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JOÃO PESSOA/PB
2009
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JOÃO PESSOA/PB
2009
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BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profª. Drª. Maria Franco Garcia
Orientadora
_________________________________________________
Silvânia Félix de lima
Mestranda em geografia PPGG/UFPB
_________________________________________________
Profª. Msc. Ana Glória Cornélia Madruga
Examinadora
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RESUMO
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Este presente trabalho parte do princípio de que a agricultura camponesa não faz parte da
prioridade do Governo brasileiro, e que a conquista da terra garantida pelos assentamentos
rurais representam apenas uma das etapas a ser vencida pelos camponeses, para que assim os
mesmos possam garantir a sustentabilidade da família dignamente. O objetivo deste trabalho
consiste em identificar quais são os fatores externos e internos que motivam o
desenvolvimento de um assentamento, tendo como base a experiência do Assentamento de
Reforma Agrária Dona Antônia, antiga Fazenda Tabatinga/Jacumã. Assim, através do
diagnóstico realizado na área de estudo notamos um alto grau de satisfação por parte dos
moradores do Assentamento através do entusiasmo dos entrevistados em descrever a
felicidade de ter a casa própria, e ter a terra para plantar sem a necessidade de continuarem
sendo explorados pelos latifundiários e um ponto de insatisfação diagnosticado foi à falta de
recursos, por não existir meio de transporte para levar os camponeses diretamente para as
feiras, e por ainda existir a figura do atravessador, dificultando assim a obtenção de um lucro
justo pela produção.
ABSTRACT
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This present work has left of the judgment of that agriculture peasant is not part of the priority
of the Brazilian Government, and that the conquest of the land guaranteed for the agricultural
nestings represents only one of the stages to be won by the peasants, so that thus the same
ones can guarantee the support of the family worthy. The objective of this work consists of
identifying which is the external and internal factors that motivate the development of a
nesting, having as base the experience of the Nesting of the Agrarian Reformation Dona
Antônia, old Tabatinga/Jacumã Farm. Thus, through I diagnosis it carried through in the study
area we notice one high degree of satisfaction on the part of the inhabitants of the Nesting,
through the enthusiasm of the interviewed ones in describing the happiness to have the proper
house, and to have the land to plant without being subject to more than nobody not to be of
same itself, and a point of diagnosised insatisfação was to the lack of resources, for not
existing half of transport to take the peasants directly for the fairs, and for still existing the
figure of the profiteer, thus making it difficult the attainment of a profit just for the
production.
LISTA DE FIGURAS
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LISTA DE TABELAS
LISTA DE QUADROS
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LISTA DE MAPAS
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LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................ 16
REFERÊNCIAS................................................................................................ 83
APÊNDICES..................................................................................................... 86
INTRODUÇÃO
A questão agrária brasileira ainda caracteriza-se pela alta concentração fundiária e de renda,
pelas baixas condições de vida de parte significativa das famílias trabalhadoras no campo e na cidade.
Contudo, a pressão social e os conflitos pela terra, pela aquisição e retorno a terra de que foram
expropriados, que estão em todo momento recolocando a Reforma Agrária no contexto das políticas
públicas. O resultado dessas pressões tem-se dado através da implantação de Assentamentos Rurais.
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Porém, a posse da terra não é suficiente par se fazer Reforma Agrária, esta vai muito além da
implantação de Assentamentos Rurais. Está relacionada à aquisição de terra para se trabalhar, mas
também se refere ao bem-estar social, a condições satisfatórias de permanência e reprodução na terra.
No Brasil tem-se realizado uma política de assentamento de população no campo. Esses
assentamentos foram criados apenas como medidas governamentais com o objetivo de amenizar os
conflitos sociais referentes à concentração fundiária. Os Assentamentos hoje representam um meio de
aplicação das políticas públicas governamentais que buscam a criação de empregos e a repartição de
renda, por meio do acesso a terra e as políticas agrícolas, voltadas para o desenvolvimento do campo
brasileiro. Para Leite e Medeiros (1999):
Ao formarem-se os assentamentos rurais não significa dizer que estes terão desenvolvimento,
pois os assentados contam com algumas dificuldades, principalmente no que se refere à infra-
estrutura, acesso aos sistemas de créditos, as tecnologias voltadas para o campo, as produções, aos
canais de comercialização.
Como resultado destes fatores os assentados estão expostos a vários tipos de problemas como:
ausência de qualificação profissional, comercialização da produção, ausência de tecnologias no
campo, altos custos da produção em contrapartida com os baixos preços oferecidos pelas culturas
produzidas, o que faz com que os assentamentos cumpram o papel de fornecedores da matéria-prima
barata para o abastecimento fora dos assentamentos.
O objetivo deste trabalho consiste em identificar, e analisar os fatores internos e externos que
determinam o desenvolvimento de um Assentamento, baseando-se na experiência do Assentamento de
Reforma Agrária Dona Antônia, antiga Fazenda Tabatinga/Jacumã no município do Conde, na
microrregião do Litoral Sul da Paraíba. Para isso, buscamos entender o processo da conquista e da
consolidação do assentamento e estudar as principais dificuldades existentes nos aspectos econômicos,
sociais e culturais e o reflexo desses fatores no desenvolvimento do assentamento estudado.
Para a realização desta pesquisa, foi necessária a leitura de obras como Bernardo; Martins;
Melo; Medeiros; Moreira; que discutem de maneiras diferentes a “questão agrária brasileira”, dando
ênfase às lutas pela conquista da terra e a configuração dos assentamentos rurais. As leituras foram
realizadas no decorrer do curso da graduação, principalmente no decorrer da pesquisa que serviram de
fundamentação teórica para o desenvolvimento da mesma. Também foram realizadas várias visitas ao
Assentamento Dona Antônia.
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O levantamento bibliográfico foi feito tendo como base os seguidos temas: um breve resgate
histórico sobre o processo de colonização no Brasil e na Paraíba, a Estrutura Fundiária no Brasil,
Reforma Agrária, os Movimentos Sociais envolvendo a luta pela terra no campo, além das questões
relacionadas com os Assentamentos Rurais, entre outros. Esses levantamentos foram realizados junto à
Biblioteca Central da UFPB, à Biblioteca Setorial do Departamento de Geociências e à
Superintendência do INCRA, assim como na internet.
As visitas ao Assentamento Dona Antônia, foram realizadas nos dias 07 e 28 de fevereiro de
2009. Em decorrência das visitas ao local, foram realizadas entrevistas com a liderança do
assentamento e com as famílias assentadas. Foram entrevistadas cerca de 30 famílias, o que resulta
em 27% do total de 110 famílias pertencentes ao assentamento Dona Antônia.
A faixa etária dos entrevistados tem sua variação apresentada no Gráfico 01 (p.18), onde a
maioria dos entrevistados possui entre 30 e 50 anos. A presença de mulheres dentro do assentamento é
maior do que os dos homens. Durante a pesquisa foram entrevistadas 63,34% de pessoas do sexo
feminino e 36,66% do sexo masculino, Gráfico 02 (p.18).
Gráfico 01: Percentual da faixa etária dos assentados Gráfico 02: Percentual do sexo dos assentados
entrevistados, 2009. entrevistados, 2009.
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Fonte: VIANNA, Pedro Costa Guedes. LIMA, Valéria Raquel. SILVA, Jorge Flávio Cazé B. Costa. Diagnóstico
parcial dos recursos hídricos do Assentamento Dona Antônia - Conde - PB.
Mapa 01 – Localização do assentamento Dona Antônia no Estado da Paraíba.
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Quanto aos aspectos físicos do assentamento, mais precisamente clima, relevo, hidrografia solo
e vegetação, nos apoiamos nos resultados apresentados pelo Laudo de Vistoria e Avaliação realizado
pelo INCRA no ano de 1995 na localidade (ver anexo A). Desta forma, o clima da área do assentamento
foi classificado como sendo do tipo “3DTH”- Mediterrâneo Quente ou Nordestino Subseco com
temperaturas médias térmicas anuais em torno de 25 graus Centígrados.
Em se tratando do relevo, este está caracterizado como sendo suave ondulado, ondulado e forte
ondulado. A cobertura vegetal é remanescente de formações secundárias da floresta tropical,
subperenifólia (uma vegetação formadas por árvores sempre verdes, com caules delgados e detentora
de folhas largas), formações de transição e cerrados. Já em relação aos solos da região, o assentamento
está inserido numa área que apresenta o PV5- Associação de: Podzólico Vermelho Amarelo latossócico
textura média fase floresta subperenifólia relevo suave ondulado e Latosol Vermelho Amarelo
Distrófico textura média fase transição fase floresta subperifólia/cerrado relevo plano e podzól
Hidromórfico fase cerrado relevo plano.
Quanto aos recursos hídricos naturais encontramos ainda de acordo com o Laudo de Vistoria,
os riachos: Caboclo e Ferro e uma pequena parte do rio Gurugi existindo também a Lagoa Preta ou
Lagoa do Guilherme.
O trabalho está estruturado em três capítulos, além da introdução e das considerações finais: o
primeiro capítulo trata de um estudo sobre o Assentamento Rural de Reforma Agrária Dona Antônia
começando com uma caracterização da área de estudo, seguindo com a análise do processo de luta pela
terra que deu origem ao assentamento até a sua organização como um todo: moradias, educação e
saúde, formas de produção e sua comercialização.
O segundo capítulo traz um resgate histórico da questão agrária brasileira abrangendo as
origens da concentração fundiária, a atuação de alguns governos nesse processo dando ênfase ao
período que segue a partir da década de 1960, especialmente durante a ditadura militar, para entender
como se deu a questão agrária brasileira que é caracterizada por dois problemas principais:
concentração fundiária e luta pela terra.
O terceiro capítulo apresenta uma discussão relacionada ao processo de reforma agrária
brasileiro considerando a atuação dos movimentos sociais no campo, a atuação da igreja Católica a
partir da Comissão Pastoral da Terra (CPT) nesse processo de Reforma Agrária, assim como de
diversos movimentos sociais mediadores da luta pela terra.
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É a partir dessas relações representadas por Saquet (2003) que buscaremos analisar o
desenvolvimento do assentamento Dona Antônia considerando as relações dos assentados com os
órgãos governamentais, com o mercado e entre a comunidade assentada.
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Os assentamentos rurais são na maioria dos casos a da conquista da terra pelas famílias
trabalhadoras sem terras. Essa luta histórica se espalha por todas as regiões do Brasil e é mediada por
movimentos sociais, sindicatos e a própria Igreja Católica. No Gráfico 03 (p.22), podemos observar o
percentual de assentamentos rurais por região do território brasileiro:
1.2 A luta pela terra do Assentamento Rural de Reforma Agrária Dona Antônia
1
Porém no ato da vistoria foi excluída uma área medindo 150,1333 ha, já que a mesma foi considerada
imprópria para uso agrícola, pois para se produzir algum tipo de cultura nesta área os custos de investimentos
eram altos, tornando-se inviável. Laudo de Vistoria realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (INCRA) em 1995.
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A violência foi também uma constante durante o período da luta segundo o presidente da
associação dos assentados:
“Da polícia, com ordens deles lá, principalmente eles, era Tatiana
que era a ex-proprietária, ela ficava, ela conhecia todo mundo ali do
Gurugi, aquela turma ali do Gurugi ela conhecia tudo, aí aquele pessoal
que já tinha mais...começava a aprontar e era onde a polícia caía em cima”.
(Presidente da Associação de Trabalhadores Rurais do Dona Antônia
07/02/09).
Finalmente a Fazenda foi desapropriada para fins de Reforma Agrária em 24 de maio de 1996.
A imissão de posse foi em 21 de novembro de 1996, após cinco ações do despejo das famílias em 1996
criado o assentamento Dona Antonia, com 110 famílias assentadas em uma área de 1.122,00 há, hoje
cada família possui o lote da casa que é de 20x30m e o lote para produção de culturas que é de 5
hectares, o suficiente para produzir para o consumo próprio e o restante da produção destinada para a
comercialização. Como pode ser verificado através da planta do assentamento Dona Antônia, Mapa 03.
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Mapa 03: Planta do assentamento Dona Antônia no Município do Conde/ PB, 2009
O nome do assentamento foi dado em homenagem à Dona Antônia, uma trabalhadora que
durante parte da sua vida foi escrava e que, já como mulher livre, participou do processo de construção
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“Dona Antônia que foi uma escrava que veio na luta junto com as
netas, bisnetas, tudo pra luta, mas em maio no mesmo ano de 1996 ela
morreu, aí por isso que Frei Anastácio junto com a turma da CPT... aí
conseguiram botar o nome dela de Assentamento Dona Antônia”.
(Presidente da Associação de Trabalhadores Rurais do Dona Antônia
07/02/09).
Como colocamos o assentamento Dona Antônia possui 110 lotes. Desde a sua criação em 1996
até hoje o número de famílias tem crescido. Há atualmente 150 famílias ao todo sendo que 40 delas
são de agregados, ou seja, familiares de segundo e terceiro grau ou mesmo sem grau de parentesco,
que passam a morar na casa de alguns assentados ou constroem suas moradias dentro dos lotes dos
assentados.
Durante a nossa pesquisa de campo, podemos constatar a origem das 27 famílias entrevistadas,
o que corresponde a 30% do total de famílias, estas famílias na sua maioria antes de fazerem parte do
assentamento pertenciam a municípios diferentes da localidade do assentamento, Gráfico 04 (p.29),
assim comprovamos o trabalho feito pela CPT, que foi o de recrutar pessoas para aderirem o
movimento de luta pela terra, a maioria dos assentados é de:
Gráfico 04: Percentual dos assentados entrevistados segundo município de origem, 2009.
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Gráfico 05: Percentual dos assentados entrevistados que consideram ter adquirido
melhores condições de vida após o assentamento, 2009.
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Esses dados nos mostram que a participação em movimentos sociais pelas famílias desaparece
ao longo do tempo. No caso em estudo, desapareceu após a conquista do assentamento. Os poucos
assentados que ainda participam (6,66%) estão vinculados a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Mesmo assim a atuação destes assentados resume-se na busca de melhorias para o próprio
assentamento. A luta não é tomada como um objetivo maior, para a realização da Reforma agrária
como um todo, mas apenas ações isoladas onde cada grupo luta por um pedaço de terra para produzir.
A luta desses trabalhadores se transforma com a conquista da terra. As reivindicações são para
garantir a permanência na terra, pelo crédito, pela infra-estrutura, pela subsistência das famílias a
partir dos poucos recursos adquiridos.
As casas do assentamento Dona Antônia foram construídas por meio da associação do
assentamento. Cada família recebeu R$ 5.000,00 no ano de formação do assentamento, 1996. Esse
dinheiro ficou na posse da Associação para a compra do material de construção no mesmo local, para
assim conseguirem um desconto maior. Durante a construção das casas não houve nenhuma
padronização, cada um construiu da maneira que quis. As casas do assentamento não se localizam
dentro dos lotes, para produção mais sim em uma pequena agrovila, ou seja, as casas ficam longe das
parcelas de cultivo.
Figura 01: Casas do Assentamento Dona Antônia, construídas em 1996 com o dinheiro que foi
repassado para a Associação. As casas não são padronizadas, mais todas possuem água e iluminação
elétrica.
Fotografia: Maria da Conceição M. Moreira
Fonte: Trabalho de campo, fevereiro de 2009.
No que diz respeito ao grau de escolaridade dos moradores das famílias entrevistadas
podemos constatar no Gráfico 07 (p.34) que 10% dos moradores não possuem instrução, 73,30% não
conseguiu terminar o ensino fundamental, 6,67% possui apenas o ensino fundamental completo,
3,34% terminou o ensino médio, e por último 6,69% possuem ensino superior. A maior parte dos
assentados possui baixa instrução, conseqüência disso é o impedimento do seu conhecimento sobre
seus direito e deveres, como também conhecimentos técnicos ou teóricos para assim lutar pela suas
necessidades individuais e do grupo.
É fato que as organizações associativas representam uma importante opção para a viabilização
das famílias de trabalhadores rurais e camponeses. No entanto, de acordo com Lazzarotto (2000), para
que o associativismo tenha sucesso há uma gama de aspectos e pontos que precisam ser analisados e
observados, como as características dos associados e dos seus interesses, a participação ativa dos
membros nas atividades desenvolvidas pela associação e a forma e intensidade da operação.
Os trabalhadores rurais assentados para Lazzarotto (2000) fazem parte de um ambiente que
está em constante mudança, o que dificulta a reprodução econômica e social de suas unidades de
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produção. Sendo assim, a união destes trabalhadores rurais dentro das organizações associativas
representa uma importante estratégia para assim enfrentarem as dificuldades que lhe são impostas no
dia a dia. O trabalho coletivo dentro dos assentamentos juntamente com o uso das práticas solidárias
ajuda na facilitação do processo produtivo, e ainda proporcionam um melhor relacionamento com o
mercado e com a sociedade na qual estão inseridos.
A Associação de acordo com Lazzarotto (2000) serve para reunir pessoas, como
objetivos comuns, superar as dificuldades do grupo e trazer benefícios. Uma associação
permite a construção de condições melhores e maiores para os seus sócios, não poderia ser
diferente com a Associação dos Trabalhadores do Assentamento Dona Antônia.
Dentro do assentamento encontramos a Associação dos Trabalhadores do
Assentamento Dona Antônia, que não possui caráter lucrativo, e não paga salário para os seus
dirigentes nem tão pouco para os associados. A Associação é formada, segundo informações o
presidente da associação, recolhidas no trabalho de campo, por 12 membros dos quais 6
encontram-se na ativa (na direção) e os outros 6 na suplência. Os cargos são: o de Presidente e
vice-presidente, o 1º secretario, o 2º secretario, o 1º tesoureiro, o 2º tesoureiro, o 3º conselho e
o 3º suplente.
A função da presidencia tem como principal objetivo reivindicar os direitos dos
associados junto ao poder público, como a requisição de crétido financeiro para o
assentamento, atendimento médico, melhorias na infra-estrutura, locais melhores para a
comercialização dos produtos cultivados no assentamento entre outros; o tesoureiro cuida das
finanças, e o secretario administra as reuniões.
A Associação realiza várias atividades, como a organização do atendimento médico
para os assentados quinzenalmente, disponibiliza as normas para a utilização de ferramentas e
maquinarias comuns, como o uso do trator e seus implementos. A mesma estabeleceu o
pagamento médio de R$ 50,00 por hora para os serviços do trator incluindo o combustível e
trabalho do tratorista, havendo uma redução de custo para quem é sócio.
Figura 03: Foto da Associação dos Trabalhadores do Assentamento Dona Antônia, onde
são feitas as reuniões dos moradores do assentado, onde ocorre o atendimento médico
fornecido pela Prefeitura do Conde, e onde também é possível locar o trator, para utilizá-
lo dentro do lote de produção.
Fotografia: Maria da Conceição M. Moreira
Fonte: Trabalho de campo, fevereiro de 2009
Um das funções de extrema importância exercida dentro da Associação são as reuniões dos
moradores do Assentamento, que ocorrem uma vez por semana onde são colocados em pauta os
assuntos de interesse dos assentados. A Associação como já foi colocado anteriormente possui a
função de lutar pelos interesses de seus associados, dando voz a todos e trazendo benefícios para os
mesmos.
Dentro do Assentamento existe uma área comum, o lote comunitário, que possui 12 hectares
de terras utilizadas na plantação de coco. Já os lotes individuais detém 5 hectares de terras, são
utilizados para plantios de culturas de subsistência, como feijão, macaxeira, milho. Observamos que
em alguns lotes se utiliza a irrigação, apesar de 100% dos assentados entrevistados negarem esse fato,
como mostra as figuras 04 e 05:
Figura 04: Parcela que trabalha com irrigação; Vista parcial de um dos lotes localizado no
assentamento, onde ocorre através do gotejamento a irrigação da parcela.
Fotografia: Maria da Conceição M. Moreira
Fonte: Trabalho de campo, fevereiro de 2009.
Figura 05: Parcela que não trabalha com irrigação, vista parcial de outro lote, onde como pode ser
verificado não existe irrigação na parcela, dificultando assim o cultivo da produção.
Fotografia: Maria da Conceição M. Moreira
Fonte: Trabalho de campo, fevereiro de 2009
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Oitizeiro e para Emater em João Pessoa. Dos produtores assentados, 16,66% dos entrevistados vendem
seus produtos para o atravessador o que dificulta a obtenção justa do lucro da produção.
A maior dificuldade para comercializar os alimentos produzidos pelos assentados é a
indisponibilidade de transporte para levá-los diretamente para as feiras, dependendo da atuação do
atravessador nas negociações de venda dos produtos, desenvolvidos no assentamento. Os assentados
sentem-se obrigados a vender os produtos ao atravessador por um valor muito inferior ao que seria
vendido ao consumidor final.
Quanto à renda das famílias, contando com a renda da produção dos lotes e das atividades
exercidas fora do assentamento os resultados que obtivemos foram: 56,66% das famílias alegaram
ganhar menos de um salário mínimo, 40% das famílias entrevistadas afirmaram que a renda familiar
encontra-se entre um a três salários mínimos, e 3,34% informaram que a renda familiar supera os três
salários mínimos. Como pode ser observado no Gráfico 09 (p.40):
Já à renda média gerada no mês pela produção dos lotes, quando questionados pelos valores os
entrevistados responderam que 15,79% geram um lucro menor que um salário mínimo, 7,26%
asseguraram que lucram com a produção R$: 80,00, e 12,34% retiram de lucro da produção cerca de
R$: 200,00 reais, 8,89% afirmaram que retiram R$: 150,00 reais e não souberam responder 55,72%
dos entrevistados.
Quanto aos Programas Sociais pelos assentados, 53,33% dos moradores do assentamento
Dona Antônia são beneficiados pelo Bolsa Família que é um programa desenvolvido pelo Governo
Federal a partir do ano de 2003; como pode ser visto no Gráfico 10 (p.42). O Bolsa Família integra os
antigos programas sociais: Bolsa Escola, Auxílio Gás e Cartão Alimentação. De acordo com Paiva
(2007):
O programa Bolsa Família é a principal estratégia contemporânea do Brasil
que visa à diminuição da fome, da pobreza e da desigualdade social por meio
do investimento, a médio e longo prazo, no capital humano e atingi mais de
50, milhões de brasileiros. Destes, uma parcela significativa é composta de
indigentes (p. 13).
O programa tem como objetivo gerar alívio imediato da pobreza, proporcionando apoio aos
direitos básicos nas áreas da saúde e educação, já que para receber a ajuda do programa as famílias
devem cumprir com algumas determinações, a exemplo da freqüência mínima exigida de 85% para as
crianças e adolescente com idades entre 6 e 15 anos e de 75% para os adolescentes entre 16 e 17 anos,
do acompanhamento do cartão de vacinas das crianças menores que 7 anos de idade e do pré-natal das
mulheres gestantes, dentre outras exigências.
O objetivo de tal programa é auxiliar financeiramente as famílias carentes, exigindo a
condição de que estas famílias mantenham os filhos matriculados na escola e devidamente vacinados,
objetivando o desenvolvimento das famílias para que assim possam romper com o ciclo da pobreza.
O programa Bolsa Família fornece para cada família incluída no programa uma renda de R$
80, 00, valor igual a R$ 3,00 diários aproximadamente, que não passa de uma ajuda assistencialista do
governo. São mais ou menos oito milhões de pessoas no programa recebendo este valor.
Se estas pessoas fossem reaproveitadas para fazer qualquer serviço à sociedade, como frente
de trabalho para receber este dinheiro, o governo federal poderia fazer parceria com os governos
estaduais e municipais, fazendo mutirões para construir casas populares, obras de construção de
saneamento básico, pintura e reforma nos prédios públicos, fazer hortas comunitárias para
fornecimento nas creches e escolas municipais, poderiam trabalhar na conservação das calçadas,
jardinagem e paisagismo público, etc.
No assentamento pesquisado 53,34% dos moradores entrevistados, recebem este beneficio do
governo federal, com este valor recebido poderiam trabalhar três horas diárias regidos pela CLT, e
aqueles que recebessem o valor não estariam recebendo apenas uma ajuda assistencialista, e sim
recebendo dignamente em troca de um trabalho ou serviço à sociedade.
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Gráfico 10: Percentual das famílias entrevistadas que são beneficiadas pelo Bolsa
Família no assentamento, 2009.
entrevistado não apresentam utilidade, já que não existe mercado de trabalho para absorver esta mão
de obra qualificada.
De acordo com o presidente, existem vários projetos elaborados pelo INCRA e intermediados
pelo Banco do Nordeste. Alguns deles já foram postos em prática como o Projeto Cooperar que
resultou na instalação de energia elétrica no assentamento e perfuração de poços artesianos para o
abastecimento hídrico dos assentados.
Os dados levantados durante a nossa pesquisa de campo constatou a existência de muitas
dificuldades do cotidiano da vida no assentamento, fazendo com que a capacidade produtiva seja de
pequeno porte. É visível que a falta de alternativas para o transporte da produção, é um dos pontos a
ser vencido pelos produtores do assentamento.
A partir da organização territorial do assentamento Dona Antônia percebemos que há muitos
mecanismos responsáveis pela solidificação desse território que está se construindo diariamente e que
não resume-se apenas na aquisição da terra para trabalhar e viver, mas é uma busca constante dos
trabalhadores pela possibilidade de uma produção que corresponda as necessidades de subsistência
familiar e que possa a longo prazo proporcionar ao assentamento um desenvolvimento contínuo.
Essa busca é feita de forma individual e/ou coletiva no sentido de adquirir recursos financeiros
que permitam a aquisição de ferramentas básicas de produção, tanto equipamentos quanto a técnica de
produção em si, a partir do acompanhamento de profissionais enviados pelo INCRA para a promoção
de cursos de capacitação, além do estudo dos recursos naturais do assentamento para poderem adequar
as culturas. Essa contribuição por parte dos órgãos governamentais relacionados à Reforma Agrária,
especialmente o INCRA é essencial para que o assentamento possa ter um desenvolvimento e é isso
que impulsiona os assentados a buscarem ter essas orientações e recursos técnicos.
Não podemos afirmar que o assentamento teve um desenvolvimento considerável, porém
podemos perceber que as mudanças na vida dos assentados e a busca constante por melhorias é um
indício de que esses laços com a terra de trabalho pode se solidificar e se desenvolver apesar das
dificuldades encontradas para a aquisição dos mecanismos de produção. É uma luta constante no
território conquistado, agora não mais por terra, mas pelo desenvolvimento da vida na terra, pelo
acesso ao crédito, aos meios de produção e posteriormente pela justa comercialização sem que sejam
explorados.
Toda essa realidade constatada no assentamento Dona Antônia pode ser considerada uma
representação de questões semelhantes existentes no campo do estado da Paraíba, na região Nordeste e
até mesmo no país como um todo. O assentamento que foi formado a partir da luta pela terra, contra a
forte concentração fundiária, contribuindo para a democratização da propriedade da terra em um país
que tem como característica marcante a expropriação camponesa e a forte concentração fundiária é
apenas um exemplo de muitas outras lutas semelhantes distribuídas nas demais regiões do país.
A questão agrária atual que pode ser representada principalmente pela concentração fundiária e a
luta pela terra entre duas forças antagônicas tendo de um lado aquela que busca a terra para ostentação
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de poder e reprodução do capital e aquela que busca a sobrevivência da unidade familiar. Isso não é
um fato recente, mas está relacionada a toda uma trajetória histórica da formação territorial do país
desde o período colonial, como mostraremos nos capítulos seguintes.
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A alta concentração de terras no Brasil atual tem as suas raízes históricas no processo de
formação do território brasileiro a partir da colonização da coroa portuguesa, no século XVI. Portugal
se viu obrigado, a ocupar o Brasil a partir de 1530 com medo de perdê-lo para os franceses, sendo
assim, buscou alternativas para a ocupação e para a exploração, no inicio de pau-brasil e posteriormente
de atividades agrícolas tropicais a gosto da burguesia européia, como pimenta, canela, frutas,
macaxeira, e a produção açucareira uma das mais lucrativas para Portugual.
Chiavenato (2004) mostra que no início da colonização as terras brasileiras foram divididas
em grandes extensões denominadas sesmarias, doadas pelo rei de Portugal a pessoas de sua confiança,
sob a condição de que só fosse doada a quantidade que os beneficiários pudessem cultivar, formando
suas lavouras num prazo de dois anos.
Dessa forma Strazzacappa (2006) acredita que o regime sesmarial não deu certo, pois as terras
não foram devidamente cultivadas, devido principalmente, a sua grande extensão territorial e a falta de
mão-de-obra. Dessa forma, as terras além de concentradas nas mãos de poucos proprietários,
permaneceram ociosas e culminaram com um certo abandono das atividades rurais. Para
STRAZZACAPPA (2006).
Para Strazzacappa (2006), os donatários sentiam-se donos absolutos das terras e valiam-se
delas apenas para fins de grandeza pessoal e ostentação de poder, estabelecendo um comportamento
autoritário, que passou para a história com o nome de coronelismo. Os donos das terras acabaram se
tornando os grandes coronéis. Juntando a lógica dos domínios sesmariais ao sistema de capitanias, as
elites agrárias se estabeleceram, mas estes sistemas fracassaram e a função social da terra ficou mais
uma vez longe de ser cumprida.
Na Paraíba não foi diferente, a desigualdade da propriedade fundiária que fez parte de um
longo processo teve suas raízes na produção do espaço desde o período colonial. A conquista efetiva do
atual território paraibano só foi realizada após cem anos do descobrimento do território brasileiro.
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De acordo com Moreira (1997) a demora na ocupação do espaço onde hoje se localiza a
Paraíba se deve a resistência da população nativa que aqui residia, eram eles: índios da nação Tupi, que
se dividiam entre Potiguaras e Tabajaras, ao norte do rio Paraíba habitavam os Potiguaras e ao sul os
Tabajaras, os quais vieram da região do rio São Francisco.
Ainda segundo Moreira (1997) produção na Paraíba assim como no Brasil colonial sempre
esteve subordinada aos interesses do capital mercantil. Na Paraíba especialmente as sesmarias serviram
para a exploração de cana-de-açúcar no litoral paraibano e da pecuária no interior (posteriormente o
algodão).
O que vemos ainda nos dias atuais é a conseqüência desse processo histórico a concentração de
terras por parte das oligarquias rurais, sendo um fator preponderante que evita o acesso a terra para
trabalhadores rurais negando a eles o ingresso a uma área de plantio e/ou cultivo para seu próprio
consumo ou desenvolvimento.
Para Gonçalo (2001), a terra não deve ser considerada apenas como riqueza patrimonial, ao
contrário, a terra deve atender as necessidades da coletividade. A concentração fundiária neste país é
responsável pela má distribuição de terras e conseqüentemente de renda, a alteração desse modelo
democratizaria a posse e o uso da terra, trazendo alterações nas relações das classes dominantes.
Estas oligarquias são formadas por um pequeno número de famílias poderosas que detêm
sozinhas grandes áreas de terras, muitas vezes improdutivas mantidas com fim de especulação
imobiliária2, impedindo assim o desenvolvimento da terra e dos trabalhadores rurais. O processo
histórico brasileiro confirma este fato.
Na visão de Melo (2006), o resultado da concentração fundiária no país foi o aumento da
concentração da terra na “mão” de poucos, o banimento de milhares de famílias do campo, as quais se
destinaram as cidades e passaram a encorpar os movimentos sociais de luta por terra, como pode ser
visto na Figura 06. A estrutura fundiária do Brasil tem ainda como base a concentração da terra, a
exploração do trabalho independente do gênero, e a violência como forma de manter a ordem e a sua
permanência.
2
[...] uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos
da economia, especialmente através de investimentos públicos na infra-estrutura e serviços urbanos[...].
CAMPOS FILHO, Candido Malta. Cidades brasileiras: seu controle ou o caos. 4 ed. São Paulo: Studio Nobel,
2001.
46
Figura 06: Ocupação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra no sertão do Estado de
Pernambuco, ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 18/05/09. Os trabalhadores rurais
reivindicaram ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) a vistoria e
desapropriação da área.
Fonte: http://www.cptpe.org.br/modules.php?name=News&file=article&sid=1662
Adaptado por: Monteiro, Maria da Conceição Moreira (2009).
O resultado desse processo histórico na estrutura agrária brasileira está marcado pela
concentração da terra dentro do território brasileiro, podemos verificar este fato através do índice de
Gini, que é uma medida de concentração ou de desigualdade freqüentemente utilizada para analisar a
distribuição de renda, e que também pode ser utilizada para aferir o grau de concentração de qualquer
distribuição estatística. Sendo assim, pode medir o grau de concentração de posse da terra em uma
determinada região.
De acordo com Melo (2006):
A Tabela a seguir traz os dados do Índice de Gini, nas diferentes regiões do país e no Brasil:
Este padrão que visualizamos na tabela acima comprova que a concentração reflete diretamente
na distribuição de terra, a qual praticamente não acontece, já que o índice de concentração fundiária no
Brasil é de 0,843 bem próximo de 1 (concentração absoluta), ou seja o Brasil possui um dos índices mais
altos de concentração fundiária, que deste 1992 a 1998 só tem crescido. O Norte e o Nordeste do país,
também apresentam números bem próximos de 1 (concentração absoluta), são respectivamente 0,851 no
Norte e 0,811 Nordeste, resultado direto desse contraditório processo histórico.
Segundo Melo (2006) outra tabela pode mostrar a concentração de terras por hectares do ano
de 1995, onde os estabelecimentos com áreas de até 10.000 hectares somam 53%, detendo apenas 3% da
área cadastrada, comparando com os estabelecimentos que possuem área superior a 1.000 hectares
somando 1,1% do total, detendo 43,5% da área cadastrada.
Estes dados mostram como no Brasil os índices de concentração de terras são bastante
elevados, tendo como conseqüência a imensa desigualdade no acesso a terra, resultado do processo de
desenvolvimento agrário no país.
A concentração de terras no território brasileiro anda de mãos dadas com a improdutividade da
terra, isto quer dizer que no Brasil existem milhares de terras que não acatam as requisições mínimas de
produtividade as quais devem ser desapropriadas para fins de Reforma Agrária, assim como ocorreu
com a antiga fazenda Baraúna, localizada no município do Conde/PB, que foi substituída no ano de
1996, pelo assentamento Dona Antônia.
Essa realidade se reproduz a nível regional e estadual. Através deste processo constatamos o
início do latifúndio na Zona da Mata do nordeste do Brasil, que perdura até os dias atuais. Esta
concentração se intensificou ainda mais na década de 1960 com a modernização da agricultura,
impondo a nova lógica aos trabalhadores rurais: não basta ter apenas a posse da terra, pois só ela não
garante a sobrevivência das pequenas unidades produtivas, das famílias camponesas.
Na Paraíba não foi diferente do processo de colonização e ocupação do nordeste brasileiro. De
acordo com Moreira (1997) o espaço agrário paraibano está caracterizado pela alta concentração da
propriedade da terra, pela exploração da monocultura canavieira no litoral (destinada ao mercado
exterior) e pela pecuária extensiva no interior.
O predomínio da cana–de–açúcar na paisagem da Zona da Mata paraibana foi constante, do
início da colonização até os dias atuais, desenvolvendo-se inicialmente nas áreas de várzea, que
apresenta condições bastante favoráveis para o desenvolvimento deste tipo de cultura.
Ainda de acordo com Moreira (1997), o Agreste e o Sertão da Paraíba se dedicaram à
cotonicultura (cultura de algodão), desenvolvendo um papel importante no Estado, tanto na economia
local, como no processo de expansão populacional, na pecuária extensiva e na policultura. Deve-se
ressaltar que nos últimos anos o número de assentamentos com fins de Reforma Agrária no Nordeste e
na Paraíba tem crescido Gráfico 11 (p.49), em um ritmo considerável, modificando a paisagem de
algumas regiões onde antes predominava a cana-de-açúcar e a pecuária extensiva.
A Paraíba encontra-se na sexta colocação no número de assentamentos como pode ser visto no
Gráfico 11 (p.49), com 7,91% o que importa em 227 assentamentos implantados em seu território,
ficando atrás apenas de Sergipe, com 4% que equivale 114 assentamentos e Alagoas, com 2,79% que
representa 80 assentamentos. É importante destacar que os estados do Ceará e Piauí encontram-se na
terceira posição com 12,55% cada, o que representa 359 Projetos de Assentamentos (PAs).
De acordo com Moreira (1997, p. 298 apud FETAG, 1982), “os proprietários expulsam os
moradores, arrendatários ou posseiros para plantar capim, cana-de-açúcar, abacaxi ou agave” (p. 6).
Dessa forma a atual estrutura fundiária paraibana e de todo o Brasil é conseqüência de todo este
processo histórico de ocupação do território.
Essa estrutura fundiária histórica segue as mesmas características nos anos 1990 com uma
intensificação da concentração fundiária durante o período de ditadura militar no país a partir da
manipulação da lei de terras por parte dos ditadores, além de uma redução da luta pela terra pelos
trabalhadores rurais sem-terra devido a repressão.
Figueiredo, forneceram condições para o desenvolvimento de uma política agrícola voltada para as
grandes empresas, através de incentivos financeiros.
Segundo Melo (2001) no período da Ditadura brasileira o Estado manteve a questão agrária sob
o controle do poder centralizado, impedindo assim o acesso da terra para os camponeses, que
desejavam possuir uma propriedade familiar, mesmo contando com o projeto do Estatuto da Terra 3, que
propunha realização da Reforma Agrária. Este funcionou como estratégia do governo militar para
tranqüilizar os grandes proprietários de terras e os camponeses.
Na visão de Martins (1986), os grandes proprietários de terra foram os que apoiaram a
ditadura militar, o que eles pretendiam era impedir a realização da Reforma Agrária. A ditadura militar
foi implantada em 1964, com a participação de diversos setores da burguesia (dos banqueiros até os
industriais) a classe média foi nas ruas pedir pela ditadura militar. Os militares estavam divididos, os
mais brandos identificados com o capital principalmente os estrangeiros e os “linha dura”, mais
rígidos e mais firmes.
O governo militar nunca teve a intenção de fazer a Reforma Agrária, duas décadas se passaram
e apenas 170 desapropriações foram feitas, segundo Martins (1986) “quando só em 1981, houve mais
de 1.300 conflitos, envolvendo 1 milhão e 200 mil pessoas. O governo alega que distribui um milhão de
títulos de terras” (p.35). A concentração fundiária teve um enorme crescimento e os camponeses
conheceram o processo de expropriação das suas terras. Os proprietários de terra não aceitaram
nenhuma interferência nos sues direitos de propriedade o que consideravam absolutos.
Para Martins (1986), o Estatuto da Terra propunha a efetivação da Reforma Agrária brasileira
juntamente com o desenvolvimento da agricultura, após três décadas constatamos que a primeira meta
ficou apenas no papel e a segunda recebeu grande incentivo do governo, reforçando o desenvolvimento
capitalista ou empresarial da agricultura brasileira.
Segundo as idéias de Gonçalo (2001), o Estatuto da Terra serviu como instrumento ardiloso e
conflitante no que se refere às lutas sociais, desarticulando as disputas por terras. O Governo Militar
lançou a proposta de enviar os trabalhadores camponeses para espaços considerados vazios do nosso
território, como a Amazônia, porém esta tentativa não deu certo, o deslocamento dos trabalhadores para
outras regiões do território não ocorreu. O que aconteceu foi à aprovação de projetos pertencentes a
grandes empresários agrícolas, que foram beneficiados através de incentivos ficais.
O Estatuto da Terra não teve como objetivo redistribuir terra para aquelas pessoas que
trabalham nela, mais sim promover a expansão da agricultura empresarial. O governo militar alegou
3
Art. 1° Esta Lei regula os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis rurais, para os fins de execução
da Reforma Agrária e promoção da Política Agrícola. LEI Nº 4.504, DE 30 DE NOVEMBRO DE 1964.
51
que durante sua gestão distribuiu um milhão de títulos de terra, porém distribuir títulos não é o mesmo
que distribuir terras.
Segundo Martins (1986):
Ter a posse da terra já era difícil e ficou ainda mais difícil de consegui-la. O Estatuto da Terra
implementado pela Ditadura Militar, que deveria resolver o problema da terra, redistribuindo as terras
improdutivas dos grandes proprietários para os pequenos agricultores, como aconteceu em outros
países, fez justamente o contrário, foram beneficiados os grandes proprietários com 65% das terras e
os pequenos agricultores com 35% das terras, isto entre os anos de 1960 e 1970, já nas décadas entre
1970 e 1980 os grandes ficaram com 94% e os pequenos com 6%.
O Estatuto da terra não foi criado para beneficiar o pequeno agricultor, foi feito para reprimir
as lutas que vinham ocorrendo no campo deste o fim da Segunda Guerra Mundial evitando uma
possível vitória dos trabalhadores sobre os grandes proprietários de terras, distribuindo a aliança entre
os grandes capitalistas e grandes proprietários de terras.
Para Martins (1986) os idealistas do Estatuto da Terra tinham outras intenções,
A principal finalidade do Estatuto era manter o controle e a administração das lutas pela terra,
o objetivo era resolver os problemas de ordem econômica do capital, os militares queriam um
instrumento que permitisse o fim das lutas. Depois de instalado o regime e verificando que a solução
não era tão difícil para eles, bastaria usar a repressão (muito utilizada no campo até os dias atuais), que
acabou resultando no esvaziamento das lutas no campo: muitos assassinatos, torturas, vários tipos de
barbaridades.
52
Assim constatamos que a lógica do governo militar era a militarização da Questão Agrária,
mantendo o controle do estado sobre as disputas de terras e pelas terras devolutas 4, garantindo a
manutenção dos latifúndios existentes e a criação de inúmeros outros.
Segundo Gonçalo (2001) na Nova República, durante o governo de José Sarney, o engenheiro
agrônomo José Gomes da Silva entregou uma nova proposta de Reforma Agrária para as lideranças
políticas, no jogo de forças a proposta inicial terminou totalmente modificada e em 10 de outubro de
1985 o então presidente Sarney assina o Decreto nº 91.766, aprovando o Plano Nacional de Reforma
Agrária (PNRA) com várias alterações do plano original, considerado progressista.
Ainda no ano de 1985 foi criada a União Democrática Ruralista (UDR) que organizava os
fazendeiros para pressionar o governo de Sarney contra a efetivação do PNRA (Plano Nacional de
Reforma Agrária). Ficou comprovada a limitação do PNRA durante a sua elaboração que teve doze
versões que deformou totalmente a primeira proposta apresentada por José Gomes da Silva no ano de
1985.
De acordo com Gonçalo (2001):
Ainda segundo Gonçalo (2001), durante o período de elaboração da nova Constituição de 1988
ocorreu mais uma derrota para a luta da Reforma Agrária, o capítulo referente à Reforma Agrária sofreu
um retrocesso baseado no Estatuto da Terra. Apesar de a população ter organizado e apresentado uma
emenda popular com mais de um milhão de duzentas mil assinaturas, prevaleceu à vontade dos
fazendeiros latifundiários que possuíam maioria absoluta no Congresso Nacional.
Esta nova Constituição tornava a terra improdutiva intocável, porém a conceituação de terra
produtiva ficou a cargo da Legislação Complementar. Concluindo a Reforma Agrária ficou dependendo
da aprovação de uma lei regulamentadora e de mais uma lei, que definia o Rito Sumário das
Desapropriações.
Já em 1990 e 1992 no governo do Presidente Fernando Collor de Melo antes dele sofrer o
impeachament a Reforma Agrária foi deixada de lado ficando estagnado. Enquanto era candidato o
então Presidente prometeu assentar 500 mil famílias, porém seu projeto de Reforma Agrária na
4
Terras; espaço não construído de uma propriedade; terreno, (Aurélio 1993).; devoluto; adj desocipado,
desabitado, (Aurélio 1993).
54
presidência previa o assentamento de apenas 400 mil famílias no período de 1991 a 1994. Pouco foi
feito, e este pouco foi resultado ainda do governo anterior.
O aumento da violência no campo ocasionou na realização de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) denominada de “Pistolagem” graças às pressões, feitas em um acordo entre as
lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), e outros partidos de centro-esquerda como o PSDB
(Partido da Social Democracia Brasileira) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro),
foi possível a criação da Lei Agrária em 1992, sancionada pelo Presidente Itamar Franco que após o
impeachment de Fernando Collor de Melo assumiu a Presidência do país.
O Presidente Itamar Franco vetou 10 dispositivos da Lei Agrária, entre eles os reivindicados
pelos Movimentos Sociais. Com a existência desta nova lei travou-se no Congresso Nacional uma
verdadeira luta pela aprovação do Rito Sumário. Sendo assim apesar de existirem dispositivos legais a
Reforma Agrária só sucederia na prática através das ocupações de terra. Após o ano de 1993 o número
de ocupação se intensificou.
De acordo com Gonçalo (2001, apud INCRA, 1995), “em 1993 foram realizadas 89 ocupações
com 19.092 famílias. Em 1994 aconteceram 119 ocupações com 20.116 famílias” (p.69).
Até os dias atuais tem sido assim, ocorrendo às desapropriações de terra onde ocorrem as
ocupações de terra, como pode ser verificado nos Gráficos 12 (p.55) e 13(p.56), e onde não há a
presença da mobilização dos trabalhadores rurais ocorre o retardamento deste processo.
Para Melo (2001) o governo vê a Reforma Agrária como uma política social que tem o objetivo
de atender a população pobre do campo que luta pela posse da terra, amenizando assim os conflitos
existentes no campo. Se tornando uma política compensatória, que está muito longe de ser uma política
de desenvolvimento econômico ou uma política redistributiva.
O Estado é quem detém o controle da política agrícola camponesa, sendo o mentor dos projetos
de assentamentos, não aceitando as pressões impostas através das ocupações de terras organizadas pelos
trabalhadores rurais. Controlando a escolha dos beneficiados, definem quais serão as terras, de que
Estado e de que Região.
Para Melo (2001), o governo é subordinado à bancada de produtores rurais, que lhe fornece
sustentação, por isso o governo atua muito mais na regularização nas áreas ocupadas por posseiros do
que na Reforma Agrária que possui o intuito de redistribuição de terra. Na sua essência o poder dos
latifundiários sempre esteve atrelado ao Estado, o que inviabilizou uma solução eficaz para a Reforma
Agrária até o presente momento.
Até os dias atuais, percebemos que o poder dos latifundiários amparados pelo governo
dificultou uma solução eficaz para a realização da Reforma Agrária. A alternativa encontrada pelos
senhores de terras frente à ação ativa dos trabalhadores rurais, foi através de ações que mantenham os
seus interesses, mesmo que este fato possibilitasse pequenas mudanças.
De acordo com Gonçalo (2001), o que dificulta as desapropriações são as indenizações
inexecutáveis, conseqüência da supervalorização das perícias e do Poder Judiciário. O governo federal
57
vários movimentos sociais ligados à questão da terra. Porém o que presenciamos nos dias atuais (no
governo de Lula) é que o modo da agricultura brasileira está sendo orientado para a exportação e tendo
altos juros da política econômica, que gerou o empobrecimento e endividamento dos pequenos
agricultores rurais, proporcionando uma maior concentração de terras. Segundo STRAZZACAPPA
(2006):
Do período de 1988 até 2004, as ocupações tornaram-se uma forma de coação em cima dos
governos que resultou no assentamento de diversas famílias de trabalhadores rurais, porém sendo
ainda um número muito inferior da meta inicial do governo, Quadros 01 (p.60) e 02 (p.60).
Isto comprova que este sistema de escravidão ainda encontrado no território brasileiro deriva
do tipo de acumulação capitalista, que se dá com a conveniência do Estado. A democracia não existe
de forma igualitária, em várias regiões do território os trabalhadores são obrigados a viverem como
escravos apanham para trabalhar, podem ser vendidos e comprados livremente, o princípio da
isonomia (igualdade), não vigora para estes trabalhadores rurais.
Para os detentores de terras trabalhador considerado “bom” é aquele que se submete a todas as
vontades, que aceita a humilhação e a miséria sem fazer reclamações. A violência no campo cresceu
63
desde que os trabalhadores passaram a reivindicar por seus direitos, não aceitando mais, as antigas
formas de dominação pessoal, representada pela falta dos direitos políticos e sociais. É uma guerra que
está acontecendo no campo, à guerra pela libertação.
Neste capítulo apresentamos alguns mapas adquiridos na tese “Proposição teórico-
metodológica de uma Cartografia Geográfica Crítica e sua aplicação no desenvolvimento do Atlas da
Questão Agrária Brasileira” de Paulo Girardi, apresentada em 2008 onde o autor desenvolve, o Atlas
da Questão Agrária Brasileira, para ilustrar melhor as questões relacionadas à luta pela terra no país.
No Mapa 04 a seguir podemos constatar os estados onde ocorre à maior concentração de
violência contra trabalhadores rurais e camponeses no Brasil, são eles: Maranhão, Pará, Tocantins,
Piauí, Goiás e Mato Grosso. Não esquecendo que nas outras regiões do país a violência no campo está
sempre presente. Essa violência se reproduz em diferentes regiões do país e em diferentes escalas.
. O assentamento estudado também contribui com os dados de violência no campo presentes
no estado da Paraíba, mais especificamente a que ocorreu contra as famílias do assentamento ainda
quando estavam acampadas em dezembro de 1995, na antiga fazenda Baraúna, em que as famílias
tiveram suas lavouras destruídas, palhoças queimadas, alguns cidadãos sofreram violência física, e 4
pessoas do acampamento foram detidas, como foi colocado anteriormente.
Neste mapa Girard (2008) destaca o papel dos trabalhadores em três regiões do País: Norte,
Nordeste e Sul, considerando a importância demográfica e ocupacional significativa nessas três
regiões. O autor mostra que os trabalhadores rurais do Sul, se caracterizam por sua agropecuária
diversa e dinâmica o que permite que o Sul faça parte da principal região agropecuária do país, o que o
mapa mostra é uma ampla área de conflito/ocupação de terras dos horizontes sociais no sul. Ocupando
grandes proporções de terra mediadas pelo Movimento dos Sem Terra.
65
[...] revelam que 1,6% dos proprietários com imóveis acima de mil hectares
detêm 46,8% do total da área cadastrada pelo INCRA no país. Por outro
lado, mais de três milhões de famílias de trabalhadores rurais não dispõem
de terra para viver e trabalhar. (p. 25).
Tendo como base as idéias de Melo (2006), a luta pela reforma agrária é resultado de mais de
500 anos de história, mantendo em sua essência uma concentração fundiária que acarretou na pobreza
e na expropriação dos trabalhadores do meio rural. O que garantiu a continuação dessa situação nas
últimas décadas foi à modernização conservadora da agricultura, que contribui na manutenção da
desigualdade, fator preponderante que coloca grande parte das famílias que habitam o campo
brasileiro abaixo da linha da pobreza.
A violência é outra questão que marca a luta por Reforma agrária no Brasil, a impunidade
incentiva à violência no campo. Segundo Melo (2006),
Dados da CPT revelam que nas ultimas décadas, 1.349 pessoas foram
assassinadas em decorrência da luta por terra, em 1003 ocorrências
registradas. Apenas 75 dessas ocorrências resultam em julgamentos; 64
executores foram condenados e 44 absolvidos. No caso dos mandantes,
apenas 15 foram condenados. (p. 25-26).
66
Os grandes proprietários de terras tendem a proteger seus interesses, através, na maioria das
vezes de maneiras ilegais, como a concentração de pistoleiros, distribuição de armas de fogo,
organizando milícias privadas, para defender seus interesses a qualquer custo.
Para Melo (2006), é fato que o Estado brasileiro tem sido incompetente na tentativa de
resolver o problema da Reforma agrária, o Estado apenas judicializa os conflitos agrários tratando-os
como meros casos de polícia ao invés de identificar as causas do problema e consertá-lo.
Para Melo (2006), a atuação dos Poderes da República, serviu apenas para agravar a situação
do campo brasileiro:
Seguindo as idéias de Melo (2006), à Reforma agrária engloba famílias que faltam serem
assentadas, aquelas famílias que dispõem de pouca terra, as que já foram assentadas, porém
encontram-se em situação precária, os pequenos arrendatários, os meeiros, posseiros que não recebem
créditos e nem assistência técnica. Estas famílias e estes trabalhadores rurais frente às dificuldades
almejam a realização da Reforma agrária no território brasileiro.
Os conflitos agrários por terra estão diretamente ligados com a história de ocupação da terra,
da maneira como ela foi distribuída, sendo um ponto que só vai ser resolvido através de uma Reforma
agrária ampla e igualitária para todos.
67
Entre os anos de 1968 e 1973, ocorreram várias prisões em todo território de padres, agentes
da pastoral e bispos, comprovando que havia um confronto que girava em torno da questão da terra.
Até o ano de 1973 a Igreja não havia tomado nenhuma medida em relação a este fato, à medida que o
conflito crescia a Igreja não tomava nenhuma atitude, e o problema da terra passava a ter maior
importância.
A Igreja começa a trabalhar por baixo, mostrando que existe um processo de degradação que
leva a expropriação, dando margem para o desemprego, subemprego e marginalização, a Igreja tenta
trabalhar com a perspectiva da distribuição e não da acumulação.
A preocupação da Igreja é com os direitos das pessoas, existem direitos consagrados na lei,
porém alguns destes direitos não são respeitados na vida real, um exemplo disso é a inexistência do
respeito à propriedade.
Na visão da Igreja a partir de 1973, a política agrária do governo, surge com o desrespeito e
destruição da pessoa não apenas como individuo mais como um ser social. A Igreja questiona a
concentração da terra que era colocada em prática pelo Estado, sendo a principal crítica que a Igreja
faz ao Estado questionando a concentração de terras e suas conseqüências para a população rural.
A Igreja mobiliza as populações rurais pobres e marginalizadas, no campo e na cidade,
passando a organizar e auxiliar estas populações. Enquanto o Estado tenta desmontar as mediações
sociais e políticas que representa a luta dos trabalhadores do campo como uma questão política.
Através da organização e do esforço o Estado tenta evitar que a “questão agrária” se torne uma
questão política, resultando em uma redefinição política do próprio Estado, é a vivência do processo
de militarização do campo, que observamos aqui.
Muitos dos conflitos entre a Igreja e militares são conseqüência das desapropriações ocorridas
em várias áreas que promoveram um verdadeiro esvaziamento político no campo, promovendo o fim
de formas políticas tradicionais no campo brasileiro.
Segundo Martins (1986):
A Igreja passou a trabalhar de uma maneira muito mais intensa, juntamente com os
trabalhadores rurais na luta pela terra, assumindo também o conflito com o Estado. De maneira que
não há mais negociação entre a Igreja e o Estado, um processo que vem desde a época da Proclamação
da República.
Desde o momento que se apreende um bispo, um padre e passa a torturá-los, está
definitivamente constituída a ruptura entre a Igreja e o Estado. O espaço da Igreja tem sido utilizado
pelos trabalhadores rurais, como um espaço de expressão social e política.
De acordo com as idéias de Melo (2006) a Comissão Pastoral da Terra (CPT) foi fundada em
1975, por uma “ala” da Igreja Católica, foi criada como sendo uma resposta à situação dos
trabalhadores rurais. Com 34 anos dentro da luta pela terra a CPT funciona como um canal de
comunicação entre os trabalhadores e o Estado.
No Mapa 05 evidenciamos a espacialização do MST e da CONTAG em quase todo o Brasil. A
CPT atua predominantemente na região Nordeste destacando Paraíba e a FETRAF atua em três
regiões: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A OLC vem atuando somente no Estado de Pernambuco e o
MLST nas regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Estes são os movimentos que configuram a
geografia dos movimentos socioterritoriais do Brasil.
Segundo o Banco de Dados de Luta Pela Terra (Dataluta), a CPT atua principalmente na
região Nordeste, como pode ser verificado no Mapa 05 a seguir. Atua também de forma considerável
no território paraibano. Foi também mediadora da luta pela terra no assentamento pesquisado e em
outros assentamentos do município do Conde, onde localiza-se o assentamento Dona Antônia. Alguns
acampados e assentados do município aderiram ao movimento e permanecem até os dias atuais,
Gráfico 06 (p.31).
Porém podemos considerar que a denuncia da violência que ocorre no campo, feita por Girard
(2008), mostra a necessidade que o Brasil tem de que se concretize a Reforma agrária e para assim
solucionar os problemas que ocorrem no campo a Reforma agrária é de extrema importância.
70
Em um dos períodos de maior restrição dos direitos dos cidadãos brasileiros, a Ditadura
Militar, a CPT tornou-se um canal para denúncias dos conflitos ocorridos no campo e um canal
também de expressão para o pequeno camponês na luta contra o latifúndio.
Segundo Melo (2006):
Para a CPT o latifúndio é uma afronta, um crime já que retira do camponês a oportunidade de
possuir uma vida digna. A prestação de serviços desse movimento é tentar restabelecer à terra a sua
função social, trazendo não apenas a terra, mais incorporando aos trabalhadores moradia, saúde,
educação, lazer, assistência técnica, condições de trabalho, de comercialização, e preservação
ambiental.
Desde a formação dos Movimentos Sociais percebemos mudanças significativas, porém falta
muito para alcançar o objetivo maior que é ver a Reforma agrária acontecer de maneira real. A luta por
terra no Brasil é antiga e árdua, a organização e formação dos Movimentos Sociais têm como pilar de
sustentação a propriedade e a posse da terra, o tipo de política adotada pelos movimentos ao longo dos
anos, tem servido de base para manutenção da área de confronto pela Reforma agrária.
Os Movimentos Sociais surgiram, ganharam força, formaram sua própria identidade, passaram
a fazer pressão em cima do Estado, criando um longo caminho a ser percorrido. Os Movimentos lutam
contra várias formas de expropriação de terra, são formados por diversas categorias de trabalhadores
rurais e se colocam em oposição à expropriação pela ampliação capitalista no campo.
Na visão de Melo (2006), os movimentos sociais estimulam a formação de uma identidade
coletiva, o fortalecimento dos laços de solidariedade e possibilitando o crescimento da cidadania. Os
movimentos tornaram-se um canal para a comunicação entre Estado e os camponeses e principalmente
um canal para divulgar suas denúncias.
Segundo Melo (2006):
Podemos observar a partir do Quadro 03 acima que o Nordeste é a região que possui o maior
número de assentamentos no território brasileiro. Podemos constatar que os assentamentos da região
Norte apresentam menos da metade do número de Projeto de Assentamentos do Nordeste que abrange
uma área aproximadamente três vezes maior do que os assentamentos do NE, o que vem confirmar
que o NE apesar dessa distribuição de terras ainda continua estruturado no latifúndio, como mostra o
Mapa 06 a seguir:
É fato que a Reforma agrária exerce uma função política social redistributiva, sendo à base das
relações produtivas a terra. O Mapa 06 mostra que o maior número de Projetos de Assentamento Rural
predomina nas regiões Norte e Nordeste, onde o número de ocupações são relativamente maiores
forçando assim a implementação dos assentamentos rurais.
Diferentemente dos movimentos contraditórios, ao processo agrário, que demonstra seus
interesses em agregar terras. O que presenciamos é um processo em movimento que segundo Gonçalo
75
Para Oliveira (1990), os povos indígenas foram os primeiros a conhecer a fúria dos
colonizadores que provocaram grande genocídio sobre esses povos ao chegar ao Brasil.
Simultaneamente, surgiram as lutas dos negros contra os brancos capitalistas, formando assim, vários
quilombos e travando uma luta direta contra os brancos. Posteriormente surgiram os posseiros que
passaram a lutar por terra e liberdade no campo do país. Nos anos 50 e 60, houve um destaque das
ligas camponesas que passam a ter destaque no campo nordestino. Com o passar do tempo, muitas
organizações foram surgindo e intensificando a luta contra as injustiças sociais no campo que são, na
verdade, um resultado da ocupação e exploração do país. Para Oliveira (1990).
A reforma agrária não se limita na luta dos agricultores sem-terra. Envolvem-se, nesse sentido,
o governo federal, Igreja Católica, alguns partidos políticos, o sindicalismo em geral, particularmente
6
Em relação a Lei de Terras, ver mais In: Martins, José de Souza. Cativeiro da terra. São Paulo, 1979.
76
o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Este último que atuava apenas como um órgão assistencial e
mediador do sistema de aposentadoria no campo vem mudando seu enfoque de atuação em direção a
uma proposta bem mais ampla e mais presente nos interesses dos trabalhadores rurais.
Segundo Rodrigues (1963) após a Proclamação da República em 1822, o que se viu foi varias
mobilizações independentes a exemplo de Canudos, um movimento messiânico liderado por Antônio
Conselheiro. A Guerra de Canudos, foi o confronto entre um movimento popular e o Exército da
República, que durou cerca de um ano, e o palco de tal guerra foi a então comunidade de Canudos,
localizada no interior do Estado da Bahia, no Brasil.
Vários fatores deram origem a este conflito, como a crise econômica e social em que
se encontrava a regiões na época, caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos,
situação também agravada pela ocorrência de seca, de desemprego, e principalmente pela
crença em uma salvação milagrosa que pouparia os mais humildes sertanejos da fome, da
probreza e da exclusão social.
Inicialmente os moradores de Canudos, não questionavam o regime republicano,
ocorreram apenas algumas mobilizações contra a municipalização da cobrança de impostos.
Os que realmente ficaram encomodados com o Arraial de Canudos, foram o clero e
latifundiários da região, que estavam incomodados com uma nova cidade independente, e que
recebia a constante migração de pessoas e valores para aquele local passaram a acusá-los
disso, ganhando o apoio da opinião pública do país para assim justificar a guerra contra
Canudos e seus moradores.
Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus adeptos uma
imagem equivocada de que todos eram "perigosos monarquistas" a serviço de potências
estrangeiras (o que na verdade não passava de uma mera desculpa), querendo restaurar no país
o regime imperial, devido, entre outros ao fato de o Exército Brasileiro sair derrotado em três
expedições, incluindo uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César. A derrota das
tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado deixou o país apavorado, e deu
legitimidade para a perpetração deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil
sertanejos. Todas as casas foram queimadas e destruídas.
Entre 1930 e 1940 vários foram os conflitos armados que ocorreram principalmente com a
figura dos posseiros que defendiam suas terras individualmente. No Nordeste entre as décadas de 1950
e 1964 surgiu um movimento denominado de Ligas Camponesas no Estado de Pernambuco, que
segundo a opinião de Rodrigues (1963), utilizavam à prática de “multirão” e foi com base nesta idéia
que se criou em 1955 à “Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco” no Engenho
da Galiléia tendo como principal objetivo um apoio mútuo, como na construção de escolas para
77
crianças e adultos, fabricação de caixões para sepultar as pessoas que ali morressem obter ajuda
financeira e técnica do Estado para o desenvolvimento das plantações, etc.
Porém a intolerância dos senhores da terra, dos grandes latifundiários que sempre foram contra
as melhorias dos trabalhadores, impôs ao “dono” do Engenho da Galiléia que expulsasse os
trabalhadores rurais daquelas terras.
Segundo Rodrigues (1963).
Ainda na visão de Rodrigues (1963), uma verdadeira ironia o filho de latifundiário defendendo
os trabalhadores do campo. A luta foi difícil e cruel. Era os camponeses junto com o seu advogado
Francisco Julião e a cobertura de alguns jornalistas contra os fazendeiros com todos seus advogados e
suas fortunas para “comprar” policiais, magistrados, políticos, imprensa e governadores.
Como um verdadeiro milagre os camponeses saíram vitoriosos e entregaram o cargo de
presidente de honra ao seu advogado Francisco Julião, defendendo seus interesses. O que ocorreu no
campo foi uma nova fragmentação, de um ponto a multiplicação das Ligas Camponesas na mesma
velocidade que se preparava o ataque dos senhores da terra.
A Liga foi criada com o objetivo de enfrentar os problemas vividos pelos trabalhadores rurais
como a seca, e as perversidades dos grandes latifundiários com a conveniência dos governantes, e logo
percebeu que estava envolvida no meio de disputas políticas, entrando em um caminho bem diferente
daquele pretendido.
O que ocorreu foram várias cenas de violência, no lugar do apoio mútuo, diversos crimes foram
cometidos, contra fazendeiros e contra camponeses, sem gerar nenhum saldo positivo para nenhum dos
lados. Os grandes latifundiários juntamente com os governantes impediram de todas as maneiras o
“acordar” das consciências, da inteligência, do desenvolvimento dos camponeses, por serem fatores de
imensa importância à sobrevivência dos mandatários, que só seria possível no meio de homens não
pensantes.
Faz-se necessário educar o camponês, instigar a sua capacidade de pensar, de construir suas
próprias opiniões, extrair o máximo da sua potencialidade, que possa ter o mesmo nível dos homens
78
cultos e desenvolvidos, para assim ter a capacidade de estudar os motivos dos seus problemas e poder
corrigi-los, criando soluções capazes e racionais.
Segundo Rodrigues (1963), “não se pode reformar nada de que participe o homem sem que seja
“reformado” igualmente. A comunidade é sempre um reflexo dos seus componentes, suas culturas, do
seu saber. No Nordeste brasileiro morre-se de fome cercado por riquezas” (p. 138).
Estas paisagens da monocultura estão sendo substituídas pela agricultura praticada pelos
camponeses, trabalhadores rurais, carentes por terras e não assalariados, que proporcionaram novas
transformações políticas, econômicas, culturais e sociais nessas regiões. Vale salientar a importância
deste fato, pois proporciona a dignificação do trabalhador camponês/rural e prova que é possível e
desejável a conquista da terra através da luta organizada, transformando assim o território, em um
espaço mais democrático do ponto de vista do acesso a terra com todas suas decorrentes benfeitorias.
Porém ainda há grandes desafios a serem enfrentados no que diz respeito à qualidade de vida
das famílias rurais paraibanas, pois os seus problemas não se resolvem apenas com a distribuição de
terras, e sim com uma implantação de projetos, ou seja, de planos de desenvolvimento que são de
fundamental importância para o aumento dessas novas territorialidades no rural paraibano. É
exatamente isto que não vem sendo realizado por parte dos governantes.
7
Criado em 14 de novembro de 1975, com objetivo de estimular a produção de álcool, visando o atendimento
das necessides do mercado interno e externo e da política de combustíveis automotivos.
79
8
Agronegócio é toda relação comercial e industrial envolvendo a cadeia produtiva agrícola ou pecuária é usado
para definir o uso econômico do solo para o cultivo da terra, associado à criação de animais,
80
É visível que falta percorrer um longo caminho, até que se consiga um equilíbrio entre o Estado
e o poder da sociedade. Faz-se necessário implantar propostas de políticas públicas e garantir os
direitos sociais de uma maneira mais universal.
Analisando as tendências e perspectivas das relações do Estado e sociedade, observa-se que as
transformações do sistema de representação (social e política) foram na verdade conduzida pelos
agentes políticos que colaborou com a despolitização da sociedade civil e pela defesa dos interesses do
aparelho do Estado.
A importância da organização e participação dos movimentos forneceu a base para a construção
da cidadania e do exercício das funções públicas. Comprovando que não bastam apenas as pressões
feitas de dentro é necessário que elas surjam de fora do aparelho do Estado.
Seria através do poder do Estado que se conseguiria realizar a auto-organização social visando
à recuperação da igualdade social. Nós últimos anos as mudanças políticas para o consentimento da
Reforma agrária foi definida pela sociedade civil, representada pelos movimentos sociais. Mais ainda
falta muito a ser feito, há um precipício entre a sociedade civil e a sociedade política, o que dificulta a
realização de um projeto que altere a estrutura social vigente.
Para que ocorra uma verdadeira transformação é necessária uma junção entre a sociedade civil
e os agentes políticos, na formação de um novo regime, afinal sem está junção seria praticamente
impossível conseguir uma aplicação universal dos direitos sociais e do funcionamento das instituições
protetoras do direito.
O desenvolvimento agroindustrial acabou monopolizando a produção de alimentos e na
modernização agrária, ajudaram a transformar os camponeses no Norte em posseiros 9, no Nordeste e no
Sudeste em bóias frias10, alagados no Sul e favelados nas periferias dos centros urbanos. O processo de
expulsão acelerado na década de 1980, devido à crise da dívida externa juntamente com a crise no
campo proporcionou a expropriação do campo.
Fazendo um pequeno retrocesso verificamos que na década de 1960 os camponeses lutavam
contra a oligarquia rural e o Estado, após o golpe militar eles confrontaram com os banqueiros,
industriais e multinacionais que através de sua aliança com o Estado passaram a dominar o capital e a
terra.
O conhecimento da história da apropriação territorial no Brasil foi fundamental para
compreendermos os problemas atuais relacionados. Todo esse processo de concentração da
propriedade a partir da configuração do território brasileiro e a expropriação do trabalhador rural
camponês, e posteriormente o processo de luta pela terra pode ser identificado particularmente no
assentamento estudado. No assentamento Dona Antônia observamos que muitos dos trabalhadores
9
Os posseiros são lavradores (agricultores) que juntamente com a família ocupam pequenas áreas de terras
devolutas ou improdutivas, isto é, terras que não estão sendo utilizadas e que pertencem ao governo. Rodrigues,
Edgar. O homem e a terra no Brasil. São Paulo 1963.
10
Trabalhador temporário sem direito a alimento. Rodrigues, Edgar. O homem e a terra no Brasil. São Paulo
1963.
81
passaram por esses diversos processos que existem no campo: expropriação de suas terras de origem,
migração para a cidade perdendo seus vínculos com a terra ou retornando para essa mesma terra ou
para outras terras vizinhas na condição de trabalhadores parceiros arrendatários e/ou assalariados.
Nesse sistema de exclusão os trabalhadores lutaram pelo retorno a terra, pela posse da terra a
partir da mediação de um movimento social, a CPT, e ao conquistar e iniciar a configuração de um
novo território camponês em substituição a um território de latifúndio ainda não é o estágio final da
luta dos trabalhadores, pois estes necessitam de recursos para o desenvolvimento do assentamento para
apartir disso conseguirem sua subsistência e reprodução da unidade familiar.
O direito a propriedade da terra é fundamental para o entendimento da questão agrária
brasileira. Para os proprietários de terra é usado como argumento de defesa para as suas propriedades.
Para os camponeses a propriedade da terra é considerada uma ferramenta para obter autonomia e vida
digna, por isso o direito a propriedade da terra é repleta de contradições.
Vimos neste trabalho à questão agrária brasileira a partir de uma luta pela terra e pela reforma
agrária, de um lado, e de outro, temos os sem-terra, assentados e trabalhadores rurais. Assim, ao fazer
uma análise sobre o direito de propriedade construída pelos assentados durante o processo de luta pela
terra percebemos os princípios, valores e interesses que fundamentam as interpretações do direito de
propriedade construída pelos assentados que é a reprodução da unidade familiar, opostos aos interesses
capitalistas.
Os assentados a partir de suas lutas se diferenciam dos sem terra pela conquista de um lote de
terra, porém no assentamento Dona Antônia, não sabemos até que ponto esta apropriação está
garantida já que o assentamento ainda não passou pelo processo de “emancipação” do Estado, ou seja,
ainda não receberam o título definitivo da terra, como acontece em muitos dos assentamentos rurais
brasileiros, portanto o processo de apropriação ainda não está completo. Mesmo lutando pelos
mecanismos de desenvolvimento sócio-econômico do assentamento, os assentados continuam lutando
para que o título definitivo da terra se torne uma realidade.
Através da realização deste trabalho foi possível perceber a importância de trazer para o
debate a Questão Agrária, a Luta pela Terra dentro do território brasileiro e o valor que se tem por
entender a organização dos Assentamentos Rurais que dão continuidade ao processo de Reforma
Agrária.
A luta não termina apenas com a posse da terra, os assentamentos estão destinados a dar
continuidade ao processo de Reforma Agrária, porém o que encontramos são os assentamentos em
situação de abandono por parte do poder público o que dificulta a prosperidade dos mesmos.
Com o estudo feito no Assentamento Dona Antônia, verificamos que a grande maioria dos
entrevistados avalia ter adquirido melhores condições de vida dentro do assentamento, os motivos
principais, declarados foram: terra, trabalho e moradia. A terra, além de ser o meio de produção, é a
possibilidade de reprodução para famílias assentadas. É a probabilidade de sobrevivência na terra,
como os próprios assentados confirmam, ao destacar que a aquisição da terra é a forma de quebrar
82
com a dependência e exploração à que estavam submetidos diante dos seus patrões e dos proprietários
de terras, nas que trabalhavam.
A terra também representa abandonar a informalidade na qual, muitos trabalhadores estavam
introduzidos no meio urbano, a exemplo como empregados domésticos. Todos esses trabalhadores de
baixa remuneração, poucos valorizados e longe das qualificações para o trabalho no campo. Dessa
forma a conquista da terra e também a conquista do trabalho na terra, que incluindo a moradia se
tornam indispensáveis para a reprodução das famílias trabalhadoras rurais.
Um ponto de insatisfação encontrado foi à falta de recursos, e por não existir um transporte
para levar os produtores diretamente para as feiras, e por ainda existir a figura do atravessador.
Os assentados do Assentamento Dona Antônia se caracterizam também por não terem a
produção voltada apenas para o consumo interno das famílias, já que a maioria comercializa parte da
produção. E outro ponto observado, foi que a produção da terra não é a única renda das famílias que
ali se encontram, muitos dos camponeses exercem outras atividades fora do Assentamento.
Sendo assim podemos afirmar apesar das dificuldades encontradas no Assentamento Dona
Antônia, que o assentamento ainda consegue proporcionar ganhos reais para as famílias que fazem
parte do mesmo.
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83
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85
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VINHAS, Moisés. A terra, o homem, as reformas. Rio de Janeiro: Edição Graal, 1980.
APÊNDICES
86
APÊNDICE - A
APÊNDICE – B
P:Como e quando aconteceu a entrada do senhor na luta pelo assentamento na época do assentamento?
R:Dia 20 de novembro de 1995, foi a entrada minha e todas pessoas no acampamento e como foi que a
gente chegou? Ah, a gente foi em cima de um caminhão tudo desmantelado, principalmente tinha
umas pessoas que juntavam a turma, saía fazendo reuniões e mais reuniões foram reunindo a turma até
que chegou o dia 19 para o dia 20 que reuniu os pessoal todinho de Alhandra e Conde e a gente já
amanhecemo o dia já aqui.
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P:E de quem era a terra?
R: De Almir Correia Machado
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P: E como foi quando vocês chegaram aqui, a recepção?
R: Quando a gente chegou, demorou uns dias fazendo barraco, aí depois veio o primeiro despejo,
depois nós ficamos num terreno de Gurugi II, quando fomos despejados, mas ficamos trabalhando na
terra, morando lá e dormindo, tudo. Depois, em maio, no começo de maio a terra não foi
desapropriada, a gente continuamo lá, foi que o superintendente do ministério Júlio César na época foi
pra Brasília e então a gente vinhemo de novo pra acapar no galpão da fazenda que era a sede velha na
época, aí foi onde houve o despejo, houve várias prisões, muita coisa, massacre, esses negócio, mas no
dia 24 de maio de 1996 a terra foi desapropriada.
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P: Mas esse massacre foi de que? Dos peões da fazenda ou da polícia?
R: Da polícia, com ordens deles lá, principalmente eles, era Tatiana que era a ex-proprietária, ela
ficava, ela conhecia todo mundo ali do Gurugi, aquela turma ali do gurugi ela conhecia tudo, aí aquele
pessoal que já tinha mais...começava a aprontar e era onde a polícia caía em cima.
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P:Qual era o nome do acampamento na época de vocês
R: Não...só tinha o acampamento, não tinha nome não.
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P: Aí de vez em quando ficava no gurugi então?
R: é porque, o acampamento, a gente ficamo dentro da propriedade do Gurugi, que quando há despejo
a gente num pode ficar dentro da fazenda, aí sempre chamava por causa da fazenda aqui chamava
Tabatinga, chamava Tabatinga, tabatinga, Tabatinga até...que quando venderam a apropriação que
formamos uma associação aí veio Dona Antônia que foi uma escrava que veio na luta junto com as
netas, netas, bisnetas,tudo pra luta, mas em maio no mesmo ano de 96 ela morreu, aí por isso que Frei
Anastácio junto com a turma da CPT aí conseguiram botar o nome dela de Assentamento Dona
Antônia.
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P: ela morreu com quantos anos?
89
R: 117
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P: Qual o tempo de existência desse assentamento e no caso o senhor já respondeu né, porque o nome
Dona Antônia...Faz quanto tempo que vocês ficaram assentados?
R: 14 anos já. Agora fez 13 de assentamento, que foi desapropriada, de associação 13 anos, agora de
acampamento foi 14.
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P: Qual a função dessa associação aqui?
R: É uma associação sem fim lucrativo de caráter social. Ela não paga remunerado a seus associados e
nem tão pouco a seus dirigentes. Só alguém que trabalha num trator, que faz um serviço assim, mais o
presidente, secretário, tesoureiro não tem remuneração.
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P: E pra usar o trator como é feito?
R: Pra usar o trator é, o trator é aí da comunidade, e quem quer procurar o trator pra trabalhar, quem é
sócio, aquele que ta em dia tem um abatimento, e quem não é, é 50 reais +x.
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P: 50 reais pelo dia no caso né?
R: Pelo dia não, a hora.
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P: E como foi que vocês conseguiram comprar o material daqui da associação?
R: O trator? O trator é que...a gente tem uma fonte de renda, tem 12 hectares de coco, tem um
coqueiral, sempre de 3 em 3 meses, 4 meses, ele deixa um bom lucro, então é como a associação vai se
mantendo e comprando seus...esse “peg” com recurso do próprio coqueiro, essa carroça, trator, grade,
tudo que tem aqui foi comprado com...
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P: Então esse pedaço de terra né é de todo mundo dentro do assentamento?
R: É comunitário
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P:Qual a função realizada pelo senhor aqui dentro?
R: A minha? A minha função de presidente é reivindicar os direitos dos associados com o poder
público.
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P: e como é?
R: Prefeitura, governo do estado...a minha missão é procurar entre Incra, banco, prefeitura, recursos
para os assentados e benefícios pra eles.
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P: E como é assim, é difícil, é fácil...qual a maior dificuldade que o senhor...
90
R: A gente só recebe mais não do que sim sabe. Tem o Cooperar também que nos ajudou na época,
nossa energia foi o Cooperar, esse poço foi o Incra, tem outro poço agora que vai ser o Incra também,
e a gente recebe mais não do que sim, mas sempre vai...
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P: Quem é que ajuda mais? O Incra?
R: É o Incra porque ele é o dono né? Essa terra não é nossa, essa terra é da União, o Incra administra
uma parte e a gente administra outra, e a gente vamo se mantendo nesse patamar entre Incra e governo
do estado, prefeitura, esse negócio sempre...
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P: Seu jangada, você disse que a terra não é de vocês, mas vocês não foram assentados aqui, e num foi
dividido os lotes pra cada família?
R: Fomos assentados, lotes, mas a terra é do Incra, a terra é da União, o Incra administra uma parte e a
gente administra a outra, a gente só pode dizer que essa terra é da gente quando ela for titulada e a
gente pagar, porque a gente não pagamo nada ainda.
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P: Ah, vocês tem que pagar? E quanto é?
R: Ah isso é pouca coisa, eu vejo aí nos outros que já estão emancipados, o caba com 8 hectares
pagando 160 reais por ano, é coisinha...é por isso que muita gente briga pra não ser desapropriado,
porque enquanto um hectare de terra ta custando 10 mil reais, 8 mil reais que tem muito por aí que é 8
mil reais, 10 mil reais, o Incra só quer pagar 600 reais, aí pronto, por isso que há briga, porque essa
daqui na época mesmo era 1000 (mil) reais uma coisa, e ela foi desapropriada na época por 17 reais
reais, foi desapropriada na época por 17 reais.
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P: Então deixa eu ver se eu entendi, vocês moram aqui mas não tem o papel da terra, o título da terra e
pra conseguir tem que pagar.
R: É o seguinte, quando completar, tem uma época que ela é emancipada, quando tiver 100% de infra-
estrutura dentro do assentamento aí ela é emancipada pelo Incra, aí nada do Incra a gente, tem direito
do Incra, mas Banco do Nordeste, esse negócio ninguém tem direito, aí então até emancipado a gente á
vai começar a pagar, aí então, não é nossa ainda, mais que muitos caras que num quer trabalhar já pode
fazer alguma coisa dela e num quer trabalhar e passa pra outro e ...
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P: E vocês, é tudo poço, tem água encanada, energia?
R: Poço, tudo, água encanada, tem energia, tem ônibus.
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P: Quantas pessoas mais trabalham aqui na Associação e o que que elas fazem?
R: Na associação? Assentado é 110
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91
um mundo, cada um quer viver com o seu estilo, não é como uma Barra de Gramame, um Gurugi, que
ali era tudo filho natural dali, todo mundo conhece todo mundo né, diferente, a terra de ocupações é
diferente dos outros.
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P: Então, o senhor acha assim, na época do acampamento, antes de ser assentado, veio todo mundo
de...
R: Veio de vários lugares, Mamanguape, Itatuba, de toda a...
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P: E como é por exemplo, porque os outros assentamentos a gente sabe que eles já tem uma história,
dentro da terra mesmo, antes do assentamento ele já tem toda uma história.
R: É o que se chama de área de conflito
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P: Sim, mas eu to dizendo assim, como foi que você se conheceram e se juntaram e foram atrás, já que
eram cada um de um canto, onde foi que vocês se encontraram.
R: Num expliquei inda agora? Tem gente pra ir procurar as pessoas pra ocupar a terra e a CPT dava
uma ajuda e saiu umas pessoas ajuntando o pessoal quem queria vim e ocupar uma terra, que queria
ter um sonho de ter uma terra, uns dia melhores, ter uma casa pra morar, ter uma vida mais digna, aí
foram procurando e esse povo foram caindo, aí o cara sabe, se une com aquele...Pedra de Fogo,
Itambé, Guarabira, aí quando de fé se junta esse pessoal todinho, até que formou essas 150 famílias
que só ficou 110.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------
P: Já houve desistência aqui de alguma família do assentamenro, se sim o porque?
R: Aí tem várias desistências, um, porque não tem gente que pensou que era uma coisa e era outra,
muita gente desistiu, teve gente que desistiu...e outras muito pouco, que foi tirada daqui com
irregularidade própria.
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P: Há algum tipo de punição em relação a isso, do Incra ou de algum outro órgão?
R: Sempre diz que tem, mas até hoje não chegou não. Sempre diz que tem, mas aqui não teve não,
agora já conheço vários assentamentos que já teve punição por irregularidade. Que nem Compac 2,
----------- e -----------, a menina ligou pra mim agora, foi 6 pessoas foi desapropriada, 6 pessoas
botadas pra fora por irregularidade, de por conta de venda de lote, por causa de arrendamento, agora
que a pessoa só acredita que acontece com os outros, aí... na minha num chegou quando pensa que
não, chega.
------------------------------------------------------------------------------------------------------
P: O senhor falou da CPT. Ela ainda hoje tem algum projeto aqui dentro? Qaul a relação hoje aqui do
assentamento com a CPT?
94
R: A relação ...sempre a gente procura, a CPT hoje ela “afracou” um pouco, de 10 anos atrás, num é a
CPT de 10 anos atrás, ela mesmo baixou um pouco através, a gente tem que dizer mesmo, através que
esse bispo chegou, esse tal de Dom Aldo, a CPT caiu um pouco. Depois que esse bispo chegou, que
esse bispo num é...
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
P: Mas caiu em relação a que?
R: Em tudo, tudo, em apoio que ele num dá apoio à CPT, até sequer a casa da CPT, a sede da CPT que
era no Mosteiro de São Bento ele tirou, não quer mais lá. Estamos procurando , que ele tem que ser
num patrimônio histórico, num pode ser, a CPT num pode ser uma casa alugada, num pode ser nada,
tem que ser num lugar, ainda tão movimentando lá no Viradouro uma sede que tem, que vão
reconstruir pra ver um fim. Tudo ela afracou depois que esse bicho entrou, ela afracou.
----------------------------------------------------------------------------------------------------
P: Existe algum projeto aqui dentro do assentamento de algum outro órgão?
R: Existe. Projeto existe demais. Existe o projeto Cooperar que foi essa energia, o Incra, esses poços
que tem um cavado ali, tem esse funcionando, tem outro ali, foi o Incra, e o Banco do Nordeste
também que o projeto é feito pelo Incra mas o intermediário todinho é do Banco do Nordeste.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
P: E eles estão financiando o que aqui?
R: Não, aqui o Incra dá uma DAP, quantos hectares o cara tem, o cara vai para o Banco do Nordeste e
ele financia, agora mesmo tá fazendo um investimento de 20 mil reais que é pra dar inhame, comprar
gado, plantar mangueira, plantar coqueiro, agora só investimento, é investimento, né imediato não.
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P: E esse dinheiro vem pra associação no caso?
R: Não, a associação não tem nada a ver, cada um é individual. Só num é pra dizer assim: pega os 20
mil, ele tem que ter a base dele se ele vai plantar 2 hectare de manga, a muda ele tem que comprar, tá
com a nota fiscal pro banco pagar o forncedor. Se ele vai comprar 2 ...3 carrada, o fornecedor também
que vai receber lá.
Ele vai comprar o material de construção ou de, para construir uma cocheira ou um defensivo que é o
adubo tem que ser com nota fiscal, aí esse dinheiro quem recebe é o fornecedor, ele recebe o dinheiro
da mão de obra, principalmente porque até hoje sempre diz que a agricultura familiar deve fazer com a
família, então aquele dinheiro, ele recebe da manutenção pra cavar os buracos do inhame, vara, cavar
os buracos da mangueira, o plantio, ele recebe a mão de obra.
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P: O assentamento recebe algum tipo de benefício do Incra? Digo assim, em relação á semente, cursos
de capacitação pra o pessoal daqui do assentamento?
R: Não
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pessoa o cara, tem gente faz 13 ano e nãos abe fazer um batume, quer dizer que esse pessoal, ele tá no
lugar errado. Ele pode ser trabalhador em outra área, que todo mundo é trabalhador, todo mundo é
competente pra fazer as coisas, mas cada um no seu devido lugar.
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P: Então o senhor achou errado a maneira que eles chamam sem selecionar, sem ser pessoas que
realmente sejam da terra.?
R: A maneira de selecionar sem saber. Porque tem área de conflito, ali ele vai ficando de pai pra filho,
mas os filhos, mesmo, os garotos agora não querem mais trabalhar de enxada, que eles não são doido,
não querem mais agricultura, eles querem um emprego e ele tá certo, estudar para ter uma coisa
melhor.
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P: Então o senhor acha que não é mais vantajoso pra os jovens, principalmente aqui do assentamento
também não é vantajoso?
R: Eu acho que não é mais vantajoso um cara jovem pegar uma terra pra trabalhar num é vantagem pra
ele não. Antigamente, a agricultura, as lavouras tinha valor, tinha tudo, ainda dava...mas um dia desse
perdeu todo o valor.
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P: Para os atravessadores, vocês pedem mais ou menos quanto, vendendo pra os atravessadores?
R: Uns 30% ou uns 40%
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P: E o lucro de vocês então, sai mais ou menos quantos % numa plantação?
R: O problema é esse, porque o seguinte é esse, porque se disser assim, coletivamente vamos fazer,
ninguém aceita, porque um diz: esse é meu, eu vendo por quanto eu quiser, ou chega ali: eu tenho um
colega ali, e eu vou vender ao meu colega, aí pronto, termina assim, todo mundo tem prejuízo. Eu tô
butando assim é mais de 30% de prejuízo que o cara tem com o atravessador.
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Morador: Porque eu acho que o maior problema do atravessador, do povo vender para o atravessador é
o problema mais de transporte que não existe, porque se tivesse transporte de ir até a capital, de ir à
feira, vamos supor, tivesse um carro aqui pra feira agroeloógica, outro pra universidade, outro pra
Emater...
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R: Mas tem um problema também, que nessa região o povo não se organiza, porque tem a feira
agroecológica, e o governo federal deu dois F4000 agora, um 97 e um 98, um 2007 e um 2008. Foi
dado pelo governo federal, tem 2 F400 um no vale de Mamanguape e outro no Agreste.
Aqui o litoral que num se organiza pra fazer as coisas, aí termina sofrendo. E ainda tem sorte porque o
prefeito ainda dá esse carro pra levar pra feira da Emater. Mas se eles se organizassem, como feira
agroecológica, já tinha chegado um carro aqui também, porque tem dois carros um 2007 e um 2008, e
97
mais um carro pequeno, um gipão pra o rapaz que corre o trecho como diz o povo, anda nele, Luiz
Sena11. Agora aqui o pessoal do litoral num tão se organizando. E tem outra coisa, o cara vai ter uma
feira ecológica, uma feira ecológica, já foi feira ecológica...porque hoje tá entrando lá de toda
qualidade, é difícil não entrar porque a feira ecológica é aquela que não tem agrotóxico, mas isso tudo
bem, vai se embora, tá entrando de bolo. Aqui o cara num quer fazer, aqui o pessoal fica sem querer
fazer, porque num dá pra mim, outro: num dá pra mim...Tem a feira da Emater, esses menino vão, tem
dia que chega falando: porque a feira da Emater é assim, chega lá, porque essa feira da Emater o carro
sai daqui de 7 horas da noite, num tem onde dormir lá? O caba dormir um sono, quando era 3 horas ia
ajeitar todos os negocios, mas sai daqui de meia noite, uma da manhã, aí chega lá, quando chega lá é
cansado, acabado. A feira é muito curta, o espaço da feira, o tempo, o tempo da feira, quando dá oito
hotas, quando der oito horas acabou-se, acabou-se a feira, aquilo não é uma feira. Aí muita gente: eu
não vou.
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P: E a de Oitizeiro?
R: A feira de Oitizeiro é uma feira livre.
P: Aí fica até... mas pra ir pra lá vocês vão de que horas?
R: Vamos de ônibus, de fretado, num tem carro pra transportar...
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P: e de que horas vocês vão pra lá?
R: 4 horas da manhã
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P: E a ecológica quando vai pra lá, como é que é?
R: Só tem uma pessoa que participa
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P: Porque vocês não tentam conseguir com o prefeito daqui um carro próprio?
R: O problema é que tem que se organizar as pessoas, nesse asentamento de 110 pessoas apareceu 2
pessoas pra feira ecológica, é 110! Isto ele num vai conseguir, é o mesmo que encontrar uma agulha no
palheiro, é muito difícil, é muito difícil. Duas pessoas? É muito difícil.
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Técnico da CPT
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APÊNDICE - C
11. Sua família é beneficiada com algum programa do governo? Sim Não
12. Qual? Bolsa Família Outros________________
13. Alguém da família que mora com vocês recebe aposentadoria? Sim Não
14.Já foi realizada alguma melhoria no domicílio? Sim Não
Qual? _____________________________________________________________________
15. Sua vida melhorou após a vinda para o assentamento? Sim Não
16. Se sim, por quê?___________________________________________________________
17.Qual o motivo que o levou a morar em um acampamento?
___________________________________________________________________________
18. Qual o local que morava antes de ser acampado?
Casa de parente Casa Própria Casa alugada Outros
19.Por quanto tempo ficou acampado? _______________________
20.Exercia alguma atividade remunerada antes de ser acampado? Se sim, qual?______________
21. O que tornou sua vida mais dificil quando era acampado?
___________________________________________________________________________
22.Participou de algum outro acampamento antes do Assentamento Dona Antônia? Quais?
___________________________________________________________________________
23.Participa de algum outro movimento, que não seja a CPT? Sim Não Qual?
____________________
24. Qual o tamanho do seu lote?_________________
25.Como é feita a irrigação da parcela?__________________________________________
26.Quais os prncipais produtos que apresentaram dificuldade para produzir na terra?
27. Quais os três produtos mais produzidos dentro da sua parcela? E para onde é destinada a
produção?
28.Quais os produtos alimenticios que são comprados por fora, para completar a nescessidade da
família?
___________________________________________________________________________
29.Emprega alguém na produção? Quantos? E quanto paga? Sim Não
30. Qual a renda média obtida através da venda da produção?__________________
31. Na sua opinião qual o maior problema do Assentamento, e o que poderia ser feito para sua
melhoria?
___________________________________________________________________________
32. Qual o lugar que as famílias recorrem quando precisam de atendimento médico?
___________________________________________________________________________
33. Vocês se reunem com a associação do assentamento para reinvindicar alguma melhoria? Quais?
100
___________________________________________________________________________
34. Paga algum valor pela casa? Quanto? Sim Não _____________________
35. O Incra ainda mantém alguma relação com o assentamento? Sim Não
Qual?
___________________________________________________________________________
36.Qual o lazer da sua familia?____________________________________________________
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ANEXOS
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ANEXO – A