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e d i ç ã o 3 6 • a n o 8 • M A R ÇO / A B R I L / M AIO 2 0 1 6 r e v i s ta d a a s s o c i a ç ã o b r a s i l e i r a d e l i n f o m a e l e u c e m i a

a
pílula
do
câncer Tudo sobre a
fosfoetanolamina,
a poderosa substância
que promete curar
a doença
AJUDA GRATUITA PARA
QUEM ESTÁ NA LUTA CONTRA
O CÂNCER DO SANGUE!
O diagnóstico de uma doença grave como o câncer é um dos momentos mais complicados
de ser enfrentado, em especial porque, na maior parte dos casos, o assunto é desconhecido.

MAS VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO!


Desde 2002, a ABRALE atua em prol dos pacientes de cânceres do sangue (leucemia, linfoma,
mieloma múltiplo e mielodisplasia), com a missão de oferecer ajuda e mobilizar parceiros para
que todas as pessoas com câncer do sangue no Brasil tenham acesso ao melhor tratamento.

CONTAMOS COM UMA SÉRIE DE SERVIÇOS GRATUITOS,


SEMPRE DISPONÍVEIS A TODOS. ENTRE ELES ESTÃO:

psicólogos para atender pacientes e seus familiares, e advogados


para orientar sobre os direitos existentes perante a lei;

profissionais capacitados para esclarecer dúvidas pelo 0800-773-9973


ou pelo email abrale@abrale.org.br;

palestras com médicos dos centros de tratamento mais renomados


do Brasil;

materiais com informações para que o paciente conheça a doença


e saiba como tratá-la;

programas que visam à qualidade de vida e à obtenção do melhor


tratamento, como o Programa Dodói, realizado em parceria com
o Instituto Mauricio de Sousa, com o objetivo de facilitar a comunicação
e a integração entre a criança com câncer e a equipe de cuidadores;

apoio na busca de doadores nos bancos internacionais e nacional


de medula óssea, para aumentar as chances de um paciente encontrar
um doador;

atuação política diretamente com Ministério da Saúde, Anvisa, Inca


e Secretaria Estadual da Saúde, com o compromisso de incentivar
mudanças na legislação que beneficiem os pacientes onco-hematológicos;

Núcleos Regionais com representantes em nove capitais brasileiras


(Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, Porto Alegre, Recife,
Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo) e no sul de Minas, com o objetivo
de divulgar o trabalho da Associação e cadastrar novos pacientes.

ENTRE EM CONTATO PARA USAR ESTES E OUTROS SERVIÇOS OFERECIDOS PELA ABRALE!
LIGUE PARA 0800-773-9973 OU MANDE UM E-MAIL PARA ABRALE@ABRALE.ORG.BR.
MAIS INFORMAÇÕES EM WWW.ABRALE.ORG.BR.
editorial

Os tempos mudaram.
E para melhor!

Prezado(a) amigo(a),

Em 2002, fundamos a Abrale com o objetivo de faci- espaço, são compartilhados conhecimentos, informações e
litar o acesso ao melhor tratamento a todos os pacientes vídeos. Acesse www.amaravida.com.br, vou adorar me conec-
diagnosticados com alguma doença hematológica, como tar com você por lá!
a leucemia, o linfoma, o mieloma múltiplo, a mielodispla- • O Observatório de Oncologia, lançado neste trimestre, irá
sia, a policitemia vera, a PTI, entre outras. analisar dados públicos e gerar artigos e relatórios para
No início éramos um grupo de pacientes interessados evidenciar situações na Oncologia. Acreditamos que essa
em mudar a história da Onco-Hematologia no Brasil, iniciativa auxiliará a entendermos esse cenário e facilitará
apoiados por incríveis médicos e profissionais da saúde o acompanhamento de avanços em todo o País. Os estudos
dos principais centros de tratamento do País. podem ser encomendados, bem como análises mais deta-
Aos poucos, sensibilizamos e conquistamos a confiança lhadas que incluam a perspectiva dos pacientes. Acesse
dos gestores públicos, bem como da iniciativa privada, que www.observatoriodeoncologia.com.br.
escutaram as nossas demandas e não mediram esforços A fé sempre nos manteve fortalecidos e confiantes, e sei
para apoiar as nossas iniciativas e os nossos programas. que a espiritualidade está no controle, guiando e intuindo
Hoje, somos uma Instituição reconhecida no Brasil e no nossas escolhas. Também ressalto minha gratidão por to-
mundo. Claro que, ao longo desses 14 anos, passamos por dos que estão conosco nessa jornada. Precisamos de vocês
turbulências e desafios, mas tudo isso faz parte. Foi por e contem com a gente!
causa desses momentos que também tivemos importantes Abraços carinhosos,
conquistas, como os tratamentos aprimorados, que possi-
bilitam excelentes resultados ao paciente, e as novas leis Merula Steagall
que garantem a qualidade de vida e o acesso ao que a me- Presidente da ABRALE e da ABRASTA
dicina disponibiliza de melhor.
Os tempos mudaram e 2016 será um ano de muitas
oportunidades. Anote algumas delas:
• Nos dias 27 e 28 de setembro, teremos o 3º Congresso
Todos Juntos Contra o Câncer, cocriado e organizado por de-
zenas de instituições dedicadas à rede de atenção à pessoa
com câncer. O evento tem o objetivo de discutir as melho-
rias necessárias na Oncologia nacional.
• Este ano, comemoramos dez anos de Alianza Latina,
uma rede de associações de pacientes na América Latina
com mais de 120 membros, que se encontram anualmente
para compartilhar ideias e iniciativas que podem ser repli-
cadas para ajudar o avanço do sistema de saúde na região.
De 5 a 7 de novembro, acontece o 11º Fórum Alianza Latina,
que reunirá os líderes das Associações para discutir as me-
foto divulgação

lhorias necessárias na Saúde em cada um dos países.


• A Amar a Vida, rede social da Abrale voltada para o
público interessado nos assuntos referentes às doenças do
sangue, já conta com mais de 3 mil participantes. Nesse

4 revista da abrale
SUMÁRIO

CORPO ESPÍRITO
alívio gostoso 22 SEDE PELA VIDA 18
Receitas criativas para quem sofre com os Uma lição de fé e perseverança na história
males que o tratamento do câncer causa na boca de Antônio, o angolano que veio buscar ajuda
no Brasil
HODGKIN, PASSO A PASSO 42
Como nós lidamos com a doença,
que tem cura na maioria dos casos VIDA
PILATES PARA O CÂNCER 44 A PROVA DA FOSFOETANOLAMINA 32
A atividade ajuda o paciente a ter mais consciência A substância que promete curar todos os
do próprio corpo e turbina a capacidade motora cânceres começa a ser testada oficialmente

POLICITEMIA VERA 48 DR. EXPLICA 57


Existe tratamento eficaz que garante PSICOLOGIA 58
vida normal para quem tem a doença
NÚCLEOS REGIONAIS 60

MENTE JURÍDICO 62

“não quero me tratar” 12 ABRALE E EU 64


Há uma cartilha de como a família, os médicos
e o próprio paciente devem reagir? MAIS
O ANO DA ESPERANÇA 28 EDITORIAL 4
Novos medicamentos e um tratamento
NOTAS 6 e 52
inovador sendo testado nos EUA
COMITÊ 61
SAÚDE EM CRISE 38
Dez motivos por que cada vez falta mais AGENDA 66
dinheiro na saúde pública no Brasil
Curta a página da ABRALE no
­Facebook! Basta fotografar o código
QR com seu leitor de códigos do
celular (smartphone) e apertar curtir

capa LATINSTOCK

EDIÇÃO 36 – ANO 8 – MARÇO/ABRIL/MAIO 2016

CONSELHO EDITORIAL: Merula A. Steagall, ENDEREÇO: Rua Pamplona, 518 – 5º andar, A Revista da ABRALE não se responsabiliza pelos
Tatiane Mota e Carolina Cohen Jardim Paulista – 01405-000 – São Paulo / SP conceitos emitidos nos artigos assinados. Matérias,
artes e fotografias não solicitadas não serão devolvidas.
(11) 3149-5190 / 0800 773 9973
EDIÇÃO: Robert Halfoun Ao adotar os conceitos emitidos nas matérias desta
edição, leve em consideração suas condições físicas
ARTE: Luciana Lopes www.abrale.org.br abrale@abrale.org.br
e a opinião do seu médico.
www.abrasta.org.br abrasta@abrasta.org.br
A ABRALE e a ABRASTA são entidades beneficentes IMPRESSÃO: Log & Print Gráfica e Logística S.A.
sem fins lucrativos, fundadas em 2002 e 1982, respec- A Revista da ABRALE é uma publicação trimestral da TIRAGEM: 30 mil exemplares
tivamente, por familiares e pacientes com câncer do ABRALE (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia)
sangue e com talassemia (uma anemia rara). Ambas têm e da ABRASTA (Associação Brasileira de Talassemia)
por missão oferecer ajuda e mobilizar parceiros para que distribuída gratuitamente a pacientes, familiares, médi-
todas as pessoas com câncer do sangue e talassemia cos especialistas, profissionais da saúde e parceiros.
tenham acesso ao melhor tratamento. Direitos reservados. É proibida a reprodução total ou
parcial de seu conteúdo sem a prévia autorização dos
editores da ABRALE e ABRASTA.
notas

foto latinstock
NA PELE DO PACIENTE
Abrale se envolve em programa que nos ajuda a entender
o câncer na visão de quem vive com a doença
Acompanhar de perto o andamento de uma pesquisa estudo que analisa o contexto da púrpura trombocitopêni-
clínica é fundamental. Assim os especialistas envolvidos ca idiopática (PTI), um tipo raro de doença do sangue, que
saberão se determinado medicamento apresenta, ou não, atinge crianças e adultos, causando sangramentos repen-
os resultados esperados. tinos e hematomas pelo corpo.
Mas saber diretamente com o paciente como ele está se Foram utilizadas informações distintas, como o sistema
sentindo também é de extrema importância. O Patient Re- do Ministério da Saúde (DataSUS) e dados de pacientes pro-
ported Outcomes (PRO) faz isso. Busca entender mais a fundo venientes de sua base de contatos. Com isso, foi possível efe-
a visão do paciente relacionada ao seu dia a dia e como tuar uma série de cruzamentos que enriqueceram a análise
determinado medicamento influencia sua vida como um e o entendimento da dinâmica da enfermidade, proporcio-
todo – afetando ou não o cotidiano. nando uma melhor compreensão sobre as dificuldades exis-
Em 2009, o FDA (Food and Drug Administration), órgão tentes na Saúde, além de apresentar a dinâmica da doença
regulamentador dos Estados Unidos, publicou um docu- e o seu impacto econômico e social na vida do paciente.
mento com diretrizes para a utilização de PRO no desen- Esse relatório foi apresentado em 2015, no 2º Congresso
volvimento clínico de novos remédios. Todos Juntos Contra o Câncer, evento que reúne os principais
No Brasil, a disponibilidade de dados de PRO ainda é líderes da Oncologia para discutir as melhorias necessá-
restrita. A legislação para esse tipo de iniciativa está em rias no tratamento do câncer do País.
discussão. Por aqui, esse tipo de estudo é feito de maneira É importante ressaltar que a IMS Health, consultora in-
customizada para atender pesquisas específicas. ternacional de marketing farmacêutico, não teve acesso a
A Abrale e a IMS Health desenvolveram uma iniciativa quaisquer dados de identificação do paciente que pudes-
inovadora e, como primeiro resultado, foi realizado um sem violar a sua privacidade.

6 revista da abrale
foto SITE OBSERVATÓRIO DE ONCOLOGIA

DE OLHO No câncer
Nova ferramenta permitirá acompanhar de perto como
está ACONTECENDo o tratamento oncológico no Brasil
O Observatório de Oncologia é uma plataforma online e di- pitalares e mortalidade.
nâmica de monitoramento de dados abertos e compartilha- “Os microdados coletados pelo governo em suas dife-
mento de informações relevantes da Oncologia nacional. rentes plataformas são organizados por nossa equipe de
Todos os dados utilizados são provenientes de fontes go- pesquisa. Posteriormente, relatórios são gerados, permi-
vernamentais abertas. As principais bases de dados são do tindo filtros de acordo com os interesses de quem estiver
Ministério da Saúde, do Instituto Nacional de Câncer (Inca) analisando os dados. Assim, conseguiremos acompanhar
e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). de perto como está acontecendo o tratamento oncológico
Os dados abrangem quatro dimensões: demográfica, epi- no Brasil”, explica Merula Steagall, presidente da Abrale.
demiológica, de assistência à saúde e de rede assistencial. Para ver a relação de todos os estudos já publicados,
São utilizados, principalmente, dados sobre incidência acesse www.observatoriodeoncologia.com.br.
de câncer, atendimentos ambulatoriais, internações hos-

7
notas

foto Loey Felipe/ONU/FOTOS PÚBLICAS

Obama contra o câncer


O presidente americano anuncia:
“Os EUA vão vencer a doença”
Barack Obama anunciou uma grande campanha para realidade para alguns tipos da doença. O sucesso é de 80%
buscar a cura do câncer e deu essa missão ao vice-presi- nos casos de câncer de testículo e de 50% nos de leucemia.
dente Joe Biden, que perdeu um filho para a doença. Sem Todo ano, surgem 14 milhões de casos de câncer no
estabelecer prazo, disse: “Vamos ser o país que vai vencer mundo. Um terço está ligado a fatores de risco como obe-
o câncer de uma vez por todas.” sidade, falta de atividade física, uso de cigarro e de bebidas
O objetivo é investir em pesquisa. Otis Brawley, diretor alcoólicas. Nos Estados Unidos, assim como no Brasil, mui-
médico da Sociedade Americana do Câncer, disse que o tas pessoas não têm acesso aos exames de prevenção que
maior desafio é ampliar a prevenção, mas que a cura já é poderiam detectar a doença no início.

8 revista da abrale
INFORMAÇÃO PARA PREVENÇÃO
Prefeitura de Juiz de Fora dá um belo exemplo
de como tratar o câncer no país
Mais de 70% dos pacientes com diagnóstico de algum parcerias como essa, para garantir a efetiva aplicação do
tipo de câncer procuram uma Unidade de Atenção Pri- conceito de prevenção, tão peculiar à Atenção Primária
mária à Saúde (UAPS) quando surgem os primeiros à Saúde. “Muitas vezes, casos de doenças como essas, que
sintomas da doença. Mas, infelizmente, o diagnóstico são o foco desse trabalho, como linfomas, leucemias e
ainda assim acaba sendo tardio, devido à falta de infor- talassemia, por exemplo, são completamente desconhe-
mação por parte dos profissionais de saúde. cidos da população. Por isso, nossa meta é humanizar
Diante dessa realidade, a prefeitura de Juiz de Fora o atendimento ainda mais nas UAPS, impulsionando
firmou uma parceria com a Abrale para garantir ações de promoção e educação em saúde como essa que
que o trabalho de conscientização, assessoramento se cristaliza hoje através dessa união de forças”, afirmou.
profissional e acompanhamento de pacientes possa Na ocasião, também foi realizada uma palestra no Cen-
mudar os índices de mortalidade por doenças onco- tro de Vigilância em Saúde e a Dra. Tereza Esteves, che-
-hematológicas, principalmente em crianças, no mu- fe da Comissão de Oncologia da Secretaria de Saúde,
nicípio de Juiz de Fora e região. alertou sobre a importância do diagnóstico precoce e
O prefeito Bruno Siqueira reforçou a importância de do tratamento adequado e de qualidade.

9
notas

O sino do incentivo
Alguns hospitais encontram
maneiras bastante criativas para
marcar as fases do tratamento

Um grande exemplo é o sino instalado no Icesp

foto latinstock
(Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio
Frias de Oliveira). Doado por um paciente que ven-
ceu o câncer, ele sempre é badalado quando alguém
recebe uma boa notícia no decorrer do tratamento.
Não costuma haver um só dia em que o sino passe
em silêncio.
Mais da metade dos pacientes aceitam participar
da cerimônia, para a qual é permitido levar quan-
tos parentes e amigos desejarem. Quem está à espe-
ra do tratamento também costuma participar: bate
palmas, abraça, chora.
Já o Itaci (Instituto de Tratamento do Câncer In-
fantil), em São Paulo, costuma celebrar com tudo
que o paciente tem direito, quando a notícia posi-
tiva chega. Muitos necessitam de restrição alimen-
tar no período de quimioterapia e pré-transplan-
tes, mas quando acontece a pega da medula, por
exemplo, aí tudo pode. Cupcakes e milk-shakes
são os mais pedidos. Além, é claro, da festa que é
feita por toda a equipe profissional.
Há rituais também para casos em que os esfor-
ços não conseguem a cura da doença. Uma vez por
ano, o núcleo de luto do Hospital do Câncer de
Barretos reúne, em uma chácara, as famílias dos
pacientes que não sobreviveram e os funcionários
do hospital. Conversam e escrevem mensagens
para aqueles que se foram em balões cheios de gás
hélio, que são então liberados para subir ao céu.

10 revista da abrale
Investimentos
Investimentos
R$
R$ 216
216
milhões
R$
R$ 290
290
milhões
milhões milhões

Feitos no Feitos em
Feitos no
desenvolvimento Feitos em Clínica
Pesquisa
desenvolvimento
da nova planta Pesquisa Clínica
da de
nova planta
Biotecnologia
de Biotecnologia
MENTE NãO AO TRATAMENTO
FOTO LATINSTOCK

12 revista da abrale
“Não quero
me tratar”
O que leva um paciente a tomar essa decisão?
Há uma cartilha de como a família, OS médicos
e O próprio PACIENTE devem reagir?
POR Julie Anne Caldas

M
edo do tratamento, negação da doença,
más experiências pessoais ou familiares
anteriores, dores físicas, sofrimento psí-
quico, desesperança. Esses são alguns dos
fatores que podem levar uma pessoa diag-
nosticada com câncer a não querer se tratar, ou a desistir
no meio do tratamento. E, apesar de polêmica, a deci-
são é um direito de todo o paciente, com câncer ou com
qualquer outra doença, e precisa ser respeitada. “Desde
que esteja lúcido, o paciente tem o direito de exercer a
sua autonomia e optar por não se tratar”, diz a psicólo-
ga Débora Genezini, membro do Comitê de Psicologia da
Abrale. “Muitas vezes, o início do tratamento traz tantos
desconfortos e sintomas que a pessoa não aguenta. Em
geral, quando o paciente desiste é por que o sofrimento
está intenso e ele não vê, nem sente benefícios na conti-
nuidade”, ela afirma. Nesse momento, o mais importante
é construir um vínculo de confiança entre o paciente e a
equipe médica, para que haja um canal aberto de diálo-
go e comunicação franca, solucionando todas as dúvidas
e medos, e evitando que uma decisão impactante como
essa seja tomada sem pensar.

13
MENTE NãO AO TRATAMENTO

Quando o paciente define pelo


não-tratamento, é a hora de a equipe médica
oferecer cuidados paliativos, para controle
de sintomas físicos e emocionais

Respeitar o direito e fazer O seu dever O que os familiares podem fazer?


Isso é o que se espera de um médico quando o paciente Aos que acompanham o paciente, não resta muito a não
fala em desistir. “A primeira coisa que o médico respon- ser fazer o exercício da empatia, tentar se colocar no lugar
sável precisa fazer é se certificar de quais os motivos da do paciente, entender o tamanho do seu sofrimento, em
negativa, orientar o paciente procurando explorar o que vez de apenas julgar. “Além disso, os familiares precisam
ele sabe e o que quer saber, utilizando uma linguagem pensar no que é melhor para o paciente, e não para cada
adequada para a sua compreensão e respeitando sempre membro da família. E isso vale especialmente para os ca-
o seu estado emocional e os seus limites”, diz a oncologis- sos em que o sofrimento é muito grande e o tratamento
ta Dalva Yukie Matsumoto, diretora do Instituto Paliar, é apenas paliativo, ou seja, não há chance de cura”, diz a
organização focada em cuidados paliativos. A psicóloga psicóloga.
Débora completa: “Se for possível, é permitido ao médico Conselhos também são bem-vindos, porém se tiverem
propor outro caminho para o tratamento. Caso contrá- embasamento. “Os familiares precisam procurar infor-
rio, é fundamental falar das consequências potenciais mação com o médico sobre a doença, os tratamentos e
dessa interrupção e ao mesmo tempo garantir que ele os efeitos colaterais, para poderem conversar com o pa-
não será abandonado.” ciente tendo clareza do que o tratamento pode fazer e das
Em meio ao diálogo é importante ter certeza de que o consequências reais de ser interrompido.”
paciente está totalmente esclarecido quanto ao seu qua-
dro e tudo que o envolve. “Todas as informações sobre a A decisão está tomada. E agora?
sua doença, a evolução natural, o prognóstico, os detalhes Quando o paciente “bate o martelo” e define pelo não-
de todas as opções de tratamento e os seus efeitos colate- -tratamento, é a hora de a equipe médica oferecer cuidados
rais mais frequentes, os riscos inerentes à própria doença e paliativos, para controle de sintomas físicos, emocionais e
os prós e contras de interromper. Tudo isso precisa ter sido espirituais, e focar na orientação para questões familiares
dito de forma clara, e entendido, antes que se defina por e sociais. “Cuidados paliativos são um direito do pacien-
um caminho de desistência”, diz a Dra. Dalva. te, tanto quanto não se tratar. Portanto, família e equipe

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FOTO LATINSTOCK

médica precisam assegurar que continuarão cuidando e que ele tem mudar de opinião. “Por isso as decisões mé-
amparando o doente, mesmo sem o tratamento ativo”, ex- dicas devem ser sempre compartilhadas, para que o pa-
plica a psicóloga. É também um momento em que se deve ciente se sinta à vontade para poder voltar atrás e reto-
ficar alerta para sentir se o doente quer falar sobre o final mar o tratamento. Mas é preciso deixar claro que talvez
da vida, sobre coisas a organizar, despedidas a realizar etc. o resultado não seja o mesmo, devido à interrupção”,
“Mas é importante saber que muitas vezes o paciente não diz a médica.
morre por parar o tratamento! Pode até viver mais livre, Nesse momento, assim como em todo o processo, é de
desde que sintomas sejam controlados e o emocional seja grande ajuda que o paciente tenha acompanhamento
acolhido”, afirma Débora. psicológico de um profissional. “O psicólogo irá ajudá-lo
Legalmente, não é necessário nenhum procedimento. a validar esse ‘sentir individual e subjetivo’, mas também
“Se essas informações estiverem anotadas adequadamente olhar para o contexto coletivo. Irá dar voz e tempo para
no prontuário do paciente pelo seu médico, informando cada um assimilar a vivência, facilitar a expressão dos sen-
em um registro bem detalhado que, mesmo tendo sido timentos e de suas potenciais elaborações. Ao dar voz ao
orientado claramente, o paciente recusa o tratamento pro- paciente pode, por meio da escuta empática, identificar a
posto, isso é formalmente considerado documento, sem legitimidade da escolha/decisão, seja de parar, continuar
necessidade de assinatura do paciente ou de seu represen- ou retomar o tratamento”, diz a psicóloga. “Se a decisão de
tante legal”, explica a Dra. Dalva. não se tratar estiver pautada na desesperança, depressão
reativa, é preciso trabalhar essas questões e avaliar se de
Sim, o paciente pode mudar de ideia fato o paciente quer interromper, ou se escolheu isso por
Se o paciente mudar de ideia, novamente entra em estar sofrendo muito, por não querer dar trabalho e despe-
cena o respeito à autonomia dele, que inclui o direito sas aos outros etc.”

15
MENTE NãO AO TRATAMENTO

foto ARQUIVO PESSOAL


“Desafiei a doença, não me tratei
e quase morri”
Ariane Guimarães Silveira é auxiliar administrativa, em Guarulhos (SP)
e, em 2011, foi diagnosticada com LMC, aos 22 anos

Por medo de ter o mesmo destino de sua avó e de sua foi negar a doença. Mais que isso, desafiá-la, ignorá-la. Eu
mãe, que faleceram de câncer, ela optou por negar a doen- não me sentia doente, não tinha dores, nem sintomas,
ça. E, como sem doença não há tratamento, ela não o levou nada. Então não fazia sentido fazer o tratamento, por
a sério durante quatro anos. Como resultado, teve uma isso, eu não o segui da forma correta. Tomava o remédio
grande recaída, ficou quase 20 dias na UTI entre a vida e durante um ou dois meses, via que estava bem e parava.
a morte e, nas palavras dos médicos, “sobreviveu por um Meses depois – às vezes seis, às vezes quatro, cheguei a
milagre”. Aqui, ela conta como foi essa experiência. ficar um ano sem tomar –, os leucócitos aumentavam, o
“Eu tinha 22 anos, era casada há pouco tempo e minha baço inchava e eu voltava ao médico. Tomava uma bron-
filha tinha completado um ano, estava sendo amamenta- ca, claro, dizia que ia fazer o tratamento direito dessa
da ainda. Como sempre fui muito desastrada, não estra- vez, mas pouco tempo depois, parava de novo.
nhei ver algumas manchas roxas pelo corpo. Mas quan- Claro que ninguém da minha família sabia, eu mentia
do elas começaram a crescer e a se tornarem calombos, para todo mundo que estava tomando o remédio certi-
alguns pretos, procurei um médico. Depois de alguns nho, pois sabia que eles me cobrariam isso, se soubessem
exames, veio o diagnóstico de leucemia mieloide crônica a verdade. Mas na minha cabeça o que me deixava doente
(LMC). Eu pirei! era o remédio, ele que me lembrava do câncer, já que eu
Entre idas ao médico, internações no Icesp e o início do não tinha sintomas. Então não aceitava bem o medica-
tratamento, com quimioterapia oral, eu só pensava que mento. Consequentemente, meu corpo também não acei-
tanto a minha mãe quanto a minha avó tinham morrido tava bem, eu sempre passava mal, vomitava, o que me
de câncer e que, portanto, eu seria a próxima. Então, de- afastava ainda mais do tratamento.
cidi que não queria aquilo para mim e a minha atitude Segui nesse ritmo por quatro anos. Até que em novem-

16 revista da abrale
FOTO LATINSTOCK

bro de 2015, estava sozinha com a minha filha e passei ainda com o câncer e precisando de tratamento. Hoje
muito, muito mal. Meu baço estava tão inchado que pa- eu sei a importância de reconhecer a doença, aceitá-la
recia que eu estava grávida! A minha visão começou a es- e lutar contra ela. Percebi que a minha principal doen-
curecer e, de verdade, senti que ia morrer. Liguei para a ça era psicológica e, que todas as vezes que passei mal
minha irmã pedindo para ela me ajudar a ir ao hospital pelo medicamento, foi a minha cabeça rejeitando-o, não
e, como eu nunca pedia ajuda, ela já soube naquele mo- o meu corpo. Desde que saí do hospital, tomo o remédio
mento que era grave. Cheguei no Icesp e só me lembro de certinho, todos os dias, e não sinto nada! Nesses cinco
fazer um exame na triagem. Depois disso, apaguei. Meus anos, a doença avançou, claro, por não ter sido tratada
leucócitos estavam em 700 mil, tiveram que fazer uma corretamente durante esse tempo todo. Mas, agora, está
cirurgia de emergência e passei 48 horas na hemodiálise, estável, e os médicos têm visto uma melhora do quadro
sem parar. Foram 18 dias de UTI, e não só isso: eu era com a medicação.
apontada como a paciente mais grave da UTI, os médi- O que posso dizer para as pessoas que estão evitando
cos chegaram a preparar o meu pai e as minhas irmãs, o tratamento, pelo motivo que seja, medo, desesperan-
dizendo que dificilmente eu sobreviveria e que, caso isso ça, negação, é que não vale a pena! Não desafie a doença,
acontecesse, tinha 95% de chance de ficar com sequelas, ela existe e precisa ser tratada. Se você tem um câncer,
por causa de toda a medicação que precisei tomar. aceite-o e lute bravamente contra ele. Eu dei muita sorte
Mas por um milagre – os próprios médicos disseram depois do que fiz, voltei do coma por um milagre. Mas sei
que não havia outra explicação –, fui melhorando e, de- que não terei outra chance. Não dá para dar uma vacilada
pois de 18 dias de UTI, fui para o quarto e em dois dias como essa. Me recuso a abrir mão da vida, de ver a minha
tive alta do hospital. Sem sequelas. Viva. E, o principal, filha crescer e de deixar a doença vencer.”

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Espírito PERSEVERANÇA

Antônio tem sede


pela vida
foi com essa força, somada À perseverança, que um
angolano, sem nenhum conhecimento SOBRE O Brasil,
veio para cá em busca de tratamento para A LMC
POR LEANDRA LIMA

FOTO ARQUIVO PESSOAL

Equipe de Apoio ao Paciente Abrale que acompanhou de perto a história de Antônio Artur.
Da esquerda para a direita: Alber Sena, advogado; Michele Oliveira, assistente social;
Antônio Artur, paciente e Mariana Cavalcante, psicóloga.

18 revista da abrale
FOTOS LATINSTOCK

A
travessar um oceano, travar uma batalha em Antônio começa a sua odisseia
terras desconhecidas contra gigantes da buro- Em 13 de novembro do ano passado, Antônio desem-
cracia e da pouca boa vontade, enquanto o re- barcou em São Paulo e iniciou sua odisseia por diversos
lógio não se mostra exatamente um parceiro e hospitais. Até que conseguiu dar o primeiro passo: marcou
lembra que a cada segundo a situação se torna uma consulta no Hospital Paulistano. Com o diagnóstico,
mais urgente. Depois de 60 dias, muita luta e perseveran- o médico que o atendera e outras pessoas que se solida-
ça, mas também alguns aliados essenciais encontrados no rizaram com a sua vulnerabilidade, começaram uma cor-
meio do caminho, o encontro com um final feliz e cheio rente de ajuda, com trocas de telefonemas e emails com
de esperança. contatos, para viabilizar o seu tratamento. Os maiores en-
É assim que podemos descrever a história de Antônio Ar- traves viriam a seguir. Os medicamentos receitados eram
tur Pedro Manuel, o angolano que, após ter sido diagnosti- caríssimos (como sabemos) e, como estrangeiro, ouviu que
cado com leucemia mieloide crônica (LMC), no seu país de não os conseguiria porque se tratavam de remédios finan-
origem, foi orientado por sua médica, brasileira, a buscar ciados pelo governo brasileiro. Antônio chegou a procurar
a cura para a sua doença no Brasil (ou na África do Sul, o Consulado de Angola em São Paulo, mas lá ouviu que o
país que descartou, já que aqui, ao menos, falamos a sua seu caso não tinha solução e que a casa diplomática nada
língua), haja vista que o tratamento não é oferecido em poderia fazer.
Angola. A médica adiantou: “No Brasil, existe tratamento Até que, semanas depois, uma amiga apresentou a
avançado para a leucemia e outros cânceres do sangue. Abrale a ele. O relato de Antônio sobre a primeira reu-
Como o sistema público de saúde de lá é integral, univer- nião marcada com a equipe do Departamento de Apoio ao
sal e gratuito, pode ser que você consiga.” Paciente da Associação é comovente. Ele lembra, em carta

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Espírito PERSEVERANÇA

FOTO ARQUIVO PESSOAL


Mesmo diante dos entraves por estar sozinho
em outro país, ele foi atrás de sua cura, sem vacilar.
Ouvia todos os conselhos e não desistia

testemunho: “Na conversa com a Mariana e com a Miche- Antônio dá uma lição de fé
le, fiquei emocionado e com muitas lágrimas nos olhos. e persistência
Elas foram dois anjos para mim.” Antônio se referia a todo Michele Oliveira, assistente social da Abrale citada
suporte, esclarecimento e motivação que os pacientes rece- pelo angolano, avalia o caso de seu novo amigo como uma
bem ao procurar a Abrale. grande lição de persistência e fé. “Mesmo se deparando
com tantos entraves por estar sozinho em outro país, ele
Numa dura batalha, foi atrás de sua cura, sem vacilar. Ouvia todos os conselhos
AntônIo encontra a Abrale que dávamos e não desistia. O Antônio tem sede de vida”,
Antônio deu entrada no SUS e continuou travando uma defende Michele.
longa caminhada em São Paulo, longe de casa, da família Ser inserido, receber o diagnóstico e iniciar o tratamen-
e dos amigos. A essa altura, já tinha gasto suas economias to de câncer via SUS no Brasil não é fácil, mesmo sendo
para pagar hotéis, pegou dinheiro emprestado com os seus um direito de todos garantido pela Constituição. Há ca-
novos amigos e chegou até a vender seu iPad, que utilizava sos em que o paciente já foi diagnosticado, como Antô-
para se orientar na cidade desconhecida, a fim de bancar um nio, chega a passar por dez exames, recebe a receita para
exame de biópsia em um hospital particular, com medo de a ser tratado com medicamentos já registrados pela Anvisa
saúde pública brasileira não lhe oferecer o exame a tempo. e incorporados ao SUS, mas não os consegue de fato.
No final de dezembro, a equipe da Abrale conseguiu Os motivos alegados são diversos, como problemas
o que seria, até aquele momento, o maior dos esforços na do Ministério da Saúde com os laboratórios nacionais
sua luta contra o câncer: o tratamento com o mesilato de e internacionais na distribuição dos remédios de alto
imatinibe. Na semana do Natal, outra boa surpresa encheu custo (que tratam também outras doenças como hepa-
Antônio de fé e esperança. O laboratório Novartis o convi- tite C, Alzheimer e doenças autoimunes). A verdade é
dara a realizar o tratamento para a cura de sua leucemia que vivemos hoje uma crise aguda na Saúde brasileira
em Angola, em caráter experimental. Antônio não pensou e, enquanto ela não for superada e esse quadro não for
em desistir em nenhum momento. Como ele mesmo rela- revertido, vale para o paciente seguir os passos de Antô-
tou, não “cruzou os braços”. Sua perseverança o sustentou nio e não cruzar os braços nunca.
até poder voltar ao seu país de origem e hoje, com o apoio
de seus amigos e familiares, realizar os exames e obter os
medicamentos que podem salvá-lo.

20 revista da abrale
Acreditar que
é possível.
Por isso estamos aqui.
O que nos move é exatamente o que nos
comove. Fazer parte de grandes batalhas
oferecendo tratamentos inovadores que
tornam-se aliados dos pacientes na busca
de uma melhor qualidade de vida e tam-
bém na inabalável esperança de cura. Isso
nos move e nos motiva a cada novo dia de
trabalho.

Mais que apenas esperança, uma realida-


de que nos emociona e nos renova.

Por isso, conte conosco.

21
corpo NUTRIÇÃO

Alívio gostoso
Receitas criativas, servidas frias e com um toque
adocicado, são uma delícia para quem sofre com os
males que o tratamento do câncer causa na boca
POR LEANDRA LIMA

A
quimioterapia e a radioterapia fazem parte da
maioria dos tratamentos dos cânceres do san-
gue. E não raro ouvimos a mesma reclamação

Receitas: fonte Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp)


dos pacientes: cerca de metade deles deixam
de sentir o sabor dos alimentos (disgeusia), ou
sentem um gosto metálico toda vez que colocam algo na
boca – especialmente alimentos com mais proteínas. Mui-
tos ficam com feridas na língua e na gengiva (mucosite) e,
o que era ruim, fica ainda pior. Isso acontece por que as
substâncias utilizadas nos procedimentos afetam as célu-
las da língua, diminuem a salivação e não tem jeito: a saí-
da é tratar da boca antes de começar a quimioterapia e, se
os efeitos colaterais aparecerem mesmo assim, tratar de
aliviá-los. O que não podemos deixar acontecer é compro-
meter a alimentação, absolutamente fundamental para a
evolução do tratamento.
A nutricionista do Instituto do Câncer do Estado de São
Paulo (Icesp), Ilana Roitman, explica que o paciente onco-
lógico está mais propenso à perda de peso devido a carac-
terísticas da doença e efeitos colaterais do tratamento. E
indica: “O bom estado nutricional aliado à alimentação
adequada pode promover melhores condições para que
o paciente tolere melhor o tratamento e para a recupera-
ção de seu organismo.”

22 revista da abrale
Sopa fria de coentro
com coco fresco e amendoim

Ingredientes Preparo
(sopa) • Em uma panela com água, adicione
• 250 g de coentro fresco a cebola e o alho. Leve ao fogo baixo
• 1 cebola e deixe ferver lentamente, até que
• 2 dentes de alho eles fiquem tenros
• 1 litro de água • Junte o coentro e deixe ferver por mais
• 1 xícara de azeite um minuto. Retire o alho, a cebola e o
• 3 colheres de sopa de vinagre coentro e reserve a água do cozimento
de vinho branco • Misture o alho, a cebola e o coentro
• Sal marinho a gosto com azeite, vinagre e sal
• Enquanto isso, esfrie o caldo reservado
(farofa de amendoim)
com água e gelo a gosto
• 100 g de amendoim torrado
• Em um processador, triture
• 50 g de pão torrado
o amendoim, o pão torrado e o azeite,
• 1 colher de sopa de azeite
até obter a textura pretendida
(finalização) • Finalize a sopa com a farofa
• 2 xícaras de coco ralado fresco (ou 200 g) de amendoim, o coco ralado
• Brotos de coentro e os brotos de coentro
FOTO THINKSTOCK

23
corpo NUTRIÇÃO

é importante caprichar no cardápio e criar uma


rotina prazerosa nas refeições, para valorizar
ainda mais os pratos gostosos que podemos fazer

Mais do que isso, comer deve ser um prazer sempre. judicado. A baixa temperatura incomoda menos as feridas
Além de nos dar os nutrientes que precisamos, o ideal é na boca e dá um certo alívio também para quem está com
que seja um momento gostoso, no qual aliviamos a ansie- náuseas, outra consequência da quimioterapia.
dade e o estresse que passamos durante o penoso trata- A boa notícia é que há inúmeras receitas com essas ca-
mento do câncer. racterísticas, desde o café da manhã até o jantar.
Diante disso, é importante caprichar no cardápio e criar Valem picolés de frutas (o de limão e outras frutas cítricas
uma rotina prazerosa na hora das refeições, para valori- estão liberados desde que a boca não esteja com feridas),
zar ainda mais os pratos gostosos que podemos fazer. De cremes de frutas, sopas frias, milk-shakes e muito mais.
volta ao gosto amargo e metálico na boca, agravado pelas Dessa forma, a família inteira vai querer participar e se
feridas, muitos pacientes já descobriram que alimentos envolver com esse, digamos, menu especial. Ainda mais
adocicados e frios melhoram muito essa situação. Como por que, sabemos, os efeitos colaterais da quimioterapia
os doces costumam ter sabor mais marcante, “enchem a são temporários. É preciso se manter positivo e persistente
boca” e, por isso, satisfazem quem está com o paladar pre- para não interromper o tratamento.

TUDO LIMPÍSSIMO
A higienização dos alimentos é fundamental
para os pacientes oncológicos
A nutricionista Ilana Roitman lembra que os pacien- higienizando os alimentos adequadamente. “O ideal
tes que apresentam neutropenia (baixa imunidade), é que as preparações sejam do agrado do paciente,
devem optar por consumir alimentos higienizados considerando suas preferências e aversões alimenta-
corretamente e bem cozidos. O paciente oncológico res. Mas sempre de acordo com a orientação nutri-
deve procurar sempre aliar o prazer ao ato de se ali- cional indicada para ele”, orienta Ilana.
mentar de maneira saudável, balanceada e sempre

24 revista da abrale
FLAN DE LARANJA COM
CALDA DE HORTELÃ
(6 porções – 267 kcal/porção)

Ingredientes
(flan)
• 1 envelope de gelatina em pó,
incolor e sem sabor
• 1 xícara de chá de suco
de laranja-lima
• 10 colheres de sopa de leite em pó
• 3 colheres de sopa de açúcar
• 2 copos de iogurte natural
(calda)
• 6 folhas de hortelã
• 1/2 xícara de chá de água
• 3 colheres de sopa de açúcar

Preparo
(flan)
• Dissolva a gelatina no suco de
laranja e leve ao forno micro-ondas
por 20 segundos. Reserve
• Em um liquidificador, junte
o leite em pó, o açúcar, o iogurte
e a gelatina dissolvida no suco.
Bata até ficar homogêneo
• Distribua em forma individual
(com furo no centro) umedecida
com água e leve à geladeira
por duas horas, ou até ficar firme
(calda)
• Pique as folhas de hortelã
e leve ao fogo com a água
• Deixe ferver por um minuto,
acrescente o açúcar e deixe ferver
por aproximadamente mais sete
minutos, até obter uma calda
• No momento de servir, desenforme
o flan e regue com a calda de hortelã
FOTO THINKSTOCK

25
corpo NUTRIÇÃO

Sopa fria de TOMATE


Ingredientes
• 500 g de tomate pelado (1 lata)
• 2 cebolas médias
• 2 dentes de alho
• 300 g de gelo
• 5 colheres de sopa de azeite
• 3 colheres de vinagre de vinho branco
• 10 ml de manjericão
• Pimenta do reino e sal a gosto

Preparo
• Em uma panela com água, adicione a cebola
e o alho. Leve ao fogo baixo e deixe ferver
lentamente, até que eles fiquem tenros
• Escorra o alho e a cebola e deixe esfriar
• Misture o alho e a cebola com os outros
ingredientes e coe. Reserve na geladeira
• Quando a sopa atingir a temperatura
que desejar, bata tudo novamente
• Para finalizar, regue com azeite e polvilhe
um pouquinho de pimenta do reino

26 revista da abrale
Sorvete de erva-doce e maçã
(12 porções – 200 kcal/porção)

INGREDIENTES • Cozinhe por 10 minutos, ou até


• 1/2 xícara de chá de água que as maçãs fiquem macias.
• 1 colher de sopa de erva-doce Desligue o fogo e deixe esfriar
em grãos • No liquidificador, bata a mistura
• 4 maçãs picadas sem casca acima, com o leite condensado
e sem sementes e o creme de leite
• 2 colheres de sopa de suco • Coloque em um recipiente,
de limão cubra com filme plástico e leve
• 1 lata de leite condensado ao congelador por três horas
• 1 lata de creme de leite sem soro • Retire do congelador e bata no
liquidificador por três minutos,
PREPARO para que fique mais cremoso
• Em uma panela coloque a água, e não forme cristais de gelo
a erva-doce, as maçãs e o suco • Leve ao congelador por mais
do limão três horas e sirva quando desejar

ESPUMANTE DE MAÇÃ COM HORTELÃ Milk-shake de banana


(4 copos – 136 kcal/porção) (1 copo – 498 kcal/porção)

Ingredientes Ingredientes
• 3 maçãs verdes
• 1 banana média madura
• 1/2 xícara de chá de suco de limão
• 1/2 xícara de chá de leite gelado
• 3 xícaras de chá de água
• 1/2 xícara de chá de leite
• 1/2 xícara de chá de açúcar
em pó desnatado
• 3 folhas de hortelã
• 2 gotas de essência de baunilha
• 1 litro de água com gás
• Gelo a gosto
Preparo
Preparo
• Em um liquidificador, bata todos
• Coloque a maçã, o suco de limão e a água
os ingredientes até ficar homogêneo.
para ferver, até amaciar a maçã
Sirva em seguida
• Deixe esfriar e bata no liquidificador
com as folhas de hortelã
• Coe e acrescente a água com gás. Sirva
com cubos de gelo
FOTOS THINKSTOCK

27
MENTE HEMO

O ano da
esperança
Novos medicamentos
entrarão no nosso
mercado e há tratamento
inovador sendo
testado nos EUA

S
e no Brasil dizem que “o ano só começa
depois do Carnaval”, podemos afirmar
que 2016 começou com boas notícias
para o cenário da luta contra os cânce-
res do sangue. Isso porque, em feverei-
ro, durante o encontro anual da Associação Ameri-
cana para o Progresso da Ciência, em Washington,
EUA, foram anunciados resultados animadores de
uma pesquisa feita pelo Centro Fred Hutchinson
de Pesquisas sobre o Câncer, em Seattle: mais de
90% de um grupo de pacientes em estado termi-
nal entraram em remissão após testarem um novo
tratamento genético contra o câncer. O novo trata-
mento consiste na modificação genética de glóbu-
los brancos de pacientes com leucemia. Retiradas
dos pacientes, as células foram modificadas e “trei-
nadas” para combater o câncer, e depois reimplan-
tadas em seus organismos.

28 revista da abrale
29
FOTO LATINSTOCK
MENTE HEMO

pesquisas realizadas nos eua são animadoras,


um passo em direção a uma cura para o câncer

A luz no fim de um longo túnel sete pacientes desenvolveram síndrome de liberação de ci-
Em entrevista à rede de notícias americana BBC, o cien- tocinas – uma reposta exagerada do sistema imunológico
tista à frente do novo tratamento, Stanley Riddell, disse – e precisaram de terapia intensiva. Dois deles morreram.
que todos os outros tratamentos disponíveis tinham fra-
cassado nos pacientes terminais que se submeteram ao tes- O tratamento funcionou em pacientes
te e que eles tinham sobrevidas estimadas em dois a cinco em condições extremas. Agora,
meses. “Os pacientes estavam realmente no fim da linha precisa evoluir
em termos de opção de tratamento, mas uma simples dose E se, para pacientes em estado terminal, como foi o caso,
dessa terapia colocou mais de 90% desses pacientes em re- essas taxas podem ser aceitáveis, prova também que os
missão completa – não conseguíamos mais detectar (neles) efeitos colaterais da nova terapia são bem mais fortes que
as células com leucemia”, disse Stanley, ao explicar como os de tratamentos convencionais, como a quimioterapia e
foi feito o procedimento. a radioterapia, que funcionam para a maioria dos pacien-
tes. Portanto, para os especialistas, apesar de os resultados
Como é feito o tratamento terem sido animadores e apresentarem uma saída, por en-
revolucionário quanto esse é apenas um pequeno passo em direção a uma
Primeiramente, foi feita a retirada de células dos pacien- cura para o câncer.
tes conhecidas como t-cells, cuja função normal é destruir “Essa terapia mostrou resultados promissores no trata-
o tecido infectado. Em seguida, os cientistas “programa- mento desse tipo de leucemia, mas em condições extre-
ram” geneticamente as células, para que elas passassem a mas. Na maioria dos casos, o tratamento convencional
atacar células cancerígenas. é bastante efetivo, então essa nova opção seria para os
casos raros, de pacientes em que o tratamento não fun-
Todo cuidado é pouco quando cionou”, explica Alan Worlsey, pesquisador do centro
o assunto é efeito colateraL britânico Cancer Research UK, durante o encontro onde a
Quando se trata de procedimentos extremos como esse, pesquisa foi apresentada. “O grande desafio agora é des-
é preciso ter muita cautela com os efeitos colaterais. Nesse cobrir como fazemos esse tratamento funcionar para ou-
teste, apesar dos mais de 90% de pacientes em remissão, tros tipos de câncer.”

30 revista da abrale
Por aqui, a Anvisa caminha para Precisamos abrir os olhos dos
a liberação de drogas já utilizadas médicos fora da oncologia, em
em outros países relação ao diagnóstico precoce
Enquanto nos EUA novos tratamentos estão sendo testa- “Infelizmente não temos coisas muito boas para come-
dos, aqui no Brasil entramos em 2016 renovando uma an- morar no setor público, que ainda continua carente, tanto
tiga briga: a de conseguir a liberação da Anvisa para que a no atendimento primário – feito nos centros de atendi-
Lenalidomida seja incorporada ao tratamento do mieloma mento ao câncer – quanto na entrega de medicamentos/te-
múltiplo. Submetido há três anos – e negado – o dossiê que rapias”, lembra o onco-hematologista, que alerta também
compõe o pedido está sendo entregue novamente às auto- para a falha no acesso a exames que permitem o diagnós-
ridades, e as expectativas são boas. “No final de 2015, já ti- tico correto e rápido. “A assistência básica é deficiente e
vemos a aprovação do Hibrutinib para LLC e do Rituximabe o diagnóstico precoce praticamente não existe. Porque o
para o linfoma de Hodgkin. Então acredito que a Anvisa este- pronto atendimento pouco faz pelo paciente quando ele
ja caminhando de forma mais rápida nessa questão da libe- procura um médico e tem poucos sintomas. Geralmente
ração de drogas já utilizadas em outros países”, afirma o Dr. é medicado e recebe alta. Somente meses depois, quando
Angelo Maiolino, onco-hematologista especializado em mie- chega à Oncologia, já em estágio avançado, é que tem aces-
loma e professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro. so aos exames que deveriam ter sido feitos lá no início.”
De acordo com o médico, ainda no final de 2015, os A solução para isso, segundo ele, é a conscientização
congressos da área – como o Hemo (Congresso Brasileiro dos médicos de outras frentes. “Precisamos conscienti-
de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular) e o ASH zar o maior número possível de clínicos gerais e outros
(encontro anual da Sociedade Americana de Hematologia) especialistas que recebem o paciente no pronto atendi-
– divulgaram outras aprovações de drogas que, espera-se, mento quanto aos exames que podem ser feitos para o
em breve sejam realidade também no Brasil. São elas: Car- diagnóstico vir mais cedo.” Recentemente, por exemplo,
filzomib e Ixazomib – inibidores orais para mieloma – e o Dr. Angelo deu palestras em congressos de ortopedia e
Elotuzumab e Daratumumab – anticorpos, também para reumatologia, especialidades que ‘cruzam’ com casos de
mieloma. “O Daratumumab, por exemplo, funcionou mieloma. “Na maioria dos casos, uma dor nos ossos não
como monoterapia, ou seja, sem associação de nenhum vai ser mieloma, mas é uma possibilidade. E, quanto mais
outro medicamento, e quando todos os outros tratamen- bem informado estiver o médico a respeito dessa e de ou-
tos contra o mieloma falharam. E isso em um campo que tras doenças, mais dedicado e atento ficará ao investigar
é completamente desassistido no Brasil, por isso acredito essas possibilidades.”
que há grandes chances de ser aprovado aqui também”,
afirma o Dr. Angelo.
FOTO LATINSTOCK

31
FOSFOETANOLAMINA
SINTÉTICA

32 revista da abrale
A prova da fosfo
A substância polêmica que promete curar
todos os tipos de câncer, enfim, começa
a ser testada oficialmente
POR TATIANE MOTA

T
odos os anos, milhares de pessoas recebem o
diagnóstico do câncer. De acordo com dados
do INCA (Instituto Nacional de Câncer), em
2016 serão 600 mil novos casos da doença.
Os avanços da medicina possibilitam bons
resultados no tratamento e, em alguns casos, é possível
até chegar à cura. Mas a busca por medicamentos que
possam, logo de início, já trazer esse resultado, e sem
efeitos colaterais, é o sonho de muitos.
São diversas as promessas que aparecem por aí, que
vão desde ervas milagrosas, até chás e substâncias extra-
ídas diretamente das frutas. Mas de todas elas, a fosfo-
etanolamina, a ‘fosfo’ como vem sendo chamada, com
certeza foi a mais comentada nos últimos meses em
todo o Brasil – com repercussão mundial.

33
FOSFOETANOLAMINA
SINTÉTICA

Naturalmente produzida pelo fígado e em alguns


músculos, a fosfoetanolamina ajuda o sistema
imunológico na eliminação de células malignas

A fosfoetanolamina nasce pelas pessoas tinham acesso aos comprimidos azuis e brancos,
mãos de um professor de química entregues gratuitamente pela USP de São Carlos. Até que,
Naturalmente produzida pelo fígado e pelas células de no final de 2015, a distribuição foi proibida, justamente
alguns músculos do corpo, a fosfoetanolamina ajuda o sis- devido à falta das comprovações científicas necessárias.
tema imunológico na eliminação de células malignas. Mas Mas a decisão tomada pelo Tribunal de Justiça de São
ela é produzida em pouca quantidade. Paulo causou irritação nos pacientes, que decidiram agir.
Há cerca de 20 anos, um professor de química da Univer- Após centenas de ações judiciais pedindo a liberação das
sidade de São Paulo, no campus de São Carlos, pensou que cápsulas, a entrega gratuita foi permitida para mais de
essa substância poderia ser eficiente no combate ao câncer 800 pacientes em tratamento do câncer.
– afinal, se produzida em maior quantidade, poderia tam-
bém combater as células cancerígenas. Médicos reagem diante do uso
Assim, Gilberto Chierice desenvolveu em laboratório a da substância que não foi testada
fosfoetanolamina sintética, juntando monoetanolamina Toda essa movimentação chamou a atenção da mídia
(utilizada na fabricação de xampus, por exemplo) e ácido e também dos especialistas no tratamento do câncer. Afi-
fosfórico (utilizado para conservar alimentos). E aí é que a nal, muitos desses pacientes não só tomavam a fosfoeta-
polêmica começa. nolamina, como também deixavam de fazer o tratamento
convencional com a quimioterapia – segundo o professor
Pacientes começam a usar Gilberto, para que a substância fizesse efeito, era neces-
antes da aprovação da Anvisa sário parar com a quimioterapia, uma vez que o sistema
Para que uma substância seja considerada um medica- imunológico deve estar fortalecido.
mento e possa ser utilizada pela população com fins medi- Os médicos não gostaram nada disso e passaram a se
cinais, é obrigatória a realização de estudos clínicos, tam- manifestar a respeito. “Ainda não temos a menor ideia
bém chamados de pesquisas clínicas. Eles têm por objetivo de como essa substância realmente irá agir. Tive mais de
investigar e desenvolver novas terapias para qualquer tipo dez pacientes que decidiram tomar a ‘fosfo’ e não vimos
de doença, incluindo o câncer, além de garantir a seguran- nenhum resultado. Não há um trabalho científico sólido,
ça e a eficácia necessárias. então como vamos parar um tratamento que sabemos as
De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilân- chances de funcionar baseado em experiências multinacio-
cia Sanitária), responsável por aprovar todos os estudos nais, criteriosas e exigentes, para darmos exclusivamente
clínicos realizados no país, é preciso que essas pesquisas uma substância que não se sabe como funciona e qual a
passem por cinco fases, até que realmente sejam liberadas dose certa? Isso seria irresponsável e até mesmo um crime
para uso (veja o quadro ao final da matéria). de imprudência”, defende o Dr. Bernardo Garicochea, he-
Até então, a fosfoetanolamina havia apenas sido testa- matologista e coordenador de Ensino e Pesquisa do Centro
da em ratos (fase pré-clínica). Ainda assim, milhares de de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

34 revista da abrale
foto latinstock

Enquanto a substância é testada, dos os dias para entender como o câncer surge e como ele
o mundo do câncer torce para poderia ser combatido. Mas nenhum medicamento até
que ela seja realmente tão eficaz hoje desenvolvido, em 60 anos de Oncologia moderna,
Lutar bravamente contra o câncer, e se ver livre dele, é consegue curar todos os cânceres. Isso porque os meca-
o que médicos e pacientes buscam durante a jornada do nismos celulares que levam uma célula a ficar cancerosa
tratamento. Mas, de acordo com o Dr. Bernardo, é muito são muito variados e as mutações desses mecanismos são
difícil que exista uma única medicação capaz de curar to- inúmeras. Além disso, cada tumor humano possui células
dos os tipos existentes da doença. movidas por mecanismos levemente diferentes entre si.
“Todos desejamos a cura dos pacientes. Estudamos to- Por isso, não há como uma única substância química eli-

35
FOSFOETANOLAMINA
SINTÉTICA

para avaliar a segurança e a eficácia da substância,


estudo começa avaliando dez pacientes. Se não houver
efeitos colaterais graves, A pesquisa continua

minar todas as possibilidades de defeitos que uma célula efeito colateral grave se apresente, o estudo continua. En-
com câncer pode ter”, explica. tão, 21 pacientes poderão participar, mas inicialmente
somente os cânceres de cabeça e pescoço, pulmão, mama,
A ‘fosfo’ será analisada em até MIL cólon e intestino, colo uterino, próstata, melanoma, pân-
voluntários, COM um investimento creas, estômago e fígado é que serão testados.
de R$ 5 milhões “É sempre bom saber que novas possibilidades para o
Toda essa movimentação rendeu frutos positivos àque- tratamento do câncer estão a caminho. A ciência não para,
les que torcem pela fosfoetanolamina. e esses avanços na medicina oncológica motivam a todos
Ainda no final de 2015, foi anunciado que o Instituto que lutam contra algum tipo de câncer. Os rumores que
do Câncer de São Paulo (Icesp) irá coordenar a pesqui- temos ouvido sobre a fosfoetanolamina são muito positi-
sa para testar a substância no tratamento do câncer, de vos, mas todos os estudos que serão feitos são fundamen-
acordo com as normas exigidas pela Anvisa. Já no início tais para realmente termos esse resultado e, assim, em
desse ano, o governador Geraldo Alckmin anunciou que o um futuro próximo, podermos utilizá-la como um medi-
laboratório PDT Pharma, de Cravinhos, será o responsável camento. Estou na torcida para que essa seja realmente
pela sintetização da ‘fosfo’ para os testes. A substância será mais uma opção de tratamento disponível para todos”,
analisada em até mil voluntários. acrescenta Merula Steagall, presidente da Abrale.
Serão R$ 5 milhões investidos na pesquisa, que irá avaliar Procurado pela Revista Abrale, o professor de química
a segurança e a possível eficácia da substância. Na primeira Gilberto Chierice, que desenvolveu a fosfoetanolamina
fase, o estudo prevê avaliar dez pacientes e, caso nenhum sintética, não quis falar com a reportagem.

O QUE SÃO AS PESQUISAS CLíNICAS?


Elas são testes que garanteM a eficácia
das medicações e a segurança dos pacientes

> Fase Pré-Clínica: aplicação de nova molécula rança de seu princípio ativo, a curto prazo, em um pe-
em animais, após identificada em experimentações in queno grupo de pacientes.
vitro como um potencial terapêutico. > Fase 3: os estudos são realizados em grandes e
> Fase 1: primeiro estudo em seres humanos feito variados grupos de pacientes para determinar os resul-
com pequenos grupos de voluntários. Aqui, a finalidade tados do risco e dos benefícios a longo prazo e o seu
é estabelecer uma evolução preliminar da segurança e valor terapêutico em determinada doença.
do perfil farmacocinético do novo medicamento. > Fase 4: mesmo com a aprovação do medicamento
> Fase 2: o Estudo Terapêutico Piloto visa demons- pela Anvisa, a análise do produto continua, para estabele-
trar a atividade do medicamento e estabelecer a segu- cer o valor terapêutico e o surgimento de novas reações.

36 revista da abrale
Tsuru. Símbolo de saúde, boa sorte, longevidade e fortuna.

Outubro/2015
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10
MENTE SAÚDE PÚBLICA

pontos explicam
por que a saúde pública
no Brasil enfraquece
anos após ano
POR LEANDRA LIMA

C
onseguir atendimento de saúde com qualida-
de sempre foi um desafio no Brasil, sobretu-
do quando se trata do custeado pelo dinheiro
público. Em um cenário de recessão econômi-
ca (com uma queda real do Produto Interno
Bruto de 2,44%, em 2015) e de uma alteração no foco de
repasses orçamentários nos últimos anos, o que se vê é um
enfraquecimento das instituições de saúde e da capacidade
de assistência nos mais diversos âmbitos, seja na esfera
municipal, na estadual ou na federal. Isso nos leva a afir-
mar que hoje vivemos uma grave crise na Saúde brasileira,
com um claro subfinanciamento da pasta, que afeta dire-
tamente quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS)
para o tratamento do câncer.

38 revista da abrale
4 Governo que não honra
compromisso
Carlos Ocké, diretor do Departamento de Econo-
mia da Saúde do Ministério da Saúde, diz que o
Governo Federal não empenhou em 2014 todas as
despesas compromissadas para o exercício, talvez
para tentar cumprir as exigências da Lei de Respon-
sabilidade Fiscal para o último ano do mandato

1
anterior da presidente Dilma Rousseff, distorcen-
do a real função da verba.

5
ORÇAMENTO MENOR E INFLAÇÃO
O orçamento para o atendimento de Média e
Alta Complexidade (na qual o tratamento de R$ 2,3 bilhões estão “voando”
câncer se enquadra) para 2016 é menor do que Como consequência, houve atraso nas transfe-
os orçamentos de 2015 e de 2014. Sem contar rências fundo a fundo para estados e mu-
a inflação que passou a marca de 10%, o dólar nicípios, referentes ao mês de dezembro. E o
que bate os R$ 4, fatores que “comem” ainda grupo de Média e Alta Complexidade está no
mais esse dinheiro. topo da lista dos prejudicados, com um atraso
de R$ 2,3 bilhões.

2 Reajuste de verba insuficiente


Comparando com outras pastas, de 2000 a 2014, o
Ministério da Assistência Social teve um reajuste de
1.438% no seu orçamento. Já a pasta do Trabalho
alcançou 1.011%. A da Educação, quase 600% de
reajuste, seguida da Previdência Social, que teve
quase 500% de reajuste. A Saúde conquistou apenas
320% de reajuste nos últimos 14 anos, menos de
30% ao ano.

3
A emenda que não ajuda em nada
Esse número é apenas mais um de uma lista preocu-
pante para todos nós. O SUS também está ameaçado
ILUSTRAÇÕES LATINSTOCK

diante do processo de subfinanciamento depois da


vigência da Emenda Constitucional 86/2015, cujas
mudanças vão agravar as insuficiências orçamen-
tárias e financeiras para a saúde pública neste ano,
de uma maneira muito pior do que a verificada em
2014 e do que a estimada para 2015.

39
MENTE SAÚDE PÚBLICA

6
Não seguimos a Constituição
A regra originária da Constituição Federal,
em 1988, previa que 30% do orçamento da Se-
guridade Social fosse repassado à Saúde, para

9
ações de serviços públicos. Se essa redação
fosse levada a sério, não teriam sido repassa-
dos para a pasta apenas os R$ 98 bilhões no
ano passado, mas sim, R$ 240 bilhões (em ter- Dívida vigente
mos aproximados), de acordo com os cálculos Mais um problema: ainda há valores rema-
da procuradora Élida Graziane Pinto. nescentes do Ministério da Saúde a pagar,
desde 2003, que totalizam aproximadamente
R$ 15 bilhões. São valores empenhados em

7
exercícios anteriores, mas não pagos. Situa-
Desvinculação das receitas ção observada há anos e que também se apre-
é um erro senta em outros ministérios.

10
O Governo agora luta para aprovar a DRU (a Desvin-
culação das Receitas da União é uma licença para
o Governo Federal aplicar os recursos destinados Judicialização da Saúde
a áreas como educação, saúde e previdência social desorganiza acesso ao SUS
em qualquer outra despesa) como medida de ajuste A judicialização tem se tornado uma nova
fiscal. Mas, se aprovada no Congresso Nacional, vai chance de acesso à saúde pública. Hoje, quan-
afetar ainda mais a Saúde. do o convênio ou o governo não fornecem
um tratamento ou medicamento, os pacien-

8
tes podem entrar na Justiça e muitos conse-
guem que o procedimento seja pago.
Há mecanismos que ferem Entre 2009 e 2014, os gastos do Ministério da
a receita da saúde Saúde com as sentenças judiciais subiram
A procuradora Élida defende que se for para desvin- 1.400%, chegando a R$ 1 bilhão gastos anual-
cular, que se desvincule no texto permanente da mente. Hoje, um paciente judicializado custa
Constituição, e não por emenda. Já foram publica- ao Estado o equivalente a R$ 10 mil por mês,
das sete emendas constitucionais, desde 1994, man- enquanto um paciente inserido nos progra-
tendo os mecanismos de desvinculação das receitas, mas já instituídos pelo Ministério da Saúde
custa R$ 2.500 pelo mesmo período. O Gover-
que afetaram a Saúde e, até 2009, afetaram também
no defende a aprovação da Agenda Brasil no
a Educação. “Não se trata de não ter dinheiro. Tem
Congresso Nacional, que colocaria fim à ju-
dinheiro, mas o dinheiro que, por lei, deveria ser
dicialização e restringiria o atendimento dos
destinado à Saúde, foi utilizado para fazer superávit
pacientes apenas ao SUS.
primário, por meio dessas desvinculações.”

40 revista da abrale
hoje vivemos uma grave crise na Saúde, com um claro
subfinanciamento da pasta. ISSO afeta diretamente
quem depende do Sistema Único de Saúde

O QUE FAZER PARA MELHORAR?


Especialistas apontam caminhos para solucionar
a grave situação da Saúde
> Financiamento adequado e estável da Saúde > Mudança na composição da carga tributária,
> Rejeição da ampliação da DRU, tornando-a deslocando o peso da carga dos impostos sobre
ILUSTRAÇÕES LATINSTOCK

inconstitucional gradativamente o consumo e a produção para os impostos sobre o


> Assegurar o repasse de dinheiro federal patrimônio e a alta renda, como principal alternativa
às prefeituras de financiamento das políticas sociais

41
corpo PESQUISA

Linfoma de Hodgkin
passo a passo
O que é e como nós lidamos com a doença. A boa
notícia? A maioria dos pacientes encontra a cura
POR JESSICA MOUREIRA

Conhecido também como doença de Hodgkin, o linfoma de Hodgkin é um tipo


O QUE É? de câncer que se origina nos linfonodos ou gânglios do sistema linfático, onde
ocorre o amadurecimento dos linfócitos (células responsáveis pela imunidade).

A doença surge quando um linfócito, um tipo de glóbulo branco, se transforma


QUANDO SURGE? em uma célula maligna, capaz de crescer descontroladamente e disseminar-se.

A célula maligna passa a produzir cópias idênticas de si mesma, também chamadas


COMO ATUA? de clones e, com o passar do tempo, há risco de essas células malignas se disseminarem
para os tecidos vizinhos. Se não houver tratamento, podem atingir outras partes do corpo.

O linfoma de Hodgkin pode ocorrer em qualquer faixa etária, mas o maior número
QUEM PODE TER? de novos casos ocorre em adultos jovens, entre 25 e 30 anos, de acordo com o Inca
(Instituto Nacional de Câncer).

São estimados 2.470 novos casos de linfoma de Hodgkin para 2016,


HODGKIN NO BRASIL sendo 1.460 em homens e 1.010 em mulheres.

Com o objetivo de compreender em profundidade a trajetória e as dificuldades


ABRALE FAZ ESTUDO dos pacientes com linfoma de Hodgkin, a ABRALE ouviu o ponto de vista deles
sobre a doença.

A Abrale conversou com 207 pacientes que falaram sobre os sintomas iniciais, o acesso
COMO PESQUISAMOS? ao diagnóstico e a realização deste, os médicos consultados e o tratamento prescrito.

Os pacientes também falaram sobre as dificuldades enfrentadas tanto no sistema


E MAIS: de saúde como individualmente na vida diária.

42 revista da abrale
Sintomas e diagnóstico

> 8 em cada 10 pacientes têm como principais


> 98% dos pacientes sintomas: caroços no pescoço, nas axilas ou na virilha
apresentam sintomas

98%
> 3 em cada 10 pacientes apresentam febre
ou suores noturnos

> Apesar dos sintomas,


> 7 em cada 10 pacientes consultam
40%
40% dos pacientes
levam mais de um mês primeiramente um clínico geral
para procurar um médico

> 6 em cada 10 pacientes, realizam


o tratamento com o médico hematologista

TRATAMENTo

> 62% dos pacientes sentem que a maior dificuldade


do tratamento é a quimioterapia e seus efeitos adversos
> 6 em cada 10 pacientes iniciam o tratamento
em até 30 dias após o diagnóstico
> 82% dos pacientes não enfrentam nenhuma
dificuldade para a continuidade do tratamento
VOCÊ SABIA QUE...
> Na primeira linha, 47% dos pacientes se tratam apenas De acordo com o Inca, nos últimos 50 anos,
com medicamentos quimioterápicos antineoplásicos a mortalidade por linfoma de Hodgkin foi
reduzida em mais de 60%, devido aos avanços no
tratamento. Atualmente, a maioria dos pacientes
> 49% dos pacientes fazem o tratamento tanto
pode ser curada com o tratamento adequado.
com a quimioterapia quanto com a radioterapia
Como demonstra nossa pesquisa, o resultado
é favorável, já na primeira linha de tratamento,
> Apenas 30% dos pacientes precisam ir para para 70% dos pacientes.
a segunda linha de tratamento

43
corpo PILATES

44 revista da abrale
Pilates para o câncer
A atividade ajuda no tratamento porque ensina
o paciente a ter mais consciência do próprio
corpo e turbina a capacidade motora

C
riado pelo alemão Joseph Hubertus Pilates
(1880–1967), o método que ganhou o seu
sobrenome é uma atividade física que pro-
move a arte do controle corporal, ou seja,
melhora a capacidade que o ser humano
tem de se mover com conhecimento e domínio do pró-
prio físico. Nos últimos anos, a prática se tornou uma
tendência para aqueles que procuram de alguma forma
melhorar a interação do corpo e da mente e aumentar a
consciência corporal com uma postura mais equilibra-
da. E é justamente por condicionar o corpo e a mente,
ajudando a ter consciência dos músculos, coordenação
e percepção dos movimentos, que ele se mostra uma
excelente opção de atividade física para pacientes com
cânceres do sangue.

FOTO LATINSTOCK

45
corpo PILATES

Os exercícios promovem o fortalecimento


do “centro de força”, ajudam na postura
e na coordenação da respiração, aumentam
a autoestima e a resistência física e mental

Funciona mesmo vários aspectos emocionais e físicos, além de preservar a


“O pilates é uma atividade que proporciona aos pacientes integridade funcional dos órgãos, prevenir ou minimizar
vários aspectos corporais de uma única vez. Os exercícios as complicações causadas pelo tratamento.” Por ser dinâ-
melhoram a flexibilidade geral do corpo, estimulam a cir- mico, com ampla variedade de exercícios desafiadores e
culação, promovem o fortalecimento do ‘centro de força’, recreativos, ainda faz com que o paciente interaja com os
ajudam na postura, no equilíbrio e na coordenação da respi- movimentos propostos e sinta-se capaz de realizar suas ati-
ração, aumentam a autoestima e a resistência física e men- vidades rotineiras.
tal”, explica a fisioterapeuta Talita Rodrigues, membro do
Comitê de Fisioterapia da ABRALE e instrutora de pilates. Onde e como fazer pilates
Dividido nas modalidades solo e com aparelhos, o méto- Fazendo sessões de uma hora a uma hora e meia de
do trabalha com exercícios de baixo impacto, com grande duração, de uma a duas vezes por semana, já é possível
capacidade de adaptação para as necessidades e as habili- ver excelentes resultados com a prática do pilates. “Tanto
dades de cada pessoa, por isso pode ser praticado por adul- os exercícios em solo quanto os realizados em aparelhos,
tos, crianças, gestantes e pacientes em tratamento contra oferecem os mesmos benefícios, e as duas modalidades
diversas doenças. “Os benefícios não são apenas corporais, podem ser praticadas por pacientes em tratamento onco-
também contribuem para a autoestima, o bem-estar, ou lógico”, diz Talita. Ela ainda traz um lembrete: “O impor-
seja, a saúde da pessoa como um todo.” tante é estar sempre respeitando os limites e as capacida-
des físicas do seu corpo.”
POR QUE PRATICAR? Por isso, é primordial que o seu médico seja consultado
O estresse criado pela própria doença, somado aos efei- antes de iniciar essa ou qualquer outra atividade física,
tos colaterais produzidos pelo tratamento, faz com que assim como procurar profissionais capacitados, para que
os pacientes portadores de câncer sofram modificações o trabalho de reabilitação e prevenção tenha grande su-
drásticas em seu metabolismo. “E níveis reduzidos de cesso. “Apenas um especialista que tenha conhecimento
atividade física podem contribuir para um descondicio- na área poderá tomar os cuidados necessários para a prá-
namento cardiopulmonar, diminuição da força muscu- tica segura e eficaz. Ele deve estar atento, por exemplo,
lar e fadiga”, afirma a fisioterapeuta Talita. Além disso, ao exame de hemograma, que determina a conduta e
a depressão psicológica e a diminuição do apetite podem quais os exercícios mais seguros de acordo com as alte-
estar associadas ao tratamento. E o pilates pode auxiliar rações durante o tratamento”, conclui a fisioterapeuta.
em todos esses pontos. Tomando esses cuidados e alcançando os benefícios do
“É uma atividade física completa para pacientes. Aju- método, certamente o pilates será um grande aliado no
da a regular o sono, alivia o estresse e a tensão, melhora tratamento.

46 revista da abrale
ESTE É O JOSEPH
ALEmão QUE nasceu raquítico
e chegou a ser boxeador,
antes de criar o pilates

Asmático, raquítico e com febre reumáti-


ca, Joseph Pilates dedicou a vida à constru-
ção de um corpo forte e saudável. Para isso,
usou preceitos da ioga e até circenses para
encontrar o equilíbrio do corpo e da men-
te. Quando era boxeador e professor de
autodefesa na Scotland Yard, acabou preso
durante a Primeira Guerra Mundial. Usou
o período de reclusão para desenvolver os
primeiros conceitos do pilates e também
alguns equipamentos, usando as molas das
camas do hospital para presos. Assim, ele
fazia com que os pacientes tonificassem os
músculos, antes mesmo de saírem dos seus
leitos. Em 1923, foi para Nova York, abriu o
primeiro estúdio de pilates e foi descober-
to pelos bailarinos locais que perceberam
que os exercícios de pilates faziam com
que eles se recuperassem mais rápido das
lesões causadas pela dança.

FOTOS DIVULGAÇÃO

47
corpo POLICITEMIA VERA

Sangue grosso
A Policitemia Vera engrossa o sangue e atrapalha
o seu fluxo. Mas JÁ EXISTE tratamento que garante
vida normal para quem tem a doença

A
ciência ainda não sabe como, nem por-
quê. Mas a pessoa vive bem e, de repen-
te, a partir dos 60 anos, começa a sentir
uma queimação nas palmas das mãos e
nas plantas dos pés, que parecem muito
mais vermelhos do que sempre foram. Também, ao
sair de um banho quente, sente coceiras na pele.
Começa a perder peso, acusa dor de cabeça, tem di-
ficuldade para respirar e chega até a ter uma trom-
bose. Claro, vai ao médico. E depois de um exame
de sangue, absolutamente fundamental para o
diagnóstico, descobre uma anormalidade no gene
JAK2 (dado importantíssimo na avaliação do caso,
veja quadro na página 51) e que a medula óssea
começou a funcionar mal. Após uma mutação das
células-tronco, os glóbulos vermelhos começam a
ser produzidos descontroladamente. E, embora eles
mantenham as suas funções normalmente, engros-
sam o sangue e atrapalham bastante a circulação
pelos vasos. Diante do quadro, o médico dá o vere-
dito: policitemia vera.

48 revista da abrale
49
FOTO LATINSTOCK
corpo POLICITEMIA VERA

a doença só tem cura a partir de um tMO,


mas hÁ medicação que permite ao paciente
fazer as suas atividades normalmente

Tratamento eficaz garante nhar a resposta do tratamento, em consultas periódicas ao


boa qualidade de vida médico. Mesmo sob controle, há risco de a doença evoluir
Não é preciso se desesperar com ela. O Dr. Celso Massu- para uma leucemia mieloide aguda (LMA).
moto explica que a doença, é verdade, só tem cura a partir
de um transplante de medula óssea (TMO) – não indica- Casos menos graves pedem uma
do em um primeiro momento porque desgasta demais o espécie de “doação de sangue”
paciente com idade avançada e pode trazer outras com- Para os casos em que os pacientes não apresentam sinto-
plicações. Mas existe um tratamento eficaz que garante a mas, os menos graves, é indicada a sangria terapêutica (fle-
qualidade de vida do paciente, permitindo que ele faça as botomia). O nome parece forte, mas não é nada demais. Nela
suas atividades normalmente. é retirada cerca de meio litro de sangue (o corpo humano
A maneira mais comum de tratar a policitemia vera é tem, em média, seis litros em pessoas com peso a partir de
com a Hidroxiureia, uma droga quimioterápica admi- 70 quilos), para afiná-lo e reduzir a concentração de hema-
nistrada via oral, que reduz a concentração dos glóbulos tócritos. Na verdade, o procedimento é como uma doação e
vermelhos e a contagem de plaquetas. Esse medicamento o cuidado mais comum é com uma possível falta de ferro,
age bloqueando as células-tronco mutantes, ajudando a facilmente reposta e controlada. Na linguagem médica, o
controlar a doença. O Anagrelide é outro quimioterápico objetivo é manter o hematócrito em 45% nos homens e em
administrado via oral. Ele é usado quando o número de 42% nas mulheres. Sem o tratamento, a policitemia vera faz
plaquetas também está muito elevado, reduzindo a for- com que a contagem de hematócrito fique acima de 60% no
mação delas na medula. Ambos os medicamentos podem homem e de 55% na mulher. A hemoglobina aparece acima
provocar náuseas leves, assim como uma sutil queda de ca- de 18,5 g/dl em homens e de 16,5 g/dl em mulheres. Além
belo. Mas a doença fica absolutamente controlada, embora das alterações nos glóbulos vermelhos, as taxas dos glóbu-
continue existindo. Ou seja, a medula continua produzin- los brancos e as plaquetas também aparecem alteradas. Mas
do as células mutantes. Por isso, é importante acompa- só os profissionais podem avaliar isso.

POSSO FAZER TMO?


Quando é o caso de fazer o transplante
de células-tronco hematopoéticas
Se o paciente tem idade avançada, é improvável Ainda assim, ela precisa estar absolutamente con-
que o médico indique o procedimento. Se possui trolada. Para isso é feita uma quimioterapia prévia
outros problemas de saúde, também. O TMO só é e, então, as células-tronco saudáveis de um doador
feito quando a pessoa que tem policitemia vera está compatível são transferidas para o paciente, como
em ótimas condições de saúde, apesar da doença. em uma transfusão de sangue.

50 revista da abrale
FOTO LATINSTOCK

A doença não surge do histórico familiar também não é fruto do modo de vida do paciente. Os estu-
e nem do modo de vida do paciente dos mostram que são ainda mais raros os casos de jovens
Os pacientes e os seus familiares precisam saber que a po- que têm a doença, presente majoritariamente em pessoas
licitemia vera é uma doença rara, que atinge duas a cada com mais de 60 anos. Algo curioso, mas ainda sem explica-
100 mil pessoas, originada por uma mutação genética que ção, é que a policitemia vera é mais frequente em judeus
não tem causa conhecida. O fenômeno não é hereditário e descendentes do Leste Europeu.

exame na medula
Ele também é muito importante no diagnóstico da doença
Além dos exames de sangue, os de medula são rativas é preciso cruzar resultados. As altas taxas de
muito importantes quando há suspeita de policitemia glóbulos vermelhos, por exemplo, descartam a pre-
vera. Eles identificam a presença dos cromossomos sença da trombocitemia essencial. Outras análises
mutantes JAK2 e a quantidade excessiva de células avaliam se há doenças similares, como a leucemia
na medula (hipercelularidade). mieloide crônica (LMC). Ela é descartada quando não
Mesmo com o exame, como a mutação no JAK2 há a presença do cromossomo Philadelphia.
também é comum em outras doenças mieloprolife-

51
NOTAS

O Inca precisa de socorro


Crise no Instituto Nacional de Câncer e falta de estrutura
no Redome deixam a situação ainda mais complicada
O Instituto recebe mais da metade dos pacientes que alguém na fila.
dependem do SUS na região, e por ser referência no trata- O Redome tem 28 funcionários e um sistema de infor-
mento do câncer, recebe pessoas de todo o País. mática que une quem espera por medula aos doadores
Mas, ao longo dos anos, o Inca perdeu funcionários e cadastrados.
atualmente está difícil segurar os médicos formados lá. “Já “O Brasil tem hoje o terceiro maior registro de doadores
no final da residência, eles têm uma oferta muito grande do mundo, com cerca de 3,8 milhões de doadores cadas-
para ir para o mercado privado, ganhando altos salários”, trados e é muito importante para aqueles que precisam
conta o vice-diretor-geral do Inca, Luís Felipe Ribeiro Pinto. realizar um transplante de medula óssea”, afirma Luís Fer-
E aí começam os problemas, como a falta de estrutura nando Bouzas, diretor-geral do Inca.
para atendimento e, principalmente, a falta de profissionais Quem ainda não achou doador compatível, quer mais
capacitados para atender aos milhares de pacientes na fila. gente no cadastro e faz alguns apelos:
Um grande exemplo é Felipe Mucare, um dos pacien- 1. O brasileiro precisa se conscientizar de que tem que
tes atendidos pela Abrale. Ele luta contra uma leucemia atualizar o cadastro junto ao Redome, entrar no site do
linfoide aguda em um hospital particular de São Paulo. Inca e fazer a atualização;
“A única forma de salvar a vida dele é fazendo um 2. O Redome precisa ter mais pessoas trabalhando lá;
transplante de medula. Mas dependemos do 3. O Governo Federal precisa injetar mais
sistema público, porque tivemos que recursos para que o sistema funcione ra-
fazer o cadastro no SUS e depende pidamente e adequadamente.
de o sistema público ser eficiente e Mas é muito importante salientar
rápido para encontrar um doador que quanto maior for a diversida-
compatível”, afirma Victor Mattar de genética do banco de doadores,
Mucare, pai de Felipe. maiores são as chances de quem
E, para piorar, há o problema está na fila. Nas regiões Norte, Nor-
da desatualização no Redome deste e Centro-Oeste do Brasil, o
(Registro Nacional de Doadores número de doadores ainda é consi-
de Medula Óssea). Às vezes, o do- derado pequeno. Já no Sul e Sudes-
ador mudou de endereço e não te, é fundamental que os doadores
avisou. Por isso, não será encon- mantenham os dados de contato
trado caso seja compatível com atualizados.

foto LATINSTOCK

52 revista da abrale
ANA E O KOBRA
Abrale proporciona encontro
de paciente-artista com o

André TambuccI/Fotos Públicas


grafiteiro mais badalado do país
Ana Carolina Neves ainda está em busca de um diagnós-
tico para o seu problema de saúde – alguns especialistas
acham que pode ser PTI, por causa dos hematomas que
insistem em aparecer. Ana é artista e ama desenhar. Ela
também é muito fã do Eduardo Kobra, artista conhecido
por seus grafites nos principais edifícios e monumentos
do Brasil e de diversos países, como os Estados Unidos. Kobra e aproveitou para apresentar sua obra. “Foi um mo-
Todos com um toque realista e em cores vibrantes, sua mento muito especial e só tenho que agradecer vocês por
marca registrada. me proporcionarem isso”, disse Ana Carolina.
No começo de 2016, a Abrale proporcionou a realiza- O artista também gravou um vídeo para a Abrale,
ção de um sonho. Ana se encontrou pessoalmente com abraçando a nossa luta contra o câncer.

53
NOTAS

foto SITE ANS


Saúde na ponta dos dedos
Novo aplicativo revela os direitos de quem usa
os planos particulares
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) acesso fácil e rápido para todos. E sem qualquer custo
tem um aplicativo que permite a pesquisa por infor- financeiro.
mações sobre as coberturas assistenciais obrigatórias “O aplicativo que a Agência está disponibilizando é
pelos planos de saúde. Além disso, é possível também um avanço para o beneficiário de planos de saúde por-
consultar os dados cadastrais de operadoras, saber se que permite o acesso a diversas informações de forma
a empresa está ativa e o total de beneficiários, e ve- fácil e ágil. Ou seja, é um ganho para o consumidor ou
rificar os reajustes de planos de saúde individuais e para as pessoas que queiram pesquisar dados do rol de
familiares autorizados por ano, desde 2000. procedimentos da ANS e das operadoras”, diz o diretor-
Somente na saúde suplementar, são 50,3 milhões -presidente da ANS, José Carlos de Souza Abrahão.
de beneficiários de assistência médica, além de 21,9 Atualmente, o Rol de Procedimentos e Eventos em
milhões de contratos de planos exclusivamente odon- Saúde da ANS tem 3.216 itens que podem ser pesqui-
tológicos. O objetivo principal é ampliar os canais de sados. Além do aplicativo, as informações estão em
comunicação com essas pessoas, possibilitando um www.ans.gov.br.

54 revista da abrale
DESISTIR NUNCA É OPÇÃO
Há belos exemplos de vida,
mesmo quando perdemos
a luta contra o câncer
Luiz Eduardo Reis de Toledo Barros, o Dardo,
Polyana Dias e Tatiana Grinfield nos ensinaram que
desistir nunca é opção. O sorriso de cada um deles
contagiava a qualquer um, e a força e a perseverança
contribuíram muito para que os milhares de
pacientes em tratamento também tivessem garra
para continuar a luta contra o câncer. Perder pessoas
tão queridas definitivamente não é nada fácil. Mas

foto LATINSTOCK
uma coisa é certa: o céu está em festa. Seguimos em
oração por vocês e por suas famílias.

CUIDAR DO QUE
CUIDAR é pEnSAR AntES DE AgIR. é pREStAR

AtEnçãO EM tUDO O QUE fAzEMOS E COMO

é SEU VALE MUItO.


fAzEMOS. é SE pREOCUpAR EM DESEnVOLVER

pRODUtOS QUE tRAgAM MAIS bEnEfíCIOS DO QUE

CUStOS. bEnEfíCIOS pARA nóS, pARA O pLAnEtA,

CUIDAR DO QUE é DE
pARA O LUgAR OnDE VIVEMOS. EStE CUIDADO EStá

EM CADA EMbALAgEM DOS pRODUtOS Ypê QUE

tODOS VALE MAIS.


MILhõES DE bRASILEIROS LEVAM pARA CASA

tODO DIA. pORQUE QUEM USA, CUIDA.

VA L E M A I S C U I DA R

55
NOTAS

VAMOS ABRIR OS OLHOS


Em 2016, haverá 600 mil novos casos de câncer
e ainda não há campanhas relevantes de prevenção

Essa é a estimativa do Instituto Nacional de Câncer de leucemias e mais de 12 mil novos diagnósticos de
(Inca) para 2016. De acordo com o Instituto, 300.870 linfoma.
mulheres e 295.200 homens devem apresentar a doen- O envelhecimento da população é um dos fatores
ça por ano. O câncer de pele não-melanoma deve ser que contribuem para a incidência da doença no País.
o de maior incidência no País para ambos os sexos – Para o vice-diretor-geral do Inca, Luiz Felipe Ribeiro,
cerca de 29% dos casos. Já o câncer de mama, será o de a prevenção do câncer deve ser um tema que mobilize
maior incidência entre as mulheres. não apenas o governo, mas também toda a sociedade:
Os cânceres do sangue atingirão quase 23 mil pesso- “Esse desafio é da população brasileira como um todo.
as no Brasil, de acordo com o estudo feito pelo Obser- Cabe a cada cidadão fazer o seu papel para que a gente
foto LATINSTOCK

vatório de Oncologia. Serão mais de 10 mil novos casos possa reverter esses quadros.”

56 revista da abrale
DR. EXPLICA

ESPECIALISTAS TIRAM SUAS DÚVIDAS SOBRE DOENÇAS


O NC O - H E M A T O L Ó G I CAS E S E US TR ATAME NTOS

O paciente só deve ser atendido por mente, é a evolução natural da do- gestação ou infecções podem ser
um terapeuta ocupacional caso te- ença. Algumas mielofibroses tem gatilhos para o reaparecimento da
nha alguma limitação física? uma chance maior do que outras. PTI. Normalmente, no entanto, isso
Não necessariamente. Às vezes, o Ela é decorrente do acúmulo de não acontece, especialmente em
paciente vive rupturas nas suas ati- defeitos genéticos nas células. No quem teve resposta rápida no pri-
vidades cotidianas por problemas momento, a única medida que é ca- meiro episódio.
emocionais, por exemplo. A tera- paz de frear esse processo é o trans-
pia ocupacional pode atender pa- plante de medula óssea. O linfoma (difuso de grandes células
cientes em casos de depressão, por B) recidivado depois de cinco anos,
exemplo, seja relacionada ao cân- O transplante de medula óssea ain- após o transplante autólogo, pode
cer ou não. O profissional ajuda o da é uma opção para as crianças ser curado?
paciente a resgatar atividades que com leucemia? Depende muito do grau de respos-
deixou de fazer, seja por limitações Em pediatria o transplante tem ta antes do transplante de medula
físicas, emocionais ou sociais. indicações precisas. Na leucemia óssea e o tempo de recaída após o
linfoide aguda o transplante é re- primeiro tratamento. Mas a maior
Meu filho de 10 anos teve leucemia servado para os casos em que a do- chance de recaída pós-autólogo é no
e está em remissão há três meses. ença volta, exceto em casos onde a primeiro ano. Se você já passou esse
Queremos voltar aos poucos com as resposta ao primeiro tratamento primeiro ano, a chance de ter uma
atividades físicas. Quais seriam as não é boa. Por isso, cada caso deve recaída diminui bastante. Neste
mais indicadas para esse período ser avaliado individualmente. ponto, o paciente parece caminhar
pós-tratamento? para a cura, mas precisamos espe-
O primeiro passo é conversar com o Existe alguma fruta que não deve rar mais um tempo para falar com
médico para não haver contraindi- ser consumida, durante o tratamen- total certeza. De qualquer maneira,
cações. Nesse momento, melhor op- to do câncer? é muito importante seguir com o
tar por atividades mais leves, que Devem ser evitadas frutas de casca acompanhamento médico.
não ofereçam risco e que ele goste. fina como morango, uva, ameixa,
Caminhadas com os pais e brinca- principalmente quando a imunida-
deiras como esconde-esconde são de está baixa. Durante o tratamen-
um grande exemplo. É importante to, o consumo é aconselhável desde
Consultoria: Dra. Ana Clara Kneese Nasci-
descansar depois. Deve-se evitar o que as frutas sejam higienizadas
mento, médica do Centro de Hematologia
excesso e que o paciente se sinta com hipoclorito de sódio. Em casos de São Paulo e assistente da Santa Casa
fatigado. como os da pera e da maçã, retire a de São Paulo; Dr. Fábio Pires de Souza
casca antes do consumo. Santos, hematologista do Hospital Israelita
Qual é a probabilidade da mielofi- Albert Einstein; Dr. Guilherme Perini, hema-
brose evoluir para leucemia? É um Se a pessoa teve PTI durante a in- tologista do Hospital Israelita Albert Einstein;
processo padrão ou há causas es- fância, ela poderá voltar na fase Juliana Moura Nabarrete, nutricionista do
Hospital Israelita Albert Einstein e membro
pecíficas que desencadeiam esse adulta e se tornar crônica?
do Comitê Científico de Nutrição da ABRA-
processo? Há prevenção? Sim, quem já teve uma vez apre- LE; Marília Othero, terapeuta ocupacional,
A mielofibrose primária tem uma senta maior chance de recidivar coordenadora do Comitê de Terapia Ocu-
chance de 20 a 30% de evoluir para ou de ter novamente. Exposição pacional da ABRALE e Dra. Sandra Regina
leucemia a longo prazo. Infeliz- a situações desencadeantes como Loggetto, consultora médica da Abrale.

57
PSICOLOGIA

Quem não tem a cicatriz


de um joelho ferido?
As marcas que acumulamos ao longo da vida
nos transformam em quem a gente é

N
o meu caso, se ainda hoje sadia logo descobre que o preço de Assim, nunca mais seremos os
toco o queixo, sinto a aprender a caminhar é pago com que- mesmos depois de uma marca! Tudo
cicatriz dos pontos que das, dores e lágrimas.” aquilo que fica registrado no corpo
levei depois de uma que- E assim, desde os primeiros passos, e na alma, de maneira consciente ou
da brusca no corredor de vamos ganhando nossas marcas, mas inconsciente nos molda, nos transfor-
casa, quando saí correndo de meias. também exploramos o mundo, ad- ma, nos influencia e nos guia para a
Motivo bobo, mas com consequências quirimos experiência e maturidade. individuação.
um pouco dolorosas, mesmo que mo- É verdade que, às vezes, preferirí- Algumas marcas são comuns a to-
mentaneamente, e que deixou uma amos ter corpo e alma imaculados! dos nós. Elas fazem parte dos ritos de
pequena marca que já dura mais de Mas, se assim fosse, permaneceríamos passagem que envolvem cada fase da
20 anos. como verdadeiras lagartas rastejantes vida. Afinal, não há quem não tenha
Tenho ainda ralados nos joelhos, ar- na busca devoradora pelo alimento, acordado um dia com uma espinha
ranhões da gata que me acompanhou impedidos da liberdade do voo e da no rosto, ou quem envelheça sem ru-
da infância até a juventude, marca possibilidade de realizarmos nossa gas, não é mesmo?
de vacina no braço e por aí vai. Mas, vocação e chamado de vida. Outras cicatrizes remetem a mo-
para além dessas visíveis, carrego ou- Em uma linda passagem do livro A mentos de profunda alegria e trans-
tras que ao longo da vida têm me virgem grávida, a autora Marion Wood- formação, como a marca da cesárea
transformado no que sou. man nos conta sobre o processo de me- que retrata a passagem da “filha/meni-
Essas cicatrizes visíveis e invisíveis tamorfose das lagartas em borboletas. na” para a “mãe/mulher”. Outras, são
que carregamos no corpo e na alma Em um dos trechos ela diz: “…descobri como tatuagens, frutos de uma escolha
fazem parte da história de todo ser que a borboleta é símbolo da alma hu- pessoal, que revela em sua imagem o
humano. Como em um livro, elas mana. Também descobri que, em seus símbolo de uma ideia, um sentimento,
escrevem a nossa biografia, contam primeiros momentos do lado de fora uma fase da vida, um desejo, uma dor,
como nos esfolamos e nos calejamos da crisálida, a borboleta excreta uma um amor, uma amizade, uma conquis-
na trajetória da vida. Também falam gota de um fluido que se acumulou ta, ou algo com significado pessoal.
das alegrias que ficaram gravadas na durante a fase de pupa. Essa gota é Mas, existem as que são adquiridas
memória, que nos edificaram e se geralmente vermelha e às vezes pinga brutalmente. Feridas visíveis e invi-
foto LATINSTOCK

transformaram nos diversos momen- em seu primeiro voo. Simbolicamen- síveis provenientes dos traumas, dos
tos de metamorfoses que passamos. te, para que libertemos a nossa pró- abusos, das violências, das perdas,
Como diz, sabiamente, o psiquiatra pria borboleta, também precisaremos dos lutos e das mais diversas expe-
Carlos Byington, “qualquer criança sacrificar uma gota de sangue…” riências dolorosas que podem inun-

58 revista da abralE
PSICOLOGIA

dar a alma humana. Elas podem se em nossa frágil existência humana. vida! Se o negarmos ou resistirmos a
tornar verdadeiros cancros abertos, E não podemos esquecer das mar- ele, a consequência será a fixação da
que mutilam a personalidade verda- cas que nos protegem e que, assim personalidade, o adoecimento e a es-
deira e nos transformam em pessoas como as vacinas, nos imunizam e nos tagnação. Se seguirmos adiante, em
desconfiadas, negativas, destrutivas, fortalecem. Elas são deixadas pelo algum momento, encontraremos a
depressivas e desesperançadas. apego seguro dos nossos cuidadores, cura e conseguiremos então libertar
Há também aquelas que são vis- pelas boas lembranças, pelos momen- nossas asas e alçar voos rumo à rea-
tas como verdadeiras deformidades, tos felizes, pelo amor, pelas cicatrizes lização.
das quais preferimos nos esconder e cirúrgicas que salvam a vida e pelos
ocultar do outro. Marcas que nos en- obstáculos ultrapassados. Algumas po-
vergonham e limitam a entrega em dem até doer, mas nos transformam
relacionamentos. Essas nos desafiam em pessoas melhores, mais resilientes
a superar as aparências e as projeções, e resistentes aos baques da vida.
para que possa ocorrer uma entrega Feridos, marcados e cicatrizados, Marcela Bianco
Psicóloga clínica
verdadeira. E assim, recebermos, atra- todos nós seguimos adiante com nos-
e psicoterapeuta
vés do amor e do afeto, o alento, o so processo de metamorfose. Morte e Junguiana
conforto e a aceitação tão necessários renascimento, esse é o chamado da

59
NÚCLEOS REGIONAIS

ABRALINHA PELO BRASIL


O 2º Concurso de colorir Abralinha divertiu muitas crianças
em tratamento para o câncer em todo o País
No total, 169 desenhos foram enviados e, com o apoio trazendo diferentes cores e texturas para um dos símbo-
das representantes da Abrale Aline (São Paulo), Ana Gisel- los da nossa Associação. Todas receberam certificado e o
le (Fortaleza), Élida (Recife), Juliana (Porto Alegre), Lorena primeiro, segundo e terceiro lugares ganharam prêmios,
(Ribeirão Preto), Mariana (Curitiba), Maryane (Belo Hori- como lápis de cor e livros de colorir. Abaixo, você vai ver as
zonte), Raquel (Rio de Janeiro) e Maria Clara (Florianópo- fotos das representantes e dos pequenos diplomados que
lis), centenas de crianças tiveram um momento divertido, participaram da ação.

fotoS ABRALE

60 revista da abralE
COMITÊ

Obrigado, doutores
Os integrantes dos Comitês Médico e Multidisciplinar da Abrale por todo o País

COMITÊ MÉDICO Nutrição


Dra. Alita Andrade Azevedo; Dr. Ângelo Maiolino; Coordenação: Carlos Rosario Canavez Basualdo.
Dr. Bernardo Garicochea; Dr. Carlos Chiattone; Karina Al Assal; Bianca Stachissini Manzoli; Ana
Dr. Cármino Antônio de Souza; Dr. Celso Arrais; Elisa Bombonatto Maba; Juliana Pizzocolo M. Estrela;
Dr. Celso Massumoto; Dra. Clarisse Lobo; Verônica Laino; Juliana Moura Nabarrete; Rafaela
Dr. Daniel Tabak; Dr. Jacques Tabacof; Dr. Jairo Moreira de Freitas; Maria Cláudia Bernardes Spexoto.
José do Nascimento Sobrinho; Dr. José Salvador
Rodrigues de Oliveira; Dra. Lúcia Mariano Cuidados paliativos
da Rocha Silla; Dra. Maria Aparecida Zanichelli; Coordenação: Ana Lúcia L. Giaponesi.
Dra. Maria Lydia Mello de Andrea; Dra. Monika Dra. Dalva Yukie Matsumoto; Débora Genezini;
Conchon; Dr. Nelson Hamerschlak; Dr. Phillip Olga Akemi Sakano Iga; Janete Maria da Silva;
Scheinberg; Dr. Renato Sampaio; Dr. Ricardo Edinalda Franck; Dra. Sara Krasilcic.
Pasquini; Dr. Roberto Passeto Falcão; Dr. Ronald
Pallota; Dra. Silvia Maria Meira Magalhães; Fisioterapia
Dra. Vania Hungria; Dr. Vicente Odone Filho; Coordenação: Dra. Ana Paula Oliveira Santos.
Dr. Waldir Veiga Pereira; Dr. Wellington Azevedo; Dra. Bianca Azoubel de Andrade; Dra. Talita
Dra. Yana Sarkis Novis; Dr. Yuri Vasconcelos. Rodrigues; Dra. Jaqueline Munaretto Timm
Baiocchi; Dra. Elaine Priscilla Mendoza Faleiros;
Odontologia Dra. Paula Tonini.
Coordenação: Dra. Rosana Scramin Wakim.
Dr. Luiz Alberto V. Soares Júnior; Dr. Paulo Farmácia
Sérgio da Silva Santos; Dra. Karin Sá Fernandes; Coordenação: Maria Cristina Sampaio Paoli.
Dra. Leticia Bezinelli; Dra. Maria Elvira Pizzigatti Cássia Helena Pagini Stuart; Annemeri Livinalli;
Corrêa; Dra. Monica Samaan Kallás; Dr. Wolnei Guilherme Munhoz Correia e Silva; Eliana Guadalupe
Santos Pereira; Dra. Thaís de Souza Rolim. Morganti do Lago; Fernanda Schindler; Raquel Fehr;
Cinthia Scatena Gama
Enfermagem
Coordenação: Eloise C. B. Vieira. Psicologia
Lidiane Soares da Costa; Suzana Azevedo Coordenação: Dra. Flávia Sayegh.
Mosquim; Rita Tiziana Verardo Polastrini. Dra. Daniela Nunes; Dr. Nairton Lopes Cruz;
Dra. Marcela Bianco.
Terapia ocupacional
Coordenação: Marilia Bense Othero. Serviço social
Aide M. Kudo; Lydia Caldeira; Márcia Assis; Walkyria Coordenação: Célia Duarte Redo.
de Almeida Santos – GRAACC; Paula Bullara Passos; Maria Teresa di Sessa P. Q. Ribeiro; Ana Claudia
Tatiana dos Santos Arini; Deborah Andrea Caous; P. Silva; Herbert Guilherme dos Santos Luz;
Renata Sloboda Bittencourt; Mariana de Paiva Franco; Iara Cristina Dieb Mingione.
José Manuel Batista Pinto; Camila Ribeiro Rocha.

61
JURÍDICO

Nós queremos o melhor


tratamento disponível
Governo adota estratégia para intimidar
a prescrição de medicação de alto custo

A
garantia de acesso à saúde ção e, consequentemente, do número médico prescreve tratamentos não in-
no Brasil, prevista no ar- de pacientes; ampliação do número cluídos nos protocolos definidos pelo
tigo 196 da Constituição de profissionais da saúde com acesso SUS, resta ao paciente buscar via ação
Federal já é muito conhe- a informações sobre novas tecnologias judicial a determinação para que o
cida. E para que ela não e novos medicamentos; maior adesão tratamento seja custeado pelos ór-
fique só no papel, o legislador estabe- aos tratamentos pelos pacientes. gãos públicos.
leceu, por meio de uma lei, os princí- Atualmente, só no estado de São Nesses casos, em que o medicamen-
pios que devem direcionar a atuação Paulo, as despesas com o fornecimen- to é obtido com a judicialização, o
dos responsáveis pela realização da to de medicamentos de alto custo problema está na elevação dos custos
saúde pública: universalidade, inte- correspondem a, aproximadamente, do tratamento para o SUS.
gralidade, equidade, descentralização/ 70% de todos os recursos destinados Para evitar esse custo, os gestores,
regionalização e participação social. à compra de remédios. em especial das Secretarias Estaduais
Por esses princípios ficou estabeleci- A questão torna-se crítica quando de Saúde (principais responsáveis pelo
do que o acesso à saúde pública é ga- os medicamentos não estão incluídos fornecimento dos medicamentos de
rantido a qualquer pessoa, incluindo no rol de procedimentos básicos do alto custo), estão usando como estraté-
todos os meios preventivos e curati- SUS. Isso acontece porque, cada vez gia a intimidação dos agentes de saú-
vos. Na prática, o SUS (Sistema Único mais, os médicos têm acesso à capaci- de na prescrição desses tratamentos.
de Saúde) é o responsável por garantir tação e informações sobre o desenvol- Em São Paulo, por exemplo, o se-
cada um desses preceitos. E, em tese, vimento de novas terapias e de novos cretário de saúde do governo do Esta-
funcionaria muito bem. Mas, infeliz- tratamentos. do, por meio da Resolução SS 83, de
mente, ele enfrenta sérios problemas, Mas a burocracia e a disponibilida- 17/08/2015, estabeleceu regras restrin-
como o de financiamento, que interfe- de dos recursos públicos não acom- gindo a prescrição de medicamentos
re na capacidade do poder público em panham a indústria farmacêutica e o não incluídos nos protocolos de aten-
incluir nos protocolos de atendimen- surgimento de novas perspectivas de dimento do sistema público de saúde,
to novas tecnologias e medicamentos. terapias médicas. por médicos do sistema SUS.
O problema da viabilidade dos no- Essa disparidade gera prejuízos aos Pela resolução, o médico que pres-
vos medicamentos, que em sua maio- pacientes, que estão cada vez mais crever poderá ser responsabilizado
ria são de alto custo, são as barreiras informados sobre os novos tratamen- financeiramente pelos custos dos me-
foto LATINSTOCK

em alguns fatores decisivos: patentes; tos, mas esbarram na limitação da dicamentos fornecidos por determi-
ampliação do rol de medicamentos e disponibilidade de recursos. nação judicial.
tecnologias; crescimento da popula- Em situações como essa, em que o A medida foi ratificada pelo Conse-

62 revista da abrale
lho Estadual de Medicina de São Paulo não incorporado como tratamento
por meio da Resolução Cremesp 278, pelo SUS. A eficácia do medicamento
de 23/09/2015, que estabeleceu regras para pacientes recidivados de linfoma
para a prescrição de medicamentos. é comprovada em estudos dos Estados
Dentre elas, há uma determinação Unidos e da Europa, onde é utilizado
de que para a prescrição de medica- desde 2011.
mentos não previstos nos protocolos É compreensível a dificuldade do
do SUS, o médico deve justificar sua poder público em conciliar demanda
conduta, submetendo relatório sobre e custos do Sistema Único de Saúde.
as razões da prescrição ao diretor téc- O trabalho em viabilizar o acesso aos
nico da Instituição. procedimentos médicos deve mobili-
Além disso, o próprio diretor técni- zar toda a sociedade, passando pelos
co poderá convocar uma junta médi- profissionais da saúde e pela indús-
ca para avaliar o caso, encaminhando tria farmacêutica.
ao Cremesp, se entender necessário. O que não se pode – e não vamos ad-
Resumindo, as medidas restringem mitir – é negar acesso ao paciente a um
a liberdade do médico de oferecer ao direito fundamental, previsto na Cons-
paciente o melhor tratamento disponí- tituição. Não podemos esquecer que a
vel, muitas vezes a última esperança. saúde é um direito de todos, e a vida,
Os profissionais da saúde ficarão presos nosso bem mais precioso. E os avanços
aos procedimentos definidos pelo SUS, da ciência só nos demonstram que não
mesmo sabendo da existência de novas podemos desistir de lutar por ela!
tecnologias, que podem salvar vidas.
É evidente o desinteresse dos gestores
públicos de saúde na inclusão de no-
vas tecnologias, seja por questões orça-
mentárias ou por motivos econômicos.
Para ilustrar a situação, podemos
citar o caso do medicamento Brentu-
Alber Sena
ximab – biofármaco, anticorpo mo- Advogado da ABRALE
noclonal, aprovado pela ANVISA, mas

63
ABRALE E EU

ESPAÇO DOS LEITORES: ESTA PÁGINA É SUA


APROVEITE-A PARA NOS CONTAR SOBRE A SUA EXPERIÊNCIA COM A ABRALE, FAZER COMENTÁRIOS,
SUGERIR PROCEDIMENTOS E TAMBÉM ASSUNTOS PARA A NOSSA REVISTA: abrale@abrale.org.br


“Meu porto seguro”
Com a ajuda da Abrale, aprendi a conviver com a minha doença,
entendê-la e, principalmente, enfrentá-la

Em 2005, fui diagnosticado como portador de um linfoma não-Hodgkin de


grandes células T, CD 30 positivo. Sou de Belém e, como aqui não há tratamen-
to para esse tipo de diagnóstico, me vi obrigado a ir para São Paulo. Procurei o
Hospital do Câncer A. C. Camargo, onde comecei o tratamento particular. Não
possuía plano de saúde na época, e até hoje não possuo.
Foi uma luta. Em 15 dias, gastei R$ 22 mil. Mas não tinha condições de con-
tinuar pagando e, na busca por me tratar no SUS, nosso sistema público de
saúde, conheci a Abrale.
A Associação deu todo o suporte de que eu precisava. Informou sobre todos os
aspectos do linfoma e também me incentivou e me encorajou a buscar um apoio
na Justiça. Afinal, ter um tratamento de qualidade, sem pagar por ele, é um direi-
to meu. Entrei com uma ação judicial na 8ª Vara Federal de São Paulo e consegui
uma liminar, que me possibilitou o acesso ao tratamento correto.
Nessa época, participei de vários encontros da Abrale, e isso foi muito im-
portante. Aprendi a conviver com a doença, entendê-la e, principalmente, en-
frentá-la.
O apoio da equipe e de outros pacientes, com certeza, me ajudou a passar
por todos os momentos complicados. Nós sentíamos que não éramos os únicos
nessa batalha. Passamos a compreender que o diagnóstico não era o fim e que
existia, sim, cura para esse mal terrível.
E foi assim que enfrentei os oito ciclos de quimioterapia e as 17 sessões de
radioterapia. Em julho de 2005, chegou a notícia tão aguardada: a remissão da
doença.
Nove anos mais tarde, em 2014, infelizmente veio a recidiva. E novamente
precisei dar início às sessões de quimioterapia. Dessa vez, tive que fazer o trans-
plante de medula óssea autólogo. Consegui a pega da medula e novamente
entrei em remissão.
Em setembro de 2015, nova recidiva. A principal opção de tratamento era o
Brentuximab, já aprovado pela Anvisa, mas sem registro no SUS. Infelizmente,
por questões burocráticas, não consegui o medicamento. Novamente precisei
da ajuda da Abrale, meu porto seguro. Como sempre, eles estavam lá por mim
e agora consegui dar início ao tratamento.
Agradeço imensamente a vocês por toda a ajuda oferecida e por estarem sem-
pre comigo!”
Cláudio Lopes Bueno, 56 anos, Belém (PA)

64 revista da abralE
PSICOLOGIA

Muito prazer,
sou Teva.
Também conhecido como
um dos maiores laboratórios
farmacêuticos do mundo.

Há mais de 100 anos fornecendo acesso à saúde e desenvolvendo moléculas


inovadoras em mais de 60 países. A Teva está sediada em Israel e é uma das
10 maiores indústrias farmacêuticas do mundo. A Teva conta com mais de
60 fábricas de produção e 34 centros de pesquisa e desenvolvimento de alta
tecnologia em todo o mundo¹. Líder mundial em genéricos, possui mais de
1.000 moléculas no portifólio global de produtos. A Teva pensa no paciente SÃO OS VALORES CONSISTENTES FAZENDO CRIATIVIDADE
QUE FAZ A CUIDANDO
DEIXANDO NOSSAS
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como um todo, e auxilia o médico no que for preciso.


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AGENDA

CONFIRA OS PRÓXIMOS EVENTOS DA ABRALE


E AS PRINCIPAIS DATAS NA ÁREA DA SAÚDE

MARÇO ABRIL MAIO


3 CHAT ABRALE 14 CHAT ABRALE 5 CHAT ABRALE
Cuidados com a alimentação Mieloma Múltiplo: como lidar Entenda a Síndrome
podem ajudar no tratamento com a neuropatia periférica Mielodisplásica (mielodisplasia)
contra o câncer? secundária ao tratamento Acesse www.abrale.org.br
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17 CHAT ABRALE 25 Encontro 19 CHAT ABRALE


Como reconhecer e minimizar de Pacientes Abrale Terapias complementares podem
efeitos adversos dos tratamentos? Entenda o Mieloma Múltiplo ajudar no tratamento do câncer?
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28 Encontro 28 CHAT ABRALE 30 Encontro


de Pacientes Abrale Quando devemos, ou não, de Pacientes Abrale
Quando o Transplante de Medula realizar o Transplante de Estudos Clínicos: como funcionam
Óssea (TMO) é indicado? Medula Óssea (TMO) e quais benefícios trazem ao paciente
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31 CHAT ABRALE
Pacientes em tratamento
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DE PACIENTES ABRALE?
Os encontros acontecem a cada 15 dias, na sede Convidamos os especialistas mais
da Abrale, em São Paulo, e objetivam manter os renomados do Brasil para tirar as dúvidas
pacientes e os familiares informados sobre os trata- dos pacientes e dos familiares, através
mentos dos cânceres do sangue e também sobre da nossa plataforma online:
a troca de experiências entre os diferentes públicos. www.abrale.org.br

66 revista da abrale

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