encolher de R$
310,920 bilhões, em dois de setembro de 2014, para R$ 226,9 bilhões ontem. A queda de
cerca de 27% nesses últimos anos representa uma redução de aproximadamente R$ 84
bilhões. Ontem, no dia seguinte ao acordo proposto pela Petrobras à Justiça dos Estados
Unidos, as ações preferencias (PN, sem direito a voto) da companhia, as mais líquidas,
fecharam em alta de apenas 0,17%, para R$ 16,73. Os papéis ordinários (ON, com direito
a voto) subiram 0,85%, para R$ 17,70.
Apesar da alta, a cotação ainda está distante dos R$ 24,56, registrados em setembro de
2014, pouco antes de a companhia entrar em crise. — A Petrobras vem apresentando
melhora desde que Pedro Parente assumiu a companhia, em junho de 2016. No ano
passado, a companhia avançou menos que o mercado em geral, o que indica potencial de
valorização. Estamos prevendo a ação da companhia a R$ 19 na média de 2018. Hoje, a
ação está pouco menos de R$ 17. Em 24 meses é possível a companhia recuperar o
patamar de antes da Lava– Jato. Mas isso vai depender de outras variáveis, como o risco
político da eleição neste ano, e quem assumir a Petrobras no lugar de Parente — disse
Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. Embora ainda esteja longe do nível pré–
crise, a estatal já se recuperou de um dos piores momentos de sua história. Em janeiro de
2016, na esteira da queda no preço do petróleo e do aumento das denúncias de corrupção,
o mercado previa que seria necessário fazer uma capitalização na empresa.
Com o receio dos investidores, os papéis da empresa chegaram a R$ 4,20 e um valor de
mercado de R$ 67,8 bilhões, o menor patamar desde 2003. — O movimento das ações da
Petrobras é positivo, com as iniciativas na gestão da companhia, venda de ativos não
estratégicos e renegociação de dívidas tributárias, mas é difícil prever o quanto os papéis
podem subir, pois isso depende de fatores como a eleição e o risco de rebaixamento do
país — afirma Carlos Soares, analista da Magliano Investimentos. A agência de
classificação de risco Fitch avalia que o acordo feito pela Petrobras não terá efeito para o
caixa da companhia. A Fitch, no entanto, observa que a empresa continua sendo
investigada pela SEC, o órgão regulador do mercado americano, e pelo Departamento de
Justiça dos EUA, o que poderia resultar em multas.
GASOLINA SOBE 12,93% NO RIO EM 2017
O preço médio da gasolina no país subiu 9,4% em 2017, deixando a faixa dos R$ 3,70 para
superar os R$ 4, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). No Rio de janeiro,
o aumento no período foi de 12,93%, o que levou o estado ao quinto lugar no ranking,
puxado principalmente por Volta Redonda e Valença. Com uma média de R$ 4,49 o litro, o
preço da gasolina é o segundo mais alto do país. O Rio fica atrás apenas do Acre, onde a
gasolina é mais cara devido ao frete, com uma cotação média de R$ 5,20. Desde julho do
ano passado, a Petrobras adotou uma nova política de ajuste de preços para acompanhar a
variação do petróleo no mercado internacional.
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Ao longo do ano, foram feitos mais de cem ajustes de preços. O governo federal anunciou,
em julho, um aumento das alíquotas de PIS/Cofins sobre combustíveis. Com a medida,
mais da metade do valor pago pelo litro da gasolina no Estado do Rio passou a ser de
impostos. Em nota, a Petrobras diz que a frequência de reajustes permite à companhia
“competir de maneira mais ágil e eficiente com importadores” e que apenas 29% do preço
da gasolina pago pelo consumidor final correspondem à sua parcela. O gás de botijão
encerrou o ano com alta de 19,6% em termos nominais, a R$ 66,53. É a maior alta desde
2015. (Marina Brandão)
A INDENIZAÇÃO de US$ 2,95 bilhões que a Petrobras se compromete a pagar para
suspender uma ação coletiva instaurada nos Estados Unidos contra a empresa, devido ao
esquema de corrupção que se apossou da estatal no lulopetismo, é parte da conta paga
pelos acionistas.
POR IRONIA, entre eles estão fundos de pensão de assalariados e milhões de trabalhadores
que usaram seu FGTS para investir em ações da empresa. Os petistas que participaram do
esquema, Lula entre eles, não demonstraram qualquer solidariedade de classe com os
atingidos.

Valor Econômico – EUA vão abrir águas para exploração de


petróleo
Por Agências internacionais

O governo do presidente Donald Trump está derrubando um princípio de longa data da


política energética dos EUA ao propor a abertura de 90% das águas federais para
exploração de petróleo e gás. O plano anunciado ontem pelo secretário do Interior, Ryan
Zinke, inclui áreas como a Flórida e a Califórnia, e reverte mais uma política do presidente
Barack Obama, que mantinha só 6% dessas áreas disponíveis à exploração.
Como outras ações do governo Trump, a medida provavelmente provocará uma batalha
prolongada entre companhias de petróleo, ambientalistas e políticos.
"Vamos nos tornar a mais forte superpotência de energia", declarou Zinke ao anunciar o
plano para iniciar as licitações das áreas a partir de 2019. "Certamente temos ativos para
fazer isso."
O setor de petróleo celebrou o anúncio, mas desencadeou uma rápida reação contrária,
não só de ambientalistas, mas também de republicanos que são aliados do presidente
Trump.
O governador da Flórida, o republicano Rick Scott, por exemplo, disse que se opõe à
exploração de petróleo em seu Estado e pediu uma audiência com Zinke para expor suas
preocupações sobre a proteção de recursos naturais. Scott tem o apoio de ambientalistas e
do setor de turismo.
"É absolutamente radical", disse Diane Hoskins, diretora da Oceana. "Expandir a
exploração offshore ameaça os meios de subsistência e as economias das regiões costeiras
que dependem de um oceano saudável."
A abertura de quase todas as águas federais marca uma guinada, não apenas com relação
as políticas de Obama, mas em relação a todos os governos desde Ronald Reagan. A
última licitação de uma área offshore na costa leste data de 1983 e, na costa oeste, de
1984.

EDITORIAIS

O Estado de S. Paulo – A ajuda aos municípios


Com a publicação, no último dia útil de 2017, de medida provisória (MP) que autoriza a
transferência de R$ 2 bilhões para os municípios, o governo do presidente Michel Temer
não atendeu inteiramente os prefeitos, aos quais prometera alívio financeiro imediato em

31
troca de sua pressão sobre os parlamentares em favor da aprovação da reforma da
Previdência, mas criou um problema adicional para execução do Orçamento de 2018. Ao
contrário da liberação dos recursos ainda em 2017, como queriam os prefeitos, a Medida
Provisória n.º 815 determina que a ajuda financeira só será paga neste ano. A
transferência depende da aprovação, pelo Congresso, da medida provisória e de um
projeto de lei autorizando o remanejamento de recursos de outras áreas para a nova ajuda
às prefeituras. O problema é que, como admitiu o ministro da Secretaria de Governo,
Carlos Marun, o governo não sabe de onde tirar esse dinheiro. É certo que, como afirmou o
Ministério do Planejamento, qualquer centavo a mais para as prefeituras implicará o corte
de igual valor de algum programa ou de algum item de despesa previstos no Orçamento de
2018.
E é um orçamento cuja execução já começa com sérias dificuldades, pois parte das receitas
nele previstas não está assegurada, visto que medidas legislativas que permitiriam
aumento de determinados impostos não foram aprovadas a tempo pelo Congresso. Além
disso, por erro da articulação política do governo, o Congresso derrubou veto parcial do
presidente Temer à lei que validou incentivos fiscais concedidos pelos governos estaduais.
Com isso, União, Estados e municípios perderão R$ 9,3 bilhões em receita tributária em
2018. E parte do corte de despesas – como o adiamento, para 2019, do aumento do
funcionalismo previsto para este ano – foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal
Federal. Mesmo num cenário de incertezas quanto às receitas públicas, sobretudo da
União, prefeitos e dirigentes de associações municipais pressionavam o Palácio do Planalto
para a liberação de recursos para aliviar a situação financeira de boa parte das prefeituras.
Em novembro, durante as negociações para acelerar a aprovação do projeto de reforma do
sistema previdenciário – essencial para evitar o aprofundamento de seu já grave
desequilíbrio financeiro –, o presidente Michel Temer prometeu a prefeitos que liberaria os
recursos ainda em 2017. Em troca, os prefeitos se comprometeriam a pressionar os
deputados de suas regiões para que aprovassem a reforma previdenciária, cuja votação foi
adiada para fevereiro.
Com a MP 815 o governo federal cumpriu parcialmente o que prometera, pois os recursos
serão liberados em 2018, para permitir que prefeituras possam “superar dificuldades
financeiras emergenciais”. Os recursos, segundo a MP, devem ser aplicados
“preferencialmente” nas áreas de saúde e educação. Os critérios de distribuição dos
recursos serão os utilizados pelo Fundo de Participação dos Municípios. Depois de afirmar
que a edição da medida provisória “é uma prova do compromisso do governo com os
municípios”, o ministro Carlos Marun reconheceu que o governo não definiu de onde virão
os recursos nem a forma de sua alocação. Segundo Marun, o dinheiro será liberado “em
fevereiro ou março”, depois da aprovação das medidas legais pelo Congresso. Há uma lei
orçamentária que precisa ser cumprida, esclareceu, daí a necessidade de aguardar a
aprovação tanto da medida provisória autorizando as transferências para os municípios
como do projeto de lei que permite o remanejamento de recursos orçamentários. Já o
ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, responsável pela gestão orçamentária, disse que
a ideia inicial do governo era abrir um crédito extraordinário para os municípios ainda em
2017, mas havia dúvidas sobre a legalidade dessa medida. Mesmo com a MP, esclareceu,
“não há nenhuma possibilidade de isso ser feito sem reduzir despesa em outra área”.
Algum programa do governo terá de ser sacrificado.

O Estado de S. Paulo – A síndrome das 11 ilhas


O balanço das atividades do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2017, divulgado pelo site
especializado em questões jurídicas Jota, revela que a Corte mais uma vez manteve a
tendência de priorizar as decisões monocráticas, em detrimento das decisões colegiadas.
Foram 113 mil decisões individuais para um total de 44 mil casos. Em 2007, os 11
ministros da Corte adotaram 131 mil decisões monocráticas, mas para um total de 129 mil
ações. Em 2016, cada ministro decidiu sozinho em 84% das ações em que atuou. O
aumento do número de decisões monocráticas é mais um sinal dos problemas estruturais
que o Poder Judiciário vem apresentando. Afinal, os tribunais superiores são órgãos
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colegiados por natureza. E, pela Constituição, quando um cidadão recorre a essas cortes,
ele tem o direito de ser julgado pelo plenário, e não por um magistrado individualmente.
Nos julgamentos de plenário, ministros com diferentes inclinações doutrinárias debatem,
divergem e examinam cada caso com profundidade e transparência, o que legitima a
decisão dada e reforça a credibilidade da corte, pois a divergência é um pressuposto da
democracia. Já as decisões tomadas solitariamente pelos ministros em seus gabinetes, sem
troca de ideias, tendem a ser opacas.
Além de estimularem o personalismo e o protagonismo, as decisões monocráticas podem
resultar de vieses corporativos e até das preferências políticas de cada magistrado em
matérias tão díspares como pacto federativo, crime ambiental e casamento homoafetivo. E
abrem caminho para o uso abusivo dos pedidos de vista – e, aí, não se sabe quando o caso
retornará à pauta, como ficou evidenciado no processo que contesta o pagamento de
auxílio–moradia para a magistratura, que o ministro Luiz Fux demorou três anos para
devolver. No caso do Supremo, que nos dois últimos anos declarou inconstitucionais
diversas leis e até emendas à Constituição aprovadas pelo Congresso, fiscalizou o processo
de impeachment de uma presidente da República, decidiu o afastamento e a prisão de
parlamentares denunciados por crime de corrupção, determinou a soltura de políticos
envolvidos em esquemas criminosos e restringiu o uso das conduções coercitivas, o
excesso de decisões monocráticas é ainda mais grave. Entre outros motivos, porque pode
agravar problemas econômicos, como ocorreu recentemente com a liminar concedida pelo
ministro Ricardo Lewandowski, suspendendo a MP que eleva de 11% para 14% a
contribuição previdenciária dos servidores públicos mais bem remunerados, bem como a
que posterga aumento em má hora concedido ao funcionalismo. Também pode
desorganizar a estrutura federativa do País, como tem acontecido com a suspensão de leis
aprovadas pelos Estados. “O tempo médio até que o plenário possa avaliar uma decisão
monocrática ou uma liminar retida unilateralmente é de 747 dias. É a politização
monocrática.
Um ministro não tem o direito de usar o tempo processual para fazer prevalecer sua
decisão. Assim, em vez de garantir a segurança, o Supremo pode aumentar a insegurança
jurídica. É antidemocrático. A individualização comportamental de alguns ministros é a
porta de entrada para a politização e transformação do legal no ilegítimo”, diz um dos mais
respeitados estudiosos do Supremo, Joaquim Falcão, professor da Fundação Getúlio Vargas
e autor do livro Onze Supremos: o STF em 2016. Além de “fragmentar a jurisdição do
Supremo, o excesso de decisões monocráticas, que não representam a avaliação do pleno
sobre o julgado, custa ao colegiado o esgarçamento de sua autoridade e de sua
credibilidade”, tem afirmado o ex–presidente da Corte José Paulo Sepúlveda Pertence, para
quem a mais alta Corte do País estaria sofrendo do que chama de “síndrome das 11 ilhas”.
O balanço do Supremo de 2017 não só reforça essas críticas, como também revela que a
Corte – longe de formar um conjunto – está se convertendo num simples somatório de
atuações individuais, o que pode gerar graves consequências institucionais.

O Estado de S. Paulo – O acordo da Petrobrás


O bilionário acordo fechado pela Petrobrás para encerrar uma ação coletiva na Corte
Federal de Nova York – movida por investidores que se sentiram lesados em razão das
perdas provocadas pelo vasto esquema de corrupção que prosperou na estatal na era
lulopetista – foi celebrado pela empresa e pelos autores da ação. Mas nada têm a
comemorar investidores brasileiros que igualmente acionaram a Petrobrás na Justiça, pois
também foram prejudicados pela escandalosa corrupção da era petista que corroeu as
finanças da estatal e resultou em pesados prejuízos para a empresa e queda brutal da
cotação de suas ações. Os que investiram em ações da Petrobrás no Brasil nada ganharam,
não têm certeza de que serão ressarcidos de alguma forma e voltarão a perder. Afinal, o
acordo com investidores estrangeiros imporá novas perdas aos aplicadores nacionais, pois
o valor de US$ 2,95 bilhões – cerca de R$ 10 bilhões – que a Petrobrás se comprometeu a
pagar em três parcelas afetará seus resultados, já no quarto trimestre de 2017. O acordo

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atende “aos melhores interesses da companhia e de seus acionistas”, afirmou a Petrobrás
em comunicado ao mercado.
De fato, o acordo encerra uma disputa judicial iniciada em 2014 e evita perdas ainda
maiores para a empresa. Sem ele, o caso poderia ser julgado por um júri popular e a
Petrobrás poderia ser condenada ao pagamento de um valor muito maior, de até US$ 10
bilhões. Mas a declaração da estatal não diz tudo na parte que se refere a atender “aos
melhores interesses” de seus acionistas. Os estrangeiros que investiram em papéis da
estatal estão, de fato, satisfeitos. É um “resultado fantástico e histórico”, comemorou a
sócia do escritório de advocacia de Nova York que liderou a defesa dos interesses dos
investidores que moveram a ação contra a companhia brasileira. Gestores do fundo de
pensão que liderou a ação coletiva contra a Petrobrás em Nova York igualmente se
declararam satisfeitos com o acordo, que avaliaram como o que preserva “o melhor
interesse” dos investidores que recorreram à Justiça.
O acordo – que depende da decisão do juiz que cuida do caso – não constitui
“reconhecimento de culpa ou de prática de atos irregulares” pela Petrobrás, diz o
comunicado da empresa. Ela continua a negar qualquer responsabilidade pelas perdas que
o escândalo do petrolão impôs aos investidores e se declara vítima dos atos criminosos
revelados pela Operação Lava Jato. O fato de ela já ter recuperado R$ 1,75 bilhão com a
Lava Jato é invocado como ressarcimento pelas perdas de que foi vítima. O valor
recuperado, convém lembrar, corresponde a menos de 15% do que a Petrobrás pagará aos
investidores americanos. Já os investidores residentes no Brasil, tão ou mais prejudicados
do que os americanos, não terão nem um centavo sequer de ressarcimento, como lembrou
a doutora em direito Érica Gorga, em artigo publicado no Estado. Há uma grande
transferência de valor da companhia para os investidores estrangeiros em detrimento dos
nacionais, que perdem duas vezes, diz Gorga. Primeiro, com a desvalorização das ações da
Petrobrás ao longo das investigações da Lava Jato; agora, com o custo do acordo de Nova
York.
É uma demonstração da eficiência do sistema judiciário americano na proteção dos direitos
dos acionistas e investidores e das falhas do sistema brasileiro nesse aspecto. A
prevalência, inclusive na Justiça brasileira, da visão de que as companhias infratoras são
vítimas tende a esvaziar o direito privado, diz Érica Gorga. As companhias, argumenta ela,
“são titulares de direitos e obrigações, sendo plenamente responsáveis pelo destino que
dão ao capital de seus acionistas”. E isso é especialmente verdadeiro quando os recursos
provêm de poupança popular tutelada pela Constituição. A Constituição, de fato, determina
que a lei estabelecerá a responsabilidade da pessoa jurídica, “sujeitando–a às punições
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira
e contra a economia popular”. Aguarda–se a palavra da Justiça brasileira sobre o caso.

O Estado de S. Paulo – Recuperação também no transporte


aéreo
Com aumento de 5,7% em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2016, a
demanda por transporte aéreo doméstico de passageiros registrou a nona alta mensal
consecutiva, resultado que confirma a recuperação do setor. Como outros segmentos da
economia, também o transporte aéreo foi duramente atingido pela crise que se iniciou em
2014, no fim do primeiro mandato da presidente cassada Dilma Rousseff, e se estendeu
até o início de 2017. Nesse período, o setor registrou redução da demanda por 19 meses
consecutivos, de acordo com estatísticas compiladas pela Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac).
A recuperação, como nos demais setores da economia, é lenta, mas parece sólida. Nos 11
primeiros meses de 2017, a demanda acumulou alta de 3,0%. As companhias aéreas ainda
reagem com alguma cautela à melhora do mercado e, por isso, aumentaram a oferta em
1,2%.
O resultado foi o aumento da taxa de ocupação dos voos domésticos, que passou de
79,9% na média do período janeiro–novembro de 2016 para 81,3% nos primeiros 11

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meses de 2017. Considerando–se apenas o mês de novembro, a taxa passou de 80,7%
para 82,6%, o maior nível para o mês em toda a série iniciada em 2000.
Dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), divulgados dias antes de a
Anac anunciar suas estatísticas, são ligeiramente diferentes dos da agência reguladora do
setor. Nas duas pesquisas a demanda e a oferta de transporte aéreo são aferidas pelo
critério de passageiros–quilômetros pagos transportados (RPK, na sigla em inglês), mas a
Abear mostra os resultados de suas empresas associadas – as quatro maiores em operação
no País e que respondem por mais de 95% do mercado doméstico –, enquanto a Anac
inclui em suas estatísticas as operações de todas as companhias autorizadas a operar.
Em números absolutos, em novembro foram transportados 7,6 milhões de passageiros
pagos em voos domésticos, o que representa aumento de 5,0% em relação ao total de
passageiros registrado em novembro de 2016.
A demanda internacional das empresas aumentou 6,3% em novembro, na 14.ª alta mensal
consecutiva. No mês, foram transportados 685 mil passageiros, o maior número para o
mês em toda a série histórica. No acumulado de 11 meses, a demanda internacional
cresceu 12,2%.

Folha de S. Paulo – Devaneio perigoso


Defendida por economista de Harvard, proposta de ação militar na Venezuela sob ditadura
contraria princípios básicos da política externa
Em que pese o diagnóstico correto do professor Ricardo Hausmann, de Harvard, sobre a
calamidade venezuelana, sua proposta de intervenção militar estrangeira para derrubar o
ditador Nicolás Maduro constitui um devaneio perigoso, além de ajuda involuntária a um
regime falido. Ex–ministro do Planejamento daquele país (1992–93) e especialista em
desenvolvimento, Hausmann argumenta que a tragédia humanitária — na qual convivem a
fome crescente e a trajetória de hiperinflação — e o sufocamento das forças dissidentes do
chavismo justificariam uma solução à força.
De fato, instituições e procedimentos democráticos vêm sendo destroçados paulatinamente
pela ditadura de Maduro.
Em meio a uma selvagem repressão a manifestações de rua, o caudilho ordenou prisões
políticas, fraudou eleições, esvaziou os poderes do Parlamento — controlado pela oposição
— e cassou partidos. Nada disso, porém, toma defensável um "Dia D para a Venezuela",
título original de artigo de Hausmann cujo conteúdo foi reproduzido por esta Folha na
quarta (3).
No texto, o economista defende que o Parlamento venezuelano destitua Maduro e indique
um novo governo, que solicitaria apoio militar internacional para se consolidar no poder.
Tal ação teria o inevitável envolvimento do Brasil, país de maior peso geopolítico na
América do Sul, e da máquina bélica americana, ora sob o comando do destemperado
Donald Trump.
Do ponto de vista brasileiro, enviar tropas para a nação vizinha significaria rasgar os
princípios de não intervenção em assuntos internos e de coordenação com organismos
multilaterais, alicerces da política externa. De sua parte, os Estados Unidos dificilmente se
aventurariam em mais uma tentativa de impor mudanças de governo à força, dados os
custosos e nefastos resultados da deposição do ditador Saddam Hussein no Iraque, em
2003.
Além disso, criariam um conflito em potencial com China e Rússia, os principais apoiadores
de Maduro no cenário internacional.
Casos como os da Coreia do Norte e da Síria mostram que há limites para a intromissão
estrangeira, mesmo em ditaduras que provocam desastres humanitários e ameaçam a paz
mundial. Ameaças externas, ademais, acabam servindo para reforçar a pregação
nacionalista, costumeiro recurso de regimes autoritários para justificar mais repressão e
acúmulo de poder.
Diante do colapso venezuelano, a comunidade internacional deveria concentrar esforços
em assegurar uma eleição presidencial competitiva neste ano, além de pressionar o regime

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a aceitar ajuda humanitária, em especial na forma de comida e medicamentos.
Infelizmente, não resta muito mais de proveitoso a fazer.

Folha de S. Paulo – Recorde ocasional


Favorecido pelo crescimento da economia mundial e pela recuperação dos preços das
matêrias–pri–mas, o comércio exterior brasileiro terminou 2017 com o maior saldo positivo
da história, em valores absolutos — US$ 67 bilhões. Superou–se a marca do ano anterior
em US$ 22 bilhões. As exportações tiveram alta de 18,5% e atingiram US$ 217,7 bilhões,
após três anos seguidos de contração. As importações aumentaram 10%.
Mesmo com a melhora, contudo, a corrente de comércio do país — a soma das vendas e
compras — ainda está quase 25% abaixo da observada em 2011. O dado ê especialmente
negativo para uma economia que está entre as mais fechadas do mundo. Do lado
exportador, o destaque, como ê usual, ficou com os produtos básicos (commodities). O
agronegócio expandiu os embarques em 11%, graças à safra recorde de grãos e ampliação
dos negócios com cames e outros produtos.
As vendas de petróleo cresceram 66%, resultado do aumento da produção do prê–sal e,
como nos outros casos, da alta de preços. Houve ainda elevação de 9,4% no segmento de
produtos manufaturados. No setor de automóveis, a taxa chegou a espantosos 44%,
graças à resposta das montadoras à queda do consumo doméstico — reflexo, claro, da
devastadora recessão dos anos anteriores.
A recuperação econômica ainda caminha de modo lento, como mostra o recuo de 11% nas
importações de máquinas e equipamentos. Para 2018 a expectativa ê de avanço mais
acentuado das compras externas, em decorrência da expansão da renda nacional. Mesmo
assim, o Banco Central projeta saldo comercial ainda respeitável, próximo a US$ 50
bilhões.
Velhas fragilidades permanecem, contudo. O país segue muito dependente da exportação
de poucos produtos — soja e minério de ferro são as duas maiores fontes de divisas, com
vendas concentradas para a China. Os custos exagerados dos tributos e da burocracia
ainda oneram as empresas; o gargalo da infraestrutura precária pode até se agravar com a
derrocada das finanças e obras públicas.
Sem progressos nessas áreas, o mais provável será a repetição de um deletério padrão: o
enfraquecimento contínuo dos resultados comerciais à medida que a demanda doméstica
retome vigor.

O Globo – Privatização da Eletrobras não pode ser barganhada


A mistura de hecatombe fiscal e crise política tem sido pródiga em revelar ou a dar mais
contraste a tipos de resistência de grupos organizados contra ajustes necessários para
reequilibrar as contas públicas e desobstruir os espaços, a fim de a economia voltar a
crescer de forma equilibrada. Fica evidente a resistência de castas do funcionalismo público
à equalização das regras de aposentadoria na sociedade brasileira — não só em nome da
questão fiscal, mas também da tão falada e pouco praticada justiça social —, bem como se
torna cada vez mais claro que a privatização não interessa a políticos, devido a motivos
nada republicanos. À medida que se aproxima a venda do controle do sistema Eletrobras,
armam–se barricadas no Congresso contra a privatização de subsidiárias como Furnas e
Chesf.
Não por acaso, parlamentares e políticos mineiros em geral tentam manter Furnas sob
controle estatal, enquanto nordestinos fazem o mesmo com a Chesf, e assim por diante. E
não é pelo fato de estarem sinceramente preocupados com o futuro do setor elétrico. Se
estivessem, não resistiriam à privatização, única forma de se dar condições ao setor de
realizar os pesados e extensos investimentos que a geração de energia requer. Poderiam
discutir modelos de passagem da holding do setor elétrico ao controle privado, mas não se
opor pura e simplesmente à operação, sem dar qualquer alternativa viável de

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financiamento do setor, sem envolver o Tesouro, que está e continuará por algum tempo
— a depender da reforma da Previdência — em situação fiscal frágil.
Não interessa a políticos de praticamente todos os partidos a privatização de estatais,
porque — como ensinou a Lava–Jato — elas são usadas de várias maneiras, todas
espúrias. Seja para empregar apaniguados, mas também, e principalmente, gerar
comissões em negócios para financiar campanhas e, é certo, também visando ao
enriquecimento pessoal. É assim que o tucano Aécio Neves tem lugar de destaque na
bancada mineira antiprivatização de Furnas, mesmo que seu partido ostente no programa
a defesa da desestatização. Aplicada nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Os mesmos motivos movem os nordestinos na resistência à venda da Chesf. É simples:
sem a Petrobras não haveria o petrolão lulopetista, com os aliados MDB e PP. O ex–
deputado Roberto Jefferson, pai da nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, conhecedor
desses subterrâneos, com a experiência de ex–presidiário do mensalão, diz que ter alguém
numa estatal significa construir acessos a empresários que poderão financiar campanhas.
O resto, sabe–se. O governo Temer não pode é se curvar a mais esta pressão e colocar na
mesa de barganhas um projeto estratégico como este. Tem cedido muito, não pode mais
recuar.

O Globo – Briga entre Trump e Bannon pode ajudar investigação


Ex–estrategista–chefe classifica em livro reunião da equipe do presidente com
representantes russos como ‘traição’ e gera mal–estar na Casa Branca

Oruidoso rompimento de Donald Trump com Steve Bannon, seu ex–estrategista–chefe e


principal arquiteto da sua ideologia nacional–populista, traz desdobramentos que
extrapolam o desentendimento entre ex–aliados. O bate–boca tem implicações mais
graves, por girar em torno da suspeita de conluio entre membros da campanha
presidencial do republicano e autoridades russas, assunto sob investigação pelo procurador
especial, Robert S. Mueller III. A ruptura também atinge a divisão interna do Partido
Republicano, segundo analistas, favorecendo a ala tradicional, que sempre viu em Bannon
uma ameaça.
O primeiro escândalo do ano na Casa Branca teve início após a publicação de trechos do
livro do jornalista Michael Wolff, “Fire and Fury: Inside the Trump White House” (“Fogo e
fúria: Dentro da Casa Branca de Trump”), que chega às livrarias na próxima terça–feira.
Segundo o autor, Bannon classificou como “traição” e “um ato antipatriótico” de Trump a
reunião de membros de sua equipe eleitoral — inclusive o filho mais velho, Donald Trump
Jr., o genro Jared Kushner e o ex–chefe de campanha Paul Manafort — com a advogada
russa Natalia Veselnitskaya, na Trump Tower, em 9 de junho, antes da adesão de Bannon
à campanha. A reunião teria o propósito de obter informações comprometedoras sobre a
rival Hillary Clinton.
As palavras de Bannon acrescentam elementos para a inquirição por parte do procurador
especial. “Não há chance de que Don Jr. não tenha levado essas pessoas (os
representantes russos)”, afirma ele no livro de Wolff. “Três nomes do alto escalão da
campanha acharam que era uma boa ideia encontrar uma agente de um governo
estrangeiro na Trump Tower, sem qualquer advogado presente (...). O FBI deveria ter sido
acionado imediatamente.”
Trump reagiu com a rispidez costumeira, afirmando que Bannon além de “perder o
emprego, perdeu também o juízo”. Advogados do presidente tentam impedir o lançamento
do livro. A secretária de Imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse que o
livro está cheio de falsidades, e que a colaboração de Bannon ao autor é uma tentativa do
ex–assessor de manter alguma relevância política. Já Manafort iniciou processo contra
Mueller e o Departamento de Justiça, em que considera “frívolas” as acusações contra ele
de conspiração contra a pátria e de lavagem de dinheiro.
Mesmo que as afirmações de Bannon sejam movidas a rancor, hipótese não descartável, a
equipe de investigadores de Mueller deve perquirir as informações do livro sobre possível
conluio entre assessores de Trump e o Kremlin. Também deve ampliar as investigações e
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incluir bancos e instituições que financiam os negócios do presidente, uma linha de
apuração que, segundo a Fusion GPS, firma responsável pelo dossiê do escândalo, os
republicanos no Congresso não demonstraram interesse em seguir. Está demorando muito
para que toda esta questão seja esclarecida.

Valor Econômico – Petrobras resolve problema nos EUA e cria


outro no Brasil
O acordo alcançado com investidores que moveram ações coletivas contra a Petrobras na
Justiça americana, que levará ao desembolso de US$ 2,95 bilhões (R$ 9,6 bilhões) é um
dos derradeiros capítulos de uma história lamentável para o país e trágica para a
companhia. Com ele, a Petrobras obteve a redução de danos financeiros e a remoção de
um obstáculo importante para o desenvolvimento de seus negócios. O pagamento da maior
quantia em um acordo dessa natureza por uma empresa estrangeira, e a quinta maior de
todas já ocorridas nos EUA, só faz sentido se a expectativa mais provável é a derrota. Um
julgamento por juri popular poderia piorar punições e seus termos financeiros. Dadas a
dimensão da roubalheira, que passou tranquila pelos controles internos, há poucas dúvidas
de que a Petrobras teria mais a perder indo até o fim.
Segundo comunicado da Petrobras, o acordo "não constitui reconhecimento de culpa ou de
prática de atos irregulares", o que o torna quase incompreensível para leigos – o caso de
um inocente que paga US$ 2,95 bilhões para não ser considerado culpado. Primeiro, uma
confissão de culpa formal aniquilaria a empresa com uma sequência de ações adicionais de
milhares de investidores. O pagamento com base em acordo é um reconhecimento
implícito de que houve prejuízos aos investidores que detinham ADRs e bônus da
companhia pela ocultação de bilhões de dólares, que foram subtraídos durante anos sem
deixar vestígios em seus disclosures, pelos quais seus principais executivos eram
responsáveis.
Como alguns executivos foram presos, outros condenados e outros ainda estão sendo
processados, e a direção da empresa foi inteiramente mudada, o gesto para arquivar um
passado condenável teve de ser firmado em dinheiro graúdo. A Justiça americana protege
séria e prioritariamente o investidor, dando consistência à base regulatória do mercado de
capital mais pujante do mundo.
Exatamente porque os EUA têm essa tradição é que a colocação de ações ou recibos de
ações no mercado americano é considerada como um avanço objetivo na governança das
empresas brasileiras, que, com isso, terão sob escrutínio severo suas práticas contábeis e
ações de mercado. Durante anos, as consultorias que prestaram serviço à Petrobras e a
direção da empresa produziram dados que não refletiam a realidade por baixo das barbas
de reguladores que se orgulham de ser vigilantes e severos. Não foi à toa que o montante
pago pelo acordo foi alto.
A Justiça e os órgãos reguladores dos mercados de capitais americanos são exemplos a
seguir no caso de proteção de direitos dos acionistas. Ao aceitar isso e pagar um preço, a
Petrobras resolveu um problema e criou outro – a indenização dos investidores domésticos.
Há ações no Brasil sobre o mesmo assunto e uma arbitragem em andamento, movida pela
Associação dos Investidores Minoritários, que também buscará na Justiça um acordo
semelhante ao feito pela Petrobras nos EUA. Não deveria haver distinção de natureza nem
de grau no tratamento dos investidores, mas, ao deixar os investidores brasileiros de fora,
é como se houvesse. A diferença está no grau de proteção legal das respectivas
jurisdições.
A legislação sobre ações coletivas no Brasil é mais restritiva que a americana. Aqui elas só
podem ser movidas por iniciativa do Ministério Público ou de uma associação civil cujos
membros tenham se sentido prejudicados por empresas no mercado.
Se os efeitos do acordo nos EUA fossem estendidos na mesma proporção aos investidores
domésticos, que detém 31,6% do capital (os detentores de ADR têm 23,4%) a empresa
teria de desembolsar o equivalente a US$ 3,98 bilhões. Se o acionista majoritário também

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tivesse direito a essa espécie de indenização, receberia US$ 5,67 bilhões e os investidores
que usaram o FGTS para comprar ações da companhia, R$ 151 milhões.
Não cabe à Petrobras consertar a legislação brasileira, uma tarefa que compete aos órgãos
reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários e à Justiça. Na disputa com a
empresa, os minoritários abriram um caminho no qual a Justiça poderá criar um
precedente, se eles forem vitoriosos. Por caminhos inesperados, pode surgir um avanço
institucional.

Correio Braziliense – O piso salarial do magistério


As prefeituras de todo o país, que vêm enfrentando sérias dificuldades financeiras nos
últimos anos, têm pela frente sério desafio para arcar com o pagamento do piso salarial
dos professores do ensino básico, que sempre foram mal remunerados. Além desse grave
problema previsto para estourar em futuro não muito distante, estudos demonstram que a
qualidade da educação em nível municipal vai de mal a pior há tempos. Se os educadores
forem ainda mais penalizados com o não recebimento do piso salarial estipulado por
legislação federal, a qualidade do ensino certamente cairá bastante.
A previsão de especialistas é de que, dentro de quatro anos, no mais tardar, os executivos
municipais não terão condições para pagar o piso salarial definido nacionalmente para os
professores da rede pública de educação — este ano ele é de R$ 2.455 —, considerado
insuficiente pelas entidades representativas da categoria. A conclusão é de um
levantamento realizado pela Consultoria em Administração Municipal (Conam), entidade de
prestação de serviços no setor de administração pública que atende a mais de uma
centena de instituições governamentais, entre prefeituras, câmaras municipais, autarquias
e fundações de Minas Gerais e São Paulo.
Na atualidade, as despesas com a folha de pagamento dos professores do ensino básico
representam 80% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb), enquanto os restantes 20% são destinados aos demais gastos das escolas. O
que alarma o setor é que, da forma como o reajuste é calculado, as prefeituras não terão
condições de honrar o compromisso previsto na Lei Federal 11.738/08. E o mais grave é
que em alguns casos o piso não é respeitado. De acordo com pesquisa realizada pela
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), 14 estados não cumpriram
a legislação em 2015.
Com o intuito de corrigir uma distorção histórica na remuneração do magistério, a
Constituição Federal estabelece que o vencimento inicial dos professores será atualizado
anualmente para, paulatinamente, equiparar os salários dos educadores das escolas
públicas aos demais com nível de formação equivalente. A lei prevê, também, que, em
caso de dificuldades financeiras para arcar com o piso, estados e municípios devem receber
ajuda orçamentária da União. A questão é que a lei não prevê punições ao ente federativo
que descumprir a determinação, cabendo ao Ministério Público, por iniciativa — própria ou
por denúncia, fiscalizar a sua aplicação, o que nem sempre acontece, tornando a norma
inócua.
Não se discute a desoladora situação financeira das prefeituras em todo o país, bem como
os obstáculos econômicos enfrentados pelos estados. O que não se pode permitir é que
mais uma vez os professores do ensino básico, responsáveis pela educação das crianças e
adolescentes brasileiros, sejam sacrificados. Comprometer a qualidade do ensino básico
com a supressão do piso salarial é, sim, comprometer o futuro do Brasil.

OUTROS TEMAS

O Globo – Nasa apresenta missão para estudar ‘fronteira’ do


espaço

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Instrumento vai voar de ‘carona’ em satélite comercial para analisar interação entre topo
da atmosfera e a ionosfera e melhorar previsão do ‘clima espacial’

por Cesar Baima

Ilustração da Nasa mostra o instrumento da missão Gold, a bordo do satélite de


comunicações SES–14, fazendo medições da temperatura das camadas mais altas da
atmosfera terrestre – Nasa
RIO – A Nasa apresentou na tarde desta quinta–feira a nova missão com a qual pretende
estudar a “fronteira” do espaço e assim melhorar a previsão do chamado “clima espacial”,
que pode ameaçar o funcionamento de satélites e outras tecnologias no espaço e em terra,
além da segurança e saúde de astronautas. Batizada Gold (sigla em inglês para
“observações em escala global da franja e do disco”), ela consiste de um instrumento que
subirá ao espaço no fim deste mês de “carona” em um satélite comercial de comunicações
para analisar a interação entre a termosfera – camada do topo de nossa atmosfera, que
começa a partir de cerca de 85 km de altitude – com a ionosfera, região do espaço que se
sobrepõe a ela e partes da inferior mesosfera e da superior exosfera onde estão
distribuídas partículas carregadas, especialmente elétrons e íons atômicos, e se estende
entre cerca de 60 km a até mil quilômetros de altitude.
– A ionosfera tem grande impacto nas tecnologias que usamos hoje – lembrou Sarah
Jones, cientista da missão Gold junto ao Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, durante
a apresentação, transmitida pela agência espacial americana em seu site na internet e na
sua página na rede social Facebook. – Os sinais de rádio, TV e do GPS, por exemplo, têm
que atravessar a ionosfera. E hoje sabemos que ela tem um comportamento mais variável
do que pensávamos, então é importante saber como isso pode afetar nosso dia a dia.
Um exemplo disso é a descoberta, feita apenas recentemente, de que fenômenos nas
partes mais baixas da atmosfera, como tempestades, geram “ondas” que acabam se
propagando pela termosfera. E essas “ondas”, ao interagirem com a ionosfera, podem
distorcer ou interromper os sinais que tentam atravessá–la.
– Então esta missão tem como objetivo pesquisar essa nova área da ciência – acrescentou
Sarah. – Antes se achava que a ionosfera era afetada primariamente pelo Sol e a
movimentação da parte superior da atmosfera, mas nos últimos dez anos vimos que ela
também é afetada pelo que acontece bem mais abaixo na nossa atmosfera, com
tempestades provocando ondas que sobem até a termosfera.
Para tanto, o instrumento do Gold, um espectrômetro ultravioleta, ficará numa posição
“privilegiada” no espaço. Conhecida como órbita geoestacionária, ela é muito usada por
satélites de comunicações como o SES–14, no qual estará a bordo, justamente por permitir
que eles permaneçam sobre o mesmo ponto na Terra à medida que ela gira, no caso a
uma longitude de cerca de 47 graus Oeste, bem em cima do Brasil, a quase 36 mil
quilômetros de altitude. Desta perspectiva, ele deverá escanear todo disco terrestre a cada
30 minutos, colhendo informações sobre a composição, densidade, temperatura e outros
dados sobre a termosfera, a ionosfera e a interação entre as duas.
– As informações de missões anteriores são muito limitadas neste sentido – destacou
Richard Eastes, cientista–chefe da missão Gold e pesquisador do Instituto Espacial da
Flórida, nos EUA, que também participou da apresentação desta quinta. – Nunca tivemos
uma imagem global da temperatura da termosfera e da ionosfera e isso é muito importante
na interação entre as duas, além de mudar durante o dia e do dia para a noite. E a órbita
geoestacionária vai permitir que sigamos esta evolução, acompanhando o comportamento
da atmosfera ao longo de todo dia. Com isso, poderemos montar uma imagem mais ampla
para construir modelos melhores de como a termosfera e a ionosfera se comportam e
melhorar nosso entendimento sobre sua interação.
O lançamento do satélite SES–14 com o instrumento da Gold por um foguete Ariane 5 da
base de Kourou, na Guiana Francesa, previsto para o próximo dia 25 de janeiro, também
representará a primeira vez que a Nasa usa espaço numa nave comercial para fazer uma
missão científica. Assim, a agência espacial americana economizou milhões de dólares

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tanto por não precisar construir seu próprio “chassis” para colocar o instrumento quanto
por só precisar bancar uma pequena fração dos custos de lançamento.
– O Gold é como um “hóspede” do SES–14, um equipamento com finalidade diferente da
nave hospedeira – explicou Todd Gossett, diretor para cargas hospedadas da divisão de
Soluções Governamentais da SES, empresa operadora de satélites sediada em Luxemburgo
responsável por esta parceria inédita para a Nasa. – Lançamos cerca de três satélites por
ano e cada um é uma oportunidade para uma “carona” como essa, que permitiu à Nasa
economizar milhões de dólares que teria que gastar com um satélite próprio e seu
lançamento.

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