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VENEZUELA 3
O Globo – Itamaraty diz que Venezuela não deu informações sobre brasileiro preso 3
O Globo – Venezuela ignora pedido de informações sobre brasileiro 4
O Estado de S. Paulo – Itamaraty não sabe onde está brasileiro preso na Venezuela 4
Folha de S. Paulo – Itamaraty considera desaparecido brasileiro que chavismo diz ter detido 5
Folha de S. Paulo – Ideia de ação militar na Venezuela é 'delírio', diz chanceler brasileiro 6
Folha de S. Paulo – Intervenção de forças estrangeiras na Venezuela seria péssima ideia / Artigo / Sean
W. Burges e Fabrício Chagas Bastos 7
O Estado de S. Paulo – Opositores são alvo de governo 9
AMÉRICA DO SUL 13
Folha de S. Paulo – Referendo no Equador oficializará ruptura entre Correa e sucessor 13
O Estado de S. Paulo – Ministro se demite e aprofunda crise no país 15
ESTADOS UNIDOS 15
Folha de S. Paulo – Frio intenso no leste dos EUA cancela voos e suspende aulas 15
Folha de S. Paulo – Trump ameaça processar editora de livro sobre Casa Branca 16
Folha de S. Paulo – Governo Trump muda norma jurídica e aperta cerco à maconha nos EUA 17
O Globo – EUA: Legisladores consultaram psiquiatra sobre saúde mental de Trump 17
EUROPA 18
Folha de S. Paulo – Macron propõe lei na França contra disseminação de notícias falsas 18
Folha de S. Paulo – Primavera de Praga, iniciada há 50 anos, ainda inspira resistência pacífica 19
ÁSIA 20
O Globo – Nova revolução iraniana não chegou ainda / Artigo / Rasheed Abou–Alsamh 20
ORIENTE MÉDIO 22
Folha de S. Paulo – Jerusalém, 30 dias depois / Artigo / Jorge Zaverucha 22
EDITORIAIS 31
O Estado de S. Paulo – A ajuda aos municípios 31
O Estado de S. Paulo – A síndrome das 11 ilhas 32
O Estado de S. Paulo – O acordo da Petrobrás 33
O Estado de S. Paulo – Recuperação também no transporte aéreo 34
Folha de S. Paulo – Devaneio perigoso 35
Folha de S. Paulo – Recorde ocasional 36
O Globo – Privatização da Eletrobras não pode ser barganhada 36
O Globo – Briga entre Trump e Bannon pode ajudar investigação 37
Valor Econômico – Petrobras resolve problema nos EUA e cria outro no Brasil 38
Correio Braziliense – O piso salarial do magistério 39
OUTROS TEMAS 39
O Globo – Nasa apresenta missão para estudar ‘fronteira’ do espaço 39
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VENEZUELA
BRASÍLIA — O Ministério das Relações Exteriores afirmou, em nota divulgada nesta quinta–
feira, que as autoridades da Venezuela ainda não passaram informações sobre a situação
do brasileiro Jonatan Diniz, preso desde o dia 28 de dezembro em Caracas. O Itamaraty diz
que tem mantido contato a família do brasileiro.
De acordo com o ministério, o Consulado–Geral do Brasil em Caracas fez “reiterados
pedidos” de informações sobre a situação jurídica de Jonatan, mas as autoridades policias
não responderam. Já a embaixada do país na capital Venezuela entrou em contato com o
Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e com autoridades de segurança e recebeu
apenas uma “promessa de retorno”, mas não houve resposta.
A família do brasileiro aguarda na expectativa por notícias de Jonatan e está em contato
direto com o Itamaraty. Segundo Renata Diniz, mãe do jovem, o ministério informou que
solicitou uma visita para ver Jonatan pessoalmente e está aguardando parecer da
Venezuela. Ela falou com o filho pela última vez no dia 26 de dezembro, quando ele contou
ter participado de um Natal beneficente para 600 crianças.
— Todos estão sendo solidários e oferecendo ajuda no que for possível. Não tenho palavras
que expressem isso (a ansiedade por notícias). Toda vez que o telefone toca o coração
bate mais rápido. Sabemos que tudo é burocrático, principalmente fora do país quando se
precisa de outras pessoas. Somos conscientes de que tem um prazo, mas acredito que se
resolva o mais rápido possível — disse.
Jonatan, de 31 anos, mora nos Estados Unidos e viajou ao país sul–americano para fazer
trabalhos de caridade. O governo venezuelano acusa ele de dirigir uma ONG chamada Time
to Change the Earth, ques erviria de fachada para promover atividades contra o regime nas
redes sociais e nas ruas da Venezuela.
Na nota divulgada nesta quinta–feira, o Itamaraty reforça o pedido para que as
autoridades da Venezuela “respondam rapidamente aos diversos pedidos de informação
sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica, bem como de visita
consular”.
Confira a íntegra da nota do Ministério das Relações Exteriores:
“Desde que tomou conhecimento de declarações do militar e político venezuelano Diosdado
Cabello, em seu programa de televisão no dia 27 de dezembro, de que o cidadão brasileiro
Jonatan Moisés Diniz teria sido detido, o governo brasileiro procurou inúmeras vezes as
autoridades desse país, tanto em Brasília quanto em Caracas.
O Consulado–Geral do Brasil em Caracas entrou em contato com as autoridades policiais
venezuelanas expressando preocupação e pedindo informações sobre a presença do
cidadão brasileiro na Venezuela, bem como sua situação jurídica e autorização para visita
consular, nos termos da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, da qual os dois
países são signatários. Até o momento, as autoridades policiais não responderam, apesar
dos reiterados pedidos brasileiros, formalizados por notas diplomáticas.
Paralelamente, a Embaixada do Brasil em Caracas vem fazendo gestões contínuas junto ao
Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e às autoridades de segurança desse país,
em busca de mais informações sobre o paradeiro do nacional brasileiro. Até o momento,
apesar da promessa de retorno dos interlocutores, não houve resposta. Em Brasília,
instada a fazê–lo, a embaixada venezuelana tampouco prestou qualquer esclarecimento.
O Brasil solicita às autoridades da Venezuela que respondam rapidamente aos diversos
pedidos de informação sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica,
bem como de visita consular, cursados nos termos das convenções internacionais e de
acordo com as obrigações assumidas pelos dois países à luz do direito internacional.
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Tanto o consulado brasileiro em Caracas quanto o Itamaraty têm mantido contato com a
família de Jonatan Moisés Diniz.”
Itamaraty ainda não sabe nada do paradeiro de Jonatan Diniz, preso no dia 28
RIO E BRASÍLIA – Uma semana após a detenção do brasileiro Jonatan Diniz, de 31 anos,
na Venezuela, o Ministério das Relações Exteriores ainda não recebeu informações do
governo venezuelano sobre a situação do jovem. Segundo uma nota do ministério, o
Consulado–Geral do Brasil em Caracas fez “reiterados pedidos” de informações sobre a
situação jurídica de Jonatan, mas as autoridades policiais não responderam. Já a
embaixada do país na capital entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores
da Venezuela e com autoridades de segurança e recebeu apenas uma “promessa de
retorno”. A família do brasileiro está na expectativa por notícias de Jonatan e em contato
direto com o Itamaraty. Segundo Renata Diniz, mãe do jovem, o ministério solicitou uma
visita para ver Jonatan pessoalmente e está aguardando parecer da Venezuela.
Ela falou com o filho pela última vez no dia 26 de dezembro, quando ele contou ter
participado de um Natal beneficente para 600 crianças. — Todos estão sendo solidários e
oferecendo ajuda no que for possível. Não tenho palavras que expressem isso (a ansiedade
por notícias). Toda vez que o telefone toca o coração bate mais rápido. Somos conscientes
de que há um prazo, mas acredito que se resolva o mais rapidamente possível — disse ao
GLOBO. Jonatan mora nos EUA e viajou ao país sul–americano para fazer trabalhos de
caridade, segundo Renata. Mas o governo venezuelano o acusa de dirigir a ONG Time to
Change the Earth, que serviria de fachada para promover atividades contra o regime na
internet e nas ruas da Venezuela. Ele foi detido no dia 28 de dezembro.
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a embaixada venezuelana tampouco prestou qualquer esclarecimento”. O Brasil solicita na
nota às autoridades da Venezuela “que respondam rapidamente aos diversos pedidos de
informação sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica, bem como de
visita consular”.
Diniz foi detido sob a acusação
de promover atividades contra o governo de Maduro. Sua prisão foi anunciada por um dos
líderes do chavismo, Diosdado Cabello, conhecido pela forte ligação com o Exército, em seu
programa semanal de TV. O caso amplia a distância entre os dois governos, em uma
relação já abalada pela expulsão do embaixador Ruy Pereira pelo governo venezuelano. O
Brasil reagiu com a mesma medida.
Segundo a família do brasileiro, que vive em Balneário Camboriú (SC), Diniz estava na
Venezuela, no Estado de Vargas, ajudando crianças pobres. Ele mora na Califórnia, nos
EUA, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos. Em
suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há fotos dele distribuindo roupas e
alimentos. O brasileiro morava havia ao menos 4 anos em Los Angeles. Ele chegou a viver
em Caracas por dois meses, no início de 2017.
Em vídeos em sua conta no Instagram, Diniz aparece filmando colegas e afagando a
cabeça de crianças. Em novembro, ele começou a pedir doações para a ONG Time to
Change the World, um grupo que não tem site e cujas contas nas redes sociais têm menos
de dois meses.
Em postagem naquele mês, o jovem escreveu que a Time to Change the World “era um
ONG conectava todas as ONGs do mundo, espalhando comida, remédios, brinquedos e
uma nova e saudável filosofia”.
Cabello sugeriu que a CIA estaria envolvida nas supostas atividades do brasileiro. Segundo
ele, a ONG que Diniz lidera entrega alimentos e itens básicos a moradores de rua para
obter financiamento para grupos que o governo venezuelano qualifica como terroristas.
Segundo o Itamaraty, a Embaixada do Brasil em Caracas “vem fazendo gestões contínuas
junto ao Ministério das Relações Exteriores da Venezuela e às autoridades de segurança do
país, em busca de mais informações sobre o paradeiro do nacional brasileiro”. O governo
brasileiro diz ainda que “tanto o consulado em Caracas quanto o Itamaraty têm mantido
contato com a família de Jonatan”.
Foi quando viveu em Caracas, no início de 2017, que Diniz se envolveu mais
profundamente com a crise na Venezuela. A partir de então, ele se engajou nas causas
sociais locais. Em vários posts na internet ele pede para os venezuelanos “se levantarem”
contra Maduro.
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Integrantes do governo brasileiro afirmaram à Folha que o encarregado de negócios da
Venezuela em Brasília, Gerardo Delgado, alegou que não foi autorizado a dar informações
sobre Diniz.
O Ministério das Relações Exteriores solicitou a Caracas que revele a localização do
brasileiro e sua situação jurídica. O regime chavista não havia respondido até a publicação
deste texto.
Diniz morava em Los Angeles e estava havia 20 dias na Venezuela. No mesmo período,
pediu doações a seus seguidores nas redes sociais para comprar comida e brinquedos para
crianças e moradores de rua.
As ofertas eram pedidas também em nome de uma organização chamada Time to Change
the Earth, cuja única referência existente são páginas em redes sociais criadas em
novembro pelo brasileiro.
Para Cabello, a suposta ONG procurava obter "financiamento" e "procurar detectar
objetivos estratégicos". Também o acusou de trabalhar para a CIA baseando–se em sua
residência nos EUA.
Como prova para incriminá–lo, apresentou bonés da suposta entidade e postagens a favor
dos protestos contra Maduro, a maioria delas publicada entre maio e agosto, no auge das
manifestações.
Na mesma época, Diniz morava em Caracas. Pela lei, estrangeiros podem ser expulsos se
violarem a segurança da população, a ordem pública ou cometerem em delitos contra os
direitos humanos.
A Constituição determina que eles não têm direitos políticos, o que poderia ser estendido
também a protestos.
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse nesta quinta–feira (4) à Folha que
a ideia de realizar uma intervenção militar estrangeira na Venezuela para solucionar a crise
é "pura e simplesmente um delírio".
O chanceler fez uma crítica dura à ideia e descartou a participação do Brasil em qualquer
ação dessa natureza."Nem o surrealismo mais delirante poderia imaginar que o Conselho
de Segurança das Nações Unidas, com a Rússia e a China, vai aprovar uma intervenção",
afirmou.
Segundo o ministro, "por mais que esse cenário surrealista se concretize", não existe
hipótese de o governo brasileiro enviar tropas para participar da ação.
Aloysio Nunes disse que o debate, iniciado em artigo do economista venezuelano Ricardo
Hausmann, publicado pela Folha, beneficia o regime de Nicolás Maduro e prejudica a busca
pelo fim da crise institucional no país.
"[O debate] só ajuda Maduro e os setores mais radicais e mais refratários a qualquer tipo
de negociação no regime venezuelano."
O ministro criticou a proposta de Hausmann, que foi ministro do Planejamento em 1992 e
1993, no último mandato de Carlos Andrés Pérez. Hausmann, que hoje leciona na
Universidade Harvard, assumiu o cargo 20 dias depois da tentativa de golpe comandada
por Hugo Chávez contra o então presidente.
"É uma maravilha para essa gente [chavistas] que alguém, especialmente vindo do regime
pré–Chávez, diga que é preciso mobilizar uma força militar para derrubar Maduro. É sopa
no mel."
O chanceler se disse cético em relação às negociações para superar a crise na Venezuela,
mas afirmou que haverá mudanças no país.
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"Aquilo vai continuar, vai haver a deterioração. Pode durar mais ou menos tempo, mas não
tenho dúvida de que haverá mudanças. E não será a partir da intervenção de uma força
internacional."
Aloysio Nunes disse também que não há previsão de retorno do embaixador brasileiro a
Caracas, depois que o governo venezuelano ordenou a expulsão do diplomata, em 23 de
dezembro.
Em retaliação, o Brasil declarou persona non grata o encarregado de negócios da
Venezuela, Gerardo Antonio Delgado Maldonado.
"Eles tomaram a iniciativa e nós tomamos a iniciativa recíproca. Continuamos com relação
diplomática com a Venezuela, mas voltamos ao nível político anterior à ida do nosso
embaixador."
As intenções do professor Ricardo Hausman são boas, mas sua proposta de uma
intervenção militar para salvar a Venezuela do governo de Nicolás Maduro simplesmente
não vai virar realidade. E não funcionaria.
Para começo de conversa, a única maneira pela qual uma mudança de regime decorrente
de um ataque armado contra a Venezuela poderia ter êxito seria se as Forças Armadas dos
Estados Unidos liderassem os combates.
Deixando de lado por enquanto o fator Donald Trump, o legado de mais de um século de
ingerência direta e indireta dos EUA nos assuntos internos de quase todos os países nas
Américas significa que ninguém no continente vai tolerar uma invasão militar dirigida por
Washington.
Talvez um país latino–americano como o Brasil pudesse dirigir forças dos EUA, como
aconteceu com a força MOMEP, da ONU, que arbitrou o conflito entre Equador e Peru na
década de 1990.
De fato, isso seria coerente com os chamados por uma parceria regional maior lançados
pelo chefe do Comando Sul dos EUA, almirante da Marinha Kurt Tidd, em depoimento
perante o Congresso em abril de 2017.
Mas empreender exercícios de treinamento militar conjuntos na selva amazônica brasileira
é muito diferente de deixar uma potência estrangeira enviar tropas americanas à batalha e
alguns soldados, inevitavelmente, à morte. Também presume que Trump rejeitaria a
oportunidade de provar que é o maior líder militar na história americana —ou mundial
Mesmo assim, vamos presumir, como hipótese, que Trump decidisse ceder a liderança a
parceiros regionais, colocando todo o poderio das Forças Armadas americanas à sua
disposição. Quem nas Américas tem a capacidade de planejar e dirigir tal invasão?
Não queremos criticar a qualidade da liderança militar na região, mas sim observar que a
escala logística e estratégica de tal operação simplesmente estaria além do alcance da
experiência e dos programas de treinamento dos corpos de oficiais latino–americanos.
Um brasileiro, chileno, colombiano ou mexicano poderia ser o comandante titular, mas o
controle operacional e estratégico real estaria nas mãos das forças americanas e de
Washington. Em última análise, a proposta aventada por Hausmann apenas criaria mais
turbulência interna em um país já assolado por uma crise política e econômica que dura
anos.
SOBERANIA
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Mas essas não são as únicas razões por que o apelo de Hausmann por uma intervenção
armada provavelmente não será ouvido. A soberania é um princípio sacrossanto na
diplomacia latino–americana.
Os assuntos interamericanos são caracterizados comumente pelo bloqueio de precedentes
que pudessem permitir qualquer espécie de intervenção estrangeira futura em assuntos
nacionais.
De fato, basta considerar o fracasso do esforço da Organização de Estados Americanos
(OEA) para aplicar plenamente a Carta Democrática Interamericana no caso da Venezuela.
Hausmann procura se desviar da dificuldade com a soberania, sugerindo que a Assembleia
Nacional venezuelana promova o impeachment de Maduro e forme um novo governo que
poderia, então, convidar uma força libertadora estrangeira a entrar em ação. Isso seria
uma manobra técnica que não convenceria os diplomatas da região.
Não seria exagero visualizar isso sendo usado como precedente para chamados por
intervenção armada da próxima vez que ocorresse um desacordo importante entre o
Executivo e a Legislatura em outros países latino–americanos, como, dependendo do grau
de militância de cada um, a Bolívia contemporânea, o Brasil, Equador, Honduras ou
Nicarágua.
A crítica mais contundente à proposta de Hausmann talvez seja que ele deixa
completamente de levar em conta a história das intervenções armadas para impor a
democracia.
Como demonstram cabalmente as aventuras dos EUA no Oriente Médio, essas intervenções
simplesmente não funcionam. Os líderes latino–americanos sabem disso, e isso se reflete
no modo como promovem a democracia.
CORDA BAMBA
O regime político —autoritário ou democrático— de um país se baseia no equilíbrio
subjacente de poder social e econômico no país. O mal–estar atual na Venezuela reflete a
realidade de se caminhar sobre essa corda bamba política.
Quando o presidente Hugo Chávez tentou fazer uma revisão da Constituição, em 2007, o
eleitorado decidiu que essa revisão implicaria numa ampliação indevida do poder do
presidente, e a rejeitou.
Do mesmo modo, em 2015 os venezuelanos reagiram com inquietação à Presidência de
Maduro, dando à oposição uma vitória retumbante nas eleições parlamentares. Os freios e
contrapesos estavam em ação democrática.
As ambições do partido governista, o PSUV, foram limitadas, mas o partido continuou no
poder porque a oposição não ofereceu uma alternativa digna de crédito que pudesse
resolver os problemas enfrentados pela legião de pobres no país.
Além da aparente ausência de uma oposição digna de crédito na Venezuela, uma das
razões principais da sobrevivência política de Maduro é o controle rígido que seu regime
exerce sobre as Forças Armadas e a economia.
Hoje os interesses da elite estão indelevelmente vinculados ao controle total sobre o
Estado. A desestabilização dos interesses representados pelo pacto de Maduro com as
Forças Armadas poderia aprofundar a pobreza e potencialmente resultar numa guerra civil
catastrófica.
Novamente, a oposição não está apresentando nenhuma proposta clara para enfrentar
esse desafio, deixando a população com a opção de ficar com o diabo que ela conhece, e
não optar pelo inferno pior que poderia estar por vir.
Para os venezuelanos, isso aponta para um desastre ainda maior do que aquele que
Hausmann destacou. Parece não haver nenhuma opção digna de crédito para um governo
competente.
Mesmo que houvesse, os tecnocratas e burocratas necessários para fazer o país funcionar
ou já deixaram seus cargos ou foram expulsos deles, deixando no ar dúvidas reais quanto
à capacidade doméstica de reconstruir o país.
Some–se a isso o chamado lançado por Hausmann por uma intervenção armada para
restaurar a democracia, e o que se tem é uma receita para uma ocupação militar de longa
duração, que, convenientemente, poderia ser financiada pela maior reserva de petróleo do
mundo. Já vimos quão mal também isso funcionou no Oriente Médio.
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A tragédia venezuelana é altamente complexa e resiste a soluções simplistas.
Propor ideias que não se sustentam, como uma intervenção armada, desperdiça o tempo
valioso dos atores políticos que lidam com questões mais prementes, por exemplo, como
levar assistência humanitária à Venezuela e assegurar à elite nacional corrupta que ela
poderá deixar o país tranquilamente se arquitetar uma transição doméstica de volta à
governança representativa.
A tristeza e dor de Hausmann são compreensíveis e compartilhadas. Mas uma intervenção
atendendo a convite não é uma solução viável da crise da Venezuela.
UOL – O senhor foi diplomata por mais de 50 anos, conhece boa parte do mundo. Como o
mundo enxerga esse Brasil de políticos às voltas com a Justiça hoje?
Amorim – Tem muita gente que não está preocupada. Tem muita gente que quer só
ganhar dinheiro. E se esse regime facilita investimentos e permite aquisições, como a da
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Embraer pela Boeing, eles estão pouco ligando. Agora, o que não tem, no país como está
hoje, é credibilidade. O Brasil não pode propor nada. Essa é uma opinião geral mesmo de
quem não estava de acordo com a nossa política externa.
É inegável que o Brasil tinha protagonismo. O Brasil criou a União Sul–americana de
Nações (Unasul), modificou o padrão de negociações na Organização Mundial do Comércio
(OMC), o [George W.] Bush [ex–presidente dos EUA] ligava imediatamente para o Lula
para propor a criação do G–20, criamos os Brics [comunidade formada pelo grupo de
emergentes Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul]. Nada disso hoje em dia existe.
Estamos totalmente sem liderança.
Veja a Venezuela [país em crise econômica e conflito civil com o presidente Nicolás
Maduro, que, acusado de corrupção, demitiu a procuradora–geral da República que o
investigava e reduziu os poderes do Congresso]. Estou repetindo as palavras do chanceler
[Aloysio Nunes Ferreira, senador pelo PSDB]: o Brasil não pode exercer nenhuma
mediação ou facilitação porque o Brasil tem partido. Isso é uma coisa inacreditável. É o
oposto do que, em 2003, o ex–presidente Lula criou o grupo de Amigos da Venezuela, teve
o referendo com observadores internacionais da OEA [Organização dos Estados
Americanos]. Claro que as situações vão evoluindo e talvez não fosse agora da mesma
maneira, mas foi possível encontrar uma maneira.
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UOL – E que eram os que apoiavam o governo FHC...
Amorim – Claro. Antes apoiavam o FHC. O que se chama de "Centrão" não é que as
pessoas sejam de centro. Mas como os interesses são muito localizados, muito ligados ao
clientelismo, não vou nem falar de corrupção, eles estão prontos a se aliar com qualquer
um. Uma reforma política para valer só pode acontecer na sequência de uma eleição
presidencial em que o presidente eleito tenha grande apoio popular para liderar o processo,
não impor. Se não você terá o Congresso atual que não votará contra os interesses que os
levaram ao poder.
UOL – Se Lula não for candidato a presidente, o senhor é um plano "B" do PT?
Amorim – Nossa tarefa no momento é viabilizar a candidatura de Lula. Eu ainda estou no
plano "A" e pretendo continuar nele.
AMÉRICA DO SUL
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As críticas de Correa, que quando presidente passava horas em cadeia nacional, vieram em
longos vídeos em redes sociais, aos quais Moreno não deu muita corda.
O quadro piorou quando o presidente passou a estimular a Justiça a investigar o destino
dos US$ 33 milhões (R$ 107 milhões) que a Odebrecht declarou, ao Ministério da Justiça
dos EUA, ter pago no Equador sob o governo Correa. A Procuradoria suspeita que US$ 13
milhões tenham ficado com Glas. O paradeiro do restante é uma incógnita.
ESCOLHA ELEITORAL
Quando o Aliança País escolhia o candidato para a eleição de 2017, Correa apoiou Moreno
porque este passara anos no exterior como enviado especial da ONU para pessoas com
deficiência e, segundo estrategistas do partido, era menos associado à gestão pública —ao
contrário de ministros de Correa e de Glas, sobre quem já pesavam acusações de desviar
verbas.
Nas mensagens atuais de Correa, há a sugestão de que Moreno teria quebrado um acordo
para que, se eleito, não estimulasse a investigação dos crimes do período correísta. Só que
o atual presidente fez o contrário, afastando pessoas ligadas ao antecessor e dando sinal
verde para a investigação, que pode atingir o próprio Correa.
A volta do ex–presidente ao país para a campanha é sinal disso. "Esta consulta é uma
traição à pátria", disse Correa, que prometeu visitar "cada rincão do país porque Moreno
conseguiu uma blindagem midiática e é preciso falar às pessoas diretamente."
O presidente, embora popular, não está imune a ataques. Ele nunca explicou seu passado
como guerrilheiro nem sua relação com a corrupção sob a gestão Correa.
Já Correa, que deixou o cargo com 48% de imagem positiva, ainda tem carisma nas
regiões da costa e da serra, seus redutos eleitorais.
Na campanha recém–iniciada, Moreno conta com apoios inesperados, como o dos
direitistas Cynthia Viteri e Guillermo Lasso, seus adversários na eleição ("estas sete
perguntas são pontos que nós gostaríamos de mudar se fôssemos eleitos", disse Lasso).
Mesmo que saia vitorioso e elimine a ameaça de Correa voltar no futuro próximo, Moreno,
que neste sábado verá a Assembleia Nacional eleger seu novo vice a partir de uma lista
tríplice indicada por ele, terá um problema nas mãos: com o Aliança País dividido entre os
dois, o Parlamento, onde o partido é majoritário, pode ser redesenhado em caso de
rompimento oficial.
Se Correa vencer, por outro lado, o presidente perderia apoio de congressistas, mas
contaria com amplo respaldo popular por responder a uma das principais demandas do
eleitorado na campanha: o combate à corrupção.
*
PLEBISCITO NO EQUADOR
Consulta do dia 4 de fevereiro pergunta sobre sete propostas
1) Reformar a Constituição para sancionar a todas as pessoas condenadas por atos de
corrupção com a cassação de seus direitos políticos e a perda de seus bens
2) Reformar a Constituição para que todas as autoridades de eleição popular possam ser
reeleitas por uma só vez para o mesmo cargo e anular a reeleição indefinida aprovada por
emenda pela Assembleia Nacional em 3 de dezembro de 2015
3) Reformar a Constituição para reestruturar o Conselho de Participação Cidadã e Controle
Social, assim como encerrar o período constitucional de seus atuais membros
4) Reformar a Constituição para que nunca prescrevam os delitos sexuais contra crianças e
adolescentes
5) Reformar a Constituição para que se proíba, sem exceção, a mineração em áreas
protegidas ou centros urbanos
6) Alterar a Lei Orgânica para evitar a especulação sobre o valor das terras e a fixação de
tributos, proposta conhecida como "Lei da Mais–Valia"
7) Incrementar a zona intangível em ao menos 50 mil hectares e reduzir a área de
exploração petroleira autorizada pela Assembleia Nacional no Parque Nacional Yasuní
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O Estado de S. Paulo – Ministro se demite e aprofunda crise no
país
O ministro da Defesa do Peru, Jorge Nieto, se demitiu ontem, em mais uma derrota política
para o presidente Pedro Pablo Kuczynski (PPK). A demissão foi em protesto contra o
perdão concedido por PPK ao exditador Alberto Fujimori, condenado por crimes contra a
humanidade. Desde que venceu a votação para permanecer no cargo e concedeu o indulto
a Fujimori, PPK perdeu três ministros e dois conselheiros presidenciais. Com isso, o
presidente será obrigado a reformular o gabinete mais uma vez.
ESTADOS UNIDOS
Em uma carta enviada por um de seus advogados nesta quinta (4), o presidente Donald
Trump pediu à editora responsável pelo livro "Fire and Fury" (Fogo e Fúria, em tradução
literal) que "cesse e desista imediatamente de publicar ou disseminar" a obra, a ser
lançada na próxima semana, sob pena de ser acionada judicialmente.
Escrito pelo jornalista Michael Wolff, o livro sobre os bastidores da Casa Branca no governo
Trump teve seus primeiros trechos divulgados nesta quarta (3) —que provocaram a fúria
do presidente e o rompimento com um de seus principais aliados, o ex–estrategista Steve
Bannon.
A carta enviada nesta quinta (4) à editora Henry Holt & Co e ao autor do livro, subscrita
pelo advogado Charles Harder, argumenta que a obra tem conteúdo difamatório e
malicioso, e ameaça entrar com processos judiciais contra a empresa caso o livro seja
publicado.
"É um pedido muito incomum para um presidente", afirma a professora Susan Low Bloch,
da faculdade de direito de Georgetown, em Washington.
O livro de Wolff, que teve acesso à Casa Branca durante meses e afirma ter realizado cerca
de 200 entrevistas com integrantes do governo Trump, sustenta que o republicano não
acreditava que iria vencer, que pretendia usar a campanha para ganhar fama e que achava
que sua equipe estava "repleta de perdedores".
O jornalista descreve o improviso dos primeiros meses do governo Trump, com direito a
ácidas críticas de alguns dos principais integrantes da equipe do republicano.
Bannon, por exemplo, afirmou ao autor que a reunião do filho de Trump com uma
informante russa durante a campanha, em busca de informações sobre a adversária Hillary
Clinton, foi "antipatriótica", e comparou a investigação do FBI sobre a influência russa na
eleição de 2016 a um "furacão de categoria cinco".
O presidente ficou "furioso" com os relatos do livro, segundo a porta–voz da Casa Branca,
Sarah Sanders. Além de soltar uma nota criticando severamente o ex–assessor, Trump
iniciou um cerco contra possíveis vazamentos de dentro do governo, ao determinar, nesta
quinta (4), que nenhum celular pessoal seja utilizado dentro da Casa Branca.
PRECEDENTES
A ameaça contra o "Fury and Fire" levanta novamente o debate sobre uma eventual
violação à Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de
expressão, versus o direito à personalidade em casos de difamação.
Harder, o defensor do presidente, é um dos mais célebres advogados do país na área de
mídia e difamação. Seu caso mais notório levou ao fechamento do site "Gawker", em 2016,
após a publicação de um vídeo do ex–lutador Hulk Hogan em cenas de sexo. O advogado
argumentou que houve invasão de privacidade e desrespeito aos direitos de personalidade
de Hogan, num argumento que venceu a alegação de interesse público pela publicação.
No início do ano, Harder também defendeu a primeira–dama Melania Trump contra o
tabloide "Daily Mail", que havia publicado erroneamente que ela atuara como
acompanhante de luxo antes de casar com Trump. O jornal fez um acordo e pagou uma
indenização milionária para Melania, em abril.
No caso do livro de Wolff, porém, a professora Low Bloch, especialista em direito
constitucional, afirma que a chance de um tribunal suspender a publicação é "praticamente
impossível".
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Para isso ocorrer, a defesa teria que demonstrar que as informações da obra são falsas e
que foram veiculadas com malícia ou intenção criminosa.
Sendo o presidente uma figura pública, a caracterização da difamação pelos tribunais é
muito mais criteriosa, a fim de proteger a Primeira Emenda. Mesmo uma eventual
indenização em um processo criminal é pouco provável, segundo Low Bloch. "É uma
tentativa inútil", resume ela.
Na noite de quarta (3), o defensor do presidente já havia acionado o próprio Steve
Bannon, numa carta extrajudicial semelhante à que foi enviada à editora. Harder
argumenta que o ex–assessor violou acordos de confidencialidade com Trump, e que está
sujeito a "iminentes" ações judiciais por calúnia e difamação.
A Casa Branca ainda não comentou a notícia, assim como a editora Henry Holt e o autor
Michael Wolff.
Já Bannon afirmou nesta manhã que "Trump é um grande homem" e que irá apoiá–lo "dia
após dia", e disse que os dois continuam próximos.
Nesta quarta (3), a Casa Branca havia informado que a obra de Wolff está repleta de
"relatos falsos e enganosos" de pessoas que não tinham acesso nem influência no governo
Trump, e classificou o livro como "um desprezível tabloide de ficção".
O lançamento do livro, que já está em pré–venda pela internet, deve ocorrer na próxima
terça–feira (9). A obra era a mais vendida da Amazon nesta quinta (4).
Uma nova decisão de Donald Trump ameaça acabar com a festa de empresários que
planejam lucrar com a maconha. A erva recém–legalizada para uso recreativo na Califórnia
e já liberada em outros seis Estados americanos pode entrar na mira de juízes.
Esse é mais um capítulo da cruzada do presidente para desfazer o legado de seu
antecessor, Barack Obama, que orientou os tribunais federais a não processarem Estados
que legalizassem a maconha.
O anúncio de Trump coincide com os primeiros dias em que a droga pode ser usada para
fins recreativos na Califórnia, o maior mercado mundial para a erva. Enquanto investidores
se preparam para se adequar às regras, Washington ameaça processar.
Nos Estados Unidos, leis federais proíbem o uso, a venda e o cultivo da planta. Mas a
situação ficou mais ambígua há cinco anos, quando os Estados de Colorado e Washington
decidiram descriminalizar o consumo da droga.
Na tentativa de sanar o ruído entre tribunais regionais e a lei nacional, Obama orientou
juízes a não perseguir crimes envolvendo compra, venda e uso da maconha a não ser em
casos envolvendo o comércio para menores de idade ou suspeitas de atividade de gangues
e outros crimes.
Os maiores prejudicados pela medida podem ser empresários que investiram na indústria
bilionária da maconha, abrindo galpões para o plantio e montando fábricas de produtos
derivados, como doces e bebidas que levam a substância em suas receitas.
No Colorado, a indústria movimenta US$ 1 bilhão por ano. A expectativa na Califórnia é
que os negócios relacionados à maconha possam render até US$ 10 bilhões.
Em sua nova diretriz, Trump está em sintonia com a opinião de Jeff Sessions, seu
secretário de Justiça. Desde que assumiu o cargo, Sessions deixa claro a sua oposição à
legalização da droga.
17
Professora de Yale disse que grupo se preocupava sobre risco do republicano para o país
EUROPA
O presidente francês, Emmanuel Macron, sugeriu nesta semana elaborar uma nova lei para
combater as "fake news" —notícias falsas— durante campanhas eleitorais.
18
O país, porém, já tem um arcabouço legal para lidar com o fenômeno. A ideia foi recebida
com cautela pelos franceses, avessos a ações que possam representar risco à liberdade de
expressão.
O artigo 27 da lei sobre a liberdade de imprensa —de 1881 e modificado em 2000—
estipula que a divulgação de informações falsas prejudicando a "paz pública" pode ser
punida com uma multa de R$ 175 mil.
Esse texto raramente é invocado, no entanto, devido à dificuldade de provar em
julgamento que existe um vínculo real entre as notícias e a ordem pública.
Patrick Eveno, professor emérito da Universidade Paris 1 Panthéon–Sorbonne, publicou na
quinta–feira (4) um artigo analisando a proposta de Macron e o arsenal legislativo francês
existente.
Eveno, que é também presidente do Observatório da Deontologia da Informação, entidade
que congrega jornalistas e sindicatos, propõe que as notícias falsas não sejam combatidas
com mais legislação, e sim com um debate dentro da sociedade. A imprensa, em especial,
deve "justificar sua existência social" ao vigiar a circulação de informações inverídicas.
Já o jornal francês "Le Monde" foi cauteloso em sua reação. Em um editorial sobre a lei
contra as "fausses nouvelles" —o jargão em francês—, o diário disse que a ideia é
"elogiável", mas "corre o risco de se chocar contra uma realidade complexa".
"Esse tipo de ambição legislativa, dentro de uma área tão complicada e sobre uma coisa
tão crucial como a liberdade de imprensa, é por natureza perigoso", segundo o editorial.
Macron apresentou sua ideia de uma legislação de combate às "fake news" como uma
maneira de proteger a democracia. As notícias falsas têm rondado pleitos em todo o
mundo, preocupando inclusive no Brasil, neste ano de eleições presidenciais.
"Milhares de contas de propaganda em redes sociais têm espalhado por todo o mundo e
em todas as línguas mentiras inventadas para prejudicar políticos, figuras públicas,
jornalistas", disse ele.
A sugestão foi feita durante seu discurso anual a jornalistas no Palácio do Eliseu. A lei,
afirmou o presidente, será apresentada em breve. Citando exemplos do que pode ser feito,
Macron disse que sites terão de informar suas fontes de financiamento.
Excepcionalmente durante as campanhas eleitorais, as autoridades regulatórias poderão
remover conteúdos de maneira mais rápida, explicou ele, tendo o poder de bloquear sites
enganosos.
Macron, que derrotou a nacionalista de direita Marine Le Pen em maio, foi alvo de "fake
news" durante a campanha. Circularam, por exemplo, notícias de que ele tinha contas fora
do país. Ele processou a rival após ela citar essa informação falsa.
Os rumores surgiram horas antes de um debate na TV e foram depois rastreados até um
fórum na internet conhecido por congregar simpatizantes da direita americana.
Mesmo sua vida pessoal foi afetada por campanhas de desinformação, com a circulação de
boatos —nunca provados— de que ele teria um relacionamento às escondidas com outro
homem.
Reagindo à proposta, Le Pen escreveu na quarta no Twitter: "Quem vai decidir se uma
notícia é falsa? Juízes? O governo? A França ainda será uma democracia, caso censure
seus cidadãos?".
19
A Primavera de Praga, como aqueles meses passaram a ser conhecidos, murchou
rapidamente com a chegada dos tanques soviéticos e com o ostracismo de Dubcek, mas
ainda persiste como um exemplo de movimento social.
Em retrospecto, a repressão à reforma tcheca foi um dos sinais da falência do modelo
soviético. A ideia de resistência não violenta, por sua vez, inspirou as revoluções de duas
décadas depois, levando ao fim da União Soviética.
Nascido em 27 de novembro de 1921 em Uhrovec, o eslovaco Dubcek foi educado no atual
Quirguistão, que era então um território soviético. Ele participou da resistência à ocupação
nazista durante a Segunda Guerra (1939–1945) e rapidamente ganhou destaque no
Partido Comunista.
Dubcek tinha 47 anos quando foi eleito primeiro–secretário da sigla, já em meio ao debate
sobre a liberalização do país, que vivia uma grave estagnação econômica. Ele era uma
forte promessa por ser ao mesmo tempo um veterano e um reformador.
A Tchecoslováquia (hoje dividida em República Tcheca e Eslováquia) era governada pelo
Partido Comunista, que havia nacionalizado a economia de acordo com linhas soviéticas —
um projeto acompanhado de magras liberdades individuais.
Com o aval do ex–presidente Ludvík Svoboda, Dubcek iniciou um programa de
liberalização, engatilhando o movimento popular da Primavera de Praga.
O projeto incluía um mercado mais aberto, liberdade de expressão mais ampla e um
governo mais democrático, duas décadas depois da chegada do Partido Comunista ao
poder em 1948.
Foram oito meses de Primavera, durante os quais o país viveu um intenso otimismo,
refletido na obra "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera. "Depois de 20 anos,
era possível respirar e falar livremente", disse em 1998 o ex–presidente Václav Havel
(1936–2011).
O sonho definhou, no entanto, quando a União Soviética se deu conta do potencial de que
a Primavera de Praga crescesse até se tornar uma revolução. Leonid Brejnev, líder
soviético àquela época, decidiu agir.
O Pacto de Varsóvia (equivalente do bloco comunista à Otan, a aliança militar ocidental)
enviou 500 mil tropas e 6.000 tanques ao país, enfrentando a resistência pacífica
organizada por Dubcek.
Acuado, ele foi forçado a assinar um termo em que gradualmente revertia suas reformas —
algo que anunciou à população em um emocionado discurso. Um ano depois, Dubcek foi
substituído no cargo de primeiro–secretário do partido pelo pró–soviético Gustav Husak.
Mais tarde, foi expulso da sigla.
Foram anos de ostracismo e de crítica vinda de sua própria base, que lhe acusava de ter se
dobrado muito facilmente à pressão de Moscou e abandonado a reforma que daria o tal
"rosto humano" ao socialismo.
Em 1989, com o fim do comando comunista, Dubcek foi eleito líder da Assembleia Federal,
o que ele viu à época como uma continuação de sua Primavera. A transição, afinal, foi em
parte possível a partir de seu exemplo de resistência pacífica.
Dubcek morreu em 7 de novembro de 1992 devido a um acidente de carro. Dois meses
depois, a Tchecoslováquia foi dividida —ele era cotado para presidir a Eslováquia.
ÁSIA
Os protestos são um alerta da classe trabalhadora de que a divisão econômica entre ricos e
pobres no país está se alargando demais
Os protestos que irromperam em várias cidades do Irã, na semana passada, e em que 22
manifestantes já foram mortos e mais de 450 presos, não são um sinal de uma nova
20
revolução para tirar os aiatolás do poder. Mas são um alerta da classe trabalhadora de que
a divisão econômica entre os ricos e os mais pobres no país está se alargando demais.
Iranianos se queixam de ver os filhos mimados dos novos ricos dirigindo seus Lamborghinis
pelas ruas de Teerã, enquanto muitos iranianos da classe média baixa viram suas
poupanças em bancos sumir da noite para o dia quando várias dessas instituições
financeiras faliram.
Um iraniano chamado Mehdi, que mora na província pobre de Khuzestan, se queixou para
o “New York Times”, dizendo que viu uma iraniana rica postar uma foto dela mesma no
Instagram com o SUV que dirige. “Ela escreveu que gasta US$ 3.000 com seus pets todo
mês. Uma pessoa pode viver aqui com esse dinheiro por ano. Eu fiquei zangado,” disse
Mehdi.
Diferentemente dos protestos de 2009, que eclodiram na capital e em outras cidades
grandes depois do resultado da eleição geral que elegeu o conservador Mahmoud
Ahmadinejad ao seu segundo mandato como presidente, esses novos começaram na
cidade sagrada de Mashhad e se espalharam para cidades menores. Nesses protestos,
iranianos gritaram “Nem Gaza, nem Líbano, minha vida pelo Irã!”, em um apelo claro
contra os milhões de dólares em suporte que o governo iraniano dá para o grupo Hamas,
em Gaza, e Hezbollah, no Líbano. Mas também houve gritos de “Morte a Rouhani” e “Morte
ao ditador”, referências ao presidente Hassan Rouhani e ao líder supremo Aiatolá Ali
Khamenei.
Em 2009, os protestos foram liderados por jovens da classe média, muitos deles
universitários, querendo mais direitos políticos e liberdade de expressão. Centenas de
pessoas foram presas, incluindo líderes políticos que até hoje estão em prisão domiciliar, e
o momento passou sem grandes mudanças.
Agora, nestes novos protestos, vemos pessoas de todas as idades, a maioria de classe
baixa, protestando contra o desemprego, a inflação e a falta generalizada de oportunidades
para eles. Rouhani, que foi eleito em 2013, deu uma esperança para o povo iraniano de
que o país ia desabrochar economicamente e que, depois que o acordo nuclear foi
aprovado em 2015, o Irã teria uma enxurrada de investimentos estrangeiros que iam gerar
muitos empregos para os iranianos. Infelizmente isso não aconteceu, e, com a eleição de
Donald Trump como presidente nos EUA, e sua hostilidade ao Irã, os iranianos veem que a
bonança de investimentos estrangeiros está longe de chegar.
“Mas o dano feito à reputação de Rouhani não ocorreu da noite para o dia. Ele fez muitas
promessas que não manteve, como nomear ministros mulheres e não nomear de novo
certos membros do gabinete considerados ineficazes,” me disse em entrevista Kelly
Niknejad, americana–iraniana, e fundadora e editora do “Tehran Bureau”, um serviço
independente de notícias sobre o Irã desde 2008.
Vale lembrar que o Irã gosta de se chamar de uma democracia, mas que, na verdade, tudo
é controlado com mão de ferro pelos clérigos religiosos, os aiatolás, que não são eleitos.
Todo candidato à eleição, seja ele ou ela um candidato municipal e até os candidatos
presidenciais, é vetado minuciosamente pelo regime iraniano. E o governo censura toda a
internet, e nesses últimos dias tem bloqueado o acesso ao aplicativo Telegram, muito
popular entre iranianos, porque estava sendo usado para coordenar os protestos.
Dos 80 milhões de iranianos, 20 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Com isso,
todos os governos iranianos ao longo dos anos tiveram como prioridade tentar conter os
preços de comida e dos combustíveis para manter a lealdade dos mais humildes e para
evitar conflitos sociais. Mas, recentemente, o novo orçamento do governo iraniano para
2018 foi vazado na internet, e nele se viu que o governo de Rouhani queria cortar muitos
desses subsídios. O primeiro corte, de acordo com Norman Roule, um analista aposentado
da Central de Inteligência americana, escrevendo no site “The Cipher Brief”, seria no
programa do governo que transfere dinheiro todo mês para os iranianos mais pobres. Com
isso, o governo ia economizar US$ 4,5 bilhões por ano.
O segundo método de economizar dinheiro para o governo seria aumentar o preço da
energia. De acordo com Roule, o Irã gasta US$35 bilhões por ano em subsídios de
combustíveis. O novo orçamento previa aumentar o preço de gás doméstico em 50% e o
preço do diesel em 33%. Cortar estes subsídios seria muito ousado e perigoso para o
21
governo de Rouhani. Vamos ter que esperar para ver se o Parlamento vai autorizar estes
cortes ou não.
Nikenejad acha que estamos testemunhando uma mudança nesses protestos. “As
dificuldades financeiras empurraram algo para a superfície que sempre esteve lá
crescendo. É bastante importante para mim que, ao contrário de 2009, os gritos dos
manifestantes nestes últimos dias foram desprovidos de linguagem religiosa ou slogans.
Vindo do que até agora era considerado a sólida base de apoio do regime, isso é
surpreendente,” disse a jornalista.
O líder supremo Khamenei já acusou outros países como os EUA e a Arábia Saudita de
interferirem nos assuntos internos do Irã e de terem instigado os protestos. É claro que os
americanos e sauditas estão sendo usados como bodes expiatórios.
Os verdadeiros problemas são uma corrupção generalizada no governo e uma economia
fraca que não está produzindo uma quantidade suficiente de empregos para a população.
Rouhani e sua classe de políticos têm focado demais na classe média, se esquecendo dos
mais necessitados. Agora esta camada social está se manifestando. O governo tem que
prestar atenção e fazer alguma coisa para ajudar esses iranianos, senão a estabilidade do
país estará em perigo.
ORIENTE MÉDIO
22
instituições estatais. Isto é apartheid. Até a morte de Saddam Hussein (1937–2006), cerca
de 40.000 palestinos moravam no Iraque. Hoje, são 7.000;
3) Os EUA perderam a condição de mediar a desejada, mas cada vez mais difícil, paz entre
palestinos e israelenses: falso. Enquanto o presidente da Autoridade Palestina vociferou
contra os EUA, seu ministro de Relações Exteriores declarou, pragmaticamente, que não
abandonará a mesa de negociações. Sabe que o único país capaz de fazer Israel negociar
chama–se EUA. Rússia, China e nenhum país europeu estão interessados em substituí–los;
4) A decisão de transferência da embaixada seria ilegal, de acordo com os cânones
internacionais: falso. Cada membro da ONU possui o direito de decidir qual cidade é capital
de outro país. A ONU nada tem a ver com isso, pois este tema não está sob sua jurisdição.
Os acontecimentos reforçam o preconizado pela recém–lançada Estratégia de Segurança
Nacional de Trump, segundo a qual o conflito árabe–israelense não é mais ponto central a
evitar a paz na região.
Atualmente, as ameaças à quietude, sob o ponto de vista americano, provêm,
primordialmente, de organizações terroristas jihadistas e da ameaça iraniana.
Após passar pouco mais de um ano preso na Ucrânia, acusado de terrorismo por ter
participado de uma guerra ao lado de tropas separatistas ligadas a Rússia entre 2014 e
2015, o brasileiro Rafael Marques Lusvarghi, de 32 anos, ganhou liberdade provisória em
dezembro. Ele teve que entregar seu passaporte e não pode deixar a Ucrânia até novo
julgamento. Ex–integrante da Legião Estrangeira Francesa aos 18 anos, ex–policial militar
em São Paulo, autodefinido com “um guerreiro com convicções políticas e morais”, Rafael
já passou 45 dias presos no Brasil após ser detido em protesto no dia da final da Copa do
Mundo de 2014, nos arredores do Maracanã. No ano seguinte, cerrou fileiras junto a tropas
separatistas da Ucrânia, supostamente apoiadas pela Rússia, nos conflitos armados na
região de Donetski, que acabaram sufocados pelo governo ucraniano. Em 2016, ao fazer
escala no aeroporto de Kiev, foi preso e, em 25 de janeiro de 2017, condenado a 13 anos
de prisão por “atuar ao lado de organização terrorista”.
A Promotoria o acusou de ser “mercenário” e “assassino profissional”. Os advogados
ucranianos do brasileiro, porém, conseguiram anular o julgamento — alegando
irregularidades no processos e agressões na cadeia — e, no último dia 18 de dezembro, ele
foi posto em liberdade. Em nota, o Itamaraty informou que Rafael tem recebido da
Embaixada do Brasil em Kiev “assistência quanto à produção de documentos pessoais e
verbas para pequenos auxílios”, acrescentando que representantes da Embaixada
comparecem às audiências judiciais e realizaram visitas periódicas à prisão para verificar
as condições e ouvir relatos sobre a sua situação.
23
Primeiro Comando da Capital (PCC) – que dominam o presídio em Boa Vista e há um ano
foram os responsáveis pelo assassinato de 33 detentos – estão arregimentando
venezuelanos, cada vez mais numerosos nas cadeias da região após se envolver em crimes
como furtos, roubos, contrabando de combustível e tráfico de drogas, informa o enviado
especial Marco Antônio Carvalho. Com os estrangeiros, o PCC amplia sua conexão
internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro. “Esse contato com o País
vizinho vem se fortalecendo e tem relação com a imigração descontrolada”, disse o
secretário adjunto de Justiça e Cidadania de Roraima, Diego Bezerra de Souza.
A crise humanitária venezuelana está se somando a uma crise carcerária e de segurança
pública brasileira no interior da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), a maior de
Roraima, com mais de 1,2 mil presos. Integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC),
que dominam o presídio e há um ano foram responsáveis pela morte de 33 detentos, estão
cooptando venezuelanos que chegam cada vez em maior quantidade às cadeias locais.
Desde o fim de 2016, com o recrudescimento da crise política e econômica na Venezuela,
cujos impactos vão da precariedade do sistema de saúde à pouca oferta de produtos nos
supermercados, os vizinhos decidiram migrar. A cidade de Pacaraima, na fronteira, e a
capital Boa Vista são as que notam os efeitos do fluxo, que deixa um rastro de
superlotação em abrigos públicos e um número incomum de pedintes nas ruas.
A situação tem culminado na prisão de venezuelanos que se envolvem em crimes como
furto e roubo de celular, além da entrada ilegal de combustível, e tráfico de drogas. Dados
da Secretaria de Justiça de Roraima mostram que de cinco venezuelanos presos o número
passou para mais de 60 em um ano. Quem se aproveitou disso foram os integrantes da
facção paulista PCC, que recrutam os estrangeiros para os quadros e fortalecem a conexão
internacional em busca de armas, drogas e lavagem de dinheiro.
“Observamos que muitos venezuelanos foram cooptados pelo PCC. Por meio do setor de
inteligência, percebemos que esse contato com o país vizinho vem se fortalecendo e tem
relação com a imigração descontrolada”, afirmou ao Estado o secretário adjunto de Justiça
e Cidadania (Sejuc), capitão da PM Diego Bezerra de Souza.
A pasta, segundo Bezerra, tem um monitoramento dos integrantes
da facção, catalogação que inclui presos e também aqueles que já foram soltos. Sobre os
motivos que levam os venezuelanos a se aproximarem do PCC, o capitão disse existir um
“conjunto de fatores”.
“Eles são intimidados e precisam
se agregar a algum grupo para se fortalecer, e isso tem acontecido principalmente com o
PCC. Dificilmente vemos venezuelanos entre os membros do Comando Vermelho (CV,
facção
do Rio de Janeiro)”, explicou. Após o massacre em janeiro, a secretaria decidiu retirar
todos os inimigos do PCC que ainda estavam presos na Pamc. Eles foram levados para a
Cadeia Pública de Boa Vista, que se transformou em reduto do CV, grupo criminoso que
após os assassinatos viu despencar o número de filiados.
A cônsul da Venezuela em Roraima, Gabriela Ducharne, disse ontem ao Estado que a
situação é verdadeira, mas a falta de informações fornecidas pelos presos impede que
sejam tomadas providências. “Não tenho muita informação porque eles não falam muito.
Mas é verdade: estão sendo obrigados a entrar nas facções, senão sofrem as
consequências. Eles não falam muito, mas dizem que estão sendo incluídos. Alguns não
falam que são obrigados, só que estão fazendo parte.”
Emergência. No dia 4 de dezembro, o caos migratório levou a governadora Suely Campos
(PP) a decretar situação de emergência no Estado. Na justificativa, sustentou que o
agravamento da situação se deu diante do “inesperado e rápido aumento do número de
imigrantes que chegaram a Roraima, majorando significativamente o contingente de
estrangeiros, sem que possuam meios e condições para sua manutenção”. Disse ainda que
as equipes estaduais enfrentam “sérias dificuldades” para dar apoio humanitário e logístico,
com riscos à saúde e segurança dos imigrantes e da população local.
A Rodovia BR–174, que dá acesso à Penitenciária Monte Cristo, é a mesma que, 200
quilômetros à frente, vai dar em Santa Elena de Uairén, principal porta de entrada dos
estrangeiros em território brasileiro na região. Nas ruas de Boa Vista, a prefeitura ainda
24
tenta impedir que venezuelanos vendam produtos e limpem para–brisas nos semáforos,
cena pouco comum antes da onda migratória.
Dos 726 mil detentos no sistema prisional do País, há 2,6 mil, estrangeiros, segundo
relatório do Ministério da Justiça. Dos estrangeiros, 56% são do continente americano. O
relatório soma dados relativos a julho de 2016, quando em Roraima havia 31 estrangeiros,
1,3% dos presos do sistema local.
Procurado, o Ministério da Justiça não se posicionou sobre a atuação do PCC em Roraima.
Afirmou que o serviço de inteligência da pasta recebe informes das polícias locais.
26
Embalada pelos bons ventos vindos do exterior e pelas perspectivas de um ambiente
doméstico mais favorável neste ano, a Bolsa fechou o nono pregão consecutivo em alta e o
Ibovespa encerrou a sessão de ontem com uma valorização de 0,84%, aos 78.647,41
pontos, renovando também a sua pontuação máxima histórica.
Na opinião de analistas, a Bolsa brasileira espelhou o otimismo observado nos mercados
internacionais, a começar pelo índice Nikkei, de Tóquio, que fechou acima dos 23 mil
pontos pela primeira vez desde 1992. Em Nova York, os mercados renovaram máximas
sucessivas durante o dia, com o Dow Jones superando os 25 mil pontos.
O apetite pelo risco fez os investidores estrangeiros alimentarem também o giro financeiro
da Bolsa por aqui. O volume, que chegou a R$ 9,6 bilhões, é maior que a média da
primeira semana do ano passado, que ficou em torno de R$ 5,6 bilhões.
Segundo a Bolsa, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 865,817 milhões no
primeiro pregão de 2018, na última terça–feira. Na ocasião, o Ibovespa fechou em alta de
1,95%, aos 77.891,03 pontos.
Nesse ambiente favorável, as ações consideradas mais seguras do setor financeiro
ganharam destaque no pregão de ontem, com Itaú Unibanco (PN) em alta de 2,08%, e
valorização de 5,96% em janeiro, e Bradesco (PN) com 1,64% de ganho, e 4,36% no
acumulado do ano.
Esse otimismo também fez a moeda americana à vista fechar na casa dos R$ 3,23, menor
patamar em quase um mês. Essa foi a terceira queda consecutiva do dólar, que já acumula
perdas de 2,45% desde o início deste ano.
Para Carlos Soares, analista de investimentos da Magliano Corretora, o fluxo puxado pelo
mercado global teve apoio na divulgação de indicadores econômicos muito positivos, como
os dados do indicador PMI de serviços da China, que veio reforçando a visão de que o país
segue em ritmo de crescimento.
“O dado, juntamente com a ata do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos),
que não trouxe novidades, acabou refletindo no bom humor das bolsas europeias
também.”
Marco Saravalle, da XP Investimentos, complementa que “o cenário global está jogando a
favor e, por falta de notícias da política, os investidores conseguem olhar para os
fundamentos, que mostram dados positivos e perspectivas de lucro”.
Risco menor. O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS) – derivativo que
protege contra calotes – caiu abaixo de 150 pontos ontem, o que não ocorria desde 2014.
O CDS de 5 anos do País era negociado a 148 pontos, de acordo com relatório do Banco
Fibra.
Segundo fontes do mercado, esse foi o décimo dia consecutivo de queda do indicador,
sinalizando que a percepção de risco dos estrangeiros sobre o Brasil segue em trajetória de
melhora.
O CDS do Brasil começou a subir em ritmo forte no segundo mandato da ex–presidente
Dilma Rousseff e superou os 500 pontos no final de 2015, um dos maiores níveis entre os
emergentes. Em seguida, ficou acima do patamar de 400 pontos até o começo de 2016.
Após o impeachment, começou a cair com a expectativa de que o novo governo faria o
ajuste fiscal e outras reformas estruturais.
Na América Latina, a Venezuela tem o CDS mais alto, de 6 mil pontos. A Argentina
também tem CDS acima do nível brasileiro, em 229 pontos. Entre os países com CDS
abaixo do brasileiro, estão Colômbia (103), México (101), Peru (69) e Chile (47).
27
As conversas entre as empresas tiveram início no ano passado e envolveram outros
grupos. O processo está na fase de propostas vinculantes (em que há obrigação de
compra) e a companhia, joint venture entre os grupos Cosan e Shell, é apontada como a
favorita. Se concretizado o acordo, o grupo Cosan terá negócios naquele país em parceria
com a Shell, marcando o processo de internacionalização da Raízen Combustíveis.
Formada em 2010, a Raízen atua na área de distribuição de combustíveis no Brasil e na
produção de açúcar e etanol. Em distribuição, é a terceira maior do setor, atrás das redes
de postos Ipiranga (do grupo Ultra) e da BR Distribuidora, que pertence à Petrobrás e
recentemente abriu o capital na Bolsa. No setor sucroalcooleiro, a empresa é líder
absoluta.
Vendas.
Com planos de desinvestimentos, a Shell colocou à venda no ano passado seu negócio de
refino e cerca de 600 postos de combustíveis na Argentina. Os negócios atraíram diversos
interessados.
Fontes afirmam que, segundo a proposta da Raízen, o valor de US$ 1 bilhão será pago em
dinheiro. As discussões ainda não colocaram no preço o acordo sobre o uso da marca Shell,
o que pode alterar o montante final da operação.
Não interessaria à Raízen ficar com os negócios de refino. No entanto, no mercado
argentino, o distribuidor de combustível também é dono da estrutura de refino. Com isso,
se sair vencedora, a Raízen terá de ter atuação também nesse segmento.
O acordo de compra estava prestes a sair no fim do ano passado, mas trâmites
burocráticos atrasaram o processo. O banco Morgan Stanley está assessorando a Raízen na
operação.
Longa data.
Cosan e Shell são tradicionais parceiros. No ano passado, o grupo de Rubens Ometto
Silveira Mello comprou a fatia de 16,77% que a Shell tinha na Comgás, empresa cujo
controle foi adquirido pela própria Cosan em 2012. A operação, de R$ 1,15 bilhão,
envolveu dinheiro e ações.
Procurada, a Raízen não comentou. A Shell afirmou que não fala sobre rumores ou
especulações associadas ao status de possíveis ações comerciais.
SILAS MARTÍ
DE NOVA YORK
O valor é altíssimo, mas a batalha ainda está no começo. Quando a Petrobras anunciou que
vai pagar US$ 2,95 bilhões, ou quase R$ 10 bilhões, para encerrar o processo movido nos
Estados Unidos por investidores lesados pela desvalorização de seus papéis, advogados,
que podem embolsar até um quinto desse dinheiro, festejaram.
Mas nos próximos meses, depois que o juiz Jed Rakoff aprovar os termos do acordo num
tribunal em Nova York, três grandes fundos de aposentadoria e outros 91 grupos de
investimento representados no processo precisam acertar quem recebe quanto.
O líder da ação é o fundo britânico Universities Superannuation Scheme, que controla cerca
de R$ 260 bilhões em ativos e representa as aposentadorias de 390 mil professores
universitários do Reino Unido. O grupo afirma ter sofrido um prejuízo de R$ 271 milhões no
período levado em conta na ação americana.
Também aparecem no topo da lista dois fundos de aposentadoria americanos. Um deles
tem R$ 356 bilhões em ativos e representa 900 mil funcionários públicos da Carolina do
28
Norte e outro tem como beneficiários servidores do Havaí com cerca de R$ 47 bilhões em
investimentos.
Outros fundos relatam rombos ainda maiores com os papéis da petroleira alvo da Lava
Jato. O grupo norueguês Skagen AS diz ter perdido sozinho R$ 484 milhões.
Junto do Danske, outro fundo com sedes na Dinamarca, Luxemburgo e outros países
europeus, a sangria desse trio de empresas totaliza R$ 710 milhões, segundo transcrições
do julgamento num tribunal de Manhattan.
Isso não quer dizer que esses grupos vão receber esses valores exatos quando o acordo for
oficializado. Em última instância, mais de mil investidores podem ser beneficiados, mesmo
que nem saibam do processo que chega ao fim.
Entre os representados pelos vários fundos que levaram a Petrobras aos tribunais estão
professores aposentados do Reino Unido, policiais e bombeiros de Nova York e até a
fundação Bill e Melinda Gates, do criador da Microsoft.
A PARTE DO ESCRITÓRIO
Mas uma parcela significativa dos recursos devidos será destinada aos cofres da
Pomerantz, a firma de advocacia nova–iorquina que conseguiu consolidar todas as queixas
de quase uma centena de reclamantes numa só ação.
Especialistas em casos dessa natureza calculam que a banca pode levar um quinto dos R$
9,5 bilhões da Petrobras ""o maior valor pago nesse tipo de acordo na última década e o
quinto maior da história dos Estados Unidos.
Num caso dessa magnitude, um pagamento de até 30% também não seria impossível,
embora o fato de a firma ter concorrido com outras para liderar o processo indica que pode
ter aceitado menos já de olho no acordo.
"Não seria incomum um custo legal dessa ordem. Há gastos substanciais nesse tipo de
ação, envolvendo a distribuição de fundos aos investidores", diz Brandon Garrett, professor
de direito especialista em acordos de leniência. "O acordo ainda pode exigir a retenção
desses fundos."
Multas a esta altura são inexoráveis. O que a Petrobras não admite é ser tachada de
"empresa criminosa". É esse o argumento dos defensores da estatal para explicar a
estratégia que levou ao acordo de US$ 3 bilhões na Justiça americana.
Quem acompanha o seu calvário legal nos Estados Unidos diz que o acordo limpa o terreno
para duas "guerras": o processo administrativo na SEC (órgão que pune empresas que têm
papéis no mercado financeiro de lá) e o procedimento criminal no Departamento de
Justiça.
Nos Estados Unidos, ações judicias coletivas, as "class action", podem levar a disputas
ferrenhas e imprevisíveis. Encerrá–las é sinal de predisposição à negociação.
Nesse contexto, mais do que reduzir incertezas financeiras para os acionistas, o acordo
atesta a iniciativa da Petrobras em sanar eventuais prejuízos que tenha causado. É um
gesto de boa vontade que autoridades americanas tendem a considerar.
Pode ajudar em especial no processo na SEC, onde a derrota já é dada como certa. Nessa
esfera, a responsabilidade é objetiva e não há como negar que ela falhou por não
identificar e punir executivos corruptos. Ainda não se discute o valor da penalidade, mas
estima–se que passaria de US$ 1 bilhão.
Essas multas na SEC, porém, podem ser reduzidas ou até suspensas se uma "class action"
do caso for solucionada –tradição que pode aliviar esse custo para Petrobras.
No Departamento de Justiça, os defensores da empresa esperam que o acordo ajude a
solucionar um impasse já desgastante e perigoso.
29
Autoridades americanas insistem para que ela assuma que cometeu crimes –algo que a
sua defensoria rejeita com veemência. Argumentam que a Petrobras foi vítima da
corrupção e sofreu perdas bilionárias com ela.
Nesse campo, o desfecho é imprevisível. O Departamento de Justiça nunca tratou de caso
semelhante com uma estatal. Para reafirmar a posição de vítima, já há quem pondere que
valeria a pena a Petrobras processar o acionista responsável por indicar os funcionários
corruptos –o Estado brasileiro.
Mesmo após acordo, analistas avaliam que estatal levará 2 anos para voltar ao valor de
mercado pré–Lava–Jato
Apesar de ter feito acordo para pagar US$ 2,95 bilhões (ou R$ 9,5 bilhões) a investidores
estrangeiros, o que pode encerrar uma de suas maiores disputas judiciais, a Petrobras
deve levar dois anos para recuperar todo o seu valor de mercado desde que foi abalada
pelos casos de corrupção revelados pela Operação Lava–Jato, em 2014. Entre altos e
baixos, a estatal viu seu tamanho na Bolsa de Valores de São Paulo encolher de R$
310,920 bilhões, em dois de setembro de 2014, para R$ 226,9 bilhões ontem. A queda de
cerca de 27% nesses últimos anos representa uma redução de aproximadamente R$ 84
bilhões. Ontem, no dia seguinte ao acordo proposto pela Petrobras à Justiça dos Estados
Unidos, as ações preferencias (PN, sem direito a voto) da companhia, as mais líquidas,
fecharam em alta de apenas 0,17%, para R$ 16,73. Os papéis ordinários (ON, com direito
a voto) subiram 0,85%, para R$ 17,70.
Apesar da alta, a cotação ainda está distante dos R$ 24,56, registrados em setembro de
2014, pouco antes de a companhia entrar em crise. — A Petrobras vem apresentando
melhora desde que Pedro Parente assumiu a companhia, em junho de 2016. No ano
passado, a companhia avançou menos que o mercado em geral, o que indica potencial de
valorização. Estamos prevendo a ação da companhia a R$ 19 na média de 2018. Hoje, a
ação está pouco menos de R$ 17. Em 24 meses é possível a companhia recuperar o
patamar de antes da Lava– Jato. Mas isso vai depender de outras variáveis, como o risco
político da eleição neste ano, e quem assumir a Petrobras no lugar de Parente — disse
Rafael Passos, analista da Guide Investimentos. Embora ainda esteja longe do nível pré–
crise, a estatal já se recuperou de um dos piores momentos de sua história. Em janeiro de
2016, na esteira da queda no preço do petróleo e do aumento das denúncias de corrupção,
o mercado previa que seria necessário fazer uma capitalização na empresa.
Com o receio dos investidores, os papéis da empresa chegaram a R$ 4,20 e um valor de
mercado de R$ 67,8 bilhões, o menor patamar desde 2003. — O movimento das ações da
Petrobras é positivo, com as iniciativas na gestão da companhia, venda de ativos não
estratégicos e renegociação de dívidas tributárias, mas é difícil prever o quanto os papéis
podem subir, pois isso depende de fatores como a eleição e o risco de rebaixamento do
país — afirma Carlos Soares, analista da Magliano Investimentos. A agência de
classificação de risco Fitch avalia que o acordo feito pela Petrobras não terá efeito para o
caixa da companhia. A Fitch, no entanto, observa que a empresa continua sendo
investigada pela SEC, o órgão regulador do mercado americano, e pelo Departamento de
Justiça dos EUA, o que poderia resultar em multas.
GASOLINA SOBE 12,93% NO RIO EM 2017
O preço médio da gasolina no país subiu 9,4% em 2017, deixando a faixa dos R$ 3,70 para
superar os R$ 4, segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP). No Rio de janeiro,
o aumento no período foi de 12,93%, o que levou o estado ao quinto lugar no ranking,
puxado principalmente por Volta Redonda e Valença. Com uma média de R$ 4,49 o litro, o
preço da gasolina é o segundo mais alto do país. O Rio fica atrás apenas do Acre, onde a
gasolina é mais cara devido ao frete, com uma cotação média de R$ 5,20. Desde julho do
ano passado, a Petrobras adotou uma nova política de ajuste de preços para acompanhar a
variação do petróleo no mercado internacional.
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Ao longo do ano, foram feitos mais de cem ajustes de preços. O governo federal anunciou,
em julho, um aumento das alíquotas de PIS/Cofins sobre combustíveis. Com a medida,
mais da metade do valor pago pelo litro da gasolina no Estado do Rio passou a ser de
impostos. Em nota, a Petrobras diz que a frequência de reajustes permite à companhia
“competir de maneira mais ágil e eficiente com importadores” e que apenas 29% do preço
da gasolina pago pelo consumidor final correspondem à sua parcela. O gás de botijão
encerrou o ano com alta de 19,6% em termos nominais, a R$ 66,53. É a maior alta desde
2015. (Marina Brandão)
A INDENIZAÇÃO de US$ 2,95 bilhões que a Petrobras se compromete a pagar para
suspender uma ação coletiva instaurada nos Estados Unidos contra a empresa, devido ao
esquema de corrupção que se apossou da estatal no lulopetismo, é parte da conta paga
pelos acionistas.
POR IRONIA, entre eles estão fundos de pensão de assalariados e milhões de trabalhadores
que usaram seu FGTS para investir em ações da empresa. Os petistas que participaram do
esquema, Lula entre eles, não demonstraram qualquer solidariedade de classe com os
atingidos.
EDITORIAIS
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troca de sua pressão sobre os parlamentares em favor da aprovação da reforma da
Previdência, mas criou um problema adicional para execução do Orçamento de 2018. Ao
contrário da liberação dos recursos ainda em 2017, como queriam os prefeitos, a Medida
Provisória n.º 815 determina que a ajuda financeira só será paga neste ano. A
transferência depende da aprovação, pelo Congresso, da medida provisória e de um
projeto de lei autorizando o remanejamento de recursos de outras áreas para a nova ajuda
às prefeituras. O problema é que, como admitiu o ministro da Secretaria de Governo,
Carlos Marun, o governo não sabe de onde tirar esse dinheiro. É certo que, como afirmou o
Ministério do Planejamento, qualquer centavo a mais para as prefeituras implicará o corte
de igual valor de algum programa ou de algum item de despesa previstos no Orçamento de
2018.
E é um orçamento cuja execução já começa com sérias dificuldades, pois parte das receitas
nele previstas não está assegurada, visto que medidas legislativas que permitiriam
aumento de determinados impostos não foram aprovadas a tempo pelo Congresso. Além
disso, por erro da articulação política do governo, o Congresso derrubou veto parcial do
presidente Temer à lei que validou incentivos fiscais concedidos pelos governos estaduais.
Com isso, União, Estados e municípios perderão R$ 9,3 bilhões em receita tributária em
2018. E parte do corte de despesas – como o adiamento, para 2019, do aumento do
funcionalismo previsto para este ano – foi suspensa por decisão do Supremo Tribunal
Federal. Mesmo num cenário de incertezas quanto às receitas públicas, sobretudo da
União, prefeitos e dirigentes de associações municipais pressionavam o Palácio do Planalto
para a liberação de recursos para aliviar a situação financeira de boa parte das prefeituras.
Em novembro, durante as negociações para acelerar a aprovação do projeto de reforma do
sistema previdenciário – essencial para evitar o aprofundamento de seu já grave
desequilíbrio financeiro –, o presidente Michel Temer prometeu a prefeitos que liberaria os
recursos ainda em 2017. Em troca, os prefeitos se comprometeriam a pressionar os
deputados de suas regiões para que aprovassem a reforma previdenciária, cuja votação foi
adiada para fevereiro.
Com a MP 815 o governo federal cumpriu parcialmente o que prometera, pois os recursos
serão liberados em 2018, para permitir que prefeituras possam “superar dificuldades
financeiras emergenciais”. Os recursos, segundo a MP, devem ser aplicados
“preferencialmente” nas áreas de saúde e educação. Os critérios de distribuição dos
recursos serão os utilizados pelo Fundo de Participação dos Municípios. Depois de afirmar
que a edição da medida provisória “é uma prova do compromisso do governo com os
municípios”, o ministro Carlos Marun reconheceu que o governo não definiu de onde virão
os recursos nem a forma de sua alocação. Segundo Marun, o dinheiro será liberado “em
fevereiro ou março”, depois da aprovação das medidas legais pelo Congresso. Há uma lei
orçamentária que precisa ser cumprida, esclareceu, daí a necessidade de aguardar a
aprovação tanto da medida provisória autorizando as transferências para os municípios
como do projeto de lei que permite o remanejamento de recursos orçamentários. Já o
ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, responsável pela gestão orçamentária, disse que
a ideia inicial do governo era abrir um crédito extraordinário para os municípios ainda em
2017, mas havia dúvidas sobre a legalidade dessa medida. Mesmo com a MP, esclareceu,
“não há nenhuma possibilidade de isso ser feito sem reduzir despesa em outra área”.
Algum programa do governo terá de ser sacrificado.
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atende “aos melhores interesses da companhia e de seus acionistas”, afirmou a Petrobrás
em comunicado ao mercado.
De fato, o acordo encerra uma disputa judicial iniciada em 2014 e evita perdas ainda
maiores para a empresa. Sem ele, o caso poderia ser julgado por um júri popular e a
Petrobrás poderia ser condenada ao pagamento de um valor muito maior, de até US$ 10
bilhões. Mas a declaração da estatal não diz tudo na parte que se refere a atender “aos
melhores interesses” de seus acionistas. Os estrangeiros que investiram em papéis da
estatal estão, de fato, satisfeitos. É um “resultado fantástico e histórico”, comemorou a
sócia do escritório de advocacia de Nova York que liderou a defesa dos interesses dos
investidores que moveram a ação contra a companhia brasileira. Gestores do fundo de
pensão que liderou a ação coletiva contra a Petrobrás em Nova York igualmente se
declararam satisfeitos com o acordo, que avaliaram como o que preserva “o melhor
interesse” dos investidores que recorreram à Justiça.
O acordo – que depende da decisão do juiz que cuida do caso – não constitui
“reconhecimento de culpa ou de prática de atos irregulares” pela Petrobrás, diz o
comunicado da empresa. Ela continua a negar qualquer responsabilidade pelas perdas que
o escândalo do petrolão impôs aos investidores e se declara vítima dos atos criminosos
revelados pela Operação Lava Jato. O fato de ela já ter recuperado R$ 1,75 bilhão com a
Lava Jato é invocado como ressarcimento pelas perdas de que foi vítima. O valor
recuperado, convém lembrar, corresponde a menos de 15% do que a Petrobrás pagará aos
investidores americanos. Já os investidores residentes no Brasil, tão ou mais prejudicados
do que os americanos, não terão nem um centavo sequer de ressarcimento, como lembrou
a doutora em direito Érica Gorga, em artigo publicado no Estado. Há uma grande
transferência de valor da companhia para os investidores estrangeiros em detrimento dos
nacionais, que perdem duas vezes, diz Gorga. Primeiro, com a desvalorização das ações da
Petrobrás ao longo das investigações da Lava Jato; agora, com o custo do acordo de Nova
York.
É uma demonstração da eficiência do sistema judiciário americano na proteção dos direitos
dos acionistas e investidores e das falhas do sistema brasileiro nesse aspecto. A
prevalência, inclusive na Justiça brasileira, da visão de que as companhias infratoras são
vítimas tende a esvaziar o direito privado, diz Érica Gorga. As companhias, argumenta ela,
“são titulares de direitos e obrigações, sendo plenamente responsáveis pelo destino que
dão ao capital de seus acionistas”. E isso é especialmente verdadeiro quando os recursos
provêm de poupança popular tutelada pela Constituição. A Constituição, de fato, determina
que a lei estabelecerá a responsabilidade da pessoa jurídica, “sujeitando–a às punições
compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira
e contra a economia popular”. Aguarda–se a palavra da Justiça brasileira sobre o caso.
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meses de 2017. Considerando–se apenas o mês de novembro, a taxa passou de 80,7%
para 82,6%, o maior nível para o mês em toda a série iniciada em 2000.
Dados da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), divulgados dias antes de a
Anac anunciar suas estatísticas, são ligeiramente diferentes dos da agência reguladora do
setor. Nas duas pesquisas a demanda e a oferta de transporte aéreo são aferidas pelo
critério de passageiros–quilômetros pagos transportados (RPK, na sigla em inglês), mas a
Abear mostra os resultados de suas empresas associadas – as quatro maiores em operação
no País e que respondem por mais de 95% do mercado doméstico –, enquanto a Anac
inclui em suas estatísticas as operações de todas as companhias autorizadas a operar.
Em números absolutos, em novembro foram transportados 7,6 milhões de passageiros
pagos em voos domésticos, o que representa aumento de 5,0% em relação ao total de
passageiros registrado em novembro de 2016.
A demanda internacional das empresas aumentou 6,3% em novembro, na 14.ª alta mensal
consecutiva. No mês, foram transportados 685 mil passageiros, o maior número para o
mês em toda a série histórica. No acumulado de 11 meses, a demanda internacional
cresceu 12,2%.
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a aceitar ajuda humanitária, em especial na forma de comida e medicamentos.
Infelizmente, não resta muito mais de proveitoso a fazer.
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financiamento do setor, sem envolver o Tesouro, que está e continuará por algum tempo
— a depender da reforma da Previdência — em situação fiscal frágil.
Não interessa a políticos de praticamente todos os partidos a privatização de estatais,
porque — como ensinou a Lava–Jato — elas são usadas de várias maneiras, todas
espúrias. Seja para empregar apaniguados, mas também, e principalmente, gerar
comissões em negócios para financiar campanhas e, é certo, também visando ao
enriquecimento pessoal. É assim que o tucano Aécio Neves tem lugar de destaque na
bancada mineira antiprivatização de Furnas, mesmo que seu partido ostente no programa
a defesa da desestatização. Aplicada nos governos de Fernando Henrique Cardoso.
Os mesmos motivos movem os nordestinos na resistência à venda da Chesf. É simples:
sem a Petrobras não haveria o petrolão lulopetista, com os aliados MDB e PP. O ex–
deputado Roberto Jefferson, pai da nova ministra do Trabalho, Cristiane Brasil, conhecedor
desses subterrâneos, com a experiência de ex–presidiário do mensalão, diz que ter alguém
numa estatal significa construir acessos a empresários que poderão financiar campanhas.
O resto, sabe–se. O governo Temer não pode é se curvar a mais esta pressão e colocar na
mesa de barganhas um projeto estratégico como este. Tem cedido muito, não pode mais
recuar.
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tivesse direito a essa espécie de indenização, receberia US$ 5,67 bilhões e os investidores
que usaram o FGTS para comprar ações da companhia, R$ 151 milhões.
Não cabe à Petrobras consertar a legislação brasileira, uma tarefa que compete aos órgãos
reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários e à Justiça. Na disputa com a
empresa, os minoritários abriram um caminho no qual a Justiça poderá criar um
precedente, se eles forem vitoriosos. Por caminhos inesperados, pode surgir um avanço
institucional.
OUTROS TEMAS
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Instrumento vai voar de ‘carona’ em satélite comercial para analisar interação entre topo
da atmosfera e a ionosfera e melhorar previsão do ‘clima espacial’
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tanto por não precisar construir seu próprio “chassis” para colocar o instrumento quanto
por só precisar bancar uma pequena fração dos custos de lançamento.
– O Gold é como um “hóspede” do SES–14, um equipamento com finalidade diferente da
nave hospedeira – explicou Todd Gossett, diretor para cargas hospedadas da divisão de
Soluções Governamentais da SES, empresa operadora de satélites sediada em Luxemburgo
responsável por esta parceria inédita para a Nasa. – Lançamos cerca de três satélites por
ano e cada um é uma oportunidade para uma “carona” como essa, que permitiu à Nasa
economizar milhões de dólares que teria que gastar com um satélite próprio e seu
lançamento.
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