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Entendendo os Riscos
de Desastres no Brasil
Ministro da Integração Nacional FICHA TÉCNICA
Helder Zahluth Barbalho
Título:
Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil Manual de Proteção e Defesa Civil: Entendendo
Renato Newton Ramlow os riscos de desastres no Brasil
Elaboração do Projeto
Maria Cristina Dantas
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
PARTE I – INTRODUÇÃO 11
1. Conceituação de Riscos e Desastres 12
2. Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil 19
3. Mudanças do Clima e Desastres Naturais 30
3.1. Cenários Climáticos 32
3.2. Tendências para a Mudança do Clima no Brasil 32
ANEXOS 203
Anexo A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) 204
Anexo B. Classificação Geral dos Desastres 213
Anexo C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos 229
Anexo D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades 243
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Evolução do número total de registros de desastres naturais em todos os continentes entre
1900 e 2015. 14
Figura 2. Evolução do número total de registros de desastres tecnológicos em todos os continentes entre
1900 e 2015. 14
Figura 3. Relação entre o nível de ameaça e de vulnerabilidade na determinação da intensidade de riscos. 15
Figura 4. Características de desastres no mundo por tipo da ameaça natural (não biológica) em 2015. 17
Figura 5. Espacialização das ocorrências de desastres naturais registradas no Brasil entre 1991 e 2012. 20
Figura 6. Registros de situação de emergência e de estados de calamidade pública e de municípios afetados
por desastres de origem natural (não biológico), por estado, entre 2005 e 2015. 21
Figura 7. Proporção de registros de ocorrência de desastres de origem natural (não biológicos), por ano,
sobre o total de ocorrências entre 1991 e 2012. 22
Figura 8. Registros de reconhecimento de situação de emergência e estados de calamidade pública
e de municípios afetados por desastres naturais (não biológicos), por ano, entre 2005 e 2015. 22
Figura 9. Total de registros de desastres naturais (não biológicos) entre 1991 e 2012 e entre 2013 e 2014. 23
Figura 10. Porcentagem de registros de reconhecimento de situação de emergência (SE) e estados de
calamidade pública (ECP) por tipo de desastre natural (não biológico), entre 2005 e 2015. 23
Figura 11. Porcentagem de pessoas afetadas por tipos de desastres naturais (não biológicos) no Brasil
entre 1991 e 2012. 24
Figura 12. Porcentagem de número de mortes em função dos tipos de desastres naturais (não biológicos) no Brasil
entre 1991 e 2012. 24
Figura 13. Total de afetados por macrorregiões em 2013. 26
Figura 14. Mortos, enfermos, feridos e desaparecidos em desastres de origem natural (não biológico)
por regiões brasileiras entre 1991 e 2012). 26
|7
Figura 15. Desabrigados e desalojados em desastres de origem natural (não biológicos) por regiões
brasileiras entre 1991 e 2012. 27
Figura 16. Danos humanos por macrorregiões em 2013. 27
Figura 17. Evolução da perda anual estimada por desastres de origem natural (não biológicos) no Brasil,
entre 2002 e 2012, segundo o tipo de impacto. 28
Figura 18. Evolução da participação de perdas com desastres de origem em fenômenos naturais (não biológico)
no PIB do Brasil. 28
Figura 19. Modelo idealizado do Efeito Estufa natural. 31
Figura 20. Infográfico de cenários climáticos para o Brasil. 33
Figura 21. Tipos de movimentos existentes em bordas de placas tectônicas. 39
Figura 22. Localização do Brasil no interior da Placa Tectônica Sul-Americana. 41
Figura 23. Proporção de sismos originados no Brasil, por estado, entre 2008 e 2012. 41
Figura 24. Reportagem sobre a chegada das cinzas vulcânicas do vulcão Calbuco (Chile) ao Estado do
Rio Grande do Sul. 43
Figura 25. Movimentos gravitacionais de massa – queda, tombamento e rolamento. 45
Figura 26. Notícia de queda de bloco de rocha no Morro de Boa Vista (Vila Velha, Espírito Santo). 46
Figura 27. Movimentos gravitacionais de massa – deslizamentos rotacional e translacional. 46
Figura 28. Exemplos de deslizamentos rotacional e translacional. 47
Figura 29. Movimentos gravitacionais de massa – fluxo de detritos. 48
Figura 30. Movimentos gravitacionais de massa – subsidência e colapso. 48
Figura 31. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em deslizamentos de solo e rochas, queda e tombamento de matacões, e fluxo de detritos, por
estado, entre 2005 e 2015. 49
Figura 32. Mapa de regiões cársticas do Brasil. 49
Figura 33. Distribuição anual de mortes por escorregamento no Brasil entre 1988 e 2008. 50
Figura 34. Vista dos impactos no calçadão de Matinhos (Paraná) em decorrência do avanço da erosão costeira. 52
Figura 35. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por erosão marinho-costeira, por estado, entre 2005 e 2015. 52
Figura 36. Consequências de erosão de margem fluvial (fenômeno de terras caídas) no rio Amazonas (Município de
Iranduba – AM) em 2015. 53
Figura 37. Meandro fluvial (mapa e seção transversal), indicando zonas de erosão e deposição. 54
Figura 38. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública(ECP),
originados por erosão fluvial, por estado, entre 2005 e 2015. 54
Figura 39. Esquema ilustrando sulcos, ravinas e boçorocas. 55
Figura 40. Mapa mundial de vulnerabilidade dos solos à erosão laminar e linear pela água. 56
Figura 41. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por erosão continental laminar e linear e boçorocas, por estado, entre 2005 e 2015. 56
Figura 42. Inundação do rio Madeira na altura da BR-364 entre os Estados do Acre e Rondônia em 2014. 57
Figura 43. Conceitos de inundação e enchentes. 58
Figura 44. Enchentes no bairro Jardim Pantanal (São Paulo) em 2009, construído sobre planície de inundação
do rio Tietê. 59
Figura 45. Países que respondem por 80% da população mundial exposta aos riscos de inundações, utilizando dados de
população de 2010. 59
Figura 46. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em inundações, inundações litorâneas e enchentes, por estado entre, 2005 e 2015. 60
Figura 47. Enxurradas causam estragos em diversas áreas do Município de Capinzal (SC) em Julho de 2015. 61
Figura 48. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em enxurradas, por estado entre 2005 e 2015. 62
Figura 49. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em alagamentos, por estado entre 2005 e 2015. 62
Figura 50. Alagamento em Curitiba, dia 22 de outubro de 2015. 63
Figura 51. Imagem de satélite Goes mostra ciclone extratropical no litoral sul do Rio Grande do Sul em setembro
de 2016. 65
Figura 52. Reportagem demonstrando a ocorrência de ciclone extratropical no Município de Rio Grande (RS) em
outubro de 2016. 66
Figura 53. Impactos da migração de dunas em comunidades costeiras do Piauí. 67
Figura 54. Ressaca na orla do Município de Niterói (RJ), entre os bairros de Ingá e Icaraí em maio de 2015. 68
Figura 55. M
odelo de desenvolvimento de mudanças de temperaturas e pluviosidades associadas a uma frente fria. 69
Figura 56. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). 70
Figura 57. Localização da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) nos meses de julho (vermelho) e janeiro (azul). 70
Figura 58. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em frentes frias e zonas de convergência, por estado, entre 2005 e 2015. 71
Figura 59. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por tornados, por estado, entre 2005 e 2015. 72
Figura 60. Ocorrência de tromba d’água no Município de Parintins (Amazonas) em abril de 2015. 73
Figura 61. Mapa de densidade de raios no Brasil nos últimos 15 anos. 74
Figura 62. Número de mortos por raios, discriminados por ano, entre 2000 e 2014. 75
Figura 63. Número de mortos por raios, discriminados por estado, entre 2000 e 2014. 75
Figura 64. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por granizos, por estado, entre 2005 e 2015. 76
Figura 65. Destruição de telhas e vidros de carros em consequência de chuva de granizo no Município de Guareí (SP)
em novembro de 2015. 76
Figura 66. Distribuição espacial da precipitação no Brasil agrupada por trimestres, a partir de dados do INMet
de 1961 a 1990. 78
Figura 67. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por chuvas intensas, por estado, entre 2005 e 2015. 79
Figura 68. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por vendavais, por estado, entre 2005 e 2015. 80
Figura 69. Proporção de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em geadas, por estado, entre 2005 e 2015. 83
Figura 70. Impactos das geadas no setor agrícola no Estado de Minas Gerais em julho de 2016. 83
Figura 71. Regiões com maior registro de eventos de secas e estiagem no Brasil, entre 1991 e 2012. 85
Figura 72. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em secas, por estado, entre 2005 e 2015. 86
Figura 73. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em estiagem, por estado, entre 2005 e 2015. 86
Figura 74. Impactos da seca na atividade agropecuária no nordeste do Brasil. 87
Figura 75. Ocorrência de incêndios florestais no Brasil em 2016. 88
Figura 76. Total de focos de incêndio e queimadas, por estado, entre 2006 e 2015. 89
Figura 77. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em incêndios florestais, por estado, entre 2005 e 2015. 89
Figura 78. Número de óbitos por sarampo no Brasil entre 1990 e 2014. 94
Figura 79. Número de óbitos por sarampo nas diferentes regiões do Brasil entre 1990 e 2014. 95
Figura 80. Ciclo urbano e silvestre da febre amarela. 95
Figura 81. Progressão da febre chikungunya no Brasil. 99
Figura 82. Formas de transmissão do Zika vírus. 100
Figura 83. Países e territórios com transmissão de vírus zika no mundo. 100
Figura 84. Distribuição dos casos notificados de microcefalia e/ou alterações do SNC, por mês de notificação,
segundo regiões. Brasil, 2015 e 2016. 103
Figura 85. Figura de campanha publicitária de combate à dengue do Ministério da Saúde. 105
Figura 86. Taxa de mortalidade de tuberculose no Brasil e por grandes regiões (1990-2014). 112
Figura 87. Taxa de mortalidade de tuberculose na Região Sudeste do Brasil (1990-2014). 112
Figura 88. Taxa de mortalidade de tuberculose na Região Centro-Oeste do Brasil (1990-2014). 113
Figura 89. Malária: o ciclo de vida do parasita. 115
Figura 90. Registro percentual da variação temporal das espécies de Candida de diversos isolados invasivos entre os
anos de 1997 a 2007. 120
Figura 91. Distribuição dos sorotipos (A, B, C, D, AD, e Não Tipificado – NT) de 467 isolados de Cryptococcus
neoformans pelas regiões geográficas brasileiras. 124
Figura 92. População total em 2010 por estado. 153
Figura 93. Proporção de crianças extremamente pobres em 2010 por estado. 153
Figura 94. População com 65 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 153
Figura 95. Número de mortalidade até os 5 anos de idade em 2010 por estado. 154
Figura 96. Taxa de envelhecimento em 2010 por estado. 154
Figura 97. Percentual da população de menos de 15 anos e da população de 65 anos ou mais em relação
à população de 15 a 64 anos em 2010 por estado. 155
|9
Figura 98. Proporção de população extremamente pobre em 2010 por estado. 155
Figura 99. Índice de Gini em 2010 por estado. 155
Figura 100. Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 155
Figura 101. Taxa de analfabetismo da população de 18 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 155
Figura 102. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 por município. 155
Figura 103. Áreas desmatadas e remanescentes por biomas - 2013 (Amazônia Legal), 2012 (Mata Atlântica), 2010
(Cerrado) e 2009 (Pampa, Caatinga e Pantanal). 156
Figura 104. Índice da Qualidade das Águas – valores médios (2011). 157
Figura 105. Disponibilidade Hídrica Superficial estimada no Brasil. 157
Figura 106. Reportagem evidenciando Relatório da OMS em 2016 que indicou as principais cidades no mundo com
valores alarmantes de poluição do ar. 157
Figura 107. População urbana em 2010 por estado. 157
Figura 108. Distribuição percentual do déficit habitacional total dos estados na sua região, na área urbana, e das
famílias com renda até três salários mínimos. 158
Figura 109. Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES). 171
Figura 110. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com vazamento de produtos químicos e biológicos em ecossistemas lacustres, fluviais, aquíferos e
marinhos, por estado, entre 2005 e 2015. 176
Figura 111. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com incêndios em aglomerados residenciais, por estado, entre 2005 e 2015. 180
Figura 112. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com colapso de edificações, por estado, entre 2005 e 2015. 181
Figura 113. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com rompimento ou colapso de barragens, por estado, entre 2005 e 2015. 182
Figura 114. Ocupação no entorno de terminal de óleo em São Sebastião, SP. 186
LISTA DE QUADROS
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Número de registros de desastres naturais (não biológicos) por tipo e região geográfica
entre 2013 e 2014. 25
Tabela 2. Total de registros de desastres originados em fenômenos naturais (não biológicos)
e danos humanos por regiões brasileiras (1991– 2012). 25
Tabela 3. Perdas econômicas decorrentes de desastres naturais (não biológicos) entre 2002 e 2012
expresso em proporção do PIB. 29
Tabela 4. Tabela Saffir-Simpson utilizada para a categorização dos ciclones. 64
Tabela 5. Casos notificados de microcefalia, de novembro 2015 a novembro 2016. 102
Tabela 6. Número de casos de meningites, com óbitos e letalidade, ocorridos em 2014 e 2015. 109
Tabela 7. Características dos principais agentes biológicos de elevada e moderada ameaça mundial. 149
LISTA DE SIGLAS
AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica
ANA – Agência Nacional de Águas
CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais
CENAD – Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e de Desastres
CEPED – Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
COBRADE – Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
CODAR – Codificação de Ameaças, Desastres e Riscos
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONPDEC – Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil
CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CPAB – Convenção sobre Proibição de Armas Biológicas
CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
CRED – Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
EIRD – Estratégia Internacional para a Redução de Desastres
EM-DAT – Banco de Dados Internacional de Desastres
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
PIMC (IPCC) – Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change)
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia
IUV – Índice Ultravioleta
LNC – Lista de Notificação Compulsória do Ministério da Saúde
MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
MI – Ministério da Integração Nacional
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NASA – National Aeronautics and Space Administration
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration
NUDEC – Núcleo Comunitário de Defesa Civil
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS – Organização Pan-Americano da Saúde
PBMC – Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
PNPDC – Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
S2ID – Sistema Integrado de Informações sobre Desastres
SDHPR – Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
SEDEC – Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SINPDEC – Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil
SNCC – Serviço Nacional de Consultas Cadastrais
SNIRH – Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
UNISDR – United Nations Office for Disaster Risk Reduction
UV – Ultravioleta
ZCAS – Zona de Convergência do Atlântico Sul
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
PARTE I
INTRODUÇÃO
Desastres
1
Instrução Normativa n°02, de 20 de dezembro de 2016.
| 13
A vulnerabilidade é definida como exposição socioeco- etapas de agravamento progressivo (seca, de-
nômica ou ambiental de um cenário sujeito à ameaça sertificação, subida do nível do mar, doenças
do impacto de um evento adverso natural, tecnológico epidêmicas) (IN 02/2016, item XVII);
ou de origem antrópica1. • Súbito: eventos adversos que ocorrem de for-
ma inesperada e surpreendente, caracterizados
De acordo com o Marco de Sendai para Redução do Ris- pela velocidade da evolução e pela violência dos
co de Desastres, o desastre é definido como: eventos causadores (terremoto, erupção vulcâ-
nica, inundação, explosão química, acidente de
Uma séria interrupção no funcionamento de transporte) (IN 02/2016, item XVI).
uma comunidade ou sociedade devido a even-
tos perigosos interagindo com condições de Classificação dos Desastres
vulnerabilidade e de exposição, levando a per-
das e impactos humanos, materiais, econômi- A Instrução Normativa Nº02 de 2016 (anexo 4) define
cos e ambientais generalizados2. eventos adversos como os desastres naturais, tecnoló-
gicos ou de origem antrópica.
Os desastres podem ser avaliados segundo algumas
características, a saber: • Evento adverso natural: desastre natural consi-
derado acima da normalidade em relação à vul-
I – Intensidade: nerabilidade da área atingida, que pode implicar
em perdas humanas, socioeconômicas e sociais;
No que se refere à intensidade, a IN 02/2016 estabele- • Evento adverso tecnológico: desastre originado
ce três níveis: por condições tecnológicas decorrentes de fa-
lhas na infraestrutura ou nas atividades huma-
• nível I – desastres de pequena intensidade: em nas específicas consideradas acima da normali-
que há somente danos humanos consideráveis e dade, que podem implicar em perdas humanas,
que a situação de normalidade pode ser resta- socioeconômicas e ambientais;
belecida com os recursos mobilizados em nível • Evento adverso antrópico: desastre decorren-
local ou complementados com o aporte de re- te de atividades humanas predatórias ou con-
cursos estaduais e federais; sideradas acima da normalidade, que podem
• nível II – desastres de média intensidade: aqueles implicar em perdas humanas, socioeconômi-
em que os danos e prejuízos são suportáveis e su- cas e ambientais.
peráveis pelos governos locais e a situação de nor-
malidade pode ser restabelecida com os recursos A categorização, o agrupamento e a tipologia dos de-
mobilizados em nível local ou complementados sastres no Brasil, definidos pela Classificação e Co-
com o aporte de recursos estaduais e federais; dificação Brasileira de Desastres (COBRADE)3, apre-
• nível III – desastres de grande intensidade: aqueles sentada no Anexo A deste Manual, estabelece duas
em que os danos e prejuízos não são superáveis e categorias de desastres:
suportáveis pelos governos locais e o restabeleci-
mento da situação de normalidade depende da mo- Desastres Naturais: Compreendem cinco grupos
bilização e da ação coordenada das três esferas de – desastres geológicos, hidrológicos, meteorológi-
atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa cos, climatológicos e biológicos;
Civil e, em alguns casos, de ajuda internacional. Desastres Tecnológicos: Abarcam cinco grupos – os
relativos a substâncias radioativas, a produtos peri-
II – Frequência: gosos, a incêndios urbanos, a obras civis e a trans-
porte de passageiros e cargas não perigosas.
Frequente e infrequente: depende da probabilidade
de ocorrência e do período de retorno de uma ameaça A COBRADE, versão atualizada, revisada e simplifi-
e seus impactos. O impacto de desastres frequentes cada do CODAR (Codificação de Ameaças, Desastres
pode ser cumulativo ou tornar-se crônico para uma co- e Riscos), é fundamental para adequar a classicação
munidade ou sociedade. brasileira aos padrões estabelecidos pela ONU, para
uniformizar as definições de desastres em todo o terri-
III – Início gradual ou súbito: tório nacional4, e para estabelecer um banco de dados
contendo o registro histórico de desastres, possibili-
• Gradual: eventos adversos que ocorrem de for- tando o planejamento de medidas preventivas e prepa-
ma lenta e se caracterizam por evoluírem em ratórias para o enfrentamento de riscos e de desastres.
2
UNISDR (2015a).
3
http://www.mi.gov.br/documents/3958478/0/Anexo+V+-+Cobrade_com+simbologia.pdf/d7d8bb0b-07f3-4572-a6ca-738daa95feb0
4
A IN 1/2012 estabelece a necessidade da identificação dos tipos de desastres como requisito para a Decretação de Situação de Emergência
e Estado de Calamidade Pública.
Conceituação de Riscos e Desastres
A COBRADE foi elaborada a partir da classificação nização Mundial de Saúde (OMS/ONU). Além dos
utilizada pelo Banco de Dados Internacional de desastres constantes da classificação do EM-DAT,
Desastres (EM-DAT) do Centro para Pesquisa so- foram incluídos alguns desastres peculiares à rea-
bre Epidemiologia de Desastres (CRED) e da Orga- lidade brasileira.
Desastres no Mundo
Registros de desastres naturais e tecnológicos em todos os continentes apresentam uma clara tendência de
crescimento positivo, desde 1900 (Figura 1 e Figura 2), segundo dados do Banco de Dados Internacional de
Desastres – EM-DAT*.
Figura 1. EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS EM TODOS OS CONTINENTES ENTRE 1900 E 2015.
550
400
NÚMERO DE DESASTRES
350
300
250
200
150
100
50
0
1900 1906 1912 1918 1924 1930 1936 1942 1948 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002 2008 2014
ANO
Figura 2. EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES TECNOLÓGICOS EM TODOS OS CONTINENTES ENTRE 1900 E 2015.
380
360
340
Todos os continentes
320
300
280
NÚMERO DE DESASTRES
260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1900 1906 1912 1918 1924 1930 1936 1942 1948 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002 2008 2014
ANO
*
http://www.emdat.be/
| 15
Evento adverso é o desastre natural, tecnológico ou de Existe uma ampla gama de ameaças que, isoladamen-
origem antrópica, segundo a mesma Instrução Normativa. te ou mediante complexas formas de interação, podem
pôr em perigo a vida das pessoas e o desenvolvimento
O risco de desastre depende das características, das sustentável. As ameaças são classificadas em naturais
possibilidades e da intensidade da ameaça, assim e tecnológicas, de acordo com o disposto na Classifi-
como da quantidade dos elementos a ela expostos e cação Brasileira de Desastres – COBRADE (Anexo A).
da vulnerabilidade desses elementos, em função das
condições naturais, sociais, econômicas e ambien- As ameças naturais compreendem as biológicas, geo-
tais existentes. lógicas, hidrometeorológicas, climatológicas.
Conclui-se, portanto, que o nível de intensidade do As ameaças atuam de forma variada e são caracteriza-
risco depende, fundamentalmente, da combinação das por sua localização, frequência, magnitude, inten-
do nível de ameaça, no eixo horizontal, e do nível de sidade e probabilidade.
vulnerabilidade no eixo vertical, e é medido pela pro-
babilidade de impactos adversos ou da ocorrência de Compreender a frequência com a qual as ameaças de
um desastre. diferentes magnitudes ocorrem é um componente cru-
cial para a análise dos riscos de desastres.
O nível do risco instalado é categorizado como alto,
médio e baixo (Figura 3). Deve-se enfatizar que o nível No que se refere à intensidade, são raros os eventos
de risco, quando instalado, pode aumentar ou diminuir, extremos de grande intensidade e de uma ampla es-
conforme ocorra alteração dos níveis de vulnerabilida- cala espacial, enquanto que os de baixa a média in-
de e de ameaça. A possibilidade da inexistência de risco tensidade e de pequena escala espacial são muito
implica a ausência de ameaças ou de população, ativi- mais frequentes.
dades e/ou infraestruturas vulneráveis numa região em
um determinado momento. A probabilidade de um evento extremo ocorrer é re-
lacionada à necessidade de uma combinação especí-
fica de condições, que na maioria das vezes são de
Figura 3. RELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE AMEAÇA difícil coincidência.
E DE VULNERABILIDADE NA DETERMINAÇÃO
DA INTENSIDADE DE RISCOS. O tempo médio que existe entre a ocorrência de even-
tos de igual magnitude é denominado Período de Re-
ALTO NÍVEL DE
VULNERABILIDADE torno ou Intervalo de Recorrência, calculado a partir
da série histórica de registros de eventos5.
5
UNESCO. Glossário Internacional de Hidrologia. 2016. Disponível EM: <http://webworld.unesco.org/water/ihp/db/glossary/glu/HINDPT.
HTM> Acesso em: 07 de jan. 2017.
Conceituação de Riscos e Desastres
O conjunto de condições determinadas por fa- Os desastres tecnológicos são consequências in-
tores ou processos físicos, sociais, econômicos desejáveis do desenvolvimento econômico, tecno-
e ambientais, tanto individuais como coletivas, lógico e industrial, podendo ser reduzidos com o
os quais aumentam a suscetibilidade de uma incremento de medidas de segurança industrial.
comunidade aos impactos das ameaças (UNIS- Estes desastres também se relacionam com o au-
DR, 2015b). mento das trocas comerciais e do deslocamento de
cargas perigosas e com o crescimento demográfico
A vulnerabilidade tem estreita relação com as ativida- das cidades, sem o correspondente provimento de
des humanas, não podendo ser considerada indepen- serviços essenciais compatíveis e adequados ao ní-
dentemente das questões ligadas ao desenvolvimento. vel de crescimento*.
Os desastres tecnológicos compreendem três gru-
A vulnerabilidade de uma população, da infraestrutu- pos, relacionados com as ameaças originadas em
ra ou das atividades socioeconômicas é o resultado da acidentes associados a:
inter-relação complexa de diversos fatores, que permi-
tem estabelecer diferentes categorias6: a. Indústrias: Derramamento de produtos quí-
micos, colapso de infraestrutura industrial,
Vulnerabilidade Física explosões, fogos, vazamento de gás, enve-
nenamento e radiação;
A vulnerabilidade física diz respeito às questões de en- b. Transporte: Transportes pelo ar, trilhos, es-
genharia e arquitetura, ou seja, às técnicas construti- tradas ou água;
vas, ao material e à qualidade das obras e edificações, c. Mistos: Colapso de estruturas domésticas
ao tipo e à estrutura das construções. ou não industriais, explosões e fogos (BRA-
SIL, 2003).
Vulnerabilidade Social
*
Brasil. Manual de Desastres Humanos: Parte 1 – de Nature-
A vulnerabilidade social diz respeito ao bem-estar da za Tecnológica. Brasília: Ministério da Integração Nacional,
2003. Disponível em: http://www.mi.gov.br/c/documet_library/
sociedade, das pessoas e das comunidades. Compreen- get_file?uuid=879047d7-789e-4a7c-ae24-a81beb48aecc&gru-
de aspectos associados ao nível de alfabetização e de pld=10157
6
EIRD (2004).
| 17
Desastres Naturais
Os desastres mais comuns registrados no mundo, frequentemente de forma rápida e maciça, quer de
em 2015, foram originados em ameaças hidrológicas forma natural ou intencional.
(42% do total) e meteorológicas (41%), assim como a Os principais eventos são as epidemias e pande-
maior proporção de perdas econômicas (47% meteo- mias*** (em população humana e de animais domés-
rológicas e 28% hidrológicas); no entanto, a maior ticos), bioterrorismo (uso intencional de agentes
proporção de fatalidades está associada a desastres infecciosos humanos), pragas, ataques por animais,
originados em ameaças geofísicas (42%)* (Figura 4). liberação de organismos geneticamente modifica-
Os desastres de origem biológica são, muitas vezes, dos, invasões biológicas.
consequência de deficiências nos organismos pro- Os desastres biológicos devem ser distinguidos de
motores da saúde pública, muitas vezes agravadas surtos de doenças transmissíveis, que são conse-
pelo pauperismo, subdesenvolvimento e por dese- quências de desastres “não biológicos” (climático,
quilíbrios ecológicos. hidrológico, geológico), que, em geral, ocorrem em
Os “Desastres Biológicos” correspondem a escala localizada. Os desastres biológicos se carac-
terizam pela preocupação global que despertam, já
processos ou fenômenos de origem orgânica ou que, mesmo se iniciando em escala local, apresentam
transportados por vetores biológicos, incluindo a possibilidade de disseminação global. Os impactos
a exposição a micro-organismos patogênicos, to- dos desastres originados em ameaças biológicas são,
xinas e substâncias bioativas que podem causar principalmente, de importância para a saúde públi-
a perda de vidas, lesões, doenças ou outros im- ca, mas podem ter, também, significado econômico
pactos na saúde, danos materiais, perda de meios preponderante, pois podem afetar ou levar à morte
de subsistência e serviços, perturbação social e de pessoas, animais ou alimentos. Em todo o mundo,
econômica ou danos ambientais (UNISDR, 2009). entre 1900 e 2006, ocorreram 1.035 epidemias e pan-
demias, causando 9.528.995 óbitos, o que equivale a,
São, portanto, aqueles que envolvem os impactos aproximadamente, 24% do total de óbitos ocorridos
causados pela disseminação de organismos vivos, em desastres de todos os tipos (ICHARM, 2009).
Figura 4. CARACTERÍSTICAS DE DESASTRES NO MUNDO POR TIPO DA AMEAÇA NATURAL (NÃO BIOLÓGICA) EM 2015.
50
45
40
35
% do TOTAL
30
25
20
15
10
5
0
Geofísico Meteorológico Hidrológico Climatológico
*
NatCatService - Natural catastrophe database analysis and information platform.
**
https://www.munichre.com
***
Uma epidemia caracteriza-se pela ocorrência, em uma comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar que cla-
ramente excede o que seria esperado e que deriva de uma fonte em comum. As pandemias referem-se a epidemias de escalas globais,
afetando um grande número de pessoas em diversos países ou continentes (GORDIS, 2004).
Conceituação de Riscos e Desastres
dos países expostos. A população mais carente, grupo provocou um interesse crescente em utilizar a capa-
que, na maioria das regiões, é formado por uma grande cidade de resposta das pessoas, dos governos e das
proporção de mulheres e idosos, geralmente é muito atividades socioeconômicas para reduzir a vulnera-
mais vulnerável do que os demais grupos sociais. bilidade e fazer frente aos efeitos das ameaças e, em
consequência, diminuir os riscos.
Vulnerabilidade Ambiental
A conceituação de desastres e riscos no Brasil cons-
A vulnerabilidade ambiental diz respeito ao grau de ta no Anexo IV da Instrução Normativa nº 02 de 2016,
esgotamento dos recursos naturais e seu estado de
do Ministério da Integração Nacional, que “estabele-
degradação, à falta de resiliência dos ecossistemas e
ce procedimentos e critérios para a decretação de
à exposição a contaminantes tóxicos e perigosos. Os
fatores ambientais podem aumentar, ainda mais, a vul- situação de emergência ou estado de calamidade
nerabilidade com o passar do tempo, posto que criam pública pelos municípios, estados e Distrito Federal
novos e indesejáveis padrões de discórdia social, pri- e para o reconhecimento federal das situações de
vações econômicas que, eventualmente, provocarão a anormalidade decretadas pelos entes federativos, e
migração de comunidades inteiras. dá outras providências.”
CONCEITOS DESCRIÇÃO
Evento adverso Desastre originado por condições tecnológicas decorrentes de falhas na infraestrutura ou nas
Tecnológico atividades humanas específicas consideradas acima da normalidade, que podem implicar em
perdas humanas, socioeconômicas e ambientais.
Desastre decorrente de atividades humanas predatórias ou consideradas acima da normalidade,
Antrópico
que podem implicar em perdas humanas, socioeconômicas e ambientais.
Resultado das perdas humanas, materiais ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades,
Dano
instituições, instalações e aos ecossistemas, como consequência de um desastre.
Medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial de um determinado bem,
Prejuízo
em circunstâncias de desastre.
Perda Privação ao acesso de algo que possuía ou a serviços essenciais.
2
CARACTERIZAÇÃO
E INCIDÊNCIA DE
DESASTRES NO BRASIL
Em relação às informações sobre registros de desas- para a saúde pública de abrangência nacional em
tres no Brasil, utilizados neste manual, menciona-se toda a rede de saúde, pública e privada, que constem
que, apesar dos enormes esforços dos governo fede- na Lista de Notificação Compulsória (LNC) (Portaria
ral e dos estados na estruturação e implementação do Ministério da Saúde nº 1.271/2014). O registro
de bancos de dados, ainda existem séries históricas de desastres tecnológicos não tem uma sistemática
de curto prazo e por vezes descontínuas, registros estabelecida, sendo registrados por diversos órgãos,
não comunicados ou com caracterização (período, de acordo com a sua tipologia (Comissão Nacional de
localização, causa) e quantificação de impactos, par- Energia Nuclear; Agência Nacional de Petróleo e de
ticularmente os indiretos, inadequada. Muitos destes Aviação Civil; Órgãos de Proteção e Defesa Civil; de
problemas decorrem de fatores organizacionais, his- Meio Ambiente, e de Trânsito; Ministério da Defesa;
tóricos, mas principalmente culturais e políticos. Marinha do Brasil; Polícia Rodoviária).
O Sistema Integrado de Informações sobre Desas- Os resultados de investigações, por institutos de pes-
tres (S2ID), criado em 2011, gerido pela Secretaria quisa e a academia, sobre o tema são incipientes e de
Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) do Mi- escala, maioritariamente local, o que provoca uma
nistério da Integração Nacional, registra apenas os carência em trabalhos de escala nacional executa-
desastres naturais, exceto os biológicos. Os desas- dos com metodologias homogêneas. Neste sentido,
tres biológicos são registrados pelo Sistema de In- muitos conceitos, informações e referências tendem
formação de Agravos de Notificação (SINAN), criado a estar concentrados nas Regiões Sul e Sudeste do
pela Portaria GM/MS nº 104/2011, a partir da comu- Brasil. A concentração de dados e informações nes-
nicação de casos individuais de doenças e investiga- tas regiões deve-se também à sua grande relevância
ção de doenças, agravos e eventos de importância em termos de perdas por impactos de desastres.
A Região Centro-Oeste do Brasil é a que apresenta próximas às vias rodoviárias dos Estados do Pará
áreas com menor registro de desastres, concentran- e Amazonas. A maior parte do território da Região
do-se no noroeste e centro-sul do Estado do Mato Nordeste apresenta registros de ocorrências, com
Grosso do Sul e no sul do Estado do Mato Grosso. exceção do Maranhão e do oeste da Bahia. As Re-
Na Região Norte, o maior número de registros ocor- giões Sudeste e Sul apresentam, em quase todo o
re nas áreas mais populosas e, principalmente, nas território, registros de desastres (CEPED/SEDEC,
próximas às vias de comunicação fluvial, além das 2013) (Figura 5).
Figura 5. ESPACIALIZAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES NATURAIS REGISTRADAS NO BRASIL ENTRE 1991 E 2012.
Assim, pode-se concluir que áreas de maior concen- Segundo dados do CEPED/SEDEC (2013), há um au-
tração de registros de ocorrência de desastres estão mento expressivo no número de registros de desastres
mais relacionadas às condições de exposição e vulne- na década de 2000, comparado à década de 1990, e nos
rabilidade (concentração demográfica no Sudeste e anos de 2010, 2011 e 2012, assim como uma clara ten-
Sul) ou mais à extensão da ameaça (seca e estiagem dência de crescimento positivo (Figura 7).
no Nordeste).
Segundo dados do Sistema Integrado de Informações
Uma importante base de dados a respeito da ocorrên- sobre Desastres (S2ID) da Secretaria Nacional de Prote-
cia de desastres no Brasil são os arquivos da SEDEC7, ção e Defesa Civil8, aproximadamente 15% do total dos
que se baseia no reconhecimento de estado de cala- registros de desastres no Brasil, no período entre 1991
midade pública e de situação de emergência. Segun- e 2014, foram inscritos nas bases de dados nacionais en-
do esses registros, entre 2005 e 2015, observa-se que tre 2013 e 2014, após a aprovação da Lei no 12.608/2012.
(Figura 6):
Através da análise dos registros de reconhecimentos
• Os estados com maior número de registros de de estado de calamidade pública e situação de emer-
desastres são: Rio Grande do Sul (2.631 reco- gência dos arquivos da SEDEC, entre 2005 e 20159 (Fi-
nhecimentos), Paraíba (2.503), Ceará (2.454), gura 8), observa-se:
Santa Catarina (2.075), Minas Gerais (2.044), e
Bahia (2.030). • Uma tendência de crescimento positivo, seme-
• O Distrito Federal (1 reconhecimento), e os Es- lhante ao registro de desastres, também do nú-
tados do Amapá (9 reconhecimentos), Rondônia mero de registros de reconhecimentos de estado
(23 reconhecimentos) e Acre (41 reconhecimen- de calamidade pública e situação de emergên-
tos) são os estados com menor número de regis- cia de desastres originados em fenômenos natu-
tros de desastres. rais. O número total de reconhecimentos é pró-
• Os estados que apresentam maior número de ximo aos 23 mil, alcançando um ápice em 2013
municípios com registro de desastres são Rio com mais de 3.700.
Grande do Sul (2.219 municípios), Santa Catari- • O somatório dos municípios afetados é maior
na (1.527) e Minas Gerais (1.523). Os com menor que 16.150, observando-se também uma ten-
número de municípios com registro de desastres dência de crescimento positivo. O ano com
são o Distrito Federal e os Estados do Amapá (8 maior número de municípios afetados é 2012,
municípios), Rondônia (20) e Acre (29). com 2.342 municípios.
7
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
8
https://s2id.mi.gov.br/
9
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
30 00
25 00
20 00
NÚMERO
15 00
10 00
500
0 AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Município Reconhecimento
12
10
8
% do TOTAL
6
4
2
0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
ANOS
TENDÊNCIA
4000
3500
3000
NÚMERO
2500
2000
1500
1000
500
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
ANOS
Municípios Reconhecimentos
Linear (Municípios) Linear (Reconhecimentos)
A distribuição mensal dos desastres10, das principais (movimentos sísmicos). Os maiores números de re-
ameaças naturais, apresenta picos nos meses de abril gistros de ocorrências são classificados como de-
e outubro na Região Norte; nos meses de março, abril e sastres originados em “Estiagem e Secas” (53% do
maio na Região Nordeste; nos meses de agosto, novem- total de registros), seguidos de “Enxurradas” (19%).
bro e dezembro na Região Sudeste; e nos meses de janei- As classes “Vendavais” e “Estiagem/Secas” regis-
ro, fevereiro e de setembro a dezembro na Região Sul. traram um aumento maior que a média total, com va-
lores próximos a 26% e 23%, respectivamente, entre
No que se refere aos desastres naturais, a maioria 2013 e 2014, após a aprovação da Lei no 12.608/2012
absoluta dos registros de ocorrências está relacio- (Figura 9).
nada a ameaças hidrometeorológicas (estiagem,
secas, inundações, enxurradas), sendo muito pou- Observa-se uma concentração dos desastres origina-
cos os registros associados a dinâmicas geológicas dos por estiagem (56,7% dos reconhecimentos), secas
10
CEPED/SEDEC (2013).
| 23
(14,2%) e enxurradas (13,4%) (Figura 10), segundo os Do ponto de vista de perdas humanas, a enxurrada é o
dados de reconhecimentos de estado de calamidade desastre mais grave, pois causou 58% do total de mor-
pública e situação de emergência registrados nos ar- tes, seguido dos movimentos de massas com 15,6%
quivos da SEDEC entre 2005 e 2015 (http://www.mi. (CEPED/SEDEC, 2013) (Figura 12).
gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
A distribuição espacial dos registros de desastres na-
O Brasil tem registrado entre 1991 e 2012 aproxima- turais é heterogênea, considerando-se a quantidade e
damente 127 milhões de pessoas afetadas por desas- o tipo de desastres. Segundo dados do Anuário Brasi-
tres com origem em ameaças naturais (não biológicas). leiro de Desastres Naturais de 2012, 201312:
Quase a metade delas (51,3%) sofrem com os impactos
causados pela estiagem e seca, seguidos de enxurrada - Na Região Centro-Oeste são percebidos even-
(21%) e inundação (12%)11 (Figura 11). tos hidrológicos extremos (inundações graduais
11
CEPED/SEDEC (2013).
12
SEDEC/MI (2012a); SEDEC/MI (2012b); SEDEC/MI (2014).
TIPO DE DESASTRE
Figura 10. PORCENTAGEM DE REGISTROS DE RECONHECIMENTO DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADOS DE CALAMIDADE
PÚBLICA (ECP) POR TIPO DE DESASTRE NATURAL (NÃO BIOLÓGICO), ENTRE 2005 E 2015.
60
50
% do TOTAL
40
30
20
10
0
(R cia
ra
To s
am a
am s
nc s
Es te
En em
ca
In inho uvia
va
ca
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ro
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ão de E rag
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to
Er
m
ia
en
é
La
Fr
ar
ão
te
pi
en
os
m
Fr
Er
Ro
TIPO DE DESASTRE
100%
Estiagem e Seca Vendavais Incêndio
Enxurradas Granizo Tornado
51,31%
Inundação Movimento de Massa Alagamento
20,66% Erosão Geada
12,04%
10%
7,07%
4,20%
1,79% 1,32%
0,9% 0,48% 0,12% 0,12%
0
100%
Estiagem e Seca Vendavais Erosão
Enxurradas Granizo Incêndio
58,15% Inundação Movimento de Massa Tornado
Alagamento
13,40% 15,60%
10%
7,57%
3,74%
0,78%
0,44% 0,17% 0,03% 0,12%
0
ou bruscas, alagamentos e secas), com forte inundações graduais e bruscas em áreas ru-
impacto econômico na produção agrícola. No rais. O grande número de barragens de regu-
entanto, o evento mais recorrente corresponde larização de vazões, as quais nem sempre são
aos incêndios florestais. construídas seguindo padrões construtivos
- A Região Nordeste é conhecida por apresentar adequados e por vezes têm pouca capacidade
secas frequentes, intensas e com graves im- de resistir a cheias severas, também represen-
pactos, decorrentes principalmente da gran- ta fator de risco significativo.
de variabilidade interanual das chuvas e a - Eventos hidrológicos extremos na Região Nor-
baixa capacidade de armazenamento de água te tendem a produzir severos impactos à popu-
no solo. Como consequência, grandes perdas lação ribeirinha e dos centros urbanos, alguns
sociais e econômicas são percebidas, em vir- deles associados a problemas de saúde decor-
tude de incertezas quanto à disponibilidade rentes de contaminações por lixo e outros. Pro-
hídrica, constituindo-se um fator limitante ao blemas de estiagens severas, por outro lado,
desenvolvimento regional. Por outro lado, com provocam danos relacionados ao abastecimen-
frequência, a região é acometida por inunda- to, ao deslocamento de pessoas e à produção
ções bruscas, deslizamentos e alagamentos, agrícola e da pesca.
com consequências significativas para a po- - A Região Sudeste sofre com as adversidades
pulação, que se estabelece em áreas de ris- atmosféricas (chuvas intensas, vendavais, gra-
co nas regiões metropolitanas, e também de nizos, geadas e friagens, secas, baixa umidade
| 25
do ar e nevoeiros), inundações, alagamentos e dos eventos de granizo. As Regiões Norte e Sul apresen-
enxurradas, em função da alta densidade de- tam a maior proporção de eventos de inundações, com
mográfica, aliada à ocupação desordenada em aproximadamente 32% e 39%, respectivamente. Ou-
áreas de risco, com grande risco de ocorrên- tros tipos de desastre predominam proporcionalmente
cia de danos econômicos e sociais. Secas têm na Região Sudeste (34% do total) (Tabela 1).
enorme potencial de gerar danos para diversos
setores da economia e para a geração de ener- Do ponto de vista dos danos humanos, segundo dados
gia elétrica. do CEPED/SEDEC para o período 1991-2012, a Região
- A Região Sul é marcada não somente pela ocor- Nordeste é a mais afetada, com 15.210 registros e cer-
rência de grandes desastres, mas também pela ca dos 44% do total dos afetados no país. A Região Sul,
frequência e variedade de eventos adversos e com um número de registros pouco menor que o Nor-
até pela ocorrência de fenômenos atípicos (fu- deste, apresenta aproximadamente 23% da população
racão Catarina). Frequentemente é afetada por afetada, porém é a que tem o maior número de afeta-
alagamentos, inundações bruscas e graduais, dos em relação ao total de sua população. A Região
escorregamentos, estiagens, vendavais, torna- Sudeste apresenta praticamente a mesma população
dos, nevoeiros e ressacas. afetada que a Região Sul, mas em número de registros
40% menor, indicando que os desastres no Sul ocor-
Segundo os registros de desastres naturais nos anos rem em áreas com menor densidade populacional do
2013-2014, por região geográfica, a com mais registros que no Sudeste (Tabela 2).
de estiagem e secas é a Região Nordeste, com aproxima-
damente 83% do total. A Região Sul registra 58% das As Regiões Norte e Centro-Oeste, embora juntas repre-
enxurradas e dos vendavais, assim como mais de 87% sentem 6% dos registros e apresentem baixa densidade
Tabela 1. NÚMERO DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) POR TIPO E REGIÃO GEOGRÁFICA ENTRE 2013 E 2014.
Região Brasil
Tipo de Desastre
Norte Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Total
demográfica (Norte 4,12 hab./km2 e Centro-Oeste 8,75 Os números de desabrigados e desalojados, entre 1991
hab./km2 em 201013), são as que apresentam maior nú- e 2012, estão relacionados com a magnitude do desas-
mero de pessoas afetadas por cada desastre devido à tre e a vulnerabilidade das habitações. O maior número
grande extensão das áreas inundadas (regiões muito de desabrigados no Nordeste (75% do total) é um indi-
planas) e do impacto da seca ou estiagem na locomo- cador da vulnerabilidade das populações dessa região
ção das pessoas. (CEPED/SEDEC, 2013) (Figura 15).
A região com o maior número de pessoas afetadas por Segundo dados do Anuário Brasileiro de Desastres Na-
desastres naturais, em 2013, foi o Nordeste, devido ao turais de 201314, naquele ano os danos humanos obser-
grande impacto causado pela estiagem (Figura 13). vados relativos às Regiões Norte, Sudeste e Sul foram
muito influenciados por desastres, em sua maioria hi-
Regionalmente, quanto aos danos humanos, obser- drológicos, que causaram um grande número de desa-
va-se que 66,5% do número de mortes ocorreram na brigados e desalojados (Figura 16).
Região Sudeste, seguida do Nordeste e do Sul. A Re-
gião Nordeste concentrou 48,4% do total do número Esta distribuição está relacionada aos tipos de desas-
de enfermos, seguida pela Região Norte, com 39,7% do tres predominantes e a sua dinâmica. Desastres súbitos
total. O número de feridos apresenta uma distribuição e de curta duração causam, em geral, o maior número
regional mais uniforme, à exceção do Centro-Oeste, de mortos (deslizamentos e enxurradas, por exemplo),
que tem menos de 1% do total (Figura 14). enquanto desastres graduais e duradouros originam
13
IBGE (2014).
14
SEDEC/MI (2014).
CENTRO-OESTE
NORDESTE
NORTE
SUDESTE
SUL
TOTAL
0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000 20.000.000
Figura 14. MORTOS, ENFERMOS, FERIDOS E DESAPARECIDOS EM DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICO)
POR REGIÕES BRASILEIRAS ENTRE 1991 E 2012).
14
Centro-Oeste
41.245 3.211 2
131 Centro-Oeste 978 Centro-Oeste 18
Norte Sudeste
Centro-Oeste Norte
19.336 344
546 Norte Sudeste
Nordeste 9.607 181.338
Sul Norte
24.429
Sudeste
1.458
2.294 463 Sul
Sudeste NÚMERO DE MORTES Sul NÚMERO DE
ENFERMOS
NÚMERO DE FERIDOS 38.941 NÚMERO DE
DESAPARECIDOS
NOS DESASTRES NOS DESASTRES
Nordeste
5.109
NOS DESASTRES
NOS DESASTRES
220.916
Nordeste Nordeste
13.342
Sul
Norte
Centro Oeste 215.586
15.390
Sudeste
Nordeste 1.166.143 Sul
2.429.589 1.072.766
180.000
160.000
140.000
120.000
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
um maior número de enfermos – como em inundações, Os danos econômicos dos desastres no Brasil, entre
devido à exposição prolongada das pessoas aos agentes 2002 e 2012, apresentam um valor médio próximo aos
(água e agentes biológicos, por exemplo), ou estiagens R$ 278 bilhões, considerando estimativas de R$ 180
prolongadas, devido à falta de alimento e saneamento. bilhões em função de pessoas desabrigadas, R$ 300
bilhões em função de pessoas desalojadas, e R$ 355
O número de feridos pode estar relacionado ao impacto bilhões considerando as pessoas afetadas (Figura 17).
direto do desastre, mas também às ações de resposta e Considerando-se a média das estimativas de perdas,
de resgate em situações de qualquer tipo de desastre. as perdas com os desastres variam entre 0,44 e 0,91%
O número de desaparecidos está mais relacionado à ca- do PIB brasileiro médio no período, com média em
pacidade de resposta (busca e resgate) dos organismos 0,68% e uma clara tendência de crescimento positivo
de proteção e defesa civil do que, necessariamente, ao dos valores (YOUNG, 2015) (Figura 18).
tipo de desastre. Municípios com maior capacidade de
busca e resgate normalmente convertem os números Em termos monetários, a Região Sudeste acumula
iniciais de desaparecidos em outras classes, com a R$110 bilhões em perdas com desastres no período
identificação dos mortos, feridos ou apenas afetados. (40% do total nacional), e seus quatro estados estão
Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil
Figura 17. EVOLUÇÃO DA PERDA ANUAL ESTIMADA POR DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICOS)
NO BRASIL, ENTRE 2002 E 2012, SEGUNDO O TIPO DE IMPACTO.
PERDAS (R$ Bilhões)
1,6%
1,44%
1,4%
PERDAS (R$) / PIB (R$)
1,2% 1,11%
1,0%
0,8% 0,64%
0,6% 0,46%
0,4%
0,2%
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
entre os dez de maior perda. Minas Gerais é o estado Tabela 3. PERDAS ECONÔMICAS DECORRENTES
com maior perda acumulada com desastres, R$ 47,2 bi- DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) ENTRE 2002 E 2012
lhões (17% do valor nacional). A Região Sul é a segunda EXPRESSO EM PROPORÇÃO DO PIB.
em perdas acumuladas, chegando ao valor de R$ 45 bi-
lhões (16% do valor nacional), e seus três estados es- Região Perdas com desastres (% do PIB)
tão entre os dez de maiores perdas. O Estado de Santa
Catarina tem o terceiro maior valor absoluto de perdas Centro-Oeste 0,22
(R$ 27 bilhões), cerca de 9,6% do valor nacional. A Re- Sul 0,66
gião Nordeste apresenta perdas totais de R$ 82 bilhões
Sudeste 0,48
(29% do valor nacional). A Bahia é o estado com maior
perda na região no período, com R$ 12 bilhões de danos Nordeste 1,51
(4,3% do valor nacional). Na Região Norte, o Amazonas Norte 1,61
é o estado com maior perda (R$ 19 bilhões), ou 6,8% do
valor agregado nacional. A região ocupa o quarto lugar Fonte: YOUNG, 2015.
em danos monetários totais, com 12% do valor para o
país. A Região Centro-Oeste apresentou os menores
números de perdas monetárias (3% da perda nacional).
Anotações
3 MUDANÇAS DO CLIMA
E DESASTRES NATURAIS
15
UNISDR (2015b).
16
PIMC (2013).
| 31
O Efeito Estufa
Terra
Fonte: PIMC
(https://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/es/faq-1-3-figure-1.html).
Gases de Efeito Estufa: integrantes da atmosfera, • Mudanças de longo prazo nas condições basais
de origem natural e antropogênico, que absorvem médias de clima nas diferentes regiões e locali-
e emitem radiação em determinadas longitudes dades (aumento ou diminuição de níveis anuais
de ondas do espectro de radiação infravermelha de precipitação ou médias mensais ou estacio-
nais de temperatura).
emitida pela superfície da Terra, pela atmosfera
• Mudanças nos padrões de ocorrências de even-
e pelas nuvens. Esta propriedade causa o “Efeito tos climáticos e hidrometeorológicos denomi-
Estufa”. O vapor de água (H2O), dióxido de carbono nados de “extremos”. Em condições incertas do
(CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4), e ozônio clima, a forma conhecida de ocorrência desses
(O3) são os principais Gases de Efeito Estufa (PIMC eventos pode mudar, incluindo mudanças na
Glossário – https://www.ipcc.ch/pdf/glossary/tar-
-ipcc-terms-sp.pdf). 17
PIMC (2014).
18
SUDMEIER-RIEUX et al. (2006) e PIMC-SREX (2012).
Mudanças do Clima e Desastres Naturais
• Mata Atlântica: em sua porção no Nordeste do A ocorrência de um desastre não pode ser atribuída di-
Brasil, há expectativa de aumento de 0,5 a 1°C retamente a mudanças do clima, devido às interações
e decréscimo na precipitação de 10% até 2040. dinâmicas e complexas entre padrões de desenvolvi-
Entre 2041 e 2070, espera-se aquecimento entre mento, meio ambiente e clima. A fim de reduzir perdas
2 e 3°C e redução de precipitação entre 20 e 25%. e danos de forma apropriada, estes fatores devem ser
Nas áreas localizadas nas Regiões Sul e Sudeste, analisados, avaliados e gerenciados coletivamente.
as projeções indicam 0,5 a 1°C de aumento de
temperatura e incremento de 5 a 10% na preci- Os impactos das mudanças do clima necessitam ser
pitação. Em meados do século (2041-2070), es- minimizados, reduzindo-se a magnitude da ameaça (a
pera-se aumento gradual de temperatura de 1,5 redução das emissões dos Gases de Efeito Estufa), e/ou
a 2°C, com 15 a 20% a mais de chuvas; a vulnerabilidade dos mais carentes aos eventos hidro-
• Pampas (extremo sul do Brasil): até 2040 espe- meteorológicos extremos, incluindo a assistência a po-
ra-se aumento regional de 5 a 10% na precipi- pulações vulneráveis para viver em áreas mais seguras.
tação, com o aquecimento de até 1°C. Estas ten-
dências persistem no meado do século (até 1,5°C Constata-se uma clara inter-relação, com nível de con-
de temperatura e 15 a 20% mais chuva), com fiança alto e muito alto, entre as mudanças do clima e os
piora no fim do século (aumento de 2,5 a 3°C de riscos de desastres e sua gestão, apresentadas a seguir31:
temperatura e 35 a 40% a mais de chuva).
• Os riscos derivados da mudança do clima são
Para todo o Brasil, as projeções indicam uma redução espacialmente diferenciados em decorrência de
na frequência de geadas30. distintos níveis de vulnerabilidade e exposição,
30
MARENGO (2014). 31
PIMC-SREX (2012).
NORTE
AMAZÔNIA Aumento de temperatura
DO OESTE (até 4-6° C)
Mais chuvas Menos chuva (reduções
(aumento extremo de até 1.5 mm/dia)
em algumas regiões)
NORDESTE
Menos chuva no
Semiárido (reduções
de até 2.5 mm/dia
na estação chuvosa)
CENTRO OESTE
Mais ondas de calor
e menos geadas
em Mato Grosso do Sul
SUL
No Rio Grande do Sul,
aumento de chuvas intensas
e menos geadas SUDESTE
Mais chuvas intensas
e redução de geadas
em São Paulo
Fonte: INPE
Marés meteorológicas, inundações costeiras e Morte, lesões, problemas de saúde ou desorganização dos meios de subsistência
elevação do nível do mar. em áreas costeiras baixas e pequenos estados insulares em desenvolvimento.
Problemas de saúde graves e desorganização dos meios de subsistência para
Inundações continentais.
grandes populações urbanas.
Maior mortalidade, particularmente para populações urbanas vulneráveis e
Períodos de calor extremo.
pessoas que trabalham ao ar livre em áreas urbanas e rurais.
Variabilidade e extremos do aquecimento, seca, Insegurança alimentar, em particular para as populações de menor renda,
inundação e precipitação. moradoras de periferias urbanas e áreas rurais.
Fonte: modificado de PIMC, 2013.
PARTE II
RISCOS DE DESASTRES
Caracterização Ocorrência
A radiação cósmica que alcança a superfície da Terra Segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
relaciona-se com fluxos de altíssima velocidade de tuações de emergência e estados de calamidade públi-
energia através do espaço, que podem ser em forma de ca no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov.br/),
ondas (luz solar) ou de partículas (elétrons, prótons). não há ocorrências deste tipo de desastre no Brasil.
O Sol emite energia em, praticamente, todos os com- No entanto, existem elementos que permitem identifi-
primentos de onda do espectro eletromagnético – car áreas mais ou menos expostas a este tipo de amea-
raios gama e X, radiação ultravioleta e infravermelha ça, particularmente a relacionada com as emissões
(ou calor), luz visível, micro-ondas e ondas de rádio. elevadas de energia solar:
A radiação ultravioleta (UV) pode ser absorvida pela
camada de ozônio atmosférica (comprimento de onda - Concentração de ozônio (principal responsável
de 100 a 280 nm), ou alcançar a superfície da Terra pela absorção de radiação UV);
(comprimento de onda de 280 a 400 nm). - Posição geográfica da localidade (a radiação
UV diminui com o aumento da distância em re-
lação ao Equador);
- Hora do dia (70 a 80% da quantidade de radia-
Nanômetro (nm) é a subunidade do metro, corres- ção UV chegam à Terra no verão entre 9h e 15h);
pondente a 1×10−9metro, ou seja, um milionésimo de - Estação do ano (maior no verão);
milímetro ou um bilionésimo do metro. Unidade de - Condições atmosféricas (presença de partícu-
comprimento do SI, comumente usada para medi- las em suspensão atenua a quantidade de ra-
ção de comprimentos de onda de luz visível, radia- diação UV);
ção ultravioleta, radiação infravermelha e radiação - Tipo de superfície (areia, neve, água, concre-
gama, entre outras coisas. to etc).
sociais e econômicas, cada dia mais dependentes de longo da vida de uma pessoa, existem mínimas possibi-
equipamentos eletrônicos, sensíveis aos extremos lidades (1/10.000) de que a Terra possa ser impactada
do tempo espacial. por um meteorito suficientemente grande para causar
uma mudança do clima que origine a perda de alimen-
A radiação espacial pode ter efeitos graves sobre o fun- tos e a extinção em massa de espécies animais. A pro-
cionamento dos satélites artificiais e indiretamente sobre babilidade de um meteorito maior de 1 m de diâmetro
o desenvolvimento de atividades da população. Algumas chegar à superfície da Terra é de 1 por ano.
radiações de partículas podem interagir com os circuitos
eletrônicos, causando uma grande variedade de efeitos
que podem até inutilizar um sistema vital. Tempestades
solares aumentam a tensão ou interrompem redes de Outros Dados e Informações:
energia elétrica, contribuem para a corrosão de oleodu-
tos e gasodutos, e interferem nas comunicações de rádio 1. NASA – NATIONAL AERONAUTICS AND SPA-
de alta frequência e no Sistema de Posicionamento Glo- CE ADMINISTRATION
bal (GPS) de navegação. Devido à crescente dependência http://www.nasa.gov/mission_pages/sune-
de sistemas de alta tecnologia, um evento de radiação arth/spaceweather
extrema pode potencialmente causar maiores prejuízos http://radbelts.gsfc.nasa.gov/.
econômicos do que outros eventos extremos. 2. OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE
Radiação Ultravioleta – Ultraviolet radia-
Diretamente na população, uma prolongada exposi- tion and the INTERSUN Programme http://
ção humana à radiação ultravioleta (UV) pode resultar www.who.int/uv/en/
em efeitos agudos e crônicos de saúde sobre a pele, os
olhos e o sistema imunológico. Queimaduras solares
correspondem ao efeito agudo mais conhecido cau-
sado pela excessiva exposição à radiação UV, mas a
longo prazo, a radiação UV induz alterações degenera- 1.2. PROCESSOS E AGENTES
tivas nas células da pele, tecido fibroso e vasos sanguí- GEOLÓGICOS
neos, levando ao envelhecimento prematuro da pele,
fotodermatoses e queratoses actínicas, à formação de As ameaças geológicas incluem os processos endó-
cataratas nos olhos e ao câncer de pele. genos (terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas),
assim como alguns processos exógenos (movimentos
Muitos países em desenvolvimento estão localizados de massa, deslizamentos de terra e rochas, queda ou
perto da linha da Equador e, portanto, as pessoas, avalanche de rochas, colapso de terrenos superficiais
particularmente pobres e crianças, estão expostas a e fluxos de lodo e detritos).
níveis muito elevados de radiação UV. Pessoas de pele
escura são igualmente vulneráveis. Mesmo que a inci-
dência de câncer de pele seja menor (maior quantidade
do pigmento protetor, a melanina), o câncer ocorre e é Processos Endógenos x Exógenos
frequentemente detectado nos estágios mais avança-
dos da doença. Dias nublados também oferecem peri- Processo Endógenos – processo geológico que se
go, principalmente para as pessoas de pele sensível, já realiza no interior da Terra. Os agentes geológicos en-
que partículas atmosféricas refletem parte da radiação dógenos referem-se à interação de forças internas da
que consegue atingir a superfície terrestre. Os impac- Terra, tais como: aquecimento provocado por radioa-
tos na população em regiões turísticas como praias e tividade; variações de pressão e temperatura provo-
pistas de esqui aumentam, considerando a capacidade cadas por reações e recristalizações minerais para
de reflexão da energia incidida. fases minerais mais ou menos densas com emissão
ou absorção de calor, o que leva a desequilíbrios den-
Quanto aos impactos ocasionados pela queda de cor- sitométricos e poderosas movimentações de massas
pos siderais, objetos maiores que 1m de diâmetro têm rochosas, magmas e fluidos no interior da Terra.
possibilidades de causar crateras de impacto significa- Processo Exógeno – processo geológico que se rea-
tivo, assim como atingir diretamente populações (feri- liza na ou junto à superfície terrestre. Os agentes
mentos e morte), e/ou destruir parcial ou totalmente geológicos exógenos referem-se à interação de for-
propriedades e infraestrutura próximas à zona de im- ças da natureza, envolvendo a atmosfera, hidros-
pacto. Os danos causados pelo impacto de um asteroi- fera e a superfície terrestre com forte atuação da
de ou cometa na Terra dependem basicamente do ta- energia emitida pelo Sol e pela força da gravidade.
manho do asteroide, dos materiais que o compõem e da
sua velocidade durante o impacto. Dada a prevalência Fonte: CPRM Glossário – http://sigep.cprm.gov.br/
de crateras de impacto e a massa dos materiais que glossario/verbete/exogeno.htm.
entram na atmosfera anualmente, calcula-se que, ao
| 39
Ainda que menos frequentes do que outro tipo de tem movimentação ou deslocamento de massas rocho-
ameaças na escala global, o crescimento rápido da po- sas, construindo ou reorganizando a estrutura terres-
pulação e a urbanização acelerada podem aumentar a tre devido a tensões na crosta terrestre.
exposição a elas. Mais do que outros eventos, os terre-
motos e a atividade vulcânica desencadeiam ameaças A camada mais superficial da Terra é formada por imen-
secundárias ou terciárias (EIRD, 2004). sas placas tectônicas, que se movimentam de forma len-
ta e contínua. Há ocasiões em que as placas se obstruem,
sem poder se deslocar nem liberar a energia acumula-
1.2.1. Terremotos da na sua movimentação. Quando a energia acumulada
cresce suficientemente, as placas conseguem movimen-
Definição tar-se, liberando grande quantidade de energia.
Os Terremotos são classificados em Tremores de Terra As bordas das placas, onde geralmente ocorrem ativi-
ou Maremotos, de acordo com o local de origem dos dades sísmicas, são classificadas, de acordo com o tipo
movimentos de terra ou abalos sísmicos. de esforço, como (Figura 21):
Os Tremores de Terra são movimentos rápidos e repen- a. Divergentes: limites com esforços de tectônica
tinos que provocam oscilações verticais e horizontais extensional, onde ocorre afastamento crustal
na superfície da Terra, originados pela liberação súbi- e a formação de crosta oceânica;
ta de energia. É um dos fenômenos da natureza mais b. Transformantes: limites com esforços de tectô-
aterradores e destrutivos pela sua intensidade e con- nica transformante com deslocamentos dire-
sequências devastadoras. cionais, onde ocorre a formação de nova crosta
oceânica;
Os Maremotos ou Tsunamis, geralmente, são gerados c. Convergentes: limites com esforços de tectô-
por abalos sísmicos próximos à linha de costa. A pro- nica compressional (a) com uma placa mergu-
pagação de ondas sísmicas através dos oceanos gera lhando sob a outra mais leve ao longo de plano
o desplazamento repentino de massa de água e uma de subdução em ambiente oceânico; (b) com
série de grandes ondas marinhas. A altura das ondas uma placa oceânica mergulhando ao longo de
próximas ou na costa varia segundo a localização (en- plano de subdução sob a outra mais leve de
tre 5 a 30 m), influenciada pela profundidade da água, borda continental; ou (c) com duas placas con-
o perfil do fundo marinho e a forma da linha da costa. tinentais sendo comprimidas.
Os maremotos também podem ser originados em erup-
ções vulcânicas, movimentos gravitacionais costeiros Abalos sísmicos locais ou de origem secundária podem
e submarinos, e atividades humanas como explosões ser também provocados por, entre outras causas, des-
decorrentes de testes nucleares. lizamento de solo, colapso de cavernas e outras causas
de subsidência abrupta do solo. Os sismos induzidos
Caracterização pela ação do Homem associam-se principalmente com
a acomodação de camadas de solos e rochas provoca-
Os terremotos estão relacionados com o tectonismo, das pela construção de barragens e represamento de
e secundariamente associados a erupções vulcânicas. água; a injeção de água através de poços profundos e
Tectonismo é qualquer processo geológico em que se as explosões induzidas na mineração.
ATENOSFERA
ATENOSFERA
MOVIMENTO TRANSFORMANTE
MOVIMENTO DIVERGENTE
PLACA PLACA
ATENOSFERA
MOVIMENTO CONVERGENTE
CATEGORIA DESCRIÇÃO
I Não sentido.
II Sentido por pessoas em repouso ou em andares superiores.
III Objetos pendurados são balançados levemente.
Vibração semelhante à originada pela passagem de caminhões pesados.
IV
Janelas e louças chacoalham. Carros parados são balançados.
Sentido fora de casa. As pessoas são acordadas. Objetos pequenos e quadros
V
são tombados e movimentados.
Sentido por todos. Deslocamento de mobília. Danos provocados por louça e
VI
vidros quebrados, e queda de mercadorias. Reboco apresenta rachaduras.
Percebido por motoristas. Dificuldade das pessoas em manter-se em pé.
Sinos tocam sem ajuda. Danos provocados pela quebra de chaminés e
VII
ornamentos arquitetônicos, queda e rachaduras de reboco, quebra de
mobília. Casas de adobe tombadas.
Pessoas dirigindo automóveis são perturbadas. Galhos e troncos quebrados.
Rachaduras em solo molhado. Destruição de torres d’ água elevadas,
VIII
monumentos, casas de adobe. Danos severos a moderados em estruturas de
tijolo, casas de madeira, obras de irrigação e diques.
Solo visivelmente rachado. Desabamentos. Destruição: alvenaria de
tijolo não armado. Danos severos a moderados: estruturas inadequadas
de concreto armado, tubulações subterrâneas. Desabamentos e solos
IX
rachados muito espalhados. Destruição: pontes, túneis, algumas estruturas
de concreto armado. Danos severos a moderados: maioria das alvenarias,
barragens, estradas de ferro.
Algumas estruturas de madeira bem construídas são destruídas; a maior
X parte das construções tradicionais e das estruturas ordinárias é destruída; os
deslizamentos são comuns.
XI Distúrbios permanentes no solo.
XII Danos quase totais.
Fonte: BRASIL. Manual de Desastres Humanos: Parte I - De Natureza Tecnológica. Brasília:
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2003. Disponível em: http://www.mi.gov.br/c/docu-
ment_library/get_file?uuid=879047d7-789e-4a7c-ae24-a81beb48aecc&groupId=10157.
| 41
tectônica “sul-americana”32, não é muito alta compa- Figura 23. PROPORÇÃO DE SISMOS ORIGINADOS NO BRASIL,
rada com outros países e regiões (Figura 22). POR ESTADO, ENTRE 2008 E 2012.
0
00
,0
,0
,0
,0
registrado o total de 696 sismos distribuídos na maio-
10
20
30
40
0,
ria dos estados do Brasil. No entanto, a maior ocorrên- AC
AM
As maiores intensidades destes sismos, entre 6 e 7 na BA
ES
GO
MG
acontecem na zona andina de América do Sul, par- ESTADOS PA
usp.br/siae98/sismologia/sismologia.htm) em de- PR
PI
placa Sul-Americana. RJ
RN
RS
32
Esta placa tem uma área de aproximadamente 32 milhões de qui- RO
lômetros quadrados e compreende:
- toda a América do Sul e parte RR
PLACA
NORTE-AMERICANA
PLACA NORTE-AMERICANA
PLACA EUROASIÁTICA
PLACA
JUAN
DE FUCA
Apesar dos numerosos eventos de sismicidade no Bra- os equipamentos, os serviços básicos e o mobiliário.
sil, Segundo registros referentes a reconhecimentos de Importa destacar que, muitas vezes, os serviços de saú-
situações de emergência e estados de calamidade pú- de, pela perda de função, se interrompem justamente
blica no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov. quando há maior demanda por parte da população.
br/), os desastres originados em fenômenos de tremor Escassez de alimentos pode haver, devido a dificulda-
de terra concentram-se no Estado de Minas Gerais. des no acesso às regiões afetadas, danos nas áreas de
armazenagem, assim como perda de produtos agrope-
Impactos cuários, em caso de tsunamis. Segundo a magnitude do
evento, a população afetada tende a permanecer perto
Uma variedade de impactos está associada aos terre- de suas casas ou pertences, contudo grande número
motos, sendo mais fortes nas áreas localizadas pró- de pessoas é desabrigado temporariamente.
ximas ao epicentro. As réplicas são, em geral, menos
violentas que o tremor principal, mas podem ser sufi-
cientemente fortes para provocar danos nas estruturas
já debilitadas. Outros Dados e Informações:
33
CPRM Glossário – http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/magma.htm
| 43
O caráter de uma erupção (rápido ou prolongado; vio- • Fluxos piroclásticos: Nuvens de cinzas silicosas e
lento ou pouco intenso; súbito ou de evolução gradual), gases superaquecidos, formando um aerossol den-
variável no espaço e no tempo, depende essencialmen- so e incandescente, que tendem a se deslocar late-
te das características físicas do magma (temperatura, ralmente e relevo abaixo a grande velocidade como
viscosidade), da sua composição química, das tensões um derrame. A solidificação deste material resulta
internas provocadas pelo acúmulo dos gases, e do es- em rochas ignimbríticas. Os fragmentos piroclásti-
tado de obstrução ou de permeabilidade das áreas de cos são classificados, pelo tamanho, em cinzas (<2
extravasamento (chaminés, fissuras). mm de diâmetro), lapili (até 64 mm de diâmetro) e
bombas ou blocos (> 64 mm de diâmetro).
Estas características implicam na emissão de mate- • Chuva de cinzas, que podem alcançar vários qui-
riais sólidos; líquidos (lavas em fusão) e gasosos (ga- lômetros ao redor: as cinzas se acumulam em es-
ses meteoríticos e rejuvenescidos). Os materiais sóli- pessas camadas nos solos e tetos de construções.
dos podem ser classificados, entre outros, como:
Ocorrência
• Fluxos de lava: Material lávico que se desliza
pelas vertentes do vulcão percorrendo distân- O Brasil não possui nenhum vulcão ativo, mesmo em
cias variáveis, com grande poder de destruição tempos geologicamente recentes. O vulcanismo mais
(temperatura muito alta). Por vezes os fluxos recente, há mais de 80 milhões de anos, foi o responsá-
ocupam os vales formados pelas drenagens vel pela formação de diversas ilhas do Atlântico brasi-
fluviais. As lavas básicas, por terem menos silí- leiro, como Fernando de Noronha, Trindade e Abrolhos.
cio, são mais fluidas e, normalmente, provocam Não entanto, as cinzas de silício de erupções de vulcões
erupções efusivas. As ácidas, com fortes con- na cordilheira dos Andes (entre Chile e Argentina), pro-
centrações de silício, são menos fluidas, me- jetadas a grandes alturas, podem ser transportadas a
lhores condutoras de calor e tendem a provocar milhares de quilômetros pelas correntes aéreas, e pro-
erupções explosivas. vocaram deposições no Rio Grande do Sul.
Fonte G1 (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noti-
cia/2015/04/cinzas-chegam-porto-alegre-e-voos-sao-can-
celados-no-salgado-filho.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
• Quedas, Tombamentos, e Rolamentos; vos que desestabilizam a base sobre a qual o matacão
• Deslizamentos/Escorregamentos; se assenta. O fenômeno pode ser acelerado ou desen-
• Fluxo de Detritos e Lama; cadeado pela perda de sustentação dos blocos por
• Subsidência e Colapsos. ação erosiva da água, sismicidade ou ações antrópicas
(detonações ou escavações em função de ocupação
Destaca-se que os movimentos gravitacionais de mas- desordenada das encostas, ou a existência de blocos
sa podem ocorrer de forma isolada no tempo e no es- instáveis remanescentes de processos de exploração
paço, ou generalizada, simultaneamente com outros de pedreiras) (Figura 25).
movimentos (blocos tombados associados à saltação,
rolamento e fragmentação; escorregamentos seme- Os Deslizamentos ou Escorregamentos são movimen-
lhantes ocorrendo episodicamente, ou dando lugar à tos de massa, lentos a moderadamente rápidos, de
ocorrência de outros movimentos de massa com outras solo, bloco rochosos e rocha, sob a ação da gravida-
características, quando associados com maior quanti- de, que ocorrem ao longo de encostas em superfícies
dade de água). de ruptura, nitidamente definida por limites laterais e
profundos. Os fatores naturais considerados para que
As Quedas são movimentos rápidos (>10s m/s) em ocorram escorregamentos são:
queda livre de fragmentos rochosos diversos e de vo-
lumes variáveis (Lascas, Lajes) que se desprendem de (i) o tipo de material, sua constituição, granulo-
penhascos e taludes íngremes, quase verticais, pela metria e nível de coesão;
ação da gravidade e com ausência de superfície de mo- (ii) a declividade da encosta, cujo grau define o
vimentação ou plano de deslocamento. ângulo de repouso (aonde a força gravitacional
vence o atrito interno das partículas, respon-
Os Tombamentos de blocos, semelhantes às Quedas, sável pela estabilidade na encosta) e a veloci-
são movimento de massa rápidos fundamentados na dade do movimento;
ação da gravidade, em que ocorre a rotação de um blo- (iii) a água de embebição, que contribui para au-
co de rocha em torno de um ponto ou abaixo do centro mentar o peso específico das camadas, reduzir
de gravidade da massa desprendida. o nível de coesão e o atrito entre as partículas do
solo, e lubrificar as superfícies de deslizamento.
As Quedas e os Tombamentos são favorecidos por fra-
turas de sentido transversal ou vertical paralelo ao Neste sentido, os escorregamentos em geral ocorrem
plano do talude e pelo desenvolvimento de mecanis- durante ou logo após períodos de chuvas intensas.
mos de pressão, através do acúmulo de água e vegeta-
ção nas gretas (Figura 25 e Figura 26). O deslizamento “translacional”, o mais frequente entre
todos os tipos de movimentos de massa, ocorre em uma
Os Rolamentos são movimentos de massa, lentos e/ou superfície relativamente plana e associada a solos ou
rápidos, de matacões encosta abaixo provocados pela manto raso de rochas alteradas. As superfícies de rup-
perda de apoio, principalmente por fenômenos erosi- tura estão associadas às heterogeneidades ou planos
de fraqueza dos solos (horizontes) e rochas (estratifica-
ção, xistosidade, gnaissificação, acamamento, falhas,
juntas de alívio de tensões e outras) que representam
LASCAS – são fatias delgadas formadas pelos frag- descontinuidades mecânicas e/ou hidrológicas. Ocor-
mentos de rochas. rem em encostas tanto de alta como de baixa declivida-
LAJES – são fragmentos de rochas extensas de su- de e podem atingir centenas ou até milhares de metros.
perfície mais ou menos plana e de pouca espessura.
O deslizamento “rotacional” ocorre quando a superfí-
cie de ruptura é curvada no sentido superior (em for-
ma de colher) com movimento rotatório em materiais
Figura 25. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA – superficiais homogêneos34. Os deslizamentos apresen-
QUEDA, TOMBAMENTO E ROLAMENTO. tam velocidade elevada e grande poder de destruição
(Figura 27 e Figura 28).
QUEDA TOMBAMENTO ROLAMENTO
Figura 27. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA – solo, à deformação de material argiloso, ou ao colapso
DESLIZAMENTOS ROTACIONAL E TRANSLACIONAL. dos tetos de cavidades. A subsidência e o colapso podem
ser fenômenos localizados ou de extensão regional.
DESLIZAMENTO TRANSLACIONAL DESLIZAMENTO ROTACIONAL
Os colapsos de solos são recalques repentinos e de gran- Fonte: Portal G1 Notícias – Bahia (http://g1.globo.com/bahia/noticia/).
des proporções que ocorrem em solos denominados “co-
lapsíveis” submetidos a um determinado tipo de carre-
gamento e umedecidos e/ou saturados por infiltração de
água de chuva, vazamentos em rede de água e de esgoto, Índice de Resistência à Penetração
ou ascensão do lençol freático. Os solos colapsíveis, com
baixo Índice de Resistência à Penetração, são represen- O Índice de Resistência à Penetração Dinâmica é
tados por alúvios, colúvios e solos residuais submetidos extremamente útil na previsão de comportamen-
à intensa lixiviação, que produz estruturas porosas. to de solo, quando da solicitação por obras de en-
genharia civil. Corresponde ao número de golpes
A subsidência e o colapso em terrenos cársticos são necessário à cravação de um amostrador em 300
também afundamentos da superfície devido à remoção mm, após a cravação inicial de 150 mm através de
do suporte, causado em áreas cársticas pela dissolução impacto de um peso de 650N, com queda “livre” de
subterrânea ou colapso do teto de cavernas36 (Figura 30). 750 mm (norma NBR6484 da Associação Brasileira
de Normas Técnicas).
O carste é um terreno com hidrologia e formas de rele-
vo distintas e surge da combinação da alta solubilida-
de de certas rochas, como as carbonáticas (calcários,
dolomitas, mármores, sais minerais, gesso), e o grande relevo. O processo de dissolução da rocha ocorre, prin-
desenvolvimento de porosidade na forma de condu- cipalmente, devido à presença de ácido carbônico na
tos ou de zonas de debilidade entre e dentro das ro- água das chuvas e na água que atravessa os solos.
chas (contatos entre rochas, fraturas, falhas, planos
entre camadas de rochas sedimentares). A formação O carste pode ocorrer exposto, quando as rochas en-
do carste depende também de água e de desnível do contram-se aflorando na superfície e as feições cárs-
ticas são mais evidentes, assim como abaixo de rochas
36
EPA (2002). de baixa solubilidade, solos ou depósitos superficiais.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 29. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA Figura 30. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA
– FLUXO DE DETRITOS. – SUBSIDÊNCIA E COLAPSO.
Neste último caso, a ocorrência de desastres associa- No entanto, movimentos, particularmente deslizamen-
dos a subsidências e colapsos pode ser até maior, já que tos, vêm ocorrendo com frequência em encostas de áreas
o processo de carstificação pode ocorrer sem o conhe- urbanas, desmatadas ou usadas em decorrência de uma
cimento da própria existência de rochas carbonáticas a expansão desordenada da ocupação de áreas susceptí-
grandes profundidades. veis, principalmente pela população mais carente37.
O carste distingue-se por algumas feições caracte- A Serra do Mar, os Estados de Santa Catarina, Para-
rísticas, dentre elas as dolinas (depressões) e su- ná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito
midouros a céu aberto que ocorrem na superfície; Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba
condutos e cavernas, em subsuperfície e drenagem são os mais afetados pelos movimentos gravitacionais
superficial interrompida. de massa, que transportam principalmente materiais
alterados e terrosos, mas envolvem também blocos ro-
A subsidência em terrenos cársticos pode ocorrer de chosos mais ou menos alterados.
forma gradual ou de forma brusca e repentina. As doli-
nas de colapso são mais abruptas, enquanto as de sub- Segundo registros referentes a reconhecimentos de
sidência tendem a ser mais suaves. As dolinas decor- situações de emergência e estados de calamidade pú-
rem do abatimento do teto de cavernas. blica no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov.
br/), os desastres originados em fenômenos de desli-
As condições e mecanismos de subsidência e colapso de zamento de solo e rocha, queda e tombamento de ma-
solos resultam de processos naturais. No entanto, pro- tacões e fluxo de detritos ocorrem em quase todo o
cessos de subsidência e colapso podem também estar território nacional, mas concentram-se nos Estados de
vinculados a uma exploração intensa dos recursos mine- Minas Gerais (34,8% das ocorrências), Rio de Janeiro
rários do subsolo (desmonte de rochas com a utilização (29,3%) e São Paulo (11,9%) (Figura 31).
de explosivos; remoção de material sólido subterrâneo),
assim como a extração de fluidos subterrâneos (óleo, Os solos colapsíveis encontram-se em diversas por-
gás natural, vapores e águas termais). Uma das mais ções do território brasileiro, particularmente nas
importantes formas de exacerbação ou aceleração pela regiões tropicais, principalmente em locais onde se
ação humana dos processos de subsidência e colapso no alternam estações de seca e de precipitações inten-
Brasil está associada à alteração no nível d’água subter- sas38. Os terrenos cársticos se desenvolvem melhor em
rânea. O rebaixamento do nível d’água (bombeamento regiões úmidas temperadas ou tropicais, onde exista
em poços ou nascentes para utilização da água ou para um subsolo espesso e espacialmente bem expandido
realizar atividades que envolvam escavação) ocasiona a de rochas solúveis. A subsidência e colapso ocorrem
diminuição da sustentação, a elevação do nível d’água, em todas as áreas cársticas no Brasil (Figura 32), porém
como no caso de reservatórios e barragens, e altera os existem poucos registros de impacto sobre as pessoas,
regimes de fluxo da água subterrânea. edificações e atividades socioeconômicas (Quadro 4).
Ocorrência Impactos
O Brasil é considerado muito susceptível aos movimen- Os impactos diretos dos movimentos gravitacionais
tos de massa. Considerando que o principal condicionan- em termos de perdas de vida, traumatismos, proble-
te é a gravidade, não existe área imune a movimentos de mas respiratórios e danos a propriedades estão muito
massa, podendo ocorrer em áreas rurais ou em áreas
urbanas densamente ocupadas, particularmente as- 37
ROSA FILHO (2012) e ROSS (2001).
sociadas a épocas de chuvas intensas e c oncentradas. 38
VILAR et al. (1981).
| 49
40,00
35,00
30,00
25,00
% do TOTAL
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Quadro 4. HISTÓRICO DE OCORRÊNCIAS DE AFUNDAMENTOS hospitais e centros de saúde, estação de energia e li-
EM ÁREAS CÁRSTICAS NO BRASIL. nhas de comunicação e transporte) situados na traje-
tória do movimento, os quais podem ficar destruídos
Ano Local Estado ou danificados gravemente. Outros efeitos indiretos
incluem a perda de valor das propriedades, a perda de
1981 Mairinque cultivos e de gado.
São Paulo
1986 Cajamar
As mudanças na superfície terrestre podem afetar a
1988 Sete Lagoas Minas Gerais
vida das pessoas e ocasionar situações de risco nestas
1992 Almirante Tamandaré Paraná áreas. A subsidência e o colapso lentos e graduais po-
1999 Teresina Piauí dem produzir o deslocamento vertical descendente de
elementos de fundação, particularmente das rasas, de
Almirante Tamandaré edificações e residências. Dependendo da magnitude
2007 Paraná
Bocaiuva do Sul do rebaixamento e das características da edificação,
ocasionam-se apreciáveis trincas e fissuras nas alve-
Fonte: SANTOS, 2008.
narias das construções, que podem causar sérios da-
nos e comprometimento estrutural nas edificações e
sua posterior interdição. Indiretamente impactam os
associados ao tipo de movimento gravitacional, mas moradores e usuários destas edificações, e também
quase todos são muito grandes e devastadores. Os es- algumas edificações vizinhas a elas. A interdição tem-
corregamentos são os responsáveis por maior núme- porária ou permanente das edificações provoca trans-
ro de vítimas fatais no Brasil, sendo que entre 1998 tornos sociais (saída temporária da residência) e eco-
e 2008, o IPT registrou 1.776 óbitos39. Destaca-se que nômicos (as reparações de alto valor econômico por
existe uma tendência de redução destes valores (Fi- vezes são incompatíveis com a capacidade financeira
gura 33). Pessoas, infraestruturas, propriedades, mo- dos indivíduos que sofreram os danos). Infraestruturas
biliários e atividades socioeconômicas que se encon- subterrâneas (dutos) também podem ser afetadas.
tram na zona de passo ou de influência são afetados.
A população afetada pode ser realocada, inclusive de Em caso de subsidência e colapso em terrenos cársti-
forma definitiva. cos, os impactos são semelhantes, mas a velocidade
dos acontecimentos pode mudar – ruas e casas des-
Os impactos indiretos acontecem nos sistemas essen- truídas total ou parcialmente, aumento da susceptibi-
ciais para a sobrevivência (abastecimento de água, lidade a alagamento na época de chuvas.
39
IPT (2009).
Figura 33. DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE MORTES POR ESCORREGAMENTO NO BRASIL ENTRE 1988 E 2008.
300
250
200
NÚMERO
150
100
50
0
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
ANOS
Definição
A Erosão Costeira Marinha é o processo de modelado Entre as causas antrópicas de erosão costeira que con-
destrutivo do relevo costeiro resultado da ação de ero- tribuem para alterar o equilíbrio dinâmico natural lo-
são, transporte e deposição de sedimentos pelas águas cal identificam-se: a urbanização da orla (destruição
do mar. Denomina-se “erosão praial” quando se refere de dunas, ocupação da pós-praia), implantação inade-
somente às praias, ou “erosão costeira”, quando tam- quada de estruturas para contenção/mitigação de pro-
bém atinge promontórios, costões rochosos falésias e cessos erosivos, armadilhas de sedimentos associadas
depósitos sedimentares antigos, bem como estruturas à implantação de estruturas artificiais, retirada de
construídas pelo Homem. areia de praia e de rios, desassoreamento de desem-
bocaduras e dragagens em canais de maré, urbaniza-
Os mecanismos de erosão associam-se à ação hídri- ção da planície costeira que impermeabiliza terrenos e
ca (provoca a desagregação das rochas); corrosiva muda o padrão de drenagem costeira.
(desgasta o relevo litorâneo através do atrito de frag-
mentos de rochas e de areia em suspensão); abrasi- Ocorrência
va (desgasta os fragmentos de rochas em suspensão
através do atrito dos mesmos contra as formações A erosão em uma praia se torna problemática quando
litorâneas); e corrosiva (dilui os sais solúveis resul- passa a ser um processo severo e permanente, ao longo
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
de toda essa praia ou em trechos dela, ameaçando áreas gov.br/), os desastres originados em fenômenos de
de interesse ecológico e socioeconômico40 (Figura 34). erosão marinha costeira ocorrem em quase todos os
estados litorâneos do Brasil, mas concentram-se nos
No Brasil, ao longo de todo o litoral, há predomínio de Estados de Pernambuco (38,3% das ocorrências), Espí-
processos erosivos sobre os de acreção e equilíbrio, e rito Santo (16,6%) e Alagoas (16,6%) (Figura 35).
em consequência inúmeras praias já apresentam pro-
cesso erosivo bastante severo, requerendo medidas Impactos
emergenciais de contenção e/ou recuperação41. No en-
tanto, segundo registros referentes a reconhecimentos Os impactos diretos associados à erosão costeira ou
de situações de emergência e estados de calamidade praial são a perda de ecossistemas (erosão de planícies
pública no Brasil, entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi. de marés e manguezais), modificações no relevo (redução
na largura da praia, recuo da linha de costa; desapareci-
40
SOUZA et al. (2005). mento da zona de pós-praia) e a destruição total ou par-
41
SOUZA (2009). cial de residências, edificações, e infraestruturas. Podem
Figura 34. VISTA DOS IMPACTOS NO CALÇADÃO DE MATINHOS (PARANÁ) EM DECORRÊNCIA DO AVANÇO DA EROSÃO COSTEIRA.
Figura 35. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO MARINHO-COSTEIRA, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
40,00
30,00
% do TOTAL
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
O desbarrancamento dos rios pode ocorrer principal- mentando o peso a ser suportado pelos bancos sedi-
mente pelo alargamento do vale do rio, em sentido mentares) e à intensificação das ondas pela navega-
lateral. Segmentos de canais fluviais retos são ra- ção de grande porte.
ros. A velocidade do fluxo da água não é uniforme em
todas as partes, sendo menor no fundo e nas laterais Ocorrência
do canal devido à maior resistência friccional do fluxo
e maior velocidade na superfície próxima do meio do Segundo registros referentes a reconhecimentos de
canal. A maioria dos cursos dos rios tende a se tornar situações de emergência e estados de calamidade
sinuoso, particularmente em condições de sedimen- pública no Brasil entre 2005 e 2015, os desastres ori-
tos finos e declividade suave. Nos canais sinuosos ou ginados em fenômenos de erosão fluvial ocorrem em
meandrantes, a zona de maior velocidade se movimen- quase todo o Brasil, mas concentram-se nos Estados
ta e se concentra na margem externa ou côncava, pro- do Amazonas (63,8% das ocorrências) e Pará (19,1%)
vocando correntes de retorno ou de fundo, em direção (Figura 38).
à margem interna ou convexa. O turbilhonamento da
água em forma de hélice provoca o máximo de erosão
(deslizamentos, escorregamentos, erosão na base do Figura 37. MEANDRO FLUVIAL (MAPA E SEÇÃO TRANSVERSAL),
banco íngreme de sedimentos) no lado externo da cur- INDICANDO ZONAS DE EROSÃO E DEPOSIÇÃO.
va, e sedimentação e depósito no lado interno da mes-
ma (Figura 37). MAPA Maior velocidade
do fluxo
Figura 38. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA(ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO FLUVIAL, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
70,00
60,00
50,00
% do TOTAL
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
de processos de remoção de partículas do interior do Figura 40. MAPA MUNDIAL DE VULNERABILIDADE DOS SOLOS À
solo pela água, formando canais que aumentam em EROSÃO LAMINAR E LINEAR PELA ÁGUA.
sentido contrário ao do fluxo d’água, provocando co-
lapsos do terreno, com desabamentos que alargam a
boçoroca ou criam novos ramos; e a presença de estru-
turas tectônicas ou linhas preferenciais de debilidade
do terreno, que facilitam a concentração da água.
Ocorrência
Figura 41. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO CONTINENTAL LAMINAR E LINEAR E BOÇOROCAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
35,00
30,00
25,00
% do TOTAL
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Impactos
Outros Dados e Informações:
A erosão laminar nas áreas rurais é um dos mais impor-
tantes desastres de evolução gradual que ocorre no país. 1. EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PES-
Esta forma de erosão é responsável por grandes prejuí- QUISAS AGROPECUÁRIAS
zos às terras para pastagem e agricultura (perda de nu- Solos
trientes) e pelo fornecimento de grande quantidade de https://www.embrapa.br/solos
sedimentos que assoreiam rios, lagos e represas. O as- 2. MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
soreamento altera as condições hidráulicas dos corpos Gerenciamento Costeiro no Brasil
d’água, provocando enchentes, diminuição da capacida- http://www.mma.gov.br/gestao-territorial/
de de armazenamento, destruição de ecossistemas de- gerenciamento-costeiro
vido ao carregamento de poluentes químicos e prejuízos
para o abastecimento de água e a produção de energia.
Figura 42. INUNDAÇÃO DO RIO MADEIRA NA ALTURA DA BR-364 ENTRE OS ESTADOS DO ACRE E RONDÔNIA EM 2014.
O restante da água flui superficialmente, podendo se presença de camadas duras/consolidadas no solo) e bió-
concentrar em canais. ticos (quantidade e tipo de cobertura vegetal, que auxi-
lia na retenção de água no solo e diminui a velocidade do
O nível da água que flui superficial, gradual, e previsi- escoamento superficial). As características morfomé-
velmente para os canais é diferente se for comparada a tricas e morfológicas da bacia de drenagem influenciam
uma precipitação normal, a uma enchente (ou cheia) e a velocidade no processo de inundação (vales abertos,
a uma inundação. Em uma precipitação normal, a onda bacias não circulares e gradientes de baixa declivida-
de cheia nos rios desenvolve-se de montante para ju- de predispõem a inundações graduais). A ocorrência de
sante, guardando intervalos regulares. Nas enchentes marés altas juntamente com grandes precipitações é o
ou cheias, o nível d’água atinge a cota máxima, po- principal indutor de processos de inundação.
rém sem extravasar. Já nas inundações, o nível d’água
transborda e invade os terrenos adjacentes, a planície No entanto, em suas características naturais, a maioria
de inundação ou área de várzea, podendo provocar da- das inundações é causada ou exacerbada pelo Homem
nos. Esta situação se mantém durante algum tempo e, devido ao uso e ocupação irregular das planícies e mar-
a seguir, as águas escoam gradualmente para seu nível gens de cursos d’água, ao desmatamento da mata ciliar, à
original45 (Figura 43). Normalmente as inundações são disposição irregular de lixo nas proximidades dos cursos
cíclicas e nitidamente sazonais. d’água e à impermeabilização dos solos pelas edificações
e estradas (Figura 44), assim como pelo intenso processo
A probabilidade e a ocorrência de inundação e enchen- de erosão dos solos e de assoreamento dos cursos d’água.
te são analisadas pela combinação entre os condicio-
nantes naturais e antrópicos. Entre os condicionantes Ocorrência
naturais, pode-se considerar a extensão das planícies
inundadas, que é função da largura do próprio rio. O Brasil é classificado como um dos países do mundo
mais afetados pelas ameaças originadas em fenômenos
As inundações são classificadas em função da sua mag- associados a processos e agentes hidrológicos46. No en-
nitude em excepcionais, grandes, normais, e pequenas. tanto, estes processos não são todos iguais (Figura 45).
A magnitude e frequência das inundações ocorrem em Segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
função da intensidade, da quantidade e da distribuição tuações de emergência e estados de calamidade públi-
das chuvas, das condições de infiltração de água no ca no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www.mi.gov.br/
solo, e das características morfométricas e morfológi- web/guest/reconhecimentos-realizados), os desastres
cas da bacia de drenagem. A capacidade de infiltração é originados em fenômenos de inundação, enchentes e
influenciada por fatores físicos (permeabilidade e poro-
sidade dos solos e rochas, saturação do lençol freático;
46
Water Resource Institute – http://www.wri.org/blog/2015/03/
world%E2%80%99s-15-countries-most-people-exposed-river-
45
MINISTÉRIO DAS CIDADES/IPT (2007). -floods
INUNDAÇÃO
ENCHENTE
SITUAÇÃO NORMAL
Figura 45. PAÍSES QUE RESPONDEM POR 80% DA POPULAÇÃO MUNDIAL EXPOSTA AOS RISCOS
DE INUNDAÇÕES, UTILIZANDO DADOS DE POPULAÇÃO DE 2010.
6
MILHÕES DE PESSOAS
5
4
3
2
1
0
a
sh
ar
ria
il
ia
go
ja
qu
di
in
tã
si
tã
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Pa
om
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Ba
Af
p.D
Re
PAÍSES
inundações litorâneas ocorrem em quase todo o Bra- cais e afetar uma comunidade, ou muito grandes e ter
sil, mas concentram-se nos Estados de Minas Gerais consequências na extensão inteira de uma bacia.
(12,5% das ocorrências), Amazonas (11,7%), Santa
Catarina (11,5%) e Rio Grande do Sul (11%) (Figura 46). Os impactos diretos afetam as populações, proprieda-
des e infraestruturas, destacando-se a perda de vidas
Impactos por afogamento e lesões, danos estruturais em edifi-
cações, destruição de infraestruturas e sistemas ou
Os impactos decorrentes de inundações dependem da redes vitais, avarias a mobiliários, documentos e arte-
magnitude e da extensão das mesmas, podendo ser lo- fatos eletroeletrônicos, perda de lavouras e de animais
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 46. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM INUNDAÇÕES, INUNDAÇÕES LITORÂNEAS E ENCHENTES, POR ESTADO ENTRE, 2005 E 2015.
14,00
12,00
10,00
% do TOTAL
8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
AC AP BA DF GO MT MG PB PE RJ RS RR SP TO
ESTADOS
No que tange aos impactos diretos sobre a saúde, des- 1.3.2. Enxurradas
taca-se que as inundações geralmente acarretam em
pequeno número de mortos, mas em um grande núme- Definição
ro de enfermos devido à falta e ao mau manejo de água
potável, destacando-se as enfermidades relacionadas A Enxurrada ou Inundação brusca é o escoamento su-
a problemas dermatológicos, infecções respiratórias e perficial concentrado e com alta energia de transporte,
transmitidas por vetores hídricos (leptospirose, febre que pode estar ou não associado ao domínio fluvial (do
tifoide, hepatite, cólera), muitas das quais não se apre- rio). Caracterizada pela elevação súbita e repentina (que
sentam imediatamente. Em certos casos, são também ocorre dentro de poucos minutos ou horas) das vazões
verificadas lesões por mordeduras de serpentes. de determinada drenagem e transbordamento brusco
da calha fluvial. Em alguns casos, a maior concentração
Os impactos indiretos relacionam-se a prejuízos ma- de sedimentos nos fluxos de enxurradas pode causar a
teriais, econômicos e sociais, tais como: a destruição ocorrência de fluxo de detritos47 (Figura 47).
de terras agricultáveis; enfermidades decorrentes de
poluição e de vetores hídricos; ferimentos por choques Caracterização
elétricos relacionados à queda de fios, postes e linhas
de transmissão; fadiga, estresse, depressão; desconti- Provocadas por chuvas intensas e concentradas, nor-
nuidade do serviço de transportes; interrupção de ati- malmente em pequenas bacias de relevo acidentado,
vidades sociais, econômicas e culturais; problemas na as enxurradas acontecem subitamente e podem durar
disponibilidade e distribuição de água potável; danos minutos ou horas, dependendo da intensidade e da du-
às reservas de alimentos estocados em silos; prejuízo ração da chuva, da inclinação do terreno, das condi-
no desenvolvimento das ações de saneamento básico ções de permeabilidade e saturação de água dos solos,
(disposição de águas servidas e coleta de resíduos, e do grau de cobertura vegetal.
redução da oferta de alimentos, perda de emprego e
migração de trabalhadores, mudanças na alocação de As causas da ocorrência de enxurradas ou a sua magni-
recursos governamentais). No que tange aos impactos tude podem estar associadas com alguns condicionan-
indiretos relacionados à saúde, muitos estabelecimen- tes antrópicos, que impedem ou dificultam a infiltração,
tos de saúde podem chegar a ficar inutilizados por da- facilitam a concentração do fluxo em pouco tempo e/ou
nos totais e/ou parciais na estrutura das edificações aumentam a velocidade do escoamento superficial nas
ou sobre a estrutura da equipe médica. São também áreas urbanas (uso e ocupação irregular, subdimensio-
acarretados problemas na alimentação destes esta- namento do sistema de drenagem, impermeabilização
belecimentos de saúde devido ao comprometimento dos solos e alteração da dinâmica da vazão dos cursos
do armazenamento, da produção, do transporte e da de água através de retificações e canalizações).
distribuição, assim como pela redução nas condições
de vida dos animais de pastoreio. Elevados problemas 47
AMARAL e RIBEIRO (2009).
| 61
O rompimento (deficiências na construção) e/ ou dos por vários quilômetros. As enxurradas podem oca-
transbordamento (provocado por eventos climáticos sionar mortes e feridos, destruir total ou parcialmente
extremos) de barragens construídas são outras das propriedades, veículos e infraestrutura (pontes, estra-
principais fontes de água que podem originar inunda- das). Nas áreas rurais, podem ocasionar perdas de la-
ções catastróficas48. vouras e de animais. As enxurradas também “lavam” as
superfícies das ruas, conduzindo os poluentes para os
Ocorrência cursos d´água, afetando assim a flora e a fauna.
48
OLIVEIRA, A. Mapeamento de áreas susceptíveis à inundação por rompimento de barragem em ambiente semiárido. 2016. Tese (Doutora-
do em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-09032017-114124/>. Acesso em: 2017-07-06.
49
http://www.emdat.be/country_profile/index.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 48. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ENXURRADAS, POR ESTADO ENTRE 2005 E 2015.
30,00
25,00
20,00
% do TOTAL
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Figura 49. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ALAGAMENTOS, POR ESTADO ENTRE 2005 E 2015.
40,00
30,00
% do TOTAL
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
1.4. PROCESSOS E AGENTES periores a 26,5°C, numa faixa situada entre 5 e 10° de
METEOROLÓGICOS latitude Norte ou Sul51, em condições de alta umidade
provinda da evaporação do oceano, temperatura eleva-
A maior parte dos desastres naturais no Brasil é causada da do ar acima da superfície e tempo suficiente para o
pela dinâmica externa da Terra, conduzidos pelos pro- desenvolvimento da tempestade.
cessos atmosféricos de curta duração, meteorológicos,
de escalas pequenas a médias (no intervalo de minutos Caso atinja a costa, os ciclones provocam danos e
a dias)50. O tempo é definido pelas peculiaridades dos prejuízos severos às comunidades impactadas. Mas,
elementos meteorológicos (precipitação, vento, nebu- ao mover-se sobre a terra, a rugosidade do terreno e
losidade, ondas de frio e calor). Estes elementos variam a diminuição da umidade fazem com que um furacão
espacial e temporalmente em decorrência da influência perca sua intensidade rapidamente. Assim, os danos
de fatores geográficos – latitude, continentalidade, ve- associados aos ciclones geralmente restringem-se à li-
getação, altitude, maritimidade, atividades humanas. nha de costa. A Tabela Saffir-Simpson é utilizada como
medida de intensidade dos ciclones (Tabela 4).
As ameaças meteorológicas incluem os processos de
marés de tempestades, furacões, tornados e trombas Durante os meses de abril a junho, a ocorrência de
d’água, vendavais, tempestades de raios, ondas de ca- ciclones extratropicais, com ventos que alcançam
lor e de frio intensas, geadas e tempestades de neve. pouco mais de 100 km/h, é um fenômeno comum na
costa brasileira e é responsável por ressacas no Sul
1.4.1. Ciclones e Sudeste do país. Contudo, em 2004, um ciclone ex-
tratropical que se formou a cerca de 440 km da costa
Definição sul deslocou-se lentamente em direção ao continen-
te e ao sul do Estado de Santa Catarina, recebendo,
Os Ciclones são ventos de velocidades superiores a pela proximidade com este estado, o nome de “Fura-
120 km/h, que afetam uma área extensa durante um cão Catarina”.
longo período.
Este ciclone foi avistado por modelos de meteorologia
Caracterização no dia 23 de março de 2004. Encontrava-se estacioná-
rio desde o dia 12 de março de 2004 e, cerca de duas
Os ciclones se originam a partir de uma tempestade semanas depois (em 26 de março), os ventos ganharam
tropical no oceano sobre águas com temperaturas su- velocidade e atingiram 180 km/h – escala 3 da escala
Na região equatorial, devido à redução do efeito Coriolis, não há possibilidade de ocorrer o fenômeno. http://www.aprh.pt/rgci/glossario/
51
mare.html
Tabela 4. TABELA SAFFIR-SIMPSON UTILIZADA PARA A CATEGORIZAÇÃO DOS CICLONES.
de furacões Saffir-Simpson. Entre os fatores atribuídos impactos indiretos, colapso nas estruturas energéticas
ao seu aumento de velocidade, são citados o aqueci- e sanitárias, assim como a necessidade de abandono
mento da corrente marítima do Brasil e o aquecimento temporário de residências Em menor caso, registra-se
do próprio continente. Estes fatores fizeram com que casos de pessoas mortas ou desaparecidas em decor-
ele ganhasse energia e ficasse mais intenso. Este foi o rência dos furacões (Figura 52). A Tabela 4, apresentada
primeiro furacão que atingiu a costa do Atlântico Sul. anteriormente, associa diversos tipos de danos às dife-
rentes categorias de ciclones.
Ocorrência
Em particular, os municípios afetados pela passagem do
O Brasil é afetado por sistemas de baixa pressão at- furacão Catarina nos Estados do Rio Grande do Sul e de
mosférica frios, formados em latitudes médias, onde Santa Catarina sofreram principalmente com a falta de
os ventos circulam no sentido horário no Hemisfério energia elétrica, de comunicação e de abastecimento
Sul, sendo denominados de ciclones e/ou tempestades de água. No total, 35.873 casas foram danificadas e 993
extratropicais52 (Figura 51). casas destruídas. Onze pessoas morreram, 518 ficaram
feridas e aproximadamente 27,5 mil pessoas ficaram de-
Impactos salojadas. Na área rural, os maiores prejuízos foram nas
culturas de milho, banana e hortifruticulturas. Os pre-
Os principais impactos diretos, devido à força do ven- juízos econômicos provocados pela passagem do ciclo-
to e de ondas gigantescas, são em edificações (deste- ne Catarina totalizaram aproximadamente R$ 1 bilhão.
lhamentos, quebra de janelas), infraestrutura, embar-
cações ancoradas, carros destruídos e danificados, 1.4.1.1. Ventos costeiros – Mobilidade de Dunas
queda de postes e torres de alta tensão, árvores arran-
cadas etc. Chuvas torrenciais provocam alagamentos Definição
em enormes áreas, e em zonas costeiras ocorrem inun-
dações. Pessoas feridas e mortas são registradas, par- A ação do vento em regiões como desertos e costas
ticularmente em decorrência das inundações. Entre os pode permitir a formação de dunas – acumulação
52
TAVARES (2009).
Figura 51. IMAGEM DE SATÉLITE GOES MOSTRA CICLONE EXTRATROPICAL NO LITORAL SUL
DO RIO GRANDE DO SUL EM SETEMBRO DE 2016.
Figura 52. REPORTAGEM DEMONSTRANDO A OCORRÊNCIA DE CICLONE EXTRATROPICAL NO MUNICÍPIO DE RIO GRANDE (RS) EM
OUTUBRO DE 2016.
Fonte: G1 RS (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noti-
cia/2016/10/ciclone-extratropical-deixa-mais-de-100-mil-clientes-
-sem-energia-no-rs.html). Foto: Reprodução/RBS TV.
sedimentar elevada que pode alcançar 100m de altura, Movimentam-se com maior ou menor rapidez na medida
colinosa, composta normalmente de areia média quart- em que o vento sopra as partículas de areia para outros
zosa. O processo de acumulação das dunas de areia nas pontos, normalmente retirando-as de barlavento (lado
áreas litorâneas ocorre em função das características de onde vem o vento ou lado exposto ao vento) para se-
geológicas do relevo litorâneo, das características to- rem acumuladas a sotavento (lado contrário de onde
pográficas e do grau de declividade da faixa de conta- vem o vento ou lado protegido do vento)53. Os processos
to entre o mar e a região litorânea (entre o limite das de movimentação das dunas de areia dependem do rele-
águas pouco profundas e os primeiros obstáculos da vo da faixa litorânea, da intensidade, duração e sentido
borda continental), da intensidade e sentido das cor- dos ventos dominantes, da densidade das areias e das
rentes marinhas locais, da proximidade da foz dos rios ações antrópicas de retirada da vegetação litorânea.
ricos em sedimentos, da quantidade dos sedimentos
em suspensão e de correntes marinhas que
movimen- Ocorrência
tam o material ao longo das costas, da presença de
costas deprimidas e de terras baixas – que facilitam a No Brasil, a mais importante região de dunas costeiras
deposição das areias – e da intensidade das ondas e da ocorre no litoral dos Estados do Maranhão (Lençóis Ma-
altura das marés. ranhenses), Rio de Janeiro (nas proximidades de Cabo
Frio) e de Santa Catarina. Os processos de soterramen-
Caracterização to de localidades pela movimentação das dunas são
muito pouco importantes. Neste contexto, não existe
As dunas apresentam formas e alturas diferenciadas registro referente a reconhecimentos de situações de
em função da disponibilidade de material sedimentar emergência e estados de calamidade pública no Bra-
solto, da força do vento e da constância de direção e sil entre 2005 e 2015 associado a desastres originados
de intensidade do mesmo. Frequentemente, as dunas em fenômenos de movimento de dunas (http://www.
associam-se, formando “campo de dunas”. mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
53
As Tempestades de Areia é outro fenômeno resultado da movimentação de partículas de areia, elevadas do solo até considerável altura,
por vento forte e turbulento (Glossário INMET - http://www.inmet.gov.br/).
| 67
No Amapá, o termo “ressacas” não está associado Marés de sizígia: subida e descida periódicas, com
ao fenômeno de Marés de Tempestades, mas define, amplitude maior, dos níveis do mar e de outros cor-
localmente, áreas que se comportam como reserva- pos de água ligados ao oceano (estuários, lagunas
tórios naturais de água e que sofrem a influência etc.), causadas principalmente pela interferência
das marés e das chuvas, de forma temporária. Estas da Lua e do Sol sobre o campo gravitacional da Ter-
áreas apresentam um ecossistema rico e singular. ra. Devido à translação da Lua em torno da Terra, a
Fonte: Plano Diretor Municipal de Macapá (2004) maré lunar vai-se deslocando, passando por situa-
[http://www.cidades.gov.br/images/stories/Arquivos- ções em que a Terra, a Lua e o Sol estão alinhados,
SNPU/RedeAvaliacao/Macapa_PlanoDiretorAP.pdf]. estando os dois últimos em conjunção (Terra – Lua
– Sol) ou em oposição (Lua – Terra – Sol). Nestas
circunstâncias existe coincidência entre a maré (di-
recta e/ou reflexa) lunar e a solar, o que significa
Outros Dados e Informações: que se adicionam, tendo a maré resultante amplitu-
de maior. São as situações de marés vivas ou de si-
US NATIONAL HURRICANE CENTER zígia. (Associação Portuguesa de Recursos Hídricos
http://www.nhc.noaa.gov/surge/ – http://www.aprh.pt/rgci/glossario/mare.html).
Figura 54. RESSACA NA ORLA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI (RJ), ENTRE OS BAIRROS DE INGÁ E ICARAÍ EM MAIO DE 2015.
VENTO
Cs Ci
Cb
Ac
AR QUENTE
AR FRIO
T1 = 15º T2 = 30º
FRENTE FRIA
54
TAVARES (2009).
55
http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/zcit_1.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Julho ITCZ
Janeiro ITCZ
Figura 58. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM FRENTES FRIAS E ZONAS DE CONVERGÊNCIA, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
100,00
80,00
% do TOTAL
60,00
40,00
20,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Os Tornados são redemoinhos de vento de alta veloci- Existem diversas escalas para a classificação de torna-
dade formados em grandes nuvens de origem convecti- dos conforme os danos ocasionados, entretanto a mais
va (nuvens escuras, de notável desenvolvimento verti- utilizada é a escala Fujita-Pearson (Quadro 5).
cal e formato afunilado – cumulonimbus), que descem
até tocar a superfície da Terra, com grande velocidade No caso das trombas d’água, a velocidade dos ventos
de rotação e forte sucção. pode chegar a 100 km por hora (menos intenso que no
tornado), “sugando” a água e provocando a imagem de
A Tromba d’água é um tipo de tornado que ocorre so- um cone em movimento. As trombas d’água, em geral,
bre grandes corpos d’água (grandes rios, represas, desaparecem quando encontram a terra.
lagos, baías, mares ou oceanos), não sendo necessá-
rio para seu surgimento nuvens desenvolvidas muito Ocorrência
verticalmente.
Os tornados podem ocorrer em qualquer ponto do país.
Caracterização Entretanto, alguns fatores climático-meteorológicos
Os tornados são formados pela redução súbita na pressão Quadro 5. ESCALA DE INTENSIDADE DE TORNADOS FUJITA-PEARSON.
em certos pontos dos sistemas convectivos, o que faz com
que o ar passe a girar intensamente ao redor dos pontos Classificação Velocidade do Vento (mph) Dano
onde a pressão é inferior, ou pelo encontro de massas de
ar altamente diferenciadas e de grande intensidade. F0 72 Leve
F1 73-112 Moderado
A maioria dos tornados tem o diâmetro entre 100 a
F2 113-157 Considerável
600 metros, podendo exceder 1600 m. Normalmente,
os tornados que são formados adiante de uma frente F3 158-206 Severo
fria movem-se em velocidades de 20 a 40 nós. Tornados F4 207-260 Devastador
tendem a formar-se com trovoadas severas.
F5 260-319 Inacreditável
Os tornados só são visíveis por causa da poeira e da F6 319-379 Assombroso
sujeira levantadas do solo e pelo vapor d’água conden-
Fonte: NOAA [modificado] (http://www.spc.noaa.gov/faq/torna-
sado, ou percebidos por um barulho diferenciado que do/f-scale.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
56
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/04/relembre-alguns-casos-de-tornados-que-atingiram-o-brasil.html
57
TAVARES (2009).
Figura 59. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR TORNADOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
60,00
50,00
% do TOTAL
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Figura 60. OCORRÊNCIA DE TROMBA D’ÁGUA NO MUNICÍPIO DE PARINTINS (AMAZONAS) EM ABRIL DE 2015.
0,5 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Figura 62. NÚMERO DE MORTOS POR RAIOS, DISCRIMINADOS POR ANO, ENTRE 2000 E 2014.
250
NÚMERO DE MORTOS
200
150
100
50
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
ANOS
Figura 63. NÚMERO DE MORTOS POR RAIOS, DISCRIMINADOS POR ESTADO, ENTRE 2000 E 2014.
300
NÚMERO DE MORTOS
250
200
150
100
50
0
PA TO GO MG SP PR RS MS MT AM
ESTADOS
também grande frequência nas altas altitudes das re- fortes, quando acompanham o granizo, aumentam os
giões tropicais. danos. O dano geralmente ocorre quando a chuva de
granizo tem duração de mais de 15 minutos.
Segundo registros referentes a reconhecimentos de
situações de emergência e estados de calamidade O granizo causa grandes prejuízos à agricultura, des-
pública no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www. trói telhados, carros e redes elétricas, assim como
mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados), provoca a queda de árvores. Pessoas são desalojadas,
os desastres originados em fenômenos de granizo desabrigadas, e em uma proporção muito menor, leve-
ocorrem em quase todo o Brasil, mas concentram-se mente feridas. Indiretamente, o trânsito e atividades
nos Estados do Rio Grande do Sul (50,8% das ocor- socioeconômicas são afetados (Figura 65).
rências), Santa Catarina (24,4%) e Paraná (16,8%)
(Figura 64). 1.4.6. Precipitações Intensas
Impactos Definição
O grau de dano causado pelo granizo depende do tama- A Chuva, o principal tipo de precipitação que ocorre no
nho das pedras, da densidade da área, da duração do Brasil, é o resultado de processos de elevação do ar,
temporal, da velocidade de queda e das característi- geradores de nuvens das quais precipitam, sendo clas-
cas dos elementos atingidos. Chuvas intensas e ventos sificadas pela sua origem em:
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 64. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR GRANIZOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
60,00
50,00
% do TOTAL
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
59
http://www.inpe.br/acessoainformacao/node/402
A direção do vento exprime a posição do horizonte
60
http://clima1.cptec.inpe.br/monitoramentobrasil/pt aparente do observador a partir da qual o vento pa-
61
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados rece provir. A direção, medida através do uso de uma
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 67. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR CHUVAS INTENSAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
60,00
50,00
40,00
% do TOTAL
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Quadro 7. RELAÇÃO ENTRE VELOCIDADE DO VENTO E DANOS. ESCALA ANEMOMÉTRICA INTERNACIONAL DE BEAUFORT.
Escala Beaufort Categoria Velocidade do Vento (Km/h) Indicações Visuais na Superfície Terrestre
rosa-dos-ventos, é expressa em termos do azimute – o matismos provocados pelo impacto de objetos trans-
ângulo que o vetor velocidade do vento forma com o portados pelo vento. Os vendavais e tempestades
norte geográfico local (0°), medido no mesmo sentido podem ser a origem de processos naturais como enxur-
do movimento dos ponteiros do relógio analógico. radas e alagamentos.
Ocorrência
Figura 68. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR VENDAVAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
50,00
40,00
% do TOTAL
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
um período mínimo de três dias com temperaturas 5ºC Embora existam inúmeros estudos de caso de eventos
acima dos valores máximos médios. Alguns critérios de- específicos, pouco conhecimento sistemático existe
finem onda de calor intenso quando as temperaturas su- sobre os impactos em diversos setores. Em muitos ca-
peram 32oC em grandes extensões territoriais e em pelo sos, os impactos das ondas de calor estão estreitamen-
menos cinco graus acima do normal em partes daquela te associados aos decorrentes das secas. Estes incluem
área durante pelo menos dois dias ou mais. perda significativa de vidas e o desenvolvimento de
doenças, e custos econômicos no transporte, na agri-
Caracterização cultura, na produção, na energia e na infraestrutura.
As ondas de calor originam-se quando frentes de alta A maioria dos transtornos pelo calor se produz porque
pressão, formadas em regiões quentes, áridas ou se- a vítima esteve sobre-exposta ao calor durante o dia e
miáridas, deslocam-se, invadindo regiões de climas a noites não muito mais amenas. O calor exige do corpo
mais frios, onde se estabilizam por alguns dias. humano algo além de seus limites. Durante o calor ex-
tremo e a umidade alta, a evaporação diminui e o corpo
Em áreas urbanas, o asfalto e o concreto podem reter deve trabalhar arduamente para manter a temperatura
calor durante períodos mais prolongados e liberá-lo normal. As ondas de calor podem incrementar a morta-
gradualmente durante a noite, o que pode dar lugar a lidade e morbilidade (desconforto geral, dificuldades
temperaturas noturnas mais altas, num fenômeno co- respiratórias, insolação etc.) dos grupos vulneráveis,
nhecido como “ilha de calor urbana”. As ilhas de calor especialmente crianças, idosos e pessoas portadoras
urbanas são áreas construídas que apresentam tempe- de afecções cardiorrespiratórias importantes ou com
raturas maiores que as áreas rurais próximas. sobrepeso, sem acesso a um ambiente fresco ou com
ar-condicionado, pelo menos uma parte do dia.
Temperaturas elevadas, particularmente durante o verão,
podem afetar o meio ambiente e a qualidade de vida, assim A demanda de água aumenta durante os períodos de
como podem ser perigosas inclusive para a vida dos seres calor extremo, produzindo escassez ou falta de pres-
humanos que não tomem as precauções necessárias. são nos serviços de distribuição. Isto contribui signi-
ficativamente para potencializar os problemas nas
Ocorrência ações dos Corpos de Bombeiros.
Os desastres provocados por ondas de calor inten- Além disso, o aumento da temperatura da água durante
so ocorrem em diversos locais, causando numerosos as ondas de calor contribui para a degradação da qua-
impactos, muitos dos quais resultando em mortes de lidade da água e impacta negativamente no metabo-
pessoas de grupos vulneráveis. Alguns exemplos deste lismo e na reprodução das populações de peixes. Tam-
tipo de desastres são os eventos de 2003, quando di- bém pode levar à morte de muitos outros organismos
versos países europeus registraram uma forte onda de no ecossistema aquático. Altas temperaturas também
calor com dezenas de milhares de mortos63; os de Ju- se associam com as causas de florescimentos de algas,
lho de 2010 na costa leste dos Estados Unidos64; e o de causando a mortalidade de peixes em rios e lagos.
Abril de 2015, quando mais de 2.200 mortes ocorreram
na Índia em função da elevada temperatura65. Diversos setores da comunidade agrícola são afetados
pelo calor extremo. Animais como coelhos e aves de
Segundo registros referentes a reconhecimentos de si- capoeira são severamente afetados por ondas de calor.
tuações de emergência e estados de calamidade públi- A reprodução do gado e a produção de leite também
ca no Brasil entre 2005 e 2015, não existem registros diminuem durante ondas de calor. Porcos são também
de desastres originados em fenômenos associados a adversamente afetados pelo calor extremo. As safras
ondas de calor no Brasil66. da lavoura de soja, arroz, milho, batata e trigo podem
ser significativamente reduzidas por temperaturas
Impactos extremamente altas em estágios de desenvolvimento-
-chave dessas lavouras.
Extremos de calor contribuem para a ocorrência de um
conjunto amplo e abrangente dos impactos no Brasil. A maior demanda de energia elétrica pode causar, em al-
guns casos, problemas na geração e distribuição, e con-
63
Robine et al. (2008).
sequentes apagões temporários, assim como, dependen-
64
Highlights of the Great Eastern Heat Wave. Accuweather. http:// do das fontes de energia elétrica, aumento nos níveis de
www.accuweather.com/en/weather-news/highlights-of-the-great- poluição do ar e de emissão de Gases de Efeito Estufa.
-easter/33784?partner=
65
Rain brings little relief to southern India as heatwave death toll A queda sustentada da umidade atmosférica e o ex-
nears 2,200. 31 Maio, 2015. The Guardian. https://www.theguar-
dian.com/weather/2015/may/31/southern-india-heatwave-death-
cesso de calor favorecem a intensificação de incêndios
-toll-nears-2200-rain-brings-little-relief florestais muito intensos e a emissão de Gases de Efei-
66
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados to Estufa.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
1.4.9. Ondas de Frio Intenso O calor acumulado durante o dia pela superfície irra-
dia-se durante a noite, provocando uma inversão de
Definição temperatura de tal forma que, nas madrugadas de noi-
tes excepcionalmente frias, ocorre uma grande queda
As Ondas de Frio Intenso correspondem a períodos de de temperatura nas camadas mais próximas do solo,
quedas na temperatura rápidos, grandes e prolonga- formando o orvalho. O orvalho transforma-se em gea-
dos, que ocorrem sobre uma extensa área, acompanha- da quando a temperatura ambiental cai a níveis abaixo
da geralmente por céu claro. de 0°C pelo congelamento direto do vapor d’água exis-
tente na atmosfera, sem passagem pela forma líquida
Caracterização (sublimação).
Durante as ondas de frio intenso, a temperatura mí- As causas da ocorrência do orvalho dependem de fato-
nima do ar fica abaixo dos valores esperados para de- res que favorecem o esfriamento dos corpos por efeito
terminada região em um período do ano. Ventos frios da irradiação noturna para o céu. As perdas de calor
contribuem para agravar a sensação de desconforto por este processo físico estão associadas à exposição
térmico. de um corpo a céu claro e descoberto, à ausência de
vento, a temperaturas baixas, à umidade baixa e às pro-
Em função da dinâmica atmosférica global, em deter- priedades de emissividade dos corpos.
minadas épocas do ano (outono/inverno no Hemisfério
Sul), há uma intensificação no mecanismo de produ- Ocorrência
ção e de deslocamento de frentes frias, que desde as
regiões mais polares passam a atingir regiões de clima Não há registro referente a reconhecimentos de situa-
subtropical, tropical e até mesmo equatorial. ções de emergência e estados de calamidade pública
no Brasil, entre 2005 e 2015, associado a desastres ori-
O ar aquecido das regiões de clima subtropical e tropi- ginados em fenômenos de nevadas e nevascas67.
cal, por ser menos denso, tende a elevar-se, reduzindo
as pressões nas camadas próximas do solo, facilitan- Já a geada ocorre com mais frequência em regiões ele-
do a penetração das frentes frias. As massas de ar frio vadas, frias e de fundo de vales montanhosos. Segundo
provocam a queda da temperatura local. À medida que registros referentes a reconhecimentos de situações de
uma frente fria se aproxima de uma determinada re- emergência e estados de calamidade no Brasil entre
gião, há chuvas fortes, podendo haver fortes rajadas 2005 e 201568, os desastres originados em fenômenos
de vento ou violentas tempestades. Essas alterações de geadas concentram-se nos Estados de Santa Catari-
são comumente seguidas por um rápido clareamento na, Rio Grande do Sul e São Paulo (Figura 69).
do céu, embora algumas nuvens possam persistir por
algum tempo. Impactos
Durante o inverno, frentes frias atingem o sul da Ama- Extremos de frio contribuem para a ocorrência de um
zônia. Este fenômeno, conhecido localmente como conjunto amplo e abrangente de impactos no Brasil.
friagem, ocasiona uma brusca alteração nas condições Embora existam inúmeros estudos de caso de eventos
meteorológicas, causando uma diminuição da tempe- específicos, pouco conhecimento sistemático existe
ratura e umidade do ar e modificando as característi- sobre os impactos em diversos setores da nação. Estes
cas ambientais. incluem perda significativa de vida e doenças, e cus-
tos econômicos no transporte, agricultura, produção,
Nas regiões serranas de Santa Catarina, Rio Grande do energia e infraestrutura.
Sul e sul do Paraná, baixas temperaturas estão asso-
ciadas ao fenômeno meteorológico da nevada, carac- Temperaturas extremamente baixas, particularmente
terizada pela precipitação de neve em grande quanti- durante o inverno, afetam o meio ambiente e a qualida-
dade. A formação de neve está associada a condições de de vida da população. Os principais impactos dire-
de presença de ar supersaturado pelo vapor d’água, de tos associam-se com a possibilidade de ocorrência de
temperatura nas altas camadas atmosféricas próximas mortes e de graves problemas de saúde (gripe, infec-
a –20°C, e da existência de partículas microscópicas ções respiratórias agudas, coqueluche, difteria, saram-
que atuem como núcleos de condensação. A tempesta- po e meningite meningocócica), particularmente na
de de neve ou nevasca caracteriza-se por um conjunto população que desenvolve atividades ao ar livre, está
de partículas de neve levantadas da superfície por ven- desabrigada ou desprovida de agasalhos. Dependendo
tos suficientemente fortes e turbulentos. da magnitude e da duração das frentes frias, existem
impactos na agricultura.
A geada é o processo de deposição de cristais de gelo
(em forma de agulhas, prismas etc.) sobre uma super- 67
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
fície ou folhagem exposta. 68
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
| 83
Figura 69. PROPORÇÃO DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM GEADAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
50,00
40,00
% do TOTAL
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Alguns dos impactos indiretos associam-se com o au- A geada pode causar grandes prejuízos às culturas pere-
mento do consumo de energia elétrica, incremento da nes e às culturas de inverno. A susceptibilidade das cul-
demanda por serviços de saúde, assim como interrup- turas agrícolas às geadas varia de acordo com a espécie
ções temporárias das atividades de ensino. e com o estado fenomenológico das plantas no momen-
to da ocorrência. Dois graus Celsius negativos é a tem-
Quando ocorrem nevascas, somam-se os efeitos des- peratura crítica mínima abaixo da qual se iniciam os da-
truidores dos vendavais aos danos provocados pelo nos nas plantas de espécies menos resistentes (banana,
resfriamento e pela acumulação da neve. Os danos mamoeiro e arroz) e 4ºC é o limite para as espécies mais
humanos e materiais provocados por nevadas são rela- resistentes (cafeeiro, cana-de-açúcar e citrus). Os danos
tivamente pequenos. Normalmente, os riscos pessoais serão mais graves e extensos quanto maior for a queda
ocorrem nos deslocamentos motorizados durante as de temperatura abaixo desses limites69 (Figura 70).
nevadas. Nessas condições, pessoas correm o risco de
permanecerem isoladas durante a intempérie. 69
TAVARES (2009).
Figura 70. IMPACTOS DAS GEADAS NO SETOR AGRÍCOLA NO ESTADO DE MINAS GERAIS EM JULHO DE 2016.
A caracterização do clima é baseada na análise de As regiões do Brasil mais afetadas por seca e estiagem
série de dados dos elementos meteorológicos regis- são o Semiárido do Nordeste, que engloba partes de
trados em estações durante longos períodos (mínimo nove estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pa-
de 30 anos de dados). Estes elementos variam espa- raíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergi-
cial e temporalmente em decorrência da influência pe), e o sul do país70 (Figura 71).
dos fatores geográficos do clima: latitude, continen-
talidade, vegetação, altitude, maritimidade, ativida- No Semiárido brasileiro, o problema não é a quantida-
des humanas. de de água que cai, mas a forma como as chuvas se dis-
tribuem no tempo e no espaço. Esta distribuição está
Os processos e agentes climáticos estão estreitamente condicionada por aspectos meteorológicos e climáti-
associados à ocorrência de desastres, já que podem origi- cos. A ausência ou redução de chuvas na região estão
nar e/ou afetar processos naturais potencialmente amea- relacionadas às condições de deslocamentos da Zona
çadores, a formação do relevo e solos e o crescimento e de Convergência Intertropical (em sentido norte-sul)71,
desenvolvimento de cobertura vegetal, como também de sistemas frontais frios (frentes frias) originadas
condicionar o desenvolvimento humano e suas caracte- no Polo Sul com movimento em sentido sul-norte), e
rísticas de vulnerabilidade. Destaca-se que as atividades de frentes convectivas do Oceano Atlântico com mo-
do Homem, de alguma forma, influenciam o clima. vimento em sentido leste-oeste. O fenômeno El-Niño
– Oscilação Sul (ENOS)72 também guarda uma íntima
Entre os desastres relacionados aos processos e agen- relação com os períodos de secas intensas na região.
tes climatológicos, serão a seguir apresentados: estia-
gem e seca; queda intensa da umidade do ar; e incên- Na região sul do Brasil os períodos de estiagem e secas
dios florestais. associam-se à sazonalidade dos regimes de pluviosidade,
70
CEPED/SEDEC (2013).
71
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre, formada princi-
palmente pela confluência dos ventos alísios do Hemisfério Norte com os ventos alísios do Hemisfério Sul. A convergência dos ventos faz
com que o ar quente e úmido ascenda, carregando umidade do oceano para os altos níveis da atmosfera, ocorrendo a formação das nuvens
(Funceme – http://www.funceme.br/produtos/script/chuvas/Grafico_chuvas_postos_pluviometricos/entender/entender2.htm).
72
Incremento do aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico junto à costa oeste do Equador e da Colômbia que provoca a for-
mação de correntes ascendentes, onde o ar perde umidade (INPE/CPTEC http://enos.cptec.inpe.br/elnino/pt).
| 85
Figura 71. REGIÕES COM MAIOR REGISTRO DE EVENTOS DE SECAS E ESTIAGEM NO BRASIL, ENTRE 1991 E 2012.
os quais são severamente afetados pela ocorrência do com os efeitos no abastecimento doméstico, na gera-
fenômeno La Niña – Oscilação Sul73. ção de energia, na produção industrial, na prestação
de serviços, nas atividades de lazer e turismo, repercu-
Segundo registros referentes a reconhecimentos de tindo também em outros fenômenos como queimadas
situações de emergência e estados de calamidade pú- e intensificação da erodibilidade dos solos. A redução
blica no Brasil entre 2005 e 201574, os desastres origi- da produtividade agropecuária é afetada devido ao im-
nados em fenômenos de secas ocorrem em quase todo pacto na umidade do solo, afetando os demais setores
o território nacional, mas concentram-se nos Estados produtivos e a economia regional.
do Rio Grande do Norte (29,2% das ocorrências), Ceará
(26,1%) e Alagoas (14,3%) (Figura 72). Em algumas regiões, a estiagem e a seca agravam as
condições de vulnerabilidade social já existentes (po-
Já com relação aos registros de desastres referentes a breza, estagnação econômica), reduzindo ainda mais a
reconhecimentos de situações de emergência e estados qualidade de vida da população e justificando a migra-
de calamidade pública no Brasil entre 2005 e 201575, ção para outras regiões. Nestas condições de escassez
originados em fenômenos de estiagem, estes ocorrem de água e alimentos surgem ou se intensificam enfer-
em quase todo o território nacional, mas concentram- midades derivadas da desnutrição e da desidratação,
-se nos Estados da Paraíba (17,4% das ocorrências), e se descontinuam funções de atendimento à saúde,
Bahia (13%), Piauí (12,9%) e Ceará (11,4%) (Figura 73). que, em casos extremos, podem levar a registrar casos
de morte76 (Figura 74).
Impactos
1.5.2. Queda Intensa da Umidade Relativa do Ar
A estiagem e a seca estão associadas a grandes pre-
juízos econômicos e sociais, impactando grandes áreas Definição
espaciais e diferentes setores da sociedade. Os impac-
tos diretos ocorrem na redução dos níveis de água de A Umidade Relativa do Ar é a relação, expressa em por-
reservatórios e rios, o que indiretamente associa-se centagem, entre a quantidade de vapor d’água existente
73
Fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao El Niño, e que se caracteriza por um esfriamento anormal nas águas
superficiais do Oceano Pacífico Tropical (INPE/CPTEC http://enos.cptec.inpe.br/elnino/pt).
74
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
75
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
76
TAVARES (2009).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 72. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM SECAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
35,00
30,00
25,00
% do TOTAL
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Figura 73. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ESTIAGEM, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
20,00
15,00
% do TOTAL
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Impactos Caracterização
Os impactos da queda intensa da umidade relativa do A propagação dos incêndios florestais depende de con-
ar estão associados à redução das reservas hídricas de dições naturais associadas à baixa umidade relativa do
superfície e subsuperfície, ao incremento do consumo ar, temperaturas elevadas, ausência de chuvas durante
de água tratada, e à intensificação do ressecamento certo período, direção e intensidade do vento, grau de
das pastagens e da vegetação, dos incêndios florestais, umidade e tipo de cobertura vegetal, e características
da poluição atmosférica, e dos índices de morbilidade do relevo. Todas estas são condicionantes importantes
por desidratação e por afecções respiratórias. Condi- para a ocorrência de incêndios florestais. Um incêndio
ções de baixa umidade do ar dificultam a dispersão de pode se propagar pela superfície do terreno, pelas co-
gases poluentes e provocam o ressecamento das mu- pas das árvores e através da serrapilheira.
cosas das vias aéreas, tornando a pessoa mais vulnerá-
vel a crises de asma e a infecções virais e bacterianas. Ocorrência
Com níveis de umidade menores de 30%, os prejuízos
para a saúde se tornam mais evidentes (dor de cabe- Os incêndios florestais ocorrem em todas as regiões do
ça,alergia, sangramento nasal). Brasil durante todo o ano, mas concentrado entre os
meses de julho e outubro77 (Figura 75). Segundo dados
1.5.3. Incêndios Florestais do CPTEC/INPE78, entre 2006 e 2105, os estados que
registraram maior proporção de focos de incêndio e
Definição queimadas florestais foram Pará (17,3% do total), Mato
Grosso (15,9%), Bahia (7,6%) e Tocantins (7,56%) (Figu-
Os Incêndios Florestais correspondem à propagação ra 76). Em particular, a região Amazônica do Brasil foi
por grandes extensões de fogo sem controle, em qual- palco de grandes incêndios das suas florestas tropicais
quer tipo de vegetação, provocados por causas natu- (Roraima, 1997-1998; Mato Grosso, 1998; Pará, 1998)79.
rais (descargas elétricas, raios). Os incêndios florestais
também podem ser iniciados pelo Homem (queimadas Especial atenção observa-se na ocorrência de in-
propositais ou por negligência). cêndios florestais nas áreas legalmente protegidas,
77
CEPED/SEDEC (2013).
78
http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/estatisticas_estados.php
79
Cochrane, M. O grande incêndio de Roraima. CIÊNCIA HOJE 27(157): 26-31.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 76. TOTAL DE FOCOS DE INCÊNDIO E QUEIMADAS, POR ESTADO, ENTRE 2006 E 2015.
350.000
300.000
250.000
NÚMERO
200.000
150.000
100.000
50.000
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Figura 77. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM INCÊNDIOS FLORESTAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
80,00
70,00
60,00
% do TOTAL
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
com o tipo de agente microbiano ou de organismo res- b. Agentes infecciosos presentes no país sob
ponsável pelas infestações. Outros critérios, também, a forma endêmica (vírus da febre da den-
são importantes para classificação de desastres biológi- gue) mas cuja ocorrência pode sofrer exa-
cos e seus agentes causadores, tais como: (i) presença cerbações de caráter epidêmico.
autóctone no território nacional, circulando de forma 2. Disseminação
endêmica, com ocorrência de exacerbações epidêmicas 3. Letalidade
sazonais ou eventuais; (ii) potencial de letalidade: agen- 4. Comportamento Epidêmico:
tes infecciosos que causam processos de doenças com a. Enfermidades infecciosas causadas por
taxa de letalidade alta (vírus Ebola) ou baixa (vírus Zika); agentes patogênicos que provocam pande-
(iii) potencial para disseminação rápida: a) agentes in- mias (vírus H1N1 – gripe);
fecciosos com rápida capacidade de disseminação entre b. Agentes infecciosos causadores de surtos
hospedeiros humanos, por contato corporal direto (vírus epidêmicos localizados (leptospirose).
da gripe); b) agentes infecciosos cuja disseminação não 5. Controle
se faz diretamente, entre seres humanos, mas depende
da veiculação por agentes “externos” ao organismo hu- O Quadro 8 lista algumas causas de epidemias e suas
mano, quer de natureza inanimada (água) ou animada características, conforme estes critérios.
(mosquitos vetores); (iv) considerado objeto de “alerta
global” pela Organização Mundial de Saúde (vírus Ebola); O Guia de Vigilância Epidemiológica82, do Ministério da
(v) capacidade de produzir infecções aguda ou crônicas; Saúde, traz uma lista dos agravos infecciosos no Bra-
(vi) disponibilidade de tecnologias de fácil acesso para sil, adicionando-lhes a codificação necessária. A títu-
seu controle: a) agentes causadores de doenças para as lo de ilustração, é apresentado abaixo um quadro com
quais há métodos eficazes, de fácil acesso, diretos ou um sumário das principais epidemias e de seus agentes
indiretos, de controle da disseminação do processo in- causadores, que afetaram mais seriamente a popula-
feccioso (vacina contra febre amarela; quimioterápicos ção brasileira nos últimos 100 anos (Quadro 9).
contra parasitos da malária), b) doenças infecciosas para
as quais as tecnologias específicas de controle não estão Algumas das epidemias descritas no Quadro 9 ocorre-
disponíveis e dependem de medidas de isolamento de pa- ram globalmente e se constituíram em importantes
cientes ou restrição à movimentação humana (vírus Ebo- desastres (Gripe Espanhola 1918-1919). No Brasil,
la); (vii) grau de “endemismo”, ou seja, se sua ocorrência algumas destas epidemias se iniciaram rapidamente
é frequente ou apenas esporádica. e, após um período variável de expansão geográfica,
se tornaram estáveis, embora com infecções sempre
Com relação aos agentes patogênicos, é importante ocorrendo (forma endêmica da doença). Isto se deve a
verificar as seguintes características: um processo de imunização coletiva, pela circulação
natural do vírus na população susceptível e, também,
1. Imunidade por medidas tomadas pelo Sistema Único de Saúde
a. Agentes infecciosos recém-introduzidos no visando à contenção do processo epidêmico. Este é o
país, para os quais a maioria da população
humana tem pouca ou nenhuma imunidade 82
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_epi-
natural para combater a infecção (vírus Zika); demiologica_7ed.pdf
Vírus Zika - - ++ + +
Vírus Ebola +++ - ++ +++ +
Vírus Gripe +++ ++ +++ + +++
Vírus Dengue - +++ + + ++
Malária - + - + +++
Leptospirose - + - ++ ++
Hantavirose Pulmonar + - + +++ -
Meningite Meningocócica +++ +++ + ++ +++
Legenda: os sinais indicam a intensidade da característica considerada. Fonte: Elaboração própria.
| 91
Quadro 9. PRINCIPAIS EPIDEMIAS DE DOENÇAS INFECCIOSAS OCORRIDAS NO BRASIL ENTRE 1900 E 2016.
300.000 óbitos
Influenza (gripe “espanhola”) 1918 Vírus
65% da população afetada
1899-1904 1.344 óbitos
Peste Bubônica Bactéria 7.050 casos
1935-2007
1.134 óbitos
90.000 casos
Febre Amarela (urbana) 1850-1929 Vírus
11.713 mortes
100.000 casos
Malária no Nordeste 1930-1940 Parasita (protozoário)
2.400 mortes
Varíola Vírus Erradicada em 1973
Poliomielite Vírus Controlada por vacinação
Meningite Meningocócica 1974 Bactéria 19.933 casos
Sarampo 1896 Vírus 129.942 casos
15.428 casos suspeitos
Coqueluche 2012 Bactéria
4.453 confirmados
AIDS 1983-2009 Vírus 506.000 casos
Vírus
Dengue (Rio de Janeiro) 1986-1987 93.500 casos
4.243.049 casos
Dengue Brasil 1981-2006 Vírus
338 óbitos
50.482 casos
Gripe Suína 1981-2006 Vírus
2.060 óbitos
Chikungunia 2015 Vírus 20.662 casos
2015 500 mil a 1 milhão casos
Zika Vírus
Fevereiro a abril 2016 91.387 casos
Leptospirose (Rio de Janeiro) 1996 Bactéria 1.732 casos
168.591 casos
Cólera 1991-2000 Bactéria
2.034 óbitos
Gripe H1N1 2009 Vírus 95.844 casos
Fonte: Elaboração própria.
(A tabela acima foi elaborada a partir da consulta aos seguintes artigos científicos e websites:
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/Biograf/ilustres/oswaldocruz.htm
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_controle_peste.pdf
http://files.bvs.br/upload/S/1983-2451/2011/v36n1/a1923.pdf; http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/vigiamb/vetores/febreAmarela/
ZouraideGuerra2.pdf
Camargo, E. (1995). A malária encenada no grande teatro social. Estudos Avançados, 9(24), 211-228.
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Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, 9(4).
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiologica-dados-sarampo
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/vigilancia/noticias-vigilancia/7569-ministerio-da-saude-alerta-sobre-
-a-situacao-epidemiologica-da-coqueluche-no-brasil?tmpl=component&print=1&layout=default&page=
Grangeiro, A., Silva, L. e Teixeira, P. (2009). Resposta à AIDS no Brasil: contribuições dos movimentos sociais e da reforma sanitária. Rev
panam salud pública, 26(1), 87-94.
Barreto, M. e Teixeira, M. (2008). Dengue no Brasil: situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa.
Nogueira, R., Araújo, J. e Schatzmayr, H. (2007). Dengue viruses in Brazil, 1986-2006. Revista Panamericana de Salud Publica, 22(5), 358-363.
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/plano_nacional_saude_2012_2015.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/janeiro/19/2015-002---BE-at---SE-53.pdf
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160129_numero_conflito_zika_lab
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/abril/27/2016-014---Dengue-SE13-substitui----o.pdf
Tassinari, W., Pellegrini, D., Sabroza, P. e Carvalho, M. (2004). Distribuição espacial da leptospirose no Município do Rio de Janeiro, Brasil,
ao longo dos anos de 1996-1999. Cadernos de Saúde Pública,20(6), 1721-1729.
Benatto, M. (2002). A cólera no Brasil de 1991 a 2000: perfil epidemiológico.
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/influbr.def)
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
caso da febre da dengue, que está presente no Brasil complexos (protozoários, vermes e artrópodes), que
há três décadas. atuam como hospedeiros intermediários84 (aqueles que
apresentam o parasito em sua fase larval ou assexuada).
No caso da gripe suína (H1N1), embora tenha afetado
o país como parte de uma pandemia de alcance global, A categoria que reúne estes dois tipos de doenças é co-
na realidade não chegou a se constituir em um “desas- nhecida por DIP (Doenças Infecciosas e Parasitárias) e
tre”, pois as medidas de controle adotadas e a imuni- tem ocupado desde os anos de 1980 um papel de desta-
dade da população mantiveram a taxa de mortalida- que no Brasil entre as principais causas de morte. Este
de nos mesmos níveis da gripe “sazonal”, que ocorre grupo de doenças reveste-se de importância por seu im-
anualmente. Este é um exemplo de que um processo pacto social, uma vez que está relacionado à pobreza e às
epidêmico não necessariamente significa desastre se condições de vida, englobando doenças relacionadas às
o conjunto de condições propiciadoras citado anterior- condições de moradia, alimentação e higiene precárias85.
mente não estiver presente. Estas doenças atingem com maior impacto a população
menos privilegiada, de baixa renda, com baixo nível de es-
De modo geral, o termo “desastres biológicos” refere- colaridade e que não dispõe de condições de saneamento
-se aos seguintes eventos: básico e assistência primária à saúde, sendo, portanto,
mais susceptível a não notificação dos óbitos.
a. Epidemias e pandemias (em população huma-
na e de animais domésticos); Do ponto de vista da exposição ao risco, deve-se consi-
b. Bioterrorismo (uso intencional de agentes in- derar a grande concentração demográfica nos estados
fecciosos humanos); do Sudeste e do Sul. Por outro lado, as diferenças so-
c. Pragas; cioeconômicas entre regiões e mesmo dentro das gran-
d. Ataques por animais; des cidades contribuem para as diferenças na vulnera-
e. Liberação de organismos geneticamente modi- bilidade e na resiliência a desastres dessas populações.
ficados;
f. Invasões biológicas. Os estados brasileiros apresentam diferentes graus de
desenvolvimento, que se refletirão no nível de vida da
Contudo, neste Manual utiliza-se, como referência- população e repercutirão nos diferentes padrões de
-base, o COBRADE, documento de codificação dos de- mortalidade observados em cada estado.
sastres da Defesa Civil brasileira, que considera como
desastres biológicos, como dito anteriormente, as epi- Os desastres biológicos decorrentes de epidemias são
demias e as infestações/pragas. Além desses, devido classificados em dois tipos principais:
à sua relevância, também são apresentadas outras
ameaças que não constam no COBRADE. São elas: bio- a) Primários: surgem na população humana inde-
terrorismo, ataques por animais e organismos geneti- pendentemente da ocorrência de outros eventos
camente modificados. no meio biofísico. Estes desastres têm maior po-
tencial de dano em virtude da ação dos micro-or-
1.6.1. Epidemias ganismos sobre o corpo humano e seu potencial
de disseminação rápida, no tempo e no espaço;
Definição b) Secundários: ocorrem localmente como conse-
quência de outros eventos (inundações, secas).
Uma Epidemia caracteriza-se pela ocorrência, em Tem menor potencial de dano e, geralmente, são
uma comunidade ou região, de um grupo de doenças resolvidos por ações do sistema local de saúde
de natureza similar que claramente excede o que se- (frequentes surtos de leptospirose observados
ria esperado e que deriva de uma fonte em comum. As após inundações em áreas urbanas).
pandemias referem-se a epidemias de escalas globais,
afetando um grande número de pessoas em diversos As epidemias que ocorrem enquanto desastres bioló-
países ou continentes83. gicos “primários” devem ser distinguidas de surtos de
doenças transmissíveis que são consequências de de-
Caracterização sastres “não biológicos” do tipo climático, hidrológico,
geológico etc., que, em geral, ocorrem em escala lo-
As epidemias podem ser causadas por doenças infeccio- calizada. Estes surtos ocorrem como consequência de
sas ou parasitárias. As doenças infecciosas são origina- mudanças ecológicas e demográficas (densidade e des-
das por micro-organismos externos (vírus, bactérias, ri- locamento da população humana), bem como da desor-
quétsias, clamídias e fungos), que passam a viver dentro ganização ou mesmo interrupção dos serviços de saúde.
do corpo humano, gerando a doença. Já as doenças pa-
rasitárias são causadas por organismos um pouco mais 84
http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/44206/
doencas-infecciosas-e-parasitarias
83
GORDIS (2004). 85
PAES e SILVA (1999).
| 93
Ocorrência Sarampo
normalização, melhoria do quadro respiratório, e 2014, destacando-se que, segundo os dados dos úl-
tem início a descamação das crostas da pele. Nesta timos anos, há uma tendência a zerar os óbitos por
fase, ocorre um grande comprometimento do esta- esta enfermidade.
do geral do paciente.
Ao se comparar o número de óbitos por sarampo en-
Considerada uma virose típica da infância, também tre as regiões brasileiras (Figura 79), percebe-se que,
pode atingir adultos. Em pacientes debilitados pode durante a década de 1990, havia uma predominância
determinar complicações, tais como: pneumonia, in- dos óbitos nas Regiões Nordeste e Sudeste, sendo, no
fecções secundárias e sequelas neurológicas. Nordeste, os Estados do Maranhão e da Paraíba e, no
Sudeste, os Estados de Minas Gerais e do Espírito San-
Ocorrência to os que possuíam o maior número. A partir de 1999, o
número de óbitos no país diminuiu drasticamente, ten-
Segundo o Ministério da Saúde89, o sarampo é uma doen- dendo a zero nos dias atuais.
ça de distribuição universal que apresenta uma variação
sazonal. No Brasil, o sarampo é uma doença de notifica- Febre Amarela
ção compulsória desde 1968. Assim como em outros paí-
ses tropicais, verifica-se um aumento da incidência de Definição
sarampo no país após a estação chuvosa. Entretanto, o
comportamento endêmico-epidêmico da doença varia de A Febre Amarela é uma arbovirose silvestre causada
um local para o outro e depende basicamente da relação pelo vírus amarílico Flavivirus, de curta duração e de
entre o grau de imunidade e a susceptibilidade da popula- gravidade variável, podendo ser mortal em alguns casos.
ção, assim como da circulação do vírus na área.
A febre amarela é uma doença frequente entre ani-
Apesar de o sarampo normalmente apresentar um qua- mais, principalmente macacos, que se constituem em
dro clínico favorável, a doença é considerada grave, “reservatórios” da infecção para o Homem, que a ad-
especialmente em povos indígenas isolados e crianças quire acidentalmente. Ocorre sob a forma de surtos,
pequenas ou desnutridas. A incidência, a evolução clí- geralmente localizados, em populações não vacinadas.
nica e a letalidade do sarampo são influenciadas pelas Pode ser transmitida por diversas espécies de mosqui-
condições socioeconômicas, nutricionais, imunitárias tos, incluindo o Aedes aegypti90.
e aquelas que favorecem a aglomeração em lugares pú-
blicos e em pequenas residências. Caracterização
A Figura 78 apresenta uma redução do número de Existem duas formas de febre amarela que são dife-
óbitos anuais por sarampo no Brasil entre 1990 e renciadas apenas pelos mecanismos de transmissão
(Figura 80):
89
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiolo-
gica-dados-sarampo 90
RAGB e OLIVEIRA (1998).
Figura 78. NÚMERO DE ÓBITOS POR SARAMPO NO BRASIL ENTRE 1990 E 2014.
500
450
400
NÚMERO DE ÓBITOS
350
300
250
200
150
100
50
0
•
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
ANOS
Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade – Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saú-
de (Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/05/--bitos-de-Sarampo-.pdf).
*Dados atualizados em 23/05/2014.
| 95
Figura 79. NÚMERO DE ÓBITOS POR SARAMPO NAS DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL ENTRE 1990 E 2014.
550
500
NÚMERO DE ÓBITOS
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
2014•
2012
2013
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
ANOS
Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade – Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saú-
de (http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014).
A relevância em saúde pública da SCPH está relaciona- A transmissão do vírus influenza ocorre pelo contato
da à alta letalidade, que, para a América do Sul, alcan- direto com o indivíduo doente, por meio de inalação de
ça os 50%. O Brasil notifica casos da doença em todas gotículas e pequenas partículas produzidas pela tosse,
as regiões, sendo que o maior número ocorre no Sul, espirro ou durante a fala do indivíduo doente, além do
Sudeste e Centro-Oeste96. Entre 2010 e 2014 foram contato das mãos com superfícies contaminadas. Entre
notificados 8.074 casos suspeitos de hantavirose no 24 e 72 horas após o contágio o indivíduo começa a apre-
país97. A série histórica 2004-2010 sugere um aumento sentar os sintomas da gripe, sendo sua transmissibilida-
das notificações e dos casos confirmados em 2006, em de mantida por três dias após o surgimento dos sintomas.
relação ao ano anterior98. Também se pode observar no A doença geralmente evolui para a cura espontânea em
ano de 2006 uma letalidade de 34,5%, sendo superior dois a sete dias. Embora seja uma doença autolimitada,
à de todos os outros anos99. pode apresentar complicações e evoluir para óbito.
A Influenza Humana é uma doença infecciosa viral aguda A susceptibilidade ao vírus influenza é universal e
do trato respiratório, altamente transmissível. É causada a infecção confere imunidade específica para o tipo
pelo vírus da influenza, que pode ser de diversos tipos (A infectante. A parcela da população mais vulnerável
(H1N1), B e C), devido à elevada mutabilidade deste vírus. é composta dos indivíduos não imunizados através
Os vírus de tipo A e B estão associados a epidemias, en- da vacinação, dos indivíduos debilitados por alguma
quanto o C tem sido encontrado em casos isolados. O apa- doença crônica e dos idosos.
recimento de subtipos e cepas novos explica o surgimento
das grandes pandemias de influenza. Dada a extrema mutabilidade dos vírus influenza, a
OMS organiza, há cerca de 60 anos, uma “Rede Global
Caracterização de Vigilância da Influenza”, parceria com 105 Estados-
-membro que possuem agências públicas (laboratórios)
Há duas formas de manifestação da doença: sazonal para detecção precoce de variantes incomuns do vírus,
(com maior frequência nas épocas frias e ocorrendo denominadas “Centros Nacionais de Influenza”100.
anualmente), e pandêmica (de alcance global, que ocor-
re a intervalos irregulares de alguns anos). A importân- Ocorrência
de forma mais ou menos grave, dependendo da variante Não há tratamento específico para esta enfermidade,
antigênica do vírus e das condições orgânicas prévias sendo ministrados apenas medicamentos para aliviar
da pessoa infectada. A causa de morte mais comum da os sintomas da doença (febre e dores articulares). Se
influenza é a complicação por pneumonia. diagnosticado, o paciente deve permanecer em repou-
so e ingerir bastante líquido, a fim de evitar possível
Segundo o Boletim Epidemiológico Nº 44(15) do Minis- desidratação causada pela febre.
tério da Saúde (2013), dentre os óbitos por influenza,
predominaram aqueles por vírus influenza A (H1N1), Ocorrência
com proporção de 86%. Além desses óbitos, foram
confirmados 35 óbitos pelo vírus influenza B, 27 pelo De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção
influenza A (H3N2) e outros 21 foram confirmados de Doenças) dos EUA, antes de 2013 o vírus já havia
para influenza A, sem identificação do subtipo. O coe- sido observado em países da África, Ásia, Europa, e
ficiente de mortalidade por influenza para o período outros localizados nos Oceanos Pacífico e Índico. Ao
analisado foi de 0,3/100 mil habitantes. fim do ano de 2013 houve a primeira transmissão local
do vírus chikungunya no continente americano, no Ca-
Febre Chikungunya ribe. Transmissão local significa que o mosquito exis-
tente na região foi infectado com o vírus, sendo assim
Definição capaz de transmitir a doença para outras pessoas105.
A Febre Chikungunya é uma doença infecciosa viral Desde então, a febre chikungunya foi notificada em 45
aguda causada pelo arbovírus do gênero Alphavirus, países nas Américas, com mais de 1 milhão de casos no
transmitida pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e continente americano, segundo dados da OPAS106.
Aedes albopictus. Devido à intensa urbanização desse
vetor, a febre chikungunya é mais prevalente em áreas No Brasil, os primeiros casos autóctones da febre de
urbanas do país101. chikungunya foram notificados em agosto e setem-
bro de 2014 em municípios dos Estados do Amapá e
Caracterização da Bahia. No mesmo ano, casos autóctones suspeitos
da doença foram notificados nos Estados de Roraima,
De acordo com o Ministério da Saúde102, o período de Mato Grosso do Sul, e no Distrito Federal. Casos impor-
incubação da febre chikungunya varia entre dois e dez tados foram notificados no Amazonas, Ceará, Goiás,
dias, podendo chegar a doze. Após este período, surgem Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco,
os sintomas, que incluem febre acima de 39ºC, de início Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O Brasil
súbito, com dores intensas nas articulações, especial- apresenta condições favoráveis para a disseminação
mente dos pés e mãos, além de dores de cabeça e mus- do vírus pela ampla distribuição dos potenciais vetores
culares, e manchas avermelhadas na pele. Cerca de 30% da doença107. Em 2015, foram registrados 38.332 casos
das pessoas infectadas são assintomáticas. O grupo prováveis de febre de chikungunya, distribuídos em 696
mais vulnerável da população à febre chikungunya é for- municípios. Já no ano seguinte (2016), foram registra-
mado por crianças e idosos. Pessoas com doenças crôni- dos 271.824 casos prováveis da doença em todo o país,
cas preexistentes tem maior chance de desenvolver uma sendo confirmados 196 óbitos pela febre chikungunya
forma mais grave da doença. Apesar de ter uma sintoma- no Brasil (Figura 81), e considerando-se apenas os ca-
tologia branda, as dores nas articulações podem perdu- sos notificados até a sétima semana epidemiológica de
rar por longos períodos e até se tornarem crônicas103. 2017, tem-se no país 10.294 casos prováveis, dos quais
2.178 foram confirmados108.
As orientações do Ministério da Saúde são de considerar
como suspeito de febre chikungunya qualquer indivíduo Impactos
que apresente febre maior que 38,5º C e dor articular ou
artrite intensa, ambos de início súbito, e que tenham his- Os impactos mais importantes da febre chikungunya
tórico recente de viagem a áreas de circulação viral. Esta se dão sobre o sistema de saúde, especialmente sobre
doença é considerada uma doença de notificação com- as urgências e emergências hospitalares, pela eleva-
pulsória e está presente na Lista de Notificação Compul- da procura por diagnóstico e tratamento dos sintomas;
sória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública104. assim como sobre os sistemas de vigilância em saúde
devido à demanda por notificações, monitoramento e
101
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi- controle dos surtos. Outros impactos estão relaciona-
pal/secretarias/sas/dahu/cgad/11-cidadao/cidadao-principal/agen- dos ao absenteísmo no trabalho, pois o prolongamento
cia-saude/15000-saude-atualiza-situacao-do-virus-chikungunya-2
102
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/
1073-chikungunya/14718-sinais-e-sintomas 105
CDC (2016).
103
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/ 106
OMS (2017).
1073-chikungunya/14716-o-que-e-a-febre-chikungunya 107
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015).
104
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017b). 108
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017b).
| 99
Figura 81. PROGRESSÃO DA FEBRE CHIKUNGUNYA NO BRASIL. dos sintomas da chikungunya pode gerar dores crôni-
cas que interferem nas atividades de vida diárias.
No Brasil, os
primeiros casos Zika
autóctones da febre
de Chikungunya
Definição
foram notificados em O Zika vírus (ZIKAV) é um arbovírus do gênero Flavivi-
agosto e setembro de rus (família Flaviviridae). Este vírus causa uma doença
2014 em municípios conhecida como zika, a qual é autolimitada e de evolu-
dos estados de ção benigna.
Amapá e da Bahia.
Caracterização
Em vermelho – transmissão disseminada nos últimos três meses; em amarelo – transmissão esporádica nos últimos três meses; em azul
– histórico de transmissão (de 2007 até 3 meses atrás). Fonte: Boletim Epidemiológico 51 (SVS, 2016).
| 101
estados do Nordeste, casos de microcefalia vêm sendo Devido à associação do zika vírus às malformações
notificados associados à infecção por zika vírus. Esses congênitas, as populações mais vulneráveis são as
casos constam do Sistema de Informação sobre Nascidos mulheres grávidas. Ainda não foi estabelecido um
Vivos (SINASC) e, em menor proporção, nos demais esta- período seguro em que a infecção não seja capaz de
dos da Região Nordeste, segundo o Informe Epidemioló- causar danos ao feto durante a gestação. Em rela-
gico nº 01/2015. Diante desse panorama, o Ministério da ção à Síndrome de Guillain-Barré, apenas uma pe-
Saúde publicou a Portaria nº 1.813, de 11 de novembro quena porção dos pacientes infectados com o vírus
de 2015, na qual a alteração do padrão de ocorrência de zika chega a apresentar os sintomas da síndrome
microcefalias no Brasil foi declarada uma Emergência de neurológica. Assim, esta associação ainda está sen-
Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). do investigada.
Assim, o Ministério da Saúde, através de sua Secreta- Considerando o Estado de Emergência em Saúde
ria de Vigilância em Saúde (SVS), definiu um “Protoco- Pública decretado pelo Ministério da Saúde-MS,
lo de Vigilância e Resposta à ocorrência de Microcefa- por meio da portaria GM nº 1.813, de 11 de novem-
lia e/ou Alterações do Sistema Nervoso Central (SNC) bro de 2015, por alteração do padrão de ocorrên-
– Versão 2.1/2016”, disponível no site www.saude.gov. cia de microcefalia no Brasil, além do fato de em
br/svs114. Este protocolo objetiva descrever o padrão diversos estados brasileiros já terem sido detecta-
epidemiológico da ocorrência de microcefalias relacio- dos os quatro sorotipos da dengue, além do vírus
nadas às infecções congênitas no território nacional. do chikungunya e casos suspeitos de microcefalia
Até 5 de novembro de 2016 foram notificados 10.119 associados ao zika vírus – todos transmitidos pelo
casos, dos quais 30,5% permanecem sob investigação, mosquito Aedes aegypti –, foi traçada uma estraté-
7.033 casos foram investigados e classificados, sendo
gia de intensificação de combate a este mosquito
2.143 confirmados para microcefalia e/ou alteração
pelos três níveis de governo.
do sistema nervoso sugestivos de infecção congênita,
e 4.890 descartados. Do total de casos acumulados,
Dentro deste panorama, o Governo Federal iniciou
66,2% estão distribuídos na Região Nordeste, 20% no
Sudeste, 6,6% no Centro-Oeste, 5,1% no Norte e 2,2% uma mobilização para enfrentar o aumento do nú-
no sul do país. Os estados com maior número de casos mero de casos de microcefalia no país, com foco na
são Pernambuco (2.175) e Bahia (1.384)115 (Tabela 5). importância de se eliminar os criadouros do mos-
quito. Assim, o Governo Federal decretou em 2016
A Figura 84 apresenta a distribuição dos casos notifica- o Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à
dos de microcefalia/alterações do SNC (sistema nervo- Microcefalia117. O principal objetivo deste plano era
so central) sugestivos de infecção congênita, segundo reduzir para menos que 1% o índice de infestação
regiões brasileiras, por mês de notificação, no período pelo mosquito nos municípios brasileiros até junho
de novembro de 2015 a novembro de 2016. daquele ano.
Apesar de a Região Nordeste ainda ser a que possui O Ministério da Integração Nacional (MI) participa
maior número de casos notificados de microcefalia, ativamente para o combate ao Aedes aegypti. Em
houve uma redução do número de casos desde dezem- novembro de 2016, o MI realizou videoconferências
bro de 2015. O mesmo ocorreu nas Regiões Norte e para mobilizar e organizar as ações das defesas civis
Centro-Oeste. Por outro lado, no Sudeste e no Sul, a estaduais no reforço do combate ao mosquito, espe-
Figura 84 mostra uma oscilação ao longo dos meses que cialmente no dia 02 de dezembro, decretado Dia Na-
indicam estabilidade do número de casos notificados. cional de Mobilização e Enfrentamento ao Mosquito.
Contudo, houve uma redução do número de casos no- Tais videoconferências foram realizadas com as de-
tificados em todas as regiões nos últimos dois meses. fesas civis de 24 estados e do Distrito Federal, além
de representantes do Ministério da Saúde e do Minis-
As consequências da infecção pelo vírus zika incluem tério da Defesa, e do Corpo de Bombeiros do Distrito
o aumento da incidência de casos de microcefalia em Federal. A agenda de articulação com os estados foi
recém-nascidos e distúrbios neurológicos em crianças realizada na Sala Nacional de Coordenação e Contro-
cuja mãe foi infectada pelo vírus durante a gestação le para o Enfrentamento à Microcefalia, coordenada
(como problemas oculares e perda de audição), além do pelo Ministério da Saúde, instalada no CENAD. Cria-
aumento do número de casos da Síndrome de Guillain- da em novembro de 2015, esta sala tem como mis-
-Barré. O zika vírus é uma emergência de saúde pública. são gerenciar e monitorar as ações de mobilização e
Os casos em gestantes merecem especial atenção e tem combate ao mosquito, bem como a execução do Plano
sido aconselhado que as mulheres adiem os planos de Nacional de Enfrentamento à Microcefalia118.
gravidez nos países em que há circulação ativa do vírus116.
http://combateaedes.saude.gov.br/pt/plano-nacional
117
114
BRASIL (2015). MI (2016). Disponível em: http://www.brasil.gov.br/defesa-e-se-
118
115
SVS (2016). guranca/2016/11/defesa-civil-se-prepara-para-o-dia-de-enfrenta-
116
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/ mento-ao-aedes
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Total Acumulado de casos Casos Notificados de Microcefalia e/ou Alterações do SNC, sugestivos de
Regiões e Unidades notificados de 2015 a 2016 infecção congênita, em fetos, abortamentos, natimortos ou recém-nascidos
Nº
Federadas Permanecem em Investigados e Investigados e
N %
investigação confirmados descartados
Figura 84. DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NOTIFICADOS DE MICROCEFALIA E/OU ALTERAÇÕES DO SNC,
POR MÊS DE NOTIFICAÇÃO, SEGUNDO REGIÕES. BRASIL, 2015 E 2016.
1600
1400
NÚMERO DE CASOS NOTIFICADOS
1200
1000
800
600
400
200
0
nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
2015 2016
Foi implementado pela Presidência da República um 3. Regulamentação da Lei 12.608/12 que institui
Grupo de Trabalho, coordenado pelo Ministério da a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil;
Saúde, com a instalação da Sala de Coordenação e 4. Constituição do Comitê Gestor por meio da
Controle integradas. Na composição do referido Gru- participação de 2 (dois) servidores;
po, a SEDEC, como órgão Central do Sistema Nacional 5. Conceder espaço físico no Centro Nacional de
de Proteção e Defesa Civil-SINPDEC, disponibilizou Gerenciamento de Riscos e Desastres – CE-
as instalação físicas da sala, sediadas nas estruturas NAD para funcionamento rotineiro da SNCC
do CENAD, e atua com a ação estratégica de coorde- e no apoio à realização de videoconferências
nadora no sistema na articulação dos órgãos que in- com as Salas Estaduais e Municipais;
tegram o SINPDEC, nos três níveis de governo, para 6. Discutir e contribuir no estabelecimento do
contribuir na prevenção ao combate da proliferação Plano de Ação e de estratégias a serem imple-
da infestação do mosquito. Atua também no apoio aos mentadas;
órgãos de saúde pública para que sejam implementa- 7. Coordenar e mobilizar ações específicas no
das medidas emergenciais de mitigação e prevenção. âmbito da Defesa Civil em parceria com os de-
A atuação da SEDEC é baseada nas seguintes diretri- mais órgãos que atuam na gestão da SNCC e
zes estratégicas: no gerenciamento de resultados;
1. Apresentar e divulgar as ações estratégicas de 8. Articulação entre Secretaria Nacional de Pro-
mobilização e combate ao mosquito por meio teção e Defesa Civil, Defesas Civis Estaduais
de videoconferências do Ministro da Integra- e Municipais, na implementação de ações de
ção Nacional, do Secretário Nacional de Pro- fortalecimento na prevenção e combate à in-
teção e Defesa Civil, dos Coordenadores das festação do Aedes aegypti em áreas urbanas e
Salas Estaduais de Coordenação e Controle e rurais;
dos Gestores Estaduais de Proteção e Defesa 9. Apresentar e divulgar, no âmbito do SINPDEC,
Civil; medidas preventivas de combate ao Aedes ae-
2. Criação da Instrução Normativa – 02/2016 gypti, inserindo em todas as pautas em fóruns,
para reconhecimento de situação de emer- workshops, capacitações e reuniões de Secre-
gência ou de estado de calamidade pública em tários e Coordenadores Estaduais de Proteção
questões de epidemias; e Defesa Civil dos 26 estados e do DF.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Dengue
Conhecendo um pouco mais sobre o Aedes aegypti
Definição
O mosquito adulto é de porte médio, corpo escuro
A Dengue é uma doença infecciosa aguda (arbovirose) e escamoso, com um característico desenho, em
causada por um vírus do gênero Flavivirus, do qual são co- forma de lira, na região dorsal. De hábitos diurnos
nhecidos quatro tipos imunológicos ou sorotipos – DENV1, (vespertinos), é um mosquito caseiro, que tem difi-
DENV2, DENV3 e DENV4. A infecção humana por cada um culdades de se reproduzir em ecossistemas natu-
destes determina imunidade específica permanente. rais. Suas asas frágeis dificultam o voo em ambien-
tes com fortes correntes de ar e seus raios de ação
Caracterização são de, no máximo, 100 metros.
O ovo do Aedes aegypti é elástico, muito pequeno
A dengue pode se manifestar desde infecções assin- (0,5mm x 0,2mm) e difícil de ser visualizado em de-
tomáticas até formas mais graves que podem levar a pósitos de água. Caracteriza-se por sua imensa re-
óbito, mesmo nas primeiras infecções. É mais comum sistência à dessecação, podendo se manter viável
nas zonas urbanas brasileiras, pois o mosquito (vetor) por mais de 450 dias em ambiente seco e eclodindo
prolifera em habitats artificiais, no ambiente construí- poucos dias depois de os depósitos terem recebido
do, onde há acúmulo de água. água.
As larvas são mais facilmente visíveis e permane-
O ser humano é o reservatório desta doença e alguns cem próximas da superfície da coleção de água, em
mosquitos do gênero Aedes atuam como agentes posição vertical (90°). Tipicamente, apresentam fo-
transmissores desta enfermidade, sendo os principais, tofobia e mergulham rapidamente, movimentando
no Brasil, o mosquito Aedes aegypti e, esporadicamen- os seus corpos em “s”, quando atingidas pelos fo-
te, o Aedes albopictus. O Aedes aegypti é um mosqui- cos das lanternas.
to caseiro e de hábitos domésticos. Para que ocorra a As pupas ou ninfas também apresentam fotofobia
infecção por dengue é necessário que o Homem seja e permanecem no meio líquido, atingindo a fase
picado e infectado por um mosquito portador do vírus. adulta após sete dias.
Aproximadamente entre 3 e 15 dias depois, a pessoa Fonte: BRASIL (2003).
passará a apresentar o quadro clínico da doença, tor-
nando-se infectante para o mosquito a partir do quinto
dia. Já o mosquito torna-se infectante a partir do oita-
vo dia da picada de um paciente infectado. sastre biológico de graves proporções, em função do
crescimento do número de pacientes que necessitam
Assim, a dengue caracteriza-se por um cenário de de tratamento em ambiente hospitalar. Os sintomas
transmissão endêmica/epidêmica em grande parte do iniciais são semelhantes aos da dengue clássica, mas
país, tendo como importantes fatores a circulação si- as manifestações hemorrágicas costumam aparecer a
multânea dos quatro sorotipos virais e a presença do partir do segundo ou terceiro dia. Pode ocorrer tam-
vetor Aedes aegypti119. bém aumento de volume do fígado e do baço. Quando
benignas, as manifestações hemorrágicas variam en-
O quadro clínico da dengue se caracteriza por febre tre pequenos pontos hemorrágicos, derrames hemor-
elevada, dores intensas e erupções cutâneas. A febre rágicos e hemorragias nasais e gengivais. Se malig-
surge de forma súbita e se mantém por cinco a sete nas, ocorrem grandes hemorragias gastrointestinais,
dias, acompanhada de calafrios, com intensa sudorese. acompanhadas de vômitos escuros e de fezes líquidas
Os sintomas dolorosos são muito típicos desta enfer- e escuras. Quando muito intensas, provocam quadros
midade, conhecida popularmente como “febre quebra- de “choque hemorrágico”, que se caracterizam por
-ossos”. As dores de cabeça, musculares e articulares aumento da frequência cardíaca, queda acentuada
são intensas, e podem ser acompanhadas de sensação da pressão arterial, pulso muito rápido e fraco, quase
de fadiga, moleza, cansaço fácil, depressão e anemia. impalpável, pele úmida e fria e lábios e extremidades
arroxeadas, denunciando ineficiente oxigenação dos
As erupções cutâneas iniciam-se com vermelhidão da tecidos. Se a hemorragia não for detida e o volume do
pele. Nos últimos dias de infecção, podem surgir pe- sangue não for reposto, o quadro de choque pode evo-
quenos pontos hemorrágicos nos pés, pernas, braços, luir para o óbito.
axilas e no céu da boca e derrames hemorrágicos, pro-
vocados por pequenos traumatismos. A susceptibilidade à dengue é universal. Todos os indi-
víduos não infectados anteriormente por algum subtipo
A dengue hemorrágica (forma mais grave da doença) viral são vulneráveis a adquirir a dengue. Nas crianças,
possui maior letalidade, caracterizando-se em um de- a doença costuma ser mais benigna do que nos adultos.
A imunidade para vírus do mesmo tipo é de longa du-
119
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015b). ração. Já se forem vírus de tipos diferentes, a infecção
| 105
pode predispor o organismo para um quadro de dengue Pelo grande número de doentes com dengue a cada ano
hemorrágico. No que se refere ao risco de infecção, no Brasil, a doença tem grande impacto social devido
este é maior em áreas mais densamente povoadas pelo às perdas econômicas causadas pelo absenteísmo no
Aedes aegypti, como aquelas com urbanização precá- trabalho; e sobrecarga dos serviços de saúde – espe-
ria (invasões, aglomerados urbanos), onde são mais cialmente do SUS – pela afluência de grande número
frequentes os criadouros do vetor. de doentes durante as epidemias de verão.
Ocorrência Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
No Brasil, os vírus foram reintroduzidos em 1986, e Definição
desde então a doença apresenta-se de forma endêmi-
ca no país, sujeita a exacerbações epidêmicas, espe- A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é
cialmente no verão (início do período chuvoso), mas de uma infecção viral crônica produzida pelo retrovírus
muito baixa letalidade. É a doença infecciosa humana
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana, transmitido
mais frequente no Brasil, causando mais de 1 milhão
via parenteral (seringas de injeção reutilizadas), atra-
de casos por ano.
vés do contato sexual, por transfusão de sangue, ou
A partir do segundo semestre de 2009 houve uma grande durante a gravidez e aleitamento.
circulação do vírus no Brasil, registrando-se em 2013 a
maior epidemia de dengue da história do país120. A den- Caracterização
gue é uma doença de notificação obrigatória em caso
de surtos epidêmicos e ainda não existem vacinas nem O vírus HIV possui algumas características que justifi-
tratamento específico para a enfermidade. Já existe uma cam sua agressividade e letalidade:
tradição de participação da Defesa Civil nas campanhas
educativas de combate à doença. Estas campanhas fo- - O vírus ataca o sistema de defesa do organis-
cam-se na destruição dos criadouros e na eliminação dos mo, destruindo as células responsáveis por sua
transmissores ainda em seu estágio larvar (Figura 85). identificação e bloqueando a produção de an-
ticorpos contra o retrovírus e demais micro-or-
120
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015b). ganismos “oportunistas”.
- O HIV possui uma imensa mutabilidade, o que por HIV tem aumentado lentamente desde os anos 2000
tem impedido o desenvolvimento de vacinas em toda a América Latina, e o número de pessoas infec-
eficientes. tadas com o HIV no Brasil até 2012 era de 656.701121.
- Determina uma infecção crônica, com depres-
são do sistema imunológico. 1.6.1.2. Doenças Infecciosas Bacterianas
A infecção apresenta um quadro clínico dividido em O COBRADE caracteriza um desastre biológico como
cinco fases: epidemia provocada por doenças infecciosas bacteria-
nas quando há um aumento brusco, significativo e tran-
- Invasiva: os indivíduos não manifestam sinto- sitório da ocorrência de doenças geradas por bactérias.
mas, ou, se manifestam, são poucos sintomas Entre as doenças bacterianas, podem ser citadas:
e sem características específicas (sudorese
noturna, ligeira debilidade do organismo e • Coqueluche
mal-estar sem causa aparente). • Peste
- Portador Assintomático: os portadores não apre- • Botulismo
sentam sintomas, mas podem ser disseminadores • Meningite
da infecção. O tempo de duração desta fase é va- • Cólera
riável, podendo prolongar-se por mais de 5 anos. • Sífilis
- Quadro de Adenopatia Persistente e Generali- • Tuberculose
zada: reação inflamatória dos gânglios linfáti- • Leptospirose
cos, que persiste por até mais de três meses, • Febre maculosa
tendendo à generalização.
- Quadro Clínico do Complexo com a AIDS: presen- Coqueluche
ça simultânea de dois ou mais sinais e sintomas,
com mais de um mês de duração – linfoadenopa- Definição
tia generalizada e persistente; debilidade orgâni-
ca, com fraqueza e prostração; diarreia crônica e A Coqueluche é uma infecção bacteriana aguda de no-
persistente; perda de peso; febre acompanhada tificação compulsória em todo território nacional que
de sudorese noturna; candidíase oral. ataca o trato respiratório, atingindo principalmente os
- Quadro de Imunodeficiência Adquirida Fran- brônquios e a traqueia. É de elevada transmissibilida-
ca: a depressão imune causada pelo vírus HIV de, causada pela bactéria Bordetella pertussis.
permite o desenvolvimento de infecções opor-
tunistas, bem como de tumores malignos, com A principal forma de transmissão é o contato direto en-
maior agressividade nos indivíduos infectados. tre uma pessoa doente e outra susceptível, por meio de
As neoplasias mais importantes, que podem gotículas de secreção da orofaringe eliminadas duran-
ser caracterizadas como agravos à saúde nos te a tosse, espirro ou fala. Por esta razão, surtos de co-
quadros clínicos da Imunodeficiência Adquiri- queluche em locais fechados são comuns. Esta doença
da Franca, são o Sarcoma de Kaposi e o Linfo- não apresenta vetores ou reservatórios.
ma Primário, especialmente quando localizado
no encéfalo, no fígado, nos pulmões e, mais ra- Caracterização
ramente, no coração.
Manifesta-se inicialmente após sete dias de contato
A susceptibilidade é universal e a infecção pelo HIV ocorre com as secreções de um indivíduo doente, apresentan-
em todas as faixas etárias e em todos os estratos sociais. do quadro clínico caracterizado por meio de tosse per-
Na medida em que se aprofundam os estudos epidemioló- sistente, podendo haver complicações neurológicas e
gicos, fica mais caracterizado que não existem grupos de pneumonias, especialmente em lactentes, até levar a
risco, mas condutas de risco. Assim, pertencem aos gru- óbito. Possui duas fases:
pos de condutas de risco os usuários de drogas injetáveis
que compartilham seringas, prostitutas e homossexuais. Catarral: Assemelha-se a um resfriado comum, com
Os fetos de mães soropositivas também estão sob grande bronquite leve, tosse com expectoração, coriza e febre
risco. Nas últimas décadas a doença passou a distribuir- pouco intensa;
-se igualmente em populações heterossexuais.
Paroxística: Tosse convulsiva de caráter contínuo e
Ocorrência sem inspiração intermediária. A tosse prejudica a oxi-
genação do corpo de tal forma que a pessoa chega a
No Brasil, o primeiro caso foi notificado em 1981. No ficar com as extremidades arroxeadas. Ao final, ocor-
Brasil, instalou-se inicialmente nas grandes cidades das re uma inspiração profunda e ruidosa, o que rotula o
Regiões Sudeste e Sul, disseminando-se, nas décadas se-
guintes, por todo o país. O número de adultos infectados 121
http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil
| 107
diagnóstico. Ocorre expectoração pouco abundante, e É causada pela bactéria Yersinia pestis – bacilo gram-
podem ocorrer vômitos. -negativo, com característica coloração bipolar e nor-
malmente de forma ovoide (bacilo curto).
Ocorrência
Os roedores silvestres são os reservatórios naturais da
No Brasil, após um período de declínio em sua inci- peste. Os coelhos e lebres, os carnívoros e os roedores
dência, houve uma recrudescência da doença a partir domésticos podem ser contaminados por pulgas infec-
de 2006 e, entre 2010 e 2014, segundo o Ministério da tadas e podem ser fonte de infecção humana.
Saúde, foram notificados 72.901 casos suspeitos de co-
queluche, sendo 31% confirmados122. Para o período, foi Normalmente, a reação inicial no ser humano é uma
observado que a incidência de casos quadriplicou em inflamação dos gânglios linfáticos, entre dois e seis
2011 quando comparada a 2010. Para o período 2010- dias após a picada da pulga, que adquirem colora-
2014, houve maior pico de casos na semana epidemioló- ção avermelhada, ficam aquecidos e doem, o que ca-
gica 4, de 2014, com 270 casos. A ocorrência de casos da racteriza a peste bubônica. Além disso, os doentes
doença se concentrou, principalmente, nas estações da apresentam febre, acompanhada de debilidade e dor
primavera e do verão nos anos 2011, 2012 e 2013. de cabeça.
122
BRASIL (2015a). 123
CHAME (2009).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Definição Definição
O Botulismo é uma doença de notificação compulsória A Meningite Meningocócica é uma doença bacteriana
em todo território nacional. Caracteriza-se como uma de notificação compulsória em todo território nacional
intoxicação alimentar extremamente severa que ataca que ataca as meninges (membranas que envolvem a
o sistema nervoso, causado pela bactéria Clostridium medula e o encéfalo), causada pela bactéria Neisseria
botulinum, a qual possui quatro sorotipos (Ab, B, E ou meningitidis. Os tipos sorológicos mais frequentes nos
F). Esta bactéria ocorre no trato intestinal de animais, surtos epidêmicos são os dos grupos A, B e C. Existem
inclusive peixes, no gelo e na água. meningites que podem ser causadas por outras espé-
cies de bactérias como a Streptococcus pneumoniae e
A principal forma de transmissão é pela ingestão da a Haemophilus influenzae.
toxina botulínica liberada pela bactéria em anaero-
biose, principalmente por meio de alimentos enla- Caracterização
tados e conservas naturais de legumes e de frutas,
além de peixes, com baixos teores ácidos ou mal A meningite meningocócica pode ser:
preparados. Os surtos relacionados com o sorotipo
E relacionam-se geralmente com consumo de pro- • Restrita à nasofaringe, assintomática ou com
dutos marinhos. sintomas locais compatíveis com uma faringite
inflamatória;
Caracterização • Invasiva, com multiplicação na corrente sanguí-
nea, normalmente com erupções cutâneas, sob
O quadro clínico manifesta-se entre 12 e 36 horas após a forma de derrames sanguíneos puntiformes e
a ingestão do alimento contaminado e caracteriza-se comprometimento das articulações;
por queda palpebral, dificuldades visuais, boca seca e • Meníngea, quando se comprova o comprometi-
garganta dolorida, seguida de paralisia flácida, simé- mento destas membranas.
trica e descendente; e vômitos, diarreia e ocasional-
mente prisão de ventre. Aproximadamente um terço A transmissão se dá principalmente pela inalação de
dos pacientes pode morrer de 3 a 7 dias após o início gotículas de secreções eliminadas pela boca e pelo na-
dos sintomas, em consequência de parada respiratória riz de pessoas contaminadas pela bactéria, devido à
ou de superinfecção. proximidade entre indivíduos doentes, portadores sãos
e indivíduos saudáveis. O período de incubação varia
Ocorrência entre 2 e 10 dias, com maior prevalência entre 3 e 4
dias. A transmissibilidade se mantém enquanto os me-
Segundo o Ministério da Saúde124, entre 1999 e 2014, ningococos estiverem presentes nas secreções nasofa-
houve um aumento do número de casos suspeitos de ríngeas e desaparecem após 24 horas de tratamento.
botulismo a partir de 2004, sendo 2009, 2012 e 2013 Na meningite, o único reservatório de importância epi-
os anos com maior número de casos suspeitos. Apesar demiológica é o próprio homem.
do grande número de notificações de casos suspeitos,
foram confirmados apenas 14 casos em 2009, 9 em Seus sintomas incluem dores de cabeça intensas, febre
2012 e 2 em 2013. Do total de casos confirmados, elevada, náuseas, rigidez na nuca, vômito em jatos, foto-
41% resultaram da ingestão de alimentos industria- fobia, muitas vezes acompanhados de manchas averme-
lizados contaminados, especialmente embutidos. Dos lhadas e rosadas e, mais raramente, vesículas. É comum
25 óbitos por botulismo em todo o país no período es- também o paciente apresentar um quadro de hipersensi-
tudado, 44% ocorreram na Região Sudeste e 32% na bilidade cutânea ou muscular, de tal modo que quaisquer
Região Nordeste125. estímulos sejam percebidos como sensações dolorosas.
Convulsões musculares também costumam ocorrer. O de-
O botulismo é uma doença de elevada letalidade lírio e o coma são frequentes e, nos casos fulminantes,
e, caso diagnosticada, deve ser considerado uma logo no início da doença, instala-se um quadro de pros-
emergência médica e de saúde pública. Pacientes tração e choque, que pode evoluir para o óbito.
tratados em Unidades de Terapia Intensiva – UTI po-
dem apresentar índices de sobrevivência superiores Algumas vezes o paciente fica com sequelas, sendo
a 90%. comuns crises hemorrágicas, acompanhadas de in-
suficiência suprarrenal aguda. Dentre as sequelas
neurológicas mais frequentes destacam-se quadros
124
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/30/Gr-
--ficos---Botulismo---2.pdf
epiléticos, hipertensão, hidrocefalia, atrofia do ner-
125
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/30/Ta- vo ótico e transtornos mentais. De um modo geral, as
bela-----bitos-botulismo-28-7-14.pdf sequelas e as recaídas são causadas por tratamentos
| 109
inadequados, insuficientes ou suspensos, antes que A distribuição das meningites endêmicas e epidêmicas
ocorra a cura completa. é geral e ocorre no mundo inteiro tanto em áreas urba-
nas como em áreas rurais. Portanto, ocorre em toda a
Com o diagnóstico precoce e com o tratamento antibió- extensão territorial do Brasil.
tico adequado, a taxa de letalidade da doença no Brasil
hoje está em torno de 20%. A forma disseminada (me- As meningites são importantes do ponto de vista de
ningococcemia) tem elevada taxa de mortalidade (40%). saúde pública, devido à sua magnitude, capacidade de
ocasionar surtos e, no caso das meningites bacterianas,
Ocorrência pela gravidade dos casos. A vulnerabilidade é maior em
crianças antes dos cinco anos de idade, especialmente
Nas últimas décadas, a incidência no Brasil tem se menores de um ano. Casos da doença costumam ser
mantido estável, em torno de 1-2 casos/100 mil ha- mais frequentes no inverno. Em aglomerações e am-
bitantes, graças à disponibilidade de vacinação. Na bientes fechados o risco de transmissão é maior, assim
década de 1970, cidades como o Rio de Janeiro e São como em casos de superlotação nas habitações, nos lo-
Paulo sofreram sérias epidemias, com cerca de 20 mil cais de trabalho, nas conduções, nas escolas e quartéis.
casos registrados. Os quadros clássicos ocorrem preferentemente entre
crianças maiores e adultos jovens do sexo masculino.
A doença tem grande repercussão social por sua po-
tencial gravidade e fácil contágio, o que resulta em fe- Cólera
chamento temporário de escolas e outras restrições.
Definição
A meningite é considerada uma doença endêmica no
Brasil; portanto, casos da doença são esperados ao A Cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda de
longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epi- notificação compulsória em todo território nacional,
demias ocasionais, sendo mais comuns as epidemias causada pela bactéria Vibrio cholerae e suas variantes
de meningites bacterianas durante o inverno e das me- (ElTor, Inaba e Ogawa). Esta bactéria produz enteroto-
ningites virais durante o verão. xinas que atacam principalmente o sistema digestório,
sendo transmitida sobretudo através da ingestão de
Em 2014, foram notificados 25.898 casos suspeitos de água ou alimentos contaminados por fezes e vômitos
meningite no Brasil, dos quais 67% foram confirmados126. dos pacientes ou de portadores assintomáticos. O ser
Do total de casos confirmados, 34% foram causadas por humano é o principal reservatório da cólera e a bacté-
bactérias, 47% foram virais, 14% não foram especificadas ria pode permanecer na água durante longos períodos.
e 5% tinham outras etiologias como origem da doença.
A Tabela 6 apresenta o número de casos de meningites, Caracterização
com óbitos e letalidade ocorridos em 2014 e 2015.
Os sintomas da cólera manifestam-se desde algumas
126
http://www.saude.rs.gov.br/upload/1437759444_Perfil%20Epi- horas após a ingestão da água ou alimento contami-
demiol%C3%B3gico%20da%20Meningite%20Brasil%20&%20 nado até cinco dias após e incluem diarreia aquosa e
Mundo.pdf. profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras,
Tabela 6. NÚMERO DE CASOS DE MENINGITES, COM ÓBITOS E LETALIDADE, OCORRIDOS EM 2014 E 2015.
2014* 2015*
Doença Meningocócica 1.617 336 0,83 20,8 1.308 280 0,67 21,4
Meningite Tuberculosa 409 72 0,21 17,6 341 56 0,18 16,4
Meningite por Haemophilus 116 20 0,06 17,2 118 20 0,06 16,9
Meningite Pneumocócica 953 279 0,49 29,3 937 268 0,48 28,6
Meningite por Outras Bactérias 2.956 400 1,52 13,5 2.815 395 1,45 14,0
Meningite Viral 8.521 90 4,39 1,1 7.194 120 3,71 1,7
Meningite por Outras Etiologias 775 151 0,40 19,5 798 162 0,41 20,3
Meningite Não Especificada 2.316 273 1,19 11,8 2.472 265 1,27 10,7
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE (Atualizados em out. 2016) [http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/outubro/33/tabe-
la-2000-2015_meningite.pdf].
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
provocando, portanto, um quadro de gastroenterite ma pallidum e pode ser transmitida por via sexual ou
aguda de início súbito. por via congênita (contaminação do feto por meio da
placenta de mães portadoras da bactéria).
Ocorrência
Caracterização
No Brasil, esta bactéria foi introduzida pelo Estado do Pará
em 1852. Posteriormente, novas introduções de outros so- O quadro clínico da sífilis costuma se manifestar em
rotipos da cólera ocorreram no país em 1991, pela fron- quatro fases:
teira amazônica, e em 1999 pela Baia de Paranaguá, no
Paraná. A epidemia ocorrida no Brasil em 1991 se iniciou • Lesão Primária Invasiva: Desenvolve-se normal-
pela região do Alto Rio Solimões (AM), de onde se espalhou mente a partir da terceira semana do contágio
para a Região Norte e Nordeste e, a seguir, para pratica- e se inicia sob a forma de uma pápula na pele
mente todo o país. Afetou cerca de 169 mil pessoas, tendo (elevação circunscrita de pequena dimensão).
ocorrido 2.034 óbitos (taxa de letalidade de 1,2%)127. Em- Esta então dá origem a uma ferida rasa, indolor,
bora o “vibrião colérico” não circule atualmente no Brasil, de base endurecida e bordas pouco marcadas,
dadas as características epidemiológicas da doença, com a qual é acompanhada de sinais de infecção do
disseminação global via transporte marítimo, associado gânglio próximo ao local, que aumenta de tama-
à permeabilidade da fronteira brasileira, novas epidemias nho, mas não provoca dor. A base endurecida da
poderão ocorrer. Nesta epidemia, a Região Nordeste foi a ferida define o nome da lesão – cancro duro.
mais atingida – a população desta região sofre um proble- • Erupção Secundária: Ocorre 4 a 6 semanas após
ma crônico de abastecimento de água – principalmente o contágio e coincide com a regressão espon-
nas áreas até então consideradas indenes128 e com situa- tânea de lesão primária. Nesta fase há o apa-
ção precária de saneamento e qualidade de vida. recimento de lesões secundárias na pele e nas
mucosas, acompanhada de sintomas gerais le-
Em 1999, foram registrados 4.498 casos, dos quais ves como mal-estar generalizado. É normal que,
89,5% ocorreram no Nordeste. Cerca de 10 anos após mesmo sem tratamento, as lesões de pele e de
sua reintrodução (ano 2001), a ocorrência de casos já mucosa regridam espontaneamente em poucas
era esporádica, desaparecendo a situação epidêmica. semanas, podendo levar até um ano.
O comportamento da cólera no Brasil sugere um pa- • Latência: Desenvolve-se por vários dias podendo
drão endêmico, na dependência de condições locais intercalar fases assintomáticas com fases de re-
que favoreçam a circulação do Vibrio cholerae. torno das lesões sifilíticas da pele e das mucosas.
Além disso, podem surgir lesões oculares e alte-
Esta doença, sem tratamento, pode provocar a morte rações progressivas no Sistema Nervoso Central.
por desidratação, acidose e colapso circulatório, e in- • Tardia: As lesões tardias, normalmente graves,
suficiência renal. Em pacientes não tratados e não hi- aparecem num prazo que varia entre 8 e 20 anos
dratados, a letalidade pode ultrapassar 50%. Por outro depois da ocorrência da lesão primária, caso a
lado, com tratamento adequado e hidratação precoce, infecção não seja convenientemente tratada.
a mortalidade é inferior a 1%. Nesta fase, os sintomas neurológicos são mui-
to importantes, da mesma forma que as altera-
A vulnerabilidade à cólera, assim como a outros tipos ções cardiovasculares. Também ocorrem lesões
de diarreias infecciosas, é maior entre pessoas de es- destrutivas, mas não infectadas na pele, nas
tratos socioeconômicos menos favorecidos, expostas à mucosas, nos ossos e nas vísceras, as quais são
água sem tratamento apropriado e em situações de sa- conhecidas como gomas sifilíticas.
neamento básico precário, onde a contaminação fecal
do meio ambiente é comum. Pode ser constatada tanto Ocorrência
em áreas mais desenvolvidas do país quanto nas menos
desenvolvidas, principalmente nos bolsões de pobreza A sífilis é uma doença de distribuição mundial. No Bra-
existentes nas periferias dos centros urbanos. sil, o número de casos de sífilis aumentou em 13 dos 14
estados que possuem dados disponíveis sobre a sífilis
Sífilis congênita. O aumento de infecções chegou a 603% no
Estado de São Paulo, onde os casos passaram de 2.694
Definição para 18.951 entre 2007 e 2013. Na comparação entre
2013 e 2014, os estados que registraram aumento foram:
A Sífilis é uma doença infecciosa grave de notificação Acre (96,1%), Pernambuco (94,4%), Paraná (63,1%), To-
compulsória semanal, causada pela bactéria Trepone- cantins (60%), Bahia (47%), Santa Catarina (34,1%),
Mato Grosso do Sul (6%), Mato Grosso (4,1%), Sergipe
127
REDE I3N BRASIL, s.d.
(3,8%); e Distrito Federal (22%). No Espírito Santo e no
128
Áreas indenes são aquelas em que não ocorreram danos ou regis- Rio Grande do Norte, que têm dados disponíveis só até
tros de determinada enfermidade; áreas ilesas. 2013, o aumento registrado entre 2012 e 2013 foi de,
| 111
respectivamente, 31% e 31,5%. O Estado do Amazonas Apesar de não ser tão comum, a reinfecção pode ocor-
foi o único que registrou queda do número de casos. En- rer como consequência do contato frequente e íntimo
tre 2013 e 2014, as ocorrências diminuíram 20,2%129. com pacientes tuberculosos, quedas da imunidade do
indivíduo, tratamentos imunossupressores e infecção
As lesões tardias afetam gravemente as condições de pelo HIV. No quadro de reinfecção geralmente ocorre
saúde, limitam a capacidade produtiva e reduzem a ex- hipersensibilidade orgânica, com reações inflamató-
pectativa de vida dos pacientes. rias de caráter exudativo, caracterizando quadros de
pneumonia exudativa e derrames pleurais, e imuni-
Quando gestantes, as pacientes sifilíticas podem so- dade orgânica, que tipificam os processos curativos,
frer numerosos abortos espontâneos. Em casos de sí- como a formação de nódulos de tecido fibroso e, numa
filis congênita, pode provocar a morte do feto ou ainda segunda fase, a calcificação dos nódulos fibrosados.
o mesmo nascer normal, mas apresentar sintomas da
doença durante a infância. Com relação aos sintomas, manifestações clínicas de
origem pulmonar (na sua forma crônica) são mais fre-
Tuberculose quentes. Entretanto esta doença se exterioriza de for-
mas diversas e afeta praticamente todo o corpo huma-
Definição no, como fígado, baço, medula óssea, rins e o sistema
nervoso, caso passe para a linfa.
A Tuberculose é uma doença infecciosa, curável e trans-
missível de notificação compulsória que atinge os pul- No quadro de tuberculose pulmonar, ocorre fadiga, fe-
mões. Esta doença é provocada pelo bacilo de Koch bre com suores noturnos abundantes, perda de apetite
(Mycobacterium tuberculosis), que ocorre sob a forma e de peso progressivo, tosse persistente, dores toráci-
de quatro variedades sorológicas: Mycobacterium tuber- cas, escarros sanguinolentos e, algumas vezes, expec-
culosis hominis, M. t. bovis, M. t. africanum e M. t. avium. toração com abundante eliminação de sangue “espu-
A imensa maioria das infecções humanas é causada pela moso” e avermelhado. Podem ocorrer complicações,
variedade hominis. A variedade bovis pode ser transmiti- como derrames pleurais, espessamentos pleurais, con-
da através do leite infetado não fervido ou pasteurizado solidações pneumônicas e fibroses pulmonares.
de rebanhos contaminados. Cabe ressaltar que esta for-
ma de infecção é muito pouco frequente no Brasil. Ocorrência
A Mycobacterium tuberculosis é transmitida pela ina- Anualmente são notificados cerca de 6 milhões de
lação de gotículas espalhadas no ar pela fala, espirro novos casos em todo o mundo, levando mais de 1 mi-
ou tosse da pessoa contaminada pela doença. lhão de pessoas a óbito130. O surgimento da Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o crescimento
Caracterização do número de dependentes químicos e alcoólatras e
o aparecimento de focos de tuberculose resistentes a
A tuberculose apresenta um padrão evolutivo, compor- medicamentos agravam ainda mais este cenário.
tando quatro formas de infecção:
No Brasil, a tuberculose é um sério problema de saú-
• Inicial: Assintomática ou com sinais e sintomas de pública, com profundas raízes sociais. Segundo o
mínimos, que podem passar despercebidos. Ge- Ministério da Saúde, são notificados aproximadamen-
ralmente cura-se sozinha e deixa sequelas míni- te 70 mil casos novos, ocorrendo 4.600 mortes em
mas (gânglios linfáticos calcificados). decorrência da doença no Brasil a cada ano. O país
• Localizada Mínima: Foco latente que pode retor- ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis
nar após alguns anos e dar origem a um quadro por 80% do total de casos de tuberculose no mundo.
de tuberculose ativa. O Ministério da Saúde possui uma série histórica do
• Crônica: Evolui com surtos de agravamento gra- coeficiente de mortalidade de tuberculose no Brasil,
dual e progressivo. de 1990 a 2014131; a taxa de mortalidade por tuber-
• Aguda: Em casos excepcionais, pode se agravar culose na Região Sudeste é a maior, sendo o Estado
de forma brusca e violenta, levando a óbito. do Rio de Janeiro o que apresenta os maiores índices.
As Regiões Sul e Centro-Oeste são as que apresen-
Quanto ao padrão imunológico, a tuberculose apresen- tam menor taxa de mortalidade pela doença, sendo
ta duas fases: inicial, que se desenvolve em pessoas o Distrito Federal onde são encontrados os menores
que não foram sensibilizadas pelo bacilo da tuberculo- índices (Figura 86, Figura 87 e Figura 88).
se; e secundária (ou reinfecção), que se desenvolve em
indivíduos já sensibilizados. 130
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi-
pal/secretarias/svs/tuberculose
129
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/07/sifilis-aumenta- 131
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/junho/27/ta-
-em-13-de-14-estados-com-dados-disponiveis-sobre-doenca.html xa-mortalidade-tuberculose-1999-2014-base-JUN-2016.pdf
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 86. TAXA DE MORTALIDADE DE TUBERCULOSE NO BRASIL E POR GRANDES REGIÕES (1990-2014).
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Mato Grosso Mato Grosso do Sul Região Centro-Oeste Goiás Distrito Federal
Nos últimos 17 anos, segundo o Ministério da Saúde132, Esta doença pode ser transmitida aos seres humanos
a tuberculose apresentou queda de 38,7% na taxa de por contato direto da pele escoriada ou das mucosas
incidência e 33,6% na taxa de mortalidade. A tendên- com água, solo ou vegetação contaminados pela uri-
cia de queda vem se acelerando ano a ano após um es- na de roedores (Rattus rattus). Estes roedores cons-
forço nacional que pode determinar o efetivo controle tituem-se em reservatórios da bactéria, uma vez que
da tuberculose em um futuro próximo. ela vive sem causar danos ao organismo do animal.
A contaminação de pessoa para pessoa, embora pos-
A tuberculose ainda hoje se constitui em uma importante sível, é rara.
causa de incapacitação e de morte em numerosos países
do mundo, especialmente nos menos desenvolvidos. Caracterização
A susceptibilidade à tuberculose é universal. A vulnera-
bilidade à infecção é maior entre crianças menores de Seu quadro clínico caracteriza-se por apresentar início
três anos, adolescentes e adultos jovens, idosos, alcoóla- súbito e agudo e pode apresentar os seguintes sinais
tras e dependentes químicos, portadores do HIV, pessoas e sintomas: febre elevada, normalmente precedida de
com doenças consumptivas (câncer) ou degenerativas calafrios com prostração, fraqueza, dores de cabe-
(diabetes), pacientes de afecções pulmonares crônicas, ça e musculares, inchaços e sinais de inflamação das
indivíduos com quadro de hiponutrição ou que vivem em
conjuntivas oculares, além de aumento acentuado do
locais com aglomeração de pessoas, com dormitórios
número de glóbulos brancos, comprovado pelo exame
mal arejados, em contato com eliminadores de bacilos.
de sangue. A partir da segunda semana de infecção, o
Leptospirose paciente pode apresentar um quadro de insuficiência
hepato-renal, com aumento do tamanho do fígado, ic-
Definição terícia, inchaço ou edemas na pele. Em casos em que
ocorram complicações, podem ocorrer ainda rushes
A Leptospirose é uma doença infecciosa bacteriana de eruptivos, semelhantes aos do sarampo, fenômenos
animais vertebrados (zoonose) de notificação obriga- hemorrágicos e quadros de meningite e de miocardites
tória. A leptospirose é causada pela bactéria Leptospi- provocados pela bactéria.
ra interrogans e suas variantes – existem cerca de 20
sorogrupos e mais de 170 sorotipos identificados. Os Sua duração varia de alguns dias até mais de quatro
sorotipos mais prevalentes nas infecções humanas são semanas. É uma doença relativamente grave e pode
os das subespécies L. i. icterohaemorragiae, L. i. ca- ter complicações pulmonares que requerem interna-
nicula, L. i. pomona, L. i. australos e L. i. hebdomadis. ção hospitalar e tratamento com antibióticos. A taxa
de letalidade média, no Brasil, tem estado em torno de
132
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi- 11% dos casos. Normalmente, o óbito é causado por
pal/secretarias/svs/tuberculose insuficiências hepato-renais ou por miocardites.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Ocorrência Malária
Os sintomas de malária são acessos febris, que se ini- Nas áreas endêmicas de malária podem ocorrer qua-
ciam com calafrios intensos e tremores e terminam dros febris atípicos, que só são diagnosticados por in-
com sudorese profusa. Estes ciclos febris caracteri- termédio de exame laboratorial.
zam-se pela rápida elevação da temperatura corporal
que, muitas vezes, ultrapassa 40 ºC. Atingido o pico Algumas cepas do P. falciparum são resistentes ao
febril, os tremores e calafrios são substituídos pela tratamento e, nos casos não tratados ou tratados de
sensação de calor intenso e de desconforto, acompa- forma ineficiente, provocam uma taxa de mortalidade
nhados por forte dor de cabeça com náuseas e vômitos, que pode ultrapassar 10%. As outras formas de malá-
podendo ocorrer fenômenos alucinatórios. ria humana, provocadas pelos P. malariae, P. vivax e P.
ovale são mais benignas e, normalmente, não amea-
Após o pico febril, a temperatura corporal cai rapidamen- çam a vida, exceto em pacientes muito idosos, muito
te, acompanhada de sudorese profusa e de muita sede, jovens ou no caso de pessoas debilitadas por enfermi-
que compulsa o paciente a ingerir grandes quantidades dades associadas.
de água para corrigir a desidratação provocada pelo
acesso febril. O paciente se sente relativamente bem, e Ocorrência
a única queixa é uma dor localizada na região do baço,
que corresponde ao processo de contração do órgão para No Brasil, a malária é infecção típica da região Amazô-
repor o volume de glóbulos vermelhos circulantes. Com o nica, onde surtos epidêmicos têm ocorrido em função
decorrer do tempo, verifica-se um aumento do volume do das numerosas populações de vetores nos ecossiste-
baço facilmente percebido pela apalpação. mas naturais e modificados porém adequados à proli-
feração dos vetores. Ocorre mais frequentemente em
Como durante os acessos febris ocorre uma grande ambientes antropizados, onde se formam criadouros
destruição dos glóbulos vermelhos, os exames de san- para os vetores e onde há aglomerações humanas. Em
gue revelam anemia secundária e, em muitos casos, áreas rurais da Região Norte, o ciclo de transmissão é
elevação da bilirrubina indireta, caracterizando uma influenciado pela variação sazonal dos rios.
síndrome de icterícia pré-hepática.
Apesar de seu endemismo, surtos esporádicos podem
De acordo com a espécie de plasmódio infectante e ocorrer fora da Amazônia quando pessoas infectadas
com o número de gerações parasitantes que estão evo- se deslocam para outras partes do país. Nos anos 1930,
luindo no organismo, os picos febris podem ocorrer a a introdução via marítima de um vetor urbano da Áfri-
intervalos de 72, 48 ou 24 horas. ca (Anopheles gambiae) provocou epidemias de malá-
ria no Rio Grande do Norte, com cerca 100 mil casos e
A sucessão de crises febris intercaladas caracteriza um 24 mil óbitos (CAMARGO, 1995). Em 2015, ocorreram
“ataque febril”. Normalmente o primeiro ataque febril, 8.800 casos da doença em Manaus, representando um
na ausência de tratamento, dura no máximo 30 dias, aumento de 32% em relação ao ano anterior.
podendo ressurgir após um intervalo de tempo variá-
vel, comum no caso das malárias humanas causadas A vulnerabilidade é maior na população que penetra nos
por Plasmodium vivax e por P. ovale. ambientes naturais ou antropizados onde circula o pa-
rasita nos mosquitos, sendo, entre os diversos estratos
A forma mais grave de malária humana é a chamada “ter- sociais, maior entre os garimpeiros. As gestantes com
çã maligna”, provocada pelo Plasmodium falciparum que, infecções complicadas requerem tratamento hospitalar.
além dos picos febris, apresenta icterícia intensa; insufi-
ciência renal com redução ou supressão da urina; altera- Leishmaniose Visceral
ções dos mecanismos de coagulação; quadros de choque;
insuficiência hepática e quadros de encefalite aguda, com Definição
hipertensão cerebral, que podem evoluir para o coma e
para a morte. Caso a doença atinja o encéfalo, temos a A Leishmaniose Visceral ou “Calazar” é uma doença
sua forma mais grave, conhecida como “malária cerebral”. infecciosa crônica, endêmica de animais, de caráter
sistêmico ou generalizado, causada por protozoários
das espécies Leshmania chagasi e L. donovani.
Icterícia intensa – Coloração amarelada das con- É transmitida acidentalmente ao homem por meio da
juntivas oculares e da pele, e pelo aumento da bi- picada de fêmeas de mosquitos flebótomos – gênero
lirrubina indireta, nos exames de sangue*. Lutzomyia (“mosquito palha”) e Phlebotomus longi-
Nota: Coloração amarelada das conjuntivas oculares e da palpis – infectados após picarem um cão doméstico,
pele, e pelo aumento da bilirrubina indireta, nos exames de bem como raposas e roedores silvestres portadores da
sangue (BRASIL. Manual de Desastres de Natureza Biológi- doença. Estes animais constituem-se nos principais
ca. Brasília: MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2003).
reservatórios. Pode ocorrer também transmissão por
transfusão de sangue ou por contágio sexual.
| 117
vagas, discreto aumento do fígado e do baço, Ainda de acordo com este órgão, entre 1998 e 2014137,
aumento importante do número de eosinófilos as Regiões Nordeste (5.761 óbitos) e Sudeste (2.694
nos exames de sangue, denunciando reação óbitos) contaram com o maior número de óbitos por es-
de hipersensibilização do organismo. A partir quistossomose, sendo os estados com o maior número
desta fase, começam a aparecer ovos do verme de óbitos Pernambuco e Alagoas na Região Nordeste e
nos exames de fezes. São Paulo e Minas Gerais no Sudeste.
• Crônica: Esta fase apresenta as seguintes for-
mas: (a) Intestinal: crises de diarreia, algumas 1.6.1.4. Doenças Infecciosas Fúngicas
vezes com fezes mucossanguinolentas, prisão
de ventre, digestão difícil, retardo na diges- O COBRADE caracteriza um desastre biológico como
tão gástrica, aumento na produção de gases uma epidemia provocada por doenças infecciosas fúngi-
abdominais e dores abdominais; (b) Hepatoin- cas quando há um aumento brusco, significativo e tran-
testinal: cirrose interlobular, com crescimento sitório da ocorrência de doenças geradas por fungos.
do fígado e surgimento dos primeiros sinais de
insuficiência hepática; (c) Hepatoesplênica:
crescimento do baço, anemia, redução do nú-
mero de neutrófilos e do número das plaque- Fungos são organismos formados por uma ou várias
tas, surgimento de varises esofágicas, as quais células eucariontes (com o material genético orga-
podem romper-se, provocando hemorragias nizado dentro de um núcleo), cujo modo de nutrição
graves, além de subnutrição e acúmulo pronun- caracteriza-se como heterotrófico por absorção.
ciado do volume de líquido no interior da cavi- Portanto, são organismos incapazes de realizar a fo-
dade abdominal – “barriga d’água”; (d) Cardio- tossíntese e produzir o próprio alimento, alimentan-
pulmonar: hipertensão da circulação pulmonar do-se da matéria orgânica presente no meio, atuan-
e falência do ventrículo direito, caracterizando do como importantes decompositores na natureza.
um quadro “cor-pulmonar” crônico, complican- São exemplos de fungos os cogumelos, os bolores,
do ainda mais a situação hepática. Trata-se de os mofos, os orelhas-de-pau e as leveduras.
uma doença inicialmente assintomática, que Fonte: LOPES e ROSSO (2014).
pode evoluir para formas clínicas extremamen-
te graves e levar o paciente a óbito.
infecções sistêmicas ocorrem por inalação de propá- cerca de 17 espécies de Candida causando micoses su-
gulos (esporos) – estruturas de reprodução que ficam perficiais ou sistêmicas, das quais as mais importantes
suspensas no ar ou imobilizadas no solo. Porém, outras clinicamente são C. parapsilosis, C. tropicalis, C. gla-
vias de entrada podem ocorrer, como é o caso da mani- brata, C. krusei, C. guilliermondii e C. lusitania142.
pulação de cateteres e outros dispositivos médicos em
unidades de terapia intensiva. Caracterização
No Brasil, estima-se que cerca de 3,8 milhões de pes- Os fungos do gênero Candida são encontrados fre-
soas sofram de infecções fúngicas todos os anos, sen- quentemente colonizando o hospedeiro humano (20 a
do a maioria oportunísticas relacionadas a neoplasias, 80% da população adulta saudável), sendo que entre
transplantes, asma, tuberculose prévia, infecção por as mulheres, a colonização do trato genito-urinário é o
HIV e aqueles vivendo em áreas endêmicas para fun- mais comum (cerca de 20 a 30%)143.
gos altamente patogênicos139. A incidência de micoses
oportunísticas invasivas tem aumentado mundialmen- A Candidíase tem apresentação clínica variando de le-
te devido à expansão da população de pacientes imu- sões brandas, agudas ou crônicas, de caráter superfi-
nossuprimidos (transplante de órgão sólido e de célu- cial ou profundo, e com espectro clínico bastante vas-
las-tronco hematopoiéticas), pacientes com câncer e to. A manifestações mais comuns são:
com AIDS, recém-nascidos prematuros, pacientes ido-
sos e pacientes em recuperação de grandes cirurgias, • Candidíase oral: leveduras do gênero Candida fa-
com elevadas taxas de morbidade e mortalidade. zem parte da microbiota oral, principalmente C.
albicans. Porém, formas patogênicas invasivas
Embora alguns fatores de risco sejam comuns a várias podem induzir o aparecimento de lesões que são
áreas de ocorrência dessas doenças, existem particu- frequentes em crianças ou pacientes imunodepri-
laridades regionais que determinam maior ou menor midos. A forma pseudomembranosa (“sapinho”) é
incidência dos agravos, como os recursos disponíveis a mais conhecida no Brasil, manifestando-se por
para o tratamento, programas de treinamento, imple- placas esbranquiçadas que são facilmente remo-
mentação de programas de controle de infecção em víveis da língua e mucosas. Entretanto, a candi-
hospitais e a existência de recursos humanos treinados, díase oral pode evoluir para complicações do tipo
fatores esses muito variáveis entre os países140. Den- orofaringeanas, esofágicas, laringeanas e sistê-
tre as micoses oportunísticas de importância atual no micas, estando essas muito associadas aos HIV
Brasil estão Candidíase, Mucormicose, Criptococose positivos. O tratamento é simples nos pacientes
(Meningite fúngica), e Aspergilose, enquanto as invasi- imunocompetentes através de antifúngicos tópi-
vas endêmicas mais importantes são Coccidioidomico- cos, enquanto em hospedeiros imunodeprimidos
se, Paracoccidioidomicose e Histoplasmose141. A Pneu- se faz necessária a combinação de uma terapia
mocistose foi incluída dentre as micoses de relevância intensiva tanto sistêmica como local devido à
epidemiológica devido à sua associação estreita com maior chance de recidiva144.
pacientes portadores de HIV e AIDS, doença que re- • Candidíase vaginal: C. albicans é a espécie mais
presenta uma pandemia com elevado custo social e de comum encontrada no trato genital feminino,
saúde. Muitas dessas doenças fúngicas vêm ocorrendo com prevalência de 70 a 90% dos casos, causan-
de forma crescente em pacientes com alterações imu- do coceira, odor, prurido, corrimento, ardor ao
nológicas, como HIV (vírus da imunodeficiência huma- urinar e desconforto vaginal. O tratamento mais
na), transplantados e usuários de imunobiológicos, o comum é a partir de derivados imidazólicos, tó-
que torna o conhecimento da epidemiologia e controle picos ou sistêmicos. Porém, outras espécies têm
dessas doenças importantíssimo para as ações de saú- sido frequentemente relacionadas a infecções
de pública e vigilância epidemiológica no país devido ginecológicas, como é o caso de C. glabrata.
à crescente incidência dessas condições de saúde na Esta espécie é responsável entre 5 e 15% dos
população brasileira142. casos de candidíase vulvovaginal e apresenta
resistência a diferentes tipos de substâncias143.
Candidíase • Candidíase cutânea: está associada a condições
de umidade e temperatura encontradas em deter-
Definição minadas partes do corpo, e a condições crônicas
ou infecciosas (Diabetes mellitus e HIV). Apre-
É uma doença invasiva causada por Candida sp., es- senta diversas manifestações, como intertrigo
pecialmente C. albicans. Atualmente, são conhecidas (nas dobras do corpo), foliculite, onicomicose
(unha enrijecida, dolorida ou esponjosa) e paroní-
quia (enrijecimento da pele de coloração parda a
139
Giacomazzi et al. (2016).
140
Nucci et al. (2010).
141
Bergamasco & Colombo (2014). 143
Colombo & Guimarães (2003).
142
Santos & Colombo (2014). 144
Barbedo & Sgarbi (2010).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
avermelhada). Na pele, as lesões típicas são geral- cateter venoso central, de nutrição parenteral
mente avermelhadas e com hiperqueratinização, total e de antibióticos de largo espectro142.
não causando dor. Pode acometer recém-nasci-
dos (candidíase congênita), causando lesões por Ocorrência
todo o corpo e com possibilidade de evolução para
forma disseminada, levando a óbito143. Os fungos do gênero Candida são cosmopolitas, ha-
• Candidíase sistêmica: é mais comum em pacien- vendo variação das espécies principais em cada re-
tes imunossuprimidos, sendo C. albicans e C. gião do globo. A Figura 90 mostra a variação temporal
tropicalis as mais rotineiramente envolvidas. das espécies de Candida mais comuns no mundo entre
Porém, tem havido um aumento da frequência 1997-2007. Os fatores que explicam essa variação são
de infecções por outras espécies, como C. gla- o clima, políticas antifúngicas adotadas pelos países e
brata e outras Candida sp. Em geral, Candida sp. condições de imunidade e resistência da população148.
respondem por aproximadamente 80% de todas Atualmente, Candida sp. é o quarto gênero mais co-
as principais infecções fúngicas sistêmicas145. mum em infecções fúngicas da corrente sanguínea e
A infecção clínica se dá em duas formas: 1) in- o mais comum em infecções invasivas, principalmente
fecção invasiva focal, destacando-se o acome- devido à maior complexidade dos cuidados de saúde
timento dos olhos (endoftalmite), articulações (Quadro 10). Estudo sobre a carga das infecções fún-
(osteoarticular), cérebro (meningite), e outros gicas sobre a população Brasileira mostrou que, em
órgãos internos, como coração (endocardite, 2011, mais de 2,8 milhões de casos de infecções por
mediastinite), trato urinário (infecção urinária) Candida foram reportados no país, incluindo infec-
e pulmão (pneumonia); 2) candidemia e candidí- ções invasivas e não invasivas138.
ase disseminada, em que a corrente sanguínea é
infectada pelo fungo já presente em outra parte Impactos
do corpo ou introduzido através de métodos in-
vasivos, podendo culminar na disseminação para Os fatores de risco associados à maior vulnerabilidade
um ou vários órgãos do hospedeiro146. Evidencias à infecção por Candida sp. estão relacionados à espécie
apontam que as Candidemias (infecções da cor- envolvida, demografia (incluindo condições socioeco-
rente sanguínea) têm se tornado um importante nômicas), as práticas adotadas para controle da infec-
problema em hospitais de cuidados terciários ao ção e tipo de cuidado médico a que o paciente/hospe-
redor do globo147. Alguns fatores de risco para a deiro está sujeito149. Devido aos fungos de Candida sp.
forma invasiva/sistêmica são as malignidades colonizarem diversas partes do organismo humano, as
hematológicas; transplantes de órgãos sólidos complicações dessa infecção fúngica também podem
ou de células-tronco; quimioterapia; o uso de estar associadas às condições de susceptibilidade do
145
Pfaller et al. (2011).
146
Frafe, R. (2010). 148
Guinea (2014).
147
Colombo et al. (2006). 149
Park et al. (2011).
100
%
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1997 - 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 - 2007
C. albicans Espécie mais frequente isolada de infecções superificias e invasivas em diferentes sítios.
Espécie mais relacionada à aquisição exógena, a partir de catéteres ou soluções contaminadas. Possui
C. parapsilosis diversas descrições de surtos hospitalares. Trata-se de um complexo de espécie: C. parapsilosis, C.
orthopsilosis e C. metapsilosis.
C. tropicalis Maior ocorrência em pacientes neutropênicos ou sob quimioterapia, especialmente portadores de leucemia.
Maior ocorrência em pacientes previamente expostos a azólicos, idosos (acima de 65 anos) e submetidos à
C. glabrata
cirurgia abdominal.
Patógeno hospitalar ocacional. Maior ocorrência em pacientes expostos previamente ao fluconazol, como os
C. krusei
neutropênicos e submetidos a transporte de células-tronco hematopoiéticas.
Fonte: Adaptado de Bergamasco & Colombo (2014).
hospedeiro geradas por outras doenças subjacentes ou Murcomicose e Zygomicose serão considerados como
procedimentos médicos. Sendo assim, existem alguns sinônimos nesta seção.
fatores de risco que determinam maior propensão à in-
fecção, como as pessoas com o sistema imune deprimi- Caracterização
do (HIV), gravemente enfermos e hospitalizados, que
fazem hemodiálise, com neoplasias, transplantados, Os Mucorales são fungos ubíquos encontrados facil-
os extremos de idade (recém-nascidos e idosos), com mente no meio ambiente, mas que apresentam tam-
doenças crônicas, dentre outros. Embora seja um pro- bém caráter oportunista, raramente gerando doença
blema benigno e autolimitado na maior parte dos ca- em pacientes imunocompetentes. A Mucormicose é
sos, nas condições sistêmicas pode haver um excesso uma das infecções humanas fúngicas mais agressivas
de letalidade superior a 40% e prolongamento das in- e é a terceira causa mais comum de infecções fúngicas
ternações. A letalidade da doença pode ser muito alta invasivas, compreendendo entre 8 a 13% dos casos151.
em casos de Candidíase sistêmica. Estudos apontam Representa um grupo de doenças potencialmente fa-
que para os casos de Candidemia (infecção do sangue), tais causando manifestação aguda e invasão da cor-
entre 40 e 60% dos pacientes podem evoluir a óbito rente sanguínea em pacientes imunodeprimidos, com
durante a internação139. Para algumas espécies, como taxa de letalidade elevada (60%)150. O contágio se dá
C. glabrata, a mortalidade pode chegar a 50% em pa- por inalação dos esporos, perfuração cutânea ou in-
cientes com câncer e a 100% quando em complicações gestão. Existem cinco formas principais da doença que
de transplante de medula óssea139. tendem a acometer pacientes com alterações específi-
cas do mecanismo de defesa imune:
Mucormicose (Zygomicose)
• Rinocerebral: é a manifestação mais comum da
Definição doença (44 a 49% dos casos relatados), sendo
que Rhizopus sp. perfazem cerca de 70% dos
A Mucormicose é uma doença altamente invasiva cau- casos de cultura positiva143. A infecção se ini-
sada por fungos da ordem Mucorales, sendo a espé- cia pelos seios paranasais e palato, progredindo
cie mais comum como causa de infecção o Rhizopus para a órbita ocular e, quando não diagnostica-
oryzae. Outras espécies também são frequentemente do, para o cérebro. Os sintomas são inespecífi-
implicadas como agentes etiológicos da doença, como cos e dentre os mais comuns estão febre, dor de
R. microsporus, R. pusillus, Mycocladus corymbifer e cabeça, dor orbital, perda de visão, pupila dila-
Apophysomyces elegans, sendo que os relatos de in- tada, sinusite, dormência facial e convulsões150.
fecção por espécies do gênero Cunninghamella tem Está frequentemente associada aos casos de
crescido em número em anos recentes150. O termo Zy- cetoacidose diabética e Diabetes mellitus mal
gomicose é usado para classificar as infecções causa- controlado (67% dos casos). Pode ser comum
dos por fungos tanto da ordem Mucorales quanto da também nos casos de transplante de órgãos só-
ordem Entomophthorales, que apresentam diferenças lidos e de medula óssea, queimaduras, traumas
clínicas, patológicas e epidemiológicas entre si. Po- e terapia com droga quelante de ferro desferrio-
rém, como a maioria dos casos de infecção humana é xamina. Na Mucormicose rinocerebral, as taxas
causada pelos fungos da ordem Mucorales, os termos de mortalidade variam de 30 a 69%150;
150
Spellberg & Ibrahim (2015). 151
Prabhu, R. M., & Patel, R. (2004).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
• Pulmonar: é a segunda manifestação mais co- crianças, sendo o estômago e o intestino grosso
mum da doença e a inalação de esporos é a prin- os órgãos mais afetados150. Fatores de risco são
cipal rota de infecção, porém pode haver dissemi- transplante de órgãos sólidos ou de células-tron-
nação hematogênica ou linfática do fungo152. Os co; a presença de neoplasias como leucemia e
sintomas muitas vezes se confundem com os da linfoma; má-nutrição; malária; cetoacidose dia-
Aspergilose; os principais são dispneia, tosse, dor bética; febre tifoide e prematuridade150.
torácica e febre. O diagnóstico diferencial precisa
ser feito nos estágios iniciais, pois o tratamento Ocorrência
é diferente entre as duas doenças – a droga de
primeira escolha para a Aspergilose (voriconazol) Os Murcorales são encontrados em todo o mundo, não
pode exacerbar a Mucormicose81. A Mucormico- havendo uma distribuição geográfica bem definida. São
se pulmonar não é comum em hospedeiros imu- facilmente encontrados em alguns alimentos (pães,
nocompetentes; nesses casos está relacionada a queijos e frutas), em matéria orgânica em decomposi-
traumas e história de autoexposição ambiental151. ção, estrume, e colonizando o trato gastrointestinal de
Tradicionalmente, os pacientes com leucemia e algumas espécies de répteis e anfíbios. Tanto o homem
linfoma representam a maioria dos casos (37%), quanto os animais são susceptíveis à doença, contrain-
mas literatura recente tem apontado o Diabetes do a infecção do ambiente, porém não há transmissão
mellitus (32%) como condição subjacente mais homem-homem ou homem-animal154. Afeta pessoas de
prevalente150. Na ausência de tratamento é fre- todas as idades e de ambos os sexos. Infecções foram
quente a disseminação hematogênica para outros relatadas no subcontinente indiano, na África, na Amé-
órgãos, particularmente para o cérebro, ocasio- rica do Sul, na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos.
nando óbito entre 2 e 3 semanas83;
• Disseminada: esse tipo de manifestação aco- Impactos
mete dois ou mais órgãos não contíguos e tem
alta taxa de letalidade (próxima a 100%). Ocorre Ao contrário de outras infecções fúngicas que acome-
entre 6 e 11% dos casos relatados de Murmo- tem principalmente hospedeiros imunocomprometi-
micose, sendo que os fatores de risco para dis- dos, as Murmomicoses infectam uma variedade maior
seminação compreendem neutropenia (baixa de pessoas em condições variadas de saúde. Estudos de
contagem de neutrófilos maduros), leucemia e revisão mostram, por exemplo, que pessoas sem doen-
linfoma, bem como em menor escala transplan- ça subjacente e pacientes diabéticos podem represen-
tes, quimioterapia e terapia com corticosteroi- tar até 50% dos casos registrados155. Entretanto, essa
des e quelante de ferro desferrioxamina150,152. doença tem emergido de grupos de risco formados por
Nos pacientes com alguma doença hematológi- hospedeiros imunocomprometidos, como aqueles com
ca maligna, a forma disseminada ocorre entre doenças hematológicas malignas e transplantados de
23 a 62% dos casos150; medula ou de órgãos sólidos.
• Cutânea: pode se desenvolver após quebra da
integridade da pele devido a cirurgias, queima- Criptococose (Meningite Fúngica)
duras, traumas, acidentes veiculares, fraturas,
biópsias, dentre outros. É a manifestação da Definição
doença menos associada a outras condições
preexistentes, porém os fatores de risco incluem O Cryptococcus neoformans é um fungo que possui duas
diabetes, leucemia e transplante de órgãos150. variedades de importância epidemiológica, com cinco
Pode se manifestar de forma superficial ou pro- sorotipos distintos: C. neoformans var. neoformans (so-
funda, variando desde infecção indolente até rotipos A, D e AD) e C. neoformans var. gattii (sorotipos
extremamente agressiva, com necrose e des- B e C)152. A primeira variante possui caráter oportunísti-
truição tecidual precoce, podendo requerer in- co associado a condições de imunodepressão e a segun-
tervenção cirúrgica, terapia antifúngica ou mes- da, é considerada verdadeiramente patogênica, acome-
mo amputação150,152. Dentre os casos relatados, tendo também pacientes imunocompetentes156.
a Mucormicose cutânea é a que apresenta, mais
frequentemente, ausência de predisponentes e Caracterização
os mais baixos índices de letalidade (15%)153;
• Gastrointestinal: apresenta sintomas inespecífi- De maneira geral há duas entidades clínica distintas
cos que compreendem dor abdominal, melena e determinadas pela espécie infectante: C. neoformans
hematêmese. Cerca de 1/3 dos casos ocorre em var. neoformans está associada a condições de imu-
nodepressão do hospedeiro, enquanto C. neoformans
152
Severo, Guazzelli, & Severo (2010).
153
Marques, S. A., de CamargoII, R. M. P., AbbadeIII, L. P. F., & Mar- 154
Pan American Health Organization (2001).
quesIV, M. E. A. Mucormicose: infecção oportunística grave em pa- 155
Roden et al. (2005).
ciente imunossuprimido. Relato de caso. 156
Ministério da Saúde (2012).
| 123
var. gattii é uma doença primária, endêmica de áreas • Comprometimento Ocular: em geral está as-
tropicais e subtropicais, que acomete hospedeiros sem sociada ao quadro clínico da doença do SNC ou
evidência de imunodepressão154. Independentemen- disseminado, mas também pode ocorrer o aco-
te da espécie envolvida, a Criptococose se manifesta metimento apenas do globo ocular. A diplopia é
principalmente por meningite ou meningoencefalite o sintoma mais comum quando o acometimento
aguda ou crônica, de evolução grave a fatal140. Essa ocular está associado à meningite ou meningo-
manifestação pode ser acompanhada ou não de lesão encefalite, enquanto nos casos de comprometi-
pulmonar, fungemia e focos secundários para pele, mento ocular primário o sintoma usual é a co-
ossos, rins, suprarrenal, entre outros157. Clinicamente riorretinite. Em indivíduos imunocompententes
podem ocorrer as seguintes manifestações: com infecção por C. neoformans var. gattii cau-
sando meningite há relatos de perda da visão
• Comprometimento do Sistema Nervoso Central: em até 53% dos casos.156
é a forma mais comum da doença, seja isolada
ou associada ao acometimento do pulmão, ocor- Ocorrência
rendo em cerca de 80% dos casos. Em pacientes
imunodeprimidos, com AIDS ou outras doenças Apresenta distribuição cosmopolita, porém existem
imunossupressoras, a meningoencefalite ocorre diferenças ecológicas na ocorrência das duas varian-
de modo agudo e pode apresentar poucos sinais tes. Cryptococcus neoformans var. neoformans pode
e sintomas. Em pacientes imunocompetentes o ser encontrado em todo o mundo (sorotipo A), embora
quadro clínico é exuberante. Em geral, os sin- o sorotipo D seja mais comum em alguns países da
tomas compreendem dor de cabeça, distúrbios Europa. Ocorre em diversos substratos orgânicos, as-
visuais, confusão mental, letargia e alteração sociando-se de maneira frequente ao habitat de aves,
de personalidade. Pode acometer crianças com excretas secas e ricas em nitrogênio (ureia e creatini-
elevada letalidade, apresentando-se como me- na). No Brasil, essa variante foi descrita relacionada
ningoencefalite e lesões pseudotumorais; con- à decomposição de madeira em árvores tropicais no
dições essas já descritas no Estado do Pará e Rio de Janeiro, Teresina, Boa Vista, Ilha de Maracá,
que constituem grande parte da casuística no no interior do Amazonas e na Cidade de São Paulo.
norte e nordeste brasileiro; 152,156,158 Em condições favoráveis, esse fungo pode crescer
• Comprometimento pulmonar: é a segunda mais abundantemente formando microfocos, especialmen-
frequente. Os esporos se depositam nos alvéolos, te nos centros urbanos com alta população de pom-
podendo causar infecção assintomática, mas com bos. O ambiente domiciliar pode apresentar positi-
potencial risco de disseminação em hospedeiros vidade, especificamente na poeira doméstica, como
imunocomprometidos. As apresentações clínicas demonstrado no Rio de Janeiro (13%). No Brasil, há o
podem ser autolimitadas e evoluir até doença dis- predomínio da variedade neoformans causando Crip-
seminada com falência respiratória, estando di- tococose em pacientes HIV positivos, homens, com
retamente associadas ao estado imunológico do letalidade de cerca de 35 a 40% nas Regiões Sul e Su-
hospedeiro. Em paciente com AIDS, o envolvimen- deste do país.154,156
to pulmonar se dá em cerca de 30% dos casos, e
no caso de transplantados, essa manifestação é a Cryptococcus neoformans var. gattii apresenta distri-
segunda mais comum após a Aspergilose;156 buição mais localizada e de elevada prevalência, ocorre
• Comprometimento Cutâneo: esse tipo de manifes- na América Latina, no Peru, Colômbia, Argentina, Ve-
tação ocorre entre 10 e 15% dos casos, sendo con- nezuela, Brasil, Austrália, Nova Guiné, países da Áfri-
siderado um marcador de doença disseminada. As ca Central, sudeste da Ásia, México e algumas regiões
manifestações são caracterizadas por formação de dos Estados Unidos. Essa variante ocorre principal-
abcessos e pápulas com posterior ulceração;156,152 mente em regiões tropicais e subtropicais, sendo que
• Comprometimento Ósseo: ocorre entre 5 e seu habitat natural foi inicialmente descrito na Aus-
10% dos casos de infecção por C. neoformans, trália a partir de restos vegetais de Eucalyptus camal-
podendo se dar tanto de forma assintomática dulensis. No Brasil, já foi isolada no Parque Ibirapuera
quanto na condição disseminada. É mais comum (São Paulo) e em plantação de eucaliptos em Teresina.
o acometimento de apenas um osso, sendo os Porém, a associação entre a var. gattii e eucalipto não
mais frequentes a pélvis, vértebra, crânio, cos- é específica, já tendo sido demonstrada associação do
tela, e nos casos da forma disseminada da doen- fungo com outras variedades de árvores tropicais nas
ça, o envolvimento vertebral; 156,152 Regiões Nordeste e Norte do Brasil. Nessas regiões,
a var. gattii predomina, acometendo indivíduos imu-
nocompetentes, de ambos os sexos, e HIV negativos,
157
Grumach et al. (2008). sendo considerada uma micose endêmica regional.
158
Oliveira, E. C., Corrêa, M. D. P. S. C., Pardal, P. P. D. O., Oliveira,
F. D. M., Duarte, R. R. B. S., & Severo, L. C. (1999). Criptococose em
A meningoencefalite ocorre em nativos destas regiões,
crianças no Estado do Pará, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira incluindo jovens e crianças, com elevada morbidade e
de Medicina Tropical. 32(5):505-508. letalidade (37 a 49%) (Figura 91).152,154,156
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
comumente implicadas em infecções fúngicas pato- sintomas, embora nem sempre esteja pre-
lógicas são Aspergillus fumigatus, que é responsável sente, acompanhada de tosse e dor torácica.
pela maior parte dos casos de Aspergilose invasiva e É uma condição que pode se tornar crônica –
crônica, assim como pela maioria das síndromes alér- cavitária, fibrosante ou necrosante140;
gicas. Ocasionalmente, outras espécies podem estar
envolvidas, como A. flavus (prevalente em hospitais 159
Denning, D. W. (2015). Aspergilose. In: Doenças infecciosas de
e nas infecções sinusais e cutâneas), A. nidulans, A. Harrison. Kasper, D. L.; Fauci, A. S. (orgs). AMGH:Porto Alegre, 2 edi-
ção, p. 900-904.
niger (coloniza o trato respiratório e causa otite ex- 160
Barbieri & Ishida (s.d.).
Figura 91. DISTRIBUIÇÃO DOS SOROTIPOS (A, B, C, D, AD, E NÃO TIPIFICADO – NT)
DE 467 ISOLADOS DE CRYPTOCOCCUS NEOFORMANS PELAS REGIÕES GEOGRÁFICAS BRASILEIRAS.
Tipo de Doença
Órgão Invasiva (aguda e
Crônica Saprofítica Alérgica
subaguda)
161
Walsh & Stevens (2014).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Pessoas ocupacionalmente expostas ao fungo também disseminada) e a meningite (33 a 50%), que usu-
apresentam maior risco de infecção, como as que tra- almente é fatal em poucos anos. Outros locais
balham diretamente com grãos, feno, algodão etc. também podem ser acometidos, como laringe,
abdome e pericárdio. A disseminação extrapul-
Coccidioidomicose monar se desenvolve mais frequentemente em
certos grupos étnicos, incluindo os de ascen-
Definição dência africana ou filipina. 141,152,162
a osteomielite (10 a 50% dos casos de doença Coccidioidomycosis: epidemiology. Clin Epidemiol, 5(1), 185-197.
| 127
Outros órgãos podem ser envolvidos, como fígado, cidamente capazes de dispersar o fungo ao carreá-lo
baço, medula, intestino e SNC. Nesses casos, pacientes em suas patas, porém, algumas espécies de morcego
nos extremos de idade e os com depressão de imunida- apresentam maior relevância epidemiológica, dado
de são mais susceptíveis à forma disseminada141,152. As que quando infectadas podem eliminar o fungo nas fe-
manifestações clínicas principais são: zes (guano), contribuindo assim para a disseminação
do agente. Mesmo nas áreas de elevada endemicidade,
• Histoplasmose pulmonar podem existir microfocos onde esse agente etiológico
se apresenta em maiores concentrações. 141,152,166
o Aguda: é a forma mais frequente, lembrando
sintomatologia da influenza. Apresenta curso Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 500 mil
autolimitado e benigno, sendo os principais pessoas sejam infectadas todos os anos; na América
sintomas febre, mialgia, cefaleia e tosse. Ge- Latina (Guatemala, Peru, Venezuela, Cuba, México e
ralmente ocorre melhora em 2 a 3 semanas, Brasil) praticamente toda a população vive em áreas
porém, nos casos de exposição maciça, a do- endêmicas ou próxima a áreas de ocorrência da doença.
ença pode evoluir para insuficiência respira- No Brasil, inquéritos cutâneos demonstram taxa de in-
tória e óbito. Na forma aguda também pode fecção entre 2,6 e 93,2% dependendo da localidade – as
ocorrer fibrose progressiva em resposta à in- Regiões Sul, Sudeste e Norte são consideradas hiperen-
fecção; 141,152 dêmicas141. A doença pode ocorrer esporadicamente ou
o Crônica: acomete principalmente fumantes, em surtos epidêmicos, sendo mais comum na zona rural.
idosos, pessoas com enfisema pulmonar e ho-
mens acima dos 40 anos. Alguns dos sintomas Impactos
mais frequentes são febre, fadiga, sudorese
noturna, tosse e perda de peso. É facilmente Atividades associadas a um elevado nível de exposição
confundida com a tuberculos.141,152 ao Histoplasma sp. incluem as relacionadas a movimen-
tação do solo, favorecendo a aerossolização dos espo-
• Histoplasmose disseminada progressiva ros: espeleologismo, escavações, limpeza das gaiolas
de aves e demolições de prédios antigos. Os grupos de
o Aguda e subaguda: mais comum em indivídu- maior risco para doença disseminada são os portadores
os imunocomprometidos, sendo prevalente de HIV; os transplantados de órgãos sólidos, principal-
em pacientes com AIDS, transplantados ou mente o rim, sendo o Histoplasma sp. responsável por
que fazem uso de imunossupressores. Pode 75% das infecções fúngicas nesses pacientes; e pacien-
apresentar lesão cutânea múltipla nos pa- tes em uso de imunobiológicos, nos quais cerca de 50%
cientes com AIDS, como pústulas, pápulas, dos casos da doença são da forma disseminada.141,165
úlceras e nódulos. Crianças e bebês prematu-
ros são considerados especialmente suscep- Pneumocistose
tíveis, podendo ser fatal se não tratada;141,152
o Crônica: é mais comum em pacientes imuno- Definição
deprimidos que estão acima dos 60 anos, são
diabéticos ou fazem uso de terapia com corti- A Pneumocistose é uma infecção fúngica oportunística
costeroides. A sintomatologia depende da lo- provocada pelo fungo Pneumocystis jirovecii, anterior-
calização do fungo, mas em geral os sintomas mente designado como um protozoário – Pneumocystis
usuais são fadiga, perda de peso, anorexia e carinii. Trata-se de um fungo “atípico” uma vez que é
febre. As lesões ocasionadas pelo fungo cos- susceptível a antiparasitários, mas não à ação da maio-
tumam acometer órgão único, podendo ser ria dos antifúngicos, como é o caso da anfotericina B.167
cutâneas, orais, no SNC, gastrointestinais,
dentre outras.141,152 Caracterização
carregar esse agente em algum momento da vida, o infectados por HIV, com graus moderados de imunode-
qual é eliminado pelo próprio sistema imune em al- ficiência, e mesmo em imunocompetentes. O número
guns meses. A maior parte dos acometidos pela doen- crescente de pessoas sob terapias imunossupressoras
ça apresenta alguma deficiência do sistema imune: por para tumores, transplante de órgãos e doenças au-
volta de 40% dos que desenvolvem a Pneumocistose toimunes também tem contribuído para dar à Pneumo-
são portadores de HIV e os demais 60% compreendem cistose grande importância na população soronegativa
os transplantados (órgãos sólidos ou medula), com ma- para HIV. Doenças inflamatórias intestinais, crianças
lignidades hematológicas e com doenças inflamatórias com imunodeficiência primária e prematuros desnutri-
ou autoimunes. Nesse grupo soronegativo, a doença dos também constituem grupos de maior risco. O perfil
pode levar 40% dos infectados a óbito.166,168,169. epidemiológico atual da doença engloba, além da re-
levância clínica em pacientes soropositivos, também
Nos indivíduos imunossuprimidos em geral, o P. jirove- as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde em
cii desencadeia uma resposta inflamatória associada algumas regiões e grupos populacionais, para os quais
ao declínio da função pulmonar. Os sintomas mais co- o diagnóstico é quase sempre tardio.81,83
muns são febre, tosse seca, dor no peito e fadiga. Nos
indivíduos com HIV/AIDS, os sintomas se desenvolvem 1.6.2. Infestações/Pragas
por várias semanas com febre branda; já nos imuno-
comprometidos por outras causas que não a AIDS, os Infestações ou pragas biológicas compreendem orga-
sintomas evoluem em poucos dias com febre alta. É uma nismos capazes de causar danos aos ecossistemas na-
infecção oportunística que, no início da epidemia de turais ou humanos e constituem ameaças biológicas re-
AIDS, foi um indicador de infecção pelo HIV com sig- levantes para a saúde pública e a segurança alimentar.
nificativa morbimortalidade, mantendo esse status
até os dias atuais mesmo com o advento da terapia an- Uma praga biológica é assim designada, seja animal ou
tirretroviral a partir da década de 1990. No início da vegetal, quando o aumento de sua densidade popula-
epidemia de AIDS, cerca de 80% dos infectados desen- cional se eleva a tal nível que causa prejuízos diretos
volvia pelo menos um episódio de Pneumocistose – em ou indiretos ao bem-estar humano e dos ecossistemas
60% dos casos a doença era considerada definidora (extinção de espécies), com consequências sobre a
de AIDS e 20 a 25% evoluía a óbito. Porém, com a me- saúde, construções, produções agrícolas e florestais,
lhora do tratamento do HIV e de suas complicações ao e à produção econômica170.
longo dos anos, a mortalidade desses pacientes devido
à Pneumocistose chega a no máximo 15%. Ainda que As espécies envolvidas nesse fenômeno podem ser tan-
seja raro, infecções disseminadas já foram relatadas to endêmicas quanto exóticas (invasoras) e, geralmen-
tanto em pacientes com AIDS quanto nos soronegati- te, estão associadas a um processo de superpopulação
vos, sendo os órgãos mais comuns o linfonodo, baço, – o organismo se reproduz rapidamente devido a fatores
fígado e medula.166,167,168 como temperatura, luz, umidade relativa e ausência de
competição ou inimigos naturais. Embora a introdução
Ocorrência de espécies exóticas (bioinvasões) em novos ambientes
esteja comumente relacionada ao surgimento de pra-
Pneumocystis jirovecii é um patoégeno oportunista, gas e infestações, uma superpopulação de organismos
unicelular, de distribuição ubíqua e com especificidade endêmicos pode surgir devido ao desequilíbrio ecológi-
restrita ao homem. É transmitido pelo ar de pessoa para co relacionado às atividades humanas, como desmata-
pessoa, sendo que os indivíduos infectados assintomáti- mento, caça predatória, dentre outros.
cos também são capazes de disseminar o fungo. Na Amé-
rica Latina são poucos os estudos quanto à prevalência Especificamente no caso das espécies invasoras, a glo-
da doença, porém, acredita-se que no Brasil ela seja de balização tem sido apontada como um dos principais
55% entre os diagnosticados com AIDS.166,168 responsáveis, já que as vias de transporte ao redor do
globo se intensificaram muito nas últimas décadas
Impactos (embarcações, aeronaves e veículos terrestres), permi-
tindo tanto a introdução intencional quanto acidental
Sua relevância epidemiológica se deve, principalmen- de novas espécies no país. A introdução intencional se
te, pelo impacto que apresenta nos pacientes infecta- dá, principalmente, para uso ornamental e para cria-
dos pelo vírus HIV ou já com AIDS adquirida. Porém, P. ção doméstica ou comercial – estima-se que essas ca-
jirovecii também tem sido detectado em doentes não tegorias de uso representem cerca de 40% das intro-
duções de espécies exóticas invasoras no Brasil. Por
168
Centers for Disease Control and Prevention – CDC (2017). Pneu- isso, uma das maiores preocupações dos programas
mocystis pneumonia. Disponível em: https://www.cdc.gov/fungal/ de defesa agropecuária nacionais é a dispersão de or-
diseases/pneumocystis-pneumonia/index.html
169
Smulian, A. G.; Walzer, P. D. (2015). Infecção por Pneumocystis.
ganismos nocivos a partir da interferência humana e
In: Doenças infecciosas de Harrison. Kasper, D. L.; Fauci, A. S. (orgs).
AMGH:Porto Alegre, 2 edição, p. 915-919. 170
Brechelt (2004).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
do comércio internacional, principalmente pelo trans- tretanto, pragas podem ocorrer também em áreas ur-
porte marítimo. No Brasil, já foram registradas 386 banas, onde se observa uma degradação ambiental
espécies exóticas invasoras e 11.263 ocorrências de associada ao empobrecimento da biodiversidade, ao
invasão, de acordo com o banco de dados nacional de desaparecimento de algumas espécies endêmicas e ao
espécies exóticas invasoras.171,172 aumento do número de espécies introduzidas173. Algu-
mas pragas animais existentes no Brasil serão descri-
1.6.2.1. Infestações de Animais tas a seguir, a saber:
reportadas e na Usina de Itaipu, de até 80 mil m2. Os im- ca, morango, pimenta, repolho e tomate)183. Infesta-
pactos econômicos estão relacionados às incrustações ções por A. fulica podem causar prejuízos às lavouras
massivas e obstrução de tubulações e filtros de água de devido à i) queda na produção, ii) aumento dos gastos
estações de tratamento, indústrias e usinas hidrelétri- para controle do caramujo, iii) restrição da variedade
cas, aumento na corrosão de encanamentos pela proli- do cultivo às espécies resistentes ao caramujo, e iv)
feração de outros agentes biológicos (bactéria, fungos), dispersão de outras pragas agrícolas, como fungos.
obstrução de sistemas de drenagem, danos a motores e Na saúde, o risco da presença desse caramujo está
embarcações, entre outros. Embora não muito comum, relacionado à possiblidade de atuar como hospedei-
danos à saúde podem ocorrer devido à acumulação de ro intermediário de parasitas causadores de doenças
valvas vazias e contaminação das vias de água por mor- graves: a angiostrongilíase abdominal e a angiostron-
talidade massiva dos mexilhões-dourados e outras es- gilíase meningoencefálica humana173,182. A primeira é
pécies. Também é vetor da Salmonella sp., sendo inviá- causada pelo Angiostrongylus costaricensis, sendo ca-
vel para consumo humano por causar diarreia.173 racterizada por um quadro infeccioso grave conheci-
do como abdome agudo, que pode levar à morte. A se-
Caramujo africano gunda tem como agente etiológico o Angiostrongylus
cantonensis que age no sistema nervoso central. A an-
Descrição giostrongilíase abdominal é transmitida por caramujos
nativos, não havendo ainda registro do envolvimento
O Achatina fulica é um molusco terrestre conhecido do A. fulica nesse ciclo. Para a angiostrongilíase me-
popularmente como Caramujo Africano que invadiu as ningoencefálica, já houve registro tanto de casos no
regiões tropicais e subtropicais do planeta, sendo con- Nordeste brasileiro quanto de caramujos africanos na-
siderado uma praga. turalmente infectados por A. cantonensis nas Regiões
Sudeste, Nordeste e Norte.184,185
Caracterização
Bicudo-do-algodoeiro
O Caramujo africano prefere locais úmidos e ricos em
matéria orgânica, incluindo a borda de ambientes flo- Descrição
restais. É ativo no inverno, resistente ao frio hibernal
e à seca, sendo que geralmente se esconde durante o O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é um
dia e se alimenta e reproduz à noite ou após períodos besouro da família Curculionidadae formada por espé-
de chuva173. Sua reprodução é prolífica e tem alta ca- cies especialistas em se alimentar de plantas, consis-
pacidade de adaptação, podendo ser encontrado em tindo em pragas importantes para a agricultura186.
ambientes urbanos (preferencialmente), periurbanos,
floretais e degradados. Caracterização
doença de chagas, leishmaniose e febre amarela192. Se- para esta última, são as que registram o maior número
gundo dados do Departamento de Informática do SUS de acidentes. A partir de 1989, os acidentes assumiram
(DataSus), apenas no ano de 2015 foram notificados proporções epidêmicas no país, principalmente nos Es-
105.862 casos de acidentes com serpentes, escorpiões, tados de Santa Catariana, Paraná e Rio Grande do Sul,
abelhas, lagartas, etc., com 210 óbitos. Entre esses, os com tendência de aumento dos casos para outras áreas.
mais relevantes, lagartas e cobras, serão apresentados O Rio Grande do Sul já registrou 3.331 acidentes e rela-
a seguir. tos dos insetos entre 1989 a 2001, com 10 óbitos; Santa
Catarina registrou 2.060 acidentes com 6 óbitos; e o Pa-
a) Lagartas (Lonomia sp.) raná também apresenta incidência significativa de aci-
dentes, com 252 acidentes ocorridos e 5 óbitos.191,192,193
Descrição
A Lonomia achelous é comumente encontrada nos se-
As lagartas representam o estágio larval das mariposas ringais dos estados da Região Norte e nos Estados do
e borboletas, pertencentes à ordem Lepdoptera. Algu- Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Entre 1978 e 1982
mas lagartas de mariposas apresentam importância em essa espécie foi responsável por 36 casos hemorrági-
saúde pública na América do Sul, sendo as mais impor- cos com mortalidade de 38% no sudeste do Amapá e
tantes Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae193. na Ilha de Marajó.191,192
Ocorrência Definição
Lonomia obliqua apresenta-se distribuída por todo o ter- As cobras venenosas do Brasil pertencem a quatro
ritório nacional, sendo que em alguns estados da Região gêneros: Bothrops (espécie-tipo “jararaca”); Crotalus
Nordeste ela é a única espécie presente. Porém, as Re- (espécie-tipo “cascavel”); Lachesis (espécie-tipo “su-
giões Sudeste e Sul do Brasil, com particular relevância rucucu”); e Micrurus (espécie-tipo “coral-verdadeira”).
Caracterização
192
Berger (2013).
193
Azevedo (2011).
194
Garcia & Danni-Oliveira (2007).
Entre 2007 e 2015, foram notificados 1.180.844 aci-
195
Santos & Gonçalves (2015). dentes com serpentes no Brasil, sendo 15% deles rela-
196
Moraes, R. H. P. (2002). tivos a jararacas, 1,6% a cascavéis e 0,7% a surucucus,
| 137
porém, o maior montante (81,5%) era desconhecido. ferenças na atividade da peçonha: Lachesis muta na
Os casos de envenenamento por jararacas e cascavéis Amazônia, cujo veneno tem maior atividade hemorrá-
costumam ser os mais graves. gica (hemorraginas e lesão capilar direta), e Lachesis
muta rhombeata na Mata Atlântica, com maior ativida-
A peçonha da jararaca apresenta propriedade coagu- de coagulante198.
lantes, proteolíticas e hemorrágicas, podendo causar
reação local (sangramento, dor, necrose) a sistêmica As cobras corais representam menos de 1% dos aci-
(insuficiência renal aguda, hemorragia)197. A insufi- dentes registrados. Sua peçonha tem atividade neu-
ciência renal pode surgir em até 38,5% dos casos de rotóxica, compreendendo os sintomas dor, parestesia,
envenenamento, com mortalidade de até 19%196. dispneia e, em casos mais graves, insuficiência respi-
ratória (Quadro 12).196
As cascavéis possuem veneno com atividade nefrotóxi-
ca, neurotóxica e miotóxica. A lesão tecidual é peque- Ocorrência
na no local da picada, mas as complicações envolvem
paralisia, degradação dos músculos e insuficiência re- As jararacas habitam áreas rurais e florestais, mas
nal aguda, condição que afeta cerca de 29% dos casos, podem invadir ambientes cultivados onde há prolife-
com mortalidade de até 27%196. ração de roedores. As cascavéis são encontradas em
locais rochosos e áridos nas Regiões Sul, Sudeste e
O veneno das surucucus tem atividade proteolítica Norte, sendo raras em ambientes florestais úmidos,
(inflamatória aguda), hemorrágica, coagulante e neu- por isso, são consideradas a principal espécie impli-
rotóxica. Cerca de 1,4% dos acidentes é provocado cada nos acidentes registrados na caatinga e agreste
por essa espécie, com letalidade de 0,9%. Os sinto- do Nordeste. As surucucus podem ser encontradas,
mas principais compreendem dor, edema, hipotensão,
distúrbios digestivos e insuficiência renal aguda196. 198
de Souza, R. C., Nogueira, A. P. B., & Lima, T. O enigma da margem
Admite-se ocorrer duas subespécies no Brasil com di- norte do rio Amazonas: apresentação de dois casos comprovados de
acidente laquético no Brasil, considerações gerais sobre o gênero e
197
Bernarde (2009). revisão bibliográfica.
Quadro 12. SINAIS E SINTOMAS PERCEBIDOS DE ACORDO COM A ESPÉCIE DE COBRA VENENOSA CONSIDERADA.
Dor local persistente Dor local, pouco intensa, Dor local persistente Ausência de dor,
que aumenta com com região da picada que aumenta com com sensação de
Reação local
inchaço, vermelhidão, e inchada e sensação de inchaço, vermelhidão, adormecimento ao longo
arroxeamento. formigamento. arroxeamento. do membro.
Face traduzindo lesão
Face com pálpebras
neurológica, salivação
Face da vítima Sem alteração. superiores caídas e Sem alteração.
grossa, dificuldade de falar
redução ou perda da visão.
e de engolir.
Dores Generalizadas,
Ausente Ausente Ausente
musculares especialmente na nuca.
Hemorragias,com Hemorragias, com
Hemorragias dificuldades de coagulação Ausente dificuldades de coagulação Ausente
do sangue. do sangue.
Alterações na Redução no volume Redução no volume
Urina escura. Ausente
urina da urina. da urina.
Sintomas
Ausente Ausente Diarreia Ausente
digestivos
Falta de ar até
Sintomas
Ausente Ausente Ausente insuficiência respiratória
respiratórios
aguda.
Fonte: CASTRO, 2003.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
especificamente, nas florestas Amazônica e Mata lações africanizadas apresentaram alta capacidade de
Atlântica, representando a maior espécie de cobra ve- reprodução com ciclo de vida mais curto que as demais
nenosa da América do Sul. E, por fim, as cobras corais subespécies existentes no país. Essas características
estão distribuídas por todo o Brasil.196,197 permitiram tanto às abelhas-africanas quanto às afri-
canizadas uma rápida ampliação da biomassa e signifi-
Impactos cativo aumento populacional.173,199
Foi introduzida no Brasil para fins comerciais – mel, Para a saúde humana e animal representam, muitas
néctar, geleia real, própolis e cera. Altamente produti- vezes, um risco devido à agressividade. Esses insetos
vas, as abelhas-africanas elevaram consideravelmente reagem defensivamente a qualquer barulho ou vibra-
a produção de mel no país (de 3 a 5 mil toneladas/ano ção nas vizinhanças da colmeia, saindo em grande nú-
para 40 mil toneladas/ano em algumas décadas). Po- mero para ferroar os intrusos200. Além do perigo que
rém, as populações híbridas que surgiriam após o cru- representam para o público em geral, estas abelhas
zamento com linhagens europeias presentes no país, perturbam as atividades em áreas rurais, ameaçando
as chamas abelhas africanizadas, apresentaram mui- trabalhadores e animais de criação. Picaduras para
tas das características das abelhas-africanas: grande pessoas e animais domésticos podem levar à morte173.
capacidade de enxamear, rusticidade, adaptação a Isto porque a picada pode causar reações alérgicas em
ambientes inóspitos, alta capacidade de defesa, tole- pessoas sensíveis ou mesmo choque anafilático, de-
rância a doenças, dentre outros. Além disso, as popu- pendendo do número de ferroadas.
199
Oliveira & Cunha (2005). 200
Matthews (2005).
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caracterizada por uma mudança de cor, tornando-se de outros organismos e tornar a água imprópria para
amarela, laranja, vermelha ou marrom”. Podem cau- consumo ou recreação. Diz-se que esse é um efeito
sar a morte de organismos pela redução do oxigênio indireto das FANs sobre a população humana. Porém,
ou por intoxicação. algumas espécies de microalgas são capazes de produ-
zir ficotoxinas, podendo até mesmo intensificar a pro-
Outra FAN de elevada importância biológica e para a dução dessas substâncias em condições de superpo-
saúde humana é a relacionada à superpopulação de pulação. Essas ficotoxinas podem atingir diretamente
cianobactérias. Por ser majoritariamente dulcícola, os seres humanos, pois elas têm a capacidade de se
esse tipo de FAN é mais comum em reservatórios de acumular na cadeia trófica. Assim, animais filtrado-
água. Segundo o COBRADE, são consideradas flora- res como os moluscos bivalves podem armazenar uma
ções de cianobactérias “as aglomerações de ciano- quantidade variada de toxinas e, quando consumidos
bactérias em reservatórios receptores de descargas de por outros animais ou pelo homem, podem acarretar
dejetos domésticos, industriais e/ou agrícolas, provo- diferentes graus de intoxicação.202
cando alterações das propriedades físicas, químicas
ou biológicas da água”. As FANs popularmente conhecidas como marés verme-
lhas são potencialmente nocivas porque podem causar
danos de ordem econômica ou ambiental, devido ao
impacto direto sobre os peixes e outros vertebrados. No
De acordo com a Política Nacional de Segurança de primeiro caso, a superpopulação de microalgas produz
Barragens (Lei Federal nº 12.334, de 20 de setem- mucilagem, maus odores, espuma e descoloração da
bro de 2010), reservatórios equivalem a acumula- água (marrom, vermelho), afetando atividades de tu-
ções não naturais de águas, de substâncias líqui- rismo e pesca. Já a morte de animais está relacionada
das ou de mistura de líquidos e sólidos. a FANs que causam danos mecânicos às espécies, pois
obstruem as brânquias dos peixes e também causam
danos fisiológicos a esses animais. As principais espé-
cies envolvidas nesses tipos de eventos pertencem ao
Caracterização grupo das diatomáceas (Chaetoceros sp., Coscinodis-
cus sp., Thalassiosira sp., etc), dinoflagelados (Gonya-
Dentre os principais fatores que propiciam o desen- ulax sp., Karenia sp., Noctiluca scintillans), primnesio-
volvimento de FANs e da toxicidade das algas estão i) fitas (Phaeocystis sp., Prymnesium sp.) e pelagofitas
o aporte natural de nutrientes através dos rios para o (Aureococcus anophagefferens). Algumas espécies de
mar; e ii) a eutrofização antrópica, considerada a prin- rafidoficeas estão associadas aos eventos de danos
cipal influência humana para o aumento do desenvol- mecânicos às comunidades aquáticas (Chattonella sp.,
vimento, persistência e expansão das FANs. Modifica- Fibrocapsa japônica). 202
ções intensas do ambiente, como canalização de rios
para navegação, controle de enchentes, construção de Entretanto, as FANs causadas por microalgas que pro-
reservatórios, transporte por água de lastro, aquicul- duzem toxinas apresentam os efeitos mais adversos
tura, dentre outros, são fatores capazes de intensificar sobre a saúde humana. A síntese de toxinas é consi-
as FANs. Porém, algumas condições climáticas também derada uma estratégia das microalgas para reduzir
podem exercer influência, como temperatura, pressão, a competição e a ação de predadores, mas os efeitos
ventos e densidade, favorecendo a reprodução maciça significativos são observados apenas em grandes con-
de alguns micro-organismos (de dezenas de milhares a centrações no ambiente aquático. Porém, devido à
centenas de milhares por litro).202,203 capacidade de bioacumulação que essas substâncias
apresentam na teia trófica, as toxinas podem ser en-
De maneira simples, a eutrofização antrópica é a dis- contradas em diferentes concentrações desde crustá-
ponibilização de uma elevada carga de nutrientes no ceos até peixes e aves, podendo causar danos à saúde
ambiente aquático, que são, em sua maioria, despejos humana quando consumidos, ainda que em pequenas
de efluentes domésticos e industriais (esgoto, fertili- concentrações. Estima-se que dentre as mais de 5 mil
zantes agrícolas). Os compostos mais frequentes são o espécies de microalgas marinhas, cerca de 300 podem
nitrogênio e o fósforo, que no ambiente natural não são ser nocivas e somente 80 são produtoras de toxinas202.
encontrados em concentrações suficientes para sus- Os principais tipos de intoxicação experimentados pe-
tentar o desenvolvimento de uma grande variedade de los seres humanos e animais são:
espécies. Porém, quando em elevadas concentrações,
favorecem a reprodução das microalgas oportunistas • Síndrome da amnésia (Amnesic Shellfish Poiso-
levando a um grande acúmulo de biomassa, maiores ning – ASP): é causado por biotoxinas liberadas
taxas de respiração e à decomposição da matéria or- por diatomáceas, sendo as principais espécies
gânica. Esse processo por si só já causa uma redução Amphora coffeaeformis, Nitzschia navis-varin-
importante da concentração de oxigênio dissolvido na gica e Pseudo-nitzschia sp. A substância ativa
água e o aumento da turbidez, podendo causar a morte é o ácido domoico, que no organismo eleva a
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Impactos
Apresenta alta agressividade, dificultando o estabeleci- gem em outra cultura, devido ao armazenamento de suas
mento de gramíneas nativas do cerrado em áreas degra- sementes no solo e sua germinação irregular. Representa
dadas, infestando também pastagens e áreas florestais.173 uma ameaça às unidades de conservação pelo país, pois é
alelopática, tem rápido crescimento e tolerância a metais
Ocorrência do solo, crescendo rapidamente pelas bordas das áreas de
conservação206. Um dos principais vetores de sua distribui-
O capim-gordura é de origem africana e coloniza princi- ção pelo território nacional tem sido a abertura de estra-
palmente os campos localizados em altitudes elevadas, das com o uso de braquiária para contenção de encostas.
variando entre 800 e 2500 metros. No Brasil, pode ser
encontrado nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Ocorrência
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba,
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catari- São originárias da savana Africana, com distribuição
na e São Paulo. Tem preferência por formações vegetais natural restrita, e foram introduzidas acidentalmente e
abertas e com intensa luminosidade, invade facilmente também para fins comerciais no Brasil. Podem ser encon-
áreas degradadas, principalmente recém-queimadas, tradas por todo o país, com particular representatividade
constituindo uma das mais importantes invasoras do cer- nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil.
rado brasileiro.173
Impactos
Impactos
As braquiárias apresentam elevada agressividade, por isso
Ecologicamente, o capim-gordura causa o sombreamen- são capazes de descolar outras espécies nativas e tem se
to e morte das espécies herbáceas nativas, desloca espé- revelado um problema em unidades de conservação pelo
cies nativas da fauna e favorece a propagação de focos de Brasil. Embora não apresentem capacidade de colonizar
incêndio, pois a temperatura de combustão desse capim o interior das unidades, onde a mata é mais densa e o
é mais elevada que a das espécies nativas (1000ºC). Na sombreamento maior, são frequentemente encontradas
agricultura, causa prejuízos econômicos pois altera o ciclo nas bordas de áreas protegidas e colonizam rapidamen-
de nutrientes do solo e exige recursos para o seu controle te clareiras e bordas desmatadas nesses locais, podendo,
e para a manutenção da produtividade dos sistemas.173 em casos mais extremos, alcançar o interior dos fragmen-
tos206. Além disso, apresentam elevada inflamabilidade,
Braquiária favorecendo os incêndios, e também são capazes de blo-
quear o processo de sucessão ecológica, importante fator
Descrição para aumentar a biodiversidade de áreas degradadas206.
Nas lavouras é ferrenha competidora por água, o que
A braquiária é uma gramínea tropical, perene, rústica, aliado ao perfil agressivo, pode favorecer sua dominância
com alta capacidade adaptativa e que abarca diversas pela cultura, reduzindo a produtividade207. Nas lavouras
espécies, sendo as mais comuns Urochloa decumbens de milho, estimativas apontam que a competição com bra-
(sinonímia – B. decumbens), U. brizantha, e U. ruziziensis. quiária pode causar redução entre 30 e 80% na produção.
São um problema também nas culturas de cana-de-açúcar
Caracterização e em outros tipos de pastagens (capim-elefante)207.
utilizada para lenha e para produção de estacas e carvão. e pode atingir até 2 m de altura. A reprodução pode se
A vagem é utilizada para fazer farinha, bebidas alcoólicas dar por sementes ou por brotação das touceiras, mes-
e xarope. As vagens também têm uso comum para ração mo após roçadas ou arrancadas173. As sementes apre-
animal, especialmente de cabras, em ambientes áridos e sentam enorme viabilidade, até 30 anos no solo. Como
semiáridos173. Foi introduzida no Brasil como forrageira desenvolvem raízes vigorosas, o Tojo jovem tem faci-
e para produção de lenha, recebendo incentivos gover- lidade para dominar ambientes degradados. Tem pre-
namentais para sua difusão na Região Nordeste. Porém, ferência por clima frio com média a alta precipitação.
sua adaptabilidade e a dispersão provocada pelos reba-
nhos permitiram que a Algaroba se disseminasse e esta- Caracterização
belecesse pela caatinga, ocupando grandes extensões de
terras em praticamente todos os estados do Nordeste208. É considerada uma praga espinhenta que se estabelece
A destruição da vegetação preexistente e a exposição do com facilidade em áreas degradadas, como beira de es-
solo estimulam a germinação em massa das sementes tradas, terras cultivadas e margens de rio, e que também
existentes, resultando em súbitas infestações.200 invade ambientes naturais. Tem preferência por ecossis-
temas abertos como campos e cerrados, pastagens, áreas
Ocorrência degradadas e plantações florestais. Solos arenosos a argi-
losos, inclusive em florestas ripárias, campos e florestas
Sua área de origem é desconhecida, embora possa ser abertas podem ser invadidos. Foi introduzida no Brasil
encontrada naturalmente no México, Costa Rica, El para uso ornamental como cerca-viva e, eventualmente,
Salvador, Guatemala, Honduras, Nicaragua, Panamá, para produção de mel. Porém, sua elevada adaptabilidade
Colômbia, Equador, Peru, Venezuela. Prefere locais de a tornou uma invasora de difícil controle: possui grande
clima árido e semiárido em que haja disponibilidade de capacidade de rebrotamento mesmo após o corte ou
água, como margens de rios e córregos. Os sítios prefe- queima, forma agrupamentos densos e suas sementes
renciais da invasora são as áreas de matas ciliares, as possuem altíssima viabilidade. Tipicamente, as sementes
manchas de neossolos flúvicos e as baixadas sedimen- são dispersas pela água e pelo barro que adere a veículos,
tares, onde se formam maciços populacionais de alta pessoas e animais, embora em algumas áreas pássaros e
densidade. É espécie invasora encontrada nos seguintes formigas também tenham um papel na disseminação.173,200
estados: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte e Sergipe.173,208 Ocorrência
intoxicação sob condições naturais (caprinos, equinos, variado entre 800 mil e 1.1 milhão de animais apenas no
suínos e bovinos)209. ano de 2001. As perdas indiretas incluem os custos para
controle das plantas tóxicas nas pastagens, construção
Caracterização de cercas, pasto alternativo, medidas de manejo, subs-
tituição dos animais mortos, e os gastos associados ao
A intoxicação está relacionada à presença de metabóli- diagnóstico e tratamento das intoxicações.209,210
tos tóxicos que são utilizados pelo vegetal como meca-
nismo de defesa, sendo os danos associados variáveis a Embora não sejam usuais, impactos também podem inci-
depender da quantidade e do tipo de substância inge- dir sobre a saúde humana. A ingestão de plantas tóxicas
rida. Os principais metabólitos causadores de intoxi- pode atingir o leite, carne, ovos ou outros produtos de ori-
cação são: toxalbuminas (ricina e curcina), alcaloides, gem animal devido à presença de toxinas transferíveis.209
terpenos e compostos fenólicos diversos209. Os minerais
absorvidos do solo e acumulados na planta também são Micotoxinas
apontados como responsáveis pela toxicidade de algu-
mas plantas (selênio, bário, nitratos e oxalatos)210. Descrição
Nem sempre a palatabilidade da planta é fator relevante As micotoxinas são metabólitos secundários produzi-
para determinar a ingestão de um vegetal tóxico pelo ani- das por fungos filamentosos que não apresentam fun-
mal, dado que outros fatores podem ser mais importantes ção essencial para seu crescimento e sobrevivência.
para a ocorrência de intoxicação, como a disponibilidade São geralmente produzidas quando o fungo atinge a
da espécie tóxica e, principalmente, a fome (Quadro 13). maturidade e são consideradas de importância epide-
miológica quando exercem efeitos consideráveis sobre
Ocorrência a saúde humana ou à produtividade animal.
Quadro 13. PLANTAS TÓXICAS PARA ANIMAIS COM INTERESSE PECUÁRIO NO BRASIL.
além de serem amplamente relatadas em alimen- e A. também são produtoras dessa micotoxina.
tos, também apresentam efeitos carcinogênicos e É comum em maçã, pera, cereja e em outros fru-
crônicos em animais (diminuição da produtivida- tos, estando por isso também associada à conta-
de e maior susceptibilidade a outras infecções) e minação de derivados desses alimentos (sucos).
o efeito agudo tóxico em seres humanos (aflato- É uma neurotoxina que produz lesões graves,
xina B1 está associada ao câncer de fígado);212,213 embora ainda não existam estudos conclusivos
• Fumonisina: é produzida pelas cepas de Fusa- sobre sua toxicidade;213,214
rium moliniforme, encontrada principalmente • Alcaloides: são produzidos por diversas espé-
em milho, e por F. proliferatum e F. nygamai. En- cies de fungo do gênero Claviceps (C. purpurea,
globa mais de uma dezena de susbtâncias que C. paspali, C. fusiformis, C. gigantea e S. sor-
afetam animais de criação (leucoencefaloma- ghi). A intoxicação por essa micotoxina é conhe-
lacia em equinos, edema pulmonar em suínos, cida em humanos e animais como ergotismo e,
efeitos tóxicos no SNC, fígado, pulmões, dentre embora seja rara, pode afetar o suprimento de
outros) e humanos (câncer de esôfago);212,213, 214 sangue para as extremidades do corpo (forma
• Tricotecenos: Os tricotecenos constituem um gangrenosa) ou agir diretamente sobre o siste-
grupo de metabólitos produzidos por fungos dos ma nervoso central (forma convulsiva). Ocorre
gêneros Fusarium, Myrothecium, Phomopsis, Sta- após a ingestão de pão ou de outros produtos
chybotrys, Trichoderma, Trichotecium, Verticimo- preparados com farinha de grãos de centeio
nosporium. Os tricotecenos são reconhecidos por infectados pelo fungo. Apresenta maior rele-
inibir a síntese proteica. Dentre os tricotecenos vância sob o aspecto veterinário, uma vez que
mais importantes estão desoxinivalenol (DON), técnicas de limpeza dos grãos são capazes de
nivalenol (NIV), toxina T2, toxina HT2 e diacetoxis- eliminar a contaminação. Em animais (gado,
cirpenol (DAS). O DON é uma das micotoxinas mais ovinos, porcos, aves) manifesta-se na forma de
comumente encontradas em grãos – cártamo, ce- gangrena, aborto, convulsões, supressão da lac-
vada, centeio, trigo e em misturas de alimentos, e tação, hipersensibilidade e ataxia;213
quando ingerido em doses elevadas por animais • Ocratoxina A: micotoxina produzida por alguns
causa náuseas, vômitos e diarreia. Em pequenas isolados de Aspergillus ochraceus e também
doses, pode provocar perda de peso e recusa ali- por A. alliaceus, A. auricomus, A. carbonarius,
mentar (é conhecido como vomitotoxina). O fungo A. glaucus, A. meleus e A. niger, além de Peni-
Stachybotrys atra tem sido associado à síndrome cillium nordicum e P. verrucosum. Como as tem-
dos edifícios doentes, pois degrada materiais ricos peraturas para crescimento do fungo produtor
em celulose e coloniza facilmente locais úmidos são mais amenas, a exposição é mais comum
(forros, tubulações de ar-condicionado), poden- em zonas temperadas onde há cultivo de trigo e
do provocar cefaleia, irritação na garganta e nos cevada. Também pode ser encontrada em milho,
olhos, além de vertigens e sangramentos nasais;213 arroz, ervilhas, feijão, feijão-frade, os frutos de
• Zearalenona: metabólito secundário produzi- plantas trepadeiras e seus produtos, café, espe-
do principalmente por Fusarium graminearum ciarias, nozes e figos. Embora a intoxicação seja
e encontrado, sobretudo, no milho – também mais comum pela ingestão desses alimentos, há
em sorgo, cevada e rações animais. Apresenta indícios de que o consumo da carne de porco pos-
efeitos estrogênicos em várias espécies animais sa ser importante fonte da toxina. A ocratoxina-A
(vacas, ovinos e suínos) podendo provocar dis- está relacionada à toxicidade renal, nefropatia e
túrbios reprodutivos (aborto, infertilidade);212,214 imunodepressão em várias espécies animais. Em
• Citrinina: micotoxina produzida, principalmente, humanos, está associada à nefropatia endêmica
por Penicillium citrinum, mas também pode ser dos Balcãs, enfermidade renal crônica e fatal, e
produzida por espécies dos gêneros Aspergillus e é possível agente cancerígeno. Ela tem sido en-
Monascus. Grãos de aveia (mofados), de centeio, contrada no sangue e em outros tecidos animais
de cevada, de milho e de trigo são substratos para e no leite, inclusive em leite humano.213,214
a formação de citrinina. A citrinina atua como ne-
frotoxina e tem potencial para causar nefropatia, Ocorrência
problemas asmáticos, rinite e conjuntivite;213
• Patulina: é um antibiótico produzido por vários As diversas micotoxinas podem ser encontradas em
tipos de mofos. Penicillium expansum é o mais várias culturas agrícolas e em alimentos por todo o
eficiente produtor na natureza, mas outras es- mundo. A contaminação natural de cereais, sementes
pécies de fungos como A. clavatus, A. giganteus oleaginosas, amêndoas, especiarias e de outras com-
modities por aflatoxinas é ocorrência comum em inú-
meros países. No Brasil, as aflatoxinas têm sido encon-
Freire et al. (2007).
213
214
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricul-
tradas em amendoim e seus derivados, em alimentos
tura. Micotoxinas de importância mundial. Disponível em: http:// destinados a bovinos e em leite líquido, em amêndoas
www.fao.org/docrep/005/y1390s/y1390s04.htm de castanha-do-brasil e de cajueiro. Da mesma forma,
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
as fumonisinas já foram detectadas em vários substra- lência mesmo quando multiplicado em larga escala, e
tos, especialmente no milho para ração animal. A DON um método pelo qual esse agente possa ser dissemina-
e a toxina T2 têm sido detectadas, no Brasil, associa- do218. A forma de obtenção do agente pode ser dar i) por
das a grãos de milho, a farelo de trigo e a produtos de isolamento a partir do meio natural, baseado no prévio
panificação. A zearalenona já foi encontrada em ce- conhecimento da capacidade de causar patologias em
reais e em aveia em flocos no país.213 animais e em humanos, como por exemplo, as zoono-
ses – peste e machupo; ii) de laboratórios ou de locais
Impactos de segurança, muitas vezes governamentais, que pos-
suem estoque de micro-organismos para estudo – va-
As micotoxinas representam grande impacto para o ríola, bacilo antraz; iii) ser sintetizados em laborató-
agronegócio, pois influenciam na exportação e podem rios que disponham de recursos humanos treinados e
reduzir a produção animal e agrícola. Estima-se que tecnologia apropriada. Algumas características do mi-
entre 25 a 50% de todas as commodities produzidas no cro-organismo ou toxina os tornam mais propensos a
mundo, especialmente os alimentos básicos, estão de causar danos em massa, como a elevada morbidade e
alguma forma contaminadas com micotoxinas.213 letalidade, alta infectividade, e a relativa estabilidade
no ambiente após a disseminação. Quanto à forma de
As vias de contaminação podem ser diretas ou indire- dispersão, as principais são: i) aerossol – dispersos pelo
tas. A contaminação direta ocorre quando o produto é ar, podem ser rapidamente disseminados por quilôme-
contaminado por um fungo toxigênico que passa a pro- tros ou atingir espaços fechados como edificações,
duzir micotoxinas – consumo dos cereais, oleaginosas metrôs e aviões; ii) animais – principalmente na con-
e derivados. Já a contaminação indireta ocorre quando dição de vetores, como pulgas/mosquitos, e animais
animais se alimentam com rações previamente conta- de pecuária; iii) água e alimentos – principalmente nos
minadas e excretam as micotoxinas no leite, carne e alimentos prontos para consumo, como vegetais, e nos
ovos. Alimentos e rações são favoráveis ao crescimen- sistemas de distribuição de água; iv) pessoa a pessoa
to e o desenvolvimento de fungos toxigênicos durante – alguns agentes são altamente contagiosos, como é o
a produção, processamento, transporte e armazena- caso da varíola e ebola.83,152
mento.212,213
Alguns organismos e toxinas são considerados de alta
1.6.3. Outras ameaças ameaça pois, além de compartilharem determinadas
características biológicas que propiciam seu uso, já
1.6.3.1. Bioterrorismo foram usados em ações de bioterrorismo ou podem se
tornar uma ameaça futura. O Center for Disease Con-
Definição trol and Prevention dos Estado Unidos classifica esses
organismos em três categorias – A (são facilmente
Bioterrorismo é a disseminação deliberada de bacté- disseminados, têm alta taxa de mortalidade, podem
rias, vírus, outros micro-organismos e biotoxinas para causar perturbação social, requerem ação sanitária
causar doença ou morte em populações, animais ou específica); B (disseminação moderada, têm baixa
plantas215. Embora as armas biológicas possam ser mortalidade, requerem capacidade de diagnóstico); e
utilizadas no contexto militar, ganhando conotação de C (patógenos emergentes que podem se tornar uma
guerra biológica, o bioterrorismo está essencialmente ameaça). A Tabela 7 mostra alguns agentes de catego-
ligado a pequenos grupos que compartilham crenças ria A e B de maior ameaça no mundo e potencialmente
políticas ou religiosas com o objetivo de prejudicar a envolvidos em bioterrorismo.
população de uma determinada região, através da dis-
seminação de agentes biológicos de maneira não con- Ocorrência
trolada216. Essas ações causam, além de danos à saúde
humana e animal, pânico, perturbação social e prejuí- Apesar do bioterrorismo ser considerado um fenôme-
zos econômicos217. no recente, cuja incidência aumentou a partir dos anos
1990, episódios são registrados há séculos em ofensi-
Caracterização vas militares – durante a guerra da Crimeia, no século
XIV, os tártaros lançaram corpos de soldados infecta-
Algumas barreiras devem ser ultrapassadas quando dos pela peste por sobre os muros da cidade sitiada de
se trata de um ataque biológico, sendo as principais Caffa com o intuito de derrotar o inimigo219. Durante o
a obtenção do organismo, a manutenção de sua viru- século XX, as grandes guerras mundiais e a Guerra Fria
suscitaram a pesquisa e o uso de armas biológicas em
215
Centers for Disease Control and Prevention. Bioterrorismo. Dispo-
nível em: https://emergency.cdc.gov/bioterrorism/index.asp Jansen et al. (2014).
218
216
Almeida (2006). Cardoso, Dora Rambauske, & Cardoso, Telma Abdalla de Oliveira.
219
217
National Academies, U.S. Department of Homeland Security (2011). Bioterrorismo: dados de uma história recente de riscos e in-
(2004). certezas. Ciência & Saúde Coletiva, 16(Suppl. 1), 821-830.
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Tabela 7. CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS AGENTES BIOLÓGICOS DE ELEVADA E MODERADA AMEAÇA MUNDIAL.
Dispersão pessoa
Doença / Agente Biológico Sintomas Dose Infectante Letalidade
a pessoa
Hipertensão leve,
sangramento de
1-10 organismos quando
Machupo (febre hemorrágica) gengivas e cavidades, Rara ~20%
aerossolizado
dor de cabeça, artralgia
e hemorragias
Reduz a capacidade
Ricina (Ricinus communis) Não 1mg Alta se injetada
funcional dos órgãos
Fonte: National Academies, U.S. Department of Homeland Security (2004); Jansen et al. (2014). Bradfute et al. (2011).
vários países (Japão, Alemanha, Estados Unidos, União • Em 1995, a seita Aum Shinrikyo coordenou um
Soviética, Reino Unido), cuja utilização foi proibida ataque a cinco estações de metrô, em Tóquio,
pela Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas usando o gás Sarin. Cerca de 1.400 pessoas fo-
(CPAB)153. Alguns episódios recentes com viés ideoló- ram afetadas e houve 12 óbitos. Essa mesma
gico compreendem83,152: seita ainda foi responsável por outros oito ata-
ques infrutíferos, entre 1990 e 1995, usando to-
• A intoxicação de 751 pessoas no estado de Ore- xina botulínica e esporos de antraz;
gon, Estados Unidos, em 1984, por Salmonella • Cartas contaminadas com antraz foram envia-
typhimurium identificada em mesa de frios. das a senadores americanos e jornalistas nos
A seita Bhagwan Shree Rajneesh contaminou Estados Unidos, após os ataques de 11 de se-
propositalmente os alimentos para influenciar tembro. Onze pessoas foram infectadas por via
as eleições locais; inalatória, das quais cinco morreram. Outras 11
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
pessoas foram infectadas com a forma cutânea trução do Porto de Suape, a 20 km de Recife222.
do bacilo, mas sem óbitos. As principais espécies envolvidas são o tubarão-
-de-cabeça-chata (Carcharhinus leucas) e o tu-
Impactos barão-tigre (Galeocerdo cuvier). As vítimas são,
principalmente, aquelas que praticam esportes
Um dos principais impactos é o psicológico, caracte- náuticos (surfistas, mergulhadores);86,87,88
rizado por fúria, medo, isolamento e perturbação so- • Abelhas africanizadas: essas abelhas represen-
cial. Talvez essa seja a principal face do bioterrorismo tam um híbrido entre as abelha-europeias e as
utilizada pelos grupos fundamentalistas, uma vez que africanas, cruzamento que ocorreu no Brasil na
os ataques muitas vezes são de pequenas proporções década de 1950. Os híbridos guardam semelhan-
– atingem um número reduzido e pontual de pessoas ças de reprodução, forrageio e agressividade
–, mas são capazes de causar pânico generalizado. Um com a espécie africana, por isso são designadas
impacto secundário dessas reações é a sobrecarga do africanizadas. A grande maioria dos ataques
sistema de saúde, que acaba recebendo um elevado massivos de abelhas no Brasil permanece sub-
contingente de pessoas supostamente infectadas que notificada, embora existam relatos do aumento
dificulta a detecção precoce dos casos. Outro impacto da frequência desses eventos em outras partes
importante é o causado diretamente à saúde humana. do globo (México e Estados Unidos)223. Porém,
Além dos agentes poderem causar doenças, alguns são há registros de que essas abelhas têm invadido
altamente letais e podem ser fatais em doses eleva- com maior frequência os ambientes urbanos no
das. Entretanto, mesmo pequenas quantidades podem Brasil, representando um alerta às autoridades
produzir perdas humanas a depender da letalidade do de saúde pública devido à maior probabilida-
agente e do tempo dispendido até a detecção do caso.83 de de acidentes224. De fato, a incidência desses
eventos vem crescendo no país; em 2001 era
1.6.3.2. Ataque por animais de 1,2/100mil habitantes e em 2012 pulou para
5,1/100 mil habitantes225. Entre 2001 e 2012, fo-
Descrição ram registrados 66.283 acidentes com abelhas
no país, sendo 216 óbitos. As regiões de maior
Os ataques por animais compreendem aqueles produ- incidência são Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Os
zidos por animais silvestres que podem investir tan- ataques são mais frequentes no sexo masculino,
to contra o homem quanto animais de criação. Esses pessoas entre 20 e 40 anos, sendo a maior parte
eventos podem ocorrer quando da perturbação do am- dos casos de baixa severidade. O número de pi-
biente natural, por encontros casuais entre o homem cadas está intimamente associado à quantidade
e os animais (silvestres e/ou sinantrópicos), ou por de veneno inoculado e ao prognóstico. O quadro
provocação humana. A baixa frequência dos eventos clínico é representado por dor, prurido, verme-
contribui para sua subnotificação, não havendo da- lhidão, edema e, em casos de picadas massivas,
dos nacionais sistematizados. Nesta seção, não serão insuficiência renal aguda, torpor, coma e óbito.
tratados os animais peçonhentos – exceto as abelhas A anafilaxia pode ocorrer em pessoas hipersensí-
– pois estes foram tema de seção anterior. veis ao veneno das abelhas e pode ser fatal;89,246
• Morcegos: os ataques de morcegos são restritos às
Caracterização e Ocorrência espécies hemofílicas, principalmente Desmodus
rotundus, que se alimentam de sangue de animais
Alguns ataques por animais importantes no Brasil são: (cavalo, bovinos, galinha) e, ocasionalmente, hu-
manos226,227. Este comportamento os torna comuns
• Tubarão: entre 1930 e 2017, foram registrados nas áreas rurais, embora também possa ser encon-
102 ataques espontâneos de tubarões no Brasil, trados em áreas urbanas e periurbanas de grandes
a maior parte deles na Região Nordeste220. Per- cidades. Dentre as doenças mais graves que essas
nambuco foi o estado com a maior incidência espécies são capazes de transmitir está a raiva,
de ataques (56), seguido de Maranhão (10), São cuja incidência de casos transmitidos por morcegos
Paulo (11) e Rio de Janeiro (7). Em Recife, houve vem aumentando no país90. A maior parte dos ata-
um aumento do número de acidentes registrados ques é registrada na região Amazônica, mas tam-
a partir de 1992. Dessa data até o ano de 2009, bém há casos relatados em Goiás, Roraima, Belo
foram 53 ataques na capital Pernambucana221. Horizonte, no Estado de São Paulo e em estados do
Acredita-se que a maior incidência de ataques na
região, a partir de 1992, esteja relacionada com
a degradação ambiental provocada pela cons- 222
Hazin et al. (2013).
223
Daher et al. (2003).
224
Pereira et al. (2010).
220
International Shark Attack File. Disponível em: http://www.flm- 225
Chippaux (2015).
nh.ufl.edu/fish/Sharks/ISAF/ISAF.htm 226
Schneider et al. (1996).
221
Interaminense et al. (2010). 227
Uieda (1995).
| 151
Nordeste90,228,229. Representa um evento altamen- tanto, a técnica do DNA recombinante permite acelerar
te subnotificado, pois é mais comum em regiões esse processo dramaticamente através da modificação
remotas onde há pouca ou nenhuma assistência de genes endógenos da própria planta ou através da
à saúde90. Fatores relacionados aos ataques são inserção de um conjunto de genes que não é nativo da
as alterações ambientais, como o desmatamento, planta modificada232 (fig. 1). As aplicações são varia-
mineração e também a redução da população de das, compreendendo tornar a planta mais tolerante a
animais domésticos que são fontes preferenciais determinados estresses (patógenos, pragas, salinidade
(gado e suínos), o que simultaneamente degrada o do solo), mais produtiva (crescimento acelerado, produ-
habitat do D. rotundus e os força a procurar novas ção de biomassa), com maior resistência a pesticidas,
fontes alimentares93. Os grupos mais afetados são com capacidade de fitorremediar solos contaminados,
do sexo masculino e adultos. de aumentar as propriedades nutricionais, ou reduzir
compostos alergênicos, dentre outras finalidades.94,95
Impactos
Algumas espécies geneticamente modificadas já bem
Embora sejam raros, os ataques por animais apresen- estabelecidas na agroindústria são algodão, soja (47%
tam impactos contundentes sobre a saúde humana, da área cultivada com transgênicos), canola (5%) e mi-
além de provocar certa perturbação social e econô- lho (32%). Na agricultura, as plantas são modificadas
mica. No primeiro aspecto, muitos eventos podem ser com dois objetivos: se tornarem resistentes à insetos e
fatais devido à gravidade das lesões provocadas, da pragas, ou se tornarem resistentes à herbicidas, sendo
probabilidade de infecções advindas de micro-organis- este último o mais frequente233. Um exemplo são as cul-
mos carreados pelos animais, e da susceptibilidade da turas de milho modificadas para expressarem o gene Bt
vítima às toxinas (vespas e abelhas). Outro fator a ser (oriundo da bactéria Bacillus thuringiensis), que reduz
considerado são as sequelas físicas e psicológicas, já o ataque por insetos do tipo lepidoptera, coleóptera e
que em ataques de tubarões, por exemplo, as amputa- díptero devido à produção de proteínas Cry, capazes de
ções e lacerações de membros inferiores ou posterio- matar os insetos quando ingeridas. Outro exemplo é a
res não são incomuns. O pânico provocado pela ocor- soja RR, modificada pela introdução de um gene de re-
rência de ataques por animais também pode contribuir sistência ao herbicida glifosato, desenvolvida na década
para reduzir o fluxo de turistas em regiões marcadas de 1980 pela Monsanto. Estimativas de 2014 apontavam
por esses eventos, como é o caso de praias no Estado que no mundo cerca de 170 milhões de hectares com-
de Pernambuco, local em que os incidentes com tuba- preendiam culturas transgênicas, sendo o Brasil o se-
rão são mais frequentes no Brasil.86,87 gundo maior produtor, com 40,3 milhões de hectares234.
As culturas geneticamente modificadas são tidas como
1.6.3.3. Organismos geneticamente modificados capazes de garantir a segurança alimentar nos países
mais pobres – estimativas da Organização das Nações
Descrição Unidas para a Alimentação e a Agricultura apontam que
cerca de 805 milhões de pessoas estavam cronicamente
Os organismos geneticamente modificados (OGM) desnutridas em 2014235. Por um lado, a maior produtivi-
compreendem espécies vegetais, animais ou micro-or- dade associada a essas culturas pode garantir maior su-
ganismos que tiveram uma parte de seu genoma alte- primento de alimentos para uma população em constan-
rado de modo a favorecer determinadas características te crescimento demográfico; por outro lado, as culturas
desejáveis230. A técnica do DNA recombinante permi- geneticamente modificadas exigem, em alguns casos,
tiu, a partir da década de 1970, que uma sequência do menor área plantada, menos irrigação e uso reduzido de
genoma de um organismo fosse transferida para outro, agrotóxicos, reduzindo os custos da agricultura de sub-
independentemente de serem da mesma espécie231. sistência para as populações rurais mais pobres.159,160
236
Ma et al. (2005). 1.7.1. Vulnerabilidade Socioeconômica
237
Angelo (2007).
238
Lemaux (2009).
239
Fox (2003). A concentração populacional é um elemento funda-
240
Lemaux (2008). mental na determinação da vulnerabilidade, já que
| 153
quanto maior o número de pessoas expostas, maior o As crianças sofrem desproporcionalmente e estão,
risco de desastres241. usualmente, entre as primeiras vítimas nos períodos
de desastres, pela sua alta dependência familiar, fragi-
No Brasil, os estados com maior população, em 2010, lidade corporal e psicológica243. A maior concentração
são Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas de crianças extremamente pobres ocorre nos Estados
Gerais e Bahia242 (Figura 92). do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí e Alagoas, em
2010242 (Figura 93).
Nem toda a população apresenta o mesmo grau de
vulnerabilidade diante da ocorrência de desastres. Se- As pessoas idosas sofrem desproporcionalmente
gundo o Protocolo Nacional Conjunto para a Proteção quando devem evacuar suas residências em decorrên-
Integral em Situação de Riscos e Desastres da Secreta- cia de desastres, e encontram dificuldade para recu-
ria de Direitos Humanos da Presidência da República – perar-se da perda dos seus pertences e de perdas eco-
SDH/PR (2013), são consideradas pessoas vulneráveis nômicas244. Os estados que apresentam maior número
em situação de desastres as crianças e adolescentes, de população com 65 anos ou mais de idade, segundo
as pessoas idosas e as que apresentam algum grau de dados de 2010, são Bahia, Minas Gerais, São Paulo e
deficiência. A esta lista podem ser agregados as mu- Rio de Janeiro242 (Figura 94).
lheres, os pobres, ou aqueles com pouca ou nenhuma
escolaridade. Outros fatores podem descrever também a vulnerabi-
lidade dos grupos populacionais de crianças e idosos.
241
ALVES (2006) A Figura 95 mostra que os Estados do Maranhão, Piauí,
242
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta Alagoas e Acre são os que apresentam condições de
vulnerabilidade maior considerando o número de mor-
Figura 92. POPULAÇÃO TOTAL talidade infantil até os 5 anos, em 2010. Paraíba, Minas
EM 2010 POR ESTADO. Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
são os estados que, em 2010, apresentavam uma taxa
maior de envelhecimento da sua população (Figura 96).
A Figura 97 apresenta o percentual da população de
menos de 15 anos e da população de 65 anos ou mais
em relação à população de 15 a 64 anos em 2010 por
estado, mais acentuada nos Estados do Acre, Amazo-
nas, Roraima, Amapá e Maranhão242.
Figura 93. PROPORÇÃO DE CRIANÇAS EXTREMAMENTE POBRES Figura 94. POPULAÇÃO COM 65 ANOS OU MAIS DE IDADE
EM 2010 POR ESTADO. EM 2010 POR ESTADO.
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/ Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
consulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
Figura 95. NÚMERO DE MORTALIDADE ATÉ OS 5 ANOS DE IDADE Figura 96. TAXA DE ENVELHECIMENTO
EM 2010 POR ESTADO. EM 2010 POR ESTADO.
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
| 155
Figura 97. PERCENTUAL DA POPULAÇÃO DE MENOS DE 15 Figura 100. TAXA DE DESOCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO
ANOS E DA POPULAÇÃO DE 65 ANOS OU MAIS EM RELAÇÃO À DE 18 ANOS OU MAIS DE IDADE EM 2010
POPULAÇÃO DE 15 A 64 ANOS EM 2010 POR ESTADO. POR ESTADO.
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Figura 98. PROPORÇÃO DE POPULAÇÃO EXTREMAMENTE POBRE Figura 101. TAXA DE ANALFABETISMO DA POPULAÇÃO DE
EM 2010 POR ESTADO. 18 ANOS OU MAIS DE IDADE EM 2010 POR ESTADO.
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/ Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
consulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais
aumento das condições de vulnerabilidade, relacio- A disponibilidade hídrica nas diversas regiões hidro-
nam-se com formas inadequadas (localização, inten- gráficas está associada a um indicador da vazão natu-
sidade) de atividades desenvolvidas pelo ser humano, ral dos rios, e sua principal contribuição à vulnerabili-
ou ausência de políticas, monitoramento e fiscalização dade de uma região deve considerar o caráter sazonal
(medidas e técnicas protecionistas). Diversos aspec- e de variabilidade plurianual da descarga dos rios. Os
tos podem descrever a vulnerabilidade dos ambientes períodos críticos de estiagem, em termos de disponi-
diante da ocorrência de uma ameaça, sendo alguns de- bilidade hídrica, devem ser avaliados a fim de garan-
les os que afetam a cobertura vegetal, a disponibilida- tir uma margem de segurança para o planejamento e
de e qualidade das águas superficiais, e a condição do gestão (Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil –
ar nas áreas urbanas. ANA, 2013) (Figura 105).
A presença da cobertura vegetal contribui para a con- A poluição do ar é um dos fatores de vulnerabilidade
servação da água (bloqueio da radiação solar, favoreci- ambiental que potencializam, particularmente em
mento da infiltração pelo sistema radicular) e diminui áreas urbanas e para grupos de crianças e idosos,
os processos erosivos. O processo histórico de desma- a ocorrência e intensificação de desastres naturais
tamento no Brasil, associado à ocupação do ser humano (agravamento de doenças respiratórias, cardiovascu-
e à exploração dos recursos naturais, apresenta biomas lares e neurológicas) e seus impactos negativos, eco-
com poucos remanescentes originais (Mata Atlântica) nômicos e sociais. econômica e social. No Brasil, algu-
e outros com crescentes áreas sem cobertura vegetal, mas áreas urbanas e metropolitanas são monitoradas
apesar dos esforços para sua contenção (Amazônia) indicando uma preocupante situação (Figura 106).
(Jornal Estado de São Paulo, 2015)248. (Figura 103).
Figura 103. ÁREAS DESMATADAS E REMANESCENTES POR BIOMAS - 2013 (AMAZÔNIA LEGAL),
2012 (MATA ATLÂNTICA), 2010 (CERRADO) E 2009 (PAMPA, CAATINGA E PANTANAL).
1 2 3 4 5 6
BIOMA
Amazônia Mata Pampa Cerrado Caatinga Pantanal
1 Legal Atlântica
5
ÁREA ORIGINAL
(KM²)
5.089.321 1.309.736 177.767 2.038.953 826.411 150.457
4
ÁREA REMANESCENTE
6
(KM²)
4.323.887 189.511 63.719 1.038.605 441.201 127.298
2
15,04 85,5 54,2 49,1 46,6 15,4
ÁREA DESMATADA
3
(%)
Figura 104. ÍNDICE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS – VALORES Figura 106. REPORTAGEM EVIDENCIANDO RELATÓRIO DA OMS
MÉDIOS (2011). EM 2016 QUE INDICOU AS PRINCIPAIS CIDADES NO MUNDO COM
VALORES ALARMANTES DE POLUIÇÃO DO AR.
industriais) fossem concentrando população, majori- Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
tariamente pobre, provocando o surgimento e/ou a in- consulta). Base cartográfica Google.
tensificação de graves problemas sociais e ambientais,
muitos dos quais associados à ocorrência de desastres.
Figura 108. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL DOS ESTADOS NA SUA REGIÃO, NA ÁREA URBANA, E DAS
FAMÍLIAS COM RENDA ATÉ TRÊS SALÁRIOS MÍNIMOS.
100
90
80
70
PROPORÇÃO (%)
60
50
40
30
20
10
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
Total na Região Urbano Renda Mensal até 3 salários Mínimos
básico, estritamente relacionado com a potencializa- de prevenir doenças, inundações e alagamentos, entre
ção de desastres naturais. O rápido crescimento urbano outros tipos de desastres.
não foi plenamente acompanhado pela disponibilidade
de serviços e infraestrutura necessária. O saneamento Segundo dados do Sistema Nacional de Informa-
básico é o conjunto de medidas relacionadas com os ções sobre Saneamento do Ministério das Cidades de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de 2014250:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpe-
za urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos só-
lidos e de águas pluviais, que visa a preservar ou modi- 250
http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-
ficar as condições do meio ambiente com a finalidade -ae-2014
• 35 milhões de brasileiros não são atendidos com • As capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de
abastecimento de água tratada, sendo a Região m³ de esgotos na natureza em 2013. Apenas
Norte a que apresenta os índices mais baixos no 40% dos esgotos do país são tratados, leve-
contexto do Brasil (54,51%); mente superado pela média das 100 maiores
• 48,6% da população no Brasil têm acesso à coleta cidades brasileiras (50,26%). A Região Norte
de esgoto, o que indica que há mais de 100 milhões é a que apresenta a pior situação entre todas
de brasileiros que não têm acesso a este serviço. as regiões (apenas 14,36% do esgoto são trata-
Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maio- dos), sendo a Região Centro-Oeste a que apre-
res cidades do país, despejam esgoto irregular- senta o melhor desempenho (46,37% do esgoto
mente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis; são tratados).
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
resposta ao desastre.
de um grande volume de água causado ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
definidas quanto ao seu volume, cujo de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
centro de gravidade se desloca para baixo sobre os materiais das encostas.
e para fora do talude. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
específicos de vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Remoção de uma camada delgada e conservação dos solos e manutenção de cobertura vegetal.
uniforme do solo superficial provocada ◆ População despreparada e não capacitada na compreensão do
por fluxo hídrico não concentrado. fenômeno e na execução de medidas preventivas e de resposta
ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão em ravina,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo
do solo são provocadas por escoamento para a contenção de erosão em boçorocas e a proteção das
hídrico superficial e subsuperficial populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
chuvas intensas e concentradas, condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
normalmente em pequenas bacias e a manutenção da cobertura vegetal.
de relevo acidentado. Caracterizada ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
pela elevação súbita das vazões e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
de determinada drenagem e ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
escoamento de sistemas de drenagem condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
urbana e consequente acúmulo de e a manutenção da cobertura vegetal.
água em ruas, calçadas ou outras ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
vulnerabilidade.
Intensificação dos ventos
Sistemas de Grande Escala/Escala Regional
resposta ao desastre.
Ondas violentas que geram uma
maior agitação do mar próximo
Marés de tempestade
funcionamento.
Tempestade com intensa
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
raios
desenvolvimento vertical.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
Tempestade Local/Convectiva
funcionamento.
Granizo
Precipitação de pedaços
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
irregulares de gelo.
e bens (seguros).
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Áreas de Proteção
de Preservação funcionamento.
Em Parques,
Permanente
Propagação de fogo sem controle,
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle
em qualquer tipo de vegetação
preventivo e emergencial de incêndios florestais.
situada em áreas legalmente
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
protegidas.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
com reflexos na
qualidade do ar
Aumento brusco, significativo e • Alguns grupos populacionais são mais vulneráveis, como os
transitório da ocorrência de doenças espectros de idade, imunodeprimidos e os de baixa renda e
geradas por parasitas. escolaridade.
◆ Atividades laborais (garimpo, agricultura) podem favorecer a
◆• Presença de vetores nas áreas urbanas transmissão de algumas doenças parasitárias, como é o caso da
ou silvestres com atividade antrópica malária.
(Anopheles sp., Lutzomyia sp.); ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida
expansão da área urbana, dentre outros. infestação vegetal, com consequências a longo prazo para a
◆• Introdução de espécies exóticas com provisão de serviços ecossistêmicos.
alto potencial de invasão. ◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem
2
RISCOS DE DESASTRES
RELACIONADOS
A EVENTOS
TECNOLÓGICOS
Caracterização
2.1.2. Resíduos Radioativos
Conforme a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), são consideradas atividades que utilizam Definição
energia nuclear:
Resíduos radioativos são quaisquer resíduos que con-
• Geração de energia elétrica; tenham materiais radioativos.
• Medicina nuclear;
• Aplicações na indústria, agricultura e meio am- Caracterização
biente;
• Pesquisa e ensino relacionados a tecnologias Resíduos radioativos podem ser gerados em qualquer
aplicadas; das atividades e instalações que utilizam substâncias
• Exploração e pesquisa em beneficiamento das radioativas e, da mesma forma que estas, também po-
reservas minerais nucleares (urânio, tório); dem causar danos à saúde humana, ao ambiente e ao
• Defesa, especialmente relacionada à propulsão patrimônio público e privado.
nuclear;
• Tratamento e armazenamento de rejeitos ra- Os resíduos radioativos podem resultar do próprio
dioativos; material radioativo (fontes radioativas usadas) ou do
• Segurança e proteção radiológica da população. contato deste e consequente contaminação de subs-
tâncias não radioativas.
A CNEN é o órgão superior de planejamento, orienta-
ção, supervisão, regulamentação, licenciamento e fis- A contaminação radioativa é a presença de material
calização das atividades relacionadas à produção e ao radioativo em local indevido, podendo ocorrer no
uso da energia nuclear no Brasil. meio ambiente, nos lugares públicos, nas pessoas etc.
Já a irradiação é a exposição de um objeto ou um cor-
Entre os tipos de instalações que necessitam de auto- po à radiação, o que pode ocorrer a alguma distância,
rização da CNEN para operar estão: sem necessidade de contato com a fonte de radiação.
Ser irradiado não significa, portanto, ser contamina-
• Desmontagem de para-raios; do. Uma pessoa ou objeto irradiado não guarda, em
• Distribuidor de fontes e de dispositivos com fon- seu corpo, qualquer propriedade radioativa que possa
te incorporada selada; ser transmitida. Entretanto, ao ser contaminado com
• Inspeção corporal e de bagagem e contêineres; material radioativo, o elemento passa a irradiar o seu
• Irradiador de sangue; entorno. A contaminação radioativa pode também se
• Irradiador por fonte e por equipamento gerador propagar por contato e contaminar objetos e pessoas
de radiação; antes não contaminados. A descontaminação radioló-
• Laboratório de calibração de instrumentos e de gica consiste em remover o material contaminante do
monitoração individual; local onde se encontra. Após a remoção do contami-
• Materiais contaminados; nante radioativo, não ocorre mais irradiação causada
• Medicina nuclear; por ele no local.
• Medidores nucleares – controle de processos e
sistemas portáteis; 251
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
| 171
www.cnen.gov.br
2. AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA Acidente
Sério 6
ATÔMICA – AIEA (INTERNATIONAL ATOMIC
ENERGY AGENCY – IAEA)
www.iaea.org
Acidente com conse-
quências mais amplas 5
Instalações autorizadas pela CNEN para de-
senvolvimento de atividades relacionadas à
Acidente com
consequências locais 4
produção e ao uso da energia nuclear
Incidente sério
3
Incidente
pode requerer a implementação de providências são relacionados com resíduos radioativos no Brasil entre
classificados como nível 4 a 7. 2005 e 2015252.
O Acidente de Goiânia
Em 13 de setembro de 1987, na cidade de Goiânia putado, e 249 pessoas das 112.800 monitoradas pela
(GO), um equipamento contendo uma fonte radioa- CNEN apresentaram níveis de radiação acima do nor-
tiva de cloreto de césio (Cs-137), que se encontrava mal para a região. O acidente também provocou a con-
abandonado em uma clínica desativada, foi roubado taminação de vegetais a um raio de aproximadamente
e, posteriormente, vendido a um ferro-velho. Violada 50 metros dos principais focos de contaminação e,
a blindagem de chumbo e aberta a cápsula onde se por meio das redes de águas pluviais e de esgotos, de
encontrava o Cs-137, adultos e crianças, encantados trechos de cursos d’água situados na vizinhança dos
pelo fato desse material emitir uma luz azul brilhante locais contaminados. Cerca de 1.700 toneladas de re-
e não sabendo que se tratava de material radioativo, jeitos radioativos foram geradas em decorrência do
manipularam aquele “pó cintilante”, distribuindo-o acidente, que foram acondicionados em contêineres e
entre parentes e amigos. Um encadeamento seguinte tambores e armazenados em local provisório por cer-
de fatos resultou na contaminação de três depósitos ca de dez anos até serem finalmente depositados em
de ferro-velho, um quintal, algumas residências, um repositório construído em Abadia de Goiás, a 20 km de
escritório da Vigilância Sanitária e diversos locais pú- Goiânia. O acidente teve também consequências bas-
blicos. Devido ao fato de a cápsula ter sido rompida tante danosas para o Estado de Goiás, cujos cidadãos
a céu aberto, houve também contaminação direta do foram discriminados e produtos foram rejeitados nos
solo. O acidente de Goiânia resultou em quatro mortes demais estados durante longo tempo.
nos dois primeiros meses após o acidente e outras três
mortes alguns anos depois. Vinte pessoas foram hos- Fonte: UFRGS/CNEN, 2014, disponível em www.cnen.
pitalizadas, tendo uma delas o antebraço direito am- gov.br/component/content/article?id=170
| 173
O mais grave acidente da história da indústria química min e, pela manhã, já se contavam mais de mil pessoas
ocorreu em uma planta de fabricação de pesticidas da mortas, algumas atingidas pelo gás a uma distância
empresa Union Carbide, situada na cidade indiana de de 8 km da planta. As condições meteorológicas con-
Bhopal. O acidente foi causado pela entrada de água tribuíram para agravar os efeitos do acidente: o vento
em um tanque subterrâneo contendo 41 toneladas de soprava na direção das ocupações populacionais pró-
isocianato de metila (MIC), uma substância altamente ximas à planta e a presença de inversão térmica redu-
tóxica. O contato do MIC com a água provocou uma ziu a velocidade de diluição da nuvem de gás. A exten-
reação exotérmica seguida do aumento da pressão no são da tragédia permanece incerta: a estimativa oficial
tanque. Isto provocou a abertura de uma válvula de do governo indiano indica 1.800 mortos; outras fontes
alívio, resultando na emissão para a atmosfera de cer- estimam este número entre 2.500 e 5 mil além de le-
ca de 25 toneladas de MIC e 13 toneladas de produtos sões graves em 30 mil a 50 mil pessoas e algum tipo de
da reação. A emissão acarretou a formação de uma dano físico a outras 200 mil a 300 mil.
nuvem tóxica que se espalhou sobre uma vasta área,
densamente habitada, cobrindo cerca de 40 km2. As Fontes: Souza Jr., 2002 apud Bowonder, 1985; Kletz,
primeiras mortes começaram a ser registradas pou- 1988; Lepkowsk, 1988; Mehta et al., 1990; Pandey e
cas horas após a liberação, ocorrida por volta de 0h 30 Bowonder, 1993.
| 175
Figura 110. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM VAZAMENTO DE PRODUTOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS EM ECOSSISTEMAS LACUSTRES, FLUVIAIS,
AQUÍFEROS E MARINHOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
10
9
N° DE RECONHECIMENTOS
8
7
6
5
4
3
2
1
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO
ESTADOS
As Armas Biológicas são sistemas complexos que dis- Príons são agentes infectantes compostos por mo-
seminam organismos ou toxinas causadores de doen- léculas proteicas. O nome príon vem do inglês pro-
ças para prejudicar ou matar pessoas, animais ou teinaceous infectious particles, que significa partí-
plantas. Além da aplicação militar, podem também ser culas proteicas infecciosas.
usadas para atentados políticos, a infecção de reba- Rickettsia é um gênero de bactérias que, tais como
nhos ou produtos agrícolas visando a causar falta de os vírus, crescem apenas dentro de células vivas.
alimentos e perda econômica, geração de catástrofes Causam doenças como o tifo epidêmico e a febre
ambientais e disseminação de doenças, medo e des- escaronodular ou botonosa.
confiança entre o público. Toxina é o veneno derivado de animais, plantas, mi-
cro-organismos ou substâncias similares produzi-
Quase todo organismo (bactérias, vírus, fungos, príons das sinteticamente.
ou rickettsiae) ou toxina causador de doenças pode ser
usado em armas biológicas, manipulados a partir do
seu estado natural para torná-los mais adequados para
a produção em massa, armazenamento e disseminação senvolvimento, produção e armazenamento de armas
como armas. Exemplos de agentes e doenças associa- químicas. Nas décadas de 1970 e 1980, estima-se que
dos a armas biológicas são aflatoxina, anthrax, toxina 25 países estavam desenvolvendo capacitação em ar-
botulínica, ricina, febre Q, varíola e tularemia. mas químicas. Porém, desde o fim da II Guerra Mun-
dial, há registro do uso de armas químicas em poucas
O uso moderno de armas químicas começou na I Guer- ocasiões, notadamente pelo Iraque na década de 1980
ra Mundial. Essas armas consistiam basicamente de contra o Irã.
substâncias químicas comerciais bem conhecidas (clo-
ro, fosgênio e gás mostarda) colocadas em munições As Armas Nucleares são as mais perigosas. Apenas
padrão, tais como granadas ou projéteis de artilharia. um artefato pode destruir uma cidade inteira, matan-
Os efeitos foram devastadores, resultando em cerca de do potencialmente milhões de pessoas e ameaçando o
100 mil mortes. Desde a I Guerra Mundial, as armas ambiente natural e as vidas das gerações futuras devi-
químicas vitimaram mais de 1 milhão de pessoas. do aos seus efeitos catastróficos de longo prazo. Em-
bora armas nucleares tenham sido usadas em guerra
Apesar do Protocolo de Genebra, assinado em 1925, apenas duas vezes – nos bombardeios de Hiroshima e
que proibiu o uso de armas químicas em guerras, gases Nagasaki, em 1945, no fim da II Guerra Mundial – há
venenosos foram usados durante a II Guerra Mundial registro da existência de cerca de 22 mil artefatos béli-
em campos de concentração nazistas e na Ásia. No cos nucleares no mundo atualmente e da realização de
período da Guerra Fria ocorreu um significante de- aproximadamente 2 mil testes nucleares até hoje.
| 177
de uma nuvem de gás inflamável), bola de fogo (ig- duras graves a algumas centenas de metros do
nição de uma grande massa de gás inflamável libe- local da explosão.
rada abruptamente), ou incêndios em materiais só-
lidos combustíveis. Ondas de sobrepressão (ou ondas de choque) são on-
das de pressão maiores que a pressão atmosférica nor-
As explosões são liberações súbitas e violentas de energia mal, como aquelas resultantes de uma explosão.
acumulada. Eventos relacionados à liberação de energia
física ocorrem, por exemplo, na explosão de capacitores e Ocorrência
transformadores (energia elétrica) e na explosão de vasos
pressurizados (energia potencial de pressão). Explosões Não há registro de reconhecimentos de situação de
de origem química podem advir de reações exotérmicas emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP)
descontroladas e de combustão em misturas inflamáveis relacionados com incêndios em plantas industriais, par-
e materiais explosivos. Dois tipos de explosões merecem ques, depósitos comerciais e logradouros de grande den-
um comentário particular, em razão do seu elevado po- sidade de usuários no Brasil entre 2005 e 2015 (MI257).
tencial de destruição e raio de alcance.
2.4.2. Incêndios em Aglomerados
• A ignição de uma nuvem de gás ou vapor infla- Residenciais
mável origina uma explosão (confinada ou não
confinada), que dependendo das quantidades Caracterização
de gás ou vapor liberadas e das condições me-
teorológicas pode alcançar grandes distâncias Os incêndios podem ocorrer em uma casa, aglomera-
antes da sua ignição (em alguns casos superior dos de casas ou edificações com alta concentração de
a 100 metros). pessoas. Quanto à construção, as edificações podem
• O BLEVE (boiling liquid expanding vapor explo- ser classificadas em combustíveis (construídas to-
sion) é um fenômeno que pode acontecer em tal ou parcialmente em madeira), resistentes ao fogo
tanques pressurizados onde um gás liquefeito é (construídas com materiais que opõem resistência ao
mantido acima de sua temperatura de ebulição fogo – ferro, alvenaria de tijolos e outros), e incombus-
à pressão atmosférica. A ruptura abrupta do tíveis (construídas totalmente em concreto). O risco de
tanque libera seu conteúdo instantaneamente incêndio em uma edificação depende de quatro carac-
na forma de uma mistura bifásica gás/líquido terísticas básicas, conforme o Quadro 15.
que se expande rapidamente, configurando
uma grande nuvem. Caso a substância seja in- A evolução do incêndio em uma edificação tem três
flamável, uma eventual ignição da nuvem pro- fases: Inicial de elevação progressiva da temperatura
voca uma bola de fogo, que gera um intenso (ignição); Aquecimento (inflamação generalizada); e
fluxo térmico e ondas de sobrepressão. Depen- Resfriamento e extinção.
dendo da quantidade de gás envolvida, o calor
liberado é capaz de produzir mortes e queima- 257
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
• Total; • Natureza das atividades • Materiais de construção e técnicas • Situação com relação às divisas
◆ Fixa e flutuante; desenvolvidas na aplicadas; do lote;
◆ Condições físicas e edificação; ◆ Tipo de sistema estrutural; ◆ Largura das ruas e outras
◆ Materiais combustíveis
destinados a revestimento e
acabamento de paredes, tetos
e pisos, e incorporados aos
sistemas construtivos.
Fonte: Adaptado de MITIDIERI (2008).
| 179
instalações elétricas inadequadas (7,3%), seguindo-se Alguns desastres envolvendo essas estruturas estão
displicência ao cozinhar (2%), prática de ações crimi- relacionados ao seu colapso total ou parcial. Entre as
nosas (1,9%), ignição espontânea (1,8%), brincadeira causas principais do colapso de obras civis estão:
de crianças (1,4%), displicência de fumantes com pon-
tas de cigarro/fósforo (1,3%) e superaquecimento de a. Falhas de projeto (estudos geotécnicos, cálcu-
equipamento (1,2%). Outras causas não especificadas los estruturais, dimensionamento e especifi-
respondem por mais de metade dos casos. cação de componentes e materiais);
b. Falhas de construção e montagem (fundações
Ocorrência e estrutura, travamento de vigas e pilares, pa-
redes, vedações e cobertura);
A Figura 111 apresenta os registros de reconhecimen- c. Falhas na manutenção;
tos de situação de emergência (SE) e estado de cala- d. Sobrecarga ou redução da capacidade de carga
midade pública (ECP) relacionados com incêndios em da estrutura ou fundações;
aglomerados residenciais no Brasil entre 2005 e 2015. e. Fenômenos naturais (inundações, sismos, tem-
pestades, movimentos gravitacionais de massa).
Figura 111. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM INCÊNDIOS EM AGLOMERADOS RESIDENCIAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
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N° DE RECONHECIMENTOS
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ESTADOS
Fonte: MI (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
| 181
Figura 112. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM COLAPSO DE EDIFICAÇÕES, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
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N° DE RECONHECIMENTOS
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ESTADOS
Podem variar em tamanho, desde pequenos maciços O Registro Mundial de Barragens, da Comissão Interna-
de terra, usados frequentemente em fazendas, a enor- cional de Grandes Barragens (CIGB/ICOLD), considera
mes estruturas de concreto ou de aterro, usadas para uma grande barragem a que possua altura de 15 metros
fornecimento de água, geração de energia hidrelétri- (independentemente do volume de água armazenável
ca, controle de cheias, contenção de rejeitos, irrigação em seu reservatório) ou também a que possua altura
e outras finalidades. Os principais tipos de barragens entre 10 e 15 metros desde que tenha capacidade de ar-
são as de aterro, de concreto-gravidade e de concreto mazenar mais de 3 milhões de metros cúbicos de água
em arco259. em seu reservatório. A proporção das principais causas
de falhas em grandes barragens do mundo são260:
259
Comitê Brasileiro de Dragagens - www.cbdb.org.br/5-38/Apresen-
tação%20das%20Barragens 260
Foster et al. (2000).
O Acidente de Mariana
Em novembro de 2015 ocorreu o rompimento da Bar- Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Os efeitos
ragem de Fundão, no Município de Mariana, Minas foram catastróficos: 19 pessoas mortas; vilarejos
Gerais. O acidente gerou uma enxurrada devastadora como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo totalmen-
de cerca de 62 milhões de metros cúbicos de lama de te destruídos; mais de 10 toneladas de peixes mortos;
rejeitos de mineração, que percorreram aproximada- e uma área de mais de 1.400 hectares sem condições
mente 879 km, atingindo cerca de 39 municípios dos para desenvolvimento de atividades agropecuárias*.
Figura 113. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM ROMPIMENTO OU COLAPSO DE BARRAGENS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.
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ESTADOS
Modal Rodoviário
Quadro 18. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
DE DESASTRES NO MODAL FERROVIÁRIO.
ZZ
Z Modal Ferroviário
Uso de entor-
Desatenção Cansaço Imprudência pecentes
Falha mecânica
2.6.3. Acidente no Modal Aéreo Quadro 20. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
Envolvendo o Transporte de Passageiros DE DESASTRES NO MODAL AÉREO.
e Cargas Não Perigosas
Eventos potencialmente causadores de desastres
Caracterização
Ocorrência
263
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
Quadro 22. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
264
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
DE DESASTRES NO MODAL AQUAVIÁRIO.
265
QUARANTELLI (1992). 266
HSE, s.d.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos
269
MEHTA et al. (1990).
270
GILL e PICOU (1991).
Fonte: GoogleEarth, data da imagem: 7/7/2016. 271
KASPERSON et al. (1988).
| 187
• Pressão política e social (demandas políticas, explosões; e concentração de substâncias tóxicas no ar,
mudanças no contexto e na cultura política); na água ou no solo, no caso de liberações tóxicas. A ex-
• Desordem social (protestos, distúrbios, sabota- posição deriva em mortes ou lesões de características e
gem, terrorismo); gravidade variadas, com prazo de manifestação e dura-
• Mudanças no monitoramento e regulamentação ção de seus efeitos também variável. Além de trabalha-
de atividades de risco; dores direta ou indiretamente envolvidos na operação
• Repercussão em outras tecnologias (menor ní- das instalações, indivíduos do público externo também
vel de aceitação pública) e em instituições so- podem estar entre as vítimas. Liberações acidentais de
ciais (erosão da credibilidade pública). substâncias perigosas não radioativas podem também
causar danos importantes ao ambiente, cuja extensão
Os efeitos físicos diretos resultantes de desastres tec- e intensidade dependem da quantidade e das caracte-
nológicos estão descritos a seguir. rísticas da substância liberada e da sensibilidade dos
ambientes terrestres e aquáticos afetados.
Desastres relacionados a substâncias perigo-
sas radioativas No caso de desastres relacionados a substâncias peri-
gosas não radioativas, cabe aos órgãos públicos moni-
Os efeitos da exposição humana a radiações ionizantes torar a presença de substâncias tóxicas e/ou inflamá-
são bastante variáveis e dependem de fatores como a veis no ar, no solo ou em corpos d’água contaminados.
dose total de radiação recebida, se esta foi aguda ou
crônica, se localizada ou de corpo inteiro. Esses efeitos Desastres relacionados a incêndios urbanos
podem ser determinísticos ou estocásticos.
Além dos danos ao patrimônio, as pessoas podem ser
Os efeitos determinísticos surgem em um curto espa- afetadas pelos seguintes efeitos decorrentes de um
ço de tempo (dias, horas, minutos) a partir de um valor incêndio: exposição ao calor, contato com as chamas,
de dose limiar272, e sua gravidade é função do aumen- exposição à fumaça, insuficiência de oxigênio, e/ou co-
to desta dose. Os efeitos incluem morte, inflamação e lapso de objetos ou estruturas.
ulceração da pele, náusea, vômito, anorexia, diarreia,
queda de cabelos, anemia, hemorragia e infecções, Setenta por cento das mortes em incêndios são produ-
entre outros. Os efeitos estocásticos são aqueles cuja zidas por intoxicação e asfixia, associadas à exposição
probabilidade de ocorrência é função da dose, não à fumaça, e somente 30% por queimaduras, quedas e
existindo limiar, como é o caso do câncer. Assim, para outras causas273.
qualquer indivíduo irradiado, independentemente da
dose, há uma chance de que certos efeitos atribuíveis à A fumaça produzida em incêndios é uma mistura
radiação se manifestem, mas só depois de um período complexa de sólidos em suspensão, vapores e gases,
de tempo longo (dezenas de anos) a partir do momento muitos deles altamente tóxicos e asfixiantes, gerada
que ocorreu o evento de irradiação. quando um material sofre o processo de pirólise ou
combustão. A fumaça tem como efeitos a diminuição
Além desses, há também os efeitos estocásticos here- da visibilidade, o lacrimejamento e irritação dos olhos,
ditários, decorrentes da irradiação das gônadas (tes- a aceleração da respiração e do batimento cardíaco,
tículos nos homens e ovários nas mulheres), que pode queimadura e outras lesões nas vias respiratórias, tos-
provocar alterações no material hereditário contido se e vômito, pânico e desorientação, intoxicação e as-
nos gametas (células reprodutoras). fixia, e o desmaio e morte.
No caso de desastres relacionados a substâncias peri- Incêndios em hospitais, creches e asilos de idosos têm
gosas radioativas, cabe aos órgão públicos monitorar a como fator agravante a maior dificuldade de locomo-
presença dessas substâncias tanto no local do desas- ção das pessoas. Já os incêndios em locais com alta
tre quanto em outros locais possivelmente expostos à concentração de pessoas costumam ser agravados
contaminação radioativa. pela ocorrência de pânico coletivo, que resulta em
pisoteamento e outros traumatismos na tentativa de
Desastres relacionados a substâncias perigo- abandonar o recinto.
sas não radioativas
Desastres relacionados a obras civis
Acidentes envolvendo substâncias perigosas não ra-
dioativas resultam em danos à integridade das pessoas Desastres relacionados ao colapso total ou parcial de
expostas aos seus efeitos físicos: radiação térmica, no obras civis têm como consequências, além de danos ao
caso de incêndios; ondas de sobrepressão, no caso de patrimônio, a possibilidade de lesões variadas e morte
de pessoas.
272
Dose limiar de radiação é a menor dose a partir da qual podem
ocorrer os efeitos da exposição a ela. 273
LUZ NETO (1995).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos
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| 201
Anotações
ANEXOS
ANEXO A.
CLASSIFICAÇÃO
E CODIFICAÇÃO
BRASILEIRA DE
DESASTRES (COBRADE)
| 205
1. Tremor de
verticais e horizontais na superfície da Terra
(ondas sísmicas). Pode ser natural (tectônica) ou
terra
1.1.1.1.0
0
1. Terremoto
1.1.3.1.2
fragmentos de rochas se destacam de encostas
muito íngremes, num movimento tipo queda livre.
Os rolamentos de matacães são caracterizados
3. Matacães
1. Solo/
3. Corridas de massa
Lama
excepcionais, o solo/lama, misturado com a
1.1.3.3.1
água, tem comportamento de líquido viscoso, de
extenso raio de ação e alto poder destrutivo.
2. Deslizamentos (cont.)
2. Rocha/
Detrito
excepcionais, rocha/detrito, misturado com a
1.1.3.3.2
água, tem comportamento de líquido viscoso, de
extenso raio de ação e alto poder destrutivo.
4. Subsidências
e colapsos
1.1.4.1.0
0
desmoronamento de barrancos.
1. NATURAIS (cont.)
4. Erosão
1. Laminar
(mobilidade de dunas)
1. Ventos costeiros
Intensificação dos ventos nas regiões litorâneas,
movimentando dunas de areia sobre construções 1.3.1.1.1
na orla.
1. Sistemas de grande escala/Escala regional
1. Ciclones
inferior à friagem.
Zona de Convergência é uma região que está 1.3.1.2.0
0
1. Tornados
de raios
3. Granizo
1. Friagem
3. Temperaturas extremas
3. Meteorológico (cont.)
2. Onda de frio
determinada região em um período do ano.
(cont.)
2. Geadas
Formação de uma camada de cristais de gelo na
1.3.3.2.2
superfície ou na folhagem exposta.
1. Estiagem
protegidas.
1. Seca
3. Incêndio florestal
na qualidade do ar
infecciosas virais
1. Doenças
Aumento brusco, significativo e transitório da
1.5.1.1.0
0
ocorrência de doenças infecciosas geradas por vírus.
bacterianas
infecciosas
2. Doenças
bactérias.
1. Epidemias
infecciosas
parasíticas
3. Doenças
parasitas.
infecciosas
4. Doenças
fúngicas
fungos.
5. Biológico
1. Infestações de
animais
1. Queda de satélite
(radionuclídeos)
radioativos
0
podendo ocasionar a liberação deste material.
1. Desastres relacionados a substâncias radioativas
de produção
nucleares
3.01/006:2011 da CNEN.
2. TECNOLÓGICOS
ambiente
de produtos perigosos
explosão ou incêndio
perigosos
1. Liberação de produtos
químicos nos sistemas
de água potável
2. Desastres relacionados à contaminação da água
Derramamento de produtos químicos diversos em
um sistema de abastecimento de água potável,
2.2.2.1.0
0
que pode causar alterações nas qualidades físicas,
químicos em ambiente lacustre, químicas, biológicas.
2. Derramamento de produtos
3. Desastres relacionados a
1. Liberação de produtos
conflitos bélicos
Transporte
ferroviário
1. Incêndios em plantas
e distritos industriais,
parques e depósitos
3. Desastres relacionados a
0
distritos industriais, parques e depósitos.
incêndios urbanos
2. Incêndios em
aglomerados
residenciais
1. Colapso de
edificações
0
2. Rompimento/
colapso de
barragens
2. TECNOLÓGICOS (cont.)
0
1. Transporte
5. Desastres relacionados à transporte de passageiros e cargas não perigosas
rodoviário
perigosas.
2. Transporte
ferroviário
não perigosas.
3. Transporte
aéreo
perigosas.
5. Transporte
aquaviário
ANEXO B.
CLASSIFICAÇÃO GERAL
DOS DESASTRES
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres
CAPÍTULO I
CLASSIFICAÇÃO GERAL
TÍTULO I
1 – Introdução
• quanto à evolução;
• quanto à intensidade;
• quanto à origem.
Embora para o leigo a ideia de desastre esteja intimamente relacionada com a de subitaneidade, do ponto de vista
técnico, os desastres não são necessariamente súbitos.
É importante frisar que a intensidade do desastre não depende apenas da magnitude do fenômeno adverso, mas,
principalmente, do grau de vulnerabilidade do cenário do desastre e do grupo social atingido. Embora clássica, a
classificação dos desastres quanto à tipologia em naturais, humanos e mistos vem sendo contestada por autores
modernos, que tendem a rotular todos os desastres como mistos.
TÍTULO II
1 – Introdução
• desastres súbitos ou de evolução aguda, como deslizamentos, enxurradas, vendavais, terremotos, erupções vul-
cânicas, chuvas de granizo e outros;
• desastres de evolução crônica ou gradual, como seca, erosão ou perda de solo, poluição ambiental e outros;
• desastres por somação de efeitos parciais, como cólera, malária, acidentes de trânsito, acidentes de tra-
balho e outros.
2 – Critérios de Classificação
Os desastres súbitos ou de evolução aguda caracterizam-se pela subitaneidade, pela velocidade com que o pro-
cesso evolui e, normalmente, pela violência dos eventos adversos, causadores dos mesmos.
Os desastres de evolução crônica ou gradual, ao contrário, caracterizam-se por serem insidiosos e evoluírem
através de etapas de agravamento progressivo.
Os desastres por somação de efeitos parciais são, na realidade, caracterizados pela somação de numerosos aci-
dentes ou ocorrências, com características semelhantes, os quais, quando somados, ao término de um período
definem um grande desastre.
3 – Importância do Assunto
Como no Brasil os desastres súbitos ou de evolução aguda, como erupções vulcânicas, terremotos catastróficos,
ciclones tropicais e outros, são pouco prováveis, o não reconhecimento dos demais tipos de desastres implicaria
subemprego do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC.
Do ponto de vista internacional, é importante para os representantes do governo brasileiro frisar que a subitanei-
dade não é uma condição indispensável à caracterização dos desastres.
A ideia da necessidade da subitaneidade alijaria não somente o Brasil, mas também numerosos países da América
do Sul e da África, da comunidade internacional interessada na redução dos desastres.
| 215
Como os desastres são medidos em função da intensidade dos danos e dos prejuízos econômicos e sociais, é pos-
sível que a seca do Semiárido Nordestino, a longo prazo, se caracterize como um desastre muito mais importante
que numerosos terremotos, erupções vulcânicas e ciclones, frequentes em outros países.
Pelos motivos expostos, a classificação dos desastres quanto à evolução responde aos interesses internacionais
do Brasil.
TÍTULO III
1 – Introdução
A intensidade dos desastres pode ser definida em termos absolutos ou a partir da proporção entre as necessidades de
recursos e as possibilidades dos meios disponíveis na área afetada, para dar resposta cabal ao problema.
• acidentes;
• desastres de médio porte;
• desastres de grande porte;
• desastres de muito grande porte.
2 – Critérios de Classificação
a) Acidentes
Os acidentes são caracterizados quando os danos e prejuízos consequentes são de pouca importância para a
coletividade como um todo, já que, na visão individual das vítimas, qualquer desastre é de extrema importância
e gravidade.
Os desastres de médio porte são caracterizados quando os danos e prejuízos, embora importantes, podem ser
recuperados com os recursos disponíveis na própria área sinistrada.
Os desastres de grande porte exigem o reforço dos recursos disponíveis na área sinistrada, através do aporte de
recursos regionais, estaduais e, até mesmo, federais.
Os desastres de muito grande porte, para garantir uma resposta eficiente e cabal recuperação, exigem a in-
tervenção coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC – e, até mesmo, de ajuda
externa.
3 – Importância do Assunto
O estudo da intensidade dos desastres é extremamente importante para facilitar o planejamento da resposta e da
recuperação da área atingida. A dosagem dos meios a serem utilizados é diretamente proporcional à intensidade
dos danos e prejuízos provocados pelos mesmos. De uma maneira geral, são decretados pelo poder público:
TÍTULO IV
1 – Critérios de Classificação
• naturais;
• humanos ou antropogênicos;
• mistos.
2 – Desastres Naturais
São produzidos por fatores de origem externa que atuam independentemente da ação humana.
São aqueles provocados pelas ações ou omissões humanas. Relacionam-se com a atuação do próprio homem,
enquanto agente e autor. Esses desastres podem produzir situações capazes de gerar grandes danos à natureza,
aos habitats humanos e ao próprio homem.
4 – Desastres Mistos
Ocorrem quando as ações e/ou omissões humanas contribuem para intensificar, complicar ou agravar os de-
sastres naturais. Além disso, também se caracterizam quando intercorrências de fenômenos adversos naturais,
atuando sobre condições ambientais degradadas pelo homem, provocam desastres.
CAPÍTULO II
TÍTULO I
1 – Introdução
Em função de sua natureza ou causa primária, os desastres naturais são classificados em:
Os desastres naturais de origem sideral dizem respeito ao impacto de corpos oriundos do espaço sideral sobre
a superfície da Terra. Esses corpos, chamados meteoritos, são provenientes do espaço interplanetário e podem
originar-se:
| 217
• de asteroides que gravitam em torno do Sol, numa órbita situada entre Marte e Júpiter;
• em cometas, corpos de órbitas excêntricas e degeneradas, que orbitam entre o Sol e Plutão.
Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa são aqueles provocados por fenômenos
atmosféricos. Normalmente relacionam-se com fenômenos meteorológicos e/ou hidrológicos correntes na at-
mosfera terrestre e seus efeitos danosos atuam sobre:
Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna são relativos às forças atuantes nas cama-
das superficiais e profundas da litosfera. Esses desastres relacionam-se com fenômenos geomorfológicos:
Os fenômenos geomorfológicos também interagem com os fenômenos meteorológicos e/ou hidrológicos corren-
tes:
• na atmosfera terrestre;
• sobre a superfície da crosta terrestre;
• na biosfera.
O desequilíbrio normalmente provoca o predomínio de determinadas espécies animais e/ou vegetais, que prolife-
ram intensamente e passam a atuar como pragas.
TÍTULO II
1 – Impacto de meteoros
Desastres naturais de origem sideral podem ocorrer como consequência do impacto de corpos oriundos do espa-
ço sideral sobre a superfície da Terra. Os corpos siderais têm atingido a Terra e outros planetas do sistema solar,
bem como seus satélites, desde sua remota formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos.
Meteoritos são corpos siderais cujas massas variam entre centigramas e várias toneladas. Originados no espaço
interplanetário, ao entrarem na atmosfera, tornam-se incandescentes em função do atrito e acabam por impac-
tar sobre a superfície da Terra.
• asteroides;
• fragmentos de cometas.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres
Os asteroides foram identificados a partir de 1801 e, ao longo dos anos, foram determinados mais de 1.560 deles,
gravitando em torno do Sol, numa órbita intermediária entre Marte e Júpiter.
Os cometas são corpos siderais que desenvolvem longas órbitas excêntricas entre Plutão e o Sol. São constituí-
dos por aglomerados de gelo e de outras partículas cósmicas e, morfologicamente, são formados por um núcleo
condensado, uma aura mais luminosa denominada cabeleira ou coma e uma cauda que sempre se distribui em
sentido oposto ao do Sol.
TÍTULO III
1 – Critérios de Classificação
Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa são subdivididos em:
Os desastres naturais de causa eólica são os relacionados com a intensificação do regime dos ventos ou com a
forte redução da circulação atmosférica. Esses desastres são subdivididos em:
• vendavais ou tempestades;
• vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais;
• vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais;
• tornados e trombas d’água.
A inversão térmica nas camadas será examinada quando do estudo dos desastres mistos.
Compreendem os desastres relacionados com temperaturas extremamente altas ou baixas e os fenômenos rela-
tivos aos mesmos. Os desastres naturais relacionados com temperaturas extremas são classificados em:
4 – Desastres Naturais Relacionados com o Incremento das Precipitações Hídricas e com as Inundações
As inundações são causadas pelo afluxo de grandes quantidades de água que, ao transbordarem dos leitos dos
rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos.
Em função da magnitude, as inundações, através de dados comparativos de longo prazo, são classificadas em:
• inundações excepcionais;
• inundações de grande magnitude;
• inundações normais ou regulares;
• inundações de pequena magnitude.
| 219
Esses desastres relacionam-se com a redução das precipitações hídricas. Classificam-se em:
• estiagens;
• secas;
• queda intensa da umidade relativa do ar;
• incêndios florestais.
TÍTULO IV
1 – Critérios de Classificação
Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna dizem respeito a fenômenos relativos à
litosfera e são subdivididos em:
Denomina-se vulcanismo o conjunto de processos naturais, responsáveis pela efusão do material magmático do
SIMA ou manto, para a superfície da Terra.
O vulcanismo está estreitamente ligado aos grandes movimentos tectônicos e ocorre em áreas instáveis, onde as
forças de deformação provocam fraturas e superficialização de camadas magmáticas.
Esses desastres, bastante frequentes no Brasil, produzem anualmente intensos danos materiais e ambientais e
importantes prejuízos sociais e econômicos. Na grande maioria das vezes, esses desastres relacionam-se com a
dinâmica das encostas e são regidos por:
Os movimentos gravitacionais de massas são genericamente subdivididos nas seguintes categorias principais:
• escorregamentos ou deslizamentos;
• corridas de massa;
• rastejos;
• quedas, tombamentos e/ou rolamentos de rochas e/ou matacões.
Os processos de transporte de massas são genericamente subdivididos nas seguintes categorias principais:
• erosão laminar;
• erosão linear, sulcos, ravinas e voçorocas ou boçorocas;
• subsidência do solo;
• erosão marinha;
• erosão fluvial, desbarrancamento de rios e fenômeno de terras caídas;
• soterramento por dunas.
TÍTULO V
1 – Classificação
Os desastres naturais relacionados com desequilíbrios na biocenose são aqueles provocados pela ruptura do
equilíbrio dinâmico existente:
Esses desastres relacionam-se com processos relativos à biosfera e são classificados em:
• pragas animais;
• pragas vegetais.
CAPÍTULO III
TÍTULO I
1 – Introdução
• do desenvolvimento tecnológico;
• de riscos relacionados com um desenvolvimento industrial sem preocupações com a segurança;
• de elevadas concentrações demográficas urbanas, sem a correspondente preocupação com o desenvolvi-
mento de uma infraestrutura de serviços básicos compatível;
• da intensificação dos deslocamentos e das trocas comerciais.
Relacionam-se com estudos de riscos deficientes e incompletos e com o inadequado estabelecimento de normas,
padrões e procedimentos de segurança, relativos a:
• instalações industriais;
• centrais produtoras de energia;
• corredores e terminais de transporte;
• outras atividades humanas intensificadas pelo desenvolvimento econômico.
| 221
Em função de suas causas primárias, os desastres secundários às ações ou omissões humanas são classifica-
dos em:
Também relacionam-se com o intenso incremento demográfico das cidades, sem o correspondente desenvolvi-
mento de uma infraestrutura de serviços básicos compatível.
Os desastres humanos de natureza social são consequência de desequilíbrios nos inter-relacionamentos sociais,
econômicos, políticos e culturais, bem como do relacionamento desarmonioso do homem com os ecossistemas
urbanos e rurais.
Os desastres humanos de natureza biológica são consequência de deficiências nos organismos promotores da saúde
pública, muitas vezes agravadas pelo pauperismo, subdesenvolvimento e por desequilíbrios ecológicos.
TÍTULO II
1 – Critérios de Classificação
O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas promoveu o incremento do lançamento de satélites artificiais
e, em consequência, a intensificação dos riscos de desastres provocados pela queda dos artefatos, de seus veícu-
los de lançamento e de seus componentes.
3 – Desastres Relacionados com Meios de Transporte sem Menção de Risco Químico ou Radioativo
Sob este título são registrados os desastres com meios de transporte, sem menção de extravasamento de substâncias
químicas ou radioativas potencialmente perigosas.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres
Os desastres com meios de transporte podem ocorrer ao longo dos corredores de transporte ou nas proximidades
de seus terminais. Algumas vezes os meios de transporte desviam-se de suas rotas preestabelecidas e exigem
operações de busca e salvamento.
Os desastres relacionados com meios de transporte sem menção de risco químico ou radioativo são subdivididos
em:
Sob este título são registrados os desastres relacionados com a construção civil. Esses desastres podem ocorrer
durante a construção ou após a conclusão das mesmas e são reduzidos pelo estrito cumprimento das normas
técnicas relativas ao assunto.
Sob este título são registrados os incêndios de grande potencial destrutivo, que exigem meios e táticas al-
tamente complexos para controlá-los. Estão relacionados com combustíveis, óleos e lubrificantes, meios de
transporte, terminais de transporte, instalações industriais e edificações com grandes densidades de usuá-
rios.
Sob este título são estudados os desastres relacionados com produtos perigosos envolvendo riscos de intoxica-
ções exógenas, explosões e contaminações com produtos químicos ou radioativos. Esses desastres são classifi-
cados em:
• desastres com meios de transporte, com menção de riscos de extravasamento de produtos perigosos;
• desastres em plantas e distritos industriais, parques e depósitos, com menção de riscos de extravasamen-
to de produtos perigosos;
• desastres com meios de transporte e em plantas e distritos industriais, parques e depósitos, com menção
de riscos de explosão;
• desastres relacionados com o uso abusivo e descontrolado de agrotóxicos;
• desastres relacionados com as intoxicações exógenas em ambiente doméstico;
• desastres relacionados com a contaminação de sistemas de água potável;
• desastres relacionados com substâncias e equipamentos radioativos de uso em medicina;
| 223
7 – Desastres Relacionados com Concentrações Demográficas e com Riscos de Colapso ou Exaurimento de Ener-
gia e de Outros Recursos e/ou Sistemas Essenciais
Sob este título são registrados os desastres relativos às grandes concentrações demográficas e centros urbanos
e com os riscos, cada vez mais importantes, relacionados com o grande crescimento demográfico e com o fluxo
de populações oriundas do meio rural para as megalópoles.
Com o crescimento demográfico das grandes cidades, os riscos desses desastres são cada vez mais importantes
e exigem planejamento e quantiosos recursos financeiros para controlá-los.
TÍTULO III
1 – Critérios de Classificação
Sob este título são registrados os desastres relativos aos ecossistemas urbanos e rurais, cujos riscos são cada vez
mais importantes, e relacionam-se com o incremento da produção agropecuária, com o desmatamento, com o cres-
cimento da indústria de mineração, com o deficiente zoneamento e planejamento do espaço urbano e rural e com o
incremento do transporte motorizado.
Os riscos desses desastres são cada vez mais importantes e exigem planejamento, regulamentação e disciplina para
seu controle. Esses desastres são subdivididos em:
• desastres relacionados com a depredação do solo por zoneamento urbano e/ou rural deficiente;
• desastres relacionados com a destruição intencional da flora e da fauna;
• desastres relacionados com o fluxo desordenado do trânsito urbano.
As convulsões sociais provocam ou intensificam a agitação político-social e, caso se perca o controle das mes-
mas, causam grandes desastres humanos e reduzem a estabilidade das instituições democráticas. As convulsões
sociais decorrem:
Dentre os fatores mais importantes que podem agravar as convulsões sociais, citam-se:
A prevenção desses problemas exige uma política de desenvolvimento social e econômico consequente, de cará-
ter permanente e digna de crédito por parte da sociedade civil.
A mais importante célula do organismo social para a discussão e geração do clima de paz social é o Núcleo Co-
munitário de Defesa Civil (NUDEC). Este processo exige intensa e contínua discussão dos objetivos permanentes
a serem atingidos, e o consenso só poderá surgir se as pessoas acreditarem e confiarem nos bons propósitos das
autoridades governamentais presentes ou representadas no debate.
As nações que romperam o ciclo vicioso do subdesenvolvimento e das convulsões sociais foram aquelas que prio-
rizaram o desenvolvimento do mercado interno e do bem-estar social sobre quiméricas políticas mercantilistas
de apoio prioritário às exportações que, por sua natureza, são concentradoras de renda. A exportação é extrema-
mente importante quando busca intensificar a economia de escala.
A Defesa Civil não se envolve diretamente nas ações de combate e tem por principal objetivo proteger a popu-
lação contra os efeitos diretos ou indiretos do conflito. Normalmente, são utilizados meios de defesa passiva,
como abrigos subterrâneos e ações que visem ao controle de sinistros, ações de busca e salvamento, evacuação
médica, remoção de escombros, administração de refugiados, controle sanitário e outras.
TITULO IV
1 – Critérios de Classificação
Os desastres humanos de causas biológicas ocorrem, principalmente, quando surgem dificuldades no controle
de surtos intensificados, por parte dos organismos de saúde pública, e compreendem as epidemias ou os surtos
epidêmicos ou hiperendêmicos. Podem surgir ou intensificar-se, complicando desastres naturais ou humanos,
ou, por sua grande intensidade, podem ser causas primárias de grandes desastres.
De um modo geral, os riscos de desastres biológicos são mais intensos nos países pobres ou em desenvolvimento,
com infraestrutura de saneamento e serviços de saúde pública deficientes. As rupturas do equilíbrio ecológico
tendem, também, a intensificar as endemias.
Em função dos mecanismos de transmissão das enfermidades que os caracterizam, podem ser classificados em:
Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por vetores biológicos, de interesse da
América do Sul e dos países lusófonos, são:
• dengue;
• febre amarela;
• leishmaniose cutânea;
• leishmaniose visceral;
• malária;
• peste;
• tripanossomíase americana;
• tripanossomíase africana (doença do sono).
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres
3 – Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Água e/ou Alimentos
Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por água e/ou alimentos, de interesse
da América do Sul e dos países lusófonos, são:
• amebíase;
• cólera;
• diarreia aguda;
• diarreia causada por Escherichia coli;
• salmoneloses;
• febre tifoide;
• febre paratifoide;
• shigeloses;
• intoxicações alimentares;
• hepatite a vírus “A”;
• poliomielite;
• outras doenças transmitidas por água e /ou alimentos.
Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por inalação, de interesse da América
do Sul e dos países lusófonos, são:
• coqueluche;
• difteria;
• gripe ou influenza;
• meningite meningocócica;
• sarampo;
• tuberculose;
• outras doenças respiratórias agudas.
5. Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Sangue e por Outras Secreções Orgânicas
Contaminadas
Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por sangue e por outras secreções con-
taminadas, de interesse da América do Sul e dos países lusófonos, são:
6. Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Outros ou por mais de um Mecanismo de
Transmissão
Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por outros ou mais de um mecanismo
de transmissão, de interesse da América do Sul e dos países lusófonos, são:
• leptospirose;
• raiva;
• tétano;
• schistossomose ou esquistossomose;
• outras doenças transmitidas por outros ou por mais de um mecanismo de transmissão.
| 227
CAPÍTULO IV
TÍTULO I
1 – Introdução
A tendência moderna, a partir da própria definição de desastre, como consequência da interação entre um even-
to adverso e um ecossistema vulnerável, é considerar que, na sua grande maioria, os desastres até o momento
rotulados como naturais ou humanos, na realidade, são desastres mistos.
Na presente classificação, são considerados aqueles desastres que resultam da somação de eventos naturais e
de ações antrópicas, os quais, por seus efeitos globais, acabam por alterar substancialmente os ecossistemas
naturais, afetando grandes extensões do meio ambiente.
Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre externa resultam da exaltação de fenômenos
atmosféricos naturais, em função de atividades humanas. Normalmente relacionam-se com fenômenos meteo-
rológicos e/ou hidrológicos correntes na atmosfera terrestre e seus efeitos danosos atuam sobre:
Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre interna são aqueles em que ações antrópicas exal-
tam fenômenos relacionados com as forças naturais atuantes nas camadas superficiais e profundas da litosfera.
Esses desastres relacionam-se com fenômenos geomorfológicos:
Os fenômenos geomorfológicos interagem com pressões antrópicas e com fenômenos meteorológicos e/ou hi-
drológicos correntes:
• na atmosfera terrestre;
• sobre a superfície da crosta terrestre;
• na biosfera.
TÍTULO II
1 – Critérios de Classificação
Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre externa são classificados em:
O mais importante desastre misto relacionado com a ionosfera é o provocado pela formação de bolsões de redu-
ção na camada de ozônio.
• efeito estufa;
• chuvas ácidas;
• camadas de inversão térmica.
TÍTULO III
1 – Critérios de Classificação
Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre interna são classificados em:
O homem, ao alterar as condições ambientais, pode induzir terremotos ou abalos sísmicos localizados. No Brasil,
existem numerosos registros de sismicidade induzida provocada pela construção de barragens, para a criação
de reservatórios ou lagos artificiais. Outras atividades humanas podem ser causa de sismicidade induzida, cum-
prindo destacar:
• as explosões subterrâneas para estudos sismológicos das camadas do subsolo, objetivando um maior co-
nhecimento geológico da área, com a finalidade de localizar depósitos subterrâneos de petróleo e de ou-
tros minerais;
• a exploração intensiva de grandes depósitos de evaporitos subterrâneos, provocando a formação de gran-
des cavernas e a acomodação subsequente do solo, em função da perda de massa rochosa;
• a utilização de imensas cavernas subterrâneas como depósitos de minerais estratégicos e a acomodação
subsequente do solo, em função da elevação do peso nas camadas.
• a desertificação;
• a salinização do solo.
Ambos ocorrem por causas naturais, mas é inegável que as pressões antrópicas contribuem para intensificá-los
e aumentar a velocidade da disseminação no globo terrestre.
| 229
ANEXO C.
CODIFICAÇÃO
DE DESASTRES,
AMEAÇAS E RISCOS
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos
CAPÍTULO I
SISTEMÁTICA DE CODIFICAÇÃO
TÍTULO I
INTRODUÇÃO
1 – Finalidade da Codificação
TÍTULO II
SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO
1 – Introdução
A Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos – CODAR diz respeito à tipificação dos desastres, ameaças e ris-
cos, já que:
Em consequência, para fins de tipificação, a Codificação dos Desastres, Ameaças e Riscos (CODAR) define-se em
função dos eventos adversos, causadores dos mesmos.
2 – Sistemas de Codificação
Para facilitar a criação de bancos de dados sobre desastres, ameaças e riscos e, em um futuro próximo, o inter-
câmbio de informações, em nível internacional, propõe-se os seguintes sistemas de codificação:
• Sistema Alfabético de Codificação, que pode ser padronizado não somente para o Brasil, mas também para
os demais países lusófonos;
• Sistema Numérico de Codificação que, uma vez padronizado, poderá ser estendido aos demais países e
relacionado com o Sistema Alfabético de Codificação, adaptado aos seus respectivos idiomas.
A sigla CODAR significa Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos. O Sistema Alfabético de Codificação é es-
truturado com a sigla CODAR, seguida de 5 caracteres alfabéticos: WX.YZZ.
a) Estudo da Variável W
b) Estudo da Variável X
• de natureza ou origem sideral, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra SIDERAL – S;
• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
EXTERNA – E;
• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
INTERNA – I;
• relacionados com o desequilíbrio da biocenose, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra BIO-
CENOSE – B.
• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
EXTERNA – E;
• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
INTERNA – I.
c) Estudo da Variável Y
A sistemática utilizada é semelhante à especificada anteriormente, de forma que a variável Y é substituída pela
inicial da palavra que caracteriza a classe estudada.
Como exemplo, é apresentada a seguir a subdivisão dos desastres naturais relacionados com a geodinâmica ter-
restre externa, em classes:
Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos padrões acima especificados, sugere-se procurar os
quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.
d) Estudo da Variável ZZ
A sistemática utilizada é semelhante à estudada anteriormente, de forma que as variáveis ZZ são substituídas
pela inicial e uma outra letra da(s) palavra(s) que caracteriza(m) o desastre, a ameaça ou o risco.
Como exemplo, é apresentada a seguir a especificação dos desastres, ameaças ou riscos da classe dos desastres
naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo:
Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos desastres, padrões acima especificados, sugere-se
procurar os quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.
Da mesma forma que na classificação alfabética, a sigla CODAR significa Codificação de Desastres, Ameaças e
Riscos.
O Sistema Numérico de Codificação também é estruturado com a sigla CODAR, seguida de 5 caracteres numéri-
cos: WX.YZZ.
a) Estudo da Variável W
b) Estudo da Variável X
Para um melhor entendimento do assunto especificado até o momento, sugere-se compulsar os três primeiros
quadros deste Anexo.
c) Estudo da Variável Y
A sistemática utilizada é semelhante à especificada anteriormente, de forma que a variável Y é substituída por
dígitos numéricos, de acordo com a ordem natural em que as classes de desastres, ameaças e riscos são apresen-
tadas.
Como exemplo, é apresentada a seguir a subdivisão dos desastres naturais relacionados com a geodinâmica ter-
restre externa, em classes:
• desastres naturais de causa eólica, cuja codificação é: CODAR – 12.1 (1 de natural, 2 de geodinâmica ex-
terna e 1 de eólica);
• desastres naturais relacionados com temperaturas extremas, cuja codificação é: CODAR – 12.2 (1 de na-
tural, 2 de geodinâmica externa e 2 de extrema);
• desastres naturais relacionados com o incremento das precipitações hídricas e com as inundações, cuja codi-
ficação é: CODAR – 12.3 (1 de natural, 2 de geodinâmica externa e 3 de hídrica);
• desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações hídricas (estiagens, secas), cuja
codificação é: CODAR – 12.4 (1 de natural, 2 de geodinâmica externa e 4 de seca).
Para verificar a correspondência numérica de cada uma das classes acima especificadas, sugere-se procurar os
quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.
A sistemática utilizada é semelhante à estudada anteriormente, de forma que as variáveis ZZ são substituídas por
dígitos numéricos, de acordo com a sequência, em ordem crescente, em que os desastres são apresentados.
Como exemplo, é apresentada a seguir a especificação dos desastres, ameaças ou riscos da classe dos desastres
naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo:
• erosão laminar, cuja codificação é: CODAR – 13.305 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomor-
fologia e 05 de erosão);
• erosão linear – sulcos, ravinas e boçorocas ou voçorocas, cuja codificação é: CODAR – 13.306 (1 de natu-
ral, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomorfologia e 06 de voçoroca);
• subsidência do solo, cuja codificação é: CODAR – 13.307 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geo-
morfologia e 07 de subsidência do solo);
• erosão fluvial, desbarrancamento de rios e fenômeno de terras caídas, cuja codificação é: CODAR – 13.308
(1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomorfologia e 08 de terras caídas);
• erosão marinha, cuja codificação é: CODAR – 13.309 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomor-
fologia e 09 de erosão marinha);
• soterramento por dunas, cuja codificação é: CODAR – 13.310 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de
geomorfologia e 10 de soterramento por dunas).
Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos desastres, padrões acima especificados, sugere-se
procurar os quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.
QUADRO Nº 1
Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais Quanto à Natureza ou à Causa
Primária
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
QUADRO Nº 2
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
QUADRO Nº 3
Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Quanto à Natureza ou à Causa
Primária
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
CAPÍTULO II
TÍTULO I
QUADRO Nº 4
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
TÍTULO II
QUADRO Nº 5
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
TÍTULO III
QUADRO Nº 6
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
TÍTULO IV
QUADRO Nº 7
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
CAPÍTULO III
QUADRO Nº 8
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
TÍTULO II
QUADRO Nº 9
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
QUADRO Nº 10
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Inalação CODAR-HB.I CODAR-23.3
Coqueluche CODAR-HB.ICO CODAR-23.301
Difteria CODAR-HB.IDF CODAR-23.302
Gripe ou influenza CODAR-HB.IGR CODAR-23.303
Meningite meningocócica CODAR-HB.IMM CODAR-23.304
Sarampo CODAR-HB.ISA CODAR-23.305
Tuberculose CODAR-HB.ITU CODAR-23.306
Outras doenças respiratórias agudas CODAR-HB.IRA CODAR-23.399
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Sangue
e por outras Secreções Orgânicas Contaminadas CODAR-HB.S CODAR-23.4
Hepatite a virus “B” CODAR-HB.SHB CODAR-23.401
Hepatite a virus “C” CODAR-HB.SHC CODAR-23.402
Síndrome da imunodefinicência adquirida CODAR-HB.SID CODAR-23.403
Outras doenças sexualmente transmissíveis CODAR-HB.SST CODAR-23.404
Hepatite a virus delta (Febre Negra de Labrea) CODAR-HB.SHD CODAR-23.405
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por outros
ou por mais de um Mecanismo de Transmissão CODAR-HB.G CODAR-23.5
Leptospirose CODAR-HB.GLP CODAR-23.501
Raiva CODAR-HB.GRV CODAR-23.502
Tétano CODAR-HB.GTE CODAR-23.503
Schistossomose ou esquitossomose CODAR-HB.GSC CODAR-23.504
Outras doenças transmitidas por outros ou por mais de mecanismo de
transmissão CODAR-HB.GGE CODAR-23.599
CAPÍTULO IV
TÍTULO I
QUADRO Nº 11
Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
Terrestre Externa
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
TÍTULO II
QUADRO Nº 12
Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
Terrestre Interna
CODAR
Classificação
Alfabético Numérico
ANEXO D.
QUADRO DE AMEAÇAS
X VULNERABILIDADES
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
resposta ao desastre.
de um grande volume de água causado ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
definidas quanto ao seu volume, cujo de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
centro de gravidade se desloca para baixo sobre os materiais das encostas.
e para fora do talude. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
específicos de vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Remoção de uma camada delgada e conservação dos solos e manutenção de cobertura vegetal.
uniforme do solo superficial provocada ◆ População despreparada e não capacitada na compreensão do
por fluxo hídrico não concentrado. fenômeno e na execução de medidas preventivas e de resposta
ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão em ravina,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo
do solo são provocadas por escoamento para a contenção de erosão em boçorocas e a proteção das
hídrico superficial e subsuperficial populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
chuvas intensas e concentradas, condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
normalmente em pequenas bacias e a manutenção da cobertura vegetal.
de relevo acidentado. Caracterizada ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
pela elevação súbita das vazões e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
de determinada drenagem e ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
escoamento de sistemas de drenagem condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
urbana e consequente acúmulo de e a manutenção da cobertura vegetal.
água em ruas, calçadas ou outras ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
vulnerabilidade.
Intensificação dos ventos
Sistemas de Grande Escala/Escala Regional
resposta ao desastre.
Ondas violentas que geram uma
maior agitação do mar próximo
Marés de tempestade
funcionamento.
Tempestade com intensa
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
raios
desenvolvimento vertical.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
Tempestade Local/Convectiva
funcionamento.
Granizo
Precipitação de pedaços
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
irregulares de gelo.
e bens (seguros).
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Áreas de Proteção
de Preservação funcionamento.
Em Parques,
Permanente
Propagação de fogo sem controle,
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle
em qualquer tipo de vegetação
preventivo e emergencial de incêndios florestais.
situada em áreas legalmente
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
protegidas.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
com reflexos na
qualidade do ar
Aumento brusco, significativo e • Alguns grupos populacionais são mais vulneráveis, como os
transitório da ocorrência de doenças espectros de idade, imunodeprimidos e os de baixa renda e
geradas por parasitas. escolaridade.
◆ Atividades laborais (garimpo, agricultura) podem favorecer a
◆• Presença de vetores nas áreas urbanas transmissão de algumas doenças parasitárias, como é o caso da
ou silvestres com atividade antrópica malária.
(Anopheles sp., Lutzomyia sp.); ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida
◆• Cianobactérias em reservatórios:
nocivas em nível nacional e os direcionadores associados.
Aglomerações de cianobactérias em
◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas
reservatórios receptores de descargas
de saneamento que evitem a eutrofização dos ambientes
de dejetos domésticos, industriais e/
aquáticos.
ou agrícolas, provocando alterações
◆ Ausência e/ou inadequado sistema de vigilância e controle do
das propriedades físicas, químicas ou
uso de produtos químicos agrícolas e da produção de efluentes
biológicas da água.
industriais que favoreçam as florações nocivas em reservatórios.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
◆• Degradação Ambiental (como a
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
eutrofização dos ecossistemas
resposta ao desastre.
aquáticos).
◆• Pressão antrópica sobre os ambientes
naturais de água-doce ou salgada
(construção de portos, reservatórios).
◆• Ausência de políticas, monitoramento e
fiscalização ambiental.
Quaisquer infestações que alterem o • Vigilância e controle de espécies exóticas que podem se tornar
equilíbrio ecológico de uma região, praga ecológica ou para a agricultura.
bacia hidrográfica ou bioma afetado ◆ Áreas altamente degradadas são mais sujeitas à introdução de
expansão da área urbana, dentre outros. infestação vegetal, com consequências a longo prazo para a
◆• Introdução de espécies exóticas com provisão de serviços ecossistêmicos.
alto potencial de invasão. ◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem