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Alexandre de Oliveira Chaves et al.

Geociências
Geosciences

Mineralogia e proveniência
das areias negras de Iriri - ES
Mineralogy and provenance
of black sands from Iriri - ES

Alexandre de Oliveira Chaves Resumo


Instituto de Geociências, Univ. Fed. de Minas
Gerais – IGC/UFMG, Belo Horizonte – MG As areias negras das praias de Iriri (ES) apresentam uma ampla variedade no seu
alochaves@yahoo.com.br conteúdo mineralógico. A partir de propriedades ópticas e morfológicas e das com-
posições químicas de grãos individuais, foi verificado que os principais minerais são
Débora Vasconcelos de Oliveira quartzo e ilmenita, constituindo, respectivamente, 45% e 35% do volume do material
Aluna de Graduação, Instituto de Geociências, investigado. Na porção restante, foram identificados os minerais pesados magnetita,
Univ. Fed. de Minas Gerais – IGC/UFMG, monazita, zircão, cianita, sillimanita, granadas almandina e grossulária, espinélio, ac-
Belo Horizonte – MG tinolita, clorita, rutilo e augita, além de aragonita. Levando-se em conta a geologia re-
debh03@hotmail.com gional, tanto da área continental, quanto da bacia sedimentar, que envolve a região de
Iriri, a análise de proveniência sugere que: a) o quartzo seja oriundo dos paragnaisses
Fernando Estevão Rodrigues regionais, dos granitóides pré a sin-colisionais e dos granulitos costeiros; b) a associa-
Crincoli Pacheco ção dos minerais ilmenita, magnetita, augita e chamosita seja proveniente de basaltos
Aluno de Graduação, Instituto de Geociências, toleíticos amigdalóides mesozóicos da bacia; c) a grossulária, o espinélio e a actinolita
Univ. Fed. de Minas Gerais – IGC/UFMG, provenham de ortoanfibolitos e rochas cálcio-silicáticas; d) a almandina tenha origem
Belo Horizonte – MG relacionada não só aos paragnaisses como também aos granitóides peraluminosos sin-
ferodrigues@live.it colisionais regionais e granulitos costeiros, sendo que estes últimos também podem
ter sido a rocha-fonte do rutilo; e) a cianita seja originária do terreno Cabo Frio; f) a
Mariana Franco Barroso sillimanita provenha dos sillimanita-granada-biotita gnaisses paraderivados situados
Aluna de Graduação, Instituto de Geociências, próximo à costa do Espírito Santo; g) um primeiro subtipo de zircões juntamente com
Univ. Fed. de Minas Gerais – IGC/UFMG, as monazitas sejam derivados das suítes pós-colisonais G4 e G5 e um segundo grupo
Belo Horizonte – MG de zircões representem cristais do embasamento paleoproterozóico distante da área de
miana_fb@hotmail.com deposição; h) a aragonita possua uma origem biogênica, sendo derivada de fragmentos
de conchas de moluscos ou corais marinhos.
Marina Garcia de Magalhães
Aluna de Graduação, Instituto de Geociências, Palavras-chave: Iriri, areias negras, minerais pesados, mineralogia, proveniência.
Univ. Fed. de Minas Gerais – IGC/UFMG,
Belo Horizonte – MG Abstract
marinamg1@hotmail.com
Black sands from the Iriri beach (ES) present a wide variety in their mineral con-
Adriana Mônica Dalla tent. From the optical and morphological properties and the chemical compositions
Vecchia Chaves of individual grains, it was found that crystals of quartz (45% vol.) and ilmenite (35%
Doutoranda, Centro de Desenvolvimento vol.) represent the main mineral phases of the material. In the remaining portion, the
da Tecnologia Nuclear – CDTN/CNEN, heavy minerals of magnetite, monazite, zircon, kyanite, sillimanite, almandine and
Belo Horizonte – MG grossular garnets, spinel, actinolite, chlorite, rutile, augite and aragonite have been
amdvecchia@yahoo.com.br found. Taking into account the regional geology of the continental area and sedi-
mentary basin surrounding Iriri, the provenance analysis suggests that: a) the quartz
originates from the regional paragneisses, the pre to syn-collisional granitoids and the
coastal granulites, b) the association of ilmenite, magnetite, augite, and chamosite
arises from Mesozoic amygdaloid tholeiitic basalts of the basin, c) grossular, spinel,
and actinolite come from orthoamphibolites and calc-silicate rocks, d) almandine
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arises not only from paragneisses but also as syn-collisional peraluminous granitoids
and coastal granulites, and the latter rocks also have been the source of rutile; e)
kyanite is from the Cabo Frio terrain; f) sillimanite comes from the sillimanite-garnet-
biotite paragneisses located near the Espirito Santo coast, g) a zircon subtype, along
with monazite, arises from post-collisional G4 and G5 suites and another group of
zircon represents crystals of the Paleoproterozoic basement away from the area of
deposition; h) aragonite has a biogenic origin, from fragments of mollusk shells or
coral reefs.

Keywords: Iriri, black sands, heavy minerals, mineralogy, provenance.

1. Introdução

Acumulações sedimentares de mi- de deposição de alta energia. Eles com- inferência de sua localização geográfica e
nerais detríticos de valor econômico preendem, principalmente, a ilmenita, o determinação das principais rotas de dis-
concentrados mecanicamente, origina- rutilo, o zircão, a monazita e a magnetita. tribuição das areias. A diversidade de mi-
dos a partir da decomposição e erosão Nas regiões costeiras e plataforma conti- nerais pesados encontrada em areias e a
de rochas-fonte ígneas, metamórficas e nental, os depósitos de minerais pesados ocorrência de associações diagnósticas de
sedimentares, são denominadas placers. têm sua gênese associada aos fenômenos rochas-fonte particulares tornam a aná-
Esses minerais detríticos são, geralmente, de erosão, transporte e deposição de se- lise de minerais pesados a técnica mais
conhecidos como “minerais pesados”, em dimentos pela ação das ondas e correntes sensível e robusta aplicada na análise de
função de seu alto peso específico (entre costeiras, em íntima associação com as proveniência (Remus et al., 2008).
21,0 e 2,9 g/cm³) superior ao do quartzo modificações decorrentes das variações O presente trabalho tem como ob-
(2,65 g/cm³). Os placers são compostos eustáticas do nível do mar (Silva, 2000). jetivo a caracterização da mineralogia
por minerais pesados “pesados” (peso es- As areias do litoral sul do Espírito das areias negras coletadas na Praia de
pecífico entre 21,0 e 6,8 g/cm³), por mine- Santo, eventualmente, mostram porções Iriri – ES (Figura 1), através da investi-
rais pesados “leves” (peso específico entre escuras, popularmente conhecidas como gação de suas propriedades óptico/mor-
5,3 e 4,2g/cm³), ambos fontes de bens monazíticas, formando depósitos de pla- fológicas e químicas, para fins de estu-
metálicos, e por gemas (peso específico cers. Uma significativa parcela desse ma- dos de sua proveniência e definição de
entre 4,1 e 2,9g/cm³). Os pesados “pesa- terial é constituída por minerais pesados áreas-fonte. A Praia de Iriri foi escolhida
dos” são transportados apenas por curtas opacos, os quais conferem à areia sua to- por localizar-se, estrategicamente, entre
distâncias e englobam, principalmente, o nalidade escura. rochas sedimentares costeiras do Neóge-
ouro, a platina e a cassiterita. Os pesados A análise do conteúdo mineraló- no e no encontro das rochas cristalinas
“leves”, principais objetos de estudo desse gico depositado em bacias é uma ferra- continentais e da bacia de Campos (Fi-
artigo, chegam mais comumente às zonas menta crescentemente utilizada para a gura 2), todas potenciais áreas-fonte das
costeiras, concentrando-se em ambientes identificação litológica das áreas-fonte, referidas areias negras.

Figura 1
Localização da área de amostragem na
praia de Iriri, litoral sul do Estado do
Espírito Santo (MG – Minas Gerais,
SP – São Paulo, RJ – Rio de Janeiro,
ES – Espírito Santo; modificado de
Coelho et al., 2005).

2. Arcabouço geológico

A Praia de Iriri se encontra na por- Rio de Janeiro. É limitada a norte e a sul Sul (Fontanelli et al., 2009). Seu preen-
ção norte da bacia de Campos (Figura pelos altos estruturais de Vitória e Cabo chimento sedimentar pode ser caracte-
2), bacia que se estende do sul do Espí- Frio, respectivamente, e tem origem rela- rizado em cinco mega-seqüências: rifte
rito Santo e prolonga-se pelo Estado do cionada à abertura do oceano Atlântico continental (Neocomiano – início do
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Figura 2
Geologia do Estado do Espírito Santo e
de parte dos Estados do Rio de Janeiro e
Minas Gerais. 1 – Cinturões do Arqueano
e Paleoproterozóico; 2 – Terreno
Ocidental – Unidades Paleoproterozóicas;
3 – Complexo Região dos Lagos.
Unidades Neoproterozóicas; 4 – Meta-
ultramáficas; 5 – Grupo Rio Doce;
6 – Complexo Kinzigítico; 7 – Unidades
Búzios e Palmital; 8 – Granitos pré-
colisionais (Suíte G1); 9 – Charnockitóides
indiferenciados; 10 – Granitóides
sin-colisionais (suítes G2 e G3); 11 –
Granitóides pós-colisionais (suítes G4 e
G5); 12 – Intrusões alcalinas cenozóicas;
13 – Sedimentares do Neógeneo.
CF: Limite tectônico do terreno Cabo
Frio; G: Falha Guaçuí; V: Zona de
falha Vitória-Colatina (modificado de
Fontanelli et al., 2009).

Aptiano), salientando-se a ocorrência de zóico desenvolvido na borda sudeste do alto a granulito, sendo comum a fusão
basaltos toleíticos amigdaloidais da For- Cráton São Francisco durante a Orogê- parcial sob diferentes graus de anatexia.
mação Cabiúnas na base da coluna sedi- nese Brasiliana – Pan-Africana (650-490 Ainda no domínio interno, aloja-se o
mentar, com datação radiométrica entre Ma) e inclui parte dos orógenos Ribeira Grupo Rio Doce, composto por meta-
134 e 122 Ma (Mizusaki et al. 1988), e Araçuaí. Esses orógenos são estrutura- grauvacas, estaurolita-granada-mica
transicional evaporítica (médio Aptiano dos em domínios externo e interno, sen- xisto, quartzitos e gnaisses bandados
– início do Albiano), marinha rasa (início do o primeiro localizado mais a oeste e com metamorfismo de fácies xisto-verde
– final do Albiano), marinha transgressi- composto por embasamento antigo (mais a anfibolito. O domínio ainda apresenta
va (final do Albiano – início do Terciário) velho que 1,8 Ga). Nessa porção, o me- arcos magmáticos pré e sin-colisionais e
e marinha regressiva (início do Terciário tamorfismo varia de fácies xisto-verde vários plútons tardi a pós-colisionais. O
– recente). Na bacia de Campos, existem (próximo à borda do Cráton São Fran- arco continental pré-colisional é forma-
dois estilos estruturais distintos: o pri- cisco) a fácies anfibolito alto ou granulito do por gnaisses granodioríticos tipo-I e
meiro consiste num sistema de horsts e de média pressão (próximo ao limite do tonalíticos e é, genericamente, denomi-
grabens de direção SW - NE, relacionado domínio interno). nado de suíte G1. O arco sin-colisional
à fase rifte. O segundo, gerado no início O domínio interno, também no- foi desenvolvido concomitantemente ao
do Albiano, consiste no crescimento de meado de Terreno Oriental ou Cinturão metamorfismo e às deformação regio-
falhas associado a um regime extensivo Ribeira, se localiza a leste e encontra-se nais. Genericamente representado pela
nos primeiros 100 – 200 km ao longo da adjacente à bacia. É constituído por uma suíte G2, é formado por granada-biotita
costa. Paralela à margem da bacia, existe grande unidade nomeada “Complexo gnaisses foliados, que contêm grande
uma importante estrutura nomeada Fa- Kinzigítico”, composto por paragnaisses quantidade de minerais acessórios ricos
lha de Campos ou Linha de Charneira aluminosos e variações do mesmo, in- em alumínio e restos de paragnaisses
do Cretáceo. Nessa falha, em sua porção cluindo cordierita-granada-biotita gnais- bandados e migmatitos. A fase G2 foi
oeste, os sedimentos terciários são encon- se, granada-biotita gnaisse ou biotita fundida dando origem aos leucograni-
trados diretamente sobre o embasamen- gnaisse com lentes de mármore, grafita, tos tipo-S tardi-colisionais da suíte G3.
to pré-cambriano enquanto sedimentos quartzito, rochas cálcio-silicáticas para- A suíte G3 tipo-I é formada por plutons
cretáceos aparecem na sua porção leste. derivadas e ortoanfibolitos. Próximo à graníticos a granodioríticos, que intru-
(Fontanelli et al., 2009). costa, os paragnaisses tornam-se mais diram zonas de cisalhamento. As suítes
O embasamento da bacia de Cam- ricos em alumínio com grafita-sillimani- G4 e G5 tipo-I foram formadas pelo
pos é composto por gnaisses paraderi- ta-cordierita-granada-biotita gnaisse e, magmatismo pós-colisional, sendo a suí-
vados e granito-gnaisses de alto grau apresenta, em menor quantidade, granu- te G4 constituída por plútons graníticos
pertencentes à Província Tectônica Man- litos charno-enderbíticos. As unidades com pegmatitos ricos em turmalina e
tiqueira. Nessa região, a província apre- foram submetidas a processos de meta- a G5 por plútons sem foliação, poden-
senta um sistema orogênico neoprotero- morfismo que variam de fácies anfibolito do ser zonados com gabro no núcleo e
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granito nas bordas. A suíte G5 é intru- terreno oriental é definido por uma falha A praia de Iriri encontra-se pró-
dida ao longo de zonas de cisalhamento de empurrão (CF - Figura 2). Esse episó- xima à foz do rio Benevente, que, jun-
e tem ocorrência mais ampla que a suíte dio durou de 530 a 490 Ma, e é contem- tamente com seus afluentes, represen-
G4. Em termos regionais, o pico do me- porâneo às suítes G4 e G5. Por fim, ro- tam o sistema de drenagem local que
tamorfismo ocorreu durante a fase sin- chas ígneas alcalinas cretácico-terciárias atravessa não só o “Complexo Kin-
colisional, entre 590 e 560/550 Ma, em posicionaram-se na região do Estado do zigítico” como também ortognaisses
associado à deformação principal, que Rio de Janeiro e a cobertura sedimentar graníticos e granulitos. Essas rochas
gerou a foliação regional das diversas li- terciária estendeu-se ao longo da região representam as principais áreas-fonte
tologias. O último terreno acrescido foi costeira dos Estados do Rio de Janeiro e continentais das proximidades da
o Cabo Frio, cujo limite a oeste com o Espírito Santo (Fontanelli et al., 2009). praia de Iriri.

3. Metodologia

A amostra de areia negra coletada, metidos à separação através de suas pro- e curto dos cristais. Para esfericidade e
cuja fração granulométrica está entre 0,1 priedades ópticas. Para isso, foi utilizado arredondamento, foram utilizados os
e 0,3 mm, foi submetida a processos de o microscópio petrográfico Zeiss (modelo conceitos de Shepard e, para tamanho,
separação baseados nas diferenças das Axioskop 40), no qual foram isolados, foi utilizada a escala granulométrica de
propriedades físicas de seus constituintes. por meio de catação utilizando-se uma sedimentos terrígenos de Wentworth
Inicialmente foi submetida à separação fina agulha de cobre, os minerais através (Wentworth, 1922; Suguio, 2003).
usando-se o líquido denso bromofórmio de suas características peculiares sob luz Posteriormente, todas as fases mi-
(ρ=2,89 g/cm3) em funil de decantação, transmitida natural, polarizada e polari- nerais individualizadas foram submeti-
a fim de se separarem os minerais menos zada/analisada como isotropia/anisotro- das às análises químicas qualitativas por
densos, principalmente o quartzo e even- pia, cor, pleocroísmo, morfologia, cor de EDS (método que dispensa o uso de pa-
tuais feldspatos (ρ=2,65 g/cm3), daqueles interferência, entre outras. A identificação drões analíticos), usando-se a microsson-
ditos pesados. Em seguida, foi feita a sepa- dos minerais separados nessa etapa contou da eletrônica Jeol JXA-8900 RL WD/
ração magnética dos minerais mais densos com o apoio das imagens e informações ED do Laboratório de Microanálises do
que o bromofórmio através do separador técnicas contidas no livro Heavy Mine- Departamento de Física da Universida-
magnético Frantz, o qual isolou duas di- rals in Colour (Mange & Maurer, 1992). de Federal de Minas Gerais. Em suma,
ferentes fases minerais opacas do restante Mencionados nos resultados a seguir, os a caracterização mineralógica foi feita
dos não-opacos da amostra. Estes últimos critérios de forma utilizados foram as ra- tomando-se como base propriedades óp-
minerais pesados não-opacos foram sub- zões entre os eixos longo, intermediário ticas, morfológicas e químicas dos grãos.

4. Resultados

Nas areias negras de Iriri, foram Fe, Ti e O, elementos constituintes desse de possuir densidade maior que do bro-
encontrados 45% em volume de quartzo mineral. mofórmio, não se trata de calcita, mas,
e 35% em volume de ilmenita. Os 20% Magnetita (Fe3O4, ρ=5,10- sim, desse polimorfo do CaCO3.
restantes compõem a porção dos demais 5,20gcm3): granulometria areia fina a Zircão (ZrSiO4, ρ=4,60-4,70 g/
minerais pesados também encontrados, muito fina, grãos subédricos, de baixa cm3): dois subtipos foram identificados,
sendo a quarta parte deles composta por esfericidade, subangulosos e opacos ao ambos de granulometria areia fina: um
zircões. Além disso, não aparecem felds- microscópio óptico de luz transmitida. deles mostra-se incolor, euédrico, bas-
patos nem fragmentos líticos. As fórmu- Os grãos foram prontamente retirados tonado com terminações pontiagudas
las químicas dos minerais identificados e da amostra através do separador magné- e comumente com inclusões fundidas
descritos a seguir foram obtidas a partir tico Frantz devido ao forte magnetismo. bem preservadas e o outro marrom, su-
de Klein e Dutrow (2008). Diferentemente dos grãos de ilmenita, o bédrico, com bordas arredondadas e fra-
Quartzo (SiO2, ρ=2,65 g/cm3): gra- espectro EDS não mostra Ti (Figura 3). turado. Os elementos presentes em sua
nulometria areia fina, grãos de baixa Monazita (Ce,La,Nd,Th)PO4, fórmula são confirmados pelo espectro
esfericidade, subarredondados, incolores ρ=5,00-5,30 g/cm3): granulometria areia EDS (Figura 4).
e extinção ondulante (Figura 3). Foram fina, grãos anédricos verde-pálido, de Cianita e Sillimanita (polimor-
totalmente separados dos minerais pesa- baixa esfericidade, arredondados a su- fos do Al2SiO5, ρ(cian.)=3,61 g/cm3,
dos através do bromofórmio. Como es- barredondados, de alta birrefringência e ρ(sillim.)=3,25 g/cm3): granulometria
perado, o espectro EDS indicou somente relevo muito alto. Os dados do espectro areia fina a média, euédricas a subé-
Si e O. EDS indicam Ce, La, Nd, Th, P e O (Fi- dricas, muitas vezes bastonadas, baixa
Ilmenita (FeTiO3, ρ=4,72 g/cm3): gura 3). esfericidade e angulares. Quando bas-
fração opaca de granulometria areia fina Aragonita (CaCO3, ρ=2,93 g/cm3): tonada, a cianita assemelha-se ao zircão
a muito fina, grãos subédricos, de baixa granulometria areia fina, subédricos, incolor, entretanto suas terminações não
esfericidade, subangulosos (Figura 3). baixa esfericidade, arredondados. O es- são pontiagudas (Figura 4). Foram iden-
Apesar do fraco magnetismo, foi possí- pectro EDS acusou Ca, C e O, os quais tificados cristais, tanto com extinção
vel sua remoção da amostra através do confirmam ser carbonato de cálcio (Fi- oblíqua de, aproximadamente, 30° na
separador magnético Frantz. Os dados gura 4). Por ter sido separada junto com direção de maior elongamento do cristal
qualitativos do espectro EDS indicam outros minerais pesados devido ao fato (cianita - triclínica) quanto com extin-
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ção paralela (sillimanita – ortorrômbica, Espinélio (MgAl2O4, ρ=3,60 g/ baixa esfericidade, subangulosos, relevo
com elongação positiva, o que descarta cm3): granulometria areia muito fina, médio e têm cor verde semelhante à acti-
a possibilidade de ser andaluzita). O es- grãos anédricos, de alta esfericidade, nolita. Além dos seus principais cátions,
pectro EDS de ambos os minerais mos- arredondados, relevo alto. Assim como o espectro EDS mostra pico de Cl. (Fi-
tra Al, Si e O (Figura 4). as granadas, é opticamente isotrópico, gura 5).
Almandina (Fe3Al2Si3O12, ρ=4,10 entretanto a análise de microssonda Rutilo (TiO2, ρ=4,25 g/cm3): gra-
a 4,30 g/cm3): opticamente isotrópica, por EDS não forneceu Si (não-silicato), nulometria areia fina, grãos euédricos,
granulometria areia fina a média, grãos mas apenas picos de Mg, Al e O (Figu- geralmente bastonados, de baixa esferi-
anédricos, de baixa esfericidade, suban- ra 5), o que o caracteriza de fato como cidade, angulosos e relevo alto. Espectro
gulosos, avermelhados e relevo alto. um óxido. EDS mostra picos de Ti e O (Figura 5) e
Além dos elementos que constituem sua Actinolita ((Ca,Na)2(Mg,Fe)5(Si,A sua típica coloração marrom-avermelha-
fórmula química, o espectro EDS acusa l)8O22(OH)2, ρ=3,00 a 3,10 g/cm3): gra- da descarta a possibilidade de ser ana-
algum Ca e Mg (Figura 5). nulometria areia fina, grãos anédricos tásio.
Grossulária (Ca3Al2Si3O12, ρ=3,40 verdes, de baixa esfericidade, subarre- Augita ((Ca,Na)(Mg,Fe,Al,Ti)
a 3,70 g/cm3): opticamente isotrópica, dondados, relevo alto. Espectro EDS (Si,Al)2O6, ρ=3,20 a 3,60 g/cm3): granu-
granulometria areia fina, verde-pálida. mostra seus principais cátions, exceto o lometria areia fina, grãos anédricos, de
Grãos subédricos a anédricos, de alta Na (Figura 5). alta esfericidade, arredondados, verde-
esfericidade, arredondados e relevo alto. Chamosita – grupo da clorita escuros e relevo alto. Como era de se es-
Além do alto teor em Ca e Al, a análi- ((Fe 2+,Mg,Fe 3+)5Al(Si 3Al)O10 (OH,Cl)8, perar pela sua fórmula, além de Ca, Mg,
se de microssonda por EDS mostra um ρ=3,00 a 3,40 g/cm3): granulometria Fe e Al, a análise de microssonda por
pico de Fe (Figura 5). areia muito fina, grãos anédricos, de EDS gerou picos de Na e Ti (Figura 5).

Figura 3
Fotomicrografia e espectro EDS
de ilmenita (1), magnetita (2),
monazita (3,4 e 5), além do quartzo.
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Figura 4
Fotomicrografia e espectro EDS
de aragonita (6), zircão (7 e 8),
cianita (9) e sillimanita (17).

5. Discussões e conclusões

A mineralogia das areias deposita- critos na base da coluna sedimentar da tipo almandina, possivelmente deriva das
das no litoral sul-capixaba tem muito a bacia de Campos, com datação radiomé- rochas paragnáissicas do “Complexo Kin-
dizer sobre as características litológicas trica entre 134 e 122 Ma. É plausível su- zigítico” e granulitos associados e/ou dos
das áreas-fonte, levando a inferir sua por que o intemperismo e a erosão dessas granitóides peraluminosos da suíte G2.
localização geográfica, a determinar rochas tenham fornecido a associação Com relação aos polimorfos do Al-
as principais rotas de distribuição das mineral constituída por ilmenita, magne- 2
SiO 5
, a sillimanita, certamente, provém
areias. A diversidade de minerais pesados tita e augita. Chamosita é freqüentemen- dos sillimanita-granada-biotita gnaisses
encontrados nessas areias e a ocorrência te, encontrada em amígdalas de rochas paraderivados do “Complexo Kinzigíti-
de associações diagnósticas de rochas- vulcânicas básicas (Winter, 2001), o que co” situados próximo à costa do Espírito
fonte particulares, discutidas a seguir, leva a pensar que também é proveniente Santo. Já o terreno Cabo Frio constitui,
auxiliam na análise de proveniência. da referida formação. Além disso, augi- regionalmente, a área-fonte fornecedora
O quartzo, polimorfo mais comum tas e os referidos opacos podem ter sua de cianita (Fontanelli et al., 2009). Estan-
dos minerais de fórmula SiO2, representa origem relacionada aos núcleos gabrói- do a praia de Iriri a NE de Cabo Frio e
a principal fase mineral das areias negras cos da suíte G5. Rutilo é, regionalmen- considerando que a cianita de Iriri pro-
de Iriri e representa um importante cons- te, proveniente de terrenos metamórficos vém de fato desse terreno, a rota de pro-
tituinte de rochas-fonte ígneas, metamór- de alto grau (Force, 1980) e, em termos veniência sedimentar de SW para NE,
ficas e sedimentares. Entretanto, dado o locais, provavelmente deriva das rochas na bacia de Campos, proposta por esses
caráter ondulante de sua extinção óptica, granulíticas costeiras. autores é aqui corroborada.
esses cristais passaram por processos de De acordo com Jordt-Evangelista Entre os minerais pesados das
deformação, o que leva a inferir sua pro- e Viana (2000), ortoanfibolitos e rochas areias negras de Iriri, o zircão é um dos
veniência a partir dos gnaisses do “Com- cálcio-silicáticas entremeados às lentes de mais abundantes e pode provir de rochas
plexo Kinzigítico” regional, dos granitói- mármores do sul do Espírito Santo apre- ígneas, metamórficas e sedimentares.
des pré a sin-colisionais e dos granulitos sentam, entre sua ampla mineralogia, Nas areias de Iriri, apresenta-se tanto
costeiros, não ficando excluída a possibi- cristais de grossulária, espinélio e actino- incolor, euédrico e com inclusões fluidas
lidade da proveniência a partir das cober- lita. Juntamente com outras rochas cálcio- preservadas quanto marrom, subédrico,
turas sedimentares terciárias regionais. silicáticas paraderivadas regionais, essas com bordas arredondadas e fraturado. O
Conforme mencionado no início rochas metamórficas representam as pos- primeiro subtipo sugere uma população
desse artigo, basaltos toleíticos amigda- síveis áreas-fonte destes minerais. A outra de cristais mais recentes (provavelmen-
loidais da Formação Cabiúnas são des- granada encontrada nas areias de Iriri, do te derivados dos litotipos ígneos ácidos
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Figura 5
Fotomicrografia e espectro EDS
de almandina (10), grossulária (11),
espinélio (12), actinolita (13),
clorita (14), rutilo (15)
e augita (16).

pertencentes às suítes pós-colisonais G4 ticos do material arenoso estudado e nômica em termos de titânio das ilmeni-
e G5), enquanto o segundo apresenta deve possuir uma origem biogênica, es- tas. Os 20% restantes compõem-se dos
características que sugerem outra popu- tando sua proveniência relacionada aos minerais pesados magnetita, monazita,
lação de cristais formados há mais tempo fragmentos de conchas de moluscos ou zircão, cianita, sillimanita, almandina,
e provenientes de rocha-fonte distante da corais marinhos (Bessler & Rodrigues, grossulária, espinélio, actinolita, chamo-
área de deposição (embasamento Paleo- 2008) trabalhados pelos movimentos sita, rutilo e augita, além de aragonita
proterozóico?), dado o elevado arredon- das ondas do oceano Atlântico. biogênica. Ressalte-se que a ausência de
damento das bordas dos cristais mar- Em suma, a areia negra de Iriri é, fragmentos líticos dificultou um melhor
rons. Assim como os zircões incolores, predominantemente, composta de quart- aprofundamento da análise de proveni-
a monazita provém, possivelmente, dos zo (45% em volume) e ilmenita (35% ência. A análise feita aqui, entretanto,
granitóides e pegmatitos das suites pós- em volume). Dada a reduzida metragem revela que, tanto a área continental re-
colisionais G4 e G5. cúbica dessas areias negras expostas aci- gional, quanto a própria bacia de Cam-
A aragonita representa uma pe- ma do nível do mar, elas não chegam a pos representam fontes dos sedimentos
quena porção de sedimentos carboná- constituir um placer de importância eco- arenosos estudados.

6. Agradecimentos

Ao laminador Fernando e aos Costa pelo apoio nas análises micro- Rafaela pelo apoio na separação com
professores A. W. Romano e A. G. petrográficas e à estagiária de química bromofórmio.
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Mineralogia e proveniência das areias negras de Iriri - ES

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Artigo recebido em 19 de janeiro de 2011. Aprovado em 30 de julho de 2011.

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