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Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.16, n.1, p.11-5, jan./mar.

2009 ISSN 1809-2950

Adaptações do sistema respiratório referentes à função pulmonar em resposta a um


programa de alongamento muscular pelo método de Reeducação Postural Global
Respiratory system adaptations relative to pulmonary function in response to a
muscle stretching program using the Global Posture Reeducation method
Marlene Aparecida Moreno1, Aparecida Maria Catai2, Rosana Macher Teodori3,
Bruno Luis Amoroso Borges4, Roberta Silva Zuttin5, Ester da Silva6

Estudo desenvolvido no RESUMO: A proposta deste estudo foi analisar as adaptações do sistema respiratório
Laboratório de Pesquisa em referentes à função pulmonar em resposta ao alongamento da cadeia muscular
Fisioterapia Cardiovascular e de respiratória pelo método de Reeducação Postural Global (RPG). Foram estudados
Provas Funcionais do PPG-Ft – 20 homens, sedentários, de antropometria semelhante, sem antecedentes de doenças
Programa de Pós-Graduação musculoesqueléticas ou cardiorrespiratórias. Os voluntários foram divididos
em Fisioterapia da Unimep – aleatoriamente em dois grupos de dez, sendo um grupo controle (GC), que não
Universidade Metodista de participou do protocolo de alongamento, e o outro submetido à intervenção pelo
Piracicaba, Piracicaba, SP, método de RPG, denominado grupo tratado (GT). O alongamento foi realizado
Brasil duas vezes por semana, durante oito semanas, totalizando 16 sessões. Os dois
1
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do grupos foram submetidos à prova de função pulmonar, medindo-se a capacidade
PPG-Ft da Unimep vital lenta, capacidade vital forçada e ventilação voluntária máxima, antes e após
o período de intervenção. Os valores obtidos em todas as variáveis dos voluntários
2
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do do GC na avaliação inicial não apresentaram diferença estatisticamente significante
PPG-Ft da Universidade Federal quando comparados aos obtidos na avaliação final (p>0,05). No GT os valores
de São Carlos, São Carlos, SP finais apresentaram-se significativamente maiores que os iniciais (p<0,05). O
3
protocolo de alongamento da cadeia muscular respiratória proposto pelo método
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do de RPG mostrou pois ser eficiente para promover aumento das variáveis
PPG-Ft da Unimep espirométricas, sugerindo que pode ser utilizado como um recurso fisioterapêutico
4 coadjuvante às condutas de fisioterapia respiratória.
Fisioterapeuta; Prof. Ms. do
Curso de Fisioterapia da DESCRITORES: Exercícios de alongamento muscular; Exercícios respiratórios; Postura
Unimep
ABSTRACT: The aim of this study was to analyse the respiratory system adaptations
5
Fisioterapeuta Ms. concerning pulmonary function in response to stretching the respiratory muscle
6 chain, by means of Global Posture Reeducation (GPR). Twenty sedentary young
Fisioterapeuta; Profa. Dra. do men with similar anthropometry and no history of musculoskeletal or
PPG-Ft da Unimep
cardiorespiratory disease were randomly divided into two groups of ten each: control
Colaborador: Marcelo de group (CG), who did no stretching, and treated group (TG), submitted to GPR.
Castro Cesar, Prof. Dr. do PPG Stretching was carried out twice a week for 8 weeks, in a total of 16 sessions. The
em Educação Física da Unimep two groups were submitted to pulmonary function tests to assess slow vital capacity,
forced vital capacity and maximal voluntary ventilation, before and after the
ENDEREÇO PARA intervention period. The initial values of all spirometric variables measured in CG
CORRESPONDÊNCIA volunteers showed no statistically significant differences when compared to those
of the final evaluation (p>0.05), whereas in TG all values increased after intervention
Marlene A. Moreno (p<0.05). The GPR respiratory muscle chain stretching protocol thus proved efficient
R. Santa Cruz 990 Bairro Alto to promote an increase in spirometric variables, suggesting that it may be used as
13419-030 Piracicaba SP an auxiliary resource in respiratory physical therapy.
e-mail:
ma.moreno@terra.com.br KEY WORDS: Breathing exercises; Muscle stretching exercises; Posture

Apoio financeiro: Fundo de


Apoio à Pesquisa da Unimep

APRESENTAÇÃO
out. 2008
ACEITO PARA PUBLICAÇÃO
jan. 2009

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INTRODUÇÃO positiva na mecânica respiratória11. Con-
siderando a proposta do método de RPG,
predição dos valores normais proposta
por Neder et al.13, segundo os as medi-
A relação entre atividade física e saú- este estudo visou analisar, em homens das obtidas das pressões inspiratórias
de está bem estabelecida: os exercícios sedentários, as adaptações do sistema máximas (PImáx) (Tabela 1). Não tinham
físicos associam-se a um estilo de vida respiratório referentes à função pulmonar antecedentes de doenças musculoesque-
saudável e aumento da expectativa de em resposta ao alongamento da cadeia léticas, cardiovasculares ou respiratóri-
vida e, cada vez mais, mostram indícios muscular respiratória, na postura da RPG as, conforme avaliação clínica prévia, e
de efeitos benéficos à saúde. “rã no chão com os braços abertos”. apresentavam encurtamento da cadeia
muscular respiratória, de acordo com
Alguns autores estudaram o compor- avaliação postural preconizada por
tamento da função pulmonar em sujei-
tos saudáveis frente à realização de trei-
METODOLOGIA Souchard e Ollier14.
namentos físicos diversos1,2 e os resulta- Este é um estudo prospectivo, apro- Os voluntários foram divididos em
dos demonstram que, mesmo saudáveis, vado pelo Comitê de Ética em Pesquisa dois grupos de dez por randomização
os sedentários apresentam pior função da Unimep. Os voluntários foram infor- realizada por tabela numérica, sendo um
pulmonar quando comparados a sujei- mados e esclarecidos a respeito dos ob- grupo controle (GC), que não participou
tos ativos3,4. Como um dos efeitos da jetivos e da metodologia experimental à do protocolo de alongamento, e o outro
inatividade, a mobilidade muscular pode qual seriam submetidos, explicitando o submetido à intervenção pelo método de
ser alterada devido às modificações das caráter não-invasivo dos procedimentos. RPG, denominado grupo tratado (GT).
proteínas contráteis e do metabolismo Todos assinaram o termo de consenti- Antes e após o período de interven-
das mitocôndrias, resultando em atrofia, mento livre e esclarecido. ção, todos os voluntários foram subme-
fraqueza5, diminuição do número de tidos à avaliação da função pulmonar
O cálculo amostral foi feito usando o
sarcômeros e aumento na deposição de por espirometria. A amostra foi familia-
aplicativo GraphPad StatMate (v. 1.01i)
tecido conjuntivo6, levando ao encurta- rizada com todos os procedimentos an-
para o nível de confiança de 95% e po-
mento muscular e limitação da mobili- tes do início do experimento; durante o
dade articular. der de força da amostra (power) de 80%,
utilizando-se a variável CVF. Participa- período experimental não houve perda
Apesar de a musculatura respiratória ram do estudo 20 voluntários jovens, amostral. O pesquisador que realizou
não ser passível de imobilização, sua estudantes do Curso de Fisioterapia da todas as medidas era cegado, ou seja,
constante ação de contração favorece Unimep, do sexo masculino, não- não tinha conhecimento se o voluntário
uma postura em inspiração; o encurta- tabagistas, de antropometria semelhan- era do GC ou GT, para que não houves-
mento dos músculos da cadeia respira- te e sedentários, ou seja, com capacida- se influência nos resultados. Todos os
tória leva ao aumento do volume pul- de aeróbia “fraca”, de acordo com a experimentos foram realizados no mes-
monar em repouso, caracterizando tó- classificação da American Heart mo período do dia (entre as 14 h e 17 h),
rax com grande diâmetro7, restringindo Association12. Esta foi avaliada pelo tes- com o objetivo de evitar as influências
assim a mobilidade da caixa torácica. te ergoespirométrico realizado em do ciclo circadiano nas variáveis estu-
Portanto, para que ocorram os ciclos cicloergômetro Corival 400 (Quinton, dadas.
respiratórios de forma adequada, deve Seattle, WA, USA), utilizando um O voluntário repousou por 10 minu-
haver um sincronismo entre a caixa analisador metabólico específico (CPX- tos antes do teste e todos os procedimen-
torácica, os pulmões e a musculatura res- D, Med Graphics, St. Paul, MN, USA). tos lhe foram descritos cuidadosamente.
piratória, atuando de forma harmoniosa Apesar de hígidos, todos apresentavam As provas de função pulmonar foram
e coordenada para tornar possível um força muscular inspiratória abaixo do realizadas de acordo com as orientações
fenômeno tão complexo8. predito, de acordo com a equação de da American Thoracic Society15 e das
O exercício de alongamento muscular
tem sido bastante estudado e difundido, Tabela 1 Características (média ± desvio padrão) dos grupos controle (GC) e
pois permite que o músculo recupere seu tratado (GT)
comprimento necessário para manter o
Característica GC (n=10) GT (n=10)
alinhamento postural correto e a estabi-
lidade articular, garantindo principalmen- Idade (anos) 23,4r2,7 22,9r2,0
te a integridade e a função muscular9,10. Massa corporal (kg) 81,1r7,3 80,0r4,3
No entanto, estudos sobre seu efeito na Estatura (cm) 177,7r6,1 176,4r5,7
função pulmonar ainda são incipientes, IMC (kg/m2) 25,6r1,2 25,1r1,9
possivelmente por se tratar de um grupo
PImáx predita (cmH2O) -139,4r3,8 -139,09r2,4
muscular de funcionamento complexo.
O método de Reeducação Postural Global PImáx obtida (cmH2O) -104,5r12,1 -105,5r11,1
(RPG), baseado nas cadeias musculares VO2pico (mL/kg/min-1) 30,3r4,6 30,2r4,1
posturais, apresenta preocupação especial IMC = Índice de massa corporal; PImáx: pressão inspiratória máxima; VO2pico = consumo de
com o alongamento da musculatura respi- oxigênio no pico do exercício (não houve diferença estatisticamente significante em qualquer das
ratória e tem demonstrado influência variáveis, p>0,05)

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Moreno et al. Método de RPG e função pulmonar

diretrizes para testes de função pulmo- Tabela 2 Medidas espirométricas (valores absolutos e percentual em relação aos
nar de Pereira16, usando um espirômetro preditos, %) antes e após o tratamento nos grupos controle (GC)
(Med Graphics Breeze 6.0, St. Paul, MN, e tratado (GT)
USA). Nessas provas foram medidas a
capacidade vital lenta (CVL), capacida- Variáveis GC (n=10) GT (n=10)
de vital forçada (CVF) e ventilação vo- espirométricas Antes Após Antes Após
luntária máxima (VVM). Cada manobra CVL (L) 5,42r0,4 5,25r0,6 4,98r1,0 5,38r1,0*
foi realizada até se obterem três curvas CVL % 97,7r9,3 94,9r16,0 92,4r16,3 97,3r18,2*
aceitáveis e duas reprodutíveis, não ex-
CI (L) 3,64r0,4 3,72r0,3 3,41r0,5 3,76r0,6*
cedendo mais que oito tentativas. Os
valores de referência utilizados foram os CI % 101,2r12,7 104r9,3 98,1r15,7 109r17,5*
de Pereira16, e os resultados obtidos, ex- CVF (L/s) 5,6r0,5 5,54r0,3 5,46r0,7 5,60r0,8*
pressos em condições de temperatura CVF % 100,5r7,7 99,7r7,6 100,8r10,9 104,2r11,7*
corporal e pressão ambiente saturada com VEF1 (L/s) 4,57r0,3 4,53r0,3 4,49r0,5 4,64r0,3*
vapor d’água (BTPS body temperature and
pressure saturated). VEF1 % 99,1r7,7 98,6r8,3 99,7r9,7 102,4r8,6*
VVM (L/min) 181,9r21,0 174,6r15,0 166,4r22,0 183,9r26,0*
O exame foi realizado com o volun-
VVM % 98,1r14,4 94,4r11,6 92r7,4 99,4r12,1*
tário sentado, a cabeça mantida em po-
sição neutra e fixa, e um clipe nasal foi * diferença antes x após significativa (p<0,05); CVL = capacidade vital lenta; CI = capacidade
usado para evitar vazamento de ar pe- inspiratória; CVF = capacidade vital forçada; VEF1 = volume expiratório forçado no primeiro
las narinas. Pelos testes espirométricos segundo; VVM = ventilação voluntária máxima
foram obtidos os valores absolutos e em
aproximadamente 45° de abdução, an- am avançar em sentido caudal, visando
porcentagem do previsto para cada gru-
tebraços em supinação, com as palmas principalmente o alongamento do mús-
po, referentes à CVL, capacidade inspi-
das mãos voltadas para cima; membros culo psoas ilíaco, mantendo a curvatura
ratória (CI), CVF, volume expiratório for-
inferiores com abdução, quadril e joe- lombar em contato com a superfície de
çado no primeiro segundo (VEF1) e VVM.
lhos fletidos até a completa aposição das apoio. A mesma postura foi realizada em
As cadeias musculares submetidas ao plantas dos pés. Foi realizada a pompa- todas as sessões, durante 30 minutos,
alongamento utilizando a postura “rã no gem dorsal, objetivando o alinhamento sendo que o terapeuta realizava a pro-
chão com braços abertos” foram: a) ca- das curvaturas dorsal e cervical da co- gressão da mesma até o limite possível
deia inspiratória, constituída pelos mús- luna vertebral, enquanto a pompagem para cada voluntário, dentro de cada
culos escalenos, peitoral menor, intercos- sacral buscou a retificação da coluna sessão, favorecendo o alongamento pro-
tais e diafragma e seu tendão; b) cadeia lombar. O voluntário foi solicitado a gressivo das cadeias musculares envol-
ântero-interna do ombro, constituída pe- abduzir os quadris a partir da posição vidas na postura durante o tratamento.
los músculos subescapular, coraco- inicial, mantendo as plantas dos pés em O alongamento foi realizado duas ve-
braquial e peitoral maior; c) cadeia an- aposição, alinhadas ao eixo do corpo. zes por semana, durante oito semanas,
terior do braço, constituída pelos mús- totalizando 16 sessões.
culos trapézio superior, deltóide médio, Para a realização da postura, o te-
coracobraquial, bíceps braquial, rapeuta utilizou comandos verbais e Para a análise estatística foi utilizado
braquiorradial, pronador redondo, contatos manuais, solicitando a manu- o aplicativo Statistica for Windows
palmares, flexores dos dedos, tenares e tenção do alinhamento e as correções (release 6.1 Stat Soft). O teste de
hipotenares; d) cadeia ântero-interna do posturais necessárias, com o objetivo de Kolmogorov-Smirnov foi usado para ve-
quadril, constituída pelos músculos otimizar o alongamento e impedir com- rificar a distribuição dos dados, sendo
psoas ilíaco, pectíneo, adutor curto, pensações. O voluntário foi solicitado a rejeitada a hipótese de normalidade de
adutor longo, grácil e porção anterior do realizar inspirações tranqüilas seguidas todas as variáveis. Portanto, foram utili-
adutor magno17. de expirações prolongadas, com o má- zados testes não-paramétricos, sendo o
ximo rebaixamento possível das coste- de Wilcoxon para amostras pareadas e
Previamente à realização da postura, las e protrusão do abdome, visando o de Mann-Whitney para amostras não-
os voluntários do GT foram submetidos alongamento da cadeia muscular respi- pareadas, com nível de significância
à manobra para relaxamento do diafrag- ratória, enquanto o terapeuta auxiliava α=5%.
ma, preparando-o para o alongamento7. na manutenção do crescimento axial.
Esta consistiu de uma massagem reali-
zada bilateralmente com a ponta dos
dedos, aplicada desde o ângulo costo-
Durante a realização da postura, os
membros superiores deviam seguir em
RESULTADOS
xifoidiano até as últimas costelas, utili- abdução, com alongamento progressi- Verifica-se na Tabela 2 que os dados
zando pressões suaves sobre a pele. Para vo dos músculos peitorais, até o limite obtidos da espirometria, expressos em
a postura “rã no chão com os braços possível para cada voluntário, evitando valores absolutos e percentualmente em
abertos”, o voluntário foi posicionado compensações. Da mesma forma, os relação ao previsto, obtidos antes e após
em decúbito dorsal com os braços a membros inferiores em aposição devi- o período de intervenção no GC, não

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apresentaram diferença estatisticamen- que, mesmo saudáveis, os sedentários tória, com conseqüente aumento da CVL
te significante (p>0,05). Para o GT, ob- apresentam piores resultados quando e CI nos sujeitos do GT. Segundo West28
servaram-se maiores valores após o trei- comparados a sujeitos ativos3,4. Até o e Leff e Schumacker29, a mudança do
namento, encontrando-se diferenças sig- momento, são escassos estudos que evi- volume pulmonar está diretamente re-
nificativas em todas as variáveis estuda- denciem melhora do desempenho da lacionada com a pressão que o distende,
das (p<0,05). função pulmonar em sujeitos submeti- sendo a pressão gerada para essa dis-
dos a intervenção fisioterapêutica pelo tensão dependente de uma contração
método de RPG. No entanto, outras prá- muscular efetiva.
DISCUSSÃO E ticas de atividade física têm incluído o
O efeito do alongamento dos múscu-
alongamento com o objetivo de melho-
CONCLUSÃO rar a função respiratória, como no tra-
los respiratórios nas variáveis pulmona-
res foi investigado em portadores de
Os voluntários estudados não apre- balho realizado por Mandanmohan et
al.24, que observaram aumento de índi- doença pulmonar obstrutiva crônica; os
sentavam discrepância em relação às resultados mostraram que os pacientes
características antropométricas e à ida- ces espirométricos após treinamento re-
gular de ioga, semelhante ao resultado apresentaram aumento da mobilidade
de, as quais foram cuidadosamente ob- torácica e do volume corrente e dimi-
servadas para manter a homogeneidade obtido neste estudo utilizando a RPG –
demonstrando assim que o controle da nuição da dispnéia30, bem como melho-
dos grupos, bem como garantir a quali- ra na mecânica respiratória após o perí-
respiração e o alongamento têm efeito
dade da pesquisa, uma vez que as variá- odo de intervenção31. Apesar das carac-
benéfico sobre a função pulmonar.
veis espirométricas apresentam variações terísticas dos voluntários e os protoco-
fisiológicas de acordo com o sexo, ida- Uma vez que a VVM reflete a capaci- los utilizados nos dois estudos serem
de, massa corporal e estatura18. Os mes- dade do indivíduo de sustentar um alto diferentes dos do presente estudo, os
mos apresentavam ainda encurtamento nível de ventilação, ou seja, simula um resultados são concordantes quanto aos
da cadeia muscular respiratória e valo- esforço físico extenuante, o aumento nos efeitos benéficos proporcionados pelo
res de força muscular inspiratória abai- valores dessa variável, encontrado no GT alongamento muscular sobre a função
xo do predito, com conseqüente desvan- após o período de intervenção, talvez respiratória.
tagem da mecânica respiratória, sendo possa estar relacionado ao aumento do
essas alterações geralmente decorrentes número de sarcômeros em série promo- O aumento da CVF e do VEF1 no GT
de encurtamento excessivo da muscu- vido pelo alongamento19,25, melhorando após o período de intervenção justifica-
latura inspiratória, tendo como princi- a interação entre os filamentos de actina se possivelmente pelo fato de os volun-
pais causas agressões neuropsíquicas e miosina e aumentando a capacidade tários desta pesquisa não apresentarem
(estresse), aumento do volume da mas- contrátil dos músculos respiratórios, em obstrução ao fluxo aéreo; e, como a con-
sa visceral, postura inadequada, patolo- virtude do aumento do comprimento tração dos músculos expiratórios é bas-
gias respiratórias, fraqueza muscular e funcional dos mesmos26. Assim, no pre- tante exigida durante a realização da
envelhecimento19. sente estudo procurou-se aplicar técni- postura “rã no chão com os braços aber-
cas de alongamento para melhorar a re- tos”, esta leva a uma melhora na habili-
A interação entre o pulmão e a caixa lação comprimento-tensão das fibras dade de coordenar a ação desse grupo
torácica constitui um determinante im- musculares, favorecendo o desempenho muscular, proporcionando maior efeti-
portante dos volumes pulmonares, po- da bomba respiratória, considerando vidade na realização da manobra duran-
dendo acarretar conseqüências relevan- que quanto mais alongado estiver um te os testes de reavaliação.
tes para a troca gasosa pulmonar. Os tes- músculo dentro do limite de sua capa- Em conclusão, os resultados deste
tes de função pulmonar são bastante cidade contrátil, maior será sua capaci- estudo mostraram que o alongamento da
precisos para verificar a eficácia de téc- dade de gerar tensão. cadeia muscular respiratória realizado
nicas, servindo como método auxiliar na
Hoje se aceita que existe uma remo- na postura “rã no chão com os braços
avaliação respiratória20-22, além de for-
delação dos músculos respiratórios em abertos”, do método de RPG, foi efici-
necerem medidas quantitativas que
situações de sobrecarga, que consiste ente para promover aumento significa-
constituem também indicadores da fun-
tanto em adaptações estruturais (dos tivo das variáveis espirométricas dos
ção neuromuscular23.
sarcômeros) como metabólicas (capaci- voluntários estudados, sugerindo que
São poucos na literatura os estudos dade oxidativa)27, o que pode ter sido pode ser utilizado como recurso fisio-
sobre função pulmonar em sujeitos sau- responsável pelo aumento da capacida- terapêutico coadjuvante às condutas de
dáveis, mas alguns autores demonstram de contrátil da cadeia muscular respira- fisioterapia respiratória.

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Moreno et al. Método de RPG e função pulmonar

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