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Instituto de Artes
Campinas
2016
PAOLA CECILIA ALBANO
Campinas
2016
A Rubén Enrique Albano (in memoriam)
AGRADECIMENTOS
Aos professores Dr. Ângelo José Fernandes e Dra. Adriana Mendes, que participaram da
minha banca de qualificação do Mestrado, pelos conselhos e orientações;
Ao Professor Polo Martí, pela entrevista concedida; e aos alunos de canto do Bacharelado em
Música Popular da FAD-UNCUYO, que cederam, gentilmente, seu tempo para a pesquisa;
Ao violonista Rubén Martinez pela gravação das faixas “Desafinado”, “Samba de uma nota
só” e “Corcovado” (Tom Jobim);
Ao Dr. Saulo Alves por estar sempre pronto a me ouvir e a esclarecer minhas dúvidas neste
caminhar;
À Márcia Gemaque, Izabel Padovani, Nina Neder e Igor Brasil pelo acolhimento generoso;
À Luci Savassa, Leda Farah, Bruna Queiróz Prado e Rita de Cássia Pastorin Castineira pela
colaboração nas correções e traduções do trabalho;
Ao Danilo Gonzaga Moura, Alicia de Biase, Camila Bareilles e Silvana Albano pelo amor e
pelo apoio incondicional nesta fase da vida.
"Quem canta sabe que se não recuperar os conteúdos virtualizados na
composição, durante o período da execução, deixando transparecer uma inegável
cumplicidade com o que está dizendo (o texto) e com a maneira de dizer (a
melodia), simplesmente inutiliza o seu trabalho e se desconecta do ouvinte. Não
há canção sem impressão enunciativa, sem a sensação de que o que está sendo
dito está sendo dito de maneira envolvida. Por isso, o reconhecimento dos
cantores e de seus estilos é, por si só, um fator de credibilidade e confiança”.
Luiz Tatit
RESUMO
Palavras-chave: performance vocal, análise vocal, análise cancional, canto popular, níveis da
voz.
ABSTRACT
In 2004, it was created the Bachelor course in Latin American Popular Music in the College
of Arts and Design at the University of Cuyo in Mendoza, Argentina. After that, it begins to
find out the need to reflect on its musical practice. Within this perspective, this work aims to
analyze by the study of case the implications of the Spanish-Argentine accent and the
interrelationship of the components of the singing voice in the physical, technical and
interpretive levels in frame the vocal singer gesture. It was applying the same perceptual
analysis in order to detect the possible meanings generated from the interaction of this gesture
with song contents, and the watching of the emotional components revealed by the singers in
their interpretations. It was applied on this research the directed or intentional sample that
consists of five third-year students of singing course, and the repertoire of works was from the
Brazilian composer Antonio Carlos Jobim that representing the Bossa Nova style. It was used
on this study the analysis model for the popular Brazilian song mediatized, and developed by
Regina Machado, who is a professor of popular voice of the Arts Institute of the State
University of Campinas (Unicamp), which, in turn, is supported and based in the study of the
Song of Semiotics developed by Luiz Tatit. The theoretical and methodological frameworks
represent an innovative approach to the analysis of vocal behavior/deportment in Brazilian
popular music. Among the results obtained, it was proved that the interpreter/singer
understands the semiotic contents of a song and the referential elements of the singing, and he
stands in front of those from the emotional quality of his voice configuration. This setting can
either strengthen the tensioning elements and stylistic interpreted song as creating new
meanings with the presence of the voice. We hope that this work can contribute to the popular
singing education in Latin American context and, at the same time, serve as a tie in between
the research fields of singing of Argentine and Brazilian researchers.
Keywords: vocal performance, vocal analysis, analyze cancional, popular singing, voice
levels.
LISTA DE ABREVIATURAS
EMP: Escuela de Música Popular del Sindicato Argentino de Músicos (SADEM) Buenos
Aires-Argentina (Escola de Música Popular do Sindicato Argentino de Músicos ‘SADEM’
Buenos Aires-Argentina).
Quadro 5: Tipos de fonação. Relações entre adução de pregas vocais, consumo de ar, fluxo de
ar, pressão sub-glótica e intensidade sonora. 80
Quadro 6. Descrição comparativa dos elementos observados no nível global e sua relação com
a análise cancional e a qualidade emotiva identificada. 154
Quadro 7. Descrição comparativa dos elementos observados no nível local e sua relação com
as análises. 156
Figura 1: Relação dos elementos do Nível interpretativo (categoria da voz), com os elementos
do Nível Fundamental (categoria do discurso). ........................................................................ 63
Figura 2: Representação gráfica dos aspectos melódicos (na ordem intensa) referentes aos três
primeiros versos da primeira estrofe da composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim e
Vinicius de Moraes. .................................................................................................................. 73
Figura 3: Representação gráfica dos aspectos melódicos (na ordem extensa) referentes aos
últimos dois versos do refrão da composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim. .......... 73
Figura 4: Tipo de Fonação. Relações entre pressão sub-glótica e adução de pregas vocais. ... 79
Figura 11 - Parte A”: compassos 45 ao 52, instrumental (na versão analisada). Composição
“Samba do avião”, de Antônio Carlos Jobim. .......................................................................... 92
Figura 12 - Parte A”: compassos 53 ao 56, versos 17 e 18. Composição “Samba do avião”, de
Antônio Carlos Jobim. .............................................................................................................. 93
Figura 13 - Parte A”, compassos 57 ao 62, versos 19, 20, e 21. Composição “Samba do
avião”, de Antônio Carlos Jobim.............................................................................................. 93
Figura 14 - Parte A”, compassos 63 ao 66 , versos 22 , 23 e 24 . Composição “Samba do
avião” de Antônio Carlos Jobim............................................................................................... 94
Figura 18- Parte A’: compassos 25 a 34, versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de
Antônio Carlos Jobim. ........................................................................................................... 105
Figura 20- Parte A’ compassos 25 a 34, versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de
Antônio Carlos Jobim. ............................................................................................................ 109
Figura 23: Parte A’: compassos 51 ao 74, imagem das respirações seccionadas e analisadas no
editor de áudio que interseccionam os versos 8, 9, 10, 11, 12 e 13 da Composição
“Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim. ................................................................................ 111
Figura 24: Final e Coda compassos 67 a 74. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos
Jobim. ..................................................................................................................................... 113
Figura 25- Padrão rítmico 3-3-2 associado a Astor Piazzolla no tango. ................................ 116
Figura 26- Parte A’ compassos 25 a 34 versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de
Antônio Carlos Jobim, versão 2. ............................................................................................ 118
Figura 38 - Parte A”: compassos 53 a 57, versos 15. Composição “Desafinado”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça. ........................................................................................ 131
Figura 49- Parte A: compassos 8 a 16, versos 3 e 4. Composição “Samba de uma nota só”, de
Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ......................................................................... 143
Figura 50 - Parte B: compassos 17 a 20, versos 5 e 6. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 144
Figura 51 - Parte B: compassos 21 a 24, versos 7 e 8. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 145
Figura 52 - Parte A’: compassos 24 a 31, versos 9 e 10. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 145
Figura 53- Parte A’: compassos 31 a 38, versos 11 e 12. Composição “Samba de uma nota
só”, de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ............................................................. 146
Figura 54- Parte A: compassos 8 a 16, versos 3 e 4. Composição “Samba de uma nota só”, de
Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ......................................................................... 148
Figura 56- Parte B: compassos 17 a 20, versos 5 e 6. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 149
Figura 57- Parte B: compassos 21 a 24, versos 7 e 8. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 150
Figura 58- Parte A': compassos 25 a 33, versos 9 e 10. Composição “Samba de uma nota só”,
de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ..................................................................... 150
Figura 59- Parte A': compassos 33 a 41, versos 11 e 12. Composição “Samba de uma nota
só”, de Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça. ............................................................. 151
Figura 60- Intermezzo, compassos 25 a 32. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça. ........................................................................................ 151
Sumário
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................21
CAPÍTULO I......................................................................................................................................................25
CAPÍTULO 2 .....................................................................................................................................................49
CAPÍTULO 3 .....................................................................................................................................................69
AMOSTRAGEM, CRITÉRIOS DE ESCOLHA E METODOLOGIA DE ANÁLISE..........................................................69
CAPÍTULO 4 .....................................................................................................................................................83
AS ANÁLISES ...................................................................................................................................................83
CAPÍTULO 5 ...................................................................................................................................................152
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................164
INTRODUÇÃO
1
Região Oeste da Argentina, formada pelas províncias de Mendoza, San Juan, San Luis e La Rioja.
2
A partir deste ponto utilizaremos a abreviatura MPB, sem estarmos, no entanto, nos referindo ao conceito de
canção engajada referido por Marcos Napolitano em seu livro Seguindo a Canção Engajamento político e
indústria cultural na MPB (1959-1969).
22
um lado, que esta escolha facilitaria o encontro com os alunos dispostos a participar e, por
outro, que dar-nos-ia a possibilidade de enfocar a BN fora dos padrões de gênero nos quais ela
está inserida nos programas das disciplinas que tem a música do Brasil como objeto de
estudo.
No primeiro capítulo abordamos a institucionalização do ensino da interpretação
em música popular latino-americana na Argentina, a partir do aparecimento do Curso de
Bacharelado na província de Mendoza, em 2004, dos antecedentes que levaram à criação do
mesmo e da proposta pedagógica que aparece no plano de estudos elaborado em 2003, ainda
vigente. A inserção deste capítulo visa fornecer informações que possam orientar o leitor na
compreensão de que o ensino aprendizado das músicas populares, nesse contexto, se sustenta
desde uma fundamentação geográfica e geopolítica com foco no estudo dos gêneros de raiz
folclórica dos países da América Latina, dados que acreditamos possam acrescentar sentidos
na observação das performances vocais.
Dedicamos o segundo capítulo à exposição da fundamentação teórica do trabalho,
debruçando-nos sobre o conceito de canção, a metodologia de “Análise semiótica da canção
popular brasileira”, proposta por Tatit (1994, 1995, 1997, 2001, 2008, 2014), o trabalho de
Machado (2007, 2012) e os referenciais vocais de João Gilberto na canção brasileira.
No terceiro capítulo, nos dedicamos à amostragem e à descrição dos critérios de
escolha dos cantores, do repertório e de gravação do mesmo, apontando, também, a
metodologia adotada para a análise da canção e do comportamento vocal.
As análises das amostras formam o quarto capítulo. Observamos, primeiramente,
com base na semiótica da canção, as relações tensivas entre melodia e letra do repertório
escolhido. Partimos, então, para a análise dos níveis da voz, buscando detectar no gesto
interpretativo do cantor as relações tensivas anteriormente apontadas para, a partir daí,
identificar a qualidade emotiva vocal e sua significação dentro do contexto cancional.
No quinto capítulo, fizemos a descrição comparativa dos recursos vocais
observados nas amostras - no nível global e local - e suas relações com a qualidade emotiva
identificada em cada caso, destacando as semelhanças descobertas. Analisamos os elementos
presentes na pronúncia do português brasileiro e categorizamos o sotaque espanhol/argentino,
identificando duas hierarquias: sotaque intenso e sotaque leve.
Logo, posicionamos este novo elemento na cadeia de relações de sentido que o
vinculam com a dicção articulatória do canto, a articulação rítmica, os parâmetros de emissão
vocal e o tipo de entoação, na conformação da qualidade emotiva da voz .
24
CAPÍTULO I
Mendoza necesita resolver estos asuntos en su mismo territorio, porque cuenta con
inmejorables situaciones que posibilitan que se pueda cambiar esta realidad,
potenciando las indudables cualidades de sus artistas, principalmente sus
compositores y sus intérpretes. Falta sólo reunirlos en torno a un proyecto educativo
que los capacite para ser profesionales comprometidos con la realidad que ofrece la
provincia, la región y el país. Ese proyecto educativo debe realizarlo, sin dudas,
nuestra Universidad Nacional de Cuyo, en el ámbito específico de la Facultad de
Artes y Diseño (PLANO DE ESTUDOS, 2003, p. 2)3.
3
"Mendoza precisa resolver essas questões no seu próprio território, porque tem excelentes situações que
permitem mudar essa realidade, aumentando as qualidades incontestáveis de seus artistas, especialmente dos
compositores e intérpretes. Falta apenas reuni-los em torno de um projeto educativo que lhes permita serem
profissionais comprometidos com a realidade da província, da região e do país. Este projeto educativo deve ser
executado, sem dúvida, pela nossa Universidade Nacional de Cuyo, na área específica da Faculdade de Artes e
Design".
27
4
Projeto de extensão universitária destinado a oferecer palestras, concertos e aulas de música popular argentina e
latino-americana ao público em geral, na Escola de Música da FAD-UNCUYO. A primeira edição foi no ano de
2002. Neste ano se comemora a edição XIII.
5
Segundo Martí em entrevista concedida a Paola Cecília Albano (2014), no marco da criação do Bacharelado em
Música Popular o termo música de raiz folclórica argentina e latino-americana foi utilizado a fim de “evitar
discussões sobre o conceito do 'folclore' e ao mesmo tempo para possibilitar nomear um amplo leque de criações
e recriações posicionadas frente ao tradicional, que possibilitem novos olhares, inclusive os vanguardistas”
(MARTÍ, 2014, ANEXO B, pp.175-184) [Tradução nossa].
6
O Bacharelado em Composição Musical com habilitação em Música Popular da Universidade de Villa María,
Córdoba; o curso de Instrumentista em Música Popular da Escola de Música Popular de Avellaneda (Bs. As.); o
curso de Músico Intérprete em Música Popular da Escola Popular de Música do Sindicato Argentino de Músicos;
os cursos de música da Escola de Música de Buenos Aires, com habilitação em interpretação, composição,
produção, e técnico de som; o curso de Técnico Universitário em Produção Musical da UNSL; o curso de
28
En ese momento el gran fervor que había por “lo latinoamericano” desde distintas
expresiones no solamente desde la música, fue detenido con la llegada de la
dictadura militar en 1976. Muchos de los protagonistas, artistas, investigadores,
intelectuales, hacedores culturales, estuvieron desaparecidos, fueron detenidos
exiliados o prohibidos. Con el retorno a la democracia en 1983 la idea se retoma y
recién a fines de los 90 y principios del 2000 es donde empieza a abrirse camino
[grifos nossos]. (MARTÍ, 2014, ANEXO B, pp.175-184).7
Música Popular Contemporânea do Conservatório Fermatta, do México- D.F e o curso de Música Popular da
Universidade de Murcia, entre outros (PLANO DE ESTUDOS 2003, p. 3) [Tradução nossa].
7
“Naquele momento, o grande fervor pelo “latino-americano”, em suas diferentes expressões, não só na música,
foi detido com advento da Ditadura Militar em 1976. Muitos dos protagonistas – artistas, pesquisadores,
intelectuais, pessoas ligadas à cultura – desapareceram, foram presos, exilados ou proibidos de manifestar-se. O
retorno da democracia, em 1983, retomou a ideia da integração da cultura latino-americana. No contexto da
educação artística, começou a materializar-se no final dos anos 1990” [Tradução nossa].
8
“[...] algumas instituições modificaram seus planos de estudos, incluindo aspectos da música da região, que
nunca antes haviam tido espaço. No Instituto Superior de Música (ISM) da Universidade Nacional do Litoral
(UNL) criou-se o Departamento de Música Popular (1973-1975), que foi dirigido por Osvaldo Catena, e um
'Bacharelado Musical', a cargo do músico Oscar Cardoso Ocampo. A Revista 'Música e Cultura Popular' chegou
a ser editada no ano de 1974. Essas modificações ou inclusões foram eliminadas pelas intervenções da Ditadura
Militar no período de 1976 a 1983” [Tradução nossa].
29
En el año 1986 se crea una Comisión destinada a dar a luz un Proyecto que
constituiría un intento hasta ahora único de institucionalizar la formación de músicos
populares en Tango, Jazz y Folclore. El entonces Director General de Escuelas y
Cultura de la Provincia de Buenos Aires, Dr. José Gabriel Dumón, convoca por
intermedio del Mtro. Cacho Tirao, en ese momento Director de Enseñanza Artística,
a un grupo de destacados músicos para delinear el perfil pedagógico y organizativo
de una carrera que no contaba con antecedentes a nivel oficial. Según consta en una
gacetilla difundida en esa época, la formulación de los contenidos de Folclore
correspondía a Manolo Juárez, los de Tango a Horacio Salgán, los de Jazz a Hugo
Pierre y el Plan de estudios sería responsabilidad del Asesor Gustavo Molina 13.
9
Disponível em: http://www.empa.edu.ar/seccion/infoGeneral. Acesso em 06/05/2014.
10
Disponível em: http://www.epm.edu/ismp.html. Acesso em 06/05/2014.
11
Disponível em: http://www.emba.com.ar/. Acesso em 6/05/2014.
12
Disponível em: http://www.empa.edu.ar/seccion/historia. Acesso em 06/05/2014.
13
“No ano de 1986 criou-se uma comissão destinada à formulação de um projeto que se constituiria numa
tentativa de institucionalizar a formação de músicos populares em tango, jazz e folclore. O Diretor Geral de
Escolas e Cultura da Província de Buenos Aires, Dr. José Dumón, convocou, por intermédio do violonista Cacho
Tirao, nesse momento Diretor de Ensino Artístico, um grupo de músicos de destaque para formular o perfil
pedagógico e organizar uma carreira sem antecedentes no nível oficial. Segundo uma publicação da época, a
formulação dos conteúdos de folclore ficaria por conta do músico Manolo Juárez; os de tango, pelo músico
Horacio Salgán; os de jazz, por Hugo Pierre; e o plano de estudos seria responsabilidade do assessor Gustavo
Molina.” [tradução livre do texto presente no site <http://www.empa.edu.ar/seccion/historia >. Acesso em
6/05/2014].
30
14
“Tenho o maior orgulho de ter fundado a Escola de Música Popular de Avellaneda. Agora apareceram mais de
trinta fundadores! Mas fui eu quem, junto com o gerente administrativo Gustavo Molina, criou o projeto. Antes,
o tango e o folclore só se transmitiam de forma oral. Formulei um plano de estudos que incluía tango, folclore,
jazz, rock e bossa nova. Convoquei os músicos Horacio Salgán, Aníbal Arias, Hugo Pierre y Virgilio Expósito,
entre outros. Foi uma das primeiras propostas no mundo com essa variedade e profissionalismo. Lembro-me que
um funcionário reclamou que houvesse a exigência de títulos habilitantes como quesito para a inscrição, e eu
disse: 'OK, mas se vier Aníbal Troilo, Astor Piazzolla, Jonh Lennon, Litto Nebbia, Paul Mc Cartney ou Louis
Amstrong, por exemplo, não poderemos deixar entrar'. Aí eles me entenderam e propuseram uma maior abertura
nos exames de ingresso" [Tradução nossa].
15
Artigo disponível em:
<http://sedici.unlp.edu.ar/bitstream/handle/10915/40493/Documento_completo.pdf?sequence=1>Acesso em 07
de abril de 2014.
16
"O conservatório Manuel de Falla foi a primeira instituição a incorporar em seus cursos tradicionais de
instrumento, a partir da década de 50, músicos provenientes do campo popular, como Pedro Mafia, na disciplina
de bandoneon. Este Conservatório possui cursos com habilitação em tango e em folclore. O ensino universitário
da música popular começou com o Bacharelado em Composição Musical, com habilitação em Música Popular,
no final dos anos 90 na Universidade de Villa María - Córdoba. Uma década mais tarde, a Universidade
Nacional de La Plata criou um novo curso de Música Popular de nível universitário e Mendoza adicionou a esta
área de formação, em 2010, um novo curso de Música Popular, ou seja, o acesso da música popular às
universidades da Argentina é muito recente e não possui ainda muitas 'ofertas' acadêmicas.
31
La materia Música Popular, fue orientada exclusivamente para los estudiantes del
Profesorado de Grado Universitario en Música, esto es, los futuros maestros o
profesores de música. Los músicos independientes que estaban vinculados a la
17
Plano de estudios do Bacharelado em Música Popular. Faculdade de Artes e design (FAD) da Universidade
Nacional de Cuyo (UNCUYO). Ordenança Nº: 119/’03- Conselho Superior.
18
Disciplina anual ministrada pelo Prof. Leopoldo Martí, inicialmente na Licenciatura em Musica (Profesorado
de Grado Universitario en Música), desde o ano 2000. Atualmente a disciplina se divide em dois cursos anuais
no Bacharelado em Música Popular (Licenciatura em Música Popular Latino-Americana) e dois cursos
semestrais na Licenciatura em Educação Musical.
19
O nome do curso em espanhol é Profesorado de Grado Universitario en Música. Na Argentina, o que se
chama de Professorado corresponde às licenciaturas no Brasil, e o que se chama de licenciatura na Argentina
corresponde ao bacharelado no Brasil.
32
Sin dudas, poco a poco fue creciendo el interés por las músicas populares. El campo
estaba fértil para avanzar en ese sentido. El modelo de la Cátedra Abierta ya existía
en nuestra universidad y en nuestra facultad. El Profesor Ernesto Suárez, 24gran
maestro de teatro de Mendoza, dirigió una CA en su área, con gran repercusión.
Nuestra propuesta de la CAMPO no fue pensada exclusivamente para la oferta
académica. El hecho de asociar la actividad a la Secretaria de Extensión
Universitaria de la FAD UNCUYO, nos permitió abrir la oferta para público en
general, además de la oferta dirigida a alumnos de la universidad, estudiantes de
otras instituciones, músicos independientes y profesores (MARTÍ, 2014, ANEXO B,
pp.175-184) 25.
20
“A disciplina foi orientada exclusivamente para os estudantes de Licenciatura em Educação Musical, ou seja,
para os futuros professores de música. Os músicos independentes, vinculados à música popular, que pretendiam
ter formação acadêmica com essa orientação dentro da Universidade Nacional de Cuyo inscreviam-se nesta
carreira motivados pela formação inicial em música de raiz folclórica argentina e latino-americana, que nossa
disciplina iria lhes oferecer como parte integrante da sua formação didático-pedagógica” [Tradução nossa].
21
Disciplina aberta de música popular, projeto do professor Leopoldo Martí, com extensão universitária da
FAD-UNCUYO, iniciada no ano de 2002, direcionada a oferecer aulas, palestras e concertos de artistas locais e
latino-americanos em geral.
22
Jornal Digital Universia. Disponível em:
<http://noticias.universia.com.ar/en-portada/noticia/2002/03/27/384923/catedra-abierta-musica-popular-
uncuyo.html> Acesso em 01 de maio de 2014.
23
Ibidem.
24
Destacado professor de teatro da FAD. UNCUYO, Mendoza Argentina.
25 “
Sem dúvida, pouco a pouco foi crescendo o interesse pelas músicas populares. O campo estava fértil para
continuar avançando nesse sentido. O modelo de Cátedra Aberta já existia em nossa universidade e também na
nossa Faculdade. O professor Ernesto Suárez, grande mestre de teatro, reconhecido no meio cultural de
Mendoza, dirigiu uma disciplina direcionada ao teatro, com grande repercussão. A nossa proposta com a
CAMPO não foi pensada exclusivamente para a oferta acadêmica: o fato de compartilhar a atividade com a
Secretaria de Extensão Universitária da FAD-UNCUYO iria nos permitir direcioná-la para o público em geral,
além de alunos da universidade, estudantes de outras instituições, músicos independentes e professores”
[Tradução livre do depoimento gravado].
33
Grandes artistas locais ministraram palestras neste evento, entre os quais podemos
citar: Santiago Bértiz, Raúl “Tilín” Orozco, Horacio Díaz, Marcelino Azaguate, Jorge
Marziali, Pablo Roux e Renato Mondadori26.
A demanda por um curso de Música Popular em Mendoza tomou fôlego a partir
do começo do ano de 2003, com a repercussão provocada, tanto pelo curso da DMP com
alunos provenientes do ensino em educação musical, quanto pelos cursos oferecidos pela
CAMPO aos músicos populares, alunos da universidade, professores e público em geral.
26
Músicos da província de Mendoza, de ampla trajetória artística e reconhecimento popular.
27
“No ano letivo de 2000, introduzimos a disciplina Música Popular na Licenciatura em Educação Musical.
Logo ela iria se dividir em Música Popular I e Música Popular II, e criamos a CAMPO. Sobre esses dois
antecedentes, fizemos uma convocatória a professores, alunos e músicos locais para trabalharem o Projeto de
Bacharelado em Música Popular Latino-Americana. O apoio ao projeto foi dado pelo Professor Lars Nilsson,
Diretor da FAD-UNCUYO, pelo centro de estudantes e, modestamente, por mim, que comecei a trabalhar como
coordenador”[Tradução livre do depoimento gravado].
28
Organizado pela Secretaria de Extensão Universitária da FAD-UNCUYO, junto com o Centro de Estudantes, a
Direção de Carreiras Musicais e a CAMPO (Mendoza, 2003), patrocinado pela Secretaria do Bem-Estar
Estudantil, Secretaria de Cultura da Presidência da Nação Argentina, Instituto Cultural do governo da província
de Buenos Aires e pelo Sindicato dos Funcionários da UNCUYO (SPUNC).
29
“O Movimento do Novo Cancioneiro surge em fevereiro de 1963 em Mendoza, província do Centro-Oeste da
Argentina. Integrado por músicos, poetas e dançarinos, lança um manifesto que dá conta das suas intenções de
renovação da canção popular, especialmente a canção de raiz folclórica” (GARCÍA, 2006, p.75). [Tradução
nossa].
34
Sin dudas que las expresiones de la música popular han ido teniendo cada vez más
puntos de encuentro con las expresiones académicas, habida cuenta de la gran
necesidad de una y otra en encontrar nuevos aspectos musicales y técnicos que les
permitan un mayor desarrollo y una profundización en aspectos valorativos de las
identidades musicales regionales, nacionales y latinoamericanas (DIARIO LOS
ANDES, 10 mar. 2003). 30
La modalidad sobre la cual se trabajó permitió abarcar una muy interesante gama de
temáticas en torno a aspectos artísticos, musicales y técnicos de gran importancia
para la música y los músicos populares, y la proyección de los mismos en nuevos
ámbitos de difusión y desarrollo, como nuestro ámbito universitario. En principio
digamos que el hecho de haber desarrollado prácticamente todas las actividades en
la órbita de la Escuela de Música, tuvo un significado y una carga simbólica
relevantes, acordes con los principios signados desde la figura del decano, Lars
Nilsson, en cuanto a la unión de las músicas más allá de géneros y pertenencias, en
pos de una actividad y un ámbito superador31 (DIARIO LOS ANDES, 23/11/2003).
30
"Sem dúvida, as expressões da música popular vinham tendo cada vez mais pontos de encontro com as
expressões acadêmicas. A necessidade de uma e de outra, de achar novos aspectos musicais e técnicos que lhes
permitissem maior desenvolvimento e aprofundamento em aspectos valorativos das identidades regionais,
nacionais e latino-americanas" [Tradução livre].
31
O encontro abrangeu aspectos artísticos, musicais e técnicos de grande importância para os músicos populares
e para sua projeção em novos âmbitos de difusão e desenvolvimento, como o da universidade. As atividades
desenvolvidas no interior da escola de música tiveram grande significado e abarcaram as ideias que o diretor da
Faculdade de Artes Lars Nilsson propiciou durante sua gestão: a união das músicas, independentemente dos seus
gêneros e procedências, em favor de uma atividade e um âmbito superador. [Tradução livre].
35
expresiones artísticas y culturales del país. Depende de nosotros mismos, del calor,
la pasión, dedicación, seriedad y respeto que le demos a las músicas populares,
principalmente aquellas que sentimos enraizadas en "Nuestra América". / Prof.
Leopoldo G. Martí, coordinador del encuentro32 (DIARIO LOS ANDES, 23 nov.
2003).
32
O balanço foi altamente positivo, por termos conseguido reunir 200 músicos e estudantes para trabalhar e
desenvolver aspectos fundamentais vinculados à música popular junto com Chango Farías Gómez, Juan Falú,
Juan Lázaro Méndolas, Jorge Marziali, Luna Monti, Juan Quintero, Juampi Di Leone, Gonzalo de Borbón, Pepe
Sánchez, Gabriel Correa, Alejandra Bermejillo, Horacio Díaz, Ricardo Mansilla, Analía Garcetti, Guitarras
Cuyanas, Grupo Quimey e o coral Novas Vozes. O que aconteceu aqui foi, com certeza, muito importante e deu
início a uma nova etapa para a música em Mendoza, no âmbito da Universidade Nacional de Cuyo. Só resta
aproveitar esta inércia, para que Mendoza continue sendo um referencial das expressões artísticas e culturais do
país. Depende de nós, do calor, da paixão, da dedicação, da seriedade e do respeito que dermos para nossas
músicas populares, principalmente aquelas que sentimos enraizadas na ‘Nossa América’ [Tradução livre, aspas
do autor, Prof. Leopoldo G. Martí, coordenador do encontro].
33
Mestre em Interpretação de Música Latino-Americana do Século XX, Bacharel em flauta, Professora da
Graduação e da Pós-Graduação, pesquisadora em música contemporânea latino-americana para flauta na
UNCUYO e Primeira Flauta da Orquestra Filarmônica de Mendoza (Informações: Secretaria de Pós-Graduação
da Faculdade de Artes).
34
Jornal digital da Universidade Nacional de Cuyo. Disponível em:
< http://edicionuncuyo.com/novedades/index/crece-desde-el-pie-musiquitaun-recorrido-por-la-propuesta-de-la-
maestria-en-interpretacion-de-musica-latinoamericana-del-siglo-xx > Acesso em 07 de abril de 2014.
36
Entonces, esta carrera surge con una parte en común con la MAL, pero pone el foco
en este perfil que es muy específico, y tiene que ver con el rol del interpretador. 35
35
O Mestrado em Interpretação da Música Latino-Americana do Século XX surgiu no ano 2002, num marco
institucional muito interessante, que foi a direção da Faculdade de Artes pelo Professor Lars Nilsson, que
favoreceu fortemente os estudos latino-americanos. Na FAD, já tínhamos o antecedente da criação do Mestrado
em Arte Latino-Americano (MAL), o primeiro curso de pós-graduação orientado para esses estudos. Depois
surgiu o Mestrado em Estudos Latino-Americanos (MEL) em Ciências Políticas. O curso dedicado ao estudo da
arte latino-americana foi o pontapé inicial que incentivou a nossa faculdade ao estudo profundo das nossas raízes
e de nosso mundo cultural, que é tão amplo, porque temos influência européia e de muitos outros países,
sobretudo na música. E esse curso surgiu, integrando-se ao MAL, mas pôs o foco num perfil específico: o rol do
intérprete [Tradução livre].
36
Disponível em: <http://bdigital.uncu.edu.ar/165> . Acesso em: 8 abr. 2014.
37
Plano de estudos da Licenciatura em Música Popular da Facultade de Artes e Design (FAD) da Universidade
Nacional de Cuyo (UNCUYO). Ord. n. 119/'03. Conselho Superior.
37
1.5.3 Integralização
O BMP oferece cinco cursos: violão, teclados, sopros, percussão e canto. Para
graduar-se nestes, o aluno deve ser aprovado num total de 28 disciplinas obrigatórias -
38
"Em 2003 realizei a apresentação do projeto de Bacharelado em Música Popular ao Conselho Diretivo da
Faculdade de Artes e Design, eu, como professor - coordenador, com o apoio da secretária acadêmica, que
naquela época era a Profa. Alicia Romero de Cutropia, do diretor da Faculdade de Artes - Prof. Lars Nilsson - e
o diretor do Centro de Estudantes, o aluno Walter Perez. A orientação foi dada pela equipe de assessoria da
Secretaria Acadêmica do Rectorado formada pela Profa. Juana Maria Verstraete e a Profa. Estela Zalba. Perto de
ser aprovado pelo Conselho Direito, o projeto foi obteve a aprovação do Conselho Superior, ao mesmo tempo
em que inaugurou o 1º Encontro de Música Popular, em outubro de 2003. Os meios de comunicação divulgaram
os acontecimentos, o que facilitou a aprovação por unanimidade do projeto" [Tradução nossa].
39
Plan de estudios de la Licenciatura en música popular. Facultad de Artes y Diseño (FAD) Universidad Nacional de Cuyo
(UNCUYO) Ordenanza Nº: 119/’03 Consejo Superior.
38
correspondentes a 2.800 horas (ver Quadro 1) - e optativas- correspondentes a 200 horas (ver
Quadro 2). Esta carga horária total pode ser cumprida em 08 semestres.
Quadro 1- Disciplinas obrigatórias.
1º ANO
O aluno deverá escolher, de uma lista que a Faculdade de Artes oferece a cada
ano, as disciplinas necessárias para completar a carga mínima exigida pelo curso. Também
poderá optar pelas disciplinas de outras instituições de educação superior da Universidade
Nacional de Cuyo ou de outras universidades, desde que suas solicitações sejam aprovadas
pelo Conselho Diretivo da FAD e aceitas pela instituição requerida, segundo estabelece o
regulamento Nº65/87 do Conselho Superior da UNCUYO. A carga horária total poderá ser
igual ou superior ao mínimo de 3.000 horas-aula e esta dependerá da carga horária das
disciplinas optativas.
cursos.
Para o primeiro ano, propõe o conhecimento, prática e estudo dos “ritmos,
cadencias y particularidades musicales de las especies de las regiones Noroeste, Centro
Norte, Cuyo y Riojana de Argentina”, desenvolvendo “repertorios folklóricos y de diversos
40
autores, pertenecientes a las regiones folclóricas detalladas” (PLANO DE ESTUDOS,
2003, p. 12).
Para o segundo ano, o conhecimento, prática e estudo dos “ritmos, cadencias y
particularidades musicales de especies de las regiones folclóricas Litoral, Pampeana y
Porteña, en las diversas etapas cronológicas de su desarrollo” desenvolvendo “repertorio de
41
obras folklóricas y de autores de las regiones folklóricas detalladas” (PLANO DE
ESTUDOS, 2003, p. 13). Para o terceiro ano, o conhecimento, prática e estudo das
“características musicales y técnicas, en la música folklórica de Uruguay, Chile, Bolivia,
Perú, Brasil y Paraguay” desenvolvendo “repertorio das principales especies folclóricas y
obras de autores representativos de los países detallados” 42 (id, ibid., p. 13).
Para o quarto ano, o conhecimento, prática e estudo das “características
musicales y técnicas, en la música folklórica de Ecuador, Colombia, Venezuela,
Centroamérica, Caribe y México”, desenvolvendo “repertorio de las principales especies
folklóricas y obras de autores representativos de los países detallados” 43 (id, ibid., p. 13).
Consideramos importante citar em detalhes a proposta planejada para cada ano,
com a intenção de chamar atenção para os termos música folclórica e espécies folclóricas, em
referência aos conteúdos e repertório dos países em estudo. Observamos, no plano de estudos
do terceiro e quarto anos, novos termos relacionados a este universo musical:
Así, pues, solo con fines didácticos y esquemáticos podemos hablar de tres raíces de
la música latino-americana, un poco pasando sobre todo, y mostrando en una especie
de caleidoscopio algunos de los elementos musicales de procedencia europea,
indígena y africana, que se manifiestan marcadamente en la música folclórica y
artística de nuestro continente, y siguiendo los resultados de investigaciones
parciales de los principales investigadores de los diversos países de América Latina
(ARETZ, 1980, p.35).46
44
Respectivamente: "Incorporar na sua interpretação as características musicais das principais expressões
folclóricas latino-americanas e através das obras de diversos autores e estilos de repertório de música de raiz
folclórica do Uruguai, Chile, Bolívia, Peru, Brasil e Paraguai” e "Incorporar na sua interpretação as
características musicais das principais expressões folclóricas latino-americanas e através das obras de diversos
autores e estilos de repertório de música de raiz folclórica do Equador, Colômbia, Venezuela, América Central,
Caribe e México" [tradução nossa]. Plano de estudos do curso de Licenciatura em Música Popular da FAD
UNCUYO. Ord. n. 119/'03. Conselho Superior.
45
ARETS, 1980.
46
Assim, apenas para fins didáticos e esquemáticos podemos falar sobre três raízes da música latino-americana ,
mostrando numa espécie de caleidoscópio alguns dos elementos musicais de procedência europeia , indígena e
africana, que se manifestam na música folclórica e artística do nosso continente , segundo os resultados parciais
de investigações dos principais pesquisadores de vários países da América Latina.
47
De acordo com Varela (1980), a palavra Folklore é derivada de uma antiga palavra
saxônica, com duas raízes: folk - povo e lore - saber, podendo ser traduzido, portanto, como o saber popular.
42
50
Os esforços para recuperar o folclore nacional ocorrem desde fins do século XIX na Argentina, impulsionados
pelos compiladores Ernesto Padilla, Andrés Chazarreta e Juan Alfonso Carrizo e pelos compositores - cantores
como Saúl Salinas. A música folclórica começa a difundir-se, então, pelo Norte do país e, a partir dos anos 1920,
se projeta nacionalmente. Informação disponível em:
<http://es.wikipedia.org/wiki/Historia_de_la_m%C3%BAsica_folkl%C3%B3rica_de_Argentina> Acesso em 14
de junho de 2014.
51
“A delimitação dos conteúdos foi pensada segundo uma concepção geográfica ou geopolítica e, ao mesmo
tempo, conforme a abordagem musical, a partir do conhecimento profundo dos gêneros musicais envolvidos em
cada região. No caso do gênero dança, por exemplo, chacarera, gato, escondido, zamba, cueca cuyana, cueca
nortenha, entre outros; partem de uma mesma árvore genealógica, de um mesmo complexo com características
próprias. Dessa maneira, a concepção do ensino-aprendizado nas disciplinas de Música Popular que eu ministro
está direcionada à ideia de que os alunos possam acrescentar as ferramentas necessárias para conseguir
compreender, analisar e interpretar novos gêneros musicais de um grupo determinado, partindo de um gênero
base. Por exemplo, por meio das características da chacarera, poder analisar a huella, o triunfo, o escondido. Na
história da música popular existiram propostas que, ao longo do tempo, conformaram estilos musicais. O estilo
interpretativo na música folclórica cuyana de Hilário Cuadros, o estilo harmônico composicional de Cuchi
Leguizamón nos gêneros musicais do norte argentino ou o estilo interpretativo vocal de Carlos Gardel no tango
são alguns dos exemplos que demonstram o modo como certos autores, compositores, cultores, intérpretes ou
arranjadores musicais se apropriaram dos gêneros musicais e lhes deram um tratamento pessoal que perdurou no
tempo, criando uma referência estética. Nesse sentido, é valido argumentar que a escolha na organização dos
conteúdos no plano de estudos do curso em música popular latino-americana derivou, de fato, de uma
metodologia de ensino baseada no estudo de gêneros e estilos musicais, em que primeiro se estudam os gêneros e
depois seu tratamento, por meio das diferentes correntes estilísticas” [Tradução livre do depoimento gravado].
44
Neste depoimento, o professor elucida bem a relação entre a escolha de conteúdos para
a constituição curricular do curso e a posterior metodologia de ensino e narra a própria
experiência com as disciplinas Música Popular I e II, por ele ministradas, nas quais os
conteúdos são abordados a partir da escuta, da leitura de bibliografia específica e do trabalho
desenvolvido nas práticas em grupo.
52
Lars Nilsson é um importante flautista de formação erudita, nascido na Suécia. Estudou no seu país de origem
e, posteriormente, especializou-se em diferentes lugares da Europa. Foi, então, para Mendoza (Argentina), onde
desenvolveu uma atividade acadêmica muito importante: foi professor de flauta na UNCUYO, participou da
Orquestra Sinfônica da universidade e no quinteto de sopros, atividades relacionadas à música erudita. No campo
da música popular foi um dos fundadores do grupo MARKAMA, de música folclórica andina, criado na década
de 1970 e que teve grande repercussão na região, no país e na América Latina.
45
Una baguala o una vidala puede ser un elemento identitário pero, según cómo se la
trate, puede convertirse en una apropiación indebida, dentro del propio país, de un
potencial despojador frente al indefenso despojado. Mientras tanto, el aprendizaje de
la particularísima emisión vocal del sistema cultural del noroeste argentino, de clara
raíz prehispánica, puede ser útil para sacudirse de encima, de alguna manera y en
alguna medida, los esquemas de emisión vocal impuestos y bendecidos por el
sistema de poder56 (AHARONIÁN, 2009, p.66).
53
“Desta forma, o aluno tem dois professores para o estudo do seu instrumento. Um que lhe ensina técnica e
outro que lhe permite desenvolver aspectos vinculados aos estilos e às linguagens. Achamos uma novidade esta
incorporação e, de fato, no começo foi difícil articular critérios entre os professores que participavam do projeto,
especialmente porque, em alguns casos, o ensino da técnica estava muito ligado aos estilos da música erudita
européia, que não eram compatíveis com as propostas de interpretação em gêneros e linguagens da música
popular latino-americana” [Tradução livre de depoimento gravado].
54
"O canto andino com caja cobre o noroeste argentino [...]. Canta-se em quíchua (língua indígena) e em
espanhol. Sua origem remonta às primeiras manifestações musicais da vida humana. Voz e percussão aparecem
simultaneamente na origem musical [...]. As mulheres são grandes protagonistas do canto com caja, fato que não
ocorre no folclore musical crioulo, onde a mulher não tem participação, salvo na dança" [tradução nossa]
(VALLADARES, 2000, p.25).
55
“Na orientação ao canto se suscitou um problema relativo ao ensino técnico dos cantos 'con caja', cantos
rústicos que requerem o aprendizado de uma técnica de colocação de som que a tradição da técnica clássica
europeia consideraria incompatível com os padrões que sustenta. Esses cantos tradicionais e ancestrais
necessitam do desenvolvimento de uma técnica específica e particular, baseada no aprofundamento dos
conhecimentos nessa área por meio da pesquisa. Considerando que o professor de interpretação é o especialista
em linguagens da música popular, é ele que se encontra mais capacitado para facilitar esta abordagem e a
articulação, neste caso com o professor de técnica, seria para adequar, conjuntamente, uma metodologia para
esse ensino” [Tradução nossa].
56
"Uma baguala ou uma vidala pode ser um elemento identitário, mas também pode se converter em uma
apropriação indevida, dentro do próprio país, de um potencial despojador diante do indefenso despojado. Por
enquanto, o aprendizado da particular emissão vocal do sistema cultural do noroeste argentino, de clara
46
procedência pré-hispânica, pode ser útil para sair dos esquemas de emissão vocal impostos e abençoados pelo
sistema de poder" [Tradução nossa].
57
Carlos Gardel, cantor de tango argentino.
58
José Razzano, cantor de tango uruguaio.
59
Ignácio Corsini, cantor de tango argentino, de origem italiana.
60
A baguala é um gênero musical folclórico originário do noroeste da Argentina que descende das comunidades
diaguitas que moravam nos Vales Calchaquíes. É uma forma musical não dançável. Difundiu-se, principalmente
entre a população indígena desta região, mas acredita-se que deriva das antigas toadas espanholas. Consiste num
canto de versos octossílabos, frequentemente improvisados de maneira espontânea, acompanhado por um ritmo
ternário de tempo lento muito uniforme, marcado por um instrumento de percussão chamado caja, sempre
tocado por quem canta. Este tipo de canto con caja integra um ritual sagrado e festivo característico da cultura
andina. Informação disponível em: <http://es.wikipedia.org/wiki/Baguala> Acesso em 30 de maio de 2014.
A baguala é tritônica (três notas de acorde perfeito maior) e carece de sustento harmônico. Canta-se
acompanhado da caja que é um tambor indígena. Quando se canta em conjunto o canto é ao uníssono ou em
oitavas (mulher e homem). (VALLADARES, 2000, p.18, tradução livre nossa).
61
Canto feminino com quebra da voz para o falsete. O canto com kenko é uma técnica típica do cancionero
tritónico da região Norte da Argentina e Sul da Bolívia, sobrevivente da cultura indígena anterior à conquista
incaica.
47
62
Acompanhamentos rítmicos de mão direita, relacionados aos gêneros musicais folclóricos. No caso da
orientação em Violão I, o estudo da técnica clássica ou erudita não aborda uma técnica de origem popular, como
a dos rasguidos.
63
“Embora possamos dizer que o 'rasguido' do violão tem uma herança européia e, na América latina, constitui a
alma dos gêneros de raiz folclórica, os professores de violão de formação acadêmica erudita não conhecem a
técnica, não a interpretam e não a ensinam. No meu caso, como professor de Interpretação em Violão I e músico
intérprete da música latino-americana, desenvolvi uma metodologia de ensino dos 'rasguidos' de chacarera,
zamba, carnavalito, cueca, etc., conteúdos referentes ao primeiro ano do instrumento” [Tradução livre de
depoimento gravado].
48
e Cuchi Leguizamón64, “os elementos de gênero foram adaptados às novas maneiras de fazer
música dentro destes estilos”.
Considerando que o campo da composição não é de incumbência do Bacharelado
em MPL, podemos deduzir que uma metodologia de ensino baseada em gêneros e estilos
musicais, como manifestou o depoimento do coordenador do curso, traz para a formação do
graduando e do egresso em MP ferramentas básicas para construir sua performance como
intérprete,tema que será aprofundado ao longo do trabalho.
64
Músicos e compositores argentinos do século XX que foram considerados vanguardistas nos estilos tango e
folclore.
49
CAPÍTULO 2
65
Conforme demonstramos no capítulo 1, entre os termos que se referem à música popular brasileira nos planos
de estudo das disciplinas do BMPL da FAD-Uncuyo, não encontramos “canção popular brasileira”.
51
Em sua proposta de análise semiótica da canção, Tatit (ibidem, p.12) afirma que
os princípios que lhe asseguram coerência metodológica fundamentam-se nos conteúdos
teóricos da semiótica tensiva, “de inspiração saussuriana cultivada nas formulações do
linguista L. Hjelmslev e do semioticista A. J. Greimas, com ajuda dos teóricos
contemporâneos” (TATIT, 2008, p.12). Utilizados como ferramenta, estes fundamentos
procuram demonstrar, através dos planos de conteúdo e de expressão da canção popular
brasileira, a relação entre seus elementos constitutivos: a letra e a melodia.
A verificação da interdependência entre estes componentes e os elos por eles
constituídos “são responsáveis diretos pelo sentimento que as canções nos despertam” (id,
ibid., p.09) e apresentam-se como o foco do trabalho de análise cancional.
Essa inter-relação vai além das peculiaridades substanciais do verbal e do musical,
vale dizer que o interesse não está centrado “nos sons musicais ou nos conteúdos da letra, e
sim na forma dos procedimentos comuns aos dois componentes da canção [...]” [grifos do
autor] (id, ibid., p.12).
O modelo descritivo, em síntese, propõe-se a mostrar os dispositivos através dos
quais uma canção popular incorpora traços passionais, tematizados e figurativos, elementos
que serão definidos ao longo do capítulo.
São os sentidos abstratos construídos nos textos e retidos em nossa mente os objetos
privilegiados de uma semiótica geral que deseje dar conta do que Saussure
denominou significado e que Hjelmslev precisou como plano de conteúdo[grifos do
autor] (TATIT, apud FIORIN, 2002, p. 206).
No que diz respeito à atuação das entoações da linguagem oral, no sentido sonoro,
seja através das ondulações típicas do idioma, ou daquelas relacionadas às figuras de
linguagem; estas não são abordadas na análise. O único dispositivo que é observado em
relação às ondulações da linguagem são os tonemas 66:
Uma unidade entoativa, no domínio da canção, não pode ser definida apenas por
critérios acústicos baseados na distribuição interna dos acentos. Em contato com a
letra, esses segmentos sonoros perdem a autonomia e passam a depender das
sequencias linguísticas para uma exata definição de cada unidade. De todo modo,
uma vez determinada a unidade, sua região acústica mais importante em termos de
concentração de tensividade é a terminação. Trata-se do componente que Navarro
Tomás chamou de tonema (TATIT, 2014 b, p.240).
Nos trabalhos de Tatit (1995, 1997, 2001, 2007, 2008 et.2014) são mencionados
dois tipos de investimentos no plano da expressão dentro do sistema da semiótica da canção:
66
Segmentos finais das unidades entoativas que ora se elevam, indicando prosseguimento do discurso, ora
declinam, indicando afirmação, quando não se mantêm na mesma altura, assinalando também uma continuidade,
porém menos enfática (TATIT, 1988, p.53).
53
67
A modalização pelo /fazer/ presente no texto e/ou na melodia retrata ações. No plano melódico evidencia-se
pela marcação de acentuações em pontos regulares de pulsação, emitindo sinais que repercutem na superfície de
nosso corpo. Seu perfil é constituído por encadeamento de motivos cuja reiteração produz a tematização
propriamente dita (TATIT, 1995, p.150).
68
A atividade emissiva é representada pela continuidade, no nível narrativo, tanto do ponto de vista objetal,
como do ponto de vista subjetal (id, ibid., p.18.). No contexto aqui tratado, a suspensão desta atividade se
manifesta através das mudanças que geram descontinuidades na fluência do discurso musical.
69
A modalização pelo /ser/ presente no texto e/ou na melodia retrata estados de paixão. No plano melódico,
evidencia-se pela desaceleração do andamento, ampliação das durações e das frequências, valorização das pausas
e neutralização parcial dos ataques e dos acentos (id, ibid.).
54
Como ocorre com nossa linguagem cotidiana, a melodia das “canções faladas” são
de natureza entoativa, isto é, não possuem uma clara identidade sem a presença da
letra. Ao contrário dos outros dois tipos de canção, este não se estabiliza nos
contornos e nos encadeamentos melódicos. Praticamente neutraliza a tensividade
dando a impressão de que se trata de uma situação efêmera cuja duração não
ultrapassa o tempo de execução da própria música [grifos do autor] (id, ibid., p.
209).
Os três modelos tensivos, assinalados acima, têm relação direta com os níveis de
compatibilidade existentes entre melodia e letra. Estes são classificados por Tatit (2008, p.17)
55
como: regime tematizado, passionalizado e figurativizado. Vale destacar, que os mesmos “se
manifestam com graus variados de dominância, em toda canção” (id, ibid.).
O modelo tematizado, relacionado com a tensividade somática e com os processos
gerais de aceleração, está representado por canções associadas, no plano expressivo, aos
gêneros musicais e às danças que operam com as recorrências motívicas demarcadas por uma
tendência regular de acentuação nos tempos fortes dos compassos. A estabilidade e
continuidade musical são privilegiadas sobre o conteúdo gramatical e semântico da letra. Na
análise de Tatit (2014c), as composições “A rã” (João Donato e Caetano Veloso), “Lugar
Comum” (João Donato e Gilberto Gil), “Andar com fé” (Gilberto Gil) e “Águas de março”
(Tom Jobim) correspondem a este modelo.
O modelo passionalizado, relacionado com a tensividade psico-afetiva e com os
processos gerais de desaceleração, é representado, no plano expressivo, por canções lentas e
de tipo românticas. A instabilidade melódica ocasionada pela presença dos saltos intervalares,
as transposições de registro de amplos trechos da melodia, as mudanças dinâmicas, tímbricas
e as mudanças de direções permanecem atreladas às variações juntivas dos conteúdos
semânticos da letra. Na análise de Tatit (2014c), as composições “Oceano” (Djavan), “Força
estranha” (Caetano Veloso) e “Travessia” (Milton Nascimento e Fernando Brant)
correspondem a este modelo.
O modelo figurativizado, relacionado com a neutralização da tensividade, é
representado, no plano expressivo, pelas canções que utilizam como matéria-prima “as frases
já melodizadas da linguagem oral” (id, 2014b, p.371). A tensividade das ascendências e das
suspensões indica nada mais que a continuidade do discurso, em oposição à terminatividade
das descendências. Uma melodia de canção jamais será completamente entoativa e, no
entanto, o simples fato de indicar esta tendência já revela um processo de figurativização. Na
análise de Tatit (2014c), as composições “Charles Anjo 45” (Jorge Benjor), “João Valentão”
(Dorival Caymmi) e “Preciso aprender a só ser” (Gilberto Gil), correspondem a este modelo.
Neste nível, “uma narrativa mínima define-se com uma transformação de estado.
Este organiza-se da seguinte forma: um sujeito está em relação de conjunção ou disjunção
com um objeto [...]. A transformação é, por conseguinte, a mudança da relação entre sujeito e
objeto” (FIORIN, 1995, p.168).
É importante distinguir narratividade de narração. O primeiro termo remete ao
componente presente em todos os textos, enquanto o segundo cabe a determinada classe de
textos. "Ocorre uma narrativa mínima, quando se tem um estado inicial, uma transformação e
um estado final” (id, 1989, p.27).
Segundo Fiorin (2014, p.28), na sintaxe narrativa existem dois tipos de
enunciados elementares: enunciados de estado e enunciados de fazer.
Nos enunciados de estado se estabelecem as relações de junção (conjunção ou
disjunção) entre sujeito e objeto, sendo que estes podem estar representados por coisas,
pessoas ou animais nos papéis narrativos.
Os enunciados de fazer mostram as transformações de estados ocorridas no texto.
Estas se organizam numa sequência canônica de quatro fases: a manipulação, a competência,
a performance e a sanção.
Numa situação de comunicação, a manipulação acontece quando “um sujeito age
sobre outro para levá-lo a querer e/ou dever fazer alguma coisa” (id, ibid., p.29). ”Supõe uma
57
70
Os conceitos contidos no presente item baseiam-se em Fiorin (2014).
58
[...] o sujeito da enunciação faz uma série de opções para projetar o discurso, tendo
em vista os efeitos de sentido que deseja produzir. Estudar as projeções da
enunciação é, por conseguinte, verificar quais são os procedimentos utilizados para
constituir o discurso e quais os efeitos de sentido fabricados pelos mecanismos
escolhidos (BARROS, 2003, p.54).
71
Fiorin (2014) explica, pelo conceito de debreagem temporal, que os tempos enunciativos podem se referir ao
momento de referência presente, momento de referência pretérito ou momento de referência futuro. Cada
momento de referência, por sua vez, pode apresentar enunciações em concomitância com este tempo, ou em não
concomitância: anteriores ou posteriores a este tempo. Chama de pretérito perfeito 1, o tempo verbal pretérito
perfeito do modo indicativo, que se utiliza quando a fala se apresenta com anterioridade ao momento de
referência presente. Chama de Pretérito Perfeito 2, ao tempo pretérito mais que perfeito do modo indicativo, que
se utiliza quando a fala se apresenta com anterioridade ao momento de referência passado.
72
Eu, aqui, agora da enunciação.
59
texto, ou seja, da enunciação enunciada, fazendo com que o discurso se construa somente com
enunciado-enunciado.
A embreagem, por sua vez, é o efeito de retorno à enunciação, produzido pela
neutralização das categorias de pessoa e/ou espaço e/ou tempo, bem como pela denegação da
instância do enunciado, que pode efetivar-se através do retorno da pessoa (actancial), do
espaço (embreagem espacial) e/ou do tempo (embreagem temporal). Toda embreagem
pressupõe uma debreagem anterior.
74
A deitização é o processo pelo qual os enunciados se reportam à instância de enunciação por intermédio dos
dêiticos (tempo, espaço, demonstrativos, imperativos e vocativos). O enunciador se projeta no discurso e simula
a presença da enunciação no enunciado.
61
Figura 1: Relação dos elementos do Nível interpretativo (categoria da voz), com os elementos do Nível
Fundamental (categoria do discurso).
77
Na semiótica tensiva, a intensidade e a extensidade delimitam o espaço tensivo onde irão se produzir os fatos
semióticos.
64
78
Construção de uma identidade vocal a partir da utilização das articulações internas dos procedimentos vocais.
As categorias das qualidades emotivas das vozes são: Passional, Passional Tematizada, Passional Figurativizada,
Tematizada, Tematizada Passional e Tematizada Figurativizada; compatíveis com os índices de passionalizacão,
tematização e figurativização estabelecidos pela teoria de Luiz Tatit (MACHADO, 2012, p.167).
79
Os elementos tensivos da obra podem manifestar-se no plano da expressão (melodia) através de saltos
intervalares ascendentes ou descendentes e percursos melódicos em direção ao agudo ou ao grave, que
produzem, em cada caso, aumento ou diminuição da intensidade: No primeiro de forma imediata e, no segundo,
de forma gradual.
66
variações dinâmicas não são tão contrastantes e é possível que se desenvolvam com mais
frequência em partes fixas da estrutura formal como, por exemplo, no refrão da composição.
A articulação rítmica deste canto enfoca mais os recortes rítmicos e as acentuações
consonantais e a escolha de um andamento mais rápido ou vivaz possivelmente o reforçará e o
associará a algum gênero musical. O fato de que a melodia, neste modelo, não se estende
amplamente pelo campo da frequência faz que cantor não apresente tantas variações de sub-
registros vocais. A entoação apresentará alternância entre elementos do canto e da fala e o
vibrato estará ausente ou será atenuado.
Os componentes figurativizados da voz (complementares às categorias passionais
e tematizadas) são revelados pela presença da fala no canto. Neste caso, as acentuações
melódicas se relacionam diretamente com as acentuações linguísticas. A ordenação narrativa
e argumentativa do componente linguístico define a métrica de expressão do canto. A força
tensiva se vincula à interpretação, que recupera no canto as inflexões da fala, “um
procedimento muito semelhante ao do discurso coloquial, onde dispensamos as rimas, as
aliterações e a estabilidade entoativa” (TATIT, 1995a, p.194). A utilização dos tonemas
(ascendentes, descendentes ou suspensivos) adquire, neste modelo, maior relevância, já que
estão associados às frases asseverativas, continuativas ou suspensivas do discurso linguístico.
rítmico proposto pela interação entre a voz e a batida do violão e se conjugam com a estética
do canto-falado através da utilização de palavras, sílabas e sons vocais que nem sempre
expõem um sentido semântico no contexto da canção.
O referencial vocal de João Gilberto modificou o padrão vocal predominante na
canção popular brasileira antes do surgimento da Bossa Nova. Este fato, além de ser um
divisor de águas na evolução do canto na música popular, possibilitou o aparecimento de
novas estéticas vocais nas gerações posteriores de cantores. Um grande número de
compositores começou a ganhar espaço na mídia como intérpretes das suas próprias obras a
partir de meados de 1960, com o surgimento dos festivais da canção na televisão 85, “passando
[-se] a reconhecer no canto um instrumento de expressão, não apenas de beleza”
(MACHADO, 2011, p.38). Tal é o caso de Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Chico Buarque,
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, Ivan Lins, entre outros.
85
Entre os anos de 1965 e 1985, diferentes emissoras de televisão brasileiras abriram espaço para programas
dedicados à difusão dos Festivais da Música Popular Brasileira. Foram elas: TV Excelsior, Record, Rio, Rede
Globo, Tupi e Cultura. "Esses festivais consolidaram a música popular brasileira, além de revelar e consolidar
grandes compositores e interpretes da nossa música - Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil,
Geraldo Vandré, Nara Leão, Edu Lobo, Jair Rodrigues, Tom Jobim, Oswaldo Montenegro, Jessé, Guilherme
Arantes entre outros”. .Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Festival_de_M%C3%BAsica_Popular_Brasileira>.
69
CAPÍTULO 3
AMOSTRAGEM, CRITÉRIOS DE ESCOLHA E METODOLOGIA DE
ANÁLISE
70
A amostra foi composta por cinco alunos de canto de ambos os sexos, com idades
que oscilam entre 27 e 30 anos. O tamanho da mesma não foi definido a priori, mas após a
entrada em campo.
Os critérios de inclusão no momento da coleta de dados foram: a experiência do
cantor como aluno na disciplina Interpretação Canto III do Bacharelado em Música Popular
Latino-americana da UNCUYO (Mendoza-Argentina) entre os anos 2006 e 2013, devendo
estar matriculado no curso e ter sido aprovado na disciplina em questão e em “Técnica Vocal
III” e ter interpretado, na banca de canto do terceiro ano do curso, uma música pertencente ao
estilo Bossa Nova.
Construída com caráter proposital, a amostra foi constituída por sujeitos que
possuíam a experiência acadêmica e artística necessárias ao desenvolvimento da pesquisa.
Para este efeito, a indicação dos participantes envolvidos foi fornecida por professores de
diferentes disciplinas do Bacharelado.
86
Amostragem não probabilística é aquela em que a seleção dos elementos da população depende, em parte, do
julgamento do pesquisador ou do entrevistador no campo. (MATTAR, 1996, p. 132).
87
Utilizamos o termo concepção estética em vez de gênero, estilo ou corrente musical por acharmos que não
existe um consenso sobre a denominação da bossa nova, que abranja todos os compositores e intérpretes que
formaram o movimento.
71
consideramos, por um lado, que este recorte facilitaria o encontro com alunos dispostos a
participar e, por outro, dar-nos-ia a possibilidade de fundamentar a BN fora dos padrões de
gênero88 nos quais está inserida nos programas das disciplinas que têm a música brasileira
como objeto de estudo89.
A amostra, integrada por três mulheres e dois homens, configurou o seguinte
repertório, que constitui o corpus de análise do trabalho:
“Samba do avião”
Composição de Antônio Carlos Jobim
Interpretado pela aluna 1
“Corcovado”
Composição de Antônio Carlos Jobim
Interpretado pelo aluno 2
“Corcovado”90
Composição de Antônio Carlos Jobim
Interpretado pelo aluno 3
“Desafinado”
Composição de Newton Mendonça (letra) e Antônio Carlos Jobim (música)
Interpretado pela aluna 4
“Samba de uma nota só”
Composição de Newton Mendonça (letra) e Antônio Carlos Jobim (música)
Interpretado pela aluna 5
88
Nos programas das disciplinas relacionadas com a música do Brasil, em todas as orientações, no Bacharelado
em MPL da Uncuyo, considera-se a BN como gênero musical, sendo estudada com padrões estruturais fixos.
Desde a bibliografia produzida no Brasil, a BN designa-se de diferentes formas, mas não como gênero musical.
Essa discussão resulta também pertinente para nossa pesquisa.
89
No terceiro ano de todas as orientações de instrumento, a música do Brasil está inserida, assim como nas
disciplinas Música de conjunto II, Historia da música latino-americana II e Harmonia.
90
Só a música Corcovado foi gravada por dois alunos, em dois momentos diversos, acompanhados por
diferentes músicos e instrumentos. A coincidência respondeu à disponibilidade dos sujeitos com o repertório no
momento da escolha da amostra.
72
91
Com este termo nos referimos às gravações providenciadas em uma tomada só.
73
quem
Um ti vi lão Es mor ma ção se a
fa fe a
1 2 3
Figura 2: Representação gráfica dos aspectos melódicos (na ordem intensa) referentes aos três primeiros
versos da primeira estrofe da composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.
Fonte: gráfico proposto por Tatit (2004) para a análise melódica em Semiótica da Canção
ao o
em ci que é
con fe
trar li
vo nhe ci a
cê co da meu mor
eu de
1 2
Figura 3: Representação gráfica dos aspectos melódicos (na ordem extensa) referentes aos últimos dois
versos do refrão da composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim.
Fonte: gráfico proposto por Tatit (1995) para a análise melódica em Semiótica da Canção.
74
3.6.1 O protocolo
O protocolo que utilizaremos para a análise do comportamento vocal foi proposto
por José Roberto do Carmo Jr. e adotado por Machado (2012) e será utilizado tanto na análise
da obra original, quanto na interpretação da mesma pelos cantores selecionados. O método
propõe a observação e o registro de:
Andamento
Tonalidade
Tessitura da melodia
Instrumentação
Forma
Ano, local, disco, faixa e selo distribuidor.
Segundo Machado (2012), a observação, já de início, destes elementos, colabora
para a percepção dos sentidos configurados pela interpretação, podendo estar em
concordância com os elos de melodia e letra presentes na composição ou criando novos elos
pela presença da voz.
3.6.1.1 Andamento
extremamente regular e marcada, que concorre com o progresso da melodia e provoca uma
tendência à temporização:
3.6.1.2 Tonalidade
3.6.1.3 Tessitura
3.6.1.4 Instrumentação
3.6.1.5 Forma
Conforme apontamos no capítulo II, a análise da voz e do canto através dos Níveis
da Voz propostos por Machado (2007), será o eixo de nossa metodologia de trabalho. Sendo
que, tanto o vocabulário técnico, como as categorias descritivas foram atualizadas pela autora
em sua Tese de Doutorado (MACHADO, 2012), tomaremos como referência os conceitos
desenvolvidos neste último trabalho e nos artigos e publicações produzidas pela pesquisadora
nos últimos três anos. O trabalho de Sundberg (2015), uma das referências mais recentes às
pesquisa sobre voz publicadas em português no Brasil, auxiliará, igualmente, esta seção do
trabalho.
Sundberg (ibid.) entende o registro vocal como um evento produzido pela ação
diferenciada dos músculos intrínsecos da laringe, noção compartilhada por fonoaudiólogos e
otorrinolaringologistas como Costa & Silva (1998), Pinho & Pontes (2008), entre outros. A
partir desta ideia, o cientista sugere que “as diferenças entre os registros estejam associadas a
diferenças na fonte glótica e a diferentes modos de vibração das pregas vocais”
(SUNDBERG, ibid., p.84).
Hirano (apud Sundberg, 2015, p.86), assim como outros estudiosos, classificou os
registros vocais como mais ou menos pesados e leves, atendendo às diferenças entre as
atividades musculares observadas nos mecanismos laríngeos, de forma comparativa. Assim, a
ordem desta classificação, indo dos mais pesados aos mais leves, seria: registro de peito,
registro médio, registro de cabeça e registro de falsete, sendo que o registro médio e o registro
leve de cabeça não foram encontrados nas vozes masculinas (id, ibid.). Vale destacar que
existem controvérsias, entre os cientistas da voz - otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e
estudiosos do canto -, quanto a estas nomenclaturas. Consideramos, no entanto, que a divisão
citada se adapta à análise da voz cantada no contexto de nossa amostra. Utilizaremos, ainda,
outra nomenclatura, que classifica os três registros vocais básicos como fry (ou basal), modal
e elevado, sendo cada um deles divididos em sub-registros. Desta maneira, distinguiremos,
nas vozes femininas, o sub-registro de peito, o sub-registro médio e o sub-registro de cabeça
dentro do registro modal e, nas vozes, masculinas, apenas o sub-registro de peito. O sub-
registro de falsete, nos homens, será classificado como pertencente ao registro elevado.
O registro fry (ou basal) e o registro de flauta (ou assobio) não serão abordados
em nossa análise, em virtude de não terem aparecido nos exemplos analisados.
As transições entre os sub-registros vocais estão associadas à redução e ao
aumento da atividade de diferentes musculaturas intrínsecas extrínsecas à laringe,
encarregadas de abduzir, aduzir, alongar e encurtar as pregas vocais, ações que produzem
mudanças no comprimento, espessura e tensão das mesmas e, por conseguinte, no seu modo
de vibração. Estas transições podem ser observadas nas quebras vocais, produzidas
naturalmente por cantores sem treino vocal ou por cantores profissionais, que utilizam
propositalmente este recurso no estilo de canto abordado.
Se traçarmos uma analogia entre os mecanismos laríngeos e os de um motor,
poderíamos dizer que Hirano e colaboradores observam uma espécie de mudança de
78
Emissão
Vamos diferenciar dois tipos de emissão: uma relacionada ao Tipo de Fonação e outra
relacionada ao Tipo de Projeção. No primeiro caso, distinguiremos, seguindo
Sundberg (2015), entre cinco modos de fonação: sussurrada, soprosa, fluída,
enrijecida e tensa. Estes serão observados através de uma análise perceptiva - auditiva.
No leque proposto, existe uma relação entre a pressão subglótica (determinada pela
eficiência respiratória), o fluxo e o consumo de ar - determinados pela resistência
glótica, que por sua vez está atrelada às forças de adução das musculaturas laríngeas.
Estas relações resultam em intensidade sonora. Como nos interessa observar de que
forma a qualidade de fonação pode criar sentidos no canto, atentaremos para o nível de
pressão sonora e para o tipo de adução de prega vocal percebidos através da audição.
79
Figura 4: Tipo de Fonação. Relações entre pressão sub-glótica e adução de pregas vocais.
80
Quadro 5: Tipos de fonação. Relações entre adução de pregas vocais, consumo de ar, fluxo de ar, pressão
sub-glótica e intensidade sonora.
Vibrato
Articulação rítmica
92
Schultz-Coulon et. Battmer apud Sundberg (2015, p.225).
81
Timbre manipulado
Gesto interpretativo
se definir atendendo aos índices de dominância dos elementos passionais e temáticos na voz e
a presença auxiliar de elementos figurativizados.
Nas análises desenvolvidas por Machado (ibid.), observamos que diferentes
cantores podem revelar uma mesma qualidade emotiva - passional, por exemplo - através da
utilização de elementos com características diametralmente opostas. A timbragem da voz de
Elis Regina, por exemplo, na região aguda, produzida pela utilização do sub-registro de peito,
tem o mesmo efeito da timbragem da voz de Milton Nascimento na região aguda produzida
pela utilização do sub-registro de falsete. Assim, embora a produção do timbre de ambos de
dê por meio de recursos opostos, a resultante tensiva é a mesma, evocando no ouvinte
sensações associadas à afetividade.
A construção da qualidade emotiva de uma voz, além de se conformar pela
integração entre os elementos que lhe são inerentes às suas qualidades físicas, técnicas e
interpretativas e de ser influenciada, perceptivelmente, pelos elementos tensivos presentes na
composição que interpreta; está inserida em um contexto sociocultural e histórico, não
estando isenta das influências que esse meio oferece. A seguir, observaremos como se
apresentam estes elementos nas análises.
83
CAPÍTULO 4
AS ANÁLISES
84
A canção “Samba do avião”, com letra e música de Antônio Carlos Jobim, estreou
na boate carioca Au Bon Gourmet em agosto de 1962, juntamente com as composições “Só
danço samba” e “Garota de Ipanema”, parceria com Vinícius de Moraes, e “Samba da
benção” e “O astronauta”, de Baden Powell e Vinícius (CASTRO, 1990. p.315).
O grupo vocal Os Cariocas, que tinha participado das duas noites de show no
restaurante Au Bon Gourmet, sob a direção musical de Aloysio de Oliveira, foi o primeiro a
gravar “Samba do avião”, em 1963, na faixa oito do disco A bossa dos Cariocas, pela
gravadora Philips. No ano de 1965, a mesma canção compôs o repertório do segundo trabalho
solista de Tom Jobim, no LP The wonderful world of Antônio Carlos Jobim, gravado nos
Estados Unidos pela Warner Bros Records e arranjado pelo músico americano Nelson Ridley.
Escolhemos esta última versão, interpretada por Jobim, como referência, por ter
sido a primeira gravação do autor e por apresentar elementos que se permaneceram em
gravações posteriores, apontando para a consolidação de uma concepção composicional que
excede os limites dos elementos inscritos na canção e amplia os horizontes para os elementos
da interpretação.
A ideia que se tem de uma música vai sendo esboçada cada vez melhor quanto mais
profundamente se conhece a peça em seu fonograma original bem como em todas as
gravações posteriores que se possa ter acesso. Os elementos que se tornam
permanências em grande parte das interpretações vêm contribuir para firmar a obra
de modo mais nítido, enquanto nas diferenças encontradas o artista é que parece
firmar-se como figura de expressão nesse meio (DO NASCIMENTO, 2005, p.01).
93
Termo utilizado no programa da disciplina Interpretação III Canto do Bacharelado em Música Popular da
FAD - UNCUYO para se referir à Bossa Nova.
85
Toda essa alegria ele procurou transmitir no “Samba do avião” em que, além de
descrever a aterrissagem no aeroporto do Galeão, faz uma singela declaração de
amor ao Rio de Janeiro “Este samba é só porque / Rio eu gosto de você”. Como não
poderia deixar de ser, uma canção que descreve a paisagem vista de cima,
contrastando com outras postais musicais cariocas (MELLO et. SEVERIANO, 1998,
p.67).
Letra
7 Cristo Redentor
8 Braços abertos sobre a Guanabara
86
15 Cristo Redentor
16 Braços abertos sobre a Guanabara
17 Este samba é só porque
18 Rio, eu gosto de você
19 A morena vai sambar
20 Seu corpo todo balançar
21 Aperte o cinto, vamos chegar A”
22 Água brilhando, olha a pista chegando
23 E vamos nós
24 Aterrar...
Versão analisada: faixa 2, lado B do LP The wonderful world of Antônio Carlos Jobim,
gravado em 1965, nos Estados Unidos, pela Warner Bros. Records, com arranjo de Nelson
Ridley.
Andamento: 76bpm
Tonalidade: A
Tessitura: 21 semitons
Nesta versão, a estrutura formal da obra é constituída por três partes: uma parte A de dezesseis
compassos (versos 1, 2, 3, 4, 5 e 6); uma parte A’ de vinte e seis compassos (versos 7, 8, 9, 10,
11, 12, 13 e 14 e dois compassos instrumentais); uma parte A” de vinte e quatro compassos
(versos 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, e 24) e uma CODA instrumental de oito compassos.
87
Eparrei
Figura 5: Parte A: compassos 1 a 12, versos 1, 2, e 3. Composição “Samba do avião”, de Antônio Carlos
Jobim.
Figura 6: Parte A: compassos 13 ao 16, versos 4, 5, e 6. Composição “Samba do avião”, de Antônio Carlos
Jobim.
A parte A' começa com uma frase que apresenta uma melodia similar à do começo
da parte A. A letra é mais tematizada (modalizado pelo /FAZER/), não se apresentando na
primeira pessoa, como na parte A (modalizado pelo /SER/), além de a melodia continuar
expandindo-se em direção ascendente pelo campo da tessitura.
90
Figura 7: Parte A': compassos 17 ao 24 , versos 7 e 8. Composição “Samba do avião”, de Antônio Carlos
Jobim.
Figura 8: Parte A': compassos 25 ao 28 , versos 9 e 10. Composição “Samba do avião”, de Antônio Carlos
Jobim.
91
A figura 9 começa com o verso 11, que possui o mesmo desenho do verso 9, para
prosseguir com os versos 12 e 13, representados por dois motivos rítmico-melódicos novos.
No verso 14, ocorre o regresso ao tipo de motivo que se expande pelo campo da tessitura,
gradualmente, até o agudo.
Figura 9: Parte A': compassos 29 ao 35 , versos 11, 12 e 13 . Composição “Samba do avião”, de Antônio
Carlos Jobim.
Figura 10 - Parte A': compassos 36 ao 39 , verso14 . Composição “Samba do avião”, de Antônio Carlos
Jobim.
Figura 11 - Parte A”: compassos 45 ao 52, instrumental (na versão analisada). Composição “Samba do
avião”, de Antônio Carlos Jobim.
93
Figura 12 - Parte A”: compassos 53 ao 56, versos 17 e 18. Composição “Samba do avião”, de Antônio
Carlos Jobim.
Figura 13 - Parte A”, compassos 57 ao 62, versos 19, 20, e 21. Composição “Samba do avião”, de Antônio
Carlos Jobim.
94
Andamento: 85 bpm
Tonalidade: C
Tessitura: 21 semitons
Letra
7 Cristo Redentor
17 Cristo Redentor
25 E vamos nós
96
26 Pousar
94
Definição com base nos conceitos de SUNDBERG (2015, p.115).
95
Álbum "Gal Costa canta de Tom Jobim" (BMG, 1999), faixa 12.
97
referenciais. Suspeitamos que este fato possa ter uma associação direta com o ensino-
aprendizado da bossa nova como espécie musical, no programa já citado. Neste caso, a
abordagem metodológica faz uso dos conhecimentos específicos de “harmonia, escalas,
rítmica, fraseados e recursos vocais característicos, estrutura e forma” (Programa da
disciplina, 2014, p.03) [grifos nossos].
A forma particular de tradução da obra cancional pela interpretação vocal
analisada identifica-se com a qualidade emotiva passionalizada. O predomínio das durações
vocálicas, recobertas por vibratos de final de frase, somados à expansão pelo campo da
tessitura e à utilização alternada dos três sub-registros do registro modal, enfatizam o aspecto
cantado da emissão e evidenciam o componente dramático expresso na composição.
4.1.3 Conclusão
Se o véu palatino está levantado, o ar sai pela boca mais livremente - produzem-se
sons orais: [b] [s] [a].
Véu palatino abaixado, cavidade oral fechada (lábios, dentes, palato), a passagem do
ar é naso-faringal produzem-se sons nasais: [n] [m].
Véu palatino abaixado e sem impedimento de saída de ar para a cavidade oral -
produzem-se sons nasalizados: [ã] [õ]99.
99
<http://www.lpeu.com.br/q/at2bq> Acesso em 4 de janeiro de 2015.
100
Correspondem aos sons do português brasileiro produzidos quando os articuladores se aproximam,
estreitando o trato vocal, fazendo com que o ar saia produzindo fricção, como ocorre na pronúncia das palavras:
fava, sã, chave. Cf.: <http://www.lpeu.com.br/q/at2bq> Acesso em 4 de janeiro de 2015.
101
Correspondem aos sons do português brasileiro produzidos por uma obstrução da passagem de ar, como nas
oclusivas, ocorrendo posteriormente uma abertura com fricção, como nas fricativas. Exemplo: tia e dia. Cf.:
<http://www.lpeu.com.br/q/at2bq> Acesso em 4 de janeiro de 2015.
102
Cf. Machado, 2012, p.53.
100
Segundo Severiano et. Homen de Mello (1998) a música Corcovado foi composta
no ano de 1960, por Antônio Carlos Jobim (letra e música). Denominado como samba,
representa, para os autores, um “cartão postal do Rio de Janeiro, poética e musicalmente
impregnado pelo espírito da bossa nova [...]” (SEVERIANO & HOMEM DE MELLO, 1998,
p.38).
O livro aponta algumas curiosidades a respeito da letra da música: Originalmente,
antes de ser gravado, “o primeiro verso dizia: um cigarro um violão. Foi nos ensaios para a
gravação que João Gilberto convenceu Tom Jobim a mudá-la para um cantinho um violão”
(id, ibid.).
Outro dado interessante sobre a letra é que o verso "da janela vê-se o
Corcovado/o Redentor, que lindo" tem como referência “a paisagem vista das janelas do
apartamento em que o autor morava na ocasião”. O mesmo apartamento, “situado na Rua
Nascimento Silva, 107, em Ipanema, acabou entrando para a letra do samba ‘Carta ao Tom
74’ de Toquinho e Vinícius de Moraes” (id, ibid.).
Gava (2006), por sua parte, afirma que a música “foi executada durante toda a
temporada do trio Jobim, Moraes & Gilberto, no Restaurante Bon Gourmet, Rio de Janeiro,
1962, evento importante [...] porque finalizou a carreira da parceria de Jobim & Moraes.”
(GAVA, 2006, p.108).
101
A música "Corcovado" foi gravada “por artistas estrangeiros, como, por exemplo,
Stan Getz (em 1963) e Frank Sinatra (em 1967), ficando mais conhecido como Quiet Night of
Quiet Stars” (id, ibid.).
Letra
Andamento: 68 bpm
103
Ao tomarmos contato com o LP O amor, o sorriso e a flor, de João Gilberto (1960), o qual contém, na faixa 2
do lado B, a primeira gravação de “Corcovado”; observamos que a letra inserida na contracapa original do disco,
começa com a palavra Num e que esta é reforçada no canto.
102
Tonalidade: C
Tessitura: 14 semitons
104
A introdução referida faz parte da composição.
103
Figura 16- Parte A: compassos 9 a 16, versos 4, 5, 6, e 7. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos
Jobim.
Figura 17- Parte A: compassos 17 a 24, versos 8, 9, 10 e 11. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos
Jobim
105
Dicção, segundo Tatit (1995), é o conjunto de elementos que definem as características compositivas de um
autor.
106
A linearidade da melodia condensa a densidade dominante do acorde (TATIT, 1995, p.170).
104
Podemos encontrar estes elementos em outras obras do autor deste período, como
“Águas de março”, “Samba de uma nota só”, “Garota de Ipanema” e “Fotografia”, as quais
não serão, no entanto, analisadas neste trabalho.
Os componentes passionais da melodia começam a evidenciar-se nos últimos
motivos das figuras 15, 16, e 17, com o aparecimento de saltos intervalares e tonemas
descendentes que finalizam as frases em forma asseverativa.
No último motivo da figura 15 e da figura 17 evidencia-se uma prolongação de
tempo nas sílabas ama e chama, respectivamente, que o intérprete, na versão original, reforça
com uma articulação rítmica que privilegia os prolongamentos vocálicos.
Na parte A, a melodia concentra-se na região médio-grave da tessitura,
expandindo-se pelo campo de frequência de oito semitons, através da sucessão de motivos
rítmico- melódicos recorrentes. Estes elementos tematizados da melodia entram em
concordância com os elementos eufóricos presentes na letra, que celebram a música, a
felicidade do amor e a beleza das paisagens do Rio de Janeiro, expressas no discurso através
de um enunciador em terceira pessoa, que relata os procedimentos discursivos figurativos107
presentes no texto: "Um cantinho, um violão/ esse amor uma canção/ pra fazer feliz a quem
se ama/ muita calma pra pensar/ e ter tempo pra sonhar/ da janela vê-se o Corcovado/ o
Redentor, que lindo!".
Na parte A’, a melodia começa a expandir-se pela tessitura, através da sucessão
dos motivos rítmico – melódicos presentes na parte A. Os procedimentos discursivos da letra
se apresentam de forma tematizada e a enunciação de forma enunciativa108.
Aparece um enunciador projetado na primeira pessoa eu, no tempo agora, no
espaço aqui: "quero a vida sempre assim/ com você perto de mim/ até o apagar da velha
chama/."
107
Os discursos figurativos têm uma função descritiva ou representativa, enquanto os temáticos têm uma função
predicativa ou interpretativa (FIORIN, 2002, p. 65).
108
Ocorre quando o enunciador coloca o sujeito da enunciação (eu) e o ato de enunciar (afirmo) no interior do
enunciado.
105
Figura 18- Parte A’: compassos 25 a 34, versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de Antônio
Carlos Jobim.
Andamento: 67 bpm
Tonalidade: C
Tessitura: 21 semitons
106
Figura 19- Introdução: compassos 1 a 12. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim.
observadas na introdução, mas apresentando menor escape de ar, o que indica uma
consciência maior do apoio respiratório, uma melhor adução das pregas vocais e uma
constância na pressão aérea sub-glótica.
A uniformidade tímbrica, somada ao ritardando109 constante do canto em relação
ao acompanhamento do violão, nos revela uma identificação do canto do aluno com a estética
bossanovista do canto de João Gilberto.
Outro elemento que achamos semelhante ao da estética do cantor baiano é a
articulação do texto: O aluno diz / Um cantinho um violão / esse amor uma canção/ com uma
respiração quase imperceptível entre as frases, procurando dar continuidade aos fraseados
musical e linguístico.
O recurso figurativo através do qual o cantor diz o texto respeitando as inflexões
da fala nos dá a impressão de que “as frases poderiam também ser ditas no cotidiano”
(TATIT, 2014, p.34).
Os elementos figurativizados permanecem na interpretação da frase /muita calma
pra pensar/, onde se reafirmam as acentuações das sílabas do discurso linguístico. Estas
acentuações no canto dialogam com as presentes na batida do violão, como expressa Mammi
(1994) ao referir-se à inter-relação entre o canto e o violão em João Gilberto:
Essa defasagem rítmica contínua mantém uma ligação forte com as inflexões da
língua falada, porque como esta não pode ser calculada com exatidão, nem se deixa
geometrizar completamente. Mas, entre o retardo da voz e a antecipação do violão,
se cria um tempo médio que nunca é pronunciado, mas que é o que garante ao verso
a essência musical e ao canto o ser poesia (MAMMI, 1994, p.67).
A frase seguinte - /e ter tempo pra sonhar/ - prolonga levemente a vogal “e” e a
vogal “a” que estão grifadas. Não há emissão de vibrato nem de portamentos. O tipo de
fonação mais soprosa das palavras tempo e sonhar, somado aos prolongamentos vocálicos,
manifesta a intenção do intérprete de sublinhar o texto no canto, revelando um gesto
interpretativo passionalizado com presença de elementos figurativizados.
/Da janela vê-se o Corcovado o Redentor, que lindo!/: Aqui o cantor recupera as
acentuações das palavras no começo das frases, continuando com o sublinhado, marcando
pausas na descrição do que se vê da janela -/da janela vê-se o [pausa] Corcovado [pausa] o
Redentor/-, culminando com a interjeição /que lindo!/, marcando a vogal “i” com um pequeno
portamento.
109
Retardo do canto em relação aos pulsos do tempo da música.
108
Figura 20- Parte A’ compassos 25 a 34, versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de Antônio
Carlos Jobim.
110
Note-se que o aluno ao substituir o pronome demonstrativo deste pelo pronome demonstrativo desse, para
se referir ao mundo do sujeito da enunciação, estabelece uma relação espacial diferenciada do texto original
110
Figura 23: Parte A’: compassos 51 ao 74, imagem das respirações seccionadas e analisadas no editor de
áudio que interseccionam os versos 8, 9, 10, 11, 12 e 13 da Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos
Jobim.
112
pirubé paru ué
Figura 24: Final e Coda compassos 67 a 74. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim.
4.2.3 Conclusões
111
Segundo Machado (2012, p.52), o termo articulação rítmica faz referência à maneira como a voz articula os
tempos do discurso musical, associados ao discurso linguístico, na ação local (cada sílaba), na ação local
ampliada (cada palavra), na ação global (cada período) e na ação global ampliada (cada frase).
114
do canto.
Na parte A’, que se inicia apresentando, no plano discursivo, uma debreagem
enunciativa, projetando o eu- aqui- agora da enunciação, a voz do enunciador se faz mais
presente no enunciado. O efeito de proximidade dessa voz é criado através de acentuações, no
discurso musical, coincidentes às do discurso linguístico; respirações sonoras e pausas que
expõem a presença da voz que fala por trás da voz que canta. A conjunção da letra com o
objeto de valor /felicidade/ é interpretada por uma voz com mais presença de elementos
eufóricos, que se traduzem em pequenos crescendos dinâmicos, mudanças no tipo de fonação
e, por vezes, acréscimo de volume.
Retomando os conteúdos passionalizados na integração de melodia e letra, a voz
recupera os traços de passionalização sem, no entanto, abandonar os elementos
figurativizados. O sujeito da enunciação está sempre presente no canto, dando mais ênfase às
debreagens enunciativas do texto.
Grande variedade de recursos são apresentados na performance vocal,
concomitantes às relações tensivas operadas no núcleo melodia/letra da composição. Mesmo
que o sotaque espanhol seja muito evidente, os elementos estilísticos que associam o canto à
estética de João Gilberto garantem uma pertinência da interpretação ao universo da Bossa
Nova.
A qualidade emotiva da voz com a qual associamos a interpretação vocal nesta
obra é Passional-Figurativizada.
Andamento: 57 bpm
Tonalidade: C
Tessitura: 14 semitons
Letra
1 Um cantinho, um violão
115
A palavra este, da versão original, é substituída, pelo intérprete, pela palavra esse,
no verso 2. O recurso dos prolongamentos vocálicos se faz presente nas palavras sublinhadas
/esse amor uma canção / pra fazer feliz a quem se ama./, aparecendo, na última vogal da
palavra ama, um pequeno vibrato de final de frase.
Em relação ao sotaque espanhol, posto em evidência na interpetação, observamos
que, tanto a presença da consoante “b” (bilabilal oclusiva sonora) substituíndo a consoante
“v” (labiodental fricativa sonora) na palavra violão, quanto a presença da consonate “s”(
fricativa alveolar surda) substituíndo a consoante “z” (fricativa alveopalatal sonora) nas
palavras fazer e feliz113, geram uma homogeneidade no timbre, produzida pela redução do
ruido da fricção do “v” e do “z”, respectivamente, tornando a tonicidade mais enfraquecida114
neste trecho, o que associamos a uma ocorrência local mais disfórica.
A pronúncia do “a” oral substituíndo o “ã” nasal nas palavras violão e canção
112
Do original: "The 3-3-2 rhythmic pattern is an ancient rhythmic pattern, but is often associated with Astor
Piazzolla in tango music, as he often used it in his compositions. However, it was present in tango music before
Piazzolla, but it is not generally applied that much in traditional tango music. It can be seen as a variation of the
habanera rhythm, if you stick the two middle notes of the habanera together in one, you get the 3-3-2."
[Tradução nossa]. Disponível em: <http://simbatango.com/2009/12/19/what-to-listen-for-in-tango> Acesso em
03 fevereiro de 2016.
113
O som da consoante “z”, no final da palavra feliz, adquire características de fricativo sonoro, no contexto da
interpretação, pela elisão das palavras /feliz a / no canto.
114
Cf. quadro explicativo do conceito: p66.
117
Além das vogais nasais, que ocorrem com o abaixamento do véu do palato,
deixando o fluxo de ar sair por duas cavidades (a oral e a nasal), temos vogais que
são nasalizadas em função dos contextos vizinhos. É o que ocorre em palavras como
cama, ninho, tenho, nas quais o abaixamento do véu do palato para a articulação da
consoante nasal adjacente é realizado antes da completa articulação da vogal que
antecede esse segmento nasal. Isso faz com que tais vogais sejam percebidas como
nasalizadas. Em contexto tônico, essa nasalização é mais perceptível do que em
contexto átono (SEARA et.al., 2011, p.41) 115.
115
Disponível em: <http://ppglin.posgrad.ufsc.br/files/2013/04/Livro_Fonetica_e_Fonologia.pdf> Acesso em 29
de julho de 2015.
118
interpretados pelo cantor por meio de uma emissão em registro modal, com alternância de
ressonâncias.
Na interpretação dos versos 11 e 12 (nos compassos 25 e 26 da exposição de A’) -
e eu que era triste / descrente desse mundo- detecta-se uma diminuição geral da dinâmica, em
concordância com os elos de melodia e letra presentes neste trecho. A voz realiza mudanças
dinâmicas locais através do uso alternado dos tipos de fonação-fluida e soprosa -, destacando
as palavras que denotam tristeza no texto, que são reproduzidas de maneira disfórica.
Concordante com a versão do aluno 2, a nota mi 3, da primeira sílaba da palavra
Triste, é substituída pela nota mi bemol 3, o que diminui a tensão provocada pela ausência,
reforçada pela nota dissonante original, ocasionando uma desaceleração tensiva local,
compatível com os conteúdos presentes no núcleo melodia e letra do fragmento.
Figura 26- Parte A’ compassos 25 a 34 versos 11, 12, 13 e 14. Composição “Corcovado”, de Antônio Carlos
Jobim, versão 2.
116
O ataque de glote segundo Sundberg (2015) se produz quando a adução de pregas vocais é completa antes
do aumento de pressão sub-glótica, não existindo uma coordenação na simultaneidade de ambas as funções
na fonação.
119
Figura 27 - Parte A’ repetição: compassos 58 a 65. Imagem do sinal. Seccionada e analisada no editor de áudio,
que demonstra, nos versos 11, 12 e 13 da composição “Corcovado”, de Antônio Carlos Jobim, as mudanças
dinâmicas, cujos picos mais altos de volume estão destacados no começo da segunda frase.
uma emissão disfórica, em registro próximo da fala, com prolongação vocálica e vibrato de
final de frase: meu amor.
4.2.5 Conclusões
Composta por Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça, a música foi gravada
pelo cantor João Gilberto, no LP “Chega de saudade” (Odeon, Rio de Janeiro, 1985) 117. Com
arranjos de Tom Jobim e produção de Aloysio de Oliveira, o disco é considerado o marco
inaugural da bossa nova.
117
Uma curiosidade sobre o evento: “Desafinado levou treze takes para ser gravada por João Gilberto, no dia 10
de novembro de 1958. Isto apesar de Tom ter simplificado ainda mais o arranjo, para evitar os pegas entre o
cantor e a orquestra” (MIDANI apud CASTRO, 1990 p.209-210).
121
A primeira gravação de bossa nova foi lançada em fevereiro de 59, já mostrava tudo
o que a bossa nova oferecia de inovador e revolucionário: o canto intimista, a letra
sintética, despojada, o emprego de acordes alterados e, sobretudo, um extraordinário
jogo rítmico entre o violão, a bateria e a voz do cantor. Responsável por este jogo
rítmico, seu intérprete, João Gilberto, assumia assim de imediato um papel
destacado no trio -completado pelo compositor Tom Jobim e o poeta Vinicius de
Moraes- que, criando a bossa nova, alteraria de forma irreversível o curso de nossa
música popular (MELLO et. SEVERIANO, 1998, p.27).
As críticas ao estilo, feitas pela imprensa, segundo Cravo Albin (2003), tiveram
como alvo a figura do cantor baiano “a quem os comentaristas acusavam de desafinado, de
antimusical e de muitos defeitos mais” (CRAVO ALBIN, 2003, p.218). O mesmo autor
comenta, ainda, que foi em resposta a estas críticas que Jobim e Mendonça compuseram
“Desafinado” e “Samba de uma nota só”, sendo que a letra da primeira "estava na medida
certa para a resposta de João Gilberto aos seus críticos" (id, ibid.).
Castro (1990), por sua parte, sustenta que a composição da música foi inspirada
“na incompetência dos cantores da noite carioca, como Lélio Gonçalves”, que eventualmente
Tom e Newton tinham que acompanhar. Esta “cruel inspiração” incentivaria aos músicos a
“escrever[em] um samba que parecesse uma defesa dos desafinados, mas tão complicado e
cheio de alçapões dissonantes que, ao ser cantado por um deles, iria deixá-lo em apuros”
(CASTRO, 1990, p.205).
A composição ganhou, tempos depois, uma introdução com letra de Ronaldo
Bôscoli, inicialmente “sem crédito” segundo Castro (ibid.), que a partir de 1981 “ganharia
visibilidade”(MONTEIRO, 2007, p.02) .
O lendário álbum foi lançado no dia 20 de abril de 1962, menos de três meses depois
de gravado (13 de fevereiro) na Igreja Unitária de Todas as Almas (All Souls
Church), em Washington D.C. Seis das suas sete faixas foram registradas num único
take, numa única manhã estendida até as duas horas da tarde, conforme recorda
Deppenschmidt. Stan Getz apanhou o avião de volta para Nova Iorque à noite, sem
ter a mínima ideia de que aquele seria “um dos mais influentes álbuns de jazz de
todos os tempos”118.
118
Informação disponível em: <http://www.jb.com.br/jazz/noticias/2012/04/28/meio-seculo-de-jazz-samba>
Acesso em 06 de agosto de 2015.
124
Letra:
Rio de Janeiro (Brasil), pela Odeon. Com arranjo de Antônio Carlos Jobim, interpretação de
João Gilberto e produção de Aloysio de Oliveira.
Andamento: 82 bpm
Tonalidade: E
Tessitura: 15 semitons
119
Segundo a partitura original do arranjo de “Desafinado”, manuscrita a lápis por Antônio Carlos Jobim.
Material obtido e emprestado pelo Prof. Renato Vasconcellos (Departamento de Música da UNB). O piano
consta na grade da partitura mas não se encontra presente no fonograma.
120
“Debrear é construir o simulacro de realidade, e de enunciação, no texto” (Fiorin 2002, p. 46)
126
e em conjunção com o valor “naturalidade”. O antagonista, ou anti-sujeito, por sua vez, está
em conjunção com o objeto de valor “afinação” e, portanto, com o objeto de valor
“conhecimento musical”.
Os sentidos configurados pela letra são compatíveis com a condução melódica. O
sujeito, na primeira pessoa, se dirige ao anti-sujeito expressando, através da letra, as relações
de disjunção com os objetos de valor desejados: se você disser que eu desafino, amor, saiba
que isto em mim provoca imensa dor. Na melodia, estes conteúdos são reafirmados mediante
saltos descendentes de terça maior e sexta maior, que concluem, respectivamente, na décima
primeira aumentada do acorde dominante F#7 (#11) e no quinto grau bemol do acorde
subdominante (G#m7b5). Estas notas dissonantes da harmonia empregadas na melodia são
utilizadas na composição de forma irônica - em concordância com os sentidos do texto -,
demonstrando que o “eu da enunciação” possui uma versatilidade vocal que lhe permite
interpretar a complexa melodia.
Vale dizer que o sentimento de dor provocado pela disjunção do enunciador com
o valor afinação é manifestado mediante as descontinuidades melódicas provocadas pelos
saltos intervalares da melodia. A ratificação deste sentimento de dor é expressa por intermédio
de um tonema descendente asseverativo.
dor.
O anti-sujeito possui o saber e poder/fazer, que o definem como um sujeito
realizado - só privilegiados têm ouvido igual ao seu -, mas é ameaçado pela força da
naturalidade do sujeito que tenta bloquear ou anular: se você insiste em classificar/ meu
comportamento de anti-musical /eu, mesmo mentindo, devo argumentar / que isto é bossa
nova / que isto é muito natural.
No diagrama da figura 32 podemos observar a permanência dos elementos
passionais da melodia, demonstrados pelas oscilações musicais, no campo da tessitura, dos
movimentos disjuntos, produzidos por saltos intervalares ascendentes e descendentes - de 7ª
M, 4ª J, 4ª Aum., 3ª M e 3ª m - e pelos movimentos conjuntos dos graus imediatos.
Chamamos a atenção para o emprego dos saltos intervalares mais complexos quando a letra,
na voz do sujeito da enunciação, refere-se de maneira irônica à conjunção do anti-sujeito com
o objeto de valor “afinação” e a sua própria conjunção com o objeto de valor “naturalidade”.
Figura 34 - Parte A’: compassos 24 a 31, versos 7 e 8. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça.
129
Figura 35 - Parte B: compassos 31 a 39, versos 9 e 10. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça.
“Desafinado” era uma galhofa só, música e letra, principalmente o verso que mais
lhes arrancou risos [referindo-se a Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça]
quando Tom o propôs: “Fotografei você na minha Rolley-Flex”, numa referência à
fabulosa câmara alemã 6x6, com visor indireto- o máximo para a época (CASTRO,
1990, p.205).
130
A Rolley-Flex na letra representa o status de classe do “eu” narrativo, que por ter
acesso a ela pode registrar metaforicamente a “ingratidão” do anti-sujeito. Esta figura
atribuída ao “tu” como valor negativo coloca o enunciador em um lugar de vantagem, que é
representado no segmento através de rasgos melódicos mais eufóricos, já que livre de tensões
produzidas por saltos intervalares longos e dissonâncias.
Figura 36 - Parte B: compassos 39 a 46, versos 11 e 12. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos
Jobim e Newton Mendonça.
Figura 37 - Parte A”: compassos 46 a 53, versos 13 e 14. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos
Jobim e Newton Mendonça.
Figura 38 - Parte A”: compassos 53 a 57, versos 15. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim e
Newton Mendonça.
Figura 39 - Parte A”: compassos 57 a 61, versos 16 e 17. Composição “Desafinado”m de Antônio Carlos
Jobim e Newton Mendonça.
Figura 40 - Parte A”: compassos 61 a 64, verso 18. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim e
Newton Mendonça.
Andamento: 82bpm
Tonalidade: D
Tessitura: 18 semitons
121
Ver quadro da página 66.
134
Figura 43 - Parte A’: compassos 17 a 24 , versos 5 e 6. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça.
descontinuidade no discurso, de modo a chamar a atenção ao que está sendo dito e sublinhado
(recurso figurativizado-tematizado). Já quando expressa o argumento pelo viés emocional, em
conjunção com o objeto-valor naturalidade, tomado como elemento positivo - que isto é
bossa nova /que isto é muito natural -, a dinâmica decresce de forma abrupta e se mantém,
durante todo o trecho, a homogeneidade da emissão - de tipo fluida -, obtida pela manutenção
da continuidade do fluxo de ar e pela articulação legato do fraseado, elementos que
identificamos com o modelo de integração passional: "O prolongamento das durações tem
como corolário a desaceleração rítmica e o abrandamento da pulsação, substituindo os efeitos
somáticos por efeitos psíquicos ligados a conteúdos afetivos" (TATIT, 1995b, pp.192-193).
Figura 44 - Parte A’: compassos 24 a 31, versos 7 e 8. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça.
Figura 45 - Parte B: compassos 31 a 39, versos 9 e 10. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos
Jobim e Newton Mendonça.
Vale destacar que muitas versões desta música reproduzem o mesmo erro em
relação à original, já que encontramos alterações nas partituras publicadas. Um dos exemplos
que citaremos é a partitura publicada no The Real book, editada no ano de 1975, que ilustra a
melodia e harmonia do trecho analisado com algumas mudanças, que grifamos a seguir:
Figura 46 - Parte B: compassos 36 a 39, versos 9 e 10. Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça. Partitura Real book.
Supomos que a cantora pode ter sido influenciada por esta referência, já que,
conforme observamos na análise do compasso 23 da parte A’, o salto intervalar interpretado é
138
Figura 47 - Parte A’: compassos 17 a 24 , versos 5 e 6 Composição “Desafinado”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça. Partitura do The Real book (1975).
4.3.3 Conclusões
Composta no ano de 1959 por Antônio Carlos Jobim em parceria com Newton
Mendonça, este samba “conta uma historinha romântica e ingênua, cujo grande mérito está
em sua original e requintada combinação versos/música” (MELLO et. SEVERIANO, 1998,
p.41).
Segundo Cravo Albin (2003), assim como “Desafinado” foi composta em resposta
às críticas maldosas dos comentaristas a respeito do uso das melodias dissonantes que faziam
os cantores parecerem desafinados e anti-musicais, “Samba de uma nota só” ironiza as críticas
de que o novo gênero seria” carente de variação musical” (CRAVO ALBIM, 2003, p.218).
140
Quando foi gravado por João Gilberto, em abril de 1960 (meses depois da
gravação do conjunto Farroupilha), “a Bossa Nova já tinha se tornado uma mania nacional”
(CASTRO, 1990, p. 256). Dentre as inúmeras gravações que a canção teve, citamos os artistas
brasileiros Sílvia Teles, Baden Powel, Os Cariocas e a o próprio compositor, Tom Jobim, no
LP The composer of Desafinado, realizada em maio de 1963, em Nova York. Uma das
gravações mais reconhecidas internacionalmente foi registrada no LP de bossa nova Jazz
Samba (Getz / Byrd / Jobim), de 1962, ganhadora de um prêmio Grammy e do primeiro lugar
no Billboard 200, em 1963122:
“Samba de uma nota só” é muito gravado no exterior, com o título de “One Note
samba”, principalmente por músicos de jazz (Coleman Hawkins, Dizzy Gillespie,
Count Basie, Erroll Garner). Nada disso, porém, seria presenciado por Newton
Mendonça, que morreria de um enfarte fulminante aos 33 anos, em 11/11/1960
(MELLO et. SEVERIANO, 1998, p.41).
Letra
5 Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada,
6 Ou quase nada.
11 E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó.
122
Billboard 200 é uma lista dos álbuns e LPS mais vendidos nos Estados Unidos, publicada semanalmente na
revista Billboard e frequentemente usada para medir a popularidade de um artista ou conjunto. Fonte:
<http://wikipedia.com> Acesso em 19 de agosto de 2015.
141
Andamento: 84 bpm
Tonalidade: A
Tessitura: 19 semitons
Deve-se ressaltar o equilíbrio que coloca a melodia de uma única nota nos
momentos harmônicos mais complexos, e a harmonia mais simples nos momentos
onde a execução vocal é mais complicada (SANTOS, 2010, p.89).
contexto de críticas à Bossa Nova123. Assim, pode-se inferir, como aponta Cravo Albim
(2003), que a canção possua conotações semânticas idênticas às da composição “Desafinado”,
no sentido de responder às críticas através dos sentidos da composição:
De fato, a Bossa Nova não foi aclamada por todo o mundo. Uma tempestade de
críticas maldosas começou a ser levantada contra João Gilberto, a quem os
comentaristas tradicionalistas acusavam de desafinado, de antimusical e de muitos
defeitos mais. Em resposta, Tom fez com Newton Mendonça duas composições;
“Desafinado” e “Samba de uma nota só”- acidentalmente ou não, os dois inovadores
aderiam a uma tradição de polêmicas musicais de requintado sabor no cancioneiro
brasileiro. A letra de “Desafinado” estava na medida certa para a resposta de João
Gilberto aos críticos ”Se você insiste em classificar / meu comportamento de
antimusical / Eu mesmo mentindo devo argumentar / que isto é bossa nova, isto é
muito natural”... Já em “Samba de uma nota só”, havia um quase deboche em
relação aos que apontavam o novo gênero como carente de variação musical: “Eis
aqui este sambinha / Feito numa nota só / Outras notas vão entrar / Mas a base é uma
só”. E concluía na segunda parte da música: “Tanta gente existe por aí que fala tanto
/ E não diz nada ou quase nada” [grifos do autor](CRAVO ALBIM, 2003, p.218) .
Figura 48 - Parte A: compassos 1 a 8, versos 1 e 2. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
123
De que o estilo seria carente de variação musical.
143
Figura 49- Parte A: compassos 8 a 16, versos 3 e 4. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
Musicalmente, esta seção enfatiza motivos rítmicos que se repetem com pequenas
variantes, sustentados por uma progressão harmônica que se desenvolve em forma
descendente cromática, constituída por acordes dominantes substitutos que se encadeiam de
forma engenhosa, utilizando uma cadência típica do jazz [II-V7-I] (SANTOS, 2010, p.88).
O contexto melódico e a recorrência de motivos rítmicos caracterizam-se por
enaltecerem as qualidades da repetição de “uma nota só”, reforçando a letra. Esta forma
hegemônica da melodia, que se manifesta no nível extenso da parte “A”da composição com
uma tendência à continuidade, valoriza a redução das durações, por meio de ataques
consonantais e acentos vocálicos.
Na parte B, em contraste com o observado na melodia da parte A, o percurso
melódico de busca amplia em 19 semitons a extensão da melodia. Este, formado por dois
tipos de movimentos escalares, um ascendente e outro descendente, se sustenta numa
progressão harmônica sobre os graus II-V7- I da tonalidade de Si bemol Maior (figura50) e,
logo em seguida sobre a tonalidade de Lá bemol Maior (figura 51).
144
Figura 50 - Parte B: compassos 17 a 20, versos 5 e 6. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
145
Figura 51 - Parte B: compassos 21 a 24, versos 7 e 8. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
Figura 52 - Parte A’: compassos 24 a 31, versos 9 e 10. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
plano do conteúdo, a letra se finaliza em forma de conselho: E quem quer todas as notas ré mi
fá sol lá si dó / fica sempre sem nenhuma fique numa nota só.
Figura 53- Parte A’: compassos 31 a 38, versos 11 e 12. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
Andamento: 90 bpm
Tonalidade: G
Tessitura: 19 semitons
Figura 54- Parte A: compassos 8 a 16, versos 3 e 4. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
149
Figura 55 - Parte A: compassos 1 ao 16. Imagem do sinal. Seccionada e analisada no editor de áudio, que
demonstra nos versos 1 ao 8 da composição “Samba de uma nota só”, de Antônio Carlos Jobim e Newton
Mendonça, as mudanças dinâmicas, cujos picos mais altos de volume se visualizam na terceira frase da
parte A nas líneas verticais que atravessam o gráfico.
Figura 56- Parte B: compassos 17 a 20, versos 5 e 6. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
150
Figura 57- Parte B: compassos 21 a 24, versos 7 e 8. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
Figura 58- Parte A': compassos 25 a 33, versos 9 e 10. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
151
Figura 59- Parte A': compassos 33 a 41, versos 11 e 12. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio
Carlos Jobim e Newton Mendonça.
No intermezzo, com base na parte B, se destaca um solo vocal que explora 15 semitons da
tessitura na região média e médio-grave. Constituído por frases rítmicas curtas, integradas por
saltos intervalares de diferentes alturas - apoiados em figurações rítmicas breves -, o contorno
melódico é dinamizado. A articulação rítmica neste trecho valoriza os ataques, concordantes
com os tempos fortes nos primeiros dois compassos e com os contratempos nos dois últimos.
As consoantes utilizadas para a silabação do improviso são, na sua maioria, de tipo oclusivas-
surdas (P, T) e sonoras (B, D)-, onde o ar encontra um obstáculo total à sua passagem
favorecendo, de um lado, os ataques consonantais e, de outro, os acentos vocálicos. Estes
recursos, somados à redução das durações e aos procedimentos de reiteração manifestam uma
tendência do improviso à tematização.
Figura 60- Intermezzo, compassos 25 a 32. Composição “Samba de uma nota só”, de Antônio Carlos Jobim
e Newton Mendonça.
152
4.4.3 Conclusões
CAPÍTULO 5
Quadro 6. Descrição comparativa dos elementos observados no nível global e sua relação com a análise
cancional e a qualidade emotiva identificada.
3
Int, A, A’,Inter,coda 68bpm Igual à Igual à Acentua Ausentes Composição Passional
original original do
Passional
A, A’,Inter,A’,coda 57bpm
5
A, B, A’ 84bpm Com Igual à Leve Presente Composição Tematizada
mudan- original no Tematizada
A, B, A’, B, A’ 90bpm Passional
ças intermezz
o
155
Quadro 7. Descrição comparativa dos elementos observados no nível local e sua relação com as análises.
Fonação
Fluida
124
Incluímos a categoria emissão neste quadro por considerarmos que, embora esta pertença ao nível global, aqui
colocada permite que visualizemos melhor a sua relação com os demais parâmetros a serem analisados de
maneira comparativa.
157
125
Segundo Belau et. Pontes (2009), a produção dos diferentes sons de uma língua se dá pelo uso de dois tipos
de fonte: a glótica e as friccionais. A fonte primeira é a principal produtora de som, sendo ativada pela vibração
das pregas vocais. As segundas são as principais produtoras de ruído, sendo ativadas pelo estreitamento das
cavidades acima da laringe, que geram a fricção do ar.
126
Cf. tipos de fonação na página 82.
158
alongamento dos espaços do filtro129, tanto em sentido vertical como horizontal, provocando
variações de velocidade do fluxo do ar e pressão subglótica, derivando em diferentes níveis de
adução das pregas vocais. Finalmente, a conjunção destes parâmetros evidenciou o
predomínio do canto e/ou da fala na entoação, reafirmando índices de dominância de
elementos passionalizados, tematizados ou figurativizados na qualidade emotiva.
5.4 Relação das análises com os referenciais vocais de João Gilberto na canção
popular brasileira.
129
A teoria Fonte Filtro descreve a glote como a fonte de um sinal rico em harmônicos e o trato vocal
como o filtro desses harmônicos (FANT, 1970).
160
Homogeneidade e equilíbrio
tímbrico, resultado de uma voz
TIMBRE com predomínio de atuação AUSENTE PRESENTE AUSENTE PRESENTE PRESENTE
numa faixa da tessitura no canto com
próxima ao registro da fala. texto,
ausente na
introdução e
solo vocal
130
Mammi, 1992, p.67.
131
Ibidem.
132
Ibidem.
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
162
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ARETS, Isabel (Ed.) América Latina en su música. Buenos Aires: Siglo XXI, 1980. Pp.22-31.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo: Companhia das letras, 1990.
COSTA, Henrique Olival; SILVA, Marta Assumpção de Andrada e. Voz cantada: evolução,
avaliação e terapia fonoaudiológica. São Paulo: Lovise, 1998.
CRAVO, Albin Ricardo. O Livro de Ouro da MPB. A História de nossa música popular de sua
origem até hoje, Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Editora 34, 1999, P. 60.
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ANEXOS OU APÊNDICES
A1- “Samba do avião” (Antônio Carlos Jobim) Aluna 1.Versão piano e voz.
A2- “Corcovado” (Antônio Carlos Jobim /Vinicius de Moraes) Aluno 2. Versão violão
e voz.
A3- “Corcovado” (Antônio Carlos Jobim /Vinicius de Moraes) Aluno 3. Versão piano
e voz.
A5-“Samba de uma nota só” (Antônio Carlos Jobim / Newton Mendonça) Aluna 5.
Versão violão e voz.
Professor Leopoldo Martí (LM): Antes que nada quiero corregirte, que yo no he sido
director de la Licenciatura de Música Popular sino que fui coordinador, primero del proyecto
de creación y después, cuando se crea, fui coordinador hasta el año 2009 (si mal no recuerdo).
Paola Ceclia Albano (PCA): ¿Como profesor de las disciplinas de música erudita de la FAD
– Uncuyo ¿Cuándo y cómo advirtió la necesidad de los alumnos, músicos y artistas de
Mendoza por una formación académica en música popular?
LM: Yo creo, que esto se fue evidenciando a través del tiempo, de distintas maneras. Yo soy
profesor desde el año 1990 y siempre fue una necesidad, digamos… había una marcada
predilección de muchos músicos, de su actividad profesional, vinculadas a las músicas
populares; y en la Escuela de Música no había un espacio, entonces, era notoria una demanda.
El primer acercamiento se produjo en el año 2000, cuando se crea una materia “Música
170
Luego creamos en el año 2002 una cátedra abierta de música popular, bueno esto ya surge
como iniciativa complementaria,…esto tiene que ver con la segunda pregunta.
LM: Bueno… esto lo creamos en el año 2002 luego de esta primera etapa de creación de una
cátedra dentro de la carrera de profesorado. Sin dudas, poco a poco fue creciendo el interés en
las músicas populares, fueron demostrando cada vez más interés… entonces es como que el
terreno estaba fértil para poder seguir avanzando en ese sentido, en la incorporación de la
música popular o las músicas populares en el ámbito de nuestra universidad. Así que creamos
una Cátedra Abierta, el modelo de cátedra que ya existía en nuestra universidad y en nuestra
facultad también: una cátedra abierta de teatro, que en su momento la dirigía el Profesor
Ernesto Suarez, que es un destacado maestro de teatro, de aquí de Mendoza. Esta propuesta
no era de índole especialmente académica, a pesar de su título, sino que era una actividad de
Extensión Universitaria, la podía cursar cualquier estudiante, incluso cualquier persona que no
fuera alumno regular de la universidad y de hecho, mayoritariamente, empezaron a participar
personas que no pertenecían a nuestra facultad.
La forma en que se organizó fue… propusimos durante el año 2002 todo un ciclo que tenía
cuatro módulos, estos módulos consistían en una charla a cargo de un músico popular de aquí
de la región. Cada una de estas charlas estaban relacionadas a un género en particular y las
agrupábamos cada cuatro, es decir el módulo de cuatro charlas de músicos del folklore de la
171
región de cuyo, cuatro charlas para el segundo módulo sobre tango, cuatro charlas para el
tercer módulo sobre jazz, y finalmente las cuatro últimas sobre género rock. De estos cuatro
módulos el primero y el último fueron los más masivos, de asistencia masiva,…de hecho las
primeras charlas fueron en el auditorio de la Escuela de Música en calle Lavalle 373 y el
último módul (el de rock) tuvimos que hacerlo en el hall de la escuela, porque era mucha la
gente que asistía. La primera charla la dio el maestro Santiago Bértiz, el destacado compositor
guitarrista, lutier de aquí de Mendoza, que vive aún, que tiene más de 90 años es una figura
realmente de mucho reconocimiento y un gran valor por su actividad y además por la
importancia de su actividad en la historia de la música de la región. Músico que tocó en los
conjuntos de los destacados nombres de la música folklórica de aquí de cuyo, como Hilario
Cuadros, como Los Trovadores de Cuyo, como Antonio Tormo y Félix Dardo Palorma. Con
Tito Francia formó el recordado dúo de guitarras… en fin… así que, una gran personalidad…
de alguna manera emblemática, él fue quien inició esta Cátedra Abierta en el año 2002. Todo
esto se continuó en el año 2003, para lo cual, ya comenzamos a trabajar en el proyecto de
creación de la carrera.
El vínculo que había con las demás carreras existentes estaba dado en que participaban
también, obviamente, muchos estudiantes de distintas carreras, porque sucede que en muchos
casos los músicos que estudiaban una Licenciatura… supongamos en instrumento,
(obviamente clásico) o en Dirección Coral o en cualquiera de las otras carreras: Teorías
Musicales…en fin…, estaban muy interesados en esta temática de las músicas populares.
Recordemos que en nuestro país en el año 2001 surgió una crisis muy grande, una crisis no
solamente económico-social, sino que también cultural y por esos años, es decir, en el año
2002, 2003 empezó a haber un marcado interés por las expresiones culturales regionales,
nacionales y latinoamericanas. Esto también se evidencia con la manifestación política en
diferentes países entre ellos la Argentina, por la valoración de lo latino-americano. Además
nuestra universidad y particularmente nuestra facultad, también siguió un poco esa línea y
empezaron de alguna manera a crearse distintos ámbitos y proyectos vinculados a lo “Latino
Americano”.
Se creó una carrera de Posgrado de Arte latinoamericano, se creó una cátedra de Diseño
Latinoamericano, muchos proyectos de investigación…digamos… hacia la temática de lo
latinoamericano, el Teatro Popular también latino-americano. Se creó también una Maestría
en Interpretación de Música Latino-americana del Siglo XX, digamos, que todo iba
172
encaminado hacia ello y bueno…en ese sentido, la música popular era un elemento más hacia
esa política.
LM: La respuesta de la comunidad fue muy buena, como digo, cuando la convocatoria era
para los géneros vinculados al folklore regional cuyano y en algunos casos actividades que
hicimos con músicos de reconocimiento nacional como Los Hermanos Ávalos y también
músicos latinoamericanos como José Carbajal (el uruguayo). Bueno… un montón de gente
que fue participando en diferentes momentos, y por otro lado, el tema del rock marcó también
otro momento de gran participación. En ese sentido, El Encuentro de Música Popular surge
como una idea de, por un lado potenciar lo que veníamos realizando, es decir la participación
de músicos que daban cátedras para músicos independientes y para estudiantes incluso
docentes de nuestra universidad, de nuestra facultad. Eso, de alguna manera permitió que
concentráramos en unos días, casi una semana, una serie de actividades académicas, artísticas
de extensión etc. en ese primer encuentro que se hizo en octubre del año 2003. Paralelamente
a ello, ese encuentro nos permitía potenciar lo que veníamos trabajando desde el año
anterior… paralelamente al desarrollo de la Cátedra Abierta, que era la creación de una
Carrera de Música Popular.
PCA: ¿Cuál fue el impacto causado por el I Encuentro de Música Popular y que incidencia
tuvo sobre la apertura de la carrera?
LM: El impacto fue muy bueno, en ese sentido casi sin proponernos tuvimos un gran eco en
la prensa: tanto en la prensa escrita, oral como en distintos medios; no solamente en la región
sino en distintos medios nacionales. Y bueno…realmente eso fue muy importante porque la
gente primero sabia de la existencia de este proyecto y por otro lado consideramos importante
ir generando una expectativa sobre la llegada de la música popular al ámbito universitario, ya
no como una actividad extracurricular para la extensión, sino como una actividad netamente
y troncalmente académica. Así, que en ese sentido, el impacto causado para el público en
general fue muy bueno. Por otro lado a los efectos de que nuestra carrera tuviera una buena
recepción en las autoridades que evaluaban el proyecto (tanto en la facultad como en la
universidad) fue muy bueno porque la opinión que fueron vertiendo los participantes en ese
primer encuentro música popular, alentaba a todas las autoridades e instituciones a que
173
finalmente se abriera este espacio. Recordemos allí participo el Chango Farías Gómez, Juan
Falú, Jorge Marziali, Juan Lázaro Méndolas, Luna Monti, Juan Quinteros, Marcelino
Azaguate y un montón de músicos de gran prestigio regional, nacional incluso internacional.
LM: Inicialmente, esta fue una propuesta que hizo el Decano en ese momento en nuestra
Facultad el Maestro Lars Nilsson, quien es un destacado flautista de formación clásica. Él, es
nacido en Suecia. Estudió en su país, se especializó en diferentes países de Europa: Alemania
Francia y luego vino a la Argentina, particularmente a Mendoza donde desarrolló una
actividad académica muy importante haciéndose cargo de la cátedra de flauta. Participó en la
Orquesta Sinfónica de la Universidad Nacional de Cuyo y también en el quinteto de vientos
de la universidad. Desarrolló una actividad de corte académico, clásico (entre comillas) muy
importante y paralelamente fue uno de los miembros fundadores del grupo MARKAMA que es
un grupo de música folklórica andina y que fue creado en la década del 70 y que tuvo una
gran repercusión no solamente en la región sino que también en el país y en distintos países
latinoamericanos. Entonces… el conocimiento de él de ambas corrientes musicales tanto de la
clásica, académica como de la popular también, le permitió tener una visión muy positiva de
este proyecto. Él procuraba que en las carreras existentes en la Escuela de Música de la
universidad no se produjera un distanciamiento con el nuevo proyecto, sino que de alguna
manera, buscaba la forma de poder articular la participación de distintos docentes en la carrera
con la intención, justamente, de que participaran activamente no solamente los especialistas
en la músicas populares sino también profesores de las distintas asignaturas que se
consideraban que debieran estar que no eran necesariamente vinculados e la música popular ,
sino materias de formación general o incluso en algunos casos complementaria. Y él fue el de
la idea ,de que, para el estudio de la especialidad o la orientación instrumental, incluyendo el
canto obviamente, los estudiantes tuvieran un profesor de la técnica de ese instrumento que
iba a estar dada por los profesores de esos instrumentos, es decir…por ejemplo …en la
orientación guitarra el estudio de la técnica la materia se llama Instrumento, que la dá y de
hecho la daba, los profesores titulares de la cátedra de guitarra , que son los que enseñan en la
174
carrera clásica. Aquí especialmente lo que iban a hacer es enseñar los fundamentos de la
técnica clásica para los estudiantes de música popular. Por otro lado el Profesor de
Interpretación le permitía al estudiante la posibilidad de desarrollar sus cualidades…
Ah…antes de que me olvide, para que no queden descolgadas algunas cositas… puedo
dar un ejemplo en mi especialidad de la cual sí puedo hablar con más conocimiento y de
experiencia. En el caso de la orientación guitarra, el estudio de la técnica clásica o de base
clásica (que es la que se enseña en esta materia instrumento para los estudiantes de música
popular que eligieron la guitarra como orientación), por ejemplo, hay una serie de técnicas
netamente populares como son los rasguidos. El rasguido de la guitarra, que de alguna
manera es de herencia europea, en Latinoamérica constituye una impronta fundamental. El
rasguido podemos decir que es un poco el alma de los géneros de raíz folklórica, no solo en
175
Argentina sino en muchos países latinoamericanos. Eso, los profesores de técnica no lo saben,
no lo conocen, no lo enseñan. Por lo tanto, es responsabilidad del Profesor de Interpretación
enseñar la técnica de los rasguidos en los distintos géneros, tanto de la música argentina como
latinoamericana. En mi caso yo doy Interpretación I, entonces les enseño los rasguidos que
tienen que ver con los géneros de primer año., esto es rasguidos de chacarera, zamba,
carnavalito, cueca,… en fin. En los años siguientes se les enseña los rasguidos de las música
argentinas y luego también de las músicas latinoamericanas.
LM: Si, en principio podemos decir que sí. En esta primera etapa la carrera fue organizada de
una manera que luego se vio que no era la mejor y que se espera en algún momento poder
cambiar, que es por regiones. Es decir, nuestro primer año y nuestro segundo año se dedican a
la música argentina el tercer año se dedica a la música de los países limítrofes de Argentina y
finalmente en cuarto año el resto de los países latinoamericanos. Si bien es cierto que lo
vamos haciendo con una concepción geográfica o geopolítica, en sí, lo vamos estudiando por
géneros es decir, una vez que reconocemos ciertas regiones folklóricas en el país y luego en
los países que abarca el proyecto, se empiezan a trabajar a través de géneros. Así por ejemplo
los géneros del canto con caja como pueden ser el género de la baguala y el género de la
vidala. Luego los géneros danzarios como la chacarera donde hay mucho otros géneros que
forman parte de ese complejo como algunos de los que mencione recién, la zamba, la cueca,
el bailecito, el escondido, el gato, etc., etc. No todos, porque hay muchos géneros que se
desprendieron de ese árbol genealógico que son muy similares, entonces la idea, es que cada
estudiante al menos en la materias que yo tengo a mi cargo tengan las herramientas suficientes
para poder después estudiar los demás, que no les resulte difícil una vez que estudiaron la
chacarera, poder estudiar un género como puede ser el escondido o como la huella o el
triunfo, etc. Y si sobre los estilo si, en verdad el desarrollo o digamos la historia de la música
popular ha ido dando en nuestro país el desarrollo de propuesta que a lo largo del tiempo han
conformado estilos muy particulares, a veces los estilos son asociados a nombres en particular
como decir un estilo Hilario Cuadros o un estilo el Cuchi Leguizamón, o un estilo Palorma o
un estilo Gardeliano etc. Allí hablamos en particular, como ciertos autores, cultores,
176
A nivel general la carrera ha ido cumpliendo al menos algunas de las misiones que
pensamos. Los estudiantes, no solamente los egresados, porque de hecho la carrera no tiene
tantos egresados (es decir los alumnos que están en tercero y cuarto año) vienen realizando
una actividad artística relevante en los medio tanto aquí en el gran Mendoza como en el resto
de la provincia e incluso en otras provincias, como bien lo sabemos. Están desarrollando
actividades de producción, muchos de ellos han dirigido proyectos importantes como las
fiestas de la vendimia que son proyectos culturales de gran relevancia en el ámbito provincial.
La fiesta de la vendimia es la gran fiesta de la cultura y del trabajo que se desarrollo en al
menos 18 departamentos y luego una fiesta que tiene ya repercusión nacional. Nuestros
estudiantes participan en algunos casos haciendo, como digo, la dirección musical,
componiendo arreglando, tocando. En ese sentido es relevante la actividad y por otro lado
también la participación de estudiantes en distintos festivales. En el festival de Cosquín, que
es el festival más grande de la música latinoamericana en el mundo, en este momento bajo
critica, por motivos que no vienen al caso, participan nuestros estudiantes. Algunos de ellos
177
han obtenido importantes premios y distinciones. El hecho que los premien, para nosotros,
como generadores de este proyecto y como profesores, nos llena de orgullo y de alegría.
Y en otros casos algunos de nuestros egresados que están desarrollando una actividad
muy relevante en Buenos Aires y en otros lugares de Latinoamérica. Bueno… como el caso
también tuyo…Paola. Esto no es solamente importante como la actividad de cada uno, como
individuo, en sí misma, sino el hecho de llevar de alguna manera esta impronta de estudiantes
desde la primera carrera de música popular en una universidad nacional en Argentina a otros
ámbitos.
LM: Si totalmente. Nuestra universidad y nuestra Facultad de Artes en particular, tiene dos
ámbitos de investigación, uno interno es decir propio de la facultad de artes y diseño a través
de proyectos de investigación que son anuales y luego ya en el ámbito de nuestra universidad
a través de la Secretaria de Ciencia Técnica y Posgrado de nuestra rectorado en proyecto que
son bianuales. En los últimos años ha habido cada vez mas proyecto vinculados a la música
popular y con la participación de docentes y alumnos de nuestra carrera. Y por otro lado
también se están desarrollando distintos tipo de actividades de investigación y académicas en
los cuales la opinión de quienes participamos en la carrera va siendo tomada cada vez más en
cuenta. Bueno también la publicación de artículos en revistas en libros etc. va siendo cada vez
más participativa en relación a nuestros alumnos y docentes.
PCA: A diez años del inicio de la carrera ¿Cómo evalúa el camino recorrido, cuáles son las
expectativas para el futuro?
LM: El camino recorrido yo lo evalúo muy positivo porque era una necesidad muy grande.
Yo creo que los primeros atisbos de vincular la música popular a la universidad data de los
años ’70. En ese momento, el gran fervor que había por ‘lo latinoamericano’ desde distintas
miradas no solamente desde la música allí comenzó y fue detenido por la dictadura militar del
‘76. Muchos de los protagonistas y de las personalidades, investigadores, intelectuales
estuvieron desaparecidos, exiliados o prohibidos durante el tiempo que duró la dictadura, así
que esto se retoma en la década del 80 con el retorno a la democracia y recién a fines de los
90 y principios del 2000 es donde se empieza a abrir este camino, así que en ese sentido
178
haciendo una retrospectiva un análisis un poco más amplio es un hecho muy destacado la
creación de la carrera.
Por otro lado muchas cosas por corregir. Cuando se cumplió la primera cohorte, los
primeros 4 años se hizo una evaluación en la cual participamos no solamente los profesores
sino también los estudiantes regulares de nuestra carrera aportando cosas para corregir para
mejorar Se creó un expediente en el cual se propuso una serie de cambios, que apuntan a
mejorar la carrera .Algunos pequeños detalles poco a poco se han ido modificando porque no
son sustanciales no suponen la modificación del plan de la carrera sino más que nada tiene
que ver con el plan de cada uno de los profesores, y cada uno de los profesores sobre lo que
está planteado en el proyecto va pudiendo cambiar algunos detalles de esa evaluación que se
hizo en el año 2008. Y las expectativas para el futuro bueno creo que son buenas cada vez
vamos viendo que sin proponerlo se van articulando algunos criterios del trabajo de los
docentes. Una de las autocriticas o criticas que podemos hacer proponer una articulación una
o dos veces en el caño para compartir algunos criterios experiencias y que eso se vuelque en
mejoras para el desarrollo de la carrera en función de los objetivos planteados en general y en
algunos casos en mas particular o específicos. Pero de todos modos la música de raíz
folklórica argentina y latinoamericana es cada vez más relevante en el ámbito de nuestra
provincia, en la región de cuyo, en el país tiene que ver con un proceso de recuperación de la
identidad una comprensión de la identidad como el conjunto de identidades que hacen a un
individuo y una sociedad esto es evidente, tanto en las políticas educativas cuanto en las
políticas culturales y llevadas a un plano de política general en todos los ámbitos, así que me
parece que la carrera abastece de alguna manera el conocimiento saberes experiencias que van
en ese sentido así que las expectativas son muy buenas, siempre las falencias tienen que ver
con problemas de infraestructura y presupuesto, nuestra carrera tendría que tener una mayor
planta docente que permita que cada uno de los que trabajamos podamos formar equipos de
cátedras , por ahora las cátedras son unipersonales y en su mayoría no son cargos efectivos
sino que año a año se renuevan automáticamente , son interinos , y eso creo una cierta
inestabilidad que si bien es cierto que estamos acostumbrados, sería otra cosa si fueran cargos
efectivos .Los cargos efectivos que hay son muy pocos. La conformación de equipos de
cátedra permitiría una mayor variación de miradas me parece que es muy saludable y
necesario para la formación de todo músico y esto no sucede en nuestro caso
fundamentalmente porque no hay presupuesto para poder llamar a concurso a profesores
179
PCA: ¿Cuáles cree son las ofertas de pos-graduación orientadas a los egresados de la
licenciatura?
LM: Por ahora, específicamente, no las hay. Es una de las demandas específicas vinculadas a
la música popular. Por lo pronto lo que hay si en nuestra facultad por un lado la Maestría en
Arte latinoamericano y después en otras universidades, en Córdova, en Buenos Aires en La
plata hay ofertas de posgrado para egresados de grado universitario. Pero creo de la misma
manera que nuestra universidad en argentina han ido creando espacios y carreras sobre
música popular entonces creo yo que en algún momento se va a pontear carreras de posgrado
para que los egresados tengan la posibilidad de seguir capacitándose y creando y generando
ámbitos para la investigación para la propia actividad artística de mayor nivel y de mayor
proyección a nivel nacional e internacional. Bueno, espero haber sido claro y bueno…
seguimos ahí. Me pareció la manera más sencilla que ponerme a escribir se me hacía mucho
rollo además estoy con la cabeza medio cansada por otras cuestiones y tengo que pensar
mucho y escribir y sintetizar se me hace como un rollo. Bueno… nada más, realmente te
agradezco muchísimo por lo que estás haciendo por nuestra carrera en Brasil.
PCA: Teniendo en cuenta que hay dos tipos de inserción de la música popular en el ámbito
académico: como modalidad o como curso específico. ¿Como fue concebida la Licenciatura
em Música Popular de FAD-UNCUYO?
LM: Nuestra carrera es la primera carrera universitaria como Licenciatura en Música Popular.
La de Villa María (Córdoba) es una Licenciatura en Composición, con orientación en MP.
Pero además, la nuestra tiene como campo de trabajo en la MP de raíz folklórica argentina y
latinoamericana. Es decir, es una carrera que parte y enfoca a la música popular, y el recorte
está en la especificidad de lo argentino y latinoamericano.
PCA: ¿Por qué convinieron en utilizar el término “música de raíz folklórica argentina y
latinoamericana” en el marco del proyecto de creación de la Licenciatura en Música Popular
(FAD-UNCUYO)?
LM: En el marco del proyecto de creación de la Lic. en MP convenimos en utilizar el término
180
“música de raíz folklórica argentina y latinoamericana”, para que de esa manera podamos:
1. Evitar discusiones anacrónicas sobre el concepto de ‘lo folklórico’.
Para que te quede claro, dentro de la música de raíz folklórica incluimos tanto lo
anónimo, tradicional como la obra de autor. Justamente las primeras 'obras de autor', como los
Chazarreta, los Yupanqui, Díaz, etc., son inspiradas en lo anónimo y se confunden con ellas, y
desde ahí poco a poco empieza a abrirse ese abanico.
181
Eu, Diego Fabián Guiñazú, nacionalidade argentino, 33 anos de idade, estado civil
Solteiro , profissão cantor e professor de canto DNI 29.190.839, endereço Barrio Jardín Norte
MA C17, Los Barriales, Junín, Mendoza, Argentina, estou sendo convidado a participar de
um estudo denominado “Análise da Performance Vocal em Canção Popular Brasileira
dos alunos do Bacharelado em Música Popular (Orientação Canto) da FAD, UNCUYO
– Mendoza/AR” cujos objetivos e justificativas são: analisar aspectos da performance vocal,
em Canção Popular Brasileira, de cinco alunos argentinos, por meio de um estudo de caso
sobre a prática interpretativa em canto popular de cinco obras de Tom Jobim, representativas
da Bossa Nova.
A minha participação no referido estudo será no sentido de prestar minha voz ao
serviço de uma gravação de estúdio da música “Corcovado” composição de Antônio Carlos
Jobim, a realizar-se no estúdio de gravação do Professor Nicolás Diez, pianista acompanhante
da disciplina “Interpretação Canto III” do Bacharelado em Música Popular latino-americana
da Faculdade de Artes e Design da Uncuyo, Mendoza - Argentina
Fui alertado de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como:que a gravação realizada seja objeto de análise e possa ser exposta em congressos e
afines como objeto de estudo; e , assim mesmo, que possa ser convidada com objeto da
pesquisa para realizar interpretação ao vivo da música, e depoimentos sobre a pesquisa.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são a Profa. Paola Cecília Albano,
Instituto de Artes da Universidade de Campinas, São Paulo, Brasil, Facultad de Artes y
Diseño de la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza- Argentina e com ela poderei manter
contato pelos telefones (55) 11951356814 e o email paolaalbano@gmail.com.
.
187
Eu, María Lilen Graziosi nacionalidade argentina, 30 anos de idade, estado civil
Solteira, profissão cantora e professora de canto DNI 31.551.933, endereço Tiburcio Benegas
1528, Ciudad de Mendoza, estou sendo convidado a participar de um estudo denominado
“Análise da Performance Vocal em Canção Popular Brasileira dos alunos do Bacharelado em
Música Popular (Orientação Canto) da FAD, UNCUYO – Mendoza/AR” cujos objetivos e
justificativas são: analisar aspectos da performance vocal, em Canção Popular Brasileira, de
cinco alunos argentinos, por meio de um estudo de caso sobre a prática interpretativa em
canto popular de cinco obras de Tom Jobim, representativas da Bossa Nova.
A minha participação no referido estudo será no sentido de prestar minha voz ao
serviço de uma gravação de estúdio da música “Desafinado” composição de Antônio Carlos
Jobim e Newton Mendonça, a realizar-se no estúdio de gravação do técnico de som Víctor
Silione, Mendoza - Argentina
Fui alertada de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como: que a gravação realizada seja objeto de análise e possa ser exposta em congressos e
afines como objeto de estudo; e , assim mesmo, que possa ser convidada com objeto da
pesquisa para realizar interpretação ao vivo da música, e depoimentos sobre a pesquisa.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são a Profa. Paola Cecília Albano,
Instituto de Artes da Universidade de Campinas, São Paulo, Brasil, Facultad de Artes y
Diseño de la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza- Argentina e com ela poderei manter
contato pelos telefones (55) 11951356814 e o email paolaalbano@gmail.com.
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre
acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas
consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha
participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
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Eu, Irene Soledad Betania Agüero, nacionalidade argentina, 29 anos de idade, estado
civil solteira, profissão cantora e professora de canto, DNI 32.315.681, endereço calle
O`briens 377, San José, Guaymallén, Mendoza, estou sendo convidado a participar de um
estudo denominado “Análise da Performance Vocal em Canção Popular Brasileira dos
alunos do Bacharelado em Música Popular (Orientação Canto) da FAD, UNCUYO –
Mendoza/AR” cujos objetivos e justificativas são: analisar aspectos da performance vocal,
em Canção Popular Brasileira, de cinco alunos argentinos, por meio de um estudo de caso
sobre a prática interpretativa em canto popular de cinco obras de Tom Jobim, representativas
da Bossa Nova.
A minha participação no referido estudo será no sentido de prestar minha voz ao
serviço de uma gravação de estúdio da música “Samba de uma nota só” composição de
Antônio Carlos Jobim e Newton Mendonça, a realizar-se no estúdio de gravação do técnico de
som Víctor Silione, Mendoza - Argentina
Fui alertada de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como:que a gravação realizada seja objeto de análise e possa ser exposta em congressos e
afines como objeto de estudo; e , assim mesmo, que possa ser convidada com objeto da
pesquisa para realizar interpretação ao vivo da música, e depoimentos sobre a pesquisa.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são a Profa. Paola Cecília Albano,
Instituto de Artes da Universidade de Campinas, São Paulo, Brasil, Facultad de Artes y
Diseño de la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza- Argentina e com ela poderei manter
contato pelos telefones (55) 11951356814 e o email paolaalbano@gmail.com.
É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o
livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas
conseqüências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha
participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
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Eu, Leopoldo Guillermo Martí, nacionalidade argentina, 54 anos de idade, estado civil
casado, profissão Profesor Nacional de Música, DNI 13.876.958, endereço Las Petunias 792,
ciudad de Mendoza, Argentina, estou sendo convidado a participar de um estudo denominado
“Análise da Performance Vocal em Canção Popular Brasileira dos alunos do
Bacharelado em Música Popular (Orientação Canto) da FAD, UNCUYO –
Mendoza/AR” cujos objetivos e justificativas são: analisar aspectos da performance vocal,
em Canção Popular Brasileira, de cinco alunos argentinos, por meio de um estudo de caso
sobre a prática interpretativa em canto popular de cinco obras de Tom Jobim, representativas
da Bossa Nova.
A minha participação no referido estudo será no sentido de prestar meu depoimento
em entrevista ao serviço da formulação do primeiro capítulo da Dissertação de Mestrado da
Profa. Paola Cecilia Albano.
Fui alertado de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como:que meu depoimento possa ser exposta em congressos e afines como objeto de estudo; e
, assim mesmo, que possa ser convidado com objeto da pesquisa para realizar depoimentos
sobre a pesquisa.
Estou ciente de que meu nome será citado e tenho lido e aceitado o depoimento escrito
no trabalho citado.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são a Profa. Paola Cecília Albano,
Instituto de Artes da Universidade de Campinas, São Paulo, Brasil, Facultad de Artes y
Diseño de la Universidad Nacional de Cuyo, Mendoza- Argentina e com ela poderei manter
contato pelos telefones (55) 11951356814 e o email paolaalbano@gmail.com.