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Manual de Proteção e Defesa Civil:

Entendendo os Riscos
de Desastres no Brasil
Ministro da Integração Nacional FICHA TÉCNICA
Helder Zahluth Barbalho
Título:
Secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil Manual de Proteção e Defesa Civil: Entendendo
Renato Newton Ramlow os riscos de desastres no Brasil

Diretora do Departamento de Prevenção e Preparação (DPP) Autor:


Adelaide Maria Pereira Nacif Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – SEDEC

Coordenação e Supervisão Técnica


Adelaide Maria Pereira Nacif
Lamartine Vieira Braga
Maria Cristina Dantas

Elaboração do Projeto
Maria Cristina Dantas

Equipe de Revisão Técnica


Adelaide Maria Pereira Nacif
Cristhian Andres Aguiar Reyes Moreira
Lamartine Vieira Braga
Maria Cristina Dantas

Projeto de Cooperação Técnica BRA/IICA/13/001 – Projeto


de Desenvolvimento do Setor de Água – lnteráguas
Banco Mundial
IICA/Brasil
Consórcio GITEC BRASIL, GITEC GmbH & CODEX REMOTE
ENGENHARIA LTDA.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


© 2017. Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil – SEDEC/
Ministério da Integração Nacional. Todos os direitos autorais de
Brasil. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de propriedade pertencerão a Secretaria Nacional de Proteção e De-
Proteção e Defesa Civil. Departamento de Prevenção e Preparação.
fesa Civil (SEDEC/MI), definitivamente, por tempo indeterminado,
Entendendo os riscos de desastres no Brasil / Ministério da
Integração Nacional, Secretaria Nacional de Proteção e Defesa em âmbito nacional e internacional, para a utilização plena em
Civil, Departamento de Prevenção e Preparação. - Brasília : Minis- qualquer modalidade, incluindo edição, reprodução, divulgação,
tério da Integração Nacional, 2017. publicação, exportação, modificação, atualização, entre outros,
256 p. : il. – (Série Manual de Proteção e Defesa Civil) nos termos dos art. 49 a 52 da Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de
1998. A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é
ISBN (978-85-68813-02-7)
do(s) respectivo(s) autor(es). A citação desta obra em trabalhos
1. Proteção e Defesa Civil. 2. Desastres naturais. 3. Ameaças acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da
tecnológicas. 4. Vulnerabilidade. 5. Secretaria Nacional de Prote- fonte. A cópia desta obra sem autorização expressa ou com intuito
ção e Defesa Civil. I. Título. II. Série. de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com san-
ções previstas no Código Penal, art. 184, Parágrafos 1º ao 3º, sem
CDU 351.862:504.4(035)
prejuízo das sanções cíveis cabíveis à espécie.
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APRESENTAÇÃO

Os Manuais de Proteção e Defesa Civil, ora apresentados, são um re-


ferencial técnico, doutrinário-legal e de gestão para todo o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil, englobando seus respectivos
conceitos, marco legal e atividades relacionadas ao tema, de forma
a apoiar a implementação da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil, fornecendo subsídios para o estudo do campo, para a gestão das
atividades a ela relacionadas e para a formação e a capacitação conti-
nuada dos agentes de proteção e defesa civil, além de prover informa-
ções para a sociedade como um todo.

Elaborados por iniciativa da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa


Civil – SEDEC, do Ministério da Integração Nacional, no cumprimento
de seu papel institucional de órgão central do Sistema Nacional de
Proteção e Defesa Civil– SINPDEC, pretendem contribuir para o aper-
feiçoamento das ações interfederativas de proteção e defesa civil,
apoiando os técnicos e os gestores em suas tarefas diárias de promo-
ção da segurança e do bem-estar da população.
O conjunto de Manuais dá sequência ao processo de O Guia para Atores Locais aborda os temas essenciais,
aperfeiçoamento da política nacional e da doutrina de no âmbito municipal, numa abordagem prática e sim-
proteção e defesa civil, iniciado em 1995, com a pu- plificada, de forma a orientar os gestores sobre as
blicação, entre outros, dos Manuais de Planejamento medidas necessárias à implantação dos órgãos muni-
em Defesa Civil, do Manual de Desastres – Volume I, cipais, sobretudo na fase inicial de consolidação das
do Manual de Desastres Naturais e dos Manuais de medidas de proteção e defesa civil no município.
Desastres Humanos de Natureza Tecnológica, de Na-
tureza Social e de Natureza Biológica, e de Desastres Por fim, o Glossário de Proteção e Defesa Civil reúne
Mistos, além da Apostila sobre Implantação e Opera- os conceitos utilizados na área de proteção e defesa
cionalização de Coordenadorias Municipais de Defesa civil, agrupando-os didaticamente, a fim de embasar
Civil – COMDECs, fruto da resposta brasileira ao Decê- suas respectivas ações, bem como promover a equali-
nio Internacional para Redução de Desastres Naturais, zação do entendimento das referidas definições.
instituído pela Organização das Nações Unidas.
O Ministério de Integração Nacional, através da S
­ EDEC,
Com a aprovação da Lei Federal nº 12.608, em 2012, objetiva, com estas publicações, contribuir para o
que dispõe sobre a Política e o Sistema Nacional de aperfeiçoamento das ações de proteção e defesa civil,
Proteção e Defesa Civil, fez-se necessário editar novo apoiando os gestores em suas tarefas diárias de promo-
conjunto de Manuais, abrangendo tanto a perspectiva ver a segurança e o bem-estar da população brasileira.
técnica e a doutrinário-legal como da gestão da Po-
lítica Nacional de Proteção e Defesa Civil. Este con-
junto de Manuais foi concebido à luz do mais recente MANUAIS DE PROTEÇÃO E DEFESA CIvIL
paradigma em relação aos conceitos e orientações
consolidados no âmbito internacional, observadas as
características da realidade brasileira sobre o tema,
com foco na redução da instalação dos riscos de de-
sastres, ou seja: uma abordagem de caráter mais pre-
ventivo do que reativo, ancorada na gestão dos riscos
de desastres.
ENTENDENDO
OS RISCOS DE
Os Manuais de Proteção e Defesa Civil compreendem DESASTRES
cinco volumes, sendo três volumes de referência, um ENTENDENDO
A POLÍTICA
NO BRASIL

Guia e um Glossário, a saber: NACIONAL DE


PROTEÇÃO E
GUIA PARA
DEFESA CIvIL
ATORES LOCAIS
• Entendendo a Política Nacional de Proteção e NO BRASIL

Defesa Civil no Brasil


• Entendendo os Riscos de Desastres no Brasil
• Entendendo a Gestão de Riscos de Desastres ENTENDENDO
no Brasil A GESTÃO DE
RISCOS DE
• Guia para Atores Locais DESASTRES NO
BRASIL
• Glossário de Proteção e Defesa Civil

Os Manuais tratam, de forma articulada, de distintos GLOSSÁRIO DE PROTEÇÃO


E DEFESA CIvIL
aspectos da Política Nacional de Proteção e Defesa
Civil, como os temas ligados ao arcabouço jurídico e
doutrinário da proteção e defesa civil e das respectivas
instituições por ela responsáveis (Manuais de Prote- Fonte: SEDEC/MI.
ção e Defesa Civil: Entendendo a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil no Brasil); ao conhecimento
das ameaças e das vulnerabilidades que caracterizam O Manual Entendendo os Riscos de Desastres no Brasil
os riscos de desastre (Manuais de Proteção e Defesa tem por objetivo fornecer uma fundamentação técnica
Civil: Entendendo os Riscos de Desastres no Brasil); e atualizada dos riscos de desastres, com foco na sua re-
aos procedimentos de gestão desses riscos, relativos dução, ou seja, uma abordagem de caráter preventivo,
aos vários componentes: conhecimento, prevenção, em consonância com os objetivos da política nacional
mitigação, preparação, resposta e recuperação (Ma- de proteção e defesa civil.
nuais de Proteção e Defesa Civil: Entendendo a Gestão
de Riscos de Desastres no Brasil). Boa leitura!
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SUMÁRIO

PARTE I – INTRODUÇÃO 11
1. Conceituação de Riscos e Desastres 12
2. Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil 19
3. Mudanças do Clima e Desastres Naturais 30
3.1. Cenários Climáticos 32
3.2. Tendências para a Mudança do Clima no Brasil 32

PARTE II – RISCOS DE DESASTRES 35


1. Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais 36
1.1. Processos e Agentes Astrofísicos 37
1.2. Processos e Agentes Geológicos 38
1.2.1. Terremotos 39
1.2.2. Emanações Vulcânicas 42
1.2.3. Movimentos de Massa 44
1.2.4. Erosão 51
1.3. Processos e Agentes Hidrológicos 57
1.3.1. Inundações 57
1.3.2. Enxurradas 60
1.3.3. Alagamentos 61
1.4. Processos e Agentes Meteorológicos 64
1.4.1. Ciclones 64
1.4.1.1. Ventos costeiros – Mobilidade de Dunas 65
1.4.1.2. Marés de Tempestade 67
1.4.2. Frente Fria/Zona de Convergência 68
1.4.3. Tornados 71
1.4.4. Tempestades de Raios 72
1.4.5. Granizo 74
1.4.6. Precipitações Intensas 75
1.4.7. Vendavais 77
1.4.8. Ondas de Calor Intenso 80
1.4.9. Ondas de Frio Intenso 82
1.5. Processos e Agentes Climatológicos 84
1.5.1. Estiagem e Seca 84
1.5.2. Queda Intensa da Umidade Relativa do Ar 85
1.5.3. Incêndios Florestais 87
1.6. Agentes Biológicos 88
1.6.1. Epidemias 92
1.6.1.1. Doenças Infecciosas Virais 93
1.6.1.2. Doenças Infecciosas Bacterianas 106
1.6.1.3. Doenças Infecciosas Parasíticas 114
1.6.1.4. Doenças Infecciosas Fúngicas 118
1.6.2. Infestações/Pragas 129
1.6.2.1. Infestações de Animais 130
1.6.2.2. Infestações de Algas ou Florações de Algas Nocivas 139
1.6.2.3. Outras Infestações 142
1.6.3. Outras ameaças 148
1.6.3.1. Bioterrorismo 148
1.6.3.2. Ataque por animais 150
1.6.3.3. Organismos geneticamente modificados 151
1.7. Vulnerabilidade às Ameaças Naturais 152
1.7.1. Vulnerabilidade Socioeconômica 152
1.7.2. Vulnerabilidade Ambiental 154
1.7.3. Vulnerabilidade Urbana 156
2. Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos 169
2.1. Substâncias Perigosas Radioativas 170
2.1.1. Substâncias e Equipamentos Radioativos de Uso em Pesquisas, Atividades Industriais,
Usinas Nucleares, Unidades de Saúde (Fontes Radioativas) 170
2.1.2. Resíduos Radioativos 170
2.2. Substâncias Perigosas Não Radioativas 173
2.2.1. Vazamento de Produtos Químicos e Biológicos em Áreas Industriais e Outros Sítios 173
2.2.2. Vazamento de Produtos Químicos e Biológicos nos Sistemas de Água Potável 175
2.2.3. Vazamento de Produtos Químicos e Biológicos em Ecossistemas Lacustres, Fluviais, Aquíferos e Marinhos 175
2.3. Conflitos Bélicos 175
2.3.1. Vazamento de Produtos Nucleares, Radiológicos, Químicos ou Biológicos, com Contaminação
em Decorrência de Ações Militares ou Terroristas 175
2.4. Incêndios Urbanos 177
2.4.1. Incêndios em Plantas Industriais, Parques, Depósitos Comerciais e Logradouros de Grande Densidade de Usuários 177
2.4.2. Incêndios em Aglomerados Residenciais 178
2.5. Obras Civis 180
2.5.1. Colapso de Edificações 180
2.5.2. Rompimento ou Colapso de Barragens 180
2.6. Transporte de Passageiros e Cargas não Perigosas 182
2.6.1. Acidente no Modal Rodoviário Envolvendo o Transporte de Passageiros e Cargas Não Perigosas 182
2.6.2. Acidente no Modal Ferroviário Envolvendo o Transporte de Passageiros e Cargas Não Perigosas 182
2.6.3. Acidente no Modal Aéreo Envolvendo o Transporte de Passageiros e Cargas Não Perigosas 184
2.6.4. Acidente no Modal Aquaviário Envolvendo o Transporte de Passageiros e Cargas Não Perigosas 184
2.7. Vulnerabilidade às Ameaças Tecnológicas 185
2.8. Impactos dos Desastres Tecnológicos 186

OBRAS CONSULTADAS 189

ANEXOS 203
Anexo A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE) 204
Anexo B. Classificação Geral dos Desastres 213
Anexo C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos 229
Anexo D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades 243

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Evolução do número total de registros de desastres naturais em todos os continentes entre
1900 e 2015. 14
Figura 2. Evolução do número total de registros de desastres tecnológicos em todos os continentes entre
1900 e 2015. 14
Figura 3. Relação entre o nível de ameaça e de vulnerabilidade na determinação da intensidade de riscos. 15
Figura 4. Características de desastres no mundo por tipo da ameaça natural (não biológica) em 2015. 17
Figura 5. Espacialização das ocorrências de desastres naturais registradas no Brasil entre 1991 e 2012. 20
Figura 6. Registros de situação de emergência e de estados de calamidade pública e de municípios afetados
por desastres de origem natural (não biológico), por estado, entre 2005 e 2015. 21
Figura 7. Proporção de registros de ocorrência de desastres de origem natural (não biológicos), por ano,
sobre o total de ocorrências entre 1991 e 2012. 22
Figura 8. Registros de reconhecimento de situação de emergência e estados de calamidade pública
e de municípios afetados por desastres naturais (não biológicos), por ano, entre 2005 e 2015. 22
Figura 9. Total de registros de desastres naturais (não biológicos) entre 1991 e 2012 e entre 2013 e 2014. 23
Figura 10. Porcentagem de registros de reconhecimento de situação de emergência (SE) e estados de
calamidade pública (ECP) por tipo de desastre natural (não biológico), entre 2005 e 2015. 23
Figura 11. Porcentagem de pessoas afetadas por tipos de desastres naturais (não biológicos) no Brasil
entre 1991 e 2012. 24
Figura 12. Porcentagem de número de mortes em função dos tipos de desastres naturais (não biológicos) no Brasil
entre 1991 e 2012. 24
Figura 13. Total de afetados por macrorregiões em 2013. 26
Figura 14. Mortos, enfermos, feridos e desaparecidos em desastres de origem natural (não biológico)
por regiões brasileiras entre 1991 e 2012). 26
|7

Figura 15. Desabrigados e desalojados em desastres de origem natural (não biológicos) por regiões
brasileiras entre 1991 e 2012. 27
Figura 16. Danos humanos por macrorregiões em 2013. 27
Figura 17. Evolução da perda anual estimada por desastres de origem natural (não biológicos) no Brasil,
entre 2002 e 2012, segundo o tipo de impacto. 28
Figura 18. Evolução da participação de perdas com desastres de origem em fenômenos naturais (não biológico)
no PIB do Brasil. 28
Figura 19. Modelo idealizado do Efeito Estufa natural. 31
Figura 20. Infográfico de cenários climáticos para o Brasil. 33
Figura 21. Tipos de movimentos existentes em bordas de placas tectônicas. 39
Figura 22. Localização do Brasil no interior da Placa Tectônica Sul-Americana. 41
Figura 23. Proporção de sismos originados no Brasil, por estado, entre 2008 e 2012. 41
Figura 24. Reportagem sobre a chegada das cinzas vulcânicas do vulcão Calbuco (Chile) ao Estado do
Rio Grande do Sul. 43
Figura 25. Movimentos gravitacionais de massa – queda, tombamento e rolamento. 45
Figura 26. Notícia de queda de bloco de rocha no Morro de Boa Vista (Vila Velha, Espírito Santo). 46
Figura 27. Movimentos gravitacionais de massa – deslizamentos rotacional e translacional. 46
Figura 28. Exemplos de deslizamentos rotacional e translacional. 47
Figura 29. Movimentos gravitacionais de massa – fluxo de detritos. 48
Figura 30. Movimentos gravitacionais de massa – subsidência e colapso. 48
Figura 31. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em deslizamentos de solo e rochas, queda e tombamento de matacões, e fluxo de detritos, por
estado, entre 2005 e 2015. 49
Figura 32. Mapa de regiões cársticas do Brasil. 49
Figura 33. Distribuição anual de mortes por escorregamento no Brasil entre 1988 e 2008. 50
Figura 34. Vista dos impactos no calçadão de Matinhos (Paraná) em decorrência do avanço da erosão costeira. 52
Figura 35. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por erosão marinho-costeira, por estado, entre 2005 e 2015. 52
Figura 36. Consequências de erosão de margem fluvial (fenômeno de terras caídas) no rio Amazonas (Município de
Iranduba – AM) em 2015. 53
Figura 37. Meandro fluvial (mapa e seção transversal), indicando zonas de erosão e deposição. 54
Figura 38. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública(ECP),
originados por erosão fluvial, por estado, entre 2005 e 2015. 54
Figura 39. Esquema ilustrando sulcos, ravinas e boçorocas. 55
Figura 40. Mapa mundial de vulnerabilidade dos solos à erosão laminar e linear pela água. 56
Figura 41. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por erosão continental laminar e linear e boçorocas, por estado, entre 2005 e 2015. 56
Figura 42. Inundação do rio Madeira na altura da BR-364 entre os Estados do Acre e Rondônia em 2014. 57
Figura 43. Conceitos de inundação e enchentes. 58
Figura 44. Enchentes no bairro Jardim Pantanal (São Paulo) em 2009, construído sobre planície de inundação
do rio Tietê. 59
Figura 45. Países que respondem por 80% da população mundial exposta aos riscos de inundações, utilizando dados de
população de 2010. 59
Figura 46. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em inundações, inundações litorâneas e enchentes, por estado entre, 2005 e 2015. 60
Figura 47. Enxurradas causam estragos em diversas áreas do Município de Capinzal (SC) em Julho de 2015. 61
Figura 48. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em enxurradas, por estado entre 2005 e 2015. 62
Figura 49. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em alagamentos, por estado entre 2005 e 2015. 62
Figura 50. Alagamento em Curitiba, dia 22 de outubro de 2015. 63
Figura 51. Imagem de satélite Goes mostra ciclone extratropical no litoral sul do Rio Grande do Sul em setembro
de 2016. 65
Figura 52. Reportagem demonstrando a ocorrência de ciclone extratropical no Município de Rio Grande (RS) em
outubro de 2016. 66
Figura 53. Impactos da migração de dunas em comunidades costeiras do Piauí. 67
Figura 54. Ressaca na orla do Município de Niterói (RJ), entre os bairros de Ingá e Icaraí em maio de 2015. 68
Figura 55. M
 odelo de desenvolvimento de mudanças de temperaturas e pluviosidades associadas a uma frente fria. 69
Figura 56. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). 70
Figura 57. Localização da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) nos meses de julho (vermelho) e janeiro (azul). 70
Figura 58. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em frentes frias e zonas de convergência, por estado, entre 2005 e 2015. 71
Figura 59. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por tornados, por estado, entre 2005 e 2015. 72
Figura 60. Ocorrência de tromba d’água no Município de Parintins (Amazonas) em abril de 2015. 73
Figura 61. Mapa de densidade de raios no Brasil nos últimos 15 anos. 74
Figura 62. Número de mortos por raios, discriminados por ano, entre 2000 e 2014. 75
Figura 63. Número de mortos por raios, discriminados por estado, entre 2000 e 2014. 75
Figura 64. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por granizos, por estado, entre 2005 e 2015. 76
Figura 65. Destruição de telhas e vidros de carros em consequência de chuva de granizo no Município de Guareí (SP)
em novembro de 2015. 76
Figura 66. Distribuição espacial da precipitação no Brasil agrupada por trimestres, a partir de dados do INMet
de 1961 a 1990. 78
Figura 67. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por chuvas intensas, por estado, entre 2005 e 2015. 79
Figura 68. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados por vendavais, por estado, entre 2005 e 2015. 80
Figura 69. Proporção de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em geadas, por estado, entre 2005 e 2015. 83
Figura 70. Impactos das geadas no setor agrícola no Estado de Minas Gerais em julho de 2016. 83
Figura 71. Regiões com maior registro de eventos de secas e estiagem no Brasil, entre 1991 e 2012. 85
Figura 72. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em secas, por estado, entre 2005 e 2015. 86
Figura 73. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em estiagem, por estado, entre 2005 e 2015. 86
Figura 74. Impactos da seca na atividade agropecuária no nordeste do Brasil. 87
Figura 75. Ocorrência de incêndios florestais no Brasil em 2016. 88
Figura 76. Total de focos de incêndio e queimadas, por estado, entre 2006 e 2015. 89
Figura 77. Percentual de reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP),
originados em incêndios florestais, por estado, entre 2005 e 2015. 89
Figura 78. Número de óbitos por sarampo no Brasil entre 1990 e 2014. 94
Figura 79. Número de óbitos por sarampo nas diferentes regiões do Brasil entre 1990 e 2014. 95
Figura 80. Ciclo urbano e silvestre da febre amarela. 95
Figura 81. Progressão da febre chikungunya no Brasil. 99
Figura 82. Formas de transmissão do Zika vírus. 100
Figura 83. Países e territórios com transmissão de vírus zika no mundo. 100
Figura 84. Distribuição dos casos notificados de microcefalia e/ou alterações do SNC, por mês de notificação,
segundo regiões. Brasil, 2015 e 2016. 103
Figura 85. Figura de campanha publicitária de combate à dengue do Ministério da Saúde. 105
Figura 86. Taxa de mortalidade de tuberculose no Brasil e por grandes regiões (1990-2014). 112
Figura 87. Taxa de mortalidade de tuberculose na Região Sudeste do Brasil (1990-2014). 112
Figura 88. Taxa de mortalidade de tuberculose na Região Centro-Oeste do Brasil (1990-2014). 113
Figura 89. Malária: o ciclo de vida do parasita. 115
Figura 90. Registro percentual da variação temporal das espécies de Candida de diversos isolados invasivos entre os
anos de 1997 a 2007. 120
Figura 91. Distribuição dos sorotipos (A, B, C, D, AD, e Não Tipificado – NT) de 467 isolados de Cryptococcus
neoformans pelas regiões geográficas brasileiras. 124
Figura 92. População total em 2010 por estado. 153
Figura 93. Proporção de crianças extremamente pobres em 2010 por estado. 153
Figura 94. População com 65 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 153
Figura 95. Número de mortalidade até os 5 anos de idade em 2010 por estado. 154
Figura 96. Taxa de envelhecimento em 2010 por estado. 154
Figura 97. Percentual da população de menos de 15 anos e da população de 65 anos ou mais em relação
à população de 15 a 64 anos em 2010 por estado. 155
|9

Figura 98. Proporção de população extremamente pobre em 2010 por estado. 155
Figura 99. Índice de Gini em 2010 por estado. 155
Figura 100. Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 155
Figura 101. Taxa de analfabetismo da população de 18 anos ou mais de idade em 2010 por estado. 155
Figura 102. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) em 2010 por município. 155
Figura 103. Áreas desmatadas e remanescentes por biomas - 2013 (Amazônia Legal), 2012 (Mata Atlântica), 2010
(Cerrado) e 2009 (Pampa, Caatinga e Pantanal). 156
Figura 104. Índice da Qualidade das Águas – valores médios (2011). 157
Figura 105. Disponibilidade Hídrica Superficial estimada no Brasil. 157
Figura 106. Reportagem evidenciando Relatório da OMS em 2016 que indicou as principais cidades no mundo com
valores alarmantes de poluição do ar. 157
Figura 107. População urbana em 2010 por estado. 157
Figura 108. Distribuição percentual do déficit habitacional total dos estados na sua região, na área urbana, e das
famílias com renda até três salários mínimos. 158
Figura 109. Escala Internacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (INES). 171
Figura 110. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com vazamento de produtos químicos e biológicos em ecossistemas lacustres, fluviais, aquíferos e
marinhos, por estado, entre 2005 e 2015. 176
Figura 111. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com incêndios em aglomerados residenciais, por estado, entre 2005 e 2015. 180
Figura 112. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com colapso de edificações, por estado, entre 2005 e 2015. 181
Figura 113. Reconhecimentos de situação de emergência (SE) e estado de calamidade pública (ECP) relacionados
com rompimento ou colapso de barragens, por estado, entre 2005 e 2015. 182
Figura 114. Ocupação no entorno de terminal de óleo em São Sebastião, SP. 186

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Conceitos básicos da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. 18


Quadro 2. Consequências-chave e suas potenciais causas associadas a ameaças naturais
potencializadas pelas mudanças do clima de acordo o PIMC. 34
Quadro 3. Escala de intensidade de um terremoto – Mercalli modificada (abreviada). 40
Quadro 4. Histórico de ocorrências de afundamentos
em áreas cársticas no Brasil. 50
Quadro 5. Escala de intensidade de tornados Fujita-Pearson. 71
Quadro 6. Localização geográfica de ocorrências
de tornados no Brasil. 72
Quadro 7. Relação entre velocidade do vento e danos. Escala Anemométrica Internacional de Beaufort. 79
Quadro 8. Doenças de importância epidemiológica no Brasil e suas características de transmissão,
imunidade, capacidade de causar surtos, letalidade e controle. 90
Quadro 9. Principais epidemias de doenças infecciosas ocorridas no Brasil entre 1900 e 2016. 91
Quadro 10. Peculiaridades das diferentes espécies de Candida. 121
Quadro 11. Principais manifestações da Aspergilose. 125
Quadro 12. Sinais e sintomas percebidos de acordo com a espécie de cobra venenosa considerada. 137
Quadro 13. Plantas tóxicas para animais com interesse pecuário no Brasil. 146
Quadro 14. Exemplos de eventos nucleares e radiológicos e classificação na escala INES. 172
Quadro 15. Características que afetam o risco de incêndio em uma edificação. 178
Quadro 16. Tipos de eventos potencialmente causadores de desastres no modal rodoviário. 183
Quadro 17. Causas de acidentes no transporte de passageiros e cargas não perigosas no modal rodoviário. 183
Quadro 18. Tipos de eventos potencialmente causadores de desastres no modal ferroviário. 183
Quadro 19. Causas de acidentes no transporte de passageiros e cargas não perigosas no modal ferroviário. 183
Quadro 20. Tipos de eventos potencialmente causadores de desastres no modal aéreo. 184
Quadro 21. Causas de acidentes no transporte de passageiros e cargas não perigosas no modal aéreo. 184
Quadro 22. Tipos de eventos potencialmente causadores de desastres no modal aquaviário. 184
Quadro 23. Causas de acidentes no transporte de passageiros e cargas não perigosas no modal aquaviário. 185
APRESENTAÇÃO

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Número de registros de desastres naturais (não biológicos) por tipo e região geográfica
entre 2013 e 2014. 25
Tabela 2. Total de registros de desastres originados em fenômenos naturais (não biológicos)
e danos humanos por regiões brasileiras (1991– 2012). 25
Tabela 3. Perdas econômicas decorrentes de desastres naturais (não biológicos) entre 2002 e 2012
expresso em proporção do PIB. 29
Tabela 4. Tabela Saffir-Simpson utilizada para a categorização dos ciclones. 64
Tabela 5. Casos notificados de microcefalia, de novembro 2015 a novembro 2016. 102
Tabela 6. Número de casos de meningites, com óbitos e letalidade, ocorridos em 2014 e 2015. 109
Tabela 7. Características dos principais agentes biológicos de elevada e moderada ameaça mundial. 149

LISTA DE SIGLAS
AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica
ANA – Agência Nacional de Águas
CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais
CENAD – Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e de Desastres
CEPED – Centro de Estudos e Pesquisas sobre Desastres
CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
COBRADE – Classificação e Codificação Brasileira de Desastres
CODAR – Codificação de Ameaças, Desastres e Riscos
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CONPDEC – Conselho Nacional de Proteção e Defesa Civil
CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CPAB – Convenção sobre Proibição de Armas Biológicas
CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos
CRED – Centro para Pesquisa sobre Epidemiologia de Desastres
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
EIRD – Estratégia Internacional para a Redução de Desastres
EM-DAT – Banco de Dados Internacional de Desastres
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
PIMC (IPCC) – Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC – Intergovernamental Panel on Climate Change)
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
INMET – Instituto Nacional de Meteorologia
IUV – Índice Ultravioleta
LNC – Lista de Notificação Compulsória do Ministério da Saúde
MCTIC – Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações
MI – Ministério da Integração Nacional
MMA – Ministério do Meio Ambiente
NASA – National Aeronautics and Space Administration
NOAA – National Oceanic and Atmospheric Administration
NUDEC – Núcleo Comunitário de Defesa Civil
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OMS – Organização Mundial de Saúde
ONU – Organização das Nações Unidas
OPAS – Organização Pan-Americano da Saúde
PBMC – Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas
PNPDC – Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
S2ID – Sistema Integrado de Informações sobre Desastres
SDHPR – Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
SEDEC – Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil
SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificação
SINPDEC – Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil
SNCC – Serviço Nacional de Consultas Cadastrais
SNIRH – Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos
UNISDR – United Nations Office for Disaster Risk Reduction
UV – Ultravioleta
ZCAS – Zona de Convergência do Atlântico Sul
ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
PARTE I
INTRODUÇÃO

Para a compreensão dos riscos e dos desastres naturais


e tecnológicos, serão apresentados, a seguir, sua
conceituação, caracterização e incidência no Brasil.
1
CONCEITUAÇÃO DE
RISCOS E DESASTRES

Desastres

Entende-se por desastre o “resultado de eventos adversos naturais,


tecnológicos ou de origem antrópica, sobre um cenário vulnerável ex-
posto à ameaça, causando danos humanos, materiais ou ambientais e
consequentes prejuízos econômicos e sociais”. Esta é a definição ado-
tada no âmbito da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, confor-
me disposto na Instrução Normativa nº 02, Anexo VI, do Ministério da
Integração Nacional, de 20 de dezembro de 2016.

Conclui-se, portanto, que o desastre se configura a partir de dois ele-


mentos principais: a ameaça e a vulnerabilidade.

Desastre = f (Ameaça; Vulnerabilidade)

A ameaça é definida como um evento em potencial, natural, tecnológi-


co ou de origem antrópica, com elevada possibilidade de causar danos
humanos, materiais e ambientais e perdas socioeconômicas públicas
e privadas1.

1
Instrução Normativa n°02, de 20 de dezembro de 2016.
| 13
A vulnerabilidade é definida como exposição socioeco- etapas de agravamento progressivo (seca, de-
nômica ou ambiental de um cenário sujeito à ameaça sertificação, subida do nível do mar, doenças
do impacto de um evento adverso natural, tecnológico epidêmicas) (IN 02/2016, item XVII);
ou de origem antrópica1. • Súbito: eventos adversos que ocorrem de for-
ma inesperada e surpreendente, caracterizados
De acordo com o Marco de Sendai para Redução do Ris- pela velocidade da evolução e pela violência dos
co de Desastres, o desastre é definido como: eventos causadores (terremoto, erupção vulcâ-
nica, inundação, explosão química, acidente de
Uma séria interrupção no funcionamento de transporte) (IN 02/2016, item XVI).
uma comunidade ou sociedade devido a even-
tos perigosos interagindo com condições de Classificação dos Desastres
vulnerabilidade e de exposição, levando a per-
das e impactos humanos, materiais, econômi- A Instrução Normativa Nº02 de 2016 (anexo 4) define
cos e ambientais generalizados2. eventos adversos como os desastres naturais, tecnoló-
gicos ou de origem antrópica.
Os desastres podem ser avaliados segundo algumas
características, a saber: • Evento adverso natural: desastre natural consi-
derado acima da normalidade em relação à vul-
I – Intensidade: nerabilidade da área atingida, que pode implicar
em perdas humanas, socioeconômicas e sociais;
No que se refere à intensidade, a IN 02/2016 estabele- • Evento adverso tecnológico: desastre originado
ce três níveis: por condições tecnológicas decorrentes de fa-
lhas na infraestrutura ou nas atividades huma-
• nível I – desastres de pequena intensidade: em nas específicas consideradas acima da normali-
que há somente danos humanos consideráveis e dade, que podem implicar em perdas humanas,
que a situação de normalidade pode ser resta- socioeconômicas e ambientais;
belecida com os recursos mobilizados em nível • Evento adverso antrópico: desastre decorren-
local ou complementados com o aporte de re- te de atividades humanas predatórias ou con-
cursos estaduais e federais; sideradas acima da normalidade, que podem
• nível II – desastres de média intensidade: aqueles implicar em perdas humanas, socioeconômi-
em que os danos e prejuízos são suportáveis e su- cas e ambientais.
peráveis pelos governos locais e a situação de nor-
malidade pode ser restabelecida com os recursos A categorização, o agrupamento e a tipologia dos de-
mobilizados em nível local ou complementados sastres no Brasil, definidos pela Classificação e Co-
com o aporte de recursos estaduais e federais; dificação Brasileira de Desastres (COBRADE)3, apre-
• nível III – desastres de grande intensidade: aqueles sentada no Anexo A deste Manual, estabelece duas
em que os danos e prejuízos não são superáveis e categorias de desastres:
suportáveis pelos governos locais e o restabeleci-
mento da situação de normalidade depende da mo- Desastres Naturais: Compreendem cinco grupos
bilização e da ação coordenada das três esferas de – desastres geológicos, hidrológicos, meteorológi-
atuação do Sistema Nacional de Proteção e Defesa cos, climatológicos e biológicos;
Civil e, em alguns casos, de ajuda internacional. Desastres Tecnológicos: Abarcam cinco grupos – os
relativos a substâncias radioativas, a produtos peri-
II – Frequência: gosos, a incêndios urbanos, a obras civis e a trans-
porte de passageiros e cargas não perigosas.
Frequente e infrequente: depende da probabilidade
de ocorrência e do período de retorno de uma ameaça A COBRADE, versão atualizada, revisada e simplifi-
e seus impactos. O impacto de desastres frequentes cada do CODAR (Codificação de Ameaças, Desastres
pode ser cumulativo ou tornar-se crônico para uma co- e Riscos), é fundamental para adequar a classicação
munidade ou sociedade. brasileira aos padrões estabelecidos pela ONU, para
uniformizar as definições de desastres em todo o terri-
III – Início gradual ou súbito: tório nacional4, e para estabelecer um banco de dados
contendo o registro histórico de desastres, possibili-
• Gradual: eventos adversos que ocorrem de for- tando o planejamento de medidas preventivas e prepa-
ma lenta e se caracterizam por evoluírem em ratórias para o enfrentamento de riscos e de desastres.

2
UNISDR (2015a).
3
http://www.mi.gov.br/documents/3958478/0/Anexo+V+-+Cobrade_com+simbologia.pdf/d7d8bb0b-07f3-4572-a6ca-738daa95feb0
4
A IN 1/2012 estabelece a necessidade da identificação dos tipos de desastres como requisito para a Decretação de Situação de Emergência
e Estado de Calamidade Pública.
Conceituação de Riscos e Desastres

A COBRADE foi elaborada a partir da classificação nização Mundial de Saúde (OMS/ONU). Além dos
utilizada pelo Banco de Dados Internacional de desastres constantes da classificação do EM-DAT,
Desastres (EM-DAT) do Centro para Pesquisa so- foram incluídos alguns desastres peculiares à rea-
bre Epidemiologia de Desastres (CRED) e da Orga- lidade brasileira.

Desastres no Mundo

Registros de desastres naturais e tecnológicos em todos os continentes apresentam uma clara tendência de
crescimento positivo, desde 1900 (Figura 1 e Figura 2), segundo dados do Banco de Dados Internacional de
Desastres – EM-DAT*.

Figura 1. EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS EM TODOS OS CONTINENTES ENTRE 1900 E 2015.

550

500 Todos os continentes


Todos osos
Todos continentes
continentes
450

400
NÚMERO DE DESASTRES

350

300

250

200

150

100

50

0
1900 1906 1912 1918 1924 1930 1936 1942 1948 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002 2008 2014

ANO

Fonte: Adaptado de EM-DAT, 2016*.

Figura 2. EVOLUÇÃO DO NÚMERO TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES TECNOLÓGICOS EM TODOS OS CONTINENTES ENTRE 1900 E 2015.

380
360
340
Todos os continentes
320
300
280
NÚMERO DE DESASTRES

260
240
220
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
1900 1906 1912 1918 1924 1930 1936 1942 1948 1954 1960 1966 1972 1978 1984 1990 1996 2002 2008 2014
ANO

Fonte: Adaptado de EM-DAT, 2016*.

*
http://www.emdat.be/
| 15

Riscos de Desastres Ameaças

O risco de desastres é “o potencial de ocorrência de A ameaça é o evento potencial, natural, tecnológico


evento adverso sob um cenário vulnerável”, segundo a ou de origem antrópica, com elevada possibilidade de
Instrução Normativa nº 02, de 2016, do Ministério da causar danos humanos, materiais e ambientais e per-
Integração Nacional. das socioeconômicas públicas e privadas (IN 02/16).

Evento adverso é o desastre natural, tecnológico ou de Existe uma ampla gama de ameaças que, isoladamen-
origem antrópica, segundo a mesma Instrução Normativa. te ou mediante complexas formas de interação, podem
pôr em perigo a vida das pessoas e o desenvolvimento
O risco de desastre depende das características, das sustentável. As ameaças são classificadas em naturais
possibilidades e da intensidade da ameaça, assim e tecnológicas, de acordo com o disposto na Classifi-
como da quantidade dos elementos a ela expostos e cação Brasileira de Desastres – COBRADE (Anexo A).
da vulnerabilidade desses elementos, em função das
condições naturais, sociais, econômicas e ambien- As ameças naturais compreendem as biológicas, geo-
tais existentes. lógicas, hidrometeorológicas, climatológicas.

Conclui-se, portanto, que o nível de intensidade do As ameaças atuam de forma variada e são caracteriza-
risco depende, fundamentalmente, da combinação das por sua localização, frequência, magnitude, inten-
do nível de ameaça, no eixo horizontal, e do nível de sidade e probabilidade.
vulnerabilidade no eixo vertical, e é medido pela pro-
babilidade de impactos adversos ou da ocorrência de Compreender a frequência com a qual as ameaças de
um desastre. diferentes magnitudes ocorrem é um componente cru-
cial para a análise dos riscos de desastres.
O nível do risco instalado é categorizado como alto,
médio e baixo (Figura 3). Deve-se enfatizar que o nível No que se refere à intensidade, são raros os eventos
de risco, quando instalado, pode aumentar ou diminuir, extremos de grande intensidade e de uma ampla es-
conforme ocorra alteração dos níveis de vulnerabilida- cala espacial, enquanto que os de baixa a média in-
de e de ameaça. A possibilidade da inexistência de risco tensidade e de pequena escala espacial são muito
implica a ausência de ameaças ou de população, ativi- mais frequentes.
dades e/ou infraestruturas vulneráveis numa região em
um determinado momento. A probabilidade de um evento extremo ocorrer é re-
lacionada à necessidade de uma combinação especí-
fica de condições, que na maioria das vezes são de
Figura 3. RELAÇÃO ENTRE O NÍVEL DE AMEAÇA difícil coincidência.
E DE VULNERABILIDADE NA DETERMINAÇÃO
DA INTENSIDADE DE RISCOS. O tempo médio que existe entre a ocorrência de even-
tos de igual magnitude é denominado Período de Re-
ALTO NÍVEL DE
VULNERABILIDADE torno ou Intervalo de Recorrência, calculado a partir
da série histórica de registros de eventos5.

Neste sentido, a análise das ameaças, como fator de


Médio Risco Alto Risco risco de desastre, deve considerar que, quanto mais
raro e extremo for o evento, mais difícil é calcular seu
BAIXO NÍVEL ALTO NÍVEL
período de retorno, já que são necessárias séries his-
DE AMEAÇA DE AMEAÇA tóricas longas; e, em períodos longos, pode haver mu-
danças nos estados médios de variáveis (mudanças cli-
máticas). Destaca-se que os intervalos de recorrência
Baixo Risco Médio Risco indicam a probabilidade de ocorrência, mas não indi-
cam quando o evento acontecerá neste período.

BAIXO NÍVEL DE As ameaças de diferentes origens (naturais, tecnológi-


VULNERABILIDADE
cas ou de origem antrópica) podem ser únicas, sequen-
Fonte: SEDEC/MI. ciais ou combinadas em suas origens e efeitos.

5
UNESCO. Glossário Internacional de Hidrologia. 2016. Disponível EM: <http://webworld.unesco.org/water/ihp/db/glossary/glu/HINDPT.
HTM> Acesso em: 07 de jan. 2017.
Conceituação de Riscos e Desastres

As inter-relações da natureza e as atividades do Homem educação; às condições de paz e segurança; ao acesso


fazem com que certos fenômenos possam causar outros aos direitos humanos fundamentais; à boa governabi-
(um terremoto pode gerar um tsunami ou o rompimen- lidade e à equidade social; aos valores tradicionais de
to de barragem; uma seca intensa pode causar incên- caráter positivo; aos costumes, às convicções ideológi-
dios florestais ou surtos de doenças). Por conseguinte, cas e aos sistemas de organização coletiva.
ameaças podem gerar outras ameaças. As primeiras são
chamadas ameaças primárias, as outras são as secun- A saúde pública, relacionada com o bem-estar físico,
dárias ou colaterais. Em muitos casos, as segundas re- mental e psicológico das pessoas, é um aspecto funda-
presentam um perigo maior do que as primeiras. mental da vulnerabilidade social. A falta de infraestrutura
básica, em especial de água potável e saneamento, assim
Vulnerabilidade como os serviços de saúde inadequados, são indicadores
de maior vulnerabilidade social das comunidades.
Vulnerabilidade, conforme disposto na Instrução Nor-
mativa No 02, de 2016, é definida como: “exposição A vulnerabilidade social também é associada a fatores
socioeconômica ou ambiental de um cenário sujeito à como a orientação política, as relações sociais, as ins-
ameaça do impacto de um evento adverso natural, tec- tituições e as estruturas de governo. A coesão social e
nológico ou de origem antrópica”. o sistema normativo aumentam a capacidade de supe-
ração, enquanto a insegurança social aumenta a vulne-
Observa-se que o conceito de exposição integra o con- rabilidade social.
ceito de vulnerabilidade.
Vulnerabilidade Econômica
A exposição está associada a questões relativas à lo-
calização das pessoas, suas moradias e atividades so- A vulnerabilidade econômica depende da situação eco-
cioeconômicas, assim como à infraestrutura, diante da nômica e financeira das pessoas, das comunidades e
existência de uma ameaça (ordenamento territorial).

Segundo as Nações Unidas, a Vulnerabilidade é defi-


nida como: Desastres Tecnológicos

O conjunto de condições determinadas por fa- Os desastres tecnológicos são consequências in-
tores ou processos físicos, sociais, econômicos desejáveis do desenvolvimento econômico, tecno-
e ambientais, tanto individuais como coletivas, lógico e industrial, podendo ser reduzidos com o
os quais aumentam a suscetibilidade de uma incremento de medidas de segurança industrial.
comunidade aos impactos das ameaças (UNIS- Estes desastres também se relacionam com o au-
DR, 2015b). mento das trocas comerciais e do deslocamento de
cargas perigosas e com o crescimento demográfico
A vulnerabilidade tem estreita relação com as ativida- das cidades, sem o correspondente provimento de
des humanas, não podendo ser considerada indepen- serviços essenciais compatíveis e adequados ao ní-
dentemente das questões ligadas ao desenvolvimento. vel de crescimento*.
Os desastres tecnológicos compreendem três gru-
A vulnerabilidade de uma população, da infraestrutu- pos, relacionados com as ameaças originadas em
ra ou das atividades socioeconômicas é o resultado da acidentes associados a:
inter-relação complexa de diversos fatores, que permi-
tem estabelecer diferentes categorias6: a. Indústrias: Derramamento de produtos quí-
micos, colapso de infraestrutura industrial,
Vulnerabilidade Física explosões, fogos, vazamento de gás, enve-
nenamento e radiação;
A vulnerabilidade física diz respeito às questões de en- b. Transporte: Transportes pelo ar, trilhos, es-
genharia e arquitetura, ou seja, às técnicas construti- tradas ou água;
vas, ao material e à qualidade das obras e edificações, c. Mistos: Colapso de estruturas domésticas
ao tipo e à estrutura das construções. ou não industriais, explosões e fogos (BRA-
SIL, 2003).
Vulnerabilidade Social
*
Brasil. Manual de Desastres Humanos: Parte 1 – de Nature-
A vulnerabilidade social diz respeito ao bem-estar da za Tecnológica. Brasília: Ministério da Integração Nacional,
2003. Disponível em: http://www.mi.gov.br/c/documet_library/
sociedade, das pessoas e das comunidades. Compreen- get_file?uuid=879047d7-789e-4a7c-ae24-a81beb48aecc&gru-
de aspectos associados ao nível de alfabetização e de pld=10157

6
EIRD (2004).
| 17

Desastres Naturais

Os desastres mais comuns registrados no mundo, frequentemente de forma rápida e maciça, quer de
em 2015, foram originados em ameaças hidrológicas forma natural ou intencional.
(42% do total) e meteorológicas (41%), assim como a Os principais eventos são as epidemias e pande-
maior proporção de perdas econômicas (47% meteo- mias*** (em população humana e de animais domés-
rológicas e 28% hidrológicas); no entanto, a maior ticos), bioterrorismo (uso intencional de agentes
proporção de fatalidades está associada a desastres infecciosos humanos), pragas, ataques por animais,
originados em ameaças geofísicas (42%)* (Figura 4). liberação de organismos geneticamente modifica-
Os desastres de origem biológica são, muitas vezes, dos, invasões biológicas.
consequência de deficiências nos organismos pro- Os desastres biológicos devem ser distinguidos de
motores da saúde pública, muitas vezes agravadas surtos de doenças transmissíveis, que são conse-
pelo pauperismo, subdesenvolvimento e por dese- quências de desastres “não biológicos” (climático,
quilíbrios ecológicos. hidrológico, geológico), que, em geral, ocorrem em
Os “Desastres Biológicos” correspondem a escala localizada. Os desastres biológicos se carac-
terizam pela preocupação global que despertam, já
processos ou fenômenos de origem orgânica ou que, mesmo se iniciando em escala local, apresentam
transportados por vetores biológicos, incluindo a possibilidade de disseminação global. Os impactos
a exposição a micro-organismos patogênicos, to- dos desastres originados em ameaças biológicas são,
xinas e substâncias bioativas que podem causar principalmente, de importância para a saúde públi-
a perda de vidas, lesões, doenças ou outros im- ca, mas podem ter, também, significado econômico
pactos na saúde, danos materiais, perda de meios preponderante, pois podem afetar ou levar à morte
de subsistência e serviços, perturbação social e de pessoas, animais ou alimentos. Em todo o mundo,
econômica ou danos ambientais (UNISDR, 2009). entre 1900 e 2006, ocorreram 1.035 epidemias e pan-
demias, causando 9.528.995 óbitos, o que equivale a,
São, portanto, aqueles que envolvem os impactos aproximadamente, 24% do total de óbitos ocorridos
causados pela disseminação de organismos vivos, em desastres de todos os tipos (ICHARM, 2009).

Figura 4. CARACTERÍSTICAS DE DESASTRES NO MUNDO POR TIPO DA AMEAÇA NATURAL (NÃO BIOLÓGICA) EM 2015.

50
45
40
35
% do TOTAL

30
25
20
15
10
5
0
Geofísico Meteorológico Hidrológico Climatológico

TIPO DE DESASTRES EM FUNÇÃO DA AMEAÇA NATURAL

Eventos Fatalidades Perdas Econômicas

Desastres geofísicos – terremoto, tsunami, e atividade vulcânica; me-


teorológicos – tormentas e tempestades locais, convectivas, tropicais
e extratropicais; hidrológico – inundações e movimentos de massa; e
climatológicos – secas, temperaturas extremas, incêndios florestais.
Fonte: MUNICH RE**.

*
NatCatService - Natural catastrophe database analysis and information platform.
**
https://www.munichre.com
***
Uma epidemia caracteriza-se pela ocorrência, em uma comunidade ou região, de um grupo de doenças de natureza similar que cla-
ramente excede o que seria esperado e que deriva de uma fonte em comum. As pandemias referem-se a epidemias de escalas globais,
afetando um grande número de pessoas em diversos países ou continentes (GORDIS, 2004).
Conceituação de Riscos e Desastres

dos países expostos. A população mais carente, grupo provocou um interesse crescente em utilizar a capa-
que, na maioria das regiões, é formado por uma grande cidade de resposta das pessoas, dos governos e das
proporção de mulheres e idosos, geralmente é muito atividades socioeconômicas para reduzir a vulnera-
mais vulnerável do que os demais grupos sociais. bilidade e fazer frente aos efeitos das ameaças e, em
consequência, diminuir os riscos.
Vulnerabilidade Ambiental
A conceituação de desastres e riscos no Brasil cons-
A vulnerabilidade ambiental diz respeito ao grau de ta no Anexo IV da Instrução Normativa nº 02 de 2016,
esgotamento dos recursos naturais e seu estado de
do Ministério da Integração Nacional, que “estabele-
degradação, à falta de resiliência dos ecossistemas e
ce procedimentos e critérios para a decretação de
à exposição a contaminantes tóxicos e perigosos. Os
fatores ambientais podem aumentar, ainda mais, a vul- situação de emergência ou estado de calamidade
nerabilidade com o passar do tempo, posto que criam pública pelos municípios, estados e Distrito Federal
novos e indesejáveis padrões de discórdia social, pri- e para o reconhecimento federal das situações de
vações econômicas que, eventualmente, provocarão a anormalidade decretadas pelos entes federativos, e
migração de comunidades inteiras. dá outras providências.”

O reconhecimento de que a vulnerabilidade é um O Quadro 1 reune os conceitos básicos da Política Na-


elemento-chave na produção do risco de desastre cional de Proteção e Defesa Civil.

Quadro 1. CONCEITOS BÁSICOS DA POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL.

CONCEITOS DESCRIÇÃO

Eventos adversos que ocorrem de forma inesperada e surpreendente, caracterizados pela


Súbito
velocidade da evolução e pela violência dos eventos causadores.
Desastre
Eventos adversos que ocorrem de forma lenta e se caracterizam por evoluírem em etapas de
Gradual
agravamento progressivo.

Evento em potencial, natural, tecnológico ou de origem antrópica, com elevada possibilidade de


Ameaça
causar danos humanos, materiais e ambientais e perdas socioeconômicas públicas e privadas.
Exposição socioeconômica ou ambiental de um cenário sujeito à ameaça do impacto de um evento
Vulnerabilidade
adverso natural, tecnológico ou de origem antrópica.
Risco de desastre Potencial de ocorrência de evento adverso sob um cenário vulnerável.
Situação anormal, provocada por desastre, causando danos e prejuízos que impliquem o
Estado de calamidade pública
comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente federativo atingido.
Situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o
Situação de emergência
comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente federativo atingido.
Desastre natural, tecnológico ou de origem antrópica.
Natural Desastre natural considerado acima da normalidade em relação à vulnerabilidade da área atingida,
que podem implicar em perdas humanas, socioeconômicas e ambientais.

Evento adverso Desastre originado por condições tecnológicas decorrentes de falhas na infraestrutura ou nas
Tecnológico atividades humanas específicas consideradas acima da normalidade, que podem implicar em
perdas humanas, socioeconômicas e ambientais.
Desastre decorrente de atividades humanas predatórias ou consideradas acima da normalidade,
Antrópico
que podem implicar em perdas humanas, socioeconômicas e ambientais.
Resultado das perdas humanas, materiais ou ambientais infligidas às pessoas, comunidades,
Dano
instituições, instalações e aos ecossistemas, como consequência de um desastre.
Medida de perda relacionada com o valor econômico, social e patrimonial de um determinado bem,
Prejuízo
em circunstâncias de desastre.
Perda Privação ao acesso de algo que possuía ou a serviços essenciais.

Fonte: MI, 2016.


| 19

2
CARACTERIZAÇÃO
E INCIDÊNCIA DE
DESASTRES NO BRASIL

Devido às suas dimensões continentais, localização, geologia, histó-


ria e cultura, o Brasil apresenta uma grande diversidade de condições
climáticas, morfológicas, demográficas e socioeconômicas, dentre
outras. Estas características configuram um quadro de ameaças e de
vulnerabilidades heterogeneamente distribuídas no território.

Do ponto de vista da exposição ao risco, deve-se considerar a grande


concentração demográfica, de infraestrutura e de atividades socioe-
conômicas nos estados do Sudeste e do Sul do Brasil. Por outro lado,
as diferenças socioeconômicas entre regiões e mesmo dentro das
grandes cidades contribuem para as diferenças na vulnerabilidade e
na resiliência a desastres dessas populações.

Estas condições e fatores resultam numa espacialização diferencia-


da dos registros de desastres naturais no Brasil nas últimas décadas.
Cabe mencionar que os dados e informações apresentados, assim
como as análises comparativas a respeito da importância relativa
dos desastres e seus impactos socioeconômicos no desenvolvimen-
to deles decorrentes, refletem, da forma mais fiel possível, a reali-
dade dos fatos.
Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil

Dados de desastres no Brasil

Em relação às informações sobre registros de desas- para a saúde pública de abrangência nacional em
tres no Brasil, utilizados neste manual, menciona-se toda a rede de saúde, pública e privada, que constem
que, apesar dos enormes esforços dos governo fede- na Lista de Notificação Compulsória (LNC) (Portaria
ral e dos estados na estruturação e implementação do Ministério da Saúde nº 1.271/2014). O registro
de bancos de dados, ainda existem séries históricas de desastres tecnológicos não tem uma sistemática
de curto prazo e por vezes descontínuas, registros estabelecida, sendo registrados por diversos órgãos,
não comunicados ou com caracterização (período, de acordo com a sua tipologia (Comissão Nacional de
localização, causa) e quantificação de impactos, par- Energia Nuclear; Agência Nacional de Petróleo e de
ticularmente os indiretos, inadequada. Muitos destes Aviação Civil; Órgãos de Proteção e Defesa Civil; de
problemas decorrem de fatores organizacionais, his- Meio Ambiente, e de Trânsito; Ministério da Defesa;
tóricos, mas principalmente culturais e políticos. Marinha do Brasil; Polícia Rodoviária).
O Sistema Integrado de Informações sobre Desas- Os resultados de investigações, por institutos de pes-
tres (S2ID), criado em 2011, gerido pela Secretaria quisa e a academia, sobre o tema são incipientes e de
Nacional de Proteção e Defesa Civil (SEDEC) do Mi- escala, maioritariamente local, o que provoca uma
nistério da Integração Nacional, registra apenas os carência em trabalhos de escala nacional executa-
desastres naturais, exceto os biológicos. Os desas- dos com metodologias homogêneas. Neste sentido,
tres biológicos são registrados pelo Sistema de In- muitos conceitos, informações e referências tendem
formação de Agravos de Notificação (SINAN), criado a estar concentrados nas Regiões Sul e Sudeste do
pela Portaria GM/MS nº 104/2011, a partir da comu- Brasil. A concentração de dados e informações nes-
nicação de casos individuais de doenças e investiga- tas regiões deve-se também à sua grande relevância
ção de doenças, agravos e eventos de importância em termos de perdas por impactos de desastres.

A Região Centro-Oeste do Brasil é a que apresenta próximas às vias rodoviárias dos Estados do Pará
áreas com menor registro de desastres, concentran- e Amazonas. A maior parte do território da Região
do-se no noroeste e centro-sul do Estado do Mato Nordeste apresenta registros de ocorrências, com
Grosso do Sul e no sul do Estado do Mato Grosso. exceção do Maranhão e do oeste da Bahia. As Re-
Na Região Norte, o maior número de registros ocor- giões Sudeste e Sul apresentam, em quase todo o
re nas áreas mais populosas e, principalmente, nas território, registros de desastres (CEPED/SEDEC,
próximas às vias de comunicação fluvial, além das 2013) (Figura 5).

Figura 5. ESPACIALIZAÇÃO DAS OCORRÊNCIAS DE DESASTRES NATURAIS REGISTRADAS NO BRASIL ENTRE 1991 E 2012.

Legenda: Cada ponto representa uma ocorrência.


Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.
| 21

Assim, pode-se concluir que áreas de maior concen- Segundo dados do CEPED/SEDEC (2013), há um au-
tração de registros de ocorrência de desastres estão mento expressivo no número de registros de desastres
mais relacionadas às condições de exposição e vulne- na década de 2000, comparado à década de 1990, e nos
rabilidade (concentração demográfica no Sudeste e anos de 2010, 2011 e 2012, assim como uma clara ten-
Sul) ou mais à extensão da ameaça (seca e estiagem dência de crescimento positivo (Figura 7).
no Nordeste).
Segundo dados do Sistema Integrado de Informações
Uma importante base de dados a respeito da ocorrên- sobre Desastres (S2ID) da Secretaria Nacional de Prote-
cia de desastres no Brasil são os arquivos da SEDEC7, ção e Defesa Civil8, aproximadamente 15% do total dos
que se baseia no reconhecimento de estado de cala- registros de desastres no Brasil, no período entre 1991
midade pública e de situação de emergência. Segun- e 2014, foram inscritos nas bases de dados nacionais en-
do esses registros, entre 2005 e 2015, observa-se que tre 2013 e 2014, após a aprovação da Lei no 12.608/2012.
(Figura 6):
Através da análise dos registros de reconhecimentos
• Os estados com maior número de registros de de estado de calamidade pública e situação de emer-
desastres são: Rio Grande do Sul (2.631 reco- gência dos arquivos da SEDEC, entre 2005 e 20159 (Fi-
nhecimentos), Paraíba (2.503), Ceará (2.454), gura 8), observa-se:
Santa Catarina (2.075), Minas Gerais (2.044), e
Bahia (2.030). • Uma tendência de crescimento positivo, seme-
• O Distrito Federal (1 reconhecimento), e os Es- lhante ao registro de desastres, também do nú-
tados do Amapá (9 reconhecimentos), Rondônia mero de registros de reconhecimentos de estado
(23 reconhecimentos) e Acre (41 reconhecimen- de calamidade pública e situação de emergên-
tos) são os estados com menor número de regis- cia de desastres originados em fenômenos natu-
tros de desastres. rais. O número total de reconhecimentos é pró-
• Os estados que apresentam maior número de ximo aos 23 mil, alcançando um ápice em 2013
municípios com registro de desastres são Rio com mais de 3.700.
Grande do Sul (2.219 municípios), Santa Catari- • O somatório dos municípios afetados é maior
na (1.527) e Minas Gerais (1.523). Os com menor que 16.150, observando-se também uma ten-
número de municípios com registro de desastres dência de crescimento positivo. O ano com
são o Distrito Federal e os Estados do Amapá (8 maior número de municípios afetados é 2012,
municípios), Rondônia (20) e Acre (29). com 2.342 municípios.

7
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
8
https://s2id.mi.gov.br/
9
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Figura 6. REGISTROS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E DE ESTADOS DE CALAMIDADE PÚBLICA E DE MUNICÍPIOS AFETADOS


POR DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICO), POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

30 00

25 00

20 00
NÚMERO

15 00

10 00

500

0 AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Município Reconhecimento

Fonte Página do MI na internet (https://s2id.mi.gov.br/) .


Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil

Figura 7. PROPORÇÃO DE REGISTROS DE OCORRÊNCIA DE DESASTRES DE ORIGEM NATURAL


(NÃO BIOLÓGICOS), POR ANO, SOBRE O TOTAL DE OCORRÊNCIAS ENTRE 1991 E 2012.

12
10
8
% do TOTAL

6
4
2
0
1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

ANOS

TENDÊNCIA

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.

Figura 8. REGISTROS DE RECONHECIMENTO DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA E ESTADOS DE CALAMIDADE PÚBLICA


E DE MUNICÍPIOS AFETADOS POR DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS), POR ANO, ENTRE 2005 E 2015.

4000
3500
3000
NÚMERO

2500
2000
1500
1000
500
0
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

ANOS

Municípios Reconhecimentos
Linear (Municípios) Linear (Reconhecimentos)

Legenda: As linhas apresentam as tendências de mudanças dos valores.


Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

A distribuição mensal dos desastres10, das principais (movimentos sísmicos). Os maiores números de re-
ameaças naturais, apresenta picos nos meses de abril gistros de ocorrências são classificados como de-
e outubro na Região Norte; nos meses de março, abril e sastres originados em “Estiagem e Secas” (53% do
maio na Região Nordeste; nos meses de agosto, novem- total de registros), seguidos de “Enxurradas” (19%).
bro e dezembro na Região Sudeste; e nos meses de janei- As classes “Vendavais” e “Estiagem/Secas” regis-
ro, fevereiro e de setembro a dezembro na Região Sul. traram um aumento maior que a média total, com va-
lores próximos a 26% e 23%, respectivamente, entre
No que se refere aos desastres naturais, a maioria 2013 e 2014, após a aprovação da Lei no 12.608/2012
absoluta dos registros de ocorrências está relacio- (Figura 9).
nada a ameaças hidrometeorológicas (estiagem,
secas, inundações, enxurradas), sendo muito pou- Observa-se uma concentração dos desastres origina-
cos os registros associados a dinâmicas geológicas dos por estiagem (56,7% dos reconhecimentos), secas

10
CEPED/SEDEC (2013).
| 23

(14,2%) e enxurradas (13,4%) (Figura 10), segundo os Do ponto de vista de perdas humanas, a enxurrada é o
dados de reconhecimentos de estado de calamidade desastre mais grave, pois causou 58% do total de mor-
pública e situação de emergência registrados nos ar- tes, seguido dos movimentos de massas com 15,6%
quivos da SEDEC entre 2005 e 2015 (http://www.mi. (CEPED/SEDEC, 2013) (Figura 12).
gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
A distribuição espacial dos registros de desastres na-
O Brasil tem registrado entre 1991 e 2012 aproxima- turais é heterogênea, considerando-se a quantidade e
damente 127 milhões de pessoas afetadas por desas- o tipo de desastres. Segundo dados do Anuário Brasi-
tres com origem em ameaças naturais (não biológicas). leiro de Desastres Naturais de 2012, 201312:
Quase a metade delas (51,3%) sofrem com os impactos
causados pela estiagem e seca, seguidos de enxurrada - Na Região Centro-Oeste são percebidos even-
(21%) e inundação (12%)11 (Figura 11). tos hidrológicos extremos (inundações graduais

11
CEPED/SEDEC (2013).
12
SEDEC/MI (2012a); SEDEC/MI (2012b); SEDEC/MI (2014).

Figura 9. TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS)


ENTRE 1991 E 2012 E ENTRE 2013 E 2014.
NÚMERO

Estiagem Enxurrada Vendavais Granizo Inundação Outros


e Seca

TIPO DE DESASTRE

2013 - 2014 1991 - 2012

Fontes: CEPED/SEDEC, 2013; Página do MI na internet, 2016.

Figura 10. PORCENTAGEM DE REGISTROS DE RECONHECIMENTO DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADOS DE CALAMIDADE
PÚBLICA (ECP) POR TIPO DE DESASTRE NATURAL (NÃO BIOLÓGICO), ENTRE 2005 E 2015.

60
50
% do TOTAL

40
30
20
10
0
(R cia

ra

To s

am a

am s

nc s

Es te

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In inho uvia

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ão
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os
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Fr

Er
Ro

TIPO DE DESASTRE

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil

Figura 11. PORCENTAGEM DE PESSOAS AFETADAS POR TIPOS


DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) NO BRASIL ENTRE 1991 E 2012.

100%
Estiagem e Seca Vendavais Incêndio
Enxurradas Granizo Tornado
51,31%
Inundação Movimento de Massa Alagamento
20,66% Erosão Geada
12,04%
10%
7,07%

4,20%

1,79% 1,32%
0,9% 0,48% 0,12% 0,12%
0

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.

Figura 12. PORCENTAGEM DE NÚMERO DE MORTES EM FUNÇÃO DOS TIPOS


DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) NO BRASIL ENTRE 1991 E 2012.

100%
Estiagem e Seca Vendavais Erosão
Enxurradas Granizo Incêndio
58,15% Inundação Movimento de Massa Tornado
Alagamento

13,40% 15,60%
10%
7,57%

3,74%
0,78%
0,44% 0,17% 0,03% 0,12%
0

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.

ou bruscas, alagamentos e secas), com forte inundações graduais e bruscas em áreas ru-
impacto econômico na produção agrícola. No rais. O grande número de barragens de regu-
entanto, o evento mais recorrente corresponde larização de vazões, as quais nem sempre são
aos incêndios florestais. construídas seguindo padrões construtivos
- A Região Nordeste é conhecida por apresentar adequados e por vezes têm pouca capacidade
secas frequentes, intensas e com graves im- de resistir a cheias severas, também represen-
pactos, decorrentes principalmente da gran- ta fator de risco significativo.
de variabilidade interanual das chuvas e a - Eventos hidrológicos extremos na Região Nor-
baixa capacidade de armazenamento de água te tendem a produzir severos impactos à popu-
no solo. Como consequência, grandes perdas lação ribeirinha e dos centros urbanos, alguns
sociais e econômicas são percebidas, em vir- deles associados a problemas de saúde decor-
tude de incertezas quanto à disponibilidade rentes de contaminações por lixo e outros. Pro-
hídrica, constituindo-se um fator limitante ao blemas de estiagens severas, por outro lado,
desenvolvimento regional. Por outro lado, com provocam danos relacionados ao abastecimen-
frequência, a região é acometida por inunda- to, ao deslocamento de pessoas e à produção
ções bruscas, deslizamentos e alagamentos, agrícola e da pesca.
com consequências significativas para a po- - A Região Sudeste sofre com as adversidades
pulação, que se estabelece em áreas de ris- atmosféricas (chuvas intensas, vendavais, gra-
co nas regiões metropolitanas, e também de nizos, geadas e friagens, secas, baixa umidade
| 25

do ar e nevoeiros), inundações, alagamentos e dos eventos de granizo. As Regiões Norte e Sul apresen-
enxurradas, em função da alta densidade de- tam a maior proporção de eventos de inundações, com
mográfica, aliada à ocupação desordenada em aproximadamente 32% e 39%, respectivamente. Ou-
áreas de risco, com grande risco de ocorrên- tros tipos de desastre predominam proporcionalmente
cia de danos econômicos e sociais. Secas têm na Região Sudeste (34% do total) (Tabela 1).
enorme potencial de gerar danos para diversos
setores da economia e para a geração de ener- Do ponto de vista dos danos humanos, segundo dados
gia elétrica. do CEPED/SEDEC para o período 1991-2012, a Região
- A Região Sul é marcada não somente pela ocor- Nordeste é a mais afetada, com 15.210 registros e cer-
rência de grandes desastres, mas também pela ca dos 44% do total dos afetados no país. A Região Sul,
frequência e variedade de eventos adversos e com um número de registros pouco menor que o Nor-
até pela ocorrência de fenômenos atípicos (fu- deste, apresenta aproximadamente 23% da população
racão Catarina). Frequentemente é afetada por afetada, porém é a que tem o maior número de afeta-
alagamentos, inundações bruscas e graduais, dos em relação ao total de sua população. A Região
escorregamentos, estiagens, vendavais, torna- Sudeste apresenta praticamente a mesma população
dos, nevoeiros e ressacas. afetada que a Região Sul, mas em número de registros
40% menor, indicando que os desastres no Sul ocor-
Segundo os registros de desastres naturais nos anos rem em áreas com menor densidade populacional do
2013-2014, por região geográfica, a com mais registros que no Sudeste (Tabela 2).
de estiagem e secas é a Região Nordeste, com aproxima-
damente 83% do total. A Região Sul registra 58% das As Regiões Norte e Centro-Oeste, embora juntas repre-
enxurradas e dos vendavais, assim como mais de 87% sentem 6% dos registros e apresentem baixa densidade

Tabela 1. NÚMERO DE REGISTROS DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) POR TIPO E REGIÃO GEOGRÁFICA ENTRE 2013 E 2014.

Região Brasil
Tipo de Desastre
Norte Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Total

Estiagem e Seca 185 1 74 542 3.892 4.694

Vendavais 13 110 431 162 24 740

Enxurrada 20 29 417 201 52 719

Inundação 139 22 168 86 11 426

Granizo 0 3 144 17 1 165

Outros 51 36 65 102 42 296

Total 408 201 1.299 1.110 4.022 7.040

Fonte: MI, 2016.

Tabela 2. TOTAL DE REGISTROS DE DESASTRES ORIGINADOS EM FENÔMENOS NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS)


E DANOS HUMANOS POR REGIÕES BRASILEIRAS (1991– 2012).

Região Total de registros Total de afetados Pessoas afetadas por ocorrência

Nordeste 15.210 55.963.164 3.679


Sul 13.255 28.784.792 2.172
Sudeste 8.168 28.142.663 3.445
Centro-Oeste 1.008 5.194.590 5.153
Norte 1.355 8.841.447 6.525
Total 38.996 126.926.656 3.255
Fonte: Adaptado de CEPED/SEDEC, 2013.
Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil

demográfica (Norte 4,12 hab./km2 e Centro-Oeste 8,75 Os números de desabrigados e desalojados, entre 1991
hab./km2 em 201013), são as que apresentam maior nú- e 2012, estão relacionados com a magnitude do desas-
mero de pessoas afetadas por cada desastre devido à tre e a vulnerabilidade das habitações. O maior número
grande extensão das áreas inundadas (regiões muito de desabrigados no Nordeste (75% do total) é um indi-
planas) e do impacto da seca ou estiagem na locomo- cador da vulnerabilidade das populações dessa região
ção das pessoas. (CEPED/SEDEC, 2013) (Figura 15).

A região com o maior número de pessoas afetadas por Segundo dados do Anuário Brasileiro de Desastres Na-
desastres naturais, em 2013, foi o Nordeste, devido ao turais de 201314, naquele ano os danos humanos obser-
grande impacto causado pela estiagem (Figura 13). vados relativos às Regiões Norte, Sudeste e Sul foram
muito influenciados por desastres, em sua maioria hi-
Regionalmente, quanto aos danos humanos, obser- drológicos, que causaram um grande número de desa-
va-se que 66,5% do número de mortes ocorreram na brigados e desalojados (Figura 16).
Região Sudeste, seguida do Nordeste e do Sul. A Re-
gião Nordeste concentrou 48,4% do total do número Esta distribuição está relacionada aos tipos de desas-
de enfermos, seguida pela Região Norte, com 39,7% do tres predominantes e a sua dinâmica. Desastres súbitos
total. O número de feridos apresenta uma distribuição e de curta duração causam, em geral, o maior número
regional mais uniforme, à exceção do Centro-Oeste, de mortos (deslizamentos e enxurradas, por exemplo),
que tem menos de 1% do total (Figura 14). enquanto desastres graduais e duradouros originam

13
IBGE (2014).
14
SEDEC/MI (2014).

Figura 13. TOTAL DE AFETADOS POR MACRORREGIÕES EM 2013.

CENTRO-OESTE

NORDESTE

NORTE

SUDESTE

SUL

TOTAL

0 2.000.000 4.000.000 6.000.000 8.000.000 10.000.000 12.000.000 14.000.000 16.000.000 18.000.000 20.000.000

CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE SUDESTE SUL TOTAL


AFETADOS 1.181.911 11.945.565 615.049 3.029.242 1.785.466 18.557.233

Fonte: Anuário Brasileiro de Desastres Naturais de 2013 – SEDEC/MI, 2014.

Figura 14. MORTOS, ENFERMOS, FERIDOS E DESAPARECIDOS EM DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICO)
POR REGIÕES BRASILEIRAS ENTRE 1991 E 2012).
14
Centro-Oeste
41.245 3.211 2
131 Centro-Oeste 978 Centro-Oeste 18
Norte Sudeste
Centro-Oeste Norte
19.336 344
546 Norte Sudeste
Nordeste 9.607 181.338
Sul Norte
24.429
Sudeste
1.458
2.294 463 Sul
Sudeste NÚMERO DE MORTES Sul NÚMERO DE
ENFERMOS
NÚMERO DE FERIDOS 38.941 NÚMERO DE
DESAPARECIDOS
NOS DESASTRES NOS DESASTRES
Nordeste
5.109
NOS DESASTRES
NOS DESASTRES
220.916
Nordeste Nordeste
13.342
Sul

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.


| 27

Figura 15. DESABRIGADOS E DESALOJADOS EM DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICOS)


POR REGIÕES BRASILEIRAS ENTRE 1991 E 2012.

Norte
Centro Oeste 215.586
15.390

Sudeste Centro Oeste


271.816 Norte
46.855
675.968
Nordeste
Sul 947.507
287.986

Sudeste
Nordeste 1.166.143 Sul
2.429.589 1.072.766

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.

Figura 16. DANOS HUMANOS POR MACRORREGIÕES EM 2013.

180.000

160.000

140.000

120.000

100.000

80.000

60.000

40.000

20.000

CENTRO-OESTE NORDESTE NORTE SUDESTE SUL


DESABRIGADOS 1.892 28.147 81.022 34.629 29.919
DESALOJADOS 6.003 90.222 125.215 167.087 127.878
DESAPARECIDOS 2 2 3 9 89
ENFERMOS 1.143 69.245 13.985 73.327 1.996
FERIDOS 112 5.555 890 1.683 333
ÓBITOS 9 30 11 121 12

Fonte: SEDEC/MI, 2014.

um maior número de enfermos – como em inundações, Os danos econômicos dos desastres no Brasil, entre
devido à exposição prolongada das pessoas aos agentes 2002 e 2012, apresentam um valor médio próximo aos
(água e agentes biológicos, por exemplo), ou estiagens R$ 278 bilhões, considerando estimativas de R$ 180
prolongadas, devido à falta de alimento e saneamento. bilhões em função de pessoas desabrigadas, R$ 300
bilhões em função de pessoas desalojadas, e R$ 355
O número de feridos pode estar relacionado ao impacto bilhões considerando as pessoas afetadas (Figura 17).
direto do desastre, mas também às ações de resposta e Considerando-se a média das estimativas de perdas,
de resgate em situações de qualquer tipo de desastre. as perdas com os desastres variam entre 0,44 e 0,91%
O número de desaparecidos está mais relacionado à ca- do PIB brasileiro médio no período, com média em
pacidade de resposta (busca e resgate) dos organismos 0,68% e uma clara tendência de crescimento positivo
de proteção e defesa civil do que, necessariamente, ao dos valores (YOUNG, 2015) (Figura 18).
tipo de desastre. Municípios com maior capacidade de
busca e resgate normalmente convertem os números Em termos monetários, a Região Sudeste acumula
iniciais de desaparecidos em outras classes, com a R$110 bilhões em perdas com desastres no período
identificação dos mortos, feridos ou apenas afetados. (40% do total nacional), e seus quatro estados estão
Caracterização e Incidência de Desastres no Brasil

Figura 17. EVOLUÇÃO DA PERDA ANUAL ESTIMADA POR DESASTRES DE ORIGEM NATURAL (NÃO BIOLÓGICOS)
NO BRASIL, ENTRE 2002 E 2012, SEGUNDO O TIPO DE IMPACTO.
PERDAS (R$ Bilhões)

Afetados Desalojados Desabrigados

Fonte: YOUNG, 2015.

Figura 18. EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE PERDAS COM DESASTRES DE ORIGEM


EM FENÔMENOS NATURAIS (NÃO BIOLÓGICO) NO PIB DO BRASIL.

1,6%
1,44%
1,4%
PERDAS (R$) / PIB (R$)

1,2% 1,11%
1,0%

0,8% 0,64%
0,6% 0,46%
0,4%
0,2%
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012

Fonte: YOUNG, 2015.


| 29

entre os dez de maior perda. Minas Gerais é o estado Tabela 3. PERDAS ECONÔMICAS DECORRENTES
com maior perda acumulada com desastres, R$ 47,2 bi- DE DESASTRES NATURAIS (NÃO BIOLÓGICOS) ENTRE 2002 E 2012
lhões (17% do valor nacional). A Região Sul é a segunda EXPRESSO EM PROPORÇÃO DO PIB.
em perdas acumuladas, chegando ao valor de R$ 45 bi-
lhões (16% do valor nacional), e seus três estados es- Região Perdas com desastres (% do PIB)
tão entre os dez de maiores perdas. O Estado de Santa
Catarina tem o terceiro maior valor absoluto de perdas Centro-Oeste 0,22
(R$ 27 bilhões), cerca de 9,6% do valor nacional. A Re- Sul 0,66
gião Nordeste apresenta perdas totais de R$ 82 bilhões
Sudeste 0,48
(29% do valor nacional). A Bahia é o estado com maior
perda na região no período, com R$ 12 bilhões de danos Nordeste 1,51
(4,3% do valor nacional). Na Região Norte, o Amazonas Norte 1,61
é o estado com maior perda (R$ 19 bilhões), ou 6,8% do
valor agregado nacional. A região ocupa o quarto lugar Fonte: YOUNG, 2015.
em danos monetários totais, com 12% do valor para o
país. A Região Centro-Oeste apresentou os menores
números de perdas monetárias (3% da perda nacional).

Porém, quando se analisa a razão entre as perdas Outros Dados e Informações


anuais médias e o PIB médio de cada região, consta-
ta-se que as com maior impacto relativo são a Região 1. CEMADEN – CENTRO NACIONAL DE MONI-
Norte (1,61%) e a Região Nordeste (1,51%). Isso de- TORAMENTO E ALERTA DE DESASTRES NA-
monstra que, apesar de as ocorrências se concentra- TURAIS
rem nas regiões mais ricas do país, são as mais pobres, http://www.cemaden.gov.br/
com menor capacidade de preparação e resposta aos 2. EM-DAT
desastres, que sofrem maior impacto, reforçando a de- Centre for Research on the Epidemiology of
sigualdade entre elas, o que corrobora o entendimento Disasters (CRED)
internacional de que há uma estreita relação entre de- http://www.emdat.be/
sastres e desenvolvimento (Tabela 3).

Anotações
3 MUDANÇAS DO CLIMA
E DESASTRES NATURAIS

As mudanças do clima constituem um desafio global, com reflexos


importantes sobre os riscos de desastre. A compreensão das relações
existentes entre as mudanças do clima e as condições meteorológicas
extremas é de fundamental importância, já que permite o planejamen-
to da gestão de riscos e de desastres para o futuro.

No contexto da mudança do clima, os níveis de ameaça modificam-se


devido às variações na temperatura, na precipitação e no nível do mar,
exacerbando o risco de desastres naturais15. O Painel Intergoverna-
mental de Mudança do Clima16 atribui estes fatos ao aumento da con-
centração dos Gases de Efeito Estufa.

Os Gases de Efeito Estufa bloqueiam a saída para o espaço da radiação


infravermelha emitida pelos corpos na superfície da Terra, mas não
impedem a passagem da radiação solar rumo ao solo. Em consequên-
cia, tem-se um aumento da temperatura na superfície da Terra. Este
processo é conhecido como Efeito Estufa (PIMC, 2013) (Figura 19).

15
UNISDR (2015b).
16
PIMC (2013).
| 31

Figura 19. MODELO IDEALIZADO DO EFEITO ESTUFA NATURAL.

O Efeito Estufa

Uma parte das radiações infravermelhas


passam através da atmosfera mas a
maior parte é absorvida e reemitida em
Sol A radiação solar dá energia
ao sistema climático todas as direções pelas moléculas dos
Gases de Efeito Estufa e as nuvens.
O efeito provocado é o aquecimento da
atmosfera do planeta Terra

A metade da radiação solar é


absorvida pela superfície da Terra
que é aquecida por esta

Uma parte da radiação solar


é refletida pela Terra
e a atmosfera Atmosfera A radiação infravermelha
é emitida pela
superfície da Terra

Terra

Fonte: PIMC
(https://www.ipcc.ch/publications_and_data/ar4/wg1/es/faq-1-3-figure-1.html).

Há evidências de que o aquecimento global, em virtude


Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima de atividades humanas (energia, indústria, transporte,
desmatamento e construção civil), possa ser responsá-
O Painel Intergovernamental de Mudanças do Cli- vel, mesmo que parcialmente, pelo aumento da tempe-
ma é uma organização técnico-científica instituída ratura, observado nas últimas décadas, devido à emis-
no âmbito das Nações Unidas em 1988, com a cola- são de Gases de Efeito Estufa.
boração da Organização Meteorológica Mundial, e
tem por objetivo avaliar, com base em informações A proporção de variação do clima de origem natural e
científicas, técnicas e socioeconômicas relevan- a condicionada pela ação do homem é dificilmente de-
tes, as mudanças do clima induzidas pelo Homem finida. Um aumento entre 0,6ºC a 0,7ºC na temperatu-
e seus impactos potenciais, com vistas a formular ra média da superfície do planeta foi observado entre
estratégias realistas de adaptação e mitigação. os anos de 1951 e 2010. As evidências mostram que,
Desde 1990, as evidências científicas são apresen- para este período, houve uma redução dos dias e noites
tadas nos Relatórios de Avaliação, publicados em frios e um aumento dos dias e noites quentes em nível
1995, 2001, 2007, e, entre 2013-2014, o quinto e global; da mesma forma, mais regiões registraram au-
mais atual (https://www.ipcc.ch/organization/or- mento da precipitação intensa do que diminuição17.
ganization.shtml).
Estas alterações têm ocorrido tanto nas condições mé-
dias do clima quanto no aumento do número de eventos
extremos18. A mudança do clima global revela-se por
meio de dois tipos de manifestações físicas, responsá-
Gases de Efeito Estufa veis pelos impactos nos sistemas socioambientais:

Gases de Efeito Estufa: integrantes da atmosfera, • Mudanças de longo prazo nas condições basais
de origem natural e antropogênico, que absorvem médias de clima nas diferentes regiões e locali-
e emitem radiação em determinadas longitudes dades (aumento ou diminuição de níveis anuais
de ondas do espectro de radiação infravermelha de precipitação ou médias mensais ou estacio-
nais de temperatura).
emitida pela superfície da Terra, pela atmosfera
• Mudanças nos padrões de ocorrências de even-
e pelas nuvens. Esta propriedade causa o “Efeito tos climáticos e hidrometeorológicos denomi-
Estufa”. O vapor de água (H2O), dióxido de carbono nados de “extremos”. Em condições incertas do
(CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4), e ozônio clima, a forma conhecida de ocorrência desses
(O3) são os principais Gases de Efeito Estufa (PIMC eventos pode mudar, incluindo mudanças na
Glossário – https://www.ipcc.ch/pdf/glossary/tar-
-ipcc-terms-sp.pdf). 17
PIMC (2014).
18
SUDMEIER-RIEUX et al. (2006) e PIMC-SREX (2012).
Mudanças do Clima e Desastres Naturais

frequência, na intensidade, na duração e no mo- O aumento da temperatura média global acarretará na


mento de ocorrência. maior incidência de ondas de calor; na intensificação
de fenômenos naturais como o El Niño; em uma dis-
Eventos extremos são caracterizados quando os valo- tribuição desigual da precipitação, com aumento de
res observados de um fenômeno distribuídos ao longo eventos extremos de precipitação nas regiões úmidas
do tempo se apresentam próximos dos limites superio- e diminuição nas regiões secas, corroborando uma
res ou inferiores dessa distribuição19. tendência de secas e estiagens com maior magnitude
e frequência18;26.
O aquecimento detectado na América do Sul varia de
0,7ºC a 1ºC desde 197020. Alterações são esperadas também na ocorrência de
ciclones intertropicais, de inundações fluviais, e na
Nos últimos anos crescem as evidências de eventos maior frequência de tempestades, furacões13;18. Embo-
meteorológicos extremos no mundo. No Brasil, os ra as inundações não apresentem projeções altamente
registros de tornados aumentaram 10 vezes desde confiáveis, elas compreendem a tipologia de desastres
a década de 1970, particularmente nas Regiões Sul naturais mais comuns, com aumento global de sua
e Sudeste21. Nos últimos 30 anos, tem aumentado a ocorrência27.
frequência de chuvas no verão e no inverno do Sul
ao Sudeste. No Sudeste, em 2014-2015, ocorreu a 3.2. TENDÊNCIAS PARA A
pior seca dos últimos 80 anos. A Amazônia sofreu,
na década 2005-2014, as duas piores secas (2005 e MUDANÇA DO CLIMA NO
2010) e as três piores enchentes (2009, 2012, 2014) BRASIL
dos últimos 100 anos14. Em 14 capitais brasileiras
houve um aumento de 79% nos dias de tempestade As tendências para o clima brasileiro para as próximas
por mês para o período após 1951, quando compara- décadas, segundo o Painel Brasileiro de Mudanças Cli-
do com a primeira metade do século XX, e aumento máticas28, são (Figura 20):
das tempestades durante os eventos de El Niño para
as Regiões Sul (primavera/verão), Sudeste, Nordeste • Amazônia: redução percentual de 10% na distri-
e Norte (outono/inverno)22. buição de chuva e aumento de temperatura de 1
a 1,5°C até 2040. Há uma tendência de diminui-
3.1. CENÁRIOS CLIMÁTICOS ção de 25 a 30% nas chuvas e aumento de 3 a
3,5°C no período de 2040 a 2070;
Cenários climáticos são a previsão das distintas inten- • Nordeste (Caatinga): aumento de 0,5 a 1°C na
sidades das mudanças do clima. São instrumentos de temperatura do ar e decréscimo entre 10 e 20%
análise acerca das alterações do clima e da influência de precipitação até 2040, com aumento gradual
das ações antropogênicas nas emissões futuras, assim de temperatura de 1,5 a 2,5°C e diminuição en-
como para avaliação dos impactos e para iniciativas a tre 25 e 35% nos padrões de chuva, no período
serem adotadas para adaptação e mitigação. de 2041 a 2070. Na região são projetados maio-
res e mais longos períodos de seca, assim como
A principal fonte de informações sobre os cenários uma expansão das áreas áridas, substituindo
climáticos globais é o PIMC (em inglês, IPCC23). Estes áreas atualmente com clima subúmido29. O au-
cenários são baseados em modelos climáticos globais, mento da aridez, associada à degradação do
que são “regionalizados”, resultando em cenários mais solo pelo mau uso, tende a expandir os núcleos
detalhados para certas áreas. No Brasil, este proces- de “desertificação”;
so é feito pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos • Centro-Oeste (Cerrado): aumento de 1°C na
Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas temperatura superficial, com diminuição per-
Espaciais (INPE)24. centual entre 10 e 20% da chuva até 2040. Em
meados do século (2041-2070), estima-se au-
As projeções de mudanças do sistema climático para mento entre 3 e 3,5°C na temperatura do ar e
o fim do século XXI apontam que a variabilidade será redução entre 20 e 35% da chuva;
maior e os extremos climáticos serão mais frequentes • Bioma Pantanal: aumento de 1°C na temperatura
em comparação ao clima atual25. e diminuição entre 5 e 15% nos padrões de chuva
até 2040, mantendo a tendência na redução das
chuvas para valores entre 10 e 25% e aumento
19
PIMC – SREX (2012). de 2,5 a 3°C da temperatura em 2041-2070;
20
MARENGO (2014).
21
SILVA DIAS (2011).
22
PINTO (2015). 26
PIMC (2014).
23
http://www.ipcc.ch 27
SMITH et al. (2014).
24
http://dadosclima.ccst.inpe.br/ 28
PBMC (2014).
25
PIMC (2013). 29
MARENGO e BERNASCONI (2015).
| 33

• Mata Atlântica: em sua porção no Nordeste do A ocorrência de um desastre não pode ser atribuída di-
Brasil, há expectativa de aumento de 0,5 a 1°C retamente a mudanças do clima, devido às interações
e decréscimo na precipitação de 10% até 2040. dinâmicas e complexas entre padrões de desenvolvi-
Entre 2041 e 2070, espera-se aquecimento entre mento, meio ambiente e clima. A fim de reduzir perdas
2 e 3°C e redução de precipitação entre 20 e 25%. e danos de forma apropriada, estes fatores devem ser
Nas áreas localizadas nas Regiões Sul e Sudeste, analisados, avaliados e gerenciados coletivamente.
as projeções indicam 0,5 a 1°C de aumento de
temperatura e incremento de 5 a 10% na preci- Os impactos das mudanças do clima necessitam ser
pitação. Em meados do século (2041-2070), es- minimizados, reduzindo-se a magnitude da ameaça (a
pera-se aumento gradual de temperatura de 1,5 redução das emissões dos Gases de Efeito Estufa), e/ou
a 2°C, com 15 a 20% a mais de chuvas; a vulnerabilidade dos mais carentes aos eventos hidro-
• Pampas (extremo sul do Brasil): até 2040 espe- meteorológicos extremos, incluindo a assistência a po-
ra-se aumento regional de 5 a 10% na precipi- pulações vulneráveis para viver em áreas mais seguras.
tação, com o aquecimento de até 1°C. Estas ten-
dências persistem no meado do século (até 1,5°C Constata-se uma clara inter-relação, com nível de con-
de temperatura e 15 a 20% mais chuva), com fiança alto e muito alto, entre as mudanças do clima e os
piora no fim do século (aumento de 2,5 a 3°C de riscos de desastres e sua gestão, apresentadas a seguir31:
temperatura e 35 a 40% a mais de chuva).
• Os riscos derivados da mudança do clima são
Para todo o Brasil, as projeções indicam uma redução espacialmente diferenciados em decorrência de
na frequência de geadas30. distintos níveis de vulnerabilidade e exposição,

30
MARENGO (2014). 31
PIMC-SREX (2012).

Figura 20. INFOGRÁFICO DE CENÁRIOS CLIMÁTICOS PARA O BRASIL.

NORTE
AMAZÔNIA Aumento de temperatura
DO OESTE (até 4-6° C)
Mais chuvas Menos chuva (reduções
(aumento extremo de até 1.5 mm/dia)
em algumas regiões)
NORDESTE
Menos chuva no
Semiárido (reduções
de até 2.5 mm/dia
na estação chuvosa)

CENTRO OESTE
Mais ondas de calor
e menos geadas
em Mato Grosso do Sul

SUL
No Rio Grande do Sul,
aumento de chuvas intensas
e menos geadas SUDESTE
Mais chuvas intensas
e redução de geadas
em São Paulo
Fonte: INPE

Fonte: MARGULIS e DUBEUX, 2010.


Mudanças do Clima e Desastres Naturais

derivados de fatores do clima e de processos de dação e erosão costeira, impactando a crescente


desenvolvimento; população e ativos expostos aos riscos costeiros;
• Os impactos dos fenômenos extremos climáti- • O estresse térmico, a precipitação extrema, as
cos demonstram uma importante vulnerabili- inundações, a contaminação do ar, a seca e a
dade e exposição dos ecossistemas e sistemas escassez de água estabelecem riscos nas áreas
humanos à atual variabilidade climática; urbanas para as pessoas, os ativos, as econo-
• Responder aos riscos climáticos implica em mias e os ecossistemas, que se amplificam para
decisões em um contexto de constante incerte- pessoas que carecem de infraestruturas e ser-
za, devido ao grande número de fatores sociais, viços essenciais ou vivem em habitações de má
econômicos e culturais, à vulnerabilidade e ex- qualidade e expostas;
posição, assim como as respostas futuras dos • O impacto das mudanças do clima afetará a saú-
sistemas humanos e naturais interconectados, o de humana, principalmente pelo agravamento
que limita a eficácia da adaptação e incentiva o dos problemas já existentes, especialmente nos
estudo de uma grande variedade de futuros ce- países em desenvolvimento. Projetam-se riscos
nários socioeconômicos; de lesão, enfermidade e morte devido a ondas
• As opções de adaptação e mitigação no curto de calor e incêndios mais intensos, desnutrição
prazo, assim como as trajetórias de desenvolvi- derivada de uma menor produção de alimentos,
mento, afetarão os riscos das mudanças do cli- perda de capacidade de trabalho e enfermida-
ma durante o século XXI; des transmitidas por alimentos e água.
• As consequências-chave ou principais, causadas
por impactos de grande magnitude e/ou alta pro-
babilidade de ocorrência decorrente de ameaças
naturais potencializadas pelas mudanças do clima OUTROS DADOS E INFORMAÇÕES
(Quadro 2), assim como de condições de vulnerabi-
lidade persistente, ou de possibilidades limitadas 1. INPE – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUI-
para reduzir os riscos mediante a adaptação ou a SAS ESPACIAIS
mitigação, abarcam todos os setores e regiões.
• As crescentes magnitudes do aquecimento au- CCST – Centro de Ciência do Sistema Terrestre
mentam a probabilidade de impactos graves, http://www.ccst.inpe.br/
generalizados e irreversíveis, tais como grandes 2. ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS
riscos para a segurança alimentar e as ativida- http://www2.ana.gov.br/Paginas/portais/Mu-
des humanas normais (produção de alimentos, dancasClimaticas/mudancasclimaticas.aspx
trabalho no ambiente externo não protegido du- 3. MCTIC – MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNO-
rante certos períodos do ano); LOGIA, INOVAÇÃO E COMUNICAÇÕES
• Os riscos de impactos e a escala de adaptação
necessária podem ser reduzidos ao se limitar o Programa Nacional de Mudanças Climáticas
ritmo e a magnitude da mudança do clima; http://www.mct.gov.br/index.php/content/
• Devido à elevação projetada do nível do mar, os view/77650/161_Programa_Nacional_de_
sistemas costeiros e as áreas baixas experimen- Mudancas_Climaticas.html
tarão, cada vez mais, processos de imersão, inun-

Quadro 2. CONSEQUÊNCIAS-CHAVE E SUAS POTENCIAIS CAUSAS ASSOCIADAS A AMEAÇAS NATURAIS


POTENCIALIZADAS PELAS MUDANÇAS DO CLIMA DE ACORDO O PIMC.

CAUSAS ASSOCIADAS A AMEAÇAS NATURAIS


CONSEQUÊNCIAS-CHAVE ou PRINCIPAIS
POTENCIALIZADAS POR MUDANÇAS DO CLIMA

Marés meteorológicas, inundações costeiras e Morte, lesões, problemas de saúde ou desorganização dos meios de subsistência
elevação do nível do mar. em áreas costeiras baixas e pequenos estados insulares em desenvolvimento.
Problemas de saúde graves e desorganização dos meios de subsistência para
Inundações continentais.
grandes populações urbanas.
Maior mortalidade, particularmente para populações urbanas vulneráveis e
Períodos de calor extremo.
pessoas que trabalham ao ar livre em áreas urbanas e rurais.
Variabilidade e extremos do aquecimento, seca, Insegurança alimentar, em particular para as populações de menor renda,
inundação e precipitação. moradoras de periferias urbanas e áreas rurais.
Fonte: modificado de PIMC, 2013.
PARTE II
RISCOS DE DESASTRES

As ameaças, naturais e tecnológicas, são


apresentadas, a seguir, a partir de sua definição,
caracterização, ocorrência, impactos e
vulnerabilidades associadas, complementando-se
com a sugestão de documentação complementar
e a indicação de fontes de informação, de forma a
enriquecer o entendimento dos riscos de desastres.
1
RISCOS DE DESASTRES
RELACIONADOS A
EVENTOS NATURAIS

A descrição e análise dos riscos de desastres relacionados à ocorrên-


cia de eventos naturais incluem a caracterização dos processos e dos
agentes astrofísicos, geofísicos, hidrológicos, climatológicos, meteo-
rológicos e biológicos, além das vulnerabilidades existentes (sociais,
econômicas, ambientais e biológicas) e dos impactos decorrentes (so-
ciais, ambientais, econômicos, e sanitários).

Ao final, é apresentada uma matriz na qual, para cada tipo de desastre


descrito anteriormente, são indicadas as ameaças e os principais fa-
tores de vulnerabilidade da população ou do ambiente potencialmente
expostos. Com base nessa matriz, os profissionais de Proteção e Defe-
sa Civil poderão avaliar as condições de ameaça e de vulnerabilidade
locais ou regionais, com vistas a formular estratégias e ações para sua
redução parcial ou total.
| 37

1.1. PROCESSOS E AGENTES mendações da Organização Mundial da Saúde, os valo-


ASTROFÍSICOS res são agrupados em categorias de intensidades:

O presente capítulo define, caracteriza, identifica geo- Baixo: <2


graficamente e descreve os impactos decorrentes de Moderado: 3 a 5
processos e agentes astrofísicos, particularizados pe- Alto: 6 a 7
las ameaças de tempestades solares, radiação cósmica Muito Alto: 8 a 10
e de raios ultravioletas, assim como de quedas de cor- Extremo: >11
pos siderais e de satélites.
A queda de corpos siderais também impacta a super-
Definição fície da Terra. Quando a órbita de um corpo cruza a
órbita da Terra, existe a possibilidade de uma colisão.
As ameaças astrofísicas incluem processos associados a Dependendo da distância da Terra, o asteroide pode
eventos não perceptíveis (tempestades solares, radiação ser classificado como “Próximo” ou, para os mais pró-
cósmica e de raios ultravioletas) como aqueles claramen- ximos ainda, “Potencialmente Perigoso”. A maioria do
te observáveis pela população (quedas de corpos siderais material meteórico que entra na atmosfera consiste
e satélites). Diversos processos de tempestades solares em partículas de pó ou correspondem a corpos celes-
impactam a superfície terrestre de forma diferenciada, tes de grandes dimensões, reduzidos pela fricção, ou
tais como as erupções solares, as ejeções de massa da co- incendiados e desintegrados antes de chegar ao solo.
roa solar, os fluxos de vento solar de alta velocidade e as Os meteoritos são fragmentos de material extraterres-
partículas energéticas solares carregadas de alta energia. tre que impacta a superfície terrestre.

Caracterização Ocorrência

A radiação cósmica que alcança a superfície da Terra Segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
relaciona-se com fluxos de altíssima velocidade de tuações de emergência e estados de calamidade públi-
energia através do espaço, que podem ser em forma de ca no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov.br/),
ondas (luz solar) ou de partículas (elétrons, prótons). não há ocorrências deste tipo de desastre no Brasil.

O Sol emite energia em, praticamente, todos os com- No entanto, existem elementos que permitem identifi-
primentos de onda do espectro eletromagnético – car áreas mais ou menos expostas a este tipo de amea-
raios gama e X, radiação ultravioleta e infravermelha ça, particularmente a relacionada com as emissões
(ou calor), luz visível, micro-ondas e ondas de rádio. elevadas de energia solar:
A radiação ultravioleta (UV) pode ser absorvida pela
camada de ozônio atmosférica (comprimento de onda - Concentração de ozônio (principal responsável
de 100 a 280 nm), ou alcançar a superfície da Terra pela absorção de radiação UV);
(comprimento de onda de 280 a 400 nm). - Posição geográfica da localidade (a radiação
UV diminui com o aumento da distância em re-
lação ao Equador);
- Hora do dia (70 a 80% da quantidade de radia-
Nanômetro (nm) é a subunidade do metro, corres- ção UV chegam à Terra no verão entre 9h e 15h);
pondente a 1×10−9metro, ou seja, um milionésimo de - Estação do ano (maior no verão);
milímetro ou um bilionésimo do metro. Unidade de - Condições atmosféricas (presença de partícu-
comprimento do SI, comumente usada para medi- las em suspensão atenua a quantidade de ra-
ção de comprimentos de onda de luz visível, radia- diação UV);
ção ultravioleta, radiação infravermelha e radiação - Tipo de superfície (areia, neve, água, concre-
gama, entre outras coisas. to etc).

Somente a partir de cálculos e modelos astronômicos


é possível, com uma determinada antecedência e pre-
Os raios UV são de grande importância para a saúde hu- cisão, a identificação de potenciais locais de impacto
mana, já que são essenciais para a produção de vitamina decorrente da queda de um corpo sideral no Brasil.
D nas pessoas. No entanto, podem ser também prejudi-
ciais à saúde, se a exposição humana for alta, frequente, Impactos
ou prolongada. O Índice Ultravioleta (IUV) – valor máxi-
mo diário de radiação ultravioleta que atinge a superfí- Apesar de não ser direta e facilmente perceptível, as
cie do planeta – é calculado ao meio-dia solar, horário pessoas sofrem com este tipo de desastre, seja pe-
de máxima intensidade de radiação solar, e apresentado los impactos diretos na saúde como pelos impactos
para uma condição de céu claro. De acordo com reco- indiretos no desenvolvimento das suas atividades
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

sociais e econômicas, cada dia mais dependentes de longo da vida de uma pessoa, existem mínimas possibi-
equipamentos eletrônicos, sensíveis aos extremos lidades (1/10.000) de que a Terra possa ser impactada
do tempo espacial. por um meteorito suficientemente grande para causar
uma mudança do clima que origine a perda de alimen-
A radiação espacial pode ter efeitos graves sobre o fun- tos e a extinção em massa de espécies animais. A pro-
cionamento dos satélites artificiais e indiretamente sobre babilidade de um meteorito maior de 1 m de diâmetro
o desenvolvimento de atividades da população. Algumas chegar à superfície da Terra é de 1 por ano.
radiações de partículas podem interagir com os circuitos
eletrônicos, causando uma grande variedade de efeitos
que podem até inutilizar um sistema vital. Tempestades
solares aumentam a tensão ou interrompem redes de Outros Dados e Informações:
energia elétrica, contribuem para a corrosão de oleodu-
tos e gasodutos, e interferem nas comunicações de rádio 1. NASA – NATIONAL AERONAUTICS AND SPA-
de alta frequência e no Sistema de Posicionamento Glo- CE ADMINISTRATION
bal (GPS) de navegação. Devido à crescente dependência http://www.nasa.gov/mission_pages/sune-
de sistemas de alta tecnologia, um evento de radiação arth/spaceweather
extrema pode potencialmente causar maiores prejuízos http://radbelts.gsfc.nasa.gov/.
econômicos do que outros eventos extremos. 2. OMS – ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE
Radiação Ultravioleta – Ultraviolet radia-
Diretamente na população, uma prolongada exposi- tion and the INTERSUN Programme http://
ção humana à radiação ultravioleta (UV) pode resultar www.who.int/uv/en/
em efeitos agudos e crônicos de saúde sobre a pele, os
olhos e o sistema imunológico. Queimaduras solares
correspondem ao efeito agudo mais conhecido cau-
sado pela excessiva exposição à radiação UV, mas a
longo prazo, a radiação UV induz alterações degenera- 1.2. PROCESSOS E AGENTES
tivas nas células da pele, tecido fibroso e vasos sanguí- GEOLÓGICOS
neos, levando ao envelhecimento prematuro da pele,
fotodermatoses e queratoses actínicas, à formação de As ameaças geológicas incluem os processos endó-
cataratas nos olhos e ao câncer de pele. genos (terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas),
assim como alguns processos exógenos (movimentos
Muitos países em desenvolvimento estão localizados de massa, deslizamentos de terra e rochas, queda ou
perto da linha da Equador e, portanto, as pessoas, avalanche de rochas, colapso de terrenos superficiais
particularmente pobres e crianças, estão expostas a e fluxos de lodo e detritos).
níveis muito elevados de radiação UV. Pessoas de pele
escura são igualmente vulneráveis. Mesmo que a inci-
dência de câncer de pele seja menor (maior quantidade
do pigmento protetor, a melanina), o câncer ocorre e é Processos Endógenos x Exógenos
frequentemente detectado nos estágios mais avança-
dos da doença. Dias nublados também oferecem peri- Processo Endógenos – processo geológico que se
go, principalmente para as pessoas de pele sensível, já realiza no interior da Terra. Os agentes geológicos en-
que partículas atmosféricas refletem parte da radiação dógenos referem-se à interação de forças internas da
que consegue atingir a superfície terrestre. Os impac- Terra, tais como: aquecimento provocado por radioa-
tos na população em regiões turísticas como praias e tividade; variações de pressão e temperatura provo-
pistas de esqui aumentam, considerando a capacidade cadas por reações e recristalizações minerais para
de reflexão da energia incidida. fases minerais mais ou menos densas com emissão
ou absorção de calor, o que leva a desequilíbrios den-
Quanto aos impactos ocasionados pela queda de cor- sitométricos e poderosas movimentações de massas
pos siderais, objetos maiores que 1m de diâmetro têm rochosas, magmas e fluidos no interior da Terra.
possibilidades de causar crateras de impacto significa- Processo Exógeno – processo geológico que se rea-
tivo, assim como atingir diretamente populações (feri- liza na ou junto à superfície terrestre. Os agentes
mentos e morte), e/ou destruir parcial ou totalmente geológicos exógenos referem-se à interação de for-
propriedades e infraestrutura próximas à zona de im- ças da natureza, envolvendo a atmosfera, hidros-
pacto. Os danos causados pelo impacto de um asteroi- fera e a superfície terrestre com forte atuação da
de ou cometa na Terra dependem basicamente do ta- energia emitida pelo Sol e pela força da gravidade.
manho do asteroide, dos materiais que o compõem e da
sua velocidade durante o impacto. Dada a prevalência Fonte: CPRM Glossário – http://sigep.cprm.gov.br/
de crateras de impacto e a massa dos materiais que glossario/verbete/exogeno.htm.
entram na atmosfera anualmente, calcula-se que, ao
| 39

Ainda que menos frequentes do que outro tipo de tem movimentação ou deslocamento de massas rocho-
ameaças na escala global, o crescimento rápido da po- sas, construindo ou reorganizando a estrutura terres-
pulação e a urbanização acelerada podem aumentar a tre devido a tensões na crosta terrestre.
exposição a elas. Mais do que outros eventos, os terre-
motos e a atividade vulcânica desencadeiam ameaças A camada mais superficial da Terra é formada por imen-
secundárias ou terciárias (EIRD, 2004). sas placas tectônicas, que se movimentam de forma len-
ta e contínua. Há ocasiões em que as placas se obstruem,
sem poder se deslocar nem liberar a energia acumula-
1.2.1. Terremotos da na sua movimentação. Quando a energia acumulada
cresce suficientemente, as placas conseguem movimen-
Definição tar-se, liberando grande quantidade de energia.

Os Terremotos são classificados em Tremores de Terra As bordas das placas, onde geralmente ocorrem ativi-
ou Maremotos, de acordo com o local de origem dos dades sísmicas, são classificadas, de acordo com o tipo
movimentos de terra ou abalos sísmicos. de esforço, como (Figura 21):

Os Tremores de Terra são movimentos rápidos e repen- a. Divergentes: limites com esforços de tectônica
tinos que provocam oscilações verticais e horizontais extensional, onde ocorre afastamento crustal
na superfície da Terra, originados pela liberação súbi- e a formação de crosta oceânica;
ta de energia. É um dos fenômenos da natureza mais b. Transformantes: limites com esforços de tectô-
aterradores e destrutivos pela sua intensidade e con- nica transformante com deslocamentos dire-
sequências devastadoras. cionais, onde ocorre a formação de nova crosta
oceânica;
Os Maremotos ou Tsunamis, geralmente, são gerados c. Convergentes: limites com esforços de tectô-
por abalos sísmicos próximos à linha de costa. A pro- nica compressional (a) com uma placa mergu-
pagação de ondas sísmicas através dos oceanos gera lhando sob a outra mais leve ao longo de plano
o desplazamento repentino de massa de água e uma de subdução em ambiente oceânico; (b) com
série de grandes ondas marinhas. A altura das ondas uma placa oceânica mergulhando ao longo de
próximas ou na costa varia segundo a localização (en- plano de subdução sob a outra mais leve de
tre 5 a 30 m), influenciada pela profundidade da água, borda continental; ou (c) com duas placas con-
o perfil do fundo marinho e a forma da linha da costa. tinentais sendo comprimidas.
Os maremotos também podem ser originados em erup-
ções vulcânicas, movimentos gravitacionais costeiros Abalos sísmicos locais ou de origem secundária podem
e submarinos, e atividades humanas como explosões ser também provocados por, entre outras causas, des-
decorrentes de testes nucleares. lizamento de solo, colapso de cavernas e outras causas
de subsidência abrupta do solo. Os sismos induzidos
Caracterização pela ação do Homem associam-se principalmente com
a acomodação de camadas de solos e rochas provoca-
Os terremotos estão relacionados com o tectonismo, das pela construção de barragens e represamento de
e secundariamente associados a erupções vulcânicas. água; a injeção de água através de poços profundos e
Tectonismo é qualquer processo geológico em que se as explosões induzidas na mineração.

Figura 21. TIPOS DE MOVIMENTOS EXISTENTES EM BORDAS DE PLACAS TECTÔNICAS.


PLACA PLACA PLACA
PLACA

ATENOSFERA
ATENOSFERA

MOVIMENTO TRANSFORMANTE
MOVIMENTO DIVERGENTE
PLACA PLACA

ATENOSFERA

MOVIMENTO CONVERGENTE

Fonte: Adaptado da CPRM( http://www.cprm.gov.br/publique/media/gestao_territorial/geoparques/aparados/imagens/p_02_placas.jpg).


Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Os abalos sísmicos propagam-se através de três Ocorrência


tipos de ondas, que são registradas por sismógra-
fos. O registro gráfico das oscilações é denominado O Hipocentro do terremoto, local ou região onde se ori-
­s ismograma. gina o movimento sísmico, pode ser superficial ou pro-
fundo, sendo mais conveniente identificar o local do
A magnitude de um terremoto mede a energia libera- terremoto pelo epicentro, ponto da superfície terrestre
da no foco ou ponto dentro da Terra de onde provém o diretamente acima do foco de um terremoto. Os sismos
movimento que causa o sismo. A escala de magnitude brasileiros normalmente têm hipocentros superficializa-
mais conhecida é a de Richter (sismos mais leves, valo- dos, à exceção do Acre, onde os sismos apresentam hi-
res próximos a zero, e sismos maiores próximos a 8,9). pocentros extremamente profundos (cerca de 500 km).
A intensidade é o grau dos efeitos destrutivos no lo-
cal onde se avalia. A intensidade de um terremoto de- Os sismógrafos registram numerosos abalos sísmicos.
pende da interação dos seguintes fatores: magnitude Desses, poucos são suficientemente intensos para se-
do abalo sísmico;
distância entre o epicentro e a área rem percebidos pelo Homem.
considerada;
 profundidade do hipocentro; caracterís-
ticas geológicas da área considerada; e qualidade das A atividade sísmica é mais intensa nas bordas das
construções. A escala de intensidade mais conhecida é placas e menor em seu interior. Por esse motivo, essa
a modificada de Mercalli (Quadro 3). atividade no Brasil, localizado no interior da placa

Quadro 3. ESCALA DE INTENSIDADE DE UM TERREMOTO – MERCALLI MODIFICADA (ABREVIADA).

CATEGORIA DESCRIÇÃO

I Não sentido.
II Sentido por pessoas em repouso ou em andares superiores.
III Objetos pendurados são balançados levemente.
Vibração semelhante à originada pela passagem de caminhões pesados.
IV
Janelas e louças chacoalham. Carros parados são balançados.
Sentido fora de casa. As pessoas são acordadas. Objetos pequenos e quadros
V
são tombados e movimentados.
Sentido por todos. Deslocamento de mobília. Danos provocados por louça e
VI
vidros quebrados, e queda de mercadorias. Reboco apresenta rachaduras.
Percebido por motoristas. Dificuldade das pessoas em manter-se em pé.
Sinos tocam sem ajuda. Danos provocados pela quebra de chaminés e
VII
ornamentos arquitetônicos, queda e rachaduras de reboco, quebra de
mobília. Casas de adobe tombadas.
Pessoas dirigindo automóveis são perturbadas. Galhos e troncos quebrados.
Rachaduras em solo molhado. Destruição de torres d’ água elevadas,
VIII
monumentos, casas de adobe. Danos severos a moderados em estruturas de
tijolo, casas de madeira, obras de irrigação e diques.
Solo visivelmente rachado. Desabamentos. Destruição: alvenaria de
tijolo não armado. Danos severos a moderados: estruturas inadequadas
de concreto armado, tubulações subterrâneas. Desabamentos e solos
IX
rachados muito espalhados. Destruição: pontes, túneis, algumas estruturas
de concreto armado. Danos severos a moderados: maioria das alvenarias,
barragens, estradas de ferro.
Algumas estruturas de madeira bem construídas são destruídas; a maior
X parte das construções tradicionais e das estruturas ordinárias é destruída; os
deslizamentos são comuns.
XI Distúrbios permanentes no solo.
XII Danos quase totais.
Fonte: BRASIL. Manual de Desastres Humanos: Parte I - De Natureza Tecnológica. Brasília:
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2003. Disponível em: http://www.mi.gov.br/c/docu-
ment_library/get_file?uuid=879047d7-789e-4a7c-ae24-a81beb48aecc&groupId=10157.
| 41

tectônica “sul-americana”32, não é muito alta compa- Figura 23. PROPORÇÃO DE SISMOS ORIGINADOS NO BRASIL,
rada com outros países e regiões (Figura 22). POR ESTADO, ENTRE 2008 E 2012.

Segundo dados do Observatório Sismológico Nacional


% do TOTAL
da Universidade de Brasília (http://www.obsis.unb.
br/), de novembro de 2008 a agosto de 2016, tem-se

0
00

,0

,0

,0

,0
registrado o total de 696 sismos distribuídos na maio-

10

20

30

40
0,
ria dos estados do Brasil. No entanto, a maior ocorrên- AC

cia concentra-se nos Estados de Minas Gerais (38% AL

das ocorrências), Goiás (10%) e Bahia (9%) (Figura 23). AP

AM
As maiores intensidades destes sismos, entre 6 e 7 na BA

escala Mercalli, aconteceram em três oportunidades, CE

todas elas no Estado do Acre. DF

ES

GO

Além das condições neotectônicas presentes no MA

Brasil, muitos dos registros, impactos e percepções MS

da população decorrem de tremores de terra que MT

MG
acontecem na zona andina de América do Sul, par- ESTADOS PA

ticularmente na Bolívia e no Peru (http://www.iag. PB

usp.br/siae98/sismologia/sismologia.htm) em de- PR

corrência do cavalgamento da placa de Nazca pela


PE

PI
placa Sul-Americana. RJ

RN

RS
32
Esta placa tem uma área de aproximadamente 32 milhões de qui- RO
lômetros quadrados e compreende:
- toda a América do Sul e parte RR

do piso do Atlântico Sul. Em função do crescimento da Dorsal me- SC

soatlântica, esta placa tectônica vem se deslocando para oeste, há SP

aproximadamente 200 milhões de anos. SE

Na costa oeste da América do Sul (litoral Pacífico), esta placa entra TO

em contato com a placa de Nazca, que desloca-se em direção leste.


A tensão nesta área é responsável pelo surgimento da Cordilheira
dos Andes. Fonte: Observatório Sismológico Nacional (http://
www.obsis.unb.br/).

Figura 22. LOCALIZAÇÃO DO BRASIL NO INTERIOR DA PLACA TECTÔNICA SUL-AMERICANA.

PLACA
NORTE-AMERICANA
PLACA NORTE-AMERICANA

PLACA EUROASIÁTICA

PLACA
JUAN
DE FUCA

PLACA DAS PLACA PLACA DAS


CARAÍBAS ARÁBICA PLACA FILIPINAS PLACA DO
INDIANA PACÍFICO
PLACA DE COCOS
PLACA
AFRICANA
PLACA DO PLACA DE
PACÍFICO NAZCA PLACA
PLACA AUSTRALIANA
SUL-AMERICANA
PLACA
ANTÁRTICA

Fonte: Adaptado de CPRM (http://www.cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais).


Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Apesar dos numerosos eventos de sismicidade no Bra- os equipamentos, os serviços básicos e o mobiliário.
sil, Segundo registros referentes a reconhecimentos de Importa destacar que, muitas vezes, os serviços de saú-
situações de emergência e estados de calamidade pú- de, pela perda de função, se interrompem justamente
blica no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov. quando há maior demanda por parte da população.
br/), os desastres originados em fenômenos de tremor Escassez de alimentos pode haver, devido a dificulda-
de terra concentram-se no Estado de Minas Gerais. des no acesso às regiões afetadas, danos nas áreas de
armazenagem, assim como perda de produtos agrope-
Impactos cuários, em caso de tsunamis. Segundo a magnitude do
evento, a população afetada tende a permanecer perto
Uma variedade de impactos está associada aos terre- de suas casas ou pertences, contudo grande número
motos, sendo mais fortes nas áreas localizadas pró- de pessoas é desabrigado temporariamente.
ximas ao epicentro. As réplicas são, em geral, menos
violentas que o tremor principal, mas podem ser sufi-
cientemente fortes para provocar danos nas estruturas
já debilitadas. Outros Dados e Informações:

O movimento do solo raramente origina diretamente 1. REDE SISMOGRÁFICA BRASILEIRA – REDE


mortes ou lesões. DE ESTUDOS GEOTECTÔNICOS PETROBRAS
–UNIVERSIDADES.
A maioria dos impactos relacionados com terremotos, http://www.rsbr.gov.br/index.html
particularmente em áreas urbanas populosas, decor- 2. UNB – UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – INS-
rem da rapidez e da violência do impacto, dos danos e TITUTO DE GEOCIÊNCIAS – OBSERVATÓRIO
colapsos em edificações (paredes, pisos, vidros) e na SISMOLÓGICO.
infraestrutura, assim como da queda de objetos. Como http://www.obsis.unb.br/
efeitos indiretos, os incêndios são comuns e podem
interromper o abastecimento de gás e luz. Os impac-
tos à população podem se agravar em decorrência das
dificuldades instaladas para o combate aos incêndios, 1.2.2. Emanações Vulcânicas
tais como eventuais interrupções de vias de acesso e
destruição de tubulação de água. Os danos em reserva- Definição
tórios ou represas podem ensejar inundações súbitas.
O vulcanismo é o conjunto de complexos processos
A principal fonte de impactos dos tsunamis é a ação naturais que se desenvolvem no interior da Terra, res-
direta das ondas sobre as estruturas costeiras (portos, ponsáveis pela efusão do material magmático33 para a
praias habitadas) e embarcações ancoradas próximas superfície. As emanações vulcânicas são os produtos/
ao litoral. No entanto, uma variedade de mecanismos materiais vulcânicos lançados na atmosfera a partir de
indiretos podem causar mais danos à população. A flo- erupções vulcânicas.
tação e o arraste podem mover casas, maquinaria e car-
ros; escombros e restos de árvores, carros e partes de O material magmático é um material rochoso em fu-
estruturas destruídas podem virar projéteis; correntes são originada em profundidade que ascende na cros-
fortes podem erodir fundações induzindo ao colapso ta terrestre e que, ao resfriar, se solidifica como ro-
de edificações, pontes e muros de arrimo; e incêndios cha magmática. O magma pode conter fase gasosa e
podem resultar da combustão de óleos derramados em seu deslocamento incorporar fragmentos sólidos
pelo dano em barcos e locais de armazenamento. Cabe de material das paredes de dutos por onde passa. Ao
mencionar que o alcance das ondas do tsunami é de- extravasar na superfície da Terra, o magma chama-
terminado por marcas de água em edificações, locali- -se lava.
zação de resíduos e areia transportados e depositados
pela água, altura de árvores danificadas ou mortas por Caracterização
água salgada, bem como pela altura dos danos em pré-
dios danificados por objetos transportados. O vulcanismo está estreitamente ligado aos grandes
movimentos tectônicos e ocorre em áreas instáveis,
Os principais impactos sobre a saúde da população es- onde as forças de deformação provocam fraturas e
tão associados a politraumatismos, feridas, queimadu- superficialização de câmaras magmáticas. Quando
ras, intoxicações e sequelas de saúde mental. No caso o volume de magma no interior do bolsão ultrapassa
de tsunamis, pode haver afogados em decorrência das os limites de coesão das rochas sobrejacentes, ocor-
inundações costeiras. Os danos relativos à saúde afe- rem soluções de continuidade, permitindo as erup-
tam, além de sua infraestrutura, os recursos humanos, ções vulcânicas.

33
CPRM Glossário – http://sigep.cprm.gov.br/glossario/verbete/magma.htm
| 43

O caráter de uma erupção (rápido ou prolongado; vio- • Fluxos piroclásticos: Nuvens de cinzas silicosas e
lento ou pouco intenso; súbito ou de evolução gradual), gases superaquecidos, formando um aerossol den-
variável no espaço e no tempo, depende essencialmen- so e incandescente, que tendem a se deslocar late-
te das características físicas do magma (temperatura, ralmente e relevo abaixo a grande velocidade como
viscosidade), da sua composição química, das tensões um derrame. A solidificação deste material resulta
internas provocadas pelo acúmulo dos gases, e do es- em rochas ignimbríticas. Os fragmentos piroclásti-
tado de obstrução ou de permeabilidade das áreas de cos são classificados, pelo tamanho, em cinzas (<2
extravasamento (chaminés, fissuras). mm de diâmetro), lapili (até 64 mm de diâmetro) e
bombas ou blocos (> 64 mm de diâmetro).
Estas características implicam na emissão de mate- • Chuva de cinzas, que podem alcançar vários qui-
riais sólidos; líquidos (lavas em fusão) e gasosos (ga- lômetros ao redor: as cinzas se acumulam em es-
ses meteoríticos e rejuvenescidos). Os materiais sóli- pessas camadas nos solos e tetos de construções.
dos podem ser classificados, entre outros, como:
Ocorrência
• Fluxos de lava: Material lávico que se desliza
pelas vertentes do vulcão percorrendo distân- O Brasil não possui nenhum vulcão ativo, mesmo em
cias variáveis, com grande poder de destruição tempos geologicamente recentes. O vulcanismo mais
(temperatura muito alta). Por vezes os fluxos recente, há mais de 80 milhões de anos, foi o responsá-
ocupam os vales formados pelas drenagens vel pela formação de diversas ilhas do Atlântico brasi-
fluviais. As lavas básicas, por terem menos silí- leiro, como Fernando de Noronha, Trindade e Abrolhos.
cio, são mais fluidas e, normalmente, provocam Não entanto, as cinzas de silício de erupções de vulcões
erupções efusivas. As ácidas, com fortes con- na cordilheira dos Andes (entre Chile e Argentina), pro-
centrações de silício, são menos fluidas, me- jetadas a grandes alturas, podem ser transportadas a
lhores condutoras de calor e tendem a provocar milhares de quilômetros pelas correntes aéreas, e pro-
erupções explosivas. vocaram deposições no Rio Grande do Sul.

Figura 24. REPORTAGEM SOBRE A CHEGADA DAS CINZAS VULCÂNICAS


DO VULCÃO CALBUCO (CHILE) AO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Fonte G1 (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noti-
cia/2015/04/cinzas-chegam-porto-alegre-e-voos-sao-can-
celados-no-salgado-filho.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Não há registros referentes a reconhecimentos de si-


tuações de emergência e estados de calamidade pú- Os relevos com encostas são classificados em:
blica no Brasil, entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov.
br/), associados a desastres originados em fenômenos • morros (amplitude variável entre 100 e
de vulcanismo. 300m, com declividades superiores a 15%);
• montanhas (amplitude superior a 300m,
Impactos com declividade superior a 15%);
• escarpas (amplitude superior a 100m e de-
Os impactos humanos e materiais dos desastres asso- clividades superiores a 30%).
ciados a processos de emanações vulcânicas depen-
dem do tipo e intensidade da emanação vulcânica e do
grau de surpresa da mesma.
bientais, como a geologia, a configuração geométrica
A proximidade ou contato com material vulcânico pro- do relevo, a textura e estrutura do solo, os aspectos cli-
voca danos no correto funcionamento de equipamen- máticos e hidrológicos, e a cobertura vegetal.
tos eletrônicos, propriedades, infraestrutura e saú-
de humana. Particularmente no contexto brasileiro, Os movimentos gravitacionais são frequentemente
cinzas vulcânicas acumuladas geram dificuldades no deflagrados por uma atividade ou ocorrência extraor-
desenvolvimento de atividades ao ar livre, colapso de dinária, tais como abalos sísmicos, modificações das
tetos em função de peso extra (efeito que se agrava se encostas (cortes para a construção de uma estrada ou
existem chuvas simultâneas) e graves enfermidades de edificações; erosão fluvial no sopé da vertente) e
respiratórias, dérmicas e oftálmicas. Indiretamente, mudanças nas características hidrológicas de uma re-
as cinzas podem provocar alterações nas propriedades gião, incluído os efeitos de uma prolongada ou excep-
das águas. Dependendo dos ventos, podem existir im- cional precipitação.
pactos nos procedimentos de aterrissagem e decola-
gem de voos aéreos. O expressivo número de acidentes associados a mo-
vimentos de massa nas encostas urbanas tem como
principal causa a ação do homem relativa às formas
de uso e ocupação do solo. Estas ações desordena-
Outros Dados e Informações: das, através da inclusão de maiores volumes de líqui-
dos nos materiais (lançamento concentrado de águas
USGS – SERVIÇO GEOLÓGICO DOS ESTADOS UNIDOS servidas e pluviais; o vazamento nas redes de abaste-
Volcano Hazards Program cimento d’água; infiltrações de águas de fossas sani-
http://volcanoes.usgs.gov/index.html tárias), de mudanças na geometria das encostas (cor-
tes nas encostas realizados com declividade e altura
excessivas), da disposição de maior quantidade de
material com potencial de movimentação (execução
1.2.3. Movimentos de Massa inadequada de aterros; deposição inadequada do lixo)
e da remoção descontrolada da cobertura vegetal,
Definição são importantes agentes modificadores da dinâmica
natural do relevo e, por conseguinte, da estabilidade
A gravidade cumpre uma importante função nos das vertentes.
processos geológicos da dinâmica externa, prefe-
rencialmente nos desastres relacionados com a ati- Os movimentos de massa podem ser de diversos
vidade de encostas e de relevos de morros, monta- tipos, pois envolvem uma variedade de materiais
nhas e escarpas. transportados, quantidade de água ou ar existen-
te no material envolvido, declividade da encosta, e
O movimento de massa consiste em um processo na- tipo e velocidade da movimentação. Os três critérios
tural que atua nas vertentes, associado à descida de mais utilizados para descrever os diversos movimen-
solos e rochas (acompanhado por vegetação, detritos) tos de massa estão associados à (i) natureza do ma-
sob o efeito direto da gravidade, geralmente poten- terial mobilizado, (ii) aos mecanismos de movimen-
cializado pela ação da água. A ação da água reduz a tação e (iii) à velocidade do movimento. Destaca-se
resistência dos materiais e induz ao comportamento que geralmente estes critérios, assim como outros
plástico e fluido dos solos. mais específicos ou particulares, são utilizados de
modo conjugado.
Caracterização
Considerando os mecanismos específicos e os diferen-
A ocorrência dos movimentos de massa, além da ação tes materiais envolvidos, os movimentos gravitacio-
da gravidade, é influenciada por vários fatores am- nais de massa podem ser classificados em:
| 45

• Quedas, Tombamentos, e Rolamentos; vos que desestabilizam a base sobre a qual o matacão
• Deslizamentos/Escorregamentos; se assenta. O fenômeno pode ser acelerado ou desen-
• Fluxo de Detritos e Lama; cadeado pela perda de sustentação dos blocos por
• Subsidência e Colapsos. ação erosiva da água, sismicidade ou ações antrópicas
(detonações ou escavações em função de ocupação
Destaca-se que os movimentos gravitacionais de mas- desordenada das encostas, ou a existência de blocos
sa podem ocorrer de forma isolada no tempo e no es- instáveis remanescentes de processos de exploração
paço, ou generalizada, simultaneamente com outros de pedreiras) (Figura 25).
movimentos (blocos tombados associados à saltação,
rolamento e fragmentação; escorregamentos seme- Os Deslizamentos ou Escorregamentos são movimen-
lhantes ocorrendo episodicamente, ou dando lugar à tos de massa, lentos a moderadamente rápidos, de
ocorrência de outros movimentos de massa com outras solo, bloco rochosos e rocha, sob a ação da gravida-
características, quando associados com maior quanti- de, que ocorrem ao longo de encostas em superfícies
dade de água). de ruptura, nitidamente definida por limites laterais e
profundos. Os fatores naturais considerados para que
As Quedas são movimentos rápidos (>10s m/s) em ocorram escorregamentos são:
queda livre de fragmentos rochosos diversos e de vo-
lumes variáveis (Lascas, Lajes) que se desprendem de (i) o tipo de material, sua constituição, granulo-
penhascos e taludes íngremes, quase verticais, pela metria e nível de coesão;
ação da gravidade e com ausência de superfície de mo- (ii) a declividade da encosta, cujo grau define o
vimentação ou plano de deslocamento. ângulo de repouso (aonde a força gravitacional
vence o atrito interno das partículas, respon-
Os Tombamentos de blocos, semelhantes às Quedas, sável pela estabilidade na encosta) e a veloci-
são movimento de massa rápidos fundamentados na dade do movimento;
ação da gravidade, em que ocorre a rotação de um blo- (iii) a água de embebição, que contribui para au-
co de rocha em torno de um ponto ou abaixo do centro mentar o peso específico das camadas, reduzir
de gravidade da massa desprendida. o nível de coesão e o atrito entre as partículas do
solo, e lubrificar as superfícies de deslizamento.
As Quedas e os Tombamentos são favorecidos por fra-
turas de sentido transversal ou vertical paralelo ao Neste sentido, os escorregamentos em geral ocorrem
plano do talude e pelo desenvolvimento de mecanis- durante ou logo após períodos de chuvas intensas.
mos de pressão, através do acúmulo de água e vegeta-
ção nas gretas (Figura 25 e Figura 26). O deslizamento “translacional”, o mais frequente entre
todos os tipos de movimentos de massa, ocorre em uma
Os Rolamentos são movimentos de massa, lentos e/ou superfície relativamente plana e associada a solos ou
rápidos, de matacões encosta abaixo provocados pela manto raso de rochas alteradas. As superfícies de rup-
perda de apoio, principalmente por fenômenos erosi- tura estão associadas às heterogeneidades ou planos
de fraqueza dos solos (horizontes) e rochas (estratifica-
ção, xistosidade, gnaissificação, acamamento, falhas,
juntas de alívio de tensões e outras) que representam
LASCAS – são fatias delgadas formadas pelos frag- descontinuidades mecânicas e/ou hidrológicas. Ocor-
mentos de rochas. rem em encostas tanto de alta como de baixa declivida-
LAJES – são fragmentos de rochas extensas de su- de e podem atingir centenas ou até milhares de metros.
perfície mais ou menos plana e de pouca espessura.
O deslizamento “rotacional” ocorre quando a superfí-
cie de ruptura é curvada no sentido superior (em for-
ma de colher) com movimento rotatório em materiais
Figura 25. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA – superficiais homogêneos34. Os deslizamentos apresen-
QUEDA, TOMBAMENTO E ROLAMENTO. tam velocidade elevada e grande poder de destruição
(Figura 27 e Figura 28).
QUEDA TOMBAMENTO ROLAMENTO

Os Fluxos de Lama e Detritos ou Corridas de Massa


são movimentos de grandes volumes de massa de ve-
locidade média a alta e desencadeados por um intenso
fluxo de água na superfície, normalmente em decor-
rência de chuvas intensas e sustentadas, atingindo
índices excepcionais. Estes grandes volumes de água
Fonte: SEDEC/MI.
34
CHRISTOFOLLETI (1982).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 26. NOTÍCIA DE QUEDA DE BLOCO DE ROCHA NO MORRO DE BOA VISTA


(VILA VELHA, ESPÍRITO SANTO).

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo (http://brasil.estadao.com.br/


noticias/geral,documento-apontava-riscos-de-queda-de-pedras-
-em-morro-de-vila-velha,10000006183). Foto: Loureiro, F.

Figura 27. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA – solo, à deformação de material argiloso, ou ao colapso
DESLIZAMENTOS ROTACIONAL E TRANSLACIONAL. dos tetos de cavidades. A subsidência e o colapso podem
ser fenômenos localizados ou de extensão regional.
DESLIZAMENTO TRANSLACIONAL DESLIZAMENTO ROTACIONAL

A subsidência (adensamento ou recalque) é o processo


caracterizado pelo afundamento da superfície de um
terreno em relação às áreas circunvizinhas, associado à
diminuição geralmente lenta de volume dos solos, sob a
SUPERFÍCIE DE RUPTURA
ação de cargas aplicadas, com expulsão da água do in-
terior dos vazios (poros) dos solos saturados. A evolução
do processo e o grau de subsidência dependem das pe-
Fonte: SEDEC/MI. culiaridades geotécnicas de cada solo (permeabilidade)
e da intensidade de carregamento. A subsidência geral-
mente tende a cessar ou estabilizar-se após certo perío-
liquefazem (perda de atrito interno das partículas) o do de tempo mais ou menos prolongado, o que também
material superficial (solo, rochas, detritos) que escoa depende das propriedades geotécnicas dos solos.
encosta abaixo, a grande maioria das vezes ao longo
das drenagens já existentes, transformando-o em um O Recalque diferencial é a diferença entre os recal-
material de alta densidade e viscoso, composto por ques de dois elementos de fundação. A possibilidade
lama e detritos rochosos. Esse tipo de movimento de de ocorrência de recalques diferenciais excessivos as-
massa se caracteriza por atingir grandes distâncias socia-se à presença de solos argilosos moles – “solos
com extrema rapidez, mesmo em áreas pouco inclina-
das, com consequências destrutivas35 (Figura 29).

Os processos de subsidência e colapsos também são Permeabilidade – A propriedade de uma rocha, ou


movimentos de massa, gravitacionais, essencialmente qualquer outro material, de permitir a passagem de
verticais, sem o requisito de transporte lateral nem a água ou outro fluido através dela, sem deformação
presencia de água. São caracterizados por afundamen- estrutural nem deslocamento relativo.
to do terreno, rápido e instantâneo, ou gradual, lento e Fonte: IBGE, 1999. Glossário Geológico. Departa-
quase imperceptível, devido à redução da porosidade do mento de recursos naturais e estudos ambientais,
Rio de Janeiro, 214 pp.
35
TOMINAGA (2009).
| 47

Figura 28. EXEMPLOS DE DESLIZAMENTOS ROTACIONAL E TRANSLACIONAL.

Figura 28.1. DESLIZAMENTO ROTACIONAL Figura 28.2. DESLIZAMENTO TRANSLACIONAL


NO RIO SOLIMÕES EM 2012. EM SALVADOR (MAIO DE 2015).

Fonte: CPRM (http://www.cprm.gov.br/publique/Noticias/CPRM-


-faz-estudo-das-terras-caidas-na-bacia-hidrografica-do-rio-Solimo-
es-2323.html?tpl=printerview)

compressíveis”, que não apresentam resistência sufi-


ciente para suportar as cargas provenientes das edifi-
cações, transmitidas ao terreno por meio dos elementos
estruturais de fundação e, consequentemente, levam
ao comprometimento estrutural da edificação.

Os colapsos de solos são recalques repentinos e de gran- Fonte: Portal G1 Notícias – Bahia (http://g1.globo.com/bahia/noticia/).
des proporções que ocorrem em solos denominados “co-
lapsíveis” submetidos a um determinado tipo de carre-
gamento e umedecidos e/ou saturados por infiltração de
água de chuva, vazamentos em rede de água e de esgoto, Índice de Resistência à Penetração
ou ascensão do lençol freático. Os solos colapsíveis, com
baixo Índice de Resistência à Penetração, são represen- O Índice de Resistência à Penetração Dinâmica é
tados por alúvios, colúvios e solos residuais submetidos extremamente útil na previsão de comportamen-
à intensa lixiviação, que produz estruturas porosas. to de solo, quando da solicitação por obras de en-
genharia civil. Corresponde ao número de golpes
A subsidência e o colapso em terrenos cársticos são necessário à cravação de um amostrador em 300
também afundamentos da superfície devido à remoção mm, após a cravação inicial de 150 mm através de
do suporte, causado em áreas cársticas pela dissolução impacto de um peso de 650N, com queda “livre” de
subterrânea ou colapso do teto de cavernas36 (Figura 30). 750 mm (norma NBR6484 da Associação Brasileira
de Normas Técnicas).
O carste é um terreno com hidrologia e formas de rele-
vo distintas e surge da combinação da alta solubilida-
de de certas rochas, como as carbonáticas (calcários,
dolomitas, mármores, sais minerais, gesso), e o grande relevo. O processo de dissolução da rocha ocorre, prin-
desenvolvimento de porosidade na forma de condu- cipalmente, devido à presença de ácido carbônico na
tos ou de zonas de debilidade entre e dentro das ro- água das chuvas e na água que atravessa os solos.
chas (contatos entre rochas, fraturas, falhas, planos
entre camadas de rochas sedimentares). A formação O carste pode ocorrer exposto, quando as rochas en-
do carste depende também de água e de desnível do contram-se aflorando na superfície e as feições cárs-
ticas são mais evidentes, assim como abaixo de rochas
36
EPA (2002). de baixa solubilidade, solos ou depósitos superficiais.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 29. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA Figura 30. MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS DE MASSA
– FLUXO DE DETRITOS. – SUBSIDÊNCIA E COLAPSO.

Fonte: SEDEC/MI. Fonte: SEDEC/MI.

Neste último caso, a ocorrência de desastres associa- No entanto, movimentos, particularmente deslizamen-
dos a subsidências e colapsos pode ser até maior, já que tos, vêm ocorrendo com frequência em encostas de áreas
o processo de carstificação pode ocorrer sem o conhe- urbanas, desmatadas ou usadas em decorrência de uma
cimento da própria existência de rochas carbonáticas a expansão desordenada da ocupação de áreas susceptí-
grandes profundidades. veis, principalmente pela população mais carente37.

O carste distingue-se por algumas feições caracte- A Serra do Mar, os Estados de Santa Catarina, Para-
rísticas, dentre elas as dolinas (depressões) e su- ná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito
midouros a céu aberto que ocorrem na superfície; Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba
condutos e cavernas, em subsuperfície e drenagem são os mais afetados pelos movimentos gravitacionais
superficial interrompida. de massa, que transportam principalmente materiais
alterados e terrosos, mas envolvem também blocos ro-
A subsidência em terrenos cársticos pode ocorrer de chosos mais ou menos alterados.
forma gradual ou de forma brusca e repentina. As doli-
nas de colapso são mais abruptas, enquanto as de sub- Segundo registros referentes a reconhecimentos de
sidência tendem a ser mais suaves. As dolinas decor- situações de emergência e estados de calamidade pú-
rem do abatimento do teto de cavernas. blica no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov.
br/), os desastres originados em fenômenos de desli-
As condições e mecanismos de subsidência e colapso de zamento de solo e rocha, queda e tombamento de ma-
solos resultam de processos naturais. No entanto, pro- tacões e fluxo de detritos ocorrem em quase todo o
cessos de subsidência e colapso podem também estar território nacional, mas concentram-se nos Estados de
vinculados a uma exploração intensa dos recursos mine- Minas Gerais (34,8% das ocorrências), Rio de Janeiro
rários do subsolo (desmonte de rochas com a utilização (29,3%) e São Paulo (11,9%) (Figura 31).
de explosivos; remoção de material sólido subterrâneo),
assim como a extração de fluidos subterrâneos (óleo, Os solos colapsíveis encontram-se em diversas por-
gás natural, vapores e águas termais). Uma das mais ções do território brasileiro, particularmente nas
importantes formas de exacerbação ou aceleração pela regiões tropicais, principalmente em locais onde se
ação humana dos processos de subsidência e colapso no alternam estações de seca e de precipitações inten-
Brasil está associada à alteração no nível d’água subter- sas38. Os terrenos cársticos se desenvolvem melhor em
rânea. O rebaixamento do nível d’água (bombeamento regiões úmidas temperadas ou tropicais, onde exista
em poços ou nascentes para utilização da água ou para um subsolo espesso e espacialmente bem expandido
realizar atividades que envolvam escavação) ocasiona a de rochas solúveis. A subsidência e colapso ocorrem
diminuição da sustentação, a elevação do nível d’água, em todas as áreas cársticas no Brasil (Figura 32), porém
como no caso de reservatórios e barragens, e altera os existem poucos registros de impacto sobre as pessoas,
regimes de fluxo da água subterrânea. edificações e atividades socioeconômicas (Quadro 4).

Ocorrência Impactos

O Brasil é considerado muito susceptível aos movimen- Os impactos diretos dos movimentos gravitacionais
tos de massa. Considerando que o principal condicionan- em termos de perdas de vida, traumatismos, proble-
te é a gravidade, não existe área imune a movimentos de mas respiratórios e danos a propriedades estão muito
massa, podendo ocorrer em áreas rurais ou em áreas
urbanas densamente ocupadas, particularmente as- 37
ROSA FILHO (2012) e ROSS (2001).
sociadas a épocas de chuvas intensas e c­ oncentradas. 38
VILAR et al. (1981).
| 49

Figura 31. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE)


E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP), ORIGINADOS EM DESLIZAMENTOS DE SOLO E ROCHAS,
QUEDA E TOMBAMENTO DE MATACÕES, E FLUXO DE DETRITOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

40,00
35,00
30,00
25,00
% do TOTAL

20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/).

Figura 32. MAPA DE REGIÕES CÁRSTICAS DO BRASIL.

Fonte: ICM-BIO (http://www.icmbio.gov.br/cecav/projetos-e-atividades/provincias-espe-


leologicas.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Quadro 4. HISTÓRICO DE OCORRÊNCIAS DE AFUNDAMENTOS hospitais e centros de saúde, estação de energia e li-
EM ÁREAS CÁRSTICAS NO BRASIL. nhas de comunicação e transporte) situados na traje-
tória do movimento, os quais podem ficar destruídos
Ano Local Estado ou danificados gravemente. Outros efeitos indiretos
incluem a perda de valor das propriedades, a perda de
1981 Mairinque cultivos e de gado.
São Paulo
1986 Cajamar
As mudanças na superfície terrestre podem afetar a
1988 Sete Lagoas Minas Gerais
vida das pessoas e ocasionar situações de risco nestas
1992 Almirante Tamandaré Paraná áreas. A subsidência e o colapso lentos e graduais po-
1999 Teresina Piauí dem produzir o deslocamento vertical descendente de
elementos de fundação, particularmente das rasas, de
Almirante Tamandaré edificações e residências. Dependendo da magnitude
2007 Paraná
Bocaiuva do Sul do rebaixamento e das características da edificação,
ocasionam-se apreciáveis trincas e fissuras nas alve-
Fonte: SANTOS, 2008.
narias das construções, que podem causar sérios da-
nos e comprometimento estrutural nas edificações e
sua posterior interdição. Indiretamente impactam os
associados ao tipo de movimento gravitacional, mas moradores e usuários destas edificações, e também
quase todos são muito grandes e devastadores. Os es- algumas edificações vizinhas a elas. A interdição tem-
corregamentos são os responsáveis por maior núme- porária ou permanente das edificações provoca trans-
ro de vítimas fatais no Brasil, sendo que entre 1998 tornos sociais (saída temporária da residência) e eco-
e 2008, o IPT registrou 1.776 óbitos39. Destaca-se que nômicos (as reparações de alto valor econômico por
existe uma tendência de redução destes valores (Fi- vezes são incompatíveis com a capacidade financeira
gura 33). Pessoas, infraestruturas, propriedades, mo- dos indivíduos que sofreram os danos). Infraestruturas
biliários e atividades socioeconômicas que se encon- subterrâneas (dutos) também podem ser afetadas.
tram na zona de passo ou de influência são afetados.
A população afetada pode ser realocada, inclusive de Em caso de subsidência e colapso em terrenos cársti-
forma definitiva. cos, os impactos são semelhantes, mas a velocidade
dos acontecimentos pode mudar – ruas e casas des-
Os impactos indiretos acontecem nos sistemas essen- truídas total ou parcialmente, aumento da susceptibi-
ciais para a sobrevivência (abastecimento de água, lidade a alagamento na época de chuvas.

39
IPT (2009).

Figura 33. DISTRIBUIÇÃO ANUAL DE MORTES POR ESCORREGAMENTO NO BRASIL ENTRE 1988 E 2008.

300

250

200
NÚMERO

150

100

50

0
1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

ANOS

Fonte: IPT, 2009.


| 51

tantes da desagregação das rochas e de restos de ani-


Outros Dados e Informações: mais marinhos).

1. CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Caracterização


Minerais /Serviço Geológico do Brasil
• Mapa de Declividade em Percentual do A erosão costeira, com a diminuição paulatina da largu-
Relevo Brasileiro ra da praia e a retração da linha de costa, é fundamen-
http://www.cprm.gov.br/publique/Ges- talmente resultado de um equilíbrio sedimentar negati-
tao-Territorial/Geodiversidade/Mapa-de- vo (mais saída que entrada de sedimentos) no sistema
-Declividade-em-Percentual-do-Relevo- praial decorrente de diversos processos e fenômenos de
-Brasileiro-3497.html origem natural e antrópica, que atuam em ampla varia-
• Mapa Geodiversidade do Brasil – ção de escala temporal. Pela sua interação no mesmo
1:2.500.000 local e tempo, é difícil identificar quais são aqueles mais
http://www.cprm.gov.br/publique/Ges- ativos ou mesmo individualizar a atuação de cada um.
tao-Territorial/Geodiversidade-162
• Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Do ponto de vista natural, o balanço sedimentar negati-
Gravitacionais de Massa e Inundações vo na costa é condicionado por uma diversidade de fato-
ht tp://w w w.cprm.gov.br/publique/ res associados com as dimensões marinha, continental
Gestao-Territorial/Geologia-de-Enge- e atmosférica. A erosão costeira relaciona-se com as
nharia-e-Riscos-Geologicos/Car tas- características geológicas do relevo litorâneo, a inten-
-de-Suscetibilidade-a-Movimentos-Gravita- sidade e sentido da circulação das correntes marinhas
cionais-de-Massa-e-Inundacoes-3507.html locais e das ondas, a morfodinâmica das praias, o aporte
• Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbani- sedimentar ineficiente ou a ausência de fontes de areias,
zação Frente aos Desastres Naturais as irregularidades na linha de costa que dispersam cor-
ht tp://w w w.cprm.gov.br/publique/ rentes e sedimentos, a intensidade, duração e sentido
Gestao-Territorial/Geologia-de-Enge- dos ventos dominantes na região, a intensidade e altura
nharia-e-Riscos-Geologicos/Car tas- das marés, a presença de amplas zonas de transporte
-Geotecnicas-de-Aptidao-a-Urbanizacao- ou trânsito de sedimentos que contribuem para a não
-Frente-aos-Desastres-Naturais-4144.html permanência dos sedimentos na praia, as armadilhas
de sedimentos e obstáculos fora da praia, a elevação do
nível do mar de curto e longo prazo e os fatores de sub-
sidência e soerguimento da planície costeira.
1.2.4. Erosão
A erosão é o processo de desagregação e remoção de
partículas do solo ou de fragmentos e partículas de ro- Desde meados do século XIX, o ritmo do aumento
chas pela ação combinada da gravidade com a água, do nível do mar tem sido superior à média dos dois
vento, gelo e/ou organismos (plantas e animais). milênios anteriores. Entre 1901 e 2010, o nível mé-
dio global do mar se elevou 0,19 metros.
a. Erosão Costeira Marinha Fonte: PIMC (2013) - https://www.ipcc.ch

Definição

A Erosão Costeira Marinha é o processo de modelado Entre as causas antrópicas de erosão costeira que con-
destrutivo do relevo costeiro resultado da ação de ero- tribuem para alterar o equilíbrio dinâmico natural lo-
são, transporte e deposição de sedimentos pelas águas cal identificam-se: a urbanização da orla (destruição
do mar. Denomina-se “erosão praial” quando se refere de dunas, ocupação da pós-praia), implantação inade-
somente às praias, ou “erosão costeira”, quando tam- quada de estruturas para contenção/mitigação de pro-
bém atinge promontórios, costões rochosos falésias e cessos erosivos, armadilhas de sedimentos associadas
depósitos sedimentares antigos, bem como estruturas à implantação de estruturas artificiais, retirada de
construídas pelo Homem. areia de praia e de rios, desassoreamento de desem-
bocaduras e dragagens em canais de maré, urbaniza-
Os mecanismos de erosão associam-se à ação hídri- ção da planície costeira que impermeabiliza terrenos e
ca (provoca a desagregação das rochas); corrosiva muda o padrão de drenagem costeira.
(desgasta o relevo litorâneo através do atrito de frag-
mentos de rochas e de areia em suspensão); abrasi- Ocorrência
va (desgasta os fragmentos de rochas em suspensão
através do atrito dos mesmos contra as formações A erosão em uma praia se torna problemática quando
litorâneas); e corrosiva (dilui os sais solúveis resul- passa a ser um processo severo e permanente, ao longo
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

de toda essa praia ou em trechos dela, ameaçando áreas gov.br/), os desastres originados em fenômenos de
de interesse ecológico e socioeconômico40 (Figura 34). erosão marinha costeira ocorrem em quase todos os
estados litorâneos do Brasil, mas concentram-se nos
No Brasil, ao longo de todo o litoral, há predomínio de Estados de Pernambuco (38,3% das ocorrências), Espí-
processos erosivos sobre os de acreção e equilíbrio, e rito Santo (16,6%) e Alagoas (16,6%) (Figura 35).
em consequência inúmeras praias já apresentam pro-
cesso erosivo bastante severo, requerendo medidas Impactos
emergenciais de contenção e/ou recuperação41. No en-
tanto, segundo registros referentes a reconhecimentos Os impactos diretos associados à erosão costeira ou
de situações de emergência e estados de calamidade praial são a perda de ecossistemas (erosão de planícies
pública no Brasil, entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi. de marés e manguezais), modificações no relevo (redução
na largura da praia, recuo da linha de costa; desapareci-
40
SOUZA et al. (2005). mento da zona de pós-praia) e a destruição total ou par-
41
SOUZA (2009). cial de residências, edificações, e infraestruturas. Podem

Figura 34. VISTA DOS IMPACTOS NO CALÇADÃO DE MATINHOS (PARANÁ) EM DECORRÊNCIA DO AVANÇO DA EROSÃO COSTEIRA.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo, de 4 de setembro de 2010


(http://www.gazetadopovo.com.br/).

Figura 35. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO MARINHO-COSTEIRA, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

40,00

30,00
% do TOTAL

20,00

10,00

0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 53

ser identificados problemas e até colapso de sistemas de Caracterização


esgotamento sanitário com emissários no mar. Pessoas
são deslocadas e desabrigadas. Entre os impactos indi- Os processos erosivos dependem da interação de dife-
retos destacam-se a diminuição da balneabilidade das rentes mecanismos: Ação hidráulica, Corrosão, Abra-
águas costeiras por incremento da poluição e contamina- são, e Diluição.
ção de águas e sedimentos, perdas de recursos pesquei-
ros, do valor paisagístico da praia e do valor imobiliário
de habitações costeiras, comprometimento do potencial
turístico da região costeira, prejuízos nas atividades so- Ação Hidráulica – a corrente hídrica mobiliza e car-
cioeconômicas da região ligadas ao turismo e ao lazer na reia sedimentos e detritos de rochas depositados
praia, artificialização da linha de costa devido à constru- no leito do rio, até que a predominância da força de
ção de obras costeiras, gastos exorbitantes com a recupe- gravidade sobre a força de tração hídrica provoque
ração de praias e reconstrução da orla marítima. nova sedimentação.
Corrosão – fragmentos de rochas ou areias, em
b. Erosão de Margem Fluvial suspensão e em regime turbilhonar, atritam sobre
camadas rochosas das margens e dos fundos dos
Definição rios, provocando a escavação das mesmas.
Abrasão – material em trânsito nos rios é erodido,
A Erosão de Margem Fluvial (desbarrancamento, fe- formando partículas progressivamente menores,
nômeno de Terras Caídas42) é o processo erosivo que que ao atritar com as superfícies rochosas facili-
ocorre na calha dos rios, em planícies sedimentares, tam a suspensão e o transporte das partículas atra-
tanto vertical como lateralmente, contribuindo para o vés da água.
gradual aprofundamento do leito do rio e o alargamen- Diluição – a água dilui os sais solúveis liberados
to dos vales, de forma respectiva (Figura 36). das rochas em consequência da ação mecânica e os
transporta sob a forma de soluções.
42
Nome dado ao fenômeno na região Amazônica.

Figura 36. CONSEQUÊNCIAS DE EROSÃO DE MARGEM FLUVIAL (FENÔMENO DE TERRAS CAÍDAS)


NO RIO AMAZONAS (MUNICÍPIO DE IRANDUBA – AM) EM 2015.

Fonte: Portal G1 Amazonas (http://g1.globo.com/am/amazonas/


noticia/2015/10/fenomeno-terras-caidas-ameaca-comunidades-ri-
beirinhas-no-am).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

O desbarrancamento dos rios pode ocorrer principal- mentando o peso a ser suportado pelos bancos sedi-
mente pelo alargamento do vale do rio, em sentido mentares) e à intensificação das ondas pela navega-
lateral. Segmentos de canais fluviais retos são ra- ção de grande porte.
ros. A velocidade do fluxo da água não é uniforme em
todas as partes, sendo menor no fundo e nas laterais Ocorrência
do canal devido à maior resistência friccional do fluxo
e maior velocidade na superfície próxima do meio do Segundo registros referentes a reconhecimentos de
canal. A maioria dos cursos dos rios tende a se tornar situações de emergência e estados de calamidade
sinuoso, particularmente em condições de sedimen- pública no Brasil entre 2005 e 2015, os desastres ori-
tos finos e declividade suave. Nos canais sinuosos ou ginados em fenômenos de erosão fluvial ocorrem em
meandrantes, a zona de maior velocidade se movimen- quase todo o Brasil, mas concentram-se nos Estados
ta e se concentra na margem externa ou côncava, pro- do Amazonas (63,8% das ocorrências) e Pará (19,1%)
vocando correntes de retorno ou de fundo, em direção (Figura 38).
à margem interna ou convexa. O turbilhonamento da
água em forma de hélice provoca o máximo de erosão
(deslizamentos, escorregamentos, erosão na base do Figura 37. MEANDRO FLUVIAL (MAPA E SEÇÃO TRANSVERSAL),
banco íngreme de sedimentos) no lado externo da cur- INDICANDO ZONAS DE EROSÃO E DEPOSIÇÃO.
va, e sedimentação e depósito no lado interno da mes-
ma (Figura 37). MAPA Maior velocidade
do fluxo

As características da erosão de margem fluvial depen-


dem, entre outras coisas, do tipo de sedimento (textu- Deposição

ra, estrutura, cimentação), da altura e declividade dos


bancos sedimentários, das condições tectônicas, da A
velocidade dos fluxos, do regime hídrico de crescidas e
vazantes e dos fenômenos erosivos perpendiculares ao
fluxo (piping – a erosão interna que provoca a remoção B Erosão

de partículas do interior do solo, formando “tubos (pi-


SEÇÃO TRANSVERSAL
pes)” vazios que provocam colapsos e escorregamen-
tos laterais do terreno).

As ações antrópicas podem potencializar os processos A B

de erosão de margem fluvial, quando associadas, en- Deposição


Erosão
tre outras coisas, à ineficiência dos sistemas de dre-
nagem de águas pluviais, águas servidas e redes de
esgoto, às modificações com vistas à canalização dos
fluxos, à ocupação de áreas marginais ao canal (au- Fonte: SEDEC/MI.

Figura 38. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA(ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO FLUVIAL, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

70,00
60,00
50,00
% do TOTAL

40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 55

Impactos turados, mesmo em face de precipitações inten-


sas). As diferentes texturas nas várias camadas
Os impactos diretos decorrentes dos fenômenos de sobrepostas dos perfis dos solos acarretam di-
erosão de margem fluvial estão associados com danos ferenças na velocidade de infiltração, facilitan-
parciais e totais em residências e outro tipo de edifi- do o escoamento superficial e a erodabilidade
cações, em infraestrutura de transporte (estradas, dos solos. A baixa permeabilidade do solo au-
portos), e em terras onde se desenvolvem atividades menta o escoamento superficial, e uma per-
de agricultura. Indiretamente, os impactos afetam as meabilidade do solo muito elevada pode cau-
condições psicológicas dos moradores ribeirinhos, a sar percolação excessiva, provocando erosão
economia das famílias afetadas, assim como as condi- vertical. A estrutura do solo, dependente da
ções de moradia. quantidade de argila, húmus e outros elementos
coloidais, associa-se à maior ou menor facilida-
c. Erosão Laminar e Linear de de formar agregados estáveis.

Definição A Erosão Laminar acontece quando a água escoa pela


superfície do terreno, de forma homogênea, uniforme,
Os processos erosivos associados à erosão laminar e difusa, transportando as partículas de solo, sem for-
linear de solos iniciam-se pelo impacto das gotas de mar canais definidos. A Erosão Linear ocorre quando o
chuva sobre a superfície, provocando a desagregação escoamento superficial de água, arrastando partículas
das partículas do solo. A partir da acumulação da água de solo, concentra-se e aprofunda-se em vias preferen-
em volume suficiente, ocorre o seu escoamento su- ciais, dando origem a (Figura 39)43:
perficial, movimentando as partículas desagregadas,
dissolvendo sais e arrastando novas partículas através • Sulcos – incisões na superfície de até 0,5m de pro-
das encostas. fundidade e perpendiculares às curvas de nível;
• Ravinas – cortes na superfície retilíneos, alon-
Caracterização gados e estreitos com profundidade maior que
0,5m, atingindo horizontes inferiores do solo;
A quantidade de solo erodido depende de: • Boçoroca – aprofundamento de ravinas até atin-
gir o nível freático, que aflora no fundo. A bo-
• Clima: influencia a quantidade anual de chuva, sua çoroca alcança dezenas de metros de largura e
distribuição temporal e sua intensidade. A preci- profundidade, e várias centenas de metros de
pitação abundante e regularmente distribuída comprimento e grande velocidade de avanço
pode favorecer a formação de solos profundos e erosivo. A boçoroca é decorrente da ação com-
permeáveis, assim como o desenvolvimento de binada das águas do escoamento superficial e
florestas densas, que conjuntamente resistem subterrâneo, o que condiciona uma evolução da
bem à erosão, protegem do impacto das chuvas erosão lateral e longitudinalmente.
e retêm facilmente os materiais removidos pelo
escoamento superficial. Além dos fatores mencionados previamente, a erosão
• Cobertura Vegetal: a cobertura vegetal é a de- linear, em particular, ocorre em função da existência
fesa natural de um terreno contra os processos
erosivos, na medida em que dispersa e intercep- 43
SANTORO (2009).
ta as chuvas antes de alcançar o solo, aumenta
a infiltração da água pela ação das raízes, me- Figura 39. ESQUEMA ILUSTRANDO SULCOS,
lhora a estrutura e aumenta a capacidade de re- RAVINAS E BOÇOROCAS.
tenção de água pela ação da matéria orgânica, e
diminui a energia de escoamento superficial.
• Relevo: influencia a declividade, assim como a
forma e a extensão das encostas. Maiores decli-
vidades provocam o aumento da velocidade do
escoamento superficial e da capacidade erosi-
va. As vertentes côncavas concentram o esco-
amento superficial e favorecem a erosão linear.
Grandes comprimentos de encostas provocam
um maior volume de material transportado que,
por sua vez, resultam em maior erosão.
Boçoroca
• Tipos de solos: solos mais arenosos em geral são Nível d’agua
Zona temporariamente
mais facilmente erodidos que os solos argilosos. Sulcos ou ravinas
encharcada
A profundidade do solo influencia a infiltração
da água (solos profundos não são facilmente sa- Fonte: Adaptado de TEIXEIRA et al., 2009.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

de processos de remoção de partículas do interior do Figura 40. MAPA MUNDIAL DE VULNERABILIDADE DOS SOLOS À
solo pela água, formando canais que aumentam em EROSÃO LAMINAR E LINEAR PELA ÁGUA.
sentido contrário ao do fluxo d’água, provocando co-
lapsos do terreno, com desabamentos que alargam a
boçoroca ou criam novos ramos; e a presença de estru-
turas tectônicas ou linhas preferenciais de debilidade
do terreno, que facilitam a concentração da água.

A erosão linear é intensificada pela ação do Homem


através de: urbanização em áreas susceptíveis a pro-
cessos de erosão linear; lançamento de águas pluviais
e de despejo em ruas pobremente ou não drenadas;
construção de vias de transporte que mudam o relevo,
bloqueiam a drenagem natural e produzem desmata-
mento; redução e queimadas da cobertura vegetal; e
manejo agropecuário inadequado que compacta os so-
los (uso exagerado de tratores) e não respeita as curvas
de nível.

Ocorrência

O processo erosivo causado pela água das chuvas BAIXA


ocorre na maior parte da superfície da Terra, princi-
MODERADA
palmente nas regiões de clima tropical, onde as chu-
vas atingem índices pluviométricos elevados (Figura
ALTA
40). No Brasil, as áreas localizadas no noroeste do
Paraná, Planalto Central, oeste Paulista, Campanha MUITO ALTA
Gaúcha, Triângulo Mineiro e médio Vale do Paraíba
do Sul são as mais críticas quanto à incidência destes Fonte: Natural Resources Conservation Service – United States
processos erosivos44. Department of Agriculture (http://www.nrcs.usda.gov/wps/portal/
nrcs/detail/soils/use/maps/?cid=nrcs142p2_054006).
Segundo registros referentes a reconhecimentos de
situações de emergência e estados de calamidade pú-
blica no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id.mi.gov. todo o Brasil, mas concentram-se nos Estados de Mato
br/), os desastres originados em fenômenos de ero- Grosso (32,5% das ocorrências), Goiás (20%) e Pará
são laminar, linear e de boçorocas ocorrem em quase (12,5%) (Figura 41).
44
BOTELHO e GUERRA (2003).

Figura 41. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR EROSÃO CONTINENTAL LAMINAR E LINEAR E BOÇOROCAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

35,00
30,00
25,00
% do TOTAL

20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 57

Impactos
Outros Dados e Informações:
A erosão laminar nas áreas rurais é um dos mais impor-
tantes desastres de evolução gradual que ocorre no país. 1. EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PES-
Esta forma de erosão é responsável por grandes prejuí- QUISAS AGROPECUÁRIAS
zos às terras para pastagem e agricultura (perda de nu- Solos
trientes) e pelo fornecimento de grande quantidade de https://www.embrapa.br/solos
sedimentos que assoreiam rios, lagos e represas. O as- 2. MMA – MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
soreamento altera as condições hidráulicas dos corpos Gerenciamento Costeiro no Brasil
d’água, provocando enchentes, diminuição da capacida- http://www.mma.gov.br/gestao-territorial/
de de armazenamento, destruição de ecossistemas de- gerenciamento-costeiro
vido ao carregamento de poluentes químicos e prejuízos
para o abastecimento de água e a produção de energia.

Os processos erosivos (ravinas e boçorocas) são capazes 1.3.1. Inundações


de mobilizar grandes quantidades de solo e diretamente
destruir, quando em ou próximas de áreas urbanas, resi- Definição
dências, edificações e infraestruturas (estradas, sistemas
de drenagem), assim como áreas onde se desenvolvem ati- As Inundações e Enchentes são eventos naturais de
vidades agropecuárias. Indiretamente, os processos erosi- elevação paulatina do nível d’água que ocorrem perio-
vos causam limitação à expansão urbana, interrupção do dicamente nos rios, lagos e açudes (Figura 42).
tráfego, transporte de substâncias poluentes agregadas
aos sedimentos e assoreamento das drenagens. Características

1.3. PROCESSOS E AGENTES Considerando os condicionantes naturais, a maioria


das inundações é causada ou exacerbada por precipi-
HIDROLÓGICOS tações anormais, contínuas e prolongadas. Neste fe-
Neste manual serão apresentadas as características nômeno, parte da água das chuvas é interceptada por
dos seguintes desastres originados em processos e superfícies impermeáveis e pela vegetação, enquanto
agentes hidrológicos (fluviais) no Brasil – Inundações, outra parte retorna à atmosfera diretamente através
Enxurradas, e Alagamentos. da evaporação e transpiração, ou infiltra no subsolo.

Figura 42. INUNDAÇÃO DO RIO MADEIRA NA ALTURA DA BR-364 ENTRE OS ESTADOS DO ACRE E RONDÔNIA EM 2014.

Fonte: Terra Notícias (http://noticias.terra.com.br/brasil/blogda-


amazonia/blog/2014/02/22/isolado-do-brasil-por-estrada-acre-po-
de-sofrer-desabastecimento/). Foto: Vale, S.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

O restante da água flui superficialmente, podendo se presença de camadas duras/consolidadas no solo) e bió-
concentrar em canais. ticos (quantidade e tipo de cobertura vegetal, que auxi-
lia na retenção de água no solo e diminui a velocidade do
O nível da água que flui superficial, gradual, e previsi- escoamento superficial). As características morfomé-
velmente para os canais é diferente se for comparada a tricas e morfológicas da bacia de drenagem influenciam
uma precipitação normal, a uma enchente (ou cheia) e a velocidade no processo de inundação (vales abertos,
a uma inundação. Em uma precipitação normal, a onda bacias não circulares e gradientes de baixa declivida-
de cheia nos rios desenvolve-se de montante para ju- de predispõem a inundações graduais). A ocorrência de
sante, guardando intervalos regulares. Nas enchentes marés altas juntamente com grandes precipitações é o
ou cheias, o nível d’água atinge a cota máxima, po- principal indutor de processos de inundação.
rém sem extravasar. Já nas inundações, o nível d’água
transborda e invade os terrenos adjacentes, a planície No entanto, em suas características naturais, a maioria
de inundação ou área de várzea, podendo provocar da- das inundações é causada ou exacerbada pelo Homem
nos. Esta situação se mantém durante algum tempo e, devido ao uso e ocupação irregular das planícies e mar-
a seguir, as águas escoam gradualmente para seu nível gens de cursos d’água, ao desmatamento da mata ciliar, à
original45 (Figura 43). Normalmente as inundações são disposição irregular de lixo nas proximidades dos cursos
cíclicas e nitidamente sazonais. d’água e à impermeabilização dos solos pelas edificações
e estradas (Figura 44), assim como pelo intenso processo
A probabilidade e a ocorrência de inundação e enchen- de erosão dos solos e de assoreamento dos cursos d’água.
te são analisadas pela combinação entre os condicio-
nantes naturais e antrópicos. Entre os condicionantes Ocorrência
naturais, pode-se considerar a extensão das planícies
inundadas, que é função da largura do próprio rio. O Brasil é classificado como um dos países do mundo
mais afetados pelas ameaças originadas em fenômenos
As inundações são classificadas em função da sua mag- associados a processos e agentes hidrológicos46. No en-
nitude em excepcionais, grandes, normais, e pequenas. tanto, estes processos não são todos iguais (Figura 45).

A magnitude e frequência das inundações ocorrem em Segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
função da intensidade, da quantidade e da distribuição tuações de emergência e estados de calamidade públi-
das chuvas, das condições de infiltração de água no ca no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www.mi.gov.br/
solo, e das características morfométricas e morfológi- web/guest/reconhecimentos-realizados), os desastres
cas da bacia de drenagem. A capacidade de infiltração é originados em fenômenos de inundação, enchentes e
influenciada por fatores físicos (permeabilidade e poro-
sidade dos solos e rochas, saturação do lençol freático;
46
Water Resource Institute – http://www.wri.org/blog/2015/03/
world%E2%80%99s-15-countries-most-people-exposed-river-
45
MINISTÉRIO DAS CIDADES/IPT (2007). -floods

Figura 43. CONCEITOS DE INUNDAÇÃO E ENCHENTES.

INUNDAÇÃO

ENCHENTE

SITUAÇÃO NORMAL

Fonte: Adaptado de CEMADEN (http://www.cemaden.gov.br/inundacao/).


| 59

Figura 44. ENCHENTES NO BAIRRO JARDIM PANTANAL (SÃO PAULO) EM 2009,


CONSTRUÍDO SOBRE PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO RIO TIETÊ.

Fonte: UOL Notícias (http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-


-noticias/2012/01/30/moradores-da-vila-itaim-em-sao-paulo-vi-
vem-trauma-das-enchente).

Figura 45. PAÍSES QUE RESPONDEM POR 80% DA POPULAÇÃO MUNDIAL EXPOSTA AOS RISCOS
DE INUNDAÇÕES, UTILIZANDO DADOS DE POPULAÇÃO DE 2010.

6
MILHÕES DE PESSOAS

5
4
3
2
1
0
a

sh

ar

ria

il

ia

go

ja
qu
di

in

si

as

nd

bo
na

m
de

on


Ín

Ch

is

is

Br

Ira
ia

m
et


la

qu

an

.C
Ni
do

Co
i
Vi
ng

Ta
eg
Pa

om
In
Ba

Af

p.D
Re

PAÍSES

Fonte: World Resource Institute.

inundações litorâneas ocorrem em quase todo o Bra- cais e afetar uma comunidade, ou muito grandes e ter
sil, mas concentram-se nos Estados de Minas Gerais consequências na extensão inteira de uma bacia.
(12,5% das ocorrências), Amazonas (11,7%), Santa
Catarina (11,5%) e Rio Grande do Sul (11%) (Figura 46). Os impactos diretos afetam as populações, proprieda-
des e infraestruturas, destacando-se a perda de vidas
Impactos por afogamento e lesões, danos estruturais em edifi-
cações, destruição de infraestruturas e sistemas ou
Os impactos decorrentes de inundações dependem da redes vitais, avarias a mobiliários, documentos e arte-
magnitude e da extensão das mesmas, podendo ser lo- fatos eletroeletrônicos, perda de lavouras e de animais
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 46. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM INUNDAÇÕES, INUNDAÇÕES LITORÂNEAS E ENCHENTES, POR ESTADO ENTRE, 2005 E 2015.

14,00
12,00
10,00
% do TOTAL

8,00
6,00
4,00
2,00
0,00
AC AP BA DF GO MT MG PB PE RJ RS RR SP TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

de criação, destruição de sítios históricos e danos em de confinamento resultam de condições de abrigo da


cemitérios, e erosão em áreas inundadas. população evacuada.

No que tange aos impactos diretos sobre a saúde, des- 1.3.2. Enxurradas
taca-se que as inundações geralmente acarretam em
pequeno número de mortos, mas em um grande núme- Definição
ro de enfermos devido à falta e ao mau manejo de água
potável, destacando-se as enfermidades relacionadas A Enxurrada ou Inundação brusca é o escoamento su-
a problemas dermatológicos, infecções respiratórias e perficial concentrado e com alta energia de transporte,
transmitidas por vetores hídricos (leptospirose, febre que pode estar ou não associado ao domínio fluvial (do
tifoide, hepatite, cólera), muitas das quais não se apre- rio). Caracterizada pela elevação súbita e repentina (que
sentam imediatamente. Em certos casos, são também ocorre dentro de poucos minutos ou horas) das vazões
verificadas lesões por mordeduras de serpentes. de determinada drenagem e transbordamento brusco
da calha fluvial. Em alguns casos, a maior concentração
Os impactos indiretos relacionam-se a prejuízos ma- de sedimentos nos fluxos de enxurradas pode causar a
teriais, econômicos e sociais, tais como: a destruição ocorrência de fluxo de detritos47 (Figura 47).
de terras agricultáveis; enfermidades decorrentes de
poluição e de vetores hídricos; ferimentos por choques Caracterização
elétricos relacionados à queda de fios, postes e linhas
de transmissão; fadiga, estresse, depressão; desconti- Provocadas por chuvas intensas e concentradas, nor-
nuidade do serviço de transportes; interrupção de ati- malmente em pequenas bacias de relevo acidentado,
vidades sociais, econômicas e culturais; problemas na as enxurradas acontecem subitamente e podem durar
disponibilidade e distribuição de água potável; danos minutos ou horas, dependendo da intensidade e da du-
às reservas de alimentos estocados em silos; prejuízo ração da chuva, da inclinação do terreno, das condi-
no desenvolvimento das ações de saneamento básico ções de permeabilidade e saturação de água dos solos,
(disposição de águas servidas e coleta de resíduos, e do grau de cobertura vegetal.
redução da oferta de alimentos, perda de emprego e
migração de trabalhadores, mudanças na alocação de As causas da ocorrência de enxurradas ou a sua magni-
recursos governamentais). No que tange aos impactos tude podem estar associadas com alguns condicionan-
indiretos relacionados à saúde, muitos estabelecimen- tes antrópicos, que impedem ou dificultam a infiltração,
tos de saúde podem chegar a ficar inutilizados por da- facilitam a concentração do fluxo em pouco tempo e/ou
nos totais e/ou parciais na estrutura das edificações aumentam a velocidade do escoamento superficial nas
ou sobre a estrutura da equipe médica. São também áreas urbanas (uso e ocupação irregular, subdimensio-
acarretados problemas na alimentação destes esta- namento do sistema de drenagem, impermeabilização
belecimentos de saúde devido ao comprometimento dos solos e alteração da dinâmica da vazão dos cursos
do armazenamento, da produção, do transporte e da de água através de retificações e canalizações).
distribuição, assim como pela redução nas condições
de vida dos animais de pastoreio. Elevados problemas 47
AMARAL e RIBEIRO (2009).
| 61

Figura 47. ENXURRADAS CAUSAM ESTRAGOS EM DIVERSAS ÁREAS DO MUNICÍPIO


DE CAPINZAL (SC) EM JULHO DE 2015.

Fonte: G1 Notícias – Santa Catarina (http://g1.globo.com/sc/santa-


-catarina/noticia/2015/12/chuva-causa-transbordamento-de-rio-e-
-alagamentos-no-oeste-de-sc.html).

O rompimento (deficiências na construção) e/ ou dos por vários quilômetros. As enxurradas podem oca-
transbordamento (provocado por eventos climáticos sionar mortes e feridos, destruir total ou parcialmente
extremos) de barragens construídas são outras das propriedades, veículos e infraestrutura (pontes, estra-
principais fontes de água que podem originar inunda- das). Nas áreas rurais, podem ocasionar perdas de la-
ções catastróficas48. vouras e de animais. As enxurradas também “lavam” as
superfícies das ruas, conduzindo os poluentes para os
Ocorrência cursos d´água, afetando assim a flora e a fauna.

Segundo registros referentes a reconhecimentos Indiretamente, as inundações bruscas provocam tem-


de situações de emergência e estados de calamida- porariamente a interrupção de atividades socioeco-
de pública no Brasil entre 2005 e 2015 (https://s2id. nômicas, gerando prejuízos, assim como, em alguns
mi.gov.br/), os desastres originados em fenômenos de casos, a mobilização de pessoas, por vezes permanen-
enxurrada ocorrem em quase todo o Brasil, mas con- temente. Segundo dados registrados na base ­EM-DAT49,
centram-se nos Estados de Santa Catarina (27,4% das entre 1900 e 2016, no Brasil os impactos humanos e
ocorrências), Rio Grande do Sul (18,7%) e Minas Gerais econômicos provocados pelas enxurradas foram de
(8,3%) (Figura 48). 651 mortos, 295.931 pessoas afetadas e, aproximada-
mente, U$S 275 milhões.
Impactos
1.3.3. Alagamentos
Os processos de enxurradas são de grande energia,
apresentando, em consequência, amplo poder destru- Definição
tivo, não só decorrente da força exercida pelo fluxo de
água à elevada velocidade, mas também pelos blocos Os Alagamentos correspondem a um acúmulo momen-
de pedra, arvores, construções, entre outros, arrasta- tâneo de águas em determinada área (ruas, calçadas

48
OLIVEIRA, A. Mapeamento de áreas susceptíveis à inundação por rompimento de barragem em ambiente semiárido. 2016. Tese (Doutora-
do em Geografia Física) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-09032017-114124/>. Acesso em: 2017-07-06.
49
http://www.emdat.be/country_profile/index.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 48. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ENXURRADAS, POR ESTADO ENTRE 2005 E 2015.

30,00

25,00

20,00
% do TOTAL

15,00

10,00

5,00

0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

ou outra infraestrutura urbana) decorrente de fortes Ocorrência


precipitações pluviométricas e problemas ou deficiên-
cias no sistema de drenagem, podendo ter ou não rela- Os alagamentos são frequentes nas cidades mal pla-
ção com processos de natureza fluvial. nejadas ou de crescimento rápido e que apresentam
déficit de obras de drenagem e de esgotamento de
Caracterização águas pluviais, ou nas cidades localizadas em regiões
costeiras, diante da ocorrência de precipitações jun-
A probabilidade e a ocorrência de alagamento são ana- tamente com marés altas. Segundo registros refe-
lisadas pela combinação entre os condicionantes natu- rentes a reconhecimentos de situações de emergên-
rais e antrópicos. Os alagamentos relacionam-se, em cia e estados de calamidade pública no Brasil, entre
áreas urbanas, com a redução da infiltração natural 2005 e 2015, os desastres originados em fenômenos
nos solos provocada por compactação e impermeabili- de alagamentos ocorrem em quase todo o território
zação do solo, com a pavimentação de ruas e constru- nacional, mas concentram-se nos Estados da Bahia
ção de calçadas, com o adensamento das edificações, (32,7% das ocorrências), de Minas Gerais (8,9%), Rio
com a acumulação de detritos em galerias pluviais, ca- Grande do Sul (7,9%) e Sergipe (7,9%) (http://www.
nais de drenagem e cursos d’água, assim como com a mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados)
insuficiência da rede de galerias pluviais. (Figura 49).

Figura 49. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ALAGAMENTOS, POR ESTADO ENTRE 2005 E 2015.

40,00
30,00
% do TOTAL

20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 63

Impactos água, e, em alguns casos, a mortes e feridos por afo-


gamento ou eletrocutação. Indiretamente identificam-
Os alagamentos nas cidades normalmente provocam -se problemas associados à circulação de veículos e
danos materiais e humanos. Os impactos diretos estão pessoas, assim como descontinuidade temporária de
associados a danos nas residências, mobiliários e au- atividades socioeconômicas por parte da população
tomóveis, devido ao contato por longo período com a (Figura 50).

Figura 50. ALAGAMENTO EM CURITIBA, DIA 22 DE OUTUBRO DE 2015.

Fonte: Paraná (2016).

Outros Dados e Informações:

1. ANA – AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS 2. MINISTÉRIO DAS CIDADES


a. Segurança de Barragens Drenagem Urbana
http://www2.ana.gov.br/paginas/servicos/ca- http://www.cidades.gov.br/saneamento-cida-
dastros/cnbarragens.aspx des/progrmas-e-acoes-snsa/89-secretaria-na-
b. Sistema de Acompanhamento de Reserva- cional-de-saneamento/3134-drenagem-urbana
tórios 3. MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA
http://sar.ana.gov.br/ Serviço Geológico do Brasil (CPRM)
c. Qualidade de Água/Portal da Qualidade das a. Setorização de Riscos Geológicos
Águas http://www.cprm.gov.br/publique/­Gestao-
http://portalpnqa.ana.gov.br/default.aspx Territorial/Geologia-de-Engenharia-e-­
d. Sistema Nacional de Informações sobre Re- Riscos-Geologicos/Setorizacao-de-Riscos-
cursos Hídricos (SNIRH) Geo­logicos-4138.html
http://www.snirh.gov.br/portal/snirh/ b. Cartas de Suscetibilidade a Movimentos
snirh-1 Gravitacionais de Massa e Inundações
e. Balanço Hídrico no Brasil h t t p : / / w w w. c p r m . g o v. b r/p u b l i q u e /
http://balancohidrico.ana.gov.br/?lang=pt- Gestao-Territorial/Geologia-de-Enge-
-br nhar ia-e-Riscos-Geologicos/Car tas-
f. Dados Hidrológicos em Tempo Real -de-Suscetibilidade-a-Movimentos-Gravita-
http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/ cionais-de-Massa-e-Inundacoes-3507.html
informacoeshidrologicas/informacoeshidro. c. Geologia Ambiental – Mapa Geodiversidade
aspx do Brasil – 1:2.500.000
g. Sistema de Informações Hidrológicas http://www.cprm.gov.br/publique/Gestao-
http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/ -Territorial/Geodiversidade-162
informacoeshidrologicas/redehidro.aspx d. Cartas Geotécnicas de Aptidão à Urbaniza-
h. Vulnerabilidade a Inundações no Brasil ção Frente aos Desastres Naturais
http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/ h t t p : / / w w w. c p r m . g o v. b r/p u b l i q u e /
srv/pt/metadata.show?uuid=2cfa808b-b- Gestao-Territorial/Geologia-de-Enge-
370-43ef-8107-5c3bfd7acf9c nhar ia-e-Riscos-Geologicos/Car tas-
-Geotecnicas-de-Aptidao-a-Urbanizacao-
-Frente-aos-Desastres-Naturais-4144.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

1.4. PROCESSOS E AGENTES periores a 26,5°C, numa faixa situada entre 5 e 10° de
METEOROLÓGICOS latitude Norte ou Sul51, em condições de alta umidade
provinda da evaporação do oceano, temperatura eleva-
A maior parte dos desastres naturais no Brasil é causada da do ar acima da superfície e tempo suficiente para o
pela dinâmica externa da Terra, conduzidos pelos pro- desenvolvimento da tempestade.
cessos atmosféricos de curta duração, meteorológicos,
de escalas pequenas a médias (no intervalo de minutos Caso atinja a costa, os ciclones provocam danos e
a dias)50. O tempo é definido pelas peculiaridades dos prejuízos severos às comunidades impactadas. Mas,
elementos meteorológicos (precipitação, vento, nebu- ao mover-se sobre a terra, a rugosidade do terreno e
losidade, ondas de frio e calor). Estes elementos variam a diminuição da umidade fazem com que um furacão
espacial e temporalmente em decorrência da influência perca sua intensidade rapidamente. Assim, os danos
de fatores geográficos – latitude, continentalidade, ve- associados aos ciclones geralmente restringem-se à li-
getação, altitude, maritimidade, atividades humanas. nha de costa. A Tabela Saffir-Simpson é utilizada como
medida de intensidade dos ciclones (Tabela 4).
As ameaças meteorológicas incluem os processos de
marés de tempestades, furacões, tornados e trombas Durante os meses de abril a junho, a ocorrência de
d’água, vendavais, tempestades de raios, ondas de ca- ciclones extratropicais, com ventos que alcançam
lor e de frio intensas, geadas e tempestades de neve. pouco mais de 100 km/h, é um fenômeno comum na
costa brasileira e é responsável por ressacas no Sul
1.4.1. Ciclones e Sudeste do país. Contudo, em 2004, um ciclone ex-
tratropical que se formou a cerca de 440 km da costa
Definição sul deslocou-se lentamente em direção ao continen-
te e ao sul do Estado de Santa Catarina, recebendo,
Os Ciclones são ventos de velocidades superiores a pela proximidade com este estado, o nome de “Fura-
120 km/h, que afetam uma área extensa durante um cão Catarina”.
longo período.
Este ciclone foi avistado por modelos de meteorologia
Caracterização no dia 23 de março de 2004. Encontrava-se estacioná-
rio desde o dia 12 de março de 2004 e, cerca de duas
Os ciclones se originam a partir de uma tempestade semanas depois (em 26 de março), os ventos ganharam
tropical no oceano sobre águas com temperaturas su- velocidade e atingiram 180 km/h – escala 3 da escala

CEPED/SEDEC (2013); MI (2016).


50

Na região equatorial, devido à redução do efeito Coriolis, não há possibilidade de ocorrer o fenômeno. http://www.aprh.pt/rgci/glossario/
51

mare.html
Tabela 4. TABELA SAFFIR-SIMPSON UTILIZADA PARA A CATEGORIZAÇÃO DOS CICLONES.

Categoria Ventos (Km/h) Tipo de dano

Tempestade tropical 63 a 117


Casas bem construídas podem sofrer danos no telhado. Os ramos grandes das árvores
1 119 a 153 podem ser derrubados. Danos extensos nas linhas de energia resultam em falhas de energia
que podem durar de alguns a vários dias.
Casas bem construídas podem sustentar o teto principal. Muitas árvores de raiz superficial
2 154 a 177 se quebram e bloqueiam inúmeras estradas. Perda de energia quase total, esperando-se
interrupções que podem durar de vários dias a semanas.
Casas bem construídas podem incorrer em grandes danos. Muitas árvores de raiz
3 178 a 208 superficial se quebram e bloqueiam inúmeras estradas. A eletricidade e a água não estarão
disponíveis por vários dias ou semanas após o ciclone.
Casas bem construídas sofrem danos graves com a perda da maior parte da estrutura do
telhado e/ou algumas paredes exteriores. A maioria das árvores será quebrada e os postes
4 209 a 251
de energia derrubados. Queda de energia dura semanas a meses. A maior parte da área será
inabitável por semanas ou meses.
Uma elevada percentagem de casas destruidas. Árvores caídas e postes de energia irão
5 Mais de 252 isolar áreas residenciais. A falta de energia vai durar semanas a meses. A maior parte da
área será inabitável durante semanas ou meses.
Fonte: National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) [http://www.nhc.noaa.gov/aboutsshws.php].
| 65

de furacões Saffir-Simpson. Entre os fatores atribuídos impactos indiretos, colapso nas estruturas energéticas
ao seu aumento de velocidade, são citados o aqueci- e sanitárias, assim como a necessidade de abandono
mento da corrente marítima do Brasil e o aquecimento temporário de residências Em menor caso, registra-se
do próprio continente. Estes fatores fizeram com que casos de pessoas mortas ou desaparecidas em decor-
ele ganhasse energia e ficasse mais intenso. Este foi o rência dos furacões (Figura 52). A Tabela 4, apresentada
primeiro furacão que atingiu a costa do Atlântico Sul. anteriormente, associa diversos tipos de danos às dife-
rentes categorias de ciclones.
Ocorrência
Em particular, os municípios afetados pela passagem do
O Brasil é afetado por sistemas de baixa pressão at- furacão Catarina nos Estados do Rio Grande do Sul e de
mosférica frios, formados em latitudes médias, onde Santa Catarina sofreram principalmente com a falta de
os ventos circulam no sentido horário no Hemisfério energia elétrica, de comunicação e de abastecimento
Sul, sendo denominados de ciclones e/ou tempestades de água. No total, 35.873 casas foram danificadas e 993
extratropicais52 (Figura 51). casas destruídas. Onze pessoas morreram, 518 ficaram
feridas e aproximadamente 27,5 mil pessoas ficaram de-
Impactos salojadas. Na área rural, os maiores prejuízos foram nas
culturas de milho, banana e hortifruticulturas. Os pre-
Os principais impactos diretos, devido à força do ven- juízos econômicos provocados pela passagem do ciclo-
to e de ondas gigantescas, são em edificações (deste- ne Catarina totalizaram aproximadamente R$ 1 bilhão.
lhamentos, quebra de janelas), infraestrutura, embar-
cações ancoradas, carros destruídos e danificados, 1.4.1.1. Ventos costeiros – Mobilidade de Dunas
queda de postes e torres de alta tensão, árvores arran-
cadas etc. Chuvas torrenciais provocam alagamentos Definição
em enormes áreas, e em zonas costeiras ocorrem inun-
dações. Pessoas feridas e mortas são registradas, par- A ação do vento em regiões como desertos e costas
ticularmente em decorrência das inundações. Entre os pode permitir a formação de dunas – acumulação
52
TAVARES (2009).

Figura 51. IMAGEM DE SATÉLITE GOES MOSTRA CICLONE EXTRATROPICAL NO LITORAL SUL
DO RIO GRANDE DO SUL EM SETEMBRO DE 2016.

Fonte: Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2016/09/geral/521081-ciclo-


ne-extratropical-gera-fortes-ventos-no-rio-grande-do-sul).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 52. REPORTAGEM DEMONSTRANDO A OCORRÊNCIA DE CICLONE EXTRATROPICAL NO MUNICÍPIO DE RIO GRANDE (RS) EM
OUTUBRO DE 2016.

Fonte: G1 RS (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noti-
cia/2016/10/ciclone-extratropical-deixa-mais-de-100-mil-clientes-
-sem-energia-no-rs.html). Foto: Reprodução/RBS TV.

sedimentar elevada que pode alcançar 100m de altura, Movimentam-se com maior ou menor rapidez na medida
colinosa, composta normalmente de areia média quart- em que o vento sopra as partículas de areia para outros
zosa. O processo de acumulação das dunas de areia nas pontos, normalmente retirando-as de barlavento (lado
áreas litorâneas ocorre em função das características de onde vem o vento ou lado exposto ao vento) para se-
geológicas do relevo litorâneo, das características to- rem acumuladas a sotavento (lado contrário de onde
pográficas e do grau de declividade da faixa de conta- vem o vento ou lado protegido do vento)53. Os processos
to entre o mar e a região litorânea (entre o limite das de movimentação das dunas de areia dependem do rele-
águas pouco profundas e os primeiros obstáculos da vo da faixa litorânea, da intensidade, duração e sentido
borda continental), da intensidade e sentido das cor- dos ventos dominantes, da densidade das areias e das
rentes marinhas locais, da proximidade da foz dos rios ações antrópicas de retirada da vegetação litorânea.
ricos em sedimentos, da quantidade dos sedimentos
em suspensão e de correntes marinhas que 
movimen- Ocorrência
tam o material ao longo das costas, da presença de
costas deprimidas e de terras baixas – que facilitam a No Brasil, a mais importante região de dunas costeiras
deposição das areias – e da intensidade das ondas e da ocorre no litoral dos Estados do Maranhão (Lençóis Ma-
altura das marés. ranhenses), Rio de Janeiro (nas proximidades de Cabo
Frio) e de Santa Catarina. Os processos de soterramen-
Caracterização to de localidades pela movimentação das dunas são
muito pouco importantes. Neste contexto, não existe
As dunas apresentam formas e alturas diferenciadas registro referente a reconhecimentos de situações de
em função da disponibilidade de material sedimentar emergência e estados de calamidade pública no Bra-
solto, da força do vento e da constância de direção e sil entre 2005 e 2015 associado a desastres originados
de intensidade do mesmo. Frequentemente, as dunas em fenômenos de movimento de dunas (http://www.
associam-se, formando “campo de dunas”. mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

53
As Tempestades de Areia é outro fenômeno resultado da movimentação de partículas de areia, elevadas do solo até considerável altura,
por vento forte e turbulento (Glossário INMET - http://www.inmet.gov.br/).
| 67

Impactos so e as suas consequências de maior erosão e inun-


dação costeira.
Em algumas oportunidades, estes deslocamentos de
dunas de areia sobre construções na orla de cidades As atividades humanas intensificam estas consequên-
ou em comunidades costeiras, em função da intensi- cias naturais em zonas costeiras baixas ao provocar a
ficação dos ventos nas regiões litorâneas, provocam subsidência de terrenos ou a ocupação destas áreas
impactos, ocasionando, em casos extremos, a inter- susceptíveis considerando a “proteção” de muros de
rupção de atividades econômicas, o abandono de re- defesa ou contenção.
sidências e, até mesmo, a migração das populações
(Figura 53). Ocorrência

1.4.1.2. Marés de Tempestade As ressacas afetam grande parte do litoral brasileiro,


particularmente as costas pouco elevadas. No entanto,
Definição segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
tuações de emergência e estados de calamidade pública
As Marés de Tempestades (Ressacas) são ondas vio- no Brasil entre 2005 e 2015, os desastres originados em
lentas que geram uma maior agitação do mar próximo fenômenos de maré de tempestade (ressaca) concentra-
à praia, intensificando o poder erosivo das ondas. ram-se no Estado do Rio Grande do Norte (http://www.
mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
Caracterização
Impactos
As marés de tempestade ocorrem quando ventos
fortes – inclusive furacões – soprando em direção à Os principais impactos das Marés de Tempestades são
costa fazem subir o nível do oceano em mar aberto a inundação das praias, a destruição (parcial ou total)
e esta intensificação das correntes marítimas car- da infraestrutura existente na orla e de edificações,
rega uma enorme quantidade de água em direção assim como ruas temporariamente alagadas. Em al-
ao litoral. O aumento do nível do mar decorrente de guns casos, registram-se pessoas feridas e mortes. Os
mudanças climáticas globais também é considerado maiores impactos acontecem quando as ressacas coin-
como uma das causas que intensificam este proces- cidem com as marés de sizígia (Figura 54).

Figura 53. IMPACTOS DA MIGRAÇÃO DE DUNAS EM COMUNIDADES COSTEIRAS DO PIAUÍ.

Fonte: G1 Globo (http://g1.globo.com/pi/piaui/noti-


cia/2014/03/avanco-das-dunas-no-litoral-do-piaui-faz-mora-
dores-abandonar-casas.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

No Amapá, o termo “ressacas” não está associado Marés de sizígia: subida e descida periódicas, com
ao fenômeno de Marés de Tempestades, mas define, amplitude maior, dos níveis do mar e de outros cor-
localmente, áreas que se comportam como reserva- pos de água ligados ao oceano (estuários, lagunas
tórios naturais de água e que sofrem a influência etc.), causadas principalmente pela interferência
das marés e das chuvas, de forma temporária. Estas da Lua e do Sol sobre o campo gravitacional da Ter-
áreas apresentam um ecossistema rico e singular. ra. Devido à translação da Lua em torno da Terra, a
Fonte: Plano Diretor Municipal de Macapá (2004) maré lunar vai-se deslocando, passando por situa-
[http://www.cidades.gov.br/images/stories/Arquivos- ções em que a Terra, a Lua e o Sol estão alinhados,
SNPU/RedeAvaliacao/Macapa_PlanoDiretorAP.pdf]. estando os dois últimos em conjunção (Terra – Lua
– Sol) ou em oposição (Lua – Terra – Sol). Nestas
circunstâncias existe coincidência entre a maré (di-
recta e/ou reflexa) lunar e a solar, o que significa
Outros Dados e Informações: que se adicionam, tendo a maré resultante amplitu-
de maior. São as situações de marés vivas ou de si-
US NATIONAL HURRICANE CENTER zígia. (Associação Portuguesa de Recursos Hídricos
http://www.nhc.noaa.gov/surge/ – http://www.aprh.pt/rgci/glossario/mare.html).

Figura 54. RESSACA NA ORLA DO MUNICÍPIO DE NITERÓI (RJ), ENTRE OS BAIRROS DE INGÁ E ICARAÍ EM MAIO DE 2015.

Fonte: G1 Rio de Janeiro (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/no-


ticia/2011/05/ressaca-provoca-estragos-na-orla-de-niteroi.html).
Foto: C. Ferreira Rodrigues.

1.4.2. Frente Fria/Zona de Convergência ao nordeste da América do Sul (velocidades próximas


a 60 km/h) e penetra por baixo da massa de ar quen-
Definição te, como uma cunha, produzindo uma diminuição da
temperatura próximo da superfície e fazendo com que
As Frentes Frias são bandas de nuvens organizadas que o ar quente e úmido suba, formando nuvens (cumulus,
se formam na região de confluência entre uma massa cumulonimbus) e, consequentemente, chuvas, fortes
de ar frio (mais densa) com uma massa de ar quente rajadas de vento e trovoadas. As chuvas cessam abrup-
(menos densa). A massa de ar frio movimenta-se no tamente após a passagem da frente, surgindo frequen-
sentido Polo – Equador, principalmente do sudoeste temente um céu claro (Figura 55).
| 69

Figura 55. MODELO DE DESENVOLVIMENTO DE MUDANÇAS DE TEMPERATURAS


E PLUVIOSIDADES ASSOCIADAS A UMA FRENTE FRIA.

VENTO

Cs Ci

Cb
Ac

AR QUENTE
AR FRIO
T1 = 15º T2 = 30º

FRENTE FRIA

Fonte: Adaptado de INMET (http://www.inmet.gov.br/html/informacoes/sobre_meteorologia/meteoro_basica/


doc/frente.pdf).

Caracterização para a região onde a água do mar está mais quente,


dependendo da época do ano (mais próximo do Brasil
As principais Zonas de Convergência, sistemas me- entre os meses de fevereiro e maio)55 (Figura 57).
teorológicos típicos de verão no Brasil, são a Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a Zona de Con- Ocorrência
vergência Intertropical (ZCIT).
As frentes frias/zonas de convergência são responsá-
A ZCAS é um fenômeno de escala regional, com dura- veis por uma grande porção do volume de chuva que
ção aproximada de 4 a 5 dias, localizado preferencial- ocorre durante um ano na maioria das áreas do Norte,
mente entre o Estado do Amazonas e de São Paulo, que do Nordeste, do Centro-Oeste e do Sudeste. A ZCAS
se caracteriza por faixas de nebulosidade carregadas traz a chuva volumosa para o Sudeste e para o Cen-
que se formam pela existência de uma frente fria blo- tro-Oeste. A ZCIT é responsável pela maior parte da
queada no Sudeste e alimentadas com a umidade pro- chuva anual do Nordeste e do Norte do Brasil (Estados
veniente da região amazônica e da altitude dos Andes. de Roraima e Amapá, norte do Amazonas e do Pará, na
Estas áreas de instabilidade provocam volumosas chu- faixa norte do Nordeste, do Maranhão ao Rio Grande do
vas, particularmente na época de verão54 (Figura 56). Norte e Paraíba).

A ZCIT é um fenômeno de escala global, localizado Impactos


nas regiões tropicais, que se caracteriza por bandas
de nuvens carregadas que se formam com o calor e a Segundo registros referentes a reconhecimentos de
umidade elevada dos trópicos. As ZCIT são áreas de situações de emergência e estados de calamidade pú-
instabilidade que ocorrem no encontro (convergência) blica no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www.mi.gov.
dos ventos alísios da direção nordeste, que sopram na br/web/guest/reconhecimentos-realizados), os desas-
região tropical no Hemisfério Norte, e dos ventos alí- tres originados em fenômenos de frente fria e Zona de
sios da direção sudeste, que sopram do Hemisfério Sul Convergência concentram-se no Estado do Rio Grande
também na região tropical. As áreas de instabilidade, do Sul (próximo a 90% das ocorrências) e de Santa Ca-
que provocam chuvas, tendem a se deslocar sempre tarina (Figura 58).

54
TAVARES (2009).
55
http://climanalise.cptec.inpe.br/~rclimanl/boletim/cliesp10a/zcit_1.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 56. ZONA DE CONVERGÊNCIA DO ATLÂNTICO SUL (ZCAS).

Fonte: Climatempo (http://www.climatempo.com.br/climapress/galeria/2016/01/c186cbfb09b5a37208a7c-


689114239ff.jpg).

Figura 57. LOCALIZAÇÃO DA ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL (ZCIT)


NOS MESES DE JULHO (VERMELHO) E JANEIRO (AZUL).

Julho ITCZ

Janeiro ITCZ

Fonte: Geoforcxc (http://www.geoforcxc.com/wp-content/uploads/640px-ITCZ_january-july-615x306.png).


| 71

Figura 58. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM FRENTES FRIAS E ZONAS DE CONVERGÊNCIA, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

100,00
80,00
% do TOTAL

60,00
40,00
20,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

1.4.3. Tornados pode ser ouvido à longa distancia. O tornado supera a


violência do furacão, mas sua duração e área afetada
Definição são menores.

Os Tornados são redemoinhos de vento de alta veloci- Existem diversas escalas para a classificação de torna-
dade formados em grandes nuvens de origem convecti- dos conforme os danos ocasionados, entretanto a mais
va (nuvens escuras, de notável desenvolvimento verti- utilizada é a escala Fujita-Pearson (Quadro 5).
cal e formato afunilado – cumulonimbus), que descem
até tocar a superfície da Terra, com grande velocidade No caso das trombas d’água, a velocidade dos ventos
de rotação e forte sucção. pode chegar a 100 km por hora (menos intenso que no
tornado), “sugando” a água e provocando a imagem de
A Tromba d’água é um tipo de tornado que ocorre so- um cone em movimento. As trombas d’água, em geral,
bre grandes corpos d’água (grandes rios, represas, desaparecem quando encontram a terra.
lagos, baías, mares ou oceanos), não sendo necessá-
rio para seu surgimento nuvens desenvolvidas muito Ocorrência
verticalmente.
Os tornados podem ocorrer em qualquer ponto do país.
Caracterização Entretanto, alguns fatores climático-meteorológicos

Os tornados são formados pela redução súbita na pressão Quadro 5. ESCALA DE INTENSIDADE DE TORNADOS FUJITA-PEARSON.
em certos pontos dos sistemas convectivos, o que faz com
que o ar passe a girar intensamente ao redor dos pontos Classificação Velocidade do Vento (mph) Dano
onde a pressão é inferior, ou pelo encontro de massas de
ar altamente diferenciadas e de grande intensidade. F0 72 Leve
F1 73-112 Moderado
A maioria dos tornados tem o diâmetro entre 100 a
F2 113-157 Considerável
600 metros, podendo exceder 1600 m. Normalmente,
os tornados que são formados adiante de uma frente F3 158-206 Severo
fria movem-se em velocidades de 20 a 40 nós. Tornados F4 207-260 Devastador
tendem a formar-se com trovoadas severas.
F5 260-319 Inacreditável
Os tornados só são visíveis por causa da poeira e da F6 319-379 Assombroso
sujeira levantadas do solo e pelo vapor d’água conden-
Fonte: NOAA [modificado] (http://www.spc.noaa.gov/faq/torna-
sado, ou percebidos por um barulho diferenciado que do/f-scale.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

f­ azem com que certas áreas apresentem maior suscepti- Impactos


bilidade para a ocorrência destes fenômenos56 (Quadro 6).
O rastro de destruição de um tornado pode variar
Segundo registros referentes a reconhecimentos de si- de dezenas de metros a quilômetros de extensão.
tuações de emergência e estados de calamidade públi- A destruição provocada pelos tornados é altamente
ca no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www.mi.gov.br/ concentrada e extremamente violenta, registrando-
web/guest/reconhecimentos-realizados), os desastres -se árvores arrancadas, habitações destruídas e a
originados em fenômenos de tornados concentram-se elevação no ar dos destroços resultantes. Pessoas
nos Estados de Santa Catarina (52% das ocorrências), são desabrigadas, desalojadas e deslocadas. Além
Rio Grande do Sul (26%), São Paulo (8,7%) e Paraná destes impactos diretos, os destroços transportados
(8,7%) (Figura 59). podem transformar-se em instrumentos para maio-
res danos.

Quadro 6. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DE OCORRÊNCIAS Particularmente, as trombas d’água podem repre-


DE TORNADOS NO BRASIL. sentar perigo, sobretudo ao atingirem embarcações
pequenas e seus ocupantes (pescadores) ou quando
Estado Localidade Ano avançam às margens dos corpos d’água próximas a
orla57 (Figura 60).
Xenxerê 2015
SC
Guaraciaba, SantoVeloso, Santa Cecília 2009 1.4.4. Tempestades de Raios
Taquarituba 2013
Definição
SP Limeira 2013
Votorantim 2015
Os Relâmpagos são descargas elétricas de grande in-
tensidade que ocorrem na atmosfera, decorrentes da
DF Brasília 2014 atração de potenciais positivos e negativos no interior
Nova Andradina 2011 de nuvens de tempestade (cumulonimbus). Uma propor-
MS ção pequena das descargas elétricas atingem o solo e
Porto Murtinho 2014 são denominadas de raios. Tempestade de raios trata-se,
Fonte: G1 Natureza (http://g1.globo.com/natureza/noti- portanto, de fortes tempestades em que são observadas
cia/2015/04/relembre-alguns-casos-de-tornados-que-atingiram- descargas elétricas atingindo o solo (raios), causando
-o-brasil.html). graves danos e prejuízos.

56
http://g1.globo.com/natureza/noticia/2015/04/relembre-alguns-casos-de-tornados-que-atingiram-o-brasil.html
57
TAVARES (2009).

Figura 59. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR TORNADOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

60,00
50,00
% do TOTAL

40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 73

Figura 60. OCORRÊNCIA DE TROMBA D’ÁGUA NO MUNICÍPIO DE PARINTINS (AMAZONAS) EM ABRIL DE 2015.

Fonte: G1 Amazonas / Ocimar Lima/ Da Rede Amazônica (http://


g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2015/04/tromba-dagua-e-re-
gistrada-no-rio-amazonas-em-parintins.html12).

cia de tempestades e, consequentemente, a atividade


Cumulonimbus: nuvem de trovoada; base entre 700 de relâmpagos em uma região.
e 1.500 m, com topo próximo a 24 e 35 km de altu-
ra; são formadas por gotas d’água, cristais de gelo,
gotas superesfriadas, flocos de neve e granizo.
Fonte: INMET - Atlas de Nuvens (http://www.inmet. O fenômeno El Niño é caracterizado por períodos
gov.br/html/informacoes/sobre_meteorologia/atlas_ em que as águas do Oceano Pacífico Oriental es-
nuvens/atlas_nuvens.html). tão mais quentes que a média, e o La Niña, a pe-
ríodos em que as águas estão mais frias. Estes
períodos duram em geral entre 1 e 2 anos e se al-
ternam aleatoriamente a cada sete anos em média
Caracterização (INPE – http://www.inpe.br/acessoainformacao/
node/399/).
O potencial negativo da nuvem é atraído pelo potencial
positivo do solo, conduzido através de um pequeno fi-
lamento de cargas. Quando este está suficientemente
próximo, a carga positiva no solo responde com uma des- Aproximadamente 50 milhões de raios caem no Brasil
carga imediata de carga positiva que se encontra com o todo o ano. As dez cidades brasileiras com maior con-
condutor antes que ele atinja o solo. Esta descarga positi- centração de raios do país são Porto Real (RJ), Barra do
va, chamada de golpe de retorno, completa o ciclo do raio. Piraí (RJ), Valença (RJ), Rio das Flores (RJ), Juiz de Fora
(MG), Belmiro Braga (MG), Matias Barbosa (MG), Rio
Ocorrência Preto (MG), Piau (MG), e Forquetinha (RS) – os dados se
referem a uma média de 15 anos e levam em conta uma
A ocorrência de relâmpagos e raios pode aumentar em série de correções. A Figura 61 apresenta um mapa da
decorrência do aquecimento global (para cada grau de densidade de raios no Brasil (as cores preta, vermelho
aumento de temperatura, aumentará até 20% o núme- e laranja apresentam os maiores valores) (http://www.
ro de relâmpagos, sendo a região tropical a mais afe- inpe.br/webelat/homepage). Segundo registros de re-
tada) e da influência dos fenômenos climáticos de El conhecimentos de situação de emergência e estado de
Niño e a La Niña. A alteração do fluxo de vapor d’água calamidade pública, entre 2005 e 2015 (http://www.
da superfície do oceano para a atmosfera provoca mu- mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados),
danças na circulação dos ventos, afetando a frequên- nenhum caso foi originado em tempestades de raios.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 61. MAPA DE DENSIDADE DE RAIOS NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 15 ANOS.

0,5 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19

Densidade de descargas atmosféricas


(descargas / km2 / ano)

Fonte: ElAT/INPE, 2016.

Impactos Mesmo que poucos acidentes ocorram com aviões comer-


ciais por relâmpagos, estes podem ser atingidos durante
O principal impacto direto das tempestades de raios é os procedimentos de aterrissagem ou decolagem, em al-
o número de mortos. Segundo dados do INPE58, entre turas inferiores a 5 km, e avariados superficialmente.
2000 e 2014, o Brasil registrou 1.790 mortes por raios,
com mais de 150 por ano. Destaca-se a tendência ne- 1.4.5. Granizo
gativa no número de mortos no período (Figura 62). O
estado com maior número de mortos neste período foi Definição
São Paulo, com 263 mortos, seguido por Minas Gerais,
Rio Grande do Sul e Pará (Figura 63). O Granizo é a precipitação sólida de grânulos de gelo,
transparentes ou translúcidos, de forma esférica ou
A tempestade de raios também gera perdas econômi- irregular, de diâmetro igual ou superior a 5 mm, que
cas, sobretudo em relação ao setor elétrico: de forma se formam no interior de nuvens convectivas do tipo
direta, através da queima de equipamentos eletroele- cumulonimbus. A precipitação de grãos ou pedaços de
trônicos em residências e indústrias; indiretamente, gelo ocorre, em geral, durante os temporais.
as descargas são responsáveis por um grande número
de desligamentos das linhas de transmissão e distri- Caracterização
buição de energia elétrica, além da queima de trans-
formadores de distribuição. Isto impacta a qualidade As gotas de chuva provenientes do vapor de água con-
da energia. densado no interior das nuvens ascendem sob o efeito
de correntes verticais e congelam-se ao atingirem re-
As árvores têm diferentes chances de serem atingidas, giões mais elevadas. Estas gotas de chuva congeladas
dependendo da quantidade de seiva ou da profundida- atraem cristais de gelo e flocos de neve, tornando-se
de de suas raízes. Uma árvore atingida pode permane- maior e começando a cair em forma de pedras de gelo.
cer intacta, ter a casca do tronco parcialmente removi- A parte inferior da nuvem recolhe mais água, que pode
da, ou ser totalmente destruída. ser levada de novo para o alto da nuvem, recolhendo
mais cristais de gelo. Em muitas oportunidades, ao
Animais morrem em decorrência indireta de relâmpa- cair, o granizo ainda pode se fundir com elementos ga-
gos quando estão sob árvores ou perto de cercas de sosos e, com isso, adquirir a forma de floco de neve.
arame. A morte é, em geral, causada pelas correntes
que circulam através de suas patas, principalmente Ocorrência
quando o solo está úmido.
O granizo ocorre mais frequentemente nas regiões con-
58
http://www.inpe.br/webelat/homepage/ tinentais das médias latitudes (20 a 55°), apresentando
| 75

Figura 62. NÚMERO DE MORTOS POR RAIOS, DISCRIMINADOS POR ANO, ENTRE 2000 E 2014.

250
NÚMERO DE MORTOS

200

150

100

50

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

ANOS

Fonte: ELAT (http://www.inpe.br/webelat/homepage/).

Figura 63. NÚMERO DE MORTOS POR RAIOS, DISCRIMINADOS POR ESTADO, ENTRE 2000 E 2014.

300
NÚMERO DE MORTOS

250
200
150
100
50
0
PA TO GO MG SP PR RS MS MT AM

ESTADOS

Fonte: ELAT (http://www.inpe.br/webelat/homepage/).

também grande frequência nas altas altitudes das re- fortes, quando acompanham o granizo, aumentam os
giões tropicais. danos. O dano geralmente ocorre quando a chuva de
granizo tem duração de mais de 15 minutos.
Segundo registros referentes a reconhecimentos de
situações de emergência e estados de calamidade O granizo causa grandes prejuízos à agricultura, des-
pública no Brasil entre 2005 e 2015 (http://www. trói telhados, carros e redes elétricas, assim como
mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados), provoca a queda de árvores. Pessoas são desalojadas,
os desastres originados em fenômenos de granizo desabrigadas, e em uma proporção muito menor, leve-
ocorrem em quase todo o Brasil, mas concentram-se mente feridas. Indiretamente, o trânsito e atividades
nos Estados do Rio Grande do Sul (50,8% das ocor- socioeconômicas são afetados (Figura 65).
rências), Santa Catarina (24,4%) e Paraná (16,8%)
(Figura 64). 1.4.6. Precipitações Intensas

Impactos Definição

O grau de dano causado pelo granizo depende do tama- A Chuva, o principal tipo de precipitação que ocorre no
nho das pedras, da densidade da área, da duração do Brasil, é o resultado de processos de elevação do ar,
temporal, da velocidade de queda e das característi- geradores de nuvens das quais precipitam, sendo clas-
cas dos elementos atingidos. Chuvas intensas e ventos sificadas pela sua origem em:
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 64. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR GRANIZOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

60,00
50,00
% do TOTAL

40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

Figura 65. DESTRUIÇÃO DE TELHAS E VIDROS DE CARROS EM CONSEQUÊNCIA DE CHUVA DE GRANIZO


NO MUNICÍPIO DE GUAREÍ (SP) EM NOVEMBRO DE 2015.

Fonte: Portal G1 (http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-re-


giao/noticia/2016/10/apos-chuva-de-granizo-moradores-temem-
-novos-temporais-em-guarei.html). Foto de Ebert Leme/TV TEM.
| 77

• Térmica ou convectiva: movimentos ascensio- 1.4.7. Vendavais


nais elevam o ar úmido e aquecido até atingir a
saturação, quando ocorre a formação de nuvens Definição
e a precipitação intensa.
• Orográfica: o relevo é uma barreira ao movimen- Os Vendavais ou Ventanias fortes são deslocamen-
to horizontal do ar quente e úmido, forçando-o a tos violentos de uma massa de ar, de uma área de alta
ascender próximo às encostas, o qual se resfria pressão para outra de baixa pressão. Além do gradien-
devido à descompressão promovida pela menor te de pressão, o superaquecimento local gera corren-
densidade do ar nos níveis mais elevados. O res- tes de deslocamentos de vento horizontal e vertical de
friamento conduz à saturação do vapor e à for- grande violência, que podem estar acompanhadas de
mação de nuvens que, com a continuidade do grande quantidade de raios e trovões.
processo de ascensão, tendem a produzir chuvas.
• Frontal: ascensão forçada do ar úmido ao longo
das frentes, em função do encontro de massas
de ar de características térmicas distintas. A in- Zona de alta pressão: Área de pressão que diverge
tensidade e a duração das chuvas são influen- os ventos numa rotação oposta à rotação da Terra.
ciadas pelo tempo de permanência da frente no Move-se no sentido anti-horário no Hemisfério Sul.
local, pelo teor de umidade contido nas massas Zona de baixa pressão: Sistema de área de baixa
de ar que a formam, pelos contrastes de tempe- pressão atmosférica em seu centro com circulação
ratura entre as massas e pela velocidade de des- fechada, em que os ventos sopram para dentro, ao
locamento da frente. redor deste centro. No Hemisfério Sul, os ventos gi-
ram no sentido horário.
Caracterização Fonte: INMET Glossário (http://www.inmet.gov.br ).

A chuva é caracterizada pela quantidade precipitada,


expressa como a espessura da camada d’água (mm)
precipitada sobre uma superfície horizontal, plana e Caracterização
impermeável, com 1m²; a duração entre o início e o tér-
mino, e a intensidade, definida como a quantidade de A caracterização do vento em qualquer ponto da atmos-
água caída por unidade de tempo e usualmente expres- fera requer dois parâmetros: a direção e a velocidade.
sa em milímetros por hora. Os instrumentos de leitura
direta usados para quantificar a precipitação são cha- A velocidade do vento próximo da superfície varia com
mados pluviômetros59. o tempo e se caracteriza por intensas oscilações. As ra-
jadas de vento são uma variação brusca na velocidade
Considerando a extensão superficial, disposição geo- do vento, a qual frequentemente é acompanhada por
gráfica e características naturais (relevo) do Brasil, as uma variação na direção. Devido a estas variações do
chuvas se distribuem espacial e temporalmente de for- vento, são utilizados e comunicados valores médio cor-
ma heterogênea60 (Figura 66). respondentes a intervalos de dez minutos. As rajadas
também ocorrem em função da rugosidade do terreno
Ocorrência (colinas, morros, vales, edificações etc.) e a diferentes
temperaturas da superfície.
Segundo registros referentes a reconhecimentos de si-
tuações de emergência e estados de calamidade pública Medir velocidades fortes do vento corretamente é pra-
no Brasil entre 2005 e 201561, os desastres originados ticamente impossível, já que a extensão da área é mui-
em fenômenos de chuvas intensas ocorrem em quase to pequena e o anemômetro (instrumento que mede
todo o Brasil, mas concentram-se nos Estados do Para- a velocidade e força do vento) teria que localizar-se
ná (49,7% das ocorrências), Minas Gerais (11,6%), San- exatamente no local de passagem. Assim, as veloci-
ta Catarina (11,2%) e Mato Grosso (10,8%) (Figura 67). dades são normalmente estimadas através dos danos
causados na superfície. A escala Anemométrica Inter-
Impactos nacional de Beaufort registra a velocidade dos ventos
de até 117 km/h. Após esta velocidade, os ventos são
As chuvas intensas são elementos muito importantes considerados com intensidade de furacão, e passam
na origem dos principais desastres naturais no Brasil, a se enquadrar em outra escala, chamada de escala
em áreas urbanas e rurais, como as inundações, escor- ­Saffir-Simpson, que utiliza os mesmos princípios da
regamentos e erosão laminar e linear de solos. Beaufort (Quadro 7).

59
http://www.inpe.br/acessoainformacao/node/402
A direção do vento exprime a posição do horizonte
60
http://clima1.cptec.inpe.br/monitoramentobrasil/pt aparente do observador a partir da qual o vento pa-
61
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados rece provir. A direção, medida através do uso de uma
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 66. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO NO BRASIL AGRUPADA POR TRIMESTRES,


A PARTIR DE DADOS DO INMET DE 1961 A 1990.

Fonte: CPTEC (http://clima1.cptec.inpe.br/monitoramentobrasil/pt).


| 79

Figura 67. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR CHUVAS INTENSAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

60,00
50,00
40,00
% do TOTAL

30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

Quadro 7. RELAÇÃO ENTRE VELOCIDADE DO VENTO E DANOS. ESCALA ANEMOMÉTRICA INTERNACIONAL DE BEAUFORT.

Escala Beaufort Categoria Velocidade do Vento (Km/h) Indicações Visuais na Superfície Terrestre

Folhas de árvores sem movimento. Fumaça sobe


0 Calma <1
verticalmente.
1 Aragem 1–5 Desvio de fumaça. Cata-ventos sem movimento.
Ventos são sentidos no rosto. Folhas de árvores
2 Brisa leve 6 – 11
farfalham. Movimentação de cata-vento.
Bandeiras levemente agitadas. Folhas e galhos de
3 Brisa fraca 12 – 19
árvores em movimento.
Elevação de poeira e papéis soltos. Pequenos ramos
4 Brisa moderada 20 – 28
são movimentados.
Árvores pequenas e folhagem oscilam. Ondas com
5 Brisa forte 29 –38
cristas em lagos.
Galhos grandes agitados. Dificuldade no uso de
6 Vento fresco 39 – 49
guarda-chuvas.
Árvores em movimento. Dificuldade em caminhar
7 Vento forte 50 – 61
contra o vento.
Quebradeira de galhos de árvores. Impossibilidade
8 Ventania 62 – 74
de caminhar.
Pequenos danos em edificações. Chaminés e telhas
9 Ventania forte 75 – 88
são arrancadas.
Árvores são derrubadas. Danos consideráveis em
10 Tempestade 89 – 102
edificações.
Grandes devastações. Derrubada de edificações,
11 Tempestade violenta 103 – 117
placas de sinalização etc.
Extremamente violento. Danos generalizados nas
12 Furacão/tornado > 118 edificações. O mar completamente branco devido à
espuma das ondas.
Fonte: Cepagri-Unicamp (http://www.cepagri.unicamp.br/).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

rosa-dos-ventos, é expressa em termos do azimute – o matismos provocados pelo impacto de objetos trans-
ângulo que o vetor velocidade do vento forma com o portados pelo vento. Os vendavais e tempestades
norte geográfico local (0°), medido no mesmo sentido podem ser a origem de processos naturais como enxur-
do movimento dos ponteiros do relógio analógico. radas e alagamentos.

Ocorrência

Os vendavais muito intensos ocorrem em quase todos Outros Dados e Informações


os estados do Brasil. No entanto, segundo registros
referentes a reconhecimentos de situações de emer- 1. CPTEC – CENTRO DE PREVISÃO DE TEMPO E
gência e estados de calamidade pública no Brasil entre ESTUDOS CLIMÁTICOS
2005 e 201562, os desastres originados em fenômenos http://www.cptec.inpe.br/
de vendaval concentram-se nos Estados do Rio Grande 2. INMET – INSTITUTO NACIONAL DE METEO-
do Sul (47% das ocorrências), Santa Catarina (34,5%) ROLOGIA
e Paraná (7,5%) (Figura 68). http://www.inmet.gov.br/portal/
3. INPE – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUI-
Impactos SAS ESPACIAIS
ELAT – Grupo de Eletricidade Atmosférica
Os vendavais normalmente são acompanhados de pre- Rede Brasileira de Detecção de Descargas
cipitações hídricas intensas e concentradas que carac- Atmosféricas (BrasilDat) http://www.inpe.
terizam as tempestades, e de queda de granizo ou de br/webelat/homepage/
neve (nevascas).

Os principais impactos diretos dos vendavais e tem-


pestades são a derrubada de árvores, destruição de 1.4.8. Ondas de Calor Intenso
fiações urbanas para transmissão de energia elétrica e
comunicações, danos parciais ou totais em habitações Definição
mal construídas e/ou mal situadas, bem como deste-
lhamento em edificações. Ventos acima dos 75 km/h Uma Onda de Calor Intenso é um período de calor extre-
podem colocar em risco a vida humana. Pessoas são mo, excessivamente quente e desconfortável, que pode
desalojadas e desabrigadas, e em menor proporção, durar vários dias ou semanas, e que com frequência está
levemente feridas. De forma indireta, provocam in- acompanhado de umidade alta. As temperaturas ficam
terrupções no fornecimento de energia elétrica e nas acima de um valor normal esperado para aquela região
comunicações telefônicas, assim como causam trau- em determinado período do ano. Geralmente, é adotado
62
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Figura 68. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS POR VENDAVAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

50,00
40,00
% do TOTAL

30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


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um período mínimo de três dias com temperaturas 5ºC Embora existam inúmeros estudos de caso de eventos
acima dos valores máximos médios. Alguns critérios de- específicos, pouco conhecimento sistemático existe
finem onda de calor intenso quando as temperaturas su- sobre os impactos em diversos setores. Em muitos ca-
peram 32oC em grandes extensões territoriais e em pelo sos, os impactos das ondas de calor estão estreitamen-
menos cinco graus acima do normal em partes daquela te associados aos decorrentes das secas. Estes incluem
área durante pelo menos dois dias ou mais. perda significativa de vidas e o desenvolvimento de
doenças, e custos econômicos no transporte, na agri-
Caracterização cultura, na produção, na energia e na infraestrutura.

As ondas de calor originam-se quando frentes de alta A maioria dos transtornos pelo calor se produz porque
pressão, formadas em regiões quentes, áridas ou se- a vítima esteve sobre-exposta ao calor durante o dia e
miáridas, deslocam-se, invadindo regiões de climas a noites não muito mais amenas. O calor exige do corpo
mais frios, onde se estabilizam por alguns dias. humano algo além de seus limites. Durante o calor ex-
tremo e a umidade alta, a evaporação diminui e o corpo
Em áreas urbanas, o asfalto e o concreto podem reter deve trabalhar arduamente para manter a temperatura
calor durante períodos mais prolongados e liberá-lo normal. As ondas de calor podem incrementar a morta-
gradualmente durante a noite, o que pode dar lugar a lidade e morbilidade (desconforto geral, dificuldades
temperaturas noturnas mais altas, num fenômeno co- respiratórias, insolação etc.) dos grupos vulneráveis,
nhecido como “ilha de calor urbana”. As ilhas de calor especialmente crianças, idosos e pessoas portadoras
urbanas são áreas construídas que apresentam tempe- de afecções cardiorrespiratórias importantes ou com
raturas maiores que as áreas rurais próximas. sobrepeso, sem acesso a um ambiente fresco ou com
ar-condicionado, pelo menos uma parte do dia.
Temperaturas elevadas, particularmente durante o verão,
podem afetar o meio ambiente e a qualidade de vida, assim A demanda de água aumenta durante os períodos de
como podem ser perigosas inclusive para a vida dos seres calor extremo, produzindo escassez ou falta de pres-
humanos que não tomem as precauções necessárias. são nos serviços de distribuição. Isto contribui signi-
ficativamente para potencializar os problemas nas
Ocorrência ações dos Corpos de Bombeiros.

Os desastres provocados por ondas de calor inten- Além disso, o aumento da temperatura da água durante
so ocorrem em diversos locais, causando numerosos as ondas de calor contribui para a degradação da qua-
impactos, muitos dos quais resultando em mortes de lidade da água e impacta negativamente no metabo-
pessoas de grupos vulneráveis. Alguns exemplos deste lismo e na reprodução das populações de peixes. Tam-
tipo de desastres são os eventos de 2003, quando di- bém pode levar à morte de muitos outros organismos
versos países europeus registraram uma forte onda de no ecossistema aquático. Altas temperaturas também
calor com dezenas de milhares de mortos63; os de Ju- se associam com as causas de florescimentos de algas,
lho de 2010 na costa leste dos Estados Unidos64; e o de causando a mortalidade de peixes em rios e lagos.
Abril de 2015, quando mais de 2.200 mortes ocorreram
na Índia em função da elevada temperatura65. Diversos setores da comunidade agrícola são afetados
pelo calor extremo. Animais como coelhos e aves de
Segundo registros referentes a reconhecimentos de si- capoeira são severamente afetados por ondas de calor.
tuações de emergência e estados de calamidade públi- A reprodução do gado e a produção de leite também
ca no Brasil entre 2005 e 2015, não existem registros diminuem durante ondas de calor. Porcos são também
de desastres originados em fenômenos associados a adversamente afetados pelo calor extremo. As safras
ondas de calor no Brasil66. da lavoura de soja, arroz, milho, batata e trigo podem
ser significativamente reduzidas por temperaturas
Impactos extremamente altas em estágios de desenvolvimento-
-chave dessas lavouras.
Extremos de calor contribuem para a ocorrência de um
conjunto amplo e abrangente dos impactos no Brasil. A maior demanda de energia elétrica pode causar, em al-
guns casos, problemas na geração e distribuição, e con-
63
Robine et al. (2008).
sequentes apagões temporários, assim como, dependen-
64
Highlights of the Great Eastern Heat Wave. Accuweather. http:// do das fontes de energia elétrica, aumento nos níveis de
www.accuweather.com/en/weather-news/highlights-of-the-great- poluição do ar e de emissão de Gases de Efeito Estufa.
-easter/33784?partner=
65
Rain brings little relief to southern India as heatwave death toll A queda sustentada da umidade atmosférica e o ex-
nears 2,200. 31 Maio, 2015. The Guardian. https://www.theguar-
dian.com/weather/2015/may/31/southern-india-heatwave-death-
cesso de calor favorecem a intensificação de incêndios
-toll-nears-2200-rain-brings-little-relief florestais muito intensos e a emissão de Gases de Efei-
66
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados to Estufa.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

1.4.9. Ondas de Frio Intenso O calor acumulado durante o dia pela superfície irra-
dia-se durante a noite, provocando uma inversão de
Definição temperatura de tal forma que, nas madrugadas de noi-
tes excepcionalmente frias, ocorre uma grande queda
As Ondas de Frio Intenso correspondem a períodos de de temperatura nas camadas mais próximas do solo,
quedas na temperatura rápidos, grandes e prolonga- formando o orvalho. O orvalho transforma-se em gea-
dos, que ocorrem sobre uma extensa área, acompanha- da quando a temperatura ambiental cai a níveis abaixo
da geralmente por céu claro. de 0°C pelo congelamento direto do vapor d’água exis-
tente na atmosfera, sem passagem pela forma líquida
Caracterização (sublimação).

Durante as ondas de frio intenso, a temperatura mí- As causas da ocorrência do orvalho dependem de fato-
nima do ar fica abaixo dos valores esperados para de- res que favorecem o esfriamento dos corpos por efeito
terminada região em um período do ano. Ventos frios da irradiação noturna para o céu. As perdas de calor
contribuem para agravar a sensação de desconforto por este processo físico estão associadas à exposição
térmico. de um corpo a céu claro e descoberto, à ausência de
vento, a temperaturas baixas, à umidade baixa e às pro-
Em função da dinâmica atmosférica global, em deter- priedades de emissividade dos corpos.
minadas épocas do ano (outono/inverno no Hemisfério
Sul), há uma intensificação no mecanismo de produ- Ocorrência
ção e de deslocamento de frentes frias, que desde as
regiões mais polares passam a atingir regiões de clima Não há registro referente a reconhecimentos de situa-
subtropical, tropical e até mesmo equatorial. ções de emergência e estados de calamidade pública
no Brasil, entre 2005 e 2015, associado a desastres ori-
O ar aquecido das regiões de clima subtropical e tropi- ginados em fenômenos de nevadas e nevascas67.
cal, por ser menos denso, tende a elevar-se, reduzindo
as pressões nas camadas próximas do solo, facilitan- Já a geada ocorre com mais frequência em regiões ele-
do a penetração das frentes frias. As massas de ar frio vadas, frias e de fundo de vales montanhosos. Segundo
provocam a queda da temperatura local. À medida que registros referentes a reconhecimentos de situações de
uma frente fria se aproxima de uma determinada re- emergência e estados de calamidade no Brasil entre
gião, há chuvas fortes, podendo haver fortes rajadas 2005 e 201568, os desastres originados em fenômenos
de vento ou violentas tempestades. Essas alterações de geadas concentram-se nos Estados de Santa Catari-
são comumente seguidas por um rápido clareamento na, Rio Grande do Sul e São Paulo (Figura 69).
do céu, embora algumas nuvens possam persistir por
algum tempo. Impactos

Durante o inverno, frentes frias atingem o sul da Ama- Extremos de frio contribuem para a ocorrência de um
zônia. Este fenômeno, conhecido localmente como conjunto amplo e abrangente de impactos no Brasil.
friagem, ocasiona uma brusca alteração nas condições Embora existam inúmeros estudos de caso de eventos
meteorológicas, causando uma diminuição da tempe- específicos, pouco conhecimento sistemático existe
ratura e umidade do ar e modificando as característi- sobre os impactos em diversos setores da nação. Estes
cas ambientais. incluem perda significativa de vida e doenças, e cus-
tos econômicos no transporte, agricultura, produção,
Nas regiões serranas de Santa Catarina, Rio Grande do energia e infraestrutura.
Sul e sul do Paraná, baixas temperaturas estão asso-
ciadas ao fenômeno meteorológico da nevada, carac- Temperaturas extremamente baixas, particularmente
terizada pela precipitação de neve em grande quanti- durante o inverno, afetam o meio ambiente e a qualida-
dade. A formação de neve está associada a condições de de vida da população. Os principais impactos dire-
de presença de ar supersaturado pelo vapor d’água, de tos associam-se com a possibilidade de ocorrência de
temperatura nas altas camadas atmosféricas próximas mortes e de graves problemas de saúde (gripe, infec-
a –20°C, e da existência de partículas microscópicas ções respiratórias agudas, coqueluche, difteria, saram-
que atuem como núcleos de condensação. A tempesta- po e meningite meningocócica), particularmente na
de de neve ou nevasca caracteriza-se por um conjunto população que desenvolve atividades ao ar livre, está
de partículas de neve levantadas da superfície por ven- desabrigada ou desprovida de agasalhos. Dependendo
tos suficientemente fortes e turbulentos. da magnitude e da duração das frentes frias, existem
impactos na agricultura.
A geada é o processo de deposição de cristais de gelo
(em forma de agulhas, prismas etc.) sobre uma super- 67
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
fície ou folhagem exposta. 68
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
| 83

Figura 69. PROPORÇÃO DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM GEADAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

50,00
40,00
% do TOTAL

30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

Alguns dos impactos indiretos associam-se com o au- A geada pode causar grandes prejuízos às culturas pere-
mento do consumo de energia elétrica, incremento da nes e às culturas de inverno. A susceptibilidade das cul-
demanda por serviços de saúde, assim como interrup- turas agrícolas às geadas varia de acordo com a espécie
ções temporárias das atividades de ensino. e com o estado fenomenológico das plantas no momen-
to da ocorrência. Dois graus Celsius negativos é a tem-
Quando ocorrem nevascas, somam-se os efeitos des- peratura crítica mínima abaixo da qual se iniciam os da-
truidores dos vendavais aos danos provocados pelo nos nas plantas de espécies menos resistentes (banana,
resfriamento e pela acumulação da neve. Os danos mamoeiro e arroz) e 4ºC é o limite para as espécies mais
humanos e materiais provocados por nevadas são rela- resistentes (cafeeiro, cana-de-açúcar e citrus). Os danos
tivamente pequenos. Normalmente, os riscos pessoais serão mais graves e extensos quanto maior for a queda
ocorrem nos deslocamentos motorizados durante as de temperatura abaixo desses limites69 (Figura 70).
nevadas. Nessas condições, pessoas correm o risco de
permanecerem isoladas durante a intempérie. 69
TAVARES (2009).

Figura 70. IMPACTOS DAS GEADAS NO SETOR AGRÍCOLA NO ESTADO DE MINAS GERAIS EM JULHO DE 2016.

Fonte: G1 Triangulo Mineiro (http://g1.globo.


com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noti-
cia/2016/07/geada-destroi-cerca-de-4-milhoes-
-de-pes-de-cafe-em-campos-altos.html).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

1.5.1. Estiagem e Seca


Outros Dados e Informações
Definição
1. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA
E ABASTECIMENTO A Estiagem é um fenômeno climático caracterizado
INMET– Instituto Nacional de Meteorologia por um período de ausência ou redução do volume de
http://www.inmet.gov.br/portal/index. precipitações, ou de atraso do início do período de chu-
php?r=clima/geada vas. A Seca “meteorológica” ocorre quando a duração
2. UNIVERSIDADE DE CAMPINAS da estiagem se prolonga durante período de tempo su-
CEPAGRI – Centro de Pesquisas Meteoroló- ficiente para que a falta de precipitação provoque gra-
gicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura ve desequilíbrio hidrológico de diminuição sustentada
http://www.cpa.unicamp.br/artigos-espe- no tempo, sem a devida reposição das reservas hídri-
ciais/geadas.html cas de superfície e de subsuperfície.
3. EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PES-
QUISA AGROPECUÁRIA Caracterização
Agritempo
http://www.agritempo.gov.br A intensidade de uma estaiagem/seca define-se pelo grau
de umidade, a duração e a superfície da área afetada.

1.5. PROCESSOS E AGENTES


A estiagem/seca pode ser também originada ou inten-
sificada por fatores naturais (incremento da evapora-
CLIMATOLÓGICOS ção da água dos reservatórios e a transpiração pelos
vegetais e animais em consequência da redução dos
No Brasil, parte dos desastres naturais é causada pela níveis de umidade relativa do ar, e do incremento da
dinâmica externa da Terra, conduzida pelos processos insolação e do regime de ventos secos) ou humanos
atmosféricos de longa duração, climáticos, que ocor- (incremento do consumo).
rem em escalas médias a macro (intervalos das esta-
ções até variabilidades climáticas decenais). Ocorrência

A caracterização do clima é baseada na análise de As regiões do Brasil mais afetadas por seca e estiagem
série de dados dos elementos meteorológicos regis- são o Semiárido do Nordeste, que engloba partes de
trados em estações durante longos períodos (mínimo nove estados (Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pa-
de 30 anos de dados). Estes elementos variam espa- raíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergi-
cial e temporalmente em decorrência da influência pe), e o sul do país70 (Figura 71).
dos fatores geográficos do clima: latitude, continen-
talidade, vegetação, altitude, maritimidade, ativida- No Semiárido brasileiro, o problema não é a quantida-
des humanas. de de água que cai, mas a forma como as chuvas se dis-
tribuem no tempo e no espaço. Esta distribuição está
Os processos e agentes climáticos estão estreitamente condicionada por aspectos meteorológicos e climáti-
associados à ocorrência de desastres, já que podem origi- cos. A ausência ou redução de chuvas na região estão
nar e/ou afetar processos naturais potencialmente amea- relacionadas às condições de deslocamentos da Zona
çadores, a formação do relevo e solos e o crescimento e de Convergência Intertropical (em sentido norte-sul)71,
desenvolvimento de cobertura vegetal, como também de sistemas frontais frios (frentes frias) originadas
condicionar o desenvolvimento humano e suas caracte- no Polo Sul com movimento em sentido sul-norte), e
rísticas de vulnerabilidade. Destaca-se que as atividades de frentes convectivas do Oceano Atlântico com mo-
do Homem, de alguma forma, influenciam o clima. vimento em sentido leste-oeste. O fenômeno El-Niño
– Oscilação Sul (ENOS)72 também guarda uma íntima
Entre os desastres relacionados aos processos e agen- relação com os períodos de secas intensas na região.
tes climatológicos, serão a seguir apresentados: estia-
gem e seca; queda intensa da umidade do ar; e incên- Na região sul do Brasil os períodos de estiagem e secas
dios florestais. associam-se à sazonalidade dos regimes de pluviosidade,

70
CEPED/SEDEC (2013).
71
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) é uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre, formada princi-
palmente pela confluência dos ventos alísios do Hemisfério Norte com os ventos alísios do Hemisfério Sul. A convergência dos ventos faz
com que o ar quente e úmido ascenda, carregando umidade do oceano para os altos níveis da atmosfera, ocorrendo a formação das nuvens
(Funceme – http://www.funceme.br/produtos/script/chuvas/Grafico_chuvas_postos_pluviometricos/entender/entender2.htm).
72
Incremento do aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico junto à costa oeste do Equador e da Colômbia que provoca a for-
mação de correntes ascendentes, onde o ar perde umidade (INPE/CPTEC http://enos.cptec.inpe.br/elnino/pt).
| 85

Figura 71. REGIÕES COM MAIOR REGISTRO DE EVENTOS DE SECAS E ESTIAGEM NO BRASIL, ENTRE 1991 E 2012.

Fonte: CEPED/SEDEC, 2013.

os quais são severamente afetados pela ocorrência do com os efeitos no abastecimento doméstico, na gera-
fenômeno La Niña – Oscilação Sul73. ção de energia, na produção industrial, na prestação
de serviços, nas atividades de lazer e turismo, repercu-
Segundo registros referentes a reconhecimentos de tindo também em outros fenômenos como queimadas
situações de emergência e estados de calamidade pú- e intensificação da erodibilidade dos solos. A redução
blica no Brasil entre 2005 e 201574, os desastres origi- da produtividade agropecuária é afetada devido ao im-
nados em fenômenos de secas ocorrem em quase todo pacto na umidade do solo, afetando os demais setores
o território nacional, mas concentram-se nos Estados produtivos e a economia regional.
do Rio Grande do Norte (29,2% das ocorrências), Ceará
(26,1%) e Alagoas (14,3%) (Figura 72). Em algumas regiões, a estiagem e a seca agravam as
condições de vulnerabilidade social já existentes (po-
Já com relação aos registros de desastres referentes a breza, estagnação econômica), reduzindo ainda mais a
reconhecimentos de situações de emergência e estados qualidade de vida da população e justificando a migra-
de calamidade pública no Brasil entre 2005 e 201575, ção para outras regiões. Nestas condições de escassez
originados em fenômenos de estiagem, estes ocorrem de água e alimentos surgem ou se intensificam enfer-
em quase todo o território nacional, mas concentram- midades derivadas da desnutrição e da desidratação,
-se nos Estados da Paraíba (17,4% das ocorrências), e se descontinuam funções de atendimento à saúde,
Bahia (13%), Piauí (12,9%) e Ceará (11,4%) (Figura 73). que, em casos extremos, podem levar a registrar casos
de morte76 (Figura 74).
Impactos
1.5.2. Queda Intensa da Umidade Relativa do Ar
A estiagem e a seca estão associadas a grandes pre-
juízos econômicos e sociais, impactando grandes áreas Definição
espaciais e diferentes setores da sociedade. Os impac-
tos diretos ocorrem na redução dos níveis de água de A Umidade Relativa do Ar é a relação, expressa em por-
reservatórios e rios, o que indiretamente associa-se centagem, entre a quantidade de vapor d’água existente

73
Fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao El Niño, e que se caracteriza por um esfriamento anormal nas águas
superficiais do Oceano Pacífico Tropical (INPE/CPTEC http://enos.cptec.inpe.br/elnino/pt).
74
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
75
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
76
TAVARES (2009).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 72. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM SECAS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

35,00
30,00
25,00
% do TOTAL

20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

Figura 73. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM ESTIAGEM, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

20,00
15,00
% do TOTAL

10,00
5,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados.

no ar decorrente da evaporação de água para a atmos- Ocorrência


fera e a quantidade máxima que o ar pode conter, sob as
mesmas condições de temperatura e pressão. O fenômeno adverso é relativamente frequente em
áreas de planalto continental, distantes das influên-
Caracterização cias suavizantes do clima marítimo. No Brasil, a que-
da intensa dos índices de umidade atmosférica ocorre,
A Organização Mundial da Saúde (OMS), com vistas a principalmente, no Semiárido nordestino e na área de
auxiliar os governos e a população, estabelece um ín- planalto da Região Centro-Oeste.
dice de umidade que indica sinais de cuidado quando a
umidade do ar é menor que 60%; de observação entre No entanto, não existe registro referente a reconheci-
40 e 30% de umidade no ar; de atenção entre 29 e 20%; mentos de situações de emergência e estados de cala-
de alerta entre 19 e 12%; e finalmente de emergência, midade pública no Brasil entre 2005 e 2015, associado
quando menor que 12%. O menor índice de umidade do a desastres originados em fenômenos de queda inten-
dia é registrado à tarde, por volta das 15 horas. sa da umidade do ar.
| 87

Figura 74. IMPACTOS DA SECA NA ATIVIDADE AGROPECUÁRIA NO NORDESTE DO BRASIL.

Fonte: UOL Notícias (http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-


-noticias/2016/11/23/em-3-anos-seca-severa-no-nordeste-causa-
-prejuizo-de-r-1035-bilhoes.html).

Impactos Caracterização

Os impactos da queda intensa da umidade relativa do A propagação dos incêndios florestais depende de con-
ar estão associados à redução das reservas hídricas de dições naturais associadas à baixa umidade relativa do
superfície e subsuperfície, ao incremento do consumo ar, temperaturas elevadas, ausência de chuvas durante
de água tratada, e à intensificação do ressecamento certo período, direção e intensidade do vento, grau de
das pastagens e da vegetação, dos incêndios florestais, umidade e tipo de cobertura vegetal, e características
da poluição atmosférica, e dos índices de morbilidade do relevo. Todas estas são condicionantes importantes
por desidratação e por afecções respiratórias. Condi- para a ocorrência de incêndios florestais. Um incêndio
ções de baixa umidade do ar dificultam a dispersão de pode se propagar pela superfície do terreno, pelas co-
gases poluentes e provocam o ressecamento das mu- pas das árvores e através da serrapilheira.
cosas das vias aéreas, tornando a pessoa mais vulnerá-
vel a crises de asma e a infecções virais e bacterianas. Ocorrência
Com níveis de umidade menores de 30%, os prejuízos
para a saúde se tornam mais evidentes (dor de cabe- Os incêndios florestais ocorrem em todas as regiões do
ça,alergia, sangramento nasal). Brasil durante todo o ano, mas concentrado entre os
meses de julho e outubro77 (Figura 75). Segundo dados
1.5.3. Incêndios Florestais do CPTEC/INPE78, entre 2006 e 2105, os estados que
registraram maior proporção de focos de incêndio e
Definição queimadas florestais foram Pará (17,3% do total), Mato
Grosso (15,9%), Bahia (7,6%) e Tocantins (7,56%) (Figu-
Os Incêndios Florestais correspondem à propagação ra 76). Em particular, a região Amazônica do Brasil foi
por grandes extensões de fogo sem controle, em qual- palco de grandes incêndios das suas florestas tropicais
quer tipo de vegetação, provocados por causas natu- (Roraima, 1997-1998; Mato Grosso, 1998; Pará, 1998)79.
rais (descargas elétricas, raios). Os incêndios florestais
também podem ser iniciados pelo Homem (queimadas Especial atenção observa-se na ocorrência de in-
propositais ou por negligência). cêndios florestais nas áreas legalmente protegidas,

77
CEPED/SEDEC (2013).
78
http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/estatisticas_estados.php
79
Cochrane, M. O grande incêndio de Roraima. CIÊNCIA HOJE 27(157): 26-31.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 75. OCORRÊNCIA DE INCÊNDIOS FLORESTAIS NO BRASIL EM 2016.

Fonte: EBC (http://radios.ebc.com.br/reporter-amazonia/edicao/2016-06/


incendios-florestais-crescem-50-no-brasil).

integrantes do Sistema Nacional de Unidades de Con-


servação, considerando a sua relevância em função do Outros Dados e Informações
patrimônio biológico, geológico, cultural, e das formas
de vida ali existentes. Neste sentido, os registros refe- 1. AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS – ANA
rentes a reconhecimentos de situações de emergência Monitor de Secas do Nordeste do Brasil
e estados de calamidade pública no Brasil entre 2005 http://monitordesecas.ana.gov.br/
e 201580, nestas áreas, concentram-se nos Estados do 2. INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS ES-
Tocantins (70% das ocorrências), Mato Grosso (10%) e PACIAIS – INPE
Amapá (10%) (Figura 77). Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais –
Radiação Solar e Terrestre
Impactos http://satelite.cptec.inpe.br/radiacao/?i=br
Monitoramento de queimadas e incêndios
Os prejuízos econômicos e sociais dos incêndios flo- http://www.inmet.gov.br/portal/QUEIMADAS
restais estão associados, principalmente, à perda de http://www.inpe.br/queimadas/
vidas, à destruição de edificações e postes de ilumi- 3. DEPARTAMENTO NACIONAL DE OBRAS
nação e comunicação, à alteração de ecossistemas, CONTRA AS SECAS – DNOCS
de biodiversidade e de serviços ambientais, às perdas Principais Açudes do DNOCS
agrícolas e vidas de animais, à poluição atmosférica http://www.dnocs.gov.br/mapa/acudes.php
e emissão de Gases de Efeito Estufa. Indiretamente, 4. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PECUÁRIA E
os incêndios florestais aumentam a probabilidade de ABASTECIMENTO
acidentes rodoviários em consequência da diminuição Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
da visibilidade, assim como aceleram os processos de www.inmet.gov.br/portal
desertificação e desflorestamento.

1.6. AGENTES BIOLÓGICOS


ter também significado econômico ou ecológico pre-
Os Desastres Biológicos (DB) são aqueles que envol- ponderante.
vem os impactos causados pela disseminação de orga-
nismos vivos, frequentemente de forma rápida e ma- Para a caracterização adequada de um evento como
ciça, de modo natural ou intencional. Estes impactos um desastre biológico devem ser levados em consi-
têm grande importância na saúde pública, mas podem deração os agentes patogênicos de populações ani-
mais e humanas – ou exclusivamente humanas – que
80
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados ocorrem, ciclicamente, sob a forma epidêmica, ou,
| 89

Figura 76. TOTAL DE FOCOS DE INCÊNDIO E QUEIMADAS, POR ESTADO, ENTRE 2006 E 2015.

350.000

300.000

250.000
NÚMERO

200.000

150.000

100.000

50.000

0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: CPTEC/INPE (http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/estatisticas_estados.php).

Figura 77. PERCENTUAL DE RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP),
ORIGINADOS EM INCÊNDIOS FLORESTAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

80,00
70,00
60,00
% do TOTAL

50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

em caráter duradouro, sob a forma dita endêmica. O conjunto de características de um determinado


As epidemias de maior interesse são as que causam agente patogênico, da epidemia que determina, e da
doenças humanas. população sobre a qual incide é que indicará a gravida-
de do evento – se pode ser caracterizado como desas-
Agente Patogênico tre ou não – e a natureza das medidas de controle ne-
cessárias, informações estas relevantes para as ações
Um agente patogênico, também chamado de patóge- de proteção e defesa civil.
no, agente infeccioso ou agente etiológico animado, é
um organismo cuja presença, a partir de um contato O COBRADE (Classificação e Codificação Brasileira de
efetivo com o hospedeiro, serve de estímulo a uma per- Desastres) trata dos Desastres Biológicos na categoria
turbação específica, sendo capaz de produzir doenças dos Desastres Naturais, dividindo-os em dois grandes
infecciosas, sempre que se encontre em condições am- grupos: epidemias e infestações/pragas. O primeiro gru-
bientais favoráveis81. po abarca doenças infecciosas virais, bacterianas, para-
síticas e fúngicas. O segundo grupo engloba as infestações
de animais, de algas e outras infestações. O COBRADE
81
MENDES (1980). classifica os desastres biológicos, portanto, de acordo
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

com o tipo de agente microbiano ou de organismo res- b. Agentes infecciosos presentes no país sob
ponsável pelas infestações. Outros critérios, também, a forma endêmica (vírus da febre da den-
são importantes para classificação de desastres biológi- gue) mas cuja ocorrência pode sofrer exa-
cos e seus agentes causadores, tais como: (i) presença cerbações de caráter epidêmico.
autóctone no território nacional, circulando de forma 2. Disseminação
endêmica, com ocorrência de exacerbações epidêmicas 3. Letalidade
sazonais ou eventuais; (ii) potencial de letalidade: agen- 4. Comportamento Epidêmico:
tes infecciosos que causam processos de doenças com a. Enfermidades infecciosas causadas por
taxa de letalidade alta (vírus Ebola) ou baixa (vírus Zika); agentes patogênicos que provocam pande-
(iii) potencial para disseminação rápida: a) agentes in- mias (vírus H1N1 – gripe);
fecciosos com rápida capacidade de disseminação entre b. Agentes infecciosos causadores de surtos
hospedeiros humanos, por contato corporal direto (vírus epidêmicos localizados (leptospirose).
da gripe); b) agentes infecciosos cuja disseminação não 5. Controle
se faz diretamente, entre seres humanos, mas depende
da veiculação por agentes “externos” ao organismo hu- O Quadro 8 lista algumas causas de epidemias e suas
mano, quer de natureza inanimada (água) ou animada características, conforme estes critérios.
(mosquitos vetores); (iv) considerado objeto de “alerta
global” pela Organização Mundial de Saúde (vírus Ebola); O Guia de Vigilância Epidemiológica82, do Ministério da
(v) capacidade de produzir infecções aguda ou crônicas; Saúde, traz uma lista dos agravos infecciosos no Bra-
(vi) disponibilidade de tecnologias de fácil acesso para sil, adicionando-lhes a codificação necessária. A títu-
seu controle: a) agentes causadores de doenças para as lo de ilustração, é apresentado abaixo um quadro com
quais há métodos eficazes, de fácil acesso, diretos ou um sumário das principais epidemias e de seus agentes
indiretos, de controle da disseminação do processo in- causadores, que afetaram mais seriamente a popula-
feccioso (vacina contra febre amarela; quimioterápicos ção brasileira nos últimos 100 anos (Quadro 9).
contra parasitos da malária), b) doenças infecciosas para
as quais as tecnologias específicas de controle não estão Algumas das epidemias descritas no Quadro 9 ocorre-
disponíveis e dependem de medidas de isolamento de pa- ram globalmente e se constituíram em importantes
cientes ou restrição à movimentação humana (vírus Ebo- desastres (Gripe Espanhola 1918-1919). No Brasil,
la); (vii) grau de “endemismo”, ou seja, se sua ocorrência algumas destas epidemias se iniciaram rapidamente
é frequente ou apenas esporádica. e, após um período variável de expansão geográfica,
se tornaram estáveis, embora com infecções sempre
Com relação aos agentes patogênicos, é importante ocorrendo (forma endêmica da doença). Isto se deve a
verificar as seguintes características: um processo de imunização coletiva, pela circulação
natural do vírus na população susceptível e, também,
1. Imunidade por medidas tomadas pelo Sistema Único de Saúde
a. Agentes infecciosos recém-introduzidos no visando à contenção do processo epidêmico. Este é o
país, para os quais a maioria da população
humana tem pouca ou nenhuma imunidade 82
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_epi-
natural para combater a infecção (vírus Zika); demiologica_7ed.pdf

Quadro 8. DOENÇAS DE IMPORTÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NO BRASIL E SUAS CARACTERÍSTICAS DE TRANSMISSÃO,


IMUNIDADE, CAPACIDADE DE CAUSAR SURTOS, LETALIDADE E CONTROLE.

Doenças ou agente Imunidade Ocorrência de Taxa de Tecnologias para


Transmissão direta
infeccioso coletiva pandemia letalidade controle

Vírus Zika - - ++ + +
Vírus Ebola +++ - ++ +++ +
Vírus Gripe +++ ++ +++ + +++
Vírus Dengue - +++ + + ++
Malária - + - + +++
Leptospirose - + - ++ ++
Hantavirose Pulmonar + - + +++ -
Meningite Meningocócica +++ +++ + ++ +++
Legenda: os sinais indicam a intensidade da característica considerada. Fonte: Elaboração própria.
| 91

Quadro 9. PRINCIPAIS EPIDEMIAS DE DOENÇAS INFECCIOSAS OCORRIDAS NO BRASIL ENTRE 1900 E 2016.

DOENÇA INÍCIO/PERÍODO AGENTE CAUSADOR AFETADOS/MORTOS

300.000 óbitos
Influenza (gripe “espanhola”) 1918 Vírus
65% da população afetada
1899-1904 1.344 óbitos
Peste Bubônica Bactéria 7.050 casos
1935-2007
1.134 óbitos
90.000 casos
Febre Amarela (urbana) 1850-1929 Vírus
11.713 mortes
100.000 casos
Malária no Nordeste 1930-1940 Parasita (protozoário)
2.400 mortes
Varíola Vírus Erradicada em 1973
Poliomielite Vírus Controlada por vacinação
Meningite Meningocócica 1974 Bactéria 19.933 casos
Sarampo 1896 Vírus 129.942 casos
15.428 casos suspeitos
Coqueluche 2012 Bactéria
4.453 confirmados
AIDS 1983-2009 Vírus 506.000 casos
Vírus
Dengue (Rio de Janeiro) 1986-1987 93.500 casos

4.243.049 casos
Dengue Brasil 1981-2006 Vírus
338 óbitos
50.482 casos
Gripe Suína 1981-2006 Vírus
2.060 óbitos
Chikungunia 2015 Vírus 20.662 casos
2015 500 mil a 1 milhão casos
Zika Vírus
Fevereiro a abril 2016 91.387 casos
Leptospirose (Rio de Janeiro) 1996 Bactéria 1.732 casos
168.591 casos
Cólera 1991-2000 Bactéria
2.034 óbitos
Gripe H1N1 2009 Vírus 95.844 casos
Fonte: Elaboração própria.
(A tabela acima foi elaborada a partir da consulta aos seguintes artigos científicos e websites:
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7
http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/Biograf/ilustres/oswaldocruz.htm
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_vigilancia_controle_peste.pdf
http://files.bvs.br/upload/S/1983-2451/2011/v36n1/a1923.pdf; http://www.saude.pr.gov.br/arquivos/File/vigiamb/vetores/febreAmarela/
ZouraideGuerra2.pdf
Camargo, E. (1995). A malária encenada no grande teatro social. Estudos Avançados, 9(24), 211-228.
Schneider, C., Tavares, M. e Musse, C. (2015). O retrato da epidemia de meningite em 1971 e 1974 nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo.
Revista Eletrônica de Comunicação, Informação & Inovação em Saúde, 9(4).
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiologica-dados-sarampo
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/vigilancia/noticias-vigilancia/7569-ministerio-da-saude-alerta-sobre-
-a-situacao-epidemiologica-da-coqueluche-no-brasil?tmpl=component&print=1&layout=default&page=
Grangeiro, A., Silva, L. e Teixeira, P. (2009). Resposta à AIDS no Brasil: contribuições dos movimentos sociais e da reforma sanitária. Rev
panam salud pública, 26(1), 87-94.
Barreto, M. e Teixeira, M. (2008). Dengue no Brasil: situação epidemiológica e contribuições para uma agenda de pesquisa.
Nogueira, R., Araújo, J. e Schatzmayr, H. (2007). Dengue viruses in Brazil, 1986-2006. Revista Panamericana de Salud Publica, 22(5), 358-363.
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/plano_nacional_saude_2012_2015.pdf
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/janeiro/19/2015-002---BE-at---SE-53.pdf
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160129_numero_conflito_zika_lab
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/abril/27/2016-014---Dengue-SE13-substitui----o.pdf
Tassinari, W., Pellegrini, D., Sabroza, P. e Carvalho, M. (2004). Distribuição espacial da leptospirose no Município do Rio de Janeiro, Brasil,
ao longo dos anos de 1996-1999. Cadernos de Saúde Pública,20(6), 1721-1729.
Benatto, M. (2002). A cólera no Brasil de 1991 a 2000: perfil epidemiológico.
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinannet/cnv/influbr.def)
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

caso da febre da dengue, que está presente no Brasil complexos (protozoários, vermes e artrópodes), que
há três décadas. atuam como hospedeiros intermediários84 (aqueles que
apresentam o parasito em sua fase larval ou assexuada).
No caso da gripe suína (H1N1), embora tenha afetado
o país como parte de uma pandemia de alcance global, A categoria que reúne estes dois tipos de doenças é co-
na realidade não chegou a se constituir em um “desas- nhecida por DIP (Doenças Infecciosas e Parasitárias) e
tre”, pois as medidas de controle adotadas e a imuni- tem ocupado desde os anos de 1980 um papel de desta-
dade da população mantiveram a taxa de mortalida- que no Brasil entre as principais causas de morte. Este
de nos mesmos níveis da gripe “sazonal”, que ocorre grupo de doenças reveste-se de importância por seu im-
anualmente. Este é um exemplo de que um processo pacto social, uma vez que está relacionado à pobreza e às
epidêmico não necessariamente significa desastre se condições de vida, englobando doenças relacionadas às
o conjunto de condições propiciadoras citado anterior- condições de moradia, alimentação e higiene precárias85.
mente não estiver presente. Estas doenças atingem com maior impacto a população
menos privilegiada, de baixa renda, com baixo nível de es-
De modo geral, o termo “desastres biológicos” refere- colaridade e que não dispõe de condições de saneamento
-se aos seguintes eventos: básico e assistência primária à saúde, sendo, portanto,
mais susceptível a não notificação dos óbitos.
a. Epidemias e pandemias (em população huma-
na e de animais domésticos); Do ponto de vista da exposição ao risco, deve-se consi-
b. Bioterrorismo (uso intencional de agentes in- derar a grande concentração demográfica nos estados
fecciosos humanos); do Sudeste e do Sul. Por outro lado, as diferenças so-
c. Pragas; cioeconômicas entre regiões e mesmo dentro das gran-
d. Ataques por animais; des cidades contribuem para as diferenças na vulnera-
e. Liberação de organismos geneticamente modi- bilidade e na resiliência a desastres dessas populações.
ficados;
f. Invasões biológicas. Os estados brasileiros apresentam diferentes graus de
desenvolvimento, que se refletirão no nível de vida da
Contudo, neste Manual utiliza-se, como referência- população e repercutirão nos diferentes padrões de
-base, o COBRADE, documento de codificação dos de- mortalidade observados em cada estado.
sastres da Defesa Civil brasileira, que considera como
desastres biológicos, como dito anteriormente, as epi- Os desastres biológicos decorrentes de epidemias são
demias e as infestações/pragas. Além desses, devido classificados em dois tipos principais:
à sua relevância, também são apresentadas outras
ameaças que não constam no COBRADE. São elas: bio- a) Primários: surgem na população humana inde-
terrorismo, ataques por animais e organismos geneti- pendentemente da ocorrência de outros eventos
camente modificados. no meio biofísico. Estes desastres têm maior po-
tencial de dano em virtude da ação dos micro-or-
1.6.1. Epidemias ganismos sobre o corpo humano e seu potencial
de disseminação rápida, no tempo e no espaço;
Definição b) Secundários: ocorrem localmente como conse-
quência de outros eventos (inundações, secas).
Uma Epidemia caracteriza-se pela ocorrência, em Tem menor potencial de dano e, geralmente, são
uma comunidade ou região, de um grupo de doenças resolvidos por ações do sistema local de saúde
de natureza similar que claramente excede o que se- (frequentes surtos de leptospirose observados
ria esperado e que deriva de uma fonte em comum. As após inundações em áreas urbanas).
pandemias referem-se a epidemias de escalas globais,
afetando um grande número de pessoas em diversos As epidemias que ocorrem enquanto desastres bioló-
países ou continentes83. gicos “primários” devem ser distinguidas de surtos de
doenças transmissíveis que são consequências de de-
Caracterização sastres “não biológicos” do tipo climático, hidrológico,
geológico etc., que, em geral, ocorrem em escala lo-
As epidemias podem ser causadas por doenças infeccio- calizada. Estes surtos ocorrem como consequência de
sas ou parasitárias. As doenças infecciosas são origina- mudanças ecológicas e demográficas (densidade e des-
das por micro-organismos externos (vírus, bactérias, ri- locamento da população humana), bem como da desor-
quétsias, clamídias e fungos), que passam a viver dentro ganização ou mesmo interrupção dos serviços de saúde.
do corpo humano, gerando a doença. Já as doenças pa-
rasitárias são causadas por organismos um pouco mais 84
http://www.portaleducacao.com.br/enfermagem/artigos/44206/
doencas-infecciosas-e-parasitarias
83
GORDIS (2004). 85
PAES e SILVA (1999).
| 93

Ocorrência Sarampo

Historicamente, o Brasil tem sofrido com sucessivos Definição


desastres biológicos, sob a forma de epidemias, cujas
causas passaram a ser adequadamente caracterizadas O Sarampo é uma doença respiratória aguda altamen-
a partir do fim do século XIX. Naquela época, assim te contagiosa, que apresenta gravidade variável. Esta
como nas primeiras décadas do século XX, eram co- doença é causada por um morbillivirus (Paramyxovi-
muns as epidemias de febre amarela urbana, varíola, ridae), que se difunde rapidamente em aglomerações
peste bubônica, cólera e influenza, causando grandes humanas e é transmitido diretamente de pessoa para
perdas humanas. pessoa, por meio de secreções respiratórias. Morbilli-
virus é o nome dado a um gênero de vírus pertencente
Os processos epidêmicos de maior impacto no país à família Paramyxoviridae, da ordem Mononegavirales
foram a meningite meningocócica (década de 1970), (classificação biológica)87.
a febre da dengue e a AIDS (década de 1980), e a có-
lera (década de 1990). Já o século atual se iniciou Caracterização
com processos pandêmicos (epidemias globais) que
afetaram o Brasil, como a síndrome respiratória Os sintomas iniciais são febre, conjuntivite, catarros
aguda grave e a gripe suína e, mais recentemente, nasais, tosse persistente, com o aparecimento das man-
a introdução de viroses emergentes como a zika e chas de Koplik – pequenas áreas de tonalidade clara e
a chikungunya. azulada, rodeadas de uma auréola inflamatória verme-
lho intenso88 – na face interna das bochechas e gengi-
Nos últimos 40 anos, têm ocorrido epidemias de alcan- vas, seguidas de um exantema (erupções cutâneas), que
ce e impactos variáveis no Brasil, tais como a da menin- se inicia na face e depois se generaliza. O quadro clínico
gite, da malária, da leptospirose, da febre da dengue e, do sarampo manifesta-se em duas fases:
mais recentemente, a do vírus zika. Entre 2012 e o iní-
cio de 2016, as epidemias registradas no Brasil foram: • Invasiva: Inicia-se com febre alta, irritação, so-
coqueluche; sarampo; hantavirose; influenza; febre de nolência, dor de cabeça e lombar. Após 24 horas,
chikungunya, zika vírus; e, dengue86. ocorre o comprometimento das vias aéreas su-
periores, com espirros frequentes, tosse rouca e
A ameaça pandêmica mais importante, historicamente, persistente, acompanhados de lacrimejamento
e que persiste até hoje, é a influenza com suas muitas e conjuntivite. Manchas de Koplik são fáceis de
variantes. A epidemia ocorre de forma sazonal, princi- distinguir quando examinadas à luz do dia. Após
palmente no inverno dos países de clima temperado e, 24 horas, elas tornam-se numerosas, aparecen-
eventualmente, surge de forma pandêmica, em ciclos do nas gengivas e na face interna dos lábios.
de duração variável. O último evento pandêmico foi a Com o surgimento do exantema, as manchas
infecção pelo vírus H1N1, ocorrida em 2009, que se ini- empalidecem e desaparecem gradualmente.
ciou no México. • Eruptiva: Entre o segundo e o quarto dia depois
de iniciada a doença, surgem erupções cutâneas,
1.6.1.1. Doenças Infecciosas Virais inicialmente no rosto, no pescoço e atrás das ore-
lhas, propagando-se para o peito e generalizando
As Doenças Infecciosas Virais são definidas, de em 36 horas, e geralmente vêm acompanhadas de
acordo com o COBRADE, como o aumento brusco, coceira. Estas erupções começam com o apareci-
significativo e transitório da ocorrência de doenças mento de pequenas manchas avermelhadas e ele-
geradas por vírus. Entre as doenças virais, podem vadas, que crescem e unem-se formando manchas
ser listadas: maiores de forma e tamanho irregulares. Quando
a erupção está plenamente desenvolvida, as man-
• Sarampo chas recobrem toda a face e o peito do indivíduo.
• Febre amarela A febre retorna em níveis mais elevados do que no
• Hantavirose período invasivo e ocorre uma reativação e inten-
• Influenza sificação dos sintomas catarrais, caracterizando
• Febre de chikungunya um quadro de traqueobronquite com abundantes
• Zika vírus roncos e sibilos. O rosto apresenta-se inchado e
• Dengue ocorre agravamento da conjuntivite e do lacrime-
• Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA jamento dos olhos. Após dois a três dias de iniciado
ou AIDS) o exantema, o quadro clínico começa a melhorar,
com a diminuição da temperatura corporal e sua
86
BRASIL, 2016a; BRASIL, 2016b; BRASIL, 2016c; BRASIL, 2016d;
BRASIL, 2016e; BRASIL, 2015a; BRASIL, 2015b; BRASIL, 2015c; 87
NOAA Fisheries (2014).
BRASIL, 2014a; BRASIL, 2014b; BRASIL, 2012. 88
BRASIL (2003).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

normalização, melhoria do quadro respiratório, e 2014, destacando-se que, segundo os dados dos úl-
tem início a descamação das crostas da pele. Nesta timos anos, há uma tendência a zerar os óbitos por
fase, ocorre um grande comprometimento do esta- esta enfermidade.
do geral do paciente.
Ao se comparar o número de óbitos por sarampo en-
Considerada uma virose típica da infância, também tre as regiões brasileiras (Figura 79), percebe-se que,
pode atingir adultos. Em pacientes debilitados pode durante a década de 1990, havia uma predominância
determinar complicações, tais como: pneumonia, in- dos óbitos nas Regiões Nordeste e Sudeste, sendo, no
fecções secundárias e sequelas neurológicas. Nordeste, os Estados do Maranhão e da Paraíba e, no
Sudeste, os Estados de Minas Gerais e do Espírito San-
Ocorrência to os que possuíam o maior número. A partir de 1999, o
número de óbitos no país diminuiu drasticamente, ten-
Segundo o Ministério da Saúde89, o sarampo é uma doen- dendo a zero nos dias atuais.
ça de distribuição universal que apresenta uma variação
sazonal. No Brasil, o sarampo é uma doença de notifica- Febre Amarela
ção compulsória desde 1968. Assim como em outros paí-
ses tropicais, verifica-se um aumento da incidência de Definição
sarampo no país após a estação chuvosa. Entretanto, o
comportamento endêmico-epidêmico da doença varia de A Febre Amarela é uma arbovirose silvestre causada
um local para o outro e depende basicamente da relação pelo vírus amarílico Flavivirus, de curta duração e de
entre o grau de imunidade e a susceptibilidade da popula- gravidade variável, podendo ser mortal em alguns casos.
ção, assim como da circulação do vírus na área.
A febre amarela é uma doença frequente entre ani-
Apesar de o sarampo normalmente apresentar um qua- mais, principalmente macacos, que se constituem em
dro clínico favorável, a doença é considerada grave, “reservatórios” da infecção para o Homem, que a ad-
especialmente em povos indígenas isolados e crianças quire acidentalmente. Ocorre sob a forma de surtos,
pequenas ou desnutridas. A incidência, a evolução clí- geralmente localizados, em populações não vacinadas.
nica e a letalidade do sarampo são influenciadas pelas Pode ser transmitida por diversas espécies de mosqui-
condições socioeconômicas, nutricionais, imunitárias tos, incluindo o Aedes aegypti90.
e aquelas que favorecem a aglomeração em lugares pú-
blicos e em pequenas residências. Caracterização

A Figura 78 apresenta uma redução do número de Existem duas formas de febre amarela que são dife-
óbitos anuais por sarampo no Brasil entre 1990 e renciadas apenas pelos mecanismos de transmissão
(Figura 80):
89
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/situacao-epidemiolo-
gica-dados-sarampo 90
RAGB e OLIVEIRA (1998).

Figura 78. NÚMERO DE ÓBITOS POR SARAMPO NO BRASIL ENTRE 1990 E 2014.

500
450
400
NÚMERO DE ÓBITOS

350
300
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150
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0

90

91

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03

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07

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14
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

ANOS

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade – Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saú-
de (Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/05/--bitos-de-Sarampo-.pdf).
*Dados atualizados em 23/05/2014.
| 95

Figura 79. NÚMERO DE ÓBITOS POR SARAMPO NAS DIFERENTES REGIÕES DO BRASIL ENTRE 1990 E 2014.

550
500
NÚMERO DE ÓBITOS

450
400
350
300
250
200
150
100
50
0

2014•
2012

2013
1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011
ANOS

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade – Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saú-
de (http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014).

Figura 80. CICLO URBANO E SILVESTRE DA FEBRE AMARELA.

Fonte: Ministério da Saúde (http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/descricao-da-doenca-febreamarela


Acesso em: 28 de nov. 2016).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

• Urbana: o reservatório é o Homem e o agente longo da coluna dorso-lombar; prostração intensa,


transmissor é o Aedes aegypti91. No Brasil não sinais de congestão arterial ativa, e dores abdomi-
ocorriam casos urbanos desde 1942. nais, que podem ser acompanhadas por náuseas,
vômitos e hemorragias precoces.
Apesar das notícias recentes veiculadas na mídia de epi- • Terceira Fase: O vírus se fixa nos tecidos (rins,
demia de febre amarela92, com registro de casos em di- fígado, baço). Ocorre após um período de re-
versos estados brasileiros, especialmente na Região Cen- missão e se caracteriza por apresentar febre,
tro-Oeste, a partir de 2014, e nos anos de 2016 e primeiro acompanhada de cianose, assim como de sin-
trimestre de 2017 na Região Sudeste, a Fundação Oswal- tomas urinários, hemorrágicos e hepáticos. Se
do Cruz aponta que todos os casos registrados tiveram o paciente sobreviver a esta fase, começa a se
transmissão silvestre93. Para os pesquisadores e autorida- recuperar após oito dias de doença e demorará
des da área de Saúde, o que existe é uma ameaça de “reur- algum tempo para que sua recuperação ocorra
banização” da febre amarela, o que provocaria o retorno por completo, mantendo-se fraco e cansando-se
da doença para as grandes cidades brasileiras. facilmente por alguns meses. Entende-se por
remissão a fase da doença em que não há sinais
Segundo o Informe nº 30 do Centro de Operações de Emer- de desenvolvimento da mesma, mas que não se
gências em Saúde Pública sobre Febre Amarela (COES) / pode afirmar que tenha ocorrido cura.
Ministério da Saúde, de dezembro de 2016 até o dia 13
de março de 2017, foram notificados 1538 casos de febre A população vulnerável é aquela não vacinada, loca-
amarela no Brasil, dos quais 958 ainda encontram-se em lizada principalmente nas áreas não endêmicas. Há
investigação, 396 foram confirmados e 184 foram descar- um risco maior de infecção para indivíduos adultos, do
tados. Entre os óbitos, 112 encontram-se em investigação, sexo masculino, em função da exposição ocupacional
134 foram confirmados e 9 foram descartados94. (atividades extrativistas na floresta). Teoricamente,
todas as populações das cidades brasileiras estão sob
• Silvestre: os reservatórios da doença são os ma- o risco de infecção amarílica em função da presença de
cacos dos gêneros Alouatta (guariba), Cebus numerosas populações do vetor urbano Aedes aegypti.
(macaco-prego), Atelos (cuatá ou macaco-ara- Indivíduos que tenham adquirido a infecção em zonas
nha) e Callinpheix (mico), e, no Brasil, há a hi- endêmicas podem carrear o vírus para cidades, inician-
pótese de transmissão por marsupiais (gambá) do uma epidemia de caráter urbano.
ocasionalmente contaminados. Os mosquitos
silvestres mais comumente infectados pelo ví- Ocorrência
rus são dos gêneros Aedes e Haemagogus (A.
leucocelaenus, A. spegazzini e H. carricornii). No Brasil são considerados dentro da área endêmica os
Não ocorre transmissão de um homem ou de um Estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato
macaco para outro, mas a transmissão entre os Grosso, Pará, Amapá, Tocantins, Goiás e oeste do Mara-
mosquitos silvestres contribui para manter a in- nhão. No ano 2000 foram registrados casos autóctones
fecção na área endêmica. de febre amarela silvestre no Distrito Federal, o que é
explicado devido às densas áreas de matas ciliares e
Após ser picado, o ser humano manifesta os sintomas em povoadas por macacos. Surtos esporádicos têm ocor-
três a seis dias. Estes dependem da gravidade do quadro rido em Goiás, Bahia e Minas Gerais em populações
clínico, e podem ser desde uma infecção viral inespecífi- rurais não vacinadas. Qualquer caso suspeito de febre
ca ou sintomas semelhantes aos da dengue até o quadro amarela, em seres humanos, deve ser obrigatoriamen-
clássico, quando a doença evolui em três estágios: te comunicado à autoridade sanitária e investigado.

• Primeira Fase: Assintomática. O vírus se multi- Síndrome Cardiopulmonar Por Hantavírus


plica nos tecidos linfáticos e nos órgãos forma- (SCPH) ou Hantavirose Pulmonar
dores do sangue.
• Segunda Fase: O vírus invade a corrente sanguínea, Definição
onde continua o processo de multiplicação. Carac-
teriza-se por febre acompanhada de calafrios que, A Síndrome Cardiopulmonar Por Hantavírus (SCPH)
em poucas horas, atinge níveis de 39-40ºC e dura ou Hantavirose Pulmonar é uma infecção classificada
em média três dias. O paciente pode apresentar do- como uma doença emergente causada pelo vírus do
res de cabeça intensa, musculares, articulares e ao gênero Hantavirus (Bunyaviridae), que tem como re-
servatório diversos roedores silvestres.
91
CIVES/ UFRJ (2009). A infecção humana ocorre pela inalação de aerossóis e
92
http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2017/01/aumentam-
-casos-de-febre-amarela-ja-e-o-pior-surto-registrado-no-brasil.html
poeiras formados a partir do ressecamento das fezes,
93
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (2017). urina fresca e saliva dos roedores silvestres contami-
94
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017). nados pelo vírus, contendo partículas virais.
| 97

Caracterização cia da gripe relaciona-se com a rapidez com que esta


doença assume proporções epidêmicas, com os altos
É uma doença febril aguda, de natureza hemorrágica, coeficientes de ataque e com a gravidade de suas
afetando principalmente o aparelho respiratório. Den- complicações como as superinfecções causadoras de
tre os casos registrados no Brasil, estima-se uma taxa pneumonias bacterianas.
média de letalidade de cerca 47%95. A doença ocorre
mais frequentemente sob a forma de casos isolados e Durante as pandemias e epidemias maiores podem
não parece ocorrer transmissão direta entre pessoas. ocorrer formas graves da doença e óbitos, especial-
mente entre os pacientes idosos ou pessoas debilita-
Ocorrência das por afecções crônicas, cardíacas, pulmonares, re-
nais ou metabólicas.
Casos no Brasil já foram descritos nas cinco regiões,
ocorrendo, tipicamente, no meio rural. Portanto, a popu- O Homem é o principal reservatório das infecções hu-
lação mais vulnerável à infecção por hantavirose é a po- manas, embora outros animais, como porcos, cavalos e
pulação rural. Os roedores portadores assintomáticos do algumas aves, possam atuar como reservatórios, cons-
vírus circulam pelo peridomicílio de propriedade rurais, tituindo-se em fontes de novos subtipos, por intermé-
em busca de alimentos, e eliminam os vírus pela urina. dio da recombinação com cepas humanas.

A relevância em saúde pública da SCPH está relaciona- A transmissão do vírus influenza ocorre pelo contato
da à alta letalidade, que, para a América do Sul, alcan- direto com o indivíduo doente, por meio de inalação de
ça os 50%. O Brasil notifica casos da doença em todas gotículas e pequenas partículas produzidas pela tosse,
as regiões, sendo que o maior número ocorre no Sul, espirro ou durante a fala do indivíduo doente, além do
Sudeste e Centro-Oeste96. Entre 2010 e 2014 foram contato das mãos com superfícies contaminadas. Entre
notificados 8.074 casos suspeitos de hantavirose no 24 e 72 horas após o contágio o indivíduo começa a apre-
país97. A série histórica 2004-2010 sugere um aumento sentar os sintomas da gripe, sendo sua transmissibilida-
das notificações e dos casos confirmados em 2006, em de mantida por três dias após o surgimento dos sintomas.
relação ao ano anterior98. Também se pode observar no A doença geralmente evolui para a cura espontânea em
ano de 2006 uma letalidade de 34,5%, sendo superior dois a sete dias. Embora seja uma doença autolimitada,
à de todos os outros anos99. pode apresentar complicações e evoluir para óbito.

Influenza ou Gripe Os sintomas da influenza caracterizam-se por febre,


acompanhada de calafrios, dores de cabeça e muscu-
Definição lares, prostração, coriza e dor de garganta leve.

A Influenza Humana é uma doença infecciosa viral aguda A susceptibilidade ao vírus influenza é universal e
do trato respiratório, altamente transmissível. É causada a infecção confere imunidade específica para o tipo
pelo vírus da influenza, que pode ser de diversos tipos (A infectante. A parcela da população mais vulnerável
(H1N1), B e C), devido à elevada mutabilidade deste vírus. é composta dos indivíduos não imunizados através
Os vírus de tipo A e B estão associados a epidemias, en- da vacinação, dos indivíduos debilitados por alguma
quanto o C tem sido encontrado em casos isolados. O apa- doença crônica e dos idosos.
recimento de subtipos e cepas novos explica o surgimento
das grandes pandemias de influenza. Dada a extrema mutabilidade dos vírus influenza, a
OMS organiza, há cerca de 60 anos, uma “Rede Global
Caracterização de Vigilância da Influenza”, parceria com 105 Estados-
-membro que possuem agências públicas (laboratórios)
Há duas formas de manifestação da doença: sazonal para detecção precoce de variantes incomuns do vírus,
(com maior frequência nas épocas frias e ocorrendo denominadas “Centros Nacionais de Influenza”100.
anualmente), e pandêmica (de alcance global, que ocor-
re a intervalos irregulares de alguns anos). A importân- Ocorrência

A influenza humana é uma doença que apresenta dis-


95
BRASIL (2014c).
96
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/
tribuição global.
leia-mais-o-ministerio/708-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/hanta-
virose/11304-situacao-epidemiologica-dados Por ser doença febril aguda, requer medicação e repou-
97
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/maio/20/Informe- so a fim de evitar complicações, implicando em afasta-
-epidemiol--gico-hantavirose.pdf mento do paciente de suas atividades diárias, gerando
98
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/setembro/15/
CONF-HANTA-93-16-ATUAL-13-09-2016.pdf
absenteísmo no trabalho. A doença pode se apresentar
99
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/setembro/15/
OBITO-HANTA-93-2016-ATUAL-01-06-2016.pdf 100
http://www.who.int/influenza/gisrs_laboratory/flunet/en//
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

de forma mais ou menos grave, dependendo da variante Não há tratamento específico para esta enfermidade,
antigênica do vírus e das condições orgânicas prévias sendo ministrados apenas medicamentos para aliviar
da pessoa infectada. A causa de morte mais comum da os sintomas da doença (febre e dores articulares). Se
influenza é a complicação por pneumonia. diagnosticado, o paciente deve permanecer em repou-
so e ingerir bastante líquido, a fim de evitar possível
Segundo o Boletim Epidemiológico Nº 44(15) do Minis- desidratação causada pela febre.
tério da Saúde (2013), dentre os óbitos por influenza,
predominaram aqueles por vírus influenza A (H1N1), Ocorrência
com proporção de 86%. Além desses óbitos, foram
confirmados 35 óbitos pelo vírus influenza B, 27 pelo De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção
influenza A (H3N2) e outros 21 foram confirmados de Doenças) dos EUA, antes de 2013 o vírus já havia
para influenza A, sem identificação do subtipo. O coe- sido observado em países da África, Ásia, Europa, e
ficiente de mortalidade por influenza para o período outros localizados nos Oceanos Pacífico e Índico. Ao
analisado foi de 0,3/100 mil habitantes. fim do ano de 2013 houve a primeira transmissão local
do vírus chikungunya no continente americano, no Ca-
Febre Chikungunya ribe. Transmissão local significa que o mosquito exis-
tente na região foi infectado com o vírus, sendo assim
Definição capaz de transmitir a doença para outras pessoas105.

A Febre Chikungunya é uma doença infecciosa viral Desde então, a febre chikungunya foi notificada em 45
aguda causada pelo arbovírus do gênero Alphavirus, países nas Américas, com mais de 1 milhão de casos no
transmitida pela picada dos mosquitos Aedes aegypti e continente americano, segundo dados da OPAS106.
Aedes albopictus. Devido à intensa urbanização desse
vetor, a febre chikungunya é mais prevalente em áreas No Brasil, os primeiros casos autóctones da febre de
urbanas do país101. chikungunya foram notificados em agosto e setem-
bro de 2014 em municípios dos Estados do Amapá e
Caracterização da Bahia. No mesmo ano, casos autóctones suspeitos
da doença foram notificados nos Estados de Roraima,
De acordo com o Ministério da Saúde102, o período de Mato Grosso do Sul, e no Distrito Federal. Casos impor-
incubação da febre chikungunya varia entre dois e dez tados foram notificados no Amazonas, Ceará, Goiás,
dias, podendo chegar a doze. Após este período, surgem Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco,
os sintomas, que incluem febre acima de 39ºC, de início Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. O Brasil
súbito, com dores intensas nas articulações, especial- apresenta condições favoráveis para a disseminação
mente dos pés e mãos, além de dores de cabeça e mus- do vírus pela ampla distribuição dos potenciais vetores
culares, e manchas avermelhadas na pele. Cerca de 30% da doença107. Em 2015, foram registrados 38.332 casos
das pessoas infectadas são assintomáticas. O grupo prováveis de febre de chikungunya, distribuídos em 696
mais vulnerável da população à febre chikungunya é for- municípios. Já no ano seguinte (2016), foram registra-
mado por crianças e idosos. Pessoas com doenças crôni- dos 271.824 casos prováveis da doença em todo o país,
cas preexistentes tem maior chance de desenvolver uma sendo confirmados 196 óbitos pela febre chikungunya
forma mais grave da doença. Apesar de ter uma sintoma- no Brasil (Figura 81), e considerando-se apenas os ca-
tologia branda, as dores nas articulações podem perdu- sos notificados até a sétima semana epidemiológica de
rar por longos períodos e até se tornarem crônicas103. 2017, tem-se no país 10.294 casos prováveis, dos quais
2.178 foram confirmados108.
As orientações do Ministério da Saúde são de considerar
como suspeito de febre chikungunya qualquer indivíduo Impactos
que apresente febre maior que 38,5º C e dor articular ou
artrite intensa, ambos de início súbito, e que tenham his- Os impactos mais importantes da febre chikungunya
tórico recente de viagem a áreas de circulação viral. Esta se dão sobre o sistema de saúde, especialmente sobre
doença é considerada uma doença de notificação com- as urgências e emergências hospitalares, pela eleva-
pulsória e está presente na Lista de Notificação Compul- da procura por diagnóstico e tratamento dos sintomas;
sória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública104. assim como sobre os sistemas de vigilância em saúde
devido à demanda por notificações, monitoramento e
101
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi- controle dos surtos. Outros impactos estão relaciona-
pal/secretarias/sas/dahu/cgad/11-cidadao/cidadao-principal/agen- dos ao absenteísmo no trabalho, pois o prolongamento
cia-saude/15000-saude-atualiza-situacao-do-virus-chikungunya-2
102
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/
1073-chikungunya/14718-sinais-e-sintomas 105
CDC (2016).
103
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/links-de-interesse/ 106
OMS (2017).
1073-chikungunya/14716-o-que-e-a-febre-chikungunya 107
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015).
104
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017b). 108
MINISTÉRIO DA SAÚDE (2017b).
| 99

Figura 81. PROGRESSÃO DA FEBRE CHIKUNGUNYA NO BRASIL. dos sintomas da chikungunya pode gerar dores crôni-
cas que interferem nas atividades de vida diárias.
No Brasil, os
primeiros casos Zika
autóctones da febre
de Chikungunya
Definição
foram notificados em O Zika vírus (ZIKAV) é um arbovírus do gênero Flavivi-
agosto e setembro de rus (família Flaviviridae). Este vírus causa uma doença
2014 em municípios conhecida como zika, a qual é autolimitada e de evolu-
dos estados de ção benigna.
Amapá e da Bahia.
Caracterização

Sua transmissão é vetorial, sendo incriminados os mos-


quitos Aedes aegypti e o Aedes albopictus. Os mosqui-
No mesmo ano, tos do gênero Aedes picam, normalmente, durante o
dia, sobretudo ao princípio da manhã e ao fim da tarde/
casos autóctones
princípio da noite109. O vírus zika pode ser transmitido
suspeitos da doença por via sexual110. Outros modos de transmissão podem
foram notificados ser as transfusões de sangue, relações sexuais despro-
nos Estados de tegidas e durante a gestação (Figura 82).
Roraima, Mato
Grosso do Sul, e no O período de incubação (tempo decorrido desde a ex-
posição até os sintomas) da doença do vírus zika não é
Distrito Federal.
claro, mas é provavelmente de alguns dias. Os sintomas
são semelhantes aos de outras infecções por arbovírus e
incluem febre e erupções cutâneas, além de outros sin-
tomas inespecíficos, como artrite, dores musculares, do-
res de cabeça, e nas costas, mal-estar e conjuntivite, os
Casos importados quais permanecem por um intervalo de dois a sete dias.
foram notificados no
Amazonas, Ceará, Ocorrência
Goiás, Maranhão,
Minas Gerais, Pará, Nas Américas o zika foi detectado pela primeira vez no
Chile, em 2014, atingindo o Brasil em abril de 2015111. Em
Paraná, Pernambuco,
julho de 2015, o Brasil notificou uma associação entre a
Rio de Janeiro, infecção pelo vírus zika e a síndrome de Guillain-Barré e,
Rio Grande do Sul e em outubro deste mesmo ano, a associação entre a infec-
São Paulo. ção pelo vírus zika e a microcefalia. Segundo o Informe
Epidemiológico nº 51, correspondente à Semana Epide-
miológica 44/2016 (30/10 a 5/11), até 3 de novembro de
2016 foi confirmada a transmissão vetorial autóctone do
vírus zika em 73 países e territórios no mundo desde 2007,
O Brasil apresenta
sendo 47 (64%) nas Américas. A população mundial ex-
condições favoráveis posta ao vírus zika é de 1.357.605.792 pessoas, das quais
para a disseminação 15,3% são brasileiros112. A Figura 83 apresenta os países e
do vírus, dado que territórios com transmissão de vírus zika no mundo.
apresenta ampla
distribuição dos Desde o primeiro caso (abril de 2015) até setembro de
2016, 26 unidades da Federação já haviam confirmado,
potenciais vetores da laboratorialmente, casos autóctones da doença113. Ini-
doença - Aedes aegypti cialmente em Pernambuco e posteriormente em outros
e Aedes albopictus.
Em 2015, até o mês de 109
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/
novembro, foram notificados 17 131 casos 110
OMS (2016).
autóctones suspeitos de febre de Chikungunya. 111
OMS (2016).
112
SVS (2016).
Fonte: SEDEC/MI. 113
BRASIL (2016e).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 82. FORMAS DE TRANSMISSÃO DO ZIKA VÍRUS.

Fonte: Adaptado de Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) [http://www.cdc.gov/zika/


pdfs/zika-transmission-infographic.pdf].

Figura 83. PAÍSES E TERRITÓRIOS COM TRANSMISSÃO DE VÍRUS ZIKA NO MUNDO.

Em vermelho – transmissão disseminada nos últimos três meses; em amarelo – transmissão esporádica nos últimos três meses; em azul
– histórico de transmissão (de 2007 até 3 meses atrás). Fonte: Boletim Epidemiológico 51 (SVS, 2016).
| 101

estados do Nordeste, casos de microcefalia vêm sendo Devido à associação do zika vírus às malformações
notificados associados à infecção por zika vírus. Esses congênitas, as populações mais vulneráveis são as
casos constam do Sistema de Informação sobre Nascidos mulheres grávidas. Ainda não foi estabelecido um
Vivos (SINASC) e, em menor proporção, nos demais esta- período seguro em que a infecção não seja capaz de
dos da Região Nordeste, segundo o Informe Epidemioló- causar danos ao feto durante a gestação. Em rela-
gico nº 01/2015. Diante desse panorama, o Ministério da ção à Síndrome de Guillain-Barré, apenas uma pe-
Saúde publicou a Portaria nº 1.813, de 11 de novembro quena porção dos pacientes infectados com o vírus
de 2015, na qual a alteração do padrão de ocorrência de zika chega a apresentar os sintomas da síndrome
microcefalias no Brasil foi declarada uma Emergência de neurológica. Assim, esta associação ainda está sen-
Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN). do investigada.
Assim, o Ministério da Saúde, através de sua Secreta- Considerando o Estado de Emergência em Saúde
ria de Vigilância em Saúde (SVS), definiu um “Protoco- Pública decretado pelo Ministério da Saúde-MS,
lo de Vigilância e Resposta à ocorrência de Microcefa- por meio da portaria GM nº 1.813, de 11 de novem-
lia e/ou Alterações do Sistema Nervoso Central (SNC) bro de 2015, por alteração do padrão de ocorrên-
– Versão 2.1/2016”, disponível no site www.saude.gov. cia de microcefalia no Brasil, além do fato de em
br/svs114. Este protocolo objetiva descrever o padrão diversos estados brasileiros já terem sido detecta-
epidemiológico da ocorrência de microcefalias relacio- dos os quatro sorotipos da dengue, além do vírus
nadas às infecções congênitas no território nacional. do chikungunya e casos suspeitos de microcefalia
Até 5 de novembro de 2016 foram notificados 10.119 associados ao zika vírus – todos transmitidos pelo
casos, dos quais 30,5% permanecem sob investigação, mosquito Aedes aegypti –, foi traçada uma estraté-
7.033 casos foram investigados e classificados, sendo
gia de intensificação de combate a este mosquito
2.143 confirmados para microcefalia e/ou alteração
pelos três níveis de governo.
do sistema nervoso sugestivos de infecção congênita,
e 4.890 descartados. Do total de casos acumulados,
Dentro deste panorama, o Governo Federal iniciou
66,2% estão distribuídos na Região Nordeste, 20% no
Sudeste, 6,6% no Centro-Oeste, 5,1% no Norte e 2,2% uma mobilização para enfrentar o aumento do nú-
no sul do país. Os estados com maior número de casos mero de casos de microcefalia no país, com foco na
são Pernambuco (2.175) e Bahia (1.384)115 (Tabela 5). importância de se eliminar os criadouros do mos-
quito. Assim, o Governo Federal decretou em 2016
A Figura 84 apresenta a distribuição dos casos notifica- o Plano Nacional de Enfrentamento ao Aedes e à
dos de microcefalia/alterações do SNC (sistema nervo- Microcefalia117. O principal objetivo deste plano era
so central) sugestivos de infecção congênita, segundo reduzir para menos que 1% o índice de infestação
regiões brasileiras, por mês de notificação, no período pelo mosquito nos municípios brasileiros até junho
de novembro de 2015 a novembro de 2016. daquele ano.

Apesar de a Região Nordeste ainda ser a que possui O Ministério da Integração Nacional (MI) participa
maior número de casos notificados de microcefalia, ativamente para o combate ao Aedes aegypti. Em
houve uma redução do número de casos desde dezem- novembro de 2016, o MI realizou videoconferências
bro de 2015. O mesmo ocorreu nas Regiões Norte e para mobilizar e organizar as ações das defesas civis
Centro-Oeste. Por outro lado, no Sudeste e no Sul, a estaduais no reforço do combate ao mosquito, espe-
Figura 84 mostra uma oscilação ao longo dos meses que cialmente no dia 02 de dezembro, decretado Dia Na-
indicam estabilidade do número de casos notificados. cional de Mobilização e Enfrentamento ao Mosquito.
Contudo, houve uma redução do número de casos no- Tais videoconferências foram realizadas com as de-
tificados em todas as regiões nos últimos dois meses. fesas civis de 24 estados e do Distrito Federal, além
de representantes do Ministério da Saúde e do Minis-
As consequências da infecção pelo vírus zika incluem tério da Defesa, e do Corpo de Bombeiros do Distrito
o aumento da incidência de casos de microcefalia em Federal. A agenda de articulação com os estados foi
recém-nascidos e distúrbios neurológicos em crianças realizada na Sala Nacional de Coordenação e Contro-
cuja mãe foi infectada pelo vírus durante a gestação le para o Enfrentamento à Microcefalia, coordenada
(como problemas oculares e perda de audição), além do pelo Ministério da Saúde, instalada no CENAD. Cria-
aumento do número de casos da Síndrome de Guillain- da em novembro de 2015, esta sala tem como mis-
-Barré. O zika vírus é uma emergência de saúde pública. são gerenciar e monitorar as ações de mobilização e
Os casos em gestantes merecem especial atenção e tem combate ao mosquito, bem como a execução do Plano
sido aconselhado que as mulheres adiem os planos de Nacional de Enfrentamento à Microcefalia118.
gravidez nos países em que há circulação ativa do vírus116.
http://combateaedes.saude.gov.br/pt/plano-nacional
117
114
BRASIL (2015). MI (2016). Disponível em: http://www.brasil.gov.br/defesa-e-se-
118
115
SVS (2016). guranca/2016/11/defesa-civil-se-prepara-para-o-dia-de-enfrenta-
116
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/zika/pt/ mento-ao-aedes
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Tabela 5. CASOS NOTIFICADOS DE MICROCEFALIA, DE NOVEMBRO 2015 A NOVEMBRO 2016.

Total Acumulado de casos Casos Notificados de Microcefalia e/ou Alterações do SNC, sugestivos de
Regiões e Unidades notificados de 2015 a 2016 infecção congênita, em fetos, abortamentos, natimortos ou recém-nascidos

Federadas Permanecem em Investigados e Investigados e
N %
investigação confirmados descartados

Brasil 10.119 100 3.086 2.143 4.890


1 Alagoas 355 3,5 51 84 220
2 Bahia 1384 13,7 692 339 353
3 Ceará 603 6 124 150 329
4 Maranhão 321 3,2 77 159 85
5 Paraíba 922 9,1 177 186 559
6 Pernambuco 2175 21,5 349 393 1433
7 Piauí 191 1,9 8 100 83
8 Rio Grande do Norte 478 4,7 135 141 202
9 Sergipe 269 2,7 57 128 84
Nordeste 6693 66,2 1670 1680 3340
10 Espírito Santo 246 2,4 105 31 110
11 Minas Gerais 196 1,9 116 12 68
12 Rio de Janeiro 801 7,9 388 149 264
13 São Paulo 779 7,7 313 52 414
Sudeste 2022 20 922 244 856
14 Acre 53 0,5 19 2 32
15 Amapá 16 0,2 3 9 4
16 Amazonas 49 0,5 14 22 13
17 Pará 110 1,1 90 9 11
18 Rondônia 39 0,4 21 7 11
19 Roraima 31 0,3 4 13 14
20 Tocantins 220 2,2 85 19 116
Norte 518 5,1 236 81 201
21 Distrito Federal 61 0,6 6 10 45
22 Goiás 214 2,1 67 34 113
23 Mato Grosso 335 3,3 131 48 156
24 Mato Grosso do Sul 53 0,5 9 24 20
Centro-Oeste 663 6,6 213 116 334
25 Paraná 49 0,5 5 4 40
26 Santa Catarina 15 0,1 0 6 9
27 Rio Grande do Sul 154 1,5 40 12 102
Sul 218 2,2 45 22 151
Fonte: Secretarias de Saúde dos Estados e Distrito Federal (dados atualizados até 05/11/2016).
| 103

Figura 84. DISTRIBUIÇÃO DOS CASOS NOTIFICADOS DE MICROCEFALIA E/OU ALTERAÇÕES DO SNC,
POR MÊS DE NOTIFICAÇÃO, SEGUNDO REGIÕES. BRASIL, 2015 E 2016.

1600
1400
NÚMERO DE CASOS NOTIFICADOS

1200
1000
800
600
400
200
0
nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov
2015 2016

NORDESTE CENTRO-OESTE NORTE SULDESTE SUL

Fonte: Secretarias de Saúde dos estados e Distrito Federal (até 5.11.2016).

Atuação da SEDEC no enfrentamento ao Aedes aegypti e ao Zika vírus

Foi implementado pela Presidência da República um 3. Regulamentação da Lei 12.608/12 que institui
Grupo de Trabalho, coordenado pelo Ministério da a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil;
Saúde, com a instalação da Sala de Coordenação e 4. Constituição do Comitê Gestor por meio da
Controle integradas. Na composição do referido Gru- participação de 2 (dois) servidores;
po, a SEDEC, como órgão Central do Sistema Nacional 5. Conceder espaço físico no Centro Nacional de
de Proteção e Defesa Civil-SINPDEC, disponibilizou Gerenciamento de Riscos e Desastres – CE-
as instalação físicas da sala, sediadas nas estruturas NAD para funcionamento rotineiro da SNCC
do CENAD, e atua com a ação estratégica de coorde- e no apoio à realização de videoconferências
nadora no sistema na articulação dos órgãos que in- com as Salas Estaduais e Municipais;
tegram o SINPDEC, nos três níveis de governo, para 6. Discutir e contribuir no estabelecimento do
contribuir na prevenção ao combate da proliferação Plano de Ação e de estratégias a serem imple-
da infestação do mosquito. Atua também no apoio aos mentadas;
órgãos de saúde pública para que sejam implementa- 7. Coordenar e mobilizar ações específicas no
das medidas emergenciais de mitigação e prevenção. âmbito da Defesa Civil em parceria com os de-
A atuação da SEDEC é baseada nas seguintes diretri- mais órgãos que atuam na gestão da SNCC e
zes estratégicas: no gerenciamento de resultados;
1. Apresentar e divulgar as ações estratégicas de 8. Articulação entre Secretaria Nacional de Pro-
mobilização e combate ao mosquito por meio teção e Defesa Civil, Defesas Civis Estaduais
de videoconferências do Ministro da Integra- e Municipais, na implementação de ações de
ção Nacional, do Secretário Nacional de Pro- fortalecimento na prevenção e combate à in-
teção e Defesa Civil, dos Coordenadores das festação do Aedes aegypti em áreas urbanas e
Salas Estaduais de Coordenação e Controle e rurais;
dos Gestores Estaduais de Proteção e Defesa 9. Apresentar e divulgar, no âmbito do SINPDEC,
Civil; medidas preventivas de combate ao Aedes ae-
2. Criação da Instrução Normativa – 02/2016 gypti, inserindo em todas as pautas em fóruns,
para reconhecimento de situação de emer- workshops, capacitações e reuniões de Secre-
gência ou de estado de calamidade pública em tários e Coordenadores Estaduais de Proteção
questões de epidemias; e Defesa Civil dos 26 estados e do DF.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Dengue
Conhecendo um pouco mais sobre o Aedes aegypti
Definição
O mosquito adulto é de porte médio, corpo escuro
A Dengue é uma doença infecciosa aguda (arbovirose) e escamoso, com um característico desenho, em
causada por um vírus do gênero Flavivirus, do qual são co- forma de lira, na região dorsal. De hábitos diurnos
nhecidos quatro tipos imunológicos ou sorotipos – DENV1, (vespertinos), é um mosquito caseiro, que tem difi-
DENV2, DENV3 e DENV4. A infecção humana por cada um culdades de se reproduzir em ecossistemas natu-
destes determina imunidade específica permanente. rais. Suas asas frágeis dificultam o voo em ambien-
tes com fortes correntes de ar e seus raios de ação
Caracterização são de, no máximo, 100 metros.
O ovo do Aedes aegypti é elástico, muito pequeno
A dengue pode se manifestar desde infecções assin- (0,5mm x 0,2mm) e difícil de ser visualizado em de-
tomáticas até formas mais graves que podem levar a pósitos de água. Caracteriza-se por sua imensa re-
óbito, mesmo nas primeiras infecções. É mais comum sistência à dessecação, podendo se manter viável
nas zonas urbanas brasileiras, pois o mosquito (vetor) por mais de 450 dias em ambiente seco e eclodindo
prolifera em habitats artificiais, no ambiente construí- poucos dias depois de os depósitos terem recebido
do, onde há acúmulo de água. água.
As larvas são mais facilmente visíveis e permane-
O ser humano é o reservatório desta doença e alguns cem próximas da superfície da coleção de água, em
mosquitos do gênero Aedes atuam como agentes posição vertical (90°). Tipicamente, apresentam fo-
transmissores desta enfermidade, sendo os principais, tofobia e mergulham rapidamente, movimentando
no Brasil, o mosquito Aedes aegypti e, esporadicamen- os seus corpos em “s”, quando atingidas pelos fo-
te, o Aedes albopictus. O Aedes aegypti é um mosqui- cos das lanternas.
to caseiro e de hábitos domésticos. Para que ocorra a As pupas ou ninfas também apresentam fotofobia
infecção por dengue é necessário que o Homem seja e permanecem no meio líquido, atingindo a fase
picado e infectado por um mosquito portador do vírus. adulta após sete dias.
Aproximadamente entre 3 e 15 dias depois, a pessoa Fonte: BRASIL (2003).
passará a apresentar o quadro clínico da doença, tor-
nando-se infectante para o mosquito a partir do quinto
dia. Já o mosquito torna-se infectante a partir do oita-
vo dia da picada de um paciente infectado. sastre biológico de graves proporções, em função do
crescimento do número de pacientes que necessitam
Assim, a dengue caracteriza-se por um cenário de de tratamento em ambiente hospitalar. Os sintomas
transmissão endêmica/epidêmica em grande parte do iniciais são semelhantes aos da dengue clássica, mas
país, tendo como importantes fatores a circulação si- as manifestações hemorrágicas costumam aparecer a
multânea dos quatro sorotipos virais e a presença do partir do segundo ou terceiro dia. Pode ocorrer tam-
vetor Aedes aegypti119. bém aumento de volume do fígado e do baço. Quando
benignas, as manifestações hemorrágicas variam en-
O quadro clínico da dengue se caracteriza por febre tre pequenos pontos hemorrágicos, derrames hemor-
elevada, dores intensas e erupções cutâneas. A febre rágicos e hemorragias nasais e gengivais. Se malig-
surge de forma súbita e se mantém por cinco a sete nas, ocorrem grandes hemorragias gastrointestinais,
dias, acompanhada de calafrios, com intensa sudorese. acompanhadas de vômitos escuros e de fezes líquidas
Os sintomas dolorosos são muito típicos desta enfer- e escuras. Quando muito intensas, provocam quadros
midade, conhecida popularmente como “febre quebra- de “choque hemorrágico”, que se caracterizam por
-ossos”. As dores de cabeça, musculares e articulares aumento da frequência cardíaca, queda acentuada
são intensas, e podem ser acompanhadas de sensação da pressão arterial, pulso muito rápido e fraco, quase
de fadiga, moleza, cansaço fácil, depressão e anemia. impalpável, pele úmida e fria e lábios e extremidades
arroxeadas, denunciando ineficiente oxigenação dos
As erupções cutâneas iniciam-se com vermelhidão da tecidos. Se a hemorragia não for detida e o volume do
pele. Nos últimos dias de infecção, podem surgir pe- sangue não for reposto, o quadro de choque pode evo-
quenos pontos hemorrágicos nos pés, pernas, braços, luir para o óbito.
axilas e no céu da boca e derrames hemorrágicos, pro-
vocados por pequenos traumatismos. A susceptibilidade à dengue é universal. Todos os indi-
víduos não infectados anteriormente por algum subtipo
A dengue hemorrágica (forma mais grave da doença) viral são vulneráveis a adquirir a dengue. Nas crianças,
possui maior letalidade, caracterizando-se em um de- a doença costuma ser mais benigna do que nos adultos.
A imunidade para vírus do mesmo tipo é de longa du-
119
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015b). ração. Já se forem vírus de tipos diferentes, a infecção
| 105

pode predispor o organismo para um quadro de dengue Pelo grande número de doentes com dengue a cada ano
hemorrágico. No que se refere ao risco de infecção, no Brasil, a doença tem grande impacto social devido
este é maior em áreas mais densamente povoadas pelo às perdas econômicas causadas pelo absenteísmo no
Aedes aegypti, como aquelas com urbanização precá- trabalho; e sobrecarga dos serviços de saúde – espe-
ria (invasões, aglomerados urbanos), onde são mais cialmente do SUS – pela afluência de grande número
frequentes os criadouros do vetor. de doentes durante as epidemias de verão.
Ocorrência Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)
No Brasil, os vírus foram reintroduzidos em 1986, e Definição
desde então a doença apresenta-se de forma endêmi-
ca no país, sujeita a exacerbações epidêmicas, espe- A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é
cialmente no verão (início do período chuvoso), mas de uma infecção viral crônica produzida pelo retrovírus
muito baixa letalidade. É a doença infecciosa humana
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana, transmitido
mais frequente no Brasil, causando mais de 1 milhão
via parenteral (seringas de injeção reutilizadas), atra-
de casos por ano.
vés do contato sexual, por transfusão de sangue, ou
A partir do segundo semestre de 2009 houve uma grande durante a gravidez e aleitamento.
circulação do vírus no Brasil, registrando-se em 2013 a
maior epidemia de dengue da história do país120. A den- Caracterização
gue é uma doença de notificação obrigatória em caso
de surtos epidêmicos e ainda não existem vacinas nem O vírus HIV possui algumas características que justifi-
tratamento específico para a enfermidade. Já existe uma cam sua agressividade e letalidade:
tradição de participação da Defesa Civil nas campanhas
educativas de combate à doença. Estas campanhas fo- - O vírus ataca o sistema de defesa do organis-
cam-se na destruição dos criadouros e na eliminação dos mo, destruindo as células responsáveis por sua
transmissores ainda em seu estágio larvar (Figura 85). identificação e bloqueando a produção de an-
ticorpos contra o retrovírus e demais micro-or-
120
BRASIL/MINISTÉRIO DA SAÚDE (2015b). ganismos “oportunistas”.

Figura 85. FIGURA DE CAMPANHA PUBLICITÁRIA DE COMBATE À DENGUE DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.

Fonte: Ministério da Saúde (Disponível em:


http://www.comunicaquemuda.com.br/campa-
nha-nacional-de-combate-a-dengue-sera-regio-
nalizada/. Acesso em: 28 de nov. 2016).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

- O HIV possui uma imensa mutabilidade, o que por HIV tem aumentado lentamente desde os anos 2000
tem impedido o desenvolvimento de vacinas em toda a América Latina, e o número de pessoas infec-
eficientes. tadas com o HIV no Brasil até 2012 era de 656.701121.
- Determina uma infecção crônica, com depres-
são do sistema imunológico. 1.6.1.2. Doenças Infecciosas Bacterianas

A infecção apresenta um quadro clínico dividido em O COBRADE caracteriza um desastre biológico como
cinco fases: epidemia provocada por doenças infecciosas bacteria-
nas quando há um aumento brusco, significativo e tran-
- Invasiva: os indivíduos não manifestam sinto- sitório da ocorrência de doenças geradas por bactérias.
mas, ou, se manifestam, são poucos sintomas Entre as doenças bacterianas, podem ser citadas:
e sem características específicas (sudorese
noturna, ligeira debilidade do organismo e • Coqueluche
mal-estar sem causa aparente). • Peste
- Portador Assintomático: os portadores não apre- • Botulismo
sentam sintomas, mas podem ser disseminadores • Meningite
da infecção. O tempo de duração desta fase é va- • Cólera
riável, podendo prolongar-se por mais de 5 anos. • Sífilis
- Quadro de Adenopatia Persistente e Generali- • Tuberculose
zada: reação inflamatória dos gânglios linfáti- • Leptospirose
cos, que persiste por até mais de três meses, • Febre maculosa
tendendo à generalização.
- Quadro Clínico do Complexo com a AIDS: presen- Coqueluche
ça simultânea de dois ou mais sinais e sintomas,
com mais de um mês de duração – linfoadenopa- Definição
tia generalizada e persistente; debilidade orgâni-
ca, com fraqueza e prostração; diarreia crônica e A Coqueluche é uma infecção bacteriana aguda de no-
persistente; perda de peso; febre acompanhada tificação compulsória em todo território nacional que
de sudorese noturna; candidíase oral. ataca o trato respiratório, atingindo principalmente os
- Quadro de Imunodeficiência Adquirida Fran- brônquios e a traqueia. É de elevada transmissibilida-
ca: a depressão imune causada pelo vírus HIV de, causada pela bactéria Bordetella pertussis.
permite o desenvolvimento de infecções opor-
tunistas, bem como de tumores malignos, com A principal forma de transmissão é o contato direto en-
maior agressividade nos indivíduos infectados. tre uma pessoa doente e outra susceptível, por meio de
As neoplasias mais importantes, que podem gotículas de secreção da orofaringe eliminadas duran-
ser caracterizadas como agravos à saúde nos te a tosse, espirro ou fala. Por esta razão, surtos de co-
quadros clínicos da Imunodeficiência Adquiri- queluche em locais fechados são comuns. Esta doença
da Franca, são o Sarcoma de Kaposi e o Linfo- não apresenta vetores ou reservatórios.
ma Primário, especialmente quando localizado
no encéfalo, no fígado, nos pulmões e, mais ra- Caracterização
ramente, no coração.
Manifesta-se inicialmente após sete dias de contato
A susceptibilidade é universal e a infecção pelo HIV ocorre com as secreções de um indivíduo doente, apresentan-
em todas as faixas etárias e em todos os estratos sociais. do quadro clínico caracterizado por meio de tosse per-
Na medida em que se aprofundam os estudos epidemioló- sistente, podendo haver complicações neurológicas e
gicos, fica mais caracterizado que não existem grupos de pneumonias, especialmente em lactentes, até levar a
risco, mas condutas de risco. Assim, pertencem aos gru- óbito. Possui duas fases:
pos de condutas de risco os usuários de drogas injetáveis
que compartilham seringas, prostitutas e homossexuais. Catarral: Assemelha-se a um resfriado comum, com
Os fetos de mães soropositivas também estão sob grande bronquite leve, tosse com expectoração, coriza e febre
risco. Nas últimas décadas a doença passou a distribuir- pouco intensa;
-se igualmente em populações heterossexuais.
Paroxística: Tosse convulsiva de caráter contínuo e
Ocorrência sem inspiração intermediária. A tosse prejudica a oxi-
genação do corpo de tal forma que a pessoa chega a
No Brasil, o primeiro caso foi notificado em 1981. No ficar com as extremidades arroxeadas. Ao final, ocor-
Brasil, instalou-se inicialmente nas grandes cidades das re uma inspiração profunda e ruidosa, o que rotula o
Regiões Sudeste e Sul, disseminando-se, nas décadas se-
guintes, por todo o país. O número de adultos infectados 121
http://www.aids.gov.br/pagina/aids-no-brasil
| 107

diagnóstico. Ocorre expectoração pouco abundante, e É causada pela bactéria Yersinia pestis – bacilo gram-
podem ocorrer vômitos. -negativo, com característica coloração bipolar e nor-
malmente de forma ovoide (bacilo curto).
Ocorrência
Os roedores silvestres são os reservatórios naturais da
No Brasil, após um período de declínio em sua inci- peste. Os coelhos e lebres, os carnívoros e os roedores
dência, houve uma recrudescência da doença a partir domésticos podem ser contaminados por pulgas infec-
de 2006 e, entre 2010 e 2014, segundo o Ministério da tadas e podem ser fonte de infecção humana.
Saúde, foram notificados 72.901 casos suspeitos de co-
queluche, sendo 31% confirmados122. Para o período, foi Normalmente, a reação inicial no ser humano é uma
observado que a incidência de casos quadriplicou em inflamação dos gânglios linfáticos, entre dois e seis
2011 quando comparada a 2010. Para o período 2010- dias após a picada da pulga, que adquirem colora-
2014, houve maior pico de casos na semana epidemioló- ção avermelhada, ficam aquecidos e doem, o que ca-
gica 4, de 2014, com 270 casos. A ocorrência de casos da racteriza a peste bubônica. Além disso, os doentes
doença se concentrou, principalmente, nas estações da apresentam febre, acompanhada de debilidade e dor
primavera e do verão nos anos 2011, 2012 e 2013. de cabeça.

As crianças não vacinadas e os comunicantes (aqueles Ocorrência


que tiveram contato com doentes) que não receberam
quimioprofilaxia encontram-se em situação de maior No Brasil, a peste foi notificada pela primeira vez
vulnerabilidade. em 1899. Acredita-se que os primeiros casos te-
nham sido associados com a chegada de um navio
O quadro pode se agravar com o colapso dos pulmões, cargueiro de Amsterdã ao porto de Santos na mes-
alteração da estrutura dos brônquios, com dilatação e ma época e, em 1900, ao porto do Rio de Janeiro123.
fibrose dos mesmos, otite, broncopneumonias, tuber- A história natural da doença no Brasil desenvolveu-
culose e hérnias. -se em três períodos:

Peste - A peste atingiu os principais portos do Brasil.


- A peste disseminou-se pelas rotas de comércio
Definição para as cidades do interior.
- A peste foi erradicada nos centros urbanos mas
A Peste é uma zoonose (doença comum em animais). permaneceu como uma zoonose, com ocor-
Envolve roedores e pulgas, que podem transmitir a in- rência de casos humanos isolados, nas áreas
fecção para outros animais silvestres e domésticos e, rurais dos Estados do Ceará, Rio Grande do
ocasionalmente, para seres humanos, quando estes se Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia,
introduzem no ciclo de transmissão zoonótica ou quan- norte de Minas Gerais e áreas serranas do Rio
do animais silvestres infectados transmitem a doença, de Janeiro.
por intermédio das pulgas, para roedores urbanos e, a
partir daí, para o ser humano. O quadro clínico pode se gravar caso os bacilos inva-
dam a corrente sanguínea e passem a se multiplicar,
Caracterização caracterizando a peste septicêmica, que provoca a
disseminação da doença para órgãos (pulmões –
As fontes de exposição que causam a doença humana são: peste pneumônica; meninges – meningite pestosa).
A infecção dos pulmões provoca uma pneumonia ex-
- As picadas de pulgas infectadas, especialmen- tremamente grave, com significação epidemiológica
te a Xenophylla cheopis, nos surtos urbaniza- especial, ao permitir que a peste passe a dissemi-
dos, e a Polygenes bohlsi Jordani, nos casos nar-se a partir da inalação de gotículas de catarro
silvestres. contaminado, em suspensão no ar, dando origem a
- As gotículas de catarro infectado e os fômites casos de peste pneumônica primária, com compro-
(material infectado pelas secreções purulen- metimento da faringe.
tas), especialmente no caso de pacientes com
peste pneumônica. A vulnerabilidade é universal. Os estratos popula-
- As culturas de laboratório e a manipulação de te- cionais de baixo nível econômico e social e que vi-
cidos de animais infectados, inclusive carnívoros vem em residências com poucas condições de higie-
e carniceiros que podem se infectar ao se alimen- nização e em ambientes confinados e infestados de
tar em locais infestados de pulgas infectadas. pulgas e roedores são mais vulneráveis aos riscos de
- Os contatos com fezes de pulgas contaminadas. surto da doença.

122
BRASIL (2015a). 123
CHAME (2009).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Botulismo Meningite Meningocócica

Definição Definição

O Botulismo é uma doença de notificação compulsória A Meningite Meningocócica é uma doença bacteriana
em todo território nacional. Caracteriza-se como uma de notificação compulsória em todo território nacional
intoxicação alimentar extremamente severa que ataca que ataca as meninges (membranas que envolvem a
o sistema nervoso, causado pela bactéria Clostridium medula e o encéfalo), causada pela bactéria Neisseria
botulinum, a qual possui quatro sorotipos (Ab, B, E ou meningitidis. Os tipos sorológicos mais frequentes nos
F). Esta bactéria ocorre no trato intestinal de animais, surtos epidêmicos são os dos grupos A, B e C. Existem
inclusive peixes, no gelo e na água. meningites que podem ser causadas por outras espé-
cies de bactérias como a Streptococcus pneumoniae e
A principal forma de transmissão é pela ingestão da a Haemophilus influenzae.
toxina botulínica liberada pela bactéria em anaero-
biose, principalmente por meio de alimentos enla- Caracterização
tados e conservas naturais de legumes e de frutas,
além de peixes, com baixos teores ácidos ou mal A meningite meningocócica pode ser:
preparados. Os surtos relacionados com o sorotipo
E relacionam-se geralmente com consumo de pro- • Restrita à nasofaringe, assintomática ou com
dutos marinhos. sintomas locais compatíveis com uma faringite
inflamatória;
Caracterização • Invasiva, com multiplicação na corrente sanguí-
nea, normalmente com erupções cutâneas, sob
O quadro clínico manifesta-se entre 12 e 36 horas após a forma de derrames sanguíneos puntiformes e
a ingestão do alimento contaminado e caracteriza-se comprometimento das articulações;
por queda palpebral, dificuldades visuais, boca seca e • Meníngea, quando se comprova o comprometi-
garganta dolorida, seguida de paralisia flácida, simé- mento destas membranas.
trica e descendente; e vômitos, diarreia e ocasional-
mente prisão de ventre. Aproximadamente um terço A transmissão se dá principalmente pela inalação de
dos pacientes pode morrer de 3 a 7 dias após o início gotículas de secreções eliminadas pela boca e pelo na-
dos sintomas, em consequência de parada respiratória riz de pessoas contaminadas pela bactéria, devido à
ou de superinfecção. proximidade entre indivíduos doentes, portadores sãos
e indivíduos saudáveis. O período de incubação varia
Ocorrência entre 2 e 10 dias, com maior prevalência entre 3 e 4
dias. A transmissibilidade se mantém enquanto os me-
Segundo o Ministério da Saúde124, entre 1999 e 2014, ningococos estiverem presentes nas secreções nasofa-
houve um aumento do número de casos suspeitos de ríngeas e desaparecem após 24 horas de tratamento.
botulismo a partir de 2004, sendo 2009, 2012 e 2013 Na meningite, o único reservatório de importância epi-
os anos com maior número de casos suspeitos. Apesar demiológica é o próprio homem.
do grande número de notificações de casos suspeitos,
foram confirmados apenas 14 casos em 2009, 9 em Seus sintomas incluem dores de cabeça intensas, febre
2012 e 2 em 2013. Do total de casos confirmados, elevada, náuseas, rigidez na nuca, vômito em jatos, foto-
41% resultaram da ingestão de alimentos industria- fobia, muitas vezes acompanhados de manchas averme-
lizados contaminados, especialmente embutidos. Dos lhadas e rosadas e, mais raramente, vesículas. É comum
25 óbitos por botulismo em todo o país no período es- também o paciente apresentar um quadro de hipersensi-
tudado, 44% ocorreram na Região Sudeste e 32% na bilidade cutânea ou muscular, de tal modo que quaisquer
Região Nordeste125. estímulos sejam percebidos como sensações dolorosas.
Convulsões musculares também costumam ocorrer. O de-
O botulismo é uma doença de elevada letalidade lírio e o coma são frequentes e, nos casos fulminantes,
e, caso diagnosticada, deve ser considerado uma logo no início da doença, instala-se um quadro de pros-
emergência médica e de saúde pública. Pacientes tração e choque, que pode evoluir para o óbito.
tratados em Unidades de Terapia Intensiva – UTI po-
dem apresentar índices de sobrevivência superiores Algumas vezes o paciente fica com sequelas, sendo
a 90%. comuns crises hemorrágicas, acompanhadas de in-
suficiência suprarrenal aguda. Dentre as sequelas
neurológicas mais frequentes destacam-se quadros
124
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/30/Gr-
--ficos---Botulismo---2.pdf
epiléticos, hipertensão, hidrocefalia, atrofia do ner-
125
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/julho/30/Ta- vo ótico e transtornos mentais. De um modo geral, as
bela-----bitos-botulismo-28-7-14.pdf sequelas e as recaídas são causadas por tratamentos
| 109

inadequados, insuficientes ou suspensos, antes que A distribuição das meningites endêmicas e epidêmicas
ocorra a cura completa. é geral e ocorre no mundo inteiro tanto em áreas urba-
nas como em áreas rurais. Portanto, ocorre em toda a
Com o diagnóstico precoce e com o tratamento antibió- extensão territorial do Brasil.
tico adequado, a taxa de letalidade da doença no Brasil
hoje está em torno de 20%. A forma disseminada (me- As meningites são importantes do ponto de vista de
ningococcemia) tem elevada taxa de mortalidade (40%). saúde pública, devido à sua magnitude, capacidade de
ocasionar surtos e, no caso das meningites bacterianas,
Ocorrência pela gravidade dos casos. A vulnerabilidade é maior em
crianças antes dos cinco anos de idade, especialmente
Nas últimas décadas, a incidência no Brasil tem se menores de um ano. Casos da doença costumam ser
mantido estável, em torno de 1-2 casos/100 mil ha- mais frequentes no inverno. Em aglomerações e am-
bitantes, graças à disponibilidade de vacinação. Na bientes fechados o risco de transmissão é maior, assim
década de 1970, cidades como o Rio de Janeiro e São como em casos de superlotação nas habitações, nos lo-
Paulo sofreram sérias epidemias, com cerca de 20 mil cais de trabalho, nas conduções, nas escolas e quartéis.
casos registrados. Os quadros clássicos ocorrem preferentemente entre
crianças maiores e adultos jovens do sexo masculino.
A doença tem grande repercussão social por sua po-
tencial gravidade e fácil contágio, o que resulta em fe- Cólera
chamento temporário de escolas e outras restrições.
Definição
A meningite é considerada uma doença endêmica no
Brasil; portanto, casos da doença são esperados ao A Cólera é uma doença infecciosa intestinal aguda de
longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epi- notificação compulsória em todo território nacional,
demias ocasionais, sendo mais comuns as epidemias causada pela bactéria Vibrio cholerae e suas variantes
de meningites bacterianas durante o inverno e das me- (ElTor, Inaba e Ogawa). Esta bactéria produz enteroto-
ningites virais durante o verão. xinas que atacam principalmente o sistema digestório,
sendo transmitida sobretudo através da ingestão de
Em 2014, foram notificados 25.898 casos suspeitos de água ou alimentos contaminados por fezes e vômitos
meningite no Brasil, dos quais 67% foram confirmados126. dos pacientes ou de portadores assintomáticos. O ser
Do total de casos confirmados, 34% foram causadas por humano é o principal reservatório da cólera e a bacté-
bactérias, 47% foram virais, 14% não foram especificadas ria pode permanecer na água durante longos períodos.
e 5% tinham outras etiologias como origem da doença.
A Tabela 6 apresenta o número de casos de meningites, Caracterização
com óbitos e letalidade ocorridos em 2014 e 2015.
Os sintomas da cólera manifestam-se desde algumas
126
http://www.saude.rs.gov.br/upload/1437759444_Perfil%20Epi- horas após a ingestão da água ou alimento contami-
demiol%C3%B3gico%20da%20Meningite%20Brasil%20&%20 nado até cinco dias após e incluem diarreia aquosa e
Mundo.pdf. profusa, com ou sem vômitos, dor abdominal e cãibras,

Tabela 6. NÚMERO DE CASOS DE MENINGITES, COM ÓBITOS E LETALIDADE, OCORRIDOS EM 2014 E 2015.

2014* 2015*

Casos Óbitos Incid. Letal. Casos Óbitos Incid. Letal.

Doença Meningocócica 1.617 336 0,83 20,8 1.308 280 0,67 21,4
Meningite Tuberculosa 409 72 0,21 17,6 341 56 0,18 16,4
Meningite por Haemophilus 116 20 0,06 17,2 118 20 0,06 16,9
Meningite Pneumocócica 953 279 0,49 29,3 937 268 0,48 28,6
Meningite por Outras Bactérias 2.956 400 1,52 13,5 2.815 395 1,45 14,0
Meningite Viral 8.521 90 4,39 1,1 7.194 120 3,71 1,7
Meningite por Outras Etiologias 775 151 0,40 19,5 798 162 0,41 20,3
Meningite Não Especificada 2.316 273 1,19 11,8 2.472 265 1,27 10,7
Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE (Atualizados em out. 2016) [http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/outubro/33/tabe-
la-2000-2015_meningite.pdf].
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

provocando, portanto, um quadro de gastroenterite ma pallidum e pode ser transmitida por via sexual ou
aguda de início súbito. por via congênita (contaminação do feto por meio da
placenta de mães portadoras da bactéria).
Ocorrência
Caracterização
No Brasil, esta bactéria foi introduzida pelo Estado do Pará
em 1852. Posteriormente, novas introduções de outros so- O quadro clínico da sífilis costuma se manifestar em
rotipos da cólera ocorreram no país em 1991, pela fron- quatro fases:
teira amazônica, e em 1999 pela Baia de Paranaguá, no
Paraná. A epidemia ocorrida no Brasil em 1991 se iniciou • Lesão Primária Invasiva: Desenvolve-se normal-
pela região do Alto Rio Solimões (AM), de onde se espalhou mente a partir da terceira semana do contágio
para a Região Norte e Nordeste e, a seguir, para pratica- e se inicia sob a forma de uma pápula na pele
mente todo o país. Afetou cerca de 169 mil pessoas, tendo (elevação circunscrita de pequena dimensão).
ocorrido 2.034 óbitos (taxa de letalidade de 1,2%)127. Em- Esta então dá origem a uma ferida rasa, indolor,
bora o “vibrião colérico” não circule atualmente no Brasil, de base endurecida e bordas pouco marcadas,
dadas as características epidemiológicas da doença, com a qual é acompanhada de sinais de infecção do
disseminação global via transporte marítimo, associado gânglio próximo ao local, que aumenta de tama-
à permeabilidade da fronteira brasileira, novas epidemias nho, mas não provoca dor. A base endurecida da
poderão ocorrer. Nesta epidemia, a Região Nordeste foi a ferida define o nome da lesão – cancro duro.
mais atingida – a população desta região sofre um proble- • Erupção Secundária: Ocorre 4 a 6 semanas após
ma crônico de abastecimento de água – principalmente o contágio e coincide com a regressão espon-
nas áreas até então consideradas indenes128 e com situa- tânea de lesão primária. Nesta fase há o apa-
ção precária de saneamento e qualidade de vida. recimento de lesões secundárias na pele e nas
mucosas, acompanhada de sintomas gerais le-
Em 1999, foram registrados 4.498 casos, dos quais ves como mal-estar generalizado. É normal que,
89,5% ocorreram no Nordeste. Cerca de 10 anos após mesmo sem tratamento, as lesões de pele e de
sua reintrodução (ano 2001), a ocorrência de casos já mucosa regridam espontaneamente em poucas
era esporádica, desaparecendo a situação epidêmica. semanas, podendo levar até um ano.
O comportamento da cólera no Brasil sugere um pa- • Latência: Desenvolve-se por vários dias podendo
drão endêmico, na dependência de condições locais intercalar fases assintomáticas com fases de re-
que favoreçam a circulação do Vibrio cholerae. torno das lesões sifilíticas da pele e das mucosas.
Além disso, podem surgir lesões oculares e alte-
Esta doença, sem tratamento, pode provocar a morte rações progressivas no Sistema Nervoso Central.
por desidratação, acidose e colapso circulatório, e in- • Tardia: As lesões tardias, normalmente graves,
suficiência renal. Em pacientes não tratados e não hi- aparecem num prazo que varia entre 8 e 20 anos
dratados, a letalidade pode ultrapassar 50%. Por outro depois da ocorrência da lesão primária, caso a
lado, com tratamento adequado e hidratação precoce, infecção não seja convenientemente tratada.
a mortalidade é inferior a 1%. Nesta fase, os sintomas neurológicos são mui-
to importantes, da mesma forma que as altera-
A vulnerabilidade à cólera, assim como a outros tipos ções cardiovasculares. Também ocorrem lesões
de diarreias infecciosas, é maior entre pessoas de es- destrutivas, mas não infectadas na pele, nas
tratos socioeconômicos menos favorecidos, expostas à mucosas, nos ossos e nas vísceras, as quais são
água sem tratamento apropriado e em situações de sa- conhecidas como gomas sifilíticas.
neamento básico precário, onde a contaminação fecal
do meio ambiente é comum. Pode ser constatada tanto Ocorrência
em áreas mais desenvolvidas do país quanto nas menos
desenvolvidas, principalmente nos bolsões de pobreza A sífilis é uma doença de distribuição mundial. No Bra-
existentes nas periferias dos centros urbanos. sil, o número de casos de sífilis aumentou em 13 dos 14
estados que possuem dados disponíveis sobre a sífilis
Sífilis congênita. O aumento de infecções chegou a 603% no
Estado de São Paulo, onde os casos passaram de 2.694
Definição para 18.951 entre 2007 e 2013. Na comparação entre
2013 e 2014, os estados que registraram aumento foram:
A Sífilis é uma doença infecciosa grave de notificação Acre (96,1%), Pernambuco (94,4%), Paraná (63,1%), To-
compulsória semanal, causada pela bactéria Trepone- cantins (60%), Bahia (47%), Santa Catarina (34,1%),
Mato Grosso do Sul (6%), Mato Grosso (4,1%), Sergipe
127
REDE I3N BRASIL, s.d.
(3,8%); e Distrito Federal (22%). No Espírito Santo e no
128
Áreas indenes são aquelas em que não ocorreram danos ou regis- Rio Grande do Norte, que têm dados disponíveis só até
tros de determinada enfermidade; áreas ilesas. 2013, o aumento registrado entre 2012 e 2013 foi de,
| 111

respectivamente, 31% e 31,5%. O Estado do Amazonas Apesar de não ser tão comum, a reinfecção pode ocor-
foi o único que registrou queda do número de casos. En- rer como consequência do contato frequente e íntimo
tre 2013 e 2014, as ocorrências diminuíram 20,2%129. com pacientes tuberculosos, quedas da imunidade do
indivíduo, tratamentos imunossupressores e infecção
As lesões tardias afetam gravemente as condições de pelo HIV. No quadro de reinfecção geralmente ocorre
saúde, limitam a capacidade produtiva e reduzem a ex- hipersensibilidade orgânica, com reações inflamató-
pectativa de vida dos pacientes. rias de caráter exudativo, caracterizando quadros de
pneumonia exudativa e derrames pleurais, e imuni-
Quando gestantes, as pacientes sifilíticas podem so- dade orgânica, que tipificam os processos curativos,
frer numerosos abortos espontâneos. Em casos de sí- como a formação de nódulos de tecido fibroso e, numa
filis congênita, pode provocar a morte do feto ou ainda segunda fase, a calcificação dos nódulos fibrosados.
o mesmo nascer normal, mas apresentar sintomas da
doença durante a infância. Com relação aos sintomas, manifestações clínicas de
origem pulmonar (na sua forma crônica) são mais fre-
Tuberculose quentes. Entretanto esta doença se exterioriza de for-
mas diversas e afeta praticamente todo o corpo huma-
Definição no, como fígado, baço, medula óssea, rins e o sistema
nervoso, caso passe para a linfa.
A Tuberculose é uma doença infecciosa, curável e trans-
missível de notificação compulsória que atinge os pul- No quadro de tuberculose pulmonar, ocorre fadiga, fe-
mões. Esta doença é provocada pelo bacilo de Koch bre com suores noturnos abundantes, perda de apetite
(Mycobacterium tuberculosis), que ocorre sob a forma e de peso progressivo, tosse persistente, dores toráci-
de quatro variedades sorológicas: Mycobacterium tuber- cas, escarros sanguinolentos e, algumas vezes, expec-
culosis hominis, M. t. bovis, M. t. africanum e M. t. avium. toração com abundante eliminação de sangue “espu-
A imensa maioria das infecções humanas é causada pela moso” e avermelhado. Podem ocorrer complicações,
variedade hominis. A variedade bovis pode ser transmiti- como derrames pleurais, espessamentos pleurais, con-
da através do leite infetado não fervido ou pasteurizado solidações pneumônicas e fibroses pulmonares.
de rebanhos contaminados. Cabe ressaltar que esta for-
ma de infecção é muito pouco frequente no Brasil. Ocorrência

A Mycobacterium tuberculosis é transmitida pela ina- Anualmente são notificados cerca de 6 milhões de
lação de gotículas espalhadas no ar pela fala, espirro novos casos em todo o mundo, levando mais de 1 mi-
ou tosse da pessoa contaminada pela doença. lhão de pessoas a óbito130. O surgimento da Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o crescimento
Caracterização do número de dependentes químicos e alcoólatras e
o aparecimento de focos de tuberculose resistentes a
A tuberculose apresenta um padrão evolutivo, compor- medicamentos agravam ainda mais este cenário.
tando quatro formas de infecção:
No Brasil, a tuberculose é um sério problema de saú-
• Inicial: Assintomática ou com sinais e sintomas de pública, com profundas raízes sociais. Segundo o
mínimos, que podem passar despercebidos. Ge- Ministério da Saúde, são notificados aproximadamen-
ralmente cura-se sozinha e deixa sequelas míni- te 70 mil casos novos, ocorrendo 4.600 mortes em
mas (gânglios linfáticos calcificados). decorrência da doença no Brasil a cada ano. O país
• Localizada Mínima: Foco latente que pode retor- ocupa o 17º lugar entre os 22 países responsáveis
nar após alguns anos e dar origem a um quadro por 80% do total de casos de tuberculose no mundo.
de tuberculose ativa. O Ministério da Saúde possui uma série histórica do
• Crônica: Evolui com surtos de agravamento gra- coeficiente de mortalidade de tuberculose no Brasil,
dual e progressivo. de 1990 a 2014131; a taxa de mortalidade por tuber-
• Aguda: Em casos excepcionais, pode se agravar culose na Região Sudeste é a maior, sendo o Estado
de forma brusca e violenta, levando a óbito. do Rio de Janeiro o que apresenta os maiores índices.
As Regiões Sul e Centro-Oeste são as que apresen-
Quanto ao padrão imunológico, a tuberculose apresen- tam menor taxa de mortalidade pela doença, sendo
ta duas fases: inicial, que se desenvolve em pessoas o Distrito Federal onde são encontrados os menores
que não foram sensibilizadas pelo bacilo da tuberculo- índices (Figura 86, Figura 87 e Figura 88).
se; e secundária (ou reinfecção), que se desenvolve em
indivíduos já sensibilizados. 130
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi-
pal/secretarias/svs/tuberculose
129
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/07/sifilis-aumenta- 131
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/junho/27/ta-
-em-13-de-14-estados-com-dados-disponiveis-sobre-doenca.html xa-mortalidade-tuberculose-1999-2014-base-JUN-2016.pdf
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 86. TAXA DE MORTALIDADE DE TUBERCULOSE NO BRASIL E POR GRANDES REGIÕES (1990-2014).
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Região Sudeste Brasil Região Nordeste Região Norte Região Sul Região Centro-Oeste

Fonte: Adaptado de BRASIL (2016. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/


junho/27/taxa-mortalidade-tuberculose-1999-2014-base-JUN-2016.pdf Acesso em: 10 de jan. 2017).

Figura 87. TAXA DE MORTALIDADE DE TUBERCULOSE NA REGIÃO SUDESTE DO BRASIL (1990-2014).

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Rio de Janeiro Região Sudeste São Paulo Espírito Santo Minas Gerais

Fonte: Adaptado de BRASIL (2016).


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Figura 88. TAXA DE MORTALIDADE DE TUBERCULOSE NA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL (1990-2014).


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Mato Grosso Mato Grosso do Sul Região Centro-Oeste Goiás Distrito Federal

Fonte: Adaptado de BRASIL (2016).

Nos últimos 17 anos, segundo o Ministério da Saúde132, Esta doença pode ser transmitida aos seres humanos
a tuberculose apresentou queda de 38,7% na taxa de por contato direto da pele escoriada ou das mucosas
incidência e 33,6% na taxa de mortalidade. A tendên- com água, solo ou vegetação contaminados pela uri-
cia de queda vem se acelerando ano a ano após um es- na de roedores (Rattus rattus). Estes roedores cons-
forço nacional que pode determinar o efetivo controle tituem-se em reservatórios da bactéria, uma vez que
da tuberculose em um futuro próximo. ela vive sem causar danos ao organismo do animal.
A contaminação de pessoa para pessoa, embora pos-
A tuberculose ainda hoje se constitui em uma importante sível, é rara.
causa de incapacitação e de morte em numerosos países
do mundo, especialmente nos menos desenvolvidos. Caracterização
A susceptibilidade à tuberculose é universal. A vulnera-
bilidade à infecção é maior entre crianças menores de Seu quadro clínico caracteriza-se por apresentar início
três anos, adolescentes e adultos jovens, idosos, alcoóla- súbito e agudo e pode apresentar os seguintes sinais
tras e dependentes químicos, portadores do HIV, pessoas e sintomas: febre elevada, normalmente precedida de
com doenças consumptivas (câncer) ou degenerativas calafrios com prostração, fraqueza, dores de cabe-
(diabetes), pacientes de afecções pulmonares crônicas, ça e musculares, inchaços e sinais de inflamação das
indivíduos com quadro de hiponutrição ou que vivem em
conjuntivas oculares, além de aumento acentuado do
locais com aglomeração de pessoas, com dormitórios
número de glóbulos brancos, comprovado pelo exame
mal arejados, em contato com eliminadores de bacilos.
de sangue. A partir da segunda semana de infecção, o
Leptospirose paciente pode apresentar um quadro de insuficiência
hepato-renal, com aumento do tamanho do fígado, ic-
Definição terícia, inchaço ou edemas na pele. Em casos em que
ocorram complicações, podem ocorrer ainda rushes
A Leptospirose é uma doença infecciosa bacteriana de eruptivos, semelhantes aos do sarampo, fenômenos
animais vertebrados (zoonose) de notificação obriga- hemorrágicos e quadros de meningite e de miocardites
tória. A leptospirose é causada pela bactéria Leptospi- provocados pela bactéria.
ra interrogans e suas variantes – existem cerca de 20
sorogrupos e mais de 170 sorotipos identificados. Os Sua duração varia de alguns dias até mais de quatro
sorotipos mais prevalentes nas infecções humanas são semanas. É uma doença relativamente grave e pode
os das subespécies L. i. icterohaemorragiae, L. i. ca- ter complicações pulmonares que requerem interna-
nicula, L. i. pomona, L. i. australos e L. i. hebdomadis. ção hospitalar e tratamento com antibióticos. A taxa
de letalidade média, no Brasil, tem estado em torno de
132
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/princi- 11% dos casos. Normalmente, o óbito é causado por
pal/secretarias/svs/tuberculose insuficiências hepato-renais ou por miocardites.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Ocorrência parte das vezes, isto acontece por causa do diagnóstico


tardio da doença ou por equívoco no diagnóstico, sendo
Esta é uma infecção comum em zonas urbanas sujeitas à frequentemente confundida com sarampo, meningite,
inundação. Em cidades com grandes densidades de roedo- apendicite, rubéola, hepatite, dengue ou leptospirose.
res é normal que ocorram surtos epidêmicos por ocasião
das inundações, e casos esporádicos durante todo o ano. A vulnerabilidade é maior em indivíduos que frequen-
A maior epidemia já registrada no Brasil ocorreu no verão tam ambientes infestados pelos carrapatos vetores.
de 1996, na cidade do Rio de Janeiro, quando cerca de Dentre estes estão beiras de rios e lagoas onde estão
1800 casos da doença foram notificados em três meses. populações de capivaras. Indivíduos do sexo masculino
são mais frequentemente acometidos devido à exposi-
A susceptibilidade à leptospirose é universal e ocorre ção ocupacional.
em áreas urbanas e rurais de países desenvolvidos e
subdesenvolvidos, só não ocorrendo nas regiões pola- 1.6.1.3. Doenças Infecciosas Parasíticas
res. Constitui risco ocupacional para trabalhadores de
áreas irrigadas, infestadas por roedores, piscicultores, O COBRADE caracteriza um desastre biológico como
caçadores, veterinários e militares que praticam exer- epidemia provocada por doenças infecciosas parasíti-
cícios de maneabilidade em terrenos enlameados. São cas quando há um aumento brusco, significativo e tran-
mais vulneráveis à leptospirose os moradores de bair- sitório da ocorrência de doenças geradas por parasitas.
ros sujeitos a inundações sazonais e onde a população
de roedores é mais numerosa em função de deficiên-
cias no saneamento (coleta de lixo).
Parasita ou parasito (parasitum), corresponde a um
Febre Maculosa (ou febre do carrapato ser vivo de menor porte, que vive associado a outro
ou sarampão) ser vivo de maior porte, à custa ou na dependência
deste. Pode ser: ectoparasito (vive externamente
Definição ao corpo do hospedeiro), endoparasito (vive dentro
do corpo do hospedeiro) ou hiperparasito (que pa-
A Febre Maculosa é uma infecção bacteriana humana rasita outro parasito)
adquirida a partir de animais, transmitida por carra- Fonte: NEVES (2006).
patos de animais domésticos (equídeos) e silvestres
(capivaras), principalmente do gênero Amblyomma.
É causada pela bactéria Rickettsia rickettsi e suas
variantes. Esta bactéria ataca o endotélio, tecido que Apesar das doenças infecciosas virais poderem ser
reveste internamente os vasos sanguíneos e, assim, enquadradas como parasíticas (uma vez que os vírus
praticamente qualquer órgão pode ser afetado133. só sobrevivem dentro do corpo do hospedeiro, sendo
considerados por alguns estudiosos como parasitas
Caracterização intracelulares obrigatórios), dada a sua complexidade
são enquadradas em um grupo à parte. Nesta catego-
Os sintomas iniciais da febre maculosa geralmente são ria, portanto, incluem-se as doenças transmitidas por
febre alta, dor de cabeça e no corpo, diarreia e man- protozoários, como malária e leishmaniose visceral,
chas avermelhadas. Os sintomas levam em média de e outras popularmente conhecidas como verminoses,
sete a dez dias para se manifestar134. como é o caso da esquistossomose.

Ocorrência Malária

De ocorrência endêmica, apresenta-se sob a forma de Definição


pequenos surtos, principalmente nos estados das Re-
giões Sul (25% dos casos em Santa Catarina) e Sudeste Existem quatro formas de malária humana que apre-
(44% dos casos em São Paulo; 8,7% em Minas Gerais; sentam sinais e sintomas semelhantes e cujos diag-
6,5% na cidade do Rio de Janeiro). Entre 2007 e 2012 nósticos diferenciais são, obrigatoriamente, realizados
foram registrados 734 casos no Brasil. com o apoio de laboratório. A malária é uma doença de
notificação obrigatória, causada por protozoários do
As taxas de letalidade pela febre maculosa variam entre gênero Plasmodium (Classe Sporozoa).
30 e 45% dos casos, dependendo da região. Na maior
As quatro espécies de Plasmodium que parasitam se-
res humanos são: P. malariae, P. falciparum, P. vivax e
133
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoi-
d=727&sid=8
P. ovale, sendo que este último ocorre apenas na Áfri-
134
http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoi- ca Oriental. Existem ainda espécies deste gênero que
d=727&sid=8 parasitam macacos, aves e répteis, contudo o homem
| 115

é considerado o reservatório exclusivo da malária Depois de introduzido no organismo humano, durante


humana e a malária dos macacos específica daque- a picada da fêmea do mosquito, os parasitas circulam
les organismos. por, aproximadamente, 30 minutos e se fixam nas cé-
lulas hepáticas (hepatócitos), onde se multiplicam no
Caracterização interior dessas células de forma assexuada, mudam
sua forma e aumentam gradualmente o número de he-
A doença é transmitida pela picada de fêmeas dos patócitos infectados. Quando os parasitas tornam-se
mosquitos do gênero Anopheles, que se alimentam ao maduros, essas células se rompem e eles são liberados
entardecer e durante as primeiras horas da noite. Os na corrente sanguínea.
mosquitos adultos pousam com o corpo inclinado, em
relação à superfície da parede. Por este motivo, são co- Com a continuidade desta etapa multiplicadora, inicia-
nhecidos como “mosquitos-pregos”. -se a multiplicação no interior dos glóbulos vermelhos.
Ao fim de 12 a 15 dias, os parasitas já podem ser en-
Das mais de 50 espécies de anofelinos existentes no contrados nos exames de sangue. Surgem, então, os
Brasil, apenas seis são consideradas epidemiologica- primeiros sintomas da enfermidade e ocorrem os picos
mente importantes na transmissão da malária huma- febris, característicos desta doença.
na: Anopheles (Nyssornhynchus) darlingi (com ampla
distribuição), A. (N) aquasalis, A. (N) albitarsis, A. (N) No prosseguimento do processo de multiplicação, co-
nuñestovari, A. Kertesia cruzi e A. (K) bellator. O in- meçam a surgir no sangue elementos diferenciados, os
tervalo entre a picada do mosquito e o aparecimento quais só atingem a plena maturidade quando são su-
dos primeiros sinais e sintomas é, em média, de 12 dias gados pelas fêmeas dos mosquitos. No estômago das
para o P. falciparum, de 14 dias para o P. vivax e o P. fêmeas dos mosquitos ocorre a fase sexuada do ciclo,
ovale, e de 30 dias para o P. malariae. Além disso, a quando as células são fecundadas. Os novos parasitas
doença pode também ser transmitida por transfusão resultantes deste processo migram para as glândulas
sanguínea ou por compartilhamento de seringas. salivares do mosquito, onde ficam em condições de pro-
vocar uma nova infecção humana, ao serem introduzi-
No ciclo biológico da malária, o parasita (Plasmodium) dos pela picada. No caso específico do P. vivax, algumas
evolui em duas fases distintas: uma sexuada, que ocor- formas de parasitas podem permanecer inativadas, por
re no interior do mosquito; uma assexuada, que ocorre muito tempo, no interior das células hepáticas e, ao se-
no fígado e no sangue do homem. rem reativadas, podem provocar recaídas (Figura 89).

Figura 89. MALÁRIA: O CICLO DE VIDA DO PARASITA.

Fonte: OMS, Smithsonian Institute (Malaria.Wellcome.Ac.Uk/Nih).


Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Os sintomas de malária são acessos febris, que se ini- Nas áreas endêmicas de malária podem ocorrer qua-
ciam com calafrios intensos e tremores e terminam dros febris atípicos, que só são diagnosticados por in-
com sudorese profusa. Estes ciclos febris caracteri- termédio de exame laboratorial.
zam-se pela rápida elevação da temperatura corporal
que, muitas vezes, ultrapassa 40 ºC. Atingido o pico Algumas cepas do P. falciparum são resistentes ao
febril, os tremores e calafrios são substituídos pela tratamento e, nos casos não tratados ou tratados de
sensação de calor intenso e de desconforto, acompa- forma ineficiente, provocam uma taxa de mortalidade
nhados por forte dor de cabeça com náuseas e vômitos, que pode ultrapassar 10%. As outras formas de malá-
podendo ocorrer fenômenos alucinatórios. ria humana, provocadas pelos P. malariae, P. vivax e P.
ovale são mais benignas e, normalmente, não amea-
Após o pico febril, a temperatura corporal cai rapidamen- çam a vida, exceto em pacientes muito idosos, muito
te, acompanhada de sudorese profusa e de muita sede, jovens ou no caso de pessoas debilitadas por enfermi-
que compulsa o paciente a ingerir grandes quantidades dades associadas.
de água para corrigir a desidratação provocada pelo
acesso febril. O paciente se sente relativamente bem, e Ocorrência
a única queixa é uma dor localizada na região do baço,
que corresponde ao processo de contração do órgão para No Brasil, a malária é infecção típica da região Amazô-
repor o volume de glóbulos vermelhos circulantes. Com o nica, onde surtos epidêmicos têm ocorrido em função
decorrer do tempo, verifica-se um aumento do volume do das numerosas populações de vetores nos ecossiste-
baço facilmente percebido pela apalpação. mas naturais e modificados porém adequados à proli-
feração dos vetores. Ocorre mais frequentemente em
Como durante os acessos febris ocorre uma grande ambientes antropizados, onde se formam criadouros
destruição dos glóbulos vermelhos, os exames de san- para os vetores e onde há aglomerações humanas. Em
gue revelam anemia secundária e, em muitos casos, áreas rurais da Região Norte, o ciclo de transmissão é
elevação da bilirrubina indireta, caracterizando uma influenciado pela variação sazonal dos rios.
síndrome de icterícia pré-hepática.
Apesar de seu endemismo, surtos esporádicos podem
De acordo com a espécie de plasmódio infectante e ocorrer fora da Amazônia quando pessoas infectadas
com o número de gerações parasitantes que estão evo- se deslocam para outras partes do país. Nos anos 1930,
luindo no organismo, os picos febris podem ocorrer a a introdução via marítima de um vetor urbano da Áfri-
intervalos de 72, 48 ou 24 horas. ca (Anopheles gambiae) provocou epidemias de malá-
ria no Rio Grande do Norte, com cerca 100 mil casos e
A sucessão de crises febris intercaladas caracteriza um 24 mil óbitos (CAMARGO, 1995). Em 2015, ocorreram
“ataque febril”. Normalmente o primeiro ataque febril, 8.800 casos da doença em Manaus, representando um
na ausência de tratamento, dura no máximo 30 dias, aumento de 32% em relação ao ano anterior.
podendo ressurgir após um intervalo de tempo variá-
vel, comum no caso das malárias humanas causadas A vulnerabilidade é maior na população que penetra nos
por Plasmodium vivax e por P. ovale. ambientes naturais ou antropizados onde circula o pa-
rasita nos mosquitos, sendo, entre os diversos estratos
A forma mais grave de malária humana é a chamada “ter- sociais, maior entre os garimpeiros. As gestantes com
çã maligna”, provocada pelo Plasmodium falciparum que, infecções complicadas requerem tratamento hospitalar.
além dos picos febris, apresenta icterícia intensa; insufi-
ciência renal com redução ou supressão da urina; altera- Leishmaniose Visceral
ções dos mecanismos de coagulação; quadros de choque;
insuficiência hepática e quadros de encefalite aguda, com Definição
hipertensão cerebral, que podem evoluir para o coma e
para a morte. Caso a doença atinja o encéfalo, temos a A Leishmaniose Visceral ou “Calazar” é uma doença
sua forma mais grave, conhecida como “malária cerebral”. infecciosa crônica, endêmica de animais, de caráter
sistêmico ou generalizado, causada por protozoários
das espécies Leshmania chagasi e L. donovani.

Icterícia intensa – Coloração amarelada das con- É transmitida acidentalmente ao homem por meio da
juntivas oculares e da pele, e pelo aumento da bi- picada de fêmeas de mosquitos flebótomos – gênero
lirrubina indireta, nos exames de sangue*. Lutzomyia (“mosquito palha”) e Phlebotomus longi-
Nota: Coloração amarelada das conjuntivas oculares e da palpis – infectados após picarem um cão doméstico,
pele, e pelo aumento da bilirrubina indireta, nos exames de bem como raposas e roedores silvestres portadores da
sangue (BRASIL. Manual de Desastres de Natureza Biológi- doença. Estes animais constituem-se nos principais
ca. Brasília: MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2003).
reservatórios. Pode ocorrer também transmissão por
transfusão de sangue ou por contágio sexual.
| 117

Caracterização causada por um verme trematódeo parasita humano


do gênero Schistosoma. No Brasil, particularmente o
O período médio de incubação da leishmaniose visce- Schistosoma mansoni.
ral no ser humano varia entre 2 e 4 meses, mas em ca-
sos extremos pode variar entre dez dias e dois anos. Caracterização
A transmissibilidade ocorre enquanto os parasitas se
encontrarem na pele ou no sangue dos hospedeiros Para se compreender a transmissão desta doença, faz-
vertebrados. Esta doença atinge vários órgãos do cor- -se necessário conhecer o ciclo de vida deste verme.
po, sendo seus principais sinais e sintomas:
As formas adultas do verme se alojam nos vasos me-
• Febre de início gradual ou repentino, de curso sentéricos que drenam o intestino do ser humano,
prolongado e irregular, com períodos de remis- onde a fêmea deposita seus ovos férteis. Estes ovos
são, alternando com períodos de febre modera- podem atravessar a parede dos vasos e a mucosa in-
da, muitas vezes com dois picos diários de ele- testinal, provocando uma pequena reação inflama-
vação da temperatura; tória, e caem na luz intestinal, de onde são elimina-
• Aumento do volume do fígado, do baço e dos dos, juntamente com as fezes. No interior dos ovos
gânglios linfáticos que também ficam doloridos existem numerosos miracídios (larvas ciliadas), que
e inflamados; permanecem viáveis por muito tempo, quando estes
• Queda progressiva do estado geral, com emagre- são abrigados e protegidos do sol. Em contato com a
cimento que tende a se acentuar com o tempo; água, os ovos se abrem e liberam os miracídios que
• Queda da contagem dos glóbulos vermelhos e sobrevivem por pouco tempo. O miracídio não conse-
brancos e das plaquetas. gue infectar o homem. Para que o parasita complete
o seu ciclo de vida há a necessidade de um hospe-
Ocorrência deiro intermediário (um caramujo, por exemplo).
Penetrando no organismo do molusco, os miracídios
No Brasil, ocorre de forma endêmica em 21 estados e é multiplicam-se durante 4 a 6 semanas, passando por
considerada em franca expansão geográfica. Inicialmen- formas de esporocistos, cujas segundas gerações se
te conhecida como uma doença tipicamente do meio ru- rompem eliminando as larvas infectantes para seres
ral, nos últimos 25 anos tem invadido cidades como Belo humanos, as cercárias. Estas abandonam o caramu-
Horizonte, Campo Grande, Rio de Janeiro, Natal, Forta- jo e permanecem no meio líquido, em condições de
leza, Teresina, São Luis e Palmas, dentre outras. A gran- infectar seres humanos. Assim, a infecção é adqui-
de maioria dos casos ocorria na Região Nordeste do país rida por intermédio do contato com águas contami-
(especialmente nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande nadas por larvas do Schistosoma, que penetram no
do Norte, Paraíba e Pernambuco), mas atualmente as organismo através da pele íntegra. Após circularem
Regiões Sudeste e Centro-Oeste são também endêmi- pelos vasos do organismo, elas acabam se fixando
cas. Entre os anos de 2003 e 2012 foram diagnosticados nas veias mesentéricas, onde atingem a fase adulta
anualmente, em média, cerca de 3.500 casos. e iniciam a reprodução sexuada após 4 a 6 semanas
da infecção inicial.
Por se tratar de uma doença crônica e debilitante, a
leishmaniose visceral determina incapacidade para o tra- A evolução do quadro clínico da esquistossomose ocor-
balho e, se não tratada precocemente, gera graves com- re em quatro fases:
plicações orgânicas. A taxa de letalidade da doença no
Brasil tem estado em torno de 7% dos casos. As expecta- • Penetração das Cercárias: As cercárias livres
tivas de cura crescem em função da precocidade do tra- penetram através da pele após o contato desta
tamento. A imunidade nos casos curados é permanente. com águas infestadas por estas larvas. Esta fase
se caracteriza por um quadro de dermatite urti-
A vulnerabilidade é maior entre as crianças menores de cariforme, e pode passar desapercebido.
dez anos, idosos, doentes crônicos e desnutridos. Resi- • Invasiva: As cercárias passam ao interior do sis-
dentes em municípios considerados de alto risco para tema circulatório humano, até se fixarem nas
a transmissão são os mais expostos. A classificação de veias mesentéricas, onde evoluem e atingem a
risco dos municípios se dá pela presença/ausência dos forma adulta. Esta fase pode ser assintomáti-
hospedeiros infectados (cães) e das espécies vetores. ca ou ser acompanhada de crises de asma, que
ocorrem quando as formas invasivas passam
Esquistossomose ou Esquistossomíase pela circulação pulmonar.
• Aguda: Início da eliminação de ovos férteis
Definição pelas fêmeas adultas e, dependendo da in-
tensidade da infecção, pode apresentar os se-
A Esquistossomose ou Esquistossomíase é uma doen- guintes sinais e sintomas: febre, prostração,
ça de notificação compulsória semanal no Brasil, perda do apetite, náuseas e queixas digestivas
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

vagas, discreto aumento do fígado e do baço, Ainda de acordo com este órgão, entre 1998 e 2014137,
aumento importante do número de eosinófilos as Regiões Nordeste (5.761 óbitos) e Sudeste (2.694
nos exames de sangue, denunciando reação óbitos) contaram com o maior número de óbitos por es-
de hipersensibilização do organismo. A partir quistossomose, sendo os estados com o maior número
desta fase, começam a aparecer ovos do verme de óbitos Pernambuco e Alagoas na Região Nordeste e
nos exames de fezes. São Paulo e Minas Gerais no Sudeste.
• Crônica: Esta fase apresenta as seguintes for-
mas: (a) Intestinal: crises de diarreia, algumas 1.6.1.4. Doenças Infecciosas Fúngicas
vezes com fezes mucossanguinolentas, prisão
de ventre, digestão difícil, retardo na diges- O COBRADE caracteriza um desastre biológico como
tão gástrica, aumento na produção de gases uma epidemia provocada por doenças infecciosas fúngi-
abdominais e dores abdominais; (b) Hepatoin- cas quando há um aumento brusco, significativo e tran-
testinal: cirrose interlobular, com crescimento sitório da ocorrência de doenças geradas por fungos.
do fígado e surgimento dos primeiros sinais de
insuficiência hepática; (c) Hepatoesplênica:
crescimento do baço, anemia, redução do nú-
mero de neutrófilos e do número das plaque- Fungos são organismos formados por uma ou várias
tas, surgimento de varises esofágicas, as quais células eucariontes (com o material genético orga-
podem romper-se, provocando hemorragias nizado dentro de um núcleo), cujo modo de nutrição
graves, além de subnutrição e acúmulo pronun- caracteriza-se como heterotrófico por absorção.
ciado do volume de líquido no interior da cavi- Portanto, são organismos incapazes de realizar a fo-
dade abdominal – “barriga d’água”; (d) Cardio- tossíntese e produzir o próprio alimento, alimentan-
pulmonar: hipertensão da circulação pulmonar do-se da matéria orgânica presente no meio, atuan-
e falência do ventrículo direito, caracterizando do como importantes decompositores na natureza.
um quadro “cor-pulmonar” crônico, complican- São exemplos de fungos os cogumelos, os bolores,
do ainda mais a situação hepática. Trata-se de os mofos, os orelhas-de-pau e as leveduras.
uma doença inicialmente assintomática, que Fonte: LOPES e ROSSO (2014).
pode evoluir para formas clínicas extremamen-
te graves e levar o paciente a óbito.

A susceptibilidade à doença é universal e a resistência Epidemiologicamente, as infecções fúngicas podem


é mínima, mesmo entre pessoas infectadas. ser classificadas como endêmicas ou oportunísti-
cas138. A primeira é causada por um agente patogênico
Ocorrência que não faz parte da flora humana, sendo este comu-
mente adquirido do ambiente. Essas infecções são di-
O Schistossoma mansoni foi introduzido há poucos sé- tas verdadeiramente patogênicas, pois estão relacio-
culos na América do Sul e no Caribe como consequên- nadas a micro-organismos estranhos ao hospedeiro e
cia da escravização de povos africanos. A esquistosso- de elevada patogenicidade (Coccidioidomicose). Já as
mose é uma doença de ocorrência tropical, registrada infecções oportunísticas são aquelas causadas por mi-
em 54 países135. Na América do Sul, os países mais atin- cro-organismos que estão presentes na flora humana
gidos pela enfermidade são a Venezuela e o Brasil136. usual, uma vez que são facilmente adquiridos do am-
biente devido à sua ubiquidade (Candidíase). Em hos-
Segundo o Ministério da Saúde213, a doença é detectada pedeiros imunocompetentes, os fungos oportunísticos
em todas as regiões do Brasil, e os estados das Regiões apresentam caráter estritamente comensal, causando
Nordeste e Sudeste são os mais afetados. As áreas endê- doença subclínica e assintomática em alguns casos.
micas e focais abrangem 19 Unidades Federadas e com- Porém, complicações graves podem surgir por conse-
preendem os Estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco, quência de doenças ou procedimentos médicos que
Rio Grande do Norte (faixa litorânea), Paraíba, Sergipe, levem à imunodepressão ou à quebra de barreiras ana-
Espírito Santo e Minas Gerais (predominantemente no tômicas do hospedeiro.
norte e nordeste do estado). No Pará, Maranhão, Piauí,
Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Pa- Independentemente da categoria epidemiológica, tan-
raná, Rio Grande do Sul, Goiás e no Distrito Federal a to as infecções fúngicas endêmicas quanto as oportu-
transmissão é focal, não atingindo grandes áreas. nísticas são capazes de desencadear doença sistêmica,
com acometimento dos órgãos internos (primariamen-
135
Disponível em: http://www.comunicaquemuda.com.br/campa- te pulmonar) e elevada letalidade. De maneira geral,
nha-nacional-de-combate-a-dengue-sera-regionalizada/. Acesso
em: 28 de nov. 2016.
136
http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/ 137
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2016/julho/11/obi-
leia-mais-o-ministerio/656-secretaria-svs/vigilancia-de-a-a-z/es- tos-esquistossomose.pdf
quistossomose/11244-situacao-epidemiologica-dados 138
EWARDS (2015).
| 119

infecções sistêmicas ocorrem por inalação de propá- cerca de 17 espécies de Candida causando micoses su-
gulos (esporos) – estruturas de reprodução que ficam perficiais ou sistêmicas, das quais as mais importantes
suspensas no ar ou imobilizadas no solo. Porém, outras clinicamente são C. parapsilosis, C. tropicalis, C. gla-
vias de entrada podem ocorrer, como é o caso da mani- brata, C. krusei, C. guilliermondii e C. lusitania142.
pulação de cateteres e outros dispositivos médicos em
unidades de terapia intensiva. Caracterização

No Brasil, estima-se que cerca de 3,8 milhões de pes- Os fungos do gênero Candida são encontrados fre-
soas sofram de infecções fúngicas todos os anos, sen- quentemente colonizando o hospedeiro humano (20 a
do a maioria oportunísticas relacionadas a neoplasias, 80% da população adulta saudável), sendo que entre
transplantes, asma, tuberculose prévia, infecção por as mulheres, a colonização do trato genito-urinário é o
HIV e aqueles vivendo em áreas endêmicas para fun- mais comum (cerca de 20 a 30%)143.
gos altamente patogênicos139. A incidência de micoses
oportunísticas invasivas tem aumentado mundialmen- A Candidíase tem apresentação clínica variando de le-
te devido à expansão da população de pacientes imu- sões brandas, agudas ou crônicas, de caráter superfi-
nossuprimidos (transplante de órgão sólido e de célu- cial ou profundo, e com espectro clínico bastante vas-
las-tronco hematopoiéticas), pacientes com câncer e to. A manifestações mais comuns são:
com AIDS, recém-nascidos prematuros, pacientes ido-
sos e pacientes em recuperação de grandes cirurgias, • Candidíase oral: leveduras do gênero Candida fa-
com elevadas taxas de morbidade e mortalidade. zem parte da microbiota oral, principalmente C.
albicans. Porém, formas patogênicas invasivas
Embora alguns fatores de risco sejam comuns a várias podem induzir o aparecimento de lesões que são
áreas de ocorrência dessas doenças, existem particu- frequentes em crianças ou pacientes imunodepri-
laridades regionais que determinam maior ou menor midos. A forma pseudomembranosa (“sapinho”) é
incidência dos agravos, como os recursos disponíveis a mais conhecida no Brasil, manifestando-se por
para o tratamento, programas de treinamento, imple- placas esbranquiçadas que são facilmente remo-
mentação de programas de controle de infecção em víveis da língua e mucosas. Entretanto, a candi-
hospitais e a existência de recursos humanos treinados, díase oral pode evoluir para complicações do tipo
fatores esses muito variáveis entre os países140. Den- orofaringeanas, esofágicas, laringeanas e sistê-
tre as micoses oportunísticas de importância atual no micas, estando essas muito associadas aos HIV
Brasil estão Candidíase, Mucormicose, Criptococose positivos. O tratamento é simples nos pacientes
(Meningite fúngica), e Aspergilose, enquanto as invasi- imunocompetentes através de antifúngicos tópi-
vas endêmicas mais importantes são Coccidioidomico- cos, enquanto em hospedeiros imunodeprimidos
se, Paracoccidioidomicose e Histoplasmose141. A Pneu- se faz necessária a combinação de uma terapia
mocistose foi incluída dentre as micoses de relevância intensiva tanto sistêmica como local devido à
epidemiológica devido à sua associação estreita com maior chance de recidiva144.
pacientes portadores de HIV e AIDS, doença que re- • Candidíase vaginal: C. albicans é a espécie mais
presenta uma pandemia com elevado custo social e de comum encontrada no trato genital feminino,
saúde. Muitas dessas doenças fúngicas vêm ocorrendo com prevalência de 70 a 90% dos casos, causan-
de forma crescente em pacientes com alterações imu- do coceira, odor, prurido, corrimento, ardor ao
nológicas, como HIV (vírus da imunodeficiência huma- urinar e desconforto vaginal. O tratamento mais
na), transplantados e usuários de imunobiológicos, o comum é a partir de derivados imidazólicos, tó-
que torna o conhecimento da epidemiologia e controle picos ou sistêmicos. Porém, outras espécies têm
dessas doenças importantíssimo para as ações de saú- sido frequentemente relacionadas a infecções
de pública e vigilância epidemiológica no país devido ginecológicas, como é o caso de C. glabrata.
à crescente incidência dessas condições de saúde na Esta espécie é responsável entre 5 e 15% dos
população brasileira142. casos de candidíase vulvovaginal e apresenta
resistência a diferentes tipos de substâncias143.
Candidíase • Candidíase cutânea: está associada a condições
de umidade e temperatura encontradas em deter-
Definição minadas partes do corpo, e a condições crônicas
ou infecciosas (Diabetes mellitus e HIV). Apre-
É uma doença invasiva causada por Candida sp., es- senta diversas manifestações, como intertrigo
pecialmente C. albicans. Atualmente, são conhecidas (nas dobras do corpo), foliculite, onicomicose
(unha enrijecida, dolorida ou esponjosa) e paroní-
quia (enrijecimento da pele de coloração parda a
139
Giacomazzi et al. (2016).
140
Nucci et al. (2010).
141
Bergamasco & Colombo (2014). 143
Colombo & Guimarães (2003).
142
Santos & Colombo (2014). 144
Barbedo & Sgarbi (2010).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

avermelhada). Na pele, as lesões típicas são geral- cateter venoso central, de nutrição parenteral
mente avermelhadas e com hiperqueratinização, total e de antibióticos de largo espectro142.
não causando dor. Pode acometer recém-nasci-
dos (candidíase congênita), causando lesões por Ocorrência
todo o corpo e com possibilidade de evolução para
forma disseminada, levando a óbito143. Os fungos do gênero Candida são cosmopolitas, ha-
• Candidíase sistêmica: é mais comum em pacien- vendo variação das espécies principais em cada re-
tes imunossuprimidos, sendo C. albicans e  C. gião do globo. A Figura 90 mostra a variação temporal
tropicalis as mais rotineiramente envolvidas. das espécies de Candida mais comuns no mundo entre
Porém, tem havido um aumento da frequência 1997-2007. Os fatores que explicam essa variação são
de infecções por outras espécies, como C. gla- o clima, políticas antifúngicas adotadas pelos países e
brata e outras Candida sp. Em geral, Candida sp. condições de imunidade e resistência da população148.
respondem por aproximadamente 80% de todas Atualmente, Candida sp. é o quarto gênero mais co-
as principais infecções fúngicas sistêmicas145. mum em infecções fúngicas da corrente sanguínea e
A infecção clínica se dá em duas formas: 1) in- o mais comum em infecções invasivas, principalmente
fecção invasiva focal, destacando-se o acome- devido à maior complexidade dos cuidados de saúde
timento dos olhos (endoftalmite), articulações (Quadro 10). Estudo sobre a carga das infecções fún-
(osteoarticular), cérebro (meningite), e outros gicas sobre a população Brasileira mostrou que, em
órgãos internos, como coração (endocardite, 2011, mais de 2,8 milhões de casos de infecções por
mediastinite), trato urinário (infecção urinária) Candida foram reportados no país, incluindo infec-
e pulmão (pneumonia); 2) candidemia e candidí- ções invasivas e não invasivas138.
ase disseminada, em que a corrente sanguínea é
infectada pelo fungo já presente em outra parte Impactos
do corpo ou introduzido através de métodos in-
vasivos, podendo culminar na disseminação para Os fatores de risco associados à maior vulnerabilidade
um ou vários órgãos do hospedeiro146. Evidencias à infecção por Candida sp. estão relacionados à espécie
apontam que as Candidemias (infecções da cor- envolvida, demografia (incluindo condições socioeco-
rente sanguínea) têm se tornado um importante nômicas), as práticas adotadas para controle da infec-
problema em hospitais de cuidados terciários ao ção e tipo de cuidado médico a que o paciente/hospe-
redor do globo147. Alguns fatores de risco para a deiro está sujeito149. Devido aos fungos de Candida sp.
forma invasiva/sistêmica são as malignidades colonizarem diversas partes do organismo humano, as
hematológicas; transplantes de órgãos sólidos complicações dessa infecção fúngica também podem
ou de células-tronco; quimioterapia; o uso de estar associadas às condições de susceptibilidade do
145
Pfaller et al. (2011).
146
Frafe, R. (2010). 148
Guinea (2014).
147
Colombo et al. (2006). 149
Park et al. (2011).

Figura 90. REGISTRO PERCENTUAL DA VARIAÇÃO TEMPORAL DAS ESPÉCIES DE CANDIDA


DE DIVERSOS ISOLADOS INVASIVOS ENTRE OS ANOS DE 1997 A 2007.

100
%

90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1997 - 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 - 2007

Outras C. Krusei C. tropicalis C. parapsilosis C. glabrata C. albicans

Fonte: Adaptado de Guinea, J. (2014).


| 121

Quadro 10. PECULIARIDADES DAS DIFERENTES ESPÉCIES DE CANDIDA.

Espécie Peculiaridade Epidemiológica

C. albicans Espécie mais frequente isolada de infecções superificias e invasivas em diferentes sítios.
Espécie mais relacionada à aquisição exógena, a partir de catéteres ou soluções contaminadas. Possui
C. parapsilosis diversas descrições de surtos hospitalares. Trata-se de um complexo de espécie: C. parapsilosis, C.
orthopsilosis e C. metapsilosis.
C. tropicalis Maior ocorrência em pacientes neutropênicos ou sob quimioterapia, especialmente portadores de leucemia.
Maior ocorrência em pacientes previamente expostos a azólicos, idosos (acima de 65 anos) e submetidos à
C. glabrata
cirurgia abdominal.
Patógeno hospitalar ocacional. Maior ocorrência em pacientes expostos previamente ao fluconazol, como os
C. krusei
neutropênicos e submetidos a transporte de células-tronco hematopoiéticas.
Fonte: Adaptado de Bergamasco & Colombo (2014).

hospedeiro geradas por outras doenças subjacentes ou Murcomicose e Zygomicose serão considerados como
procedimentos médicos. Sendo assim, existem alguns sinônimos nesta seção.
fatores de risco que determinam maior propensão à in-
fecção, como as pessoas com o sistema imune deprimi- Caracterização
do (HIV), gravemente enfermos e hospitalizados, que
fazem hemodiálise, com neoplasias, transplantados, Os Mucorales são fungos ubíquos encontrados facil-
os extremos de idade (recém-nascidos e idosos), com mente no meio ambiente, mas que apresentam tam-
doenças crônicas, dentre outros. Embora seja um pro- bém caráter oportunista, raramente gerando doença
blema benigno e autolimitado na maior parte dos ca- em pacientes imunocompetentes. A Mucormicose é
sos, nas condições sistêmicas pode haver um excesso uma das infecções humanas fúngicas mais agressivas
de letalidade superior a 40% e prolongamento das in- e é a terceira causa mais comum de infecções fúngicas
ternações. A letalidade da doença pode ser muito alta invasivas, compreendendo entre 8 a 13% dos casos151.
em casos de Candidíase sistêmica. Estudos apontam Representa um grupo de doenças potencialmente fa-
que para os casos de Candidemia (infecção do sangue), tais causando manifestação aguda e invasão da cor-
entre 40 e 60% dos pacientes podem evoluir a óbito rente sanguínea em pacientes imunodeprimidos, com
durante a internação139. Para algumas espécies, como taxa de letalidade elevada (60%)150. O contágio se dá
C. glabrata, a mortalidade pode chegar a 50% em pa- por inalação dos esporos, perfuração cutânea ou in-
cientes com câncer e a 100% quando em complicações gestão. Existem cinco formas principais da doença que
de transplante de medula óssea139. tendem a acometer pacientes com alterações específi-
cas do mecanismo de defesa imune:
Mucormicose (Zygomicose)
• Rinocerebral: é a manifestação mais comum da
Definição doença (44 a 49% dos casos relatados), sendo
que Rhizopus sp. perfazem cerca de 70% dos
A Mucormicose é uma doença altamente invasiva cau- casos de cultura positiva143. A infecção se ini-
sada por fungos da ordem Mucorales, sendo a espé- cia pelos seios paranasais e palato, progredindo
cie mais comum como causa de infecção o Rhizopus para a órbita ocular e, quando não diagnostica-
oryzae. Outras espécies também são frequentemente do, para o cérebro. Os sintomas são inespecífi-
implicadas como agentes etiológicos da doença, como cos e dentre os mais comuns estão febre, dor de
R. microsporus, R. pusillus, Mycocladus corymbifer e cabeça, dor orbital, perda de visão, pupila dila-
Apophysomyces elegans, sendo que os relatos de in- tada, sinusite, dormência facial e convulsões150.
fecção por espécies do gênero Cunninghamella tem Está frequentemente associada aos casos de
crescido em número em anos recentes150. O termo Zy- cetoacidose diabética e Diabetes mellitus mal
gomicose é usado para classificar as infecções causa- controlado (67% dos casos). Pode ser comum
dos por fungos tanto da ordem Mucorales quanto da também nos casos de transplante de órgãos só-
ordem Entomophthorales, que apresentam diferenças lidos e de medula óssea, queimaduras, traumas
clínicas, patológicas e epidemiológicas entre si. Po- e terapia com droga quelante de ferro desferrio-
rém, como a maioria dos casos de infecção humana é xamina. Na Mucormicose rinocerebral, as taxas
causada pelos fungos da ordem Mucorales, os termos de mortalidade variam de 30 a 69%150;

150
Spellberg & Ibrahim (2015). 151
Prabhu, R. M., & Patel, R. (2004).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

• Pulmonar: é a segunda manifestação mais co- crianças, sendo o estômago e o intestino grosso
mum da doença e a inalação de esporos é a prin- os órgãos mais afetados150. Fatores de risco são
cipal rota de infecção, porém pode haver dissemi- transplante de órgãos sólidos ou de células-tron-
nação hematogênica ou linfática do fungo152. Os co; a presença de neoplasias como leucemia e
sintomas muitas vezes se confundem com os da linfoma; má-nutrição; malária; cetoacidose dia-
Aspergilose; os principais são dispneia, tosse, dor bética; febre tifoide e prematuridade150.
torácica e febre. O diagnóstico diferencial precisa
ser feito nos estágios iniciais, pois o tratamento Ocorrência
é diferente entre as duas doenças – a droga de
primeira escolha para a Aspergilose (voriconazol) Os Murcorales são encontrados em todo o mundo, não
pode exacerbar a Mucormicose81. A Mucormico- havendo uma distribuição geográfica bem definida. São
se pulmonar não é comum em hospedeiros imu- facilmente encontrados em alguns alimentos (pães,
nocompetentes; nesses casos está relacionada a queijos e frutas), em matéria orgânica em decomposi-
traumas e história de autoexposição ambiental151. ção, estrume, e colonizando o trato gastrointestinal de
Tradicionalmente, os pacientes com leucemia e algumas espécies de répteis e anfíbios. Tanto o homem
linfoma representam a maioria dos casos (37%), quanto os animais são susceptíveis à doença, contrain-
mas literatura recente tem apontado o Diabetes do a infecção do ambiente, porém não há transmissão
mellitus (32%) como condição subjacente mais homem-homem ou homem-animal154. Afeta pessoas de
prevalente150. Na ausência de tratamento é fre- todas as idades e de ambos os sexos. Infecções foram
quente a disseminação hematogênica para outros relatadas no subcontinente indiano, na África, na Amé-
órgãos, particularmente para o cérebro, ocasio- rica do Sul, na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos.
nando óbito entre 2 e 3 semanas83;
• Disseminada: esse tipo de manifestação aco- Impactos
mete dois ou mais órgãos não contíguos e tem
alta taxa de letalidade (próxima a 100%). Ocorre Ao contrário de outras infecções fúngicas que acome-
entre 6 e 11% dos casos relatados de Murmo- tem principalmente hospedeiros imunocomprometi-
micose, sendo que os fatores de risco para dis- dos, as Murmomicoses infectam uma variedade maior
seminação compreendem neutropenia (baixa de pessoas em condições variadas de saúde. Estudos de
contagem de neutrófilos maduros), leucemia e revisão mostram, por exemplo, que pessoas sem doen-
linfoma, bem como em menor escala transplan- ça subjacente e pacientes diabéticos podem represen-
tes, quimioterapia e terapia com corticosteroi- tar até 50% dos casos registrados155. Entretanto, essa
des e quelante de ferro desferrioxamina150,152. doença tem emergido de grupos de risco formados por
Nos pacientes com alguma doença hematológi- hospedeiros imunocomprometidos, como aqueles com
ca maligna, a forma disseminada ocorre entre doenças hematológicas malignas e transplantados de
23 a 62% dos casos150; medula ou de órgãos sólidos.
• Cutânea: pode se desenvolver após quebra da
integridade da pele devido a cirurgias, queima- Criptococose (Meningite Fúngica)
duras, traumas, acidentes veiculares, fraturas,
biópsias, dentre outros. É a manifestação da Definição
doença menos associada a outras condições
preexis­tentes, porém os fatores de risco incluem O Cryptococcus neoformans é um fungo que possui duas
diabetes, leucemia e transplante de órgãos150. variedades de importância epidemiológica, com cinco
Pode se manifestar de forma superficial ou pro- sorotipos distintos: C. neoformans var. neoformans (so-
funda, variando desde infecção indolente até rotipos A, D e AD) e C. neoformans var. gattii (sorotipos
extremamente agressiva, com necrose e des- B e C)152. A primeira variante possui caráter oportunísti-
truição tecidual precoce, podendo requerer in- co associado a condições de imunodepressão e a segun-
tervenção cirúrgica, terapia antifúngica ou mes- da, é considerada verdadeiramente patogênica, acome-
mo amputação150,152. Dentre os casos relatados, tendo também pacientes imunocompetentes156.
a Mucormicose cutânea é a que apresenta, mais
frequentemente, ausência de predisponentes e Caracterização
os mais baixos índices de letalidade (15%)153;
• Gastrointestinal: apresenta sintomas inespecífi- De maneira geral há duas entidades clínica distintas
cos que compreendem dor abdominal, melena e determinadas pela espécie infectante: C. neoformans
hematêmese. Cerca de 1/3 dos casos ocorre em var. neoformans está associada a condições de imu-
nodepressão do hospedeiro, enquanto C. neoformans
152
Severo, Guazzelli, & Severo (2010).
153
Marques, S. A., de CamargoII, R. M. P., AbbadeIII, L. P. F., & Mar- 154
Pan American Health Organization (2001).
quesIV, M. E. A. Mucormicose: infecção oportunística grave em pa- 155
Roden et al. (2005).
ciente imunossuprimido. Relato de caso. 156
Ministério da Saúde (2012).
| 123

var. gattii é uma doença primária, endêmica de áreas • Comprometimento Ocular: em geral está as-
tropicais e subtropicais, que acomete hospedeiros sem sociada ao quadro clínico da doença do SNC ou
evidência de imunodepressão154. Independentemen- disseminado, mas também pode ocorrer o aco-
te da espécie envolvida, a Criptococose se manifesta metimento apenas do globo ocular. A diplopia é
principalmente por meningite ou meningoencefalite o sintoma mais comum quando o acometimento
aguda ou crônica, de evolução grave a fatal140. Essa ocular está associado à meningite ou meningo-
manifestação pode ser acompanhada ou não de lesão encefalite, enquanto nos casos de comprometi-
pulmonar, fungemia e focos secundários para pele, mento ocular primário o sintoma usual é a co-
ossos, rins, suprarrenal, entre outros157. Clinicamente riorretinite. Em indivíduos imunocompententes
podem ocorrer as seguintes manifestações: com infecção por C. neoformans var. gattii cau-
sando meningite há relatos de perda da visão
• Comprometimento do Sistema Nervoso Central: em até 53% dos casos.156
é a forma mais comum da doença, seja isolada
ou associada ao acometimento do pulmão, ocor- Ocorrência
rendo em cerca de 80% dos casos. Em pacientes
imunodeprimidos, com AIDS ou outras doenças Apresenta distribuição cosmopolita, porém existem
imunossupressoras, a meningoencefalite ocorre diferenças ecológicas na ocorrência das duas varian-
de modo agudo e pode apresentar poucos sinais tes. Cryptococcus neoformans var. neoformans pode
e sintomas. Em pacientes imunocompetentes o ser encontrado em todo o mundo (sorotipo A), embora
quadro clínico é exuberante. Em geral, os sin- o sorotipo D seja mais comum em alguns países da
tomas compreendem dor de cabeça, distúrbios Europa. Ocorre em diversos substratos orgânicos, as-
visuais, confusão mental, letargia e alteração sociando-se de maneira frequente ao habitat de aves,
de personalidade. Pode acometer crianças com excretas secas e ricas em nitrogênio (ureia e creatini-
elevada letalidade, apresentando-se como me- na). No Brasil, essa variante foi descrita relacionada
ningoencefalite e lesões pseudotumorais; con- à decomposição de madeira em árvores tropicais no
dições essas já descritas no Estado do Pará e Rio de Janeiro, Teresina, Boa Vista, Ilha de Maracá,
que constituem grande parte da casuística no no interior do Amazonas e na Cidade de São Paulo.
norte e nordeste brasileiro; 152,156,158 Em condições favoráveis, esse fungo pode crescer
• Comprometimento pulmonar: é a segunda mais abundantemente formando microfocos, especialmen-
frequente. Os esporos se depositam nos alvéolos, te nos centros urbanos com alta população de pom-
podendo causar infecção assintomática, mas com bos. O ambiente domiciliar pode apresentar positi-
potencial risco de disseminação em hospedeiros vidade, especificamente na poeira doméstica, como
imunocomprometidos. As apresentações clínicas demonstrado no Rio de Janeiro (13%). No Brasil, há o
podem ser autolimitadas e evoluir até doença dis- predomínio da variedade neoformans causando Crip-
seminada com falência respiratória, estando di- tococose em pacientes HIV positivos, homens, com
retamente associadas ao estado imunológico do letalidade de cerca de 35 a 40% nas Regiões Sul e Su-
hospedeiro. Em paciente com AIDS, o envolvimen- deste do país.154,156
to pulmonar se dá em cerca de 30% dos casos, e
no caso de transplantados, essa manifestação é a Cryptococcus neoformans var. gattii apresenta distri-
segunda mais comum após a Aspergilose;156 buição mais localizada e de elevada prevalência, ocorre
• Comprometimento Cutâneo: esse tipo de manifes- na América Latina, no Peru, Colômbia, Argentina, Ve-
tação ocorre entre 10 e 15% dos casos, sendo con- nezuela, Brasil, Austrália, Nova Guiné, países da Áfri-
siderado um marcador de doença disseminada. As ca Central, sudeste da Ásia, México e algumas regiões
manifestações são caracterizadas por formação de dos Estados Unidos. Essa variante ocorre principal-
abcessos e pápulas com posterior ulceração;156,152 mente em regiões tropicais e subtropicais, sendo que
• Comprometimento Ósseo: ocorre entre 5 e seu habitat natural foi inicialmente descrito na Aus-
10% dos casos de infecção por C. neoformans, trália a partir de restos vegetais de Eucalyptus camal-
podendo se dar tanto de forma assintomática dulensis. No Brasil, já foi isolada no Parque Ibirapuera
quanto na condição disseminada. É mais comum (São Paulo) e em plantação de eucaliptos em Teresina.
o acometimento de apenas um osso, sendo os Porém, a associação entre a var. gattii e eucalipto não
mais frequentes a pélvis, vértebra, crânio, cos- é específica, já tendo sido demonstrada associação do
tela, e nos casos da forma disseminada da doen- fungo com outras variedades de árvores tropicais nas
ça, o envolvimento vertebral; 156,152 Regiões Nordeste e Norte do Brasil. Nessas regiões,
a var. gattii predomina, acometendo indivíduos imu-
nocompetentes, de ambos os sexos, e HIV negativos,
157
Grumach et al. (2008). sendo considerada uma micose endêmica regional.
158
Oliveira, E. C., Corrêa, M. D. P. S. C., Pardal, P. P. D. O., Oliveira,
F. D. M., Duarte, R. R. B. S., & Severo, L. C. (1999). Criptococose em
A meningoencefalite ocorre em nativos destas regiões,
crianças no Estado do Pará, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira incluindo jovens e crianças, com elevada morbidade e
de Medicina Tropical. 32(5):505-508. letalidade (37 a 49%) (Figura 91).152,154,156
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Impactos terna), e A. terreus (doença invasiva com prognóstico


desfavorável).152,159
Embora seja uma doença incomum, o número de casos
da doença tem aumentando em todo o mundo devido à Caracterização
pandemia de AIDS, dado que C. neoformans é um pa-
tógeno oportunista. No Brasil, a Criptococose ocorre A Aspergilose é essencialmente uma infecção do sis-
como primeira manifestação oportunista em cerca de tema respiratório cuja via de aquisição principal é a
4,4% dos casos de AIDS no país. A capacidade desse inalatória, podendo causar um amplo espectro de ma-
agente etiológico afetar o SNC em HIV positivos já foi nifestações clínicas, desde simples colonização até
constatada no país, dado que em pacientes hospitali- a forma invasiva140. Os Aspergillus sp. podem causar
zados cerca de 12% apresentaram Criptococose aco- doença invasiva aguda, infecção crônica ou sintomas
metendo o SNC. Além disso, também está associada a alérgicos com pouca resposta inflamatória. A forma
outras condições subjacentes, como desordens do sis- invasiva é mais comum nos pacientes imunocompro-
tema reticuloendotelial, doença de Hodgkin e terapia metidos, com acometimento principalmente pulmonar.
com corticosteroides.152 Devido a manifestações inespecíficas, muitas vezes o
diagnóstico se dá em estágios avançados da doença,
Aspergilose sendo que a terapêutica tardia eleva as taxas de mor-
talidade pela doença (40-80%)160. As manifestações
Definição clínicas da doença estão resumidas no Quadro 11 e al-
gumas das mais importantes são apresentadas abaixo:
A Aspergilose é uma doença causada por uma va-
riedade de fungos do gênero Aspergillus. São docu- • Aspergilose invasiva:
mentadas cerca de 35 espécies patogênicas. As mais o Pulmonar (API): a febre é um dos principais

comumente implicadas em infecções fúngicas pato- sintomas, embora nem sempre esteja pre-
lógicas são Aspergillus fumigatus, que é responsável sente, acompanhada de tosse e dor torácica.
pela maior parte dos casos de Aspergilose invasiva e É uma condição que pode se tornar crônica –
crônica, assim como pela maioria das síndromes alér- cavitária, fibrosante ou necrosante140;
gicas. Ocasionalmente, outras espécies podem estar
envolvidas, como A. flavus (prevalente em hospitais 159
Denning, D. W. (2015). Aspergilose. In: Doenças infecciosas de
e nas infecções sinusais e cutâneas), A. nidulans, A. Harrison. Kasper, D. L.; Fauci, A. S. (orgs). AMGH:Porto Alegre, 2 edi-
ção, p. 900-904.
niger (coloniza o trato respiratório e causa otite ex- 160
Barbieri & Ishida (s.d.).

Figura 91. DISTRIBUIÇÃO DOS SOROTIPOS (A, B, C, D, AD, E NÃO TIPIFICADO – NT)
DE 467 ISOLADOS DE CRYPTOCOCCUS NEOFORMANS PELAS REGIÕES GEOGRÁFICAS BRASILEIRAS.

Fonte: Adaptado de: Nishikawa et al. (2003).


| 125

Quadro 11. PRINCIPAIS MANIFESTAÇÕES DA ASPERGILOSE.

Tipo de Doença
Órgão Invasiva (aguda e
Crônica Saprofítica Alérgica
subaguda)

Pode ou não ser Broncopulmonar alérgica,


Cavitária crônica, Aspergiloma, colonização
Pulmão angioinvasiva, asma grave, alveolite
fibrosante crônica das vias respiratórias
granulomatosa alérgica extrínseca
Invasiva crônica, Sinusite fúnigca alérgica,
Seios da face Invasiva aguda Massa de fungo no maxilar
granulomatosa crônica rionossinusite fúngica
Abscesso, infarto
Cérebro Granulomatosa, meningite — —
hemorrágico, meningite
Disseminada aguda,
Pele Otite externa, onicomicose — —
localmente invasiva
Coração Endocardite, pericardite — — —
Olhos Ceratite, endoftalmite — — Nenhuma descrita
Fonte: Adaptado de Denning, D. W. (2015).

o Sinusite aguda: pode ocorrer de forma con- Ocorrência


comitante ou independente de API161. Os sin-
tomas principais são febre, dor e pressão lo- O fungo é ubíquo, está distribuído mundialmente sem
calizada, embora possam estar ausentes em ocorrência específica, podendo sobreviver nas mais
pessoas imunodeprimidas. A espécie A. fla- variadas condições ambientais (solo, matéria orgânica
vus tem alta propensão a causar quadros de em decomposição, roupa de cama)152. O reservatório
sinusite aguda158; é o próprio solo, de onde os esporos são dispersados
o Extrapulmonar e disseminada: os alvos teci- através do ar158. Algumas espécies como A. flavus pro-
duais mais comuns são o SNC, podendo apre- duzem aflatoxinas – substância hepatotóxica e carci-
sentar paralisia focal e convulsões. O fungo nogênica – em sementes como milho, arroz e amen-
pode penetrar os vasos sanguíneos a partir doim, quando armazenadas em condições de umidade.
do pulmão e se disseminar para outras par- Acomete de forma esporádica algumas espécies de
tes do corpo, sendo potencialmente letal152. mamíferos e aves tanto domésticas quanto silvestres.
Entretanto, o consenso é de que pacientes
neutropênicos são praticamente os únicos Impactos
susceptíveis a essa forma invasiva da doen-
ça. A disseminação cerebral é considerada Nas últimas décadas houve um aumento da incidência
uma complicação devastadora da Aspergilo- de infecções por Aspergillus, principalmente em sua
se invasiva; forma invasiva, em pessoas imunocomprometidas no
o Endocardite: constitui infecção isolada em mundo todo, principalmente devido à massificação
usuários de drogas injetáveis e após cirurgia do uso de antibióticos, antimetabólicos e corticos-
cardíaca valvar, sendo de difícil diagnóstico e teroides152. As principais condições associadas são
elevada letalidade158; doenças hematológicas malignas, leucemias agudas e
• Aspergiloma simples: colonização de cavitação transplante de células-tronco hematopoiéticas140. No
pulmonar preexistente, devido a outras doenças Brasil, por exemplo, relatos mostram que a Aspergilo-
(bronquite, tuberculose), por Aspergillus mas se invasiva foi a principal causa de micose (6,5%) em
que não causa comprometimento sistêmico im- pacientes com transplante de células hematopoiéticas
portante140; ou com leucemia de oito centro hematológicos, sendo
• Formas alérgicas: pode ocorrer Aspergilose que a prevalência foi seis vezes maior em pacientes
broncopulmonar alérgica em pacientes com com leucemia mieloide139. Outros grupos de impor-
histórico prévio de asma, podendo se iniciar na tância seriam os de transplantes de órgãos sólidos e
infância e permanecer por anos ou décadas sem portadores de doenças reumatológicas ou pulmonar
ser diagnosticada devido à ausência de sinto- obstrutiva crônica (DPOC). Para os grupos de maior
mas152. Também pode se manifestar como alveo- risco, a Aspergilose corresponde à principal doença
lite ou sinusite alérgica158. fúngica invasiva, superando inclusive a Cadidíase140.

161
Walsh & Stevens (2014).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Pessoas ocupacionalmente expostas ao fungo também disseminada) e a meningite (33 a 50%), que usu-
apresentam maior risco de infecção, como as que tra- almente é fatal em poucos anos. Outros locais
balham diretamente com grãos, feno, algodão etc. também podem ser acometidos, como laringe,
abdome e pericárdio. A disseminação extrapul-
Coccidioidomicose monar se desenvolve mais frequentemente em
certos grupos étnicos, incluindo os de ascen-
Definição dência africana ou filipina. 141,152,162

A Coccidioidomicose, denominada de “febre do vale” Ocorrência


ou “febre do vale São Joaquim” é uma doença provoca-
da pelos fungos Coccidioides immitis e C. posadasii141. Coccidioides immitis é endêmico de zonas de baixa
Pode acometer tanto o homem quanto uma variedade altitude, com clima árido (<600mm anuais) e verões
de animais, com distribuição ecológica distinta de seus quentes. A incidência da doença é influenciada pela
agentes etiológicos. precipitação sazonal e pelo influxo de hospedeiros
susceptíveis nas áreas endêmicas. Coccidioides im-
Caracterização mitis é comumente encontrado no Estados Unidos, na
região da Califórnia, enquanto C. posadasii se esten-
A Coccidioidomicose é uma infecção fúngica endêmica de por todo continente Americano. A doença ocorre
de decurso agudo, subagudo ou crônico. Apresenta um também na região do Chaco, envolvendo Bolívia, Pa-
ciclo de vida particular entre os fungos patogênicos: raguai, Argentina; e no Panamá, Uruguai, Colômbia,
quando no ambiente natural, apresenta-se como um Venezuela e Brasil (Região Nordeste). No Brasil, os
micélio no solo árido, enquanto no hospedeiro humano Estados do Piauí, Maranhão, Ceará e uma pequena
ou animal assume forma semelhante à levedura141. As parte da Bahia são considerados endêmicos devi-
infecções por C. immitis ou C. posadasii ocorrem prin- do às condições climáticas favoráveis, como a baixa
cipalmente na estação seca, quando os esporos são umidade, que favorecem a permanência do fungo no
liberados por atividades que suspendem o solo, depo- ambiente. Nesseas locais, espécies de Coccidioides
sitando-se nos alvéolos pulmonares. A infecção apre- foram isoladas do solo das tocas dos tatus, de seus
senta curso mormente benigno, com cura espontânea, fragmentos teciduais e dos cães. As atividades envol-
embora uma parte dos indivíduos infectados possa de- vendo expedições militares, terremotos, deslizamen-
senvolver quadro progressivo e potencialmente fatal tos de terra e expedições de caça ao tatu são consi-
devido à disseminação hematogênica para pele, ossos, deradas de maior risco, sendo que a caça ao tatu é
SNC e gânglios. Cerca de 60% das infecções são assin- fato relacionado à ocorrência de surtos no Brasil, es-
tomáticas e muitas vezes são detectadas apenas com pecialmente no Piauí.141,152
testes intradérmicos; as infecções que evoluem para
quadro clínico estão associadas à exposição primária Impactos
ao fungo, ocasionando quadro febril autolimitado co-
nhecido como febre do vale141,152. Após a infecção, a Os extremos de idade são considerados mais suscep-
proteção imunológica é permanente. As manifestações tíveis, assim como os homens. As pessoas que são
usuais são as seguintes: especialmente vulneráveis ao desenvolvimento de
Coccidioidomicose grave ou disseminada são aquelas
• Forma pulmonar: apresenta sintomas seme- com doenças que prejudicam a função das células T,
lhantes aos da gripe (tosse, febre), mas pode como as malignidades hematológicas, artrite infla-
evoluir com artralgia e mialgia, além de outros matória e diabetes. A imunodeficiência relacionada à
sintomas como fadiga, fraqueza e anorexia. AIDS é considerada um importante fator de risco para
Esse quadro se resolve sem sequelas entre 2 a o desenvolvimento da doença, sendo que as infecções
3 semanas após a exposição ao agente. Pode ha- por C. immitis frequentemente apresentam quadro
ver evolução de um quadro de pneumonia para clínico sintomático nesses pacientes. A forma disse-
insuficiência respiratória grave. A mortalidade minada pode ocorrer com maior frequência em mu-
nesses casos é alta para pacientes imunocom- lheres grávidas entre o segundo e o terceiro trimestre
prometidos. Quando a doença se cronifica, pode de gestação. A doença grave também pode ocorrer
ser confundida com a tuberculose. 141,152 durante o período pós-parto imediato se a infecção
• Forma disseminada: ocorre em até 0,5% dos for adquirida no terceiro trimestre. Em populações
casos de infecção primária, sendo o quadro clí- carcerárias, a doença tem sido descrita em várias pri-
nico de Coccidioidomicose mais frequente em sões de áreas endêmicas, com elevado grau de morbi-
migrantes transferidos para zonas endêmicas. dade associada.141,152,161
Pode se manifestar por lesões cutâneas na face
(granulomas, placas eritematosas e nódulos),
embora as manifestações mais comuns sejam Brown, J., Benedict, K., Park, B. J., & Thompson, G. R. (2013).
162

a osteomielite (10 a 50% dos casos de doença Cocci­dioidomycosis: epidemiology. Clin Epidemiol, 5(1), 185-197.
| 127

Paracoccidioidomicose anual (>1.400 mm), florestas abundantes e solos áci-


dos. A transmissão se dá por inalação, afetando tanto
Definição humanos quanto animais silvestres e domésticos. Cer-
ca de 80% dos casos ocorre no Brasil, nas áreas Sul e
É uma infecção fúngica endêmica da América do Sul cau- Sudeste (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e
sada por fungos do complexo Paracoccidioides brasilien- Rio de Janeiro), em que a incidência pode variar entre
sis, compreendendo três espécies (S1, PS2 e PS3)163. 10 e 30 casos a cada 1 milhão de habitantes. Outros
países compreendem Argentina, Venezuela e Colôm-
Caracterização bia, com prevalência menor (2,4 casos a cada 1 milhão
de habitantes). Casos esporádicos ocorrem no México
É uma infecção de elevada prevalência em áreas endê- e outros países da América Central. Há diferenças eco-
mica (75%), sendo que entre 1 e 2% dos residentes po- lógicas entre os três agentes etiológicos: S1 predomi-
dem apresentar doença ativa. Representa a causa mais na no Brasil, Argentina, Paraguai, Peru e Venezuela;
comum de óbito relacionado a doenças sistêmicas fún- PS2 na Venezuela e Brasil; e PS3 exclusivamente na
gicas no Brasil (1,18 a 3,48 mortes/1 milhão habitan- Colômbia. Estima-se que mais de 10 milhões de pes-
tes)162. Diferentemente das demais infecções fúngicas, soas tenham sido infectadas na América Latina e que
a Paracoccidioidomicose não apresenta elevada preva- 2% tenham desenvolvido a doença. Pode ser encontra-
lência em pacientes com AIDS ou com sistema imune do no solo e no trato digestivo de alguns animais (tatu,
comprometido164. É uma infecção sistêmica que pode quati, porco-espinho), porém, o fungo foi isolado ape-
afetar variados órgãos, primariamente os pulmões e, nas esporadicamente do ambiente, não havendo regis-
por conseguinte, as mucosas, pele, linfonodos, SNC, tros de surtos e nem de transmissão homem-homem
dentre outros165. As manifestações clínicas podem ser: ou homem-animal.162,163,164

• Aguda ou subclínica: geralmente não apresenta Impactos


sintomas, por isso, raramente é diagnosticada.
Porém, na população juvenil apresenta evolu- A Paracoccidioidomicose é mais prevalente em agri-
ção rápida e severa, tem rápida disseminação e cultores, nas lavouras de café, algodão e tabaco. O ta-
pior prognóstico. Ocorre em menos de 10% dos bagismo tem sido associado com a forma crônica da
casos, acometendo crianças de ambos os gê- doença, principalmente em homens entre 30 e 60 anos.
neros, jovens e adultos abaixo dos 30 anos. Os Estudo no Brasil demonstrou que o risco de desenvol-
principais sintomas são febre, perda de peso, ver a doença pode ser 14 vezes maior em fumantes do
linfadenopatia, hepatoesplenomegalia e, algu- que em não fumantes. As mulheres, devido à produção
mas vezes, disfunção da medula. O envolvimen- de hormônio estrogênio, parecem apresentar proteção
to pulmonar não é comum. Pode progredir para contra o desenvolvimento da doença, mas não da in-
uma forma disseminada;164 fecção.162,163,164
• Crônica: a forma crônica pulmonar, juntamente
com as infecções faringeanas, representa cerca Histoplamose
de 90% dos casos. É uma manifestação de pro-
gresso lento que pode ser resultado de um foco Definição
de infecção latente a partir da infecção primária.
Apresenta um processo inflamatório menos acen- A Histoplasmose é uma doença provocada por duas va-
tuado, com duração prolongada de maior prevalên- riantes do fungo Histoplasma capsulatum: H. capsula-
cia em adultos do sexo masculino, porém mulheres tum var. capsulatum e H. capsulatum var. duboisii, com
na pós-menopausa também podem apresentar a variações na distribuição geográfica e apresentação
doença. A disseminação é consequência do diag- clínica de ambas as espécies.152
nóstico tardio, causando lesões secundárias em
inúmeros órgãos. A Paracoccidioidomicose pode Caracterização
apresentar sinais clínicos de doença disseminada
em pacientes com AIDS, seja em pacientes com es- Embora a infecção seja comum devido à ubiquidade
tágios recentes ou avançados da doença. 162,164 do patógeno, a apresentação de sinais clínicos não é
frequente, principalmente em hospedeiro imunocom-
Ocorrência petente, para os quais é comum a cura espontânea. Por
isso, a maioria dos casos de infecção é assintomático
Paracoccidioides brasiliensis ocorre em áreas de cli- ou oligossintomático. Quando os esporos são inalados,
ma tropical e subtropical, com elevada precipitação eles se alojam nos alvéolos e bronquíolos, podendo de-
sencadear doença a depender do número de esporos
163
Sifuentes-Osornio, Corzo-León & Ponce-de-León (2012).
inalados e das condições de imunidade do hospedei-
164
Colombo et al. (2011). ro. O fungo se desenvolve no parênquima pulmonar e
165
Queiroz-Telles & Escuissato (2011). pode se disseminar por via linfática ou hematogênica.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Outros órgãos podem ser envolvidos, como fígado, cidamente capazes de dispersar o fungo ao carreá-lo
baço, medula, intestino e SNC. Nesses casos, pacientes em suas patas, porém, algumas espécies de morcego
nos extremos de idade e os com depressão de imunida- apresentam maior relevância epidemiológica, dado
de são mais susceptíveis à forma disseminada141,152. As que quando infectadas podem eliminar o fungo nas fe-
manifestações clínicas principais são: zes (guano), contribuindo assim para a disseminação
do agente. Mesmo nas áreas de elevada endemicidade,
• Histoplasmose pulmonar podem existir microfocos onde esse agente etiológico
se apresenta em maiores concentrações. 141,152,166
o Aguda: é a forma mais frequente, lembrando
sintomatologia da influenza. Apresenta curso Nos Estados Unidos, estima-se que cerca de 500 mil
autolimitado e benigno, sendo os principais pessoas sejam infectadas todos os anos; na América
sintomas febre, mialgia, cefaleia e tosse. Ge- Latina (Guatemala, Peru, Venezuela, Cuba, México e
ralmente ocorre melhora em 2 a 3 semanas, Brasil) praticamente toda a população vive em áreas
porém, nos casos de exposição maciça, a do- endêmicas ou próxima a áreas de ocorrência da doença.
ença pode evoluir para insuficiência respira- No Brasil, inquéritos cutâneos demonstram taxa de in-
tória e óbito. Na forma aguda também pode fecção entre 2,6 e 93,2% dependendo da localidade – as
ocorrer fibrose progressiva em resposta à in- Regiões Sul, Sudeste e Norte são consideradas hiperen-
fecção; 141,152 dêmicas141. A doença pode ocorrer esporadicamente ou
o Crônica: acomete principalmente fumantes, em surtos epidêmicos, sendo mais comum na zona rural.
idosos, pessoas com enfisema pulmonar e ho-
mens acima dos 40 anos. Alguns dos sintomas Impactos
mais frequentes são febre, fadiga, sudorese
noturna, tosse e perda de peso. É facilmente Atividades associadas a um elevado nível de exposição
confundida com a tuberculos.141,152 ao Histoplasma sp. incluem as relacionadas a movimen-
tação do solo, favorecendo a aerossolização dos espo-
• Histoplasmose disseminada progressiva ros: espeleologismo, escavações, limpeza das gaiolas
de aves e demolições de prédios antigos. Os grupos de
o Aguda e subaguda: mais comum em indivídu- maior risco para doença disseminada são os portadores
os imunocomprometidos, sendo prevalente de HIV; os transplantados de órgãos sólidos, principal-
em pacientes com AIDS, transplantados ou mente o rim, sendo o Histoplasma sp. responsável por
que fazem uso de imunossupressores. Pode 75% das infecções fúngicas nesses pacientes; e pacien-
apresentar lesão cutânea múltipla nos pa- tes em uso de imunobiológicos, nos quais cerca de 50%
cientes com AIDS, como pústulas, pápulas, dos casos da doença são da forma disseminada.141,165
úlceras e nódulos. Crianças e bebês prematu-
ros são considerados especialmente suscep- Pneumocistose
tíveis, podendo ser fatal se não tratada;141,152
o Crônica: é mais comum em pacientes imuno- Definição
deprimidos que estão acima dos 60 anos, são
diabéticos ou fazem uso de terapia com corti- A Pneumocistose é uma infecção fúngica oportunística
costeroides. A sintomatologia depende da lo- provocada pelo fungo Pneumocystis jirovecii, anterior-
calização do fungo, mas em geral os sintomas mente designado como um protozoário – Pneumocystis
usuais são fadiga, perda de peso, anorexia e carinii. Trata-se de um fungo “atípico” uma vez que é
febre. As lesões ocasionadas pelo fungo cos- susceptível a antiparasitários, mas não à ação da maio-
tumam acometer órgão único, podendo ser ria dos antifúngicos, como é o caso da anfotericina B.167
cutâneas, orais, no SNC, gastrointestinais,
dentre outras.141,152 Caracterização

Ocorrência Na Pneumocistose, o fungo apresenta tropismo pelo


pulmão, causando nos imunocomprometidos pneumo-
A variante H. capsulatum var. capsulatum é cosmopo- nia intersticial grave (Pneumocistose) ou pneumonia
lita, com elevada endemicidade nas Américas, princi- por Pneumocystis (PPc) e, nos imunocompetentes, in-
palmente do Norte. Já H. capsulatum var. duboisii é fecção assintomática. É uma doença rara em pessoas
conhecida apenas na África, embora nesse continen- saudáveis, nas quais o fungo pode colonizar o pulmão
te existam locais em que as duas variantes coexistem. sem causar sintomas – cerca de 20% dos adultos pode
O fungo pode ser encontrado no solo úmido e ácido,
de maneira não uniforme, embora pouco se conheça de
Hage & Wheat (2015).
166
sua ecologia. Entretanto, sabe-se que solo enriquecido Esteves, F., Antunes, F., & Matos, O. (2014). Pneumocystis e pneu-
167
com dejetos de aves e morcegos facilita a esporulação mocistose: o agente patogénico e a doença (105 anos de investiga-
do Histoplasma. Neste sentido, as aves são reconhe- ção). RPDI-Revista Portuguesa de Doenças Infecciosas, 10(1).
| 129

carregar esse agente em algum momento da vida, o infectados por HIV, com graus moderados de imunode-
qual é eliminado pelo próprio sistema imune em al- ficiência, e mesmo em imunocompetentes. O número
guns meses. A maior parte dos acometidos pela doen- crescente de pessoas sob terapias imunossupressoras
ça apresenta alguma deficiência do sistema imune: por para tumores, transplante de órgãos e doenças au-
volta de 40% dos que desenvolvem a Pneumocistose toimunes também tem contribuído para dar à Pneumo-
são portadores de HIV e os demais 60% compreendem cistose grande importância na população soronegativa
os transplantados (órgãos sólidos ou medula), com ma- para HIV. Doenças inflamatórias intestinais, crianças
lignidades hematológicas e com doenças inflamatórias com imunodeficiência primária e prematuros desnutri-
ou autoimunes. Nesse grupo soronegativo, a doença dos também constituem grupos de maior risco. O perfil
pode levar 40% dos infectados a óbito.166,168,169. epidemiológico atual da doença engloba, além da re-
levância clínica em pacientes soropositivos, também
Nos indivíduos imunossuprimidos em geral, o P. jirove- as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde em
cii desencadeia uma resposta inflamatória associada algumas regiões e grupos populacionais, para os quais
ao declínio da função pulmonar. Os sintomas mais co- o diagnóstico é quase sempre tardio.81,83
muns são febre, tosse seca, dor no peito e fadiga. Nos
indivíduos com HIV/AIDS, os sintomas se desenvolvem 1.6.2. Infestações/Pragas
por várias semanas com febre branda; já nos imuno-
comprometidos por outras causas que não a AIDS, os Infestações ou pragas biológicas compreendem orga-
sintomas evoluem em poucos dias com febre alta. É uma nismos capazes de causar danos aos ecossistemas na-
infecção oportunística que, no início da epidemia de turais ou humanos e constituem ameaças biológicas re-
AIDS, foi um indicador de infecção pelo HIV com sig- levantes para a saúde pública e a segurança alimentar.
nificativa morbimortalidade, mantendo esse status
até os dias atuais mesmo com o advento da terapia an- Uma praga biológica é assim designada, seja animal ou
tirretroviral a partir da década de 1990. No início da vegetal, quando o aumento de sua densidade popula-
epidemia de AIDS, cerca de 80% dos infectados desen- cional se eleva a tal nível que causa prejuízos diretos
volvia pelo menos um episódio de Pneumocistose – em ou indiretos ao bem-estar humano e dos ecossistemas
60% dos casos a doença era considerada definidora (extinção de espécies), com consequências sobre a
de AIDS e 20 a 25% evoluía a óbito. Porém, com a me- saúde, construções, produções agrícolas e florestais,
lhora do tratamento do HIV e de suas complicações ao e à produção econômica170.
longo dos anos, a mortalidade desses pacientes devido
à Pneumocistose chega a no máximo 15%. Ainda que As espécies envolvidas nesse fenômeno podem ser tan-
seja raro, infecções disseminadas já foram relatadas to endêmicas quanto exóticas (invasoras) e, geralmen-
tanto em pacientes com AIDS quanto nos soronegati- te, estão associadas a um processo de superpopulação
vos, sendo os órgãos mais comuns o linfonodo, baço, – o organismo se reproduz rapidamente devido a fatores
fígado e medula.166,167,168 como temperatura, luz, umidade relativa e ausência de
competição ou inimigos naturais. Embora a introdução
Ocorrência de espécies exóticas (bioinvasões) em novos ambientes
esteja comumente relacionada ao surgimento de pra-
Pneumocystis jirovecii é um patoégeno oportunista, gas e infestações, uma superpopulação de organismos
unicelular, de distribuição ubíqua e com especificidade endêmicos pode surgir devido ao desequilíbrio ecológi-
restrita ao homem. É transmitido pelo ar de pessoa para co relacionado às atividades humanas, como desmata-
pessoa, sendo que os indivíduos infectados assintomáti- mento, caça predatória, dentre outros.
cos também são capazes de disseminar o fungo. Na Amé-
rica Latina são poucos os estudos quanto à prevalência Especificamente no caso das espécies invasoras, a glo-
da doença, porém, acredita-se que no Brasil ela seja de balização tem sido apontada como um dos principais
55% entre os diagnosticados com AIDS.166,168 responsáveis, já que as vias de transporte ao redor do
globo se intensificaram muito nas últimas décadas
Impactos (embarcações, aeronaves e veículos terrestres), permi-
tindo tanto a introdução intencional quanto acidental
Sua relevância epidemiológica se deve, principalmen- de novas espécies no país. A introdução intencional se
te, pelo impacto que apresenta nos pacientes infecta- dá, principalmente, para uso ornamental e para cria-
dos pelo vírus HIV ou já com AIDS adquirida. Porém, P. ção doméstica ou comercial – estima-se que essas ca-
jirovecii também tem sido detectado em doentes não tegorias de uso representem cerca de 40% das intro-
duções de espécies exóticas invasoras no Brasil. Por
168
Centers for Disease Control and Prevention – CDC (2017). Pneu- isso, uma das maiores preocupações dos programas
mocystis pneumonia. Disponível em: https://www.cdc.gov/fungal/ de defesa agropecuária nacionais é a dispersão de or-
diseases/pneumocystis-pneumonia/index.html
169
Smulian, A. G.; Walzer, P. D. (2015). Infecção por Pneumocystis.
ganismos nocivos a partir da interferência humana e
In: Doenças infecciosas de Harrison. Kasper, D. L.; Fauci, A. S. (orgs).
AMGH:Porto Alegre, 2 edição, p. 915-919. 170
Brechelt (2004).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

do comércio internacional, principalmente pelo trans- tretanto, pragas podem ocorrer também em áreas ur-
porte marítimo. No Brasil, já foram registradas 386 banas, onde se observa uma degradação ambiental
espécies exóticas invasoras e 11.263 ocorrências de associada ao empobrecimento da biodiversidade, ao
invasão, de acordo com o banco de dados nacional de desaparecimento de algumas espécies endêmicas e ao
espécies exóticas invasoras.171,172 aumento do número de espécies introduzidas173. Algu-
mas pragas animais existentes no Brasil serão descri-
1.6.2.1. Infestações de Animais tas a seguir, a saber:

Segundo o COBRADE, as infestações de animais ocor- • Roedores


rem quando são alterados o equilíbrio ecológico de • Formigas
uma região ou de uma bacia hidrográfica ou quando • Morcegos
um bioma é afetado por suas ações predatórias. En- • Mexilhão-dourado
• Caramujo africano
171
Sampaio & Schmidt (2014). • Bicudo-do-algodoeiro
172
Leão et al. (2011). • Gafanhotos
• Animais peçonhentos
• Lagartas (Lonomia sp.)
• Cobras
INVASÃO BIOLÓGICA OU BIOINVASÕES • Abelha africanizadas
• Javali
Invasão biológica (ou bioinvasões) se dá quando
um organismo passa a ocorrer em um local que 173
Santos, N. (2009).
está além de sua área ecológica estabelecida. Nes-
se novo espaço, a espécie pode adquirir uma van-
tagem competitiva que lhe permite proliferar ra-
pidamente e, consequentemente, se expandir para BIOINVASÕES E SAÚDE HUMANA
outros ecossistemas em que suas populações se
tornem dominantes. A introdução de novos patógenos humanos, ani-
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Bio- mais ou zoonóticos em locais sem histórico de
lógica – CDB,*,** espécies exóticas invasoras são or- doenças associadas a eles, é considerada uma das
ganismos que, introduzidos fora da sua área de dis- consequências mais danosas relacionadas à inva-
tribuição natural, ameaçam ecossistemas, habitats são biológica (Conn, 2009). No campo das doenças
ou outras espécies. Possuem elevado potencial de infecciosas, muitas enfermidades chamadas de
dispersão, de colonização e de dominação dos am- emergentes ou reemergentes são causadas por pa-
bientes invadidos, criando, em consequência desse tógenos invasores e compreendem:
processo, pressão sobre as espécies nativas e, por
vezes, a sua própria exclusão. Essas invasões são 1) novos agentes infecciosos – AIDS;
majoritariamente provocadas pela ação humana e 2) micro-organismos conhecidos por infecta-
são mais frequentes nos ambientes antropizados; rem animais, mas recentemente descober-
entretanto, invasões naturais também podem ocor- tos como patógenos humanos – microspori-
rer, inclusive em habitats altamente conservados. diase;
Para que uma espécie exótica se estabeleça, ela 3) patógenos historicamente conhecidos, mas
precisa superar uma série de barreiras presentes que começam a se expandir para novas áre-
no novo ambiente, que vão desde o momento da in- as geográficas – dengue e coléra;
vasão até a naturalização da espécie no novo local. 4) agentes etiológicos que foram eliminados
Por isso, apenas uma pequena fração das espécies de determinadas áreas mas agora ameaçam
introduzidas consegue se estabelecer com sucesso reemergir ou reinvadir esses mesmo locais –
no ambiente invadido. malária, esquistossomose e febre amarela.
* Resolução CONABIO 5 de 21.10.2009 -http://www.
institutohorus.org.br/download/marcos_legais/Re- No Brasil, apenas considerando espécies parasi-
solucao_CONABIO_n5_EEI_dez_2009.pdf tárias, estima-se haver 52 espécies de parasitas
** BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secre- exóticos introduzidos por processos de migração
taria de Biodiversidade e Florestas. Comissão Nacio- humana ou introdução animal*. Esse grupo per-
nal de Biodiversidade – CONABIO. Estratégia Nacio- faz vírus (17%), bactérias (17%), protozoários
nal sobre Espécies Exóticas Invasoras. Disponível em: (8%), fungos (4%), helmintos (37%) e artrópodes
http://www.mma.gov.br/estruturas/174/_arquivos/ (17%) que afetam ou representam riscos para a
anexo_resoluoconabio05_estrategia_nacional__esp- saúde humana.
cies__invasoras_anexo_resoluoconabio05_174.pdf. * Chame, Batouli-Santos & Brandão (2008).
| 131

Roedores nambuco, São Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro.


É considerada uma das 100 piores espécies invasoras
Definição do mundo e, no Brasil, é uma espécie sinantrópica no-
civa de acordo com a Instrução Normativa nº 141, de
Esse grupo é considerado um dos mais competentes na 19 de dezembro de 2006.171,172
colonização de novas áreas urbanas devido à sua alta
taxa reprodutiva, plasticidade e comportamento opor- O R. norvegicus ocorre naturalmente na China, mas
tunista. As principais espécies que ocorrem como pra- atualmente é encontrado em praticamente todos os lo-
gas urbanas no país são Rattus rattus (rato-de-casa) e cais de ocupação humana. No Brasil, é encontrado nos
Rattus norvegicus (ratazana). Estados do Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Santa Ca-
Caracterização tarina, São Paulo. Apresenta afinidade por ambientes
com água abundante e presença de terra para nidifi-
São animais onívoros, com extrema capacidade de adap- cação, como áreas baixas, esgotos e o próprio perido-
tação ao meio, de proliferação intensa e rápida, que con- micílio com disponibilidade de alimento. A Instrução
vivem em íntima associação com a espécie humana. Normativa nº 141/2006 considera o R. norvegicus uma
espécie sinantrópica nociva passível de controle sem a
Os animais do gênero Rattus vivem em sociedade (co- autorização do Ibama.172,173
lônias) de até algumas centenas de indivíduos em ter-
ritórios definidos, dividindo-se entre os grupos dos do- Impactos
minantes e dos dominados172. Em caso de competição
entre as espécies R. rattus e R. norvegicus, a última Os principais impactos causados pela infestação do
predomina pelo maior porte e agressividade. Rato-de-Casa (R. rattus) são ecológicos e à saúde hu-
mana. No primeiro caso, algumas características da
O R. rattus representa uma espécie invasora introduzi- espécie a tornam extremamente danosa, dado que i)
da no Brasil pelas atividades de comércio internacional tem causado, direta ou indiretamente, a extinção de
(frete marítimo, rodovias) e que invade, preferencial- várias espécies ao redor do planeta (acredita-se que
mente, lavouras e áreas urbanas. Possui hábito noturno, tenha sido o causador da extinção de um rato (Noro-
mas pode apresentar maior atividade durante o dia nas nhomys vespuccii) endêmico do Arquipélago de Fer-
regiões que ainda não foram perturbadas. Geralmente nando de Noronha); ii) está associado à predação de
abriga-se em lugares altos, onde constrói seus ninhos, aves, répteis e invertebrados, e de alguns mamíferos;
descendo ao solo em busca de alimento e água.172,174 e iii) causa prejuízos à vegetação natural. No campo da
saúde humana, a espécie está envolvida no ciclo epide-
O R. novergicus também representa espécie invasora miológico da peste bubônica, da leptospirose e do tifo
no país, tendo como principal via de dispersão a nave- muríneo.171,173
gação. Vive, preferencialmente, em tocas em forma de
túneis escavados no solo (até 1,5 m), podendo causar A ratazana (R. norvegicus) é responsável pela trans-
danos a plantas ou a estruturas, mas outros abrigos missão de doenças a humanos, sendo a principal espé-
são galerias de esgoto e de águas pluviais, caixas sub- cie implicada na epidemiologia da leptospirose em cen-
terrâneas de instalações telefônicas ou da rede elétri- tros urbanos – hospedeiro de um dos mais patogênicos
ca e margens de córregos. Possui um raio de ação de agentes etiológicos da doença, a Leptospira icterohae-
aproximadamente 50 metros ao redor do abrigo, mas morraghiae. Ecologicamente, está envolvido na trans-
pode nadar distâncias superiores a 500 metros devido missão de doenças a animais nativos, preda ninhos de
à presença de membranas interdigitais adaptadas para aves, é agressivo com outras espécies e desloca ratos
movimentação na água.172 nativos. Há registro na Paraíba de predação de ovos e
filhotes de tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbrica-
Ocorrência ta) por ratazanas, uma espécie criticamente ameaçada
de extinção. Na economia, pode causar sérios danos a
O Rato-de-casa (R. rattus) se adapta a praticamente plantações e propriedades rurais. 171,173
qualquer ambiente, mas prefere os ambientes externos
das residências, principalmente áreas mais elevadas Formigas
como copas de arvores e telhados. É natural da Índia,
porém apresenta distribuição mundial, sendo que no Descrição
Brasil é encontrado nos Estados da Bahia, Ceará, Espí-
rito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Per- As formigas pertencem a Ordem Hymenoptera, mesmo
grupo das abelhas e vespas. Estima-se que existam 21
174
Base de dados nacional de espécies exóticas invasoras I3N Brasil,
mil espécies de formigas, sendo que aproximadamen-
Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental, Floria- te 12.500 já foram descritas, 3 mil no Brasil. Grande
nópolis – SC. Disponível em: http://i3n.institutohorus.org.br/www/ parte das formigas consideradas pragas no Brasil são
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

espécies invasoras, destacando-se formiga-do-açúcar sar contaminação em locais de manipulação de alimen-


(Monomorium pharaonis), formiga-doceira (Monomo- tos, instituições de pesquisa, biotérios e zoológicos.
rium florícola), formiga-louca (Paratrechina longicor- Além disso, a picada de algumas espécies é dolorosa
nis) e formiga-fantasma (Tapinoma melanocephalum). devido ao ferrão, sendo que as picadas de formigas la-
Outras espécies, nativas do Brasil, também podem va-pés podem causar desde leve coceira até choques
colonizar o ambiente urbano: formiga-argentina (Li- anafiláticos em pessoas alérgicas. Algumas espécies
nepithema humile), Paratrechina fulva, pixixica (Was- representam perigo à saúde pública quando invadem
mannia auropunctata), as saúvas (Atta sp.) e algumas hospitais. Sua importância no ambiente hospitalar se
espécies de Camponotus, Pheidole, Brachymyrmex e deve a i) existir alta diversidade de formigas nos hospi-
Solenopsis. 175,176 tais brasileiros; ii) algumas espécies serem abundantes
nesses ambientes; iii) algumas espécies apresentarem
Caracterização “afinidade” por instrumentos cirúrgicos e material
estéril; e iv) serem vetores potenciais de uma grande
As formigas urbanas compartilham características que quantidade de micro-organismos oportunistas e/ou
as tornam aptas a dominar o ambiente antrópico com as- patogênicos ao ser humano (até 98% das formigas en-
sociação ao homem, como o tamanho corporal diminuto, contradas nos hospitais podem estar contaminadas).
poliginia (mais de uma rainha por colônia – de dezenas Os micro-organismos patogênicos mais comuns são
a centenas), mobilidade das colônias e unicolinialismo Staphylococcus, Pseudomonas, Streptococci, Ente-
(ausência de comportamento agressivo entre indivíduos rococci, Micrococcus, Micrococcus, Proteus, Alcali-
de diferentes ninhos que ocorrem em uma área). Entre- genes, Serratia, Citrobacter, Enterobacter, Yersinia e
tanto, a agressividade interespecífica é forte, o que faz Pasturella, estando esses associados a infecções que
com que, muitas vezes, um local seja infestado por uma podem causar desde distúrbios intestinais até intoxi-
única espécie de formiga. A reprodução por voo nupcial cações sistêmicas.176,177,178
não é comum em área urbana, sendo mais frequente a
fragmentação de colônias (uma rainha junto a um grupo Morcegos
de operárias migra para um local distinto do ninho origi-
nal). O uso indevido de inseticidas pode promover a an- Descrição
tecipação deste processo natural, gerando um aumento
significativo da infestação.174,176,177 Os morcegos representam a segunda maior ordem
(Chiroptera) dos mamíferos, com cerca de mil espécies
Ocorrência ao redor do globo. De importância no ambiente urba-
no, podem ser citadas as famílias Molossidae, Vesper-
A maior parte das formigas citadas como pragas urba- tilionidae, Noctilionidae e Phyllostomidae, sendo a
nas nesta seção é cosmopolita, colonizando principal- primeira a que apresenta maior ocorrência nos centros
mente as áreas tropicais e subtropcias do globo, embora urbanos brasileiros. No meio rural, a espécie de maior
também possam ocorrer em regiões temperadas. Estão relevância é o Desmodus rotundus.
principalmente associadas às habitações humanas e ao
peridomicílio (dutos de ar-condicionado, paredes, mobí- Caracterização
lia) podendo colonizar, oportunisticamente, cavidades
de árvores em locais isolados ou muito perturbados. Podem viver em uma diversidade grande de habitats onde
utilizam vários tipos de abrigos, como cavernas, fendas
Impactos de rochas, ocos de árvore, folhagem e, nos espaços ur-
banos, as edificações, apresentando elevada fidelidade
Na agricultura os prejuízos econômicos podem ser a todos os abrigos179. As diversas espécies apresentam
grandes tanto na produção como no armazenamento. hábitos alimentares distintos (insetos, frutos, partes flo-
As formigas saúvas (Atta sp.) são consideradas uma rais, pequenos vertebrados, sangue), sendo as espécies
das principais pragas da agricultura devido à capaci- insetívoras as mais prevalentes no Brasil180. Ocorrem co-
dade de consumir as plantas em algumas horas. Na mumente nas áreas urbanas, com exceção das espécies
silvicultura, por exemplo, as saúvas podem prejudicar hematófagas, que são mais frequentes nas áreas rurais.
empreendimentos florestais e inviabilizar a produção São responsáveis por uma série de serviços ambientais,
de madeira – as plantações de eucaliptos, seringuei- como o controle de populações de insetos em ambientes
ras, pinus e acácias são muito susceptíveis ao ataque urbanos e naturais, incluindo algumas pragas agrícolas,
desses insetos. Na área urbana as formigas podem da- e a polinização/dispersão de sementes.178
nificar gramados, campos de futebol, parques, cabines
de eletricidades e centrais telefônicas, bem como cau-
178
de Oliveira & Campos-Farinha (2005).
179
Uieda, Wilson. Morcegos, ecologia e saúde pública. Universidade
175
Fontana et al. (2010). Estadual Paulista (UNESP), 2001. Disponível em: <http://hdl.hand-
176
Pesquero et al. (2008). le.net/11449/148090>
177
Zorzenon (2002). 180
Pacheco et al. (2010).
| 133

Ocorrência A Histoplasmose está associada ao guano produzido


pelos morcegos que se acumula nos locais de abrigo.
São encontrados principalmente nas áreas tropicais, ten- Esse material é rico em nitrogênio e favorece o desen-
do sido documentadas cerca de 178 espécies de morcegos volvimento do fungo Histoplasma capsulatum, que
no Brasil – 20% delas apresentam atividade sinantrópica. pode ser aerossolizado quando da manipulação do
O morcego hematófago Desmodus rotundus é uma exce- guano. Por isso a limpeza dos locais de abrigo deve ser
ção, pois é encontrado com frequência em ambientes ru- efetuada com cautela, utilizando soluções de hipoclo-
rais, havendo registro também em algumas capitais brasi- rito para umedecer os dejetos, evitando a suspensão
leiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém e dos esporos.
Teresina). Essa espécie se alimenta em cães e, em alguns
casos, seres humanos nas áreas urbanas, mas preferen- Mexilhão-dourado
cialmente em animais de produção nas áreas rurais.178
Descrição
Impacto
O Limnoperna fortunei é um molusco bivalve, aquáti-
Os principais impactos decorrem do incômodo causado co, que se fixa em substrato e apresenta grande capa-
pelos morcegos nas aglomerações urbanas são aden- cidade adaptativa.
tramento em imóveis, vocalização, presença e odor de-
sagradável dos dejetos (guano), colonização dos forros, Caracterização
voos rasantes e na interação com animais domésticos181.
Nas áreas periurbanas e rurais podem acarretar prejuí- É um dos casos mais conhecidos de invasão biológica
zos econômicos relacionados a algumas culturas frutífe- involuntária no Brasil ocasionado pela água de lastro
ras e a morte de animais de criação devido à hematofagia dos navios. Outras vias de dispersão consideradas são
– estima-se que 40 mil cabeças de gado morram anual- cascos de embarcações, estruturas e equipamentos de
mente no país devido à ação do Desmodus rotundus. navegação, pesca e mergulho, bem como a extração e
transporte de areia das margens dos rios. Esse molus-
O risco sanitário associado a esses animais talvez seja co coloniza as margens e o fundo de ambientes aquá-
o impacto de maior relevância, principalmente no que ticos como leito dos rios e lagos, com preferência por
se refere aos morcegos hematófagos. O papel dos mor- rochas, madeira, cordas, plásticos, pedaços de argila
cegos hematófagos é bem conhecido na transmissão e concreto. Coloniza também raízes de macrófitas do
de lyssavirus causadores da raiva e vem ganhando gênero Eichornia.171
importância em detrimento dos cães devido às cam-
panhas de vigilância e controle da doença direciona- Ocorrência
das aos animais domésticos (vacinação antirrábica).
Entretanto, morcegos com outros hábitos alimenta- Natural da China e sudeste da Ásia, o primeiro regis-
res podem morder se indevidamente manipulados ou tro do mexilhão-dourado na América do Sul se deu na
perturbados, transmitindo a raiva. O vírus rábico já Argentina, bacia do rio Prata, em 1991. Desde então,
foi identificado em 41 espécies de morcegos no Brasil, pode ser encontrado no Paraguai, Uruguai, Brasil e
com diferentes hábitos alimentares, inclusive em área Bolívia. No Brasil, chegou ao Rio Grande do Sul em
urbana180. Entretanto, os índices de positividade da rai- 1999, ocorrendo atualmente nos Estados de Goiás,
va em morcegos no país oscilam entre 0,5 e 0,8%, va- Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e
lores considerados normais pela Organização Mundial São Paulo.173
de Saúde (entre 1 e 4%)179. Em 2016, no Brasil foram
registrados 207 casos de raiva em animais, sendo 44% Impactos
em bovinos, 14% em equinos e 7,7% em morcegos.
Outros estudos mostram que esses animais podem Os impactos observados são principalmente ecológicos
estar envolvidos na transmissão de vírus causadores e econômicos. No primeiro caso, esse molusco ataca
de doenças emergentes (Nipah, Hendra, Ebola, Mar- outras espécies causando uma depleção massiva de
burg, coronavírus do tipo SARS) devido a característi- várias delas, incluindo algumas de rara ocorrência.
cas como mobilidade, plasticidade no uso de abrigos, Alguns exemplos são o junco e os aguapés, e animais
e diversidade de hábitos alimentares que propiciam o nativos como outros moluscos (caramujo – Pomacea
transporte de material viral para outras espécies em canaliculata), o marisco do junco (Diplodin koseritzi) e
várias localidades182. Leila brainvilliana (espécie rara), os quais são mortos
por sufocamento. A introdução do mexilhão-dourado é
capaz de alterar a composição bentônica da comunida-
Batista Moutinho (2016).
181
de (os que vivem associados ao substrato), bem como
Bernard, E., Aguiar, L. M., Brito, D., Cruz-Neto, A. P., Gregorin, R.,
182

Machado, R. B., ... & Tavares, V. C. (2012). Uma análise de horizontes


do plâncton e dos peixes devido à sua elevada densi-
sobre a conservação de morcegos no Brasil. Mamíferos do Brasil: dade populacional. Na bacia do rio Prata, por exemplo,
Genética, Sistemática, Ecologia e Conservação, 2, 19-35. densidades de até 180 mil indivíduos por m2 já foram
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

reportadas e na Usina de Itaipu, de até 80 mil m2. Os im- ca, morango, pimenta, repolho e tomate)183. Infesta-
pactos econômicos estão relacionados às incrustações ções por A. fulica podem causar prejuízos às lavouras
massivas e obstrução de tubulações e filtros de água de devido à i) queda na produção, ii) aumento dos gastos
estações de tratamento, indústrias e usinas hidrelétri- para controle do caramujo, iii) restrição da variedade
cas, aumento na corrosão de encanamentos pela proli- do cultivo às espécies resistentes ao caramujo, e iv)
feração de outros agentes biológicos (bactéria, fungos), dispersão de outras pragas agrícolas, como fungos.
obstrução de sistemas de drenagem, danos a motores e Na saúde, o risco da presença desse caramujo está
embarcações, entre outros. Embora não muito comum, relacionado à possiblidade de atuar como hospedei-
danos à saúde podem ocorrer devido à acumulação de ro intermediário de parasitas causadores de doenças
valvas vazias e contaminação das vias de água por mor- graves: a angiostrongilíase abdominal e a angiostron-
talidade massiva dos mexilhões-dourados e outras es- gilíase meningoencefálica humana173,182. A primeira é
pécies. Também é vetor da Salmonella sp., sendo inviá- causada pelo Angiostrongylus costaricensis, sendo ca-
vel para consumo humano por causar diarreia.173 racterizada por um quadro infeccioso grave conheci-
do como abdome agudo, que pode levar à morte. A se-
Caramujo africano gunda tem como agente etiológico o Angiostrongylus
cantonensis que age no sistema nervoso central. A an-
Descrição giostrongilíase abdominal é transmitida por caramujos
nativos, não havendo ainda registro do envolvimento
O Achatina fulica é um molusco terrestre conhecido do A. fulica nesse ciclo. Para a angiostrongilíase me-
popularmente como Caramujo Africano que invadiu as ningoencefálica, já houve registro tanto de casos no
regiões tropicais e subtropicais do planeta, sendo con- Nordeste brasileiro quanto de caramujos africanos na-
siderado uma praga. turalmente infectados por A. cantonensis nas Regiões
Sudeste, Nordeste e Norte.184,185
Caracterização
Bicudo-do-algodoeiro
O Caramujo africano prefere locais úmidos e ricos em
matéria orgânica, incluindo a borda de ambientes flo- Descrição
restais. É ativo no inverno, resistente ao frio hibernal
e à seca, sendo que geralmente se esconde durante o O bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) é um
dia e se alimenta e reproduz à noite ou após períodos besouro da família Curculionidadae formada por espé-
de chuva173. Sua reprodução é prolífica e tem alta ca- cies especialistas em se alimentar de plantas, consis-
pacidade de adaptação, podendo ser encontrado em tindo em pragas importantes para a agricultura186.
ambientes urbanos (preferencialmente), periurbanos,
floretais e degradados. Caracterização

Ocorrência O bicudo é um inseto de caminhar lento, raramente voa


(exceto quando se dispersa para outras áreas) e é co-
Originário da África, é considerada uma das 100 piores mumente encontrado em botões florais do algodoeiro.
espécies invasoras do mundo. Sua introdução no Brasil O adulto se move nas superfícies vegetais da planta,
se deu na década de 1980 por tentativa de substituir alimentando-se e realizando posturas em botões flo-
o escargot Helix aspersa, sem sucesso, e ainda hoje é rais, flores e maçãs novas187. As larvas e pupas usam
utilizado como isca para pesca em pesqueiros comer- a estrutura floral como fonte de alimento e abrigo. Al-
cias173. Sua dispersão no país foi ampla, podendo ser gumas características permitiram a esse besouro co-
encontrado em praticamente todo o território nacional lonizar culturas do algodoeiro em diversas regiões do
– em 24 dos 26 estados da Federação. planeta, como i) elevada taxa reprodutiva, ii) elevada
taxa de sobrevivência das formas imaturas, iii) alto po-
Impactos tencial de dispersão, e iv) capacidade de sobrevivência
na entressafra. Na América do Sul, o bicudo distribuiu-
Sob o ponto de vista ecológico, é predador de plantas e -se pelas regiões tropical e subtropical com variações
competidor por espaço com outras espécies em função sazonais de chuva e temperatura bastante demarcadas
do aumento populacional acelerado171. Também com- e até mesmo em regiões semiáridas, como o Nordeste
pete por alimento com a fauna nativa e pode provocar, brasileiro. Esse besouro é considerado o maior proble-
direta ou indiretamente, a diminuição da população do ma fitossanitário da cultura do algodoeiro no Brasil.185
molusco gigante brasileiro aruá-do-mato (Megalobo-
limus sp.)173. No aspecto econômico, esses caramujos
atacam pelo menos 25 espécies de plantas ornamen-
183
Fukahori & Zequi (2014).
184
Maldonado Júnior et al. (2010).
tais e agrícolas no Brasil, incluindo as áreas rurais e 185
Thiengo (2010).
urbanas de subsistência (abóbora, alface, almeirão, 186
Sujii & Pires (2015).
batata-doce, brócolis, couve, feijão, guaraná, mandio- 187
Azambuja & Degrande (2015).
| 135

Ocorrência maleidae, Proscopiidae e Ommexechidae191. Diversos


fatores estão implicados na pululação de gafanhotos
O bicudo-do-algodoeiro foi detectado pela primeira – manejo da terra, desflorestamento, introdução de
vez no México, sendo que na América do Sul foi regis- novas culturas – sendo que o aspecto climático é o
trado pela primeira vez na Venezuela (1949) e na Co- principal deles (precipitação). Há predomínio de algu-
lômbia (1950)188. No Brasil foi detectado em 1983 em mas espécies em determinadas regiões do país, sendo
áreas de cultivo de algodoeiro próximas a Campinas, que as espécies envolvidas apresentam preferência
sendo a introdução mais provável por avião provenien- por determinadas culturas.
te dos Estados Unidos, já que os primeiros focos foram
observados nas proximidades do Aeroporto Viracopos. Ocorrência
Sua introdução na década de 1980 determinou a extin-
ção da atividade cotonícola nas regiões do Semiárido No Brasil, 23 espécies são consideradas pragas com
nordestino e também nos Estados de São Paulo e Para- distribuição variável. No Nordeste, Schistocerca pal-
ná. Em menos de 10 anos, todos os estados brasileiros lens é predominante, atacando principalmente pasta-
produtores de algodão já estavam invadidos.171,187 gens e lavouras de milho e feijão. Pululações impor-
tantes ocorreram nas décadas de 1980 e 1990, sendo
Impacto as principais zonas infestadas os Estados da Paraíba,
Rio Grande do Norte e Pernambuco. As espécies Tro-
A infestação dos algodoais pelo bicudo provoca im- pidacris collaris e T. cristata são recorrentes na Ama-
portantes prejuízos econômicos no Brasil. Devido à zônia, Nordeste e partes de Minas Gerais. No Pará, os
alimentação dos adultos e ao desenvolvimento das lar- danos ocorrem em plantios de dendezeiro, coqueiro,
vas, parte das estruturas parasitadas é abortada e cai, bananeira e mandioca; no Nordeste, T. collaris ataca
e aquelas que permanecem têm a produção de fibras igualmente mangueiras, algodoeiro e cana-de-açúcar;
inviabilizada185. No Brasil, esse besouro é responsável, e no norte de Minas Gerais (região de Curvelo) o foco
em conjunto com outras pragas, por até 31% do custo são culturas de milho, cana-de-açúcar, mangueira, ci-
de produção, sendo que esse quadro é especialmente tros e bananeira. O Rio Grande do Sul já sofreu com
grave no cerrado, onde se concentram mais de 90% uma pululação massiva na década de 1990, em que
dos plantios e as maiores produtividades do algodoei- quase 100 mil hectares de pastagens foram infestados
ro185. Em 2015, a infestação pelo bicudo do algodoeiro por Rhammatocerus conspersus. Danos também foram
se encontrava alastrada por todas as regiões do país189 registrados em vegetação natural, e lavouras de milho,
e, de acordo com a Associação Brasileira dos Produto- soja e arroz. A infestação mais grave já registrada no
res de Algodão, estima-se que o prejuízo anual para os país ocorreu nos Estados do Mato Grosso e Rondônia,
produtores seja de R$1,7 bilhão190. entre 1984 a 1992. Rhammatocerus schistocercoides
se tornou uma praga, especialmente nas culturas de
Gafanhotos arroz e cana-de-açúcar, perfazendo uma infestação de
80 gafanhotos por m². Para o Estado de Mato Grosso,
Descrição as pululações são fenômenos frequentes e sazonais.190

Os gafanhotos são insetos da ordem Orthoptera que Impactos


se locomovem em saltos, polífagos (se alimentam de
folhas) e que frequentemente formam pululações Os impactos observados são majoritariamente econô-
(multiplicação rápida). As principais espécies res- micos, trazendo risco também à segurança alimentar
ponsáveis por infestações no Brasil são Schistocerca devido ao ataque das plantações. Para o desastre de
sp.; Rhammathocerus sp.; Schistocerca pallus; Di- 1984 em Mato Grosso, acredita-se que as perdas alcan-
chrosplus braslienis, Stautorhorectus longicomis e çaram 84 milhões de litros de álcool, 600 mil toneladas
Euplectrotteilx sp. de soja, 75 mil toneladas de arroz e 22.500 toneladas
de milho. Monetariamente, entre 1985 e 1989, U$S 5
Caracterização milhões foram gastos para o combate da praga no es-
tado: 41% para pulverizações aéreas e 43% na compra
Em todo o mundo cerca de 43 espécies de gafanho- de inseticidas e prestação de serviços.190
tos pertencentes a quatro famílias são reconhecidas
por causar danos econômicos ao atacarem plantas Animais Peçonhentos
cultivadas. As principais famílias são Acrididae, Ro-
Apesar de acidentes por animais peçonhentos não
188
Miranda & Rodrigues (2015). apresentarem alto potencial de causar epidemias, em
189
http://www.canalrural.com.br/noticias/rural-noticias/bicudo-causa- muitos casos a mortalidade pode superar aquela rela-
-200-prejuizos-algodao-56354
190
http://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/Algodao/
cionada a outras doenças prevalentes no Brasil, como
noticia/2015/09/terrivel-o-bicudo-da-prejuizo-de-r-17-biano-aos-
-produtores-de-algodao.html 191
Lecoq & Magalhães (2007).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

doença de chagas, leishmaniose e febre amarela192. Se- para esta última, são as que registram o maior número
gundo dados do Departamento de Informática do SUS de acidentes. A partir de 1989, os acidentes assumiram
(DataSus), apenas no ano de 2015 foram notificados proporções epidêmicas no país, principalmente nos Es-
105.862 casos de acidentes com serpentes, escorpiões, tados de Santa Catariana, Paraná e Rio Grande do Sul,
abelhas, lagartas, etc., com 210 óbitos. Entre esses, os com tendência de aumento dos casos para outras áreas.
mais relevantes, lagartas e cobras, serão apresentados O Rio Grande do Sul já registrou 3.331 acidentes e rela-
a seguir. tos dos insetos entre 1989 a 2001, com 10 óbitos; Santa
Catarina registrou 2.060 acidentes com 6 óbitos; e o Pa-
a) Lagartas (Lonomia sp.) raná também apresenta incidência significativa de aci-
dentes, com 252 acidentes ocorridos e 5 óbitos.191,192,193
Descrição
A Lonomia achelous é comumente encontrada nos se-
As lagartas representam o estágio larval das mariposas ringais dos estados da Região Norte e nos Estados do
e borboletas, pertencentes à ordem Lepdoptera. Algu- Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Entre 1978 e 1982
mas lagartas de mariposas apresentam importância em essa espécie foi responsável por 36 casos hemorrági-
saúde pública na América do Sul, sendo as mais impor- cos com mortalidade de 38% no sudeste do Amapá e
tantes Megalopygidae, Saturniidae e Arctiidae193. na Ilha de Marajó.191,192

Caracterização Parece haver uma variação sazonal dos acidentes (janei-


ro a março) que acompanham o ciclo de reprodução das
No Brasil, as lagartas do gênero Lonomia, pertencen- mariposas. Há também uma distribuição dos acidentes
tes à família Saturniidae, são responsáveis pelos aci- lonomicos por faixa etária, uma entre 10 e 19 anos e ou-
dentes mais graves. Essas lagartas apresentam cerdas tra entre 35 e 64 anos, predominantemente em homens.
urticantes que liberam toxinas com propriedades an-
ticoagulantes. A ação fribrinolítica da toxina é obser- Impactos
vada apenas em duas espécies do gênero Lonomia: a
obliqua e a achelous194.As cerdas nessas lagartas são Os impactos se dão principalmente sobre a saúde de-
muito desenvolvidas, formando uma armadura, com vido à elevada mortalidade – as principais causas são
capacidade de produzir e inocular substâncias, geran- complicação renal e hemorragia intracraniana. Dados
do reações variadas. Os sintomas dependem da exten- retrospectivos dos acidentes com lagartas em Santa Ca-
são e da intensidade do contato, variando desde dor tarina mostraram que a insuficiência renal aguda ocor-
intensa, até eritemas, edemas, necrose etc., sendo que reu em 18% dos casos, com mortalidade de até 50%. Os
complicações mais graves podem ocorrer, como arrit- trabalhadores rurais são as vítimas mais comuns (cerca
mias cardíacas, distúrbios hemorrágicos, neuropatias de 75% dos casos no Estado de São Paulo são da área
periféricas, choque, convulsões e óbitos.192 rural), embora ocorram acidentes isolados na área ur-
bana associados a árvores frutíferas e jardins. No Rio
As lagartas habitam matas, parques e pomares domésti- Grande do Sul, antes do desenvolvimento do soro antilo-
cos, tendo como hábitos alimentares uma dieta de folhas nômico, a letalidade dos acidentes chegou a ser de 3 a 6
diversas, incluindo árvores frutíferas195. A espécie Lono- vezes maior do que a relacionadas às serpentes. Outros
mia obliqua se alimenta das folhas de Araticum (Rollinia impactos são os relacionados à produção agrícola e flo-
emarginata), do Cedro (Cedrella fissilis) e do Ipê (Tebu- restal, dado que algumas espécies podem danificar as
la pulcherrima), mas parece ter se adaptado também a folhas para se alimentar, como é o caso de um relato de
árvores frutíferas, como os pessegueiros, abacateiros, desfolhamento massivo de seringal no Acre por Lonomia
ameixeiras, e às plantações de café192,193. Já Lonomia achelous, com prejuízo para a extração do látex.191,192,194
achelous se alimenta de folhas de pereira (Pyrus commu-
nis), Corticeira (Erythrina cristagalli) e seringueiras196. b) Cobras

Ocorrência Definição

Lonomia obliqua apresenta-se distribuída por todo o ter- As cobras venenosas do Brasil pertencem a quatro
ritório nacional, sendo que em alguns estados da Região gêneros: Bothrops (espécie-tipo “jararaca”); Crotalus
Nordeste ela é a única espécie presente. Porém, as Re- (espécie-tipo “cascavel”); Lachesis (espécie-tipo “su-
giões Sudeste e Sul do Brasil, com particular relevância rucucu”); e Micrurus (espécie-tipo “coral-verdadeira”).

Caracterização
192
Berger (2013).
193
Azevedo (2011).
194
Garcia & Danni-Oliveira (2007).
Entre 2007 e 2015, foram notificados 1.180.844 aci-
195
Santos & Gonçalves (2015). dentes com serpentes no Brasil, sendo 15% deles rela-
196
Moraes, R. H. P. (2002). tivos a jararacas, 1,6% a cascavéis e 0,7% a surucucus,
| 137

porém, o maior montante (81,5%) era desconhecido. ferenças na atividade da peçonha: Lachesis muta na
Os casos de envenenamento por jararacas e cascavéis Amazônia, cujo veneno tem maior atividade hemorrá-
costumam ser os mais graves. gica (hemorraginas e lesão capilar direta), e Lachesis
muta rhombeata na Mata Atlântica, com maior ativida-
A peçonha da jararaca apresenta propriedade coagu- de coagulante198.
lantes, proteolíticas e hemorrágicas, podendo causar
reação local (sangramento, dor, necrose) a sistêmica As cobras corais representam menos de 1% dos aci-
(insuficiência renal aguda, hemorragia)197. A insufi- dentes registrados. Sua peçonha tem atividade neu-
ciência renal pode surgir em até 38,5% dos casos de rotóxica, compreendendo os sintomas dor, parestesia,
envenenamento, com mortalidade de até 19%196. dispneia e, em casos mais graves, insuficiência respi-
ratória (Quadro 12).196
As cascavéis possuem veneno com atividade nefrotóxi-
ca, neurotóxica e miotóxica. A lesão tecidual é peque- Ocorrência
na no local da picada, mas as complicações envolvem
paralisia, degradação dos músculos e insuficiência re- As jararacas habitam áreas rurais e florestais, mas
nal aguda, condição que afeta cerca de 29% dos casos, podem invadir ambientes cultivados onde há prolife-
com mortalidade de até 27%196. ração de roedores. As cascavéis são encontradas em
locais rochosos e áridos nas Regiões Sul, Sudeste e
O veneno das surucucus tem atividade proteolítica Norte, sendo raras em ambientes florestais úmidos,
(inflamatória aguda), hemorrágica, coagulante e neu- por isso, são consideradas a principal espécie impli-
rotóxica. Cerca de 1,4% dos acidentes é provocado cada nos acidentes registrados na caatinga e agreste
por essa espécie, com letalidade de 0,9%. Os sinto- do Nordeste. As surucucus podem ser encontradas,
mas principais compreendem dor, edema, hipotensão,
distúrbios digestivos e insuficiência renal aguda196. 198
de Souza, R. C., Nogueira, A. P. B., & Lima, T. O enigma da margem
Admite-se ocorrer duas subespécies no Brasil com di- norte do rio Amazonas: apresentação de dois casos comprovados de
acidente laquético no Brasil, considerações gerais sobre o gênero e
197
Bernarde (2009). revisão bibliográfica.

Quadro 12. SINAIS E SINTOMAS PERCEBIDOS DE ACORDO COM A ESPÉCIE DE COBRA VENENOSA CONSIDERADA.

Espécies de cobras venenosas


Sinais e
sintomas Bothrops jararaca Micrurus corallinus
Crotalus sp. (cascavel) Lachesis muta (Surucucu)
(jararaca) (Coral-verdadeira)

Dor local persistente Dor local, pouco intensa, Dor local persistente Ausência de dor,
que aumenta com com região da picada que aumenta com com sensação de
Reação local
inchaço, vermelhidão, e inchada e sensação de inchaço, vermelhidão, adormecimento ao longo
arroxeamento. formigamento. arroxeamento. do membro.
Face traduzindo lesão
Face com pálpebras
neurológica, salivação
Face da vítima Sem alteração. superiores caídas e Sem alteração.
grossa, dificuldade de falar
redução ou perda da visão.
e de engolir.
Dores Generalizadas,
Ausente Ausente Ausente
musculares especialmente na nuca.
Hemorragias,com Hemorragias, com
Hemorragias dificuldades de coagulação Ausente dificuldades de coagulação Ausente
do sangue. do sangue.
Alterações na Redução no volume Redução no volume
Urina escura. Ausente
urina da urina. da urina.
Sintomas
Ausente Ausente Diarreia Ausente
digestivos
Falta de ar até
Sintomas
Ausente Ausente Ausente insuficiência respiratória
respiratórios
aguda.
Fonte: CASTRO, 2003.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

especificamente, nas florestas Amazônica e Mata lações africanizadas apresentaram alta capacidade de
Atlântica, representando a maior espécie de cobra ve- reprodução com ciclo de vida mais curto que as demais
nenosa da América do Sul. E, por fim, as cobras corais subespécies existentes no país. Essas características
estão distribuídas por todo o Brasil.196,197 permitiram tanto às abelhas-africanas quanto às afri-
canizadas uma rápida ampliação da biomassa e signifi-
Impactos cativo aumento populacional.173,199

Estima-se que em todo o mundo, cerca de 5,5, milhões Ocorrência


de pessoas sofram acidentes ofídicos, com até 400 mil
amputações e 125 mil óbitos. No Brasil, os acidentes As abelhas-africanas nativas possuem ampla distri-
ofídicos causam uma média de 20 mil casos/ano, com buição geográfica, ocupando todo o território da Áfri-
um coeficiente de incidência de 13,5 acidentes/100 mil ca compreendido entre o Saara e o Kalahari. Após a
habitantes. A maior parte dos acidentes se concentra introdução da linhagem africana no Brasil, em 1956,
na Região Norte (50,9/100 mil habitantes), sendo os seus híbridos se disseminaram rapidamente, avançan-
trabalhadores rurais e extrativistas, assim como os jo- do sobre as Américas do Sul e Central a taxas de até
vens, os mais acometidos. Os envenenamentos por ser- 450 quilômetros por ano. Nas Américas, as abelhas
pentes apresentam distribuição sazonal, sendo mais africanizadas estão restritas às regiões de baixas al-
frequentes nos meses mais chuvosos. Essa sazonalida- titudes e lugares de invernos amenos. No Brasil, estão
de está estreitamente vinculada às atividades laborais bem adaptadas a áreas urbanas, bordas de florestas e
no campo (plantio) e na floresta (extrativismo vegetal), formações vegetativas abertas. Atualmente, estão am-
o que permite categorizar os acidentes ofídicos como plamente distribuídas pelos Estados do Acre, Amapá,
ocupacionais. Essa relação tem fortes impactos sociais Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Gros-
(invalidez, absenteísmo no trabalho, aposentadoria), so, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná,
econômicos (mão de obra, queda na produção, gastos Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio Grande
com atendimento médico-hospitalar) e na saúde (am- do Sul, Rondônia, Santa Catarina.173,199
putações, sequelas permanentes, óbitos), pois é mais
recorrente naquelas populações expostas cotidiana- Impactos
mente nas regiões pobres do país.196
Compete com as abelhas nativas por pólen e néctar,
Abelha Africanizadas levando vantagem em função do maior tamanho, do
maior raio de voo e da maior agressividade. Aumenta
Descrição o nível de endogamia nas plantas, causando erosão
genética de espécies nativas. Causa impacto a espé-
As abelhas africanizadas representam híbridos entre cies de aves como consequência da invasão de ninhos
as abelhas-europeias (a italiana – Apis mellifera ligus- localizados em ocos de árvores, inclusive de araras
tica – e a austríaca Apis mellifera carnica) e as abe- no Cerrado.173
lhas-africanas (Apis mellifera scutellata) utilizadas
para produção de mel no Brasil199. As abelhas-africa- Economicamente, as abelhas africanizadas desvalo-
nas foram introduzidas no Brasil em 1956, porém, o rizam a meliponicultura, pois as abelhas nativas pro-
escape das rainhas e seus respectivos enxames permi- duzem um mel de maior valor no mercado, embora em
tiram o cruzamento dessas com as demais subespécies menor quantidade. Além disso, as invasoras abando-
de abelhas melíferas europeias presentes no país. nam com maior frequência as colmeias, pois se movem
mais do que as demais abelhas, refletindo em maiores
Caracterização custos para os produtores200.

Foi introduzida no Brasil para fins comerciais – mel, Para a saúde humana e animal representam, muitas
néctar, geleia real, própolis e cera. Altamente produti- vezes, um risco devido à agressividade. Esses insetos
vas, as abelhas-africanas elevaram consideravelmente reagem defensivamente a qualquer barulho ou vibra-
a produção de mel no país (de 3 a 5 mil toneladas/ano ção nas vizinhanças da colmeia, saindo em grande nú-
para 40 mil toneladas/ano em algumas décadas). Po- mero para ferroar os intrusos200. Além do perigo que
rém, as populações híbridas que surgiriam após o cru- representam para o público em geral, estas abelhas
zamento com linhagens europeias presentes no país, perturbam as atividades em áreas rurais, ameaçando
as chamas abelhas africanizadas, apresentaram mui- trabalhadores e animais de criação. Picaduras para
tas das características das abelhas-africanas: grande pessoas e animais domésticos podem levar à morte173.
capacidade de enxamear, rusticidade, adaptação a Isto porque a picada pode causar reações alérgicas em
ambientes inóspitos, alta capacidade de defesa, tole- pessoas sensíveis ou mesmo choque anafilático, de-
rância a doenças, dentre outros. Além disso, as popu- pendendo do número de ferroadas.

199
Oliveira & Cunha (2005). 200
Matthews (2005).
| 139

Javali composição de espécies e a qualidade da água. As co-


munidades animais nativas sofrem intensa predação,
Descrição destruição de habitat e competição por recursos, uma
vez que os javalis são generalistas na alimentação –
O javali (Sus scrofa) é um mamífero robusto, onívoro, anfíbios, répteis, mamíferos e aves.173
tem o corpo coberto por pelos grossos, pode atingir até
200kg e é bastante agressivo e resistente, formando Apresentam forte impacto econômico na agropecuá-
bandos173. Possui caninos que são usados para ataque ria, pois comem as plantações e pastagens, também
e defesa (disputa de fêmeas, contra predadores). danificando cercas. Estima-se que um javali adulto
possa destruir 1 hectare de plantação de milho por
Caracterização noite. Predam frequentemente filhotes de carneiro,
galinhas, patos.173
No Brasil, teve sua introdução a partir da criação em cati-
veiro para abate, atividade legal no país até 1998. Invade Para a saúde, os javalis são vetores de doenças virais e
preferencialmente áreas agrícolas, degradadas, campos, bacterianas que podem ser transmitidas a animais sil-
florestas, plantios florestais, zonas ripárias, cerrados, vestres e humanos, incluindo raiva, leptospirose e fe-
áreas urbanas, brejos, banhados e costa. O sucesso da bre aftosa. Essas doenças podem ser transmitidas por
introdução se deve à sua biologia, pois são animais que contato direto com o animal ou com suas fezes, assim
se reproduzem vigorosamente. É considerada uma das como por sua carne contaminada ou malcozida. 173
100 piores espécies invasoras do mundo. Alimentam-se
de grande quantidade de frutas, sementes, brotos, raí- 1.6.2.2. Infestações de Algas ou Florações de
zes e bulbos, mas também comem invertebrados, como Algas Nocivas
minhocas e cobras, e provavelmente outros pequenos
animais. Isso faz com que a oferta de alimento seja re- Descrição
duzida para outras espécies e o consumo da vegetação
impede sua regeneração. Invadem áreas de cultivos, As infestações ou florações de algas ocorrem devido
pisoteando-os, e são conhecidos por atacarem cordei- à reprodução excessiva de microalgas no ambiente
ros, cabras e bezerros jovens. Podem, também, disse- aquático, seja ele dulcícola ou marinho. São um fenô-
minar doenças. O javali não possui predadores naturais meno natural, dado que essas microalgas são produ-
no Brasil e pode procriar com o porco doméstico, origi- tores primários constituintes do fitoplâncton e servem
nando o chamado javaporco.173,200 de alimento para outros animais. Embora de caracte-
rística sazonal, as florações podem ser favorecidas por
Ocorrência condições ambientais e/ou antrópicas, com impactos
variados a depender da espécie de micro-organismo
Tem ampla distribuição geográfica, sendo nativo da e do local afetado. Em alguns casos, a formação das
Europa, Ásia e Norte da África. É uma das espécies florações pode resultar no acúmulo de biomassa ou de
com registros mais antigos de introdução intencio- compostos tóxicos, sendo nocivas para outras espécies
nal por seres humanos: no século XV os exploradores – fenômeno chamado de floração algal nociva (FAN)202.
transportavam e soltavam esses animais para, pos- É esse tipo de floração que causa os maiores impactos.
teriormente, consumir sua carne, e no século XXI as
introduções foram motivadas, principalmente, pela A mais popular das FANs é a chamada maré vermelha,
caça comercial201. Na América do Sul, o javali já colo- em que a água assume uma coloração avermelhada,
niza 18,3% do continente em países como Argentina, porém, uma superpopulação de microalgas pode as-
Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Venezuela sumir diferentes cores (marrom-dourado, verde no
e Bolívia. No Brasil, distribui-se em aproximadamente caso de floração por Cianobactérias) ou nenhuma cor.
17,6% do território, em todos os biomas brasileiros, a Além desta alteração, outros efeitos principais das
uma velocidade de invasão de 149,6 km²/ano.201 FANs são alterações no sabor e no odor da água. As
algas nocivas, que causam danos ao homem e ao am-
Impactos biente, incluem principalmente espécies dos grupos
de diatomáceas, dinoflagelados, rafidofitas, prymne-
No ambiente natural, afeta diretamente os componen- siofitas e cianofitas203.
tes das comunidades terrestres e subterrâneas devido
ao hábito de fuçar e, indiretamente, causa mudança As marés vermelhas correspondem, segundo a COBRADE,
física do ambiente e alteração na disponibilidade de a uma “aglomeração de microalgas em água-doce ou
recursos. O hábito de fuçar pode ainda reduzir a co- em água salgada suficiente para causar alterações
bertura, a diversidade e a regeneração na comunida- físicas, químicas ou biológicas em sua composição,
de vegetal. No meio aquático, essa atividade altera a
202
Castro & Moser (2012).
201
Batista (2015). 203
da Silva et al. (2011).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

caracterizada por uma mudança de cor, tornando-se de outros organismos e tornar a água imprópria para
amarela, laranja, vermelha ou marrom”. Podem cau- consumo ou recreação. Diz-se que esse é um efeito
sar a morte de organismos pela redução do oxigênio indireto das FANs sobre a população humana. Porém,
ou por intoxicação. algumas espécies de microalgas são capazes de produ-
zir ficotoxinas, podendo até mesmo intensificar a pro-
Outra FAN de elevada importância biológica e para a dução dessas substâncias em condições de superpo-
saúde humana é a relacionada à superpopulação de pulação. Essas ficotoxinas podem atingir diretamente
cianobactérias. Por ser majoritariamente dulcícola, os seres humanos, pois elas têm a capacidade de se
esse tipo de FAN é mais comum em reservatórios de acumular na cadeia trófica. Assim, animais filtrado-
água. Segundo o COBRADE, são consideradas flora- res como os moluscos bivalves podem armazenar uma
ções de cianobactérias “as aglomerações de ciano- quantidade variada de toxinas e, quando consumidos
bactérias em reservatórios receptores de descargas de por outros animais ou pelo homem, podem acarretar
dejetos domésticos, industriais e/ou agrícolas, provo- diferentes graus de intoxicação.202
cando alterações das propriedades físicas, químicas
ou biológicas da água”. As FANs popularmente conhecidas como marés verme-
lhas são potencialmente nocivas porque podem causar
danos de ordem econômica ou ambiental, devido ao
impacto direto sobre os peixes e outros vertebrados. No
De acordo com a Política Nacional de Segurança de primeiro caso, a superpopulação de microalgas produz
Barragens (Lei Federal nº 12.334, de 20 de setem- mucilagem, maus odores, espuma e descoloração da
bro de 2010), reservatórios equivalem a acumula- água (marrom, vermelho), afetando atividades de tu-
ções não naturais de águas, de substâncias líqui- rismo e pesca. Já a morte de animais está relacionada
das ou de mistura de líquidos e sólidos. a FANs que causam danos mecânicos às espécies, pois
obstruem as brânquias dos peixes e também causam
danos fisiológicos a esses animais. As principais espé-
cies envolvidas nesses tipos de eventos pertencem ao
Caracterização grupo das diatomáceas (Chaetoceros sp., Coscinodis-
cus sp., Thalassiosira sp., etc), dinoflagelados (Gonya-
Dentre os principais fatores que propiciam o desen- ulax sp., Karenia sp., Noctilu­ca scintillans), primnesio-
volvimento de FANs e da toxicidade das algas estão i) fitas (Phaeocystis sp., Prymnesium sp.) e pelagofitas
o aporte natural de nutrientes através dos rios para o (Aureococcus anophagefferens). Algumas espécies de
mar; e ii) a eutrofização antrópica, considerada a prin- rafidoficeas estão associadas aos eventos de danos
cipal influência humana para o aumento do desenvol- mecânicos às comunidades aquáticas (Chattonella sp.,
vimento, persistência e expansão das FANs. Modifica- Fibrocapsa japônica). 202
ções intensas do ambiente, como canalização de rios
para navegação, controle de enchentes, construção de Entretanto, as FANs causadas por microalgas que pro-
reservatórios, transporte por água de lastro, aquicul- duzem toxinas apresentam os efeitos mais adversos
tura, dentre outros, são fatores capazes de intensificar sobre a saúde humana. A síntese de toxinas é consi-
as FANs. Porém, algumas condições climáticas também derada uma estratégia das microalgas para reduzir
podem exercer influência, como temperatura, pressão, a competição e a ação de predadores, mas os efeitos
ventos e densidade, favorecendo a reprodução maciça significativos são observados apenas em grandes con-
de alguns micro-organismos (de dezenas de milhares a centrações no ambiente aquático. Porém, devido à
centenas de milhares por litro).202,203 capacidade de bioacumulação que essas substâncias
apresentam na teia trófica, as toxinas podem ser en-
De maneira simples, a eutrofização antrópica é a dis- contradas em diferentes concentrações desde crustá-
ponibilização de uma elevada carga de nutrientes no ceos até peixes e aves, podendo causar danos à saúde
ambiente aquático, que são, em sua maioria, despejos humana quando consumidos, ainda que em pequenas
de efluentes domésticos e industriais (esgoto, fertili- concentrações. Estima-se que dentre as mais de 5 mil
zantes agrícolas). Os compostos mais frequentes são o espécies de microalgas marinhas, cerca de 300 podem
nitrogênio e o fósforo, que no ambiente natural não são ser nocivas e somente 80 são produtoras de toxinas202.
encontrados em concentrações suficientes para sus- Os principais tipos de intoxicação experimentados pe-
tentar o desenvolvimento de uma grande variedade de los seres humanos e animais são:
espécies. Porém, quando em elevadas concentrações,
favorecem a reprodução das microalgas oportunistas • Síndrome da amnésia (Amnesic Shellfish Poiso-
levando a um grande acúmulo de biomassa, maiores ning – ASP): é causado por biotoxinas liberadas
taxas de respiração e à decomposição da matéria or- por diatomáceas, sendo as principais espécies
gânica. Esse processo por si só já causa uma redução Amphora coffeaeformis, Nitzschia navis-varin-
importante da concentração de oxigênio dissolvido na gica e Pseudo-nitzschia sp. A substância ativa
água e o aumento da turbidez, podendo causar a morte é o ácido domoico, que no organismo eleva a
| 141

concentração de cálcio intracelular, gerando • Envenenamento por cianotoxinas: é causado por


uma estimulação contínua dos neurônios com uma série de compostos orgânicos produzidos por
posterior lesão cerebral, principalmente nas áre- várias cianobactérias – Anabaena, Cylindrosper-
as ligadas ao aprendizado e memória. Não há tra- mopsis, Microcystis, Nodularia, Nostoc e Oscilla-
tamento específico e sua ação pode ser letal; 202 toria. Os compostos podem ter ação neurotóxica,
• Síndrome neurotóxica (Neurotoxic Shellfish hepatotóxica ou dermatóxica. As saxitoxinas e as
Poisoning – NSP): as microalgas associadas a anatoxinas têm ação neutoróxica podendo causar
essa síndrome são produtoras de brevetoxinas, parada respiratória e fadiga muscular. As micro-
uma substância que causa descargas elétricas cistinas e nodularina são hepatotóxicas, des-
contínuas no sistema nervoso. Os principais truindo a estrutura interna do fígado e podendo
sintomas na população humana são, câimbras, causar a morte. As microcistinas também podem
náuseas, vômitos, diarreia e calafrios, embo- causar reações dermatológicas e têm sido apon-
ra óbitos não tenham sido ainda relatados. As tadas como carcinogênicas. Devido às cianobac-
brevetoxinas também afetam animais como térias serem majoritariamente dulcícolas, as in-
mamíferos marinhos, aves e peixes (paralisia, toxicações mais comuns se dão pelo consumo de
convulsões, falha do sistema respiratório), cau- água contaminada. Porém, outros tipos de expo-
sando elevada mortalidade. Ostras, mexilhões sição acidental podem ocorrer, como é o caso das
e copépodes são os principais vetores das bre- atividades profissionais ou de recreação. Embora,
vetoxinas, que causam efeito mesmo em baixas na maioria das vezes, as toxinas das cianobacté-
concentrações. As principais espécies envolvi- rias sejam liberadas apenas quando as células
das são dinoflagelados – Gymnodinium breve e morrem, uma vez presentes nas águas dos ma-
Karenia mikimotoi, porém, algumas rafidofíceas nanciais, dificilmente as toxinas são removidas
também são implicadas na produção das toxi- através dos processos tradicionais de filtração e
nas – Heterosigma akashiwo, Chattonella sp. e tratamento. Essa foi uma das causas dos óbitos
Fibrocapsa japônica; 202 registrados no Município de Caruaru em 1996,
• Síndrome da paralisia (Paralytic Shellfish Poi- quando cerca de 60 pacientes de hemodiálise
soning – PSP): as substâncias tóxicas são cha- morreram por hepatite tóxica202.
madas de saxitoxinas, uma das mais perigosas
do planeta, e são produzidas por dinoflagelados Ocorrência
(Alexandrium sp., Gymnodinium catenatum e
Pyrodinium bahamense var. compressum). Al- As microalgas são cosmopolitas, estando as FANs as-
gumas cianobactérias também podem estar sociadas a regiões costeiras impactadas pela ação
envolvidas. Acomete o sistema nervoso, mais humana. No Brasil, há diversos relatos de FANs próxi-
especificamente a atividade neuronal, poden- mas a grandes centros urbanos, como é o caso de vá-
do ser fatal em humanos mesmo em quantida- rias praias no Rio de Janeiro, na praia de Ponta Negra
des mínimas. A principal forma de intoxicação é em Natal e em várias praias de Santa Catarina202. Em
através do consumo de moluscos bivalves, pois Pernambuco FANs já ocorreram em 1944 (Tamanda-
esses animais são imunes à saxitoxina, acumu- ré) e 1963 (Recife). E no Rio Grande do Sul, florações
lando a substância em seus tecidos, a qual é foram observadas em abril de 1978 em Hermegildo e
transferida pela teia trófica; 202 Tramandaí, Cidreira e Torres. Em março de 2016, em
• Síndrome diarreica (Diarrhetic Shellfish Poiso- um intervalo menor que 13 horas, cerca de 130 pes-
ning – DSP): é causada pela liberação de bioto- soas foram atendidas em um hospital em Porto Seguro
xinas (ácido ocadaico) de uma variedade de es- (BA), apresentando dificuldade de respirar, irritações
pécies de dinoflagelados. A ação desse ácido se na pele, ressecamento nos olhos, vômitos e diarreias.
dá sobre as proteínas do epitélio intestinal, o que A suspeita era de que os sintomas apresentados esti-
desregula o balanço hídrico e promove a perda vessem relacionados com uma FAN que se instalou nas
de fluidos. Embora não seja fatal, pode causar águas do litoral da Bahia naquele período204.
tumores gástricos em exposições crônicas; 202
• Ciguatera (Ciguatera Fish Poisoning – CFP): Embora poucos relatos de intoxicações por algas exis-
alguns dinoflagelados de regiões tropicais são tam no país, casos já foram registrados em Pernambuco
capazes de produzir ciguatoxinas e maitotoxi- (1963, 1996) e Santa Catarina (1990, 2007). As espécies
nas que se bioacumulam em peixes de recifes identificadas foram Trichodesmium erythraeum e Dino-
de coral, sendo esse tipo de envenenamento o physis acuminata, esta última responsável por uma das
mais comum associado ao consumo de frutos do maiores concentrações de algas nocivas já registradas
mar no mundo (10 mil a 50 mil por ano). Cau-
sa colapso das células nervosas, perturbações 204
http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/03/mare-vermelha-po-
gastrointestinais e cardiovasculares, e, embora de-ser-causa-de-126-intoxicacoes-em-porto-seguro-na-ba.html
não seja altamente letal, pode causar danos em http://g1.globo.com/bahia/noticia/2016/03/apos-intoxicacoes-
concentrações muito baixas; 202 -amostras-sao-coletadas-para-avaliar-mare-vermelha.html
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Impactos

As alterações estéticas associadas à produção de mucila-


gem, maus odores, espuma e descoloração da água afe-
tam, principalmente, o turismo, a pesca e as atividades re-
creativas, uma vez que uso das áreas afetadas é proibido.
Ambientalmente, as FANs produtoras de biotoxinas cau-
sam a morte de peixes, mamíferos marinhos e aves, com
impactos diretos sobre o equilíbrio ecológico das regiões
afetadas. Um reflexo dos impactos ambientais é o aspecto
econômico, já que muitas dessas FANs ocorrem em áreas
de maricultura, reduzindo a produtividade. Por fim, os
impactos mais importantes se dão sobre a saúde pública,
dado que a intoxicação pelo consumo de frutos do mar e
pescados contaminados pode causar manifestações diver-
sas e até mesmo o óbito.

1.6.2.3. Outras Infestações

Segundo o COBRADE, podem ser enquadrados nos desas-


tres biológicos como “outras infestações” quaisquer infes-
tações que alterem o equilíbrio ecológico de uma região,
bacia hidrográfica ou bioma afetado por suas ações pre-
“A proliferação das algas do gênero Dinophysis, datórias. Nesta seção, compreendem espécies vegetais
que produzem toxinas, é uma das maiores no litoral que têm sido registrados no Brasil e podem causar sérios
catarinense desde 2007, quando começou o moni- danos ao meio ambiente, à agricultura, ou à saúde huma-
toramento dessas espécies, segundo o Laboratório na. Em geral, essas espécies não são nativas e geram um
Oficial de Análise de Resíduos e Contaminantes em desequilíbrio ecológico com consequências importantes
Recursos Pesqueiros (Laqua), ligado ao Ministério para a prestação de serviços ecossistêmicos – benefícios
de Agricultura, Pecuária e Abastecimento... que são proporcionados pelos ecossistemas, como purifi-
Este ano está aparentando, desde que nós inicia- cação da água e do ar, fertilidade dos solos, decomposi-
mos o monitoramento, ser maior em extensão e in- ção de matéria orgânica, produção de alimentos, dentre
tensidade. Esse está parecendo o de maior abran- outros. Outros temas tratados nesta seção compreendem
gência, no estado todo”, afirmou o professor Luís plantas tóxicas para a pecuária e as micotoxinas.
Antônio Proença, um dos coordenadores do Laqua.”
Capim-gordura
Fonte: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noti-
cia/2016/05/populacao-de-algas-que-soltam-toxi- Descrição
na-e-uma-das-maiores-desde-2007-em-sc.html
O Melinis minutiflora é uma gramínea perene de colo-
ração verde-acinzentada, com lâminas foliares reple-
tas de pelos pegajosos, libera um odor característico e
no litoral brasileiro205. Outros relatos com espécies apresenta alto sucesso reprodutivo.173
distintas ocorreram no litoral de São Paulo, Paraná e
Santa Catarina (Pseudo-Nitzcha sp – causadora da sín- Caraterização
drome amnésica) e Espírito Santo (Gymnodinium cate-
natum – associada à síndrome paralisante). Anualmen- Essa gramínea foi introduzida no Brasil acidentalmente,
te, são registrados cerca de 2 mil casos de intoxicações mas também para fins econômicos. É utilizada como for-
no mundo, sendo 15% destes fatais em seres humanos rageira para o gado, embora seja intolerante ao pisoteio,
devido à ingestão de peixes e moluscos contaminados. e também para contenção de taludes e recuperação de
áreas degradadas. Como a dispersão das sementes é fei-
ta principalmente pelo vento, a sua disseminação é muito
205
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL3722-5598,00-MA- favorecida. Além disso, as sementes têm elevada plastici-
RISCOS+CONTAMINADOS+INTOXICAM+PESSOAS+NO+LITORAL+- dade, pois além de serem capazes de entrar em dormência
DE+SANTA+CATARINA.html por muitos meses, também apresentam elevada germina-
http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2016/05/populacao- ção em curto espaço de tempo. Na Serra do Rola Moça,
-de-algas-que-soltam-toxina-e-uma-das-maiores-desde-2007-em-
-sc.html
em Belo Horizonte, por exemplo, a planta colonizou o local
http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2016/07/todas-are- após ser dispersada pelo vento a partir de seu uso esté-
as-do-litoral-de-sc-sao-liberadas-para-cultivo-de-moluscos.html tico em condomínios e empreendimentos de mineração.
| 143

Apresenta alta agressividade, dificultando o estabeleci- gem em outra cultura, devido ao armazenamento de suas
mento de gramíneas nativas do cerrado em áreas degra- sementes no solo e sua germinação irregular. Representa
dadas, infestando também pastagens e áreas florestais.173 uma ameaça às unidades de conservação pelo país, pois é
alelopática, tem rápido crescimento e tolerância a metais
Ocorrência do solo, crescendo rapidamente pelas bordas das áreas de
conservação206. Um dos principais vetores de sua distribui-
O capim-gordura é de origem africana e coloniza princi- ção pelo território nacional tem sido a abertura de estra-
palmente os campos localizados em altitudes elevadas, das com o uso de braquiária para contenção de encostas.
variando entre 800 e 2500 metros. No Brasil, pode ser
encontrado nos Estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Ocorrência
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba,
Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catari- São originárias da savana Africana, com distribuição
na e São Paulo. Tem preferência por formações vegetais natural restrita, e foram introduzidas acidentalmente e
abertas e com intensa luminosidade, invade facilmente também para fins comerciais no Brasil. Podem ser encon-
áreas degradadas, principalmente recém-queimadas, tradas por todo o país, com particular representatividade
constituindo uma das mais importantes invasoras do cer- nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil.
rado brasileiro.173
Impactos
Impactos
As braquiárias apresentam elevada agressividade, por isso
Ecologicamente, o capim-gordura causa o sombreamen- são capazes de descolar outras espécies nativas e tem se
to e morte das espécies herbáceas nativas, desloca espé- revelado um problema em unidades de conservação pelo
cies nativas da fauna e favorece a propagação de focos de Brasil. Embora não apresentem capacidade de colonizar
incêndio, pois a temperatura de combustão desse capim o interior das unidades, onde a mata é mais densa e o
é mais elevada que a das espécies nativas (1000ºC). Na sombreamento maior, são frequentemente encontradas
agricultura, causa prejuízos econômicos pois altera o ciclo nas bordas de áreas protegidas e colonizam rapidamen-
de nutrientes do solo e exige recursos para o seu controle te clareiras e bordas desmatadas nesses locais, podendo,
e para a manutenção da produtividade dos sistemas.173 em casos mais extremos, alcançar o interior dos fragmen-
tos206. Além disso, apresentam elevada inflamabilidade,
Braquiária favorecendo os incêndios, e também são capazes de blo-
quear o processo de sucessão ecológica, importante fator
Descrição para aumentar a biodiversidade de áreas degradadas206.
Nas lavouras é ferrenha competidora por água, o que
A braquiária é uma gramínea tropical, perene, rústica, aliado ao perfil agressivo, pode favorecer sua dominância
com alta capacidade adaptativa e que abarca diversas pela cultura, reduzindo a produtividade207. Nas lavouras
espécies, sendo as mais comuns Urochloa decumbens de milho, estimativas apontam que a competição com bra-
(sinonímia – B. decumbens), U. brizantha, e U. ruziziensis. quiária pode causar redução entre 30 e 80% na produção.
São um problema também nas culturas de cana-de-açúcar
Caracterização e em outros tipos de pastagens (capim-elefante)207.

As braquiárias são principalmente utilizadas para forra- Algaroba


geio do gado, pois resistem ao pisoteio e formam cober-
turas contínuas, sendo a principal fonte de nutrientes na Descrição
bovinocultura206. Embora tenham reduzido valor nutritivo,
também são usadas para alimentar outros rebanhos como A Algaroba (Prosopis juliflora) é uma árvore perenifó-
caprinos e ovinos. Entre 50 e 65% das pastagens nas Re- lia, de tronco tortuoso e casca espessa, produz vagens
giões Centro-Oeste e Norte do Brasil são colonizadas por achatadas que envolvem as sementes e prefere am-
espécies do gênero Urochloa sp. (sin. Brachiaria). Adap- bientes áridos e semiáridos.
tam-se facilmente a locais degradados, com alta lumino-
sidade e em solos ácidos e pobres em nutrientes, como é o Caracterização
caso do cerrado brasileiro. É resistente à seca, adaptando-
-se bem em regiões tropicais úmidas, apresentando inten- A Algaroba surgiu como uma promissora alternativa eco-
sa produção de sementes, o que facilita sua dispersão. Seu nômica para as áreas da caatinga, pois além de se apresen-
uso foi bastante difundido no Brasil por órgãos de fomento tar bem adaptada a diversas regiões semiáridas do mun-
agropecuário e foi responsável por elevar a produtividade do, possui uso múltiplo – produz lenha, madeira, forragem
da pecuária brasileira, porém, é uma invasora de difícil er- e outros produtos para alimentação animal208. A madeira é
radicação quando há necessidade de transformar a pasta-
207
Pereira & Campos (2001).
206
Ribeiro et al. (2005). 208
Pegado et al. (2006).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

utilizada para lenha e para produção de estacas e carvão. e pode atingir até 2 m de altura. A reprodução pode se
A vagem é utilizada para fazer farinha, bebidas alcoólicas dar por sementes ou por brotação das touceiras, mes-
e xarope. As vagens também têm uso comum para ração mo após roçadas ou arrancadas173. As sementes apre-
animal, especialmente de cabras, em ambientes áridos e sentam enorme viabilidade, até 30 anos no solo. Como
semiáridos173. Foi introduzida no Brasil como forrageira desenvolvem raízes vigorosas, o Tojo jovem tem faci-
e para produção de lenha, recebendo incentivos gover- lidade para dominar ambientes degradados. Tem pre-
namentais para sua difusão na Região Nordeste. Porém, ferência por clima frio com média a alta precipitação.
sua adaptabilidade e a dispersão provocada pelos reba-
nhos permitiram que a Algaroba se disseminasse e esta- Caracterização
belecesse pela caatinga, ocupando grandes extensões de
terras em praticamente todos os estados do Nordeste208. É considerada uma praga espinhenta que se estabelece
A destruição da vegetação preexistente e a exposição do com facilidade em áreas degradadas, como beira de es-
solo estimulam a germinação em massa das sementes tradas, terras cultivadas e margens de rio, e que também
existentes, resultando em súbitas infestações.200 invade ambientes naturais. Tem preferência por ecossis-
temas abertos como campos e cerrados, pastagens, áreas
Ocorrência degradadas e plantações florestais. Solos arenosos a argi-
losos, inclusive em florestas ripárias, campos e florestas
Sua área de origem é desconhecida, embora possa ser abertas podem ser invadidos. Foi introduzida no Brasil
encontrada naturalmente no México, Costa Rica, El para uso ornamental como cerca-viva e, eventualmente,
Salvador, Guatemala, Honduras, Nicaragua, Panamá, para produção de mel. Porém, sua elevada adaptabilidade
Colômbia, Equador, Peru, Venezuela. Prefere locais de a tornou uma invasora de difícil controle: possui grande
clima árido e semiárido em que haja disponibilidade de capacidade de rebrotamento mesmo após o corte ou
água, como margens de rios e córregos. Os sítios prefe- queima, forma agrupamentos densos e suas sementes
renciais da invasora são as áreas de matas ciliares, as possuem altíssima viabilidade. Tipicamente, as sementes
manchas de neossolos flúvicos e as baixadas sedimen- são dispersas pela água e pelo barro que adere a veículos,
tares, onde se formam maciços populacionais de alta pessoas e animais, embora em algumas áreas pássaros e
densidade. É espécie invasora encontrada nos seguintes formigas também tenham um papel na disseminação.173,200
estados: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio
Grande do Norte e Sergipe.173,208 Ocorrência

Impactos Sua área de origem é desconhecida, porém pode ser en-


contrada naturalmente na Inglaterra, Irlanda e oeste
Os impactos ecológicos são extensos, pois a Algaroba Europeu, possivelmente até a Itália, com limite sul de
impede o desenvolvimento da vegetação nativa por domi- distribuição em Portugal e limite norte na Dinamarca e
nância e competição por espaço. Pode também aumentar na Holanda173. No Brasil, a distribuição do Tojo ainda é
o risco de incêndios por acúmulo de biomassa, supressão localizada, sendo mais comum no Paraná, Rio Grande
da vegetação nativa e alteração do regime hídrico, uma do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
vez que é grande consumidora de água. Ao formar aglo-
merados densos, exclui outras espécies por sombreamen- Impactos
to. De fato, as áreas invadidas por Algaroba são severa-
mente afetadas em sua composição florística, diversidade Os maiores impactos ocorrem sobre o ecossistema, pois o
e a estrutura das comunidades autóctones. Na agricultu- Tojo descola plantas nativas devido à sua capacidade de
ra, invade áreas de plantio e também pastagens, gerando adensamento, o que gera também um aporte de matéria
custos de controle e remoção. Podem representar ameaça orgânica (serapilheira) ácida sobre o solo, impedindo a ger-
à segurança alimentar das populações da caatinga, pois minação e crescimento das espécies nativas173. O adensa-
as vagens consumidas pelos animais possuem açúcares mento também favorece a ocorrência de incêndios e esti-
que causam desgastes nos dentes e podem ocasionar a mula a germinação das sementes do Tojo. Ao invadir áreas
morte do rebanho quando este não consegue mais se ali- agricultáveis, causa redução da área disponível e queda na
mentar. Os capões formados pela Algaroba são densos, produtividade. Os espinhos podem ferir pessoas e animais.
impenetráveis, e podem restringir a movimentação do
gado e obstruir seu acesso à água, uma vez que frequen- Plantas tóxicas na pecuária
temente invadem os cursos d’água.173,200,208
Descrição
Tojo
Plantas tóxicas são classificadas como um vegetal que,
Descrição quando ingerido por um organismo vivo, pode causar
danos que refletem em sua saúde e vitalidade, sendo
O Tojo (Ulex europaeus) é uma planta perene, arbusti- que na pecuária, especificamente, são consideradas
va, ereta, muito ramificada, com espinhos abundantes tóxicas apenas as espécies vegetais que promovem a
| 145

intoxicação sob condições naturais (caprinos, equinos, variado entre 800 mil e 1.1 milhão de animais apenas no
suínos e bovinos)209. ano de 2001. As perdas indiretas incluem os custos para
controle das plantas tóxicas nas pastagens, construção
Caracterização de cercas, pasto alternativo, medidas de manejo, subs-
tituição dos animais mortos, e os gastos associados ao
A intoxicação está relacionada à presença de metabóli- diagnóstico e tratamento das intoxicações.209,210
tos tóxicos que são utilizados pelo vegetal como meca-
nismo de defesa, sendo os danos associados variáveis a Embora não sejam usuais, impactos também podem inci-
depender da quantidade e do tipo de substância inge- dir sobre a saúde humana. A ingestão de plantas tóxicas
rida. Os principais metabólitos causadores de intoxi- pode atingir o leite, carne, ovos ou outros produtos de ori-
cação são: toxalbuminas (ricina e curcina), alcaloides, gem animal devido à presença de toxinas transferíveis.209
terpenos e compostos fenólicos diversos209. Os minerais
absorvidos do solo e acumulados na planta também são Micotoxinas
apontados como responsáveis pela toxicidade de algu-
mas plantas (selênio, bário, nitratos e oxalatos)210. Descrição

Nem sempre a palatabilidade da planta é fator relevante As micotoxinas são metabólitos secundários produzi-
para determinar a ingestão de um vegetal tóxico pelo ani- das por fungos filamentosos que não apresentam fun-
mal, dado que outros fatores podem ser mais importantes ção essencial para seu crescimento e sobrevivência.
para a ocorrência de intoxicação, como a disponibilidade São geralmente produzidas quando o fungo atinge a
da espécie tóxica e, principalmente, a fome (Quadro 13). maturidade e são consideradas de importância epide-
miológica quando exercem efeitos consideráveis sobre
Ocorrência a saúde humana ou à produtividade animal.

No Brasil são conhecidas cerca de 117 plantas tóxicas Caracterização


distribuídas em 70 gêneros211. Palicourea marcgravii e
Pteridium aquilinium são as plantas tóxicas de maior im- As micotoxinas são produzidas por uma variedade de
portância para os bovinos no Brasil, porém, há diferença fungos (Aspergillus, Penicillium, Fusarium, Claviceps e
na prevalência e importância das espécies vegetais tóxi- Alternaria) e podem causar manifestação aguda – inges-
cas pelas diversas regiões do país. A taxa de mortalidade tão de altas doses, podendo causar óbitos; ou subaguda
por plantas é maior nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste e – doses menores que provocam distúrbios e alterações
Norte do que nas Regiões Sul e Sudeste. Na região Ama- nos órgãos dos humanos e dos animais212. Muitas vezes
zônica, as espécies Palicourea longiflora e Strychnos co- as micotoxinas podem apresentar sinergismo (uma mi-
gens são responsáveis por até 90% das causas de morte cotoxina pode potencializar o efeito de outra).
de gado. Na Região Sul, as espécies de Senecio e Nierem-
bergia veitchii são de grande importância em bovinos e em A ingestão é a principal via de contaminação, uma vez que
ovinos, respectivamente. No Nordeste, Thiloa glaucocarpa, essas substâncias são mais comuns em grãos estocados
Mascagnia rigida, Ateleia glazioviana, Ipomoea asarifolia e (amendoim), algumas culturas (milho, trigo, outros ce-
Aspidosperma pyrifoli são as principais plantas tóxicas do reais), oleaginosas e derivados. São mais comuns em áreas
semiárido. No Sudeste e Centro-Oeste, as plantas de maior tropicais e subtropicais devido às condições adequadas de
importância são Cestrum laevigatum e Brachiaria spp de- temperatura e umidade para proliferação dos fungos.
vido aos prejuízos econômicos em bovinos e ovinos.209,210,211
Algumas micotoxinas apresentam afinidade por determi-
Impactos nados tecidos ou órgãos, sendo os mais afetados o fígado,
os rins e o sistema nervoso. As principais micotoxinas que
Os impactos são principalmente econômicos e podem afetam a saúde humana e animal são descritas a seguir:
ser diretos ou indiretos. Perdas diretas são as relacio-
nadas à morte de animais, diminuição dos índices repro- • Aflatoxinas: presentes em frutas secas e cereais
dutivos (abortos, infertilidade, malformações), redução em condições de umidade e temperatura eleva-
da produtividade nos animais sobreviventes (diminuição das. Os efeitos tóxicos são imunossupressores,
da produção de leite, carne, lã) e aumento da incidên- mutagênicos, teratogênicos e carcinogênicos.
cia de outras doenças devido à depressão imunológica. São produzidas por várias espécies de fungo As-
A morte dos animais está associada a elevados custos, pergillus, sendo as mais comuns A. flavus e A.
principalmente quando acomete grande parte do reba- parasiticus. As principais aflatoxinas conhecidas
nho. Estima-se que, no país, o número de mortes tenha são denominadas de B1, B2, G1 e G2, com base na
fluorescência delas sob luz ultravioleta. Compre-
209
da Silva, M. (2012).
endem as micotoxinas de maior relevância, pois
210
Barbosa et al. (2007).
211
Mello et al. (2010). 212
Maziero & Bersot (2010).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Quadro 13. PLANTAS TÓXICAS PARA ANIMAIS COM INTERESSE PECUÁRIO NO BRASIL.

Tipo de dano Espécie


Paulicorea marcgravii (erva de rato)
Paulicorea aeneofusca
Paulicorea juruana
Paulicorea grandiflora
Mascagnia rígida (tinguí)
Mascagnia elegans
Morte súbita
Mascagnia pubiflora
Mascagnia aff rígida
Mascagnia exotropica
Arrabidaea bilabiata (gibata)
Arrabidaea japurensis
Pseudocalymma elegans
Enterolofium contortisiliquum (tambor, tamboril, orelha de negro, orelha de macaco, timbaúba)
Stryphnodendron coriaceum (barbatimão do Nordeste, barbatimão do Piauí)
Ricinus communis (mamona, carrapateira)
Distúrbios gastrointestinais
Plumbago scandens (louco)
Centratherum brachylepis (perpétua)
Stryphnodendron obovatum (barbatimão)
Brachiaria decumbens
Crotalaria retusa (guizo-de-cascavel, feijão-de-guizos, chocalho de cobra, maracá-de-cobra, gergelim-
-bravo)
Crotalaria spectabilis
Hepatotoxicidade Tephrosia cinerea (anil, falso-anil)
Cestrum laevigatum
Copernicia prunifera (carnaúba)
Senecio brasiliensis (flor-das-almas)
Trema micranta (pau-de-pólvora)
Nefrotoxicidade Thiloa glaucocarpa (sipaúba, vaqueta)
Ipomea carnea susp fistulosa (algodão-bravo, canudo, mata-bode)
Ipomea asarifolia (salsa)
Ipomoea riedelii (anicão)
Ipomoea sericophylla (jetirana)
Sistema Nervoso Central Marsdenia spp (mata-calado)
Ricinus communis (mamona, carrapateira)
Prosopis juliflora (algaroba)
Anacardium spp (caju)
Sida carpinifolia (malva-branca)
Floehlichia ulbotiana (ervanço)
Lantana spp (chumbinho)
Fotossensibilizantes
Brachiaria spp (braquiária)
Stryphnodendron obovatum (barbatimão)
Ação radiomimética Pteridium aquilinum (samambaia-do-campo)
Brachiaria radicans (tannergrass)
Anemia hemolítica Ditaxis desertorum
Indigofera suffruticosa (anil)
Manihot esculenta (mandioca, macaxeira)
Manihot spp (maniçobas)
Cianogênicas Piptadenia marcrocarpa (angico)
Piptadenia viriflora (angico)
Sorgum vulgare (sorgo)
Echinochloa polystachya (capim-mandante)
Acúmulo nitritos e nitratos
Pennisetum purpureum (capim-elefante)
Aspidosperma pyrifolium (pereiro)
Distúrbios reprodutivos Mimosa tenuiflora (jurema-preta)
Stryphnodendron obovatum (barbatimão)
Pele e anexos Leucaena leucocephala (leucena)
Pneumotoxicidade Ipomoea batatas + Fusarium solani (batata-doce mofada)
Fonte: Adaptado de Barbosa et al. (2007); da Silva (2012).
| 147

além de serem amplamente relatadas em alimen- e A. também são produtoras dessa micotoxina.
tos, também apresentam efeitos carcinogênicos e É comum em maçã, pera, cereja e em outros fru-
crônicos em animais (diminuição da produtivida- tos, estando por isso também associada à conta-
de e maior susceptibilidade a outras infecções) e minação de derivados desses alimentos (sucos).
o efeito agudo tóxico em seres humanos (aflato- É uma neurotoxina que produz lesões graves,
xina B1 está associada ao câncer de fígado);212,213 embora ainda não existam estudos conclusivos
• Fumonisina: é produzida pelas cepas de Fusa- sobre sua toxicidade;213,214
rium moliniforme, encontrada principalmente • Alcaloides: são produzidos por diversas espé-
em milho, e por F. proliferatum e F. nygamai. En- cies de fungo do gênero Claviceps (C. purpurea,
globa mais de uma dezena de susbtâncias que C. paspali, C. fusiformis, C. gigantea e S. sor-
afetam animais de criação (leucoencefaloma- ghi). A intoxicação por essa micotoxina é conhe-
lacia em equinos, edema pulmonar em suínos, cida em humanos e animais como ergotismo e,
efeitos tóxicos no SNC, fígado, pulmões, dentre embora seja rara, pode afetar o suprimento de
outros) e humanos (câncer de esôfago);212,213, 214 sangue para as extremidades do corpo (forma
• Tricotecenos: Os tricotecenos constituem um gangrenosa) ou agir diretamente sobre o siste-
grupo de metabólitos produzidos por fungos dos ma nervoso central (forma convulsiva). Ocorre
gêneros Fusarium, Myrothecium, Phomopsis, Sta- após a ingestão de pão ou de outros produtos
chybotrys, Trichoderma, Trichotecium, Verticimo- preparados com farinha de grãos de centeio
nosporium. Os tricotecenos são reconhecidos por infectados pelo fungo. Apresenta maior rele-
inibir a síntese proteica. Dentre os tricotecenos vância sob o aspecto veterinário, uma vez que
mais importantes estão desoxinivalenol (DON), técnicas de limpeza dos grãos são capazes de
nivalenol (NIV), toxina T2, toxina HT2 e diacetoxis- eliminar a contaminação. Em animais (gado,
cirpenol (DAS). O DON é uma das micotoxinas mais ovinos, porcos, aves) manifesta-se na forma de
comumente encontradas em grãos – cártamo, ce- gangrena, aborto, convulsões, supressão da lac-
vada, centeio, trigo e em misturas de alimentos, e tação, hipersensibilidade e ataxia;213
quando ingerido em doses elevadas por animais • Ocratoxina A: micotoxina produzida por alguns
causa náuseas, vômitos e diarreia. Em pequenas isolados de Aspergillus ochraceus e também
doses, pode provocar perda de peso e recusa ali- por A. alliaceus, A. auricomus, A. carbonarius,
mentar (é conhecido como vomitotoxina). O fungo A. glaucus, A. meleus e A. niger, além de Peni-
Stachybotrys atra tem sido associado à síndrome cillium nordicum e P. verrucosum. Como as tem-
dos edifícios doentes, pois degrada materiais ricos peraturas para crescimento do fungo produtor
em celulose e coloniza facilmente locais úmidos são mais amenas, a exposição é mais comum
(forros, tubulações de ar-condicionado), poden- em zonas temperadas onde há cultivo de trigo e
do provocar cefaleia, irritação na garganta e nos cevada. Também pode ser encontrada em milho,
olhos, além de vertigens e sangramentos nasais;213 arroz, ervilhas, feijão, feijão-frade, os frutos de
• Zearalenona: metabólito secundário produzi- plantas trepadeiras e seus produtos, café, espe-
do principalmente por Fusarium graminearum ciarias, nozes e figos. Embora a intoxicação seja
e encontrado, sobretudo, no milho – também mais comum pela ingestão desses alimentos, há
em sorgo, cevada e rações animais. Apresenta indícios de que o consumo da carne de porco pos-
efeitos estrogênicos em várias espécies animais sa ser importante fonte da toxina. A ocratoxina-A
(vacas, ovinos e suínos) podendo provocar dis- está relacionada à toxicidade renal, nefropatia e
túrbios reprodutivos (aborto, infertilidade);212,214 imunodepressão em várias espécies animais. Em
• Citrinina: micotoxina produzida, principalmente, humanos, está associada à nefropatia endêmica
por Penicillium citrinum, mas também pode ser dos Balcãs, enfermidade renal crônica e fatal, e
produzida por espécies dos gêneros Aspergillus e é possível agente cancerígeno. Ela tem sido en-
Monascus. Grãos de aveia (mofados), de centeio, contrada no sangue e em outros tecidos animais
de cevada, de milho e de trigo são substratos para e no leite, inclusive em leite humano.213,214
a formação de citrinina. A citrinina atua como ne-
frotoxina e tem potencial para causar nefropatia, Ocorrência
problemas asmáticos, rinite e conjuntivite;213
• Patulina: é um antibiótico produzido por vários As diversas micotoxinas podem ser encontradas em
tipos de mofos. Penicillium expansum é o mais várias culturas agrícolas e em alimentos por todo o
eficiente produtor na natureza, mas outras es- mundo. A contaminação natural de cereais, sementes
pécies de fungos como A. clavatus, A. giganteus oleaginosas, amêndoas, especiarias e de outras com-
modities por aflatoxinas é ocorrência comum em inú-
meros países. No Brasil, as aflatoxinas têm sido encon-
Freire et al. (2007).
213
214
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricul-
tradas em amendoim e seus derivados, em alimentos
tura. Micotoxinas de importância mundial. Disponível em: http:// destinados a bovinos e em leite líquido, em amêndoas
www.fao.org/docrep/005/y1390s/y1390s04.htm de castanha-do-brasil e de cajueiro. Da mesma forma,
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

as fumonisinas já foram detectadas em vários substra- lência mesmo quando multiplicado em larga escala, e
tos, especialmente no milho para ração animal. A DON um método pelo qual esse agente possa ser dissemina-
e a toxina T2 têm sido detectadas, no Brasil, associa- do218. A forma de obtenção do agente pode ser dar i) por
das a grãos de milho, a farelo de trigo e a produtos de isolamento a partir do meio natural, baseado no prévio
panificação. A zearalenona já foi encontrada em ce- conhecimento da capacidade de causar patologias em
reais e em aveia em flocos no país.213 animais e em humanos, como por exemplo, as zoono-
ses – peste e machupo; ii) de laboratórios ou de locais
Impactos de segurança, muitas vezes governamentais, que pos-
suem estoque de micro-organismos para estudo – va-
As micotoxinas representam grande impacto para o ríola, bacilo antraz; iii) ser sintetizados em laborató-
agronegócio, pois influenciam na exportação e podem rios que disponham de recursos humanos treinados e
reduzir a produção animal e agrícola. Estima-se que tecnologia apropriada. Algumas características do mi-
entre 25 a 50% de todas as commodities produzidas no cro-organismo ou toxina os tornam mais propensos a
mundo, especialmente os alimentos básicos, estão de causar danos em massa, como a elevada morbidade e
alguma forma contaminadas com micotoxinas.213 letalidade, alta infectividade, e a relativa estabilidade
no ambiente após a disseminação. Quanto à forma de
As vias de contaminação podem ser diretas ou indire- dispersão, as principais são: i) aerossol – dispersos pelo
tas. A contaminação direta ocorre quando o produto é ar, podem ser rapidamente disseminados por quilôme-
contaminado por um fungo toxigênico que passa a pro- tros ou atingir espaços fechados como edificações,
duzir micotoxinas – consumo dos cereais, oleaginosas metrôs e aviões; ii) animais – principalmente na con-
e derivados. Já a contaminação indireta ocorre quando dição de vetores, como pulgas/mosquitos, e animais
animais se alimentam com rações previamente conta- de pecuária; iii) água e alimentos – principalmente nos
minadas e excretam as micotoxinas no leite, carne e alimentos prontos para consumo, como vegetais, e nos
ovos. Alimentos e rações são favoráveis ao crescimen- sistemas de distribuição de água; iv) pessoa a pessoa
to e o desenvolvimento de fungos toxigênicos durante – alguns agentes são altamente contagiosos, como é o
a produção, processamento, transporte e armazena- caso da varíola e ebola.83,152
mento.212,213
Alguns organismos e toxinas são considerados de alta
1.6.3. Outras ameaças ameaça pois, além de compartilharem determinadas
características biológicas que propiciam seu uso, já
1.6.3.1. Bioterrorismo foram usados em ações de bioterrorismo ou podem se
tornar uma ameaça futura. O Center for Disease Con-
Definição trol and Prevention dos Estado Unidos classifica esses
organismos em três categorias – A (são facilmente
Bioterrorismo é a disseminação deliberada de bacté- disseminados, têm alta taxa de mortalidade, podem
rias, vírus, outros micro-organismos e biotoxinas para causar perturbação social, requerem ação sanitária
causar doença ou morte em populações, animais ou específica); B (disseminação moderada, têm baixa
plantas215. Embora as armas biológicas possam ser mortalidade, requerem capacidade de diagnóstico); e
utilizadas no contexto militar, ganhando conotação de C (patógenos emergentes que podem se tornar uma
guerra biológica, o bioterrorismo está essencialmente ameaça). A Tabela 7 mostra alguns agentes de catego-
ligado a pequenos grupos que compartilham crenças ria A e B de maior ameaça no mundo e potencialmente
políticas ou religiosas com o objetivo de prejudicar a envolvidos em bioterrorismo.
população de uma determinada região, através da dis-
seminação de agentes biológicos de maneira não con- Ocorrência
trolada216. Essas ações causam, além de danos à saúde
humana e animal, pânico, perturbação social e prejuí- Apesar do bioterrorismo ser considerado um fenôme-
zos econômicos217. no recente, cuja incidência aumentou a partir dos anos
1990, episódios são registrados há séculos em ofensi-
Caracterização vas militares – durante a guerra da Crimeia, no século
XIV, os tártaros lançaram corpos de soldados infecta-
Algumas barreiras devem ser ultrapassadas quando dos pela peste por sobre os muros da cidade sitiada de
se trata de um ataque biológico, sendo as principais Caffa com o intuito de derrotar o inimigo219. Durante o
a obtenção do organismo, a manutenção de sua viru- século XX, as grandes guerras mundiais e a Guerra Fria
suscitaram a pesquisa e o uso de armas biológicas em
215
Centers for Disease Control and Prevention. Bioterrorismo. Dispo-
nível em: https://emergency.cdc.gov/bioterrorism/index.asp Jansen et al. (2014).
218
216
Almeida (2006). Cardoso, Dora Rambauske, & Cardoso, Telma Abdalla de Oliveira.
219
217
National Academies, U.S. Department of Homeland Security (2011). Bioterrorismo: dados de uma história recente de riscos e in-
(2004). certezas. Ciência & Saúde Coletiva, 16(Suppl. 1), 821-830.
| 149

Tabela 7. CARACTERÍSTICAS DOS PRINCIPAIS AGENTES BIOLÓGICOS DE ELEVADA E MODERADA AMEAÇA MUNDIAL.

Dispersão pessoa
Doença / Agente Biológico Sintomas Dose Infectante Letalidade
a pessoa

Alta ameaça (categoria A)

Febre, tosse, sudorese,


Antraz (Bacillus anthracis) Não 8.000-50.000 esporos Alta se inalado
fadiga, mialgia

Botulismo (toxina do Doença muscular Quando aerossolizada, Alta se não houver


Não
Clostridium botulinum) paralizante 0,003 μg/kg suporte respiratório

Febre, tosse, respiração


Alta se não tratada
Peste (Yersinia pestis) curta, linfonodos Moderada 100-20.000 organismos
entre 12 e 24 horas
doloridos

Tularemia (Francisella Febre, tosse, pneumonia,


Não 10-50 organismos Moderada
tularensis) dor de cabeça

Febre, dor, erupção Moderada a alta


Varíola (Variola major) Moderada 10-100 organismos
cutânea (acima de 30%)

Febre, dor de cabeça,


1-10 organismos quando
Marburg (febre hemorrágica) diarreia, vômito, Fluidos corporais Acima de 25%
aerossolizado
hemorragia

Febre, dor de cabeça,


Ebola (febre hemorrágica) diarreia, vômito, Fluidos corporais 10 ou menos partículas virais 50-80%
hemorragia

Hipertensão leve,
sangramento de
1-10 organismos quando
Machupo (febre hemorrágica) gengivas e cavidades, Rara ~20%
aerossolizado
dor de cabeça, artralgia
e hemorragias

Menor ameaça (categoria B)

Diarreia intensa, vômito,


Cólera (Vibrio cholerae) Rara 103 a 108 vibriões Alta se inalada
cólicas, desidratação

Reduz a capacidade
Ricina (Ricinus communis) Não 1mg Alta se injetada
funcional dos órgãos

Febre, dor atrás dos


Encefalite (Alphavirus) Baixa 10 a 100 organismos Baixa
olhos, náusea, vômito

Febre, dispneia, mialgia,


Enterotoxina B estafilocócica
dor no peito, tosse Não 0,03 μg/kg Baixa
(Staphylococcus aureus)
improdutiva

Fonte: National Academies, U.S. Department of Homeland Security (2004); Jansen et al. (2014). Bradfute et al. (2011).

vários países (Japão, Alemanha, Estados Unidos, União • Em 1995, a seita Aum Shinrikyo coordenou um
Soviética, Reino Unido), cuja utilização foi proibida ataque a cinco estações de metrô, em Tóquio,
pela Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas usando o gás Sarin. Cerca de 1.400 pessoas fo-
(CPAB)153. Alguns episódios recentes com viés ideoló- ram afetadas e houve 12 óbitos. Essa mesma
gico compreendem83,152: seita ainda foi responsável por outros oito ata-
ques infrutíferos, entre 1990 e 1995, usando to-
• A intoxicação de 751 pessoas no estado de Ore- xina botulínica e esporos de antraz;
gon, Estados Unidos, em 1984, por Salmonella • Cartas contaminadas com antraz foram envia-
typhimurium identificada em mesa de frios. das a senadores americanos e jornalistas nos
A seita Bhagwan Shree Rajneesh contaminou Estados Unidos, após os ataques de 11 de se-
propositalmente os alimentos para influenciar tembro. Onze pessoas foram infectadas por via
as eleições locais; inalatória, das quais cinco morreram. Outras 11
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

pessoas foram infectadas com a forma cutânea trução do Porto de Suape, a 20 km de Recife222.
do bacilo, mas sem óbitos. As principais espécies envolvidas são o tubarão-
-de-cabeça-chata (Carcharhinus leucas) e o tu-
Impactos barão-tigre (Galeocerdo cuvier). As vítimas são,
principalmente, aquelas que praticam esportes
Um dos principais impactos é o psicológico, caracte- náuticos (surfistas, mergulhadores);86,87,88
rizado por fúria, medo, isolamento e perturbação so- • Abelhas africanizadas: essas abelhas represen-
cial. Talvez essa seja a principal face do bioterrorismo tam um híbrido entre as abelha-europeias e as
utilizada pelos grupos fundamentalistas, uma vez que africanas, cruzamento que ocorreu no Brasil na
os ataques muitas vezes são de pequenas proporções década de 1950. Os híbridos guardam semelhan-
– atingem um número reduzido e pontual de pessoas ças de reprodução, forrageio e agressividade
–, mas são capazes de causar pânico generalizado. Um com a espécie africana, por isso são designadas
impacto secundário dessas reações é a sobrecarga do africanizadas. A grande maioria dos ataques
sistema de saúde, que acaba recebendo um elevado massivos de abelhas no Brasil permanece sub-
contingente de pessoas supostamente infectadas que notificada, embora existam relatos do aumento
dificulta a detecção precoce dos casos. Outro impacto da frequência desses eventos em outras partes
importante é o causado diretamente à saúde humana. do globo (México e Estados Unidos)223. Porém,
Além dos agentes poderem causar doenças, alguns são há registros de que essas abelhas têm invadido
altamente letais e podem ser fatais em doses eleva- com maior frequência os ambientes urbanos no
das. Entretanto, mesmo pequenas quantidades podem Brasil, representando um alerta às autoridades
produzir perdas humanas a depender da letalidade do de saúde pública devido à maior probabilida-
agente e do tempo dispendido até a detecção do caso.83 de de acidentes224. De fato, a incidência desses
eventos vem crescendo no país; em 2001 era
1.6.3.2. Ataque por animais de 1,2/100mil habitantes e em 2012 pulou para
5,1/100 mil habitantes225. Entre 2001 e 2012, fo-
Descrição ram registrados 66.283 acidentes com abelhas
no país, sendo 216 óbitos. As regiões de maior
Os ataques por animais compreendem aqueles produ- incidência são Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Os
zidos por animais silvestres que podem investir tan- ataques são mais frequentes no sexo masculino,
to contra o homem quanto animais de criação. Esses pessoas entre 20 e 40 anos, sendo a maior parte
eventos podem ocorrer quando da perturbação do am- dos casos de baixa severidade. O número de pi-
biente natural, por encontros casuais entre o homem cadas está intimamente associado à quantidade
e os animais (silvestres e/ou sinantrópicos), ou por de veneno inoculado e ao prognóstico. O quadro
provocação humana. A baixa frequência dos eventos clínico é representado por dor, prurido, verme-
contribui para sua subnotificação, não havendo da- lhidão, edema e, em casos de picadas massivas,
dos nacionais sistematizados. Nesta seção, não serão insuficiência renal aguda, torpor, coma e óbito.
tratados os animais peçonhentos – exceto as abelhas A anafilaxia pode ocorrer em pessoas hipersensí-
– pois estes foram tema de seção anterior. veis ao veneno das abelhas e pode ser fatal;89,246
• Morcegos: os ataques de morcegos são restritos às
Caracterização e Ocorrência espécies hemofílicas, principalmente Desmodus
rotundus, que se alimentam de sangue de animais
Alguns ataques por animais importantes no Brasil são: (cavalo, bovinos, galinha) e, ocasionalmente, hu-
manos226,227. Este comportamento os torna comuns
• Tubarão: entre 1930 e 2017, foram registrados nas áreas rurais, embora também possa ser encon-
102 ataques espontâneos de tubarões no Brasil, trados em áreas urbanas e periurbanas de grandes
a maior parte deles na Região Nordeste220. Per- cidades. Dentre as doenças mais graves que essas
nambuco foi o estado com a maior incidência espécies são capazes de transmitir está a raiva,
de ataques (56), seguido de Maranhão (10), São cuja incidência de casos transmitidos por morcegos
Paulo (11) e Rio de Janeiro (7). Em Recife, houve vem aumentando no país90. A maior parte dos ata-
um aumento do número de acidentes registrados ques é registrada na região Amazônica, mas tam-
a partir de 1992. Dessa data até o ano de 2009, bém há casos relatados em Goiás, Roraima, Belo
foram 53 ataques na capital Pernambucana221. Horizonte, no Estado de São Paulo e em estados do
Acredita-se que a maior incidência de ataques na
região, a partir de 1992, esteja relacionada com
a degradação ambiental provocada pela cons- 222
Hazin et al. (2013).
223
Daher et al. (2003).
224
Pereira et al. (2010).
220
International Shark Attack File. Disponível em: http://www.flm- 225
Chippaux (2015).
nh.ufl.edu/fish/Sharks/ISAF/ISAF.htm 226
Schneider et al. (1996).
221
Interaminense et al. (2010). 227
Uieda (1995).
| 151

Nordeste90,228,229. Representa um evento altamen- tanto, a técnica do DNA recombinante permite acelerar
te subnotificado, pois é mais comum em regiões esse processo dramaticamente através da modificação
remotas onde há pouca ou nenhuma assistência de genes endógenos da própria planta ou através da
à saúde90. Fatores relacionados aos ataques são inserção de um conjunto de genes que não é nativo da
as alterações ambientais, como o desmatamento, planta modificada232 (fig. 1). As aplicações são varia-
mineração e também a redução da população de das, compreendendo tornar a planta mais tolerante a
animais domésticos que são fontes preferenciais determinados estresses (patógenos, pragas, salinidade
(gado e suínos), o que simultaneamente degrada o do solo), mais produtiva (crescimento acelerado, produ-
habitat do D. rotundus e os força a procurar novas ção de biomassa), com maior resistência a pesticidas,
fontes alimentares93. Os grupos mais afetados são com capacidade de fitorremediar solos contaminados,
do sexo masculino e adultos. de aumentar as propriedades nutricionais, ou reduzir
compostos alergênicos, dentre outras finalidades.94,95
Impactos
Algumas espécies geneticamente modificadas já bem
Embora sejam raros, os ataques por animais apresen- estabelecidas na agroindústria são algodão, soja (47%
tam impactos contundentes sobre a saúde humana, da área cultivada com transgênicos), canola (5%) e mi-
além de provocar certa perturbação social e econô- lho (32%). Na agricultura, as plantas são modificadas
mica. No primeiro aspecto, muitos eventos podem ser com dois objetivos: se tornarem resistentes à insetos e
fatais devido à gravidade das lesões provocadas, da pragas, ou se tornarem resistentes à herbicidas, sendo
probabilidade de infecções advindas de micro-organis- este último o mais frequente233. Um exemplo são as cul-
mos carreados pelos animais, e da susceptibilidade da turas de milho modificadas para expressarem o gene Bt
vítima às toxinas (vespas e abelhas). Outro fator a ser (oriundo da bactéria Bacillus thuringiensis), que reduz
considerado são as sequelas físicas e psicológicas, já o ataque por insetos do tipo lepidoptera, coleóptera e
que em ataques de tubarões, por exemplo, as amputa- díptero devido à produção de proteínas Cry, capazes de
ções e lacerações de membros inferiores ou posterio- matar os insetos quando ingeridas. Outro exemplo é a
res não são incomuns. O pânico provocado pela ocor- soja RR, modificada pela introdução de um gene de re-
rência de ataques por animais também pode contribuir sistência ao herbicida glifosato, desenvolvida na década
para reduzir o fluxo de turistas em regiões marcadas de 1980 pela Monsanto. Estimativas de 2014 apontavam
por esses eventos, como é o caso de praias no Estado que no mundo cerca de 170 milhões de hectares com-
de Pernambuco, local em que os incidentes com tuba- preendiam culturas transgênicas, sendo o Brasil o se-
rão são mais frequentes no Brasil.86,87 gundo maior produtor, com 40,3 milhões de hectares234.
As culturas geneticamente modificadas são tidas como
1.6.3.3. Organismos geneticamente modificados capazes de garantir a segurança alimentar nos países
mais pobres – estimativas da Organização das Nações
Descrição Unidas para a Alimentação e a Agricultura apontam que
cerca de 805 milhões de pessoas estavam cronicamente
Os organismos geneticamente modificados (OGM) desnutridas em 2014235. Por um lado, a maior produtivi-
compreendem espécies vegetais, animais ou micro-or- dade associada a essas culturas pode garantir maior su-
ganismos que tiveram uma parte de seu genoma alte- primento de alimentos para uma população em constan-
rado de modo a favorecer determinadas características te crescimento demográfico; por outro lado, as culturas
desejáveis230. A técnica do DNA recombinante permi- geneticamente modificadas exigem, em alguns casos,
tiu, a partir da década de 1970, que uma sequência do menor área plantada, menos irrigação e uso reduzido de
genoma de um organismo fosse transferida para outro, agrotóxicos, reduzindo os custos da agricultura de sub-
independentemente de serem da mesma espécie231. sistência para as populações rurais mais pobres.159,160

Caracterização Existem outras aplicações das culturas geneticamen-


te modificadas que não se restringem à alimentação,
A recombinação de material genético dos OGM tem o como por exemplo, na área industrial e farmacêuti-
intuito de gerar bens ou serviços com finalidade eco- ca. A chamada agricultura molecular compreende um
nômica, principalmente na agricultura. O melhoramen- campo recente de pesquisa que usa plantas genetica-
to genético convencional de plantas faz uso de cruza- mente modificadas (batatas, tabaco, milho) para pro-
mentos entre os indivíduos para selecionar, combinar e duzir produtos diversos, como anticorpos, vacinas,
propagar características desejáveis em um longo pro-
cesso, que pode demorar mais de uma década. Entre- 232
Key, Ma & Drake (2008).
233
Colli (2011).
234
https://economia.uol.com.br/agronegocio/noticias/redacao/2014/
228
Rocha et al. (2017). 02/14/brasil-tem-2-maior-cultivo-e-producao-de-transgenicos-
229
Schneider et al. (2001). -que-mais-cresce.htm
230
Art. 3º, inciso V, Lei Federal Brasileira Nº 11.105/2005. 235
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricul-
231
Capalbo et al. (2009). tura (2014).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

vitaminas, hormônios e proteínas sanguíneas236. Na 1.7. VULNERABILIDADE ÀS


área industrial, diversas espécies de OGM são utiliza- AMEAÇAS NATURAIS
das na produção de biocombustíveis, papel e madeira.95
A realidade brasileira em relação a riscos e desastres
Impactos naturais é extremamente influenciada pelas condições
altas de vulnerabilidade da população, das suas ativi-
Embora estudos de biossegurança rigorosos sejam con- dades econômicas, das suas formas de organização so-
duzidos tanto pelas empresas de biotecnologia quanto cial, e da capacidade de resposta.
por órgãos reguladores, alguns produtos podem che-
gar ao mercado sem cumprir todos os requisitos regu- Os fatores de vulnerabilidade no Brasil estão asso-
latórios – em muitos casos porque não há como saber, ciados a carências ou obstáculos no desenvolvimen-
definitivamente, se o dano potencial está realmente to sustentável do país ou de algumas regiões em
relacionado à modificação genética. Isso faz com que particular, muitos dos quais têm origem em condi-
os impactos dos OGM ainda não sejam completamen- ções culturais, sociais, e econômicas de longa data,
te conhecidos, quer seja à saúde humana quer seja ao e não estão associados, unicamente, à potencializa-
meio ambiente, compreendendo um assunto polêmico. ção da ocorrência de desastres ou à intensificação
dos seus impactos.
O fato dos OGM serem organismos vivos que se re-
produzem, interagem com outros níveis tróficos e se Destaca-se que o mesmo fator de vulnerabilidade
dispersam no ambiente natural geram uma série de pode apresentar condições diferenciadas e distribuí-
ameaças que, muitas vezes, são difíceis de ser mensu- das espacialmente de forma heterogênea; assim como
radas237. Além disso, os OGM possuem uma vantagem o mesmo local pode ser afetado por diversos fatores
sobre os organismos tradicionais devido a serem inten- de vulnerabilidade, cuja importância relativa na deter-
cionalmente modificados para adquirir determinados minação do risco de desastre associa-se, entre outras
benefícios de sobrevivência e reprodução, podendo coisas, ao tipo de ameaça existente no local.
competir com as espécies naturais. Alguns riscos rela-
cionados aos OGM incluem toxicidade, o surgimento de Mesmo que exista uma enorme diversidade de fato-
superpragas ou patógenos resistentes aos pesticidas res de vulnerabilidade, alguns deles têm uma maior
existentes (casos de insetos resistentes a culturas Bt já responsabilidade na ocorrência ou intensificação das
foram relatados nos Estados Unidos, Espanha, Austrá- consequências de desastres no Brasil.
lia e China)238, e a hibridização com espécies naturais,
com consequências ambientais importantes.100 Fatores de vulnerabilidade que permeiam e se relacio-
nam com outros fatores de vulnerabilidade ambiental,
Uma preocupação ambiental que pode afetar, indireta- social, urbana, biológica estão associados:
mente, a saúde humana está relacionada ao fluxo de
genes entre as espécies geneticamente modificadas e • Às características da gestão pública nos diver-
as espécies naturais que são consumidas pela popu- sos níveis de governo, com a carência de políti-
lação. Isso porque as espécies modificadas para fins cas específicas, a ausência de planejamento e
farmacêuticos ou industriais, por exemplo, expressam ordenamento, a ineficiente fiscalização de ati-
proteínas com finalidade muito específica que não de- vidades, o despreparo administrativo etc.
veriam ser usadas para consumo humano, podendo • À estagnação ou outro tipo de problema econô-
causar intoxicações ou reações inesperadas95,98. Um mico, que repercute sobre as já precárias con-
incidente envolvendo uma espécie de milho modifica- dições sociais de grande parte da população do
da para produzir proteínas farmacêuticas ocorreu em Brasil, seja nas periferias urbanas ou nas áreas
2002 nos Estados Unidos – falhas na biossegurança rurais do Norte e Nordeste.
da empresa responsável pelo cultivo do milho recom-
binante permitiram sua dispersão para plantações de Destaca-se que (i) estes fatores de vulnerabilidade
soja utilizadas para consumo humano239. Outros riscos contribuem, conjuntamente, para a formação das con-
podem ser apontados, como o de causar óbitos ou injú- dições de riscos ou ocorrência de desastres, no entan-
rias ao homem e aos animais, incluindo os de uso do- to, são descritos individualmente para facilitar sua
méstico – embora diversos estudos tenham sido feitos, compreensão; e (ii) os fatores de vulnerabilidade são
os resultados não são conclusivos para indicar possí- apresentados sem nenhuma consideração aos tipos de
veis danos à saúde humana e animal95,240. ameaças existentes.

236
Ma et al. (2005). 1.7.1. Vulnerabilidade Socioeconômica
237
Angelo (2007).
238
Lemaux (2009).
239
Fox (2003). A concentração populacional é um elemento funda-
240
Lemaux (2008). mental na determinação da vulnerabilidade, já que
| 153

quanto maior o número de pessoas expostas, maior o As crianças sofrem desproporcionalmente e estão,
risco de desastres241. usualmente, entre as primeiras vítimas nos períodos
de desastres, pela sua alta dependência familiar, fragi-
No Brasil, os estados com maior população, em 2010, lidade corporal e psicológica243. A maior concentração
são Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas de crianças extremamente pobres ocorre nos Estados
Gerais e Bahia242 (Figura 92). do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí e Alagoas, em
2010242 (Figura 93).
Nem toda a população apresenta o mesmo grau de
vulnerabilidade diante da ocorrência de desastres. Se- As pessoas idosas sofrem desproporcionalmente
gundo o Protocolo Nacional Conjunto para a Proteção quando devem evacuar suas residências em decorrên-
Integral em Situação de Riscos e Desastres da Secreta- cia de desastres, e encontram dificuldade para recu-
ria de Direitos Humanos da Presidência da República – perar-se da perda dos seus pertences e de perdas eco-
SDH/PR (2013), são consideradas pessoas vulneráveis nômicas244. Os estados que apresentam maior número
em situação de desastres as crianças e adolescentes, de população com 65 anos ou mais de idade, segundo
as pessoas idosas e as que apresentam algum grau de dados de 2010, são Bahia, Minas Gerais, São Paulo e
deficiência. A esta lista podem ser agregados as mu- Rio de Janeiro242 (Figura 94).
lheres, os pobres, ou aqueles com pouca ou nenhuma
escolaridade. Outros fatores podem descrever também a vulnerabi-
lidade dos grupos populacionais de crianças e idosos.
241
ALVES (2006) A Figura 95 mostra que os Estados do Maranhão, Piauí,
242
http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/consulta Alagoas e Acre são os que apresentam condições de
vulnerabilidade maior considerando o número de mor-
Figura 92. POPULAÇÃO TOTAL talidade infantil até os 5 anos, em 2010. Paraíba, Minas
EM 2010 POR ESTADO. Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul
são os estados que, em 2010, apresentavam uma taxa
maior de envelhecimento da sua população (Figura 96).
A Figura 97 apresenta o percentual da população de
menos de 15 anos e da população de 65 anos ou mais
em relação à população de 15 a 64 anos em 2010 por
estado, mais acentuada nos Estados do Acre, Amazo-
nas, Roraima, Amapá e Maranhão242.

A pobreza, a desigualdade social e a insegurança de


renda são fatores estreitamente associados à margi-
nalização social e à dificuldade de acesso a recursos
de todo tipo, transformando este grupo populacional
em um dos alvos principais das ameaças naturais ou
Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con-
sulta). Base cartográfica Google. 243
BOLTON et al. (2000).
244
SOUSA E LOVISI (2007).

Figura 93. PROPORÇÃO DE CRIANÇAS EXTREMAMENTE POBRES Figura 94. POPULAÇÃO COM 65 ANOS OU MAIS DE IDADE
EM 2010 POR ESTADO. EM 2010 POR ESTADO.

Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/ Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
consulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

tecnológicas245. Os Estados do Amazonas, Pará, Ma- identificar-se na análise da distribuição populacional


ranhão, Piauí e Alagoas são os que em 2010 apresen- dentro das áreas urbanas.
tavam a maior proporção de população extremamente
pobre242(Figura 98), no entanto, condições de pobreza O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) permi-
incrementam a vulnerabilidade das populações em te discriminar, utilizando a integração de diversos
todo Brasil. Em particular, observa-se uma estreita parâmetros e em escala de maior detalhe, os municí-
relação entre áreas susceptíveis a desastres (morros, pios que apresentam as melhores e piores condições
áreas alagáveis etc.) e a concentração de população de de longevidade, educação e renda. Aproximadamente
baixa renda. 2.200 municípios apresentam os piores IDHM, segundo
dados de 2010, todos localizados nas Regiões Norte e
Outros fatores podem descrever também a vulnerabili- Nordeste do Brasil242 (Figura 102).
dade dos grupos populacionais associados à pobreza. O
grau de concentração de renda em determinado grupo,
que aponta a diferença entre os rendimentos dos mais 1.7.2. Vulnerabilidade Ambiental
pobres e dos mais ricos, medido atraves do índice de
Gini246, destaca os Estados do Acre, Amazonas, Rorai- A degradação ambiental aumenta a intensidade das
ma e Alagoas como os mais desiguais, segundo dados ameaças, contribui para transformar a ameaça em um
de 2010 (Figura 99). No entanto, em todo Brasil, desta- desastre e é a razão pela qual alguns grupos ou comu-
ca-se que esta diferenciação por renda pode facilmen- nidades são mais vulneráveis do que outros. O meio
te identificar-se na análise da distribuição populacio- ambiente natural também oferece soluções para au-
nal dentro das áreas urbanas. A Figura 100 apresenta os mentar a proteção contra os efeitos de desastres. Por
Estados da Bahia, Alagoas, Paraiba, e Amapá como os esta razão, a qualidade do meio ambiente deveria ser
que têm a maior taxa de desocupação da população de melhorada para que a redução de desastres tenha êxi-
18 anos ou mais de idade em 2010242. to, o que inclui proteger os recursos naturais e os es-
paços abertos, manejar as vazões dos rios e diminuir a
O conhecimento, adquirido de diversas formas, é um contaminação247.
dos fatores que potencializam a redução das condições
de vulnerabilidade. O estudo e a capacitação, formal No Brasil, alguns ambientes naturais apresentam
ou informal, conduzem a melhores condições de tra- condições diferentes das originais, considerando ca-
balho, qualidade de vida e à possibilidade de entender racterísticas quantitativas e qualitativas dos seus
e responder melhor frente ao risco de desastre. Os Es- componentes, que impedem total ou parcialmente de
tados do Maranhão, Piauí e Ceará mostram as maio- oferecer serviços ambientais (regulação climática e
res taxas de analfabetismo da população de 18 anos hídrica, proteção dos solos, provisão de recursos hídri-
ou mais de idade em 2010242 (Figura 101). No entanto, cos ou alimentares para consumo humano) que podem
em todo Brasil, destaca-se que esta diferenciação por aumentar a vulnerabilidade das populações e ativida-
grau de estudo e/ou conhecimento pode facilmente des socioeconômicas a estes vinculados. Estas mu-
danças nas características ambientais, e consequente
245
SZLAFSZTEIN (1995).
246
WOLFFENBUTTEL (2004). 247
EIRD (2004).

Figura 95. NÚMERO DE MORTALIDADE ATÉ OS 5 ANOS DE IDADE Figura 96. TAXA DE ENVELHECIMENTO
EM 2010 POR ESTADO. EM 2010 POR ESTADO.

Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
| 155

Figura 97. PERCENTUAL DA POPULAÇÃO DE MENOS DE 15 Figura 100. TAXA DE DESOCUPAÇÃO DA POPULAÇÃO
ANOS E DA POPULAÇÃO DE 65 ANOS OU MAIS EM RELAÇÃO À DE 18 ANOS OU MAIS DE IDADE EM 2010
POPULAÇÃO DE 15 A 64 ANOS EM 2010 POR ESTADO. POR ESTADO.

Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.

Figura 98. PROPORÇÃO DE POPULAÇÃO EXTREMAMENTE POBRE Figura 101. TAXA DE ANALFABETISMO DA POPULAÇÃO DE
EM 2010 POR ESTADO. 18 ANOS OU MAIS DE IDADE EM 2010 POR ESTADO.

Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/con- Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
sulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.

Figura 99. ÍNDICE DE GINI Figura 102. ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO


EM 2010 POR ESTADO. MUNICIPAL (IDHM) EM 2010 POR MUNICÍPIO.

Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/ Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
consulta). Base cartográfica Google. consulta). Base cartográfica Google.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

aumento das condições de vulnerabilidade, relacio- A disponibilidade hídrica nas diversas regiões hidro-
nam-se com formas inadequadas (localização, inten- gráficas está associada a um indicador da vazão natu-
sidade) de atividades desenvolvidas pelo ser humano, ral dos rios, e sua principal contribuição à vulnerabili-
ou ausência de políticas, monitoramento e fiscalização dade de uma região deve considerar o caráter sazonal
(medidas e técnicas protecionistas). Diversos aspec- e de variabilidade plurianual da descarga dos rios. Os
tos podem descrever a vulnerabilidade dos ambientes períodos críticos de estiagem, em termos de disponi-
diante da ocorrência de uma ameaça, sendo alguns de- bilidade hídrica, devem ser avaliados a fim de garan-
les os que afetam a cobertura vegetal, a disponibilida- tir uma margem de segurança para o planejamento e
de e qualidade das águas superficiais, e a condição do gestão (Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil –
ar nas áreas urbanas. ANA, 2013) (Figura 105).

A presença da cobertura vegetal contribui para a con- A poluição do ar é um dos fatores de vulnerabilidade
servação da água (bloqueio da radiação solar, favoreci- ambiental que potencializam, particularmente em
mento da infiltração pelo sistema radicular) e diminui áreas urbanas e para grupos de crianças e idosos,
os processos erosivos. O processo histórico de desma- a ocorrência e intensificação de desastres naturais
tamento no Brasil, associado à ocupação do ser humano (agravamento de doenças respiratórias, cardiovascu-
e à exploração dos recursos naturais, apresenta biomas lares e neurológicas) e seus impactos negativos, eco-
com poucos remanescentes originais (Mata Atlântica) nômicos e sociais. econômica e social. No Brasil, algu-
e outros com crescentes áreas sem cobertura vegetal, mas áreas urbanas e metropolitanas são monitoradas
apesar dos esforços para sua contenção (Amazônia) indicando uma preocupante situação (Figura 106).
(Jornal Estado de São Paulo, 2015)248. (Figura 103).

Um dos maiores condicionantes para o desenvolvimen- 1.7.3. Vulnerabilidade Urbana


to de desastres naturais é aquele associado à qualida-
de e disponibilidade dos recursos hídricos. No Brasil, As cidades no Brasil foram construídas considerando
o Índice de Qualidade da Água (IQA) analisa e classifi- inicialmente necessidades militares, mas também, em
ca a qualidade da água para o abastecimento público lugares acessíveis, próximas à costa ou em planícies
após o tratamento convencional, que é particularmen- aluviais, em função da facilidade de locomoção, trans-
te sensível à contaminação por esgotos domésticos (a porte, disponibilidade de água e de solos férteis, e que
principal pressão sobre a qualidade das águas super- ofereciam amplo espaço para crescer.
ficiais no Brasil). A Figura 104 apresenta os resultados
de parâmetros físico-químicos e biológicos de 2.463 A população do país se tornou rápida e majoritariamen-
pontos de amostragem de uma rede de monitoramento te urbana a partir dos anos 1960, sendo que, atualmen-
operado por companhias de saneamento em 17 unida- te, mais de 80% da população brasileira vivem em áreas
des da Federação (Conjuntura dos Recursos Hídricos urbanas, particularmente nos Estados do Rio Grande
no Brasil – ANA 2013). do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia242 (Figura 107).
A rápida urbanização no Brasil, na maioria das vezes,
ocorreu mediante processos desordenados de uso e
248
http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,em-2012--res- ocupação do solo. A competição crescente por espa-
tavam-apenas-14-5-da-mata-atlantica-area-devastada-diminui-an- ço colaborou para que áreas susceptíveis a fenôme-
te-2011,170930 nos perigosos (encostas, áreas de baixo relevo, zonas

Figura 103. ÁREAS DESMATADAS E REMANESCENTES POR BIOMAS - 2013 (AMAZÔNIA LEGAL),
2012 (MATA ATLÂNTICA), 2010 (CERRADO) E 2009 (PAMPA, CAATINGA E PANTANAL).

1 2 3 4 5 6

BIOMA
Amazônia Mata Pampa Cerrado Caatinga Pantanal
1 Legal Atlântica
5
ÁREA ORIGINAL
(KM²)
5.089.321 1.309.736 177.767 2.038.953 826.411 150.457
4
ÁREA REMANESCENTE
6
(KM²)
4.323.887 189.511 63.719 1.038.605 441.201 127.298
2
15,04 85,5 54,2 49,1 46,6 15,4
ÁREA DESMATADA
3
(%)

Fontes consultadas: INPE, SOS Mata Atlântica, IBAMA.


| 157

Figura 104. ÍNDICE DA QUALIDADE DAS ÁGUAS – VALORES Figura 106. REPORTAGEM EVIDENCIANDO RELATÓRIO DA OMS
MÉDIOS (2011). EM 2016 QUE INDICOU AS PRINCIPAIS CIDADES NO MUNDO COM
VALORES ALARMANTES DE POLUIÇÃO DO AR.

Fonte: Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil


2013 (ANA) [http://arquivos.ana.gov.br/institucional/
sge/CEDOC/Catalogo/2013/conjunturaRecursosHi-
dricos.pdf].

Figura 105. DISPONIBILIDADE HÍDRICA SUPERFICIAL ESTIMADA


NO BRASIL.
Fonte: Jornal O Estado de São Paulo (http://sustentabilidade.
estadao.com.br/noticias/geral,poluicao-do-ar-em-sao-paulo-e-du-
as--vezes-o-limite-da-oms,10000050538).

Figura 107. POPULAÇÃO URBANA EM 2010


POR ESTADO.

Fonte: Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil


2013 (ANA) [http://arquivos.ana.gov.br/institucio-
nal/sge/CEDOC/Catalogo/2013/conjunturaRecur-
sosHidricos.pdf].

industriais) fossem concentrando população, majori- Fonte: Atlas Brasil – IPEA, PNUD, Fundação João
Pinheiro (http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/
tariamente pobre, provocando o surgimento e/ou a in- consulta). Base cartográfica Google.
tensificação de graves problemas sociais e ambientais,
muitos dos quais associados à ocorrência de desastres.

A ausência total de habitação ou a dificuldade de acesso


a uma moradia adequada é um dos maiores fatores de Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e o
vulnerabilidade diante da ocorrência de um evento peri- Distrito Federal. Os problemas de déficit habitacional
goso, já que representa uma condição de desproteção da e a ocupação de terrenos em risco são muito maiores
população, além de um elemento indutor da ocupação quando observado o déficit junto à população mais po-
desordenada, particularmente de áreas susceptíveis à bre nas áreas urbanas; neste grupo, a média no Brasil do
ocorrência de fenômenos perigosos. O déficit habitacio- déficit habitacional é próximo a 83%, particularmente
nal total, em média, é próximo a 19% no Brasil, com des- nos Estados de Alagoas, Maranhão, Pernambuco, Rio de
taque para os Estados do Amazonas, Bahia, Goiás, Ma- Janeiro e Sergipe249 (Figura 108).
ranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, São Paulo e o Distrito Federal. Em par- Outro importante fator de vulnerabilidade em áreas
ticular, o déficit habitacional na área urbana no Brasil é urbanas está associado às condições de saneamento
próximo a 85%, com particular concentração nos Esta-
dos do Amazonas, Amapá, Espírito Santo, Goiás, Minas 249
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)-IBGE, v.34,
Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio 2014.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Figura 108. DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DO DÉFICIT HABITACIONAL TOTAL DOS ESTADOS NA SUA REGIÃO, NA ÁREA URBANA, E DAS
FAMÍLIAS COM RENDA ATÉ TRÊS SALÁRIOS MÍNIMOS.

100
90
80
70
PROPORÇÃO (%)

60
50
40
30
20
10
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MS MT MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS
Total na Região Urbano Renda Mensal até 3 salários Mínimos

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)-IBGE, v.34, 2014.

básico, estritamente relacionado com a potencializa- de prevenir doenças, inundações e alagamentos, entre
ção de desastres naturais. O rápido crescimento urbano outros tipos de desastres.
não foi plenamente acompanhado pela disponibilidade
de serviços e infraestrutura necessária. O saneamento Segundo dados do Sistema Nacional de Informa-
básico é o conjunto de medidas relacionadas com os ções sobre Saneamento do Ministério das Cidades de
serviços, infraestruturas e instalações operacionais de 2014250:
abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpe-
za urbana, drenagem urbana, manejos de resíduos só-
lidos e de águas pluviais, que visa a preservar ou modi- 250
http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos/diagnostico-
ficar as condições do meio ambiente com a finalidade -ae-2014

Outros Dados e Informações

1. MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE – MMA 3. INSTITUTO TRATA BRASIL


Rede de Monitoramento da Qualidade do Ar Saneamento Básico
ht tp://w w w.mma.gov.br/images/arqui- http://www.tratabrasil.org.br/saneamento-
vo/80060/Diagnostico_Rede_de_Monitora- -no-brasil
mento_da_Qualidade_do_Ar.pdf 4. MINISTÉRIO DAS CIDADES
1. MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMEN- a. Departamento de Urbanização de Assenta-
TO E GESTÃO – MPOG mentos Precários – DUAP
a. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E http://www.cidades.gov.br/habitacao-cida-
ESTATÍSTICA – IBGE des/departamentos/duap
www.ibge.gov.br b. PAC – Urbanização de Assentamentos Pre-
b. IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMI- cários – Programa Minha Casa, Minha Vida
CA APLICADA – Chamada Pública-Municípios atingidos
Atlas de Vulnerabilidade Municipal por fenômenos naturais
http://ivs.ipea.gov.br/ivs/ http://www.cidades.gov.br/habitacao-cida-
2. FEDERACION INTERNACIONAL DE SOCIE- des/progrmas-e-acoes-snh
DADES DE CRUZ ROJA Y DE LA MEDIA LUNA 5. INPE – INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS
ROJA ESPACIAIS
Que es la Vulnerabilidad? Atlas Dos Remanescentes Florestais
http://www.ifrc.org/es/introduccion/disas- http://mapas.sosma.org.br/
ter-management/sobre-desastres/que-es-un-
-desastre/que-es-la-vulnerabilidad/
| 159

• 35 milhões de brasileiros não são atendidos com • As capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de
abastecimento de água tratada, sendo a Região m³ de esgotos na natureza em 2013. Apenas
Norte a que apresenta os índices mais baixos no 40% dos esgotos do país são tratados, leve-
contexto do Brasil (54,51%); mente superado pela média das 100 maiores
• 48,6% da população no Brasil têm acesso à coleta cidades brasileiras (50,26%). A Região Norte
de esgoto, o que indica que há mais de 100 milhões é a que apresenta a pior situação entre todas
de brasileiros que não têm acesso a este serviço. as regiões (apenas 14,36% do esgoto são trata-
Mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas 100 maio- dos), sendo a Região Centro-Oeste a que apre-
res cidades do país, despejam esgoto irregular- senta o melhor desempenho (46,37% do esgoto
mente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis; são tratados).

SÍNTESE: Quadro de Ameaças e Vulnerabilidades dos Riscos de Desastres Naturais

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a terremoto,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Residências e outras edificações de construção não adequada a
Tremor de terra

Vibrações do terreno que provocam terremotos.


oscilações verticais e horizontais na ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem

superfície da Terra (ondas sísmicas). Pode cobertura pública ou privada de assistência.


ser natural ou induzido. ◆ Sistemas de alerta e outros inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Terremoto

resposta ao desastre.

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a terremoto, nas zonas
costeiras, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Residências e outras edificações de construção não adequada a

Série de ondas geradas por deslocamento terremotos.


Tsunami

de um grande volume de água causado ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem

geralmente por terremotos, erupções cobertura pública ou privada de assistência.


vulcânicas ou movimentos de massa. ◆ Sistemas de alerta e outros inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

• Sistemas de alerta e alarme, inexistentes ou em mau


Produtos/materiais vulcânicos lançados funcionamento.
Emanação
na atmosfera a partir de erupções ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Vulcânica
vulcânicas. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
As quedas de blocos são movimentos
Queda, tombamento e rolamento

rápidos e acontecem quando materiais


rochosos diversos e de volumes variáveis • População residente ou que desenvolve atividades
Movimentos de massa

se destacam de encostas muito íngremes, socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda, tombamento e


num movimento tipo queda livre. rolamento de blocos, particularmente os denominados “grupos
Os tombamentos de blocos são movimen- vulneráveis”.
Blocos

to de massa em que ocorre a rotação de ◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de

um bloco de solo ou rocha em torno de engenharia para a contenção e remoção de blocos.


um ponto ou abaixo do centro de gravida- ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

de da massa desprendida. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Rolamentos de blocos são movimentos de resposta ao desastre.
blocos rochosos ao longo de encostas, que
ocorre geralmente pela perda de apoio.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda e tombamento de
Movimentos rápidos que acontecem
lascas, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
quando fatias delgadas formadas pelos
Lascas

◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de


fragmentos de rochas se destacam
engenharia para a contenção e remoção de lascas.
de encostas muito íngremes, num
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
movimento tipo queda livre.
Queda, tombamento e rolamento (cont.)

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda, tombamento e
Movimentos rápidos que acontecem rolamento de matacões e lajes, particularmente os denominados
Matacões

quando materiais rochosos diversos e “grupos vulneráveis”.


de volumes variáveis se destacam de ◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de

encostas e movimentam-se num plano engenharia para a contenção e remoção de matacões.


inclinado. ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda e tombamento de
Movimentos rápidos de fragmentos de
lajes, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
rochas extensas de superfície mais ou
Lajes

◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de


menos plana e de pouca espessura se
engenharia para a contenção e remoção de lajes.
destacam de encostas muito íngremes,
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Movimentos de massa (cont.)

num movimento tipo queda livre.


do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a deslizamentos,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

Movimentos rápidos de solo e ou rocha, funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


De solo e/ou rocha
Deslizamento

apresentando superfície de ruptura bem deslizamento e proteção das populações e infraestruturas em


definida, de duração relativamente curta, encostas.
de massas de terreno geralmente bem ◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras

definidas quanto ao seu volume, cujo de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
centro de gravidade se desloca para baixo sobre os materiais das encostas.
e para fora do talude. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a corridas de massa,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


Corrida de Massa

corridas de massa e proteção das populações e infraestruturas


Solo / Lama

Por índices pluviométricos excepcionais,


em encostas.
o solo/lama, misturado com a água, tem
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
comportamento de líquido viscoso, de
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
extenso raio de ação.
sobre os materiais das encostas.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 161

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a corridas de massa,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Corrida de Massa (cont.)

funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


Rocha / Detrito

corridas de massa e proteção das populações e infraestruturas


Por índices pluviométricos excepcionais,
em encostas.
rocha/detrito, misturado com a água, tem
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
comportamento de líquido viscoso, de
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
Movimentos de massa (cont.)

extenso raio de ação.


sobre os materiais das encostas.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à subsidência e colapso,
Subsidência e colapso

particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.


◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
Afundamento rápido ou gradual do
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
terreno devido ao colapso de cavidades,
sobre os materiais susceptíveis à subsidência e colapso.
redução da porosidade do solo ou
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
deformação de material argiloso.
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
Erosão Costeira/Marinha

socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão costeira e


marinha, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Processo de desgaste que ocorre ao longo
funcionamento de obras de engenharia para a contenção da
da linha da costa e se deve à ação das
erosão costeira e marinha; e a proteção das populações e
ondas, correntes marinhas e marés.
infraestruturas em zona costeira.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
Erosão

socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão de margem


fluvial, particularmente aqueles pertencentes a grupos
Erosão de Margem Fluvial

específicos de vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

funcionamento de obras de engenharia para a contenção


Desgaste das encostas dos rios que da erosão de margem fluvial e proteção das populações e
provoca desmoronamento de barrancos. infraestruturas.
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras

de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica


sobre os materiais susceptíveis à erosão de margens fluvial.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de


Laminar

Remoção de uma camada delgada e conservação dos solos e manutenção de cobertura vegetal.
uniforme do solo superficial provocada ◆ População despreparada e não capacitada na compreensão do

por fluxo hídrico não concentrado. fenômeno e na execução de medidas preventivas e de resposta
ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão em ravina,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


recursos hídricos, a conservação dos solos e a manutenção da
Evolução, em tamanho e profundidade,
cobertura vegetal.
da desagregação e remoção das
Ravina

◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia


partículas do solo de sulcos provocada
para a contenção de erosão em ravinas e a proteção das
por escoamento hídrico superficial
populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

e dissipação de energia em zonas urbanas que reduzam a ação


Erosão Continental
Erosão (cont.)

hidráulica sobre as áreas susceptíveis e/ou já impactadas pela


erosão em ravinas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveisà erosão em boçoroca,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Evolução do processo de ravinamento, recursos hídricos, a conservação dos solos e a manutenção da
em tamanho e profundidade, em que a cobertura vegetal.
Boçoroca

desagregação e remoção das partículas ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

do solo são provocadas por escoamento para a contenção de erosão em boçorocas e a proteção das
hídrico superficial e subsuperficial populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

e dissipação de energia em zonas urbanas que reduzam a ação


hidráulica sobre as áreas susceptíveis e/ou já impactadas pela
erosão em boçorocas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Hidrológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a inundações,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
Submersão de áreas fora dos limites
◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
normais de um curso de água em zonas
Inundações

condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço


que normalmente não se encontram
e a manutenção da cobertura vegetal.
submersas. O transbordamento ocorre de
◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
modo gradual, geralmente ocasionado
e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
por chuvas prolongadas em áreas de
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
planície.
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 163

Risco Hidrológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a enxurradas,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
Escoamento superficial de alta vulnerabilidade.
velocidade e energia, provocado por ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
Enxurradas

chuvas intensas e concentradas, condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
normalmente em pequenas bacias e a manutenção da cobertura vegetal.
de relevo acidentado. Caracterizada ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

pela elevação súbita das vazões e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
de determinada drenagem e ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

transbordamento brusco da calha aluvial. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a alagamentos,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
Extrapolação da capacidade de ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
Alagamentos

escoamento de sistemas de drenagem condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
urbana e consequente acúmulo de e a manutenção da cobertura vegetal.
água em ruas, calçadas ou outras ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

infraestruturas urbanas, em decorrência hídrica em zonas urbanas.


de precipitações intensas. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a ventos costeiros,
(mobilidade de dunas)

particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de


Ventos costeiros

vulnerabilidade.
Intensificação dos ventos
Sistemas de Grande Escala/Escala Regional

◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de ações para a


nas regiões litorâneas,
conservação e restauração da cobertura vegetal por intermédio
movimentando dunas de areia
de plantas fixadoras do solo, assim como a construção de
sobre construções na orla.
barreiras vegetais.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Ciclones

resposta ao desastre.
Ondas violentas que geram uma
maior agitação do mar próximo
Marés de tempestade

à praia. Ocorrem quando rajadas • População residente ou que desenvolve atividades


fortes de vento fazem subir o socioeconômicas em áreas susceptíveis a marés de tempestade,
nível do oceano em mar aberto e particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
essa intensificação das correntes vulnerabilidade.
marítimas carrega uma enorme ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

quantidade de água em direção do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


ao litoral. Em consequência, as resposta ao desastre.
praias inundam e as ondas se
tornam maiores.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Massa de ar frio que avança sobre


uma região, provocando queda
Zonas de Convergência

• Existência de populações, particularmente os denominados


brusca da temperatura local, com
“grupos vulneráveis” sem condições de moradia.
Frentes frias /

período de duração inferior à


◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a
friagem. A Zona de Convergência
longo prazo e de medidas de emergência.
é uma região ligada à tempestade
Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau funcionamento
causada por uma zona de baixa
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
pressão atmosférica, provocando
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
forte deslocamento de massas de
resposta ao desastre.
ar, vendavais, chuvas intensas e
até queda de granizo.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
Coluna de ar que gira de forma construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
violenta e muito perigosa, ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
Tornados

estando em contato com a terra e funcionamento.


a base de uma nuvem de grande ◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas

desenvolvimento vertical. Essa e bens (seguros).


coluna de ar pode percorrer ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

vários quilômetros. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
Tempestade de

funcionamento.
Tempestade com intensa
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
raios

atividade elétrica no interior


e bens (seguros).
das nuvens, com grande
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Tempestades

desenvolvimento vertical.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
Tempestade Local/Convectiva

• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de


construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
Granizo

Precipitação de pedaços
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
irregulares de gelo.
e bens (seguros).
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
Chuvas intensas

◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

São chuvas que ocorrem com funcionamento.


acumulados significativos ◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas

causando múltiplos desastres. e bens (seguros).


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
◆ Ausência total ou parcial de barreiras vegetais.
Vendaval

Forte deslocamento de uma ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

massa de ar em uma região. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 165

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Período prolongado de tempo


Onda de calor

excessivamente quente e • Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau


desconfortável, onde as funcionamento.
temperaturas ficam acima de ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

um valor normal esperado para do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


aquela região em determinado resposta ao desastre.
período do ano.
• Existência de populações, particularmente os denominados
Período de tempo que dura, no “grupos vulneráveis” sem condições de moradia.
Temperaturas extremas

mínimo, de três a quatro dias, ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a


Friagem

e os valores de temperatura longo prazo e de medidas de emergência.


mínima do ar ficam abaixo ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

dos valores esperados para funcionamento.


determinada região em um ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Onda de frio

período do ano. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Existência de populações, particularmente os denominados
“grupos vulneráveis” sem condições de moradia.
◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a

Formação de uma camada de longo prazo e de medidas de emergência.


Geadas

cristais de gelo na superfície ou ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

na folhagem exposta. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a longo
prazo e de medidas de emergência.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Período prolongado de baixa ou recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
Estiagem

nenhuma pluviosidade, em que cobertura vegetal.


a perda de umidade do solo é ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

superior à sua reposição. para a captação, o armazenamento e a distribuição de água


superficial e subterrânea para diferentes fins.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
Seca

• Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a longo


prazo e de medidas de emergência.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Estiagem prolongada, durante
recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
período de tempo suficiente
cobertura vegetal.
Seca

para que a falta de precipitação


◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia
provoque grave desequilíbrio
para a captação, o armazenamento e a distribuição de água
hidrológico.
superficial e subterrânea para diferentes fins.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Ambiental e Áreas • Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau


Incêndio Florestal

Áreas de Proteção

de Preservação funcionamento.
Em Parques,

Permanente
Propagação de fogo sem controle,
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle
em qualquer tipo de vegetação
preventivo e emergencial de incêndios florestais.
situada em áreas legalmente
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
protegidas.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
com reflexos na
qualidade do ar

Propagação de fogo sem controle, funcionamento.


Em áreas não
protegidas,

em qualquer tipo de vegetação ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle

que não se encontre em áreas sob preventivo e emergencial de incêndios florestais.


Seca (cont.)

proteção legal, acarretando em ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

queda da qualidade do ar. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
funcionamento.
Baixa umidade do ar

◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Queda da taxa de vapor d’água recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
suspensa na atmosfera para cobertura vegetal.
níveis abaixo de 20%. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

para a captação e o armazenamento de água superficial.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• Os grupos vulneráveis compreendem mulheres grávidas (zika), os


Aumento brusco, significativo e espectros de idade, os trabalhadores rurais.
transitório da ocorrência de doenças ◆ Grandes aglomerações humanas que favorecem a dispersão dos

geradas por vírus. vírus (gripe);


◆ Baixa adesão às campanhas de vacinação.

◆• Presença de vetores transmissores dos ◆ Ausência de medidas de emergência para epidemias.


Doenças
vírus (Aedes aegypti no caso da dengue, ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas
Infecciosas Virais
zika, chikungunya e febre amarela); de saúde que reduzam os efeitos das doenças infecciosas
◆• Grande aglomerações demográficas que virais (superlotação de unidades de saúde, diagnóstico tardio,
favorecem à propagação dos vírus; vigilância sentinela).
◆• Fracas ou inexistentes campanhas de ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

vacinação em massa. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Concentração de grupos vulneráveis de população (baixa renda
e escolaridade; idosos, mulheres e crianças, imunodeprimidos
– exceção: crianças maiores e adultos jovens são o estrato da
população mais vulnerável à meningite meningocócica).
Aumento brusco, significativo e ◆ Grandes aglomerações humanas que favorecem a propagação

transitório da ocorrência de doenças das bactérias (meningite e coqueluche).


geradas por bactérias. ◆ Fiscalização sanitária insuficiente (botulismo).

◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas e obras


Doenças
◆• Presença de vetores transmissores de saneamento básico (peste, cólera).
Infecciosas
das bactérias (pulgas) e de animais ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida
Bacterianas
reservatórios (roedores); (habitação, planejamento urbano) e de medidas de emergência
◆• Campanhas inadequadas de prevenção (contenção de enchentes).
de doenças sexualmente transmissíveis ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas

(sífilis); de saúde e capacitação de recursos humanos que reduzam os


efeitos das doenças infecciosas bacterianas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 167

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Aumento brusco, significativo e • Alguns grupos populacionais são mais vulneráveis, como os
transitório da ocorrência de doenças espectros de idade, imunodeprimidos e os de baixa renda e
geradas por parasitas. escolaridade.
◆ Atividades laborais (garimpo, agricultura) podem favorecer a

◆• Presença de vetores nas áreas urbanas transmissão de algumas doenças parasitárias, como é o caso da
ou silvestres com atividade antrópica malária.
(Anopheles sp., Lutzomyia sp.); ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida

Doenças ◆• Presença de animais reservatórios (saneamento, habitação) e de medidas de emergência (controle


Infecciosas dos parasitas em área urbana (cães vetor e reservatórios).
Parasitárias e roedores) ou silvestre (raposas, ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas

macacos, caramujos); de saúde que reduzam os efeitos das doenças infecciosas


◆• Invasão humana de áreas de mata parasitárias (vigilância epidemiológica, vigilância sentinela,
onde a doença apresenta ciclo tratamento rápido dos casos positivos).
epidemiológico estabelecido (malária, ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

leishmaniose); do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


◆• Adaptação dos vetores às áreas urbanas resposta ao desastre.
(Aedes albopictus)
• Alguns grupos populacionais são mais susceptíveis,
principalmente os que apresentam alteração do sistema
imunológico, como os transplantados, hospitalizados, com
Aumento brusco, significativo e
malignidades hematológicas e HIV positivos,
transitório da ocorrência de doenças
◆ Para algumas doenças fúngicas, recém-nascidos e idosos são
geradas por fungos.
mais susceptíveis.
Doenças ◆ Atividades de caça e turismo ecológico.
◆• Presença de esporos de fungos no solo,
Infecciosas ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de
matéria orgânica ou vegetação.
Fúngicas unidades de saúde e capacitação de recursos humanos
◆• Treinamento inexistente ou inadequado
que reduzam a infecção por doenças fúngicas no ambiente
de recursos humanos em saúde para
hospitalar.
evitar ou reduzir as infecções fúngicas
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
em ambiente hospitalar.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.

Infestações de animais ocorrem quando


• Agricultores podem ser mais afetados por infestações de animais,
alteram o equilíbrio ecológico de uma
como gafanhotos, formigas, caramujos e javalis.
região, de uma bacia hidrográfica ou
◆ Pecuaristas são mais susceptíveis no caso de cobras, morcegos e
quando um bioma é afetado por suas
javalis.
ações predatórias.
◆ A população extrativista é mais vulnerável ao ataque de animais

peçonhentos, como as cobras.


◆• Degradação Ambiental (supressão das
◆ Apicultores podem ser diretamente afetados pela ação de
florestas, produção de lixo).
espécies exóticas ou híbridas de abelhas melíferas.
◆• Pressão antrópica sobre os ambientes
◆ Pacientes internados em hospitais estão mais expostos a infec-
Infestações de naturais para ampliar as áreas de
ções devido à contaminação do ambiente por ­micro-organismos
Animais agricultura e pecuária, expansão
carreados por formigas.
urbana.
◆ O ambiente natural pode ser severamente afetado pela
◆• Introdução de espécies exóticas com
infestação de animais, com consequências a longo prazo para a
alto potencial de invasão.
provisão de serviços ecossistêmicos.
◆• Ausência de políticas, monitoramento e
◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem
fiscalização ambiental.
os impactos da introdução de espécies exóticas no país e os
◆• Extinção ou redução da população de
possíveis prejuízos econômicos e ecológicos associados.
predadores que, no ambiente natural,
◆ Vigilância e controle de espécies exóticas que podem se tornar
mantinham a espécie praga em níveis
praga ecológica ou urbana.
adequados.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Naturais

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Maré vermelha: aglomeração de


microalgas em água-doce ou em água
Florações de algas nocivas(Marés vermelhas e cianobactérias)

salgada suficiente para causar alterações


físicas, químicas ou biológicas em sua
composição, caracterizada por uma
mudança de cor, tornando-se amarela, • Os grupos mais vulneráveis compreendem os consumidores de
laranja, vermelha ou marrom. frutos do mar, trabalhados da aquicultura, moradores e turistas
de regiões litorâneas, recém-nascidos.
◆• Cianobactérias em reservatórios: ◆ Ausência de levantamentos sobre a ocorrência de florações
Infestações de Algas

Aglomerações de cianobactérias em nocivas em nível nacional e os direcionadores associados.


reservatórios receptores de descargas ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas

de dejetos domésticos, industriais e/ de saneamento que evitem a eutrofização dos ambientes


ou agrícolas, provocando alterações aquáticos.
das propriedades físicas, químicas ou ◆ Ausência e/ou inadequado sistema de vigilância e controle do

biológicas da água. uso de produtos químicos agrícolas e da produção de efluentes


industriais que favoreçam as florações nocivas em reservatórios.
◆• Degradação Ambiental (como a ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

eutrofização dos ecossistemas do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


aquáticos). resposta ao desastre.
◆• Pressão antrópica sobre os ambientes
naturais de água-doce ou salgada
(construção de portos, reservatórios).
◆• Ausência de políticas, monitoramento e
fiscalização ambiental.
Quaisquer infestações que alterem o • Vigilância e controle de espécies exóticas que podem se tornar
equilíbrio ecológico de uma região, praga ecológica ou para a agricultura.
bacia hidrográfica ou bioma afetado ◆ Áreas altamente degradadas são mais sujeitas à introdução de

por suas ações predatórias (outras espécies exóticas invasoras.


pragas prejudiciais à agricultura e ◆ O uso intensivo de agrotóxicos está relacionado à resistência de

à pecuária, como algumas espécies pragas biológicas.


vegetais e de fungos). ◆ Impactos são mais persistentes na agricultura de subsistência,

em monoculturas e em unidades de conservação.


Outras Infestações
◆• Degradação Ambiental. ◆ Animais criados a pasto são mais susceptíveis a intoxicações,

◆• Pressão antrópica sobre os ambientes embora possa ocorrer contaminação da silagem.


naturais para construção de estradas, ◆ O ambiente natural pode ser severamente afetado pela

expansão da área urbana, dentre outros. infestação vegetal, com consequências a longo prazo para a
◆• Introdução de espécies exóticas com provisão de serviços ecossistêmicos.
alto potencial de invasão. ◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem

◆• Ausência de políticas, monitoramento e os impactos da introdução de espécies exóticas no país e os


fiscalização ambiental. possíveis prejuízos econômicos e ecológicos associados.
Fonte: SEDEC/MI.
| 169

2
RISCOS DE DESASTRES
RELACIONADOS
A EVENTOS
TECNOLÓGICOS

Os desastres tecnológicos são causados por erros ou falhas no fun-


cionamento de sistemas projetados, construídos e operados pelo ser
humano. A descrição e análise dos riscos desses tipos de desastres
incluem a caracterização dos respectivos agentes, processos causais,
vulnerabilidades e impactos decorrentes.

Ao final do capítulo é apresentada uma matriz na qual, para cada tipo


de desastre descrito anteriormente, são indicadas as ameaças e os
principais fatores de vulnerabilidade da população ou do ambiente
potencialmente expostos. Com base nessa matriz, os profissionais de
Proteção e Defesa Civil, inicialmente, podem realizar avaliações das
condições de ameaça e de vulnerabilidade locais ou regionais, com
vistas a formular estratégias e ações para sua redução parcial ou total.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

2.1. SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS • Pesquisa;


RADIOATIVAS • Produção de radioisótopos (ciclotron);
• Prospecção de petróleo;
2.1.1. Substâncias e Equipamentos • Radiofarmácia;
Radioativos de Uso em Pesquisas, • Radiografia industrial;
Atividades Industriais, Usinas • Radioimunoensaio;
Nucleares, Unidades de Saúde • Radioterapia;
(Fontes Radioativas) • Serviços – manutenção de equipamentos;
• Técnicas analíticas;
• Traçadores radioativos industriais.
Definição
Ocorrência
Substâncias perigosas radioativas são aquelas que
contêm radionuclídeos, elementos emissores de radia- Não há registro de reconhecimentos de situação de
ção eletromagnética ionizante, que, em determinadas emergência (SE) ou estado de calamidade pública
circunstâncias, podem causar danos à saúde humana, (ECP) relacionados com substâncias e equipamentos
ao ambiente e ao patrimônio público e privado. radioativos no Brasil entre 2005 e 2015251.

Caracterização
2.1.2. Resíduos Radioativos
Conforme a Comissão Nacional de Energia Nuclear
(CNEN), são consideradas atividades que utilizam Definição
energia nuclear:
Resíduos radioativos são quaisquer resíduos que con-
• Geração de energia elétrica; tenham materiais radioativos.
• Medicina nuclear;
• Aplicações na indústria, agricultura e meio am- Caracterização
biente;
• Pesquisa e ensino relacionados a tecnologias Resíduos radioativos podem ser gerados em qualquer
aplicadas; das atividades e instalações que utilizam substâncias
• Exploração e pesquisa em beneficiamento das radioativas e, da mesma forma que estas, também po-
reservas minerais nucleares (urânio, tório); dem causar danos à saúde humana, ao ambiente e ao
• Defesa, especialmente relacionada à propulsão patrimônio público e privado.
nuclear;
• Tratamento e armazenamento de rejeitos ra- Os resíduos radioativos podem resultar do próprio
dioativos; material radioativo (fontes radioativas usadas) ou do
• Segurança e proteção radiológica da população. contato deste e consequente contaminação de subs-
tâncias não radioativas.
A CNEN é o órgão superior de planejamento, orienta-
ção, supervisão, regulamentação, licenciamento e fis- A contaminação radioativa é a presença de material
calização das atividades relacionadas à produção e ao radioativo em local indevido, podendo ocorrer no
uso da energia nuclear no Brasil. meio ambiente, nos lugares públicos, nas pessoas etc.
Já a irradiação é a exposição de um objeto ou um cor-
Entre os tipos de instalações que necessitam de auto- po à radiação, o que pode ocorrer a alguma distância,
rização da CNEN para operar estão: sem necessidade de contato com a fonte de radiação.
Ser irradiado não significa, portanto, ser contamina-
• Desmontagem de para-raios; do. Uma pessoa ou objeto irradiado não guarda, em
• Distribuidor de fontes e de dispositivos com fon- seu corpo, qualquer propriedade radioativa que possa
te incorporada selada; ser transmitida. Entretanto, ao ser contaminado com
• Inspeção corporal e de bagagem e contêineres; material radioativo, o elemento passa a irradiar o seu
• Irradiador de sangue; entorno. A contaminação radioativa pode também se
• Irradiador por fonte e por equipamento gerador propagar por contato e contaminar objetos e pessoas
de radiação; antes não contaminados. A descontaminação radioló-
• Laboratório de calibração de instrumentos e de gica consiste em remover o material contaminante do
monitoração individual; local onde se encontra. Após a remoção do contami-
• Materiais contaminados; nante radioativo, não ocorre mais irradiação causada
• Medicina nuclear; por ele no local.
• Medidores nucleares – controle de processos e
sistemas portáteis; 251
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
| 171

O recolhimento e armazenamento de rejeitos radioati- entendimento entre a comunidade técnica, a mídia e


vos é uma atividade de responsabilidade legal exclusiva o público quanto à significância, para a segurança, de
da CNEN, que atende às instalações que geram rejeitos eventos anormais associados ao uso, armazenamento
radioativos que necessitam de destinação apropriada. e transporte de fontes e materiais radioativos.
Os rejeitos radioativos são recolhidos e armazenados
em depósitos intermediários existentes nas seguintes A Escala INES se aplica a eventos ocorridos tanto den-
unidades da CNEN: tro quanto fora de uma determinada instalação, incluin-
do ocorrências envolvendo a perda ou roubo de fontes
• Rio de Janeiro: Instituto de Engenharia Nuclear ou materiais radioativos e a descoberta de fontes órfãs,
(IEN); tais como fontes encontradas em ferros-velhos. A Esca-
• São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e la INES é também usada para a classificação de even-
Nucleares (IPEN); tos que resultem na exposição de trabalhadores e do
• Belo Horizonte: Centro de Desenvolvimento da público em instalações médicas, de pesquisa e educa-
Tecnologia Nuclear (CDTN); cionais. A Escala INES usa uma classificação numérica
• Recife: Centro Regional de Ciências Nucleares para representar a significância de eventos associados
do Nordeste (CRCN-NE); com fontes de radiação ionizante. Os eventos são clas-
• Goiânia: Centro Regional de Ciências Nucleares sificados em sete níveis, sendo os níveis de 1 a 3 de-
do Centro-Oeste (CRCN-CO). nominados incidentes e os níveis de 4 a 7 denominados
acidentes. A escala é construída de forma que a severi-
Além disso, a CNEN realiza o controle institucional do dade de um evento é aproximadamente dez vezes maior
Depósito Final de Abadia de Goiás, onde estão arma- a cada incremento de nível (Figura 109).
zenados definitivamente os rejeitos gerados em decor-
rência do acidente com Césio-137 em Goiânia. Eventos sem significância para a segurança são classi-
ficados como Abaixo da Escala ou nível 0. Eventos em
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) que há apenas degradação dos sistemas de segurança
desenvolveu, em 1990, juntamente com a Agência de projetados para prevenir a sua ocorrência são classi-
Energia Nuclear da Organização para a Cooperação e ficados como nível 1. Eventos em que há degradações
Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Escala Inter- mais sérias dos sistemas de segurança ou algumas
nacional de Eventos Nucleares e Radiológicos (Inter- consequências não severas para pessoas e o meio am-
national Nuclear and Radiological Event Scale – INES). biente são classificados como nível 2 ou 3. Eventos em
O propósito da escala é facilitar a comunicação e o que há liberação de material radioativo que requer ou

Figura 109. ESCALA INTERNACIONAL DE EVENTOS


Outros Dados e Informações NUCLEARES E RADIOLÓGICOS (INES).

Substâncias perigosas radioativas


1. COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLE-
AR – CNEN
Acidente
Severo 7
Acidente

www.cnen.gov.br
2. AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA Acidente
Sério 6
ATÔMICA – AIEA (INTERNATIONAL ATOMIC
ENERGY AGENCY – IAEA)
www.iaea.org
Acidente com conse-
quências mais amplas 5
Instalações autorizadas pela CNEN para de-
senvolvimento de atividades relacionadas à
Acidente com
consequências locais 4
produção e ao uso da energia nuclear
Incidente sério
3
Incidente

3. COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLE-


AR – CNEN
www.cnen.gov.br/instalacoes-autorizadas Incidente
2
4. REJEITOS RADIOATIVOS
www.cnen.gov.br/armazenamento-de-rejei-
tos-radiotivos
Anomalia
1
5. ESCALA INTERNACIONAL DE EVENTOS NU-
CLEARES E RADIOLÓGICOS – INES
www-ns.iaea.org/tech-areas/emergency/ ABAIXO DA ESCALA/NÍvEL 0
SEM SIGNIFICÂNCIA PARA A SEGURANÇA
ines.asp
Fonte: AIEA (www-ns.iaea.org/tech-areas/emergency/ines.asp).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

pode requerer a implementação de providências são relacionados com resíduos radioativos no Brasil entre
classificados como nível 4 a 7. 2005 e 2015252.

Ocorrência O Quadro 14 apresenta exemplos de eventos nucleares e


radiológicos e sua classificação na escala INES.
Não há registro de reconhecimentos de situação de
emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP) 252
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Quadro 14. EXEMPLOS DE EVENTOS NUCLEARES E RADIOLÓGICOS E CLASSIFICAÇÃO NA ESCALA INES

Classificação Ines Evento

Descoberta de varetas de combustível danificadas durante descarregamento do


0 Abaixo da Escala
núcleo e inspeções de combustível, Usina Termonuclear Krsko, Eslovênia, 2013.
Exposição de dois trabalhadores a doses de radiação superiores às admissíveis,
1 Anomalia
Usina Termonuclear Rajasthan-5, Índia, 2012.
Parada do reator devido à pressão alta no vaso do reator, Usina Termonuclear
2 Incidente
Laguna Verde-2, México, 2011.
Liberação de 131J para o ambiente a partir de uma unidade de produção de rádio
3 Incidente sério
elementos, Fleurus, Bélgica, 2008.
Material radioativo em depósito de sucatas resultou em exposição aguda dos
4 Acidente com consequências locais
trabalhadores do depósito, Nova Deli, Índia, 2010.
Quatro pessoas morreram após exposição a uma fonte radioativa de alta atividade
5 Acidente com consequências mais amplas
abandonada e rompida, Goiânia, Brasil, 1987.
Liberação significativa de material radioativo para o ambiente após a explosão de
6 Acidente sério
tanque de resíduos de alta atividade, Kyshtym, Rússia, 1957.
Liberação significativa de material radioativo para o ambiente, Chernobyl, Ucrânia,
7 Acidente severo
1986 e Fukushima, Japão, 2011.
Fonte: AIEA (www-ns.iaea.org/downloads/iec/ines_flyer.pdf).

O Acidente de Goiânia

Em 13 de setembro de 1987, na cidade de Goiânia putado, e 249 pessoas das 112.800 monitoradas pela
(GO), um equipamento contendo uma fonte radioa- CNEN apresentaram níveis de radiação acima do nor-
tiva de cloreto de césio (Cs-137), que se encontrava mal para a região. O acidente também provocou a con-
abandonado em uma clínica desativada, foi roubado taminação de vegetais a um raio de aproximadamente
e, posteriormente, vendido a um ferro-velho. Violada 50 metros dos principais focos de contaminação e,
a blindagem de chumbo e aberta a cápsula onde se por meio das redes de águas pluviais e de esgotos, de
encontrava o Cs-137, adultos e crianças, encantados trechos de cursos d’água situados na vizinhança dos
pelo fato desse material emitir uma luz azul brilhante locais contaminados. Cerca de 1.700 toneladas de re-
e não sabendo que se tratava de material radioativo, jeitos radioativos foram geradas em decorrência do
manipularam aquele “pó cintilante”, distribuindo-o acidente, que foram acondicionados em contêineres e
entre parentes e amigos. Um encadeamento seguinte tambores e armazenados em local provisório por cer-
de fatos resultou na contaminação de três depósitos ca de dez anos até serem finalmente depositados em
de ferro-velho, um quintal, algumas residências, um repositório construído em Abadia de Goiás, a 20 km de
escritório da Vigilância Sanitária e diversos locais pú- Goiânia. O acidente teve também consequências bas-
blicos. Devido ao fato de a cápsula ter sido rompida tante danosas para o Estado de Goiás, cujos cidadãos
a céu aberto, houve também contaminação direta do foram discriminados e produtos foram rejeitados nos
solo. O acidente de Goiânia resultou em quatro mortes demais estados durante longo tempo.
nos dois primeiros meses após o acidente e outras três
mortes alguns anos depois. Vinte pessoas foram hos- Fonte: UFRGS/CNEN, 2014, disponível em www.cnen.
pitalizadas, tendo uma delas o antebraço direito am- gov.br/component/content/article?id=170
| 173

2.2. SUBSTÂNCIAS PERIGOSAS e dutoviário. Equipamentos típicos usados nestes mo-


NÃO RADIOATIVAS dais são, respectivamente, caminhões-tanque, vagões-
-tanque, navios-tanque e dutos.
2.2.1. Vazamento de Produtos
Químicos e Biológicos em Áreas Desastres durante o transporte de substâncias perigo-
Industriais e Outros Sítios sas não radioativas estão normalmente relacionados à
perda de contenção da substância transportada, resul-
tante de danos ao equipamento causados tipicamente
Definição por colisões, tombamentos (caminhões), descarrila-
mentos (vagões-tanque) e encalhes (navios-tanque).
Substâncias perigosas não radioativas são aquelas As causas mais comuns de dano à integridade dos du-
que não contêm radionuclídeos e que, dependendo das tos são interferência externa (escavações indevidas),
suas características físicas, químicas, biológicas e to- corrosão, defeito construtivo e movimento do terreno.
xicológicas, podem causar danos à saúde humana, ao
ambiente e ao patrimônio público e privado. Desastres envolvendo substâncias perigosas não ra-
dioativas estão normalmente associados à perda de
Caracterização contenção de uma ou mais substâncias, resultando em
incêndios, explosões ou liberações tóxicas.
Os desastres relacionados a substâncias perigosas não
radioativas podem ser divididos considerando: As liberações tóxicas resultam da emissão de uma ou
mais substâncias potencialmente danosas ao ambiente
a. Local de ocorrência: em instalações fixas que e, em particular, à saúde e à vida das pessoas expostas.
produzem, armazenam ou movimentam essas A emissão de substâncias tóxicas pode ser causada por
substâncias; em instalações ou meios utiliza- perdas de contenção em equipamentos, tais como tan-
dos para o transporte dessas substâncias. ques e tubulações, reações químicas descontroladas,
b. Tipo de evento: Explosões; Incêndios; Libera- ou reações de combustão ocorridas em incêndios e ex-
ções tóxicas. plosões. As liberações tóxicas ocorrem normalmente
c. Estado das substâncias envolvidas no evento: sob a forma líquida ou gasosa, possuindo estas últimas
Sólido; Líquido; Gasoso. geralmente um maior potencial de dano ao ser humano
devido à sua propagação mais rápida. Duas substân-
Substâncias perigosas não radioativas são produzidas, cias comumente envolvidas em liberações tóxicas são
armazenadas ou movimentadas em instalações de di- o cloro e a amônia, em razão da intensa difusão do seu
versos ramos de atividade. Os desastres envolvendo uso em instalações industriais e não industriais. Os
essas substâncias se originam normalmente nas áreas efeitos da exposição a uma substância tóxica depen-
em que elas são armazenadas ou movimentadas em dem de uma série de fatores, tais como tipo e quantida-
grandes quantidades. de da substância liberada, tempo e forma de exposição,
e capacidade de resistência dos indivíduos expostos.
Para o armazenamento de grandes quantidades de
substâncias no estado líquido e gasoso são utilizados Ocorrência
tanques, enquanto que sua movimentação ocorre tipi-
camente por meio de tubulações. Entre 2005 e 2015, houve apenas um registro de reco-
nhecimento de situação de emergência (SE) e estado de
Eventos acidentais relacionados a tanques de arma- calamidade pública (ECP) relacionado com vazamento
zenamento incluem transbordamento, colapso, furo, de produtos químicos e biológicos em áreas industriais
ruptura, incêndio e explosão. Entre as causas típicas e outros sítios no Brasil, proveniente do Estado de Santa
destes eventos estão as falhas em procedimentos ope- Catarina253. Esse evento corresponde ao incêndio ocor-
racionais, de instrumentação e em equipamentos auxi- rido no armazém de um terminal marítimo no Município
liares (bombas), a corrosão, a descarga atmosférica, e de São Francisco do Sul na noite do dia 24 de setembro
a eletricidade estática. de 2013. No depósito estavam armazenados cerca de
10 mil litros de fertilizante à base de nitrato de amônio,
Eventos acidentais típicos de tubulações industriais são cuja combustão resultou na formação de uma nuvem
vazamentos associados a furo, ruptura ou perda de ve- tóxica que chegou a 10 km de extensão. Moradores de
dação em juntas e conexões, causados comumente pela diversos bairros da cidade foram obrigados a abandonar
corrosão interna e externa, pela sobrepressão durante suas residências e várias pessoas necessitaram atendi-
bombeio por deslocamento positivo e devido à dilatação mento na rede hospitalar do município com irritação nos
térmica de líquido confinado, e pelo impacto mecânico. olhos e na garganta, e dificuldade para respirar254.

O transporte de substâncias perigosas não radioativas 253


http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
é feito pelos modais rodoviário, ferroviário, aquaviário 254
Fonte: Jornais Zero Hora e Estado de São Paulo.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

Cubatão, Brasil, 25 de fevereiro de 1984

Um vazamento de 700 mil litros de gasolina oca-


sionou um incêndio de proporções catastróficas
em Cubatão, São Paulo. O vazamento ocorreu
em um duto de 18” situado próximo a uma favela
(Vila Socó) com cerca de 8 mil habitantes. O in-
cêndio, que durou cerca de dez horas, iniciou-se
nos primeiros minutos da madrugada, mas há
registro de que o vazamento tenha sido percebi-
do por alguns moradores pelo menos duas horas
antes do fogo. Há registro também de pessoas
que recolheram parte da gasolina vazada e a es-
tocaram em suas residências. O incêndio resul-
tou na destruição completa de uma área equi-
valente a 100 mil m2, correspondente a 3/4 da
favela. Os corpos de 67 pessoas – quase todos
irreconhecíveis – foram encontrados entre as
cinzas das casas. Entre os cerca de 200 feridos
com maior gravidade, vários não resistiram às
queimaduras e faleceram nos dias seguintes. No
entanto, o total de mortes comumente atribuído
na literatura ao acidente de Cubatão – 508 – su-
pera em muito esses números.

Fonte: SOUZA JR., 2002 apud QUARANTELLI,


1992; GLICKMAN et al., 1992; PORTO e FREITAS,
1996; KLETZ, 1988; FREMLIN, 1989; JORNAL DO
BRASIL, 1984.

Fonte: JORNAL CIDADE DE SANTOS, edição de


26 de fevereiro de 1984 – https://campogrande-
santos.wordpress.com/96-incendio-de-vila-so-
co-vila-sao-joseem-cubataosp-uma-data-para-
-nao-esquecer/

Bhopal, Índia, 3 de Dezembro de 1984

O mais grave acidente da história da indústria química min e, pela manhã, já se contavam mais de mil pessoas
ocorreu em uma planta de fabricação de pesticidas da mortas, algumas atingidas pelo gás a uma distância
empresa Union Carbide, situada na cidade indiana de de 8 km da planta. As condições meteorológicas con-
Bhopal. O acidente foi causado pela entrada de água tribuíram para agravar os efeitos do acidente: o vento
em um tanque subterrâneo contendo 41 toneladas de soprava na direção das ocupações populacionais pró-
isocianato de metila (MIC), uma substância altamente ximas à planta e a presença de inversão térmica redu-
tóxica. O contato do MIC com a água provocou uma ziu a velocidade de diluição da nuvem de gás. A exten-
reação exotérmica seguida do aumento da pressão no são da tragédia permanece incerta: a estimativa oficial
tanque. Isto provocou a abertura de uma válvula de do governo indiano indica 1.800 mortos; outras fontes
alívio, resultando na emissão para a atmosfera de cer- estimam este número entre 2.500 e 5 mil além de le-
ca de 25 toneladas de MIC e 13 toneladas de produtos sões graves em 30 mil a 50 mil pessoas e algum tipo de
da reação. A emissão acarretou a formação de uma dano físico a outras 200 mil a 300 mil.
nuvem tóxica que se espalhou sobre uma vasta área,
densamente habitada, cobrindo cerca de 40 km2. As Fontes: Souza Jr., 2002 apud Bowonder, 1985; Kletz,
primeiras mortes começaram a ser registradas pou- 1988; Lepkowsk, 1988; Mehta et al., 1990; Pandey e
cas horas após a liberação, ocorrida por volta de 0h 30 Bowonder, 1993.
| 175

2.2.2. Vazamento de Produtos


Químicos e Biológicos nos Sistemas Os Acidentes da Baía de Guanabara e do Rio Iguaçu
de Água Potável
Em 18 de janeiro de 2000, um derramamento de 1,3
mil m3 de óleo combustível na Baía de Guanabara,
Caracterização Rio de Janeiro, provocado pelo rompimento de um
duto entre a Refinaria Duque de Caxias e o Termi-
Raramente os vazamentos de substâncias perigosas atin- nal da Ilha d’Água, durou quatro horas e atingiu os
gem sistemas de adução e distribuição de água potável, manguezais da região. Não havia monitoramento
sendo mais comum os vazamentos afetarem mananciais para interromper o fluxo do óleo automaticamen-
nos quais é feita a captação de água para tratamento e te e os operadores usaram um veículo e depois um
uso humano. Esses vazamentos podem ser originados helicóptero para verificar o que estava acontecen-
tanto em instalações fixas que armazenam ou movimen- do antes de interromper o bombeamento. Uma vez
tam substâncias perigosas quanto durante o transporte constatado o vazamento, não havia meios suficien-
dessas substâncias, conforme discutido na seção anterior. tes para a contenção do óleo, que se espalhou pela
Baía e provocou danos importantes a diversas ati-
A contaminação dos sistemas de água potável também vidades como a pesca e o turismo.
pode ser causado por falhas nos processos de trata- Em 16 de julho de 2000, cerca de 4 mil m3 de óleo cru
mento e distribuição da água, frequentemente devido vazaram por aproximadamente duas horas da Refina-
à deterioração das tubulações e à baixa pressão na ria Getúlio Vargas, Araucária, região metropolitana
rede, permitindo o contágio da água potável com água de Curitiba. O acidente foi provocado pela ruptura de
subterrânea eventualmente contaminada. uma junta de expansão de uma tubulação durante o
bombeamento de óleo do Terminal de São Francisco
Ocorrência do Sul, em Santa Catarina, para a refinaria. A maior
parte do óleo derramado percorreu uma extensão de
Não há registro de reconhecimentos de situação de 2.800 metros ainda no interior da refinaria até atin-
emergência (SE) ou estado de calamidade pública gir o Rio Barigui e, em seguida, o Rio Iguaçu, um dos
(ECP) relacionados com vazamento de produtos quími- principais rios do Paraná, formando uma mancha com
cos e biológicos nos sistemas de água potável no Brasil cerca de 20 km de extensão. O derramamento afetou
entre 2005 e 2015255. a fauna e a flora ribeirinhas, além de provocar a sus-
pensão do abastecimento de água potável para a po-
pulação das cidades próximas.

Fonte: SOUZA JUNIOR et al., 2002.


Outros Dados e Informações

COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO


PAULO – CETESB Ocorrência
emergenciasquimicas.cetesb.sp.gov.br
A Figura 110 apresenta os registros de reconhecimen-
tos de situação de emergência (SE) e estado de cala-
midade pública (ECP) relacionados com vazamento de
2.2.3. Vazamento de Produtos Q ­ uímicos produtos químicos e biológicos em ecossistemas la-
e Biológicos em Ecossistemas Lacustres, custres, fluviais, aquíferos e marinhos no Brasil entre
Fluviais, Aquíferos e Marinhos 2005 e 2015.

2.3. CONFLITOS BÉLICOS


Caracterização
2.3.1. Vazamento de Produtos Nucleares,
Vazamentos de substâncias perigosas originados nas Radiológicos, Químicos ou Biológicos,
instalações e atividades podem atingir e afetar ambien-
tes aquáticos, tais como os rios, os lagos, as baías e o com Contaminação em Decorrência de
mar. Destacam-se particularmente os derramamentos Ações Militares ou Terroristas
de óleo e derivados durante o transporte (rodoviário,
ferroviário, aquaviário e dutoviário) e em instalações Caracterização
portuárias e terminais fluviais e marítimos, e platafor-
mas de exploração e produção de petróleo. Diversas substâncias perigosas radioativas e não ra-
dioativas e materiais biológicos podem ser usados com
255
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados finalidade bélica. Conhecidas como armas de destruição
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

Figura 110. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM VAZAMENTO DE PRODUTOS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS EM ECOSSISTEMAS LACUSTRES, FLUVIAIS,
AQUÍFEROS E MARINHOS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

10
9
N° DE RECONHECIMENTOS

8
7
6
5
4
3
2
1
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

em massa, essas substâncias e materiais se dividem


em armas biológicas, químicas e nucleares. Conceitos:

As Armas Biológicas são sistemas complexos que dis- Príons são agentes infectantes compostos por mo-
seminam organismos ou toxinas causadores de doen- léculas proteicas. O nome príon vem do inglês pro-
ças para prejudicar ou matar pessoas, animais ou teinaceous infectious particles, que significa partí-
plantas. Além da aplicação militar, podem também ser culas proteicas infecciosas.
usadas para atentados políticos, a infecção de reba- Rickettsia é um gênero de bactérias que, tais como
nhos ou produtos agrícolas visando a causar falta de os vírus, crescem apenas dentro de células vivas.
alimentos e perda econômica, geração de catástrofes Causam doenças como o tifo epidêmico e a febre
ambientais e disseminação de doenças, medo e des- escaronodular ou botonosa.
confiança entre o público. Toxina é o veneno derivado de animais, plantas, mi-
cro-organismos ou substâncias similares produzi-
Quase todo organismo (bactérias, vírus, fungos, príons das sinteticamente.
ou rickettsiae) ou toxina causador de doenças pode ser
usado em armas biológicas, manipulados a partir do
seu estado natural para torná-los mais adequados para
a produção em massa, armazenamento e disseminação senvolvimento, produção e armazenamento de armas
como armas. Exemplos de agentes e doenças associa- químicas. Nas décadas de 1970 e 1980, estima-se que
dos a armas biológicas são aflatoxina, anthrax, toxina 25 países estavam desenvolvendo capacitação em ar-
botulínica, ricina, febre Q, varíola e tularemia. mas químicas. Porém, desde o fim da II Guerra Mun-
dial, há registro do uso de armas químicas em poucas
O uso moderno de armas químicas começou na I Guer- ocasiões, notadamente pelo Iraque na década de 1980
ra Mundial. Essas armas consistiam basicamente de contra o Irã.
substâncias químicas comerciais bem conhecidas (clo-
ro, fosgênio e gás mostarda) colocadas em munições As Armas Nucleares são as mais perigosas. Apenas
padrão, tais como granadas ou projéteis de artilharia. um artefato pode destruir uma cidade inteira, matan-
Os efeitos foram devastadores, resultando em cerca de do potencialmente milhões de pessoas e ameaçando o
100 mil mortes. Desde a I Guerra Mundial, as armas ambiente natural e as vidas das gerações futuras devi-
químicas vitimaram mais de 1 milhão de pessoas. do aos seus efeitos catastróficos de longo prazo. Em-
bora armas nucleares tenham sido usadas em guerra
Apesar do Protocolo de Genebra, assinado em 1925, apenas duas vezes – nos bombardeios de Hiroshima e
que proibiu o uso de armas químicas em guerras, gases Nagasaki, em 1945, no fim da II Guerra Mundial – há
venenosos foram usados durante a II Guerra Mundial registro da existência de cerca de 22 mil artefatos béli-
em campos de concentração nazistas e na Ásia. No cos nucleares no mundo atualmente e da realização de
período da Guerra Fria ocorreu um significante de- aproximadamente 2 mil testes nucleares até hoje.
| 177

O Brasil aderiu aos principais instrumentos internacio-


nais de desarmamento e não proliferação de armas de O Incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria
destruição em massa: a Convenção para Proibição de
Armas Químicas (CPAQ), a Convenção para Proibição No dia 27 de janeiro de 2013, ocorreu um incêndio
de Armas Biológicas (CPAB), o Grupo de Supridores durante uma festa na Boate Kiss, no Município de
Nucleares (NSG) e o Regime de Controle de Tecnolo- Santa Maria, Rio Grande do Sul, que resultou em
gia de Mísseis (MTCR). A Constituição Federal do Brasil 242 óbitos. Sobreviventes relataram que o fogo
proíbe a utilização de armas nucleares. teve início próximo ao palco, logo após a utiliza-
ção de um sinalizador (artefato pirotécnico) por
Ocorrência um dos integrantes da banda que se apresentava
no local. As faíscas atingiram o teto, que era re-
Não há registro de reconhecimentos de situação de vestido com material inflamável, isopor e espuma,
emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP) e por isso o fogo se espalhou rapidamente, pro-
relacionados com vazamento de produtos nucleares, duzindo fumaça escura e tóxica. Algumas teste-
radiológicos, químicos ou biológicos, com contamina- munhas relataram que houve tentativa de apagar
ção em decorrência de ações militares ou terrorista no as chamas com um extintor de incêndio existente
Brasil entre 2005 e 2015256. no local, porém este não funcionou. A casa não
possuía o Plano de Prevenção e Proteção contra
Incêndio (PPCI) e estava com o alvará de funcio-
namento vencido. Representantes da boate afir-
Outros Dados e Informações mam que a casa contava com “todos os equipa-
mentos previsíveis e necessários para o sistema
1. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS de proteção e combate contra o incêndio”. Além
Armas de destruição em massa disso, a casa estava superlotada: a capacidade do
www.un.org/disarmament/wmd/bio estabelecimento era de até 750 pessoas, mas os
www.un.org/disarmament/wmd/chemical investigadores estimam que estavam presentes
www.un.org/disarmament/wmd/nuclear mais de mil pessoas. A boate possuía apenas um
www.unog.ch/80256EE600585943/(httpPa- acesso, utilizado tanto para entrada quanto para
ges)/29B727532FECBE96C12571860035A- saída, com largura de 3 metros, outro fator que
6DB?OpenDocument agravou a situação.
2. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA, TECNOLOGIA, Fonte: g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/tragedia-
INOVAÇÕES E COMUNICAÇÕES -incendio-boate-santa-maria/platb
Ações do Brasil para impedir o desenvolvi-
mento e a construção de armas de destrui-
ção em massa
www.mct.gov.br/index.php/content/view/
304026/Controle_de_Bens_Sensiveis.html

2.4. INCÊNDIOS URBANOS


2.4.1. Incêndios em Plantas Industriais,
Parques, Depósitos Comerciais e
Logradouros de Grande Densidade
de Usuários
Caracterização

Os incêndios são o resultado de uma reação química


(combustão) envolvendo a oxidação de uma substân-
cia (combustível), com liberação de energia princi-
palmente sob a forma de calor. Os incêndios podem
se manifestar como: jato de fogo ou chama estreita
(ignição de um vazamento de gás em uma tubulação
pressurizada), incêndio em poça (ignição de uma poça
de líquido inflamável), incêndio em nuvem (combustão Fonte: commons.wikimedia.org/wiki/File:Boate_
Kiss_2013.02.04._24.jpg
256
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

de uma nuvem de gás inflamável), bola de fogo (ig- duras graves a algumas centenas de metros do
nição de uma grande massa de gás inflamável libe- local da explosão.
rada abruptamente), ou incêndios em materiais só-
lidos combustíveis. Ondas de sobrepressão (ou ondas de choque) são on-
das de pressão maiores que a pressão atmosférica nor-
As explosões são liberações súbitas e violentas de energia mal, como aquelas resultantes de uma explosão.
acumulada. Eventos relacionados à liberação de energia
física ocorrem, por exemplo, na explosão de capacitores e Ocorrência
transformadores (energia elétrica) e na explosão de vasos
pressurizados (energia potencial de pressão). Explosões Não há registro de reconhecimentos de situação de
de origem química podem advir de reações exotérmicas emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP)
descontroladas e de combustão em misturas inflamáveis relacionados com incêndios em plantas industriais, par-
e materiais explosivos. Dois tipos de explosões merecem ques, depósitos comerciais e logradouros de grande den-
um comentário particular, em razão do seu elevado po- sidade de usuários no Brasil entre 2005 e 2015 (MI257).
tencial de destruição e raio de alcance.
2.4.2. Incêndios em Aglomerados
• A ignição de uma nuvem de gás ou vapor infla- Residenciais
mável origina uma explosão (confinada ou não
confinada), que dependendo das quantidades Caracterização
de gás ou vapor liberadas e das condições me-
teorológicas pode alcançar grandes distâncias Os incêndios podem ocorrer em uma casa, aglomera-
antes da sua ignição (em alguns casos superior dos de casas ou edificações com alta concentração de
a 100 metros). pessoas. Quanto à construção, as edificações podem
• O BLEVE (boiling liquid expanding vapor explo- ser classificadas em combustíveis (construídas to-
sion) é um fenômeno que pode acontecer em tal ou parcialmente em madeira), resistentes ao fogo
tanques pressurizados onde um gás liquefeito é (construídas com materiais que opõem resistência ao
mantido acima de sua temperatura de ebulição fogo – ferro, alvenaria de tijolos e outros), e incombus-
à pressão atmosférica. A ruptura abrupta do tíveis (construídas totalmente em concreto). O risco de
tanque libera seu conteúdo instantaneamente incêndio em uma edificação depende de quatro carac-
na forma de uma mistura bifásica gás/líquido terísticas básicas, conforme o Quadro 15.
que se expande rapidamente, configurando
uma grande nuvem. Caso a substância seja in- A evolução do incêndio em uma edificação tem três
flamável, uma eventual ignição da nuvem pro- fases: Inicial de elevação progressiva da temperatura
voca uma bola de fogo, que gera um intenso (ignição); Aquecimento (inflamação generalizada); e
fluxo térmico e ondas de sobrepressão. Depen- Resfriamento e extinção.
dendo da quantidade de gás envolvida, o calor
liberado é capaz de produzir mortes e queima- 257
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Quadro 15. CARACTERÍSTICAS QUE AFETAM O RISCO DE INCÊNDIO EM UMA EDIFICAÇÃO.

População da edificação Tipo de ocupação Tipo construtivo da edificação Localização da edificação

• Total; • Natureza das atividades • Materiais de construção e técnicas • Situação com relação às divisas
◆ Fixa e flutuante; desenvolvidas na aplicadas; do lote;
◆ Condições físicas e edificação; ◆ Tipo de sistema estrutural; ◆ Largura das ruas e outras

psicológicas; ◆ Materiais combustíveis ◆ Tipo de instalações de serviço; condições de acesso;


◆ Distribuição etária. trazidos para o interior ◆ Distribuição dos espaços; ◆ Distância do posto de

da edificação; ◆ Forma da edificação; bombeiros mais próximo;


◆ Tipos de materiais ◆ Volume da edificação; ◆ Abastecimento de água para o

armazenados e ◆ Número de pavimentos; combate;


manipulados; ◆ Área total da edificação; ◆ Meios de comunicação com o

◆ Tipos de equipamentos ◆ Área de cada pavimento; Corpo de Bombeiros.


existentes na edificação. ◆ Aberturas de ventilação;

◆ Materiais combustíveis

destinados a revestimento e
acabamento de paredes, tetos
e pisos, e incorporados aos
sistemas construtivos.
Fonte: Adaptado de MITIDIERI (2008).
| 179

Com a evolução do incêndio e a oxigenação do ambien-


Princípios do Fogo te, através de portas e janelas, o incêndio ganha ímpeto.
Os materiais passam a ser aquecidos por convecção e
Para que o fogo se forme e se mantenha, quatro radiação, acarretando a inflamação generalizada, e tor-
elementos devem coexistir: combustível, combu- nando impossível a sobrevivência no interior do ambien-
rente, calor e reação em cadeia. Somente mistu- te. O tempo para o incêndio alcançar o ponto de infla-
rados, no estado gasoso, dentro de determinadas mação generalizada é relativamente curto e depende,
proporções, o combustível e o comburente formam essencialmente, dos revestimentos e acabamentos uti-
a mistura inflamável. lizados no ambiente de origem, embora haja influência,
Nos estados sólido e líquido, os combustíveis pos- também, das circunstâncias em que o fogo começou.
suem diferentes mecanismos de formação da mis-
tura inflamável. No estado sólido, quando exposto A possibilidade de um foco de incêndio evoluir para
a um determinado nível de energia (calor ou radia- um grande incêndio depende, basicamente, dos se-
ção), o combustível sofre um processo de decom- guintes fatores:
posição térmica (pirólise), que gera produtos gaso-
sos que podem formar a mistura inflamável com o a) Quantidade, volume e espaçamento dos mate-
oxigênio do ar. No estado líquido, quando exposto a riais combustíveis no local;
um nível suficiente de energia, o combustível sofre b) Tamanho e situação das fontes de combustão;
evaporação, gerando vapores que também podem c) Área e localização das janelas;
formar a mistura inflamável com o oxigênio do ar. d) Velocidade e direção do vento;
A propagação do fogo ocorre por três formas de e) Forma e dimensão do local.
transmissão da energia:
A radiação emitida por forros e paredes, a convecção
• condução, na qual o calor é transmitido por de gases quentes e as chamas que saem pelas aber-
meio do material sólido; turas (portas e janelas) podem aquecer os materiais
• convecção, na qual o calor é transmitido combustíveis em outros compartimentos à temperatu-
pela movimentação do meio fluido aquecido ra próxima da sua temperatura de ignição. Se as condi-
(líquido ou gás); ções forem propícias, a inflamação generalizada ocor-
• radiação, na qual a energia é transmitida por rerá e esses compartimentos também serão envolvidos
ondas eletromagnéticas. pelo fogo.

A geração de fumaça, que já anteriormente à inflama-


ção generalizada pode ter-se espalhado no interior da
A primeira fase se inicia com a inflamação inicial e se edificação, se intensifica tornando difícil a sobrevivên-
caracteriza por grandes variações de temperatura, oca- cia na edificação.
sionadas pela inflamação sucessiva dos objetos exis-
tentes no recinto, de acordo com a alimentação de ar. Caso a proximidade entre as fachadas da edificação
incendiada e das adjacentes possibilite a incidência
Os focos de incêndio se originam em locais onde fon- de intensidades críticas de radiação, o incêndio pode-
tes de calor e materiais combustíveis estão suficiente- rá se propagar para outras edificações, ocasionando
mente próximos para que os gases gerados a partir da uma conflagração. No caso de edificações agrupadas
ação do calor sobre o material combustível possam se em bloco, a propagação do incêndio pode se dar pela
inflamar. Se a fonte de calor for pequena ou a massa condução de calor via paredes e forros, pela destrui-
do material a ser ignizado for grande ou, ainda, a sua ção dessas barreiras ou ainda pela convecção de gases
temperatura de ignição for muito alta, somente irão quentes que penetrem por aberturas existentes.
ocorrer danos locais sem a evolução do incêndio. Se,
porém, a ignição definitiva for alcançada, o material Com o esgotamento do material combustível ou devido
continuará a queimar desenvolvendo calor e produtos à falta de oxigênio, o fogo diminui progressivamente de
de decomposição, iniciando-se a segunda fase. intensidade, entrando na terceira fase, de resfriamen-
to e consequente extinção.
Na segunda fase, a temperatura subirá progressiva-
mente, acarretando a acumulação de fumaça e outros Segundo o Anuário Estatístico de Ocorrências do
gases e vapores junto ao teto. Se houver meios para a Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de
propagação do fogo em direção aos materiais próxi- São Paulo (CBPMESP258) referente ao ano de 2006, a
mos, simultaneamente à elevação da temperatura do maior causa dos incêndios são os atos incendiários in-
recinto ocorrerá a geração de fumaça e de gases infla- tencionais, com 27% dos casos. Entre as causas não
máveis. Nesta fase já pode haver comprometimento da intencionais, o maior percentual está associado a
estabilidade da edificação devido à elevação da tempe-
ratura nos elementos estruturais. 258
CBPMESP (2006) apud Duarte e Ribeiro (2008).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

instalações elétricas inadequadas (7,3%), seguindo-se Alguns desastres envolvendo essas estruturas estão
displicência ao cozinhar (2%), prática de ações crimi- relacionados ao seu colapso total ou parcial. Entre as
nosas (1,9%), ignição espontânea (1,8%), brincadeira causas principais do colapso de obras civis estão:
de crianças (1,4%), displicência de fumantes com pon-
tas de cigarro/fósforo (1,3%) e superaquecimento de a. Falhas de projeto (estudos geotécnicos, cálcu-
equipamento (1,2%). Outras causas não especificadas los estruturais, dimensionamento e especifi-
respondem por mais de metade dos casos. cação de componentes e materiais);
b. Falhas de construção e montagem (fundações
Ocorrência e estrutura, travamento de vigas e pilares, pa-
redes, vedações e cobertura);
A Figura 111 apresenta os registros de reconhecimen- c. Falhas na manutenção;
tos de situação de emergência (SE) e estado de cala- d. Sobrecarga ou redução da capacidade de carga
midade pública (ECP) relacionados com incêndios em da estrutura ou fundações;
aglomerados residenciais no Brasil entre 2005 e 2015. e. Fenômenos naturais (inundações, sismos, tem-
pestades, movimentos gravitacionais de massa).

O colapso de edificações também pode ser causado


Outros Dados e Informações por outros eventos acidentais, tais como explosões e
incêndios, que afetem sua integridade estrutural.
Os efeitos da inalação de fumaça em incêndios
www.mdsaude.com/2013/01/fumaca-incendio.html Ocorrência

A Figura 112 apresenta os registros de reconhecimen-


tos de situação de emergência (SE) e estado de calami-
dade pública (ECP) relacionados com colapso de edifi-
2.5. OBRAS CIVIS cações no Brasil entre 2005 e 2015.

2.5.1. Colapso de Edificações 2.5.2. Rompimento ou Colapso


de Barragens
Caracterização
Caracterização
Toda obra civil (edifícios, túneis, pontes, viadutos, bar-
ragens) é formada pela composição de diversos mate- As Barragens são obstáculos artificiais com a capa-
riais e componentes segundo um determinado projeto cidade de reter água, qualquer outro líquido, rejeitos
construtivo. ou detritos, para fins de armazenamento ou controle.

Figura 111. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM INCÊNDIOS EM AGLOMERADOS RESIDENCIAIS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

10
9
N° DE RECONHECIMENTOS

8
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0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: MI (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).
| 181

Figura 112. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM COLAPSO DE EDIFICAÇÕES, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

10
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N° DE RECONHECIMENTOS

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AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).

Podem variar em tamanho, desde pequenos maciços O Registro Mundial de Barragens, da Comissão Interna-
de terra, usados frequentemente em fazendas, a enor- cional de Grandes Barragens (CIGB/ICOLD), considera
mes estruturas de concreto ou de aterro, usadas para uma grande barragem a que possua altura de 15 metros
fornecimento de água, geração de energia hidrelétri- (independentemente do volume de água armazenável
ca, controle de cheias, contenção de rejeitos, irrigação em seu reservatório) ou também a que possua altura
e outras finalidades. Os principais tipos de barragens entre 10 e 15 metros desde que tenha capacidade de ar-
são as de aterro, de concreto-gravidade e de concreto mazenar mais de 3 milhões de metros cúbicos de água
em arco259. em seu reservatório. A proporção das principais causas
de falhas em grandes barragens do mundo são260:
259
Comitê Brasileiro de Dragagens - www.cbdb.org.br/5-38/Apresen-
tação%20das%20Barragens 260
Foster et al. (2000).

O Acidente de Mariana

Em novembro de 2015 ocorreu o rompimento da Bar- Estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Os efeitos
ragem de Fundão, no Município de Mariana, Minas foram catastróficos: 19 pessoas mortas; vilarejos
Gerais. O acidente gerou uma enxurrada devastadora como Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo totalmen-
de cerca de 62 milhões de metros cúbicos de lama de te destruídos; mais de 10 toneladas de peixes mortos;
rejeitos de mineração, que percorreram aproximada- e uma área de mais de 1.400 hectares sem condições
mente 879 km, atingindo cerca de 39 municípios dos para desenvolvimento de atividades agropecuárias*.

Caminho da lama até o mar

Fonte infográficos: www.em.com.br/app/infografi- *


Porto, M., A tragédia da mineração e do desenvolvi-
co/2015/11/17/interna_infografico,490/entenda-como- mento no Brasil: desafios para a saúde coletiva. Cader-
-aconteceu-o-maior-desastre-ambiental-do-estado.shtml nos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32(2), 1–3, 2016.
Fontes conteúdo: g1.globo.com/minas-gerais/desas- Para mais informações: www.em.com.br/especiais/de-
tre-ambiental-em-mariana sastre-mariana
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

• Galgamento: 46% 2.6.1. Acidente no Modal Rodoviário


• Piping através do barramento: 31% Envolvendo o Transporte de
• Piping através da fundação: 15% Passageiros e Cargas Não Perigosas
• Piping através do barramento até a fundação: 2%
• Instabilidade no talude (deslizamentos): 4% Caracterização
• Terremoto: 2%
Os tipos de eventos potencialmente causadores de de-
Ocorrência sastres no modal rodoviário são: colisão de veículos;
tombamento ou capotamento; e incêndio em veículos
A Figura 113 apresenta os registros de reconhecimen- (Quadro 16).
tos de situação de emergência (SE) e estado de calami-
dade pública (ECP) relacionados com rompimento ou As principais causas de acidentes no transporte de
colapso de barragens no Brasil entre 2005 e 2015. passageiros e cargas não perigosas no modal rodo-
viário estão relacionadas a fatores humanos e fatores
ligados à infraestrutura e meio ambiente. O Quadro 17
apresenta esses fatores.
Outros Dados e Informações
Ocorrência
1. COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS –
CBDB Entre 2005 e 2015, apenas um reconhecimento de si-
www.cbdb.org.br tuação de emergência (SE) e estado de calamidade pú-
2. INTERNATIONAL COMMISSION ON LARGE blica (ECP) relacionado ao transporte de passageiros e
DAMS – ICOLD cargas não perigosas no modal rodoviário foi registra-
www.icold-cigb.net do, proveniente do Estado de Minas Gerais261.

2.6.2. Acidente no Modal Ferroviário


Envolvendo o Transporte de Passageiros
e Cargas Não Perigosas
2.6. TRANSPORTE DE
Caracterização
PASSAGEIROS E CARGAS
NÃO PERIGOSAS Os tipos de eventos potencialmente causadores de desas-
tres no modal ferroviário são: descarrilhamento; colisão
Os desastres relacionados ao transporte de passagei- entre composições; e incêndio na composição (Quadro 18).
ros e cargas não perigosas podem ocorrer nos modais
rodoviário, ferroviário, aéreo e aquaviário. 261
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Figura 113. RECONHECIMENTOS DE SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA (SE) E ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA (ECP)
RELACIONADOS COM ROMPIMENTO OU COLAPSO DE BARRAGENS, POR ESTADO, ENTRE 2005 E 2015.

10
9
N° DE RECONHECIMENTOS

8
7
6
5
4
3
2
1
0
AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO

ESTADOS

Fonte: Página do MI na internet (http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados).


| 183

As principais causas de acidentes no transporte de Ocorrência


passageiros e cargas não perigosas no modal ferroviá-
rio estão apresentadas no Quadro 19. Não há registro de reconhecimento de situação de
emergência (SE) ou estado de calamidade pública
Quadro 16. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES (ECP) relacionado ao transporte de passageiros e car-
DE DESASTRES NO MODAL RODOVIÁRIO. gas não perigosas no modal ferroviário no Brasil entre
2005 e 2015262.
Eventos potencialmente causadores de desastres
262
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados

Modal Rodoviário
Quadro 18. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
DE DESASTRES NO MODAL FERROVIÁRIO.

Colisão entre Tombamento ou Incêndio Eventos potencialmente causadores de desastres


veículos capotamento no veículo

Fonte: Elaboração própria. Modal Ferroviário

Quadro 17. CAUSAS DE ACIDENTES NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS


E CARGAS NÃO PERIGOSAS NO MODAL RODOVIÁRIO.

Causa de acidentes no transporte de passageiros Descarrilha- Colisão entre Incêndio na


mento composições composição
e cargas não perigosas
Fonte: Adaptado de ANTT, Resolução 1431, de 26/4/2006.
Modal Rodoviário
Quadro 19. CAUSAS DE ACIDENTES NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
E CARGAS NÃO PERIGOSAS NO MODAL FERROVIÁRIO.

Causa de acidentes no transporte de passageiros


Fatores humanos e cargas não perigosas

ZZ
Z Modal Ferroviário
Uso de entor-
Desatenção Cansaço Imprudência pecentes

Excesso de Manutenção Desrespeito à Ultrapassagem


Falha Falha na via Falha no material
velocidade inadequada distância mín. indevida
humana permanente rodante

Fatores ligados à infraestrutura e meio ambiente

Falha nos Atos de Casos de


sistemas vandalismo força maior

Fonte: Adaptado de ANTT, Resolução 1431, de 26/4/2006.


Projeto inad- Má conservação Mudanças no Condições
equado da via entorno da via adversas

Falha mecânica

Fonte: Adaptado de Vias Seguras (www.vias-seguras.com/os_aci-


dentes/causas_de_acidentes).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

2.6.3. Acidente no Modal Aéreo Quadro 20. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
Envolvendo o Transporte de Passageiros DE DESASTRES NO MODAL AÉREO.
e Cargas Não Perigosas
Eventos potencialmente causadores de desastres
Caracterização

Os tipos de eventos potencialmente causadores de Modal Aéreo


desastres no modal aéreo são: queda de aeronave; co-
lisão entre aeronaves; colisão com objeto terrestre; e
explosão ou incêndio (Quadro 20).

As principais causas de acidentes no transporte de


passageiros e cargas não perigosas no modal aéreo es- Queda de Colisão entre Colisão com Explosão ou
tão apresentadas no Quadro 21. aeronave aeronaves objeto terreste incêndio

Ocorrência Fonte: Adaptado de PlaneCrashInfo.

Não há registro de reconhecimento de situação de


emergência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP)
relacionados ao transporte de passageiros e cargas não Quadro 21. CAUSAS DE ACIDENTES NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS
perigosas no modal aéreo no Brasil entre 2005 e 2015263. E CARGAS NÃO PERIGOSAS NO MODAL AÉREO.

2.6.4. Acidente no Modal Aquaviário Causa de acidentes no transporte de passageiros


Envolvendo o Transporte de Passageiros
e Cargas Não Perigosas e cargas não perigosas

Caracterização Modal Aéreo


Os tipos de eventos potencialmente causadores de de-
sastres no modal aquaviário são: naufrágio e incêndio
na embarcação (Quadro 22).

As principais causas de acidentes no transporte de Erro do piloto Falha mecânica Condições


passageiros e cargas não perigosas no modal aquaviá- adversas
rio estão apresentadas no Quadro 23.

Ocorrência

Não há registro de reconhecimento de situação de emer- Sabotagem Outras


gência (SE) ou estado de calamidade pública (ECP) rela-
cionado ao transporte de passageiros e cargas não peri- Fonte: Adaptado de PlaneCrashInfo (www.planecrashinfo.com/
gosas no modal aquaviário no Brasil entre 2005 e 2015264. cause.htm).

263
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
Quadro 22. TIPOS DE EVENTOS POTENCIALMENTE CAUSADORES
264
http://www.mi.gov.br/web/guest/reconhecimentos-realizados
DE DESASTRES NO MODAL AQUAVIÁRIO.

Eventos potencialmente causadores de desastres


Outros Dados e Informações

1. CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E PREVENÇÃO Modal Aquaviário


DE ACIDENTES AERONÁUTICOS – CENIPA
Acidentes aéreos no Brasil
www.cenipa.aer.mil.br
2. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PREVENÇÃO
DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO Naufrágio de Incêndio na
Acidentes rodoviários embarcação embarcação
www.vias-seguras.com
Fonte: SEDEC/MI.
| 185

Quadro 23. CAUSAS DE ACIDENTES NO TRANSPORTE DE PASSAGEIROS d. As características sócio-organizacionais e so-


E CARGAS NÃO PERIGOSAS NO MODAL AQUAVIÁRIO. cioculturais encontradas comumente nos paí-
ses em desenvolvimento.
Causa de acidentes no transporte de passageiros
Alguns dos riscos tecnológicos discutidos anterior-
e cargas não perigosas
mente têm características específicas que afetam a
vulnerabilidade das populações expostas. Com relação
Modal Aquaviário aos desastres relacionados a substâncias perigosas
não radioativas, no Brasil, de maneira geral, a conside-
ração do risco de acidentes com possíveis danos exter-
nos às instalações faz parte do processo de licencia-
mento ambiental, cujos princípios foram estabelecidos
pelo Decreto 99.274, de 6 de junho de 1990, e pela Re-
Fatores humanos solução CONAMA 237, de 16 de dezembro de 1997.

Assim, ao órgão ambiental competente cabe, dentro


do processo de licenciamento, definir e requisitar ao
empreendedor a apresentação de documentos, pro-
Erro de Erro de Estiva Excesso jetos e estudos ambientais julgados necessários para
navegação manobra inadequada de carga subsidiar a análise da licença requerida. Com base nes-
sas normas gerais, os órgãos ambientais adotam pro-
cedimentos e requisitos próprios para a consideração
dos aspectos relacionados ao risco de acidentes com
consequências externas, em uma instalação sujeita ao
processo de licenciamento. Um dos documentos requi-
Atitudes Manutenção Descumprimento sitados são os estudos de análise de risco.
Imperícia
imprudentes inadequada de normas
A definição do conteúdo e as orientações para elabora-
ção do estudo de análise de risco são feitas por meio de
normas técnicas ou de termos de referência emitidos
pelo órgão ambiental. Com relação especificamente ao
estudo de análise de risco, ele pode se enquadrar em
Condições Casos de três categorias de estudos contendo:
adversas força maior
a. Identificação e avaliação qualitativa dos even-
Fonte: Adaptado de Santos, 2013. tos acidentais;
b. Modelagem de consequências, com cálculo do
alcance dos efeitos físicos danosos;
2.7. VULNERABILIDADE ÀS c. Análise quantitativa de risco, para avaliação
AMEAÇAS TECNOLÓGICAS da aceitabilidade em relação aos critérios es-
tabelecidos, caso os efeitos físicos letais al-
São diversos os fatores que contribuem, de uma manei- cancem ocupações sensíveis (residências, es-
ra geral, para a maior vulnerabilidade das populações colas, hospitais etc.).
dos países em desenvolvimento às ameaças tecnológi-
cas, tais como265: Entretanto, a gestão pública do risco de acidentes severos
no Brasil é feita com foco único nas instalações que sejam
a. A crescente concentração urbana e o conse- fontes do risco. Aqui, diferentemente de países como o
quente aumento da densidade populacional Reino Unido, os estudos de análise de risco, e em particu-
próximo a áreas de risco; lar as análises quantitativas de risco, são utilizados exclu-
b. Os diversos problemas e carências cotidianas sivamente como um documento de apoio aos respectivos
enfrentadas pela maior parte da população processos de licenciamento ambiental, e não como um
que habita essas áreas; instrumento de planejamento e gestão territorial266.
c. O baixo padrão socioeconômico, a diversida-
de de padrões familiares e estilos de vida, e a Uma das consequências disto é que o cálculo e a veri-
distribuição demográfica, predominantemente ficação do atendimento aos critérios de aceitabilidade
infantil; de risco, estabelecidos pelos órgãos ambientais, são
feitos isoladamente para cada instalação submetida a

265
QUARANTELLI (1992). 266
HSE, s.d.
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

um processo individual de licenciamento. Disto resulta 2.8. IMPACTOS DOS DESASTRES


uma eventual subestimação do risco, já que, no caso de TECNOLÓGICOS
áreas susceptíveis aos efeitos de cenários acidentais
associados a mais de uma instalação, não é considera- Diversos impactos podem resultar da ocorrência de
do o risco total resultante da soma das contribuições desastres tecnológicos. Inicialmente, a exposição aos
de cada instalação. Esse e outros problemas relaciona- efeitos físicos diretos dos fenômenos relacionados aos
dos ao uso da análise quantitativa de risco como ferra- desastres – tais como radiação térmica, no caso de in-
menta para a gestão pública no Brasil267. cêndios; ondas de choque, no caso de explosões; radia-
ções nucleares; concentrações tóxicas; traumatismos –
Além da limitação do uso dos estudos de análise de pode redundar em mortes ou lesões de características e
risco somente para licenciamento das instalações, gravidade variadas, com prazo de manifestação e dura-
também se verifica a falta de ações coordenadas entre ção de seus efeitos também variável. Além de trabalha-
estados e municípios no sentido de planejar e controlar dores direta ou indiretamente envolvidos na operação
a ocupação no entorno de instalações industriais. Re- das instalações onde ocorrem, indivíduos do público
sidências e outras ocupações humanas proliferam fre- também podem estar entre as vítimas desses desastres.
quentemente na vizinhança dessas áreas, sem controle
por parte das autoridades competentes, que desconhe- Desastres tecnológicos também possuem frequentemen-
cem, não têm acesso ou não utilizam as informações te efeitos psicológicos e psiquiátricos que estão relacio-
contidas nos estudos de análise de risco (Figura 114). nados à percepção do acidente por parte tanto dos indiví-
duos quanto dos grupos sociais. Isso pode ocorrer mesmo
Outra situação de vulnerabilidade também relacionada à na ausência de exposição das pessoas aos efeitos físicos
ocupação territorial desordenada é perceptível em caso do desastre. Os desastres podem ter efeitos substanciais
de incêndios em favelas ou aglomerados subnormais268. sobre a saúde mental das vítimas, comumente por meio
Nesses locais, as condições de ocupação tanto facilitam de distúrbios associados a desordens por estresse pós-
a ocorrência do incêndio quanto dificultam o combate a -traumático, desenvolvidas por até 80% das pessoas afe-
ele, sendo comum sua propagação descontrolada, resul- tadas por desastres provocados pelo homem269.
tando em extensas perdas patrimoniais e pessoais.
Para um exemplo da manifestação de efeitos psicos-
A inadequada fiscalização de construções públicas, sociais decorrentes de um desastre tecnológico, com
edificações e aglomerados comerciais também con- base na análise da reação dos membros de uma comu-
tribui para o aumento da vulnerabilidade a desas- nidade a um acidente ferroviário envolvendo substân-
tres relacionados ao colapso de edificações e incên- cias químicas perigosas270.
dios urbanos.
Desastres tecnológicos também podem resultar em danos
267
FREITAS FILHO (2015). importantes ao meio ambiente, principalmente no caso de
268
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), liberação de substâncias tóxicas para corpos d’água. Des-
aglomerado subnormal é um conjunto constituído de, no mínimo, tacam-se aqui os acidentes relacionados a derramamen-
51 unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços pú-
blicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, tos de óleo cru e derivados, devido à escala em que esses
terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dis- produtos são movimentados em todo o mundo.
postas, em geral, de forma desordenada e densa.
Desastres tecnológicos podem ter consequências eco-
nômicas importantes, relacionadas tanto a perdas di-
Figura 114. OCUPAÇÃO NO ENTORNO DE TERMINAL DE ÓLEO retas, resultantes de danos a instalações e proprieda-
EM SÃO SEBASTIÃO, SP. des, quanto a efeitos indiretos, tais como impactos na
atividade econômica local e no valor das propriedades,
indenizações e a elevação dos custos de responsabili-
dade e seguro.

Desastres – ou risco de desastres – tecnológicos tam-


bém são responsáveis por outros efeitos atribuidos à
sua “amplificação social”271:

• Formação de percepções mentais, opiniões e


atitudes (atitudes contrárias à tecnologia, alie-
nação e apatia social);

269
MEHTA et al. (1990).
270
GILL e PICOU (1991).
Fonte: GoogleEarth, data da imagem: 7/7/2016. 271
KASPERSON et al. (1988).
| 187

• Pressão política e social (demandas políticas, explosões; e concentração de substâncias tóxicas no ar,
mudanças no contexto e na cultura política); na água ou no solo, no caso de liberações tóxicas. A ex-
• Desordem social (protestos, distúrbios, sabota- posição deriva em mortes ou lesões de características e
gem, terrorismo); gravidade variadas, com prazo de manifestação e dura-
• Mudanças no monitoramento e regulamentação ção de seus efeitos também variável. Além de trabalha-
de atividades de risco; dores direta ou indiretamente envolvidos na operação
• Repercussão em outras tecnologias (menor ní- das instalações, indivíduos do público externo também
vel de aceitação pública) e em instituições so- podem estar entre as vítimas. Liberações acidentais de
ciais (erosão da credibilidade pública). substâncias perigosas não radioativas podem também
causar danos importantes ao ambiente, cuja extensão
Os efeitos físicos diretos resultantes de desastres tec- e intensidade dependem da quantidade e das caracte-
nológicos estão descritos a seguir. rísticas da substância liberada e da sensibilidade dos
ambientes terrestres e aquáticos afetados.
Desastres relacionados a substâncias perigo-
sas radioativas No caso de desastres relacionados a substâncias peri-
gosas não radioativas, cabe aos órgãos públicos moni-
Os efeitos da exposição humana a radiações ionizantes torar a presença de substâncias tóxicas e/ou inflamá-
são bastante variáveis e dependem de fatores como a veis no ar, no solo ou em corpos d’água contaminados.
dose total de radiação recebida, se esta foi aguda ou
crônica, se localizada ou de corpo inteiro. Esses efeitos Desastres relacionados a incêndios urbanos
podem ser determinísticos ou estocásticos.
Além dos danos ao patrimônio, as pessoas podem ser
Os efeitos determinísticos surgem em um curto espa- afetadas pelos seguintes efeitos decorrentes de um
ço de tempo (dias, horas, minutos) a partir de um valor incêndio: exposição ao calor, contato com as chamas,
de dose limiar272, e sua gravidade é função do aumen- exposição à fumaça, insuficiência de oxigênio, e/ou co-
to desta dose. Os efeitos incluem morte, inflamação e lapso de objetos ou estruturas.
ulceração da pele, náusea, vômito, anorexia, diarreia,
queda de cabelos, anemia, hemorragia e infecções, Setenta por cento das mortes em incêndios são produ-
entre outros. Os efeitos estocásticos são aqueles cuja zidas por intoxicação e asfixia, associadas à exposição
probabilidade de ocorrência é função da dose, não à fumaça, e somente 30% por queimaduras, quedas e
existindo limiar, como é o caso do câncer. Assim, para outras causas273.
qualquer indivíduo irradiado, independentemente da
dose, há uma chance de que certos efeitos atribuíveis à A fumaça produzida em incêndios é uma mistura
radiação se manifestem, mas só depois de um período complexa de sólidos em suspensão, vapores e gases,
de tempo longo (dezenas de anos) a partir do momento muitos deles altamente tóxicos e asfixiantes, gerada
que ocorreu o evento de irradiação. quando um material sofre o processo de pirólise ou
combustão. A fumaça tem como efeitos a diminuição
Além desses, há também os efeitos estocásticos here- da visibilidade, o lacrimejamento e irritação dos olhos,
ditários, decorrentes da irradiação das gônadas (tes- a aceleração da respiração e do batimento cardíaco,
tículos nos homens e ovários nas mulheres), que pode queimadura e outras lesões nas vias respiratórias, tos-
provocar alterações no material hereditário contido se e vômito, pânico e desorientação, intoxicação e as-
nos gametas (células reprodutoras). fixia, e o desmaio e morte.

No caso de desastres relacionados a substâncias peri- Incêndios em hospitais, creches e asilos de idosos têm
gosas radioativas, cabe aos órgão públicos monitorar a como fator agravante a maior dificuldade de locomo-
presença dessas substâncias tanto no local do desas- ção das pessoas. Já os incêndios em locais com alta
tre quanto em outros locais possivelmente expostos à concentração de pessoas costumam ser agravados
contaminação radioativa. pela ocorrência de pânico coletivo, que resulta em
pisoteamento e outros traumatismos na tentativa de
Desastres relacionados a substâncias perigo- abandonar o recinto.
sas não radioativas
Desastres relacionados a obras civis
Acidentes envolvendo substâncias perigosas não ra-
dioativas resultam em danos à integridade das pessoas Desastres relacionados ao colapso total ou parcial de
expostas aos seus efeitos físicos: radiação térmica, no obras civis têm como consequências, além de danos ao
caso de incêndios; ondas de sobrepressão, no caso de patrimônio, a possibilidade de lesões variadas e morte
de pessoas.
272
Dose limiar de radiação é a menor dose a partir da qual podem
ocorrer os efeitos da exposição a ela. 273
LUZ NETO (1995).
Riscos de Desastres Relacionados a Eventos Tecnológicos

As consequências do colapso de barragens estão re- Desastres relacionados ao transporte de pas-


lacionadas principalmente à liberação, normalmen- sageiros e cargas não perigosas
te abrupta, do material armazenado no reservatório.
Entre as possíveis consequências estão inundação de Como consequências desses acidentes, além de perdas
vastas áreas, ferimentos e morte de pessoas, conta- patrimoniais próprias ou de terceiros, podem ocorrer
minação ambiental e danos a ecossistemas, morte de lesões variadas, cujo tipo e gravidade dependem de di-
animais, danos patrimoniais, e custos de limpeza e re- versos fatores, e morte de grande número de pessoas.
cuperação das áreas afetadas. Nos acidentes aquaviários, a maior parte das mortes
ocorre por afogamento.

Síntese: Quadro de Ameaças x Vulnerabilidades dos Desastres Tecnológicos

RISCOS TECNOLÓGICOS AMEAÇA – DEFINIÇÃO VULNERABILIDADES


Substâncias e equipamentos radioativos • Concentração populacional no entorno de usinas nucleares.
de uso em pesquisas, atividades ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
Substâncias perigosas industriais, usinas nucleares, unidades socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
radioativas de saúde (fontes radioativas). usinas nucleares.
Resíduos radioativos. N/A

• Concentração populacional no entorno de áreas industriais e


outros sítios onde há movimentação de substâncias perigosas.
Vazamento de produtos químicos e
◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
biológicos em áreas industriais e outros
socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
sítios.
áreas industriais e outros sítios onde há movimentação de
Substâncias perigosas substâncias perigosas.
não radioativas
Vazamento de produtos químicos e
N/A
biológicos nos sistemas de água potável.
Vazamento de produtos químicos e
• Sensibilidade ambiental das áreas passíveis de serem afetadas
biológicos em ecossistemas lacustres,
por vazamento de substâncias perigosas.
fluviais, aquíferos e marinhos.
Vazamento de produtos nucleares,
radiológicos, químicos ou biológicos,
Conflitos bélicos N/A
com contaminação em decorrência de
ações militares ou terroristas.
• Concentração populacional no entorno de áreas industriais
e outros sítios onde há movimentação de substâncias
Incêndios em plantas industriais,
inflamáveis.
parques, depósitos comerciais e
◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
logradouros de grande densidade de
socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
Incêndios urbanos usuários.
áreas industriais e outros sítios onde há movimentação de
substâncias inflamáveis.
• Padrão construtivo do aglomerado residencial.
Incêndios em aglomerados residenciais. ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e

socioeconômico do aglomerado residencial.


Colapso de edificações. N/A
• Concentração populacional nas áreas a jusante de barragens.
Obras civis ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
Rompimento ou colapso de barragens.
socioeconômico das ocupações humanas nas áreas a jusante
de barragens.
Acidente no modal rodoviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
e cargas não perigosas.
Acidente no modal ferroviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
Transporte de e cargas não perigosas.
passageiros e cargas
não perigosas Acidente no modal aéreo envolvendo o
transporte de passageiros e cargas não N/A
perigosas.
Acidente no modal aquaviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
e cargas não perigosas.
*N/A – Não existem fatores de vulnerabilidade específicos para a ameaça correspondente. Fonte: SEDEC/MI.
| 189

OBRAS CONSULTADAS

Capítulo 1 – Introdução restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução


nas áreas atingidas por desastre, e dá outras providências.
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________. Decreto Federal no 7.257, de 4 de agosto de 2010. 1991 a 2012. Volume Brasil. Florianópolis: CEPED/SEDEC,
Regulamenta a Medida Provisória nº 494, de 2 de julho de 2ª edição revisada, amp., 2013.
2010, para dispor sobre o Sistema Nacional de Defesa Civil –
SINPDEC, sobre o reconhecimento de situação de emergên- DAGNINO, R.; CARPI JR., S. Risco Ambiental: Conceitos e
cia e estado de calamidade pública, sobre as transferências Aplicações. Climatologia e Estudos da Paisagem 2(2): 50-
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Anotações
ANEXOS
ANEXO A.
CLASSIFICAÇÃO
E CODIFICAÇÃO
BRASILEIRA DE
DESASTRES (COBRADE)
| 205

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

Vibrações do terreno que provocam oscilações

1. Tremor de
verticais e horizontais na superfície da Terra
(ondas sísmicas). Pode ser natural (tectônica) ou

terra
1.1.1.1.0

0
1. Terremoto

induzido (explosões, injeção profunda de líquidos


e gás, extração de fluidos, alívio de carga de
2. Tsunami minas, enchimento de lagos artificiais).
Série de ondas geradas por deslocamento de um
grande volume de água causado geralmente por
1.1.1.2.0
0
terremotos, erupções vulcânicas ou movimentos
de massa.
2. Emanação
vulcânica

Produtos/materiais vulcânicos lançados na


1.1.2.0.0
0

atmosfera a partir de erupções vulcânicas.

As quedas de blocos são movimentos rápidos e


acontecem quando materiais rochosos diversos
e de volumes variáveis se destacam de encostas
muito íngremes, num movimento tipo queda livre.
1. Blocos

Os tombamentos de blocos são movimentos de


massa em que ocorre rotação de um bloco de 1.1.3.1.1
solo ou rocha em torno de um ponto ou abaixo do
1. NATURAIS

1. Quedas, tombamentos e rolamentos


1. Geológico

centro de gravidade da massa desprendida.


Rolamentos de blocos são movimentos de blocos
rochosos ao longo de encostas, que ocorrem
geralmente pela perda de apoio (descalçamento).
As quedas de lascas são movimentos rápidos e
2. Lascas

acontecem quando fatias delgadas formadas pelos


3. Movimento de massa

1.1.3.1.2
fragmentos de rochas se destacam de encostas
muito íngremes, num movimento tipo queda livre.
Os rolamentos de matacães são caracterizados
3. Matacães

por movimentos rápidos e acontecem quando


materiais rochosos diversos e de volumes variáveis 1.1.3.1.3
se destacam de encostas e movimentam-se num
plano inclinado.
As quedas de lajes são movimentos rápidos
e acontecem quando fragmentos de rochas
4. Lajes

extensas de superfície mais ou menos plana e de 1.1.3.1.4


pouca espessura se destacam de encostas muito
íngremes, num movimento tipo queda livre.
São movimentos rápidos de solo ou rocha,
1. Deslizamentos de
2. Deslizamentos

apresentando superfície de ruptura bem definida,


solo e/ou rocha

de duração relativamente curta, de massas de


terreno geralmente bem definidas quanto ao seu
1.1.3.2.1
volume, cujo centro de gravidade se desloca para
baixo e para fora do talude. Frequentemente,
os primeiros sinais desses movimentos são a
presença de fissuras.
ANEXO A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

Ocorrem quando, por índices pluviométricos

1. Solo/
3. Corridas de massa

Lama
excepcionais, o solo/lama, misturado com a
1.1.3.3.1
água, tem comportamento de líquido viscoso, de
extenso raio de ação e alto poder destrutivo.
2. Deslizamentos (cont.)

Ocorrem quando, por índices pluviométricos

2. Rocha/
Detrito
excepcionais, rocha/detrito, misturado com a
1.1.3.3.2
água, tem comportamento de líquido viscoso, de
extenso raio de ação e alto poder destrutivo.
4. Subsidências
e colapsos

Afundamento rápido ou gradual do terreno devido


ao colapso de cavidades, redução da porosidade 1.1.3.4.0
0

do solo ou deformação de material argiloso.


costeira/Marinha

Processo de desgaste (mecânico ou químico)


1. Erosão

que ocorre ao longo da linha da costa (rochosa


1. Geológico (cont.)

1.1.4.1.0
0

ou praia) e se deve à ação das ondas, correntes


marinhas e marés.
margem fluvial
2. Erosão de

Desgaste das encostas dos rios que provoca


1.1.4.2.0
0

desmoronamento de barrancos.
1. NATURAIS (cont.)

4. Erosão

1. Laminar

Remoção de uma camada delgada e uniforme do


solo superficial provocada por fluxo hídrico não 1.1.4.3.1
concentrado.
3. Erosão continental

Evolução, em tamanho e profundidade, da


2. Ravinas

desagregação e remoção das partículas do solo


1.1.4.3.2
de sulcos provocada por escoamento hídrico
superficial concentrado.
Evolução do processo de ravinamento, em
3. Boçorocas

tamanho e profundidade, em que a desagregação


e remoção das partículas do solo são provocadas 1.1.4.3.3
por escoamento hídrico superficial e
subsuperficial (escoamento freático) concentrado.
1. Inundações

Submersão de áreas fora dos limites normais de


um curso de água em zonas que normalmente
não se encontram submersas. O transbordamento 1.2.1.0.0
0

ocorre de modo gradual, geralmente ocasionado


por chuvas prolongadas em áreas de planície.
Escoamento superficial de alta velocidade
2. Enxurradas

e energia, provocado por chuvas intensas e


2. Hidrológico

concentradas, normalmente em pequenas bacias


de relevo acidentado. Caracterizada pela elevação 1.2.2.0.0
0

súbita das vazões de determinada drenagem


e transbordamento brusco da calha fluvial.
Apresenta grande poder destrutivo.
3. Alagamentos

Extrapolação da capacidade de escoamento de


sistemas de drenagem urbana e consequente
acúmulo de água em ruas, calçadas ou outras 1.2.3.0.0
0

infraestruturas urbanas, em decorrência de


precipitações intensas.
| 207

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

(mobilidade de dunas)
1. Ventos costeiros
Intensificação dos ventos nas regiões litorâneas,
movimentando dunas de areia sobre construções 1.3.1.1.1
na orla.
1. Sistemas de grande escala/Escala regional

1. Ciclones

2. Marés de tempestade São ondas violentas que geram uma maior


agitação do mar próximo à praia. Ocorrem quando
rajadas fortes de vento fazem subir o nível do
(ressaca)

oceano em mar aberto e essa intensificação


das correntes marítimas carrega uma enorme 1.3.1.1.2
quantidade de água em direção ao litoral. Em
consequência, as praias inundam, as ondas se
tornam maiores e a orla pode ser devastada
alagando ruas e destruindo edificações.
Frente fria é uma massa de ar frio que avança
2. Frentes frias/Zonas de

sobre uma região, provocando queda brusca


da temperatura local, com período de duração
convergência

inferior à friagem.
Zona de Convergência é uma região que está 1.3.1.2.0
0

ligada à tempestade causada por uma zona de


baixa pressão atmosférica, provocando forte
deslocamento de massas de ar, vendavais, chuvas
intensas e até queda de granizo.
1. NATURAIS (cont.)

Coluna de ar que gira de forma violenta e muito


3. Meteorológico

1. Tornados

perigosa, estando em contato com a terra e a


base de uma nuvem de grande desenvolvimento
1.3.2.1.1
vertical. Essa coluna de ar pode percorrer vários
quilômetros e deixa um rastro de destruição pelo
caminho percorrido.
2. Tempestade
1. Tempestade local/Convectiva

de raios

Tempestade com intensa atividade elétrica no


interior das nuvens, com grande desenvolvimento 1.3.2.1.2
vertical.
2. Tempestades

3. Granizo

Precipitação de pedaços irregulares de gelo. 1.3.2.1.3

São chuvas que ocorrem com acumulados


4. Chuvas
intensas

significativos, causando múltiplos desastres


1.3.2.1.4
(inundações, movimentos de massa, enxurradas
etc.).
5. Vendaval

Forte deslocamento de uma massa de ar em uma


1.3.2.1.5
região.

É um período prolongado de tempo


1. Onda de calor
3. Temperaturas

excessivamente quente e desconfortável, onde


extremas

as temperaturas ficam acima de um valor normal


esperado para aquela região em determinado 1.3.3.1.0
0

período do ano. Geralmente é adotado um período


mínimo de três dias com temperaturas 5°C acima
dos valores máximos médios.
ANEXO A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

Período de tempo que dura, no mínimo, de três a

1. Friagem
3. Temperaturas extremas
3. Meteorológico (cont.)

quatro dias, e os valores de temperatura mínima


1.3.3.2.1
do ar ficam abaixo dos valores esperados para

2. Onda de frio
determinada região em um período do ano.
(cont.)

2. Geadas
Formação de uma camada de cristais de gelo na
1.3.3.2.2
superfície ou na folhagem exposta.
1. Estiagem

Período prolongado de baixa ou nenhuma


pluviosidade, em que a perda de umidade do solo 1.4.1.1.0
0

é superior à sua reposição.

A seca é uma estiagem prolongada, durante o


2. Seca

período de tempo suficiente para que a falta


0 1.4.1.2.0
de precipitação provoque grave desequilíbrio
hidrológico.
protegidas, com reflexos ambiental e áreas de preservação permanente
1. Incêndios em parques, áreas de proteção
1. NATURAIS (cont.)

nacionais, estaduais ou municipais

Propagação de fogo sem controle, em qualquer


tipo de vegetação situada em áreas legalmente 1.4.1.3.1
4. Climatológico

protegidas.
1. Seca

3. Incêndio florestal

2. Incêndios em áreas não

na qualidade do ar

Propagação de fogo sem controle, em qualquer


tipo de vegetação que não se encontre em
1.4.1.3.2
áreas sob proteção legal, acarretando queda da
qualidade do ar.
umidade do ar
4. Baixa

Queda da taxa de vapor de água suspensa na


1.4.1.4.0
0

atmosfera para níveis abaixo de 20%.


| 209

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

infecciosas virais
1. Doenças
Aumento brusco, significativo e transitório da
1.5.1.1.0

0
ocorrência de doenças infecciosas geradas por vírus.

bacterianas
infecciosas
2. Doenças

Aumento brusco, significativo e transitório da


ocorrência de doenças infecciosas geradas por 1.5.1.2.0
0

bactérias.
1. Epidemias

infecciosas
parasíticas
3. Doenças

Aumento brusco, significativo e transitório da


ocorrência de doenças infecciosas geradas por 1.5.1.3.0
0

parasitas.
infecciosas
4. Doenças

fúngicas

Aumento brusco, significativo e transitório da


1. NATURAIS (cont.)

ocorrência de doenças infecciosas geradas por 1.5.1.4.0


0

fungos.
5. Biológico

1. Infestações de
animais

Infestações por animais que alterem o equilíbrio


ecológico de uma região, bacia hidrográfica ou 1.5.2.1.0
0

bioma afetado por suas ações predatórias.

Aglomeração de microalgas em água-doce


ou em água salgada suficiente para causar
vermelhas
1. Marés

alterações físicas, químicas ou biológicas em sua


1.5.2.2.1
2. Infestações de algas
2. Infestações/ Pragas

composição, caracterizada por uma mudança de


cor, tornando-se amarela, laranja, vermelha ou
marrom.
2. Cianobactérias
em reservatórios

Aglomeração de cianobactérias em reservatórios


receptores de descargas de dejetos domésticos,
industriais e/ou agrícolas, provocando alterações 1.5.2.2.2
das propriedades físicas, químicas ou biológicas
da água.
infestações
3. Outras

Infestações que alterem o equilíbrio ecológico de


uma região, bacia hidrográfica ou bioma afetado 1.5.2.3.0
0

por suas ações predatórias.


ANEXO A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

1. Desastres siderais com riscos

1. Queda de satélite
(radionuclídeos)
radioativos

Queda de satélites que possuem, na sua


composição, motores ou corpos radioativos, 2.1.1.1.0

0
podendo ocasionar a liberação deste material.
1. Desastres relacionados a substâncias radioativas

1. Fontes radioativas em processos


em pesquisas, indústrias e usinas
equipamentos radioativos de uso
2. Desastres com substâncias e

de produção
nucleares

Escapamento acidental de radiação que excede os


níveis de segurança estabelecidos na norma NN 2.1.2.1.0
0

3.01/006:2011 da CNEN.
2. TECNOLÓGICOS

ambiental provocada por resíduos


3. Desastres relacionados com

de radionuclídeos para o meio


1. Outras fontes de liberação
riscos de intensa poluição

Escapamento acidental ou não acidental de


radioativos

ambiente

radiação originária de fontes radioativas diversas


e que excede os níveis de segurança estabelecidos 2.1.3.1.0
0

na norma NN 3.01/006:2011 e NN 3.01/011:2011


da CNEN.
armazenamentos com extravasamento
2. Desastres relacionados a produtos

1. Liberação de produtos químicos


distritos industriais, parques e

para a atmosfera causada por


1. Desastres em plantas e

de produtos perigosos

explosão ou incêndio
perigosos

Liberação de produtos químicos diversos para o


ambiente, provocada por explosão/ incêndio em 2.2.1.1.0
0

plantas industriais ou outros sítios.


| 211

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

1. Liberação de produtos
químicos nos sistemas
de água potável
2. Desastres relacionados à contaminação da água
Derramamento de produtos químicos diversos em
um sistema de abastecimento de água potável,
2.2.2.1.0

0
que pode causar alterações nas qualidades físicas,
químicos em ambiente lacustre, químicas, biológicas.
2. Derramamento de produtos

fluvial, marinho e aquífero

Derramamento de produtos químicos diversos em


lagos, rios, mar e reservatórios subterrâneos de
2.2.2.2.0
0

água, que pode causar alterações nas qualidades


físicas, químicas e biológicas.
consequência de ações militares
químicos e contaminação como
2. Desastres relacionados a produtos perigosos

3. Desastres relacionados a

1. Liberação de produtos
conflitos bélicos

Agente de natureza nuclear ou radiológica,


2. TECNOLÓGICOS (cont.)

química ou biológica, considerado como perigoso,


e que pode ser utilizado intencionalmente 2.2.3.1.0
0

por terroristas ou grupamentos militares em


atentados ou em caso de guerra.
Transporte
rodoviário

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.1.0
1.

transportados no modal rodoviário.


4. Desastres relacionados a transporte de produtos perigosos

Transporte
ferroviário

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.2.0
2.

transportados no modal ferroviário.


Transporte
aéreo

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.3.0
3.

transportados no modal aéreo.


Transporte
dutoviário

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.4.0
4.

transportados no modal dutoviário.


Transporte
marítimo

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.5.0
5.

transportados no modal marítimo.


Transporte
aquaviário

Extravasamento de produtos perigosos


2.2.4.6.0
6.

transportados no modal aquaviário.


ANEXO A. Classificação e Codificação Brasileira de Desastres (COBRADE)

GRUPO SUBGRUPO TIPO SUBTIPO DEFINIÇÃO COBRADE SIMBOLOGIA

1. Incêndios em plantas
e distritos industriais,
parques e depósitos
3. Desastres relacionados a

Propagação descontrolada do fogo em plantas e


2.3.1.1.0
1. Incêndios urbanos

0
distritos industriais, parques e depósitos.
incêndios urbanos

2. Incêndios em
aglomerados
residenciais

Propagação descontrolada do fogo em conjuntos


2.3.1.2.0
0

habitacionais de grande densidade.


4. Desastres relacionados a obras civis

1. Colapso de
edificações

Queda de estrutura civil. 2.4.1.0.0


0

0
2. Rompimento/
colapso de
barragens
2. TECNOLÓGICOS (cont.)

Rompimento ou colapso de barragens. 2.4.2.0.0


0

0
1. Transporte
5. Desastres relacionados à transporte de passageiros e cargas não perigosas

rodoviário

Acidente no modal rodoviário envolvendo


o transporte de passageiros ou cargas não 2.5.1.0.0
0

perigosas.
2. Transporte
ferroviário

Acidente com a participação direta de veículo


ferroviário de transporte de passageiros ou cargas 2.5.2.0.0
0

não perigosas.
3. Transporte
aéreo

Acidente no modal aéreo envolvendo o transporte


2.5.3.0.0
0

de passageiros ou cargas não perigosas.


4. Transporte
marítimo

Acidente com embarcações marítimas destinadas


ao transporte de passageiros e cargas não 2.5.4.0.0
0

perigosas.
5. Transporte
aquaviário

Acidente com embarcações destinadas ao


2.5.5.0.0
0

transporte de passageiros e cargas não perigosas.


| 213

ANEXO B.
CLASSIFICAÇÃO GERAL
DOS DESASTRES
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

CAPÍTULO I

CLASSIFICAÇÃO GERAL

TÍTULO I

1 – Introdução

Os desastres, ameaças e riscos são classificados de acordo com os seguintes critérios:

• quanto à evolução;
• quanto à intensidade;
• quanto à origem.

Embora para o leigo a ideia de desastre esteja intimamente relacionada com a de subitaneidade, do ponto de vista
técnico, os desastres não são necessariamente súbitos.

É importante frisar que a intensidade do desastre não depende apenas da magnitude do fenômeno adverso, mas,
principalmente, do grau de vulnerabilidade do cenário do desastre e do grupo social atingido. Embora clássica, a
classificação dos desastres quanto à tipologia em naturais, humanos e mistos vem sendo contestada por autores
modernos, que tendem a rotular todos os desastres como mistos.

TÍTULO II

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES QUANTO EVOLUÇÃO

1 – Introdução

Quanto à evolução, os desastres são classificados em:

• desastres súbitos ou de evolução aguda, como deslizamentos, enxurradas, vendavais, terremotos, erupções vul-
cânicas, chuvas de granizo e outros;
• desastres de evolução crônica ou gradual, como seca, erosão ou perda de solo, poluição ambiental e outros;
• desastres por somação de efeitos parciais, como cólera, malária, acidentes de trânsito, acidentes de tra-
balho e outros.

2 – Critérios de Classificação

Os desastres súbitos ou de evolução aguda caracterizam-se pela subitaneidade, pela velocidade com que o pro-
cesso evolui e, normalmente, pela violência dos eventos adversos, causadores dos mesmos.

Os desastres de evolução crônica ou gradual, ao contrário, caracterizam-se por serem insidiosos e evoluírem
através de etapas de agravamento progressivo.

Os desastres por somação de efeitos parciais são, na realidade, caracterizados pela somação de numerosos aci-
dentes ou ocorrências, com características semelhantes, os quais, quando somados, ao término de um período
definem um grande desastre.

3 – Importância do Assunto

Como no Brasil os desastres súbitos ou de evolução aguda, como erupções vulcânicas, terremotos catastróficos,
ciclones tropicais e outros, são pouco prováveis, o não reconhecimento dos demais tipos de desastres implicaria
subemprego do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC.

Do ponto de vista internacional, é importante para os representantes do governo brasileiro frisar que a subitanei-
dade não é uma condição indispensável à caracterização dos desastres.

A ideia da necessidade da subitaneidade alijaria não somente o Brasil, mas também numerosos países da América
do Sul e da África, da comunidade internacional interessada na redução dos desastres.
| 215

Como os desastres são medidos em função da intensidade dos danos e dos prejuízos econômicos e sociais, é pos-
sível que a seca do Semiárido Nordestino, a longo prazo, se caracterize como um desastre muito mais importante
que numerosos terremotos, erupções vulcânicas e ciclones, frequentes em outros países.

Pelos motivos expostos, a classificação dos desastres quanto à evolução responde aos interesses internacionais
do Brasil.

TÍTULO III

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES QUANTO À INTENSIDADE

1 – Introdução

A intensidade dos desastres pode ser definida em termos absolutos ou a partir da proporção entre as necessidades de
recursos e as possibilidades dos meios disponíveis na área afetada, para dar resposta cabal ao problema.

Quanto à intensidade, os desastres são classificados em:

• acidentes;
• desastres de médio porte;
• desastres de grande porte;
• desastres de muito grande porte.

2 – Critérios de Classificação

a) Acidentes

Os acidentes são caracterizados quando os danos e prejuízos consequentes são de pouca importância para a
coletividade como um todo, já que, na visão individual das vítimas, qualquer desastre é de extrema importância
e gravidade.

b) Desastres de Médio Porte

Os desastres de médio porte são caracterizados quando os danos e prejuízos, embora importantes, podem ser
recuperados com os recursos disponíveis na própria área sinistrada.

c) Desastres de Grande Porte

Os desastres de grande porte exigem o reforço dos recursos disponíveis na área sinistrada, através do aporte de
recursos regionais, estaduais e, até mesmo, federais.

d) Desastres de Muito Grande Porte

Os desastres de muito grande porte, para garantir uma resposta eficiente e cabal recuperação, exigem a in-
tervenção coordenada dos três níveis do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC – e, até mesmo, de ajuda
externa.

3 – Importância do Assunto

O estudo da intensidade dos desastres é extremamente importante para facilitar o planejamento da resposta e da
recuperação da área atingida. A dosagem dos meios a serem utilizados é diretamente proporcional à intensidade
dos danos e prejuízos provocados pelos mesmos. De uma maneira geral, são decretados pelo poder público:

• as situações de emergência, nos casos de desastres de grande porte;


• os estados de calamidade pública, nos casos de desastres de muito grande porte.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

TÍTULO IV

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES QUANTO


À ORIGEM

1 – Critérios de Classificação

Quanto à causa primária do agente causador, os desastres são classificados em:

• naturais;
• humanos ou antropogênicos;
• mistos.

2 – Desastres Naturais

São aqueles provocados por fenômenos e desequilíbrios da natureza.

São produzidos por fatores de origem externa que atuam independentemente da ação humana.

3 – Desastres Humanos ou Antropogênicos

São aqueles provocados pelas ações ou omissões humanas. Relacionam-se com a atuação do próprio homem,
enquanto agente e autor. Esses desastres podem produzir situações capazes de gerar grandes danos à natureza,
aos habitats humanos e ao próprio homem.

Normalmente, os desastres humanos são consequências de:

• ações desajustadas geradoras de desequilíbrios no relacionamento socioeconômico e político entre os


homens;
• profundas e prejudiciais alterações em seu ambiente ecológico.

4 – Desastres Mistos

Ocorrem quando as ações e/ou omissões humanas contribuem para intensificar, complicar ou agravar os de-
sastres naturais. Além disso, também se caracterizam quando intercorrências de fenômenos adversos naturais,
atuando sobre condições ambientais degradadas pelo homem, provocam desastres.

CAPÍTULO II

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES NATURAIS

TÍTULO I

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À NATUREZA OU CAUSA PRIMÁRIA

1 – Introdução

Em função de sua natureza ou causa primária, os desastres naturais são classificados em:

• desastres naturais de origem sideral;


• desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa;
• desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna;
• desastres naturais relacionados com desequilíbrios na biocenose.

2 – Desastres Naturais de Origem Sideral

Os desastres naturais de origem sideral dizem respeito ao impacto de corpos oriundos do espaço sideral sobre
a superfície da Terra. Esses corpos, chamados meteoritos, são provenientes do espaço interplanetário e podem
originar-se:
| 217

• de asteroides que gravitam em torno do Sol, numa órbita situada entre Marte e Júpiter;
• em cometas, corpos de órbitas excêntricas e degeneradas, que orbitam entre o Sol e Plutão.

3 – Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa

Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa são aqueles provocados por fenômenos
atmosféricos. Normalmente relacionam-se com fenômenos meteorológicos e/ou hidrológicos correntes na at-
mosfera terrestre e seus efeitos danosos atuam sobre:

• as baixas camadas da atmosfera;


• a superfície da crosta terrestre;
• a biosfera.

4 – Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna

Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna são relativos às forças atuantes nas cama-
das superficiais e profundas da litosfera. Esses desastres relacionam-se com fenômenos geomorfológicos:

• de origem tectônica, relacionados com a vulcanologia e com a sismologia;


• gerados pela erosão e pelo intemperismo, conjunto de processos provocados pela ação de agentes atmos-
féricos e biológicos, que conduzem à desagregação física e à decomposição química dos minerais existen-
tes nas rochas.

Os fenômenos geomorfológicos também interagem com os fenômenos meteorológicos e/ou hidrológicos corren-
tes:

• na atmosfera terrestre;
• sobre a superfície da crosta terrestre;
• na biosfera.

5– Desastres Naturais Relacionados com Desequilíbrios na Biocenose

São aqueles relacionados com a ruptura do equilíbrio dinâmico presente:

• entre os biótopos e a biocenose dos ecossistemas;


• na própria biocenose.

O desequilíbrio normalmente provoca o predomínio de determinadas espécies animais e/ou vegetais, que prolife-
ram intensamente e passam a atuar como pragas.

TÍTULO II

DESASTRES NATURAIS DE ORIGEM SIDERAL

1 – Impacto de meteoros

Desastres naturais de origem sideral podem ocorrer como consequência do impacto de corpos oriundos do espa-
ço sideral sobre a superfície da Terra. Os corpos siderais têm atingido a Terra e outros planetas do sistema solar,
bem como seus satélites, desde sua remota formação, há cerca de 4,5 bilhões de anos.

Meteoritos são corpos siderais cujas massas variam entre centigramas e várias toneladas. Originados no espaço
interplanetário, ao entrarem na atmosfera, tornam-se incandescentes em função do atrito e acabam por impac-
tar sobre a superfície da Terra.

Esses corpos siderais têm duas origens principais:

• asteroides;
• fragmentos de cometas.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

Os asteroides foram identificados a partir de 1801 e, ao longo dos anos, foram determinados mais de 1.560 deles,
gravitando em torno do Sol, numa órbita intermediária entre Marte e Júpiter.

Os cometas são corpos siderais que desenvolvem longas órbitas excêntricas entre Plutão e o Sol. São constituí-
dos por aglomerados de gelo e de outras partículas cósmicas e, morfologicamente, são formados por um núcleo
condensado, uma aura mais luminosa denominada cabeleira ou coma e uma cauda que sempre se distribui em
sentido oposto ao do Sol.

TÍTULO III

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE EXTERNA

1 – Critérios de Classificação

Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre externa são subdivididos em:

• desastres naturais de causa eólica;


• desastres naturais relacionados com temperaturas extremas;
• desastres naturais relacionados com o incremento das precipitações hídricas e com as inundações;
• desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações hídricas.

2 – Desastres Naturais de Causa Eólica

Os desastres naturais de causa eólica são os relacionados com a intensificação do regime dos ventos ou com a
forte redução da circulação atmosférica. Esses desastres são subdivididos em:

• vendavais ou tempestades;
• vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais;
• vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones tropicais;
• tornados e trombas d’água.

A inversão térmica nas camadas será examinada quando do estudo dos desastres mistos.

3 – Desastres Naturais Relacionados com Temperaturas Extremas

Compreendem os desastres relacionados com temperaturas extremamente altas ou baixas e os fenômenos rela-
tivos aos mesmos. Os desastres naturais relacionados com temperaturas extremas são classificados em:

• ondas de frio intenso;


• nevadas;
• nevascas ou tempestades de neve;
• aludes ou avalanches de neve;
• granizos;
• geadas;
• ondas de calor;
• ventos quentes e secos.

4 – Desastres Naturais Relacionados com o Incremento das Precipitações Hídricas e com as Inundações

As inundações são causadas pelo afluxo de grandes quantidades de água que, ao transbordarem dos leitos dos
rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos.

As inundações podem ser classificadas em função da magnitude e da evolução.

Em função da magnitude, as inundações, através de dados comparativos de longo prazo, são classificadas em:

• inundações excepcionais;
• inundações de grande magnitude;
• inundações normais ou regulares;
• inundações de pequena magnitude.
| 219

Em função da evolução, as inundações são classificadas em:

• enchentes ou inundações graduais;


• enxurradas ou inundações bruscas;
• alagamentos;
• inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar.

5 – Desastres Naturais Relacionados com a Intensa Redução das Precipitações Hídricas

Esses desastres relacionam-se com a redução das precipitações hídricas. Classificam-se em:

• estiagens;
• secas;
• queda intensa da umidade relativa do ar;
• incêndios florestais.

TÍTULO IV

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE INTERNA

1 – Critérios de Classificação

Os desastres naturais relacionados com a geodinâmica terrestre interna dizem respeito a fenômenos relativos à
litosfera e são subdivididos em:

• desastres naturais relacionados com a sismologia;


• desastres naturais relacionados com a vulcanologia;
• desastres naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo.

2 – Desastres Naturais Relacionados com a Sismologia

Os desastres naturais relacionados com a sismologia são subdivididos em:

• terremotos, sismos e/ou abalos sísmicos;


• maremotos e tsunamis.

3 – Desastres Naturais Relacionados com a Vulcanologia

Denomina-se vulcanismo o conjunto de processos naturais, responsáveis pela efusão do material magmático do
SIMA ou manto, para a superfície da Terra.

O vulcanismo é a manifestação, na superfície da Terra, de importantes complexos e fenômenos que se desenvol-


vem na intimidade da crosta terrestre e nas camadas mais superficializadas do manto.

O vulcanismo está estreitamente ligado aos grandes movimentos tectônicos e ocorre em áreas instáveis, onde as
forças de deformação provocam fraturas e superficialização de camadas magmáticas.

4 – Desastres Naturais Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo, a Erosão e a Acomodação do


Solo

Esses desastres, bastante frequentes no Brasil, produzem anualmente intensos danos materiais e ambientais e
importantes prejuízos sociais e econômicos. Na grande maioria das vezes, esses desastres relacionam-se com a
dinâmica das encostas e são regidos por:

• movimentos gravitacionais de massas;


• processos de transporte de massas.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

Os movimentos gravitacionais de massas são genericamente subdivididos nas seguintes categorias principais:

• escorregamentos ou deslizamentos;
• corridas de massa;
• rastejos;
• quedas, tombamentos e/ou rolamentos de rochas e/ou matacões.

Os processos de transporte de massas são genericamente subdivididos nas seguintes categorias principais:

• erosão laminar;
• erosão linear, sulcos, ravinas e voçorocas ou boçorocas;
• subsidência do solo;
• erosão marinha;
• erosão fluvial, desbarrancamento de rios e fenômeno de terras caídas;
• soterramento por dunas.

TÍTULO V

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM DESEQUILÍBRIOS NA BIOCENOSE

1 – Classificação

Os desastres naturais relacionados com desequilíbrios na biocenose são aqueles provocados pela ruptura do
equilíbrio dinâmico existente:

• entre os biótopos e a biocenose dos ecossistemas;


• na própria biocenose, caracterizando a dominância de determinadas espécies vegetais ou animais, que
passam a proliferar intensivamente e a atuar como pragas.

Esses desastres relacionam-se com processos relativos à biosfera e são classificados em:

• pragas animais;
• pragas vegetais.

CAPÍTULO III

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES HUMANOS OU ANTROPOGÊNICOS

TÍTULO I

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À NATUREZA OU CAUSA PRIMÁRIA

1 – Introdução

Os desastres humanos são consequências indesejáveis:

• do desenvolvimento tecnológico;
• de riscos relacionados com um desenvolvimento industrial sem preocupações com a segurança;
• de elevadas concentrações demográficas urbanas, sem a correspondente preocupação com o desenvolvi-
mento de uma infraestrutura de serviços básicos compatível;
• da intensificação dos deslocamentos e das trocas comerciais.

Relacionam-se com estudos de riscos deficientes e incompletos e com o inadequado estabelecimento de normas,
padrões e procedimentos de segurança, relativos a:

• instalações industriais;
• centrais produtoras de energia;
• corredores e terminais de transporte;
• outras atividades humanas intensificadas pelo desenvolvimento econômico.
| 221

Em função de suas causas primárias, os desastres secundários às ações ou omissões humanas são classifica-
dos em:

• desastres humanos de natureza tecnológica;


• desastres humanos de natureza social;
• desastres humanos de natureza biológica.

2 – Desastres Humanos de Natureza Tecnológica

Os desastres humanos de natureza tecnológica são consequências indesejáveis do desenvolvimento tecnológico


e industrial, sem maiores preocupações com a segurança contra desastres.

Também relacionam-se com o intenso incremento demográfico das cidades, sem o correspondente desenvolvi-
mento de uma infraestrutura de serviços básicos compatível.

3 – Desastres Humanos de Natureza Social

Os desastres humanos de natureza social são consequência de desequilíbrios nos inter-relacionamentos sociais,
econômicos, políticos e culturais, bem como do relacionamento desarmonioso do homem com os ecossistemas
urbanos e rurais.

4 – Desastres Humanos de Natureza Biológica

Os desastres humanos de natureza biológica são consequência de deficiências nos organismos promotores da saúde
pública, muitas vezes agravadas pelo pauperismo, subdesenvolvimento e por desequilíbrios ecológicos.

TÍTULO II

DESASTRES HUMANOS DE NATUREZA TECNOLÓGICA

1 – Critérios de Classificação

Os desastres humanos de natureza tecnológica classificam-se em:

• desastres siderais de natureza tecnológica;


• desastres relacionados com meios de transporte sem menção de risco químico ou radioativo;
• desastres relacionados com a construção civil;
• desastres de natureza tecnológica relacionados com incêndios;
• desastres de natureza tecnológica relacionados com produtos perigosos;
• desastres relacionados com concentrações demográficas e com riscos de colapso ou exaurimento de ener-
gia e de outros recursos e/ou sistemas essenciais.

2 – Desastres Siderais de Natureza Tecnológica

O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas promoveu o incremento do lançamento de satélites artificiais
e, em consequência, a intensificação dos riscos de desastres provocados pela queda dos artefatos, de seus veícu-
los de lançamento e de seus componentes.

Os desastres siderais de natureza tecnológica são subdivididos em:

• desastres siderais de natureza tecnológica sem menção de riscos radioativos;


• desastres siderais de natureza tecnológica com menção de riscos radioativos.

3 – Desastres Relacionados com Meios de Transporte sem Menção de Risco Químico ou Radioativo

Sob este título são registrados os desastres com meios de transporte, sem menção de extravasamento de substâncias
químicas ou radioativas potencialmente perigosas.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

Os desastres com meios de transporte podem ocorrer ao longo dos corredores de transporte ou nas proximidades
de seus terminais. Algumas vezes os meios de transporte desviam-se de suas rotas preestabelecidas e exigem
operações de busca e salvamento.

Os desastres relacionados com meios de transporte sem menção de risco químico ou radioativo são subdivididos
em:

• desastres relacionados com meios de transporte aéreo;


• desastres relacionados com meios de transporte ferroviário;
• desastres relacionados com meios de transporte fluvial;
• desastres relacionados com meios de transporte marítimo;
• desastres relacionados com meios de transporte rodoviário.

4 – Desastres Relacionados com a Construção Civil

Sob este título são registrados os desastres relacionados com a construção civil. Esses desastres podem ocorrer
durante a construção ou após a conclusão das mesmas e são reduzidos pelo estrito cumprimento das normas
técnicas relativas ao assunto.

Os desastres relacionados com a construção civil são subdivididos em:

• desastres relacionados com a danificação ou a destruição de habitações;


• desastres relacionados com a danificação ou a destruição de obras de arte ou de edificações por proble-
mas relativos ao solo e às fundações;
• desastres relacionados com a danificação ou a destruição de obras de arte ou de edificações por proble-
mas de estruturas;
• desastres relacionados com o rompimento de barragens e riscos de inundação a jusante;
• desastres e/ou acidentes de trabalho ocorridos durante a construção.

5 – Desastres de Natureza Tecnológica Relacionados com Incêndios

Sob este título são registrados os incêndios de grande potencial destrutivo, que exigem meios e táticas al-
tamente complexos para controlá-los. Estão relacionados com combustíveis, óleos e lubrificantes, meios de
transporte, terminais de transporte, instalações industriais e edificações com grandes densidades de usuá-
rios.

Os incêndios de natureza tecnológica são subdivididos em:

• incêndios em instalações de combustíveis, óleos e lubrificantes (COL);


• incêndios em meios de transporte marítimo e fluvial;
• incêndios em áreas portuárias;
• incêndios em plantas e distritos industriais;
• incêndios em edificações com grandes densidades de usuários.

6 – Desastres de Natureza Tecnológica Relacionados com Produtos Perigosos

Sob este título são estudados os desastres relacionados com produtos perigosos envolvendo riscos de intoxica-
ções exógenas, explosões e contaminações com produtos químicos ou radioativos. Esses desastres são classifi-
cados em:

• desastres com meios de transporte, com menção de riscos de extravasamento de produtos perigosos;
• desastres em plantas e distritos industriais, parques e depósitos, com menção de riscos de extravasamen-
to de produtos perigosos;
• desastres com meios de transporte e em plantas e distritos industriais, parques e depósitos, com menção
de riscos de explosão;
• desastres relacionados com o uso abusivo e descontrolado de agrotóxicos;
• desastres relacionados com as intoxicações exógenas em ambiente doméstico;
• desastres relacionados com a contaminação de sistemas de água potável;
• desastres relacionados com substâncias e equipamentos radioativos de uso em medicina;
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• desastres relacionados com substâncias e equipamentos radioativos de uso em pesquisas, indústrias e


usinas átomo-elétrico.

7 – Desastres Relacionados com Concentrações Demográficas e com Riscos de Colapso ou Exaurimento de Ener-
gia e de Outros Recursos e/ou Sistemas Essenciais

Sob este título são registrados os desastres relativos às grandes concentrações demográficas e centros urbanos
e com os riscos, cada vez mais importantes, relacionados com o grande crescimento demográfico e com o fluxo
de populações oriundas do meio rural para as megalópoles.

Com o crescimento demográfico das grandes cidades, os riscos desses desastres são cada vez mais importantes
e exigem planejamento e quantiosos recursos financeiros para controlá-los.

Esses desastres são subdivididos em:

• desastres relacionados com riscos de colapso ou exaurimento de recursos hídricos;


• desastres relacionados com riscos de colapso ou exaurimento de recursos energéticos;
• desastres relacionados com riscos de colapso ou sobrecarga do sistema de coleta de lixo;
• desastres relacionados com riscos de intensa poluição provocada por escapamento de gases e partículas
em suspensão na atmosfera;
• desastres relacionados com riscos de intensa poluição provocada por resíduos líquidos efluentes da ativi-
dade industrial;
• desastres relacionados com riscos de intensa poluição provocada por resíduos sólidos da atividade in-
dustrial;
• desastres relacionados com riscos de intensa poluição provocada por dejetos e outros poluentes resultan-
tes da atividade humana;
• desastres relacionados com riscos de colapso dos sistemas computadorizados e de automação.

TÍTULO III

DESASTRES HUMANOS DE NATUREZA SOCIAL

1 – Critérios de Classificação

Normalmente, resultam de desequilíbrios provocados por ações ou omissões humanas sobre:

• seus ambientes sociais, econômicos, políticos e culturais;


• ecossistemas urbanos ou rurais, onde vivem.

Os desastres humanos de causas sociais classificam-se em:

• desastres humanos relacionados com ecossistemas urbanos e rurais;


• desastres humanos relacionados com convulsões sociais;
• desastres humanos relacionados com conflitos bélicos.

2 – Desastres Relacionados com Ecossistemas Urbanos e Rurais

Sob este título são registrados os desastres relativos aos ecossistemas urbanos e rurais, cujos riscos são cada vez
mais importantes, e relacionam-se com o incremento da produção agropecuária, com o desmatamento, com o cres-
cimento da indústria de mineração, com o deficiente zoneamento e planejamento do espaço urbano e rural e com o
incremento do transporte motorizado.

Os riscos desses desastres são cada vez mais importantes e exigem planejamento, regulamentação e disciplina para
seu controle. Esses desastres são subdivididos em:

• incêndios urbanos e rurais;


• desastres relacionados com a depredação do solo por desmatamento sem controle e/ou má gestão agro-
pecuária;
• desastres relacionados com a depredação do solo por acumulação de rejeitos da mineração;
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

• desastres relacionados com a depredação do solo por zoneamento urbano e/ou rural deficiente;
• desastres relacionados com a destruição intencional da flora e da fauna;
• desastres relacionados com o fluxo desordenado do trânsito urbano.

3 – Desastres Humanos Relacionados com Convulsões Sociais

As convulsões sociais provocam ou intensificam a agitação político-social e, caso se perca o controle das mes-
mas, causam grandes desastres humanos e reduzem a estabilidade das instituições democráticas. As convulsões
sociais decorrem:

• das vulnerabilidades culturais e sociais das comunidades;


• da estagnação econômica e social;
• do agravamento do desequilíbrio e do desnivelamento socioeconômico, inter e intrarregionais;
• da marginalização de grandes estratos populacionais, do processo produtivo;
• do aumento do custo de vida e da especulação financeira.

Dentre os fatores mais importantes que podem agravar as convulsões sociais, citam-se:

• descrédito nas elites políticas e dirigentes;


• desesperança e clima de violência;
• clima de insegurança coletiva;
• insatisfação política, sem perspectivas de solução normal a médio prazo, através dos processos eleitorais
previstos nos regimes democráticos.

A prevenção desses problemas exige uma política de desenvolvimento social e econômico consequente, de cará-
ter permanente e digna de crédito por parte da sociedade civil.

A interação governo-comunidade e a mudança cultural, que permitam o estabelecimento de um clima de confia-


bilidade na autoridade governamental e de solidariedade interpessoal, são as ferramentas básicas para o desen-
volvimento da paz social indispensável à redução desses desastres.

A mais importante célula do organismo social para a discussão e geração do clima de paz social é o Núcleo Co-
munitário de Defesa Civil (NUDEC). Este processo exige intensa e contínua discussão dos objetivos permanentes
a serem atingidos, e o consenso só poderá surgir se as pessoas acreditarem e confiarem nos bons propósitos das
autoridades governamentais presentes ou representadas no debate.

As nações que romperam o ciclo vicioso do subdesenvolvimento e das convulsões sociais foram aquelas que prio-
rizaram o desenvolvimento do mercado interno e do bem-estar social sobre quiméricas políticas mercantilistas
de apoio prioritário às exportações que, por sua natureza, são concentradoras de renda. A exportação é extrema-
mente importante quando busca intensificar a economia de escala.

Os desastres humanos relacionados com convulsões sociais são classificados em:

• desemprego e /ou subemprego generalizado;


• especulação;
• fome e desnutrição;
• migrações intensas e descontroladas;
• intensificação da violência doméstica;
• infância e juventude marginalizadas e/ou carentes;
• grevismo generalizado;
• disseminação de boatos e pânico;
• tumultos e desordens generalizados;
• tráfico de drogas intenso e generalizado;
• incremento dos índices de criminalidade geral e dos assaltos;
• banditismo e crime organizado;
• venda de segurança e matadores a soldo;
• colapso do sistema penitenciário;
• terrorismo;
• perseguições e conflitos religiosos, ideológicos e/ou raciais.
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4 – Desastres Humanos Relacionados com Conflitos Bélicos

Estes desastres compreendem:

• guerras internas, civis e revolucionárias;


• guerras convencionais;
• guerras regulares;
• guerras irregulares;
• guerrilhas;
• guerras biológicas;
• guerras nucleares;
• guerras químicas;
• terrorismo internacional.

A Defesa Civil não se envolve diretamente nas ações de combate e tem por principal objetivo proteger a popu-
lação contra os efeitos diretos ou indiretos do conflito. Normalmente, são utilizados meios de defesa passiva,
como abrigos subterrâneos e ações que visem ao controle de sinistros, ações de busca e salvamento, evacuação
médica, remoção de escombros, administração de refugiados, controle sanitário e outras.

TITULO IV

DESASTRES HUMANOS DE CAUSAS BlOLÓGlCAS

1 – Critérios de Classificação

Os desastres humanos de causas biológicas ocorrem, principalmente, quando surgem dificuldades no controle
de surtos intensificados, por parte dos organismos de saúde pública, e compreendem as epidemias ou os surtos
epidêmicos ou hiperendêmicos. Podem surgir ou intensificar-se, complicando desastres naturais ou humanos,
ou, por sua grande intensidade, podem ser causas primárias de grandes desastres.

De um modo geral, os riscos de desastres biológicos são mais intensos nos países pobres ou em desenvolvimento,
com infraestrutura de saneamento e serviços de saúde pública deficientes. As rupturas do equilíbrio ecológico
tendem, também, a intensificar as endemias.

Em função dos mecanismos de transmissão das enfermidades que os caracterizam, podem ser classificados em:

• desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por vetores biológicos;


• desastres humanos relacionados com doenças transmitidas pela água e/ou por alimentos;
• desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por inalação;
• desastres humanos relacionados com doenças transmitidas pelo sangue e por outras secreções orgânicas
contaminadas;
• desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por outros ou por mais de um mecanismo de
transmissão.

2. Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Vetores Biológicos

Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por vetores biológicos, de interesse da
América do Sul e dos países lusófonos, são:

• dengue;
• febre amarela;
• leishmaniose cutânea;
• leishmaniose visceral;
• malária;
• peste;
• tripanossomíase americana;
• tripanossomíase africana (doença do sono).
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

3 – Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Água e/ou Alimentos

Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por água e/ou alimentos, de interesse
da América do Sul e dos países lusófonos, são:

• amebíase;
• cólera;
• diarreia aguda;
• diarreia causada por Escherichia coli;
• salmoneloses;
• febre tifoide;
• febre paratifoide;
• shigeloses;
• intoxicações alimentares;
• hepatite a vírus “A”;
• poliomielite;
• outras doenças transmitidas por água e /ou alimentos.

4 – Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Inalação

Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por inalação, de interesse da América
do Sul e dos países lusófonos, são:

• coqueluche;
• difteria;
• gripe ou influenza;
• meningite meningocócica;
• sarampo;
• tuberculose;
• outras doenças respiratórias agudas.

5. Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Sangue e por Outras Secreções Orgânicas
Contaminadas

Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por sangue e por outras secreções con-
taminadas, de interesse da América do Sul e dos países lusófonos, são:

• hepatite a vírus “B”;


• hepatite a vírus “C”;
• síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA/AIDS);
• outras doenças sexualmente transmissíveis (DST).

6. Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Outros ou por mais de um Mecanismo de
Transmissão

Os principais desastres humanos relacionados com doenças transmitidas por outros ou mais de um mecanismo
de transmissão, de interesse da América do Sul e dos países lusófonos, são:

• leptospirose;
• raiva;
• tétano;
• schistossomose ou esquistossomose;
• outras doenças transmitidas por outros ou por mais de um mecanismo de transmissão.
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CAPÍTULO IV

CLASSIFICAÇÃO DOS DESASTRES MISTOS

TÍTULO I

CLASSIFICAÇÃO QUANTO À NATUREZA OU CAUSA PRIMÁRIA

1 – Introdução

A tendência moderna, a partir da própria definição de desastre, como consequência da interação entre um even-
to adverso e um ecossistema vulnerável, é considerar que, na sua grande maioria, os desastres até o momento
rotulados como naturais ou humanos, na realidade, são desastres mistos.

Na presente classificação, são considerados aqueles desastres que resultam da somação de eventos naturais e
de ações antrópicas, os quais, por seus efeitos globais, acabam por alterar substancialmente os ecossistemas
naturais, afetando grandes extensões do meio ambiente.

Em função de suas causas primárias, os desastres mistos são classificados em:

• desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre externa;


• desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre interna.

2– Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa

Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre externa resultam da exaltação de fenômenos
atmosféricos naturais, em função de atividades humanas. Normalmente relacionam-se com fenômenos meteo-
rológicos e/ou hidrológicos correntes na atmosfera terrestre e seus efeitos danosos atuam sobre:

• a camada de ozônio da ionosfera;


• a atmosfera global, com repercussões sobre a superfície da crosta terrestre e sobre a biosfera.

3– Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna

Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre interna são aqueles em que ações antrópicas exal-
tam fenômenos relacionados com as forças naturais atuantes nas camadas superficiais e profundas da litosfera.
Esses desastres relacionam-se com fenômenos geomorfológicos:

• de origem tectônica, relacionados com a sismologia;


• gerados pela erosão e pelo intemperismo, conjunto de processos provocados pela ação de agentes at-
mosféricos e biológicos, que conduzem à desagregação física e à decomposição química dos minerais
existentes nas rochas.

Os fenômenos geomorfológicos interagem com pressões antrópicas e com fenômenos meteorológicos e/ou hi-
drológicos correntes:

• na atmosfera terrestre;
• sobre a superfície da crosta terrestre;
• na biosfera.

TÍTULO II

DESASTRES MISTOS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE EXTERNA

1 – Critérios de Classificação

Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre externa são classificados em:

• desastres mistos relacionados com a ionosfera;


• desastres mistos relacionados com a atmosfera.
ANEXO B. Classificação Geral dos Desastres

2 – Desastres Mistos Relacionados com a Ionosfera

O mais importante desastre misto relacionado com a ionosfera é o provocado pela formação de bolsões de redu-
ção na camada de ozônio.

3 – Desastres Mistos Relacionados com a Atmosfera

Os desastres mistos relacionados com a atmosfera são classificados em:

• efeito estufa;
• chuvas ácidas;
• camadas de inversão térmica.

TÍTULO III

DESASTRES MISTOS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE INTERNA

1 – Critérios de Classificação

Os desastres mistos relacionados com a geodinâmica terrestre interna são classificados em:

• desastres mistos relacionados com a sismicidade induzida;


• desastres mistos relacionados com a geomorfologia, o intemperismo e a erosão.

2 – Desastres Mistos Relacionados com a Sismicidade Induzida

O homem, ao alterar as condições ambientais, pode induzir terremotos ou abalos sísmicos localizados. No Brasil,
existem numerosos registros de sismicidade induzida provocada pela construção de barragens, para a criação
de reservatórios ou lagos artificiais. Outras atividades humanas podem ser causa de sismicidade induzida, cum-
prindo destacar:

• as explosões subterrâneas para estudos sismológicos das camadas do subsolo, objetivando um maior co-
nhecimento geológico da área, com a finalidade de localizar depósitos subterrâneos de petróleo e de ou-
tros minerais;
• a exploração intensiva de grandes depósitos de evaporitos subterrâneos, provocando a formação de gran-
des cavernas e a acomodação subsequente do solo, em função da perda de massa rochosa;
• a utilização de imensas cavernas subterrâneas como depósitos de minerais estratégicos e a acomodação
subsequente do solo, em função da elevação do peso nas camadas.

Dessa forma, esses desastres podem ser classificados em:

• desastres relacionados com a sismicidade induzida por reservatórios;


• desastres relacionados com a sismicidade induzida por outras causas.

3 – Desastres Mistos Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo e a Erosão

Dentre esses desastres, cumpre destacar, em função de sua imensa importância:

• a desertificação;
• a salinização do solo.

Ambos ocorrem por causas naturais, mas é inegável que as pressões antrópicas contribuem para intensificá-los
e aumentar a velocidade da disseminação no globo terrestre.
| 229

ANEXO C.
CODIFICAÇÃO
DE DESASTRES,
AMEAÇAS E RISCOS
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

CAPÍTULO I

SISTEMÁTICA DE CODIFICAÇÃO

TÍTULO I

INTRODUÇÃO

1 – Finalidade da Codificação

A codificação tem por finalidade:

• uniformizar a nomenclatura relacionada com desastres, ameaças e riscos;


• desenvolver uma base teórica para programas de bancos de dados relacionados com desastres, ameaças e riscos;
• permitir a interação entre diferentes níveis de informações armazenadas em bancos de dados, sobre de-
sastres, ameaças e riscos, com programas informatizados, relacionados com cartografia, base geográfica
e outros;
• facilitar o intercâmbio de informações relacionadas com desastres, ameaças e riscos.

TÍTULO II

SISTEMAS DE CODIFICAÇÃO

1 – Introdução

A Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos – CODAR diz respeito à tipificação dos desastres, ameaças e ris-
cos, já que:

• a ameaça estima a probabilidade de ocorrência de um evento adverso e a provável magnitude do mesmo;


• o risco estima a probabilidade de ocorrência de um evento adverso e a provável intensidade dos danos
provocados pelo mesmo;
• o desastre expressa o resultado de um evento adverso quantificado, em função da intensidade dos danos
e prejuízos.

Em consequência, para fins de tipificação, a Codificação dos Desastres, Ameaças e Riscos (CODAR) define-se em
função dos eventos adversos, causadores dos mesmos.

2 – Sistemas de Codificação

Para facilitar a criação de bancos de dados sobre desastres, ameaças e riscos e, em um futuro próximo, o inter-
câmbio de informações, em nível internacional, propõe-se os seguintes sistemas de codificação:

• Sistema Alfabético de Codificação, que pode ser padronizado não somente para o Brasil, mas também para
os demais países lusófonos;
• Sistema Numérico de Codificação que, uma vez padronizado, poderá ser estendido aos demais países e
relacionado com o Sistema Alfabético de Codificação, adaptado aos seus respectivos idiomas.

2.1– Sistema Alfabético de Codificação

A sigla CODAR significa Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos. O Sistema Alfabético de Codificação é es-
truturado com a sigla CODAR, seguida de 5 caracteres alfabéticos: WX.YZZ.

a) Estudo da Variável W

A variável W indica a causa primária do agente causador, se natural, humano ou misto:

• nos desastres naturais, o caracter W corresponde à letra inicial da palavra NATURAL – N;


• nos desastres humanos ou antropogênicos, o caracter W corresponde à letra inicial da palavra HUMANO – H;
• nos desastres mistos, o caracter W corresponde à letra inicial da palavra MISTO – M.
| 231

b) Estudo da Variável X

A variável X especifica a natureza ou origem do agente causador.

b.1. Desastres Naturais

Nessas condições, os desastres naturais são subdivididos em desastres:

• de natureza ou origem sideral, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra SIDERAL – S;
• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
EXTERNA – E;
• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
INTERNA – I;
• relacionados com o desequilíbrio da biocenose, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra BIO-
CENOSE – B.

b.2. Desastres Humanos

Os desastres humanos são subdivididos em desastres de natureza:

• tecnológica, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra TECNOLÓGICO – T;


• social, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra SOCIAL – S;
• biológica, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra BIOLÓGICO – B.

b.3. Desastres Mistos

Já os desastres mistos são subdivididos em desastres:

• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
EXTERNA – E;
• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde à letra inicial da palavra
INTERNA – I.

c) Estudo da Variável Y

A variável Y especifica a classe do desastre, ameaça ou risco.

A sistemática utilizada é semelhante à especificada anteriormente, de forma que a variável Y é substituída pela
inicial da palavra que caracteriza a classe estudada.

Como exemplo, é apresentada a seguir a subdivisão dos desastres naturais relacionados com a geodinâmica ter-
restre externa, em classes:

• desastres naturais de causa eólica, cuja codificação é: CODAR N E. E (N de natural, E de geodinâmica


externa e.E de eólica);
• desastres naturais relacionados com temperaturas extremas, cuja codificação é: CODAR – NE.T (N de
natural, E de geodinâmica externa e.T de temperatura);
• desastres naturais relacionados com o incremento das precipitações hídricas e com as inundações, cuja
codificação é: CODAR NE.H (N de natural, E de geodinâmica externa e.H de hídrica);
• desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações hídricas (estiagens, secas)
cuja codificação é: CODAR NE.S (N de natural, E de geodinâmica externa e.S de seca).

Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos padrões acima especificados, sugere-se procurar os
quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.

d) Estudo da Variável ZZ

As variáveis ZZ especificam o desastre, ameaça ou risco.


ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

A sistemática utilizada é semelhante à estudada anteriormente, de forma que as variáveis ZZ são substituídas
pela inicial e uma outra letra da(s) palavra(s) que caracteriza(m) o desastre, a ameaça ou o risco.

Como exemplo, é apresentada a seguir a especificação dos desastres, ameaças ou riscos da classe dos desastres
naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo:

• escorregamentos ou deslizamentos, cuja codificação é: CODAR – NI.GDZ (N de natural, I de geodinâmica


interna,.G de geomorfologia e DZ de deslizamento);
• corridas de massa, cuja codificação é: CODAR – NI.GCM (N de natural, I de geodinâmica interna, G de geo­
morfologia e CM de corridas de massa);
• rastejos, cuja codificação é: CODAR – NI.GRJ (N de natural, I de geodinâmica interna, G de geomorfologia
e RJ de rastejo);
• quedas, tombamentos e/ou rolamentos de matacões e/ou rochas, cuja codificação é: CODAR – NI.GQT (N de
natural, I de geodinâmica interna, G de geomorfologia e QT de queda e tombamento);
• erosão laminar, cuja codificação é: CODAR – NI.GES (N de natural, I de geodinâmica interna, G de geomor-
fologia e ES de erosão e sulcos);
• erosão linear – sulcos, ravinas e voçorocas, cuja codificação é: CODAR – NI.GEV (N de natural, I de geodi-
nâmica interna,.G de geomorfologia e EV de erosivo e voçoroca);
• subsidência do solo, cuja codificação é: CODAR – NI.GSS (N de natural, I de geodinâmica interna, G de
geomorfologia e SS de subsidência do solo);
• erosão fIuvial, desbarrancamento de rios e fenômeno de terras caídas, cuja codificação é: CODAR – NI.
GTC (N de natural, I de geodinâmica interna, G de geomorfologia e TC de terras caídas);
• erosão marinha, cuja codificação é: CODAR – NI.GEM (N de natural, I de geodinâmica interna, G de geo-
morfologia e EM de erosão marinha);
• soterramento por dunas, cuja codificação é: CODAR – NI.GSD (N de natural, I de geodinâmica interna, SD
soterramento por dunas).

Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos desastres, padrões acima especificados, sugere-se
procurar os quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.

2.2 – Sistema Numérico de Codificação

Da mesma forma que na classificação alfabética, a sigla CODAR significa Codificação de Desastres, Ameaças e
Riscos.

O Sistema Numérico de Codificação também é estruturado com a sigla CODAR, seguida de 5 caracteres numéri-
cos: WX.YZZ.

a) Estudo da Variável W

A variável W indica a causa primária do agente causador, se natural, humano ou misto:

• nos desastres naturais, o caracter W corresponde ao dígito 1;


• nos desastres humanos ou antropogênicos, o caracter W corresponde ao dígito 2;
• nos desastres mistos, o caracter W corresponde ao dígito 3.

b) Estudo da Variável X

A variável X especifica a natureza ou origem do agente causador.

b.1. Desastres Naturais

Nessas condições, os desastres naturais são subdivididos em desastres:

• de natureza ou origem sideral, cujo caracter X corresponde ao dígito 1;


• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde ao dígito 2;
• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde ao dígito 3;
• relacionados com o desequilíbrio da biocenose, cujo caracter X corresponde ao dígito 4.
| 233

b.2. Desastres Humanos

Os desastres humanos são subdivididos em desastres de natureza:

• tecnológica, cujo caracter X corresponde ao dígito 1;


• social, cujo caracter X corresponde ao dígito 2;
• biológica, cujo caracter X corresponde ao dígito 3.

b.3. Desastres Mistos

Já os desastres mistos são subdivididos em desastres:

• relacionados com a geodinâmica terrestre externa, cujo caracter X corresponde ao dígito 1;


• relacionados com a geodinâmica terrestre interna, cujo caracter X corresponde ao dígito 2.

Para um melhor entendimento do assunto especificado até o momento, sugere-se compulsar os três primeiros
quadros deste Anexo.

c) Estudo da Variável Y

A variável Y especifica a classe do desastre, ameaça ou risco.

A sistemática utilizada é semelhante à especificada anteriormente, de forma que a variável Y é substituída por
dígitos numéricos, de acordo com a ordem natural em que as classes de desastres, ameaças e riscos são apresen-
tadas.

Como exemplo, é apresentada a seguir a subdivisão dos desastres naturais relacionados com a geodinâmica ter-
restre externa, em classes:

• desastres naturais de causa eólica, cuja codificação é: CODAR – 12.1 (1 de natural, 2 de geodinâmica ex-
terna e 1 de eólica);
• desastres naturais relacionados com temperaturas extremas, cuja codificação é: CODAR – 12.2 (1 de na-
tural, 2 de geodinâmica externa e 2 de extrema);
• desastres naturais relacionados com o incremento das precipitações hídricas e com as inundações, cuja codi-
ficação é: CODAR – 12.3 (1 de natural, 2 de geodinâmica externa e 3 de hídrica);
• desastres naturais relacionados com a intensa redução das precipitações hídricas (estiagens, secas), cuja
codificação é: CODAR – 12.4 (1 de natural, 2 de geodinâmica externa e 4 de seca).

Para verificar a correspondência numérica de cada uma das classes acima especificadas, sugere-se procurar os
quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.

d) Estudo das Variáveis ZZ

As variáveis ZZ especificam o desastre, ameaça ou risco.

A sistemática utilizada é semelhante à estudada anteriormente, de forma que as variáveis ZZ são substituídas por
dígitos numéricos, de acordo com a sequência, em ordem crescente, em que os desastres são apresentados.

Como exemplo, é apresentada a seguir a especificação dos desastres, ameaças ou riscos da classe dos desastres
naturais relacionados com a geomorfologia, o intemperismo, a erosão e a acomodação do solo:

• escorregamentos ou deslizamentos, cuja codificação é: CODAR – 13.301 (1 de natural, 3 de geodinâmica


interna,.3 de geomorfologia e 01 de deslizamento);
• corridas de massa, cuja codificação é: CODAR – 13.302 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna,.3 de geo-
morfologia e 02 de corridas de massa);
• rastejos, cuja codificação é: CODAR – 13.303 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna,.3 de geomorfologia
e 03 de rastejo);
• quedas, tombamentos e/ou rolamentos de matacões e ou rochas, cuja codificação é: CODAR – 13.304 (1 de
natural, 3 de geodinâmica interna,.3 de geomorfologia e 04 de queda e tombamento);
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

• erosão laminar, cuja codificação é: CODAR – 13.305 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomor-
fologia e 05 de erosão);
• erosão linear – sulcos, ravinas e boçorocas ou voçorocas, cuja codificação é: CODAR – 13.306 (1 de natu-
ral, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomorfologia e 06 de voçoroca);
• subsidência do solo, cuja codificação é: CODAR – 13.307 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geo-
morfologia e 07 de subsidência do solo);
• erosão fluvial, desbarrancamento de rios e fenômeno de terras caídas, cuja codificação é: CODAR – 13.308
(1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomorfologia e 08 de terras caídas);
• erosão marinha, cuja codificação é: CODAR – 13.309 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de geomor-
fologia e 09 de erosão marinha);
• soterramento por dunas, cuja codificação é: CODAR – 13.310 (1 de natural, 3 de geodinâmica interna, 3 de
geomorfologia e 10 de soterramento por dunas).

Para verificar a correspondência alfabética de cada um dos desastres, padrões acima especificados, sugere-se
procurar os quadros respectivos, apresentados no prosseguimento.

3 – Correspondência entre os Dois Sistemas de Codificação

No prosseguimento, são apresentados quadros particularizando a correspondência entre os Sistemas Alfabético


e Numérico de Codificação.

QUADRO Nº 1

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais Quanto à Natureza ou à Causa
Primária

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Naturais CODAR-N CODAR-1

Desastres Naturais de Origem Sideral CODAR-NS CODAR-11

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica


CODAR-NE CODAR-12
Terrestre Externa

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica


CODAR-NI CODAR-13
Terrestre Interna

Desastres Naturais Relacionados com Desequilíbrio da


CODAR-NB CODAR-14
Biocenose

QUADRO Nº 2

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Humanos ou Antropogênicos Quanto à


Natureza ou à Causa Primária

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos CODAR-H CODAR-2


Desastres Humanos de Natureza Tecnológica CODAR-HT CODAR-21
Desastres Humanos de Natureza Social CODAR-HS CODAR-22
Desastres Humanos de Natureza Biológica CODAR-HB CODAR-23
| 235

QUADRO Nº 3

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Quanto à Natureza ou à Causa
Primária

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Mistos CODAR-M CODAR-3


Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
CODAR-ME CODAR-31
Terrestre Externa
Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
CODAR-MI CODAR-32
Terrestre Interna

CAPÍTULO II

CODIFICAÇÃO DOS DESASTRES NATURAIS

TÍTULO I

DESASTRES NATURAIS DE ORIGEM SIDERAL

QUADRO Nº 4

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais de Origem Sideral

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Naturais de Origem Sideral CODAR-NS CODAR-11

Impacto (queda) de Corpos Siderais CODAR-NS.Q CODAR-11.1


CODAR- CODAR-
Impacto (queda) de Meteoritos
NS.QMT 11.101
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

TÍTULO II

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE EXTERNA

QUADRO Nº 5

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais Relacionados


com a Geodinâmica Terrestre Externa

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa CODAR-NE CODAR-12


Desastres Naturais de Causa Eólica CODAR-NE.E CODAR-12.1
Vendavais ou tempestades CODAR-NE.EVD CODAR-12.101
Vendavais muito intensos ou ciclones extratropicais CODAR-NE.ECL CODAR-12.102
Vendavais extremamente intensos, furacões, tufões ou ciclones CODAR-NE.EFR CODAR-12.103
tropicais
Tornados e trombas d’água CODAR-NE.ETR CODAR-12.104
Desastres naturais Relacionados com Temperaturas Externas CODAR-NE.T CODAR-12.2
Onda de frio intenso CODAR-NE.TFI CODAR-12.201
Nevadas CODAR-NE.TNV CODAR-12.202
Nevascas ou tempestades de neve CODAR-NE.TTN CODAR-12.203
Aludes ou avalanches de neve CODAR-NE.TAN CODAR-12.204
Granizos CODAR-NE.TGZ CODAR-12.205
Geadas CODAR-NE.TGE CODAR-12.206
Onda de calor CODAR-NE.TOC CODAR-12.207
Ventos quentes e secos CODAR-NE.TVQ CODAR-12.208
Desastres Naturais Relacionados com o Incremento das Precipitações
Hídricas e com as Inundações CODAR-NE.H CODAR-12.3
Enchentes ou inundações graduais CODAR-NE.HIG CODAR-12.301
Enxurradas ou inundações bruscas CODAR-NE.HEX CODAR-12.302
Alagamentos CODAR-NE.HAL CODAR-12.303
Inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar CODAR-NE.HIL CODAR-12.304
Desastres Naturais Relacionados com a Intensa Redução das
Precipitações Hídricas CODAR-NE.S CODAR-12.4
Estiagens CODAR-NE.SES CODAR-12.401
Seca CODAR-NE.SSC CODAR-12.402
Queda intensa dos índices de umidade relativa do ar CODAR-NE.SQU CODAR-12.403
Incendios florestais das estações estivais CODAR-NE.SIF CODAR-12.404
| 237

TÍTULO III

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE INTERNA

QUADRO Nº 6

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais Relacionados


com a Geodinâmica Terrestre Interna

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Naturais Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna CODAR-NI CODAR-13


Desastres Naturais de Relacionados com a Sismologia CODAR-NI.S CODAR-13.1
Terremos, sismos e/ou abalos sísmicos CODAR-NI.SST CODAR-13.101
Maremotos e tsunami CODAR-NI.SMT CODAR-13.102
Desastres naturais Relacionados com a Vulcanologia CODAR-NI.V CODAR-13.2
Erupções vulcânicas CODAR-NI.VEE CODAR-13.201
Desastres Naturais Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo,
a Erosão e a Acomodação do solo CODAR-NI.G CODAR-13.3
Escorregamentos ou deslizamentos CODAR-NI.GDZ CODAR-13.301
Corridas de massa CODAR-NI.GCM CODAR-13.302
Rastejos CODAR-NI.GRJ CODAR-13.303
Quedas, tombamentos e/ou rolamentos de matacões e/ou rochas CODAR-NI.GQT CODAR-13.304
Processos erosivos – erosão laminar CODAR-NI.GES CODAR-13.305
Erosão linear – sulcos, ravinas e boçorocas ou voçorocas CODAR-NI.GEV CODAR-13.306
Subsidência do solo CODAR-NI.GSS CODAR-13.307
Erosão fluvial – desbarrancamentos de rios e fenômenos de terras caídas CODAR-NI.GTC CODAR-13.308
Erosão marinha CODAR-NI.GAM CODAR-13.309
Soterramento de localidades litorâneas por dunas de areia CODAR-NI.GSD CODAR-13.310

TÍTULO IV

DESASTRES NATURAIS RELACIONADOS COM O DESEQUILÍBRIO DA BIOCENOSE

QUADRO Nº 7

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Naturais Relacionados


com o Desequilíbrio da Biocenose

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Naturais Relacionados com o Desequilíbrio da Biocenose CODAR-NB CODAR-14


Pragas animais CODAR-NB.A CODAR-14.1
Ratos domésticos CODAR-NB.ARD CODAR-14.101
Morcegos hematófagos CODAR-NB.AMH CODAR-14.102
Ofídios peçonhentos CODAR-NB.AOP CODAR-14.103
Gafanhotos (locusta) CODAR-NB.AGF CODAR-14.104
Formigas-saúvas CODAR-NB.AFS CODAR-14.105
Bicudos CODAR-NB.ABC CODAR-14.106
Nematoides CODAR-NB.ANM CODAR-14.107
Pragas vegetais CODAR-NB.V CODAR-14.2
Pragas vegetais prejudiciais à pecuária CODAR-NI.VPP CODAR-14.201
Pragas vegetais prejudiciais à agricultura CODAR-NI.VPA CODAR-14.202
Maré vermelha CODAR-NI.VMV CODAR-14.203
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

CAPÍTULO III

CODIFICAÇÃO DOS DESASTRES HUMANOS

TÍTULO I DESASTRES HUMANOS DE NATUREZA TECNOLÓGICA

QUADRO Nº 8

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Humanos de Natureza Tecnológica

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos de Natureza Tecnológica CODAR-HT CODAR-21


Desastres Siderais de Natureza Tecnológica CODAR-HT.S CODAR-21.1
Desastres siderais de natureza tecnológica sem menção de riscos
radioativos CODAR– HT.SSR CODAR-21.101
Desastres siderais de natureza tecnológica com menção de riscos
radioativos CODAR-HT.SCR CODAR-21.102
Desastres Relacionados com Meios de Transporte sem menção de Risco
Químico ou Radioativo CODAR-HT.T CODAR-21.2
Desastres relacionados com meios de transporte aéreo CODAR-HT.TAE CODAR-21.201
Desastres relacionados com meios de transporte ferroviário CODAR-HT.TFR CODAR-21.202
Desastres relacionados com meios de transporte fluvial CODAR-HT.TFL CODAR-21.203
Desastres relacionados com meios de transporte marítimo CODAR-HT.TMR CODAR-21.204
Desastres relacionados com meios de transporte rodoviário CODAR-HT.TRV CODAR-21.205
Desastres Relacionados com a Construção Civil CODAR-HT.C CODAR-21.3
Desastres relacionados com a danificação ou a destruição de
habitações CODAR-HT.CDH CODAR-21.301
Desastres relacionados com a danificação ou a destruição de obras de
arte ou de edificações por problemas relativos ao solo e às fundações CODAR-HT.CPS CODAR-21.302
Desastres relacionados com a danificação ou a destruição de obras de
arte ou de edificações por problemas de estruturas CODAR-HT.CPE CODAR-21.303
Desastres relacionados com o rompimento de barragens e riscos de
inundação a jusante CODAR-HT.CRB CODAR-21.304
Desastres e/ou acidentes de trabalho ocorridos durante a construção CODAR-HT.CAC CODAR-21.305
Desastres relacionados com as atividades de Mineração CODAR-HT.CAM CODAR-21.306
Desastres de Natureza Tecnológica Relacionados com Incêndios CODAR-HT.I CODAR-21.4
Incêndios em instalações de combustíveis, óleos e lubrificantes (COL) CODAR-HT.ICB CODAR-21.401
Incêndios em meios de transporte marítimo ou fluvial CODAR-HT.IMF CODAR-21.402
Incêndios em áreas portuárias CODAR-HT.IAP CODAR-21.403
Incêndios em plantas e distritos industriais CODAR-HT.IPI CODAR-21.404
Incêndios em edificações com grandes densidades de usuários CODAR-HT.IED CODAR-21.405
Desastres de Natureza Tecnológica Relacionados com Produtos Perigosos CODAR-HT.P CODAR-21.5
Desastres com meios de transporte com menção de riscos de
extravasamento de produtos perigosos CODAR-HT.PMT CODAR-21.501
Desastres em plantas e distritos industriais, parques e depósitos com
menção de riscos de extravasamento de produtos perigosos CODAR-HT.PIQ CODAR-21.502
Desastres em plantas e distritos industriais, parques ou depósitos
de explosivos CODAR-HT.PEX CODAR-21.503
Desastres relacionados com o uso abusivo e não controlado de agrotóxicos CODAR-HT.PAG CODAR-21.504
Desastres relacionados com intoxicação exógenas no ambiente familiar CODAR-HT.PAD CODAR-21.505
Desastres relacionados com a contaminação de Sistemas de água potável CODAR-HT.PCA CODAR-21.506
Desastres relacionados com substâncias e equipamentos radioativos de
uso em medicina CODAR-HT.PRM CODAR-21.507
Desastres relacionados com substâncias e equipamentos radioativos de
uso em pesquisas, indústrias e usinas atomoelétricas CODAR-HT.PAE CODAR-21.508
Outros desastres relacionados com produtos perigosos CODAR-HT.POP CODAR-21.509
| 239

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Relacionados com Concentrações Demográficas e com Riscos


de Colapso ou Exaurimento de Energia e de Outros Recursos e/ou
Sistemas Essenciais CODAR-HT.D CODAR-21.6
Desastres relacionados com riscos de colapso ou exaurimento de
recursos hídricos CODAR-HT.DRH CODAR-21.601
Desastres relacionados com riscos de colapso ou exaurimento de
recursos energéticos CODAR-HT.DRE CODAR-21.602
Desastres relacionados com riscos de colapso ou sobrecarga do
sistema de coleta de lixo CODAR-HT.DLX CODAR-21.603
Desastres relacionados com riscos de intensa poluição Provocada por
escapamento de gases e partículas em suspensão na atmosfera CODAR-HT.DGP CODAR-21.604
Desastres relacionados com riscos de intensa poluição Provocada por
resíduos líquidos efluentes da atividade industrial CODAR-HT.DRL CODAR-21.605
Desastres relacionados com riscos de intensa poluição Provocada por
resíduos sólidos da atividade industrial CODAR-HT.DRS CODAR-21.606
Desastres relacionados com riscos de intensa poluição Provocada por
dejetos e outros poluentes resultantes da atividade humana CODAR-HT.DPH CODAR-21.607
Desastres relacionados com riscos de colapso nos sistemas de
computadorizados e de automoção CODAR-HT.DSD CODAR-21.608

TÍTULO II

DESASTRES HUMANOS DE NATUREZA SOCIAL

QUADRO Nº 9

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Humanos de Natureza Social

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos de Natureza Social CODAR-HS CODAR-22


Desastres relacionados com ecossistemas urbanos e rurais CODAR-HS.E CODAR-22.1
Incêndios urbanos ou rurais CODAR-HS.EIN CODAR-22.101
Desastres relacionados com a depredação do solo por desmatamento
sem controle e/ou má gestão agropecuária CODAR-HS.EDS CODAR-22.102
Desastres relacionados com a depredação do solo por acumulação de
rejeitos de mineração CODAR-HS.ERM CODAR-22.103
Desastres relacionados com a depredação do solo por zoneamento
urbano e/ou rural deficiente CODAR-HS.EZD CODAR-22.104
Desastres relacionados com a destruição intencional da flora e da fauna CODAR-HS.EDF CODAR-22.105
Desastres relacionados com o fluxo desordenado de trânsito CODAR-HS.EFT CODAR-22.106
Desastres Humanos Relacionados com Convulsões Sociais CODAR-HS.C CODAR-22.2
Desemprego e/ou subemprego generalizado CODAR-HS.CDG CODAR-22.201
Especulação CODAR-HS.CES CODAR-22.202
Fome e desnutrição CODAR-HS.CFD CODAR-22.203
Migrações intensas e descontroladas CODAR-HS.CMD CODAR-22.204
Intensificação da violência doméstica CODAR-HS.CVD CODAR-22.205
Infância e juventude marginalizadas e menores carentes CODAR-HS.CJM CODAR-22.206
Grevismo generalizado CODAR-HS.CGC CODAR-22.207
Disseminação e de boatos e pânico CODAR-HS.CDB CODAR-22.208
Tumultos e desordens generalizados CODAR-HS.CTG CODAR-22.209
Tráfico de drogas intenso e generalizado CODAR-HS.CTD CODAR-22.210
Incremento dos índices de criminalidade geral e dos assaltos CODAR-HS.CIC CODAR-22.211
Banditismo e crime organizado CODAR-HS.CBQ CODAR-22.212
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos Relacionados com Convulsões Sociais (cont.)


Venda de segurança e matadores a soldo CODAR-HS.CVS CODAR-22.213
Colapso do sistema penintenciário CODAR-HS.CCP CODAR-22.214
Terrorismo Interno CODAR-HS.CTE CODAR-22.215
Perseguições e conflitos ideológicos religiosos e/ou raciais CODAR-HS.CPC CODAR-22.216
Desastres Humanos Relacionados com Conflitos bélicos CODAR-HS.B CODAR-22.3
Guerras internas, civis e revolucionárias CODAR-HS.BGI CODAR-22.301
Guerras convencionais CODAR-HS.BGC CODAR-22.302
Guerras regulares CODAR-HS.BGR CODAR-22.303
Guerras irregulares CODAR-HS.BGI CODAR-22.304
Guerrilhas CODAR-HS.BGL CODAR-22.305
Guerras biológicas CODAR-HS.BGB CODAR-22.306
Guerras nucleares CODAR-HS.BGN CODAR-22.307
Guerras químicas CODAR-HS.BGQ CODAR-22.308
Terrorismo com apoio de organizações (terroristas) internacionais CODAR-HS.BTI CODAR-22.310

QUADRO Nº 10

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Humanos de Natureza Biológica

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos de Natureza Biológica CODAR-HB CODAR-23


Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Vetores
Biológicos CODAR-HB.V CODAR-23.1
Dengue CODAR-HB.VDE CODAR-23.101
Febre amarela CODAR-HB.VFA CODAR-23.102
Leishmaniose cutânea CODAR-HB.VLC CODAR-23.103
Leishmaniose visceral CODAR-HB.VLV CODAR-23.104
Malária CODAR-HB.VMA CODAR-23.105
Peste CODAR-HB.VPE CODAR-23.106
Tripanossomíase americana CODAR-HB.VTA CODAR-23.107
Trioanossomíase africana (doença do sono) CODAR-HB.VTS CODAR-23.108
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Agua e/
ou Alimentos CODAR-HB.A CODAR-23.2
Amebiase CODAR-HB.AAM CODAR-23.201
Cólera CODAR-HB.ACO CODAR-23.202
Diarreias agudas CODAR-HB.ADA CODAR-23.203
Diarreia causada por Escherichia Coli CODAR-HB.AEC CODAR-23.204
Salmoneloses CODAR-HB.ASL CODAR-23.205
Febre tifoide CODAR-HB.AFT CODAR-23.206
Febre paratifoide CODAR-HB.AFP CODAR-23.207
Shigeloses CODAR-HB.ASH CODAR-23.208
Intoxicações alimentares CODAR-HB.AIA CODAR-23.209
Hepatite a virus “A” CODAR-HB.AHA CODAR-23.210
Poliomelite CODAR-HB.APO CODAR-23.211
Outras doenças transmitidas por água e alimentos CODAR-HB.AGE CODAR-23.299
| 241

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Inalação CODAR-HB.I CODAR-23.3
Coqueluche CODAR-HB.ICO CODAR-23.301
Difteria CODAR-HB.IDF CODAR-23.302
Gripe ou influenza CODAR-HB.IGR CODAR-23.303
Meningite meningocócica CODAR-HB.IMM CODAR-23.304
Sarampo CODAR-HB.ISA CODAR-23.305
Tuberculose CODAR-HB.ITU CODAR-23.306
Outras doenças respiratórias agudas CODAR-HB.IRA CODAR-23.399
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por Sangue
e por outras Secreções Orgânicas Contaminadas CODAR-HB.S CODAR-23.4
Hepatite a virus “B” CODAR-HB.SHB CODAR-23.401
Hepatite a virus “C” CODAR-HB.SHC CODAR-23.402
Síndrome da imunodefinicência adquirida CODAR-HB.SID CODAR-23.403
Outras doenças sexualmente transmissíveis CODAR-HB.SST CODAR-23.404
Hepatite a virus delta (Febre Negra de Labrea) CODAR-HB.SHD CODAR-23.405
Desastres Humanos Relacionados com Doenças Transmitidas por outros
ou por mais de um Mecanismo de Transmissão CODAR-HB.G CODAR-23.5
Leptospirose CODAR-HB.GLP CODAR-23.501
Raiva CODAR-HB.GRV CODAR-23.502
Tétano CODAR-HB.GTE CODAR-23.503
Schistossomose ou esquitossomose CODAR-HB.GSC CODAR-23.504
Outras doenças transmitidas por outros ou por mais de mecanismo de
transmissão CODAR-HB.GGE CODAR-23.599

CAPÍTULO IV

CODIFICAÇÃO DOS DESASTRES MISTOS

TÍTULO I

DESASTRES MISTOS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE EXTERNA

QUADRO Nº 11

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
Terrestre Externa

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Externa CODAR-ME CODAR-31


Desastres Mistos Relacionados com a Ionosfera CODAR-ME.I CODAR-31.1
Bolsões de Redução da Camada de Ozônio CODAR-ME.IRO CODAR-31.101
Desastres Mistos Relacionados com a Atmosfera CODAR-ME.A CODAR-31.2
Efeito estufa CODAR-ME.AEE CODAR-31.201
Chuvas ácidas CODAR-ME.ACA CODAR-31.202
Camadas de inversão térmica CODAR-ME.AIT CODAR-31.203
ANEXO C. Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos

TÍTULO II

DESASTRES MISTOS RELACIONADOS COM A GEODINÂMICA TERRESTRE INTERNA

QUADRO Nº 12

Sistematização da Codificação Alfabética e Numérica dos Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica
Terrestre Interna

CODAR
Classificação
Alfabético Numérico

Desastres Mistos Relacionados com a Geodinâmica Terrestre Interna CODAR-MI CODAR-32


Desastres Mistos Relacionados com a Sismicidade Induzida CODAR-MI.S CODAR-32.1
Sismicidade induzida por reservatórios CODAR-MI.SIR CODAR-32.101
Sismicidade induzida por outras causas CODAR-MI.SGE CODAR-32.199
Desastres Mistos Relacionados com a Geomorfologia, o Intemperismo e
a Erosão CODAR-MI.G CODAR-32.2
Salinização do solo CODAR-MI.GSS CODAR-32.201
Desertificação CODAR-MI.GDE CODAR-32.202
| 243

ANEXO D.
QUADRO DE AMEAÇAS
X VULNERABILIDADES
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a terremoto,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Residências e outras edificações de construção não adequada a
Tremor de terra

Vibrações do terreno que provocam terremotos.


oscilações verticais e horizontais na ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem

superfície da Terra (ondas sísmicas). Pode cobertura pública ou privada de assistência.


ser natural ou induzido. ◆ Sistemas de alerta e outros inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Terremoto

resposta ao desastre.

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a terremoto, nas zonas
costeiras, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Residências e outras edificações de construção não adequada a

Série de ondas geradas por deslocamento terremotos.


Tsunami

de um grande volume de água causado ◆ População, particularmente os grupos mais vulneráveis, sem

geralmente por terremotos, erupções cobertura pública ou privada de assistência.


vulcânicas ou movimentos de massa. ◆ Sistemas de alerta e outros inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

• Sistemas de alerta e alarme, inexistentes ou em mau


Produtos/materiais vulcânicos lançados funcionamento.
Emanação
na atmosfera a partir de erupções ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Vulcânica
vulcânicas. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
As quedas de blocos são movimentos
Queda, tombamento e rolamento

rápidos e acontecem quando materiais


rochosos diversos e de volumes variáveis • População residente ou que desenvolve atividades
Movimentos de massa

se destacam de encostas muito íngremes, socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda, tombamento e


num movimento tipo queda livre. rolamento de blocos, particularmente os denominados “grupos
Os tombamentos de blocos são movimen- vulneráveis”.
Blocos

to de massa em que ocorre a rotação de ◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de

um bloco de solo ou rocha em torno de engenharia para a contenção e remoção de blocos.


um ponto ou abaixo do centro de gravida- ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

de da massa desprendida. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Rolamentos de blocos são movimentos de resposta ao desastre.
blocos rochosos ao longo de encostas, que
ocorre geralmente pela perda de apoio.
| 245

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda e tombamento de
Movimentos rápidos que acontecem
lascas, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
quando fatias delgadas formadas pelos
Lascas

◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de


fragmentos de rochas se destacam
engenharia para a contenção e remoção de lascas.
de encostas muito íngremes, num
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
movimento tipo queda livre.
Queda, tombamento e rolamento (cont.)

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda, tombamento e
Movimentos rápidos que acontecem rolamento de matacões e lajes, particularmente os denominados
Matacões

quando materiais rochosos diversos e “grupos vulneráveis”.


de volumes variáveis se destacam de ◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de

encostas e movimentam-se num plano engenharia para a contenção e remoção de matacões.


inclinado. ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à queda e tombamento de
Movimentos rápidos de fragmentos de
lajes, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
rochas extensas de superfície mais ou
Lajes

◆ Ausência ou inadequado estado de conservação de obras de


menos plana e de pouca espessura se
engenharia para a contenção e remoção de lajes.
destacam de encostas muito íngremes,
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Movimentos de massa (cont.)

num movimento tipo queda livre.


do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a deslizamentos,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

Movimentos rápidos de solo e ou rocha, funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


De solo e/ou rocha
Deslizamento

apresentando superfície de ruptura bem deslizamento e proteção das populações e infraestruturas em


definida, de duração relativamente curta, encostas.
de massas de terreno geralmente bem ◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras

definidas quanto ao seu volume, cujo de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
centro de gravidade se desloca para baixo sobre os materiais das encostas.
e para fora do talude. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a corridas de massa,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


Corrida de Massa

corridas de massa e proteção das populações e infraestruturas


Solo / Lama

Por índices pluviométricos excepcionais,


em encostas.
o solo/lama, misturado com a água, tem
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
comportamento de líquido viscoso, de
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
extenso raio de ação.
sobre os materiais das encostas.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a corridas de massa,
particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Corrida de Massa (cont.)

funcionamento de obras de engenharia para a contenção de


Rocha / Detrito

corridas de massa e proteção das populações e infraestruturas


Por índices pluviométricos excepcionais,
em encostas.
rocha/detrito, misturado com a água, tem
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
comportamento de líquido viscoso, de
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
Movimentos de massa (cont.)

extenso raio de ação.


sobre os materiais das encostas.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à subsidência e colapso,
Subsidência e colapso

particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.


◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras
Afundamento rápido ou gradual do
de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica
terreno devido ao colapso de cavidades,
sobre os materiais susceptíveis à subsidência e colapso.
redução da porosidade do solo ou
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
deformação de material argiloso.
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
Erosão Costeira/Marinha

socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão costeira e


marinha, particularmente os denominados “grupos vulneráveis”.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e
Processo de desgaste que ocorre ao longo
funcionamento de obras de engenharia para a contenção da
da linha da costa e se deve à ação das
erosão costeira e marinha; e a proteção das populações e
ondas, correntes marinhas e marés.
infraestruturas em zona costeira.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
Erosão

socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão de margem


fluvial, particularmente aqueles pertencentes a grupos
Erosão de Margem Fluvial

específicos de vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado estado de conservação e

funcionamento de obras de engenharia para a contenção


Desgaste das encostas dos rios que da erosão de margem fluvial e proteção das populações e
provoca desmoronamento de barrancos. infraestruturas.
◆ Ausência e/ou inadequado estado de conservação e uso de obras

de drenagem em zonas urbanas que reduzam a ação hidráulica


sobre os materiais susceptíveis à erosão de margens fluvial.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 247

Risco Geológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de


Laminar

Remoção de uma camada delgada e conservação dos solos e manutenção de cobertura vegetal.
uniforme do solo superficial provocada ◆ População despreparada e não capacitada na compreensão do

por fluxo hídrico não concentrado. fenômeno e na execução de medidas preventivas e de resposta
ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis à erosão em ravina,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


recursos hídricos, a conservação dos solos e a manutenção da
Evolução, em tamanho e profundidade,
cobertura vegetal.
da desagregação e remoção das
Ravina

◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia


partículas do solo de sulcos provocada
para a contenção de erosão em ravinas e a proteção das
por escoamento hídrico superficial
populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

e dissipação de energia em zonas urbanas que reduzam a ação


Erosão Continental
Erosão (cont.)

hidráulica sobre as áreas susceptíveis e/ou já impactadas pela


erosão em ravinas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveisà erosão em boçoroca,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Evolução do processo de ravinamento, recursos hídricos, a conservação dos solos e a manutenção da
em tamanho e profundidade, em que a cobertura vegetal.
Boçoroca

desagregação e remoção das partículas ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

do solo são provocadas por escoamento para a contenção de erosão em boçorocas e a proteção das
hídrico superficial e subsuperficial populações, edificações, infraestruturas viárias e lavouras.
concentrado. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

e dissipação de energia em zonas urbanas que reduzam a ação


hidráulica sobre as áreas susceptíveis e/ou já impactadas pela
erosão em boçorocas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Hidrológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a inundações,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
Submersão de áreas fora dos limites
◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
normais de um curso de água em zonas
Inundações

condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço


que normalmente não se encontram
e a manutenção da cobertura vegetal.
submersas. O transbordamento ocorre de
◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem
modo gradual, geralmente ocasionado
e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
por chuvas prolongadas em áreas de
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
planície.
funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

Risco Hidrológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a enxurradas,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
Escoamento superficial de alta vulnerabilidade.
velocidade e energia, provocado por ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
Enxurradas

chuvas intensas e concentradas, condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
normalmente em pequenas bacias e a manutenção da cobertura vegetal.
de relevo acidentado. Caracterizada ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

pela elevação súbita das vazões e de dissipação de energia hídrica em zonas urbanas.
de determinada drenagem e ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

transbordamento brusco da calha aluvial. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• População residente ou que desenvolve atividades
socioeconômicas em áreas susceptíveis a alagamentos,
particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
vulnerabilidade.
Extrapolação da capacidade de ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas que
Alagamentos

escoamento de sistemas de drenagem condicionem o uso dos recursos hídricos, a ocupação do espaço
urbana e consequente acúmulo de e a manutenção da cobertura vegetal.
água em ruas, calçadas ou outras ◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de obras de drenagem

infraestruturas urbanas, em decorrência hídrica em zonas urbanas.


de precipitações intensas. ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• População residente ou que desenvolve atividades


socioeconômicas em áreas susceptíveis a ventos costeiros,
(mobilidade de dunas)

particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de


Ventos costeiros

vulnerabilidade.
Intensificação dos ventos
Sistemas de Grande Escala/Escala Regional

◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de ações para a


nas regiões litorâneas,
conservação e restauração da cobertura vegetal por intermédio
movimentando dunas de areia
de plantas fixadoras do solo, assim como a construção de
sobre construções na orla.
barreiras vegetais.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


Ciclones

resposta ao desastre.
Ondas violentas que geram uma
maior agitação do mar próximo
Marés de tempestade

à praia. Ocorrem quando rajadas • População residente ou que desenvolve atividades


fortes de vento fazem subir o socioeconômicas em áreas susceptíveis a marés de tempestade,
nível do oceano em mar aberto e particularmente aqueles pertencentes a grupos específicos de
essa intensificação das correntes vulnerabilidade.
marítimas carrega uma enorme ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

quantidade de água em direção do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


ao litoral. Em consequência, as resposta ao desastre.
praias inundam e as ondas se
tornam maiores.
| 249

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Massa de ar frio que avança sobre


uma região, provocando queda • Existência de populações, particularmente os denominados
Zonas de Convergência

brusca da temperatura local, com “grupos vulneráveis” sem condições de moradia.


Frentes frias /

período de duração inferior à ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a

friagem. A Zona de Convergência longo prazo e de medidas de emergência.


é uma região ligada à tempestade ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

causada por uma zona de baixa funcionamento


pressão atmosférica, provocando ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

forte deslocamento de massas de do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


ar, vendavais, chuvas intensas e resposta ao desastre.
até queda de granizo.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
Coluna de ar que gira de forma construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
violenta e muito perigosa, ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
Tornados

estando em contato com a terra e funcionamento.


a base de uma nuvem de grande ◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas

desenvolvimento vertical. Essa e bens (seguros).


coluna de ar pode percorrer ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

vários quilômetros. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
Tempestade de

funcionamento.
Tempestade com intensa
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
raios

atividade elétrica no interior


e bens (seguros).
das nuvens, com grande
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Tempestades

desenvolvimento vertical.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
Tempestade Local/Convectiva

• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de


construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

funcionamento.
Granizo

Precipitação de pedaços
◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas
irregulares de gelo.
e bens (seguros).
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
Chuvas intensas

◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

São chuvas que ocorrem com funcionamento.


acumulados significativos ◆ Ausência total ou parcial de programas de proteção de pessoas

causando múltiplos desastres. e bens (seguros).


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência total ou parcial de residências e outras edificações de
construção sólida e telhados afixados apropriadamente.
◆ Ausência total ou parcial de barreiras vegetais.
Vendaval

Forte deslocamento de uma ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

massa de ar em uma região. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Período prolongado de tempo


Onda de calor

excessivamente quente e • Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau


desconfortável, onde as funcionamento.
temperaturas ficam acima de ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

um valor normal esperado para do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


aquela região em determinado resposta ao desastre.
período do ano.
• Existência de populações, particularmente os denominados
Período de tempo que dura, no “grupos vulneráveis” sem condições de moradia.
Temperaturas extremas

mínimo, de três a quatro dias, ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a


Friagem

e os valores de temperatura longo prazo e de medidas de emergência.


mínima do ar ficam abaixo ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

dos valores esperados para funcionamento.


determinada região em um ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
Onda de frio

período do ano. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Existência de populações, particularmente os denominados
“grupos vulneráveis” sem condições de moradia.
◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a

Formação de uma camada de longo prazo e de medidas de emergência.


Geadas

cristais de gelo na superfície ou ◆ Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau

na folhagem exposta. funcionamento.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a longo
prazo e de medidas de emergência.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Período prolongado de baixa ou recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
Estiagem

nenhuma pluviosidade, em que cobertura vegetal.


a perda de umidade do solo é ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

superior à sua reposição. para a captação, o armazenamento e a distribuição de água


superficial e subterrânea para diferentes fins.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
Seca

• Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida a longo


prazo e de medidas de emergência.
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Estiagem prolongada, durante
recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
período de tempo suficiente
cobertura vegetal.
Seca

para que a falta de precipitação


◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia
provoque grave desequilíbrio
para a captação, o armazenamento e a distribuição de água
hidrológico.
superficial e subterrânea para diferentes fins.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
| 251

Risco Meteorológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Ambiental e Áreas • Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau


Incêndio Florestal

Áreas de Proteção

de Preservação funcionamento.
Em Parques,

Permanente
Propagação de fogo sem controle,
◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle
em qualquer tipo de vegetação
preventivo e emergencial de incêndios florestais.
situada em áreas legalmente
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
protegidas.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
com reflexos na
qualidade do ar

Propagação de fogo sem controle, funcionamento.


Em áreas não
protegidas,

em qualquer tipo de vegetação ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de controle

que não se encontre em áreas sob preventivo e emergencial de incêndios florestais.


Seca (cont.)

proteção legal, acarretando em ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

queda da qualidade do ar. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Sistemas de alerta e alarme inexistentes ou em mau
funcionamento.
Baixa umidade do ar

◆ Ausência ou inadequado funcionamento de medidas de manejo

integrado de bacias hidrográficas que condicionem o uso dos


Queda da taxa de vapor d’água recursos hídricos, a ocupação do espaço e a manutenção da
suspensa na atmosfera para cobertura vegetal.
níveis abaixo de 20%. ◆ Ausência ou inadequado funcionamento de obras de engenharia

para a captação e o armazenamento de água superficial.


◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

• Os grupos vulneráveis compreendem mulheres grávidas (zika), os


Aumento brusco, significativo e espectros de idade, os trabalhadores rurais.
transitório da ocorrência de doenças ◆ Grandes aglomerações humanas que favorecem a dispersão dos

geradas por vírus. vírus (gripe);


◆ Baixa adesão às campanhas de vacinação.

◆• Presença de vetores transmissores dos ◆ Ausência de medidas de emergência para epidemias.


Doenças
vírus (Aedes aegypti no caso da dengue, ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas
Infecciosas Virais
zika, chikungunya e febre amarela); de saúde que reduzam os efeitos das doenças infecciosas
◆• Grande aglomerações demográficas que virais (superlotação de unidades de saúde, diagnóstico tardio,
favorecem à propagação dos vírus; vigilância sentinela).
◆• Fracas ou inexistentes campanhas de ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

vacinação em massa. do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
• Concentração de grupos vulneráveis de população (baixa renda
e escolaridade; idosos, mulheres e crianças, imunodeprimidos
– exceção: crianças maiores e adultos jovens são o estrato da
população mais vulnerável à meningite meningocócica).
Aumento brusco, significativo e ◆ Grandes aglomerações humanas que favorecem a propagação

transitório da ocorrência de doenças das bactérias (meningite e coqueluche).


geradas por bactérias. ◆ Fiscalização sanitária insuficiente (botulismo).

◆ Ausência e/ou inadequado funcionamento de medidas e obras


Doenças
◆• Presença de vetores transmissores de saneamento básico (peste, cólera).
Infecciosas
das bactérias (pulgas) e de animais ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida
Bacterianas
reservatórios (roedores); (habitação, planejamento urbano) e de medidas de emergência
◆• Campanhas inadequadas de prevenção (contenção de enchentes).
de doenças sexualmente transmissíveis ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas

(sífilis); de saúde e capacitação de recursos humanos que reduzam os


efeitos das doenças infecciosas bacterianas.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


resposta ao desastre.
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

Aumento brusco, significativo e • Alguns grupos populacionais são mais vulneráveis, como os
transitório da ocorrência de doenças espectros de idade, imunodeprimidos e os de baixa renda e
geradas por parasitas. escolaridade.
◆ Atividades laborais (garimpo, agricultura) podem favorecer a

◆• Presença de vetores nas áreas urbanas transmissão de algumas doenças parasitárias, como é o caso da
ou silvestres com atividade antrópica malária.
(Anopheles sp., Lutzomyia sp.); ◆ Ausência de programas de melhoria de qualidade de vida

Doenças ◆• Presença de animais reservatórios (saneamento, habitação) e de medidas de emergência (controle


Infecciosas dos parasitas em área urbana (cães vetor e reservatórios).
Parasitárias e roedores) ou silvestre (raposas, ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas

macacos, caramujos); de saúde que reduzam os efeitos das doenças infecciosas


◆• Invasão humana de áreas de mata parasitárias (vigilância epidemiológica, vigilância sentinela,
onde a doença apresenta ciclo tratamento rápido dos casos positivos).
epidemiológico estabelecido (malária, ◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão

leishmaniose); do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de


◆• Adaptação dos vetores às áreas urbanas resposta ao desastre.
(Aedes albopictus)
• Alguns grupos populacionais são mais susceptíveis,
principalmente os que apresentam alteração do sistema
imunológico, como os transplantados, hospitalizados, com
Aumento brusco, significativo e
malignidades hematológicas e HIV positivos,
transitório da ocorrência de doenças
◆ Para algumas doenças fúngicas, recém-nascidos e idosos são
geradas por fungos.
mais susceptíveis.
Doenças ◆ Atividades de caça e turismo ecológico.
◆• Presença de esporos de fungos no solo,
Infecciosas ◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de
matéria orgânica ou vegetação.
Fúngicas unidades de saúde e capacitação de recursos humanos
◆• Treinamento inexistente ou inadequado
que reduzam a infecção por doenças fúngicas no ambiente
de recursos humanos em saúde para
hospitalar.
evitar ou reduzir as infecções fúngicas
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
em ambiente hospitalar.
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
resposta ao desastre.

Infestações de animais ocorrem quando


• Agricultores podem ser mais afetados por infestações de animais,
alteram o equilíbrio ecológico de uma
como gafanhotos, formigas, caramujos e javalis.
região, de uma bacia hidrográfica ou
◆ Pecuaristas são mais susceptíveis no caso de cobras, morcegos e
quando um bioma é afetado por suas
javalis.
ações predatórias.
◆ A população extrativista é mais vulnerável ao ataque de animais

peçonhentos, como as cobras.


◆• Degradação Ambiental (supressão das
◆ Apicultores podem ser diretamente afetados pela ação de
florestas, produção de lixo).
espécies exóticas ou híbridas de abelhas melíferas.
◆• Pressão antrópica sobre os ambientes
◆ Pacientes internados em hospitais estão mais expostos a infec-
Infestações de naturais para ampliar as áreas de
ções devido à contaminação do ambiente por micro-organismos
Animais agricultura e pecuária, expansão
carreados por formigas.
urbana.
◆ O ambiente natural pode ser severamente afetado pela
◆• Introdução de espécies exóticas com
infestação de animais, com consequências a longo prazo para a
alto potencial de invasão.
provisão de serviços ecossistêmicos.
◆• Ausência de políticas, monitoramento e
◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem
fiscalização ambiental.
os impactos da introdução de espécies exóticas no país e os
◆• Extinção ou redução da população de
possíveis prejuízos econômicos e ecológicos associados.
predadores que, no ambiente natural,
◆ Vigilância e controle de espécies exóticas que podem se tornar
mantinham a espécie praga em níveis
praga ecológica ou urbana.
adequados.
| 253

Risco Biológico Ameaça – Definição Vulnerabilidades

◆• Maré vermelha: aglomeração de


microalgas em água-doce ou em
Florações de algas nocivas(Marés vermelhas e cianobactérias)

água salgada suficiente para causar


alterações físicas, químicas ou
biológicas em sua composição,
caracterizada por uma mudança de cor,
• Os grupos mais vulneráveis compreendem os consumidores de
tornando-se amarela, laranja, vermelha
frutos do mar, trabalhados da aquicultura, moradores e turistas
ou marrom.
de regiões litorâneas, recém-nascidos.
◆ Ausência de levantamentos sobre a ocorrência de florações
Infestações de Algas

◆• Cianobactérias em reservatórios:
nocivas em nível nacional e os direcionadores associados.
Aglomerações de cianobactérias em
◆ Ausência e/ou inadequado estado de funcionamento de sistemas
reservatórios receptores de descargas
de saneamento que evitem a eutrofização dos ambientes
de dejetos domésticos, industriais e/
aquáticos.
ou agrícolas, provocando alterações
◆ Ausência e/ou inadequado sistema de vigilância e controle do
das propriedades físicas, químicas ou
uso de produtos químicos agrícolas e da produção de efluentes
biológicas da água.
industriais que favoreçam as florações nocivas em reservatórios.
◆ População despreparada e/ou não capacitada na compreensão
◆• Degradação Ambiental (como a
do fenômeno e na execução de medidas preventivas e de
eutrofização dos ecossistemas
resposta ao desastre.
aquáticos).
◆• Pressão antrópica sobre os ambientes
naturais de água-doce ou salgada
(construção de portos, reservatórios).
◆• Ausência de políticas, monitoramento e
fiscalização ambiental.
Quaisquer infestações que alterem o • Vigilância e controle de espécies exóticas que podem se tornar
equilíbrio ecológico de uma região, praga ecológica ou para a agricultura.
bacia hidrográfica ou bioma afetado ◆ Áreas altamente degradadas são mais sujeitas à introdução de

por suas ações predatórias (outras espécies exóticas invasoras.


pragas prejudiciais à agricultura e ◆ O uso intensivo de agrotóxicos está relacionado à resistência de

à pecuária, como algumas espécies pragas biológicas.


vegetais e de fungos). ◆ Impactos são mais persistentes na agricultura de subsistência,

em monoculturas e em unidades de conservação.


Outras Infestações
◆• Degradação Ambiental. ◆ Animais criados a pasto são mais susceptíveis a intoxicações,

◆• Pressão antrópica sobre os ambientes embora possa ocorrer contaminação da silagem.


naturais para construção de estradas, ◆ O ambiente natural pode ser severamente afetado pela

expansão da área urbana, dentre outros. infestação vegetal, com consequências a longo prazo para a
◆• Introdução de espécies exóticas com provisão de serviços ecossistêmicos.
alto potencial de invasão. ◆ A população e, em alguns casos, o poder público desconhecem

◆• Ausência de políticas, monitoramento e os impactos da introdução de espécies exóticas no país e os


fiscalização ambiental. possíveis prejuízos econômicos e ecológicos associados.
*N/A – Não existem fatores de vulnerabilidade específicos para a ameaça correspondente.
Fonte: SEDEC/MI.

RISCOS TECNOLÓGICOS AMEAÇA – DEFINIÇÃO VULNERABILIDADES


Substâncias e equipamentos radioativos • Concentração populacional no entorno de usinas nucleares.
de uso em pesquisas, atividades ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
Substâncias perigosas industriais, usinas nucleares, unidades socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
radioativas de saúde (fontes radioativas). usinas nucleares.
Resíduos radioativos. N/A

• Concentração populacional no entorno de áreas industriais e


outros sítios onde há movimentação de substâncias perigosas.
Vazamento de produtos químicos e
◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
biológicos em áreas industriais e outros
Substâncias perigosas socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
sítios.
não radioativas áreas industriais e outros sítios onde há movimentação de
substâncias perigosas.

Vazamento de produtos químicos e


N/A
biológicos nos sistemas de água potável.
ANEXO D. Quadro de Ameaças X Vulnerabilidades

RISCOS TECNOLÓGICOS AMEAÇA – DEFINIÇÃO VULNERABILIDADES


Vazamento de produtos químicos e
Substâncias perigosas • Sensibilidade ambiental das áreas passíveis de serem afetadas
biológicos em ecossistemas lacustres,
não radioativas (cont.) por vazamento de substâncias perigosas.
fluviais, aquíferos e marinhos.
Vazamento de produtos nucleares,
radiológicos, químicos ou biológicos,
Conflitos bélicos N/A
com contaminação em decorrência de
ações militares ou terroristas.
• Concentração populacional no entorno de áreas industriais
e outros sítios onde há movimentação de substâncias
Incêndios em plantas industriais,
inflamáveis.
parques, depósitos comerciais e
◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
logradouros de grande densidade de
socioeconômico das ocupações humanas no entorno de
Incêndios urbanos usuários.
áreas industriais e outros sítios onde há movimentação de
substâncias inflamáveis.
• Padrão construtivo do aglomerado residencial.
Incêndios em aglomerados residenciais. ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e

socioeconômico do aglomerado residencial.


Colapso de edificações. N/A
• Concentração populacional nas áreas a jusante de barragens.
Obras civis ◆ Perfil demográfico (quantidade de crianças e idosos) e
Rompimento ou colapso de barragens.
socioeconômico das ocupações humanas nas áreas a jusante
de barragens.
Acidente no modal rodoviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
e cargas não perigosas.
Acidente no modal ferroviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
Transporte de e cargas não perigosas.
passageiros e cargas
não perigosas Acidente no modal aéreo envolvendo o
transporte de passageiros e cargas não N/A
perigosas.
Acidente no modal aquaviário
envolvendo o transporte de passageiros N/A
e cargas não perigosas.
*N/A – Não existem fatores de vulnerabilidade específicos para a ameaça correspondente.
Fonte: SEDEC/MI.
Anotações
Anotações

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