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Presidente da República

Fernando Henrique Cardoso

Ministro de Estado da Educação e do Desporto


Paulo Renato Souza

Secretária Executiva (interina)


Gilda Figueiredo Portugal Gouvea

Secretária de Educação Fundamental


Iara Glória Areias Prado
CADERNOS EDUCAÇÃO BÁSICA
SÉRIE

Atualidades 'Pedagógicas

Volume 10

Buscando uma melhor qualidade


para nossas escolas

Sylvia Schmelkes

Ministério da Educação e do Desporto


Secretaria de Educação Fundamental
© 1994, Ministério da Educação e do Desporto

Autora
Sylvia Schmelkes

Ilustração capa
Riva Berstein

Tradução
Luz Maria Goytisolo Pires da Silva
Joaquim Ozório da Silva

Impressão:
Gráfica Valci

Revisores:
Heliane Morais Nascimento
Nilce Macedo Morgado

ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO
• Célio da Cunha
• Nabiha Gebrim de Souza
• Solange Maria de Fátima Gomes Paiva Castro
• Anna Maria Lamberti
• Maria Maura Mattos

Ficha Catalográfíca

B823b Schmelkes, Sylvia. Buscando uma melhor qualidade


para nossas escolas Brasília: MEC/SEF, 1994.

100p
1: Política da Educação. 2. Qualidade
da Educação. 1. Título

CDV: 37.014

Esta publicação foi realizada dentro do acordo MEC/UNESCO


CADERNOS EDUCAÇÃO BÁSICA
SÉRIE

Atualidades Pedagógicas

Volume 10

Buscando uma melhor qualidade


para nossas escolas

Sylvia Schmelkes

MEC / UNESCO
Organização dos Estados Americanos - OEA

Secretário Geral
João Clemente Baena Soares

Secretário Geral Adjunto


Christopher R. Thomas

Diretor do Departamento de Assuntos Culturais


a cargo da Secretaria Executiva para Educação, Ciência e Cultura
Juan Carlos Torchia-Estrada

Departamento de Assuntos Educacionais

Diretor
Getúlio P. Carvalho

Chefe de Programação
Jorge D. Garcia

Coordenador Regional do Projeto Multinacional de Educação Básica - PRODEBAS


Leonel Zuniga A/.

Coordenadora Regional do Projeto Multinacional de Educação para o Trabalho - PMET


Beatrice Edwards

Coordenador Regional do Projeto Multinacional de Educação Média e Superior - PROMESUP


Antônio Octávio Cintra

Coordenador Regional de Sistemas de Informação e Publicações - SIP


Carlos E Paldao

Coordenador Regional de Projetos Especiais


Arturo Garzôn

Esta publicação integra a coleção INTERAMER da Secretaria Geral da


Organização dos Estados Americanos. As idéias, afirmações e opiniões
expressas não são necessariamente as da OEA nem de seus Estados-
Membros. A responsabilidade das mesmas compete a seus autores.
Correspondências devem ser dirigidas ao Centro Editorial, La Educación,
Departamento de Assuntos Educacionais, 1889 "F" Street, N. W., 2o
Piso, Washington, D.C, 20006, U.S.A.
SUMÁRIO

Apresentação

Prólogo ....................................................................................................... 11
Introdução.................................................................................................. 13
Capítulo I
A qualidade educativa orienta-se para fora ............................................. 17

Capítulo II
A qualidade começa com o reconhecimento de que existem problemas... 27
Capítulo III
A qualidade no centro escolar e em seu contexto .................................... 37
Capítulo IV
A qualidade está no processo .................................................................. 41
Capítulo V
A qualidade depende de todos os que participam do processo................. 45
Capítulo VI
A qualidade exige liderança.................................................................... 53
Capítulo VII
A qualidade leva ao aprimoramento contínuo das pessoas envolvidas .... 61
Capítulo VIII
O planejamento e a avaliação para atingir a qualidade ............................ 71
Capítulo IX
A qualidade necessita de participação da comunidade ............................ 81
Capítulo X
Algumas implicações da qualidade ......................................................... 93
Conclusão
A qualidade é um assunto sobre o qual se deve prestar contas................. 99
APRESENTAÇÃO

Melhorar a qualidade da educação básica constitui o grande desafio lançado


pelo Plano Decenal de Educação para Todos. Mas, o que entender por melhoria da
qualidade? Como obter indicadores seguros sobre os resultados das políticas que
estão sendo postas em prática? Como compatibilizar uma política de combate à
repetência com a indispensável elevação dos padrões de qualidade? Essas são
apenas algumas questões que têm preocupado o Ministério da Educação e do
Desporto, tendo em vista a necessidade de alcançar maior clareza e precisão no
entendimento público do conceito de qualidade.
Muitas críticas têm sido veiculadas sobre a qualidade da educação básica.
como se a escola fosse a única responsável por todos os problemas sociais e
econômicos que o país enfrenta. E, quase sempre, são críticas formuladas a partir
de uma visão parcial da questão, deixando de considerar aspectos e dimensões
importantes do conceito de qualidade implícito nas metas do Plano Decenal.
Ao surgir a oportunidade de publicar, no Brasil, o livro da educadora
mexicana Sylvia Schmelkes "Buscando uma Melhor Qualidade para nossas
Escolas", editado pela OEA, o Ministério da Educação e do Desporto não teve
dúvidas em providenciar uma edição da obra em língua portuguesa, com o objetivo
de acrescentar, ao debate que se instalou no Brasil sobre a qualidade da educação
básica, uma contribuição importante e atual.
O trabalho de Sylvia Schmelkes. partindo de alguns pressupostos da filosofia
da qualidade total, que tem sido objeto de amplas discussões e iniciativas no âmbito
dos setores produtivos, indica caminhos e metodologias para melhorar a qualidade
da educação básica, mediante um novo posicionamento da escola como comunidade
educativa, envolvendo os professores, os dirigentes, a família e a comunidade, com
vistas à tarefa maior dos sistemas educativos, que é "a de formar seres humanos de
qualidade".
A virtude essencial desse trabalho é a de que ele, embora considerando os
pressupostos básicos da qualidade total, aplica-os ao contexto da especificidade da
escola, que é uma instituição educativa, que deverá sempre ter o objetivo de formar
cidadãos conscientes e críticos, tendo em vista a necessidade tanto maior quanto
mais avançam a ciência e a tecnologia capazes de. simultaneamente, trabalharem a
harmonia entre a arte e a técnica.

Célio da Cunha
Diretor do Departamento de Políticas Educacionais
DPE/SEF/MEC

Em 1992, como parte das atividades que o México realiza no Projeto


Multinacional de Educação Média e Superior - PROMESUP, sob os auspícios do
Programa Regional de Desenvolvimento Educacional - PREDE. foi publicado o
livro "Desenvolvimento social e educação. Buscando uma melhor qualidade para
nossas escolas". O volume apresentava os resultados de um estudo realizado pela
investigadora Sylvia Schmelkes, no âmbito de atividades ligadas ao
"Desenvolvimento Institucional de Pessoal Diretivo e das Inovações Curriculares
em Centros de Formação e Aperfeiçoamento Docente para a Educação Média e
Superior", realizado pela Direção Geral de Educação Tecnológica Agropecuária da
Secretaria de Educação Pública daquele país. Foi uma edição limitada, com a
finalidade de salientar diferentes aspectos conceituais e operacionais sobre o
assunto. A publicação teve uma acolhida tão favorável, que a tiragem inicial se
esgotou. Paralelamente, a Direção do Departamento de Assuntos Educacionais da
Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos começou a receber
pedidos provenientes de vários países da região, que desejavam conhecer o
trabalho. A razão é simples: o tema da "qualidade em educação" interessa a todos
os graus e modalidades educativas formais ou não formais, não somente no plano
regional, mas também internacional. Em vista disto, o Departamento de Assuntos
Educacionais tem a satisfação de apresentar ao público de idioma hispânico esta
segunda edição revisada, para responder ao interesse despertado.
No âmbito do desen volvimento organizacional, principalmente dentro do
contexto empresarial, o tratamento dos vínculos entre educação e qualidade foram
destacados pelos profissionais e acadêmicos que propuseram alternativas para a
modernização dos modelos gerenciais. As propostas formuladas neste campo
puseram em relevo diversas estratégias vinculadas ao conceito de qualidade total,
destacando, com freqüência, a necessidade de entender o aprimoramento da
qualidade dos processos produtivos como uma tarefa de conteúdo educativo.
As propostas características das novas formas de gerência dos sistemas
produtivos têm importantes implicações na forma de pensar e executar os serviços
públicos. É possível constatar que, à luz destas propostas, surgiram divagas
iniciativas para repensar ou "reinventar" a ação governamental. No entanto, é
possível observai também que, em determinados setores do serviço público, existe
uma significativa ausência de reflexão sobre as implicações dos novos modelos
gerenciais e, em particular, dos conceitos associados com a chamada qualidade
total.
A carência assinalada é especialmente significativa no campo educacional,
já que. em diversos foro, foi identificada, reiteradamente, a necessidade de
aprimorar a qualidade da educação. Sem dúvida alguma, o trabalho de Sylvia
Schmelkes revela um esforço abrangente para resolver esta carência. Pressupõe, por
conseguinte, um enfoque renovado da reflexão sobre a teoria e a prática do
fortalecimento da qualidade dos serviços educativos.
Faz-se necessário destacar, em particular, que esta nova obra de Sylvia
Schmelkes estabelece nexos significativos entre componentes centrais do conceito
de qualidade total e diversos aspectos da gestão dos processos educativos no
contexto escolar. Seu conteúdo explora-os com cuidado e relaciona-os com aspectos
tais como o enfoque na solução de problemas específicos, a participação
comunitária e o trabalho em equipe, a estruturação dos serviços em torno das
necessidades, interesses e demandas dos beneficiários, o desenvolvimento da
liderança e a sustentação dos esforços de aprimoramento contínuo dos processos e
resultados da aprendizagem.
É possível prever que, em virtude de sua forma de apresentação e
estruturação, o conteúdo deste trabalho mostrará um notável potencial didático que.
com certeza, será de especial utilidade para professores e diretores de instituições
educacionais, sobretudo, ainda que não de forma excludente, dentro do nivel da
educação básica. O texto foi revisado e a ele foram acrescentadas algumas
mudanças, tendo-se em conta o público de nossa região. Para diferenciá-lo da
primeira edição, após consulta à autora, adotamos o titulo do presente volume.
Com certeza, esta nova contribuição da Secretaria de Educação Pública do
México e de Sylvia Schmelkes será significativa no apoio aos esforços de
aprimoramento da qualidade, efetuados pelas instituições educativas dos Estados
Membros da OEA.

Antônio O. Cintra Coordenador


Regional do PROMESUP

Leonel Zúniga
Coordenador Regional do PRODEBAS
Washington D.e. EE.UU. 1994
PRÓLOGO

O Programa Regional de Desenvolvimento Educacional - PREDE. da


Organização dos Estados Americanos, conta, para o sexênio 1990-1995, com três
projetos multinacionais, um dos quais e o Projeto Multinacional de Educação Média
e Superior - PROMESUP, do qual participam 13 instituições de 11 países da
Região.

A função mais importante do PROMESUP diz respeito à realização de


estudos e pesquisas, gestão e avaliação de instituições de ensino superior e à
formação e habilitação de docentes para o serviço dos outros níveis do sistema
educativo, centralizando-se ambas as tarefas, em quatro áreas: I. Gestão e Avaliação
Institucional de Universidades; 2. Formação e Aperfeiçoamento de Diretores para a
Educação Básica e Média; 3. Tecnologia e Educação à Distância; 4. Educação
Superior e Desenvolvimento Amazônico.

Em cada área participam, pelo menos, três países e existe uma coordenação
geral, cujo trabalho é articular e organizar ações e diminuir a possibilidade de criar
compartimentos estanques dentro do Projeto.

Dentro do contexto anterior, ficou estabelecido o Projeto "Desenvolvimento


Institucional do Pessoal da Direção e das Inovações Curriculares em Centros de
Formação e Aperfeiçoamento Docente para a Educação Média e Superior". Sua
execução foi recomendada à Direção Geral de Educação Tecnológica Agropecuária
da Secretaria de Educação Pública do México, cujo objetivo é contribuir para o
aprimoramento da função diretiva em instituições de educação básica, média e
superior, a fim de aperfeiçoar e tornar mais eficiente seu desenvolvimento
institucional e ter um melhor impacto na solução dos grandes desafios, sobretudo o
ambiental.

Dentro da linha de inovações curriculares para a formação de dirigentes foi


elaborado este estudo, intitulado "Buscando melhor qualidade nas nossas escolas",
onde a autora analisa o problema da educação na nossa Região, caracterizando uma
situação na qual se atingiu um importante crescimento quantitativo, ao ampliar-se a
cobertura dos sistemas educativos, mas às expensas da diminuição de sua eficiência.
qualidade e eqüidade.
Em decorrência disso, a preocupação com a qualidade é um dos sinais dos
tempos, principalmente a qualidade que se refere ao ser humano. E a missão da
educação é justamente essa: criar seres humanos de qualidade.

A Dra. Schmelkes, partindo da convicção de que o grande salto em busca da


qualidade somente pode ser dado nas próprias escolas, pelas pessoas que nelas
trabalham, com base nas relações que estabeleçam entre si, com os estudantes e
com a comunidade à qual oferecem seus serviços, e que, portanto, as medidas
políticas educativas, concebidas de forma centralizada, já não bastam, propõe uma
maneira de tornar melhores nossas escolas, baseando-se na filosofia da qualidade
total, que revolucionou a qualidade da produção e dos serviços de empresas e
organizações no mundo inteiro.

O grande valor deste livro está. justamente, na simplicidade com que são
expostas as novas formas de organização e gestão das ações educativas, não como
receitas ou panacéias, mas como possibilidades reais de atingir, em todas e em cada
uma das escolas, a qualidade educacional desejada por todos e tao necessária em
um mundo competitivo como o atual.

Assim diz a autora: "este texto é um convite a conhecermos a forma pela


qual isto pode se tornar possível".

M.C.Juan E. Grajeda Gómez


Coordenador do PROMESUP no México
Direção Geral de Educação Tecnológica e Agropecuária - DGETA
Subsecretária de Educação e Investigação Tecnológica - SEIT
Secretaria de Educação Pública - SEP
México, 1992
INTRODUÇÃO

COMO ENTENDER A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO

Este livro destina-se aos responsáveis pela qualidade da educação nas nossas
escolas de educação básica: os diretores e os professores.

Partimos da convicção de que o grande salto para frente, na qualidade da


educação básica, somente poderá vir das próprias escolas. Sem negar a necessidade
de reformas profundas no sistema educacional global, a verdadeira mudança de
nossa educação, a mudança qualitativa, e assunto de cada escola, das pessoas que
nela trabalham e das relações que elas estabeleçam entre si, com os alunos e com a
comunidade à qual servem.

A preocupação com a qualidade é, talvez, o que melhor caracteriza nossos


tempos. A qualidade de vida é uma aspiração legítima de todo ser humano. Isto
depende, primordialmente, da qualidade do nosso dia-a-dia e, em última análise, da
qualidade dos seres humanos. A riqueza de uma nação depende de sua gente. E a
função da educação é criar seres humanos de qualidade.

O sistema educacional nos nossos países progrediu, de forma considerável,


na sua capacidade de ampliar a cobertura do sistema, de assegurar a oferta de
escolas, aulas e professores. Com isto. aumentou a matrícula, diminuiu o
analfabetismo, aumentou a média de escolaridade da população da América Latina.

No entanto, isso foi alcançado sem os correspondentes progressos no terreno


dos conteúdos aprendidos na escola e com grandes desigualdades entre países e
entre regiões no interior dos países. A crise dos anos 80. com a conseqüente
diminuição real dos recursos destinados à educação, provocou uma dinâmica, na
qual, ainda que quantitativamente o sistema educacional se mantenha e inclusive
cresça, qualitativamente a educação se deteriora. Sc esse processo continuar, o
sistema educacional estará longe de cumprir sua tarefa: a de formar seres humanos
de qualidade.

Estes resultados levaram a colocar a necessidade de analisar o problema de


outro modo. Não é possível continuar trabalhando na mesma perspectiva, se
queremos combater o problema da qualidade deficiente da educação em nossas
escolas. Um trabalho elaborado em conjunto pela Comissão Econômica para
América Latina - CEPAL e a United Nations Education, Science and Culture
Organization - UNESCO assinala o seguinte, sobre o assunto:

Chegamos ao término de um processo educacional, pelo qual foram


obtidos abundantes progressos quantitativos, às custas de
menosprezar a eficiência, a qualidade e a eqüidade. Passar deste
sistema a outro que privilegie a qualidade e sua efetiva difusão a
todos os níveis da sociedade, bem como as sinergias entre os
diferentes processos de difusão e de geração do conhecimento, e entre
eles a economia, constitui a grande tarefa da América Latina para o
próximo decênio.1

A qualidade que estamos buscando como resultado da educação básica deve


ser entendida claramente como a capacidade de proporcionar aos alunos o domínio
dos códigos culturais básicos, as habilidades para a participação democrática e
cidadã, o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas e de continuar
aprendendo, e a formação de valores e atitudes que estejam de acordo com uma
sociedade que deseja uma vida de qualidade para todos os seus habitantes. Tal como
ficou estabelecido na Declaração Mundial de Educação para Todos, subscrita por
nossos países:

Toda pessoa - criança, jovem ou adulto - deverá poder contar com


possibilidades educativas, a fim de satisfazer suas necessidades de
aprendizagem básica. Estas necessidades abrangem tanto as
ferramentas essenciais para a aprendizagem (como a leitura e a
escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problcmas),como os
próprios conteúdos da aprendizagem básica (conhecimentos teóricos e
práticos, valores e atitudes) necessários para que os seres humanos
possam sobreviver, desenvolver plenamente suas capacidades, viver e
trabalhar com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento,
aprimorar a qualidade de suas vidas, tomar decisões fundamentadas e
continuar aprendendo...2

Não podemos pretender alcançar o que foi dito acima, exclusivamente


através de medidas de política educativa, concebidas de forma centralizada,
padronizadas e uniformes para todas as escolas. A história do desenvolvimento e
expansão da educação primária, nas últimas décadas, demonstrou que estas
medidas, apesar de darem impulso ao crescimento do sistema, não são capazes de
assegurar a qualidade de forma equitativa, nas diversas escolas do país. A educação
verdadeira é a que acontece dentro de cada sala de aula, em cada centro de estudos.
Sua qualidade depende da qualidade das relações que se estabelecem entre as
pessoas que ali trabalham, com os alunos e com a comunidade imediata à qual
servem. Por isso, a qualidade da educação somente poderá melhorar, de forma real,
na medida em que, a partir de cada centro de estudos, sejam geradas, de maneira
participativa e compartilhada, as condições que "cada" centro de estudos necessita
para alcançar resultados de qualidade na educação, proporcionada a "cada grupo de
alunos", nas condições específicas da comunidade concreta à qual presta serviços.

Este texto pretende servir de introdução a essa possibilidade. Para fazê-lo,


pede emprestadas as noções fundamentais da filosofia da qualidade total, que já
demonstrou sua capacidade de revolucionar a qualidade da produção e dos serviços
de empresas e organizações, que as adotaram em nível mundial. Procuraremos aqui
adaptar algumas dessas idéias à vida escolar.

Para fazê-lo, consideramos a escola - o centro - escolar como uma


organização prestadora de serviços: neste caso, do serviço educacional básico.
Sabemos que a escola não está isolada, que depende de um sistema educacional
mais amplo, e que, deste sistema, recolhe recursos e apoios, mas também
limitações. No entanto, partimos da convicção de que o desejo de melhorar está
presente em todo ser humano, e que é este desejo de melhorar que constitui o
impulso fundamental e central de todo processo de aprimoramento qualitativo.
Acreditamos, portanto, que é muito o que se pode fazer, a partir do próprio centro
escolar, para melhorar, significativamente, a qualidade do que fazemos e do que
alcançamos em educação. Compartilhamos as idéias, contidas no já citado
documento da CEPAL-UNESCO, de que as mudanças institucionais são
prioritárias, e que é necessário descobrir e experimentar novas formas de
organização e de gestão das ações educativas.

O que foi dito acima exige, fundamentalmente, uma convicção e vontade de


mudar. Não se trata, segundo nos indica a filosofia da qualidade total, de realizar
grandes mudanças, mas apenas pequenas melhorias em todas as áreas, em todos os
processos, com a participação inteligente do diretor, de todos os professores e dos
outros agentes que participam do processo, para a satisfação dos beneficiários da
ação educativa. Necessitamos acreditar, com Granados Chapa, que a falta de
qualidade é um problema social:

A falta de qualidade, a qualidade insuficiente, é um problema social.


Sua prática quotidiana gera um consumidor, ou seja. uma pessoa, ou
seja. um cidadão desconfiado ou submisso. A falta de qualidade
engendra a falta de qualidade. Contém um potencial subversivo, de
verdadeira dissolução social, já que propicia o cinismo e a frustração
coletiva, a simulação de todos contra todos. 3

E exige, em contrapartida, a convicção de que a luta contra este problema social


depende de nós, na medida em que sejamos capazes de iniciar e participar
ativamente de um processo dinâmico, sustentado e sistemático.

... para melhorar as organizações, para desenvolver as pessoas que


trabalham nelas e para propiciar uma melhor qualidade de vida para
toda a sociedade.4

Este texto é um convite para conhecermos a forma pela qual isto pode se
tornar possível.

NOTAS

I.- CEPAL-UNESCO. Educación y conocimiento: Eje de la transformación productiva con equidad.


Santiago: CEPAL-UNESCO, 1992.

2.- Artigo 1o. da Declaração Mundial sobre Educação para Todos. "Satisfação das Necessidades de
Aprendizagem Básica". Jomtien, Março de 1990.

3.- CHAPA Miguel Angel Granados. Memórias dei II Congreso Internacional de Calidad Total.
México, FlJNDAMECA, 1991.

4.- ESCALANTE, Joaquin Peòn. Memórias del II Congreso Nacional de Calidad Total. México:
FUNDAMECA, 1991.
CAPITULO I A QUALIDADE

EDUCATIVA ORIENTA-SE PARA FORA

Os objetivos da educação

A atividade educativa não teria sentido se não fosse por seus objetivos com
relação à sociedade na qual está inserida. É o objetivo externo da educação que dá
significado a toda instituição que educa.

Esta afirmação pode parecer evidente. No entanto, no funcionamento


quotidiano das escolas isto é de uma obviedade que parece ser esquecida. Desta
forma, em certas ocasiões, damos mais importância aos objetivos voltados para
dentro da educação que aos objetivos voltados para fora. Assim, torna-se mais
importante organizar as atividades, de tal forma que os alunos sejam capazes de
passar em um exame, de cumprir os requisitos que são exigidos para alcançar o
grau ou a série seguinte, de atender às normas e regulamentos da escola, que é o
verdadeiro sentido de tudo o que se afirmou. Perdendo-o de vista, muitas vezes
acontece que educamos mais para a escola do que para a vida: que servimos melhor
ao aparelho educacional do que à sociedade de forma mais ampla.

Esta não é a intenção do currículo, nem da organização escolar. Na origem


de todo programa educacional, de toda estrutura educativa, está a preocupação em
alcançar a função social que se outorga ao sistema de educação e, portanto, a cada
escola.

No entanto, às vezes é difícil definir o que se espera da educação. De fato, é


complexo identificar que tipo de contribuição se pode pedir à escola. Ao longo da
história da educação, pediram-se muitas coisas, talvez ate demais, ao sistema
educacional. Muitas delas terminam por ficar afastadas das suas funções
especificas. Outras, na maioria das vezes, não dependem exclusivamente dos
sistemas educacionais, mas de muitos outros fatores, apesar de que a escola tenha
nelas um papel claro. Outras, ao contrário, são realmente próprias da escola.

Por exemplo, dos sistemas educacionais esperavam-se contribuições


significativas, relacionadas com objetivos tais como:
Criar uma identidade nacional.
Melhorar o bem-estar da população e sua qualidade de vida.
Propiciar a mobilidade social.
Melhorar as oportunidades de emprego de seus egressos.
Aumentar a renda daqueles que passam por suas aulas.
Formar cidadãos democráticos.
Ampliar a cultura universal.
Proporcionar aos alunos uma formação sobre os valores próprios de
um membro ativo e comprometido com a sociedade em que vive.
Formar pessoas críticas e criativas.
Formar seres humanos capazes de enfrentar e resolver problemas.
Formar pessoas aptas a prosseguirem em seus estudos.

Neste mesmo sentido, mas visto sob uma perspectiva crítica da função
reprodutora e legitimadora da escola, foram atribuídas a ela, entre outras, as
capacidades de:

Inculcar a ideologia dominante (e, deste modo. assegurar a


reprodução das relações de produção).
Selecionar os que poderão prosseguir seu caminho dentro do sistema
educativo, chegando a fazer parte da classe dominante, e os que
deverão passar às fileiras dos dominados.
Alcançar a legitimação das diferenças sociais numa sociedade
determinada, através do argumento do "sucesso" educativo. Fornecer
a capacitação, exigida pelo aparelho produtivo, à mão-de-obra que
ele necessita para gerar riquezas.

Foram feitas pesquisas que demonstram que todos os pontos anteriores, tanto
da primeira como da segunda lista, com efeito, representam resultados que se
podem atribuir ao sistema educacional. Assim, é um fato histórico que os Estados-
nação fortaleceram-se após a universalização de seus sistemas educacionais.
Também é certo que aqueles que possuem maiores níveis de educação têm um
maior bem-estar e melhores salários. A expansão dos sistemas educacionais
permitiu, em determinadas sociedades e durante períodos históricos também
determinados, que os filhos mais educados que seus pais tenham melhores posições
e melhores níveis de bem-estar geral (mobilidade social entre gerações). Mesmo
com muitas exceções, é possível encontrar-se alguma associação entre sociedades
mais democráticas e sociedades cuja população tem uma média de escolaridade
maior.

Da mesma forma, há muitos estudos que demonstram a existência de


diversos mecanismos que permitem a seleção social dos estudantes, de acordo com
sua classe social de origem. Existem análises sobre a forma pela qual a escola gera
e exige um saber e uma expressão lingüística distante e diferente do saber e da
expressão lingüística das classes populares, e como, ao assim procederem,
obstaculizam a passagem pelo sistema educacional dos indivíduos com estes
conhecimentos e estas linguagens. Está amplamente documentada a forma como,
em termos gerais, os recursos educativos são distribuídos em função da riqueza ou
pobreza preexistentes, e sobre como os sistemas educacionais, desta forma, não
somente refletem mas também reforçam as diferenças entre os setores e camadas
sociais.

E o que acontece é que a educação é um fato social que tem, por definição.
todos estes resultados. O que também é certo, e muitas vezes é esquecido nas
análises que se realizam sobre os mesmos, é que a escola não é a única responsável.
Mais ainda: poderíamos dizer que, dado um conjunto de limitações de caráter
orgânico e estrutural, a escola dificilmente poderia alcançar algo diferente. Desta
maneira, se o sistema educacional encontra-se inserido numa realidade histórico-
temporal determinada, na qual o emprego não cresce no mesmo ritmo que a
formação educativa em seus diferentes níveis, não se poderá exigir da escola que
melhore as oportunidades de emprego, ou que melhore, conseqüentemente, os
salários dos seus egressos. Da mesma forma se. no sistema político mais amplo, as
expressões e os anseios de democracia são reprimidos e atropelados e se restringe a
participação cidadã, dificilmente poder-se-á pedir à escola que produza cidadãos
democráticos. Outro exemplo próprio do sistema educacional: se os critérios de
distribuição de recursos às diferentes escolas do sistema obedecem mais a critérios
de caráter político que a uma intenção de justiça na distribuição de oportunidades,
dificilmente poderá o sistema educacional tornar eqüitativo o acesso de seus
egressos aos benefícios do desenvolvimento social.

Talvez a pergunta esteja mal formulada. É injusto pedir exclusivamente ao


sistema educativo que cumpra com tudo o que a sociedade exige dele. Mas seria
também absurdo limitar a função da escola ao que acontece dentro das suas
paredes.
A pergunta sobre a qualidade da educação deve transformar-se em uma
pergunta sistêmica: Como o sistema educacional está contribuindo para alcançar
este conjunto de objetivos? E o movimento em busca de melhor qualidade na
educação deveria partir da pergunta de como ela pode contribuir melhor.

Definidas estas premissas fundamentais, poderíamos então formular, como


válida, a seguinte afirmação: não se pode atribuir à educação a capacidade de
transformar a sociedade à qual pertence. No entanto, não é possível conceber o
desenvolvimento das condições de vida de amplos setores da população, se estes
setores não superarem sua condição de exclusão do saber universal e das
habilidades básicas, que permitirão sua participação qualitativa nos processos de
transformação das realidades que os afetam, quotidiana e socialmente, ou seja. de
suas condições de vida. Desta forma, a educação é o ingrediente sem o qual um
processo de desenvolvimento não tem a qualidade necessária para transformar os
indivíduos em agentes ativos na sua própria transformação e na do seu ambiente
social, cultural e político.

Resumindo, o objetivo externo da atividade educativa e, portanto,


como dissemos no princípio, o que dá sentido à mesma, é o de
contribuir para o aprimoramento da qualidade de vida - atual e futura
- dos educandos e. desta forma, para a qualidade dos processos de
desenvolvimento da sociedade.

Os beneficiários da educação

Talvez a premissa fundamental da filosofia da qualidade total seja a de


direcionar os processos para a satisfação dos beneficiários. Tendo em vista que as
publicações sobre qualidade total procedem da administração de empresas e
organizações que produzem bens e serviços, neles fala-se da satisfação do cliente.
Em educação, preferimos falar de beneficiários.

No caso de uma empresa, a definição do beneficiário (ou do cliente) é um


assunto relativamente simples: trata-se da pessoa que consome o produto ou recebe
o serviço que a empresa ou organização oferece no mercado. No caso da educação,
a situação é um pouco mais complexa. Vejamos.

O principal beneficiário da educação é. sem dúvida alguma, o aluno. Ele é o


receptor - e um receptor ativo e participante de todo o esforço educativo e. claro, de
todo impulso para aprimorar a qualidade da educação. É o aluno quem melhorará
qualitativamente, como resultado da melhoria dos processos educativos. O aluno é,
portanto, o beneficiário imediato da educação. E, assim sendo, é o beneficiário mais
importante.

No entanto, este aluno necessita, por definição, de dois tipos de serviços


vindos da escola. Necessita dos serviços que tornem possível que ele se desenvolva
como pessoa, aprenda de acordo com suas capacidades, aumente seu potencial.
fortaleça sua auto-estima, manifeste os valores adquiridos na vida quotidiana.
demonstrando a si próprio sua capacidade crítica e criativa. Mas precisa, também.
que estes serviços venham a ser úteis - e qualitativamente úteis - para sua vida
adulta. Portanto, o aluno é o beneficiário principal da atividade educativa, tanto no
imediato, como no mediato. Devido a isto, a educação não pode ser reduzida ao que
sirva ao aluno para a etapa do processo de desenvolvimento pessoal pela qual está
passando, mas deve, também, oferecer os elementos, que farão com que ele se
desenvolva, de forma adequada, em um mundo que é do futuro e que devemos
poder prever.

Mas os pais de familia também são beneficiários do trabalho da escola. São


eles que tem a tutela sobre os filhos menores de idade; que decidem enviar seus
filhos à escola e, quando há opções, a uma escola determinada; os pais de família
contribuem, de diversas maneiras e com diferente intensidade, para que o processo
educativo renda os frutos que eles esperam da escola. Deles depende, em grande
parte, que os alunos compareçam à escola, que cheguem pontualmente, que tenham
tudo o que necessitam para poderem aprender, que recebam o apoio extra-escolar
indispensável para que se atinjam, adequadamente, os objetivos educativos. De
outro lado. são os pais de família os que exercem controle sobre a escola e que, em
determinadas ocasiões, exigem das autoridades o seu funcionamento adequado. E,
talvez, o mais importante seja o fato de que os pais de família compartilhem com a
escola a função formadora das crianças. Portanto, os pais de família também são
beneficiários da atividade educativa.

Visto de outra perspectiva, os alunos sao o produto do processo educativo.


Ao longo de sua passagem pela escola,- o aluno vai se educando, para se
transformar em um egresso que participará, de maneira ativa, em outro centro de
estudos de nivel subseqüente, no mercado de trabalho, na sociedade de forma mais
ampla. Desta maneira, beneficiárias do contexto educativo são as escolas de nivel
mais alto. que recebem nossos egressos. São beneficiários os centros de trabalho
que lhes dão emprego. E a comunidade, na qual o aluno desempenhará um papel
social e político. E, em termos mais amplos, é a sociedade a beneficiária do sistema
educativo. A partir deste ponto de vista, é necessário levar-se em conta que os
resultados qualitativos do nosso trabalho não terminam quando o aluno deixa nosso
centro de estudos. Muitos deles serão vistos, justamente, após este momento e
durante muito tempo depois. Com efeito, não é que nossos alunos "deixem" a
escola, mas sim que "ingressam" na sociedade, para a qual foram formados. A
qualidade da inserção na sociedade é um dos objetivos principais do nosso trabalho.

Se um processo de aprimoramento da qualidade caracteriza-se por colocar,


no centro, o beneficiário, quando falamos de educação temos que colocar no centro
todos os beneficiários anteriormente citados.

Resumindo são beneficiários da ação da escola: o


aluno de hoje
o mesmo aluno no dia de amanhã a escola
que o recebe como egresso a pessoa ou
organização que lhe dá emprego a
comunidade na qual o aluno vive
a sociedade na qual terá seu desempenho social, econômico, cultural e
político.

Um processo de aprimoramento da qualidade da escola deve dedicar-se a


satisfazer, cada vez melhor, estes beneficiários.

Até agora, falamos dos beneficiários externos da organização, neste caso. da


escola. Referimo-nos aos que se beneficiam com os serviços educativos que a escola
oferece. Mas é importante levar em conta que toda organização tem também
beneficiários internos. No caso de uma escola, o exemplo mais claro do beneficiário
interno é o professor da série seguinte, que receberá os alunos da série anterior.
Este professor também, será beneficiado por uma educação de qualidade ou
prejudicado por sua ausência. Outra das noções básicas da filosofia da qualidade
total é que, em relação a estes beneficiários internos, devemos aplicar os mesmos
princípios que se aplicam aos externos. Em outras palavras, suas necessidades e
expectativas, também, são um aspecto central dos esforços por aprimorar a
qualidade dentro da sala de aula.
Numa fábrica, se um departamento de produção envia peças defeituosas ao
departamento responsável pela fase seguinte da produção de um artigo será difícil
produzir com qualidade, já que seria muito oneroso. Por isso, um dos princípios
importantes da filosofia da qualidade total é o de reduzir a zero o envio de peças
defeituosas ao departamento seguinte. Da mesma maneira, insiste-se em que a
solução de problemas desta natureza, não está em identificar estas peças defeituosas
e devolvê-las a seu lugar de origem, mas sim em evitar produzi-las. Um
movimento de qualidade total em uma empresa estaria dedicado a eliminar as
causas que levam à produção de peças defeituosas.

Em educação, não falamos de peças. Falamos de pessoas - os alunos. -


Estas pessoas são afetadas, de forma especial, quando não atendemos às causas de
seu atraso escolar. Em muitas ocasiões, os efeitos provocados por permitirmos esse
atraso têm conseqüências que perduram ao longo de toda a vida. Na escola, a
solução que, muitas vezes, damos ao atraso escolar é a de tornar a começar:
reprovamos o aluno. Sabemos que, se o aluno não aprendeu, não pode satisfazer às
necessidades da série seguinte. Concentramos muito menos nossos esforços em
evitar o atraso e em combater as causas que o provocam. E, para não incomodar o
beneficiário interno - o professor da próxima serie - prejudicamos o aluno, que
representa nosso beneficiário imediato e a razão de ser da atividade escolar.

Com isto não estamos dizendo que é necessário eliminar a reprovação. O


que queremos deixar claro é que, sob qualquer ponto de vista, é mais conveniente
atacar as causas que levam, a posteriori, à reprovação. Como afirma, com toda
clareza, a filosofia da qualidade total: é muito menos oneroso prevenir do que
corrigir. Na educação, esta correção implica nada menos do que tornar a começar, o
que acarreta enormes custos econômicos, sociais e afetivos. É conveniente recordar
que o efeito de um problema não é sentido por quem o criou, mas por quem o
recebe.

A importância dos beneficiários

O beneficiário de uma empresa ou de uma organização, como a escola, é


todo aquele que avalia a qualidade de nossos serviços. E ele deve ser o interlocutor
privilegiado de toda organização. Isto por um dos três motivos seguintes:

a) porquê se quem avalia tem opções e sua avaliação é negativa, ele


abandonará nosso serviço. Assim, os pais poderão decidir enviar seus
filhos a uma outra escola. As escolas de níveis subseqüentes poderão
recusar nossos egressos. Os empregadores preferirão dar emprego aos
egressos de escolas de melhor qualidade. A sociedade terminará por
marginalizar os que terminem ou que abandonem definitivamente
nossos cursos;
b) porquê se quem avalia não tem opções, mas tem direitos e
expectativas sobre a qualidade do nosso serviço, terá também o direito
de exigir de nós, por diferentes meios, que cumpramos essas
expectativas. Sem dúvida, quando isto acontece, gera-se uma pressão
- benéfica, a longo prazo - sobre o aprimoramento da qualidade
educativa. A curto prazo, no entanto, gera tensões e conflitos, que
dificultam e obstaculizam um movimento em busca de uma melhor
qualidade;
e) porque se quem avalia não tem opções, e mesmo tendo direitos, não
tem claras suas expectativas, se conformará com um serviço medíocre
ou simplesmente o recusará (o aluno evadir-se-á). Infelizmente, isto é
o que acontece com muitas das nossas escolas. Os pais de família,
muitas vezes, têm poucos esclarecimentos sobre o que a escola deve
oferecer, porque eles mesmos não foram escolarizados. As escolas de
ensino médio têm a obrigação de receber os egressos da primária,
mesmo que venham mal preparados. As conseqüências sociais deste
fato ou de que nosso serviço seja recusado, como é óbvio, são
nefastas. Gera-se um círculo vicioso de ausência de qualidade, que
nos lembra a citação de Miguel Ángel Granados Chapa, na
introdução.

Assim sendo, um movimento em busca de melhor qualidade educativa deve


partir do propósito de satisfazer o beneficiário - o que avalia a qualidade do serviço
que oferecemos. Para alcançar esse objetivo, é necessário conhecer melhor suas
necessidades, suas expectativas, suas preocupações, suas insatisfações com relação
ao serviço que estamos oferecendo. Da mesma forma, é preciso que o beneficiário
conheça e participe do que estamos tentando realizar, para melhorar a qualidade.

Agora, é necessário reconhecer que a qualidade não é algo absoluto nem


estático. As concepções sobre a qualidade mudam com o tempo; e quem avalia a
qualidade tenderá sempre a ser cada vez mais exigente. Por isso. um movimento em
busca da qualidade é isto: um movimento em espiral ascendente. Uma vez iniciado,
a única coisa que pode fazer é alcançar mais qualidade.
Por outro lado, é conveniente levar em conta que a qualidade tem muitas
escalas, não uma só. Assim sendo, o julgamento sobre a qualidade da educação que
oferecemos nunca será único. Não nos é estranho que uma escola seja qualificada
como boa no setor acadêmico, mas deficiente na formação de valores. Ou como
excelente na atividade esportiva, mas deficiente na formação acadêmica. O
beneficiário terá várias escalas de julgamento. Trata-se de safisfazê-lo em todas
elas. Por isso. falamos de qualidade total.

Os beneficiários e o centro escolar

Tudo isso implica que o centro escolar se preocupe, principalmente, com as


solicitações de seus beneficiários, de tal forma que possa dar prioridade, através de
ações, à satisfação das mesmas.

A escola, devido à sua função principal, deve dar prioridade à


aprendizagem. E ao que o aluno realmente aprende, na sua passagem pela escola.
podem reduzir-se as solicitações e as expectativas de todos os beneficiários da nossa
lista. Assim, a escola deve perguntar-se, principalmente, o quê e como devem
aprender os alunos.

Para fazê-lo, terá que levar em conta vários elementos. Um deles, muito
importante, é o currículo oficial. Todo centro escolar tem que alcançar os objetivos
que estão plasmados nos planos e programas de estudo. Somente assim teremos a
possibilidade de assegurar que o que oferecemos nas escolas de todo o país é
equivalente e, só assim, teremos as bases para esperar a eqüidade como resultado do
nosso sistema educativo.

Mas o currículo oficial deve representar somente um ponto de partida. O


diálogo com os beneficiários - todos eles, - juntamente com a descoberta daquilo
em que falhamos como escola, poderá levar-nos a definir, com muito mais clareza,
o que priorizar, o que acrescentar, e, principalmente, como proceder para que todos
os nossos alunos atinjam esta aprendizagem efetiva . Este diálogo deve ser
permanente e deve envolver todo o pessoal da escola, como veremos nos capítulos
seguintes.

Resumindo as idéias fundamentais deste capítulo:


A escola não pode transformar a sociedade, mas pode contribuir para
que a transformação seja de qualidade, que se centre na qualidade das
pessoas e que conduza a uma melhor qualidade de vida.
Para melhorar a qualidade da educação que oferecemos na nossa
escola é importante que nos proponhamos a satisfazer as necessidades
e expectativas de nossos beneficiários.
Beneficiário é todo aquele que avalia a qualidade de nosso serviço. Os
principais beneficiários no contexto de uma escola são: os alunos (o
que são hoje e o que serão amanhã), os pais de família, os níveis
educativos subseqüentes, os empregadores, a comunidade e a
sociedade de forma mais ampla.
O professor da série imediatamente superior é um beneficiário do
trabalho do professor da série inferior porque recebe seus alunos. No
entanto, para levar em conta, tanto suas exigências como as de seus
alunos, o esforço deve centrar-se em evitar o atraso escolar e não em
selecionar adequadamente os alunos que serão reprovados. A escola
deve definir seu processo de aprimoramento da qualidade dando
prioridade ao que os alunos realmente aprendem. Nisto estão
sintetizadas as exigências dos diversos beneficiários da escola.
CAPITULO II

A QUALIDADE COMEÇA COM O RECONHECIMENTO DE


QUE EXISTEM PROBLEMAS

Introdução

Não se pode iniciar um movimento em busca da qualidade se não se


reconhece que existem problemas. Todo impulso para melhorar a qualidade de um
produto ou de um serviço começa por este passo. A complacência é o pior inimigo
da qualidade.

No entanto, reconhecer que existem problemas não é o suficiente. Faz-se


necessário assumir a decisão de que chegou o momento de fazer alguma coisa a
respeito. Tomada esta decisão, segue-se um conjunto de passos. Se a decisão é de
uma pessoa ou de um grupo de pessoas é necessário convencer as outras. Nenhum
processo de aprimoramento real da qualidade pode ter lugar sem a participação
ativa e absoluta de todos os que trabalham na organização.

É necessário, em conjunto, decidir empreender alguma coisa para resolver o


problema. Esta é uma decisão mais precisa do que a anterior. A anterior é vaga,
manifesta uma inconformidade. Esta implica que já se tenha uma solução, pelo
menos hipotética, para enfrentar algum problema.

Mas aqui. novamente, a decisão é insuficiente. É necessário que exista um


compromisso com o que se empreende. E, novamente, o compromisso deve ser de
todos.

Isto é fácil de dizer, mas é talvez um dos passos mais difíceis de empreender
em um processo de aprimoramento da qualidade porque o compromisso implica
naquilo que os teóricos da qualidade chamaram de mudança cultural. Em outras
palavras, trata-se de fortalecer valores compartilhados, de vive-los no dia-a-dia e de
renová-los grupalmente.

Estes valores, no fundo, partem de uma convicção básica: vale a pena fazer
as coisas o melhor que se pode e cada vez melhor. Fazer bem as coisas humaniza as
pessoas, que passam a encontrar sentido em seu trabalho.
Fazer as coisas cada vez melhor exige constância. Um dos inimigos
principais dos movimentos de qualidade é justamente a falta de constância. Este é
um valor necessário e também difícil de atingir. Isso deve-se, fundamentalmente, a
que os movimentos de aprimoramento da qualidade são processos de longo prazo.
Seus resultados são alcançados em anos, não em meses. Mas também deve-se ao
fato de que o processo de aprimoramento da qualidade é, por definição,
permanente: lento e gradual, mas permanente.

Agora, quando se trata de uma organização, ninguém pode empreender um


compromisso desta natureza de forma isolada. E necessário que o trabalho seja de
todos; que o objetivo central não seja o beneficio pessoal, mas sim o aprimoramento
da organização, para que ela possa cumprir melhor seu objetivo externo. Isso
significa, em muitas ocasiões, uma mudança radical em nossa forma de nos
relacionarmos.

Por último, um compromisso desta natureza exige uma liderança. É


necessário que o diretor da escola aprenda a exercer essa liderança que é uma
liderança de apoio e solidariedade - e também que os mestres aprendam a aceitá-la
e a enriquecê-la.

Os problemas são resolvidos na fonte

Em um movimento em busca da qualidade não se trata de consertar o que


está errado. Trata-se de resolver os problemas, atacando suas causas. Em outras
palavras, trata-se de eliminar tudo aquilo que provoca a existência do problema.

Muitas vezes, confundimos os sintomas dos problemas com suas causas.


Geralmente, a primeira resposta a um problema nao é a causa fundamental. Assim
sendo, tendemos a explicar o absenteísmo e a falta de aprendizagem na escola como
sintomas de falta de interesse ou de apoio dos pais de família. No entanto, poucas
vezes pensamos no que nós fizemos para nos aproximarmos deles, para conhecer
seus anseios e pedir-lhes apoio. O atraso escolar é. para muitos de nós. resultado de
que as crianças não aprendem, não se aplicam, são débeis mentais. Não nos
conscientizamos do fato de que nós, como professores, pouco fazemos para
entender os problemas que esses alunos têm e para atendê-los de uma forma pessoal
para evitar que se atrasem.
Um movimento em busca da qualidade começa com os problemas que estão
mais próximos de nós. É conveniente classificá-los entre os que sao de nossa
própria responsabilidade e os que sao da responsabilidade de outros, dando
prioridade aos nossos próprios problemas.

Os problemas de uma escola

Cada escola é única. A escola típica não existe. A escola é definida por
aqueles que nela trabalham, os alunos aos quais serve, a comunidade em que está
inserida e as interações entre todo esse contexto. Por isso, é muito difícil falar dos
problemas que afetam a qualidade nas escolas em termos gerais.

No entanto, existem alguns problemas que afetam a qualidade da


aprendizagem e que estão presentes em muitas das escolas que conhecemos. Vamos
mencioná-los aqui, não para dizer que elas, com certeza, também existem na escola
em que você, leitor, trabalha, mas com a intenção de despertar inquietações sobre o
tipo de problemas que podem afetar a qualidade.

O problema da falta de matrícula

Este problema está na base da qualidade educativa, porque se a escola não é


capaz de atrair toda sua clientela, não existem sequer condições para que haja um
processo educativo escolar. No entanto, nem todas as escolas indagam-se sobre o
grau de cobertura que estão alcançando na comunidade à qual supostamente
servem. E um número menor ainda, tenta conhecer as causas dessa falta de
matrícula.

O problema da evasão

Nos países da America Latina, a evasão é um problema grave. Uma


porcentagem importante de alunos abandona as aulas antes de terminar a escola
primária. Muitos destes alunos abandonam-na quando já estão em idade de
trabalhar. Na maior parte dos casos, esta idade, que deveria corresponder aos
últimos graus da escola primária, é alcançada quando os alunos ainda estão em
graus inferiores, pois as crianças que deixam a escola, geralmente já foram
reprovadas. Assim, como no caso da falta de matrícula, a evasão significa ausência
de contato com o processo de ensino. A presença deste problema significa falta de
condições para que se possa falar de qualidade.
O problema da reprovação

Já mencionamos o fato de que a reprovação é, em muitos casos, a causa da


evasão. Mas também é necessário advertir que a reprovação é uma conseqüência de
um problema mais profundo. Ela é conseqüência do atraso escolar progressivo que
o aluno vai experimentando ao longo de todo o ano letivo. Por isso. a pergunta
sobre a reprovação deve converter-se em uma indagação sobre o atraso escolar
dentro da sala de aula e sobre suas causas quotidianas.

O problema da falta de aprendizagem

O problema da falta de aprendizagem é a manifestação mais tangível da


falta de qualidade educativa. Está presente, de maneira endêmica, nos nossos
sistemas educacionais, a ponto de, segundo demonstram vários estudos recentes.
muitos de nossos formandos de primária não chegarem a adquirir sequer o nível de
alfabetização funcional, muito menos a capacidade de expor e solucionar
problemas, de compreender o funcionamento da sociedade, de entender alguns
fenômenos naturais. Na raiz dos fenômenos da falta de aprendizagem encontram-
se, em muitos casos, as características do contexto no qual trabalhamos. Em
situações de pobreza, com situações de nutrição e saúde precárias, às vezes é difícil
manter um esforço consistente para alcançar os objetivos da aprendizagem. No
entanto, e sem deixar de reconhecer que estamos falando de um problema real,
também vem sendo demonstrado, cada vez com maior clareza, que uma boa parte
de suas causas encontra-se nos processos de ensino que têm lugar dentro das salas
de aula. Ficou demonstrado, por exemplo, que, em situações contextuais
semelhantes quanto à pobreza, um bom professor é capaz de atingir excelentes
resultados de aprendizagem, enquanto que um mau mestre não consegue que seus
alunos aprendam. Assim, o problema da falta de aprendizagem converte-se em um
problema de ensino deficiente ou inadequado.

O problema da equidade

A meta de toda escola de nivel básico é alcançar os objetivos de


aprendizagem com todos os alunos. No entanto, sabemos que poucas escolas o
alcançam. E, em algumas, a quantidade de alunos que permanecem abaixo dos
níveis satisfatórios de aprendizagem, é excessiva. O fato de que haja muitos alunos
que não alcançam os objetivos de aprendizagem, ou de que a diferença qualitativa
entre os que os alcançam e os que não o fazem seja muito grande, denota a
existência de um problema de condução do processo de ensino, que se traduz em
privilegiar os alunos capazes de atender e seguir o ritmo do professor e em ignorar
ou desatender os que demonstram dificuldades para fazê-lo. Na perspectiva da
filosofia da qualidade, estas diferenças são inadmissíveis. Atacar o desvio (a
diferença), a partir desta formulação, é mais importante do que melhorar a média
(que, como todos sabemos, muitas vezes esconde enormes diferenças).

O ambiente no qual ocorre a aprendizagem

Para que um processo de aprendizagem real ocorra, sem muitos tropeços, é


necessário contar com um ambiente que o propicie. O ruído excessivo, a falta de
iluminação ou ventilação, a forma como estão arrumadas as carteiras, a falta de
limpeza, tudo isto são obstáculos para a aprendizagem. Grande parte desses
problemas tem soluções muito mais simples do que os enumerados anteriormente.

A falta de disciplina

É muito comum que os professores assinalem como ura dos problemas


fundamentais a indisciplina de seus alunos. É conveniente ressaltar que,
geralmente, há falta de disciplina em um grupo de alunos quando ocorre uma das
duas situações abaixo ou a combinação de ambas: a) quando a escola, como
organização, não tem disciplina - quando não existem regulamentos, ou quando
existem, não são cumpridos; quando o funcionamento escolar é errático; quando as
sanções são aplicadas de forma subjetiva ou arbitrária; e b) quando não está
ocorrendo um processo de aprendizagem. As crianças, em geral, ficam felizes
quando aprendem. Sua curiosidade e sua capacidade de assombro são enormes.
Aborrecem-se quando não estão aprendendo. E quando se aborrecem, aparece a
indisciplina. Ambas as causas apontam a presença de outros problemas que devem
ser analisados e solucionados para resolver pela raiz o problema da indisciplina.

O tempo real de ensino

Alguns dos problemas anteriores são gerados pelo simples fato de que o
tempo destinado ao ensino efetivo não é nem o necessário para que a aprendizagem
se efetue, nem sequer o que oficialmente está estipulado. As ausências ou os atrasos
dos professores, tempo destinado por eles a outras atividades dentro da escola, o
uso do tempo na sala de aula para impor disciplina, limpar a sala, corrigir tarefas.
etc, reduzem-no notavelmente. O tempo dedicado ao ensino é o espaço destinado à
aprendizagem. Se este tempo e reduzido, é de esperar-se que também a
aprendizagem se veja reduzida. Quando o tempo de ensino limitado converte-se em
rotina, às vezes e difícil, inclusive, percebê-lo como problema e, portanto, é
impossível imaginar soluções.

Os recursos para o ensino

Muitas das escolas, nas quais nossos alunos estudam, possuem recursos
limitados. Em alguns países, a sala mobiliada e o quadro negro são os únicos
recursos disponíveis. Outras escolas, em algumas regiões, nem sequer com isso
contam. Outras são mais afortunadas e possuem livros de texto para todos os
alunos. Em outras, ainda mais privilegiadas, existem bibliotecas e materiais
didáticos adicionais. Os recursos para o ensino sao essenciais para propiciar
estratégias diferentes de aprendizagem, que agilizam e tornam atraente o processo e
despertam a participação e a criatividade dos alunos. Nesta perspectiva, a falta de
recursos é um problema. Apesar de que o ideal seja que todas as escolas tenham
material didático adequado, distribuído pela estrutura central do sistema, é
necessário reconhecer que estes recursos podem ser gerados na própria comunidade
na qual se trabalha, com a participação de professores, alunos e pais de família. A
ausência de diversificação das estratégias de aprendizagem, devido ao uso pouco
diversificado de recursos para a mesma, é um problema que merece ser analisado
na sua realidade específica.

As relações com a comunidade

É considerado praticamente natural nas nossas escolas que elas se isolem da


comunidade na qual trabalham. As reuniões com os pais de família reduzem-se ao
mínimo estipulado nos regulamentos. Solicita-se a participação deles quando é
necessário algum apoio material ou financeiro, mas raramente sua assistência nos
processos de aprendizagem de seus filhos. O corpo docente, em geral, pouco
conhece os problemas da comunidade na qual trabalha e menos ainda os problemas
específicos das famílias de seus alunos. Existe uma tendência de colocar a culpa dos
problemas de aprendizagem no professor, mas poucas vezes tentamos nos
aproximar deles para entender melhor esses problemas e para solicitar sua
colaboração. E, no entanto, as experiências das escolas que se propõem a interagir
de maneira mais próxima com a comunidade e com os pais de família demonstram
que, quando isto ocorre, os alunos aprendem muito mais e os beneficiários ficam
mais satisfeitos. Assim, este é um aspecto que merece ser analisado na sua
realidade específica.
As relações entre o pessoal da escola

Quando o pessoal de uma escola trabalha em equipe, apoia-se mutuamente,


planeja e avalia, de forma compartilhada, a qualidade de seus resultados e
notoriamente superior à de outras escolas. Ao contrário, quando cada professor
limita sua responsabilidade ao cumprimento dos objetivos que lhe foram
especificamente recomendados, quer dizer, o ensino do grupo a seu cargo, perde-se
esse potencial de dinamismo, que permite visualizar os problemas desde diversos
ângulos, equacioná-los e tentar alcançar coletivamente as soluções. Pior ainda.
quando existe competição e rivalidade entre os docentes, quem sofre sao os alunos.
porque passam a aprender menos. A forma como se relaciona os membros da
equipe escolar e o entendimento das causas destes fenômenos sao aspectos que
merecem ser analisados profundamente. A equipe de docentes, junto com o diretor.
é o dínamo de um projeto de qualidade. Não havendo equipe, não há movimento
possível em busca da qualidade.

Estes são alguns dos problemas que se encontram normalmente nas escolas
de nossos países. Nem todos eles estão presentes em todas as escolas, nem são os
únicos que incidem sobre os estabelecimentos escolares. Cabe a cada escola
identificar seus próprios problemas e analisar suas causas. Um movimento em
busca da qualidade começa quando um problema e priorizado, quando identificam-
se suas causas e a equipe mobiliza-se, para atacar estas causas na sua raiz.

A informação é necessária para a solução de um problema

Em um movimento em busca da qualidade, não se pode trabalhar a partir de


intuições. Embora estas intuições - de que alguma coisa está errada, de que existe
um problema - possam representar um ponto de partida legítimo, é necessário
contar com a solidez da informação, se realmente queremos resolver os problemas a
fundo.

Em geral, a informação proporcionada pela escola é para o uso das


autoridades do sistema educativo. Raramente e a escola que processa a informação
que entrega ao inspetor ou à repartição municipal ou distrital. Podemos inclusive
dizer que esta informação, gerada pela escola, também não é usada pelo inspetor,
mas é encaminhada para as repartições centrais do sistema educacional, onde ó
utilizada para fazer os grandes agregados estatísticos sobre o progresso dos sistemas
educativos nacionais.
A informação que a escola entrega aos níveis hierárquicos superiores pode
ser útil para conhecer melhor seus problemas. Mas. definitivamente, não é
suficiente. A escola necessita gerar, para seu próprio consumo, informações de
caráter mais qualitativo. Deve saber como encontram-se os níveis de aprendizagem
dos alunos e como eles evoluem. É importante conhecer as causas da falta de
matrícula e do absenteísmo escolar. Embora seja interessante conhecer a magnitude
da evasão, é mais importante conversar com as famílias daqueles que abandonam as
aulas e conhecer as causas. A escola deve procurar conhecer seus professores e
identificar os problemas que impedem que dediquem o tempo necessário ao ensino.
A escola deve também contar com informações sobre a forma como os professores
planejam suas aulas, a maneira como ministram-nas, sobre o grau de participação
que obtêm de seus alunos, sobre suas tentativas em dar uma atenção especial aos
alunos que a necessitam. Esta é a informação que a escola precisa, que somente ela
poderá processar, para solucionar os problemas que a própria informação detecta.

Quando se identifica um problema, é necessário conseguir informação sobre


o mesmo, para quantificá-lo e dimensioná-lo. Mas também é necessário obter
elementos da realidade para compreendê-lo, quer dizer, para conhecer suas causas e
a importância de cada uma delas. Quando a equipe da escola consegue definir que
algumas dessas causas podem ser atacadas na raiz. e decide empreender uma ação
nesse sentido, necessita informação para ver se o objetivo está sendo alcançado. E,
uma vez alcançado, é necessário que mantenha constância na informação sobre este
aspecto, de maneira que seja capaz de evitar a recorrência das causas que foram
identificadas previamente e se conseguiu combater. Isto significa que diretores e
professores devem estar de acordo sobre como monitorar seu desempenho e devem
desenvolver seus próprios indicadores de qualidade na educação em sua escola.
Lembremo-nos de que melhoramos os procedimentos prioritariamente para
melhorar a aprendizagem efetiva de todos os alunos. Esta deve transformar-se no
indicador mais importante da eficácia das medidas adotadas.

Este processo é que permitirá continuar o ciclo da qualidade, porque, uma


vez resolvido um problema, alcançam-se novos padrões de funcionamento e
operação. Mas estes padrões devem ser alcançados somente para serem rompidos
novamente, estabelecendo as medidas que permitam superá-los outra vez.

Resumindo as idéias fundamentais deste capítulo:


O princípio de um movimento em busca da qualidade é o
reconhecimento de que existem problemas.
A qualidade implica resolver os problemas na sua raiz, por isso é
necessário encontrar suas causas e combatê-las.
Combater os problemas detectados é tarefa de todos. Implica viver
novos valores de trabalho em equipe, de aceitação da liderança, de
constância e congruência. Implica, em poucas palavras, uma nova
cultura na organização escolar.
Existem problemas que são comuns a muitas escolas. A falta de
matrícula, a evasão, a reprovação, a falta de aprendizagem, a falta de
eqüidade. Em outro nível, encontramos o ambiente da aprendizagem
deficiente, a indisciplina, a escassez do tempo destinado ao ensino, a
pouca relação entre a escola e a comunidade, a fragilidade nas
relações entre as pessoas que trabalham na escola.
Cada escola deve analisar seus problemas e suas causas. Para isso,
necessita informação. A escola deve ser entendida, tanto como
geradora de informação, quanto - e principalmente - como usuária
da mesma.
Uma vez solucionado um problema, consegue-se fixar padrões de
qualidade maiores que os anteriores no funcionamento da escola. É
importante cuidar para que se mantenham. Mas é mais importante
propor-se a elevá-los ainda mais.
CAPITULO III

A QUALIDADE NO CENTRO ESCOLAR E EM SEU


CONTEXTO

O enfoque predominante no planejamento educacional, quando este é


realizado a partir de uma estrutura central e a solução dos problemas da educação
baseia-se em uma proposta, é aplicar estratégias uniformes de desenvolvimento
educacional que proporcionem um serviço escolar padronizado. Embora seja
importante e necessário planejar, em nível central, cometem-se dois equívocos ao
fazê-lo, desta forma:

a) por um lado, supõe-se que todas as escolas no âmbito de ação do


planejador são similares, e que todas elas se parecem a uma escola
urbana, de organização completa, com um professor por grau, com
um diretor profissional e com recursos suficientes para desenvolver o
processo de ensino e aprendizagem.

Não é assim. A realidade das escolas em nossos países é extremamente


heterogênea. A escola típica não existe. As escolas de ensino unitário são
abundantes nas áreas rurais de todos os países da América Latina. Ainda mais,
muitas delas são incompletas. Em geral, as escolas rurais e periféricas apresentam
algum nível de realidade multigrau. Estas escolas não têm diretor profissional, a
pessoa que tem a função de diretor tem uma classe sob sua responsabilidade e não
dispõe de tempo adicional para se dedicar às funções de gestão da escola. Os
professores nas escolas pobres são, em geral, menos estáveis que nas escolas de
zonas mais privilegiadas. Além disso, estes professores quase sempre vivem fora da
comunidade na qual trabalham. Por outro lado, as escolas são dotadas de recursos,
tanto físicos como didáticos, desiguais. Como é evidente, as políticas uniformes têm
resultados diferentes em escolas diferentes;

b) por outro lado, a partir do planejamento central supõe-se que a


demanda educacional - que o interesse e o desejo de que os filhos
compareçam - está dada. e está dada de maneira idêntica em todas as
escolas. Basta assegurar a oferta - fundar a escola, proporcionar as
aulas, nomear os professores - para que as crianças compareçam.
Infelizmente, este pressuposto, nos nossos países, também é falso.
Muitas das nossas escolas funcionam em regiões nas quais os pais
necessitam do trabalho de seus filhos durante vários dias do ano. Em
muitos dos contextos onde funcionam nossas escolas existem
problemas graves de nutrição e saúde, que provocam a ausência de
muitos alunos. Os pais não proporcionam apoio igual na
aprendizagem de seus filhos numa região na qual eles próprios foram
escolarizados e numa outra em que são analfabetos. Portanto, uma
mesma política educacional, uniforme para todas as escolas do pais.
não pode esperar resultados também uniformes em realidades tão
diversas.

Como agravante, em geral o que acontece nos nossos países é que as


condições da escola tendem a ser mais pobres e deficientes justamente naqueles
lugares onde a demanda se encontra frente a situações de vida mais difíceis. Desta
forma, as condições da oferta somam-se às condições da demanda, para explicar
porquê as políticas educacionais uniformes não produzem resultados uniformes.

Daí a importância de que o movimento em busca da qualidade da educação


tenha seu pivô no próprio centro de estudos. É somente aí que se podem conhecer
as interrelações que ocorrem entre a escola e os alunos, entre a escola e a
comunidade, de tal forma que seja possível enfrentar as causas que estão impedindo
alcançar os resultados esperados pelas políticas de desenvolvimento educativo.
Estas políticas devem ser diversificadas. Devem poder ser adaptadas ao contexto
local, devem ser flexíveis e devem abrir espaços para uma participação ativa dos
atores da qualidade educativa, que são os próprios professores. Em nível do centro
de estudos, deve existir uma margem de manobra suficiente para gestionar, a partir
dai. o aprimoramento da qualidade. É a partir do centro de estudos que se pode
chegar a uma relação com a comunidade. E é a partir daí que se pode pretender
satisfazer suas necessidades.

As diferenças entre as escolas que ensinam com qualidade e as que não o


fazem não se explicam pela presença ou ausência de um só fator, nem sequer pela
presença ou ausência de um conjunto deles, mas sim pela interação entre os fatores
que têm a ver com a qualidade da aprendizagem. Os responsáveis pela geração de
um tipo de interação ou outro, entre estes fatores, são as pessoas: o diretor e os
professores, nas suas relações com os alunos e com a comunidade. Por isso, o
pessoal da escola, o diretor e seus professores devem estar no centro de toda
disposição que vise melhorar a qualidade da educação. Somente assim é que pode
surgir a possibilidade de uma educação básica de qualidade para todos.

Mas assim como o planejador engana-se quando pensa que a demanda pela
educação está dada, e que basta assegurar a oferta educacional para que as crianças
compareçam à escola, assim nós também nos equivocamos, a nível de centro de
estudos, quando pensamos que é suficiente que a escola abra suas portas e funcione
normalmente. É necessário que o pessoal da escola esteja ativa e continuamente
atento aos problemas e necessidades da demanda.

O que acabamos de dizer não se refere somente àquilo que nos permite
entender as razões familiares e comunitárias pelas quais o aluno se ausenta, chega
tarde, abandona a escola, não aprende. Tem a ver também com o que ensinamos na
escola. O currículo oficial supõe que sua importância é uniforme, que toda a
população do país estará igualmente motivada a alcançar os objetivos de
aprendizagem que propõe. Isto nem sempre é assim. Todos já escutamos histórias
de como os pais resistem ao ensino de determinados conteúdos do currículo ou à
forma como são ensinados. É necessário que nos aproximemos dos pais e
compreendamos suas razões. Da mesma forma, os pais de família podem ter certas
expectativas sobre a educação de seus filhos que não estão contidas no currículo
oficial, ou. pelo menos, na forma como estamos acostumados a ensiná-las. Um
exemplo disso é a formação ética. Os pais. em geral, querem que seus filhos tenham
uma formação ética. A escola, tradicionalmente, faz muito pouco neste sentido.
Estar atentos ás necessidades de nossos beneficiários significa conhecer e
compreender estas expectativas, para satisfazê-las.

Desta forma, o primeiro desafio na busca de qualidade, a partir do centro de


estudos e em relação ao contexto específico na qual está inserido, é o de conseguir
adaptar a escola às condições de vida reais das famílias, a fim de fazê-la cultural e
economicamente mais acessível e atraente. Mas não é possivel ficar só aí. Portanto,
o segundo desafio na busca da qualidade neste sentido é fazer do contexto - da
comunidade e dos pais de família - um interlocutor mais claramente exigente dos
seus direitos sobre a educação de seus filhos, mas também cada vez mais
comprometido, corresponsavclmente, com esta busca da qualidade.

Resumindo as idéias fundamentais deste capitulo:


A qualidade depende das pessoas que trabalham na escola, porque
elas é que podem adaptar as medidas de política uniforme aos
contextos específicos. E também porque elas é que são capazes de
esboçar estratégias e soluções para alcançar a qualidade nas
condições específicas da demanda e com os recursos disponíveis para
fazê-lo.
A qualidade educativa significa estar atentos aos problemas da
demanda, da demanda específica da escola na qual se trabalha. Isto
significa, primeiramente, conhecer e compreender suas exigências e
necessidades. E, em segundo lugar, implica estabelecer com os
beneficiários imediatos um diálogo fecundo e permanente que os faça.
ao mesmo tempo, mais exigentes e mais corresponsáveis na busca de
qualidade das aprendizagens de seus filhos.
O salto qualitativo na educação será dado quando o pessoal de cada
estabelecimento escolar, de cada centro de estudos, for capaz de
interagir adequadamente com sua comunidade.
CAPITULO IV

A QUALIDADE ESTÁ NO PROCESSO

O aprimoramento da qualidade é um processo que nunca termina

Já dissemos que a qualidade é um conceito relativo e dinâmico. Não se pode


defini-la em termos absolutos. E sempre e possível procurar mais qualidade.

Um movimento de busca da qualidade é, por este motivo, um processo que,


uma vez iniciado, nunca termina. Não existem os tais "níveis aceitáveis" de
qualidade. Sempre temos que estar insatisfeitos com os níveis de qualidade
alcançados, porque sempre será possível melhorá-los. O aprimoramento alcança
níveis mais elevados a cada problema resolvido.

É uma realidade constatada (que em administração se chama de Lei de


Parkinson) que uma organização, uma vez construída sua estrutura, inicia seu
declínio. Alguns chamam a esta lei de "entropia", que é o termo que denota a
tendência para a morte de todo organismo. Sendo assim, deve existir um esforço
contínuo de aprimoramento, inclusive para manter a organização no nível em que
se encontra. O esforço deve ser redobrado, se o que se pretende é superar esse nível.

Esta é a razão pela qual a falta de constância no propósito de melhorar a


qualidade é o que os teóricos da qualidade total chamam de "enfermidade
paralisante". A constância é necessária tanto porque se trata de um processo
gradual e lento, cujos resultados só sao visíveis a longo prazo, como pelo fato de
que. uma vez alcançados maiores padrões de qualidade, devemos buscar os
problemas que impedem que alcancemos padrões ainda superiores. É óbvio, mas
convém dizê-lo: não existe nenhum progresso quando se continua fazendo a mesma
coisa. Os japoneses levam isso a extremos, assinalando que não deve passar um só
dia sem que se tenha feito alguma melhoria em algum lugar da organização.

A constância é tao importante que não tem sentido iniciar um processo de


busca de qualidade se uma proporção importante do pessoal que trabalha numa
escola nao tem intenção de permanecer nela por mais de um ou dois anos. Tendo
em vista que a liderança e primordial em todo processo de aprimoramento da
qualidade total, esta exigência e duplamente válida para o diretor da escola. Se o
diretor não está disposto a permanecer no seu posto durante pelo menos dois ou.
melhor ainda, três anos, não tem sentido iniciar um processo de aprimoramento da
qualidade. Em contrapartida, se é assim, e decide fazê-lo, deixará em andamento na
escola um processo que dificilmente poderá ser revertido.

A qualidade está no processo

A qualidade é um processo constante e permanente, porque é total e, como


tal, está presente em todas as partes do contexto educativo. O objetivo de todo
movimento para o aprimoramento da qualidade é melhorar os resultados de
aprendizagem de todas as crianças. Mas este é o resultado almejado. O processo é
que produz esses resultados. E o que um movimento em busca da qualidade procura
melhorar é o processo que produz os resultados.

Uma organização - uma escola, por exemplo - não e um edifício, não é um


organograma, não é um ente estático. E, justamente, um processo. Em toda
organização, todas as atividades estão estreitamente vinculadas entre si. Quando
alguma coisa sai errada em uma área, repercute em toda a organização.

Uma organização é um processo porque está constituída fundamentalmente


por relações. Destas relações, duas são as mais importantes: as relações com os
beneficiários (alunos e pais. fundamentalmente) e as relações entre os que nela
trabalham. Melhorar a qualidade significa melhorar as relações.

Tendo em vista que a organização é um processo que está constituído


fundamentalmente por relações, a maior parte das causas da baixa qualidade está
no sistema, não nas pessoas. E o sistema que favorece um determinado tipo de
relações e as pessoas, independentemente de suas virtudes ou defeitos, trabalham
sob essas regras do jogo. Se queremos mudar a forma como as pessoas trabalham é
necessário mudar o sistema e isso significa mudar as relações. A filosofia da
qualidade contrapõe-se frontalmente à prática, tão comum, de somente prestar
atenção aos resultados. A filosofia da qualidade presta atenção aos processos.

É verdade que existem problemas pessoais que repercutem sobre a


qualidade. Se um professor falta ou chega tarde, por exemplo, estamos falando de
um problema localizado na pessoa. Da mesma forma, se um professor comparece.
mas não ensina, ou ensina durante um tempo muito limitado, se um professor
impõe disciplina batendo nos alunos ou troçando deles, se um professor não é
competente, como professor, não sabe ensinar, enfrentamo-nos com um problema
pessoal. Estes problemas pessoais se resolvem de duas maneiras: com disciplina e
com formação. E é evidente que é necessário resolvê-los.

Mas. além da falta de cumprimento de um mínimo estabelecido, os outros


problemas que afetam a qualidade são, em geral, problemas do sistema. Por esta
razão, mais além dos problemas pessoais que acabamos de mencionar, não se pode
culpar a um professor, isoladamente, da falta de qualidade de uma escola, nem
sequer da falta de qualidade da classe a seu cargo. Nem podemos exigir que um
professor, isoladamente, resolva os problemas que afetam a qualidade, seja da sua
escola, seja da sua classe. Para isso, é necessário transformar o sistema, é necessário
mudar as relações.

Como a qualidade é um processo, ela também não pode ser assegurada


através da inspeção. A inspeção poderá constatar que a qualidade está deficiente e
poderá até dizer quão deficiente está. Mas isto não resolve os problemas, porque o
processo continuará igual. A qualidade tem que ser introduzida no processo. Temos
que melhorá-lo se queremos resultados melhores. Para consegui-lo, é necessário
entender o processo, bem como as mudanças que ele pode sofrer.

Um dos processos mais importantes é o do planejamento. A qualidade


começa desde o próprio planejamento do processo educativo. Isto significa que, no
momento em que definimos quais os objetivos de aprendizagem que queremos
alcançar e como queremos alcançá-los, no momento em que definimos o tipo de
egresso que queremos, bem como os conteúdos que queremos que sejam obtidos por
todo aluno que termina cada série, e pelo grupo de alunos em seu conjunto, estamos
introduzindo qualidade. Já falamos que é preciso levar em conta as necessidades
dos beneficiários nesta etapa de planejamento. Isto introduz qualidade no
planejamento.

Outro processo essencial é o de ensino, o qual é, no fundo, um processo de


relações: professor-aluno, aluno-aluno, aluno consigo mesmo. Na medida em que
consigamos melhorar estas relações, que consigamos elaborar estratégias de ensino
que propiciem a aprendizagem através das mesmas, estaremos acrescentando
qualidade ao processo.

E o terceiro processo central é o da relação escola-comunidade e professor-


pais de família. Na medida em que pudermos fortalecer estas relações e conseguir
uma maior participação da comunidade e dos pais de família no próprio processo
educativo, e nao somente nos aspectos materiais da escola, estaremos melhorando a
qualidade.

Para aprimorar os processos é necessário que o diretor da escola cumpra


uma função estimulante e de apoio. Cuidar dos processos, melhorá-los, significa,
entre outras coisas, dirigir os esforços às pessoas, estimulá-las e apoiá-las,
realimentá-las de forma contínua, propiciar o trabalho de equipe, prestar atenção
aos detalhes, ser flexível e adaptável.

Uma das grandes vantagens desta filosofia da qualidade, orientada aos


processos, e portanto às relações e às pessoas, é que ela não exige maiores recursos
e melhor tecnologia. Necessita, ao contrário, como já mencionamos, uma
transformação nas atitudes das pessoas das quais depende a qualidade.

Resumindo as idéias fundamentais deste capítulo:


A qualidade é um conceito relativo e dinâmico. Por isso, um processo
de aprimoramento da qualidade não termina nunca, porque sempre é
possível nos esforçarmos para alcançar níveis melhores de qualidade.
A constância no propósito de melhorar a qualidade é um elemento
sem o qual não e possível falar de um movimento em busca da
qualidade.
O objetivo do aprimoramento da qualidade em uma escola é melhorar
a aprendizagem real de todos os alunos, em função das necessidades
do beneficiário.
Para alcançar melhores resultados - maiores níveis de aprendizagem
efetiva em todos os alunos - é necessário melhorar os processos. Os
processos são fundamentalmente relações. As três relações mais
importantes em uma escola são: a relação entre as pessoas no
processo de planejamento do objetivo; as relações na aula (professor-
aluno, aluno-aluno. aluno consigo próprio) e a relação com a
comunidade.
Aprimorar a qualidade do processo significa dirigir os esforços para
as pessoas.
CAPITULO V

A QUALIDADE DEPENDE DE TODOS OS QUE PARTICIPAM


DO PROCESSO

O corpo docente produz, a qualidade

Em uma escola, talvez mais que em qualquer outro tipo de organização, os


resultados dependem das pessoas e das relações entre elas. E numa escola, tal como
em qualquer organização, todas as atividades estão estreitamente relacionadas entre
si. Por isso, um movimento em busca de uma melhor qualidade do processo
educativo exige a participação ativa de todos os agentes envolvidos.

No entanto, destes agentes, os mais importantes são os responsáveis pela


qualidade, quer dizer, o corpo docente. Diretor e professores têm que compartilhar
o propósito de melhorar a qualidade, compreender a necessidade de uma mudança
de atitudes e estar dispostos a empreendê-las e a ser conseqüentes com esta decisão
de mudança.

Em um processo de aprimoramento da qualidade, a cultura de uma


organização transforma-se. A atitude inicial, de vontade de mudar, gera
modificações no ambiente, o que, por sua vez, reforça e estimula a transformação
da cultura organizacional. Isto porque todo processo de aprimoramento em equipe e
um processo de aprendizagem que vai enriquecendo as pessoas que dele participam,
ao mesmo tempo em que elas enriquecem o processo coletivo. Quando se dá às
pessoas a oportunidade de aprimorar seu trabalho, liberam-se energias criativas que
transformam a organização. Uma mudança cultural e sólida deve estar sustentada
por valores claros, compartilhados e praticados por todos na escola. Dentre estes
valores, os mais importantes são a preocupação central de satisfazer as necessidades
de nossos beneficiários (alunos, em primeira instância) e o desenvolvimento
humano das pessoas que atuam dentro e em torno da escola.

Para que o dito acima seja possível, torna-se indispensável que todo o corpo
docente compreenda e compartilhe o propósito de aprimoramento e entenda bem o
papel que nele deve desempenhar. Trata-se de reunir as pessoas em torno de
objetivos comuns. Esta é a razão pela qual é vital a sua participação no
planejamento, tanto do objetivo da organização, como dos processos que deverão
ser modificados para aumentar a viabilidade de sua consecução. E participando do
planejamento que se pode compreender e analisar a mudança de visão cujo
pressuposto é partir das necessidades dos beneficiários e envolver-se nela, como
agente da transformação, de forma compromissada.

Participar nao é o suficiente; é preciso participar em equipe

Não basta que todos participem. É necessário fazê-lo em equipe. Sabemos.


por experiência, que não basta trabalhar em uma mesma organização para
constituir uma equipe. O trabalho de equipe faz com que uma pessoa compense.
com a sua força, a debilidade de outra e que todos agucem seu engenho para
resolver as questões que são comuns.

Em um trabalho de equipe, tomam-se decisões e age-se com base nelas. Isto


transforma-se na finalidade da equipe. O que a define é o seu objetivo, que é
traçado por todos. Nesta atuação, todos adquirem uma responsabilidade frente ao
coletivo. O processo é também acompanhado em equipe - avalia os resultados das
decisões tomadas. E somente a equipe pode revisar as decisões anteriores, corrigi-
las e mudá-las.

Em uma organização complexa, por exemplo, uma escola de organização


completa, com várias classes de cada série, pode haver várias equipes responsáveis
por diferentes trabalhos. No entanto, nao se pode esquecer que, devido à estreita
relação entre as atividades de toda organização, devem ser estabelecidos
mecanismos que permitam a comunicação fluida e permanente entre as mesmas.
Na administração de controle total da qualidade, estas pequenas equipes chamam-
se "círculos de qualidade". Um círculo de qualidade é um grupo que desempenha,
voluntariamente, atividades de aprimoramento e controle de qualidade. Os círculos
de qualidade são somente uma parte de um programa que abrange toda a
organização.

Um círculo de qualidade típica aborda um problema que é comum a todos


que dele participam. Como exemplo, podemos falar de um círculo de qualidade
para o processo de ensino da leitura e escrita, no qual, talvez, participariam os
professores da primeira e segunda séries. O círculo estuda a natureza do problema -
o problema, neste caso, são os níveis deficientes de qualidade da aprendizagem da
leitura e escrita, - determina as causas que o provocam, analisa a informação
relacionada ao problema e às suas causas, propondo soluções. Cada membro do
círculo é responsável por sua implantação, e uma vez que as mesmas sejam
implantadas, todos, em grupo, observam criticamente a forma como se aplica a
solução proposta. Uma vez transcorrido o tempo suficiente, o círculo revisa os
resultados e avalia a efetividade das soluções tomadas. Sc estas obtiveram os
resultados esperados, o círculo propõe-se a impedir que o problema se repita ou
torne a aparecer, com o que se padroniza um novo nível de resultados. Chegando a
esta meta, o circulo começa a procurar a forma de melhorar o novo nível alcançado.

Os círculos de qualidade são uma forma de aproveitar e potencializar a


convicção da filosofia da qualidade de que os trabalhadores - neste caso os
trabalhadores da educação - têm a capacidade de introduzir inovações e melhorias
nos seus processos de trabalho, em função dos problemas que percebem. As
sugestões do pessoal de uma organização são imensamente valorizadas pela
administração da qualidade total. Estas sugestões podem ser individuais. Os
círculos de qualidade são uma forma de assegurar que estas sugestões estejam
dirigidas ao grupo e de que, por sua vez, emanem do grupo sugestões coletivas.

Desta forma, estamos diante de um processo que visa ao desenvolvimento de


estratégias que tendem a um aprimoramento contínuo, envolvendo todas as pessoas
que trabalham na organização.

A participação em equipe melhora a qualidade de vida no trabalho

Um princípio fundamental da filosofia da qualidade é que as pessoas se


desenvolvem, se humanizam e humanizam o trabalho, quando participam, ativa e
coletivamente, no aprimoramento dos processos laborais.

Quando uma organização se baseia no controle das pessoas que nela


trabalham para conseguir eficiência, isso não é alcançado. O controle é exercido,
para que as pessoas cumpram com a sua função específica. Assim, em uma
organização tradicional, os professores são controlados para que compareçam, para
que cheguem a tempo, permaneçam na sala, planejem suas aulas, apliquem exames
e mostrem resultados. Mas quando isto acontece, cada trabalhador isola-se no
exercício das suas funções e perde tanto a capacidade, como o interesse pelo
objetivo da organização como um todo. Em conseqüência, o professor não se
preocupa com o que acontece nos outros grupos. Não se sente responsável pela falta
de matrícula, pela evasão dos alunos, pela situação das famílias da comunidade
onde trabalha. Uma situação desta natureza, além de isolar o docente na sua função,
muitas vezes gera rivalidades. Muitos de nós sabemos, por experiência própria, que
não há nada que prejudique mais a qualidade de vida no trabalho que a existência
de conflitos, invejas, grupos que se enfrentam e fofocas no nosso ambiente
quotidiano. Além do que, como já vimos, esta organização não propicia as
condições para que se produzam processos que levem à qualidade.

Ao contrário, a filosofia da qualidade sustenta que as pessoas se realizam em


seu trabalho e se desenvolvem como pessoas, quando participam criativamente no
seu aprimoramento e quando o fazem como equipe, reconhecendo que sozinhas não
podem modificar os processos que condicionam seu trabalho. A participação gera
compromisso e satisfação pessoal. Por outro lado, partimos da convicção de que
uma organização que é dirigida desta forma proporciona uma melhor qualidade de
vida no trabalho, o que é um dos objetivos primordiais da filosofia da qualidade.

Alguns exemplos de trabalho de equipe na escola

A seguir, daremos alguns exemplos de objetivos que podem levar à criação


de círculos de qualidade na escola. Antes, porem, e conveniente recordar que os
círculos de qualidade são apenas parte de um processo de busca da qualidade. Este
deve estar presente em toda a organização e deve ser dirigido e estimulado pelo seu
diretor.

Supondo, então, que o processo de aprimoramento da qualidade é um


compromisso do diretor da escola, transmitido por ele a todo o corpo docente,
analisamos alguns objetivos que podem ser formulados por pequenas equipes, a fim
de melhorar os processos em que estão mais envolvidas.

A participação dos alunos no processo de aprendizagem

O aluno aprende mais, melhor e de maneira mais duradoura, quando ele


próprio faz descobertas e resolve problemas. Uma equipe de docentes, interessada
em melhorar os processos, pode assumir a diversificação, ampliação e
aprimoramento da qualidade dos processos que levam a isso dentro da sala de aula.
Começará pelo conhecimento de como participam os alunos na sua escola.
Descobrirá e organizará as estratégias utilizadas pelos vários professores da escola.
para incentivar a participação de seus alunos. Procurará documentar-se sobre
diferentes práticas, utilizadas por outros professores, para conseguir este propósito.
Investigará as causas que dificultam a participação dos alunos desta escola ou
impedem alcance o nível esperado. Então, por exemplo, poderá descobrir
estratégias que incluam uma mudança de posição dos alunos dentro da sala de aula.
Os resultados dos trabalhos de equipes de alunos poderão ser analisados
coletivamente. Talvez descubra experiências inovadoras nas quais alunos de vários
graus trabalham juntos em um mesmo projeto, os mais velhos ajudando os mais
novos. Proporá soluções aos problemas detectados. Ficará atenta ao processo.
Avaliará sua efetividade e vigiará para que não se apresentem novamente os
problemas que antes entorpeciam maiores oportunidades de participação.

- O fortalecimento da leitura e da escrita

Como dissemos na introdução, um dos resultados mais visíveis da falta de


qualidade educativa é a incapacidade de muitas de nossas escolas de proporcionar
níveis adequados de alfabetismo funcional aos alunos que estão terminando sua
educação primária. Descobriu-se que isto se deve. em grande parte, às escassas
oportunidades do exercício da leitura oral, da leitura silenciosa e da redação criativa
em sala de aula. Um círculo de qualidade pode propor-se a aumentar estas
oportunidades. Procedendo da mesma maneira como no caso anterior. Poderá
propor-se. por exemplo, aproveitar os espaços que iniciam os trabalhos de outras
matérias para incentivar estas habilidades. Da mesma forma, trabalhar a
necessidade de que os alunos descubram o prazer da leitura e procurar a
oportunidade de ler coisas agradáveis e divertidas. Pode trabalhar a necessidade de
que os alunos entendam melhor a importância da leitura e da escrita, relacionando-
a com as necessidades da vida quotidiana na comunidade, imaginando atividades,
projetos e exercícios dirigidos a demonstrar esta relação. Novamente, o círculo de
qualidade estará preocupado em velai para que o que foi proposto seja cumprido,
em avaliar sua efetividade e em evitar que se caia em situações como as que
existiam antes de que se decidisse fazer algo para atacar o problema.

O aprimoramento do ambiente físico

Já mencionamos como o ambiente de trabalho propicia ou entorpece a


aprendizagem. Podemos imaginar um círculo de qualidade formado, talvez, por
alguns funcionários de apoio e por docentes - inclusive, como veremos em seguida,
por alunos e pais de família que analisem este problema, encontrem suas causas e
proponham soluções.
O problema do atraso escolar

Já vimos que, segundo a filosofia da qualidade, é mais importante diminuir a


variação do que elevar a média. Esta situação aplica-se de forma muito clara ao
problema do atraso escolar. Quando uma criança se atrasa na sua aprendizagem, ao
longo do ano escolar, gera uma situação que pode levar a uma reprovação. Como,
na qualidade total, o que se procura é evitar que os problemas surjam, a fim de não
ter que corrigi-los, o objetivo de evitar o atraso escolar é talvez o exemplo mais
adequado do que pode fazer um círculo de qualidade. É necessário dimensionar o
problema, averiguar suas causas, imaginar, coletivamente, soluções, observá-las,
avaliá-las e seguir procurando formas que permitam superar continuamente o nível
alcançado.

No Capitulo III fizemos uma lista, a titulo de exemplo, dos problemas de


uma escola. Em relação a cada um deles, é possível criar um círculo de qualidade
que envolva, de perto, todo o pessoal da escola - quando se trata de escolas
pequenas ou a pequenas equipes de pessoas às quais o problema atinge mais
diretamente. É importante recordar que os círculos de qualidade são equipes de
formulação de sugestões grupais, que devem ser apoiadas pelo diretor da escola e,
quando for o caso, adotadas por todo o pessoal, inclusive por aqueles que não
participam do círculo de qualidade.

A participação deve ser ampliada aos pais de família e a outros membros da


comunidade

O corpo docente não é o único integrante de uma escola. Embora seja o


agente mais importante porque é o criador da qualidade. Uma escola deve
converter-se em uma comunidade educativa, na qual participem ativamente alunos,
pais de família e membros da comunidade. A qualidade educativa diz respeito a
todos eles.

Não e difícil imaginar como se podem integrar alunos e pais nos círculos de
qualidade, como os que exemplificamos mais acima. Realizá-lo significará para
eles o mesmo que a filosofia da qualidade para os professores: desenvolver-se-ão
mais como seres humanos, ao saber que têm algo a dizer e fazer em um processo
continuo de aprimoramento e obterão ricas aprendizagens da experiência de
trabalhar em equipe. Para a escola, isto significa um passo a mais na condição de
levar em consideração as necessidades do beneficiário. Existem belas experiências
que mostram como os alunos são perfeitamente capazes de tomar conta da disciplina
na classe e na escola. Eles próprios, em grupo, estabelecem regras do jogo claras
(elaboram pequenos regulamentos), decidem as sanções aplicáveis quando estas
normas não são obedecidas e assumem a tarefa de controlar seu cumprimento. Como
são eles os próprios círculos de qualidade, os alunos que elaboraram a solução,
poderão modificá-la. Isto significa que podem se equivocar: os erros os levarão a
aprender muito mais do que a leitura de uma lição ou uma aula expositiva.

Na maioria dos casos, talvez seja conveniente iniciar um processo de


aprimoramento da qualidade, pelo corpo docente da escola, Mas é altamente
recomendável que os alunos e pais de alunos que desejem participar sejam em breve
incorporados ao processo.

Resumindo as idéias fundamentais deste capitulo:


Os resultados de uma organização dependem das pessoas que nela
trabalham. Sc desejam melhorar estes resultados, todos devem
participar do planejamento e execução dos processos necessários. A
verdadeira participação acontece quando existem equipes. A equipe
vela pelo objetivo comum, não por objetivos individuais. A equipe
complementa-se, forma-se e reforça.
As equipes devem identificar o problema, analisar suas causas. propor
soluções, supervisionar sua execução, avaliar, evitar que surjam
situações que conduzam de volta ao processo anterior e buscar novas
formas para alcançar níveis de resultados ainda melhores. Todos os
problemas de uma escola podem ser enfrentados através de equipes de
trabalho ou círculos de qualidade, com a condição de que existam
mecanismos de comunicação continua entre as equipes, apoio e
estimulo constantes por parte do diretor da escola. A comunidade
educativa não está composta somente pelos professores. Dela
participam os alunos, pais de familia e a comunidade como um todo. É
altamente recomendável envolver todos estes membros nos esforços
coletivos, pela melhoria da qualidade.
CAPITULO VI

A QUALIDADE EXIGE LIDERANÇA

O diretor deve ser um líder, deve apoiar e estimular

O papel do diretor e fundamental em um processo de aprimoramento da


qualidade. Além disso, e é importante dizê-lo. exige-se dele uma função muito
diferente da que o diretor normalmente desempenha nas escolas de nossos países.
A qualidade exige um novo tipo de liderança, baseado na experiência e na
convicção pessoais, e não necessariamente na escolaridade, idade ou hierarquia.
Baseia-se mais no exemplo, na coerência de vida, nos valores que defende e na
consistência, do que na autoridade inerente ao seu cargo.

O diretor deve ser o primeiro e o mais comprometido com o propósito de


melhorar a qualidade. Deve sentir-se responsável pela qualidade educativa de sua
escola. Deve agir como autentico líder, capaz de motivar, facilitar e estimular o
processo de aprimoramento da qualidade, desempenhar o papel de animador de
seus colegas e dos pais de família, ou seja. de animador da comunidade escolar.

Ele deve estar comprometido com o envolvimento de seu pessoal em um


processo participativo, constante e permanente, para fazer as coisas cada vez
melhor. Assim, um diretor não pode limitar sua função à burocracia administrativa
e às relações com o sistema educacional mais amplo, com as autoridades da
comunidade. Ele deve conhecer a fundo todos os processos importantes que
ocorrem na escola e tem que se dedicar plenamente a cada um deles. A um diretor
não se pode fechar nenhuma porta. Ele tem que poder reunir-se com os professores.
entrar na sala de aula. conversar com os pais de família, compreender os problemas
dos alunos. E, o que é o mais importante, corresponde a ele a difícil tarefa de ser o
agente principal de um processo, mediante o qual a escola possa atingir níveis de
resultados cada vez melhores e mais em concordância com as necessidades dos
beneficiários. Como já assinalamos várias vezes, este processo necessita de
constância. E esta constância depende do diretor.

Para a filosofia da qualidade, o ponto chave consiste em que os diretores


compreendam que eles são o problema. Não porque eles não procedam ou não
tenham o desempenho que se espera deles, mas porque não assumem as funções
que acabamos de descrever, Se ninguém as assume, nao se pode realizar um
processo de aprimoramento da qualidade. E é o diretor que deve assumi-las. A
qualidade começa com uma idéia, com um plano, estabelecido pelo diretor.

O diretor deve ser capaz de desenvolver um plano, explicá-lo aos


professores, entusiasma-los. para que ajudem a implantá-lo, e, ao mesmo tempo,
manter uma pressão coerente e constante sobre a escola, para que o plano seja
realizado. A motivação principal do diretor, mais do que a de qualquer outro
membro do corpo docente, é satisfazer cada vez mais as necessidades dos
beneficiários da escola. Para isso, é necessário que compreenda e assuma a idéia de
que é preciso eliminar a variação ( ou atraso escolar) e também elevar os niveis de
obtenção de aprendizagem.

O diretor deve providenciar para que o docente esteja orgulhoso de seu


trabalho

"O diretor se preocupa em eliminar as barreiras que


privam o trabalhador (o docente) de seu maior direito: o
direito de ter orgulho de seu trabalho."'

Este é um dos elementos fundamentais da filosofia da qualidade. O lider de


um processo de qualidade deve ajudar os docentes a trabalhar mais
inteligentemente, e não mais arduamente. A direção deve compreender e agir sobre
os problemas que impedem o docente de realizar seu trabalho com satisfação. O
objetivo é conseguir quo o mestre sinta orgulho de seu trabalho. Desta forma, o
diretor preocupa-se fundamentalmente com as pessoas.

O líder, em vez de ser um juiz. que inspeciona e avalia as pessoas, torna-se


um companheiro, que aconselha e dirige sua equipe dia-a-dia. aprendendo deles e
com eles. O objetivo da liderança é melhorar o comportamento do ser humano para
aprimorar a qualidade, eliminando as causas das falhas e dos problemas e ajudando
as pessoas a realizar melhor seu trabalho. Para isto. é necessário que o lider centre
sua atenção, de forma consistente, no sistema, ou seja. no conjunto de processos que
tem lugar dentro da escola, para que todos façam melhor seu trabalho e com maior
satisfação. Para tanto, é essencial que esteja em harmonia com seus trabalhadores.

Um diretor preocupa-se em Investigar

Procuramos deixar claro, em tudo o que dissemos, que não se pode planejar
o aprimoramento da qualidade na escola partindo de intuições. É necessário contar
com uma informação solida e interpreta-la corretamente. Isto significa que é
necessário conhecer nossa escola e nosso meio. Conhecer, em primeiro lugar, de
que forma estamos atingindo nossos objetivos externos e os níveis de aprendizagem
que estamos alcançando. Temos que conhecer as condições e as necessidades de
nossos beneficiários - de todos eles - e de que forma estamos falhando na sua
satisfação. Mas também devemos saber com que recursos podemos contar, quem
somos como equipe, o que nos falta para enfrentar o desafio de melhorar nossos
resultados. Temos que poder investigar as possíveis soluções dos problemas que
detectamos. E devemos ser capazes de monitorar o processo de solução e de avaliar
seus resultados.

Tudo que exige investigação. Esta investigação não tem necessariamente


que ser complexa. Basta uma prova simples aplicada aos alunos, uma entrevista
aprofundada do diretor com cada membro do corpo docente, visitas aos pais de
família, uma entrevista com o diretor da escola que recebe nossos egressos, uma
análise mais detalhada dos dados que entregamos às autoridades escolares. Um
processo de aprimoramento da qualidade implica fazer tudo isto, para obter
informação da realidade, que nos permita interpretar, encontrar causas e planejar
soluções. É um passo indispensável para poder elaborar um plano, no qual todos se
envolvam. O diretor tem que ser capaz de idealizar e dirigir estes processos de
investigação.

Um diretor deve preocupar-se com uma melhor formação no trabalho

O aprimoramento da qualidade é um processo de educação contínua dos que


se envolvem nele. Participar de um processo desta natureza implica aprender a
conhecer as necessidades dos beneficiários: alunos, pais, comunidade e, em última
instância, da sociedade atual e futura. Significa aprender, no próprio processo, a
investigar, interpretar a informação, discernir as causas principais de um
problema. Envolver-se em um processo de aprimoramento da qualidade significa
aprender com os colegas que já tentaram solucionar um problema, mas também
significa documentar-se, conhecer o que se escreveu sobre as causas dos problemas
enfrentados e as tentativas de solução, conhecer outras experiências realizadas para
tentar solucioná-los e avaliar seus resultados. Implica aprender a traduzir uma
idéia em um plano com metas a curto e médio prazos, que possa ser posto em
prática e ser avaliado. Significa aprender a medir, monitorar, avaliar, o que
significa também desenvolver a capacidade crítica e autocrítica e a criatividade.
Mas, talvez o mais importante, participar em um processo desta natureza
implica aprender a viver valores novos: o valor da insatisfação constante, o valor
de desejar fazer o trabalho sempre melhor, o valor da solidariedade, o valor de
colocar o objetivo externo por cima dos interesses pessoais, o valor de perder o
medo de expressar-se, de criticar e de equivocar-se, o valor da humildade
decorrente da disposição e abertura para aprender com os outros.

Participar de um processo de aprimoramento da qualidade é fazer parte de


um processo profundamente educativo. Cabe ao diretor impulsionar, facilitar e
estimular o processo

O diretor deve saber se os padrões de qualidade de um determinado ciclo do


processo de aprimoramento, inclusive o inicial, estão sendo cumpridos. Quando o
sistema é estável deve poder reconhecer se há alguém que não atinge seus padrões.
Sc alguns dos integrantes do corpo docente não os estão atingindo, o diretor tem
que ser capaz de discernir entre dois tipos de situações: quando as pessoas são
capazes de cumpri-los e não o fazem, o diretor deve impor disciplina; e quando
pessoas não têm capacidade para cumpri-los, ele deve proporcionar-lhes acesso aos
processos de formação necessários. Quando se dá o caso de pessoas que se
sobressaem no sentido contrário, atingindo resultados melhores que os padrões, o
diretor deve estar atento, para lhes dar o reconhecimento que merecem, que não
precisa ser material, mas que pode ser moral. Um reconhecimento verbal, perante a
comunidade de professores e pais de família e diante dos alunos por parte do diretor
e confirmado pelos companheiros de trabalho, e altamente alentador.

Quando se estabelecem medidas para melhorar a qualidade, depois de se


haver analisado o problema e as causas que o originaram, não e raro que não
estejamos preparados para pô-las em prática. É então necessário que nos
preparemos para fazê-lo. Desta forma, se estamos preocupados porque nossos
alunos da primeira serie não estão atingindo os objetivos da aprendizagem da
leitura e da escrita, temos de estar preparados para introduzir qualidade no
processo. Se, para citar outro exemplo, observamos o problema de que muitos
alunos da quarta série estão se atrasando, temos que nos preparar para lhes oferecer
uma atenção especial, sem descuidar do avanço do grupo como um todo. Aprimorar
a qualidade é um processo que exige uma formação contínua - que se traduz num
auto-aprimoramento. - a partir das exigências de nossos objetivos externos e das
metas que nós mesmos, em equipe, nos propomos a alcançar. Cabe ao diretor
impulsionar este processo, essencial para a qualidade.
O diretor tem duas responsabilidades: manter e melhorar

A responsabilidade da manutenção do sistema refere-se à necessidade de


assegurar que todos possam atingir os padrões estabelecidos em um determinado
momento do ciclo de aprimoramento da qualidade, desde o momento inicial. Para
isso. é necessário que formule, com o apoio dos colegas, procedimentos, regras e
diretrizes claras, de tal forma que não haja dúvidas sobre o procedimento
estabelecido para alcançar os atuais níveis de resultado. Assim, no início, o diretor
deve propiciar condições para que a equipe, em conjunto, reafirme e expresse,
claramente, os padrões mínimos de comportamento esperados por parte dos
professores. Depois de um ciclo de aprimoramento da qualidade, atingidos novos
patamares de resultados, é necessário definir, com toda clareza, os novos resultados
mínimos de comportamento esperados, a fim de mantê-los. Assim, para iniciar um
ciclo, é necessário reafirmar certas regras do jogo. Por exemplo, os professores
devem comparecer regularmente à escola, chegar pontualmente, dedicar o maior
tempo possível à atividade da aprendizagem; o recreio começa e termina a uma
hora determinada; as salas de aula e as áreas comuns da escola devem estar
limpas... Uma vez terminado um ciclo de aprimoramento da qualidade, e
demonstrada a efetividade das medidas tomadas, deve-se fazer o mesmo. Por
exemplo, se ficou decidido que um problema e a pouca participação ativa dos
alunos no seu próprio processo de aprendizagem, e são tomadas medidas para
combater este problema, pode-se chegar a estabelecer novas normas: o professor
deve entregar um plano de aula no qual seja estipulada uma porcentagem
determinada de trabalho criativo por parte dos alunos e uma porcentagem
determinada de trabalho em grupo. Pode-se pedir ao professor que defina o produto
esperado de cada atividade participativa. E assim sucessivamente.

A responsabilidade do aprimoramento é o outro lado da moeda. Refere-se à


necessidade de dar os passos necessários para se atingir padrões de comportamento
e níveis de resultados cada vez mais altos. A teoria da qualidade total em
administração estima que um diretor deve dedicar metade de seu tempo à
responsabilidade do aprimoramento.

Há duas maneiras de conseguir o,aprimoramento: através da inovação e


através do aprimoramento contínuo. Geralmente, a inovação muda radicalmente
alguma prática já estabelecida. Um exemplo de inovação é a introdução do ensino
apoiado por computador na sala de aula. Outro exemplo poderia ser o da
implantação de uma nova visão pedagógica, como o ensino personalizado ou a
técnica de Freinet.

O aprimoramento contínuo muda pouco a pouco e dia a dia as práticas que


foram detectadas como pouco propícias à qualidade. Aqui. o diretor deve ajudar a
formulação de sugestões e incorporá-las à estratégia geral de aprimoramento. O
pessoal está convencido de que é necessário evitar o atraso escolar. E, sem mudar
drasticamente suas práticas, introduz, a cada dia, novos procedimentos, que lhe
permitem aproximar-se cada vez mais da possibilidade de dar uma atenção
individual aos alunos que estão se atrasando, aprendendo a nao descuidar o
progresso geral do grupo. Assim, um dia conversará durante o recreio com algum
dos alunos atrasados. Outro dia levará os cadernos de outro deles para revisá-los
detalhadamente. Em outra ocasião, visitará ou conversará com os pais de família.
Mais adiante, poderá formular exercícios especiais, para que o aluno os faça em
casa, com o apoio de algum familiar. Talvez planeje estratégias de trabalho em
equipe, nas quais os alunos mais adiantados possam trabalhar junto com os alunos
atrasados, ajudando-os a realizarem a tarefa solicitada, dentre outros.

Ambas as vias são válidas e as duas são necessárias. No entanto, é preciso


advertir que é muito mais difícil adaptar e acompanhar uma inovação, do que um
procedimento de aprimoramento contínuo.

O diretor tem duas funções: a função de estímulo e apoio e a função de controle

A primeira destas funções, de estímulo e apoio, está dirigida aos processos.


Refere-se a propiciar que as relações melhorem, de forma que possam alcançar
bons resultados.

A segunda destas funções, a de controle, é dirigida aos resultados.

Em um movimento em busca da qualidade é a primeira função que é


enfatizada, supondo que se os processos melhoram, os resultados melhorarão. No
entanto, isto não significa que se descuide do controle dos resultados. De fato, o
controle dos resultados - sobre como atingir melhores níveis de aprendizagem com
maior número de alunos - é a forma de avaliar se o aprimoramento dos processos
foi efetivo.
Assim sendo, um diretor precisa administrar tanto os processos como os
resultados. Para poder fazê-lo. necessita contar com critérios tanto para um quanto
para outros. Em vista da predominância do modelo tradicional de administração e
supervisão escolares, existem critérios muito mais elaborados para administrar os
resultados: é relativamente fácil medir pelo menos alguns dos resultados de
aprendizagem (não é o caso da aprendizagem de valores, por exemplo). No entanto,
os critérios para administrar e acompanhar os processos foram muito menos
desenvolvidos. Neste caso, critérios tais como os do esforço para o aprimoramento,
consistência no processo, congruência do que se apregoa com o que se faz - todos
eles critérios que fazem com que o diretor exerça sua liderança, entendida como
apoio e estimulo - parecem ser os mais indicados.

Resumindo as idéias fundamentais deste capitulo:


O diretor de uma escola é o elemento chave em um processo de busca
da qualidade. Se a direção de uma escola não está envolvida e
comprometida com o propósito de melhorar a qualidade, é muito
difícil que ela se aprimore.
As exigências sobre o papel do diretor em um processo de busca da
qualidade são muito diferentes da forma como estamos acostumados a
entender o papel do diretor. O diretor deve converter-se em um líder
que impulsiona e estimula um processo de aprimoramento contínuo.
Para um diretor, o mais importante são as pessoas. Isto significa que
pensa nas necessidades dos beneficiários e que, para satisfazê-las.
procura conseguir que o trabalhador se sinta orgulhoso do seu
trabalho.
O diretor deve assegurar-se de que o processo de aprimoramento da
qualidade seja um processo de formação no trabalho e esteja
acompanhado dos elementos formamos indispensáveis para
conseguir que as mudanças propostas possam ser realizadas.
O diretor tem duas responsabilidades: a de manutenção e a de
aprimoramento. A de manutenção implica estabelecer regras claras e
garantir seu cumprimento. A de aprimoramento, à qual deve dedicar
a metade de seu tempo, implica melhorar os níveis dos resultados
alcançados.
O diretor tem duas funções: a primeira função é a de estímulo e
apoio, que se refere aos processos. A segunda função é a de controle,
que se refere a supervisionar os resultados. A filosofia da qualidade
enfatiza a primeira, mas também exige a segunda.
NOTA

l.-DEMING, W. Edwards, Calidad, productividnd y competitividade La salida para Ia crisis. Madrid: Diaz
de Santos, 1989.
CAPITULO VII

A QUALIDADE LEVA AO APRIMORAMENTO CONTÍNUO


DAS PESSOAS ENVOLVIDAS

Um caso

Uma pessoa que não sente orgulho do trabalho que está realizando, falta.
chega tarde, muda freqüentemente de trabalho ou de escola. A filosofia da
qualidade supõe que isto acontece devido à supervisão falha e à má gestão da
organização. Quando a supervisão e a gestão não estão concebidas,
fundamentalmente, como funções de apoio ao bom desempenho do trabalho, podem
suceder fenômenos muito tristes. Os trabalhadores perdem o interesse em fazer bem
as coisas. Assim, por exemplo, se uma professora, digamos, da segunda série, sente
grande entusiasmo pelo seu trabalho e esforça-se por realizá-lo da melhor forma
possível, mas está lotada numa escola onde trabalhar bem não é a norma, em breve
ela terá problemas com seus colegas. Perceberá que seus alunos, ao chegarem à
terceira série, encontrarão um processo de ensino irregular e deficiente e perderão
grande parte do que ela conseguiu com eles. A isto, junta-se o fato de que o diretor
não tem interesse pelo que ela faz dentro da sala de aula. Enquanto ela não causar
problemas, ele simplesmente deixa-a em paz. O supervisor, por sua vez, quando
visita a escola, fala com o diretor, a fim de revisar as fichas com os dados que deve
preencher, nas quais se especifica quantos alunos tem cada professor, quais são suas
idades, quantos são do sexo masculino e quantos do feminino, quais os que são
repetentes e quais se matricularam novamente. Mal cumprimenta a professora. Não
lhe faz perguntas sobre seus problemas pedagógicos, não proporciona sugestões
nem apoios específicos. Nestas condições, esta professora, por melhor que seja. por
mais entusiasmo que tenha pelo seu trabalho, logo vai perder esse interesse e esse
entusiasmo e começar a comportar-se de forma muito parecida com a normal da sua
escola: tal como se comportam os outros professores. E logo pedirá sua remoção.

Quando, ao contrário, uma pessoa se sente importante no seu trabalho, fará


todos os esforços para permanecer nele. Sentir-se-á importante, desde que possa
sentir orgulho pelo que faz e colaborar para melhorar a qualidade da sua
organização. Vamos supor essa mesma professora da segunda serie em uma escola
na qual, os professores, em geral, procuram fazer o melhor que podem. Reúnem-se
com freqüência, discutem sempre sobre as necessidades de seus alunos e as
condições dos pais de família. Organizam seminários de estudo para aprender
juntos a melhorar seus objetivos. A professora diz abertamente o que não lhe
agrada, faz criticas ao funcionamento da escola e propõe sugestões sobre a forma de
solucionar os problemas. Para sua surpresa, percebe que estas criticas e sugestões.
não somente sao bem recebidas, mas que se lhe agradece por havê-las mencionado.

O diretor também participa desses seminários, estimulando e alentando sua


realização. Pede livros emprestados, que possam ajudar a esclarecer o tema.
Convida um amigo, com experiência interessante no ensino de matemática, para
que venha dar uma palestra sobre o assunto. Os professores planejam, em equipe,
como melhorar os resultados de aprendizagem dos seus alunos. Revisam juntos o
que estão realizando, discutem os problemas, apoiam as soluções. Os professores
ajudam-se entre si, passam dicas, elaboram projetos em conjunto. Muitos deles
seguem as sugestões que a professora proporcionou nos seus próprios espaços de
trabalho. O diretor está sempre muito atento a tudo que acontece e, quando as
coisas vão bem, ele reconhece abertamente. Tem o cuidado de estabelecer
claramente as regras do jogo e é congruente com elas, procurando que as mesmas
sejam cumpridas, mesmo tendo que ser enérgico. Em geral, no entanto, o clima de
trabalho é de harmonia e colaboração. Os alunos entusiasmam-se com a
aprendizagem. Os pais de família mostram-se interessados e perdem o receio de
aproximar-se da escola para perguntar pelos seus filhos. A professora encontra cada
vez mais satisfação em seu trabalho, na sua relação com os alunos e com os colegas.
Essa professora percebe que, durante esse ano, ela aprendeu muito, talvez mais do
que aprendeu no curso normal. Reconhece que a escola está aproveitando seus
conhecimentos e suas habilidades, inclusive conhecimentos e habilidades que nem
sequer sabia que possuía. Sente-se orgulhosa do seu trabalho. E nao pedirá sua
remoção. Ao contrário, no ano seguinte, participará com muito mais energia.

Os problemas não são dos professores, mas do sistema

O exemplo acima citado pretende deixar claro este ponto. O problema da


qualidade, em termos gerais, nao está nos professores, mas no sistema com que a
escola trabalha. No entanto, também no exemplo anterior se vê com clareza como a
solução depende da equipe de docentes, sempre que esta equipe seja capaz de
modificar o sistema.

Quando o corpo docente, dirigido pelo diretor, assume a tarefa de modificar


o sistema e melhorar os processos para obter melhores resultados, atendendo às
necessidades dos beneficiários, estes professores crescem como pessoas. Isto porque
estão melhorando a qualidade de vida no seu trabalho, ao qual dedicam uma parte
muito importante de suas vidas. E chegam a reconhecer que a qualidade de vida
merece ser aprimorada, de uma forma constante.

É por isso que a filosofia da qualidade está dirigida às pessoas e a seus


esforços, com especial atenção ao fator que se refere às atitudes, que sao as
manifestações dos valores que dão impulso ao aprimoramento, para o bem de todos.

O importante na qualidade é a qualidade das pessoas

A qualidade das pessoas é a primeira preocupação da filosofia da qualidade.


Um sistema, no qual se busca a qualidade, estará preocupado em que as pessoas
desenvolvam ao máximo suas potencialidades.

"Para produzir melhores sistemas, uma sociedade


deverá preocupar-se menos com produzir bens
materiais em quantidades crescentes, do que com
produzir pessoas de melhor qualidade: em outras
palavras, (com produzir pessoas) que sejam capazes
de produzir estes sistemas."'

Isto é formulado por uma teoria que se aplica a empresas produtoras de bens
e serviços. Quanto mais não deve ser, em uma organização dedicada, justamente, a
formar pessoas!

"O mais importante não são as coisas que o homem faz,


mas sim o homem que faz as coisas".2

E, no entanto, na educação, muitas vezes vemos que os planejadores


parecem dar mais importância às coisas do que às pessoas, para melhorar sua
qualidade. É comum ver programas de aprimoramento da educação preocuparem-se
mais com proporcionar infra-estrutura e materiais didáticos do que com a
atualização e o apoio dedicado aos docentes.
O mais importante é a possibilidade de viver os valores do compromisso, da
responsabilidade e da solidariedade

As pessoas desenvolvem-se, quando sao capazes de crescer integralmente.


Para desenvolver-se é necessário adquirir conhecimentos, desfrutar uma qualidade
de vida digna, ser respeitado e aceito. Mas talvez mais importante que tudo o que
acabamos de citar, o processo de desenvolvimento pessoal está na descoberta do
sentido da vida, que provem, fundamentalmente, de provar a si próprio a
capacidade de transformar a realidade, no sentido em que se acredita que deve ser
transformada e, de forma igualmente importante, em realizá-lo de uma maneira
congruente com os valores que se quer ver refletidos nessa realidade que se está
contribuindo para transformar. O aprimoramento efetivo gera uma verdadeira
satisfação com a vida.

A busca da qualidade gera espaço para que isto seja possível. Dá um sentido
de transformação ao trabalho quotidiano. E procura fazê-lo salientando o
compromisso, a responsabilidade e a solidariedade com os seres humanos com os
quais se trabalha e com o objetivo coletivo do qual se participa.

A filosofia da qualidade tem sua base na convicção de que o desejo de


procurar atingir qualidade e valor, de compartilhar experiências e de apoiar-se
umas nas outras e inerente às pessoas.

Sc crescemos como pessoas, poderemos formar integralmente nossos alunos

Quando conseguirmos criar nas nossas escolas as estruturas que permitam


desenvolver as pessoas, poderemos ter a certeza de que estaremos numa posição
privilegiada para tentarmos o mesmo com nossos alunos. Desta forma, estaremos
atendendo a essa constante aspiração dos pais de família, no sentido de esperar da
escola uma formação ética e teremos criado as bases para procurar satisfazê-la.

Revisemos os valores que podemos viver de forma congruente, ao


participarmos de um processo de aprimoramento da qualidade, e os valores que
seria desejável desenvolver em nossos alunos. Ao fazê-lo, veremos que, à medida
em que nós, como uma equipe de docentes, nos proponhamos a abrir espaços para
que nossos alunos, bem como suas famílias, vivam estes valores, não estará muito
afastada esta possibilidade.
- A identidade

Em um processo como o que descrevemos ao longo deste texto, nós, como


docentes, vemo-nos fortalecidos em nossas identidades. Reconhecemo-nos como
parte de uma escola: chegamos a sentir-nos parte dela, porque ela é, de certa forma.
criação nossa. Mas adquirimos também uma identidade profissional, porque
desenvolvemos nossas capacidades como docentes.

No caso dos nossos alunos, é evidente que alcançar sua identidade individual
e social é um processo que se relaciona com as etapas de desenvolvimento da
criança. No entanto, também todos sabem que este processo deve ser favorecido.
para que se possa realizar totalmente. Por outra parte, a identidade está na base de
um dos direitos humanos fundamentais, que é o respeito. É preciso respeitar-se a si
mesmo para poder respeitar os outros. Está também na base de outro dos
componentes fundamentais, essência dos direitos humanos, que é a dignidade. A
convicção da própria dignidade é condição para reconhecer a dignidade alheia.

Ora, para que se atinja a identidade, é considerada essencial a existência de


oportunidades de pelo menos três tipos:

a) A participação criativa. As oportunidades de expressão, de proposta,


de criação, de tomada de decisões, de opinião, são indispensáveis
para a construção do sujeito. São a base para o trânsito da
heteronomia à autonomia, que é o processo evolutivo no qual se
baseia a formação da identidade.
b) A diversificação. Enfrentar o outro e os outros como diferentes e
próprios constitui o eu identificado. Portanto, as oportunidades de
interação com alunos diferentes, de outras idades, com professores
diferentes, com alunos de outras escolas, com pessoas da comunidade
e, por via da expansão da realidade quotidiana, mediante o
conhecimento e a compreensão de outras realidades, outras culturas.
outros momentos históricos, que a escola possa proporcionar, são de
um valor incalculável na formação da identidade pessoal e social.
Cada vez se aceita mais o valor pedagógico dos grupos heterogêneos
na escola. Por trás disso está. justamente, a consecução desta
identidade.
e) A auto-estima. Auto-estima e identidade são indissociáveis. No
entanto, a primeira é mais frágil que a segunda e sua fragilidade a
afeta. Portanto, a escola deve proporcionar amplas oportunidades
para a constituição de uma auto-estima forte em todas as crianças.
através do apoio e da compreensão das diferenças individuais e da
possibilidade de múltiplas expressões, aproveitando os talentos
individuais. Mas a escola também deve, através de vários
mecanismos, converter-se em vigilante dedicada dos processos de
interrelação -entre mestres e alunos e entre pares que ameaçam a
auto-estima.

De enorme transcendência no terreno da identidade, do respeito e da auto-


estima, são o conhecimento, o reconhecimento e a consistência nas interações das
igualdades essenciais e das diferenças constitutivas entre os sexos. Isto é
especialmente importante, partindo da escola, em contextos nos quais a formação
de valores extraescolares é discriminatória e denegridora da condição da mulher e
nos quais se reproduzem as condições de violação quotidiana a seus direitos
humanos fundamentais.

- A liberdade, a responsabilidade e o respeito ao bem comum

Os processos de aprimoramento da qualidade na escola abrem para nós


possibilidades de viver os valores acima citados, de formas variadas, como já
viemos analisando.

A liberdade deve ser entendida como o direito de escolher, mas conhecendo


as conseqüências da escolha, para si próprio e para os outros, e assumindo a
responsabilidade pelas mesmas. A escola, portanto, deve propiciar muitas
oportunidades de escolha livre. mas. junto a isto. um processo de definição coletiva
e participativa das normas de convivência, em um processo contínuo de construção
e revisão, que esclareça as conseqüências de sua violação. Os processos de vida
democrática dentro das salas de aula e da escola, a elaboração de regulamentos
internos próprios de cada grupo, com sanções estabelecidas, postos em prática em
várias experiências e avaliados em algumas delas, parecem indicar que estes se
convertem em oportunidades privilegiadas para a vivência da liberdade, com
respeito ao bem comum.

- A eqüidade e a justiça
Um processo de aprimoramento da qualidade total preocupa-se com todos os
alunos, nao somente por conseguir o melhor para alguns deles. Já mencionamos
que, para a qualidade, é mais importante diminuir as variações do que melhorar a
média. Neste princípio da filosofia da qualidade estão sintetizados os valores de
eqüidade e de justiça.

A eqüidade consiste em proporcionar oportunidades iguais para todos. A


justiça consiste em dar mais a quem necessita mais. A justiça é um valor muito
mais profundo que a eqüidade. Mas na vida quotidiana, na escola ou fora dela,
existem violações tangíveis tanto contra a primeira quanto contra a segunda. A
escola deve oferecer oportunidades para viver a eqüidade como condição sem a qual
não se pode viver a justiça. E oportunidades para viver a justiça. Da mesma forma,
e novamente pela via da extensão do quotidiano, já mencionada, é necessário
proporcionar oportunidades para conhecer-se a desigualdade e a injustiça externas e
para agir contra as duas. pelo menos vicariamente.

A definição de justiça que acabamos de mencionar, não pode ser vivida sem
a oportunidade de se viver o valor seguinte:

A solidariedade e o compromisso

Sem a solidariedade não é possível empreender um processo de


aprimoramento da qualidade, porque a qualidade está nos processos e nestes todos
nós participamos. Por outro lado. o compromisso é o pressuposto de todo processo
de aprimoramento da qualidade. Quem não se compromete com um processo
contínuo de aprimoramento, não poderá jamais se propor melhores resultados.

A solidariedade tem a ver com a identidade coletiva - do grupo, da unidade


escolar, da comunidade - mas também com as manifestações da vontade de apoiar
aos que assim o necessitam. A preocupação coletiva com os processos grupais é
algo que. ao que tudo indica, é estimulado na medida em que os objetivos escolares
são formulados, não como objetivos de progresso de cada indivíduo, mas sim do
grupo. Desta forma, pode-se gerar um processo de responsabilidade coletiva para se
chegar aos objetivos comuns, o que propicia oportunidades muito interessantes de
compromissos individuais de apoio àqueles que, por alguma razão, correm o risco
de se atrasar em relação aos progressos do grupo. Na medida em que estas
oportunidades se diversifiquem e transcendam o âmbito acadêmico para incluir os
esportes, as atividades artísticas, as atividades de serviço para com a escola, se
diversificarão também as possibilidades de ser do sujeito que apoia. Novamente.
esta vivência deve expandir-se para a vida quotidiana externa à escola - a mais
próxima do aluno - de forma que se possa manifestar na vida familiar e
comunitária e. vicariamente, na realidade mais ampla.

- A congruência

Este valor representa o fecho de todos os anteriores e de outros mais que.


com toda certeza, também são essenciais, porque a congruência entre a informação,
o conhecimento, o julgamento, a decisão e a ação é o que. em última instância,
define o valor, que se manifesta verdadeiramente no comportamento. Com efeito, o
que mais deseduca, e esta é a razão pela qual a escola e a sociedade formam com
base em valores "indesejáveis", parece estar, precisamente, nas incongruências
entre o discurso e os fatos, que chegam a se interiorizar como estilo de vida. porque
os indivíduos se apropriam da incongruência.

Ora, a congruência é favorecida à medida em que sejam privilegiados os


processos de conhecimento que são necessários para sua concepção.
Concretamente, os processos de investigação e descobrimento, o desenvolvimento
do julgamento crítico independente e a metodologia do diálogo, são todos eles
coadjuvantes indispensáveis no processo, para que se atinja a congruência e a
consistência.

Assim, podemos observar como, ao participarmos de um processo de


aprimoramento contínuo da qualidade, crescemos integralmente como pessoas e
seremos capazes de formar indivíduos íntegros. Talvez esteja aí o valor
fundamental portador da esperança da filosofia da qualidade total, que parte da
premissa de acreditar na pessoa e termina por desenvolver a pessoa.

Resumindo as idéias fundamentais deste capítulo:


Os problemas da qualidade da educação não são dos professores, mas
sim do sistema. No entanto, a solução a ser dada aos problemas da
qualidade deve partir da equipe de docentes, lendo à frente o seu
diretor.
Na qualidade, o mais importante é a qualidade das pessoas. A
filosofia da qualidade total considera que o importante não são as
coisas que o homem faz, mas o homem que faz as coisas. E se propõe
a desenvolver integralmente as pessoas.
No processo de desenvolvimento integral das pessoas, talvez o mais
importante são seus valores. A busca da qualidade abre os espaços
para viver, de forma congruente, os valores fundamentais da
solidariedade, da responsabilidade e do compromisso. Ao nos
permitirmos, como professores, viver congruentemente os valores da
solidariedade, da responsabilidade e do compromisso, a busca da
qualidade coloca-nos em condições de poder formar integralmente
nossos alunos e talvez também a suas famílias, dentro dos valores da
identidade, liberdade e compromisso, eqüidade e justiça,
solidariedade e congruência.

NOTAS

I.- IMAI, Masaaki. Kaizen: La Clave de Ia Ventaja Competitiva Japonesa. México: Companhia
Editorial Continental, 1989. Citando uma intervenção de Claude Lévy-Strauss. em um seminário
sobre qualidade total.

2.- Memórias del II Congreso Internacional de Calidade Total .México: FUNDAMECA, 1990.
CAPITULO VIII

O PLANEJAMENTO E A AVALIAÇÃO PARA ATINGIR


A QUALIDADE

Já falamos que um processo de aprimoramento da qualidade educativa


necessita de informação e investigação. Dissemos, em várias ocasiões, que e
preciso planejar, acompanhar e avaliar. Neste capítulo, ampliaremos estes três
últimos aspectos.

O reconhecimento do problema

A busca da qualidade tem seu início, como já dissemos, na insatisfação com


o estado de coisas. Em outras palavras, começa com o reconhecimento da existência
de um problema, o qual pode ser de dois tipos ou a combinação dos dois: uma
preocupação com os resultados deficientes que a escola está produzindo, ou uma
preocupação com os processos deficientes que a escola está empregando. Como é
óbvio, ambos estão vinculados entre si.

O reconhecimento de um problema pode. por sua vez. ter sua origem em


várias fontes. Pode vir. e muitas vezes assim acontece, das queixas que a escola
recebe de seus beneficiários: das escolas que recebem seus egressos, dos pais de
família, dos próprios alunos, da comunidade. Neste caso. são os beneficiários os que
estão pouco satisfeitos com a situação. Pode provir também das críticas emanadas
do próprio pessoal que trabalha na escola. Neste caso, um membro da equipe, ou
vários deles, estão pouco satisfeitos com o estado de coisas. Ou pode vir da direção,
devido ao convencimento de que as coisas poderiam ser melhores.

Se o caso é o último citado, geralmente o processo é mais simples. O diretor


tem uma idéia de como as coisas devem ficar para serem melhores. O necessário
é que esta idéia se transforme em um plano. Talvez o mais difícil, neste caso, é que
a equipe de professores também reconheça o problema e esteja disposta a colaborar
para transformar a idéia em um plano.

Não sendo esse o caso. o processo é um pouco mais complicado. As queixas


e as críticas, que não partem do diretor, têm que passar a se transformar em uma
preocupação principal dele. Uma vez que ele reconheça o problema, deve
convencer-se de que a situação poderia ser melhor e, desta convicção, deve advir
uma idéia capaz de ser transformada em plano. Como dizíamos no capítulo VI, se o
diretor não faz sua a necessidade de mudança, não é possível - ou pelo menos é
muito mais difícil - iniciar um processo de aprimoramento da qualidade.

Mas suponhamos que o diretor se envolva no problema e que sugira uma ou


várias idéias para melhorar a situação. Esta idéia tem que se converter em um
plano. Por isso é que o planejamento é um aspecto importantíssimo nos processos
de aprimoramento da qualidade.

A idéia converte-se em plano

Para que a idéia se transforme em plano, como já indicamos, é necessário


conhecer bem o problema, suas causas e as soluções possíveis. Não nos
aprofundaremos agora nas necessidades de informação e de investigação exigidas
por este processo. Falemos agora das características do plano.

- O plano deve ser elaborado em grupo

As pessoas que dirigem os processos escolares são as responsáveis, em


última instância, pelo aprimoramento da qualidade, pois a qualidade reside no
processo. Isto significa que são elas que, em conjunto, devem desenvolver o plano.
Isto implica que o diretor convoque, consiga convencer, entusiasme e comprometa a
equipe de docentes a iniciar um empreendimento coletivo, o qual, como já
dissemos, uma vez iniciado não terá fim.

O plano deve começar pela estabilização dos processos ou por definir


a estabilidade dos já existentes

O primeiro passo em um processo de aprimoramento da qualidade é a


estabilização dos processos. Isso significa descobrir o que se faz geralmente e o que
geralmente se alcança. Somente assim poderemos saber se há pessoas que se
encontram fora, abaixo ou acima dos padrões de qualidade e progresso. Se é assim,
faz-se necessário:

a) Definir as normas mínimas.


b) Proporcionar os elementos para que estas normas mínimas possam
ser cumpridas por todo o pessoal (por exemplo, proporcionar melhor
formação, quando existe um problema de incapacidade, ou então
resolver um problema de transporte de um professor que sempre
chega atrasado, porque não pode resolvê-lo sozinho). e) Estabelecer,
de comum acordo, sanções claras para a falta de cumprimento
destas normas mínimas.

Desta forma, a ação terá inicio a partir de um processo padronizado. Começa


com um plano de manutenção, que pode e deve ser elaborado e implantado a curto
prazo.

Planejar os resultados almejados

O passo seguinte consiste em definir quais os resultados que queremos


atingir. Em outras palavras, devemos definir os resultados de aprendizagem que
esperamos alcançar com nossos egressos e com aqueles que terminam cada uma das
séries da escola e, até mesmo, para cada uma das matérias de cada série.

Já estamos em um processo de aprimoramento. É importante que, neste


processo de aprimoramento, fixemos metas realistas e nao utópicas ou idealistas.
Haverá ocasião, em futuros ciclos do processo de aprimoramento da qualidade, para
propormos patamares mais elevados. Mas, se começamos com metas muito
afastadas das que atualmente somos capazes de realizar, corremos o risco de
provocar frustração e interromper o processo.

O plano deve privilegiar os processos de prevenção ao problema

Quando realizamos a investigação, obtemos informação e interpretação


sobre as causas do problema que nos absorve. Geralmente um problema como o de
deficientes níveis de aprendizagem, não tem somente uma causa, mas várias causas.
É necessário dedicar-se à tarefa de dar prioridade a essas causas, de forma a que o
plano possa conseguir atacá-las. Somente atacando as causas é que se pode prevenir
os problemas. E só prevenindo-os é que os solucionamos na raiz. É inclusive
recomendável que, num primeiro plano, não se proponha, de início, a combater
todas as causas, mas somente a ou as mais importantes.

Toda tentativa de prevenção dos problemas implica modificar os processos,


que é de onde decorrem a boa ou a má qualidade. Nestes processos todos
participamos. Por isso, todos devemos participar na elaboração deste plano
preventivo, porque sua implementação será tarefa de todos.

O plano deve preferir a diminuição das variações à elevação das


médias.

De nada serviria, para os propósitos de satisfazer as necessidades dos nossos


beneficiários, que, em vez de produzir trinta egressos medíocres, fôssemos capazes
de produzir três egressos excelentes, vinte medíocres e sete fracos. Sem dúvida,
com isto, nossas médias melhorariam, mas estaríamos incorrendo numa falta de
eqüidade e, em última instância, atentando contra a justiça. É mais importante que
nos proponhamos a conseguir trinta egressos menos medíocres que antes.
Novamente, haverá ocasião para nos aproximarmos da meta de produzir trinta
formandos excelentes. No final, é o que se almeja. Mas temos que fazê-lo
gradativamente.

O exemplo de uma fábrica é, sem dúvida, chocante, mas muito claro. Uma
fábrica tem prejuízos sempre que produz um artigo defeituoso. Tem que desfazer-se
dele ou tem que mandá-lo novamente de volta para a linha de produção, onde os
processos se duplicam, porque é necessário, primeiramente, corrigir o defeito e
depois armá-lo novamente. A intenção de uma fábrica é a de produzir com a menor
variação possível, alcançando um padrão de qualidade parelho em todos os seus
artigos. Atingindo este padrão de qualidade estável, poderá depois tentar aprimorá-
lo, criando as condições para assegurar que esse novo padrão também seja
alcançado de forma parelha.

Evidentemente, os alunos não são artigos. Também é claro que, sendo


pessoas, todos são diferentes, apresentando capacidades e habilidades diferentes e
muito variadas. Tudo isto é certo. No entanto, estamos trabalhando numa escola
que proporciona educação básica, que é o direito de todos. Estaríamos infringindo
esse direito humano fundamental, se nos dedicássemos a favorecer as variações.

Conseguir diminuir as variações é também um assunto concernente aos


processos. Também nisto estamos todos envolvidos e nossa participação no
planejamento é essencial.

O plano exige programas mais definidos


É aqui onde intervêm pequenas equipes de trabalho ou o que se denominou
de "círculos de qualidade". Trata-se de repetir, numa escala menor, o processo
anterior, naqueles aspectos específicos que envolvem, de maneira especial, certos
membros do pessoal, dos alunos ou dos pais de família.

Vejamos um exemplo. O plano global, no qual todos participam, sob a


coordenação do diretor, dedica-se a diminuir o atraso escolar. Na investigação
realizada, são identificadas as causas: algumas delas estão na forma como
normalmente são conduzidas as aulas, outras em algumas características específicas
de algumas famílias, que ocasionam um excessivo absenteísmo dos filhos, outras
ainda estão nos problemas de disciplina dentro da sala de aula.

Vejamos o caso de uma escola secundária. Pode ser conveniente que se


formem várias equipes de professores, por disciplinas ou áreas de aprendizagem.
de tal forma que seja estabelecido um programa específico de estratégias de ensino.
que previnam o atraso e que permitam dar uma atenção especial aos alunos que se
atrasam. Talvez tome-se a decisão de formar uma equipe que tente estabelecer um
diálogo com os pais de família dos alunos que faltam, de tal forma que se possa
evitar suas ausências. Numa equipe com esta finalidade, podem participar pais de
família. Pode ser interessante que uma outra equipe, constituída por professores e
alunos, assuma a proposta de elaborar regulamentos internos da classe, os quais
seriam submetidos à discussão e à aprovação democrática de todos os alunos do
grupo, com a finalidade de prevenir os problemas de disciplina. Estas equipes
estariam dispostas a atacar algumas das causas do problema global, que o plano
pretende resolver, partindo de seus âmbitos de interesse e de trabalho específico.

O plano é posto em prática e é monitorado

O plano, bem como os programas de trabalho das equipes ou círculos de


qualidade, pode traduzir-se em novas práticas, que devem ser definidas com
clareza, de forma que sejam compreendidas por todos. As práticas referem-se aos
processos e agem, em última instância, sobre as relações.

Já que um plano pretende modificar processos, é preciso que as práticas


consideradas necessárias para modificá-los sejam revisadas permanentemente pela
própria equipe que as definiu. A esta revisão contínua dá-se o nome de
acompanhamento, que é diferente da avaliação, que revisa os resultados.
O acompanhamento refere-se à atuação das pessoas nas suas práticas
quotidianas. Tendo em vista que, afinal, somos todos responsáveis pelo objetivo
idealizado, a revisão da nossa atuação também compete a todos. Mudar nossas
práticas não é fácil. Encontraremos obstáculos e problemas, que sequer
imaginávamos antes de tentar a mudança. Descobriremos que necessitamos apoios
específicos, para poder direcionar nossa prática no sentido desejado. Em muitos
casos, necessitaremos uma formação melhor para poder realizar as modificações
combinadas. No entanto, se não existe espaço para se discutir estes problemas, nem
a vontade de encontrar, de comum acordo, as soluções, corre-se o risco de que o
processo de aprimoramento seja abandonado, provocando frustração entre os que
tentaram realizá-lo.

Por isso, o acompanhamento é também um trabalho de grupo. Para


acompanhar, necessitamos critérios. Tendo em vista que o objeto de nosso
acompanhamento são as práticas e os processos, os critérios são,
fundamentalmente, de natureza qualitativa. Referem-se aos esforços das pessoas, à
suas atitudes, à sua constância, à sua capacidade de crítica e de autocrítica, à sua
criatividade para fazer sugestões para enfrentar obstáculos não previstos. Estes
critérios, de caráter qualitativo, podem ser transformados em indicadores definidos,
também de caráter qualitativo. Assim, por exemplo, o esforço pode ser avaliado na
medida em que os docentes estão elaborando, de forma mais consistente, seus
planos de aula, nos quais são introduzidas modificações nos processos de ensino, no
sentido de evitar o atraso escolar. Se, de fato, percebem-se progressos nos critérios
acima, pode-se ter a certeza de que se está no caminho da transformação das
práticas. Se, ao contrário, descobrem-se problemas em qualquer destes critérios,
será necessário, novamente, descobrir suas causas e procurar solucioná-las na raiz.

Agora, em um processo de acompanhamento, e em relação ao plano global.


é extremamente importante não perder de vista o objetivo final, que se refere à
satisfação das necessidades do beneficiário de nossa ação educativa. Isto significa
que. ao longo de todo o processo, é essencial fortalecer o diálogo com nossos
beneficiários: alunos, pais de família, escolas que recebem nossos egressos, a
comunidade como um todo. Este diálogo proporcionará insumos importantes para a
nossa tentativa de modificar as atividades escolares, e. o que é mais importante, nos
ajudará a ter sempre presente o objetivo externo, que motiva originalmente o
processo e nos mantém unidos em nossos propósitos. O papel do diretor aqui é
essencial, mas o diálogo com os beneficiários é uma função de todos.
Isto deve ser realizado em cada pequena equipe ou círculo de qualidade e
com relação ao plano global. No entanto, nao se pode esquecer que a comunicação
entre estas equipes é essencial, para poder fechar o círculo do verdadeiro
acompanhamento. Estimular a comunicação e socializá-la, esta é uma das
importantes responsabilidades do diretor.

Os resultados são avaliados

O processo é acompanhado. Os resultados são avaliados. Se regressamos ao


nosso exemplo, o resultado esperado do plano é o de diminuir o atraso escolar. Para
tal, colocamos em prática uma série de modificações naquilo que consideramos
causas do atraso escolar as quais supomos que afetarão os resultados. Transcorrido
o tempo suficiente depois de se ter conseguido modificar nossas práticas, avaliamos.
Neste caso, o que avaliamos é a forma como foi ministrada a distribuição dos
resultados de aprendizagem alcançados. O que queremos encontrar é um menor
número de alunos abaixo dos níveis ideais de aprendizagem traçados e, ao mesmo
tempo, um nível médio de progresso não menor que o anterior - melhor ainda se
este aumentou. Isto significa medir, de uma forma comparável com os dados que
tínhamos no início do processo, a aprendizagem de nossos alunos. Mas significa
também analisar sua distribuição e compará-la com a anterior, para poder constatar
que, com efeito, a variação diminuiu e o atraso decresceu.

No setor da educação, a avaliação é uma prática comum. O problema é que


somente se avalia, não se acompanha. A avaliação, sem o acompanhamento, não
permite melhorar a qualidade, mas apenas constatar sua presença ou sua ausência.
A inspeção clássica baseada na análise dos resultados de avaliações é incapaz de
aprimorar a qualidade dos processos.

A avaliação é importante, mas somente é útil para aprimorar, quando está


combinada com o acompanhamento. Partindo da perspectiva da filosofia da
qualidade, avalia-se com o resultado, não pelo resultado. Não é possível avaliar as
pessoas simplesmente pelo seu desempenho final, medido através de provas de
aprendizagem. É necessário considerar quais os passos que foram dados para
melhorar estes resultados. Trata-se, na avaliação, de verificar, por meio dos
resultados, e não de verificar os próprios resultados. Assim, examinamos a
qualidade para ver como está transcorrendo o processo. Sc não é assim, estaremos
falando simplesmente de inspeção. O mais importante é o controle dos processos, a
fim de que os alunos possam passar por eles sem dificuldades. A avaliação verifica
se os processos modificados contribuíram ou não para se alcançar melhores
resultados.

Termina um ciclo e começa outro

Uma vez demonstrado que os processos desencadeados tiveram, de fato, os


resultados esperados, e necessário padronizar estes processos. Assim como
descrevemos que, como primeiro passo do planejamento, é necessária a
padronização do processo normal da escola, e falamos dele como um passo de
manutenção, ao chegar a este momento opera novamente a função de manutenção.
Trata-se de estabelecer com clareza os novos níveis de comportamento, com o fim
de evitar a recorrência em situações anteriores. Desta forma, cabe ao diretor revisar
as normas, diretivas e regulamentos, de tal forma que o que foi realizado fique
plasmado em novas regras do jogo e de comportamento escolares. Isto permitirá
que velemos, como equipe, para que estas normas sejam cumpridas.

Mas com isso estamos somente prontos para iniciar um novo processo de
aprimoramento, no qual o ciclo anterior se repete, mas a partir de um novo nível de
desempenho e com processos aprimorados. Desta forma, estaremos aplicando o
ciclo PFRA de qualidade total: planejar-fazer-revisar-agir.
O ciclo PFRA:
Planejar significa fazer planos de aprimoramento nas atividades
atuais, a partir de dados sólidos.
Fazer significa a aplicação do plano.
Revisar significa ver se foi alcançada a melhora almejada.
Agir significa prevenir a recorrência ou institucionalizar o
aprimoramento como uma nova prática que, por sua vez, deverá ser
aprimorada.

Resumindo as idéias mais importantes deste capítulo:


O processo de aprimoramento da qualidade parte do reconhecimento
de um problema, que deve ser motivo de preocupação para o diretor
da escola. Esta preocupação deve gerar idéias para a solução do
problema.

Estas idéias têm que se transformar em plano. Mas um plano


dirigido para o aprimoramento da qualidade tem que preencher várias
condições:
Deve ser elaborado em equipe.
Deve começar por estabilizar os processos atuais.
Deve planejar os resultados esperados.
Enfatiza os processos que previnem o problema.
Preocupa-se principalmente em diminuir as variações.

O plano global da escola tem que ser apoiado em programas mais


definidos, que surgem dos círculos de qualidade ou de pequenas
equipes de pessoas, unidas pelas afinidades das áreas de trabalho ou
de interesses. Nesses círculos podem participar alunos e pais de
família.
Um dos passos mais importantes em um processo de aprimoramento
da qualidade é o acompanhamento desses processos. Acompanhar
significa verificar se os processos estão mudando. O
acompanhamento também deve ser realizada em grupo. Quando já se
puderem esperar os resultados, é necessário avaliar. Mas avaliamos
fundamentalmente para verificar se nossos processos aprimorados
funcionaram. A avaliação, por si só, não pode melhorar a qualidade.
São os processos aprimorados os que a melhoram. Uma vez
constatados resultados melhores, o processo é institucionalizado e
estamos em condições de começar um novo ciclo: planejar-fazer-
revisar-agir.

NOTA

1.- IMAI, Masaaki. cit


CAPITULO IX

A QUALIDADE NECESSITA DA PARTICIPAÇÃO


DA COMUNIDADE

A melhor forma de levar o beneficiário em consideração é fazê-lo participar

Já definimos os pais de família como um dos beneficiários importantes da


atividade escolar. Por outro lado, ao analisarmos alguns exemplos de problemas que
afetam nossas escolas, vimos que as características das famílias e a dificuldade com
que as escolas se adaptam a essas características sao, freqüentemente, causas
importantes desses problemas.

É por isso que, na educação básica, não se pode entender a qualidade sem a
ativa participação dos pais de família, que deve ser propiciada pela escola, como
um todo, e pelos diversos professores com os pais de seus alunos.

No fundo, o ideal é que a comunidade se aproprie da escola, que a considere


como sua, que a apoie e se envolva com ela como um agente ativo no processo
permanente de aprimoramento da qualidade. Para chegar a este ideal, no entanto, e
conveniente ir traçando metas viáveis.

Apesar das dificuldades de comunicação com a comunidade, quando


analisamos os problemas da escola, esta é, talvez, o serviço público mais apreciado
pela comunidade na qual está inserida. Muitas escolas foram instaladas e
construídas graças às ações e ao esforço comunitário. A educação dos filhos é uma
das metas mais valorizadas pelos pais de família. Por isso, os pais de família e a
comunidade constituem excelentes aliados da escola, do diretor e dos professores,
para atingir seus objetivos. Pais, comunidade e professores tem metas comuns.

Mesmo com metas comuns, muitas vezes surgem conflitos entre a


comunidade e a escola. Se os analisamos, vemos que os conflitos expressam
diferentes maneiras de compreender as finalidades da escola, as formas de atingi-
las e a maneira como são apoiadas pela comunidade.

Se consideramos que a escola, a comunidade e os pais de família pretendem


a mesma coisa, estaremos de acordo em que o trabalho conjunto para atingir estes
objetivos produzirá maiores e melhores resultados que o esforço isolado de uma das
partes. Muitas experiências que procuram vincular a escola à comunidade assim o
demonstram.

A escola está na comunidade e a comunidade está na escola

Uma vez incorporado o serviço educativo a uma comunidade, a escola


torna-se parte de sua vida. O tempo das famílias cujos filhos estão na escola gira,
em grande parte, em torno dela. Em muitos casos, os pais de família têm que
investir uma parte importante de sua renda, a fim de assegurar que seus filhos
tenham os uniformes e material necessários para seguir com êxito seu processo
escolar. Em muitas comunidades, os pais, além disso, abrem mão da ajuda
econômica e do apoio dos filhos nas suas tarefas.

Mas a escola também se faz presente na comunidade de muitas outras


formas. Comemora com ela suas festas principais. Em muitas oportunidades, a
escola representa a comunidade em eventos regionais. É raro encontrar uma escola
que não preste algum tipo de serviço à comunidade: campanhas de higiene,
participação nas campanhas de vacinação, experimentação e demonstração de
novas formas de cultivo no terreno escolar, organização de eventos esportivos...
Você, professor, pode completar esta lista.

Em muitas comunidades, o professor desempenha um papel importante:


comparece às assembléias comunitárias, ajuda na redação das atas, discute sobre a
forma de realizar gestões e negociações e participa de atividades para resolver
problemas comunitários.

Além de todas estas formas pelas quais a escola se insere na comunidade, o


conjunto de relações informais que o pessoal da escola estabelece com os diferentes
membros da comunidade, alunos, pais e autoridades, é muito importante. As
relações de amizade, as demonstrações de preocupação dos professores ou do
diretor diante dos problemas de alguma família, dos membros da comunidade ou da
comunidade como um todo, a forma como os professores e o diretor recebem os pais
de família, quando estes vão à escola e a maneira como respondem a suas dúvidas e
inquietações, as visitas pessoais dos professores às casas de seus alunos, a interação,
fora da aula, entre professores e alunos, todos estes detalhes do quotidiano da vida
escolar fazem com que a escola tenha uma presença importante e específica junto à
comunidade.
A escola é parte vital da comunidade. Uma comunidade que tem uma escola
já não pode se imaginar sem ela. E não há dúvida de que as escolas estreitamente
vinculadas à comunidade são as que apresentam os melhores resultados de
aprendizagem entre seus alunos.

Mas assim como a escola está na comunidade, a comunidade também está na


escola. Apesar de que em todas as escolas de um determinado país os programas
sejam iguais, de que os livros de texto sejam os mesmos ou parecidos, de que os
professores tenham uma formação semelhante e formem parte do mesmo sindicato.
de que todas as escolas do país sejam regidas por normas comuns, cada escola é
diferente, cada escola tem a sua própria identidade.

É natural que assim seja porque a comunidade "penetra" na escola. Isto


acontece através de várias vias, mas a mais importante de todas está constituída
pelos próprios alunos. Estes, que são educados principalmente por suas próprias
famílias, por seus parentes, pela vida comunitária, trazem consigo a cultura
comunitária para a escola. Sua forma de falar, suas brincadeiras, a maneira de se
relacionar com os companheiros e com os mais velhos, tudo isto está presente todos
os dias na escola. A vida quotidiana dos alunos, o trabalho do pai e da mãe. sua
própria participação na vida produtiva e no dia-a-dia do lar e da comunidade são os
referenciais principais com os quais confrontam os novos conhecimentos que
adquirem na escola e aplicam quando estão fora dela.

Os alunos também trazem consigo os problemas da comunidade e os de suas


famílias. Quando não há comida suficiente em suas casas ou quando sofrem
doenças, seu rendimento se ressente. As crianças que têm problemas de integração
familiar não deixam esses problemas lá fora, quando entram na sala de aula. Os
professores sabem que quando existem conflitos na comunidade, estes conflitos se
manifestam também na escola, através dos alunos.

Também os pais de família manifestam-se, de forma muito importante, na


escola, e imprimem, a cada escola, uma marca especial. Eles têm expectativas em
relação à escola; têm uma concepção de como deve funcionar uma escola; tem suas
próprias exigências sobre o que seus filhos devem aprender. E têm uma idéia,
comunitária, cultural, do que significa a relação entre o professor e os alunos: de
como devem ser tratados os alunos na sala de aula. de como se lhes deve ensinar, de
como deve ser mantida a disciplina. Estas expectativas transformam-se em
exigências, quando as coisas não acontecem como eles desejam ou quando a escola
não funciona de acordo com suas concepções. De uma maneira muito importante,
as expectativas, os pedidos e as exigências dos pais de família fazem-se presentes
na escola, para que a escola seja de uma forma determinada, para que funcione de
uma maneira determinada. Quando a comunidade na qual se trabalha está bem
estruturada, quando suas organizações funcionam, quando o Círculo de Pais e
Mestres é um organismo vivo, estas exigências apresentam-se em forma
comunitária e adquirem uma força muito grande.

Algumas idéias para propiciar a participação dos pais de família e da


comunidade

A seguir apresentamos algumas idéias de como ir envolvendo os pais de


família na escola e no trabalho escolar de seus filhos.

Nosso trabalho na sala de aula

É no nosso trabalho quotidiano, dentro da sala de aula, que mais podemos


fazer para relacionar a escola com a comunidade. Para tal, uma das sugestões mais
importantes consiste em deixar que a comunidade entre na sala de aula. Damos, a
seguir, algumas pistas mais concretas:

Aproveitar os conhecimentos, habilidades, valores e atitudes dos


nossos alunos. Como já assinalamos, os alunos chegam à escola.
desde o primeiro dia, com conhecimentos, habilidades, valores e
atitudes, adquiridos no seio da família e na sua comunidade. Estes
podem converter-se no ponto de partida e/ou no ponto de chegada de
muitos dos conteúdos que devemos ir priorizando no dia a dia. Assim
sendo, antes de introduzirmos um novo tema, convém discuti-lo com
os alunos: o que já sabem sobre ele: a importância que esse tema pode
ter nas suas vidas quotidianas e na comunidade; como esse tema
relaciona-se com aspectos da vida comunitária. Se isto é feito de
forma sistemática, o professor não somente poderá contar com uma
motivação maior por parte dos alunos, mas também obterá deles
elementos valiosos para exemplificar e relacionar o tema em questão
com situações próximas e conhecidas dos alunos e com seus próprios
interesses. Por outro lado, convém levar todos estes elementos em
consideração para que, ao serem atingidos os níveis de aplicação dos
novos conhecimentos ou habilidades, procure-se fazê-lo também
sobre estas realidades que já são conhecidas dos alunos.
Comprometer os pais de família, os outros membros e/ou pessoas da
comunidade com as tarefas escolares das crianças. Podemos idealizar
um conjunto de tarefas que envolvam diversos membros da família e
da comunidade. Algumas das que foram idealizadas por professores.
que participaram de experiências de fortalecimento dos vínculos
escola-comunidade, podem servir de exemplo: escrever uma carta em
conjunto, de toda a família, a um familiar que esteja fora; calcular o
orçamento semanal ou mensal da família; entrevistar alguma
autoridade comunitária sobre algum fato histórico da comunidade;
reconstruir o histórico das doenças das crianças da família e a forma
como foram atendidas; etc.

Estes exercícios não somente cumprem a função de dar um sentido vivo à


aprendizagem escolar, mas também permitem dar a conhecer aos pais de família o
tipo de coisas que seus filhos já aprenderam. Isto gera uma dinâmica, que fará com
que os próprios pais peçam apoio aos filhos em questões nas quais as crianças
aplicarão os conhecimentos adquiridos na escola. Isto, como é evidente, reforça a
aprendizagem escolar.

Conseguir a participação das pessoas da comunidade, ministrando


aulas específicas. As experiências neste sentido são também muito
motivadoras, pois os membros da comunidade em geral estão muito
dispostos a participar e inclusive sentem-se muito lisonjeados. As
pessoas que trabalham na comunidade podem ser, neste sentido, de
muito préstimo: o carpinteiro pode dar uma aula ou uma série de
aulas na área de educação artística; a dona de um armarinho pode dar
uma aula sobre como administra seu pequeno negócio; os pais de
família que fizeram viagens fora da comunidade podem comentar
sobre a vida em outra cidade ou em outro país.

Numa experiência recente, realizada numa comunidade camponesa, alguns


pais de família foram convidados para que, numa aula de sexta série, sobre cálculo
de percentagens e juros simples e compostos, apresentassem a situação de seu
crédito no Banco, para que os alunos se dedicassem à solução dos problemas reais
da comunidade. Este tipo de exercícios, além de assegurar que os alunos enfrentem.
com seus conhecimentos e habilidades, os problemas da comunidade, aproxima a
comunidade da escola e descobre aspectos de apoio possível, antes desconhecidos,
por parte dos seus membros.

Agora, dentro da sala de aula, o acompanhamento próximo de cada um de


nossos alunos poderá indicar-nos os apoios específicos que devemos oferecer ou
solicitar aos pais de família, em função dos problemas de cada um deles. Não é
necessário dizer que devemos estar atentos aos problemas de caráter físico (visuais
e auditivos), mas também, de uma maneira muito especial, aos problemas de
caráter emocional. As crianças que apresentam estes problemas devem sentir-se
aceitas e respeitadas pelo professor e pelo grupo, devem participar plenamente das
atividades dentro e fora da sala de aula e e conveniente que sejam estimuladas, para
que seja incrementada a confiança em si próprias. Da mesma forma, é conveniente
observar os problemas da linguagem, evitando que os companheiros ridicularizem
estas crianças, ajudando-as a melhorar gradativamente sua dicção. Os problemas da
aprendizagem de conteúdos e de habilidades específicas devem ser atendidos,
dedicando-nos a percorrer novamente o trajeto da aprendizagem, a fim de
encontrarmos em que momento do processo esses problemas tiveram início.

Na medida em que uma parte do nosso tempo de aula possa ser aplicado a
um trabalho individual e grupai dos alunos, por conta deles próprios, mediante um
trabalho organizado e guias de estudo, com os quais os alunos podem progredir e
avaliar seu próprio progresso, teremos, como professores, o tempo necessário para
dar uma atenção individual aos alunos mais atrasados, tanto para diagnosticar seus
problemas, quanto para procurar soluções. Isto nos levará a conhecer qual o apoio
que devemos solicitar aos pais de família e a outros membros da comunidade.

A criação de um ambiente familiar propício à aprendizagem.

Já mencionamos e todos sabemos que existe uma série de fatores da vida


quotidiana da família que afeta o trabalho acadêmico dos alunos. Por isto, é
importante realizar um trabalho de orientação com os pais de família, de tal forma
que comecem a existir na família situações cada vez mais propícias ao processo da
aprendizagem dos alunos. Alguns dos elementos desta realidade, que é conveniente
mencionar para atender, à medida em que eles existam como problemas na nossa
comunidade, são os seguintes:

a) Nutrição: Uma boa nutrição não existe somente em função da


quantidade de alimentos, mas sim da qualidade desses alimentos. E
uma boa dieta balanceada não exige, necessariamente, maiores gastos
dos que de fato já faz a maioria das famílias das nossas comunidades.
É importante que os pais de família conheçam as conseqüências de
uma alimentação deficiente, bem como as propriedades dos alimentos
que são consumidos na comunidade e que podem ser adquiridos com
facilidade e a baixo preço. A orientação para a elaboração de dietas
balanceadas pode ser, neste sentido, de grande utilidade, tanto a curto
como a longo prazo.
b) Higiene: Não é necessário recordar aos professores a relação entre
uma higiene deficiente e a enfermidade. No entanto, é conveniente, se
este problema, apresenta-se em nossa comunidade, que os pais
possam chegar a estabelecer a relação causa-efeito entre a má higiene
e os problemas de saúde, principalmente os de natureza gastro
intestinal. Conhecendo as práticas higiênicas da comunidade,
poderemos estabelecer a relação de causa entre elas e as doenças mais
freqüentes de crianças e adultos.
e) Saúde: As orientações relativas aos problemas de saúde devem
enfatizar mais a prevenção das enfermidades do que a sua cura. Uma
boa parte disso alcança-se através de bons hábitos higiênicos e
alimentares. Além disso, é conveniente que os pais compreendam a
importância das vacinas e conheçam alguma coisa sobre primeiros
socorros, bem como os principais sinais de alarme das enfermidades
mais comuns na comunidade.
d) Conhecimento das etapas de desenvolvimento da criança e suas
necessidades. É importante que os pais de família compreendam
como se desenvolve a criança e quais são as suas necessidades em
cada etapa de seu desenvolvimento. É de especial importância que
compreendam a necessidade de afeto e de carinho que têm as crianças
de todas as idades, bem como a necessidade de comunicação, verbal e
não verbal, intensa e freqüente, com ambos os pais. Da mesma forma.
é conveniente esclarecer aos pais sobre questões relacionadas com a
atenção, o interesse e a preparação prévia para a escrita e a leitura. É
especialmente importante que os pais dos alunos da primeira e
segunda séries narrem histórias e que leiam em voz alta para eles,
que cantem com eles e se interessem realmente pelo seu trabalho na
escola.
e) Conhecimento da importância de um ambiente familiar estável e
afetuoso para o bom desenvolvimento das crianças. É conveniente
que os pais compreendam as conseqüências que o alcoolismo, as brigas,
a violência verbal e física no seio da família têm sobre as crianças. É
importante que compreendam as necessidades especiais de atenção que
tem uma criança cujo pai ou mãe se ausenta de forma temporária ou
definitiva. f) O apoio familiar ao trabalho escolar das crianças. Por
último, convém estabelecer com os pais formas quotidianas de
comunicação, para que conheçam as tarefas que são encomendadas a seus
filhos e o que se espera deles em casa. A necessidade de que os pais
dediquem um tempo e um espaço da sua rotina diária para que as
crianças, ao chegarem da escola, realizem suas tarefas escolares, deve
ser assumida conscientemente por eles. Basta dedicar meia hora, quando
muito uma hora, durante a tarde, para que os filhos reforcem sua
aprendizagem da escola, com o trabalho pessoal em casa. Da mesma forma,
a necessidade de espaço e simples: um lugar livre, em uma mesa, com
iluminação suficiente, e tendo à mão os instrumentos necessários para o
trabalho em questão, com a televisão desligada, é o suficiente.

Tudo o que foi dito pode ser conseguido se dedicamos uma hora por mês
para manter reuniões com os pais das crianças a nosso cargo. Os temas anteriores
podem ir sendo abordados de forma breve e simples, procurando que os pais
participem e que saiam de cada reunião de acordo sobre aspectos específicos com
que podem melhorar o ambiente familiar, para fazê-lo cada vez mais propício à
aprendizagem. Não devemos nos preocupar com o tempo que diminuímos do nosso
trabalho na sala de aula, para trabalhar uma hora por mês com os pais: as diversas
experiências sobre o assunto são eloqüentes, demonstrando que o que se alcança,
graças a seu apoio, é muito mais do que se pode progredir, no programa escolar,
nessa hora mensal que investimos neste tipo de atividade.

Estas reuniões mensais com os pais podem ser aproveitadas também para
explicar, em termos simples e breves, o programa que será desenvolvido durante o
mês seguinte, de forma a que os pais saibam em que seus filhos devem estar
progredindo. É importante, nessas reuniões, informar aos pais. de maneira pessoal
(oralmente ou por escrito), sobre os progressos dos alunos durante o mês anterior e
sobre os aspectos nos quais necessitam especial apoio.
Procedendo assim, o apoio dos pais não somente se fará evidente no
progresso da aprendizagem de nossos alunos, mas também estaremos contribuindo
para criar uma cultura comunitária de participação dos pais no processo de
aprendizagem escolar de seus filhos, o que facilitará o caminho para os professores
que vão nos suceder na escola da comunidade nos anos futuros.

O apoio especial dos pais aos alunos atrasados e/ou aos que
apresentam problemas especiais de aprendizagem.

Ainda que o trabalho realizado com os pais de nossos alunos resulte numa
melhor aprendizagem de todos em geral, sempre haverá um grupo de pais de
família que não atenda aos nossos chamados, que não compareça às reuniões, que
não se preocupe com o trabalho na escola. Muitas vezes estes são os pais das
crianças que apresentam maiores problemas de atraso escolar, das crianças que
mais faltam, que chegam tarde, que mais ficam doentes. Como e evidente, isto não
é um acaso, e estas crianças são as que mais necessitam de atenção e apoio.
Também é claro que, mesmo proporcionando-lhes atenção especial, será muito
difícil para nós, sozinhos, como professores, levá-los adiante. Sabemos que é
indispensável que os pais ou outros membros da comunidade também lhes
proporcionem apoio.

As visitas domiciliares são o mecanismo principal para obter apoio dos pais
das crianças atrasadas ou que apresentam problemas especiais de aprendizagem. A
experiência em trabalhos desta natureza nos dá bases para sugerir que, na primeira
destas visitas, expliquemos aos pais o que se espera atingir com seu apoio, ao longo
do ano escolar. É necessário motivá-los para que assumam o trabalho com
entusiasmo, explicando-lhes que as crianças aprendem em toda parte: em casa. na
comunidade, com seus companheiros. É necessário dialogar com eles sobre a
importância de ajudar seus filhos a aprender mais e melhor e conseguir que lar e
escola unam esforços para que seus filhos obtenham uma educação de melhor
qualidade e mais útil para sua vida atual e futura. Devemos ajudá-los a se
convencerem de que são capazes de proporcionar apoio a seus filhos e de que
possuem conhecimentos e experiências muito valiosas, de que existem muitas
coisas que eles sabem e os professores desconhecem, de que são eles que melhor
conhecem e que mais carinho tem por seus filhos e que, portanto, são os mais
indicados para ajudá-los.
Outros aspectos, nos quais pode-se estabelecer relações entre a escola
e a comunidade

Em algumas comunidades, os professores tiveram a idéia de organizar os


jovens para prestar apoio aos alunos da escola primária em atividades, de diversos
tipos, à tarde. Desta forma, conseguiu-se que estes jovens, egressos do primeiro e
segundo graus, orientados pelos professores, apoiassem os alunos que
apresentavam situações de atraso ou problemas especiais de aprendizagem, na
realização das tarefas escolares. Da mesma forma, esses jovens foram capazes de
organizar, criativamente, grupos de teatro, música, serviço comunitário e um sem-
fim de atividades extracurriculares educativas, com as crianças menores. Esta é
uma forma de ir criando uma comunidade educacional, na qual se aproveita e se
fortalece o potencial educativo da interação entre os diferentes membros da
comunidade.

Não se pode esquecer a importância de assegurar a participação dos pais e de


outros membros da comunidade nos eventos recreativos e culturais da escola.
Poder-se-ia promover a organização de grupos de pais que, com seus filhos, se
encarreguem da apresentação de números especiais. O professor pode também
sugerir aos pais que participem na elaboração de materiais didáticos e brinquedos,
tanto para a casa como para a escola.

É altamente recomendável que as atividades que citamos não sejam de um só


professor, mas sim da escola como instituição, de maneira que nos seja possível nos
apoiarmos mutuamente como equipe docente, planejar atividades em conjunto e
avaliar os progressos periodicamente.

O Conselho de Classe é o espaço adequado para realizar estas atividades.


Convém que o tema "relação escola-comunidade" esteja na agenda de todas as
reuniões deste Conselho. Ele poderá propor experiências de vínculo entre a escola e
a comunidade que ultrapassam o espaço da sala de aula. Assim, por exemplo,
poderá prestar atenção aos problemas de falta de freqüência e evasão escolar e
combinar formas de combatê-los com o Círculo de Pais e Mestres.

As reuniões do Círculo de Pais e Mestres devem ser o espaço onde este


conjunto de atividades seja informado, revisado e avaliado, e onde se formulem e
resolvam problemas que afetam à escola, como um todo. Na medida em que os pais
sintam que têm uma participação próxima na aprendizagem de seus filhos, que é
seu principal interesse, sua participação nos problemas mais globais da escola será
muito mais fácil de ser alcançada.

A participação da comunidade reverte em melhor aprendizagem

O que propusemos pode parecer, a princípio, uma carga adicional de


trabalho, a qual os professores dificilmente podem acrescentar à sua já pesada
jornada. Não negamos que isto exige trabalho adicional e supõe diversificar as
atividades normalmente já variadas do professor. No entanto, as experiências de
união entre a escola e a comunidade demonstraram que, em pouco tempo, os
esforços neste sentido começam a dar seus frutos, facilitando a realização do
trabalho propriamente acadêmico. Por outra parte, todas estas atividades
contribuem para estabelecer um clima comunitário cordial e de colaboração, que
não somente evita os desgastes desnecessários, mas estimula os participantes. Por
último, e talvez o mais importante, a satisfação que o professor obterá ao atender de
forma integral o processo de aprendizagem de seus alunos, que irá se manifestando
em progressos palpáveis na aquisição de conhecimentos, habilidades, valores e
atitudes, parece-nos que vale a pena.

O processo de busca permanente de maior qualidade de aprendizagem entre


nossos alunos ver-se-á fortalecido, na medida em que nele envolvermos todos os
que compartilham deste mesmo objetivo.

Resumindo as idéias mais importantes deste capítulo:


A melhor forma de levar o beneficiário em consideração é fazê-lo
participar do processo. Se os pais de família e a comunidade são
beneficiários do trabalho da escola, é importante conseguir sua maior
participação.
Devemos potencializar os vínculos que existem entre a escola e a
comunidade e entre os docentes e os pais de família.
A sala de aula é um excelente ponto de partida para começar a
propiciar a participação dos pais. O professor pode fazê-lo, levando
em conta a realidade comunitária na sala de aula, conseguindo que os
pais participem na criação de ambientes mais propícios à
aprendizagem, dialogando com as famílias dos alunos que têm
problemas especiais de aprendizagem, encontrando a forma da
própria comunidade se transformar em mestra.
A experiência demonstrou que os esforços por alcançar uma maior
participação dos pais e da comunidade traduzem-se em melhores
níveis de aprendizagem dos alunos. Ao mesmo tempo, aprendem os
pais, e nós, como professores, nos enriquecemos.
CAPITULO X

ALGUMAS IMPLICAÇÕES DA QUALIDADE

Neste capítulo vamos referir-nos a algumas coisas que implicam, num


movimento em busca do aprimoramento da qualidade da educação. Algumas delas
já mencionamos, ao longo deste texto. Vimos, fundamentalmente, como a
qualidade envolve implicações de mudança cultural profunda na organização,
exigindo, daqueles que se comprometem com um processo dessa natureza, uma
vivência congruente e constante de valores e atitudes renovados. Analisamos
também como um movimento em busca da qualidade exige um esforço contínuo de
todas as pessoas que nele se envolvem. Explicamos, com bastante detalhe, como um
movimento em busca da qualidade exige um trabalho de equipe. Dedicamos um
capítulo à análise do novo papel do diretor, como gestor de um movimento em
busca da qualidade. Vimos como tudo isto redunda em um desenvolvimento
integral das pessoas que participam como atores do processo.

Vamos referir-nos aqui. de novo, a algumas destas implicações, dando


ênfase às que foram, até agora, menos aprofundadas.

A qualidade implica crítica e autocrítica

Vimos como a complacência e o pior inimigo da qualidade. Analisamos o


motivo pelo qual o ponto de partida de todo processo de aprimoramento da
qualidade é a insatisfação com o estado de coisas. Afirmamos que um dos aspectos-
chave da filosofia da qualidade está na convicção de que as pessoas possuem um
impulso em busca de um aprimoramento contínuo.

Tudo isto pode parecer muito bom na teoria. Mas a prática quotidiana do
aprimoramento exige de nós atitudes que, na prática tradicional das nossas escolas,
não estão sempre presentes.

Essa prática exige que percamos o medo de dizer o que pensamos. Muitas
vezes, dizer o que pensamos cria problemas. É muito provável que. ao fazê-lo,
incomodemos a outras pessoas. Quando essas pessoas podem adotar represálias,
porque estão em posição de autoridade, o medo às vezes nos paralisa. E, ainda que
esse não seja o caso, às vezes dizer o que pensamos nos distancia de nossos
companheiros de trabalho ou nos ocasiona problemas de relacionamento, que
preferimos evitar. No entanto, um processo de aprimoramento da qualidade se
apoia, justamente, no fato de que existem coisas que não estão bem. A crítica é
parte constitutiva do aprimoramento da qualidade, desde que gere sugestões, seja
criativa e construtiva, e leve a um aprimoramento.

A contrapartida da necessidade de expressarmos o que pensamos é a


abertura para reconhecermos nossos erros. Ou seja. os outros também terão de
perder o medo de dizer o que pensam, e, em algumas ocasiões, criticarão o nosso
trabalho. Temos que reconhecer que as criticas são necessárias para melhorar o
nosso desempenho. Na nossa sociedade, poucas vezes temos a oportunidade de nos
vermos como os outros nos vêem. A crítica construtiva das outras pessoas e uma
fonte privilegiada de aprimoramento pessoal. Ninguém pode dar o melhor de si, se
não se sente seguro. É necessário admitir com sinceridade quaisquer erros ou falhas
no trabalho, porque isto faz parte do reconhecimento de que existem problemas. O
aprimoramento é impossível sem a aptidão para admitirmos os próprios erros.

Para que realmente se possa dar um processo de critica e de autocrítica, em


um ambiente de liberdade, é necessário que essa necessidade seja tratada
abertamente nas reuniões da equipe, ao se iniciar um processo de aprimoramento da
qualidade. É difícil aprender a criticar e a exercer a autocrítica. Mas não é
impossível, desde que nos proponhamos a isso e tenhamos o apoio do grupo. Na
convivência humana é necessário não somente falar com os outros, mas também
deixar-se interpelar e receber as críticas que nos são dirigidas. Isto deve ser bem
compreendido por todos os que participamos do processo.

A qualidade implica valorizar a diversificação

Não se trata de que todos pensemos de igual maneira, nem que vejamos as
coisas da mesma forma. Ao contrário, a pluralidade de pontos de vista é que
enriquece a possibilidade de encontrar as soluções. O reconhecimento disto gera,
por sua vez, duas exigências: a primeira é um ambiente de liberdade, em que cada
um possa se expressar tal como é; a segunda é uma atitude de respeito às opiniões e
visões dos outros.

Em um processo de aprimoramento da qualidade, todos fazemos parte de um


mesmo empreendimento. Chegaremos a construir a identidade da escola onde
trabalhamos. Mas essa identidade não pode estar construída sobre a base de igualar
o que pensamos. Não estaremos unidos, porque somos iguais. Ao contrário,
seremos algo diferente, justamente devido à nossa capacidade de fazer uma unidade
a partir de diferenças.

A qualidade implica consensos

Se aceitamos e respeitamos as diferenças, teremos a possibilidade de chegar


a consensos muito mais profundos. Chegar ao consenso, entre pessoas que pensam
de maneira igual, não e difícil. Basta propor alguma coisa que todos compartilhem,
para que todos digam sim, sem a necessidade de analisarmos o que foi proposto,
nem de discutirmos a fundo. Chegar ao consenso, entre pessoas que pensam de
forma diferente, ao contrário, significa que temos que analisar o problema
profundamente, discutir suas causas e implicações, propor soluções diversas,
defender e argumentar. O consenso que se atinge depois de um processo desses
exige que todos tenham chegado a um convencimento profundo de que o que foi
decidido grupalmente é a melhor opção.

O consenso é necessário em um processo de aprimoramento da qualidade.


Chegar a ele, se respeitamos nossas diferenças, pode ser árduo e inclusive
conflitivo. Mas temos que reconhecer que a vontade coletiva, que surge da
diversidade, é muito mais vital e profunda que qualquer outra.

A qualidade implica relevância

Já nos referimos, em várias oportunidades, ao postulado fundamental da


filosofia da qualidade: o que é mais importante são os beneficiários e tudo o que
fazemos tem como ponto de referência a satisfação de suas necessidades. Mas.
justamente devido à importância que tem este postulado básico da filosofia da
qualidade, parece-nos essencial fazer uma referência adicional a este ponto.

O beneficiário é a referência obrigatória de todo processo de aprimoramento


da qualidade. É quem dá motivação ao plano, que é concebido a partir das idéias
sobre como atendê-lo melhor.

No entanto, no mister educativo quotidiano, e naquilo que nos corresponde a


todos nós. como professores, este postulado fundamental traduz-se na palavra
"relevância".
"O acesso à educação significa acesso a conhecimentos
socialmente significativos". '

Alguns estudos sao muito claros em dizer que a falta de relevância dos
conteúdos da aprendizagem que a escola oferece explicam boa parte de sua falta de
qualidade. Existe, inclusive, o temor de que a educação básica tenha sido convertida
em um ritual que não se relaciona com a vida do aluno ou da sociedade na qual ele
vive.

No entanto, a relevância não pode ser entendida como a entrega de um


conjunto de dados "relevantes" aos alunos, no sentido de que são próximos ao que
eles experimentam na sua vida quotidiana fora da escola. O que é realmente
relevante é a habilidade para compreender a linguagem escrita e expressar-se por
escrito, para raciocinar, resolver problemas, analisar, avaliar opções e aproximar-
se da informação. Isto implica dar maior ênfase às habilidades que aos
conhecimentos. As habilidades, no entanto, podem, elas sim, serem desenvolvidas a
partir de conteúdos relacionados com assuntos pelos quais os alunos se interessam
de maneira especial. Sc assim fazemos, estaremos, no nosso quotidiano, vendo o
beneficiário como centro e como referência do nosso trabalho profissional.

A qualidade implica justiça

Já insistimos, em várias ocasiões, sobre o fato de que a filosofia da qualidade


dá mais importância à diminuição de variações do que à melhoria das médias. Se
aplicamos este preceito à educação, e muito especialmente quando falamos de
educação básica, que é um direito humano fundamental, isto significa que a
qualidade se preocupa mais com a justiça do que com a igualdade.

Igualdade e oferecer o mesmo a todos. Justiça e dar mais aos que têm menos.
Na nossa prática docente quotidiana, isto significa que não podemos nos conformar
em dar uma aula, esperando que os alunos a aproveitem de acordo com suas
capacidades, as quais, como já dissemos, são diferentes. É necessário procurar
permanentemente que todos os alunos, independentemente de suas características,
alcancem os objetivos que delineamos. Isto não significa que devamos impedir que
os alunos melhor dotados ou mais dedicados superem os níveis que se pretende. O
que não podemos permitir é que os alunos que, por alguma razão, têm dificuldades
especiais, não os alcancem.
A qualidade exige acreditar em nossos alunos

A filosofia da qualidade acredita nas pessoas e investe nelas seus maiores


esforços. Nós, como agentes da qualidade, temos que acreditar em nossos alunos.

Descobrimos em investigações recentes que as crianças aprendem mais


quando os professores acreditam mais nelas. É comum encontrarmos posturas
derrotistas, principalmente quando trabalhamos com populações pobres. Tendemos,
então, a reduzir nossas exigências sobre os alunos e sobre nós mesmos; a nos
conformar com pouco; a ensinar com a esperança de que pelo menos alguns
aproveitem alguma coisa.

Acreditar nos alunos significa: apostar que eles são capazes de aprender
como aprendem os melhores alunos; de que são capazes de continuar seus estudos
nos níveis médios, e até mesmo superiores, com êxito; que, se não tiverem
oportunidades de continuar estudando, serão capazes de enfrentar com êxito sua
vida atual e futura; que são capazes de ir superando os obstáculos e os problemas
que vão encontrando no seu processo de aprendizagem.

Significa reconhecer que isto exige nosso apoio, mas também, de forma
muito especial, apoio da família e. indiretamente, da comunidade.

É importante relembrar, como já dissemos antes, que neste objetivo de


atingir uma boa aprendizagem, temos aliados muito valiosos: os pais e a
comunidade. Eles têm este mesmo objetivo, mesmo que, freqüentemente, o
manifestem de outras formas. E as experiências que existem sobre as tentativas de
direcionar seu apoio para seus filhos e para a escola permitem-nos afirmar que pais
e comunidade estão sempre dispostos a fazer o que estiver em suas mãos para
alcançar este objetivo comum.

A qualidade deve ser compartilhada

No caso das empresas que produzem bens e serviços, para ganhar mercados
e melhorar seus lucros, os movimentos em busca da qualidade não são
compartilhados, porque entre elas a regra do jogo e a competição. Mas. quando
falamos de educação, e mais ainda quando falamos de educação básica, o
aprimoramento da qualidade não é para que a nossa escola seja a única boa, mas
para que todas sejam melhores.
Isto significa que temos a obrigação de compartilhar com nossos colegas
professores, com nossos superiores e com as autoridades educacionais, nossos
progressos e as formas como os alcançamos. Na educação, a verdadeira medida da
qualidade encontra-se na expansão do movimento a outras escolas da região, a
outras regiões, ao sistema educacional como um todo.

Se atingirmos este objetivo, estaremos propiciando uma transformação do


sistema educacional de baixo para cima, em vez de partir do planejamento
educativo tradicional de cima para baixo.

Resumindo as idéias mais importantes deste capítulo:


Uma implicação a mais da qualidade é que temos que aprender a
criticar e a fazer sugestões, a aceitar as críticas dos outros e tentar
colocar em prática as idéias alheias.
Outra implicação da qualidade é que nos enriqueceremos mais, à
medida que compreendemos que somos diferentes uns dos outros e
que respeitemos e aproveitemos estas diferenças.
O consenso é requisito necessário a um movimento em busca da
qualidade: temos que estar todos de acordo no sentido de que aquilo
que nos propomos a realizar é bom e possível.
Não estamos, verdadeiramente, buscando a qualidade, se não nos
preocupamos diariamente, dentro do nosso trabalho docente, em
oferecer aprendizagem relevante a nossos alunos. Nisto traduz-se.
para a sala de aula, ter a nossos beneficiários como referência.
Também não estaremos obtendo qualidade verdadeira, se não nos
preocupamos, de forma contínua e quotidiana, com a justiça, que
significa dar mais aos que têm menos. Nossa meta deve ser a de que
nenhum aluno aprenda em níveis mais baixos dos que aqueles que
idealizamos como objetivos.
Uma atitude fundamental, que um movimento em busca de uma
melhor qualidade na educação exige de nós, é a de acreditar em
nossos alunos. Geralmente, eles nos darão a razão.
Temos a obrigação de compartilharmos e de difundirmos nossos
progressos, e a forma como os alcançamos, com nossos colegas de
outras escolas e com as autoridades educacionais. Somente assim,
partindo da base, poder-se-á ir ampliando um movimento em busca
de uma melhor qualidade nas nossas escolas.
CONCLUSÃO

A QUALIDADE É UM ASSUNTO SOBRE O QUAL SE DEVE


PRESTAR CONTAS

Chegamos ao final deste livro, com a pretensão de ter apresentado a nossos


leitores, diretores e professores, uma metodologia que, estamos certos, permite
vislumbrar o grande salto para adiante em matéria de qualidade na educação
básica, partindo do aprimoramento da qualidade em cada centro de estudos e de seu
corpo docente.

Queremos agora compartilhar com os diretores e professores a reflexão sobre


como estivemos falando da necessidade que temos, como sistema educacional,
como escola e como professores, de prestar contas, aos nossos beneficiários, da
forma como trabalhamos e dos resultados do nosso trabalho.

No contexto tradicional das escolas dos nossos países, professores e diretores


movimentam-se entre a necessidade de mostrar os resultados de seu trabalho e de
prestar contas a dois tipos de "clientelas": por um lado, o próprio sistema
educacional, através de suas autoridades, desde as mais imediatas (diretor,
supervisor) às mais afastadas. Por outro lado, os nossos alunos, seus pais e a
comunidade na qual trabalhamos. Todos nós já experimentamos diretamente as
duas fontes de exigências: as que vêm de cima e as que vêm de baixo. A pergunta
fundamental frente a esta realidade, então, é: a qual das duas fontes de exigências
damos maior importância?

Em geral, podemos dizer que existe uma tendência muito clara e muito
explicável, sem que por isso seja correta, de considerar fundamentalmente as
pressões que nos chegam da parte do sistema educacional, descuidando, às vezes, a
atenção aos nossos alunos, seus pais e a comunidade, que. freqüentemente, não são
capazes de expor suas exigências neste sentido. Infelizmente, essas pressões que
nos chegam da parte do sistema educacional nem sempre têm a ver com a qualidade
da aprendizagem que estamos conseguindo. E, se pensamos profundamente sobre o
assunto, poderemos com facilidade reconhecer que a razão de ser do docente e da
escola é a comunidade à qual serve e, de forma direta, os alunos. Não foi em vão
que, quando falamos de beneficiários, não mencionamos, entre eles, o próprio
sistema educacional.
Se atendemos aos alunos e a seus pais, certamente atenderemos também as
exigências do sistema educacional. Mas a recíproca não é necessariamente
verdadeira. Podemos seguir o programa ao pé da letra, estar em dia com o
calendário das lições, preencher todos os formulários de qualificações, altas e
baixas, que o sistema exige e, ao mesmo tempo, estar descuidando a aprendizagem
real dos nossos alunos. É natural que, se estamos mais preocupados em atender o
sistema que a nossos alunos, tenhamos pouco interesse em estar em contato com os
pais de família e com a comunidade.

Mas se nos centramos em nossos alunos e nos preocupamos com a sua


aprendizagem, imediatamente reconheceremos a importância de mantermos
relações estreitas com os pais de familia e concordaremos que a comunidade pode
apoiar uma melhor consecução dos objetivos propostos.

Nossa obrigação é prestar contas dos resultados do nosso trabalho a todos os


nossos beneficiários: alunos, pais, empregadores, escolas de níveis subseqüentes, e,
em última instância, à comunidade mais ampla. Não podemos esperar que nos
peçam contas para prestá-las, porque isto é o que estivemos fazendo durante muito
tempo e isto não redundou em qualidade. Devemos prestar estas contas. Ao fazê-lo,
estaremos melhorando também a capacidade de nossos beneficiários de exigi-las. A
exigência é o motor principal da qualidade. Logicamente, também temos que
prestar contas ao sistema educacional, através de suas autoridades. Mas não haverá
problema. Se satisfazemos a nossos beneficiários, estaremos atendendo o sistema
educacional.

NOTA

I CEPAL-UNESCO Educación y conocimiento


"Um grande progresso realizou-se no
mundo ocidental quando a moral não foi mais
subordinada à política; um maior ainda se reali-
zará quando a política se submeter à moral. A
vida vale o que nós fazemos dela e sobretudo o
que dela queremos fazer. É preciso crer no bem
para ter a força de produzi-lo; e amar sobre todas
as coisas um ideal, para termos a capacidade de
realiza-lo".

A Educação e seus Problemas

Fernando de Azevedo

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