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Atualidades 'Pedagógicas
Volume 10
Sylvia Schmelkes
Autora
Sylvia Schmelkes
Ilustração capa
Riva Berstein
Tradução
Luz Maria Goytisolo Pires da Silva
Joaquim Ozório da Silva
Impressão:
Gráfica Valci
Revisores:
Heliane Morais Nascimento
Nilce Macedo Morgado
ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO
• Célio da Cunha
• Nabiha Gebrim de Souza
• Solange Maria de Fátima Gomes Paiva Castro
• Anna Maria Lamberti
• Maria Maura Mattos
Ficha Catalográfíca
100p
1: Política da Educação. 2. Qualidade
da Educação. 1. Título
CDV: 37.014
Atualidades Pedagógicas
Volume 10
Sylvia Schmelkes
MEC / UNESCO
Organização dos Estados Americanos - OEA
Secretário Geral
João Clemente Baena Soares
Diretor
Getúlio P. Carvalho
Chefe de Programação
Jorge D. Garcia
Apresentação
Prólogo ....................................................................................................... 11
Introdução.................................................................................................. 13
Capítulo I
A qualidade educativa orienta-se para fora ............................................. 17
Capítulo II
A qualidade começa com o reconhecimento de que existem problemas... 27
Capítulo III
A qualidade no centro escolar e em seu contexto .................................... 37
Capítulo IV
A qualidade está no processo .................................................................. 41
Capítulo V
A qualidade depende de todos os que participam do processo................. 45
Capítulo VI
A qualidade exige liderança.................................................................... 53
Capítulo VII
A qualidade leva ao aprimoramento contínuo das pessoas envolvidas .... 61
Capítulo VIII
O planejamento e a avaliação para atingir a qualidade ............................ 71
Capítulo IX
A qualidade necessita de participação da comunidade ............................ 81
Capítulo X
Algumas implicações da qualidade ......................................................... 93
Conclusão
A qualidade é um assunto sobre o qual se deve prestar contas................. 99
APRESENTAÇÃO
Célio da Cunha
Diretor do Departamento de Políticas Educacionais
DPE/SEF/MEC
Leonel Zúniga
Coordenador Regional do PRODEBAS
Washington D.e. EE.UU. 1994
PRÓLOGO
Em cada área participam, pelo menos, três países e existe uma coordenação
geral, cujo trabalho é articular e organizar ações e diminuir a possibilidade de criar
compartimentos estanques dentro do Projeto.
O grande valor deste livro está. justamente, na simplicidade com que são
expostas as novas formas de organização e gestão das ações educativas, não como
receitas ou panacéias, mas como possibilidades reais de atingir, em todas e em cada
uma das escolas, a qualidade educacional desejada por todos e tao necessária em
um mundo competitivo como o atual.
Este livro destina-se aos responsáveis pela qualidade da educação nas nossas
escolas de educação básica: os diretores e os professores.
Este texto é um convite para conhecermos a forma pela qual isto pode se
tornar possível.
NOTAS
2.- Artigo 1o. da Declaração Mundial sobre Educação para Todos. "Satisfação das Necessidades de
Aprendizagem Básica". Jomtien, Março de 1990.
3.- CHAPA Miguel Angel Granados. Memórias dei II Congreso Internacional de Calidad Total.
México, FlJNDAMECA, 1991.
4.- ESCALANTE, Joaquin Peòn. Memórias del II Congreso Nacional de Calidad Total. México:
FUNDAMECA, 1991.
CAPITULO I A QUALIDADE
Os objetivos da educação
A atividade educativa não teria sentido se não fosse por seus objetivos com
relação à sociedade na qual está inserida. É o objetivo externo da educação que dá
significado a toda instituição que educa.
Neste mesmo sentido, mas visto sob uma perspectiva crítica da função
reprodutora e legitimadora da escola, foram atribuídas a ela, entre outras, as
capacidades de:
Foram feitas pesquisas que demonstram que todos os pontos anteriores, tanto
da primeira como da segunda lista, com efeito, representam resultados que se
podem atribuir ao sistema educacional. Assim, é um fato histórico que os Estados-
nação fortaleceram-se após a universalização de seus sistemas educacionais.
Também é certo que aqueles que possuem maiores níveis de educação têm um
maior bem-estar e melhores salários. A expansão dos sistemas educacionais
permitiu, em determinadas sociedades e durante períodos históricos também
determinados, que os filhos mais educados que seus pais tenham melhores posições
e melhores níveis de bem-estar geral (mobilidade social entre gerações). Mesmo
com muitas exceções, é possível encontrar-se alguma associação entre sociedades
mais democráticas e sociedades cuja população tem uma média de escolaridade
maior.
E o que acontece é que a educação é um fato social que tem, por definição.
todos estes resultados. O que também é certo, e muitas vezes é esquecido nas
análises que se realizam sobre os mesmos, é que a escola não é a única responsável.
Mais ainda: poderíamos dizer que, dado um conjunto de limitações de caráter
orgânico e estrutural, a escola dificilmente poderia alcançar algo diferente. Desta
maneira, se o sistema educacional encontra-se inserido numa realidade histórico-
temporal determinada, na qual o emprego não cresce no mesmo ritmo que a
formação educativa em seus diferentes níveis, não se poderá exigir da escola que
melhore as oportunidades de emprego, ou que melhore, conseqüentemente, os
salários dos seus egressos. Da mesma forma se. no sistema político mais amplo, as
expressões e os anseios de democracia são reprimidos e atropelados e se restringe a
participação cidadã, dificilmente poder-se-á pedir à escola que produza cidadãos
democráticos. Outro exemplo próprio do sistema educacional: se os critérios de
distribuição de recursos às diferentes escolas do sistema obedecem mais a critérios
de caráter político que a uma intenção de justiça na distribuição de oportunidades,
dificilmente poderá o sistema educacional tornar eqüitativo o acesso de seus
egressos aos benefícios do desenvolvimento social.
Os beneficiários da educação
Para fazê-lo, terá que levar em conta vários elementos. Um deles, muito
importante, é o currículo oficial. Todo centro escolar tem que alcançar os objetivos
que estão plasmados nos planos e programas de estudo. Somente assim teremos a
possibilidade de assegurar que o que oferecemos nas escolas de todo o país é
equivalente e, só assim, teremos as bases para esperar a eqüidade como resultado do
nosso sistema educativo.
Introdução
Isto é fácil de dizer, mas é talvez um dos passos mais difíceis de empreender
em um processo de aprimoramento da qualidade porque o compromisso implica
naquilo que os teóricos da qualidade chamaram de mudança cultural. Em outras
palavras, trata-se de fortalecer valores compartilhados, de vive-los no dia-a-dia e de
renová-los grupalmente.
Estes valores, no fundo, partem de uma convicção básica: vale a pena fazer
as coisas o melhor que se pode e cada vez melhor. Fazer bem as coisas humaniza as
pessoas, que passam a encontrar sentido em seu trabalho.
Fazer as coisas cada vez melhor exige constância. Um dos inimigos
principais dos movimentos de qualidade é justamente a falta de constância. Este é
um valor necessário e também difícil de atingir. Isso deve-se, fundamentalmente, a
que os movimentos de aprimoramento da qualidade são processos de longo prazo.
Seus resultados são alcançados em anos, não em meses. Mas também deve-se ao
fato de que o processo de aprimoramento da qualidade é, por definição,
permanente: lento e gradual, mas permanente.
Cada escola é única. A escola típica não existe. A escola é definida por
aqueles que nela trabalham, os alunos aos quais serve, a comunidade em que está
inserida e as interações entre todo esse contexto. Por isso, é muito difícil falar dos
problemas que afetam a qualidade nas escolas em termos gerais.
O problema da evasão
O problema da equidade
A falta de disciplina
Alguns dos problemas anteriores são gerados pelo simples fato de que o
tempo destinado ao ensino efetivo não é nem o necessário para que a aprendizagem
se efetue, nem sequer o que oficialmente está estipulado. As ausências ou os atrasos
dos professores, tempo destinado por eles a outras atividades dentro da escola, o
uso do tempo na sala de aula para impor disciplina, limpar a sala, corrigir tarefas.
etc, reduzem-no notavelmente. O tempo dedicado ao ensino é o espaço destinado à
aprendizagem. Se este tempo e reduzido, é de esperar-se que também a
aprendizagem se veja reduzida. Quando o tempo de ensino limitado converte-se em
rotina, às vezes e difícil, inclusive, percebê-lo como problema e, portanto, é
impossível imaginar soluções.
Muitas das escolas, nas quais nossos alunos estudam, possuem recursos
limitados. Em alguns países, a sala mobiliada e o quadro negro são os únicos
recursos disponíveis. Outras escolas, em algumas regiões, nem sequer com isso
contam. Outras são mais afortunadas e possuem livros de texto para todos os
alunos. Em outras, ainda mais privilegiadas, existem bibliotecas e materiais
didáticos adicionais. Os recursos para o ensino sao essenciais para propiciar
estratégias diferentes de aprendizagem, que agilizam e tornam atraente o processo e
despertam a participação e a criatividade dos alunos. Nesta perspectiva, a falta de
recursos é um problema. Apesar de que o ideal seja que todas as escolas tenham
material didático adequado, distribuído pela estrutura central do sistema, é
necessário reconhecer que estes recursos podem ser gerados na própria comunidade
na qual se trabalha, com a participação de professores, alunos e pais de família. A
ausência de diversificação das estratégias de aprendizagem, devido ao uso pouco
diversificado de recursos para a mesma, é um problema que merece ser analisado
na sua realidade específica.
Estes são alguns dos problemas que se encontram normalmente nas escolas
de nossos países. Nem todos eles estão presentes em todas as escolas, nem são os
únicos que incidem sobre os estabelecimentos escolares. Cabe a cada escola
identificar seus próprios problemas e analisar suas causas. Um movimento em
busca da qualidade começa quando um problema e priorizado, quando identificam-
se suas causas e a equipe mobiliza-se, para atacar estas causas na sua raiz.
Mas assim como o planejador engana-se quando pensa que a demanda pela
educação está dada, e que basta assegurar a oferta educacional para que as crianças
compareçam à escola, assim nós também nos equivocamos, a nível de centro de
estudos, quando pensamos que é suficiente que a escola abra suas portas e funcione
normalmente. É necessário que o pessoal da escola esteja ativa e continuamente
atento aos problemas e necessidades da demanda.
O que acabamos de dizer não se refere somente àquilo que nos permite
entender as razões familiares e comunitárias pelas quais o aluno se ausenta, chega
tarde, abandona a escola, não aprende. Tem a ver também com o que ensinamos na
escola. O currículo oficial supõe que sua importância é uniforme, que toda a
população do país estará igualmente motivada a alcançar os objetivos de
aprendizagem que propõe. Isto nem sempre é assim. Todos já escutamos histórias
de como os pais resistem ao ensino de determinados conteúdos do currículo ou à
forma como são ensinados. É necessário que nos aproximemos dos pais e
compreendamos suas razões. Da mesma forma, os pais de família podem ter certas
expectativas sobre a educação de seus filhos que não estão contidas no currículo
oficial, ou. pelo menos, na forma como estamos acostumados a ensiná-las. Um
exemplo disso é a formação ética. Os pais. em geral, querem que seus filhos tenham
uma formação ética. A escola, tradicionalmente, faz muito pouco neste sentido.
Estar atentos ás necessidades de nossos beneficiários significa conhecer e
compreender estas expectativas, para satisfazê-las.
Para que o dito acima seja possível, torna-se indispensável que todo o corpo
docente compreenda e compartilhe o propósito de aprimoramento e entenda bem o
papel que nele deve desempenhar. Trata-se de reunir as pessoas em torno de
objetivos comuns. Esta é a razão pela qual é vital a sua participação no
planejamento, tanto do objetivo da organização, como dos processos que deverão
ser modificados para aumentar a viabilidade de sua consecução. E participando do
planejamento que se pode compreender e analisar a mudança de visão cujo
pressuposto é partir das necessidades dos beneficiários e envolver-se nela, como
agente da transformação, de forma compromissada.
Não e difícil imaginar como se podem integrar alunos e pais nos círculos de
qualidade, como os que exemplificamos mais acima. Realizá-lo significará para
eles o mesmo que a filosofia da qualidade para os professores: desenvolver-se-ão
mais como seres humanos, ao saber que têm algo a dizer e fazer em um processo
continuo de aprimoramento e obterão ricas aprendizagens da experiência de
trabalhar em equipe. Para a escola, isto significa um passo a mais na condição de
levar em consideração as necessidades do beneficiário. Existem belas experiências
que mostram como os alunos são perfeitamente capazes de tomar conta da disciplina
na classe e na escola. Eles próprios, em grupo, estabelecem regras do jogo claras
(elaboram pequenos regulamentos), decidem as sanções aplicáveis quando estas
normas não são obedecidas e assumem a tarefa de controlar seu cumprimento. Como
são eles os próprios círculos de qualidade, os alunos que elaboraram a solução,
poderão modificá-la. Isto significa que podem se equivocar: os erros os levarão a
aprender muito mais do que a leitura de uma lição ou uma aula expositiva.
Procuramos deixar claro, em tudo o que dissemos, que não se pode planejar
o aprimoramento da qualidade na escola partindo de intuições. É necessário contar
com uma informação solida e interpreta-la corretamente. Isto significa que é
necessário conhecer nossa escola e nosso meio. Conhecer, em primeiro lugar, de
que forma estamos atingindo nossos objetivos externos e os níveis de aprendizagem
que estamos alcançando. Temos que conhecer as condições e as necessidades de
nossos beneficiários - de todos eles - e de que forma estamos falhando na sua
satisfação. Mas também devemos saber com que recursos podemos contar, quem
somos como equipe, o que nos falta para enfrentar o desafio de melhorar nossos
resultados. Temos que poder investigar as possíveis soluções dos problemas que
detectamos. E devemos ser capazes de monitorar o processo de solução e de avaliar
seus resultados.
l.-DEMING, W. Edwards, Calidad, productividnd y competitividade La salida para Ia crisis. Madrid: Diaz
de Santos, 1989.
CAPITULO VII
Um caso
Uma pessoa que não sente orgulho do trabalho que está realizando, falta.
chega tarde, muda freqüentemente de trabalho ou de escola. A filosofia da
qualidade supõe que isto acontece devido à supervisão falha e à má gestão da
organização. Quando a supervisão e a gestão não estão concebidas,
fundamentalmente, como funções de apoio ao bom desempenho do trabalho, podem
suceder fenômenos muito tristes. Os trabalhadores perdem o interesse em fazer bem
as coisas. Assim, por exemplo, se uma professora, digamos, da segunda série, sente
grande entusiasmo pelo seu trabalho e esforça-se por realizá-lo da melhor forma
possível, mas está lotada numa escola onde trabalhar bem não é a norma, em breve
ela terá problemas com seus colegas. Perceberá que seus alunos, ao chegarem à
terceira série, encontrarão um processo de ensino irregular e deficiente e perderão
grande parte do que ela conseguiu com eles. A isto, junta-se o fato de que o diretor
não tem interesse pelo que ela faz dentro da sala de aula. Enquanto ela não causar
problemas, ele simplesmente deixa-a em paz. O supervisor, por sua vez, quando
visita a escola, fala com o diretor, a fim de revisar as fichas com os dados que deve
preencher, nas quais se especifica quantos alunos tem cada professor, quais são suas
idades, quantos são do sexo masculino e quantos do feminino, quais os que são
repetentes e quais se matricularam novamente. Mal cumprimenta a professora. Não
lhe faz perguntas sobre seus problemas pedagógicos, não proporciona sugestões
nem apoios específicos. Nestas condições, esta professora, por melhor que seja. por
mais entusiasmo que tenha pelo seu trabalho, logo vai perder esse interesse e esse
entusiasmo e começar a comportar-se de forma muito parecida com a normal da sua
escola: tal como se comportam os outros professores. E logo pedirá sua remoção.
Isto é formulado por uma teoria que se aplica a empresas produtoras de bens
e serviços. Quanto mais não deve ser, em uma organização dedicada, justamente, a
formar pessoas!
A busca da qualidade gera espaço para que isto seja possível. Dá um sentido
de transformação ao trabalho quotidiano. E procura fazê-lo salientando o
compromisso, a responsabilidade e a solidariedade com os seres humanos com os
quais se trabalha e com o objetivo coletivo do qual se participa.
No caso dos nossos alunos, é evidente que alcançar sua identidade individual
e social é um processo que se relaciona com as etapas de desenvolvimento da
criança. No entanto, também todos sabem que este processo deve ser favorecido.
para que se possa realizar totalmente. Por outra parte, a identidade está na base de
um dos direitos humanos fundamentais, que é o respeito. É preciso respeitar-se a si
mesmo para poder respeitar os outros. Está também na base de outro dos
componentes fundamentais, essência dos direitos humanos, que é a dignidade. A
convicção da própria dignidade é condição para reconhecer a dignidade alheia.
- A eqüidade e a justiça
Um processo de aprimoramento da qualidade total preocupa-se com todos os
alunos, nao somente por conseguir o melhor para alguns deles. Já mencionamos
que, para a qualidade, é mais importante diminuir as variações do que melhorar a
média. Neste princípio da filosofia da qualidade estão sintetizados os valores de
eqüidade e de justiça.
A definição de justiça que acabamos de mencionar, não pode ser vivida sem
a oportunidade de se viver o valor seguinte:
A solidariedade e o compromisso
- A congruência
NOTAS
I.- IMAI, Masaaki. Kaizen: La Clave de Ia Ventaja Competitiva Japonesa. México: Companhia
Editorial Continental, 1989. Citando uma intervenção de Claude Lévy-Strauss. em um seminário
sobre qualidade total.
2.- Memórias del II Congreso Internacional de Calidade Total .México: FUNDAMECA, 1990.
CAPITULO VIII
O reconhecimento do problema
O exemplo de uma fábrica é, sem dúvida, chocante, mas muito claro. Uma
fábrica tem prejuízos sempre que produz um artigo defeituoso. Tem que desfazer-se
dele ou tem que mandá-lo novamente de volta para a linha de produção, onde os
processos se duplicam, porque é necessário, primeiramente, corrigir o defeito e
depois armá-lo novamente. A intenção de uma fábrica é a de produzir com a menor
variação possível, alcançando um padrão de qualidade parelho em todos os seus
artigos. Atingindo este padrão de qualidade estável, poderá depois tentar aprimorá-
lo, criando as condições para assegurar que esse novo padrão também seja
alcançado de forma parelha.
Mas com isso estamos somente prontos para iniciar um novo processo de
aprimoramento, no qual o ciclo anterior se repete, mas a partir de um novo nível de
desempenho e com processos aprimorados. Desta forma, estaremos aplicando o
ciclo PFRA de qualidade total: planejar-fazer-revisar-agir.
O ciclo PFRA:
Planejar significa fazer planos de aprimoramento nas atividades
atuais, a partir de dados sólidos.
Fazer significa a aplicação do plano.
Revisar significa ver se foi alcançada a melhora almejada.
Agir significa prevenir a recorrência ou institucionalizar o
aprimoramento como uma nova prática que, por sua vez, deverá ser
aprimorada.
NOTA
É por isso que, na educação básica, não se pode entender a qualidade sem a
ativa participação dos pais de família, que deve ser propiciada pela escola, como
um todo, e pelos diversos professores com os pais de seus alunos.
Na medida em que uma parte do nosso tempo de aula possa ser aplicado a
um trabalho individual e grupai dos alunos, por conta deles próprios, mediante um
trabalho organizado e guias de estudo, com os quais os alunos podem progredir e
avaliar seu próprio progresso, teremos, como professores, o tempo necessário para
dar uma atenção individual aos alunos mais atrasados, tanto para diagnosticar seus
problemas, quanto para procurar soluções. Isto nos levará a conhecer qual o apoio
que devemos solicitar aos pais de família e a outros membros da comunidade.
Tudo o que foi dito pode ser conseguido se dedicamos uma hora por mês
para manter reuniões com os pais das crianças a nosso cargo. Os temas anteriores
podem ir sendo abordados de forma breve e simples, procurando que os pais
participem e que saiam de cada reunião de acordo sobre aspectos específicos com
que podem melhorar o ambiente familiar, para fazê-lo cada vez mais propício à
aprendizagem. Não devemos nos preocupar com o tempo que diminuímos do nosso
trabalho na sala de aula, para trabalhar uma hora por mês com os pais: as diversas
experiências sobre o assunto são eloqüentes, demonstrando que o que se alcança,
graças a seu apoio, é muito mais do que se pode progredir, no programa escolar,
nessa hora mensal que investimos neste tipo de atividade.
Estas reuniões mensais com os pais podem ser aproveitadas também para
explicar, em termos simples e breves, o programa que será desenvolvido durante o
mês seguinte, de forma a que os pais saibam em que seus filhos devem estar
progredindo. É importante, nessas reuniões, informar aos pais. de maneira pessoal
(oralmente ou por escrito), sobre os progressos dos alunos durante o mês anterior e
sobre os aspectos nos quais necessitam especial apoio.
Procedendo assim, o apoio dos pais não somente se fará evidente no
progresso da aprendizagem de nossos alunos, mas também estaremos contribuindo
para criar uma cultura comunitária de participação dos pais no processo de
aprendizagem escolar de seus filhos, o que facilitará o caminho para os professores
que vão nos suceder na escola da comunidade nos anos futuros.
O apoio especial dos pais aos alunos atrasados e/ou aos que
apresentam problemas especiais de aprendizagem.
Ainda que o trabalho realizado com os pais de nossos alunos resulte numa
melhor aprendizagem de todos em geral, sempre haverá um grupo de pais de
família que não atenda aos nossos chamados, que não compareça às reuniões, que
não se preocupe com o trabalho na escola. Muitas vezes estes são os pais das
crianças que apresentam maiores problemas de atraso escolar, das crianças que
mais faltam, que chegam tarde, que mais ficam doentes. Como e evidente, isto não
é um acaso, e estas crianças são as que mais necessitam de atenção e apoio.
Também é claro que, mesmo proporcionando-lhes atenção especial, será muito
difícil para nós, sozinhos, como professores, levá-los adiante. Sabemos que é
indispensável que os pais ou outros membros da comunidade também lhes
proporcionem apoio.
As visitas domiciliares são o mecanismo principal para obter apoio dos pais
das crianças atrasadas ou que apresentam problemas especiais de aprendizagem. A
experiência em trabalhos desta natureza nos dá bases para sugerir que, na primeira
destas visitas, expliquemos aos pais o que se espera atingir com seu apoio, ao longo
do ano escolar. É necessário motivá-los para que assumam o trabalho com
entusiasmo, explicando-lhes que as crianças aprendem em toda parte: em casa. na
comunidade, com seus companheiros. É necessário dialogar com eles sobre a
importância de ajudar seus filhos a aprender mais e melhor e conseguir que lar e
escola unam esforços para que seus filhos obtenham uma educação de melhor
qualidade e mais útil para sua vida atual e futura. Devemos ajudá-los a se
convencerem de que são capazes de proporcionar apoio a seus filhos e de que
possuem conhecimentos e experiências muito valiosas, de que existem muitas
coisas que eles sabem e os professores desconhecem, de que são eles que melhor
conhecem e que mais carinho tem por seus filhos e que, portanto, são os mais
indicados para ajudá-los.
Outros aspectos, nos quais pode-se estabelecer relações entre a escola
e a comunidade
Tudo isto pode parecer muito bom na teoria. Mas a prática quotidiana do
aprimoramento exige de nós atitudes que, na prática tradicional das nossas escolas,
não estão sempre presentes.
Essa prática exige que percamos o medo de dizer o que pensamos. Muitas
vezes, dizer o que pensamos cria problemas. É muito provável que. ao fazê-lo,
incomodemos a outras pessoas. Quando essas pessoas podem adotar represálias,
porque estão em posição de autoridade, o medo às vezes nos paralisa. E, ainda que
esse não seja o caso, às vezes dizer o que pensamos nos distancia de nossos
companheiros de trabalho ou nos ocasiona problemas de relacionamento, que
preferimos evitar. No entanto, um processo de aprimoramento da qualidade se
apoia, justamente, no fato de que existem coisas que não estão bem. A crítica é
parte constitutiva do aprimoramento da qualidade, desde que gere sugestões, seja
criativa e construtiva, e leve a um aprimoramento.
Não se trata de que todos pensemos de igual maneira, nem que vejamos as
coisas da mesma forma. Ao contrário, a pluralidade de pontos de vista é que
enriquece a possibilidade de encontrar as soluções. O reconhecimento disto gera,
por sua vez, duas exigências: a primeira é um ambiente de liberdade, em que cada
um possa se expressar tal como é; a segunda é uma atitude de respeito às opiniões e
visões dos outros.
Alguns estudos sao muito claros em dizer que a falta de relevância dos
conteúdos da aprendizagem que a escola oferece explicam boa parte de sua falta de
qualidade. Existe, inclusive, o temor de que a educação básica tenha sido convertida
em um ritual que não se relaciona com a vida do aluno ou da sociedade na qual ele
vive.
Igualdade e oferecer o mesmo a todos. Justiça e dar mais aos que têm menos.
Na nossa prática docente quotidiana, isto significa que não podemos nos conformar
em dar uma aula, esperando que os alunos a aproveitem de acordo com suas
capacidades, as quais, como já dissemos, são diferentes. É necessário procurar
permanentemente que todos os alunos, independentemente de suas características,
alcancem os objetivos que delineamos. Isto não significa que devamos impedir que
os alunos melhor dotados ou mais dedicados superem os níveis que se pretende. O
que não podemos permitir é que os alunos que, por alguma razão, têm dificuldades
especiais, não os alcancem.
A qualidade exige acreditar em nossos alunos
Acreditar nos alunos significa: apostar que eles são capazes de aprender
como aprendem os melhores alunos; de que são capazes de continuar seus estudos
nos níveis médios, e até mesmo superiores, com êxito; que, se não tiverem
oportunidades de continuar estudando, serão capazes de enfrentar com êxito sua
vida atual e futura; que são capazes de ir superando os obstáculos e os problemas
que vão encontrando no seu processo de aprendizagem.
Significa reconhecer que isto exige nosso apoio, mas também, de forma
muito especial, apoio da família e. indiretamente, da comunidade.
No caso das empresas que produzem bens e serviços, para ganhar mercados
e melhorar seus lucros, os movimentos em busca da qualidade não são
compartilhados, porque entre elas a regra do jogo e a competição. Mas. quando
falamos de educação, e mais ainda quando falamos de educação básica, o
aprimoramento da qualidade não é para que a nossa escola seja a única boa, mas
para que todas sejam melhores.
Isto significa que temos a obrigação de compartilhar com nossos colegas
professores, com nossos superiores e com as autoridades educacionais, nossos
progressos e as formas como os alcançamos. Na educação, a verdadeira medida da
qualidade encontra-se na expansão do movimento a outras escolas da região, a
outras regiões, ao sistema educacional como um todo.
Em geral, podemos dizer que existe uma tendência muito clara e muito
explicável, sem que por isso seja correta, de considerar fundamentalmente as
pressões que nos chegam da parte do sistema educacional, descuidando, às vezes, a
atenção aos nossos alunos, seus pais e a comunidade, que. freqüentemente, não são
capazes de expor suas exigências neste sentido. Infelizmente, essas pressões que
nos chegam da parte do sistema educacional nem sempre têm a ver com a qualidade
da aprendizagem que estamos conseguindo. E, se pensamos profundamente sobre o
assunto, poderemos com facilidade reconhecer que a razão de ser do docente e da
escola é a comunidade à qual serve e, de forma direta, os alunos. Não foi em vão
que, quando falamos de beneficiários, não mencionamos, entre eles, o próprio
sistema educacional.
Se atendemos aos alunos e a seus pais, certamente atenderemos também as
exigências do sistema educacional. Mas a recíproca não é necessariamente
verdadeira. Podemos seguir o programa ao pé da letra, estar em dia com o
calendário das lições, preencher todos os formulários de qualificações, altas e
baixas, que o sistema exige e, ao mesmo tempo, estar descuidando a aprendizagem
real dos nossos alunos. É natural que, se estamos mais preocupados em atender o
sistema que a nossos alunos, tenhamos pouco interesse em estar em contato com os
pais de família e com a comunidade.
NOTA
Fernando de Azevedo